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1 PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA - PUC SP FACULDADE DE TEOLOGIA Ricardo Donizeti dos Santos MONOTEÍSMO BÍBLICO São Paulo 2015 2 PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA - PUC SP FACULDADE DE TEOLOGIA Ricardo Donizeti dos Santos MONOTEÍSMO BÍBLICO Monografia apresentada para conclusão de graduação em Teologia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, para obtenção do título de Bacharel em Teologia sob a orientação da Profª Drª Agnese Costalunga. São Paulo 2015 3 FOLHA DE APROVAÇÃO TEMA: MONOTEÍSMO BÍBLICO ALUNO: Ricardo Donizeti dos Santos ORIENTADOR: Profª Drª Agnese Costalunga NOTA OBTIDA: ____________________________ OBSERVAÇÃO DO PROFESSOR: ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ASSINATURA: _____________________________ 4 DEDICATÓRIA É com grande satisfação que dedico minha monografia a todo o corpo docente da Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP, sobre Monoteísmo Bíblico, para o término e conclusão do curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, agradeço a Deus, que me possibilitou o início e o término desta monografia, dedico também esta pesquisa a minha família e amigos de sala, onde juntamente com eles possa concluir com o aprendizado e êxito o bacharelado em Teologia ao qual fui convidado a fazer desde 2011. Agradeço de modo particular à minha esposa Inêz Aparecida de Oliveira dos Santos, meus filhos e filha, Thiago de Oliveira dos Santos, Victor de Oliveira dos Santos e Thamiris de Oliveira dos Santos, minha mãe Vanda Silva dos Santos, meu sogro Manoel e Maria minha sogra, meus tios, meu irmão Rogério e cunhada Eliane, minhas sobrinhas e sobrinho, meu cunhado Valto e cunhada Irene. 5 AGRADECIMENTO Agradeço em primeiro lugar a Deus, minha família, meu pároco Pe. Juliano, que me deu muita motivação, minha Paróquia Santa Adélia e Comunidade Nossa Senhora Aparecida, ao qual participo e tenho grande estima, pela Paróquia São João Batista, na cidade de José Bonifácio/SP, Diocese de São José do Rio Preto, ao qual conheci a Deus, com minha Catequese, Primeira Eucaristia e o Crisma. Agradeço também a minha orientadora Profª Drª Agnese Costalunga, a todos os professores que durante estes cinco anos de minha formação, contribuíram de alguma maneira para que eu chegasse até aqui, meus amigos Paulo José, Maurício Luz, Nailton, Fábio Andrade, Danton, Valter, Elias, Marcos, Reinaldo, João, Claudio, Diáconos: Gilmar, Benedito entre outros. A todos o meu muito obrigado e que Deus em sua bondade cumule com as bênçãos necessárias e os enriqueça com muitos dons. 6 RESUMO O monoteísmo bíblico entre judeus, cristãos e muçulmanos, onde Deus está sempre no centro e é cultuado como um ser que ama, tanto que ele se apresenta por primeiro, como a um imigrante, chega e busca se inserir no meio daqueles que lhe são estranhos, assim foi com Abraão, pai das três grandes religiões monoteístas, que deixa sua terra e vai para um lugar em que Deus lhe mostra, além é claro de apresentar-mos uma história sobre o Enuma Elish, uma visão literal sobre a criação da humanidade através dos deuses, que deu origem ao nosso Deus único séculos depois na Bíblia, apesar da forma diferente apresentado no Torá e no Alcorão, mas que seriam fundamentais para a visão monoteísta. O monoteísmo teve seu início com Moisés, porém Abraão, é o primeiro a se encontrar com Deus, tanto que é através dele que os monoteístas se baseiam em suas doutrinas, o judeu pela aliança, o cristão pela fé e o muçulmano pelo chamado, além é claro de relatos sobre Jacó e seus doze filhos (as doze tribos de Israel), onde traz consigo setenta pessoas para o Egito, após um período de muita necessidade nas terras de Canaã, local de toda a história do povo judeu e cristão e que coloca o ser humano como prioridade em todo aspecto social. A aliança é o reinado de Deus com o povo, por eleição e aceitação eles se submetem a Deus como Uno, após a morte de Moisés os judeus aceitaram a monarquia, algo que os levou a quebra desta aliança, e além da exploração de seu próprio povo, que está opção levou ao fim do reinado do Norte Israel e do Sul Judá. Com o fim da monarquia entram os profetas, homens enviados por Deus que busca reconciliar-se com o povo através de exortações e a manutenção a tradição da lei. O Cristianismo nasceu e se expandiu no mesmo ambiente que os judeus da lei e oralidade, algo que os judeus tentaram manter como tradição patriarcal. No início os cristãos imaginavam que Jesus presidiu a Última Ceia a moda de um sacerdote, posteriormente surgiu o clero, e com o Império Romano decretando o cristianismo como religião oficial, levou a Igreja a ensinar o monoteísmo trinitário a fim de mostrar uma substância, três naturezas. Por fim, a cruz é o lugar no qual Deus manifesta-se Trindade. Em torno do ano 610 d.C., um comerciante árabe chamado Muhammad ibn Abadallah (Maomé), membro da tribo dos coraixitas, que jamais havia lido a Bíblia, levava sua família ao monte Hira, pouco além dos arredores de Meca, para um retiro espiritual durante o mês do Ramadã (tempo de oração, jejum e caridade), ele passava o tempo rezando ao Sumo Deus dos árabes, distribuía comida e esmola aos pobres que ali iam visitá-lo neste período sagrado, assim nasce o islamismo, 7 Para a tradição islâmica o Alcorão era Escritura, etapa que a sunna do Profeta e, por extensão, o consenso da umma e que presumivelmente estava refletida na mesma sunna, era tradição – porém não no sentido de lei costumeira nem no sentido carismático entendido na paradosis cristã, mas um pouco à maneira da Mishná, que possui algumas cadeias muito imperfeitas de autoridades (isnads). O Alcorão foi enviado para restaurar a justiça no mundo: mostrando aos seres humanos a aceitar os “direitos de Deus” (huquq allah) como Criador e Senhor e, assim restaurar a justiça no acolhimento dos humanos entre si. Para a sociedade ao qual esta mensagem foi transmitida, não deixava de ter a sua própria versão de justiça. Por fim para sermos verdadeiros filhos de Abraão, devemos manter a esperança como Deus quer que tenhamos, que o diálogo traga compreensão e respeito para toda a humanidade, incluindo outras denominações não citadas neste trabalho, mas que tem seu valor religioso, e possam também expor sua religiosidade sem perder sua herança que é a Fé. Palavras Chaves: Bíblia, Aliança, Monoteísmo. 8 ABSTRACT The biblical monotheism among Jews, Christians and Muslims, where God is always in the center and is worshiped as a being who loves so much that he appears for the first, as an immigrant, arrives and seeks to insert among those who are foreign , so it was with Abraham, father of the three great monotheistic religions that leaves their land and go to a place where God shows him, and of course to present them to me a story about the Enuma Elish, a literal view of the creation of humanity by the gods, which gave birth to our God only centuries later in the Bible, despite the differently presented in the Torah and the Koran, but that would be key to the monotheistic view. Monotheism began with Moses Abraham, it is the first to meet God, so that it is through him that monotheists are based on its doctrines, Jewish by the alliance, the Christian faith and the Muslim by the call, as well of course the accounts of Jacob and his twelvesons (the twelve tribes of Israel), which brings with seventy people to Egypt, after a period of great need in the land of Canaan, place the entire history of the Jewish and Christian people and places the individual as a priority in every social aspect. The alliance is the reign of God to the people by election and acceptance they submit to God as One, after the death of Moses the Jews accepted the monarchy, which led them to break this alliance, and beyond the exploitation of its own people that this option led to the end of the reign of Northern Israel and Southern Judah. With the end of the monarchy enter the prophets, men sent by God seeking reconciliation with the people through exhortations and maintaining the tradition of the law. Christianity was born and expanded in the same environment as the Jews of the law and speaking skills, something that the Jews tried to keep as patriarchal tradition. In early Christians thought that Jesus presided over the Last Supper fashion of a priest, later came the clergy, and the Roman Empire decreeing Christianity as the official religion, led the Church to teach the Trinitarian monotheism to show a substance, three natures. Finally, the cross is the place where God manifested Trinity. Around 610 AD, an Arab merchant named Muhammad ibn Abadallah (Muhammad), member of the tribe of Quraish, who had never read the Bible, took his family to Mount Hira, just beyond the outskirts of Mecca, to a spiritual retreat during the month of Ramadan (time of prayer, fasting and charity), he spent his time praying to the Supreme God of the Arabs, distributing food and alms to the poor who were there to visit him in this sacred period, is born Islam, 9 To Islamic tradition the Koran was Scripture, step that the sunna of the Prophet and, by extension, the consensus of the umma and was presumably reflected the same sunna was tradition - but not in the sense of customary law or the charismatic sense understood in paradosis Christian, but rather in the manner of the Mishnah, which has some very imperfect chains of authorities (isnads). The Qur'an was sent to restore justice in the world: showing human beings to accept the "rights of God" (huquq allah) as Creator and Lord and thus restore justice in the human host each other. For society to which this message was transmitted, was not without its own version of justice. Finally to be true children of Abraham, we must keep hope as God wants us to have that dialogue brings understanding and respect for all mankind, including other denominations not mentioned in this work, but it has its religious value, and can also expose their religion without losing its heritage that is the Faith. Key words: Bible, Alliance, Monotheism. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12 CAPÍTULO I ..................................................................................................................... 13 1. No Começo .......................................................................................................... 13 1.1 Senhor do Céu e da Terra ........................................................................................ 13 1.3 Outros Povos ............................................................................................................ 14 1.4 Um Único Deus ....................................................................................................... 15 2. As Origens ................................................................................................................. 16 2.1 A Constituição e a Religião de Israel Primitivo ...................................................... 17 2.2 O Início e o Desenvolvimento da Monarquia .......................................................... 19 2.3 A Monarquia, Unidade de Israel .............................................................................. 21 3. Os Últimos Anos de Davi e o Problema da Sucessão do Trono ................................ 21 3.1 A Ascensão de Salomão .......................................................................................... 22 3.2 A Sobrecarga da Monarquia .................................................................................... 24 3.3 O Fim da Monarquia ................................................................................................ 25 4. As Oratórias de Amós e Oseias ................................................................................. 27 4.1 A Crise Religiosa ..................................................................................................... 28 4.2 Em Direção ao Cristianismo .................................................................................... 29 CAPÍTULO II .................................................................................................................... 31 1. A Relação do Antigo e Novo Testamento ........................................................... 31 1.1 A Esperança de Salvação do Cristo ......................................................................... 32 1.2 O Início da Tradição Cristã ...................................................................................... 34 1.3 Tradição Apostólica, Bispos e Padres ..................................................................... 35 2. Estrutura e Hierarquia ................................................................................................ 36 2.1 O Reino Está Próximo ............................................................................................. 38 2.2 Constantino .............................................................................................................. 39 2.3 Tornar-se Cristão ..................................................................................................... 41 11 3. Ário e Atanásio .......................................................................................................... 43 3.1 Os Capadócios ......................................................................................................... 44 3.2 Trindade e Monoteísmo ........................................................................................... 45 3.3 Pessoa e Relação ...................................................................................................... 47 CAPÍTULO III ................................................................................................................... 50 1. A origem do Islamismo ........................................................................................ 50 1.1 As Colunas do Islã ................................................................................................... 51 1.2 Do Profetismo à Lei ................................................................................................. 53 1.3 A Administração da Justiça Islã ........................................................................... 54 2. O Qadi .................................................................................................................. 55 2.1 A Justiça do Qadi ..................................................................................................... 56 2.2 Qanun: A Lei do Sultão ........................................................................................... 57 2.3 Rabinos Judeus e Ulemás Islâmicos .................................................................... 58 3. A República Islâmica do Irã ................................................................................ 58 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 61 BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................62 12 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo um aprofundamento sobre o monoteísmo bíblico. O início desta pesquisa é mostrar de maneira histórica e teológica a apresentação de uma Aliança com um Deus Único “EU SOU” (Ex 3,14-15) aquele que “É”, onde judeu, cristão e muçulmano, partilham desta mesma deidade, embora esta pesquisa apresente da Bíblia perícopes e citações, que mostrem a busca de Deus ao homem, através da Revelação do Verbo Encarnado, Jesus Cristo na ação do Espírito Santo, um monoteísmo trinitário, em favor de um povo que assume uma nova aliança, apesar do que é apresentado para assumir o compromisso com este Deus e ao mesmo tempo quebra esta aliança em cultos e busca de favores a outros deuses, e de maneira particular sobre os poderes que o ser humano exerce sobre outro. E por fim neste contexto surgiu o criador do islamismo, o profeta Maomé, que passou a pregar a crença num único deus, Alá, juntou suas mensagens em um livro sagrado para os muçulmanos, chamado de Alcorão, mudou-se para Medina, conhecida como Hégira, inicia-se a nova doutrina religiosa, até a fundação do Estado Islâmico do Irã, mostrando ao mundo que Deus ainda procura revelar-se à sua maneira, através de ações, gestos e acima de tudo em diálogo com as três grandes religiões monoteístas. 13 CAPÍTULO I 1. No Começo Crentes em um só Deus – todos judeus, cristãos e muçulmanos, partilham da mesma fé. Deus está sempre no centro e sempre é cultuado como um ser que ama e tem compaixão. O monoteísmo começou como um sistema unificador, removeu o universo e todos os seus povos do irritado e duvidoso papel de divindade frequentemente limitadas e em luta e colocou-os sob a clemência e a graça de um único grande Deus 1 . Neste capítulo o objetivo é relatar uma história indescritível da realidade de Deus, que se revela na história através dos Patriarcas, Profetas, Sacerdotes, ou seja, em todo o Povo de Deus. Acolhendo histórica e espiritualmente a Revelação do Deus Bíblico que se deixa conhecer por aqueles que o procuram, destacando este processo até os nossos dias. 1.1 Senhor do Céu e da Terra No começo, os homens criaram um Deus que era a Causa Primeira de todas as coisas e Senhor do Céu e da Terra. Não era representado por imagens e não tinha templos nem sacerdotes a seu serviço, era transcendente demais para um culto humano impróprio, aos poucos foi se perdendo na consciência de seus adoradores, houve aqui um monoteísmo primitivo que aos poucos foi-se perdendo e começaram a adorar outros deuses. Muitas pessoas em pleno século XXI, dizem que o Deus conhecido e adorado por séculos pelo judeu, cristão e muçulmano, tornou-se remoto, alguns no século XIX disseram até que ele morreu. Sem dúvida Deus parece estar desaparecendo da vida de um número crescente de pessoas, por exemplo na Europa Ocidental em que no curso da história este mesmo Deus desempenhou papel crucial na humanidade. Para compreendermos melhor o monoteísmo bíblico, segundo a escritora Karen Armstrong, em seu livro Uma História de Deus2, em que ela descreve em sua narrativa sobre Deus ao falar da espiritualidade do povo Sumério a pelo menos 4000 anos a.C., esta espiritualidade caracterizou o mundo antigo da Mesopotâmia. O Vale do Tigre-Eufrates, hoje 1 FIRESTONE, Reuven. Um problema dentro do monoteísmo. Judaísmo, cristianismo e islamismo em diálogo e discordância. Em: BRADFORD, E. Hinze; IRFAN, A. Omar (orgs.). Herdeiros de Abraão: o futuro das relações entre muçulmanos, judeus e cristãos. São Paulo: Paulus 2007, p. 33 – Essa diferenciação entre um universo organizado e benigno sob o Único Deus, contrastando um universo fragmentado e caótico dos "deuses” [...]. FIRESTONE, Reuven. Obra citada, citação 1. 2 Cf. ARMSTRONG, Karen, Uma história de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo. Karen Armstrong: tradução Marcos Santarrita, São Paulo: Companhia das Letras 1994, p. 19. 