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PESQUISA EM EDUCAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever os principais desafios da pesquisa em educação. > Identificar o papel dos fatos e das teorias no campo da pesquisa edu- cacional. > Reconhecer as contribuições da pesquisa para a educação. Introdução A educação, como área de conhecimento, reúne uma característica particular: os fatos empíricos que se expressam no ambiente educacional são numerosos e pedem uma compreensão teórica permanente; ou seja, a educação é um fazer prático que exige compreensões teóricas. Quando essas teorizações são formuladas, preconizam novas práticas, que se traduzem em novos fatos empíricos; estes, mais tarde, vão exigir compreensões teóricas. É nesse âmbito dinâmico de fazeres e teorizações constantes acerca de si mesma que a educação se movimenta. Como ciência e como prática, ela exige novos atores sociais que continuem a conduzindo. A grande questão é que esses atores desempenham, simultaneamente, dois papéis: o de pesquisador e o de docente. Portanto, ser docente e ser pesquisador se equivalem. Teoria e fatos na pesquisa educacional Andrea Abreu Neste capítulo, você vai reconhecer os principais desafios que a educação enfrenta enquanto área de conhecimento produtora de pesquisa. Além disso, vai identificar como os fatos e as teorias se articulam no âmbito da pesquisa educacional. Por fim, vai ver como a pesquisa em educação contribui para o avanço da ciência e, em especial, para a qualificação do processo de ensino e aprendizagem. Desafios da pesquisa Quando pensamos nos principais desafios da pesquisa educacional, antes devemos pensar no que é a pesquisa científica como um todo. Então, depois, devemos analisar os desafios específicos que marcaram a trajetória da pes- quisa científica em educação. Neste capítulo, você vai fazer esse caminho. A pesquisa científica se dá por um processo sistemático e objetivo de investigação que é realizado com o objetivo de produzir conhecimento e compreender a realidade que nos é comum. Sua abordagem é rigorosa e metódica, tentando responder a perguntas, testar hipóteses e gerar novos conhecimentos por meio de coleta, análise e interpretação de dados (CHAUÍ, 1998). A pesquisa científica é exercida nas várias áreas do conhecimento e contri- bui para o desenvolvimento de novas teorias, para a resolução de problemas práticos e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. O seu exercício deve ser pautado por princípios éticos, como a transparência na comunicação de seus resultados, a imparcialidade e o respeito pelos participantes e pela comunidade científica. Além disso, os resultados obtidos devem ser sujeitos à revisão por pares, ou seja, devem ser avaliados e validados por outros especialistas antes de serem aceitos como conhecimento científico. Em uma visão equivocada, tendemos a compreender o fazer científico como uma tarefa de sujeitos isolados nos laboratórios ou nas bibliotecas das universidades, como se fossem pessoas distantes da realidade social. Isso não é verdade. A pesquisa e a vida social estão necessária e intimamente relacionadas. É pensando no bem-estar social que as pesquisas se desen- volvem, que os medicamentos são produzidos, que as teorias sociológicas tentam explicar a dinâmica social e que os educadores produzem teorias sobre a prática educacional, por exemplo. Nesse sentido, a pesquisa desempenha um papel fundamental na so- ciedade, trazendo uma série de benefícios e impactos positivos. Graças à pesquisa científica, somos capazes de impulsionar o avanço do conhecimento humano, uma vez que nos tornamos capazes de compreender melhor os Teoria e fatos na pesquisa educacional2 fenômenos naturais, sociais e tecnológicos que nos cercam, amadurecendo nossos horizontes intelectuais. A pesquisa é uma ferramenta importante para resolver problemas e en- frentar desafios sociais, pois é capaz de desenvolver soluções inovadoras e eficazes para melhorar a qualidade de vida e enfrentar questões urgentes. Diante da recente pandemia causada pelo novo coronavírus, os la- boratórios de vários países do mundo se empenharam e produziram, em tempo recorde, vacinas capazes de dar imunidade à população, controlando a disseminação da doença. Mesmo que as pesquisas não sejam direcionadas a um fim específico, elas são capazes de impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias e inovações. Elas permitem que novas descobertas científicas sejam traduzidas em aplicações práticas, resultando em avanços tecnológicos que beneficiam a sociedade como um todo. Desde a medicina e a comunicação até a indústria e a agricultura, a pesquisa impulsiona o progresso tecnológico, que, por sua vez, impulsiona o crescimento econômico e o bem-estar social. Outro ganho que as pesquisas científicas garantem é quanto à tomada de decisões, pois seus resultados fornecem uma base de evidências sólidas para que, munido de informações, seja possível decidir por esse ou aquele