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PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA (PÓS-GRADUAÇÃO/ ÁREA EDUCAÇÃO) BELO HORIZONTE 2 SUMÁRIO 1. PSICOPEDAGOGIA: CAMPO CONCEITUAL .......................................................................... 3 2. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA ................................................................................................... 6 3. ESTÁGIO SUPERVISIONADO: A APLICAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA .............. 8 3.1 Definição: Processo Diagnóstico .......................................................................................... 8 3.2 Sequência Diagnostica ........................................................................................................... 8 3.2.1 Entrevista Familiar Exploratória Situacional - EFES ............................................................. 8 3.2.2 Entrevista de Anamnese ...................................................................................................... 10 3.2.3. Sessões Lúdicas Centradas na Aprendizagem .................................................................. 11 3.2.4 Provas e testes ..................................................................................................................... 13 3.2.5 Provas projetivas psicopedagógicas.................................................................................... 16 3.2.6 Síntese diagnostica e Prognóstico ....................................................................................... 18 3.2.7 Devolução e encaminhamento ............................................................................................ 18 3 1. PSICOPEDAGOGIA: CAMPO CONCEITUAL A psicopedagogia surgiu da necessidade de compreensão do processo de aprendizagem, de caráter interdisciplinar, uma vez que possui seu próprio objeto. Possui como característica a ambigüidade tanto da palavra como ao que se reporta. Sistematiza um corpo teórico, definindo seu objeto de estudo e delimitando seu campo de atuação. Ela trata do processo de aprendizagem humana e suas dificuldades, seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios, tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico. O tema aprendizagem é bastante complexo e é de grande importância lembrar que a concepção do termo é resultado de uma visão de homem e, em razão disso, acontece a práxis psicopedagógica. Tem por objeto de estudo as características da aprendizagem humana, principalmente o aprendizado, bem como o tratamento e prevenção na aprendizagem. Na clínica, acontece a relação do sujeito com sua história pessoal e o tipo de aprendizagem. Na prevenção são avaliados os procedimentos que interferem no processo de aprendizagem, onde há a participação biológica – afetiva – intelectual. Clinicamente, o psicopedagogo deve se utilizar das teorias que lhe permitam conhecer de que modo se dá a aprendizagem, o que é ensinar e aprender. Essa sabedoria se estabelece através da prática clínica, da constituição teórica e do tratamento psicopedagógico-didático. Uma reflexão sobre as origens teóricas é fundamental. A psicopedagogia iniciou-se através da pedagogia. Mas é na filosofia, neurologia, sociologia, lingüística e psicanálise que ela encontra a compreensão deste processo. Essas áreas fornecem meios para refletir cientificamente e operar no campo psicopedagógico. Caracteriza-se por uma área de confluência do psicológico e do educacional. No trabalho de ensinar a aprender, o psicopedagogo utiliza diagnósticos para compreender a falha na aprendizagem. Por este motivo, a psicopedagogia possui um caráter clínico e seu campo de atuação refere-se ao espaço físico e epistemológico. A 4 forma de abordar o objeto de estudo assume características próprias, dependendo da modalidade clínica, preventiva e teórica, interagindo-se. Ao realizar trabalho de clínica e de prevenção, o profissional deve ter como base um referencial teórico. Como prevenção, deve detectar perturbações na aprendizagem, participar ativamente do grupo educativo e desempenhar orientação individual