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AULA 1 CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS E ANÁLISE DE DESEMPENHO ENERGÉTICO Prof. Bruno S. Garcia 2 INTRODUÇÃO Contextualização das certificações ambientais no cenário global Esta aula abordará o início das questões sustentáveis aplicadas à construção civil, identificando quais bases serviram de apoio para o desenvolvimento de práticas sustentáveis na atualidade. Vamos identificar qual foi o papel das Nações Unidas no cenário global e na evolução do tema, além de explicar os resultados gerados em reuniões entre agentes de diferentes países. TEMA 1 – SURGE O TERMO SUSTENTABILIDADE Conforme destaca a presidente da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gro Harlem Brundtland, no documento “Nosso Futuro Comum” (1991, p. 46), o desenvolvimento sustentável é denominado como “a satisfação das necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Esse termo surgiu da ideia de ecodesenvolvimento ou desenvolvimento saudável, o qual não esgota recursos naturais do planeta. A Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1972 em Estocolmo (Suécia), foi palco de discussões sobre o crescimento econômico de países desenvolvidos a fim de contribuir para pesquisas referentes à tecnologia com vistas a resolver problemas de nações subdesenvolvidas. Aos poucos, o tema ganhou novos adendos. Em 1987, a ONU (Figura 1) criou uma comissão responsável em pesquisar problemas relativos ao meio ambiente e desenvolvimento, cujo resultado foi o “Relatório Brundtland”, conhecido como Our Common Future (Nosso Futuro Comum), que ressalta o conceito de desenvolvimento sustentável. Esse documento propôs que o desenvolvimento econômico deve ser aliado à justiça social e em plena sinergia com a terra (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991). Já em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, sucedido na cidade do Rio de Janeiro, a compreensão do termo incorporou um princípio orientador de ações. Surgiu então a Agenda 21, representando a responsabilidade das nações em agir em cooperação na tentativa de um desenvolvimento mais saudável, equitativo e justo. 3 Figura 1 – Simbologia da ONU Crédito: Yuriy Boyko / Shutterstock. 1.1 Contexto histórico Para seguirmos falando sobre o tema, é necessário entender o que motivou essas reuniões. Em 1962, foi publicada a obra Primavera silenciosa, de Rachel Carson. Em tom investigativo, contrapondo-se ao desenvolvimento tecnológico desenfreado no âmbito da agricultura e da biomedicina no auge da Guerra Fria, o livro multiplicou dúvidas e anseios entre os leitores, atingindo o número de 500 mil cópias vendidas – daí ser considerado o mais controverso daquele ano. Cientistas, biólogos e químicos da época acreditavam que detinham conhecimentos notáveis sobre a natureza e suas variações, porém a autora conseguiu, por meio de suas reflexões, revelar algo inusitado. Em 1935, um químico suíço chamado Paul Müller, vencedor do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1948, iniciou estudos com inseticidas sintéticos. Após quatro anos, sua criação, a substância diclorodifeniltricloroetano, conhecida como DDT, foi patenteada; tinha como objetivo controlar insetos e pragas, contribuindo para a diminuição do surto de malária. No entanto, Rachel descobriu que a substância poderia causar danos colaterais à natureza, revelando indícios de peixes e pássaros mortos nos locais onde era aplicada. Com o DDT, usado na época para infestações de formigas e insetos em geral, Carson começou a perceber que não somente formigas morriam, mas melros, rouxinóis, tatus e gambás. Suas pesquisas atingiram resultados que revelaram como a substância se acumulava nos organismos aplicados, sendo até mesmo transmitida de nível dentro da cadeia alimentar. No caso das minhocas, a 4 intoxicação estava tão alta que envenenava os pássaros que as comiam, prejudicando a sobrevivência até mesmo dos filhotes. Além disso, a autora começou a observar que insetos estavam adquirindo resistência ao DDT. Logo o livro provocativo passou a alcançar vendas extraordinárias, resultando na desavença com cientistas, os quais, além de desenvolver o DDT, patrocinavam pesquisas de eficácia e segurança do produto, revelando, portanto, um grande conflito de interesse. Com a saúde frágil, causada por um câncer, Rachel se tornou porta-voz da luta contra pesticidas, incentivando ao leitor do seu livro a consciência ambiental. Enfim, Primavera silenciosa tomou proporções tão grandes que se tornaram prioridades nas decisões políticas, a ponto de o senador Abraham Libicoff, responsável por assuntos de saúde, educação e bem-estar dos Estados Unidos, realizar uma completa avaliação dos perigos causados ao meio ambiente, incluindo o uso de inseticidas. Ao final, inseriu-se a ideia de que a vida é frágil, mutável e que a ciência não é onisciente. 