caminho. Em outras palavras, a pesquisa faz com que a nossa decisão não seja intuitiva ou tateante. Políticos, formuladores de políticas públicas, pro- fissionais de saúde, professores, publicitários e outros vários tomadores de decisão se baseiam em pesquisas para desenvolver diretrizes e estratégias que tenham impacto positivo na sociedade. Isso porque a pesquisa ajuda a identificar as melhores práticas, entender os efeitos das políticas e fornecer informações valiosas para a formulação de decisões (PEREIRA et al., 2018). É por esses valores relatados até aqui que as disciplinas ligadas à produção científica estão presentes na formação dos estudantes em seus vários níveis de escolaridade. Nesse sentido, a pesquisa científica é compreendida como a atividade a ser ensinada e aprendida para que o seu uso e a sua importância se perpetuem na prática social. Estudar sobre e praticar a pesquisa permite que estudantes e pesquisadores se envolvam em projetos acadêmicos e adquiram habilidades valiosas, como a capacidade de conduzir pesquisas, analisar dados, resolver problemas e comunicar os resultados. Teoria e fatos na pesquisa educacional 3 Tradicionalmente, na nossa cultura ocidental, as pesquisas científicas são realizadas nos centros de educação formal, como as universidades; em centros de pesquisa particulares, como aqueles da indústria alimentícia e dos laboratórios farmacêuticos; nas instituições governamentais especializadas, visando a um determinado setor da economia, da saúde ou da educação. Isso demonstra que há uma preocupação com a pesquisa em diferentes seguimentos da sociedade civil, dada a sua importância para a vida social. Repare que estamos nos referindo tanto à produção quanto ao consumo de conhecimento. Assim, quando pesquisamos, geramos conhecimento; quando lemos os artigos científicos ou vamos a simpósios e congressos, consumimos conhecimento. Note ainda que, se apenas consumíssemos conhecimento e não gerássemos novo conhecimento, em algum momento estacionaríamos o nosso saber e, provavelmente, não encontraríamos soluções para novos problemas. É por isso que precisamos aprender a gerar pesquisas científicas e, adequadamente, produzi-las. Vamos nos deter um pouco mais nessa relação entre produzir e consumir conhecimento para, posteriormente, pensarmos na pesquisa em educação, em seus pesquisadores e desafios. A rigor, a distinção entre produção e consumo de conhecimento se refere ao processo em que o conhecimento é gerado e utilizado. Esses dois conceitos representam diferentes estágios do ciclo do conhecimento. A produção de conhecimento está envolvida com a criação, a descoberta ou o desenvolvimento de novas informações, ideias, teorias, metodologias e produtos. Ela envolve a realização de pesquisas, experimentos, análises e investigações em diversas áreas do conhecimento. Trata-se de uma produção frequentemente realizada por meio de atividades de pesquisa científica, acadêmica e prática, envolvendo professores, pesquisadores, cientistas,pro- fissionais e estudantes. Ela é caracterizada por respostas, novas perspectivas e avanço do conhecimento existente (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). Por sua vez, o consumo de conhecimento refere-se à aplicação, utilização ou absorção do conhecimento existente para fins práticos ou intelectuais. Ela envolve o uso de informações, ideias, teorias e descobertas disponíveis para, por exemplo, resolver problemas, tomar decisões, aprimorar habilida- des, desenvolver produtos, criar políticas e elaborar aulas e metodologias de ensino. Observe que a produção e o consumo de conhecimento estão intimamente ligados e se retroalimentam. A produção de conhecimento fornece a base para o consumo, uma vez que novos conhecimentos são gerados e dispo- nibilizados para serem aplicados na solução de problemas e na tomada de Teoria e fatos na pesquisa educacional4 decisões. Por sua vez, o consumo de conhecimento alimenta a produção, pois os desafios práticos e as necessidades da sociedade impulsionam a pesquisa e o desenvolvimento de novas ideias (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). Agora você já está mais familiarizado com a ciência e com sua importância como um todo na vida social. Assim, você vai estudar o que vimos até aqui de forma específica em relação à pesquisa em educação. Considerando o que foi visto sobre produção e consumo de conhecimento, é possível afirmar que os docentes são atores sociais que exercem esse duplo papel, como produtores e consumidores de conhecimento. Como educadores e acadêmicos, os docentes estão envolvidos em atividades de pesquisa, ensino e extensão, o que os coloca em uma posição especial nesse ciclo de conhecimento. Os docentes estão envolvidos na produção de conhecimento por meio de pesquisas e atividades tanto acadêmicas quanto escolares. Tanto em suas for- mações como estudantes de educação quanto como docentes dos diferentes componentes curriculares e cursos de graduação e de