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Desempenho, Manifestações Patológicas e Perícias na Construção Civil TITO LI�VIO FERREIRA GOMIDE STELLA MARYS DELLA FLORA ANTONIO GUILHERME MENEZES BRAGA| | MARCO ANTONIO GULLO JERO� NIMO CABRAL PEREIRA FAGUNDES NETO| (Coordenadores) Manual de DIAGNO� STICA ENGENHARIA 2ª edição revista e ampliada São Paulo – SP 2021 TiTo Lívio Ferreira Gomide STeLLa maryS deLLa FLora anTonio GuiLherme menezeS BraGa marco anTonio GuLLo JerÔnimo caBraL Pereira FaGundeS neTo (coordenadores) 2ª edição revista e ampliada Desempenho, Manifestações Patológicas e Perícias na Construção Civil Manual de DIAGNO STICA ENGENHARIA COLABORADORES antonio Guilherme menezes Braga débora Sanches de alexandre marinello douglas Barreto Érica dallariva Felipe Silva Lima Fernanda craveiro cunha Flávia maluza Braga heloísa dota Fioravante inês Flores-colen Jerônimo cabral Pereira Fagundes neto João Gomes Ferreira José carlos Gasparim José marques Kelly ramos de Lima Kleber José Berlando martins Lawton Parente Luciano Gomide Giglio marcelo Suarez Saldanha marco antonio Gullo marcus vinícius Fernandes Grossi miguel Tadeu campos morata miriana marques natália Linhares Paulo Palmieri magri Paulo Sérgio da Silva reginaldo alexandre da Silva renato Freua Sahade ronaldo Foster vidal Sérgio antonio abunahman Silvia matsu eguti Stella marys della Flora Tito Lívio Ferreira Gomide vitor marques SUMáRIO INTRODUÇÃO 2ª EDIÇÃO .................................................................................................................................................................................... 10 Tito Lívio Ferreira Gomide Stella Marys Della Flora Antonio Guilherme Menezes Braga Marco Antonio Gullo Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto 1 CONCEITO E HISTÓRICO .................................................................................................................................................................................13 1.1 A correlação entre a Engenharia Diagnóstica e a Medicina .................................................................................... 16 Tito Lívio Ferreira Gomide 2 ESTADO DA ARTE .............................................................................................................................................................................................. 20 Tito Lívio Ferreira Gomide 2.1 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A ARQUITETURA .......................................................................................... 23 Érica Dallariva 2.2 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E O PATRIMÔNIO CULTURAL ...................................................................... 28 Fernanda Craveiro Cunha 2.3 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A SAÚDE DOS HABITANTES DAS EDIFICAÇÕES .............................34 Luciano Gomide Giglio 2.4 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A PERÍCIA AMBIENTAL ...............................................................................43 Miguel Tadeu Campos Morata 3 FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS ..................................................................................................................................................................55 3.1 VISTORIA – INFORMAÇÃO ............................................................................................................................................ 57 3.2 INSPEÇÃO – INTUIÇÃO ................................................................................................................................................... 58 3.3 AUDITORIA – INTER-RELAÇÃO .................................................................................................................................... 61 3.4 PERÍCIA – INFERÊNCIA .................................................................................................................................................... 62 3.5 CONSULTORIA – DIAGNÓSTICO INDIRETO (PROGNÓSTICO E PRESCRIÇÃO) ......................................... 65 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 4 ETAPAS CONSTRUTIVAS ................................................................................................................................................................................. 68 4.1 PLANEJAMENTO, PROJETO, EXECUÇÃO, ENTREGA, USO, REABILITAÇÃO E DESCONSTRUÇÃO ....68 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 4.2 APLICAÇÕES DA ENGENHARIA DIAGNÓSTICA NAS ETAPAS CONSTRUTIVAS ..................................... 74 4.2.1 Vistorias de vizinhança – fase de planejamento .............................................................................................. 74 Miriana Marques | Vitor Marques 4.2.2 O Building Information Modelling (BIM) – Fase de projeto .........................................................................................84 Érica Dallariva 4.2.3 Qualidade construtiva e controle tecnológico – Fase de execução ..........................................................89 Douglas Barreto 4.2.4 Construção com desempenho acústico – Fase de execução .................................................................... 115 Kelly Ramos de Lima 4.2.5 Investigação técnica na conclusão da obra – Fase de entrega ...................................................................137 Marcus Vinícius Fernandes Grossi 4.2.6 Inspeção predial na prática – Fase de uso ...................................................................................................... 144 Kleber José Berlando Martins 4.2.7 Comentários a Norma de Inspeção Predial da ABNT (NBR 16747:2020) .............................................152 Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto | Marco Antonio Gullo 4.2.8 Auto vistorias – Fase de uso ................................................................................................................................173 Ronaldo Foster Vidal 4.2.9 Manutenção – Fase de uso ................................................................................................................................. 186 Heloísa Dota Fioravante | Reginaldo Alexandre da Silva 4.2.10 Durabilidade e sustentabilidade – Fase de uso ........................................................................................... 194 Paulo Sérgio da Silva | Renato Freua Sahade 4.2.11 Reabilitação de estruturas – Fase de reabilitação ....................................................................................... 204 José Carlos Gasparim 4.2.12 Reabilitação de fachadas revestidas com placas cerâmicas aderidas – Fase de reabilitação ........213 Lawton Parente 5 DIAGNÓSTICOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL (MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS) .......................................................... 222 Tito Lívio Ferreira Gomide 5.1 TIPOLOGIAS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ............................................................................................223 Stella Marys Della Flora 5.2 METODOLOGIA DO DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................228 Marcus Vinícius Fernandes Grossi 5.3 DIAGNÓSTICOS NAS ALVENARIAS ........................................................................................................................239 João Gomes Ferreira 5.4 DIAGNÓSTICOS NOS REVESTIMENTOS .................................................................................................................245 Inês Flores-Colen 5.5 DIAGNÓSTICOS NO SISTEMA DE COMBATE À INCENDIO ........................................................................... 