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1 Transparência Legislativa SUMÁRIO Módulo 1. Noções de transparência na Administração Pública .......................... 2 Unidade 1.1. O que é transparência? Aspectos relevantes e marco legal ........... 2 Unidade 1.2. Transparência ativa e passiva ................................................... 6 Unidade 1.3. Transparência na gestão dos recursos públicos ........................... 8 Unidade 1.4. Dados abertos ...................................................................... 10 Módulo 2. Transparência no Poder Legislativo ............................................. 15 Unidade 2.1. O Poder Legislativo ............................................................... 15 Unidade 2.2. Transparência no Processo Legislativo ..................................... 19 Unidade 2.3. A transparência no Senado Federal ......................................... 24 Módulo 3. ferramentas de controle social e de avaliação de políticas públicas .. 31 Unidade 3.1. A Transparência e outras ferramentas de Controle Cívico ........... 31 Unidade 3.2. Casos de sucesso .................................................................. 34 Unidade 3.3. Metodologias de avaliação de políticas públicas e exemplos de avaliação de transparência ....................................................................... 38 Unidade 3.4. Índice de Transparência do Poder Legislativo ............................ 44 2 Módulo 1. NOÇÕES DE TRANSPARÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Ao concluir esse módulo, você estará apto a responder às seguintes perguntas: O que é transparência? Quais leis regulamentam o assunto no Brasil? Qual a diferença entre transparência ativa e transparência passiva? Como se aplica a ideia de transparência na administração pública? O que são dados abertos? Unidade 1.1. O que é transparência? Aspectos relevantes e marco legal O termo A palavra “transparência” remete à propriedade daquilo que é transparente. Dizer que algo é “trasparente”, por sua vez, sigfinifica literalmente dizer que determinado objeto “permite a passagem da luz, de modo que aquilo que está por detrás fica inteiramente visível” (Michaelis, 2019). Desse conceito inicial vem a ideia de transparência que nos interessa aqui, ou seja, aplicado às instituições e, em particular, aos órgãos públicos. O que seria, então, uma instituição transparente? Trata-se, na verdade, de metáfora muito usada nos dias atuais para descrever instituições que adotam processos de publicização de seus dados, no sentido de permitir que pessoas de fora de sua estrutura possam acessar suas informações. Em linhas gerais, estamos interessados em visualizar as informações que são custodiadas por uma instituição, tanto administrativas quanto de suas atividades fins. Assim, se a instituição permitir que se transponha as barreiras que impedem o acesso à essas informações por pessoas que não fazem parte direta da instituição, então ela está sendo transparente em relação a essas informações. Segundo Gomes, Amorim e Almada (2018), “uma instituição é transparente se ela permite que o público interessado visualize as informações custodiadas por ela”. Transparência pressupõe publicidade, mas com essa não se confunde. A publicidade é um pressuposto para o exercício legítimo do poder por parte do Estado. Visa impedir perseguições, favorecimentos e colocar as decisões e ações do Estado sob a crítica da sociedade. Ocorre que a divulgação de informações pode ser feita de forma obscura e hermética. Por isso, a transparência deve ir além da publicização, deve fazer com que as informações sejam efetivamente compreendidas pela sociedade. Assim, uma importante dimensão da transparência é o uso de linguagem de fácil compreensão, característica sem a qual se cria na verdade a falsa impressão de que o órgão é transparente, quando na verdade ofusca a visão do público por meio do uso do “tecniquês” rebuscado. Não é por acaso que, como veremos na Unidade 1.2, há previsão legal para o uso de linguagem adequada, pois esse é um princípio básico para garantir o acesso amplo e irrestrito à informação. 3 Transparência Pública e Privada A transparência se diferencia no aspecto privado e público. Na dimensão privada, as pessoas físicas tem o direito ao sigilo de suas informações garantido pelo artigo 5º, inciso XII da Constituição1 e também pela Lei nº 13.709/2018 (LGPD). As empresas também, de forma geral, não precisam publicar ostensivamente seus dados, como por exemplo, os salários de seus funcionários e os custos dos seus mobiliários. Os agentes e órgãos públicos, por outro lado, tem o dever de publicidade inscrito no art. 37 da Constituição Federal2. A destinação dos recursos públicos e a composição da despesa pública é assunto de interesse social e, por isso, deve ser garantida sua publicidade. A transparência pública é um assunto que ocupa constantemente o noticiário nacional. É por meio das ferramentas de transparência dos dados públicos que órgãos de controle, como o Ministério Público, a imprensa e mesmo o cidadão podem ter acesso a informações de interesse social. As informações criadas e mantidas pelo Estado são, como regra, de interesse geral e é direito da sociedade conhecer como os tributos são gastos, além de ter acesso a programas de governo, participar de audiências públicas, opinar sobre o orçamento. Marco legal O histórico da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil tem origem anterior à sua promulgação, pois havia todo um processo de discussão internacional sobre a liberdade de informação que impulsionaram este marco legal no Brasil. Em dezembro de 1946 a ONU, em Assembleia Geral, formalizou sua primeira noção de “liberdade de informação” quando adotou a Resolução 59, que especifica a liberdade de informação como direito humano fundamental. O conceito também foi ratificado posteriormente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 no art. 19, que diz: “Toda pessoa terá o direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, de forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha. ” Em 1966, um tratado com força de lei foi adotado pela Assembleia Geral da ONU, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. Entrando em vigor apenas em 1976, quando atingiu o número mínimo de adesões estipulado de 35 Estados, ele foi ratificado por 160 Estados em julho de 2007. Esse documento teve o objetivo de responsabilizar os Estados signatários, garatindo o compromisso jurídico com os dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Congresso Brasileiro aprovou o Pacto em 12 de dezembro de 1 XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; 2 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência 4 1991 por meio do Decreto Legislativo nº 226, tendo adesão na ONU em 24 de janeiro de 1992. Porém, o Pacto trazia apenas noções abrangentes do direito de acesso à informação, não especificando as informações emitidas pelos órgãos públicos. Esta lacuna foi resolvida com a assinatura da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, aprovada em 2003 em Assembleia Geral, com a ratificação da necessidade de transparência nos órgãos governamentais. A convenção determina que “os Estados Partes implementempolíticas contra a corrupção efetivas que promovam a participação da sociedade e reflitam os princípios do Estado de Direito, tais como a integridade, a transparência e a accountability, entre outros. ” (United Nations Office on Drugs and Crime, 2007). A Convenção foi incorporada ao sistema brasileiro por meio do Decreto nº 5.687 de 2006. Entre outras assembleias e convenções internacionais que tratavam do reconhecimento do direito à informação, vale ressaltar o Projeto “Open Government Partnership”, da “Tides Foundation”, iniciativa que lançou a Declaração para o Governo Aberto, da qual o Brasil participou como um dos oito países fundadores. No cenário brasileiro, a promulgação da Constituição Federal de 1988 marcou o retorno do compromisso governamental com os direitos fundamentais da pessoa humana e o retorno ao regime democrático. O direito à informação foi previsto pela nova Constituição Federal no art. 5º, inciso XXXIII, que diz: “XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; ” (Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011). O art. 37 da Constituição Federal promove, entre outros princípios, a publicidade da Administração Pública Direta e Indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. No art. 216, parágrafos 1º e 2º, determina-se que: “§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. ” Assim, a Lei Maior garantiu a responsabilidade governamental em dispor as ferramentas necessárias para a transparêcia pública, bem como a necessidade da participação social no controle de tais atividades. No âmbito infraconstitucional, em consonância com o art. 37 da Constituição, adveio a Lei 9.784/99 que preceitua “a divulgação dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição” (art. 2º, inciso V). Apesar de incipiente, a legislação evidencia a evolução das normas afeitas a divulgação dos dados públicos. Como exemplo da influência do princípio da