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CRIMINOLOGIA Faculdade de Minas 2 Sumário Criminologia ................................................................................................... 4 Surgimento da criminologia ......................................................................... 8 1ª Escola: Clássica (1764)..................................................................... 10 2ª Escola: Positivista (1876) .................................................................. 10 3ª Escola: Criminologia Crítica .............................................................. 11 4ª Escola: Científica Moderna ............................................................... 12 Definição de criminologia para as escolas ............................................. 12 Métodos da criminologia para as escolas ............................................. 13 Objetos da criminologia para as escolas ............................................... 14 Crime para o Direito Penal .................................................................... 14 Crime para a Criminologia .................................................................... 15 Direito X Criminologia ............................................................................ 15 Objetos da Criminologia ............................................................................ 16 Crime .................................................................................................... 16 Criminoso .............................................................................................. 18 Vítima .................................................................................................... 19 Controle Social ...................................................................................... 21 Finalidade da Criminologia ........................................................................ 23 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 28 Faculdade de Minas 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 Criminologia A criminologia é uma ciência interdisciplinar e empírica, que se ocupa do estudo do crime, do delinquente, da vítima e dos mecanismos de controle social. Assim, a criminologia se aproxima do fenômeno criminal com o intuito de entender sua origem, suas causas, individuais e sociais, suas consequências e o funcionamento das instâncias de controle. Enquanto o direito penal valora a sociedade, dizendo o que pode e o que não pode ser feito e prevendo a aplicação de sanções para o descumprimento das normas, a criminologia se encarrega de encarar o fenômeno de forma objetiva, sem conotação valorativa, sem mediação, sem julgamentos. Entre a criminologia e o direito penal se interpõe a política criminal, disciplina que está a todo tempo avaliando se o direito penal está cumprindo seus objetivos, sejam eles de proteção do bem jurídico, de prevenção ou de repressão. A política criminal oferece aos governantes opções concretas para bem equacionar a questão criminal. Na imagem representativa abaixo, colocamos a política criminal como uma ponte entre a criminologia e o direito penal, mas inserimos uma seta bidirecional conectando as disciplinas. Afinal, ao mesmo tempo em que a criminologia estuda a realidade e tenta compreender o crime, a vítima, o criminoso e o controle social, com isso fornecendo ao direito penal um arcabouço fenomenológico traduzido em opções concretas pela política criminal, o próprio direito penal molda a atuação das instâncias de controle social, que são objeto da criminologia. Uma disciplina conversa com a outra a todo tempo. Faculdade de Minas 5 Para Shecaira, Criminologia pode ser entendida como: “Estudo e a explicação da infração legal; os meios formais e informais de que a sociedade se utiliza para lidar com o crime e com os atos desviantes; a natureza das posturas com que as vítimas desses crimes são atendidas pela sociedade; e, por derradeiro, o enfoque sobre o autor desses fatos desviantes” (SHECAIRA, 2012, p. 35). O campo de estudo da Criminologia é muito amplo, diferentemente da Dogmática Penal. A Criminologia observa de maneira ampla o crime em si, assim como a interação entre o criminoso, a vítima, o controle social e de que maneira tais fatores interferirão no exame do fenômeno criminoso. Não se examina, então, o fato criminoso isoladamente, mas em conjunto, como se observa do esquema abaixo: É possível Faculdade de Minas 6 perceber que a infração irá se relacionar com o autor do fato, com a vítima do crime e com os diferentes meios de controle social. Ao longo do curso, serão abordados, em momentos distintos, o exame do crime, o exame da vítima do crime, de que forma o estudo da vítima tem se alterado ao longo dos anos, também de que maneira o controle social tem se apresentado como uma forma de combate (sistema punitivo). A criminologia não possui, então, objeto próprio de estudo, uma vez que os elementos por ela