1.2 Iniciam-se os prédios sustentáveis Há divergências sobre como foram iniciadas as construções sustentáveis. As definições da palavra sustentável são: manter, garantir, defender e realizar sem que haja riscos ou prejuízos. Antes mesmo da construção de grandes edifícios ou casarões, os índios de diferentes regiões já erguiam moradias conforme o clima do local. Ao norte, onde havia um clima mais temperado, ventos e temperaturas mais amenas, os telhados eram projetados para receber o vento e ter troca de ar no seu interior. Ao sul, regiões com temperaturas discrepantes, muito frias ou muito quentes, as residências eram enterradas no solo, pois havia modo de se proteger dos ventos, assim seu interior manteria uma temperatura constante. O conceito de sustentabilidade nas construções surgiu de uma ideia de racionalização, ou seja, evitar uso abusivo de materiais e mão de obra, principalmente na necessidade de economia de energia advinda da crise do petróleo de 1970. Algumas alternativas limpas foram aos poucos sendo implantadas para produção de energia. Entre as principais estão: a eólica (por meio dos ventos), fotovoltaica (energia solar), biomassa (produção de matéria orgânica de origem vegetal ou animal), maremotriz (movimentação dos mares) e 5 geotérmica (obtida do calor da terra). A Figura 2 ilustra alguns exemplos dessas energias. Figura 2 – Energias renováveis Crédito: TackTack/Shutterstock. Em 1992, surgiu o Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM) – em português, Método de Avaliação Ambiental –, pioneiro na certificação ambiental em edifícios. Ele criou métodos que separavam questões como gerenciamento, energia, água, transporte, materiais, poluição, saúde e bem-estar, uso da terra, ecologia e resíduos. Segundo Silva (2003), a indústria da construção civil é a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente, já que as etapas de execução, uso e operação, reforma, manutenção e demolição consomem recursos e geram resíduos que superam a maioria das outras atividades econômicas. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter um prédio sustentável, o Eldorado Business Tower, em São Paulo. Segundo a United States Green Building Council (USGBC), hoje o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com mais construções sustentáveis (USGBC, 2018). Seguem algumas certificações sustentáveis existentes, sobre as quais abordaremos posteriormente: 6 Leadership in Energy and Environmental Design – LEED (Estados Unidos); Green Building Challenge – GBTool, consórcio internacional; Hong Kong Building Environmental Assessment Method – HK-BEAM (Hong Kong); Promise Environmental Classification System for Buildings (Finlândia); National Australian Building Environment Rating Scheme – NABERS (Austrália); Comprehensive Assessment Systemfor Building Environmental Efficiency – CASBEE (Japão); Passiv Haus (Alemanha); PBE Edifica (Brasil); Aqua – HQE (Haute Qualité Environnementale) – certificação francesa adaptada para o Brasil; Selo Casa Azul (Brasil); GBC Brasil (Brasil); WELL (Estados Unidos). TEMA 2 – AGENDA 21 A Agenda 21 é uma estratégia organizada pelas Nações Unidas, que traz um consenso mundial e compromisso político assumido pelos governos de 179 países para a mobilização de políticas sustentáveis de desenvolvimento com vistas a estudos, normativas e ações positivamente impactantes ao meio ambiente. Foi o documento mais abrangente já produzido com ideia de novo desenvolvimento, cujo objetivo é promover a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e econômica, dando origem ao chamado tripé da sustentabilidade, conforme indicado na Figura 3. 