publicidade dos dados de interesse público e a modernização do acesso à informação, temos a Lei nº 9.755/98, que dispõe sobre a criação de página na internet pelo Tribunal de Contas da União, e também o Decreto nº 5.482/2005, que dispõe sobre a divulgação de dados e informações pelos órgãos e entidades da administração pública federal por meio da internet e a criação 5 do Portal da Transparência do Poder Executivo, ampliando a transparência e permitindo ao cidadão ter o conhecimento dos dados de forma rápida e acessível. Já a Lei Complementar 101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), foi um marco importante na legislação de transparência pública. A LRF foi elaborada para estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. A referida norma, em seu parágrafo 1º, estipula que a “responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas”. Enfatiza, ainda, em seu art. 48, que “São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.” No âmbito administrativo, a criação da Controladoria-Geral da União (CGU), em 2003, contribuiu para a formação de um ambiente de fortalecimento institucional da gestão pública democrática. Entre suas funções, foi determinado pela Lei 11.204 de 2005, no art. 17, a seguinte competência: “À Controladoria-Geral da União compete assistir direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de suas atribuições quanto aos assuntos e providências que, no âmbito do Poder Executivo, sejam atinentes à defesa do patrimônio público, ao controle interno, à auditoria pública, à correição, à prevenção e ao combate à corrupção, às atividades de ouvidoria e ao incremento da transparência da gestão no âmbito da administração pública federal.” Também no ano de 2005, o Decreto da Presidência da República nº 5.482 ampliou a divulgação de dados e informações pelos órgãos e entidades da administração pública federal na internet. A Lei 11.111/2005 estipula ressalvas ao acesso de documentos públicos exclusivamente nas hipóteses em que o sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, incluindo hipóteses de classificação de sigilo. A Lei Complementar 131/2009, chamada de Lei da Transparência, estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Lei Complementar também assegura a transparência no art. 48, parágrafo único, mediante: “I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; III – adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no art. 48-A.” Por fim, a Lei 12.527/2011, conhecida como a Lei de Acesso à Informação (LAI) é tida como a maior ferramenta de transparência pública ativa e passiva no Brasil. A LAI assegura ao cidadão direito de orientação sobre a obtenção do acesso e local onde poderá ser encontrada ou obtida a informação. Propicia a abertura de dados em formato aberto e a disponibilização de dados em sítios oficiais dos órgãos na rede 6 mundial de computadores, bem como a disponibilização das informações independente de requerimentos e em locais de fácil acesso. Fornece, também, meios de penalização ao descumprimento da lei pelo agente público. É considerada o marco regulatório da transparência pública no Brasil e uma das mais completas e amplas regulamentações em comparação às adotadas em outros países. Subordinam-se ao regime da LAI os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluso Cortes de Contas, Judiciário e Ministério Público, bem como as autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista, entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A LAI também se aplica, no que couber, às entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos diretamente do orçamento ou mediantes subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos de mesma espécie. Cabe ressaltar que, destas entidades, a publicidade da prestação de contas refere-se a parcela recebida dos recursos públicos e atividades das ações de interesse público. No decorrer do curso, asregras gerais e alguns dispositivos específicos da Lei serão estudados. Unidade 1.2. Transparência ativa e passiva Uma distinção importante no estudo da transparência pública é a que diz respeito à diferença entre transparência ativa e passiva. A transparência dita ativa quando os órgãos divulgam informações por iniciativa própria ou em cumprimento da legislação, sem necessidade de provocação direta do cidadão, estando a informação disponível para consulta direta. Por outro lado, a transparência é considerada passiva quando a informação é fornecida mediante a solicitação de pessoa física ou jurídica, por não estar disponível para consulta direta à população. Vejamos em detalhes essas diferenças. Transparência Ativa A legislação brasileira, em especial a Lei de Acesso à Informação e a Lei de Responsabilidade Fiscal, traz uma lista de informações que precisam estar dispostas nos sítios institucionais. Ao atender à LAI e disponibilizar tais informações em seus sítios na internet, o órgão está assumindo a postura de transparência ativa. A transparência ativa pode ser tida também como proativa., pois os órgãos custiadores de informações públicas devem assumir a iniciativa de reunir e divulgar dados que sejam de interesse coletivo, não se limitando ao que as leis expressamente listam. A transparência ativa deve, por princípio, ser de tal forma que o uso do recurso da transparência passiva para atendimento das demandas dos cidadãos seja a exceção (art. 3º, II, Lei de Acesso à Informação). Os órgãos públicos têm o dever de divulgar, independentemente de qualquer pedido ou solicitação, informações como repasses ou transferências de recursos financeiros, registros das despesas, procedimentos licitatórios, bem como todos os contratos celebrados. A divulgação desses dados deve se dar tanto de forma física, nas sedes dos órgãos, como também de forma virtual, em sítios oficiais na internet. A LAI estabelece requisitos para que os sítios institucionais cumpram com os princípios da transparência ativa. Entre outros parâmetros, as páginas devem conter 7 ferramentas de busca, os dados devem ser disponibilizados em formatos abertos e deve-se garantir a acessibilidade de conteúdo para pessoas com deficiência. A informação disponibilizada deve possuir sempre os seguintes atributos: a) disponibilidade: ser conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas autorizados; b) autenticidade: ter sido produzida, expedida, recebida ou modificada por determinado indivíduo, equipamento ou sistema; c) integridade: não ser modificada, inclusive quanto à origem, trânsito e destino; e d) primariedade: ser coletada na fonte, com o máximo de detalhamento possível, sem modificações. Avaliemos três páginas institucionais que exemplificam bem a observância aos princípios da transparência ativa. No Portal de Transparência do Senado Federal é possível, por exemplo ter acesso detalhado aos contratos administrativos do órgão. A busca leva a detalhes como valores, datas de assinaturas e vigência e documentos originais que constam do processo. https://www12.senado.leg.br/transparencia O Governo Federal divulga detalhes e relatórios gráficos sobre os gastos com cartões corporativos. Nessa página da Controladoria Geral da União é possível consultar detalhes como os órgãos e servidores que mais gastam, as compras e os saques realizados, bem como os estabelecimentos que receberam mais pagamentos: http://www.portaltransparencia.gov.br/cartoes O Portal da Transparência do Governo do Distrito Federal apresenta gráficos que detalham as informações sobre os servidores públicos de maneira clara. Em uma mesma página, é possível consultar a evolução do gasto com remuneração, a relação entre aposentados e ativos, o regime jurídico dos servidores e outros detalhes. Outro bom exemplo de transparência ativa. http://www.transparencia.df.gov.br/#/servidores/dashboard Transparência Passiva A Lei de Acesso à Informação inovou ao estabelecer prazos e procedimentos claros para que informações públicas sejam solicitadas diretamente aos órgãos públicos. Qualquer cidadão ou organização pode solicitar dados públicos. A regra é a apresentação das informações ao solicitante imediatamente. Quando não for possível, a administração pública tem prazo de até 20 dias para providenciar a informação. A Lei prevê ainda sanções para os agentes públicos que descumprirem prazos e obrigações. O pedido de acesso à informação deve conter a identificação do requerente e a especificação do pedido. Não é necessário apresentar as razões da solicitação, nem o pagamento de qualquer valor para a solicitação. O pedido poderá ser feito diretamente nos órgãos ou pela internet. Como regra, os dados produzidos e custodiados pelo Estado são públicos e, portanto, devem ser fornecidos sempre que solicitados (art. 3º, I, LAI). Há exceções, como os dados classificados como sigilosos e dados pessoais de outrem. Informação sigilosa é aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão https://www12.senado.leg.br/transparencia http://www.portaltransparencia.gov.br/cartoes http://www.transparencia.df.gov.br/#/servidores/dashboard 8 de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado. A informação pessoal está relacionada à pessoa natural identificada ou