254 Paulo Palmieri Magri 5.6 PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ..................................................................................................262 Natália Linhares 5.7 PATOLOGIA DE IMPERMEABILIZAÇÃO .................................................................................................................273Marcelo Suarez Saldanha 5.8 PATOLOGIA DE REVESTIMENTOS ............................................................................................................................ 284 Felipe Silva Lima 6 DESEMPENHO ...................................................................................................................................................................................................... 297 6.1 MEDIDAS DA QUALIDADE DE EDIFICAÇÃO ........................................................................................................297 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 6.2 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO – MÉTODO DOS CINCO PASSOS ............................................................. 300 Tito Lívio Ferreira Gomide 6.3 VIDA ÚTIL E GARANTIA ...............................................................................................................................................307 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 6.4 REQUISITOS DA CONSTRUÇÃO COM DESEMPENHO.......................................................................................313 Tito Lívio Ferreira Gomide 7 PROVA PERICIAL DE ENGENHARIA DIAGNÓSTICA .......................................................................................................................318 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 7.1 ARTIGOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ........................................................................................................ 319 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 7.2 PROVA PERICIAL NA ARBITRAGEM .........................................................................................................................322 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 7.3 MEDIAÇÃO ....................................................................................................................................................................... 330 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 7.4 CÓDIGO DE ÉTICA ..........................................................................................................................................................336 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 7.5 TABELA DE HONORáRIOS ........................................................................................................................................... 341 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 8 LAUDOS, PARECERES DIAGNÓSTICOS E DE CONSULTORIAS .................................................................................................344 8.1 Laudos e Pareceres de Engenharia Diagnóstica ...................................................................................................... 344 8.1.2 Modelos de laudos e pareceres ..........................................................................................................................345 Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora 8.1.2.1 Laudo de vistoria de vizinhança ...........................................................................................................345 Silvia Matsu Eguti 8.1.2.2 Laudo pericial – o muro caiu ..................................................................................................................351 José Marques 8.1.2.3 Laudo pericial de engenharia diagnóstica ........................................................................................ 366 Stella Marys Della Flora 8.1.2.4 Parecer crítico de engenharia ...............................................................................................................372 Stella Marys Della Flora 8.2 LAUDOS DE DIAGNÓSTICOS DE VALOR ................................................................................................................377 8.2.1 Aspectos gerais das avaliações de bens – imóveis urbanos ......................................................................377 Débora Sanches de Alexandre Marinello 8.2.2 Estudo do impacto do recalque diferencial no valor médio de mercado dos apartamentos localizados nos denominados “prédios tortos” na orla de Santos/SP .................................................................386 Flávia Maluza Braga 8.2.3 Laudo de avaliação técnica de diagnóstico – espaço aéreo ...................................................................... 398 Sérgio Antonio Abunahman CURRÍCULOS ......................................................................................................................................................................................... 414 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................................................................423 10 • manual de engenharia diagnóstica10 • INTRODUÇÃO 2ª EDIÇÃO Na edição anterior a�irmamos que a ideia da criação da engenharia diagnóstica no Brasil surgiu com a constatação da plena similaridade dos trabalhos periciais de engenharia com aque- les da medicina diagnóstica, a requerer questio- namentos, exames e ensaios para o diagnóstico de manifestações patológicas, falhas de manu- tenção, irregularidades de uso, e também do ní- vel de desempenho das edi�icações. Sem embargo da anterior existência dos estudos da disciplina de Patologia do concreto, sempre voltados às restaurações, reparações e reforços nas estruturas, a engenharia diag- nóstica surgiu com foco mais abrangente, envol- vendo não só o concreto, mas todos os sistemas construtivos, além de também ter por objetivos os aprimoramentos técnicos, o desempenho, e a manutenção, bem como contribuir para as apu- rações de responsabilidade. as investigações com suas constatações, in- tuições, inter-relações e as inferências técnicas abrangem todas as fases de uma construção, des- de a gestão com o planejamento e projeto, pas- sando pela execução e conclusão da obra, e �ina- lizando com o uso, reabilitação e desconstrução, o conhecido PPEEURD. E as ferramentas de tra- balho, representadas pelas vistorias, inspeções, auditorias, perícias e consultorias permitem os mais variados diagnósticos técnicos e jurídicos, contribuindo também para o aprimoramento construtivo e prevenção de litígios, como as vis- torias de vizinhança e as inspeções de manuten- ção predial, por exemplo. os diversos seminários promovidos pelo instituto de engenharia, bem como os work- shops com o Fundec da universidade de Lisboa, e dezenas de cursos promovidos pelo inbec, per- mitiram a plena difusão da engenharia diagnós- tica no Brasil e exterior, e mais, sua plena aprova- ção e aplicação no meio técnico e jurídico. desde o início da implantação da