pós-graduação, eles envolvem-se em estudos de pesquisa, conduzem experimentos, coletam e analisam dados, desenvolvem teorias e publicam seus resultados em revistas científicas e conferências acadêmicas. Por meio dessas contribuições, os professores expandem o corpo existente de conhecimento em suas áreas de especialização, avançam teorias e geram novas perspectivas. O ensino também pode ser considerado uma forma de produção de conhecimento. Isso porque os professores elaboram currículos, planejam aulas, desenvolvem materiais didáticos e promovem discussões e atividades que visam a compartilhar conhecimento e desenvolver competências e habilidades nos estudantes. Durante o processo de ensino, os professores estão constantemente atualizando seu próprio conhecimento, incorporando desco- bertas recentes, integrando novas perspectivas e adaptando suas abordagens didáticas com base nas mais bem-sucedidas práticas de ensino. Considerando esse duplo papel de produzir e de consumir conhecimento que existe no exercício da docência e o que aprendemos acerca da produção científica, você vai estudar os desafios específicos enfrentados pela pesquisa em educação, ou seja, os desafios enfrentados pelos educadores em seus processos de pesquisa (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). Teoria e fatos na pesquisa educacional 5 A pesquisa em educação tem suas próprias especificidades, abordando temas relacionados a ensino, aprendizagem, currículo, políticas educacionais e práticas pedagógicas. Ao investigar esses temas, a pesquisa em educação busca gerar conhecimento que contribua para a melhoria dos sistemas educa- cionais e para o aprimoramento da qualidade da educação, além de provocar a reflexão do docente acerca do seu trabalho. Um dos desafios enfrentados pela pesquisa em educação está no fato de o ato de educar ocorrer em um campo multifacetado de interações sociais, políticas, culturais e cognitivas. Ou seja, embora seja possível fazer referência às teorias gerais sobre educação, todo trabalho e, portanto, toda a pesquisa em educação deve considerar essa complexidade, que tende a se tornar particular em cada caso estudado, obrigando o pesquisador a explorar as múltiplas variáveis e suas inter-relações, a fim de gerar resultados confiáveis em sua pesquisa (PEREIRA et al., 2018). Pense em uma pesquisa destinada a produzir uma vacina contra um vírus cuja biologia já é bem conhecida. Essa pesquisa não é fácil, mas o comportamento biológico do vírus tende a se manter uniforme onde quer que ele seja estudado, fazendo com que o pesquisador se concentre em um objeto pouco volátil. Com a pesquisa em educação não é assim, pois cada escola em cada localidade tem particularidades distintas. Às vezes, turmas na mesma escola apresentam comportamentos distintos. Além disso, cada estudante tem sua particularidade. Essas características resultam em uma complexidade maior da pesquisa na área da educação, pois o objeto de pesquisa do educador está envolto em muitas variáveis (TEIXEIRA; PIRES; VITORINO, 2020). Outro desafio a ser enfrentado diz respeito à atenção que o pesquisador deve ter em relação à diversidade presente nos diferentes contextos educa- cionais, como sistemas de ensino, culturas, comunidades e grupos de alunos específicos. É importante considerar a diversidade e adaptar as abordagens de pesquisa para atender às necessidades e características dos participantes envolvidos. Outro desafio está relacionado às abordagens metodológicas, que podem incluir métodos qualitativos, quantitativos e mistos. Em educação, os pes- quisadores podem realizar estudos de caso, pesquisas de opinião, análises estatísticas, entrevistas, observações em sala de aula e outras técnicas Teoria e fatos na pesquisa educacional6 para coletar e analisar dados relevantes para suas investigações (CRESWELL; CRESWELL, 2021). A obtenção de acesso a amostras representativas e dados relevantes também é um desafio para a pesquisa em educação. Muitas vezes, é necessário obter permissões e cooperação de escolas, instituições educacionais e outros participantes envolvidos. Além disso, é preciso garantir a confidencialidade dos dados levantados, proteger a privacidade dos participantes e manter o compromisso ético das pesquisas que envolvem seres humanos (TEIXEIRA; PIRES; VITORINO, 2020). Observe que uma análise dos desafios a serem enfrentados pela pesquisa em educação não equivale à imposição de obstáculos para a sua execução. Pelo contrário, mostra o quanto o pesquisador deve estar atento, pois a sua área de pesquisa é extremamente dinâmica e envolve fatores complexos que precisam estar sob o seu foco de atenção. Por se movimentarem em um campo de trabalho multifacetado, os do- centes convivem com fatos empíricos que sempre desafiam a compreensão. Como consumidores e produtores de conhecimento, seus trabalhos contri- buem para o desenvolvimento da educação enquanto ciência e enquanto fazer prático. Assim, os docentes se encontram atuando nesse espaço