e em grupo, fazendo com que a criança encare a escola de hoje, ampliando sua personalidade, favorecendo iniciativas pessoais, respeitando interesses e sugerindo atividades. As opiniões dos argentinos muito têm entusiasmado a psicopedagogia no Brasil. Autores argentinos formam uma bibliografia básica nas disciplinas teóricas da psicopedagogia, apesar de que a preocupação com este assunto seja originária da Europa do século XIX, através das idéias de Bacon acerca de uma concepção de ciência dominante no pensamento científico. O enfoque orgânico norteia, no início do século XX, médicos, educadores e terapeutas no significado dos problemas de aprendizagem. É nesta ocasião que são instigados estudos na área da psiquiatria, onde os pacientes com dificuldades de aprendizagem eram classificados como atípicos e anormais. Ainda no século XIX são desenvolvidas as classes especiais dedicadas à educação de crianças com retardo mental e, logo em seguida, escolas de ensino individualizado para crianças cujo aprendizado é lento. A cidade de Buenos Aires sediou a primeira faculdade de psicopedagogia da Argentina. Neste período pode-se destacar a ênfase na formação filosófica e psicológica, a psicologia experimental na formação do psicopedagogo e a carreira de graduação com inclusão das disciplinas clínicas. Equipes de psicopedagogos faziam diagnóstico e tratamento em centros de saúde mental, com resultados no campo da aprendizagem, mas com o aparecimento de graves distúrbios de personalidade. Assim, advém uma mudança na abordagem psicopedagógica, realçando a atuação nas áreas de educação e saúde. A psicopedagogia no Brasil analisa o processo de aprendizagem e suas dificuldades e, de forma profissional, engloba campo de conhecimento. Na questão da formação, acentua o caráter interdisciplinar. 5 A formação do psicopedagogo é indício para a formação da identidade deste profissional. Deste modo, regulamentar a profissão de psicopedagogo efetivaria sua existência e seu reconhecimento, com base em leis. Questões como tipo de curso, formação e conhecimento prévio, criação de órgãos de classe, espaço ocupado pela psicopedagogia, entre outros, proporcionaria base para este reconhecimento e delimitaria a atuação da psicopedagogia clínica, institucional e a participação em pesquisa científica. A ABPp continua lutando para a regulamentação da profissão e da criação de Conselhos Federal e Regionais de Psicopedagogia, através da aprovação do Projeto de Lei nº 3.124/97, onde constam as justificativas para o reconhecimento destes profissionais, considerando três aspectos: - os conhecimentos necessários para uma prática consistente – objeto de estudo da psicopedagogia; - a formação que os habilita a exercer a profissão; - as condições para uma prática consistente. O trabalho psicopedagógico implica na compreensão da situação de aprendizagem do sujeito, o que requer uma modalidade particular de ação para cada caso no que diz respeito à abordagem, tratamento e forma de atuação. Assim, o trabalho adquire um desenho clínico próprio e o psicopedagogo deve buscar o significado de informações que lhe permitirá dar sentido ao sujeito observado, objetivando a aprendizagem do conteúdo escolar e trabalhando a abordagem preventiva. Para isso, o psicopedagogo deve tomar uma atitude de investigador e interventor. O tratamento psicopedagógico visa eliminar sintomas. Deste modo, a relação do psicopedagogo com seu paciente tem como objetivo solucionar os efeitos nocivos do sintoma para, após, dedicar-se a garantir os recursos cognitivos. Pressões internas e externas conduzem o profissional a desviar-se de seu propósito esquecendo-se de trabalharo sujeito de modo que ele atinja situação de autonomia frente ao processo de aprendizagem. 6 2. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA A Psicopedagogia Clínica tem como objetivo identificar analisar, planejar e intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento. Para tanto, o profissional deverá estar preparado para atender crianças ou adolescentes com problemas de aprendizagem, atuando na sua prevenção, diagnóstico e tratamento clínico. Através do diagnóstico clínico é possível identificar as causas dos problemas de aprendizagem e para o tratamento são realizadas diversas atividades com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e seus bloqueios. Cabe ao Psicopedagogo utilizar recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras coisas que forem oportunas. Para Weiss (2000), a prática psicopedagógica deve considerar o sujeito como um ser global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social e pedagógico. O psicopedagogo deve então iniciar seu tratamento com o diagnostico clinico, que dará suporte para identificar as causas dos problemas de aprendizagem. Utilizando de seus instrumentos de análise como: Anamnese, provas operatórias e provas projetivas. De acordo com Bossa (200, p.102), em geral, no diagnóstico clínico, ademais de entrevistas e anamnese, utilizam-se provas psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível mental, provas pedagógicas, provas de percepção, provas projetivas e outras, conforme o referencial teórico adotado pelo profissional. A entrevista inicial (anamnese) com os pais e/ou responsáveis é muito importante, pois segundo Weiss (2003, p.61), o objetivo da anamnese é “[...] colher dados significativos sobre a história de vida do paciente.”. E somente após a entrevista com os pais e com a criança, o psicopedagogo poderá indicar qual será o tratamento necessário. Caso ele identifique outros problemas, ele poderá indicar um psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, ou outro profissional qualificado para ajudar no tratamento. Para a sua análise com a criança, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras situações que forem oportunas. Na maioria das vezes, a criança não consegue falar, expor de seus sentimentos, aflições e problemas e é através dos jogos, brincadeiras e 7 principalmente os desenhos, que ela consegue expressaras suas ansiedades e dificuldades. Além do trabalho com a criança, o psicopedagogo vai orientar os pais e a escola indicando a melhor atitude a ser tomada. Pois só com a integração da tríade (aluno x pais x escola), irão conseguir construir ótimos resultados. Segundo Lino de Macedo (1990), o psicopedagogo no Brasil ocupa-se das seguintes atividades: orientação de estudos, apropriação dos conteúdos escolares, desenvolvimento do raciocínio (promovendo um desenvolvimento cognitivo maio), atendimento de crianças deficientes mentais, autistas ou com comprometimentos orgânicos mais graves. O tratamento psicopedagógico define-se tanto pela adequação das estratégias utilizadas quanto pelos seus objetivos e pela qualidade da relação interpessoal que se estabelece entre o individuo atendido e o psicopedagogo. Portanto, a Psicopedagogia Clínica tem como objetivo identificar as dificuldades de aprendizagem, utilizando de sentimentos de alta autoestima, fazendo-as perceber suas potencialidades, recuperando desta forma, seus processos internos de apreensão de uma realidade, nos aspectos: cognitivo, afetivo-emocional e de conteúdos acadêmicos. O atendimento, portanto, é individual, facilitando assim a criação de um vinculo entre aluno e psicopedagogo. Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este dificuldade. Segundo Bossa (1994, p.23) cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Esse profissional deve também estar preparado para administrar possíveis reações negativas da criança frente algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos, lapsos etc. É importante tentar chegar o mais próximo possível da realidade da criança ou do adolescente – tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais, colegas e professores. Neste sentido verifica-se que além de 8 ajudar a criança ou adolescente a encontrar a melhor forma de adquirir a aprendizagem, é fundamental que o Psicopedagogo conheça como e o que o sujeito aprende. 