disciplina no Brasil, com o lançamento do projeto em 2005, no primeiro seminário de inspeção e manutenção predial em São Paulo e, principalmente, com a edição do livro vermelho “engenharia diagnósti- ca em Edi�icações”, em 2009 pela Editora PINI, em coautoria com os engenheiros Jerônimo cabral Pereira Fagundes neto e marco antonio Gullo – Tito Lívio Ferreira Gomide Stella Marys Della Flora Antonio Guilherme Menezes Braga Marco Antonio Gullo Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto 10 • manual de engenharia diagnóstica introdução 2ª edição • 11 muito se progrediu, principalmente após a vigên- cia da Norma de Desempenho em Edi�icações da ABNT (NBR 15575), em 19 de julho de 2013. a primeira edição desse livro, em 2018, visou apresentar os principais conceitos, as aplicações práticas e os progressos e novidades da disciplina ocorridos até 2017. Foram ilustrados os princi- pais enfoques, conceitos, práticas e aspectos téc- nicos, pois é sabido que, uma imagem vale mais que mil palavras. Em forma de verdadeiro manual de consulta, com exemplos, ilustrações e diretri- zes, aquela edição teveo objetivo de uso prático, para servir aos peritos judiciais, assistentes téc- nicos, estudantes e engenheiros diagnósticos que atuam no mercado da construção civil. agora, nesta segunda edição em 2020, re- solvemos fazer verdadeira revolução técnica, aproveitando os tempos de pandemia1 que nos assolam, ampliando e aprimorando tudo o que se apresentou anteriormente. Tempos de medos e esperanças, como bem destacou a Dra. Car- mém Lúcia antunes rocha, ministra do Supre- mo Tribunal Federal (STF), em excelente artigo publicado no jornal o Globo, em 10 de maio de 2020, a�irmando que: Esperança não diz viver de espera. Não é aquietar, menos ainda acomodar ou ceder. É pelejar na construção. Há que ter mãos para semear acontecências. nesse viés, buscando muitas mãos para esse projeto, resolvemos convidar o cabral, o Gullo e o Guilherme, nossos antigos parceiros de tantas jornadas técnicas, para também organizar esta edição. Com isso, o livro conta com as preciosas mãos de 33 autores para elaboração de muitos tópicos e laudos, convidados por mérito acadê- mico ou pro�issional, ou ainda comprovada ex- periência, cabendo destacar que sempre contri- buíram para o engrandecimento da engenharia Diagnóstica e da Engenharia de Avaliação. vale relembrar que faz mais de quinze anos que essa jornada começou. O crescimento da 1 Pandemia pelo novo coronavírus, SARS-CoV2. ed é robusto e notório, e já há uma grande ge- ração de novos engenheiros diagnósticos a fa- zer prosperar cada vez mais a disciplina. Assim sendo, os autores desta edição se constituem de jovens e velhos peritos que, de forma absoluta- mente livre e independente, escreveram seus ar- tigos e laudos. Portanto, a responsabilidade pela autoria de cada texto é exclusiva do seu autor, cabendo a cada um o seu mérito, a ser apreciado pelos leitores. dessa forma, é preciso agradecer e dedicar o mérito desse livro a todos os autores, pois dedicados e também desbravadores da en- genharia Diagnóstica. o conjunto da obra é inédito no meio pe- ricial, e de muita utilidade aos pro�issionais. o principal objetivo da obra é o uso prático, de consulta imediata, para orientação teórica e prá- tica da disciplina. Não é tratado, ou livro doutri- nário, mas há muita profundidade técnica, em diversos capítulos. a engenharia de avaliação foi contemplada com a apresentação dos seus principais concei- tos e, também, através de laudos, isso plenamen- te justi�icado pela parceria dessas disciplinas no meio judicial e também da vida prática. E, res- salte-se, o brilhantismo e ineditismo em alguns desses laudos, é uma agrável surpresa. as novidades dessa histórica edição in- cluem a correlação entre a ed e os diversos ou- tros aspectos e áreas da engenharia, tais como a arquitetura, o patrimônio cultural, a saúde das edi�icações e a perícia ambiental. Também foram apresentados exemplos de aplicação da ed nas etapas construtivas (PPeeurd), abrangendo as vistorias de vizinhança, o Bim, o controle tecno- lógico, a acústica, a inspeção predial e auto vis- torias, as manutenções e as realibilitações, entre outros. Além disso, as principais manifestações patológicas dos principais sistemas contrutivos também foram contempladas. Por �im, destaca-se os novos modelos de laudos apresentados, jun- tamente com os conceitos e aplicabilidades das avaliações. 12 • manual de engenharia diagnóstica os resultados desse memorável trabalho provem, principalmente, da experiência prática de todos os autores dos tópicos e laudos, quer como professores de renomadas universidades e Institutos, ou como pro�issionais atuantes e reconhecidos do mercado da construção civil brasileira. Agradecimento especial fazemos aos colegas da Fundec e universidade de Lisboa, João Gomes Ferreira e inês Flores-colen, pois �izeram contribuição inestimável, quer técnica, quer de amizade, aos peritos brasileiros. esperamos que esta segunda edição do manual de engenharia diagnóstica seja útil aos colegas da área técnica e também aos militantes do mundo jurídico, e que seja constantemente reeditado, com a indispensável ampliação e renovação que a engenharia diagnóstica requer, nesses tempos de muitas mudanças e de acelera- da evolução técnica. Tito Lívio Ferreira Gomide Stella Marys Della Flora Antonio Guilherme Menezes Braga Marco Antonio Gullo Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto 284 • manual de engenharia diagnóstica 5.8 PATOLOGIA DE REVESTIMENTOS com a função de revestir estruturas, alve- narias e demais elementos de vedação, seja nos pisos, paredes ou tetos, os revestimentos de- sempenham papéis importantes além das ques- tões estéticas. A visualização da super�ície �inal atém-se ao seu compromisso para com a estética e o con- forto táctil. O seu conjunto de camadas, forman- do o sistema de revestimento, é um dos elemen- tos responsáveis, juntamente com as vedações, pela capacidade de conforto acústico e térmico, além de proteger estruturas e alvenarias quan- to à entrada de agentes agressivos e in�iltrações de água e gases no caso das fachadas (BAÍA; SABBATINI, 2017). ao longo dos anos, houve mudanças subs- tanciais em relação à tecnologia dos materiais, às técnicas construtivas e ao desempenho dos revestimentos. Hoje há edi�icações antigas que necessitam de atenção e cuidado, e o olhar téc- nico deve voltar-se às funções relativas a cada camada do revestimento, possibilitando uma ampla avaliação das condições em que estas se encontram; esta análise auxiliará no planeja- mento de intervenções e�icazes. 