7 iFigura 3 – Tripé da sustentabilidade Crédito: desdemona72 / Shutterstock. Dentro desse documento, estão inseridos nas dimensões sociais e econômicas capítulos como: Cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento e políticas internas correlatadas; Combate à pobreza; Mudança dos padrões de consumo; Dinâmica demográfica e sustentabilidade; Proteção e promoção de condições de saúde humana; Promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos; Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões. Nas esferas de conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento estão: Proteção da atmosfera; Abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos recursos terrestres; Combate ao desflorestamento; Manejo de ecossistemas frágeis: a luta contra a desertificação e a seca; Gerenciamento de ecossistemas frágeis: desenvolvimento sustentável das montanhas; Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável; 8 Conservação da diversidade biológica; Manejo ambientalmente saudável da biotecnologia; Proteção de oceanos, de todos os tipos de mares, inclusive mares fechados e semifechados, zonas costeiras, e proteção, uso racional e desenvolvimento de recursos vivos; Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos: aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos; Manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas, incluída a prevenção do tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos; Manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos, incluindo a prevenção do tráfico internacional ilícito de resíduos perigosos; Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas com esgotos; Manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos. Na seção do fortalecimento do papel de grupos sociais, estão: Ação mundial pela mulher, com vistas a um desenvolvimento sustentável equitativo; A infância e a juventude no desenvolvimento sustentável; Reconhecimento e fortalecimento do papel das populações indígenas e suas comunidades; Fortalecimento do papel das Organizações Não Governamentais: parceiros para o desenvolvimento sustentável; Iniciativas das autoridades locais em apoio à Agenda 21; Fortalecimento do papel dos trabalhadores e de seus sindicatos; Fortalecimento do papel do comércio e da indústria; A comunidade científica e tecnológica; Fortalecimento do papel dos agricultores. Por fim, na aba sobre os meios de implantação, estão os capítulos: Recursos e mecanismos de financiamento; Transferência de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e fortalecimento institucional; 9 A ciência para o desenvolvimento sustentável; Promoção do ensino, da conscientização e do treinamento; Mecanismos nacionais e cooperação internacional para fortalecimento institucional nos países em desenvolvimento; Arranjos institucionais internacionais; Instrumentos e mecanismos jurídicos internacionais; Informação para a tomada de decisões. Em resumo, o documento propõe iniciativas de promoção da educação ambiental, alertando para o risco à saúde e consequências do crescimento e desenvolvimento sem preservação do meio ambiente. TEMA 3 – CONFERÊNCIA DAS PARTES E PROTOCOLO DE KYOTO A Conferência das Partes (COP) é uma reunião anual de países desenvolvidos e em desenvolvimento com objetivo de assegurar que as medidas em favor do meio ambiente continuem a serem tomadas. De 1995 até 2018, houve 24 reuniões em diferentes países, desde Berlim, marcando o início dos encontros, passando por Kyoto em 1997 (consolidando o Protocolo de Kyoto), até Katowice, na Polônia, o último realizado. Para entendermos o Protocolo de Kyoto, é necessário saber o que são os Gases de Efeito Estufa (GEE) – em inglês, Green House Gases (GHG). O efeito estufa é um fenômeno natural que mantém a temperatura da terra acima do que seria na ausência da atmosfera. É por causa dele que a vida dos seres humanos é viável e consegue se desenvolver na forma como conhecemos. 10 Figura 4 – Efeito estufa Crédito: VectorMine / Shutterstock. Podemos entender o efeito estufa tomando como base o exemplo das estufas de plantas encontradas geralmente em residências americanas. São pequenas construções com envoltório de vidro com diferentes espécies de plantas no seu interior. Esse espaço serve para que as plantas não nativas ou exóticas, que não conseguiram viver naturalmente no terreno e no clima local, possam se desenvolver por meio de um clima inventado. A Figura 5 traz um exemplo dessas estufas. 