3. ESTÁGIO SUPERVISIONADO: A APLICAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 3.1 Definição: Processo Diagnóstico O Processo diagnóstico consiste na investigação e levantamento de hipóteses à respeito de um caso clínico com objetivo de descobrir o que impede o indivíduo de aprender, afim de tratá-lo ou encaminhá-lo para a devida especialidade. O diagnóstico psicopedagógico é composto por etapas e técnicas. Maria Lúcia Weiss propõe a seguinte sequência diagnostica: 1. Entrevista Familiar Exploratória Situacional - EFES; 2. Entrevista de Anamnese; 3. Sessões Lúdicas Centradas na Aprendizagem - para crianças; 4. Provas e testes (se necessário); 5. Síntese diagnostica e Prognóstico; 6. Entrevista de Devolução e Encaminhamento. Esta sequencia pode ser modificada de acordo com as necessidades de cada caso. As modificações mais comuns de acontecer são: duas anamneses, em caso de pais separados; adolescentes que desejam o primeiro contato sozinhos; anamnese inicial sempre que há dúvidas em relação a diagnósticos anteriores, ou o paciente esteve ou está com outros profissionais. 3.2 Sequência Diagnostica 3.2.1 Entrevista Familiar Exploratória Situacional - EFES Essa entrevista objetiva que a queixa seja explicitada de forma mais profunda. Tem duração de cinquenta minutos e é realizada com os pais e com a 9 criança/adolescente. Tem como objetivos compreender a queixa nas dimensões familiar e escolar, as relações e expectativas acerca da aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o engajamento do paciente e seus pais no processo diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico. Em linhas gerais observa-se: o diálogo, o respeito à opinião do outro, se os pais permitem as interrupções criança ou adolescente, deixando-o discordar, acrescentar ou modificar fatos por eles relatados, quem domina o diálogo, as relações familiares, se há fantasias de saúde ou de doença que estejam misturadas com a queixa, nível de ansiedade, conhecimento que o paciente tem do motivo do diagnóstico e como lhe foi explicada a vinda ao consultório, significado do sintoma para a família, etc. A autora fala a importância de o terapeuta pedir a opinião de todos durante esse processo. Sobre o atendimento com adolescentes, ela explica que: Começo a entrevista ouvindo sempre em primeiro lugar o adolescente: a razão da vinda ao consultório e a queixa da escola, sua análise do fato, suas expectativas. No momento seguinte, ele pode ouvir a opinião dos pais e contestá-la caso discorde. A presença do terapeuta possibilita ao adolescente ser mais autônomo nesse diálogo (p. 53). Por fim enfatiza a importância do registro fiel dessa entrevista. Outra forma de primeira sessão diagnostica é proposta por Jorge Visca (1987), através da Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - EOCA. Nessa técnica vários materiais são utilizados de acordo com a idade e a escolaridade do paciente. Frente aos materiais faz as possíveispropostas para a criança/adolescente: "Gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram e o que você aprendeu", "Esse material é para que você o use como quiser", etc. Durante o processo, é necessário observar a temática das atividades; a dinâmica, que é expressa através da postura corporal, gestos, tom de voz, modo de sentar, de manipular os objetos etc; e o produto feito pelo paciente, que será a escrita, o desenho, as contas, a leitura etc, permitindo assim uma primeira avaliação do nível pedagógico. A partir da análise desses três aspectos, levanta as hipóteses para continuidade do processo. 10 Alicia Fernández (1990) propõe o Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem em uma só Jornada - DIFAJ, em que a primeira sessão é feita com toda a família reunida, inclusive os irmãos. 3.2.2 Entrevista de Anamnese Weiss destaca a importância da anamnese dizendo que ela possibilita a integração das dimensões de passado, presente e futuro do paciente. Através desse procedimento é possível perceber os preconceitos, normas, expectativas e afetos depositados sobre o paciente. Em alguns casos, apenas uma sessão não é suficiente. Nessa etapa são colhidas informações significativas da história do paciente com os pais, desde o momento da concepção. É importante que se faça um relato das aquisições, progressos e atrasos do paciente, estabeleça comparações com os irmãos de modo a ficar claro como estava a