14 Iraque, estabelecendo um grande Oikumene (mundo civilizado), nas cidades de Ur, Erech e Kish, criaram a escrita cuneiforme, elevaram extraordinárias torres-templos chamadas zigurates, desenvolveram uma legislação, literatura e uma mitologia impressionantes, esta região foi invadida pelos acádios semitas, que mantiveram a cultura e língua Suméria, por volta de 2000 a.C., os Amoritas conquistaram essa civilização acádio-siméria e fizeram da Babilônia sua capital. Por fim, perto de quinhentos anos depois, os assírios estabelecidos na vizinha Ashbur, acabaram conquistando a Babilônia no século VIII a.C. Essa tradição babilônica afetou também a religião e cultura de Canaã, que mais tarde tornou-se a Terra Prometida dos antigos israelitas.Senhor do Céu e da Terra 1.3 Outros Povos Como outros povos no mundo antigo, os babilônios atribuíam suas conquistas culturais aos deuses, supunha-se que a própria Babilônia era uma imagem do Céu, sendo cada um de seus templos réplica de um palácio celeste. A ligação com o mundo divino era festejada e perpetuada todos os anos na grande Festa do Ano-Novo, que já firmemente havia se estabelecido no século VII a.C. Comemorada no mês de nisan (nosso mês de abril), a festa exaltava solenemente o rei e estabelecia um reinado por mais um ano. Estas festas duravam onze dias considerados santos e os participantes eram lançados fora do tempo profano e para dentro do mundo eterno dos deuses, através de gestos rituais. Matava-se um bode expiatório para encerrar o ano velho, era encenado uma falsa batalha entre os deuses e as forças da destruição, havia um ato simbólico, com valor sacramental, possibilitando ao povo da Babilônia mergulhar no poder sagrado ou mana (irmã) do qual dependia sua grande civilização. Na tarde do quarto dia de festa, sacerdotes e atendentes entravam no Santo dos Santos para recitar o Enuma Elish, que nos deu uma visão de espiritualidade originando nosso próprio Deus Criador, séculos depois 3 . A história começa com a criação dos próprios deuses, tema que como veremos, seria de grande importância no misticismo judeu e muçulmano. Segundo Karen Armostrong, diz o Enuma Elish: “Os deuses surgiram aos pares de uma massa informe, aguada, uma substância que era ela própria divina. No mito babilônico como depois na Bíblia, não houve criação a partir do nada, uma ideia alheia ao mundo antigo. No Enuma Elish, o caos não é portanto uma massa intensa fervilhante, mas requer limite, definição e identidade. Para isto surgiram três deuses: Apsu (identificado como as águas doces dos rios), Tiamat sua esposa (o mar salgado) e Mummu, o Ventre do caos, em consequência surgiram deles outros deuses, como Lahmu e Lahamn (que significam “aluvião”: água e terra continuam 3 Cf. ARMSTRONG, Karen, Uma história de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo. Karen Armstrong: tradução Marcos Santarrita, São Paulo: Companhia das Letras 1994, p. 18. 15 misturados). Ansher e Kishar identificados como céu e mar, depois Anu (Céu) e Ea (a Terra), completando o processo do mundo que agora distintos e separados uns dos outros, tinham céu, rios e terras” 4 . A organização do Estado no Egito, conforme o autor John Bright: “Era muito diferente da organização na Mesopotâmia, o faraó não era um vice- rei que governava por eleição divina, nem havia sido endeusado. Ele era deus – Horus visível entre o seu povo, para o egípcio era um meio benéfico de manter a paz e a segurança na região. O egípcio não via seu mundo com problemas, como o mesopotâmio, mas de ordem estabelecida desde a criação, regular como as enchentes do Nilo, a base sólida desta ordem que não podia ser mudada era o rei-deus. Durante a vida protegia seu povo, depois da morte, continuavavivendo entre os deuses, era substituído por seu filho, que também era deus, assim a mão egípcia continuava ancorada no ritmo do cosmo. A religião no Egito era politeísta, onde a maioria de seus deuses eram pintados em forma animal, que representava o misterioso poder divino de se manifestar” 5 . Karen Armstrong continua o seu pensamento afirmando que: O povo de Canaã, contava uma história semelhante a de Tiamat e Marduk o deus Sol (este filho de Ea) e o mais perfeito espécime de divindade, sobre Baal-Habab, o deus da tempestade e da fertilidade, citado muitas vezes na Bíblia de forma descortês. Assim, ao imitarem os deuses, homens e mulheres associavam a luta deles contra a esterilidade e asseguravam a criatividade e fertilidade do mundo. A morte de um deus, a busca da esfera divina eram temas religiosos presentes em muitas culturas e retornaram na diferente religião do Deus Único adorado, por judeus, cristãos e muçulmanos 6 . 1.4 Um Único Deus Em suma há entre muitos teístas uma ideia como a Beleza que chamam de “Deus”, apesar de sua transcendência encontram-se as ideias dentro da mente humana. Segundo, nós modernos, experimentamos o pensamento como uma atividade, como uma coisa que fazemos. Platão acreditava que o universo era racional, outro mito ou gerava uma imaginação da realidade, via o como uma coisa que ocorre à mente: os objetos de pensamento eram realidades ativas no intelecto do homem que as contemplava, Sócrates via o pensamento como um processo de lembrança, a apreensão de uma coisa que sempre soubéramos mas esquecêramos. A ideia de Deus de Aristóteles, influenciou imensamente sobre monoteístas posteriores, sobretudo cristãos do mundo ocidental, ele examinou a natureza da realidade, estrutura e substância do universo. Para Aristóteles em sua teoria as emanações iam se tornando mais fracas quanto mais longe estivessem da sua fonte. Aí o termo Motor Imóvel, que Aristóteles identificava como Deus. Esse 4 Ibidem, cf. p. 19. 5 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo, Paulus, 2ª edição 2003, 11ª reimpressão, 2014, p. 61. 6 Cf. ARMSTRONG, Karen, Uma história de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo. Karen Armstrong: tradução Marcos Santarrita, São Paulo: Companhia das Letras 1994, p. 22. 16 Deus que era puro Ser, e como tal, eterno, imóvel e espiritual, este Motor Imóvel causa todo movimento e atividade no universo, em seu modo de ver todo ser é atraído para o próprio Ser 7 . 2. As Origens O monoteísmo judaico, para tanto foi aproximadamente 2000-1550 a.C. que nos leva a idade das origens de Israel, foi em determinado período, durante o curso destes séculos, que o Pai Abrão (Abraão mais tarde) partiu de Harã, com sua família, rebanhos e manadas, para procurar terra e descendência no lugar que Deus ia mostrar-lhe para a pessoa que tem fé diria “tão divinamente guiados (Gn 12,1;5). 1 Deus disse a Abrão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. 2 Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê uma bênção. 5 Abrão tomou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que tinham reunido e o pessoal que tinham adquirido em Harã: partiram para a terra de Canaã, a aí chegaram”). Ora, teologicamente falando, todas as narrativas patriarcais foram escritas do ponto de vista de uma teologia Javísta (Javé) por homens que adoravam Deus quer mencionassem seu nome ou não, não havia a menor dúvida que o Deus dos patriarcas era realmente Deus, Deus de Israel, embora não é preciso historicamente falando que a fé de Israel é atribuída posteriormente aos patriarcas, o Javismo começou com Moisés, como a Bíblia afirma (Ex 6,2-8): 2 “Deus falou a Moíses e lhe disse: “Eu sou Deus. 3 Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó como El Shaddai; mas meu nome, Deus, não lhes fiz conhecer. 4 Também estabeleci a minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra em que residiam como estrangeiros. 5 E ouvi o gemido dos israelitas, aos quais os egípcios escravizavam, e me lembrei da minha aliança. 6 Portanto, dirás aos israelitas: Eu sou Deus, e vos farei sair de debaixo das corvéias dos egípcios, vos libertarei da sua escravidão e vos resgatarei com o braço estendido e com grandes julgamentos. 7 Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus. E vós sabereis que eu sou Deus vosso Deus, que vos faz sair de sob as corvéias dos egípcios. 8 Depois eu vos farei entrar na terra que jurei com a mão estendida dar a Abraão, a Isaac e a Jacó; e vo-la darei como possessão: eu sou Deus!”). e como toda a evidência o confirma. Quaisquer que sejam as origens da adoração de Deus, não se pode encontrar nenhum traço desta adoração antes de Moisés. Os acontecimentos do Êxodo e do Sinai exigem uma grande personalidade à sua frente. E uma religião tão peculiar como a de Israel exige um fundador como o exige o Cristianismo e o Islamismo. Negar a Moisés esse papel seria colocar outra pessoa de mesmo nome em seu lugar. 7 Cf. ARMSTRONG, Karen, Uma história de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo. Karen Armstrong: tradução Marcos Santarrita, São Paulo: Companhia das Letras 1994, p. 47. 17 Embora a Bíblia mostra-nos em como os doze filhos de Jacó com suas famílias, setenta almas ao todo (Gn 46,27), tendo descido para o Egito e lá ficaram por longos anos, depois retirados por Moisés e conduzidos ao Monte Sinai, ao qual receberam a Aliança e a Lei que os tornaram um povo especial. Estas histórias podemos ler nos livros do Êxodo até Josué, embora haja erros de cronologia, levando-nos a dificuldade de precisar como Israel surgiu, isto porque as tradições bíblicas, de onde resulta a maior parte, ou quase a totalidade de nossas informações, devemos seguir examinando as tradições bíblicas à luz da evidência com a qual podemos contar 8 . 