11 Figura 5 – Estufa de plantas Crédito: muph / Shutterstock. O mesmo fenômeno ocorre com a atmosfera da terra, em que alguns gases funcionam como o vidro da estufa, deixando que a radiação do sol entre e se transforme em calor. Os principais gases estufa são: Dióxido de carbono (CO2): principal contribuinte para o aquecimento global; é produzido pela queima de combustíveis fósseis e resultantes de um aumento gradativo do desmatamento. Metano (CH4): também conhecido como gás dos pântanos, é produzido em função da decomposição anaeróbica de alimentos, digestão animal, queima de lixões, criação de gado e outros. Óxido nitroso (N2O): a principal fonte de emissão é a atividade agrícola, por meio de fertilizantes sintéticos. Outra fonte, em menor proporção, é a produção de energia pela queima de combustíveis. Vapor d’água: é o maior contribuinte natural para o efeito estufa, pois retém calor da atmosfera e o devolve para o planeta. Suas fontes são as superfícies de água, gelo, neve e solo. Desse modo, os países industrializados, responsáveis pelas maiores emissões de poluentes por meio de seu desenvolvimento industrial, sofreram sanções para que controlassem sua produção ou obtivessem alternativas de energia limpa. 12 Surgiu, então, como resultado de reunião das Nações Unidas em 1992, um tratado para as mudanças climáticas, o qual foi ratificado apenas em 1997 na cidade de Kyoto. Todos os países considerados industrializados aderiram ao documento que ficou conhecido como Protocolo de Kyoto. Os principais objetivos dele são: reformar os setores de energia e transporte; promover o uso de fontes energéticas renováveis; eliminar mecanismos financeiros e de mercados que sejam inapropriados; limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; proteger florestas e outros sumidouros de carbono. No entanto, há três mecanismos de flexibilização do Protocolo em relação aos gases do efeito estufa: 1) Implementação conjunta: Quando dois ou mais países desenvolvidos realizam projetos para redução dos gases do efeito estufa, e podem, posteriormente, transformaressa redução em unidades de medida com potencial de comercialização chamadas créditos de carbono. Cada crédito corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente. Vamos citar o exemplo da redução das emissões de óxido nitroso em Lovochemie (República Tcheca), em parceria com a Dinamarca. A redução esperada de emissões entre 2008 e 2012 era de 1.250.000 tCO² e se obteve êxito em 2005, de 48.014 tCO², 143.647 tCO² (2006), 267.466 tCO² (2007), 301.245 tCO² (janeiro a junho de 2012), 176.447 tCO² (julho a outubro de 2012) e 70.194 tCO² (novembro a dezembro de 2012). O projeto visava reduzir o nível de emissões de óxido nitroso (N2O) no maior fabricante de fertilizantes do país. O gás de efeito estufa N2O é um subproduto da produção de ácido nítrico – um componente essencial do fertilizante. A iniciativa consistiu na instalação de uma nova tecnologia de catalisador na estrutura existente para diminuir as emissões de N2O. Como benefícios adicionais, há a utilização dos fundos adicionais da venda das Emission Reduction Units (ERU) resultantes para investimentos verdes, o que levar a impactos ambientais positivos das operações em Lovochemie (UNFCCC, [s.d.]). 13 2) Comércio de emissões: para os países desenvolvidos, há uma meta de redução, e no caso dos mais eficientes, é possível comercializar o excedente para quem não atingiu o objetivo estipulado. Uma das principais corretoras de comércio de energia limpa é a European Climate Exchange. 3) Desenvolvimento limpo: quando são implementados projetos sustentáveis que auxiliam na redução ou na captura dos gases poluentes. Desse modo, o país que cria essas iniciativas é premiado com o certificado “Redução Certificada de Emissões”. Há inúmeros setores que abrangem esses projetos, como geração de energia renovável, distribuição de energia, projetos de eficiência e conservação de energia, indústrias de produção e química, construção, transporte, mineração, produção de metais, uso de solventes, gestão e tratamento de resíduos, reflorestamento e agricultura. TEMA 4 – PROTOCOLO DE MONTREAL O Protocolo de Montreal é um documento que alerta