estudados (o autor do fato, com a vítima do crime e com os diferentes meios de controle social) também são estudados por outras ciências, tais como a política criminal e o próprio direito penal. Entretanto, a principal diferença de abordagem trazida pela criminologia estaria no método utilizado para a explicação de tais elementos, uma vez que ela se utiliza, notadamente, de método diverso daquele verificado na dogmática penal. Um estudo completo do crime, portanto, exige uma análise ampla, em que a utilização de mais de uma forma de abordagem pode trazer resultados úteis de investigação. Desse modo, é possível falar na interdisciplinaridade, pois o objeto de estudo da criminologia ultrapassa os limites dessa disciplina, sendo estudado, como vimos, por algumas outras. Assim, todos os campos de estudo dialogarão com o mesmo patamar de importância. É importante notar que a maior parte dos autores define a criminologia como uma ciência. Ainda que essa não seja a visão absoluta da doutrina, a maioria dos doutrinadores veem um método próprio, um objeto e uma função atribuíveis à criminologia. É por isso que, mesmo entendendo a ciência como uma forma de procurar o conhecimento diversa daquela que pode existir a partir do senso comum, não se tem dúvidas em afirmar que a criminologia é uma ciência (SHECAIRA, 2012, p.36). Majoritariamente, a Criminologia é considerada ciência, tem objeto de estudo amplo, não possui um único método (a depender da corrente de pensamento que se adote), tem finalidades próprias que a destacam de outros campos do conhecimento. Contudo, há pensamento em sentido oposto. O pensamentode Augusto Thompson traz uma análise crítica à Criminologia, colocando que o Faculdade de Minas 7 criminólogo é um generalista. Thompson chega a discutir se o criminólogo não estaria cumprindo meramente a função de alardear informações extraídas do senso comum, em razão da abertura do estudo do crime. Por esta razão, para Augusto Thompson, a Criminologia não poderia ser considerada uma ciência propriamente dita pela falta de delimitação de seu objeto e pela falta de um método próprio de abordagem, ainda que seja importante para o estudo do crime. Salo de Carvalho tem uma obra sensacional chamada “Antimanual de Criminologia”. Nesta obra, Salo coloca que o grande desafio da Criminologia está na sua abertura para diálogo com outras fontes de saber, de maneira que o objetivo não seria criar modelos integrados de ciências criminais, mas, sim, modelos de integração de diferentes ramos. (CARVALHO, 2008) Se examinamos um determinado fato criminoso, é necessário ter uma abordagem que esteja atenta às peculiaridades deste campo de estudo. O estudo do crime a partir de um único ponto de vista e a partir de um único objeto caracteriza um estudo incompleto. A abertura objetiva e metodológica seriam características peculiares da Criminologia, justamente por esta ter como objeto de estudo o crime. Dentro da lógica interdisciplinar, afirma-se que a Criminologia é ciência. É um saber científico diferente da dogmática e das ciências exatas, mas continua sendo um saber científico social com suas peculiaridades. Como ciência do “ser”, não é uma ciência “exata”, que traduz pretensões de segurança e certeza inabaláveis. Não é considerada uma ciência “dura”, como são aquelas que possuem conclusões que as aproximam das universais. (SHECAIRA, 2012). Faculdade de Minas 8 Surgimento da criminologia Na concepção de Newton Fernandes e Valter Fernandes, criminologia é o "tratado do Crime". A interdisciplinaridade da criminologia é histórica, bastando, para demonstrar isso, dizer que seus fundadores foram um médico (Cesare Lombroso), um jurista sociólogo (Enrico Ferri) e um magistrado (Raffaele Garofalo). Assim, além de outras, sempre continuam existindo as três correntes: a clínica, a sociológica e a jurídica, que, ao nosso ver, antes de buscarem soluções isoladas, devem caminhar unidas e inter-relacionadas. A criminologia radical busca esclarecer a relação crime/formação econômico- social, tendo como conceitos fundamentais relações de produção e as questões de poder econômico e político. Já a criminologia da reação social é definida como uma atividade intelectual que estuda os processos de criação das normas penais e das normas sociais que estão relacionados com o comportamento desviante. O campo de interesse da criminologia organizacional compreende os fenômenos de formação de leis, o da infração às mesmas e os da reação às violações das leis. A criminologia clínica destina-se ao estudo dos casos particulares com o fim de estabelecer diagnósticos e prognósticos de tratamento, numa identificação entre a delinquência e a doença. Aliás, a própria denominação já nos dá ideia de relação médico- paciente. O objeto da moderna criminologia é o crime, suas circunstâncias, seu autor, sua vítima e o controle social. Deverá ela orientar a política criminal na prevenção especial e direta dos crimes socialmente