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Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 DOCUMENTOS ORIENTADORES DA EDUCAÇÃO NO ÂMBITO INTERNACIONAL 3 Há momentos na vida em que a questão de saber se podemos pensar de outro modo que não pensamos e perceber de outro modo que não vemos é indispensável para continuar a olhar e refletir. Michel Foucault 3.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948 A Assembleia Geral das Nações Unidas pro- clamou a Declaração dos Direitos Humanos, na qual reconhece que: Artigo 1º “Todos os seres humanos nas- cem livres e iguais, em dignidade e direi- tos”. Artigo 26, inciso I, ‘toda a pessoa tem di- reito à educação. A Educação deve ser gratuita, ao menos a correspondente ao ensino elementar é obrigatória [...]’. Artigo 27, no inciso I, proclama que ‘toda a pessoa tem o direito de tomar parte li- vremente na vida cultural da comunida- de, de usufruir as artes e de participar do progresso científico e nos benefícios que deles resultam’ (BRASIL, 2004, p. 14). Essa Declaração, de modo geral, assegura às pessoas com deficiência os mesmos direitos à liberdade, à educação fundamental e ao desen- volvimento social. Prezado(a) aluno(a), para compreendermos melhor o processo pelo qual nossa sociedade pas- sou para que houvesse transformações na educa- ção das pessoas com deficiência, vamos resgatar diversos documentos internacionais. A educação de pessoas com deficiência foi modificando-se ao longo da história, a partir da transformação social, caracterizando-se pelos di- ferentes paradigmas vividos socialmente. A deficiência foi inicialmente tratada como possessão demoníaca ou escolha divina de pes- soas para purgação de seus pecados. À medida que a medicina foi avançando, a deficiência pas- sou a ser vista como doença. Tais ideias marcam práticas sociais de segregação em instituições vi- sando à proteção e ao cuidado do deficiente. Esse conjunto de ideias denominou-se Paradigma da Institucionalização (BRASIL, 2004). Esse paradigma se mantém no Brasil como modelo de atendimento aos deficientes até me- tade do século XX. Com o advento da Segunda Guerra mun- dial, os países membros da Organização das Na- ções Unidas (ONU) elaboram um documento que passa a nortear os movimentos de definição de políticas públicas em seus países membros. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 3.2 Declaração Mundial sobre Educação para TODOS - 1990 Em 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia. Essa Conferência teve como objetivo discutir a realidade dos países e, apesar de a dis- paridade entre as nações, relembrar de que TO- DOS têm direito à Educação. Para responder a essa demanda, foram rea- lizados alguns encaminhamentos: Artigo 1º – Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem – as crian- ças, os jovens e os adultos devem desen- volver plenamente suas capacidades; a educação deve possibilitar à sociedade a busca da justiça e a preservação do meio ambiente, enriquecer os valores culturais. Artigo 2º – Expandir o enfoque – desen- volver novas estruturas, recursos e pos- sibilidades de comunicação, promover a equidade e articular a educação aos con- juntos de conhecimentos relevantes na sociedade. Artigo 3º – Universalizar o acesso à educação e promover a equidade – educação básica para todos; melhorar a qualidade, alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade; eliminar os pre- conceitos e estereótipos, priorizar as mu- lheres e meninas; superar a disparidade com grupos excluídos: meninos de rua, nômades, minorias étnicas, etc.; ter me- didas especiais com portadores de defi- ciência. Artigo 4º – Concentrar a atenção na aprendizagem – A educação básica deve estar voltada para a efetiva apren- dizagem – abordagem de aprendizagens diferentes, definir níveis desejáveis de aprendizagem, implementar sistemas de avaliação e desempenho. Artigo 5º – Ampliar os meios e o raio de ação da educação básica – a diver- sidade de modos de aprendizagem deve ser relevada. A aprendizagem começa na infância, na família e fora dela; criar siste- mas de apoio; implementar programas próprios para jovens e adultos; ter pro- gramas de capacitação técnica. Artigo 6º – Propiciar ambiente adequa- do à aprendizagem – a aprendizagem não ocorre de maneira isolada, devem ser garantidos aos educandos cuidados em nutrição, médicos, apoio físico e emo- cional. Artigo 7º – Fortalecer as alianças – é necessário que as autoridades de todos os níveis se preocupem com a educação e com a valorização dos seus profissio- nais. É importante também implementar alianças com outros órgãos, governa- mentais ou não. Artigo 8º – Desenvolver uma política contextualizada de apoio – é necessário o apoio de setores econômico, cultural e social para a promoção da educação bá- sica; desenvolver uma política econômi- ca de comércio, trabalho, etc., visando ao desenvolvimento da sociedade; garantir ambiente intelectual e científico à educa- ção básica. Artigo 9º – Mobilizar os recursos – é ne- cessário mobilizar e disponibilizar recur- sos financeiros e humanos, para viabilizar a aprendizagem para todos. Artigo 10 – Fortalecer a solidariedade internacional – satisfazer necessidades básicas de educação é compromisso comum e universal, visando a corrigir disparidades, devendo haver aumento dos recursos destinados à educação; as necessidades básicas de aprendizagem devem ser atendidas, e os países menos desenvolvidos deverão ser auxiliados. As nações devem agir conjuntamente para acabar com guerras, conflitos, etc., visan- do a garantir as necessidades de aprendi- zagem (UNESDOC, 1998). Como pudemos observar, a Declaração de Jomtien busca modos de encaminhar as ques- tões de aprendizagem, pois se acredita que a educação é fundamental para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade de forma que possa contribuir para o progresso social, econômico e cultural e a para a cooperação internacional. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Ao assinar a Declaração de Jomtien, o Bra- sil assumiu, perante a comunidade internacional, o compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no País. Ten- do esse compromisso, o Brasil tem desenvolvido 3.3 Declaração de Salamanca - 1994 Os delegados das Nações Unidas, em Sala- manca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, reafirmam o compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e a ur- gência de providências de educação para crian- ças, jovens e adultos com necessidades educa- cionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Os países signatários, dos quais o Brasil faz parte, acreditam e proclamam que: �� toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportu- nidade de atingir e manter o nível ade- quado de aprendizagem; �� toda criança possui características, in- teresses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; �� os sistemas educativos devem ser pen- sados, e os programas implementados levando em consideração a diversidade educacional; �� as pessoas com necessidades educacio- nais especiais devem ter acesso à escola regular, que deverá pensar em uma Pe- dagogia centrada na criança, capaz de atender às suas necessidades; �� escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitu- des discriminatórias criando-se comu- nidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando edu- cação para todos. Incita os governos a: �� atribuir prioridade política e financei- ra ao aprimoramento de seus sistemas educacionais para se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, indepen- dentemente de suas diferenças ou difi- culdades individuais; �� adotar o princípio de educação inclusi- va em forma de lei ou de política, por meio da matrícula de todas as crianças em escolas regulares,a menos que haja fortes razões para agir de outra forma; �� estabelecer mecanismos de participa- ção descentralizados para planejamen- to, supervisão e avaliação educacional para crianças e adultos com necessida- des educacionais especiais; �� promover e encorajar a participação de pais, comunidades e organizações de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e tomada de decisão para atender os alunos com necessidades educacionais especiais; �� investir esforços em estratégias de iden- tificação e intervenção precoces; �� garantir que haja programas de treina- mento para professores, tanto inicial como contínuo, visando a atender às necessidades educacionais especiais em escolas inclusivas (UNESCO, 1996). Os participantes também conclamam que agências internacionais governamentais e não governamentais auxiliem, apoiem o desenvol- programas e criado instrumentos norteadores vi- sando a apoiar e dar subsídios nas diferentes esfe- ras públicas: municipal, estadual e federal (BRASIL, 2004). Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 vimento da Educação Especial como parte inte- grante dos programas educacionais relativos ao aprimoramento de professores, e estimulem a comunidade acadêmica no desenvolvimento de pesquisa e tecnologia, mobilização e criação de fundos para programas de apoio comunitário. Estrutura de Ação em Educação Especial Portanto, caro(a) aluno(a), é necessário que a escola possa visualizar os alunos com necessi- dades educacionais especiais como população- -alvo do seu trabalho. Qualquer pessoa com deficiência tem o di- reito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser realiza- dos. Os pais têm o direito inerente de ser consul- tados sobre a forma de educação mais apropriada às necessidades, às circunstâncias e às aspirações de suas crianças. Vamos saber um pouco mais sobre o assun- to lendo um excerto da Declaração de Salamanca. AtençãoAtenção A Declaração dos Direitos Humanos aponta para uma mudança na visão das pessoas com deficiência. Anos mais tarde, a Declaração de Jomtien e de Salamanca apontam para a importância de a escola modificar-se para atender satisfatoriamente a TODOS os alunos. Saiba maisSaiba mais 3. O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças defi- cientes e super-dotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginaliza- dos. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. No contexto desta Estrutura, o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacio- nais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e portanto possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua escolarização. Escolas devem buscar formas de educar tais crianças bem-sucedidamente, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas. Existe um consenso emergente de que crianças e jovens com necessidades educacio- nais especiais devam ser incluídas em arranjos educacionais feitos para a maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva. O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem-sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvanta- gens severa. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva. 4. Educação Especial incorpora os mais do que comprovados princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crian- ças possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas são normais e que, em consonância com a apren- dizagem de ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. Uma pedagogia centrada na criança é beneficial a todos os estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo. A experiência tem demonstrado que tal peda- gogia pode consideravelmente reduzir a taxa de desistência e repetência escolar (que são tão características de tantos sistemas educacionais) e ao mesmo tempo garantir índices médios mais altos de rendimento escolar. Uma pedagogia centrada na criança pode impedir o desperdício de recursos e o enfraquecimento de esperanças, tão frequentemente conseqüências de uma instrução de baixa qualidade e de uma mentalidade educacional baseada na idéia de que ‘um tamanho serve a todos’. Escolas centradas na criança são além do mais a base de treino para uma sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferenças quanto a dignidade de todos os seres humanos. Uma mudança de perspectiva social é imperativa. Por um tempo demasiadamente longo os problemas das pessoas portadoras de deficiências têm sido compostos por uma sociedade que inabilita, que tem prestado mais atenção aos impedimentos do que aos poten- ciais de tais pessoas. (UNESCO, 1996). Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Conforme observamos na Declaração de Salamanca, o princípio fundamental da escola in- clusiva é o de que todas as crianças devem apren- der juntas, sempre que possível, independente- mente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades de seus alunos, acomodando estilos e ritmos de aprendi- zagem e assegurando uma educação de qualida- de a todos, por meio de um currículo apropriado, arranjo organizacional, estratégias de ensino, uti- lização de recursos e parceria com a comunidade. Os alunos com necessidades educacionais especiais devem receber qualquer suporte extrar- requerido para assegurar uma educação efetiva. Educação inclusiva é o modo mais eficaz para construção de solidariedade entre crianças com necessidades educacionais especiais e seus cole- gas. O encaminhamento de crianças a escolas especiais ou classes especiais e a sessões espe- ciais dentro da escola, em caráter permanente, deveria constituir exceções, sendo recomendado somente nos casos em que fique claramente de- monstrado que a educação na classe regular seja incapaz de atender às necessidades educacionais ou sociais da criança. Para que esses pressupostos possam ser co- locados em prática, é necessário ter um plano de ação, que estabeleça as metas a serem alcança- das. Entendendo que a educação é um direito hu- mano e fator fundamental para reduzir a pobre- za e as desigualdades sociais e promover a paz, fica estabelecido que até o ano de 2015 todas as crianças tenham acesso ao ensino primário de qualidade, gratuito e obrigatório, e que terminem seus estudos. O Brasil se comprometeu com to- dos os objetivos aqui propostos (BRASIL, 2004). 3.4 Convenção de Guatemala - 1999 Na convenção da Guatemala todos os mem- bros participantes reafirmam que: as pessoas com deficiência têm os mes- mos direitos humanos e liberdades fun- damentais que outras pessoas, e que es- tes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todos ser humano (BRASIL, 2001). No primeiro artigo da Convenção, define-se o termo ‘deficiência’, sendo que: “deficiência signi- fica uma restrição física,mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades es- senciais da vida diária causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.” (BRASIL, 2001). Os efeitos dessa Convenção são fundamen- tais, pois tratam da necessidade de não se res- tringir ou impedir o exercício das pessoas com deficiência de seus direitos humanos e suas liber- dades fundamentais. Define, também, que não constitui discrimi- nação a diferenciação adotada para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos deficientes. Esse é um passo importante, uma vez que a diferença deve ser vista e respeitada. Existem vários documentos internacionais anteriores e posteriores aos citados, porém esses são marcos na mudança de paradigma da socie- dade. A partir deles, a sociedade teve que modifi- car seu modo de encarar o deficiente. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 Neste capítulo, pudemos analisar os diversos documentos internacionais que buscam orientar nos- sa sociedade para uma mudança de paradigma em relação às pessoas com necessidades educacionais especiais. Ainda há muito que a sociedade deve fazer para que essas crianças, esses adolescentes e adul- tos sejam realmente vistos e aceitos pela sociedade, porém fica claro a importância e o trabalho que a educação deve realizar. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. 3.5 Resumo do Capítulo 1. O que a Declaração dos Direitos Humanos aponta em seus artigos 1º e 26? 