para os males provocados pela produção desmedida de gases poluentes. Criado na cidade de Montreal (Canadá) em 1987, o tratado previne contra as consequências causadas pelas substâncias que destroem a camada de ozônio. O ozônio (O3) é um gás localizado na estratosfera com função de proteger os seres vivos dos raios ultravioleta emitidos pelo sol. Figura 6 – Ozônio Crédito: LukpedClub / Shutterstock. Existem três tipos de raio ultravioleta: o UVA, responsável pelo envelhecimento da pele, originando rugas e manchas amareladas; o UVB, causador de manchas vermelhas, queimaduras e ardências na pele; e o UVC, 14 que, por sua vez, é barrado totalmente pela camada de ozônio, conforme ilustrado na Figura 7. Entretanto, os raios ultravioleta também são benéficos, pois estimulam a produção de vitamina D pelo organismo. Figura 7 – Camada de ozônio Crédito: Designua / Shutterstock. O tratado entrou em vigor em 1º de janeiro de 1989, envolvendo acordos bilaterais de 197 países sobre os cuidados do meio ambiente, e obriga a redução progressiva na produção e consumo de determinadas substâncias até a sua total eliminação. O Protocolo de Montreal dividiu as substâncias químicas controladas em oito famílias: Clorofluorcarbonos (CFCs); Hidroclorofluorcarbonos (HCFCs); Halogênios; Brometo de metila; Tetracloreto de carbono (CTC); Metilclorofórmio; Hidrobromofluorcarbonos (HBFCs); Hidrofluorcarbonos (HFCs). A Figura 8, a seguir, exemplifica alguns gases naturais que estão na lista estabelecida pelo Protocolo de Montreal. 15 Figura 8 – Gases naturais na lista do Protocolo de Montreal Crédito: Blambca / Shutterstock. O surgimento desse protocolo aconteceu devido a uma reunião realizada na Áustria, em 1985, da qual participaram agentes de Estado, para tratar a preocupação técnica e política quanto aos possíveis impactos que poderiam ser causados com o fenômeno da redução da camada de ozônio. O evento ficou conhecido como Convenção de Viena. O encontro exaltava uma série de estratégias à disposição da comunidade internacional em promover a proteção ao ozônio estratosférico, obrigando os governos a adotarem medidas jurídico-administrativas apropriadas para proteger a saúde dos seres humanos. Algumas substâncias que afetam a camada de ozônio provêm de diferentes agentes. É o caso do dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2), lançado pelo uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão ou gás natural) e considerado o gás de maior emissão. Ele pode ser minimizado com o plantio de florestas, pois, por meio da fotossíntese, as árvores sequestram esse carbono e o devolvem ao meio ambiente como oxigênio. Essa ação pode ser aplicada, por exemplo, durante o planejamento territorial de cidades, especificamente Curitiba (PR), propondo que áreas industriais sejam circundadas com barreiras vegetais densas com, no mínimo, 30 metros de espessura. A medida evita que que os gases poluentes afetem a área urbana. O gás metano (CH4) é produzido principalmente pela decomposição orgânica anaeróbica em lixões abertos, aterros sanitários, criação de gado e 16 cultivo de arroz. Nesses lixões e aterros sanitários é feita a queima do metano, transformando-o em dióxido de carbono, criando, assim, maior facilidade para o controle da emissão de gases poluentes. O Protocolo de Montreal insere na lista de substâncias químicas controladas o clorofluorecarboneto (CFC), que, desde 1930 as indústrias de equipamentos de refrigeração instalam em geladeiras, aparelhos de ar- condicionado e até mesmo aerossóis. O gás é 15 mil vezes mais nocivo à camada de ozônio do que o CO2, contribuindo, portanto, para a exposição dos seres humanos a altos níveis de radiação, causadores de câncer e doenças de pele. Conforme indica o Quadro 1 a seguir, os gases foram, aos poucos, sendo retirados de circulação, devido ao Protocolo de Montreal; entretanto, adotam-se alguns que são menos prejudiciais, porém nocivos, como o hidroclorofluorcarbono (HCFC). Quadro 1 – Substâncias controladas, cronograma de eliminação e o contexto brasileiro Substância controlada Cronograma de eliminação Eliminação brasileira CFCs 1999 – congelamento 2005 – 50% 2007 – 85% 2010 – 100% (média consumo de 1995-1997) 2001 – somente permitido para o setor de serviço de equipamentos de refrigeração 2007 – somente