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Cinesiologia e Biomecânica Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP G626c Golias, Andrey Rogério Campos Cinesiologia e biomecânica / Andrey Rogério Campos Golias. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 118 p.: il. Color. 1. Cinesiologia. 2. Biomecânica. 3. Mecânica humana. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 612.76 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias ● Graduação em Fisioterapia pela UEL (Universidade Estadual de Londrina). ● Especialista em Acupuntura pelo Coffito/EMOSP (Escola de Medicina Oriental de São Paulo). ● Especialista em Morfofisiologia aplicada a Reabilitação pela UNIMAR (Universidade de Marília). ● Mestre em Saúde Coletiva pela UERJ (Universidade do estado do Rio de Janeiro). ● Doutor em Saúde Coletiva pela UNESP (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho) ● Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Uningá. ● Docente do curso de Fisioterapia da UniFatecie. ● Professor de pós-graduação no Centro Universitário Uningá. ● Fisioterapeuta clínico na Clínica Equilíbrio, Paranavaí. ● Conselheiro do Crefito-8 Gestão 2019-2023. Possui ampla experiência como fisioterapeuta e docente na área, com ênfase em Ortopedia e Traumatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: terapia manual, treinamento proprioceptivo, cinesioterapia específica, coluna vertebral, fratura, joelho, patela, tornozelo e postura. Atualmente dedica-se também a área de Saúde Coletiva, espe- cialmente realizando análises de acidentes de trânsito, de motocicletas e de suas variáveis. Também apresenta interesse por pesquisas na área de amputações, suas causas e con- sequências. Foi membro de colegiados, Núcleo Docente Estruturante (NDE), orientador de monografias de conclusão de graduação e pós-graduação, revisor de algumas Revistas de suas áreas de atuação e Conselheiro do Crefito-8. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/6482027648783821 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), este é o início de uma grande jornada, visto que você se interessou pelo assunto desta disciplina. Venho propor junto com você construir nosso conhecimento sobre conceitos fundamentais da Cinesiologia e Biomecânica aplicada a Fi- sioterapia. Além destes fundamentos, vamos explorar as mais diversas aplicações clínicas destes nas ações do profissional da área em sua prática clínica. A Cinesiologia é uma ciência que tem como enfoque a análise do movimento huma- no, e forma na Fisioterapia base fundamental na sua atuação. Julgamos relevante que esta disciplina seja amplamente estudada e compreendida, pois forma base de compreensão sobre a ação humana, ou seja, o movimento. É exatamente por isso que ela se torna importante para o fisioterapeuta, visto que este é o profissional que maneja o movimento, avalia, trata, aborda, reeduca, cuida. Busca-se, através deste material, promover uma perspectiva crítica e elevada so- bre os conhecimentos, permitindo uso destes em diversas áreas, setores, organizações ou ações do profissional da Fisioterapia. Use-o de forma sistemática, especialmente como um instrumento para seu sucesso na carreira escolhida. Na Unidade I desta apostila, iremos iniciar compreensão da Cinesiologia e Bio- mecânica e seu uso na prática clínica. Conversaremos sobre as semelhanças entre estas duas áreas e sua intima relação, além de verificar que o estudo biomecânico forma base fundamental na ação terapêutica. Logo após, vamos discutir as variáveis mecânicas e terminologia usada nas ações terapêuticas. Logo após, na Unidade II iremos abordar o sistema articular e muscular do corpo humano, tecendo relações entre eles e a prática clínica do fisioterapeuta, além de propor estudo sobre a Biomecânica do membro superior e inferior, visto que são regiões de grande incidência de lesões e disfunções tratadas por este profissional. Buscamos desenvolver o raciocínio clínico fundamental na compreensão destas disfunções. Já na Unidade III iremos dar continuidade ao estudo da Biomecânica, agora es- pecificamente da coluna vertebral, buscando tanto conhecer seu embasamento quanto a relação deste com a ação terapêutica. Ainda nesta unidade buscaremos compreender