onde fatos e teorias se entrelaçam: os fatos exigem teorias que os expliquem, e as teorias tentam fazer isso. Fatos e teorias no campo educacional Nesta seção, você vai identificar a relação entre fatos e teorias no campo da pesquisa educacional. Essa é uma discussão acerca da relação entre os fenômenos observados na realidade e a teoria que os explicam, mas pensando na pesquisa científica em educação. Antes de tratar especificamente dessa relação, é preciso trabalhar alguns conceitos que vão fornecer os fundamentos teóricos para a discussão. O primeiro deles é o conceito de teoria científica. Uma teoria científica é uma explicação ampla e abrangente de um conjunto de fenômenos observáveis e verificáveis, baseada em evidências empíricas e sustentada por um corpo de conhecimentos científicos. Uma teoria científica busca descrever, explicar e prever os padrões e as relações que ocorrem na realidade em seus vários domínios de estudo (CHAUÍ, 1998). A constituição de uma teoria científica pode se basearem evidências empíricas, ou seja, em evidências que se dão no âmbito dos fenômenos que observamos na realidade. Por exemplo, um estudante tem um melhor desempenho escolar quando exposto a casos concretos. Assim, uma teoria Teoria e fatos na pesquisa educacional 7 pode se fundamentar em evidências coletadas por meio de observações, experimentos e estudos sistemáticos. Essas evidências devem ser verificáveis e reprodutíveis, permitindo que outros pesquisadores testem e confirmem os resultados demonstrados. Uma característica importante das teorias científicas é que elas são ca- pazes de integrar observações, dados e princípios fundamentais para ofe- recer uma visão geral que abrange uma variedade de aspectos e situações relacionadas ao fenômeno em estudo (CHAUÍ, 1998). Além disso, teorias científicas precisam ter coerência interna, ou seja, suas partes e princípios devem se encaixar de forma lógica e consistente, fornecer uma estrutura conceitual sólida e explicar as relações entre os elementos envolvidos sem qualquer tipo de contradição. Outra característica é que uma teoria científica tem poder explicativo e preditivo, ou seja, ela é capaz de explicar os fenômenos observados e oferecer previsões sobre eventos futuros. Assim, ela é capaz de fornecer uma estrutura conceitual e causal que permita compreender como os fenômenos ocorrem e por que eles ocorrem de determinada maneira (CHAUÍ, 1998). Como os conhecimentos científicos não são dogmáticos, ou seja, estão sendo sempre desafiados e renovados, uma teoria científica está sujeita a revisões e refinamentos contínuos, à medida que novas evidências são descobertas e novas perspectivas são desenvolvidas. Assim, a ciência é um empreendimento dinâmico, e as teorias científicas estão em constante evolução para se adequarem aos avanços do conhecimento. Note que o termo “teoria” tem um significado específico e difere do uso cotidiano da palavra. Na ciência, uma teoria é um conceito consolidado, bem estabelecido e amplamente aceito pela comunidade científica, que está fun- damentado em evidências empíricas sólidas e é consistentemente suportado pelos resultados de pesquisas científicas (CHAUÍ, 1998). Até o momento a palavra “empírico” foi utilizada sem uma conceituação rigorosa em relação a fatos empíricos. Os fatos empíricos são observações ou evidências objetivas obtidas por meio de observação direta ou experimenta- ção. São informações concretas que podem ser percebidas pelos sentidos ou medidas de forma quantitativa. Os fatos empíricos são fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento científico, pois fornecem a base sobre a qual teorias e hipóteses podem ser construídas e testadas. Teoria e fatos na pesquisa educacional8 Realizamos uma pesquisa empírica em educação quando observamos o desempenho de estudantes quando expostos a uma determinada metodologia de ensino. Nesse caso, dependemos dos resultados dos seus apren- dizados para que possamos avaliar a efetividade do método de ensino testado. Também fazemos pesquisa empírica quando partimos de uma observação da realidade e tentamos explicá-la pela teoria científica. Os fatos empíricos são eventos, fenômenos ou características que podem ser observadas ou mensuradas (CHAUÍ, 1998). Eles são baseados em dados concretos, coletados por meio de experiências, experimentos, observações sistemáticas (como o comportamento de estudantes em sala de aula) ou instrumentos de medição. Especificamente em educação, as teorias são estruturas conceituais que fornecem uma compreensão abrangente dos processos de ensino, apren- dizagem e desenvolvimento educacional. Elas podem ser formuladas com base em evidências empíricas e buscam explicar e interpretar os fenômenos observados no contexto educacional. As teorias na educação fornecem uma estrutura conceitual para entender as relações entre os diversos elementos envolvidos no processo educacional, incluindo estudantes, docentes, currí- culo, ambiente de aprendizagem, políticas