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CARTA ABERTA SOBRE A NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE CRIMINÓLOGO NO BRASIL A Criminologia, enquanto ciência autônoma, é relativamente nova, quando comparada com as demais, haja vista que iniciou seu desenvolvimento há cerca de 150 anos. Em seu início, a Criminologia se ocupou das figuras do crime e do criminoso, buscando estabelecer uma explicação universal acerca das razões pelas quais determinadas pessoas praticam delitos. Nesse aspecto, o delito em si, sempre despertou interesse por parte das pessoas e instituições, uma vez que representa um comportamento tido como não tolerável e nocivo, para uma determinada sociedade. Ocorre que o fenômeno criminoso se apresenta como um objeto demasiadamente complexo e com origens multifatoriais, o que torna totalmente inviável a busca por uma única explicação causal comum acerca da origem do comportamento criminoso. Assim, a partir de mudanças paradigmáticas, a Criminologia passou a se ocupar também de outros objetos, como a vítima, a reação da sociedade ao comportamento desviante e os mecanismos de controle social. Portanto, surge a necessidade de se analisar o fenômeno criminal de forma global, não apenas a partir do enfoque “crime” e “criminoso”, mas também em relação às formas de atuação estatal em seu controle e prevenção, assim como da perspectiva da vítima e suas consequências. No Brasil, por muitos anos, a Criminologia foi vista como um braço do Direito. Porém, no final do ano de 2022, a primeira turma de Bacharéis em Criminologia do país se formou, abrindo caminho para muitas outras que já estão próximas da conclusão. Atualmente, é possível definir a Criminologia como uma ciência social de caráter pluridisciplinar, com método indutivo-empírico, que tem como objeto o estudo o fenômeno criminal, por intermédio da análise do crime, do criminoso, da vítima e dos mecanismos de controle social estabelecidos. Uma ciência com viés analítico, propositivo e resolutivo. Ao analisar os dados da realidade brasileira, é possível constatar níveis alarmantes de crimes violentos registrados, altos índices de reincidência, bem como um exponencial crescimento do encarceramento no país. Aliás, frise-se que o Brasil tem em média quase 50 mil homicídios por ano, segundo os dados oficiais, e uma população carcerária proporcionalmente grande, o que escancara as mazelas de nossa sociedade e, por isso, demandam maior atenção por parte das instituições do Poder Público. Sendo assim, imperiosa a necessidade de se implementar a atuação de um profissional dessa área tão específica que é a Criminologia, o qual, como define o Professor Gabriel Anitua, tem como objetivo final a tarefa de reduzir o nível de violência em determinada sociedade. O Criminólogo tem em sua formação, entre muitas outras coisas, o estudo de teorias criminológicas, da política criminal, da segurança pública e privada, do direito, e das ciências forenses. Tais áreas se mostram imprescindíveis para a compreensão global e específica da questão criminal, bem como para a formulação de políticas públicas mais eficazes e eficientes de prevenção e repressão. Os campos de atuação do criminólogo compreendem a pesquisa acadêmica e empírica em criminologia, destinada a finalidades político-criminais, bem como a atuação em carreiras públicas e privadas que demandam tal qualificação específica. Quanto à atuação em âmbito de pesquisa acadêmica e empírica, o profissional de criminologia, diante de sua formação abrangente e transdisciplinar, pode oferecer valiosos estudos e contribuições para a formulação de políticas criminais preventivas e repressivas, lastreadas no saber técnico e científico, bem como na análise da realidade. Já nas carreiras públicas, o criminólogo está seguramente qualificado para atuar em demandas que envolvam segurança pública e ciências forenses. Nesse sentido, estariam perfeitamente habilitados para serem incluídos nos editais de concursos das carreiras nos órgãos das policiais militar, judiciária, penal e científica. Da mesma forma, podem ser de grande utilidade em órgãos de gestão de segurança pública como secretarias de segurança e de administração penitenciária, instituições e programas de auxílio às vítimas, conselhos de políticas criminal e penitenciária, bem como prestar consultoria aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Quanto às carreiras privadas, os conhecimentos adquiridos pelo profissional da criminologia possibilitam também perfeitamente a atuação em atividades como assistência técnica em perícias judiciais, investigação privada, bem como em atividades atinentes à análise criminal, e ao planejamento, desenvolvimento e gestão de sistemas de segurança privada. A fim de concretizar e legitimar tal atuação, a Associação Brasileira de Bacharéis em Criminologia - ABBC, busca a divulgação das possíveis áreas de atuação de profissionais da criminologia, bem como contato com mídia social, meio acadêmico, sociedade civil, entre outros. Por fim, há a necessidade de se oferecer amparo legal a estes novos, e necessários, profissionais, promovendo a regulamentação da profissão de criminólogos e criminólogas no Brasil. Curitiba/PR, 12 de setembro de 2023. _____________________________________________ Khalil Pacheco Ali Hachem Presidente ABBC 2023-09-15T12:37:22-0300 Khalil Pacheco Ali Hachem
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