família no momento, inclusive nas dimensões emocionais e materiais. Com a anamnese estuda-se: a) A história das primeiras aprendizagens realizadas com a mãe ou sua substituta e todos os momentos importantes de aprendizagens não escolares ou informais; b) Evolução geral: como se processou o seu desenvolvimento, controles, aquisição de hábitos, interiorização de normas, aquisição da fala, a alimentação, o sono, a sexualidade etc. c) História clínica: crises de bronquite, alergia, asma ou ainda as viroses próprias da infância, e o ambiente familiar nesses momentos. Cirurgias, internações, doenças diversas e suas consequências, tratamentos realizados. É importante pesquisar traumatismos, doenças e deficiências ligadas à atividade nervosa superior; verificar se há consciência da família em relação à existência ou não de sequelas. d) História da família nuclear: acontecimentos relevantes dos pais e irmãos antes, durante e depois do nascimento do paciente; as famílias provenientes dos novos casamentos dos pais e a contextualização dessa história dentro de uma perspectiva socioeconômica e cultural. 11 e) História da família ampliada: influências passadas e presentes das famílias materna e paterna sobre os pais e o paciente. f) História escolar: ver como se deu a entrada e os aspectos positivos e negativos de sua passagem pelas instituições (creches, pré-escolas, escolas regulares, cursos de Inglês, aulas de bale, escolinha de futebol, etc.). De acordo com Weiss, [...] a entrevista deve transcorrer de forma que o relato espontâneo dos pais já seja em si um dado: o que recordaram para falar, qual a sequencia e a importância que dão aos diferentes fatos, o que omitem, quais fatos são esquecidos etc. As perguntas do terapeuta devem ser feitas no sentido de complementação ou aprofundamento. (p. 68). 3.2.3. Sessões Lúdicas Centradas na Aprendizagem É desejável que no trabalho com crianças haja um espaço e tempo para a criança brincar e assim melhor se comunicar. A Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem desenvolvida pela autora é uma integração do EOCA e a Hora do Jogo. Para essa atividade é preciso fazer um enquadramento especifico com a criança sobre o uso da sala, o uso do tempo, o uso do material disponível, limites para segurança, conservação do material e da sala, qual o papel do terapeuta. O material a ser utilizado em atividades lúdicas dependerá do objetivo específico da sessão, do tempo disponível e da idade da criança. Sugestões: Folhas de papel (pautadas, lisas, brancas e coloridas), lápis, apontador, régua, lápis de cor, canetinhas, cola, tesoura, revistinhas, livros; Material para carpintaria e construções: madeiras, pregos, tachinhas, arames, ferramentas etc.; Material de sucata (embalagens vazias, caixinhas, carretéis, rolhas, retalhos, fios etc.); Blocos de madeira ou plástico, pinos de encaixe; Tintas diversas, massa plástica, cola plástica colorida; Fantoches, miniaturas, animais, flores, bonecos, pires, xícaras; 12 Jogos. A apresentação do material pode ser em uma caixa, fora da caixa ou misto. A atividade lúdica necessita de uma explicação inicial, deixando a criança à vontade: "Você pode usar esse material para brincar como quiser. Um pouco antes de acabar o tempo eu aviso a você", "Hoje você poderá brincar durante uma parte do nosso tempo, depois eu vou pedir a você para fazer algumas coisas..." De acordo com Weiss: Por ser o jogo inerente ao homem, e por revelar sua personalidade integral de forma espontânea, é que se podem obter dados específicos e diferenciados em relação ao Modelo de Aprendizagem do paciente. Assim, aspectos do conhecimento que já possui, do funcionamento cognitivo e das relações vinculares e significações existentes no aprender, o caminho usado para aprender ou não-aprender, o que pode revelar, o que precisa esconder e como o faz podem ser claramente observados através do jogo. (p.79). Devemos observar alguns pontos: a) A escolha do material e da brincadeira/atividade: Atividade e material que repetem a situação escolar, sem criatividade; seleção de material figurativo; materiais que permitam criação (tintas, massa