2.1 A Constituição e a Religião de Israel Primitivo A religião de Israel não se embasa em crenças abstratas, mas encontra-se em uma consciência intensa que acreditava-se existir entre Deus e o povo que Ele constituiu (Ex 6,7). Não se pode traçar a história de Israel sem levar em consideração tal religião, pois foi ela que singularizou seu povo, separando-o de todos os povos que o cercavam, fazendo deles um fenômeno especial. A crença em que Deus tinha escolhido Israel como propósito especial e favorável e Israel por outro lado havia se comprometido com Deus como seu povo, assim fez nascer a primitiva organização tribal israelita que se considera que as tradições, crenças e instituições sagradas de Israel se desenvolveram e se normatizaram. Não devemos centralizar a religião de Israel como uma ideia de Deus, desde o início o pensamento de Deus foi tão notável e sem paralelo no mundo antigo, que é impossível apreciar com exatidão a índole de singularidade da sua fé sem discuti-lo. O favor de Deus e a resposta do Povo: Eleição e Aliança, ambas as noções são fundamentais para que ele (povo) tomasse plena consciência de si e de seu Deus desde o começo, não há nenhum período da história de Israel que ele não tenha acreditado que fosse o povo escolhido de Deus e que sua vocação não tivesse sido assinalada pelos misericordiosos feitos deste Deus, para com ele na libertação do Êxodo, para tanto basta lembrarmos posteriormente dos profetas e escritores do Deuteronômio. Segundo a Bíblia, Israel respondeu ao favor de Deus formalizando uma aliança com ele para ser seu povo e viver de acordo com seus mandamentos, foi por essa aliança que Israel se constituiu, e por mais de duzentos anos viveu de maneira firme as condições adversas, mantendo-se com identidade como povo da aliança. A história desta aliança está em (Js 24,1-28), aqui Josué falaem nome de Deus, recita na frente da assembleia o magnalia Dei, do chamado de Abraão, passando pela doação da terra, baseado nisso, desafia o povo a escolher se querem servir a Deus ou algum outro deus, quando o povo aceita a Deus, 8 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo, Paulus, 2ª edição 2003, 11ª reimpressão, 2014, p. 169. 18 Josué os relembra da gravidade do passo que estão tomando em aceitar seguir o Único Deus, deixando de lado todos os outros deuses 9 . A existência de Israel como povo, fundamentou-se na memória de uma experiência comum, transmitida por aqueles que dela participaram e eram o centro de Israel, apesar de não podermos controlar os detalhes da narrativa bíblica, ela é inquestionavelmente baseada na história, não se duvida que os escravos hebreus tenham escapado do Egito de maneira maravilhosa (sob o comando de Moisés) e que eles interpretaram essa libertação como a intervenção misericordiosa de Deus, levando-os para o Sinai e concretizando esta aliança, existe o preâmbulo identificando o senhor da aliança (cf. “eu sou Iahweh, o teu Deus”, Ex 20,2; “ou assim diz o Iahweh, o Deus de Israel”, Js 24,2), desde a religião de Israel proibiu a adoração de qualquer outro deus que não Deus, no Decálogo é o nosso primeiro mandamento, apesar que os Israelitas em outras vezes tenham adorado outros deuses como o Antigo Testamento explicita e que essa emancipação de pensamento é bem primitivo, como por exemplo (Ex 15,1-18, o mar não é um monstro do caos, Yam ou Tiamat, mas somente o mar, o inimigo que Deus trava a batalha é o faraó egípcio e não um poder cósmico qualquer, pois os deuses do Egito não são dignos de menção. Cabe dizer que, além de tudo o que foi dito acima, os paganismos antigos eram religiões naturais, e seus deuses identificados com corpos celestes ou forças e funções da natureza, sem que esta tenha um caráter moral particular, seus feitos, mitos, de padrão rítmico embora permanente da natureza, da qual depende a vida da sociedade terrena, apesar disto os deuses eram invocados para manter e conservar o estado atual, Deus aqui não era primariamente associado aos acontecimentos previsíveis da natureza mas a acontecimentos históricos imprevisíveis, Deus não era identificado em nenhuma força natural, nem em ponto do céu ou da terra, embora controlasse os elementos (Jz 5,4ss.21) e os corpos celestes, não era deus do sol, lua nem da tempestade, embora distribuísse as bênçãos da fertilidade (Gn 49,2ss; Dt 33,13-16) ele não era o deus da fertilidade, apesar de ter domínio sobre toda a natureza, fato esse histórico as pragas do Egito (Ex 7, 14-27). A aliança é o reinado de Deus, como argumentamos Israel desde o início de sua existência, como um povo que concebeu seu relacionamento com seu Deus, após a analogia da fórmula do tratado de suserania, como aquele do vassalo para o senhor, isso tem um profundo significado teológico, simplesmente aqui tem-se a noção de governo de Deus sobre seu povo, o Reino de Deus, tão central ao pensamento dos dois Testamentos, lembrando que, no Antigo 9 Ibidem, p. 169. 19 Testamento Deus o tema central é a Unicidade de Deus e no Novo Testamento a centralidade é a Encarnação, tema que veremos no capítulo dois. Aqui pressupõe a monarquia, porque a organização tribal de Israel, em si, era uma teocracia, sob o Reinado de Deus. Os símbolos do culto primitivo eram: A Arca, era o trono de Deus (cf. Nm 10,35ss) 10 , a Vara de Moisés era o seu cetro, os terrenos sagrados, suas tábuas do destino, os poemas mais antigos o saúdam como Rei, (Ex 15,18; Nm 23,21; Dt 33,5; Sl 29,10ss;). Israel não era um povo superior, favorecido porque merecesse favores, mas indefeso, que havia recebido uma graça imerecida, seu Deus não era nenhum gênio nacional a ele ligado por laços de sangue e culto, mas um Deus cósmico que o tinha escolhido quando mais necessitava e que o escolheu por um ato moral livre. O culto de Israel não se baseia em sistema sacrifical, mas em grandes festas anuais, entre elas três são citadas em (Ex 23,14-17; 34,18-24), nas quais o adorador deveria apresentar-se diante de Deus: a festa dos ázimos, a festa da ceifa e das primícias, a festa da colheita, estas festas eram mais antigas que Israel, salvo a festa da Páscoa todas de origem agrícola, sem causar estranheza, mas estas festas eram de caráter natural e com Israel passam a ser de feitos grandiosos de Deus em favor de seu povo. 2.2 O Início e o Desenvolvimento da Monarquia A crise que levou o fim da Liga Tribal de Israel, por volta do século XI a.C., desencadeou-se uma série de acontecimentos, transformando completamente Israel e levando-o a uma das maiores potências. Temos em todo o Primeiro e Segundo Livros de Samuel, mais os capítulos 1-11 do Primeiro Livro dos Reis), a Instituição da Realeza em Israel, Saul é o primeiro a ser instituído rei de Israel, com as bênçãos de Samuel. Samuel, que fora consagrado a Deus antes de seu nascimento com um voto dos Nazireus (1Sm 1,11) e que viveu com o sacerdote Eli, durante sua juventude, narra toda a trajetória da invasão dos filisteus, até a vontade de Israel em obter um rei, o que dificultou para o povo de Israel a monarquia. Saul, como os juízes antes dele, elevou-se como herói carismático, à maneira antiga é improvável que o tivessem seguido se ele não se mostrasse como tal. Porém a permanência de seu reinado terminou em ruína, deixando Israel, se fosse possível em pior situação. De ótima 10 BRIGHT, John. História de Israel, p. 195. Nota de Rodapé nº 34 - Albright, JBL, LXVII (1948), pp 387ss, sugere que o nome da Arca era “(nome das) hostes de Deus, entronizadas sobre o Querubim” (cf. 1Sm 4,4). Sobre este simbolismo, cf. Eichrodt, Teology of the Old Testament, Vol. I, pp. 107ss. 20 aparência (1Sm 9,2; 10,23), modesto (9,21), magnânimo a ponto de reparar suas faltas (11,12ss; 24,16-18), sempre corajoso, mas havia dentro dele uma instabilidade emocional, sempre de temperamento inconstante, talvez devido as constantes pressões que lhe faziam, ficou com a mente cada vez mais perturbada, oscilando entre a lucidez e de obscuridades mentais, afastando até os mais próximos a ele, o que causou seu fim. Samuel é enviado por Deus com seu vaso de azeite, à casa de Jessé, em Belém, com a função de ungir um de seus filhos como rei escolhido por Deus, e junto com Jessé sacrificaram uma ovelha a Deus e após passar pelos sete filhos de Jessé, este mandou chamar Davi onde mostrou aquele a quem ele deveria ungir (1Sm 16,1-13), assim que Davi é consagrado Samuel volta para Ramá. O espírito de Deus havia saído de Saul, e um mau espírito procedente de Deus o atormentava, então a pedido de seus servos pedem que tragam um bom músico, Davi é apresentado a Saul e é assim que Saul pede a Jessé “Que Davi fique a meu serviço, porque conquistou a minha admiração”, todas as vezes que o espírito de Deus o arremetia, Davi tomava a lira e tocava, então Saul se acalmava, sentindo-se melhor e o espírito o deixava. Logo Davi ficou famoso por suas proezas, entre elas a morte do gigante Golias, (1Sm 17,1 a 18,5), sem contar a grande amizade de Jônatas, filho de Saul e sua filha caçula Micol, a quem Saul concedeu a Davi como esposa. Por fim devido ao ciúme de Saul com Davi, este foge para manter-se vivo e esconde-se na caverna de Odolam, seus irmãos sabendo disto juntam-se a ele, como muitos outros tipos de se achavam em dificuldade (1Sm 22,1s), Davi por um tempo levou uma vida precária tornou-se um (Apiru), esquivando-se como podia de Saul e guerreando contra os filisteus, na medida em que a oportunidade lhe era favorável, chegando ao ponto de juntar-se com Aquis, rei de Gat, (1Sm 27,1-4).Davi continuou fazendo um jogo duplo, para que Aquis pensasse que ele era realmente um traidor de