relevantes, na intervenção relativa às suas manifestações e aos seus efeitos graves para determinados indivíduos e famílias. Deverá orientar também a Política social na prevenção geral e indireta das ações e omissões que, embora não previstas como crimes, merecem a reprovação máxima. Quando nasceu, a criminologia tratava de explicar a origem da delinquência utilizando o método das ciências, o esquema causal e explicativo, ou seja, buscava Faculdade de Minas 9 a causa do efeito produzido. Pensou-se que erradicando a causa se eliminaria o efeito, como se fosse suficiente fechar as maternidades para o controle da natalidade. Academicamente a criminologia começa com a publicação da obra de Cesare Lombroso chamada de L"Uomo Delinquente, em 1876. Sua tese principal era a do delinquente nato. Já existiram várias tendências causais na criminologia. Baseado em Rousseau, a criminologia deveria procurar a causa do delito na sociedade, baseado em Lombroso, para erradicar o delito deveríamos encontrar a eventual causa no próprio delinquente e não no meio. Um extremo que procura as causas de toda a criminalidade na sociedade e o outro, organicista, investiga o arquétipo do criminoso nato (um delinquente com determinados traços morfológicos). Isoladamente, tanto as tendências sociológicas quanto às orgânicas fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento biopsicossocial. Volta a tomar força os estudos de endocrinologia que associam a agressividade do delinquente à testosterona (hormônio masculino), os estudos de genética ao tentar identificar no genoma humano um possível "gene da criminalidade", juntamente com os transtornos da violência urbana, de guerra, da forme, etc. Topinard, 1879 – primeiro autor que usa o termo Criminologia (ainda que isso não signifique que seja um estudo criminológico). O reconhecimento da efetiva criminologia veio em 1885 com a obra “Criminologia” de Garofalo. Contudo, estudos sobre a questão criminal já eram desenvolvidos antes disso. Por isso, há três visões sobre a origem da criminologia: 1ª corrente: 1764 – Reconhece que a criminologia surgiu com Beccaria, a escola clássica da criminologia. Os primeiros estudos criminológicos teriam surgido com ele segundo essa corrente. Essa corrente é defendida pelos criminólogos da reação social com perspectiva histórica para críticos como: Roberto Bergalli, Juan Bustos Ramirez. 2ª corrente: afirma que os primeiros estudos criminológicos surgiram com Lombroso e outros adeptos da escola positivista. Isso seria no final do século XIX (1876). Garcia Pablos de Molina defende essa corrente. Faculdade de Minas 10 3ª corrente: defende que os primeiros discursos criminológicos remetem ao final do século XV, em 1484, na inquisição. Quem adota esse entendimento é o Zaffaroni e o Nilo Batista. Não é possível falar em uma criminologia, uma vez que existem escolas com entendimentos absolutamente contrários dentro desta área científica. 1ª Escola: Clássica (1764) É a de Cesare Beccaria que é influenciada pelo iluminismo e surge no final do séc. XVIII, relacionada com a transição do antigo regime para a modernidade. Também conta com o movimento codificador, a criação de um código penal (o que não existia na Idade Média onde o Estado era absoluto e exercia seus poderes sem limites). Essa escola também se caracteriza pela humanização das penas. Essa reforma que vai permear o sistema penal não está desconectada com o que está ocorrendo no mundo naquela época (o Estado absoluto tornando-se um Estado de Direito, a alteração de uma sociedade teocêntrica para uma sociedade antropocêntrica onde a igreja perde o poder e a razão passa a ser a explicação para as coisas, transição de um modelo feudal para um mercantilismo e posteriormente o surgimento da indústria, etc). Nessa escola há também uma priorização dos princípios penais. Pretende-se alterar as formas de punição, acabar com os suplícios, impedir processos sem defesa, etc. Essa escola é a base do Direito Penal moderno. 2ª Escola: Positivista (1876) Cesare Lombroso é o principal adepto dessa escola. Neste momento, o mundo era permeado pelo cientifismo – as ciências passam a ganhar uma dimensão onde, um saber para ser respeitado e legítimo, precisava ser uma ciência e, para ter esse status, ele precisava poder ser comprovado através de experiências repetidas. Faculdade de Minas 11 Outra questão importantefoi a contribuição de Darwin com a teoria da evolução. Lombroso afirma que criminosos (ou ao menos parte deles) representam uma parcela inferior de seres humanos. Isso foi importado pelo Brasil para desenvolver uma teoria que versava que os negros eram uma raça inferior e por isso eram mais propensos a cometer crimes. O movimento do positivismo filosófico também contribuiu para essa escola que busca uma explicação racional para entender a realidade. Essa escola trata do “criminoso nato”, aquele que nasce com propensão a cometer crimes, e isso poderia ser percebido através de aspectos físicos e psicológicos (que eram especialmente traços de muçulmanos e negros, diga-se de passagem). 