identificável. Uma diferença importante da divulgação de informações públicas de forma ativa e de forma passiva é quanto ao alcance da publicidade. Quando a divulgação da informação decorre de pedido da sociedade civil, os dados são fornecidos diretamente ao solicitante, e não divulgados de forma ampla. Evidente que cabe a Administração avaliar se a informação solicitada de forma individual deve ser publicada de forma ampla. Apesar de os órgãos públicos terem o dever legal de disponibilizar de forma ativa diversos dados públicos, o cidadão não precisa provar que buscou os dados no site antes de solicitá-los. Vejamos agora alguns exemplos de transparência passiva por meio de sistemas de acesso à informação. No âmbito do Poder Executivo Federal, o Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão (e-SIC) permite que qualquer pessoa, física ou jurídica, encaminhe pedidos de acesso à informação, acompanhe o prazo e receba a resposta da solicitação. https://esic.cgu.gov.br/sistema/site/index.aspx O Senado Federal possui diversos mecanismos para atender solicitações de informação dos cidadãos. Por meio da Ouvidoria, é possível fazer pedidos por carta, telefone ou e-mail. Ainda existe uma página específica do Serviço de Informação ao Cidadão que processa os pedidos conforme as regras da LAI. https://www12.senado.leg.br/transparencia/formtransparencia Unidade 1.3. Transparência na gestão dos recursos públicos Recursos públicos Dentre os vários aspectos da transparência pública, aquele que trata dos recursos públicos tem especial relevância. De fato, os exemplos mais evidentes da necessidade e da importância da transparência residem nos aspectos relacionados à gestão dos recursos públicos, ou seja, à forma como o gestor público lida com receitas, bens, créditos e etc. A importância da transparência nos recursos públicos está marcada em nossa Constituição de 1988, que ressalta a importância da “fiscalização financeira da administração pública direta e indireta” (art. 163, V). A Administração Pública tem o dever de gerenciar os bens e serviços públicos. Para fazer isso, ela necessita de dinheiro que, por sua vez, vem - em sua maior parte - do próprio público, ou seja, da população como um todo, por meio de impostos, de taxas públicas ou de outros tributos. Para se ter uma ideia, a arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 1,457 trilhão em 2018, uma soma bem considerável! Mas, explorando um pouco mais o conceito de recursos públicos, podemos dizer que setratam de aspectos que vão além do dinheiro em si. Recursos públicos também incluem os bens que compõem o patrimônio público, móveis e imóveis, e qualquer outros aspectos que possam refletir a noção de bens com valor monetário, ainda que não necessariamente expresso de forma direta em recursos financeiros, como é o caso, por exemplo, de patentes e direitos de uso. https://esic.cgu.gov.br/sistema/site/index.aspx https://www12.senado.leg.br/transparencia/formtransparencia 9 A situação é semelhante à de um condomínio, onde todos dão sua contribuição, mas é o síndico quem administra os recursos coletivos. Há, é claro, uma enorme disparidade de dimensões quando se fala da Administração Pública, principalmente da Administração Pública Federal, mas pelo menos uma semelhança está presente quando se trata da gestão de recursos comunitários: o gestor tem o dever e a obrigação de prestar contas aos demais sobre como ele gerencia os recursos de todos. O patrimônio público não é do Estado, e sim de toda a sociedade. A sociedade, por sua vez, elege diversas autoridades para administrar e fiscalizar esse patrimônio (no caso dos poderes Executivo e Legislativo, esse último, foco de nosso curso). Esses administradores devem mostrar à sociedade, dona do patrimônio, como eles estão usando os recursos que a sociedade os confiou , assim como, por analogia, o gerente de uma empresa deve mostrar aos acionistas como ele administrou os recursos da empresa. Essa linha de transparência é também conhecida como transparência fiscal e merece um pouco mais de atenção, como veremos adiante. Prestação de contas O ‘prestar contas da gestão’ pode ser feito de diversas formas: via tribunais de contas, via auditorias internas ou externas, via demandas judiciais. Mas, em geral, esses meios de prestação de contas não chegam ao público comum, ou se chegam, é por meio de linguagem técnica e de difícil compreensão. Pode, até, ser considerado prestação de contas do ponto de vista formal e legal, mas podemos considerar apenas esses meios um verdadeiro ‘prestar contas’ ao cidadão? É nesse contexto que a transparência na gestão dos recursos públicos pode fazer a diferença. Como mencionamos na Unidade 1.1, o princípio da transparência pressupõe publicidade e linguagem de fácil compreensão. Tratando-se de recursos públicos, portanto da vertente financeira da Administração, o uso da linguagem adequada se faz mais premente. Assim, podemos dizer que a gestão dos recursos públicos pode ser considerada transparente se ela mostra aos contribuintes, de forma clara e acessível, o que o gestor fez ou planeja fazer com o patrimônio público administrado por ele. O assunto foi esmiuçado na Lei de Responsabilidade Fiscal que, inspirada na Constituição, trata de diversos aspectos das finanças públicas e dedica um capítulo especial à transparência, controle e fiscalização da gestão fiscal. O enfoque, aqui, é na transparência dos gastos públicos. A LRF estabelece, inclusive, a periodicidade com que a Administração Pública deve divulgar seus relatórios contábeis. A LAI, por sua vez, explicita claramente no seu artigo 8º a necessidade de usar linguagem clara e o dever que recai aos gestores públicos de dar transparência às despesas, repasses, transferências e responsabilidades assumidas por meio de contratos e licitações. Para saber mais O objetivo do presente curso não é se aprofundar em questões orçamentárias, mas verifica-se a ocorrência de um salto qualitativo na transparência no que diz respeito à tentativa de aproximar o linguajar técnico do cidadão comum. Talvez a principal ferramenta utilizada sejam os recursos didáticos usados pela Administração Pública e colocados à disposição de todos, principalmente via internet. 10 É o caso, por exemplo, da série Orçamento Fácil, produzida pelo Senado Federal e que tem o objetivo de explicar, em linguagem clara e simples, a importância do orçamento público e como ele é elaborado no Brasil. O material está disponível em https://www12.senado.leg.br/orcamentofacil. Além dessa iniciativa, o Instituto Legislativo Brasileiro disponibiliza outros cursos voltados à área orçamentaria acessíveis para o cidadão comum, como podemos ver em https://www12.senado.leg.br/institucional/escola-de-governo/cursos-on-line A Controladoria-Geral da União (CGU) também mantém várias iniciativas pedagógicas que visam suprir a natural dificuldade de entendimento do cidadão comum quando se depara com assuntos técnicos como aqueles relacionados a orçamento público. Vale a pena visitar, por exemplo, a página da CGU no Youtube: https://www.youtube.com/user/CGUoficial Unidade 1.4. Dados abertos Contextualização No século XIX, o médico John Snow fez uma descoberta que salvaria inúmeras vidas. Após cruzar dados sobre mortes por cólera com a localização de fontes d’água, ele descobriu uma correlação entre a poluição da água e as mortes por cólera em Londres. A cólera era causada pelo consumo de água contaminada com matérias fecais. Essa conclusão só foi possível graças a combinação de dados públicos – um dos objetivos da promoção dos dados abertos governamentais. Dados abertos governamentais são dados mantidos ou gerados pelo Estado e disponibilizados de forma bruta para a sociedade. Com eles é possível a criação de novos sites, sistemas, aplicativos, o cruzamento com outras informações. Principalmente, com dados abertos é possível a criação de outras interpretações e apresentações das informações disponíveis. A abrangência do conceito transparência pública vai bem além da mera exposição de informações para a população. Um conjunto de informações técnicas reunidas nem sempre comunica algo claro para o cidadão. Em alguns casos, os portais de transparência ainda apresentam relatórios e consultas mais aprofundados buscando facilitar a compreensão da informação. Mas na maioria dos casos, a transparência se restringe à publicidade com dados públicos meramente expostos ao cidadão. Para evoluir esse quadro e aperfeiçoar a transparência pública, o conceito de dados abertos foi desenvolvido. Por meio dos dados abertos, cabe aos órgãos públicos fornecer dados em formatos que permitam sua manipulação para uso em aplicativos https://www12.senado.leg.br/orcamentofacil https://www12.senado.leg.br/institucional/escola-de-governo/cursos-on-line https://www.youtube.com/user/CGUoficial 11 diversos e ainda para o desenvolvimento de soluções tecnológicas que interpretem tais dados de forma livre. Eles devem estar acessíveis de forma indiscriminada, aos cidadãos, organizações, mídias e outros atores sociais. O Estado é um elemento fundamental nesse processo não só pela obrigação legal que tem de fornecer dados de interesse