públicas para a educação e fatores contextuais (TEIXEIRA; PIRES; VITORINO, 2020). As teorias na educação buscam explicar e compreender os fenômenos educacionais. Elas fornecem uma estrutura conceitual que ajuda a identificar os fatores que influenciam a aprendizagem e o ensino, bem como as interações entre esses fatores. As teorias na educação procuram responder a questões como as seguintes. � Como os alunos aprendem? � Como os professores podem promover a aprendizagem? � Como os fatores contextuais afetam o processo educacional? � Como as condições materiais de existência afetam o processo educacional? As teorias educacionais são dotadas de generalidade e têm como objetivo fornecer explicações gerais e aplicáveis a diferentes contextos e situações educacionais. Elas não se limitam a um único ambiente ou grupo de alunos, buscando ser relevantes em uma ampla gama de cenários educacionais. Teoria e fatos na pesquisa educacional 9 No entanto, as teorias podem ser adaptadas e refinadas de acordo com as particularidades de um contexto específico (DOMINGUES; COSTA, 2021). As teorias que se debruçam a compreender a educação têm diversos objetivos que contribuem para o avanço e aprimoramento do campo edu- cacional. Alguns dos principais objetivos das teorias na educação incluem a explicação e a compreensão dos processos educacionais. Elas investigam como os estudantes adquirem conhecimento, desenvolvem habilidades e constroem significados a partir das experiências educacionais. Repare que tal investigação se desencadeia a partir de fatos empíricos, o que exemplifica a relação entre fatos empíricos e produção e análise de teoria educacional. Ao compreender melhor os mecanismos subjacentes à aprendizagem, os edu- cadores podem tomar decisões informadas sobre a seleção de estratégias de ensino e a criação de ambientes de aprendizagem mais adequados (TEIXEIRA; PIRES; VITORINO, 2020). As teorias da educação também são capazes de fornecer orientações práticas para os docentes sobre estratégias de ensino, métodos de avaliação e planejamento curricular, por exemplo. Ao embasar a prática pedagógica em teorias fundamentadas, os professores podem tomar decisões mais embasadas, desenvolver abordagens mais eficientes e eficazes e promover melhores resultados de aprendizagem. Entre as funções das teorias na educação está a possibilidade de identi- ficar e compreender os fatores que influenciam a aprendizagem dos alunos. Assim, as teorias investigam variáveis como motivação, interações sociais, ambiente de aprendizagem, estilos de ensino e características individuais dos estudantes. Ao conhecer esses fatores, os educadores podem adaptar suas práticas pedagógicas para promover um ambiente de aprendizagem mais favorável e personalizado, atendendo às necessidades individuais dos alunos. As teorias na educação também têm um papel importante na formulação de políticas e reformas. Elas fornecem subsídios teóricos para a criação de diretrizes curriculares, programas de formação de professores, políticas de inclusão educacional, entre outros. As teorias na educação ajudam a embasar as decisões políticas com base em princípios científicos, buscando melhorar a qualidade e a democratização do sistema educacional (DOMINGUES; COSTA, 2021). Ainda, as teorias na educação estimulam a produção de conhecimento na área. Elas fornecem bases teóricas para a formulação de hipóteses, a condu- ção de estudos empíricos e a geração de novas descobertas. Ao promover a pesquisa, as teorias na educação impulsionam a evolução e a expansão do conhecimento no campo educacional. Teoria e fatos na pesquisa educacional10 Agora que definimos teorias educacionais e fatos empíricos, vamos correlacioná-los. As teorias desempenham um papel fundamental na explicação dos fatos empíricos ao fornecerem uma estrutura conceitual e um arcabouço expli- cativo para compreender eventos, fenômenos e relações observáveis. Elas representam um nívelmais abstrato de conhecimento, que vai além dos fatos empíricos individuais, permitindo uma compreensão mais profunda e abrangente do mundo ao redor. Enquanto os fatos empíricos são observações concretas e evidências observáveis, as teorias são construções intelectuais que organizam, explicam e interpretam esses fatos. Elas buscam responder por que e como determina- dos fenômenos ocorrem, estabelecendo relações de causa e efeito, padrões e princípios que não são percebidos imediatamente durante a observação. As teorias são elaboradas com base em evidências empíricas e sustentadas por um conjunto de conhecimentos científicos acumulados ao longo do tempo (PEREIRA et al., 2018). As teorias fornecem um arcabouço conceitual que ajuda a organizar os fatos observados em um sistema coerente. Elas integram e relacionam di- ferentes fatos, identificando conexões e padrões entre eles. Além disso, possibilitam a previsão de eventos futuros com base em relações e regulari- dades identificadas, permitindo antecipar consequências e comportamentos. Por