3ª Escola: Criminologia Crítica Surgiu na segunda metade do séc. XX na Europa. Um dos seus principais autores é Alessandro Baratta. Vários outros autores podem ser citados, tais como Juarez Cirino dos Santos, Nilo Batista, Vera Malaguti, Zaffaroni, etc. Referenciais teóricos que influenciaram essa escola: - Movimento pacifista, contra, principalmente, a guerra do Vietnã e a WWII. - Luta por direitos civis das mulheres, dos negros, etc do séc. XX. - Influência das ideias marxistas. A escola crítica aponta que todas as pesquisas criminológicas feitas antes desta escola tinham como característica a busca sobre as explicações de o que é o crime e que essa criminologia tradicional, então, estava presa ao chamado “paradigma etiológico”. Paradigma etiológico: etiologia é o estudo das causas. Buscava-se explicar as causas do crime. Essa escola afirma que um paradigma etiológico é problemático e que é necessário romper com ele, propondo um paradigma diferente – o paradigma da reação social. Faculdade de Minas 12 Paradigma da reação social: de acordo com ele, o importante, a partir de uma visão crítica, não é buscar a raiz do crime mas sim entender os processos de criminalização – não é entender porque alguém praticou um crime mas sim porque essa pessoa foi criminalizada, alvo do sistema penal. De acordo com essa escola, o sistema penal está relacionado ao sistema econômico, afirmando que, ao longo da história, sempre foi assim – determinado modelo de punição sempre esteve a serviço de um determinado modelo de sociedade, fosse medieval, fosse o atual. Por exemplo, era importante punir os crimes contra a fé na época medieval para que a igreja fosse capaz de manter sua hegemonia. No capitalismo, há pessoas que não têm como ser empregadas e a prisão se tornou depósito das mesmas. Ou seja, a criminologia guarda relação com a estrutura econômica. 4ª Escola: Científica Moderna O principal autor dessa escola é García Pablos de Molina. Essa escola defenderá a necessidade de políticas de prevenção ao crime e à violência, ou seja, implementação de programas ou políticas capazes de reduzir o crime e a violência. Definição de criminologia para as escolas Escola positivista A criminologia é um saber sobre a questão criminal que busca uma visão interdisciplinar (sociologia, filosofia e direito) para entender como funciona o sistema penal e a questão criminal. Escola crítica A criminologia vincula o fenômeno criminoso à estrutura das relações sociais. O crime não é uma questão isolada, ele se insere numa estrutura de sociedade que é excludente, segregadora e opressora e, portanto, o modelo de punição está intrinsecamente ligado ao poder econômico. Faculdade de Minas 13 Criminógeno – algo que produz crime, cria condições para que o crime se propague (ex. Prisões). Escola científica moderna Criminologia é ciência empírica e interdisciplinar com informação válida e segura relacionada ao fenômeno delitivo, entendido sob o prisma individual e de problema social como também formas de preveni-lo, portanto, o crime é um fenômeno humano, cultural e complexo. Métodos da criminologia para as escolas Escola clássica: método dedutivo Se entende o aspecto mais abrangente e depois se parte para o aspecto menor, micro. Saíam dos princípios do iluminismo para a conduta do criminoso. Escola positivista: método indutivoexperimental Se sai de um caso particular para explicar a parte geral. Verificava-se quem era que tinha praticado crimes, verificavam-se as características da massa carcerária e disso definia-se as características do criminoso. O problema dessa visão era que ela considerava como criminoso apenas aqueles que estavam presos. Escola crítica: método materialismo histórico dialético Materialismo porque esse método busca romper com o tradicional discurso idealista (explicar algo que não tem conexão com a realidade, é preciso trazer a explicação para o mundo real) e histórico porque essa análise é levando em consideração o contexto histórico no qual a explicação pretende se dar. Ainda, o “dialético” porque Marx propôs que o discurso deve sempre se pautar pela crítica para que não haja a reprodução acrítica e vazia de discursos. Na dialética, há uma tese (discurso inicial) que é refutada, contraposta por uma antítese (crítica) e dessa contraposição surgirá a síntese, a conclusão. Faculdade de Minas 14 Escola científica moderna: empirismo e a interdisciplinariedade Empirismo busca explicar algo com fundação numa experiência real, com a realidade social. Multi x Inter x Trans (disciplinariedade) Um ensino multidisciplinar é aquele onde há várias disciplinas mas elas não se comunicam. Na interdisciplinariedade as disciplinas se comunicam. Já na transdisciplinariedade não há a divisão entre as disciplinas mas sim a discussão de temas (Ex. Alguns mestrados e doutorados). Objetos da criminologia para as escolas Escola clássica: a preocupação principal da criminologia deve ser estudar o crime. Escola positivista: o objeto principal da criminologia é o criminoso e seu perfil físico e psicológico. Escola crítica: o objeto principal da criminologia é o controle social pois através dele se entende a dinâmica de funcionamento do sistema penal que encontra-se conectada ao sistema econômico. Escola científica-moderna: o objeto da criminologia serão todos aqueles estudados pelas escolas anteriores, inserindo-se também neste rol o estudo sobre a vítima (até porque essa escola trabalha a ideia de prevenção). Crime para o Direito Penal Há três conceitos sobre o crime para o direito penal. 