5.8.1 Tipos de revestimento há uma vasta diversidade de tipos de reves- timento, divididos em, basicamente, dois gru- pos: Revestimentos Aderidos e Não Aderidos. No caso dos aderidos – mais tradicionais no Brasil – as primeiras camadas são compostas, em sua maioria, por revestimentos argamassados, como é o caso do contrapiso para pisos e do conjunto “chapisco + emboço (camada única)” para as pa- redes. Sobre esta composição é aplicada a última camada do revestimento que, dentre as opções existentes, as mais tradicionais no Brasil são as pinturas, texturas e revestimentos cerâmicos. existem alguns tipos de revestimentos que são aplicados diretamente sobre a base de alve- naria ou sobre uma camada de chapisco, no caso das estruturas em concreto. Dentre eles, é possí- vel citar a monocapa (tipo de revestimento em monocamada com argamassa decorativa), muito utilizada em fachadas de edi�ícios com alvenaria estrutural, e o gesso liso, utilizado em paredes internas. com uma adoção cada vez mais cotidiana, temos os revestimentos não aderidos, com des- taque para os sistemas de pisos elevados e de fachadas ventiladas, na qual utiliza-se de estru- turas metálicas �ixadas preferencialmente em estruturas de concreto; o revestimento é �ixado por meio de encaixes e/ou ancoragens com pa- rafusos. Dentro deste grupo, destaca-se as placas cimentícias, mármores e granitos, porcelanato e concreto polímero. Por se tratar de elementos metálicos, é ne- cessária atenção quanto à especi�icação do tipo dos materiais, bem como ao seu tratamento super�icial, com o objetivo de evitar corrosões e consequentemente queda das placas. As �ixa- ções na estrutura da base também precisam ser avaliadas e projetadas de forma a garantir a es- tabilidade de todo o sistema de revestimento. nos pisos elevados, deve ser dada uma atenção especial quanto à resistência mecânica da placa e, no caso das fachadas ventiladas, o olhar atento deve ser quanto à estanqueidade da base, uma vez que esta super�ície �icará mais suscetível às in�iltrações de água e gases. 5.8.2 Definição da metologia os revestimentos fazem parte dos sistemas de pisos internos, vedações verticais internas e externas, e precisam ser projetados de forma a garantir a mínima vida útil de projeto de acordo com os parâmetros da norma aBnT nBr 15575 (ABNT, 2013a). diagnósticos na construção civil (manifestações patológicas) • 285 Tabela 49 – Vida útil deprojeto (VPU) mínima e superior. Sistema VUP (em anos) Mínimo Intermediário Superior Estrutura ≥ 50 ≥ 63 ≥ 75 Pisos Internos ≥ 13 ≥ 17 ≥ 20 Vedação Vertical Externa ≥ 40 ≥ 50 ≥ 60 Vedação Vertical Interna ≥ 20 ≥ 25 ≥ 30 Cobertura ≥ 20 ≥ 25 ≥ 30 Hidrossanitário ≥ 20 ≥ 25 ≥ 30 Os dados dependem da manutenção periódica recomendada pela ABNT NBR 5674 e especificada no manual de uso, opera- ção e manutenção elaborado de acordo com a ABNT NBR 14037. Fonte: ABNT, 2013a. É imprescindível que haja a elaboração de projetos de produção específicos para cada sistema. No caso das fachadas em revestimento cerâmico, a Norma ABNT NBR 13755 (ABNT, 2017a) declara sua obrigatoriedade. Para os demais sistemas, tais como contra- piso e revestimentos internos, o projeto de pro- dução mantém seu grau de importância, pois o projeto arquitetônico apresenta a concepção da- quilo que deverá ser construído; já o projeto de produção trará detalhadamente como as solu- ções projetuais deverão ser executadas, incluin- do a determinação de materiais, equipamentos, técnicas e controles tecnológicos. A norma de Desempenho ABNT NBR 15.575 (ABNT, 2013a) prevê, inclusive, que o projetista de�ina as ações de manutenção a serem implantadas pelos pro- prietários na fase de Uso das edi�icações. A de�inição de uma metodologia constru- tiva precisa seguir minimamente as determina- ções das normas técnicas vigentes (prescritivas e de desempenho), levando em consideração também as boas práticas construtivas, além de especi�icações dos fabricantes dos materiais que estão em constante evolução, inovando em seus produtos. a engenharia diagnóstica atua em todas as fases do Processo construtivo primando, de ponta a ponta, pela qualidade das edi�icações, prevenindo, inclusive, a evolução das demandas para a judicialização, ao fornecer subsídios para tratativas extrajudiciais. Atua também na identi- �icação e aprofundamento das análises das ma- nifestações patológicas, buscando entender os mecanismos e determinar suas causas e origens, nas perícias. A aplicação das ferramentas da En- genharia diagnóstica se amplia nas demais fases da construção, pois pode estar presente desde a concepção de uma nova edi�icação para identi�i- car potenciais problemas patológicos e contro- lar as etapas construtivas, através das vistorias, inspeções, auditorias e consultoria o que pro- porciona um grande ganho quanto à qualidade construtiva. Na fase da reabilitação de um edi�ício o de- sa�io é reestabelecer o desempenho do sistema de revestimento através da de�inição de metodo- logias técnicas que considerem o estado da edi�i- cação naquele momento que antecede a interven- ção, para promover a ligação e a aderência entre novos materiais e a estrutura, alvenaria e reves- timentos existentes, além da viabilidade logística da execução, pois, em muitos casos, as interven- ções serão realizadas em edi�ícios habitados. as normas Técnicas estabelecem o conjun- to de ensaios necessários para cada etapa de 286 • manual de engenharia diagnóstica execução do sistema de revestimento. É impor- tante constar no plano de controle tecnológico os tipos a serem realizados na fase de constru- ção; na fase de reabilitação, o pro�issional deve avaliar os sintomas para de�inir, com base nas normas vigentes, quais metodologias e ensaios solicitar de forma a quali�icar e quanti�icar a extensão dos problemas patológicos a diagnos- ticar, para poder prescrever a(s) solução(ões) com conhecimento de causa e com a justi�icativa correspondente. No caso de edi�icações concluídas é neces- sário que haja uma maior investigação, com o objetivo de encontrar a causa e a origem de de- terminada anomalia dentro de um sistema de re- vestimento composto por diversas camadas de materiais. 5.8.3 Revestimento de argamassa Cobrimento de uma super�ície com uma ou mais camadas superpostas de argamas- sa, apto a receber acabamento decorativo ou constituir-se em acabamento �inal, de- corativo, ou não. (ABNT, 2013b) o revestimento de argamassa é aplicado so- bre a base de alvenaria ou de concreto, podendo ser constituído pelo conjunto “chapisco + emboço + reboco”, ou a aplicação de camada única, deno- minada de “emboço paulista”, sobre o chapisco; a argamassa regulariza a super�ície dos elementos de vedação, tornando-a adequadamente prepara- da para receber o revestimento posterior. Como acabamento �inal podemos considerar a aplicação de texturas, pinturas ou revestimentos cerâmicos dentre os mais utilizados. Suas principais funções são: garantir a pla- neza da super�ície para receber a camada de acabamento; absorver as tensões entre a base e os revestimentos aderidos (no caso das placas cerâmicas); contribuir com a estanqueidade; e compor o sistema que cumpre os requisitos dos confortos térmico e acústico em consonância com a norma de desempenho norma Técnica ABNT 15575 (ABNT, 2013a). Para garantir um bom desempenho do sis- tema, é necessário que este cumpra os requisi- tos de aderência, dentre os principais atributos, além de ter a capacidade de absorver deforma- ções originadas pela estrutura e variações tér- micas. É importante atentar-se às espessuras ad- missíveis dos revestimentos internos e externos, conforme as determinações da norma aBnT NBR 13749 (ABNT, 2013c). Tabela 50 – Espessuras admissíveis de revestimentos. Revestimento Espessura (e) [mm] Parede Interna 5 ≤ e ≤ 20 Parede Externa 20 ≤ e ≤ 30 Teto interno e Externo e ≤ 20 Fonte: (ABNT, 2013c). A Norma ABNT NBR 13755 (ABNT, 2017) estabelece a espessura Limite inferior (eLi) da camada de argamassa como sendo de 20 mm e a espessura Limite Superior (eLS) sendo de 50 mm; para os casos que superarem a ELS, com limite de 80 mm, indica-se a aplicação de telas metálicas especí�icas para este �im, que também podem ser utilizadas