exemplo, uma teoria educacional pode explicar como a interação social afeta a aprendizagem dos alunos, identificando os processos cognitivos, sociais e afetivos envolvidos nesse processo (DOMINGUES; COSTA, 2021). É importante sublinhar que as teorias não são verdades absolutas. Elas representam o entendimento atual e a melhor explicação disponível com base nas evidências e nos conhecimentos acumulados até o momento. Elas são constantemente testadas, revisadas e aprimoradas à luz de novas descobertas. Na educação, a relação entre fatos e teorias é essencial para o avanço do conhecimento e a compreensão dos processos educacionais. Os fatos em- píricos na educação são as observações concretas e as evidências objetivas obtidas por meio de pesquisas, estudos e observações sistemáticas. Esses fatos podem incluir dados sobre o desempenho dos alunos, as interações em sala de aula, as estratégias de ensino e os resultados de avaliações. Teoria e fatos na pesquisa educacional 11 As teorias na educação, por sua vez, são estruturas conceituais que bus- cam explicar, interpretar e compreender os fenômenos observados na área educacional. Elas são formuladas com base nos fatos empíricos existentes e nas evidências disponíveis, fornecendo uma estrutura teórica que ajuda a organizar, relacionar e explicar esses fatos. Como foi visto, há uma relação de retroalimentação entre teoria e fatos na educação. Afinal, são muitos e diversos os fatos presentes na prática do fazer educacional, e o mesmo vale para as teorias que se desdobram para compreendê-los. A literatura científica na área da educação é rica em exemplos sobre essa relação entre teoria e fatos. Ela tem se desdobrado para compreender o fazer educacional e tem gerado várias contribuições tanto para aprofundar a maturidade intelectual dos pesquisadores quanto para orientar a prática do fazer educacional. Entre as principais teorias estão as sobre o processo de ensino e aprendizagem, que você vai ver a seguir. Contribuições da pesquisa A pesquisa desempenha um papel fundamental no campo educacional, impul- sionando o avanço e o aprimoramento da prática pedagógica, das políticas educacionais e do conhecimento teórico, bem como o repensar acerca da profissão docente. Algumas das principais contribuições da pesquisa no campo educacional serão descritas a seguir. A pesquisa educacional investiga diferentes abordagens de ensino, es- tratégias instrucionais, métodos de avaliação, tecnologias educacionais e ambientes de aprendizagem, questionando o papel político do ato de ensinar. Os resultados da pesquisa podem informar os professores sobre quais práticas são mais eficazes para promover a aprendizagem dos alunos, permitindo que eles adotem abordagens baseadas em evidências e experiências pedagógicas bem-sucedidas (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). A pesquisa também fornece evidências científicas que embasam a for- mulação de políticas e reformas educacionais, promovendo a criação de políticas educacionais. Ainda, investiga questões como a evasão escolar, a desigualdade de acesso à educação, a diversidade cultural e linguística, as dificuldades de aprendizagem e os problemas de comportamento. Com base nessas pesquisas, novas soluções e estratégias podem ser propostas para enfrentar esses problemas e propor uma educação inclusiva e democrática. Teoria e fatos na pesquisa educacional12 Note que há uma dinâmica na pesquisa em educação. Ao mesmo tempo que gera teorias sobre a realidade, ela orienta um novo fazer. Assim, a pesquisa teoriza um fato empírico e produz uma nova teoria que se reverte em novo fato empírico (como as novas soluções e estratégias apontadas anteriormente). Esse é o diálogo entre fato e teoria no campo da educação. A pesquisa em educação também se ocupa com teorias de aprendizagem, processos cognitivos, desenvolvimento humano, psicologia educacional, sociologia da educação, entre outros temas. Repare que a educação, além de produzir as suas teorias, é atravessada por diferentes outras ciências para se constituir. Isso implica o comprometimento do educador com leituras de diferentes áreas, como filosofia, sociologia, história, neurociências e psico- logia. Por meio da pesquisa, novos apelos de pesquisa são gerados, teorias são testadas e refinadas, e o entendimento sobre os processos educacionais é ampliado (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). As pesquisas relativas ao processo de ensino e aprendizagem têm como objetivo investigar e compreender os diferentes aspectos que influenciam a forma como o conhecimento é compartilhado por docentes e incorporado por estudantes. Essas pesquisas são cruciais para o aprimoramento das práticas educacionais e para a promoção de uma aprendizagem efetiva. A investigação de diferentes abordagens, estratégias e técnicas de ensino é capaz de promover recursos pedagógicos que resultem em melhor apro- veitamento escolar. Isso envolve a análise de métodos tradicionais, como aulas