1º conceito – Formal: Crime é aquela conduta que colide com a lei penal. Faculdade de Minas 15 2º conceito – Material: O crime é aquela conduta que possui uma reprovabilidade social, violando um bem jurídico valioso para a sociedade. Ou seja, lida com uma reprovação não só formal mas também social. 3º conceito – Analítico: Crime é o fato típico, antijurídico e culpável. Crime para a Criminologia Para a escola clássica: o crime é um ente jurídico que prevê a reprovação de determinada conduta. Para a escola positivista: Crime consiste em uma qualidade do ato do delinquente, pois trabalham com a ideia de criminoso nato. O crime seria fruto de aspectos físicos e psicológicos pré determinados. É a ideia de um crime ontológico, não importa o fato importa o sujeito, é o chamado direito penal do autor (aquele indivíduo é propenso ao crime não estando em questão a conduta que ele pratica e sim o seu perfil). Para a escola crítica: a questão não é definir o que é crime mas sim os processos de criminalização. Para a escola científica moderna: o crime tem relação com a cultura e as estruturas sociais (a desigualdade é importante para a criminalidade por exemplo). Direito X Criminologia O direito é uma ciência normativa (“dever ser”), se refere a uma hipótese mas não algo concreto. A criminologia é uma ciência empírica (“ser”), lida com o mundo concreto. O direito possui um método dedutivo (partesede valores e princípios gerais para imputar a um particular, sai do geral e vai ao particular) e a criminologia possui um método indutivo (sai do particular para entender o geral, se analisa a realidade concreta a partir do sujeito). Faculdade de Minas 16 Para o direito, há uma base axiológica (valores – lida com bem jurídico, princípios, etc) e na criminologia há uma base ontológica (ontologia – estudo do objeto, não trata de uma análise normativa ou valorativa mas sim de fatos). O direito penal valora para ordenar (comportamento conforme à norma é o desejado devido ao X valor, bem jurídico, etc) e a criminologia observa para explicar (“analisando, verifica-se seletividade na aplicação da política criminal, etc”). Para o direito, se está no mundo dos valores (cultura) e para a criminologia há o mundo dos fatos. Objetos da Criminologia Quando se fala em objetos da criminologia, estuda-se o crime, o criminoso, a vítima e o controle social. O que foi visto anteriormente, então, será estudado agora de maneira mais detida. Crime Para a Dogmática, em um sentido analítico, crime é fato típico + ilicitude + culpabilidade. Fala-se em sentido analítico porque, sobretudo em questões escritas, Faculdade de Minas 17 é necessário um rigor técnico. Dogmaticamente, em um sentido analítico, trabalha- se crime como fato típico, ilicitude e culpabilidade com toda aquela divergência com relação à presença ou não da culpabilidade na estrutura analítica de crime. O Código Penal, ao se referir às excludentes de culpabilidade, usa a expressão “é isento de pena” ao invés de “não há crime”, dando ensejo à discussão sobre a culpabilidade ser ou não uma categoria dogmática do crime no sentido analítico. Pode-se examinar, por exemplo, o conceito legal de crime definido na lei de introdução ao Código Penal. Então, no sentido legal, crime ou delito é infração penal punida com pena de reclusão ou detenção, contrapondo-se à contravenção penal que, por sua vez, é a infração penal para a qual a lei comina pena de prisão simples. Os conceitos analítico e legal de crime são diferentes. No plano legal não existe diferença ontológica entre crimes e contravenções, ambos são infrações penais (mesma essência). A diferença estaria na consequência jurídica prevista pela lei. Deve-se observar a diferença do conceito de crime para a criminologia e para os demais campos do conhecimento. A criminologia entende o crime como um fenômeno comunitário e como um problema social. Para a criminologia, no entanto, como o crime deve ser encarado como um fenômeno comunitário e como um problema social, tal conceituação é insuficiente. O tratamento do crime deve ser pensado para a criminologia no sentido amplo, como um fenômeno que é ao mesmo tempo individual e social. A abordagem criminológica não se esgota na investigação do que é o