permitido para MDIs, agente de processos químico e analítico e como reagente em pesquisas científicas Halogênios 2002 – congelamento 2005 – 50% (média consumo de 1995-97) 2010 – 100% 2001 – permitido para extinção de incêndio na navegação aérea e marítima, aplicações militares não especificadas, acervos culturais e artísticos, centrais de geração e transformação de energia elétrica e nuclear e em plataformas marítimas de extração de petróleo 2010 – 100% CTC 2005 – 85% (média de consumo de 1998-2000) 2010 – 100% 2001 – 100% (O Protocolo de Montreal não proíbe o CTC quando utilizado como matéria-prima em reações químicas) 17 Metilclorofórmio 2003 – congelamento 2005 – 30% (média do consumo de 1998-2000) 2010 – 70% 2015 – 100% 2001 – 100% Brometo de metila (fins agrícolas) 2002 – congelamento 2005 – 20% (média do consumo 1995- 98) 2015 – 100% 2007 – 100% (O Protocolo de Montreal não proíbe o brometo para usos em quarentena e pré-embarque de commodities agrícolas) HCFCs 2013 – congelamento 2015 – 10% 2020 – 35% 2025 – 67,5% 2030 – 97,5% 2040 – 100% 2013 – Congelamento 2015 – 16,6% 2020 – 39,3% 2021 – 51,6% 2025 – 67,5% 2030 – 97,5% 2040 – 100% HFCs 2024 – congelamento 2029 – 10% 2035 – 30% 2040 – 40% 2045 – 80%Atividades a serem iniciadas a partir de 2024 Fonte: Brasil, [s.d.]. O hidrofluorcarbono (HFC), que não tem cloro em sua composição, é o promissor a ser adotado nos próximos anos para o condicionamento de ar, visto que a ameaça à camada de ozônio é mínima. TEMA 5 – CERTIFICAÇÕES EM NÍVEL GLOBAL Há certificações direcionadas para vários tipos de negócios: alimentos, processo de tratamento de água, lâmpadas, produtos industriais e edificações. O Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) é uma certificação destinada especificamente a edifícios. Sua missão é certificar empreendimentos desde a fase inicial de projeto, passando pela construção até a entrega da edificação (pós-ocupação). Além do LEED, há a certificação WELL, que se concentra em projetos de construção com base na análise de seu impacto na saúde do usuário. 18 Para os produtos alimentícios, nos Estados Unidos, há o Departamento de Agricultura (USDA), que certifica, por meio do fornecimento de dados de cultivo, a produção orgânica de alimentos. No Brasil, o Ministério da Agricultura também certifica o produtor orgânico mediante o selo “Certificado Orgânico”, que assegura o cumprimento das normas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Outro selo interessante é o Safer Choice, que pretende mostrar aos consumidores o desempenho de determinado produto, realizando desde testes de pH – a fim de proteger o usuário de infecções de pele ou irritação nos olhos –, compostos orgânicos voláteis que pioram a qualidade do ar interno de um ambiente, até testes de toxicidade para o primeiro usuário como também para a vida da natureza. Para lâmpadas, celulares ou outros aparelhos eletrônicos, há a certificação Energy Star, que analisa o consumo eficiente de energia. Esse selo, originário dos Estados Unidos, foi adotado pela Austrália, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Taiwan e União Europeia. A madeira também possui selo de certificação, o Forest Stewardship Council (FSC), que serve para gestores florestais ou empresas que utilizam recursos florestais. O objetivo é mostrar que suas florestas e recursos são usados de forma responsável. A adoção das certificações eficientes e ambientais auxilia no reconhecimento da empresa, por ser inovadora e consciente ambientalmente, e para o produto final, assim demonstrando aos consumidores ou usuários que o desenvolvimento dele passou por rigorosos testes de eficiência e está pronto para o consumo. Os benefícios para a empresa que adota essas práticas estão no alinhamento do seu negócio com valores ambientais, pois esta acredita que seus produtos podem ser desenvolvidos com menor impacto ambiental. Do mesmo modo, o reúso da água, o manuseio correto dos resíduos gerados e a otimização da energia podem reduzir a conta de água e luz, e, consequentemente, os recursos gerados podem ser reaproveitados. Outra fantástica vantagem das certificações é a assistência técnica contínua, possibilitando que a metodologia do projeto seja constantemente analisada e incentivando os colaboradores a uma especialização e reeducação no assunto. 