expositivas, e de abordagens inovadoras, como aprendizagem base- ada em projetos, aprendizagem ativa, uso de tecnologias educacionais, etc. O objetivo de investigações como essas é identificar os métodos mais eficazes para engajar os alunos e promover a compreensão e o desenvolvimento de conhecimentos, competências e habilidades (PEREIRA et al., 2018). Os educadores também se ocupam com a investigação de diferentes formas de avaliação da aprendizagem, buscando métodos mais justos, confiáveis e válidos para medir o desempenho dos estudantes. Isso inclui a análise de técnicas de avaliação formativa, somativa, diagnóstica e por pares, por exem- plo. Os pesquisadores investigam como a avaliação pode ser praticada, de forma que possa reorientar o trabalho docente e, ao mesmo tempo, oferecer aos estudantes um retorno que retrate os seus desempenhos no processo de ensino e aprendizagem. Note que há uma forte ligação entre o que é produzido no âmbito da pesquisa e o que é praticado na docência, ou seja, entre a teoria e o ato (ou fato) pedagógico. Como profissão, como fato prático e objetivo no mundo, o exercício da docência é nutrido pelas teorias científicas que se ocupam dele. Teoria e fatos na pesquisa educacional 13 É importante considerar isso, pois ajuda a perceber a importância da teoria que subsidia o fato prático. Isso também ajuda a refletir sobre o próprio fazer docente, que deve ser uma prática consciente de suas condições, fundamentos teóricos e de seu papel social e político (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). Ainda entre as pesquisas sobre o processo de ensino e aprendizagem, temos aquelas que se ocupam de pensar acerca dos fatores que influenciam a motivação e o engajamento dos alunos na aprendizagem. Isso envolve a análise de abordagens para estimular o interesse dos alunos, promover o desempenho escolar, criar um ambiente de aprendizagem positivo e relevante e incentivar a participação ativados estudantes. Essas pesquisas tendem a explorar estratégias para envolver os alunos em atividades significativas, tornar o conteúdo curricular mais atrativo e estabelecer relações positivas entre estudantes e docentes. Outra abordagem de pesquisa possível quando pensamos acerca do pro- cesso de ensino e aprendizagem é a investigação dos processos cognitivos envolvidos no ato de aprender (ou processo cognitivo), como a memória e a atenção. Essas pesquisas exploram como esses processos podem ser desenvolvidos e aprimorados por meio de práticas educacionais específicas. O campo de pesquisa que surge aqui é chamado de neurociência educacional (MENEZES; SILVA, 2022). É possível desenvolver pesquisas que abordem a aprendizagem em con- textos específicos, como a educação inclusiva, a educação multicultural, a educação a distância e a educação especial. Essas pesquisas investigam como as práticas educacionais podem ser adaptadas para atender às neces- sidades de diferentes grupos de alunos, considerando suas características individuais, culturais e sociais. As abordagens em pesquisa educacional são diversas, especialmente aquelas que dizem respeito ao processo de ensino e aprendizagem. É im- portante ressaltar que a pesquisa científica está intimamente ligada ao fazer docente, pois é ela que possibilita o aprendizado de novas estratégias educacionais e proposições de políticas públicas voltadas à educação. Além disso, as pesquisas científicas promovem o repensar dos docentes acerca do seu ofício e da sua condição política na vida social. Os docentes cumprem um papel importante quando se apropriam dos conhecimentos gerados pela ciência e os compartilham com os estudantes. O docente se instrui a partir das pesquisas científicas, constrói o seu arcabouço teórico acerca dos conteúdos que deve lecionar, apropria-se das estratégias pedagógicas e atua, a partir daí, em sala de aula (novamente, estamos diante Teoria e fatos na pesquisa educacional14 da relação teoria e fato) (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). Mas como transpor o conhecimento científico para a sala de aula? O pesquisador francês Yves Chevallard elaborou o conceito de trans- posição didática. Trata-se do processo de transformação e adaptação do conhecimento científico para o contexto do ensino. Esse processo complexo envolve a seleção, a organização e a recontextualização dos conhecimentos científicos, de modo a torná-los acessíveis e significativos para os alunos (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). A pesquisa científica é conduzida em um ambiente acadêmico, com métodos rigorosos e linguagem técnica especializada. Os resultados e as descobertas dessa pesquisa se encontram disponíveis em livros, artigos científicos, conferências ou outras publicações científicas. No entanto, essas informações podem ser complexas e de difícil compreensão para os alunos em um contexto escolar. A transposição do conhecimento da pesquisa para o conteúdo didático envolve a adaptação e a transformação dessas