crime. Para a criminologia, o conceito de crime passa por uma noção de saber (o que é o crime em essência) e por uma noção prática (o que leva a sociedade a dizer que determinada conduta é crime). Logo, parte-se também para uma justificativa política (natureza bifronte da criminologia), teoria e prática dentro da discussão de uma mesma pergunta. Faculdade de Minas 18 Quando a criminologia estuda o crime o que vai examinar? O que se entende é que o delito representará a soma de uma série de fatores, como mostrado na figura abaixo. A depender da corrente criminológica pode ser que essa noção se altere, mas, em tese, o pensamento geral dentro da moderna criminologia é que a compreensão do crime passa pela compreensão da incidência de uma determinada conduta na sociedade, que provoca uma aflição social que perdura no tempo e, dentro deste contexto, existe consenso social no sentido de regrar aquele comportamento. Como se percebe, para uma determinada conduta ser criminalizada (uma das investigações da moderna criminologia), significa dizer que existe uma incidência massiva desta conduta na sociedade (Exemplo: roubo), ou seja, não pode o Estado se ocupar da criminalização de comportamentos pontuais que não afetam a sensação de segurança da sociedade. Criminoso Para o causalismo, o criminoso é entendido como o sujeito que goza de livre arbítrio, por isso que sua pena se fundamenta na retribuição do mal causado, sendo Faculdade de Minas 19 esta pena por prazo determinado proporcional à gravidade do delito. Para os positivistas, fundamenta-se a prática da conduta criminosa por um viés determinista, e a aplicação da medida de segurança se volta para a prevenção de novos episódios e, além disso, possui prazo indeterminado. Vale lembrar aqui, que esse prazo de duração da medida de segurança é indeterminado pela redação escrita do Código Penal, muito embora jurisprudencialmente a matéria já tenha sido alterada. Já havia precedente do STF aplicando o limite temporal de 30 (trinta) anos para medida de segurança, mais recentemente há no STJ o entendimento de que a medida de segurança terá como prazo máximo de duração a pena máxima que está abstratamente cominada para o respectivo delito. O correcionalismo trabalha dentro de uma postura pedagógica e piedosa do Estado. De acordo com o correcionalismo, não existem criminosos incorrigíveis, mas sim criminosos não corrigidos pelo Estado. V ítima De que forma a vítima interfere no processo de Criminogênese? Existem alguns conceitos que serão estudados aqui que, embora não sejam comumente Faculdade de Minas 20 cobrados, são importantes de serem estudados, visto que o estudo da vítima tem sido ampliado no campo da criminologia e da vitimologia. Quando se fala em criminogênese, tradicionalmente, sempre se pensou na figura do criminoso como responsável pela ocorrência do evento criminoso. Contudo, em certa medida, a vítima pode ter alguma participação neste processo. O comportamento vitimal agressivo muitas vezes pode ensejar a prática criminosa, isso inclusive está contemplado em alguns elementos do Código Penal (Exemplo: art. 59 que determina que o juiz no momento da fixação da pena irá considerar o comportamento da vítima, dentre outros elementos). Além disso, no crime de homicídio, há previsão no art. 121, Parágrafo único, de causa de diminuição de pena que diz respeito ao criminoso que atuou sob o domínio de violenta emoção logo em seguida a uma injusta provocação da vítima. Supondo que uma pessoa bata em outra pessoa que, em resposta, mata quem o agrediu. Neste caso, não há legítima defesa, visto que houve excesso (legítima defesa só exclui a ilicitude quando a reação é proporcional à injusta agressão). Assim, houve um comportamento punível, criminoso, mas que ensejará diminuição de pena em virtude de um comportamento vitimal agressivo. Dependendo do caso, a vítima pode ter uma contribuição decisiva na criminogênese. Além disso, a criminologia e a vitimologia também estudam o processo de vitimização. Este processo passa por uma série de fases, se prolonga para além do sofrimento direto do comportamento criminoso. Os estágios da vitimização são: Faculdade de Minas 21 Na vitimização primária tem-se a vítima sofrendo efetivamente o delito. Posteriormente, o processo de vitimização se prolonga, não para com o sofrimento em si do crime. Logo, pode-se falar em vitimização secundária (sobrevitimização), que se observa quando a vítima busca amparo das instâncias oficiais de controle e não encontra esse amparo (Exemplo: atenção cuidadosa na delegacia, vítima de descaso do Estado em um Processo Penal). Esta situação tem melhorado com as delegacias especializadas, sobretudo nos casos de violência doméstica. Tem-se também a vitimização terciária, que é o prolongamento do processo devitimização enfrentado pela vítima perante a sociedade na qual ela se insere, que passa a julgar o seu comportamento (exemplo: vítima de estupro questionada porque