Judá, conseguiu mostrar ao seu povo que ainda era leal e protetor a ele, como isso sua força militar continuava crescendo. Com a morte de Saul em Gelboé, tirando a própria vida, desferida de espada, os filisteus encontraram seu corpo e o decapitaram, colocando sua cabeça junto com os corpos de seus filhos, nos muros de Betsã, os habitantes de Jabes de Galaad, comovidos de gratidão por Saul, retiram as escondidas sua cabeça e os corpos de seus filhos, arriscando suas próprias vidas e os enterram decentemente, quanto a Davi que não tomou parte nisto, por descredito por parte dos filisteus o enviaram de volta a sua terra (1Sm 29-1-11), isto foi uma benção para Davi. 21 2.3 A Monarquia, Unidade de Israel Não havendo ninguém mais para ocupar a casa de Saul, o povo recorre a Davi em Hebron e lá em uma aliança solene Davi é aclamado rei de todo Israel (2Sm 5, 1-5) e seu reinado durou quarenta anos. Em todas as mudanças que Davi fez, ele sentiu a força espiritual das velhas instituições de Israel, algo esquecido por Saul, tal exemplo foi transferir com grande festa e júbilo de Cariat- Iarim a Arca da Aliança para Jerusalém, foi um golpe de mestre, este ato fez com que Davi unisse as tribos de Israel, objetivando Jerusalém como a capital política e religiosa do reino. As dimensões e a competência do Estado, incluíam toda a Palestina, de leste a oeste, do deserto até o mar, com suas fronteiras ao sul bem dentro do deserto do Sinai, ao longo de uma linha do Golfo de Ácaba até o Mediterrâneo, toda a Síria meridional e central estavam unificadas ao império, outras cidades pagavam tributo para manter-se protegida. 3. Os Últimos Anos de Davi e o Problema da Sucessão do Trono Por muito tempo Israel tinha estado sob influência da monarquia, mais precisamente na pessoa de Davi, que muitos pensaram que somente um herdeiro poderia governá-lo, ou seja, um dos filhos deveriam suceder Davi. Israel continuava em seguir um líder carismático, se um “novo homem”, mesmo com a presença de Davi, muitos estariam dispostos a segui-lo, Absalão para conquistar a simpatia do povo, durante um tempo bem cedo ficava a beira do caminho e questionava a todo que passava se tinha alguma pendência no tribunal e que somente ele poderia fazer justiça, (2Sm 15,1-6; 1Rs 1,5). A revolta de Absalão, precipitou-se devido atitude que seu meio irmão Amnon, o filho mais velho de Davi, em que desonrou sua irmã Tamar, Absalão aguardou dois anos e matou Amonon a sangue frio, e refugiou-se por três anos na casa de Gessur (2Sm 13). De início a idéia que se tem sobre este fato de Absalão assassinar Amnon, era para eliminar um pretendente ao trono de Davi, porém esta idéia firma-se cinco anos depois, Absalão ressentiu-se com Davi pelo fato de ele não ter castigado Amnon, com o que fez com sua irmã, e ainda o condenando pelo ato de assassinato de seu irmão, e primogênito de Davi, mas o que levou Absalão almejar o trono, foi aproveitar-se das queixas contra a casa de Davi e Judá, e mesmo assim nem todos eram favoráveis a Absalão, fazendo que após um tempo divertindo-se em Jerusalém, resolveu perseguir Davi e veio a ser assassinado por Joab e suas tropas de maneira humilhante (ficou pendurado entre os galhos de um grande carvalho, e almejado por três dardos e dez jovens escudeiros em círculo e o golpearam até a morte (2Sm 18,9-15). 22 A rebelião de Seba, este era benjamita, filho de Bocri, e esta rebelião é um exemplo típico da fraqueza de Israel, em separar o norte de Israel de sua união com Judá sob Davi, por causa da política e religião, ela é contida por Joab que desferiu Amasa, quem tinha sido designado por Davi para perseguir e por fim na rebelião de Seba, que acabou sendo degolado por cidadãos que não tinham apreço por Seba, deixando o trono de Davi em segurança. 3.1 A Ascensão de Salomão Com o fim da rebelião, mas não menos tranquilo Davi, deveria suceder-lhe o trono e através de uma intriga entre o profeta Natã e Betsabéia (mãe de Salomão) (1Rs 1,11-40) 11 . Supõe-se que Davia havia prometido a Betsabéia (vv. 13 e 17), como Davi estava fraco e velho, Adonias, agora o mais velho dos filhos de Davi (2Sm 3,4), certo de que Salomão ocuparia o trono, iniciou o mesmo feito de Absalão, e começou a impressionar o povo, porém Joab havia rompido com Davi e este apoiava Adonias, igualmente o sacerdote Abiatar, e chamando os irmãos e demais representantes, sagrou-se rei na fonte sagrada de Rogel. Salomão foi imediatamente conduzido pela guarda pessoal de Davi, acompanhado do profeta Natã, o sacerdote Sadoc e pelo chefe dos mercenários de Davi, Banaías até a fonte sagrada de Gion, e lá foi ungido pelo sacerdote Sadoc e aclamado rei pelo povo. Sabendo que seu jogo havia terminado, Adonias refugia-se no altar, procurando asilo, recusando-se a sair de lá até que Salomão jurasse não matá-lo, aqui a palavra de Davi pesou para a coroação de Salomão, pois pela primeira vez o velho padrão para a escolha da liderança de Israel fora quebrada, o poder das tropas venceram e não os dons carismáticos. Embora seu reino não fosse completamente pacífico, e não havendo necessidade de expandir o reino de Israel, algo que chegou a sua dimensão máxima no reinado de Davi, e por não ser conhecido por grandes guerras militares, em (1Rs 3, 1- 10), narra-se toda a história de Salomão, o magnífico, sábio, construtor, comerciante... Salomão soube manter com seus vassalos e em várias alianças amigáveis externas como as alianças de casamento, com várias nobres estrangeiras que foram trazidas para seu harém (1Rs 11,1-3), especificamente no v. 2-4, aqui Deus diz ao povo de Israel: “Vós não entrareis em contato com eles e eles não entrarão em contato convosco; pois, certamente, eles desviariam vossos corações para seus deuses.” 11 Cf. BRIGHT, John. História de Israel, item d, p. 259. 23 Dentre essas alianças a mais notável sem dúvida foi a filha do faraó do Egito, (provavelmente Siamun, antepenúltima da Vigésima Primeira Dinastia), que como convinha à sua classe recebeu tratamento privilegiado 12 . Está escrito (1Rs 9,16), que o faraó tomou e destruiu a cidade canaanita de Gazer 13 , e a entregou à sua filha como dote, dando a Salomão um pequeno acréscimo a seu território, indiretamente, outro grande feito de Salomão foi a retomada com Tiro, esta aliança resultou na troca de benefícios mútuos a exportação de trigo e óleo de oliva para Tiro e a madeira-de-lei do Líbano para a construção dos projetos de Salomão. De modo geral, Salomão conseguiu manter com sucesso o reino unido, salva-se as exceções, como: os problemas em Edom, com o príncipe edonita Adad, único sobrevivente do massacre de Joab, que encontrou refúgio no Egito, nomeando-se rei; e o problema com a Síria, nas terras dos arameus, que iam do norte da Transjordânia, através de Soba, para o norte, (como referência o pode-se usar (2Cr 8,4), como a restauração de Tadmor no deserto e todas as cidades armazéns, por ele edificadas no país de Emat. Apesar de seu controle nominal sobre os arameus, exceto Damasco, usa influência na Síria estava enfraquecida. Salomão também estava interessado no comércio terrestre com o sul. A visita da rainha de Sabá (1Rs 10,1-13). A riqueza de Salomão é tão grande que o que é narrado em (1Rs 10, 14-29), cumpre o que Deus disse a Salomão (1Rs 3,12-15). 12 vou fazer como pediste: dou-te um coração sábio e inteligente, como ninguém teve antes de ti e ninguém terá depois de ti. 13 E também o que não pediste, eu te dou: riqueza e glória tais, que não haverá entre os reis que te seja semelhante por toda a tua vida. 14 E se seguires os meus caminhos, guardando os meus estatutos e os meus mandamentos como o fez teupai Davi, dar-te-ei uma vida longa. A Bíblia com justiça, descreve o reinado de Salomão como sendo de prosperidade ímpar, Israel gozou de segurança e prosperidade material como nunca antes, e que não iria mais conhecer. O mais notável projeto de Salomão estava na própria Jerusalém, a construção do Templo, não é fácil escrever sobre Jerusalém, primeiro por sua importância histórica,: para os judeus, cristãos e muçulmanos, tudo isso se faz que tenha bastante informação, muitas delas controvérsias, continuando: localizada em torno de 750mt acima do nível do mar e entre os dois vales: o Hinom, ao oeste e ao sul, e o Cedron, ao leste, que separa a cidade do Monte das 12 Cf. BRIGTH, John, História de Israel, p. 261. 13 Cf. KAEFER, José Ademar, Arqueologia das terras da Bíblia / José Ademar Kaefer, São Paulo: Paulus,2012. Capítulo 3 – Tel Guezer (Gazer), referências importantes sobre esta cidade: Js 10,33; 16,3; Jz 1,29; 2Sm 5,25; 1Rs 9, 15-17; 1Cr 6,52; 7,28; 1Mac 13,43-48. 24 Oliveiras 14 . O Templo foi construído por um arquiteto da cidade de Tiro, chamado Hiram de Tiro, filho de uma viúva da tribo de Neftali e cujo pai era natural de Tiro e trabalhava em bronze, (1Rs 6,1-37), mas sua glória não só foi em coisas materiais, porque se fez florescer um extraordinário crescimento cultural, apesar de não haver nenhum escrito do século décimo israelense, salvo o calendário Gazer 15 , a escrita foi sem dúvida praticada vastamente. As tradições épicas dos primeiros anos de Israel, dos patriarcas, do êxodo e da conquista, já haviam sido escritas na época de Juízes, porém foi aproximadamente no reinado de Salomão que surgiu o Javismo (Javé), através do javista que colhia informações, selecionando material dessas tradições e adicionando outros, formulou sua grande história teológica do relacionamento de Deus com seu povo, suas grandes promessas e seus feitos, sem contar a música e salmodia, principalmente quando Salomão investiu pesadamente os recursos do Estado na construção do Templo, enriquecendo seu culto de várias maneiras. 