informações, tornando-as adequadas ao nível de desenvolvimento dos alunos e às finalidades educa- cionais. Isso inclui a seleção e a organização de conceitos-chave, a adequação da linguagem técnica, a utilização de exemplos e analogias compreensíveis, a criação de atividades e recursos de ensino relevantes, entre outras adap- tações (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). Essa transposição é realizada pelo docente, que desempenha um papel crucial como mediador entre o conhecimento científico e o contexto da sala de aula. O docente utiliza seu conhecimento pedagógico para identificar quais conceitos e informações são importantes para os alunos em seu nível de desenvolvimento, considerando seus conhecimentos prévios, habilidades e interesses. Ao transpor o conhecimento da pesquisa para o conteúdo didático, o docente busca estabelecer conexões entre os conceitos científicos e a realidade dos alunos, tornando os conceitos significativos e aplicáveis. Isso pode envolver a criação de situações de aprendizagem autênticas, o uso de exemplos práticos, a aplicação de atividades investigativas, a utilização de recursos visuais e tecnológicos, entre outros recursos pedagógicos. A transposição do conhecimento da pesquisa para o conteúdo didático não significa simplificar ou distorcer o conhecimento científico, mas adaptá-lo para torná-lo acessível e compreensível para os alunos (ANTUNES; TEIXEIRA; FERREIRA, 2020). É um processo desafiador, que requer um equilíbrio entre a rigidez do conhecimento científico (a teoria) e a sua adequação ao contexto educacional (o fato). Teoria e fatos na pesquisa educacional 15 A transposição do conhecimento da pesquisa para a sala de aula conecta a pesquisa científica à prática educacional, permitindo que os alunos tenham acesso ao conhecimento atualizado, relevante e baseado em evidências. Ela contribui para a formação de estudantes críticos, reflexivos e capazes de aplicar o conhecimento científico em suas vidas e em suas futuras carreiras. A teoria científica e a prática educacional (ou o fato de educar) estão em permanente diálogo, e não há docente que entre em sala de aula sem que a sua prática pedagógica esteja mediada por teorias quanto ao conteúdo que vai lecionar e quanto ao seu ato de lecionar. Concretamente, o pesquisador e o docente não são dois atores sociais diferentes, que se encontram divididos. Pelo contrário, trata-se de um ator social exercendo dois papéis simulta- neamente: o de pesquisador e o de docente, ou o de teórico e o de prático. A pesquisa em educação enfrenta desafios permanentes que estão no interior da prática pedagógica e motivam a produção de novas pesquisas. Praticar e teorizar são atos permanentes do professor, um ator social de dois papéis, pois também é pesquisador. Ele vê o seu fazer lhe remeter a frequentes interrogações tanto quanto à sua produção docente quanto a ele mesmo, obrigando-o a refletir sobre si como ser humano e como profissional da educação. As respostas aos desafios da produção científica em educação, da leitura dos fatos empíricos que se desenrolam no chão da escola e da interpretação teórica deles precisam estar no horizonte do profissional da educação. Para isso, esse profissional precisa reconhecer as contribuições da pesquisa no fazer educacional e se lançar como docente-pesquisador, sempre tendo atenção ao entrelaçamento de fato e teoria, como requer a educação. Referências ANTUNES, E. P.; TEIXEIRA, Y. B. S; FERREIRA, L. H. A Importância da atividade científica: concepções dos produtores de conhecimento químico de uma universidade pública. Ciência & Educação, v. 26, p. 1-16, 2020. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998. CRESWELL, J. W.; CRESWELL, J. D. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2021. E-book. DOMINGUES, I.; COSTA, M. J. Investigação científica da governança da educação: ten- dências empíricas e teóricas. Educação e Pesquisa, v. 47, p. 1-21, 2021. MENEZES, A. R.; SILVA, F. F. Articulação entre neurociência e educação: um olhar para a produção teórica. Revista e-Mosaicos, v. 11, n. 26, p. 72-86, 2022. PEREIRA, A. S. et al. Metodologia da pesquisa científica. Santa Maria: UFSM, NTE, 2018. E-book. Teoria e fatos na pesquisa educacional16 TEIXEIRA, C. F.; PIRES, A.; VITORINO, A. J. R. Desafios para a realização de pesquisas educacionais: articulando diferentes áreas de conhecimento. Linhas Críticas, v. 26, p. 1-23, 2020. Leituras recomendadas BACHELARD, G. O racionalismo aplicado. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. LIMA, R. S; BORTOLAI, M.; DUTRA-PEREIRA, F. K. A teoria da transposição didática em publicações da revista QNEsc. Revista Debates em Ensino de Química (Redequim), v. 8, n. 1, p. 167-182, 2022. PINHEIRO, M. S.; PASSOS, M. L. S.; NOBRE, I. A. M. Importância da pesquisa na forma- ção docente para a prática pedagógica reflexiva. Debates em Educação Científica e Tecnológica (DECT), v. 8, n. 1,p. 104-127, 2018. Teoria e fatos na pesquisa educacional 17