público, mas principalmente pela quantidade e qualidade das informações que possui. O desenvolvimento social, cívico e econômico de uma nação pode ser fomentado pela abertura dos dados que o estado possui. Entre as diversas vantagens existentes na ampliação da política de dados abertos, pode-se destacar as seguintes: Maior transparência e controle cívico do governo; Mais colaboração e participação social nas decisões públicas; Promoção da inovação tecnológica e social; Melhora na prestação, na eficiência e no impacto dos serviços públicos. Apenas a título de exemplo, vejamos o caso da segurança pública. Ao receber a solicitação de dados sobre violência em uma cidade, a administração pública pode apresentar a resposta de várias formas. Por um lado, vai estar atendendo a LAI se fornecer um Relatório Anual de Segurança Pública, em formato .PDF. Por outro, pode disponibilizar os próprios dados planilhados que fundamentaram a elaboração do relatório. Esse último caso atende oferece dados abertos para a livre utilização do cidadão. Por meio dos dados abertos é possível se avançar para além do conceito detransparência pública como direito. Oportuniza-se a reutilização, recombinação e ressignificação das informações públicas. Por meio dessa abordagem é possível promover não só a publicação dos dados públicos, mas ainda a colaboração entre diversos atores da sociedade, como universidades, empresas e hackers3 para o desenvolvimento de soluções sociais. Assim, apresentar informações de forma aberta é um recurso eficiente para aproximar o cidadão do Estado Para tanto, os dados devem ser disponibilizados de forma livre de restrições de copyright, patentes ou qualquer forma de controle. A Open Knowledge Internacional, organização sem fins lucrativos que promove conhecimento livre, define os dados abertos da seguinte forma: “qualquer pessoa pode livremente acessá-los, utilizá-los, modificá-los e compartilhá-los para qualquer finalidade, estando sujeito a, no máximo, a exigências que visem preservar sua proveniência e sua abertura.” Por meio dos dados abertos governamentais promove-se a inteligência coletiva. Cidadãos podem utilizar e reutilizar os dados para cruzamentos e análises que atendam suas necessidades específicas. É possível promover o controle cívico da atividade pública e ainda a participação social das decisões públicas. Do ponto de vista das organizações sociais, empresas de tecnologia, universidade e grupos hacker podem trabalhar os dados e criar novos aplicativos e 3 Em informática, hacker é um indivíduo que se dedica, com intensidade incomum, a conhecer e modificar os aspectos mais internos de dispositivos, programas e redes de computadores. Graças a esses conhecimentos, um hacker frequentemente consegue obter soluções e efeitos extraordinários, que extrapolam os limites do funcionamento "normal" dos sistemas como previstos pelos seus criadores; incluindo, por exemplo, contornar as barreiras que supostamente deveriam impedir o controle de certos sistemas e acesso a certos dados. https://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker https://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker 12 sistemas. Assim, é possível criar soluções tecnológicas para problemas sociais que o Estado não pode ou não consegue efetivamente produzir. Características Diversas características podem ser associadas aos dados abertos governamentais. A tabela a seguir especifica algumas dessas características para facilitar a distinção do que são dados públicos abertos e não abertos Característica Definição Disponibilidade e Acesso O dado precisa estar inteiramente disponível na internet e ser possível o download sem necessidade de cadastros. Reuso e Redistribuição Fornecido em condições que permitam a reutilização e a disponibilização para outros interessados. Como regra, significa dado sem copyright, patente, marcas registradas e sem restrição de uso. Participação Universal Sem limitações de uso por pessoas, grupos ou finalidade. Significa permitir por exemplo o uso comercial de dados públicos. Primários Apresentados como foram colhidos na fonte, sem tratamento e com a maior granularidade possível. Interoperabilidade Permitir um eficiente cruzamento de informações entre dados públicos de fontes diversas. Publicações em formatos e padrões diferentes não promovem a comunicação entre as informações. Os dados podem ser disponibilizados de maneiras diversas. Os documentos podem estar disponíveis para download ou para consulta em tempo real por meio de webservices e APIs. Sem aprofundarmos em detalhes técnicos, cabe destacar que por meio dos webservices e das APIs é possível automatizar o download dos dados abertos para que alimentem outros programas e sistemas em tempo real. Um exemplo de divulgação de dados em formato não aberto são os arquivos PDFs. Este formato é bastante útil para a burocracia interna dos órgãos governamentais por ser mais seguro e garantir a integridade da informação. Porém, como documento criado para ser somente leitura, eles não permitem a manipulação e reutilização da informação. Ainda, os arquivos PDFs não são “legíveis” pela computação que os compreende como meras imagens. São basicamente inúteis para a abertura de dados. Entre os diversos formatos utilizados para a abertura de dados, destaca-se o XML, o JSON, e o CSV. Importante destacar que mesmo os dados abertos governamentais devem levar em conta a privacidade da pessoa física e a segurança do Estado. Por isso, os dados divulgados não podem conter informações sobre indivíduos específicos. É possível, por 13 exemplo, a divulgação das notas de todos os alunos de escolas públicas de um estado, mas não é permitido que se possa identificar a nota de qualquer aluno em especial. Dados abertos no Brasil Antes do advento da Lei de Acesso à Informação, o Brasil já possuía diversos bancos de dados públicos divulgados na web como o IBGE, Datasus, IPEA, INEP. A Lei de Responsabilidade Fiscal já obrigava os governos a apresentar diversos dados financeiros e orçamentários para a população. Em alguns casos, esses dados eram apresentados em formatos abertos. Todavia, a obrigatoriedade da divulgação de informação pública em dados abertos somente foi incorporada pela legislação brasileira por meio da Lei de Acesso à Informação. O parágrafo terceiro do art. 8 traz a definição de dados abertos. “Art. 8o É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas. § 3o Os sítios de que trata o § 2o deverão, na forma de regulamento, atender, entre outros, aos seguintes requisitos: (...) II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações; III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina; IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação; (...)”. Após o advento da LAI, diversos órgãos públicos elaboraram e publicaram Planos de Dados Abertos, documentos que estabelecem o objetivo e o processo para aberturas de dados públicos. Após as inovações legislativas e a crescente disponibilização de dados, as soluções sociais desenvolvidas foram se multiplicando. Hoje, existem no Brasil incontáveis iniciativas de sucesso na utilização de dados públicos. Segue uma lista exemplificativa de sistemas e produtos baseados em dados abertos governamentais. Detector de Corrupção http://www.vigieaqui.com.br/detectordefichadepolitico O chamado Detector de Corrupção funciona com o auxílio da câmera do celular ou tablet: basta o usuário apontar a câmera para a face do candidato, esteja ele em um comercial de TV, debate, santinho, cartaz, anúncio de jornal, ou qualquer outro meio, para saber mais informações do político. Monitora, Brasil! https://play.google.com/store/apps/details?id=com.gamfig.monitorabrasil&hl =pt O aplicativo Monitora, Brasil! é uma ferramenta que possibilita a qualquer pessoa pesquisar e monitorar o que os Deputados Federais e Senadores estão fazendo na Câmara dos Deputados e no Senado. É possível verificar a assiduidade, os projetos propostos, rankings, Twitter e outras informações. Os dados são extraídos do site da Câmara dos Deputados, Senado Federal, TSE e Transparência Brasil. http://www.vigieaqui.com.br/detectordefichadepolitico https://play.google.com/store/apps/details?id=com.gamfig.monitorabrasil&hl=pt https://play.google.com/store/apps/details?id=com.gamfig.monitorabrasil&hl=pt 14 Siga seu vereador http://www.vereadores.org/ O site tem como objetivo criar uma plataforma de linha do tempo com as ações realizadas pelos atuais vereadores, sendo possível que os usuários sigam os vereadores selecionados.Foi campeão da Maratona de Programação Hackaton da Câmara municipal de São Paulo. Votenaweb http://www.votenaweb.com.br/ Site de engajamento cívico apartidário que apresenta, de forma simples e resumida, os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Qualquer pessoa pode votar contra ou a favor das propostas e dar a sua opinião. A administração do site fica encarregada de levar ao Congresso os resultados dessa participação popular. Além dos dados abertos Atualmente, novas abordagens sobre transparência ativa ultrapassam a mera disponibilização de dados abertos governamentais. Diversos governos, inclusive alguns brasileiros, vem