19 Dito isso, a certificação serve para provar que a equipe realizou o trabalho e obedeceu a parâmetros de qualidade para entregar o produto final ao consumidor. Podemos citar como exemplos os prédios LEED, que passam por inúmeras análises, desde estrutural, uso da água, uso da energia, reaproveitamento da água, equipamentos hidráulicos e de condicionamento de ar eficientes, como também o acompanhamento da obra e da ocupação dos usuários no empreendimento. Dessa forma, a certificação possibilita à empresa inovadora se diferenciar de “empresas padrão” e, por marketing, usar essas práticas e premiações para a própria propaganda. Ainda que os benefícios das certificações sustentáveis sejam certos, há desafios que as empresas enfrentam para implementá-las. São alguns deles: Desconhecimento da sustentabilidade: por ser um tema ambíguo, possíveis clientes desconhecem quais são os benefícios e, ao mesmo tempo, não entendem o quanto uma construção padrão tem impacto negativo no meio ambiente. Cumprimento das expectativas: é necessário que o que foi apresentado no início da venda do empreendimento consiga se realizar no término da construção e siga eficiente durante a ocupação, como uso da água, gestão de resíduos etc. É evidente também que as propostas eficientes contribuem não somente para o investidor, mas também para os futuros usuários. Mercado de equipamentos: os materiais inovadores precisam estar preparados para os selos de qualidade. A dificuldade está na procura de materiais de construção duráveis, equipamentos mais eficientes de hidráulica, dispositivos de controle de energia, madeiras e selantes com selo de qualidade que ateste o não uso dos compostos orgânicos voláteis. Local: em cada lugar do mundo há um clima ou microclima singular. Um dos problemas recorrentes de edifícios certificados são a umidade e a ventilação adequada, visto que o projetista, muitas vezes, deverá exceder o dimensionamento dos condicionadores de ar para a desumidificação do ambiente. Outro desafio dos prédios “verdes” é a infraestrutura existente, pois deverá contemplar com estradas e trânsitos adequados ao empreendimento, como também uso e acesso de transportes alternativos e localização privilegiada e próxima dos serviços públicos como hospital, mercado, banco e praças. 20 Custos: alguns equipamentos eficientes e de alto padrão necessários à construção verde têm um preço de implementação e operação elevados. Dependendo da localização do empreendimento, os custos de transporte tendem a subir, e, ao mesmo tempo, a manutenção deles necessita de mão de obra qualificada ou peças de reposição difíceis de serem encontradas. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 357, de 17 de março de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, 18 mar. 2005. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>. Acesso em: 02 nov. 2019. ______. Ministério do Meio Ambiente. Substâncias controladas pelo Protocolo de Montreal. [S.d.]. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/clima/protecao-da- camada-de-ozonio/substancias-controladas-pelo-protocolo-de-montreal>. Acesso em: 21 nov. 2019. BRASIL ocupa o 4º lugar no ranking mundial de construções sustentáveis certificadas pela ferramenta internacional LEED. USGBC, 18 jan. 2018. Disponível em: <https://www.gbcbrasil.org.br/brasil-ocupa-o-4o-lugar-no-ranking-mundial- de-construcoes-sustentaveis-certificadas-pela-ferramenta-internacional-leed/>. Acesso em: 21 nov. 2019. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/12906958/relatorio-brundtland-nosso-futuro-comum- em-portugues>. Acesso em: 3 nov. 2019. DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO. Estudos Avançados, v. 6, n. 15, p. 153- 159, 1992. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2019. FARR, D. Urbanismo sustentável: desenho urbano com a natureza. Tradução de Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2013. SILVA, V. G. Avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros: diretrizes e base metodológica. 210 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. 21 UNFCCC. Report of 10 highlight of JI projects published by UNFCCC. [S.d.]. Disponível em: <http://ji.unfccc.int/index.html>. Acesso em: 21 nov. 2019.
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