para reforço do emboço nos cantos das janelas e na interface entre o con- creto e a alvenaria, a serem previstas do projeto, a critério do projetista, analisando inclusive os efeitos decorrentes da esbeltez da edi�icações. durante o processo construtivo, o processo de controle de qualidade construtiva é apresenta- do pela Norma ABNT NBR 13749 (ABNT, 2013c): diagnósticos na construção civil (manifestações patológicas) • 287 Figura 168 – Fluxograma sobre controle da qualidade do revestimento aplicado. Fonte: (ABNT, 2013c). as texturas, acrílicas e cimentícias, cum- prindo a função decorativa e protetiva, reduzem principalmente a permeabilidade do sistema de revestimento; podem ser aplicadas sobre o substrato de argamassa pelos métodos projeta- do, desempenado ou rolado, após a aplicação de uma camada de fundo selador, compondo o sis- tema de revestimento muito difundido no Brasil, ressalvando-se a necessidade de observar, rigo- rosamente, as prescrições dos fabricantes e que a mão de obra tenha treinamento continuado e trabalhe sob �iscalização. antes da aplicação do revestimento textu- rizado, se faz necessário a avaliação e aceitação do substrato em argamassa dentro dos parâme- tros estabelecidos na Norma ABNT NBR 13749 (ABNT, 2013c). com o objetivo de contribuir para o desem- penho adequado do sistema de revestimento nas fachadas, é necessário ater-se à proteção das super�ícies horizontais por serem os locais mais suscetíveis a problemas patológicos oriundos da movimentação térmica e da in�iltração por percolação; indica-se impermeabilizar o local e adotar a instalação de peitoris (respeitando-se o caimento), pingadeiras (observando-se a de- sobstrução dos sulcos) e rufos, constituídos ge- ralmente de materiais metálicos, pétreos ou de elementos pré-moldados em concreto. 5.8.3.1 Problemas Patológicos a ausência ou o erro de projeto, bem como as falhas de execução e de materiais, além da au- sência de manutenção adequada, formam o con- junto de potenciais causas para os problemas patológicos, sabendo-se também da existência de falhas no processo de controle da qualidade, acompanhamento e inspeçãodurante o proces- so construtivo (�iscalização). em um processo de manifestação patológica em revestimento de argamassa, o problema pode 288 • manual de engenharia diagnóstica estar diretamente ligado ao produto em si, como no caso de �issuras mapeadas, que podem for- mar-se “por retração da argamassa, por excesso de �inos no traço, quer sejam de aglomerantes, quer sejam de �inos no agregado, ou por exces- so de desempenamento” (ABNT, 2013c). em ou- tros casos, a argamassa sofre a consequência de problemas da base e demonstra o sintoma, como ocorre na maioria das �issuras geométricas; a título de exemplo, podem ocorrer em função de um recalque diferencial ou da movimentação em uma estrutura em balanço, na interface entre estrutura e alvenaria com de�iciência de ligação (falha na posicionamento ou falta de tela), trans- ferindo para a argamassa de revestimento o sin- toma aparente: neste caso, através da incidência de trincas e �issuras. O surgimento das �issuras nas argamas- sas de revestimento, segundo Sahade (2005), “irão depender, sobretudo, do seu módulo de deformação e da sua capacidade para absorver as deformações impostas pelo substrato”, sendo possível classi�icar as �issuras como ativas ou passivas e sazonais ou progressivas. Os corretos diagnóstico e classi�icação das �issuras e trincas, através das medições com �is- surômetro e monitoramento quanto a sua ativi- dade, que pode incluir a necessidade do apro- fundamento das investigações, irá proporcionar a exata de�inição do diagnóstico e determinação da(s) causa(s) concorrente(s), que resultará na e�icaz especi�icação quanto ao tratamento a ser adotado, sendo necessário veri�icar primeira- mente se estas manifestações não são sintomas de um problema maior, como por exemplo um problema estrutural. uma grave consequência causada pela in- cidência de �issuras e trincas nos revestimentos das fachadas mas também dos pisos, é o favore- cimento da entrada de água, dando início a uma série de potenciais problemas patológicos, como por exemplo a e�lorescência; por uma falha na estanqueidade, a água, encontrando uma fonte de sais solúveis, causa geralmente a dissolução do hidróxido de cálcio (ca(oh2)) e, ao cristalizar na super�ície, se manifesta através de manchas, em sua maioria, esbranquiçadas (SENA; NASCI- MENTO; NETO, 2020). o descolamento, causado por falha na ade- rência entre o sistema de revestimento e a base ou entre suas camadas, é evidenciado no teste percussivo através da identi�icação das áreas re- vestidas com o registro do som cavo (oco); ele ocasiona uma sucessão de problemas patológi- cos, sendo o mais perigoso, quando associado às fachadas, o desplacamento e a sua consequente queda, podendo provocar prejuízos patrimo- niais, além do risco potencial a vidas humanas (saúde e segurança dos usuários). Grande parte dos problemas patológicos em revestimentos argamassados estão associados à utilização de espessuras maiores do que as espe- ci�icadas pelas Normas ABNT, desprovidas de te- las de reforço. A �im de compensar falhas, como variações de medidas, nível, alinhamento e loca- ção durante a construção, cria-se revestimentos com grandes espessuras; é o caso da correção do prumo nas fachadas. Tais problemas podem ser associados à de�iciência de planejamento aliada à ausência de projeto. um ponto importante a ser analisado, tanto durante a fase de projeto e execução, quanto na fase de diagnóstico durante o uso da edi�icação, é a correta implantação das juntas de trabalho, “cuja função é subdividir o revestimento para aliviar tensões provocadas pela movimentação da base ou do próprio revestimento” (BAÍA; SABBATINI, 2017). Em razão das juntas de tra- balho atuarem como um indutor de �issuras, recomenda-se a realização de uma impermeabi- lização �lexível em toda sua extensão. Seguem classi�icações dos principais fenô- menos patológicos relacionados com, respectiva- mente, revestimentos de argamassa e pinturas: diagnósticos na construção civil (manifestações patológicas) • 289 Tabela 51 – Classificação de fenômenos patológicos em argamassas e revestimentos. Fenômeno patológico Principais causas Principais sintomas Fissuras mapeadas Podem se formar por retração da argamassa, por excesso de finos no traço, quer seja de aglomerantes, quer seja de finos no agregado, ou por excesso de desempenamento Fissuras em forma de mapa; casco de tartaruga; fissuras aleatórias, “pele de crocodilo” Fissuras geométricas Movimentações estruturais, recalques, corrosão de armaduras nas estruturas, ausência de reforços no revestimento, ausência ou falha nas juntas de movimentação, dilatação térmica, espessuras inadequadas, interação entre estrutura e alvenaria, ausência de vergas e contravergas, falha na ligação da alvenaria com o pilar Fissuras geométricas, formando linhas horizontais, verticais e inclinadas Eflorescência Falha na estanqueidade, presença de água no revestimento; revestimento com presença de sais solúveis, resultando principalmente na dissolução do hidróxido de cálcio (Ca(OH2)) Manchas, na maioria das vezes, esbranquiçadas na superfície do revestimento Vesículas As vesículas podem ser causadas por: – Hidratação retardada do óxido de cálcio não hidratado, presente na cal hidratada (o interior da vesícula é