organizando eventos de promoção da utilização prática desses conjuntos de dados abertos. Assim, além de divulgar os bancos de dados, a sociedade é incentivada a utilizar essas informações para gerar soluções reais de impacto social. Entre os eventos promovidos, destacam-se os Hackathon, Hackdays, Demodays e Pitchday. Na maioria dos casos, os desenvolvedores têm um prazo para desenvolver soluções tecnológicas com base nos dados abertos disponibilizados pelo órgão organizador. Os projetos vencedores recebem prêmios e são disponibilizados para a utilização do governo ou da sociedade. Na competição americana Apps for Democracy, em 2008, foram desenvolvidos 47 aplicativos para web, iPhone e outras plataformas. O evento teve um custo de 50 mil dólares para o governo e gerou um valor estimado em mais de 2,6 milhões de dólares para economia local. http://www.vereadores.org/ http://www.votenaweb.com.br/ 15 Módulo 2. TRANSPARÊNCIA NO PODER LEGISLATIVO Ao concluir esse módulo você estará apto a: determinar a organização e as funções do Poder Legislativo, descrever as competências do Congresso Nacional Brasileiro, descrever a transparência durante a tramitação do processo legislativo, e expor como é promovida a transparência no Senado Federal e os mecanismos utilizados. Unidade 2.1. O Poder Legislativo Contextualização Para tratar de transparência pública é fundamental falar sobre o papel pioneiro e fundamental do Poder Legislativo no controle e na avaliação da utilização dos recursos públicos. É necessária, portanto, uma breve revisão sobre a instituição parlamentar para compreendermos a dimensão histórica da transparência pública. A própria origem do Poder Legislativo se confunde com a busca por transparência. O primeiro parlamento ocidental foi inaugurado na Inglaterra, em 1215. A nobreza buscava então descentralizar o poder do Rei João Sem-Terra e para tanto lhe impuseram uma espécie de constituição, a Magna Carta. Entre outros mandamentos, o texto estabelecia a necessidade de aprovação de novos impostos por meio de um conselho de cidadãos convocados de diversos setores da sociedade. Todavia, em pleno absolutismo monárquico, essa primeira proposta de parlamento não funcionou a contento. Posteriormente, ainda na Inglaterra, a Revolução Gloriosa tratou de estabelecer uma Monarquia Constitucionalista realmente parlamentar. Divisão Clássica de Poderes A necessidade de um Poder Legislativo pressupõe a existência de poderes estatais. No regime monárquico, a criação de leis, o julgamento de crimes e a administração dos assuntos governamentais são encarregadas à figura do rei, ou da rainha. Porém essa centralização absoluta vinha apresentava contradições internas e oponentes externos encontrando no iluminismo um importante vetor contrário. Movimento cultural europeu desenvolvido nos séculos XVII e XVIII, o iluminismo defendia liberdade política e econômica, especialmente para a burguesia. O movimento criticava diretamente o absolutismo e os privilégios da nobreza e do clero colocando o próprio sistema monárquico no centro da discussão. Foi o Barão de La Brède e de Montesquieu, filosofo iluminista, quem propôs o desmembramento das funções, ou poderes, da monarquia. Seu famoso livro, Do Espírito das Leis, publicado em 1748 é considerado um divisor de águas no pensamento político ocidental. Apesar de hoje parecer óbvio, a ideia de desconcentrar os poderes legislativos, judiciais e executivos não era majoritária na época e era naturalmente hostilizada pelas nobres famílias que monopolizavam os poderes se revezando nas monarquias europeias. Alguns anos após a publicação do livro de Montesquieu, a Revolução Francesa abalou o continente europeu e levou os princípios da igualdade e da liberdade às 16 últimas consequências. O monarquismo foi deposto na França e em outros países europeus de forma abrupta e violenta. Mesmo considerando que após a derrota de Napoleão Bonaparte diversos reis tenham voltado aos seus tronos, o pensamento político havia sido modificado de forma irreversível. A ideia de divisão de poderes e de um Parlamento para o exercício do poder legislador e fiscalizador retornou com vigor e permanência no velho continente e de lá espalhou-se para o resto do mundo. Hoje o Poder Legislativo é tido como figura central nos sistemas democráticos. A existência de eleições livres e justas para o parlamento e o pleno exercício dos mandatos eletivos são considerados elementos definidores das democracias. Apesar do nome, o Poder Legislativo possui outras funções além de propor alterar e aprovar legislações. Para nosso estudo em especial, é fundamental tratar das funções fiscalizatórias do parlamento. Ainda, os deputados e senadores têm a atribuição não menos importante de aprovar ou rejeitar nomes para cargos públicos indicados pelo Poder Executivo, outra forma de fiscalização. Função Definição Exemplo Função legislativa Elaborar, alterar, aprovar ou rejeitar proposições legislativas. Parlamentares também têm o direito de moções, indicações e requerimentos. Proposta de emenda à Constituição Federal; Rejeição do veto do governador. Função fiscalizatória Fiscalizar os atos e as contas dos chefes das autoridades do respectivo poder executivo (prefeito, governador e secretários, presidente e ministros). Comissão Parlamentar de Inquérito; Requerimento de informações sobre programa de governo. Função julgadora Processar e julgar autoridades do poder executivo quando denunciados por crimes de responsabilidade. A sanção nesses casos pode ser a perda do mandato e a suspensão dos direitos políticos. Processamento e julgamento de impeachment. Os poderes na organização política brasileira A organização política do Brasil adota o método da divisão de poderes, onde cada poder tem funções distintas, porém, complementares e harmônicas nas três esferas de poder (federal, estadual e municipal). 17 Ao Poder Executivo cabe a função de ouvir e atender às necessidades da população de acordo com a Constituição Federal, ou seja, governar e administrar os interesses públicos em conformidade com a Lei. Na esfera federal, a liderança é representada pelo Presidente da República, o governador em nível estadual e o prefeito em nível municipal. Ao Poder Judiciário cabe aplicar a lei conforme a Constituição, como garantidor dos direitos individuais, coletivos e sociais, e julgar conflitos entre cidadãos, instituições e Estado. Entre os órgãos que compõem o Poder Judiciário, temos o Supremo Tribunal Federal (STF), como órgão máximo; Superior Tribunal de Justiça (STJ); Tribunais Regionais Federais (TRF); Tribunais e Juízes do Trabalho, Eleitorais, Militares, dos estados e do Distrito Federal e Territórios. O Poder Legislativo é tratado no Título IV, Capítulo I, do Artigo 44 ao 75 da Constituição Federal. A Carta Magna dispõe que o Poder Legislativo é composto pelo Congresso Nacional que corresponde ao Senado Federal e a Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e as câmaras municipais. Assim, o Poder Legislativo atua nas três esferas da Federação, federal, estadual e municipal. Comovisto, o parlamento tem como principais funções formular leis e promover a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta. Para tanto, o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas contam com os tribunais de contas. Seus membros são chamados de parlamentares de forma ampla. São sempre eleitos e tem mandatos de 4 anos, ou 8 anos no caso dos senadores. A organização do poder legislativo nacional se dá da seguinte forma: Nível municipal: Câmaras Municipais. Com sede nos municípios, são constituídas pelos vereadores. São encarregadas de fiscalizar o Poder Executivo em mesma esfera (prefeitos e secretários municipais), controlar, fiscalizar e cobrar a prestação dos serviços públicos e políticas públicas, apresentar projetos de lei municipais de interesse da comunidade e votar projetos de lei apresentados pelo executivo, votar a Prestação de Contas Anuais do prefeito municipal, atender ao público, na recepção de demandas da sociedade, estabelecer tributos municipais e autorizar concessões de serviços públicos. Nível estadual e distrital: Assembleias Legislativas e Câmara Legislativa. Com sede nos estados e no Distrito Federal, integradas pelos deputados estaduais e distritais, tratam sobre impostos e taxas, com a aprovação do governador, sobre a criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, dar posse ao governador e ao vice-governador, autorizar empréstimos ao executivo estadual, receber denúncias e promover processo em caso de crime de responsabilidade do governador do estado; Nível nacional: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Com sede em Brasília, formados pelos Deputados Federais, com 4 anos de mandato eleitos pelo sistema proporcional, e Senadores, com 8 anos de mandato eleitos pelo sistema majoritário. Serão tratados em detalhes a seguir. O Congresso Nacional Brasileiro De acordo com a Constituição Federal de 1988, cabe ao Congresso Nacional, com a sansão do Presidente da República, dispor sobre aspectos de competência da União como sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas, plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual e convocar plebiscitos. A elaboraração e a 18 aprovação de leis dependente da aprovação nas duas casas, onde uma inicia e a outra casa revisa, sendo possível as duas casas iniciar e revisar projetos de lei. Na Câmara dos Deputados, os deputados estaduais representam o povo e são eleitos pelo sistema proporcional. Atualmente, somam 513 no país, onde cada estado possui de 8 a 70 representantes, proporcional ao número de habitantes. É de competência da Câmara dos Deputados, conforme o art. 51 da Constituição: “I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; III - elaborar seu regimento interno; IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços e fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.” No Senado Federal, os senadores representam os estados e o Distrito Federal, por meio de eleições em sistema majoritário. Com um total de 81 integrantes, onde há 3 representantes para cada Unidade Federativa, e independe do tamanho da população, pressupondo um sistema igualitário. Entre outras atribuições, disponíveis no art. 52 da Constituição Federal, compete ao Senado Federal: “I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade e os Ministros de Estado nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; [...] VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo poder público federal; [...] XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato; [...] Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”. 19 Nas atividades de controle e fiscalização externa, o Congresso Nacioanl conta com o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU). Esse órgão é integrado por nove Ministros, sendo escolhidos pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, e pelo Congresso Nacional. O TCU é sediado no Distrito Federal e tem jurisdição em todo o território nacional. Unidade 2.2. Transparência no Processo Legislativo Como visto, cabe ao Poder Legislativo o importante papel de fiscalizar os demais poderes e promover transparência pública. Essa tarefa não exclui, entretanto, o próprio Poder Legislativo como objeto de fiscalização. Todos os poderes devem atentar aos princípios da administração pública, entre eles, o da publicidade e o da transparência. Por isso, nesta unidade vamos estudar como os parlamentares vem implementando a transparência no que concerne às suas atividades administrativas e principalmente, na sua mais conhecida atividade fim: legislar. O processo legislativo pode ser definido como o conjunto de procedimentos necessários para a proposição, alteração, aprovação ou rejeição de leis, decretos, emendas, entre outras proposições legislativas. Trata basicamente de definições, prazos, formalidades e autoridades autorizadas a participar da modificação do ordenamento jurídico nacional. Existem vários procedimentos legislativos específicos que estão regulados na Constituição Federal, nos arts. 59 a 69, nos regimentos internos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. O mesmo se aplica, respectivamente, aos estados, Distrito Federal e municípios com suas constituições, leis orgânicas e regimentos internos. Portanto, as regras estão estabelecidas em documentos públicos e acessíveis para conhecimento amplo da sociedade. Todavia, os termos legislativos, jurídicos e técnicos utilizados no processo de produção de leis não são de domínio da maioria da população. Por isso o tema da transparência do processo legislativo se torna tão importante: é preciso viabilizar o entendimento do que acontece dentro dos parlamentos para qualquer cidadão ou grupo interessado. As regras do processo legislativo são fundamentais para a democracia. Imagine torcer para um time de futebol sem entender as regras do jogo? Por meio das regras do processo legislativo, a sociedade pode acompanhar o andamento dos trabalhos, saber o que pode ou não ser feito e ainda verificar se os prazos e formalidades estão sendo respeitados. Assim, torcer e pressionar para a aprovação ou rejeição de um projeto de lei fica muito mais fácil e efetivo. Não só os cidadãos, de forma individualizada, têm interesse no processo legislativo. É preciso facilitar a compreensão dos procedimentos e resultados para que a imprensa, os grupos representativos(como ONGs e sindicatos), empresas, entre outros consigam entender e se atualizar sobre os projetos do seu interesse. Nessa medida, a transparência legislativa é condição necessária para o regular funcionamento da democracia e para a efetivação da representação parlamentar. As proposições legislativas abrangem diversas normas além das mais famosas leis ordinárias. Conforme o art. 59 da Constituição Federal, são proposições legislativas: as emendas à Constituição; as leis complementares; 20 as leis ordinárias; as leis delegadas; as medidas provisórias; os decretos legislativos; e as resoluções. Cada espécie de proposição possui regras e trâmites específicos. Na presente unidade trataremos apenas da transparência geral do processo, sem adentrar em especificidades de cada proposição. Tramitação no Senado Federal As proposições legislativas que tramitam no Senado Federal dispõem de diversos mecanismos para sua plena divulgação. Vamos tratar agora dos mecanismos de pesquisa e de visualização da situação e do histórico dessas matérias legislativas. O mecanismo de pesquisa de tramitação do Senado Federal é bastante amplo. Na página “Atividade Legislativa” é possível fazer tanto a pesquisa simples como a pesquisa avançada. Por meio da primeira, é disponibilizada as seguintes opções: Para que a pesquisa seja realizada basta preencher apenas um dos campos de informação. Assim, caso queira saber sobre todas as PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em tramitação na casa, basta escolher “PEC” no campo “Tipo de Matéria” e clicar em buscar. A pesquisa pode ser refinada pelas informações “Ano” e “Número”. Pela “Paravra-chave”, é possível buscar, por exemplo, todos os projetos em tramitação no Senado Federal relacionados ao tema “Saúde”. Ainda na mesma página, ao clicar em “Projetos e Matérias” é possível realizar pesquisas avançadas. É apresentada as seguintes opções de busca: É possível, portanto, fazer as seguintes pesquisas aprofundadas: Pesquisa rápida utilizando “atalhos” como ementa, apelido, tramitação, descrição dos arquivos anexados, etc; 21 Pesquisa nos textos dos documentos anexados à matéria (incluindo o texto inicial, emendas, relatórios, etc.); Pesquisas prontas como “Novas matérias apresentadas no Senado”; Após encontrar o resultado da pesquisa, o Portal do Senado Federal informa o andamento atualizado de todas as proposições. Vamos ver por exemplo a situação4 da PEC 8/2016 (Proposta de Emenda à Constituição nº 8, de 2016). Verifica-se que as informações atualizadas da tramitação estão disponíveis na internet. Mas sua compreensão pode ser limitada pela existência de termos técnicos próprios do processo legislativo. O que significa, por exemplo, estar incluída em “Ordem do Dia”? Significa que foi “aprovada, “arquivada” ou nenhum dos dois? Vejamos outra forma de visualização da matéria, por meio do seu histórico: Nesse caso, vemos que é apresentado o andamento de todo o projeto no formato de um extrato. Esse detalhamento atende às normas de transparência. Todavia, é possível verificar novamente a existência de muitos termos técnicos que não são de conhecimento amplo. O que significa “deliberação”? E “publicado no DSF”? 4 Em 21/03/2019. 22 Importante destacar que a terminologia utilizada não é mera burocracia ou banalidade. Serve para garantir a uniformidade e a formalidade do processo. Mas como veremos a seguir, há formas de facilitar sua compreensão ao cidadão. Ainda que o cidadão conhecece as siglas e terminologias utlizadas, como faria para participar do processo legislativo? Se ele for contrario ao projeto pesquisado, como pressionar o deputado eleito para rejeita-lo? Efetuar ligações ou mandar e-mais seriam a melhor forma para isso? Pensando nisso, novas formas de apresentação das informações legislativas estão sendo implementadas para ampliar o conhecimento e a participação no processo legislativo. Além disso, o Congresso Nacional vem desenvolvendo soluções que vão além da publicação da tramitação. Novas ferramentas desenvolvidas pelas Casas Legislativas permitem que o cidadão não só se informe, mas que participe do processo legislativo e que cobre dos parlamentares determinadas ações. Experiências do Senado Federal Vamos conhecer agora algumas das iniciativas do Congresso Nacional para ampliar a transparência pública no processo legislativo. Simplificou O “Simplificou” é uma iniciativa conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados para facilitar o acompanhamento dos processos legislativos. Até 2018, as proposições legislativas tinham identificações diferentes na Câmara e no Senado. Com o “Simplificou”, as matérias passaram a receber identificação contínua, ou seja, o número recebido originalmente em uma Casa será mantido na outra. Ainda, as duas Casas passaram a adotar as mesmas siglas e numerações para proposições ao longo de toda a tramitação. Painel Legislativo O Painel Legislativo apresenta em formato gráfico