3.2 A Sobrecarga da Monarquia Após sucessivas conquistas, e um império próspero, também há as dificuldades neste mesmo império, onde para alguns trouxe riqueza, outros a corveia, o Estado crescia em poder e Israel sofria com a opressão, Salomão adotou medidas drásticas, para manter as obras do Templo e de seu palácio, em (1Rs 9,23), menciona quinhentos e cinquenta homens, para supervisionar as obras, as rendas de Salomão eram numerosas, eram insuficientes, Davi mantinha uma corte mais modesta, Salomão apesar de todo luxo as conquistas haviam terminado, parar isso sobrecarregou seus súditos com impostos altos, dividiu o reino em doze distritos administrativos, cada qual com seu governador responsável, cada qual é citado em (1Rs 4,7-19), isto impôs sobre o povo um fardo sem precedentes, isto mostrava o declínio do sistema tribal, tocado pelas funções políticas, praticamente suprimido. Quando Davi sujeitou os povos conquistados ao trabalho forçado (2Sm 12,31), os israelitas o aceitaram como fato consumado, Salomão manteve esta prática com o povo canaanita da Palestina (1Rs 9,20-22; Jz 1,28.30.33), quando até mesmo esta fonte de trabalho pareceu 14 Cf. KAEFER, José Ademar, Arqueologia das terras da Bíblia / José Ademar Kaefer, São Paulo: Paulus, 2012. Capítulo 1 – Jerusalém p. 9-17, referências importantes: Gn 14,18-20; Js 10,1-27; 15,8.63; 2Sm 5,6-10; 2Rs 20,20; 2Cr 32,2-5.30; Is 22,10. 15 Cf. BRIGTH, John, História de Israel, p. 269 – Nota de Rodapé nº 84 - Cf. Pritchard, ANET, p. 320, para o texto. O mais antigo e notável “óstraco” de Arad (mais de 200 ao todo) é da última parte do décimo século, mas trata-se de um fragmento com apenas algumas letras; cf. Aharoni, The Israelite Sanctuary at Arad, Freedman & Green-field, eds, op. Cit. (na nota 80), p 27. Sobre a literatura em Israel, cf. A. R. Millard, BA, XXXV, 1972, pp. 98-111. 25 ineficaz, Salomão foi além, utilizou a corveia em Israel: utilizou equipes de trabalho que foram recrutadas e forçadas a trabalhar por turnos em derrubadas de madeira no Líbano, para os projetos de construção de Salomão. Isso representou, uma exploração do trabalho humano, e uma amarga dose para os israelitas, que nasceram livres engolir. Por fim, e bem mais significativa que qualquer medida tomada por Salomão, foi a transformação interna que ocorreu em Israel, pouco restando da antiga ordem. A confederação tribal, com suas instituições sagradas e sua liderança carismática, deram lugar ao estado dinástico. Em resumo, a democracia tribal desmoronou, anunciando um cisma na sociedade israelita, havia os que viviam do salário para sobreviver (proletários), escravos e havia os chamados aristocratas, que nasceram para enriquecer e que não viam no povo outra coisa senão que pudessem ser dominadas de corpo e alma (1Rs 12,1-15). 3.3 O Fim da Monarquia As realizações de Davi e Salomão tinham sido tão brilhantes e de tamanho benefício a Israel, que muitos devem ter considerado como uma obra divina providência e a justificação de tudo aquilo que a religião os havia ensinado a acreditar. Israel estava em plena posse da terra prometida a seus pais, e havia se tornado uma forte e grande nação (cf. Gn 12,1-3;15), muitos devem ter pensado assim, como os javistas pensaram que a aliança com Abraão se realizou em Davi. A transferência da Arca da Aliança, para Jerusalém e a Construção do Templo, serviram para aumentar os sentimentos em favor da nova capital e para garantir que a Casa de Davi era a legítima herdeira da antiga forma de governo de Israel, logo se firmou-se a prescrição bem estabelecido nos reinos de Davi e Salomão, ajudando a explicar a lealdade de Judá à Casa de Davi, o carisma e a indicação divina tinham, teoricamente sido transferidas do indivíduo para a dinastia para sempre. A realeza, em Israel como em qualquer outro lugar, era uma instituição sagrada, não secular, com bases teológicas e litúrgicas, uma noção de realeza era notada regularmente durante o culto, principalmente em ocasiões especiais, como: as festas outonais do ano novo. Alguns estudiosos afirmam que, adotando esta instituição de realeza, Israel adotou também uma teoria pagã da realeza e um padrão ritual de expressão comum a todos os seus vizinhos 16 . 16 Cf. BRIGHT, John. História de Israel, Nota de Rodapé nº 100 p. 277 – Sobre diversas versões desse ponto de vista, cf. I. Engnell, Studies in Divine Kingship in the Ancient Near East, Almqvist and Wiksells, Uppsala, 1943; G. Widengren, Sakralles Königtum im Alten Testament und im Judentum, W. Kohlhammer, Stuttgart, 1955; veja 26 De qualquer forma, a escolha de Sião e de Davi por Deus certamente recebeu ênfase no culto, resultando em consequências teológicas de profundo significado, porém o processo que levava a unir toda a esperança de Israel em Jerusalém, a Cidade Santa, e dar uma nova expressão normativa à característica de promessa de religião de Israel, havia sido posto em prática, mas como as promessas a Davi e o ideal de realeza foram reafirmados no culto através dos anos, quando eles eram apenas realidade. O culto foi a fonte que brotou a expectativa de Israel em torno de um messias, O que a expectativa fez para modelar a fé e a história de Israel através dos séculos que viriam é incomensurável. Por outro lado, a integração do Estado com o culto, e também com as sanções divinas, teve consequências ruins, era a inevitável tentação de santificar o Estado em nome de Deus, supondo que as finalidades do Estado e da religião devessem coincidir. A opinião unânime era que o culto se baseava na função inteiramente pagã de garantir a segurança do Estadoe manter um equilíbrio aprazível entre a ordem terrena e a divina, ao qual deveria proteger o Estado de inconvenientes internos e externos, no festival de outono, a aliança do Sinai e suas exigências, provocando deste modo uma tensão entre ambas. Em uma noção geral, as promessas a Davi e a presença de Deus no Templo garantiam a perpetuação do Estado. Pensar que o Estado pudesse cair é o mesmo que apontar Deus de violação da Aliança, como veremos a frente como mais de um profeta colocaria. Apesar de alguns arquitetarem a antiga ordem, rejeitaram a nova como uma rebelião contra Deus (cf. 1Sm 8,12), não havendo possibilidade de retorno ao período pré-monárquico, e provavelmente poucos em Israel pensassem nisto, muitos revoltaram-se com a tirania de Salomão, que eles consideravam como chavão de tudo o que um rei não deveria ser (Dt. 17,14- 20), esta passagem parece pensar algum ressentimento com Salomão) e longe de considerar o Estado como uma instituição divina. também vários artigos nos volumes editados por S. H. Hooke: Myth and Ritual, Oxford Univesity Press, Londres, 1933; The Labyrinth, SPCK, Londres; Myth, Ritual and Kingship, Oxford University Press, Londres, 1958. 27 Assim que Salomão morreu, a estrutura deixada por Davi desabou, dividindo em dois Estados rivais de importância inferior, vivendo as vezes lado a lado e outras em guerra, entre si e em aliança amigável, até que o Estado do norte duzentos anos depois foi destruído pelos assírios, aqui o livro dos antigos profetas Amós e Oseias, durante os três próximos séculos influenciaram e lançam luzes profundas sobre a situação interna da história de Israel, mudando totalmente seu curso, apesar de não serem pioneiros espirituais, os descobridores do monoteísmo ético, mas pelo fato de estarem bem influenciados na tradição de Israel, adaptaram esta tradição a uma nova situação. 4. As Oratórias de Amós e Oseias Embora não fossem de modo algum, homens de personalidades semelhantes e de pensamentos diferentes, Amós e Oseias, atacavam os abusos contra o povo de Israel de maneira clássica. Por volta do século Oitavo, Amós que veio de Técua, fronteira do deserto de Judá, pastor de ovelhas, mas com um tremendo senso de oratória a palavra de Deus e que no santuário de Betel fora proibido de continuar a falar (Am 7,10-17), Amós falava contra os males sociais de seu tempo, principalmente contra os males causados aos pobres, sobre a imoralidade e o luxo que havia corroído o caráter de Israel (Am 2,1-16). Embora Amós nunca use a palavra “aliança”, ele leva em conta o pecado nacional de acordo com a lei da aliança, criticando com intensidade Israel, achando duplamente odioso à luz do favor de Deus com Israel no Êxodo na doação da terra, lembrando da escolha de Israel em acolher somente a Deus (sub-título 1.2.1), ou que as obrigações da aliança podiam ser cumpridas apenas com culto, declarando que o culto havia se tornado um lugar de pecado, no qual Deus não estava presente. Sem nenhuma esperança para o reino do norte, Amós dizia que o povo deveria voltar-se para Deus, praticando a justiça, mas não via nem sinal disto, declarando que o único futuro de Israel seria sua ruína total. Oseias, cidadão do norte profetizou no período do rei Jeroboão, e que começou a profetizar através de seu casamento com um prostituta, que acaba separando-se dela (Os 1,2-9). Oseias descreve o laço da aliança como um matrimônio, ele declara que Deus sendo „casado‟ com a nação de Israel, esperava dela a fidelidade que um marido espera da esposa, mas a nação de Israel, adorando outros deuses, cometeu “adultério”, por isto sujeitou-se a separação, ou seja a ruína total da nação, criticou muito o culto a Baal, o culto paganizado de Deus e toda a corrosão moral que o paganismo