branco) – Presença de concreções ferruginosas na areia (o interior da vesícula é vermelho) – Matéria orgânica ou pirita na areia (o interior da vesícula é prelo) Empolas no acabamento final, com a parte interna podendo se apresentar branca, preta ou vermelha Expansão Presença de gesso na argamassa, formando a etringita Expansão, fissuração e descolamentos pontuais do revestimento Descolamentos e desplacamentos Falhas no tratamento da superfície da base, na aderência entre as camadas de chapisco e base ou emboço e chapisco, argamassas que não apresentam capacidade de absorver as tensões impostas pela estrutura e variações térmicas; argamassas de alto módulo; altas espessuras. Som cavo, embricamento e queda de revestimentos. Pulverulência Excesso de finos no agregado – Traço pobre em aglomerante; – Carbonatação insuficiente da cal em argamassas com a presença deste material, dificultada por clima seco e temperatura elevada ou por ação do vento, além de falha no processo de cura Superfície do emboço com excesso de material solto, baixa resistência superficial Mofo e bolor Ataques biológicos de micro-organismos, umidade constante, falta de ventilação, área não exposta ao sol; argamassa com alta capilaridade e porosidade Machas esverdeadas ou escuras, umidade elevada Espectro de juntas Ausência de chapisco, baixa espessura do emboço, excesso de absorção de água, falha na pintura É possível identificar a geometria da estrutura com a alvenaria e as juntas de assentamento, como numa “visão raio x” Fonte: Adaptado da Norma ABNT NBR 13749 (ABNT, 2013c). 290 • manual de engenharia diagnóstica Tabela 52 – Classificação de problemas patológicos pinturas. Fenômeno patológico Principais causas Principais sintomas Perda de brilho Radiação Alteração na estética da pintura Descolamento Aplicação em superfícies com sujidades ou muito lisas ou porosas ou sobre base úmida Bolhas, fissuras e desprendimento da camada de revestimento Saponificação Alcalinidade natural da cal e do cimento que compõem o reboco, na presença de umidade Manchas com aspecto pegajoso Enrugamento Camada de tinta muito espessa, aplicação excessiva do produto Aspecto enrugado no acabamento final Sujidades Ausência de limpeza ou de repintura Aspecto de sujeira impregnada Fonte: Adaptado de GOMIDE; FLORA (2018). a previsão de uso de “limitador de fundo / pro- fundidade”. Em relação a quantidade e posicio- namento, “a posição exata das juntas deve ser de�inida em projeto. Recomenda-se que a distân- cia entre as juntas horizontais não seja ser supe- rior a 3 m. Para as juntas verticais, recomenda-se que sejam posicionadas no máximo acada 6 m” (ABNT, 2017). Figura 169 – Selamento de juntas de movimentação. Fonte: Elaborado pelo autor. 5.8.4.1 Problemas patológicos o principal problema patológico do sistema de revestimento é o descolamento cerâmico e seu consequente desplacamento; esta manifes- tação causa, além do desconforto, um abalo na estética, assim como pode ser uma abertura para outros problemas patológicos na edi�icação pois 5.8.4 Revestimento cerâmico o sistema de revestimento cerâmico, com- posto, além da camada de revestimento arga- massado, por argamassa colante, placa cerâmica e rejunte, é muito utilizado no Brasil em função de sua qualidade estética, desempenho térmico, estanqueidade e do consequente ganho na valo- rização patrimonial dos edi�ícios. Para a aplicação do revestimento cerâmico em fachadas é obrigatório que haja um projeto especí�ico conforme prescrição normativa a se- guir indicada. Tal medida também é apropriada para o caso de revestimentos internos em pare- des e pisos. o projeto de revestimento de fachada é obrigatório e, pela sua característica, deve ser desenvolvido por pro�issional legal- mente habilitado e pode ser subcontra- tado ou desenvolvido internamente pela construtora, na forma de procedimentos. (ABNT, 2013a) a adoção de juntas de movimentação cujas especi�icações devem ser detalhadas no projeto, é parte essencial do sistema de revestimento ce- râmico; as juntas devem ser vedadas com selan- tes preferencialmente elastoméricos, conside- rando os princípios de fator de forma e a adesão em apenas dois pontos de contato e contemplar diagnósticos na construção civil (manifestações patológicas) • 291 favorecem, por exemplo, as in�iltrações, para causar prejuízos �inanceiros e até mesmo pelo risco potencial à saúde e segurança dos usuários, já anunciado. a causa dos problemas patológicos não costuma ser de causa única, mas sim conse- quência de um conjunto de fatores concorren- tes que contribuem para a sua incidência, tor- nando complexo o processo de diagnóstico que pode exigir além da investigação e a realização de ensaios “in loco” e porventura laboratoriais, a contratação de consultoria especializada. a baixa frequência de realização de um projeto de fachadas nas construções Brasileiras também é um elemento que di�iculta a avaliação quanto às especi�icações de metodologia construtiva. a consolidação do diagnóstico de uma ma- nifestação patológica em revestimento cerâmico, em muitos casos, faz necessária a identi�icação da origem do problema quando requer a atribui- ção de responsabilidade; a procedência pode es- tar relacionada às fases de Projeto, execução ou uso e manutenção, que possuem interveniente especí�icos, que por sua vez facilitam a associa- ção direta à origem dos problemas e favorecem às perícias. na fase de projeto, as principais falhas po- dem estar associadas a: • Falhas nas especi�icações dos materiais; • Especi�icação da argamassa colante in- compatível com o local de aplicação e as propriedades da peça cerâmica; • Ausência de detalhamentos e de�inições construtivas; • Falha na especi�icação do sistema de jun- tas de assentamento e do material de re- junte, elemento responsável pelo preen- chimento entre os componentes; • ausência ou falha na especi�icação das juntas de movimentação. Já na fase de execução, as principais falhas podem estar associadas a: • não utilização, ou utilização inadequada do projeto elaborado; • não execução da dupla colagem (peças maiores que 400 cm² ou em casos espe- cí�icos, como o caso de cerâmicas com reentrância no tardoz em 1mm ou mais) (ABNT NBR 13755, 2013); • utilização de argamassa colante incom- patível com o local de aplicação e peça cerâmica utilizada, em desacordo à espe- ci�icação do projeto; • mistura inadequada da argamassa colan- te, no tocante ao preparo, mistura e tem- po de descanso. • Tempo em aberto da argamassa colante excede às condições meteorológicas lo- cais no ato da aplicação; • Não “quebrar” os cordões de argamassa colante; • aplicação da argamassa colante em sen- tidos aleatórios, impedindo a saída de ar, contrariando as prescrições normativas vigentes; • Limpeza tardia de juntas de assentamen- to, prejudicando a aplicação do rejunte; • execução das juntas de movimentação sem critério de limpeza, preparo e em desrespeito ao projeto . os problemas patológicos também podem estar associados à qualidade do material cerâmi- co, como, por exemplo, à taxa de expansão por umidade (ePu) elevada ou resistência ao greta- mento. Na fase “uso e manutenção” os cuidados �icam a cargo do usuário, que precisa seguir as determinações do manual de uso, operação e manutenção – manual do síndico e manual do proprietário, elaborado pela construtora/ incorporadora, em consonância com a norma ABNT NBR 14037 (ABNT, 2011) e