2. A Declaração de Jomtien aponta que todas as crianças aprendem. Para que isso ocorra, é ne- cessário satisfazer quais demandas? 3. A Declaração de Salamanca mostra-nos que é necessário modificar as escolas para que pos- sam atender com qualidade aos alunos com necessidades educacionais especiais. Quem deve mudar? 3.6 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Para mim, o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo; é a dialeti- zação dos atos de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante. Por essa razão, a utopia é, também, um compromisso histórico. Paulo Freire Caro(a) aluno(a), como você pôde observar, estamos fazendo um percurso histórico para en- tender a educação dos alunos com deficiência na LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - MARCOS LEGAIS4 rede regular de ensino. Vamos, agora, entender a repercussão dos movimentos internacionais no Brasil. O Brasil é membro da Organização das Na- ções Unidas, portanto signatário de todas as de- clarações observadas anteriormente. Para colocar em prática os princípios que explicitam sua opção política de uma sociedade para todos, são neces- sárias leis que orientem as políticas públicas e sua prática social. 4.1 Constituição Federal - 1988 A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, assumiu os princípios observados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Na Constituição, o art. 6º diz: “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segu- rança [...]” (BRASIL, 1988). Fica instituída a obriga- toriedade do Ensino Fundamental de no mínimo oito anos, e este é de responsabilidade dos pais e do poder público. Garantir a possibilidade de término da escolaridade é obrigatório, inclusive àqueles que não tiveram acesso em idade própria. Em relação à educação especial, houve uma modificação, que pode ser observada no art. 208: [...] o dever do Estado para com a educa- ção será efetivado mediante garantia de ensino fundamental obrigatório, gratuito inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria; atendimento educacional especializado a portado- res de deficiência preferencialmen- te na rede regular de ensino (BRASIL, 1996). A partir da promulgação dessa Constitui- ção, tivemos uma descentralização das tomadas de decisão; os municípios passam a ter autono- mia política para tomar decisões. Cabe aos muni- cípios mapear as necessidades de seus cidadãos, planejar e implementar recursos necessários para atender à população (MEC/SEESP, 2004). AtençãoAtenção A Constituição Federal, lei maior do Brasil, aponta para a importância de que as pessoas com defi- ciência não sejam vistas de modo diferente, mas que frequentem a escola regular como qualquer outro cidadão do Brasil. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi promulgado em 1990, Lei nº 8.069, estabelece que as crianças e os adolescentes te- nham garantidos os direitos fundamentais ine- rentes à pessoa humana, assegurando-lhes as oportunidades e facilidades que visem ao desen- volvimento físico, mental, espiritual e social. Afirma, no art. 4º, que é dever da família, da sociedade e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação de seus direitos quanto à vida, à saúde, à alimentação, à educa- ção, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à liberdade. Em relação à educação, estabelece em seu art. 53: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvol- vimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando: I – Igualdade de condições para aces- so e permanência na escola; 4.2 Estatuto da Criança e do Adolescente II – Direito de ser respeitado por seus educadores; III – Direito à escola pública e gratuita próximo de sua residência. O Artigo 54 diz: é dever do Estado asse- gurar à criança e ao adolescente: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II – atendimento educacional espe- cializado aos portadores de deficiên- cia preferencialmente na rede regular de ensino [...] (BRASIL, 1990). O art. 55 reafirma que os pais e/ou respon- sáveis têm o dever de matricular seus filhos na rede regular de ensino. Como pudemos observar, a legislação vem organizar a prática social a partir das opções políticas assumidas pela Nação. Com relação aos portadores de deficiência, fica claro que a segregação não deve mais acontecer, mas que eles possam passar a conviver em espaços socialmente constituídos junto à sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional – Lei nº 9.394/1996 foi sancionada em de- zembro de 1996. Ela responsabiliza os municípios pela universalização do ensino para os cidadãos de 0 a 14 anos. Sendo o Brasil signatário da ONU, nessa lei aparecem formuladas as políticas que preveem o atendimento de alunos com deficiên- cia, assim como podemos observar no Capítulo V – Da Educação Especial, do qual destacamos os arts. 58, 59 e 60. Artigo 58 Entende-se por Educação Espe- cial, para os efeitos desta Lei, a modalida- de de educação escolar oferecida prefe- rencialmente na rede regular de ensino, 4.3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) - 1996 para educandos portadores de necessi- dades especiais. § 1° Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da cliente- la de Educação Especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços es- pecializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes de ensino regular. § 3º A oferta de Educação Especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa de zero a seis anos, durante a Edu- cação Infantil. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Artigo 59 Os sistemas de ensino assegu- rarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, re- cursos educativos e organização especí- ficos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fun- damental, em virtude de suas deficiên- cias, e aceleração para concluir em menor tempo o programaescolar para os super- dotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular ca- pacitados para a integração desses edu- candos nas classes comuns; IV – Educação Especial para o trabalho visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições ade- quadas para os que não revelam capaci- dade de inserção no trabalho competiti- vo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomoto- ra; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do en- sino regular. Artigo 60 Os órgãos normativos dos siste- mas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Parágrafo Único. O Poder Público adota- rá, como alternativa preferencial, a am- pliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, indepen- dentemente do apoio às instituições pre- vistas neste artigo (BRASIL, 1996). A nova LDB reafirma a preferência do aten- dimento dos portadores de necessidades educa- cionais especiais (PNEE) na rede regular de ensino, prevendo, para que isso possa acontecer, serviços de apoio especializado na escola regular. Obser- vando bem, há uma mudança significativa no modo de atendimento, anteriormente realizado a partir da Lei nº 5.692/1971, que previa o atendi- mento de forma segregada, em escolas especiais ou classes especiais. Apesar do avanço da nova lei, ela acaba por não determinar quem são as pessoas com necessidades educacionais especiais ou que pro- fissionais irão realizar a identificação desse grupo. Portanto, são necessários outros decretos que possam especificar melhor aquelas determina- ções que ficaram abrangentes. AtençãoAtenção A nova LDB incorpora em seus pressupostos as Declarações de Jomtien e de Salamanca, apon- tando para a necessidade de a escola se modifi- car para atender aos alunos que possuam neces- sidades educacionais especiais. 4.4 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica - Res. CNE/CEB n° 2. 2001 Como pudemos verificar até agora, o Brasil vem seguindo o caminho da inclusão dos porta- dores de necessidades educacionais especiais no ensino regular; porém, para explicitar como esse processo deve acontecer, foi realizado um estudo aprofundado da questão, publicado em 2001, o Parecer nº 17, que visa a “subsidiar o estudo e nor- matização de políticas sobre a Educação Especial”. A Resolução CNE/CEB nº 2 representa um avanço na perspectiva da universalização do en- sino e um marco na atenção à diversidade, ratifi- cando a obrigatoriedade da matrícula de todos os alunos, declarando: Os sistemas de ensino devem matricu- lar todos os alunos, cabendo às escolas Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacio- nais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de quali- dade para todos (BRASIL, 2001). Para que se efetive o exposto nesse pará- grafo, é necessário que a escola elabore projetos pedagógicos que sejam orientados pela política de inclusão e também pelo compromisso com a educação escolar desses alunos. Dessa forma, modificamos o paradigma da educação: “não é mais o aluno que deve adaptar-se à escola, mas é ela que, consciente de sua função, coloca-se à disposição do aluno, tornando-se um espaço in- clusivo” (BRASIL, 2001). A proposição da política expressa nas dire- trizes traduz o conceito de escola inclusiva. A Resolução nº 4 de 2010 define as Diretri- zes Curriculares gerais para a Educação Básica. Na Seção II, aponta o caminho que a modalidade da Educação Especial deve tomar. Art. 29. A Educação Especial, como mo- dalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagó- gico da unidade escolar. § 1º Os sistemas de ensino devem ma- tricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen- to e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas de re- cursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições co- munitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. § 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para que o professor da classe comum possa explorar as potencialida- des de todos os estudantes, adotando uma pedagogia dialógica, interativa, in- terdisciplinar e inclusiva, e, na interface, o professor do AEE deve identificar habi- lidades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a participação e aprendizagem dos estudantes. 