facilitava, Amós acusava Israel de ter se esquecido dos benefícios que de Deus vieram para Israel e que este não era mais seu povo (Os 1,9), como não via sinal de penitência (Os 5,15-6,6; 7,14-16), Oseias acreditava assim como Amós que Israel estava sob a maldição da aliança, condenada a destruição total (Os 7,13; 3,9-17), porém, Oseias alimentava a 28 esperança de que como ele que naturalmente perdoou e reabilitou sua esposa, Deus no seu infinito amor, um dia perdoaria Israel, depois de tê-lo castigado, reabilitaria sua terra e mais uma vez “casaria” com a nação (Os 2,14-23; 11,8.11; 14,1-7). No final do século Oitavo caíram sobre Judá com a força de uma avalancha, pondo em risco a própria existência do Estado e da dinastia em Israel chegou ao fim, totalmente corroído, percebeu-se que a religião de Israel não podia mais fazer as pazes com Deus, que havia sido esquecido por seu povo, mas foi graças aos profetas que a religião de Israel recebeu um novo ânimo de vida. 4.1 A Crise Religiosa Com a política da Casa de Amri, Israel pode ressurgir com força externa, porém internamente provocou tensões, principalmente pela contínua exploração aos pobres, colocando-o a mercê do rico ao tomarem emprestado as taxas de usura, fazendo que hipotecassem suas terras, suas pessoas e filhos como garantia, exemplo: (2Rs 4,1-7), quando o milagre de Eliseu com o óleo da viúva, “vai vende esse óleo e paga a tua dívida”. O casamento de Acab com Jezabel, adoradora das divindades tíreas, Baal Melcart e Asrá, ela, junto com seus súditos, e os mercadores que a acompanhavam com interesses comerciais, tinham permissão para continuar a prática de sua religião nativa em solo israelita, tanto que na Samaria foi construído um templo para Baal Melcart, havia um afastamento geral de Deus, citado aqui anteriormente e agora rondava uma expectativa em adotar em adoração deuses da fertilidade junto com o culto a Deus e trazer para esta prática como se fosse dos deuses da fertilidade (1Rs 16,29-34). A presença do profeta Elias, aqui é fundamental ao mostrar ao povo de Israel a presença de Deus no monte Carmelo e que Baal não era nenhum deus (1Rs, 18,16-46). Após Acab narrar a Jezabel o feito de Elias, ela por sua vez manda persegui-lo e Elias foge para o Monte Horeb e lá recebe de novo a palavra do Deus da Aliança, finalmente ele é arrebatado em um carro de fogo para o céu (2Rs 2). Embora os grandes santuários de Israel estivessem cheios de adoradores, e fossem generosamente mantidos por eles é evidente que o javismo em sua forma pura já não era mais praticado. (Am 4,4ss; 5,21-24). Com a queda de Jerusalém em 597 a.C., os babilônios levaram consigo a Arca da Aliança entre outras coisas, aqui há uma recriminação dos profetas acerca dos pecados de Israel, que teriam provocado esta catástrofe nacional, são atribuídos a Isaías, Jeremias e Ezequiel, estes tiveram papel importante como Samuel com Davi e Natã com Salomão, época de glórias e 29 conquistas de Israel, mas com a invasão Assíria e Babilônica, isto fez com que os judeus repensassem suas crenças. Jeremias, profeta de voz autêntica de um javismo mosaico, falando, por assim dizer que Judá estava condenado e que era o julgamento de Deus pela violação da aliança por parte de Judá, porém Jeremias foi zombado, odiado, desprezado, preso e julgado pela realeza e o povo de Israel, por pronunciar as palavras que Deus lhe proferiram que Ele próprio estava combatendo seu povo, (Jr 26). Jeremias faleceu no Egito, e suas últimas palavras foram ainda sobre o julgamento do pecado do seu povo. Outro de temperamento severo e não muito atraente é Ezequiel, que as vezes tem um ensinamento de secura sacerdotal, outra vez de uma eloquência vibrante e indisciplinada, mas que ao contrário de Jeremias, continha seus desabafos sobre a condenação e que como uma sentinela, guardando seu povo e anunciando ojuízo de Deus com autêntica voz da religião normativa de Israel. A antiga esperança nacional estava mantida, mas projetada em uma escatologia, esperando como recompensa uma nação nova e transformadora, totalmente dependente de um novo ato salvador de Deus, essas eram as esperanças em torno das quais o centro de uma nova comunidade de Israel deveria se unir esperando através das trevas, pelo futuro de Deus. 4.2 Em Direção ao Cristianismo Traçamos aqui a história de Israel desde a imigração dos seus ancestrais até o fim do Antigo Testamento, sua religião desenvolveu-se em várias adaptações, sempre buscando suas origens na liga tribal, passando pelos dias do Estado, até depois do exílio. No século dois a.C., com a revolta dos macabeus, o judaísmo começou a firmar-se e assumir a forma que teria nos tempos do Novo Testamento, os judeus tendiam a manter-se um povo à parte, vivendo de acordo com a sua lei, confiando em que Deus os vingaria. Naturalmente existiam os saduceus, eles tiravam sua força da aristocracia sacerdotal e da nobreza a eles associados, em certo sentido afirmavam-se conservadores, pois só acreditava na Torá, sem nenhum vínculo com a lei oral explicada pelos escribas, não acreditavam na ressurreição, as recompensas e castigos depois da morte, angeologia e demonologia e as especulações apocalípticas de modo geral, preocupados com o culto no templo e a lei, especialmente em seus rituais de caráter sacrifical e observância do sacerdócio integrado. Como quer que eles pensassem que fossem os desígnios de Deus sobre Israel, sua finalidade no presente era que o estado atual fosse mantido, sendo homens práticos do mundo, eles não rejeitavam compromissos para conseguir seus objetivos, prontos a cooperar com soberanos, reis, reis- sacerdotes asmoneus, a divisão mundana, como procuradores romanos, temendo acima de todas 30 as coisas qualquer distúrbio que pudesse alterar o equilíbrio, por isto julgaram Jesus perigoso. Ao contrário deles, existiam os fariseus, eles continuaram a tradição dos Hasidim, nos dias dos macabeus, cujo zelo pela lei não permitia compromisso com o helenismo, embora não sendo nacionalistas militantes, os Hasidim, foram levados pelas perseguições selêucidas a se juntarem na luta pela liberdade religiosa, e quando a conseguem, lutam pela independência política eles perderam o interesse. Os fariseus por serem mais severos religiosamente, menos conservadores, aceitavam outras partes da Escritura como oficiais, junto com a Torá, mas também consideravam a lei oral obrigatória para interpretar a escrita. E por fim os zelotas, fanáticos zelosos e cruéis, preparados para combater pela independência contra tudo e todos, aguardando que Deus viesse em seu socorro. Outro fato importantíssimo é com relação a Encarnação do Verbo, onde Deus se faz presente e se insere no meio dos homens e na história, através da pessoa de Jesus Cristo, resposta que é dada pelos cristãos, obrigatoriamente e historicamente legítima, pois nasceu do judaísmo, esta resposta é que o destino da história e da teologia do Antigo Testamento está em Cristo e no seu Evangelho, esta é a confirmação de que Cristo é a introdução esperada e decisiva do poder redentor de Deus na história da humanidade e que nele é dada a justificação que cumpre a lei quanto o cumprimento suficiente da esperança de Israel e que judeus e cristãos, herdeiros da mesma herança de fé e adoradores do mesmo Deus, que é o Pai de todos nós. Por fim a história do Antigo Testamento nos leva a uma pergunta decisiva e esta pergunta é: “Quem dizeis que eu sou?” pergunta esta que só a afirmação da fé pode responder, e os cristãos naturalmente respondem: “Tu és o Cristo (Messias), o Filho do Deus Vivo” 17 . 17 Cf. BRIGTH, John, História de Israel, p. 552 final. 31 CAPÍTULO II 1. A Relação do Antigo e Novo Testamento Com a visão do profeta Daniel, e sua complexa parábola política, interessa-nos o personagem messiânico, ou que as vezes é tomado como tal, referente a “alguém como um filho do homem” que chega diante do “ancião dos Dias”, isto é Deus (Dn 7,13-14). Mas, em Daniel a expressão “filho de homem”, não é atribuída ao Messias, pois para Daniel o Messias seria assassinado em uma batalha feroz (Dn 9,26), e não há nada que identifique no texto sua verdadeira identidade 18 . Para compreendermos melhor a relação do Antigo Testamento com o Novo, podemos utilizar a Primeira Oração Eucarística do Cânon Romano da Missa (Missal), depois da consagração do pão e do vinho, que são o Corpo e Sangue de Cristo, quem preside oferece esses dons a Deus Pai, dizendo: “Olhai com bondade esta oferenda perfeita e aceitai-as como os dons de vosso servo Abel, o sacrifício de Abraão, nosso pai na fé, e os dons de Melquisedec”, assim a liturgia liga o sacrifício de Cristo “o sangue da nova e eterna aliança”, com alguns personagens do Antigo Testamento, Abel, Abraão e Melquisedec, onde suas ofertas foram aceitas por Deus 19 . Na Declaração Nostra Aetate do Concílio Vaticano II, que renovou a visão da Igreja Católica em relação ao judaísmo, pode-se ver em seu parágrafo quarto, que trata do judaísmo, e usa uma referência direta a Abraão, vinculando o povo do Novo Testamento unido espiritualmente à linhagem de Abraão, lembrando que Cristo pela cruz reconciliou judeus e gentios, fazendo de ambos um só em Si mesmo (Ef 2,14-16). 