disponibili- zada, obrigatoriamente ao proprietário no ato da entrega, ou síndico, quando condomínio, na 292 • manual de engenharia diagnóstica entrega das áreas comuns. O manual deve servir de orientação para que proprietários e síndicos desenvolvam e implantem seus Planos de manu- tenção, para adotar critérios e prazos para ins- peção e manutenção estabelecidos pela norma ABNT NBR 5674 (ABNT, 2012). No caso da ma- nutenção das fachadas deve abranger a previsão de execução da manutenção com previsão dos cuidados como lavagem periódica e revisões do rejunte nas juntas de assentamento e do selante elastomérico nas juntas de movimentação e des- solidarização. A falta, a negligência de manuten- ção, ou a aplicação de intervenções inadequadas, causam prejuízos para o sistema, comprometen- do seu desempenho e consequentemente redu- zindo sua vida útil do sistema. a manifestação de descolamento e despla- camento cerâmico deve alertar à necessidade de veri�icação das interfaces dos componentes do sistema ao longo da vida útil do edi�ício, a �im de identi�icar, durante as inspeções regulares, previstas no Plano de manutenção, a falha de aderência; este lapso pode estar entre a interfa- ce cerâmica e a argamassa colante, entre a arga- massa colante e a base argamassada ou, em ca- sos mais graves, entre as interfaces revestimento argamassado e base – neste caso, o revestimento cerâmico pode estar bem aderido, porém se tor- na a vítima de um problema patológico origina- do na camada argamassada. Especi�icamente nos pisos, os desplacamen- tos cerâmicos ocorrem majoritariamente devido às movimentações das lajes em concreto, bem como devido a erros construtivos especí�icos, como a espessura de rejunte inferior à recomen- dada pelo fabricante, a ausência ou falha nas jun- tas de movimentação e/ou a dessolidarização. em fachadas, as estruturas em concreto ar- mado podem ter papel preponderante no pro- cesso de formação de problemas patológicos que por vezes pode estar associado a de�iciência de preparo da base antes de receber o chapisco ou ainda pela de�iciência de cura do chapisco. Além disso a incidência de trincas e �issuras no reves- timento, que favorecem o contato da estrutura com a água, que favorecem e de�lagram o proces- so de corrosão das armaduras, expandindo-as e gerando esforços de tração internas no concreto, ocasionando a destacamento do concreto que por sua vez induz ao descolamentos de todo o sistema de revestimento. Na Tabela 53 há um resumo com a classi�i- cação e descrição dos principais problemas pa- tológicos associados a revestimentos cerâmicos. Tabela 53 – Classificação dos problemas patológicos em revestimentos cerâmicos. Fenômeno patológico Prováveis causas Principais sintomas Descolamentos e Desplacamentos Falha na aderência dos materiais, erros construtivos, defeito nos materiais, infiltração de água pelo rejunte e juntas de movimentação, corrosão de armaduras na estrutura, falha na capacidade de resistência superficial do revestimento em argamassa, tempo em aberto inadequado na aplicação da argamassa colante, ausência de “quebra” dos cordões daargamassa colante Embricamento, trincas e fissuras; queda do revestimento. Gretamento da peça cerâmica Falha na fabricação do material Craqueamento da camada superficial da peca cerâmica; expansão da peca por umidade (EPU). Eflorescência Falha na estanqueidade, presença de água no revestimento; revestimento com presença de sais solúveis, resultando principalmente na dissolução do hidróxido de cálcio (Ca(OH2)). Manchas, na maioria das vezes, esbranquiçadas na superfície do revestimento Trincas e Fissuras Movimentação da estrutura, ausência ou falha nas juntas de movimentação, falha nas juntas de assentamento Peças trincadas e fissuradas diagnósticos na construção civil (manifestações patológicas) • 293 Fenômeno patológico Prováveis causas Principais sintomas Expansão por umidade Falha na fabricação do material Aumento da dimensão das peças, ocasionando os descolamentos, trincas e fissuras Manchamento Infiltração de líquidos, falha na fabricação do material Manchas na superfície da peça cerâmica Cerâmicas com coloração não uniformes Erros de fabricação, uso de lotes diferentes Peças com cores diferentes Sujidades Falta de manutenção e limpeza Manchas de sujeira impregnada Desprendimento de rejunte Aplicação inadequada, utilização de material inapropriado Buracos e ausência de material Deterioração química Utilização de produtos inaquedados na limpeza Perda de brilho e manchas Fonte: Elaborado pelo autor. as juntas de movimentação têm papel fun- damental no desempenho do sistema de reves- timento cerâmico, cujas as falhas em sua colma- tação resultam na in�iltração de água e detritos, dando início a alguns dos potenciais problemas patológicos listados anteriormente. Na fase de diagnóstico é importante analisar o tipo de se- lante utilizado, se ele é adequado ao tipo de re- vestimento e às condições da fachada, bem como sua vida útil e manutenções durante o período de uso (a especificação do selante deve ser previsto necessariamente em projeto, respeitada as prescrições de aplicação, uso e manutenção, sob pena de deterioração precoce e contribuição di- reta para a incidência de in�iltrações). Algumas das principais falhas encontradas no sistema de juntas de movimentação são: falha de adesão, fa- lha de coesão e consequente ruptura, presença de vazios, enrijecimento e �issuração, falha no fa- tor de forma, aderência em três pontos de apoio, manchamento do revestimento, deterioração por limpeza inadequada, entre outras, conforme cita BELTRAME; LOH (2009). 5.8.5 Ensaios diagnósticos a anamnese e o estudo sobre os mecanis- mos de degradação são métodos importantes a serem utilizados em um processo de diagnósti- co para con�irmação das hipótese levantadas no processo investigatório das manifestações pato- lógicas, e quando somado à adoção dos sentidos humanos e a ensaios no local e laboratoriais, desde os mais simples até os avançados, propor- cionam um importante conjunto de recursos que favorecem além do próprio diagnóstico a pres- crição das intervenções com resultado satisfató- rio e e�icaz. 5.8.5.1 Análise sensorial a análise sensorial, através dos sentidos humanos, somada com uma anamnese e�icaz e aliada à experiência do especialista, consegue detectar muitos dos sintomas patológicos, pos- sibilitando a formulação de hipóteses ao iniciar o processo de pré-diagnóstico, na qual é de�ini- do o conjunto de ensaios a serem realizados com base nos sintomas apresentados. durante a visita técnica, por exemplo, even- tualmente é possível constatar um problema sé- rio na estrutura de um edi�ício, sendo necessário adotar medidas emergenciais que envolvem, in- terdição parcial de circulação e/ou de uso restri- to de setores da edi�icação, necessidade de es- coramento ou até a desocupação do imóvel. Por outro lado, a análise sensorial possibilita descar- tar ou direcionar ações. Esse trabalho na maioria das vezes exige expertise e requer a presença de especialistas na matéria para que os resultados 294 • manual de engenharia diagnóstica das intervenções sejam efetivas e minimizem riscos potenciais de acidentes de graves reper- cussões. um recurso importante, no caso das fa- chadas, é a utilização de drones com câmeras comuns e termográ�icas, na qual possibilita-se obter imagens com alta qualidade em locais de di�ícil acesso pelo especialista o que poderá orientá-lo nos próximos passos investigativos necessários ao diagnóstico e a perfeita ilustra- ção dos seus trabalhos técnicos. 