plástica, pinos e blocos); materiais que permitam transformar e imaginar novas coisas (sucata). b) O modo de brincar: se usa apenas o material mais próximo ou se explora todo o material e depois se fixa em alguma coisa; se escolhe materiais planejando uma brincadeira; se faz estimativas, medidas e cálculos; se estrutura uma brincadeira com coerência, começo, meio e fim ou se coloca aleatoriamente os objetos sem uma antecipação e posteriormente atribui ou não um significado; se tem flexibilidade no uso dos objetos modificando-o conforme a necessidade; se classifica os objetos; se mantém uma brincadeira estereotipada e perseverante; se faz brincadeiras criativas; se começa uma atividade e não conclui; se permanece concentrada durante a brincadeira; se mantém continuidade na brincadeira de uma sessão para a outra; se faz na brincadeira mais ações de desmanchar, separar, dividir e cortar ou de reunir, construir, colar e juntar; o modo como usa o corpo e etc. 13 c) A relação com o terapeuta: se brinca sozinha, concentrado e ignorando o terapeuta; se brinca sozinha, mas olhando constantemente para o terapeuta; se depende do terapeuta para brincar, pedindo sempre sua ajuda; se pede eventualmente a ajuda do terapeuta, quando esta parece necessária; se só escolhe brincadeiras que necessitam da participação do terapeuta como parceiro. 3.2.4 Provas e testes A investigação do nível pedagógico pode ser feita de diferentes maneiras. Podemos usar provas pedagógicas clássicas que consistem no uso de textos de leitura, série de problemas, etc. com dificuldade crescente, que posicionará o sujeito dentro de diferentes níveis de uma escala. Por ser uma repetição de provas de sala de aula, a autora evita esse método porque ele levaria a repetição da queixa. Para ela, esses dados podem ser obtidos na análise do material da sala de aula, das provas e em entrevistas com a equipe escolar, funcionando como complemento da avaliação pedagógica do diagnóstico. A análise do material escolar implica verificar a metodologia utilizada em sala de aula, ou seja, a qualidade didática. Testes formais de leitura e escrita devem ser feitos quando o terapeuta levantar a hipótesede uma dislexia grave ou outras questões que exijam aprofundamento maior. Os itens importantes de verificação na avaliação pedagógica são a alfabetização, leitura, escrita e matemática. De acordo com a Weiss: Os testes e provas são selecionados de acordo com a necessidade surgida em função de hipóteses levantadas nas sessões familiares (na EFES), nas atividades lúdicas etc., quando alguns aspectos não ficam claros e exigem um aprofundamento por outros caminhos, em pouco tempo. (p. 103). Diagnóstico operatório As provas operatórias têm por objetivo determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de 14 pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera. Material: Para crianças menores de seis anos, uma caixa contendo objetos que a leve a classificar e a seriar: panelinhas, pratos, copos, xícaras, talheres; mobiliário de casa de boneca; frutas e legumes; flores; animais de diferentes espécies; bonequinhos de diferentes tipos; carrinhos; ferramentas e outros instrumentos em miniatura; bloquinhos de madeira ou plástico polivalentes; pedaços de tecido de diferentes tessituras e estampagens; canudinhos de refresco de diferentes tamanhos e cores; outros. Deverá propor uma arrumação dos objetos. Registrará, quais os objetos escolhidos, qual o critério utilizado (mais objetivo, de uso social comum, ou mais subjetivo), o que percebeu no objeto para estabelecer o critério (cor, utilidade, tamanho etc), quantos objetos são capazes de grupar em cada critério, quais abandona, mas que seriam grupáveis no critério estabelecido. Em seguida, poderá, então, propor novas arrumações que lhe permitam observar aspectos espaciais, lógico-matemáticos e conservações. Outra caixa poderia ser organizada visando a exame do escolar, contendo material selecionado para as clássicas provas piagetianas: fichas de diferentes formas, cores e tamanhos; bastonetes ou palitos; duas espécies de flores e frutas; copinhos plásticos