4.5 Resolução n° 4 de 2010 - Define Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica § 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino devem observar as se- guintes orientações fundamentais: I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no ensino regular; II - a oferta do atendimento educacional especializado; III - a formação de professores para o AEE e para o desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas; IV - a participação da comunidade esco- lar; V - a acessibilidade arquitetônica, nas co- municações e informações, nos mobiliá- rios e equipamentos e nos transportes; VI - a articulação das políticas públicas in- tersetoriais. (BRASIL, 2010). Essa legislação reafirma o caminho da Edu- cação Inclusiva nas escolas regulares e mostra a necessidade de os alunos com deficiência, Trans- tornos Globais do Desenvolvimento e Superdota- ção terem atendimento Educacional Especializa- do (AEE). As normas do AEE foram instituídas pela Resolução nº 4 de 2009, que apontam as Diretri- zes Operacionais para o Atendimento Educacio- nal Especializado na Educação Básica na modali- dade Educação Especial. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 A Resolução nº 4 de 2009 institui: Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino de- vem matricular os alunos com deficiên- cia, transtornos globais do desenvolvi- mento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especiali- zado (AEE), ofertado em salas de recur- sos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializa- do da rede pública ou de instituições co- munitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Art. 2º O AEE tem como função comple- mentar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e es- tratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Parágrafo único. Para fins destas Diretri- zes, consideram-se recursos de aces- sibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pe- dagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comu- nicação e informação, dos transportes e dos demais serviços (BRASIL, 2009). Aponta como população-alvo da Educação Especial e que devem ser encaminhados ao AEE, art. 4º: Para fins destas Diretrizes, considera-se público-alvo do AEE: I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. II – Alunos com transtornos globais dodesenvolvimento: aqueles que apre- sentam um quadro de alterações no de- senvolvimento neuropsicomotor, com- prometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegra- tivo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. III – Alunos com altas habilidades/super- dotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimen- to com as áreas do conhecimento huma- no, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criativida- de (BRASIL, 2009). Dessa forma, organiza-se o trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, na qual o professor da classe regular não é o único responsável pela aprendizagem com esse aluno, mas aponta para a importância de um trabalho conjunto – educação especial e ensino regular. 4.6 Organização da Educação Especial e seus Objetivos A Educação Especial visa, por meio de seu trabalho em espaços inclusivos, a preservar a dig- nidade humana; à busca da identidade e ao exer- cício da cidadania. A dignidade humana não permite que se tenha uma atitude de comiseração. A busca da dignidade passa pela constituição da identidade do sujeito. Ser um ser social e ter um papel defini- do na sociedade. A sociedade inclusiva, democrá- tica, não pode discriminar o outro, pois parte do princípio de respeito às diferenças. A educação deve implementar ações práti- cas e viáveis e garantir o direito público subjetivo de todos os indivíduos, tendo como meta a im- plementação dos serviços de Educação Especial na educação regular. Nessa visão política, reite- ramos: não é o aluno que se adapta à escola, mas a escola que se adapta ao aluno. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 Para que isso aconteça, é necessário que as instituições educacionais possam: I – perceber as necessidades educacio- nais especiais dos alunos; II – flexibilizar a ação pedagógica nas di- ferentes áreas de conhecimento; III – avaliar continuamente a eficácia do processo educativo; IV – atuar em equipe, inclusive com pro- fessores especializados em Educação Es- pecial (BRASIL, 2001). Segundo o que é proposto na Resolução nº 2/2001 (BRASIL, 2001), são considerados profes- sores especializados em Educação Especial aque- les que desenvolveram competências para iden- tificar as necessidades educacionais especiais, definir, implantar e implementar ações educativas a essas necessidades, apoiar o professor da classe comum, atuar nos processos de desenvolvimen- to e aprendizagem dos alunos, desenvolvendo estratégias de flexibilização, adaptação curricular e práticas pedagógicas alternativas. Essa forma- ção pode ser realizada por meio de habilitação em cursos de licenciatura em Educação Especial ou por cursos de pós-graduação. Na Resolução nº 4/2010, o art. 12 aponta que o professor, para atuar no AEE, deve ter formação inicial que o ha- bilite para o exercício da docência e formação es- pecífica para a Educação Especial. Como vimos, ao falarmos de educação in- clusiva, tratamos de um conceito amplo: ao em vez de focalizar a deficiência da pessoa, enfatiza- -se o ensino, a escola, as potencialidades do alu- no, bem como as formas e condições de aprendi- zagem. Os professores devem avaliar as barreiras que impedem a aprendizagem do aluno, visando a removê-las. Educandos que apresentam necessidades educacionais especiais são aqueles que, durante o processo educacional, demonstram: I - dificuldades acentuadas de aprendiza- gem; II - aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; III - aquelas relacionadas a condições, dis- funções, limitações ou deficiências; IV - dificuldades de comunicação e sina- lização; V - altas habilidades/superdotação (BRA- SIL, 2001). Dessa forma, a Educação Especial agora é concebida como o conjunto de conhecimentos, tecnologias, recursos humanos e materiais didáti- cos que devem atuar na relação pedagógica para assegurar resposta educativa de qualidade às ne- cessidades educacionais especiais. Ainda com base no que é proposto na Reso- lução nº 2/2001 (BRASIL, 2001), a implementação da inclusão escolar deve acontecer tendo como eixo norteador o Projeto Pedagógico das institui- ções escolares, envolvendo a comunidade esco- lar e a família, visando a dar qualidade ao atendi- mento de todos. Para que o aluno com necessidades educa- cionais especiais esteja na classe comum, é neces- sário prever: a) professores das classes comuns e da educação especial capacitados e especia- lizados; b) distribuição dos alunos com necessi- dades educacionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que forem clas- sificados; c) flexibilizações e adaptações curricula- res, que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino, recursos didá- ticos diferenciados e processos de ava- liação adequados ao desenvolvimento desses alunos; d) serviços de apoio pedagógico especia- lizado, realizado: na classe comum, mediante atuação de professor da educação especial, de pro- fessores intérpretes das linguagens e có- digos aplicáveis, como a língua de sinais e o sistema Braille; Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 em salas de recursos, nas quais o pro- fessor da educação especial realiza a complementação e/ou suplementação curricular, utilizando equipamentos e materiais específicos; e) avaliação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem, inclusive para a identificação das necessidades educacio- nais especiais e a eventual indicação dos apoios pedagógicos adequados (BRASIL, 2001). A Resolução nº 4/2010 mostra que o aluno deve ser matriculado na classe regular, e, além disso, deve ser garantido: Art. 9º A elaboração e a execução do pla- no de AEE são de competência dos pro- fessores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao aten- dimento. Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino regular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua organiza- ção: I – sala de recursos multifuncionais: espa- ço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; II – matrícula no AEE de alunos matricu- lados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; III – cronograma de atendimento aos alu- nos; IV – plano do AEE: identificação das ne- cessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessá- rios e das atividades a serem desenvolvi- das; V – professores para o exercício da docên- cia do AEE; VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasilei- ra de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às ativi- dades de alimentação, higiene e locomo- ção; VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvi- mento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que maximizem o AEE. Parágrafo único. Os profissionais referi- dos no inciso VI atuam com os alunos pú- blico alvo da Educação Especial em todas as atividades escolares nas quais se fize- rem necessários. É importante que haja uma temporalidade flexível do ano letivo para atender às necessida- des educacionais especiais de alunos com de- ficiência intelectual ou deficiência múltipla, de forma que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, prin- cipalmente nos anos finais do ensino funda- mental, conforme estabelecido nas normas dos sistemas de ensino. É importante procurar evitar grande defasagem idade/série. O processo inclusivo deve acontecer me-diante aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a participação da família no processo educativo. O fato de a criança ter necessidades espe- ciais não pode significar dificuldade ao acesso escolar. Esta deve ter início na educação infantil; as creches e a educação infantil são fundamentais no desenvolvimento desses alunos. A escolarização do aluno que apresen- ta necessidades educacionais especiais deve processar-se nos mesmos níveis que no ensino fundamental, no ensino médio, na educação pro- fissional, na educação de jovens e adultos e na educação superior. O currículo a ser desenvolvido é a partir do proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para as diferentes etapas e modalidades da Edu- cação Básica. Em casos muito singulares, em que o edu- cando com graves comprometimentos mentais e/ou múltiplos não possa beneficiar-se do currí- culo da base nacional comum, deverá ser propor- cionado um currículo funcional para atender às necessidades práticas da vida. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 Tanto o currículo quanto a avaliação devem ser funcionais, buscando meios úteis e práticos para favorecer: o desenvolvimento das compe- tências sociais; o acesso ao conhecimento, à cul- tura e às formas de trabalho valorizadas pela co- munidade; e a inclusão do aluno na sociedade. Estudamos alguns dos documentos que compõem a Legislação brasileira em relação às nossas instituições de ensino e os encaminhamentos que foram sendo dados em busca de uma sociedade e principalmente de uma escola inclusiva. Fica claro que os professores da rede regular de ensino devem atender em suas classes a alunos com deficiência, transtornos e altas habilidades, porém fica explícito, também, que as escolas, em seus projetos políticos-pedagógicos, devem prever e prover a escola com recursos de classes multifuncionais e/ou de Atendimento Educacional Especializado; que esses espaços são fundamentais para que o aluno com necessidades especiais possa se desenvolver e que a classe regular não é o único espaço que deve ensinar; que o professor especialista será um parceiro da escola e dos professores no sentido de auxiliar o aluno com deficiência, transtornos e altas habilidades em seu pleno desenvolvimento. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. 4.7 Resumo do Capítulo 4.8 Atividades Propostas Agora, responda: 1. A legislação brasileira aponta que os alunos com deficiência, transtornos e altas habilidades devem ser atendidos nas escolas de ensino regular, preferencialmente. Quais são as leis que mostram essa necessidade? 2. A Resolução nº 2/2001 modifica o paradigma da escola: “Os sistemas de ensino devem matri- cular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos”. O que esse parágrafo que dizer em termos de política educacional? 3. A Resolução nº 4/2009 aponta que a população-alvo da educação especial é aqueles que apresentem quais características? Qual a diferenciação no atendimento que esses alunos de- vem ter? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 Querido(a) aluno(a), Faremos uma breve introdução sobre al- guns conceitos importantes em relação às ne- cessidades educacionais especiais e deficiência. Como já citado, nem sempre as pessoas com de- ficiência possuem uma necessidade educacional especial e podem, apesar de terem uma deficiên- cia, não apresentar nem necessidades educacio- nais especiais e nenhuma restrição à sua vida. Va- mos definir alguns conceitos: �� Deficiência – é toda e qualquer perda, falta ou alteração de estrutura ou de função, independentemente da causa. Estamos nos referindo à ausência ou à anormalidade de parte(s) do corpo, podendo ser um membro (mão, braço, perna etc.), órgão (olho, baço etc.) ou tecido. Portanto, estamos falando de algo que é orgânico (AMARAL, 1995). Ao falarmos de alteração de função, es- tamos nos referindo à função de órgãos e à função cognitiva; significa dizer que estão deficitárias. Essas alterações po- dem ser temporárias ou permanentes, congênitas ou adquiridas. �� Incapacidade – surge como conse- quência direta de uma deficiência, seja essa de ordem psicológica (função cog- nitiva), física, sensorial ou outra. A in- capacidade é a restrição decorrente de uma deficiência, ou seja, da habilidade de desempenhar uma atividade funcio- nal que é comum para o ser humano. Ela pode ser temporária ou permanen- te, reversível ou irreversível e progres- siva ou regressiva. Por exemplo, uma DEFICIÊNCIA, INCAPACIDADE OU MENOS-VALIA5 pessoa que sofre um acidente e tem uma lesão na coluna vertebral, tem a medula afetada, passando a ter uma in- capacidade permanente de não andar. Por outro lado, uma pessoa que fratura as duas pernas tem uma deficiência nos membros inferiores e uma incapacida- de transitória de não andar. �� Desvantagem (ou menos-valia) – é uma situação desvantajosa para um indivíduo determinado, como conse- quência de uma deficiência ou inca- pacidade que o limita ou o impede de desempenhar um papel que esteja de acordo com a sua idade e sexo e com os fatores sociais e culturais. Caracteriza- -se pela diferença entre o rendimento do indivíduo e suas próprias expecta- tivas e/ou as do grupo a que pertence. Quando falamos de desvantagem, fa- lamos sempre de desvantagem em re- lação a algo ou a alguém, ou seja, fala- mos sempre comparativamente. Sendo assim, diferentemente da deficiência e da incapacidade, que são concretas e objetivas, a desvantagem é relativa. En- quanto a deficiência e a incapacidade estão caracterizadas na própria pessoa que as apresenta, a desvantagem surge na relação desse indivíduo com o seu meio ambiente. Segundo Amaral (1995, p. 66), o conceito de desvantagem está “[...] profundamente ligado aos valores, normas e padrões do grupo no qual a pessoa com deficiência está inserida”. A desvantagem reflete a interação do in- divíduo com o meio, está relacionada à socialização. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 34 Articulando os três conceitos, podemos ci- tar um exemplo: lesão na medula é a deficiência, a incapacidade é de não andar e a desvantagem é de não poder ter uma locomoção autônoma ou realizar a prática de alguns esportes. 5.1 Resumo do Capítulo Podemos dizer que essa divisão didática e conceitual que observamos auxilia-nos a pensar que nem tudo que parece ser causado por uma deficiência é consequência direta dela ou somente dela. Ou seja, muitas coisas que consideramos serem causadas pela deficiência são, na verdade, causadas pela forma como nos relacionamos com a deficiência ou com a pessoa que a apresenta. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. Agora, responda: 1. O que é deficiência? 2. O que é menos-valia? 3. O que é incapacidade? 5.2 Atividades Propostas
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