5.8.5.2 Prospecções destrutivas A anomalia que se manifesta na super�ície do revestimento geralmente apresenta um sin- toma de algo que esteja ocorrendo em suas ca- madas internas, fazendo com que a prospecção destrutiva seja um recurso e�iciente e necessário para auxiliar na identi�icação da causa e a conse- quente origem do problema patológico. na prospecção destrutiva realizada no lo- cal onde há a manifestação patológica requer-se, muitas vezes a remoção até a base de um trecho do revestimento; esta remoção possibilita anali- sar, por exemplo: a espessura do revestimento e suas camadas, a qualidade da base e seu trata- mento super�icial, além de indicar a profundidade de �issuras e trincas, ajuda a detectar a possível existência ou não, de reforços com telas metálicas, a existência de vergas e contravergas, o per�il da junta de movimentação, a existência de possíveis rompimentos dos cordões da argamassa, além de possibilitar a identi�icação da constituição das ca- madas utilizadas no revestimento. 5.8.5.3 Ensaio de percussão Sendo um dos mais recomendados e utili- zados, o ensaio de percussão possibilita identi�i- car locais com falha de aderência (extensão dos problemas) através do som cavo (oco), produzi- do através da realização de “impactos leves, não contundentes, com martelo de madeira ou outro instrumento rijo” (ABNT, 2013c). este ensaio recomenda-se que seja reali- zado durante o processo de construção, com o objetivo de avaliar o revestimento argamassado, no qual seu resultado torna-se critério para a li- beração da aplicação do revestimento �inal. Em edi�icações concluídas que apresentam manifestações patológicas este ensaio também é indicado, sendo, neste caso, utilizado para analisar quantitativamente as áreas com “falha de aderência”; é aplicável tanto em revestimen- tos argamassados com acabamento em texturas e pinturas, como em revestimentos cerâmicos aderidos. na prática, as ferramentas mais utilizadas são o martelo pena e martelo com “cabeça” em “plástico rígido”. 5.8.5.4 Ensaio de determinação da resistência de aderência ao substrato à tração com o objetivo de avaliar a resistência da aderência ao substrato, utilizando os critérios da Norma Técnica ABNT NBR 13528-2 (ABNT, 2019), esse ensaio pode ser adotado em algumas fases e etapas da obra; seguem algumas aplica- ções e sua consequente função. a) Painel Teste do revestimento argamas- sado, para a liberação do procedimento construtivo; b) controle de qualidade do revestimento, durante o processo construtivo; c) diagnóstico de problemas patológicos em edi�icações concluídas, sendo um recurso solicitado pelo especialista, ge- ralmente após analisar os sintomas e realizar o ensaio de percussão; permi- te a avaliação dos locais em que não há falha de aderência o seu desempenho, além da necessidade de intervenção. diagnósticos na construção civil (manifestações patológicas) • 295 5.8.5.5 Ensaio de determinação da resistência de aderência superficial à tração com o objetivo de avaliar a resistência super- �icial do revestimento argamassado, utilizando os critérios das Normas ABNT NBR 13528-3 (ABNT, 2019) e 13755 (ABNT, 2017), esse ensaio permite a avaliação do revestimento argamassado quanto à sua capacidade de suportar a cerâmica. o ensaio deve ser realizado no revestimen- to com idade de 28 dias, para argamassas mistas ou de cimento e areia, e de 56 dias, para argamassas de cal e areia, contados após a aplicaçãoda argamassa sobre o substrato. (ABNT, 2019) os problemas patológicos de descolamento dos revestimentos cerâmicos podem estar as- sociados a falhas na capacidade de resistência super�icial do revestimento argamassado; neste caso, este ensaio trata-se de um recurso impor- tante na fase de diagnóstico de problemas pato- lógicos durante o uso das edi�icações. 5.8.5.6 Determinação da resistência de aderência de revestimentos cerâmicos com placas assentadas com argamassa colante com o objetivo de avaliar a resistência de aderência ao substrato, utilizando os critérios da Norma ABNT NBR 13755 (ABNT, 2017), esse en- saio é adotado em algumas fases: a) Painel Teste do revestimento arga- massado. “O processo de validação do painel teste deve ser feito por meio de ensaios de resistência de aderência à tração (descrito no anexo a) em idade não inferior a 28 dias” (ABNT, 2017). b) controle de qualidade do revestimento após a execução de obra nova ou reabi- litação; c) diagnóstico de problemas patológicos em edi�icações concluídas, sendo um recurso solicitado pelo especialista, ge- ralmente após analisar os sintomas e realizar o ensaio de percussão, podendo então avaliar nos locais que não há falha de aderência o seu desempenho e veri- �icar a necessidade de intervenção. 5.8.5.7 Ensaio de EPU (Expansão por umidade), gretamento e dilatação térmica A Norma ABNT NBR 13818 (ABNT, 1997) apresenta um conjunto extenso de ensaios a se- rem realizados nas placas cerâmicas, pois a qua- lidade das mesmas afeta o desempenho do siste- ma e podem ser um dos fatores causadores dos problemas patológicos. dentre esses ensaios, destacam-se os refe- rentes à determinação da resistência da expan- são da umidade, ao gretamento e à determina- ção do coe�iciente de dilatação térmica. durante o processo de diagnóstico de um problema patológico, esses ensaios são utiliza- dos como recursos para descartar ou determi- nar a contribuição da qualidade do material ce- râmico na causa da manifestação patológica. 5.8.5.8 Reconstituição do traço da argamassa o ensaio de reconstituição do traço da arga- massa endurecida é utilizado quando se faz ne- cessário “avaliar fenômenos patológicos, permi- tindo uma compreensão mais aprofundada das causas que teriam levado à degradação de um dado revestimento.” (QUARCIONI; CINCOTTO, 1998). Ao ser identi�icada uma incidência ex- pressiva de descolamentos do sistema argamas- sado e/ou �issuras e trincas, esse ensaio pode ser solicitado com o objetivo de analisar a cons- tituição dos materiais e avaliar a partir de então a sua capacidade de absorver deformações. 296 • manual de engenharia diagnóstica 5.8.5.9 Análise termográfica Por se tratar de uma técnica de ensaio não destrutiva e apresentar informações visuais, a utilização da análise termográ�ica está em cres- cimento, e estudos a respeito deste método tem sido cada vez mais aprimorados, sendo necessá- rio um conjunto de fatores especí�icos para que seja possível utilizar este recurso como fonte con�iável na obtenção de diagnósticos corretos e de credibilidade. Nas �iguras 170 e 171 há um exemplo de inspeção qualitativa, na qual foi possível iden- ti�icar a presença de uma região com som cavo. A con�irmação do dado se deu por meio da rea- lização do teste percussivo, o qual identi�icou descolamento cerâmico na área em destaque, coincidente com a região de maior nível de temperatura na análise termográ�ica. Ou seja, foi possível compatibilizar e a�irmar neste caso especí�ico a manifestação patológica através da cooperação entre os tipos diferentes e comple- mentares de análise da fachada. Figuras 170 e 171 – Exemplo de análise termográfica. Fonte: Arquivo do autor. Felipe Silva Lima Página em branco Página em branco Capa.pdf Página 1
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