o resumo dos trabalhos do Senado Federal e do Congresso Nacional. Com ele, é possível conferir o total de projetos aprovados e rejeitados por espécie legislativa, ano, mês, legislatura, autoria e assunto a partir de uma mesma tela. O mesmo detalhamento é também apresentado para a consulta sobre sessões legislativas e indicações. É possível conferir em detalhes cada proposição apreciada no período selecionado. e-Cidadania Talvez a plataforma mais conhecida de participação no processo legislativo, o e-Cidadania possui diversas funcionalidades para aproximar o cidadão dos trabalhos do Senado. Por meio do site e possível enviar e apoiar ideias legislativas, que são sugestões de alteração na legislação vigente ou de criação de novas leis. As ideias que recebem 20 mil apoios são encaminhadas para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). Além disso, a plataforma permite a participação em eventos legislativos como audiências públicas e sabatinas e ainda opinar sobre proposições legislativas em tramitação na Casa. Dados abertos A importância dos dados abertos para a transparência pública já foi explorada nesse curso. Para implementar esse importante avanço, o Poder Legislativo Federal disponibiliza páginas específicas contendo diversas informações de interesse público. Na página de dados abertos do Senado Federal, por exemplo, é possível fazer https://www25.senado.leg.br/web/atividade/simplificou http://bit.ly/2OfQS9j https://www12.senado.leg.br/ecidadania https://www12.senado.leg.br/dados-abertos 23 download de planilhas em formato aberto com dados da cota para exercícios de atividade parlamentar e outros recursos recebidos pelos senadores. Experiências da Câmara dos Deputados Labhacker Criado em 2013, o LabHacker é um laboratório de inovação colaborativa dentro da Câmara dos Deputados. Busca fomentar a cultura da transparência e da participação social por meio da gestão de dados públicos promovendo a ação conjunta de atores sociais, como parlamentares e hackers. O LabHacker promove atividades como maratonas hackers, hackdays além de oficinas de criação e discussão com especialistas, parlamentares, estudantes de universidades e escolas públicas, e até crianças interessadas em tecnologia. Possui vários projetos de participação no processo legislativo como a pauta participativa e as audiências interativas. Wikilegis Uma plataforma desenvolvida pelo LabHacker, o Wikilegis permite aos cidadãos a participação ativa na elaboração de projetos legislativos por meio de comentários, sugestões, apoios e rejeições, no todo ou em parte de um projeto de lei. O deputado relator do projeto tem acesso às contribuições e pode incluí-las no seu parecer. A ferramenta apresenta alguns casos de sucesso como o Código de Processo Civil, o Marco Civil da Internet,o Estatuto da Pessoa com Deficiência, e o Estatuto da Juventude. Milhares de cidadãos já participaram da ferramenta que, inclusive, foi ampliada para outra casa legislativa, a Câmara Legislativa do Distrito Federal. Dados Abertos Como no caso do Senado, o Portal da Câmara dos Deputados também apresenta diversos conjuntos de dados em formato aberto para download. É possível baixar, por exemplo, todo o histórico de tramitação de uma proposição e uma lista de todas as proposições em tramitação na Casa. Esse fomento ativo de dados possibilitou a criação de uma plataforma social de controle cívico, a Operação Serenata de Amor, que será estudado neste curso. Recomendações internacionais No âmbito internacional, existem algumas organizações não governamentais ligadas diretamente ao tema transparência, como por exemplo, a Open Society Foundation e a Transparência Internacional. No entanto, em se tratando da transparência no Poder Legislativo, uma entidade em especial merece destaque, é a União Interparlamentar (Inter-Parliamentary Union-IPU). Como o próprio nome sugere, essa instituição, criada em 1889 e contando com a participação de 178 países, trabalha para fortalecer os parlamentos nacionais e a democracia no mundo. Para atender essa missão, o IPU publicou em 2009 um guia para sítios na internet de parlamentos. O documento apresenta seis capítulos detalhando recursos considerados importantes para se disponibilizar na web, quando o assunto é o Poder Legislativo. Ele está disponível para download gratuito no site https://www.ipu.org/resources/publications/reference/2016-07/guidelines- parliamentary-websites-new-edition. Em que pese o fato de que nossa legislação, por meio da Lei de Acesso à Informação unida com a Constituição Federal de 1988, permite inferir que todas as http://labhackercd.leg.br/ https://edemocracia.camara.leg.br/pautaparticipativa/pauta/1 https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/5 https://edemocracia.camara.leg.br/wikilegis https://dadosabertos.camara.leg.br/ https://www.ipu.org/resources/publications/reference/2016-07/guidelines-parliamentary-websites-new-edition https://www.ipu.org/resources/publications/reference/2016-07/guidelines-parliamentary-websites-new-edition 24 atividades típicas do legislativo devem ser disponibilizadas para livre consulta da população, o guia explicita de forma clara os principais tópicos que merecem atenção dos dirigentes das casas legislativas. Os seis pontos levantados como essenciais na divulgação dos parlamentos, que devem estar ‘obrigatoriamente’ disponíveis para consultas, são os seguintes: 1. Informações gerais sobre o parlamento, como sua história, seu papel, composição, publicações, etc. 2. Informações sobre as atividades fins do parlamentos de legislar, fiscalizar e revisar o orçamento público proposto. 3. Recursos e ferramentas de busca, notificações e visualização das informações. 4. Recursos de comunicação e diálogo com os cidadãos. 5. Usabilidade, acessibilidade e linguagem adequada no sítio. Usabilidade se refere à facilidade de navegar no sítio. Acessibilidade se refere à disponibilização de ferramentas auxiliares para o uso de cidadãos com necessidades especiais. Já a linguagem adequada é aquela de fácil entendimento, que não se fecha no uso excessivo de termos técnico. 6. Suporte político para que os responsáveis pelo gerenciamento do sítio tenham a autonomia e o apoio gerencial necessário para manter a página do parlamento na internet de acordo com as recomendações de melhores práticas de transparência. Unidade 2.3. A transparência no Senado Federal O Senado Federal vem desenvolvendo soluções para promover a transparência não só por meio de legislações aprovadas, mas também por meio da sua própria administração interna. Além do programa de dados abertos, já mencionado no curso, podemos destacar os serviços oferecidos pela Secretaria de Transparência do Senado, em especial, o Portal da Transparência. Na oportunidade, falaremos também sobre o Conselho de Transparência e Controle Social, a Ouvidoria e o Serviço de Informação ao Cidadão (SICLAI). A Secretaria de Transparência Em 2013, o Senado Federal instituiu a Secretaria de Transparência do Senado Federal (STRANS), órgão dedicado à promoção da transparência ativa. Sua criação foi inovadora por ir além do previsto na Lei de Acesso à Informação, que estabeleceu a instituição do serviço de informação ao cidadão (SIC), órgão especializado na transparência passiva. A STRANS atua em ambas formas de transparência. Por meio da transparência ativa, é o órgão responsável pela gestão do Portal da Transparência do Senado Federal garantindo a periodicidade e a sistematização das informações e a disponibilização em tempo real dos dados produzidos necessários para que a sociedade avalie o desempenho das atividades da Casa. Agindo pela transparência passiva, a STRANS responde a pedidos de acesso à informação relativos à transparência administrativa do Senado. 25 Além dessas atribuições, a STRANS ainda abriga dois importantes órgãos da Casa: o Datasenado e o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV). O Instituto Datasenado foi criado em 2005 com a missão de acompanhar, por meio de pesquisas, enquetes e análises, a opinião pública brasileira sobre o Senado Federal, a atuação parlamentar e temas em discussão no Congresso Nacional. O OMV, criado em 2016, atua em favor da transparência de dados que subsidiem o monitoramento e a avaliação do problema e das políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência contra a mulher. A Secretaria tem ainda a competência de convocar o Conselho de Transparência do Senado Federal que congrega autoridades do Senado e representantes da sociedade civil reconhecidos pelo conhecimento na transparência de dados e empenhados na promoção da política de transparência e controle social no Parlamento. O Conselho será estudado em detalhes a seguir. O Portal da Transparência do Senado Federal O Portal da Transparência do Senado Federal é um repositório online com o objetivo de promover a transparência pública ativa por meio da disponibilização de todas as informações públicas exigidas pela legislação e ainda mais. O Portal também abriga os dados abertos do Senado Federal e o Índice de Transparência do Poder Legislativo. Anteriormente a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, o Senado Federal já