estava usando determinada roupa). Existe um julgamento social que é caracterizado como vitimização terciária. Existem alguns doutrinadores que mencionam também o processo de autovitimização, quando dentro do prolongamento do processo de sofrimento, a própria vítima começa a aceitar a ideia de que ela é culpada pelo delito que ela sofreu. Controle Social A figura abaixo traz o conceito de controle social no primeiro quadro. Para fazer com que os indivíduos cumpram as normas há instrumentos de controle social Faculdade de Minas 22 informais (sociedade civil organizada) e formais (atuação do aparelho político do Estado). Quando se fala (o pronome relativo “quando” atrai o “se”) em controle social, analisando mais especificamente a política criminal moderna, pode-se perceber coexistindo dentro do próprio sistema político brasileiro traços minimalistas (previsão das penas restritivas de direitos e substitutivas à prisão; institutos descarcerizadores de da Lei 9.099 de 1995, como a suspensão condicional do processo e a transação penal; medidas mais vanguardistas como a justiça restaurativa recentemente regulamentada pelo CNJ na Resolução 225) e também medidas notadamente de encarceramento (rigor cada vez maior das penas; inflação das leis penais; largo uso do direito penal simbólico; utilização de situações excepcionais para legitimar medidas policialescas, Estado controlador e que tudo vê). Logo, há pensamentos antagônicos sobre como deve ser o controle social a ser desempenhado pelo Estado. É importante guardar que o controle social compõe o campo de interesse da criminologia e representa o conjunto de mecanismos que impedirão a prática de novas infrações. Este controle social será desempenhado tanto de maneira informal pela sociedade civil, quanto de maneira formal, por meio do Estado e suas instituições. Faculdade de Minas 23 Finalidade da Criminologia A criminologia possui variadas finalidades ou funções, que estão interligadas. Uma das principais funções da criminologia reside no fornecimento de informações confiáveis para que o fenômeno criminal seja compreendido e para que possam ser realizadas intervenções preventivas. A criminologia se aproxima da realidade social sem valorá-la para conhecer e explicar como é o fenômeno criminal e para tentar, ademais, transformar a sociedade. Nesse ponto, lembre-se de que a criminologia não se preocupa especificamente em analisar a subsunção de uma conduta a um tipo penal. Isto é tarefa do direito penal. A criminologia tem por função conhecer quais os crimes que vêm sendo praticados, a razão do seu cometimento, o impacto deles na sociedade e nas vítimas específicas do caso, a consequência das penas para aqueles delinquentes, etc. Lembre-se de que a criminologia, para cumprir sua função, pode tentar compreender as causas do crime, e a isso se dá o nome de “etiologia”. No desempenho dessa função etiológica, deve-se considerar que o crime, na maioria das vezes, terá causas multifatoriais. Não se trata da existência de apenas uma Faculdade de Minas 24 causa para o crime, mas sim da coexistência dinâmica de fatores sociais, biológicos, psíquicos, etc. Nessa sistemática de compreender a etiologia do crime, os profissionais da criminologia traçam perfis antropológicos, sociais, culturais ou psicológicos do criminoso. Esses perfis, somados a determinantes endógenas (interiores ao indivíduo) e exógenas (exteriores ao indivíduo), ajudam a criminologia a tentar compreender como se chegou ao cometimento do crime. No desempenho dessas funções, já deve ter ficado claro que a criminologia não desempenha um papel matemático. É uma ciência humana e, portanto, considera o ser humano em suas múltiplas facetas. Pode se utilizar de números – sobretudo em seu viés estatístico –, mas não se resume a eles e deles pode prescindir. Quando os dados estatísticos criminais são utilizados ou produzidos por profissionais da criminologia, eles servem de base para a análise de algum fenômeno criminal ou para mensuração das propostas de equacionamento do crime. Como um resumo do que apresentei até agora, podemos citar as palavras de García-Pablos de Molina, para quem a criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplando este como problema individual e como problema social –, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva do homem delinquente. Outra função importante da criminologia é fazer com que o direito penal dialogue com as demais ciências que tratam do fenômeno criminal. O crime é, sempre, um fenômeno complexo, resultado da interação entre humanos em sociedade. O direito penal se aproxima do fenômeno criminal valorando os aspectos da vida considerados graves, de forma normativa e dogmática. Faculdade de Minas 25 Ao ter os mecanismos de controle social como objeto de estudo, a criminologia desempenha outra importante função: a de demonstrar a ineficácia do direito penal. A criminologia mostra que a prevenção criminal não é efetiva, que