transparentes de diferentes alturas e diâmetros; massa plástica de duas cores 15 diferentes; fios de lã ou correntinhas; balança, casinhas de madeira, régua, lápis, tabuleiro de papelão. Faz-se um interrogatório para saber o que o paciente pensa em relação às próprias manipulações ou observa na execução do terapeuta. É importante que se faça o registro de todo procedimento. A ordem apresentada na maioria dos trabalhos sobre o assunto é a seguinte: Conservação: pequenos conjuntos discretos (6/7 anos); quantidade de líquido e matéria (6/7 anos); comprimento (8/9 anos); superfície (8/9 anos); peso (8/9 anos); volume (10/12 anos). Classificação: dicotomia ou mudança de critério (6/7 anos); inclusão (6/7 anos); intersecção (6/7 anos). Seriação: 6/7 anos. Provas do pensamento formal: duplas e sequencias (a partir dos 12 anos) Provas espaciais: construção horizontal, vertical e coordenação do espaço bidimensional (8/9 anos) Não se devem aplicar várias provas de conservação em uma mesma sessão, a fim de evitar a contaminação da forma de resposta. Considerando-se que o objetivo básico das provas é avaliar o grau de construção operatória, podemos dividir as respostas em três níveis: Nível 1: Ausência total da noção, isto é, não atingiu o nível operatório nesse domínio. Nível 2 ou Intermediário: As respostas ou condutas expressam vacilação e instabilidade ou são incompletas. Por exemplo: dão uma primeira resposta conservante e no momento seguinte outra não conservante, ou com o argumento oposto ao que falou em primeiro lugar. Nível 3: As respostas demonstram a aquisição da noção, sem vacilação. Testes psicométricos 16 Inteligência (CIA, WISC, Raven): facilidade de aplicação e avaliação, possibilidade de análise operatória, análise qualitativa, uso parcial de provas ou subtestes, realização de inquérito após as respostas e possibilidade de boa observação do processo de realização. Os testes de inteligência, isoladamente, não fazem a distinção entre oligofrênicos e oligotímicos. Para Weiss o uso de testes não tem por objetivo definir QI, mas verificar se o paciente está usando a inteligência a seu favor ou não. Bender: usado sempre que surgem dúvidas sobre questões psicomotoras e espaciais não elucidadas pelos demais instrumentos. Técnicas projetivas São técnicas que trabalham com situações relativamente pouco estruturadas, e utilizam-se estímulos com grande amplitude e até mesmo ambíguos. Elas se baseiam no princípio que a maneira em que sujeito percebe, interpreta e estrutura o material ou situação, reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. Técnica de relatos: Testes CAT e TAT. Grafismo: desenho livre, desenho dirigido, desenho seguido de história sobre o desenho, Teste HTP. A boa análise do grafismo fornece dados da área cognitiva do sujeito, assim como do processo simbólico normal ou com desvios patológicos, dando a compreensão global do paciente. Podemos analisar se que a criança já possui noções de dentro e do fora, parte e todo, horizontal e vertical, simetria, profundidade, perspectiva etc. 3.2.5 Provas projetivas psicopedagógicas 17 São provas relacionadas situações escolares, à família, à vida em geral, mas sempre buscando o viés da aprendizagem. O que diferencia das demais propostas é o "olhar psicopedagógico" do terapeuta. Alguns pontos devem ser observados: No desenho: localização do paciente, outros personagens, objetos; características lógicas e temporais da sequencia de cenas; idade, sexo, nomes, características de personagens, se possível comparar com o próprio, colegas de escola, amigos, familiares; adequação ao pedido feito pelo terapeuta. No relato oral: observar a sequencia têmporo-espacial, contexto espacial em que ocorrem as cenas; temas escolhidos; coerência entre as cenas e os relatos orais e os títulos escolhidos. Durante a execução: indecisões para começar, continuar; troca de tema; apagar, desmanchar, refazer; posturas e movimentos corporais, motricidade, posição e domínio do lápis. Propostas mais usadas: Dupla educativa: entregar uma folha de papel branca tamanho ofício e um lápis, pedir para desenhar uma pessoa que ensina e uma