divulgava em seu site diversas informações de interesse público. Todavia, com o advento da nova legislação, foi necessária uma maior adequação. Assim, em maio de 2013, novas informações foram disponibilizadas e o portal foi modernizado para possibilitar o acesso às informações do Senado em até três cliques. A ideia era melhorar as informações para tornar a navegação mais fácil, eficiente e funcional. O Portal abriga grande acervo de informações de interesse público agrupadas em 6 grandes conjuntos: Senadores, Gestão e Governança, Licitações e Contratos, Gestão de Pessoas, Orçamento e Finanças e Dados Abertos. Apenas a título de exemplo, vejamos algumas informações que estão acessíveis nas páginas do Portal: Remuneração e subsídios de todos os servidores e senadores; Gastos com viagens e diárias de todos os servidores e senadores; Relação completa das licitações e outros processos de compras públicas promovidos pelo Senado; Imóveis funcionais e auxílio-moradia dos senadores; Informações sobre o consumo de materiais, por órgão do Senado Federal, com quantitativo e valor; Informações sobre os bens patrimoniais, por órgão do Senado Federal, com descrição e quantitativo; Informações sobre todos os contratos firmados pelo Senado Federal, organizados em vigentes e encerrados, com a possibilidade de busca pela empresa contratada, pelo objeto do contrato, pelos contratos de mão de obra e ainda, por diferentes espéciesde contrato; Estimativa de servidores que implementaram ou implementarão as condições para aposentadoria voluntária com paridade ou que serão aposentados compulsoriamente; Informações sobre colaboradores terceirizados, estagiários e menores aprendizes que prestam serviço no Senado Federal; Informações sobre as despesas diárias do Senado Federal, organizadas por elemento e pela fase da despesa. 26 Para facilitar ainda mais a pesquisa de informações, é disponibilizado no Portal uma lista de perguntas frequentes que abrange cada passo para o acesso a todos os documentos presentes no site. O Portal ainda possui área reservada para divulgar a evolução da economia nos gastos do Senado. O Portal vem apresentando bons resultados. De maio de 2013 a outubro de 2016, foram registrados mais de 7 milhões de acessos. Em 2015, as organizações Fundação Getúlio Vargas e a ONG Artigo 19 avaliaram a transparência do Senado e a nota alcançada foi a máxima dentre os órgãos do Poder Legislativo pesquisados. Já o Índice de Transparência do Poder Legislativo, auto aplicado pelo Senado Federal ao Portal em 2018, alcançou a nota 0,8374, que está no nível A de transparência. O Conselho de Transparência e Controle Social Decorrência direta da Lei de Acesso à Informação, o Conselho de Transparência e Controle Social (CTCS) foi criado em 2013 como órgão consultivo da Presidência do Senado e da Comissão Diretora. O Conselho reúne autoridades do Senado Federal e representantes da sociedade civil especialistas no tema. Entre suas competências estão: debater e propor ações que disseminem o acesso à informação pública e o conhecimento da Lei nº 12.527, de 2011, estimulando a cultura de transparência e controle social no Brasil; analisar relatórios qualitativos e quantitativos de atendimento de solicitações de acesso à informação requeridas com base na Lei nº 12.527, de 2011, podendo solicitar processos específicos para exame; nortear a formulação da Política de Transparência e Controle Social sobre os atos do Senado Federal e sugerir projetos e ações prioritárias acerca desses temas, encaminhando suas propostas e deliberações à Presidência do Senado Federal; propor parâmetros de transparência observáveis pelo Senado Federal, servindo como ferramenta de gestão e como prestação de contas à sociedade do nível de transparência do Senado Federal; formular estudos e pareceres técnicos no âmbito de sua competência, encaminhando esses documentos à Presidência do Senado Federal; promover parcerias, integração e compartilhamento de esforços com outros órgãos do Estado que busquem os mesmos objetivos; opinar sobre matérias, no âmbito de sua competência, que lhe sejam submetidas pelo Presidente do Senado. Compõe atualmente o CTCS a ONG Transparência Brasil, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Secretaria de Gestão da Informação e Documentação (SGIDOC), a Secretaria de Comunicação Social (SECOM), Coordenação de Relacionamento com o Cidadão (CORCID) e Secretaria de Transparência (STRANS), cuja Diretora preside os trabalhos. Entre os resultados da atuação do Conselho está a criação do Índice de Transparência do Poder Legislativo, que será estudado mais à frente no curso. Ouvidoria e Serviço de Informação ao Cidadão O Senado Federal possui outros serviços externos à Secretaria de Transparência, que complementam o ciclo completo de transparência pública. Podemos destacar a Ouvidoria e o Serviço de Informação ao Cidadão (SICLAI). A Ouvidoria do Senado Federal busca garantir a comunicação entre a Casa e o público externo, cidadãos ou organizações. É um serviço de participação e colaboração onde os cidadãos podem apresentar sugestões, dúvidas, elogios, reclamações, críticas http://www12.senado.leg.br/perguntas-frequentes 27 e outras manifestações livres. Podem, é claro, encaminhar mensagens para senadores, partidos, comissões e outros órgãos da Casa. Após avaliação, as manifestações são endereçadas para os setores responsáveis no Senado Federal, inclusive para os gabinetes dos senadores. Sempre que solicitada, a resposta ao solicitante é encaminhada por e-mail. Importante destacar que a Ouvidoria não é mecanismo de transparência passiva. É na verdade canal de comunicação e participação social, atendendo à própria missão do Senado Federal enquanto órgão de representação social e corolário da democracia brasileira. Por meio dela, o cidadão pode, por exemplo, criticar a votação de determinado parlamenter e solicitar explicações. Para garantir a maior participação social possível, o Senado Federal disponibiliza vários meios de comunicação direta. Existe o “Alô Senado” serviço de telefonia operado por atendentes dentro do Senado Federal, do tipo 0800, sem custo para o cidadão. Ainda é possível o envio de cartas, e-mails e ligação direta para a Ouvidoria. Confira aqui os diversos canais de comunicação com o Senado Federal. O Serviço de Informação ao Cidadão (SICLAI) possui mecanismos semelhantes a Ouvidoria, mas sua função é diversa. Por meio de formulário na página do SIC, é possível encaminhar pedidos de acesso à informação ao Senado Federal. O serviço foi criado especificamente para efetivar a transparência passiva na Casa em cumprimento aos Arts. 9º e 10 da Lei de Acesso à Informação. Vejamos o que diz a legislação: “Art. 9o O acesso a informações públicas será assegurado mediante: I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos órgãos e entidades do poder público, em local com condições apropriadas para: a) atender e orientar o público quanto ao acesso a informações; b) informar sobre a tramitação de documentos nas suas respectivas unidades; c) protocolizar documentos e requerimentos de acesso a informações; e II - realização de audiências ou consultas públicas, incentivo à participação popular ou a outras formas de divulgação. art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1o desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do requerente e a especificação da informação requerida. § 1o Para o acesso a informações de interesse público, a identificação do requerente não pode conter exigências que inviabilizem a solicitação. § 2o Os órgãos e entidades do poder público devem viabilizar alternativa de encaminhamento de pedidos de acesso por meio de seus sítios oficiais na internet. § 3o São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da solicitação de informações de interesse público”. (Grifos nossos) Para cumprir o disposto na legislação, o Serviço de Informação ao Cidadão foi criado em 2013 por meio do Ato da Comissão Diretora nº 14/2013. Entre suas diversas atribuições, estão: atender e orientar o cidadão a respeito dos pedidos de informação, preparar relatórios de atendimento ao cidadão, prestar assessoria à Comissão Permanente de acesso a Dados, Informações e Documentos do Senado Federal e colaborar no fomento da cultura de acesso à informação. Além do formulário online para pedidos de acesso à informação, o SICLAI também presta atendimento presencial no Senado Federal. Ainda, para facilitar manifestação do cidadão, os pedidos de informação encaminhados por meio da Ouvidoria são direcionados ao SICLAI, e não descartados. https://www12.senado.leg.br/institucional/ouvidoria https://www12.senado.leg.br/transparencia/formtransparencia https://www12.senado.leg.br/transparencia/lai/canais-de-atendimento 28 O Relatório Mensal de Atendimentos da Lei de Acesso à Informação mais recente5, informa que dos 98 pedidos recebidos no mês de fevereiro de 2019, 42% foram respondidos em até um dia, e apenas 3% não foram respondidos dentro de 20 dias. O relatório ainda informa que a maioria dos pedidos foi sobre atividade legislativa (35,7%) seguido por pedidos de informação
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