14 Ele é nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade 15 a Lei dos mandamentos expressa em preceitos a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo a paz 16 e de reconciliar a ambos com Deus em um só Corpo por meio da cruz, na qual ele matou a inimizade. A declaração enfatiza ao mesmo tempo a continuidade, que o fato de que os inícios da fé e da eleição da Igreja devem ser encontrados na história do povo escolhido através de Moisés e dos Profetas, os cristãos estão incluídos no patriarcado de Abraão segundo a fé, a Igreja e sua missão de salvação pré-configurada em sua história misticamente no êxodo, e a Igreja não pode se 18 PETERS, F. E. Os Monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: Volume I: Os povos de Deus. [Tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2007, p. 75. 19 FITZGERALD, Michael L. Relações entre as religiões Abraâmicas. Em: BRADFORD, E. Hinze; IRFAN, A. Omar (orgs.). Herdeiros de Abraão: o futuro das relações entre muçulmanos, judeus e cristãos. São Paulo: Paulus 2007, p. 73. 32 esquecer que foram os que Deus estabeleceu a Antiga Aliança que nos deram a revelação do Antigo Testamento, conforme cita Paulo aos Romanos (Rm 9,4-5). 4 que são os israelitas, aos quais pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas, 5 aos quais pertencem os patriarcas, e dos quais descende o Cristo, segundo a carne, que é, acima de tudo, Deus bendito pelos séculos! Amém. e há também uma descontinuidade, apesar de Jesus e seus discípulos serem judeus, os mesmos em grande parte, não aceitaram o Evangelho, havendo uma separação que continuará até o dia em que a Igreja espera, “em que todos os povos aclamarão o Senhor com uma só voz”. Entretanto, judeus e cristãos são encorajados a cultivar uma relação de compreensão e respeito, para tanto os estudos da Bíblia e de questões teológicas, para reprovarmos qualquer tipo de perseguição, anti-semitismo, devemos manter por meio do diálogo e colaboração com membros de outras religiões, sempre preservando o testemunho da fé e da vida cristã 20 . 1.1 A Esperança de Salvação do Cristo Segundo Paulo, na “fé em Cristo Jesus”, esta é a esperança de salvação do cristão, isto é, convictos de que este mesmo Jesus de Nazaré foi ressuscitadodos mortos por Deus, e o exemplo de Paulo em como deixou de perseguir a Igreja de Deus (1Cor 14,9-11) 9 Pois sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10 Mas pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça a mim dispensada não foi estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11 Por conseguinte, tanto eu como eles, eis o que proclamamos. Eis também o que acreditastes. Segundo Peters, o debate cristão sobre a natureza, fonte e efeitos dessa graça de salvação foi rancorosa durante muito tempo, chegando a criar um cisma no catolicismo ocidental separando católicos e protestantes no século XVI até hoje, mas todos concordam que seja de que forma forem lidos, o fundamento da fé cristã é encontrado no Novo Testamento. Um século ou mais depois da morte de Jesus é que o Novo Testamento tomou sua forma global, que se chamam “boa nova de Jesus Messias” (grego evangelion; latim evangelium), compostas mais ou menos entre 70 e 100 d.C. A presença destas quatro composições segundo o autor, nos leva a supor que as primeiras comunidades deveriam saber algo dos acontecimentos da vida de Jesus, seus ensinamentos, milagres e particularmente um destaque que lhe são dedicados nos evangelhos, acerca de sua prisão julgamento e execução, se consultarmos as cartas de Paulo 20 FITZGERALD, Michael L. Relações entre as Religiões Abraâmicas. Em: BRADFORD, E. Hinze; IRFAN, A. Omar (orgs.). Herdeiros de Abraão: o futuro das relações entre muçulmanos, judeus e cristãos. São Paulo: Paulus 2007, p. 77-78. 33 que também estão inclusas no Novo Testamento, e que são de mais ou menos 50 d.C., estes são os testemunhos mais antigos da nova fé e do papel de Jesus, onde nestas cartas o fundamento histórico se diferencia completamente, Paulo menciona pouco os acontecimentos de Jesus, assim sendo seria impossível reconstruí-los, seguindo as evidências de Paulo, mas não podemos concluir que nem ele nem suas comunidades cristãs ao qual suas cartas são endereçadas consideravam importantes esses assuntos 21 . Qualquer que seja o ponto de vista de Paulo com relação a Jesus e que as Igrejas primitivas aprovaram suas cartas com os evangelhos, o Novo Testamento começa com quatro documentos que narram em suma o que de fato ocorreu com a vida de Jesus, um tipo de narrativa de “Jesus histórico”, nos tempos moderno se referem a ele com mais autoconsciência, foi de importância fundamental para os cristãos do começo que expressa em várias categorias diferentes. Seus milagres foram considerados provas daquilo que realmente Ele pretendia como messias, ou de sua autoridade, ou até mesmo de sua relação divina como ele próprio chamava de “Pai” ou como lemos nos evangelhos “Abba”, algo como “Papai”. Para os cristãos os ensinamentos de Jesus tornaram-se base da ética cristã, e de modo geral sua vida exemplo de virtude cristã. A instituição da Eucaristia e o Batismo, tornaram-se as instituições básicas da nova sociedade cristã, tanto que seu chamado e envio de seguidores foram fundamentais para uma autoridade hierárquica para essa sociedade, sua crucificação e morte foi visto como um ato sacrifical que remiu a humanidade do pecado cometido por Adão e possibilitou a salvação. Por fim sua ressurreição dos mortos fortaleceu a prova da natureza sobrenatural de Jesus e o identificou explicitamente como Filho Amado de Deus 22 . Para os cristãos primitivos a Escritura não era nada mais que a Escritura judaica, Tanach (denomina o conjunto principal de livros sagrados para os judeus), compreendiam os textos igualmente aos judeus, o movimento de Jesus como forma sectária do judaísmo e depois o cristianismo como uma relígio diferente e distinta nasceram da exegese, mostrando em primeiro lugar que Jesus era o Messias, não por milagres, mas pela compreensão privilegiada da Escritura, uma compreensão judia da Escritura judaica 23 . 21 Cf. PETERES, F.E. Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: volume I: os povos de Deus / F. E. Peters; [tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2007, p. 78. 22 Cf. PETERES, F.E. Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: volume I: os povos de Deus / F. E. Peters; [tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2007, p. 79. 23 Cf. PETERES, F.E. Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: volume II: as palavras e a vontade de Deus / F. E. Peters; [tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2008, p. 66. 34 A alegação começa nos inícios dos evangelhos e não pára: por suas palavras e atos Jesus realizou aquilo que os profetas judeus haviam dito daquele que viria, visão essa que o próprio Jesus poderia ter dito em sua exegese messiânica “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura (Is 61,1-2) que acabais de ouvir”, 1 O espírito do Senhor Iahweh está sobre mim, porque Iahweh me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os quebrantados de coração e proclamar a liberdade aos cativos, a libertação aos que estão presos, 2 a proclamar um ano aceitável a Iahweh e um dia de vingança do nosso Deus, a fim de consolar todos os enlutados. consta que ele disse publicamente na sinagoga de Nazaré (Lc 4,21), e assumida desejosamente por seus seguidores. “Os cristãos primitivos seguiram prontamente os evangelhos, lendo o passado como futuro e transformando profetas bíblicos de repreendedores morais a pura e simplesmente homens encarregados da previsão do futuro” 24 . 1.2 O Início da Tradição Cristã O cristianismo nasceu e se expandiu no mesmo ambiente em que se discutiu a lei oral e por fim produziu o Mishná, os fariseus fizeram de tudo para manter da tradição dos pais um elemento primordial em sua definição de como devia ser um judeu. Jesus discutiu por inúmeras vezes com os fariseus por conta da autoridade da tradição oral, e segundo o autor o próprio Jesus consistentemente substituiu a autoridade dos pais pela sua própria autoridade 25 . Assim, Jesus se mostrava como a origem de uma nova tradição (paradosis), entregue aos discípulos e confirmada pelo Espírito Santo em Pentecostes. Pensou-se que houve uma “transmissão” especificamente cristã abalizada das Escrituras, acreditando que os primeiros cristãos tinham da Escritura sinônimo da Bíblia. Não se prestou atenção hermenêutica séria aos evangelhos até o final do segundo século, levando a nova “tradição” cristã foi organizada pelos ensinamentos de Jesus e sua morte redentora, onde o próprio Jesus coloca as duas coisas no seu verídico contexto “escriturístico”. Por fim, quando partes dos ensinamentos e ações de Jesus tinham sido colocados por escrito nos envangelhos, começando a formar uma Escritura nova e notadamente cristã, a diferenciação entre Escritura, no sentido bíblico, e tradição no sentido cristão, permaneceu a ser sentida na comunidade cristã 26 . 24 Cf. PETERES, F.E. Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: volume II: as palavras e a vontade de Deus / F. E. Peters; [tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2008, p. 66. 25 Cf. PETERES, F.E. Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: volume II: as palavras e a vontade de Deus / F. E. Peters; [tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2008, p. 105. 26 Cf. PETERES, F.E. Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos em conflito e competição: volume II: as palavras e a vontade de Deus / F. E. Peters; [tradutor Jaime A. Clasen]. São Paulo: Contexto, 2008, p. 105. 35 Obviamente Jesus tinha um círculo definido segundo os textos evangélicos e que eram 12 apóstolos
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