que aprende, indicar quem são as pessoas, as idades, relatar o que aconteceu ou organizar uma história (oral ou por escrito), dar um título. Pode ampliar os comentários. Eu e meus companheiros: desenhar você e seus colegas de turma; depois de feito, pedir para indicar os nomes e as idades, pedir comentários sobre a situação apresentada, sobre o que ocorre na sala de aula ou o que gostaria que ocorresse. Planta da sala de aula ou escola: indicando os lugares em que sentam você e seus colegas, lugares que gosta de ficar. Desenho em episódios: desenhar quatro momentos diferentes do seu dia desde o momento em que acorda até a hora de dormir. Deve ser um dia sem aula, domingo, feriado ou dia de férias. Dobrar uma folha, tamanho ofício, em 18 quatro partes, ou trabalhar com quatro meias folhas. Depois do desenho, pedir que fale sobre o que está acontecendo em cada quadro. Família educativa: pedir que o paciente desenhe a sua família fazendo o que cada um sabe fazer. Sugerir que dê a idade das pessoas, os nomes, o que cada um está fazendo, se costuma ensinar ou não, como o faz. O que aprendeu ou gostaria de aprender com essa pessoa. Pode contar uma história, dar um título. 3.2.6 Síntese diagnostica e Prognóstico Realizado todas as etapas do diagnóstico psicopedagógico, o terapeuta já deve ter formado uma visão global do paciente e sua contextualização na família, na escola e no meio social em que vive. O laudo ou informe tem como finalidade resumir as conclusõesa que se chegou na busca de respostas às perguntas iniciais que motivaram o diagnóstico. Roteiro proposto por Weiss (p. 146): I. Dados pessoais II. Motivo da avaliação - encaminhamento III. Período da avaliação e número de sessões IV. Instrumentos usados V. Análise dos resultados nas diferentes áreas ou domínios (pedagógica, cognitiva, afetivo-social, corporal) VI. Síntese dos resultados - hipótese diagnostica VII. Prognóstico VIII. Recomendações e indicações IX. Observações: acréscimo de dados conforme casos específicos. 3.2.7 Devolução e encaminhamento 19 A devolução consiste na comunicação verbal feita ao final de toda a avaliação, em que o terapeuta relata aos pais e ao paciente os resultados obtidos ao longo do diagnóstico. É uma análise da problemática, seguida de sínteses integradoras. O terapeuta não deve apenas apresentar conclusões, mas proporcionar um momento para que os pais assumam o problema em todas as suas dimensões, o que significa compreender os aspectos inconscientes ou latentes da questão. Para crianças pequenas é importante fazer uma devolução que esteja a seu nível de compreensão. “A dificuldade da devolução não está apenas num relato organizado resultante do processo diagnóstico, mas principalmente na grande mobilização emocional que deflagra nos pais, o que já vem acontecendo desde a anamnese.” (p. 141). Diferentes formas de fazer a devolução: No consultório: Inicialmente só o paciente e depois os pais, inicialmente só o paciente e depois o paciente e os pais; desde o início com o paciente e seus pais. Na escola: com alguém da equipe escolar, paciente e alguém da equipe escolar, paciente, pais e alguém da equipe escolar, pais e alguém da equipe escolar. A escolha é feita a partir das relações que a autora percebe de aceitação ou negação, por parte dos pais, e das formulações feitas pela escola. A autora prefere fazer a devolução para os pais juntos, evitando a ideia de que problemas escolares são com mãe e o pagamento das sessões com o pai, ficando este sem engajamento afetivo com a situação. No caso de pais separados, quando não aceitam a hipótese de sessão conjunta, ela faz duas sessões e deixa a critério do paciente comparecer a ambas ou a apenas a uma, junto com quem preferir. “Finalmente, é preciso que a devolução se encerre clarificando o Modelo de Aprendizagem do paciente e de sua família, suas facetas saudáveis e suas dificuldades, bem como as possibilidades de mudança na busca do prazer e eficiência no aprender.” (p. 142). 20 No final da devolução, quando surge a necessidade de um atendimento, faz se os encaminhamentos.
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