o sistema penal é estigmatizante e fundamental para que a etiqueta de criminoso seja atribuída a alguém de maneira efetiva. Nessa função, a criminologia demonstra que a seleção pelos mecanismos penais não apenas é ineficaz como ainda tem o condão de acelerar uma carreira criminal e consolidar o “status” de desviado. Ainda sobre as instâncias de controle social como objeto de estudo, a criminologia desempenha a função de demonstrar que a rapidez e a certeza da aplicação da sanção penal são mais importantes do que a sua gravidade. Sabe aquela sensação de impunidade que reina no Brasil? Pois bem, estudos criminológicos têm demonstrado que o mais importante para o fim dessa sensação não é a previsão ou aplicação de uma pena severa, longa, extensa, mas sim a existência de uma pena que seja aplicada de forma célere e certa. Especificamente em relação ao delinquente, pode-se afirmar que a criminologia é uma ciência que tem por função intervir no criminoso, para que ele não volte a delinquir, para que ele seja ressocializado. Nesse aspecto, pesquisas criminológicas têm demonstrado o potencial estigmatizante da pena privativa de liberdade e a importância das modalidades alternativas de cumprimento de pena, como as penas restritivas de direito e a pena de multa. Ademais, a criminologia ressalta a importância de o direito penal continuar apresentando traços de subsidiariedade e fragmentariedade. Em relação à prevenção do delito, as teorias criminológicas têm demonstrado como são importantes intervenções na sociedade que extrapolem a esfera penal. Não basta colocar polícia nos lugares onde há maior atividade delitiva. A depender do caso, podem ser necessárias ações diversionistas, como iluminar a área, remover detritos, instalar serviços, construir escolas e áreas de lazer, podar árvores, Faculdade de Minas 26 alterar rotas de meios de transporte público, asfaltar vias públicas, apenas para mencionar alguns exemplos. Especificamente em relação à prevenção direcionada ao delinquente, são necessárias intervenções que forneçam melhora nas condições de vida e que, consequentemente, possibilitem sua reinserção. Outra função da criminologia é tentar fornecer uma análise totalizadora do delito. O crime é visto em todos os seus aspectos e não apenas como fato típico, ilícito e culpável.Interessa à criminologia não tanto a qualificação formal correta de um acontecimento penalmente relevante, senão a imagem global do fato e do seu autor: a etiologia do fato real, sua estrutura interna e dinâmica, formas de manifestação, técnicas de prevenção e programas de intervenção junto ao infrator. Características da criminologia A criminologia desempenha, ainda, a função de demonstrar que o crime é problema de toda a sociedade, pois possui como causas, entre outros, fatores sociais e porque afeta toda a população de uma dada localidade, e não apenas a vítima direta. Cada vez que um crime é cometido e noticiado, cresce o medo da população, muda a maneira como as pessoas interagem com o espaço e com as demais pessoas, transforma-se a crença que os seres humanos depositam na norma e no sistema jurídico como um todo. Cuidando dos envolvidos no fenômeno criminal, a criminologia tem se preocupado em demonstrar a importância de mecanismos que pacifiquem as Faculdade de Minas 27 situações que estão na base dos delitos. Desse modo, a criminologia objetiva colocar a vítima frente a frente com o delinquente em casos em que seja recomendado, para que não exista apenas punição, mas também diálogo, composição de prejuízos, reparação de danos e pacificação social. Destrinchando ainda mais a função, devemos explicitar que, ao realizar o fornecimento de informações válidas e confiáveis para que o fenômeno criminal seja compreendido e para que possam ser realizadas intervenções preventivas, a criminologia não pretende eliminar o crime. Deseja-se, sem dúvida, que o crime seja controlado, que se faça prevenção do delito, que o delinquente não volte a delinquir, que as taxas criminais diminuam. No entanto, dizer que a criminologia pretende acabar com o crime é inexato. Afinal, a criminologia reconhece o caráter perene do delito. Enquanto houver sociedade, haverá crime. Por fim, podemos afirmar ainda que a criminologia não pretende apresentar conclusões universais. Ela não é uma ciência “dura”, mas sim humana, e, como tal, apresenta um conhecimento parcial, provisório, fragmentado, fluido. O saber criminológico deve se adaptar à realidade local e às evoluções históricas e sociais. Faculdade de Minas 28 REFERÊNCIAS BARREIRAS, Mariana. Noções de Criminologia. BATISTA, Vera. Crítica à criminologia brasileira ANITUA, Gabriel. História dos pensamentos criminológicos. ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão da Segurança Jurídica - Do controle da violência à violência do controle penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 1997. ______. 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