uma parte da avaliação fisioterapêutica através dos testes musculares manuais e goniometria, fundamentos relevantes para a explicação das disfunções existentes nos indivíduos. E por último, na Unidade IV iremos dar continuidade com a abordagem de mais técnicas de avaliação do fisioterapeuta, agora falando sobre a postura e a marcha, outros dois importan- tes critérios a serem verificados em muitos dos pacientes que buscam este profissional. Além disso, buscaremos discutir análises cinesiológicas de atividades de vida diária. Desta forma, como já dito, esperamos que este material sirva como base na apli- cação destes conceitos na sua vida profissional diária. Convido você a entrar nesta jornada cheia de conhecimento comigo, de temas fundamentais para você. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Introdução da Cinesiologia e Biomecânica UNIDADE II ................................................................................................... 29 O Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior UNIDADE III .................................................................................................. 62 Biomecânica da Coluna Vertebral e Técnicas de Avaliação (Provas Manuais Musculares e Goniometria) UNIDADE IV .................................................................................................. 89 Técnicas de Avaliação (da Postura e da Marcha) e Análise Cinesiológica de Atividades Básicas da Vida Diária 4 Plano de Estudo: ● Introduçãoe histórico da Cinesiologia; ● O estudo cinesiológico/biomecânico; ● O uso de variáveis mecânicas nas ações terapêuticas; ● Terminologia em Biomecânica. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e fundamentar a Cinesiologia e Biomecânica para o fisioterapeuta; ● Compreender termos relevantes para a prática clínica diária deste profissional; ● Estabelecer relações entre a Cinesiologia e o uso de variáveis mecânicas nas ações terapêuticas. UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 5UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica INTRODUÇÃO Seja bem-vindo a primeira Unidade da disciplina de Cinesiologia e Biomecânica. Primeiramente, ela tem como foco proporcionar base para a sua completa compreensão e da sua fundamental importância para o fisioterapeuta atual. Ela foi organizada iniciando com breves conceitos e diferenciação entre Cinesiologia e Biomecânica, passando a dis- cutir logo após o estudo biomecânico e sua aplicabilidade, ou seja, o uso destas variáveis mecânicas nas ações terapêuticas. Discutiremos neste momento as forças da mecânica, as alavancas e o equilíbrio, o que vai permitir compreensão ampla do uso delas nas ações terapêuticas em geral, inde- pendentemente do tipo de paciente, de disfunção ou da unidade de saúde envolvida. E por fim, apresentaremos alguns termos comumente usados na vida profissional, que inclusive tem como base a Cinesiologia. Enfatizaremos também os movimentos articulares normais e foco do fisioterapeuta. Ao conhecê-los profundamente, aprofundaremos o conteúdo nas próximas disciplinas, como na cinesioterapia, Ortopedia, Neurologia e Pediatria, já que o objetivo principal do fisioterapeuta é sempre buscar o retorno do nível de função prévio aquela lesão ou disfunção de movimento. Estamos passando por uma fase de valorização excessiva das técnicas de tra- tamento em detrimento do embasamento, o que é prejudicial para a profissão. As redes sociais valorizam apenas a ação terapêutica, o uso de algum instrumento que promova aquele profissional, porém, para que o uso dele, independente de qual for, seja benéfico e eficiente para o paciente, é absolutamente necessário que o profissional o aplique pautado nas características biomecânicas dos movimentos em disfunção daquela pessoa, baseado na função e nas disfunções encontradas na avaliação fisioterapêutica. Assim, julgamos que este material se torne um subsídio valioso na facilitação da caminhada a ser percorrida por você para se tornar um fisioterapeuta de sucesso. Aproveite o conteúdo. 6UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 1. INTRODUÇÃO E HISTÓRICO DA CINESIOLOGIA A palavra Cinesiologia vem do grego: Kinein, que significa mover e Logos, que significa estudar. Desta forma, ela tem sido vista como uma área de estudo com objetivo de compreender os fundamentos do movimento humano a partir da criteriosa análise de suas estruturas anatômicas, mais ainda dos ossos e articulações. Os cinesiologistas/biomecâni- cos, aqueles pesquisadores da área, firmam embasamento na anatomia, ciência que estuda o corpo humano, juntamente com a fisiologia que estuda o funcionamento organizacional do corpo (LIPPERT, 2018). Como já vimos, a Cinesiologia é o estudo do movimento humano e tem sido estuda- da há muitos anos. Hoje, ela utiliza os resultados de séculos combinados com a tecnologia moderna para criar métodos de análise altamente sofisticados do movimento humano. Isto permite verificar e compreender inúmeras funções: como uma pessoa caminha, que músculos e articulações estão envolvidos na aterrisagem de um atleta de voleibol, no chute de um futebolista, no ato de levantar da cama, levantar um copo, quanto movimento é necessário em cada uma destas articulações para se executar um movimento eficiente, entre outras (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). O estudo da Cinesiologia clínica no cuidado em saúde objetiva compreender o movimento e as forças que agem sobre o corpo humano e aprender como a modificação destas forças previne lesões, restaura a função e gera um desempenho funcional perfeito (HOUGLUM e BERTOTI, 2014; NEUMANN, 2018). 7UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica Historicamente, a Cinesiologia está intimamente ligada a experimentos físicos em Mecânica dos Corpos, sendo de quase 400 A.C. Aristóteles (384-322 A.C.) é visto como pai da Cinesiologia, já que, segundo registros, foi o primeiro a estudar e revelar a marcha como um processo em que a rotação pode se transformar em um meio de translação. Para ele, era relevante o centro de gravidade, as leis de Newton, os movimentos e alavancas (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). Vários outros estudiosos deram seguimento a compreensão da área. O Grego Arquimedes (287-212 A.C.) deu importante contribuição na evolução dos estudos da área, já que apresentou trabalhos a respeito dos princípios hidrostáticos, até hoje aplicados em esportes, na natação, por exemplo. O romano Galeno (131-201 d.C.) acumulou diversos estudos sobre o movimento do corpo humano, diferenciou nervos motores de nervos sensitivos assim como músculos agonistas e músculos antagonistas, diartrose e sinartrose. Foi dele a ideia que os músculos se contraem. Galeno é considerado o pai da medicina desportiva e através do seu estudo é que surgiu o primeiro manual de Cinesiologia (HOUGLUM; BERTOTI, 2014). Já Leonardo da Vinci (1452-1519) se interessava pela estrutura do corpo humano principalmente no que diz respeito ao desempenho e relação entre centro de gravidade, o equilíbrio e o centro de resistência, tendo sido, segundo registros, o primeiro a descrever de forma científica a marcha humana e registrar esse trabalho. Galileu Galilei (1564-1643) tomou a matemática como aliada na explicação de fenômenos físicos. Demonstrou a aceleração de um corpo em queda livre, e que sua velocidade se dá pelas relações entre espaço e tempo. Seus estudos consagraram a Cinesiologia como uma ciência. Vários outros estudiosos vieram a seguir, cada um com sua importante contribuição e muitos seguem até hoje formando embasamento para práticas em diversas áreas ou subáreas desta temática. Estão entre eles: Alfonso Borelli (1608- 1679), Francis Glisson (1597-1677), Albrecht Von Haller (1708-1777), James Keill (1674-1719), Charles Darwin (1809-1882), Angelo Mosso (1848-1919), e até hoje vários são os profissionais que se dedicam ao estudo da Cinesiologia. Eles conseguiram relacionar a mecânica dos corpos rígidos com a mecânica corporal e a mecânica com a fisiologia humana. Sabemos e compreendemos mais cada vez mais, porém entendendo que paradigmas são quebrados continuamente (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). 8UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica SAIBA MAIS Paradigmas são instantâneos de apresentação clássica de várias categorias de doen- ças ou de ações terapêuticas em Fisioterapia. Ou seja, imagine que para tratar um quadro disfuncional qualquer exista um certo padrão ou técnica que já seja amplamente utilizada e comprovada cientificamente, que promove o resultado esperado. Aí é que pode entrar a ruptura do paradigma, pautado na própria evolução da humanidade. É o momento em que novas estratégias surgem e se revelam melhores do que aquela an- terior. Dissemos que tudo evolui. Algo que fazíamos algum tempo atrás, já não mais é realizado, o que é resultado de pesquisas, avanços tecnológicos, entre outros. Fonte: (LIPPERT, 2018). 9UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 2. O ESTUDO CINESIOLÓGICO/BIOMECÂNICO Para entendermos como é feito um estudo cinesiológico/biomecânico, é necessário compreender cada um dos termos envolvidos. É claro que eles se relacionam intimamente, porém também se diferem em alguns aspectos. Como já dito, Cinesiologia é a descrição dos movimentos levando em consideração diferentes perspectivas (mudanças provocadas pelos movimentos, suas estruturas corpo- rais, prescriçãode exercícios, princípio da individualidade). Já a Biomecânica é o estudo da mecânica dos organismos vivos, das forças e suas causas. Desta forma é possível dizer que a Biomecânica é maior e mais ampla do que a Cinesiologia (Figura 1). FIGURA 1 - A COMPLEMENTARIEDADE DA BIOMECÂNICA E CINESIOLOGIA Fonte: O autor (2021). 10UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica De uma maneira bem simplificada, podemos ter como exemplo a flexão de um joe- lho de um atleta. A Cinesiologia vai dizer como foi o movimento do músculo e quais foram aqueles que trabalharam para isso acontecer e a Biomecânica vai explicar como funcionou a geração de força para o exercício ser possível e comparar com outras atividades para ver o que se encaixa melhor em cada situação do treinamento. Neste sentido, qualquer movimento, íntegro ou disforme é explicado pela Biome- cânica. Uma deambulação de um paciente com uma alteração no formato do membro inferior é explicada pela Biomecânica e uma dificuldade que outro paciente apresenta para segurar um objeto e levá-lo a boca, por exemplo, uma colher, é explicado pela Biomecânica também. E isso ocorre porque as dificuldades dos músculos, articulações ou até mesmo do sistema nervoso fazem com que o movimento, que deveria ser harmônico, alinhado (reto, na direção correta do que se pretende) e eficiente (aquele que consegue o seu objetivo, no exemplo alcançar a boca), fique disforme, disfuncional. Por causa de um desalinhamento ou de uma fraqueza muscular, a resultante é um movimento disfuncional (que não é fun- cional), alterado e que precisa de Reabilitação do profissional da Fisioterapia, afinal a vida é feita de movimentos com objetivos definidos, como comer, andar, levantar o braço. Por estes motivos relatados, a partir de agora iremos tratar do estudo biomecânico, justamente por este ser mais elaborado e amplo do que o Cinesiológico. O estudo biomecânico abrange tanto a estrutura esquelética quanto muscular, os ossos possuem diferentes tamanhos e formatos, sendo estes mais relevantes próximos das articulações, favorecendo ou limitando o movimento. Os músculos variam em tamanho, for- ma, estrutura e característica de uma parte do corpo para outra. São mais de 600 músculos em todo o corpo humano (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). Na base, o estudo Biomecânico de um movimento é uma avaliação do movimen- to, ou seja, o momento em que o profissional verifica, durante a execução do indivíduo/ paciente/cliente como este ocorre e considera-o normal, dentro dos parâmetros descritos na literatura ou não. Não sendo normal, o profissional considera quais características este movimento apresenta, suas possíveis causas e, desta forma, estabelece um tratamento/ treinamento adequado para aquela disfunção. Vamos a um exemplo: uma criança com uma disfunção sensório-motora (como a Paralisia Cerebral), apresenta dificuldade para colocar a camisa de botões, o que faz com que sua mãe necessite realizar esta atividade para ela. O fisioterapeuta decidiu avaliar como esta criança realiza esta atividade funcional, também chamada de Atividade de Vida Diária (AVD). Ela estará fazendo um estudo biomecânico, que faz parte do processo avaliativo. 11UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica Esta avaliação é necessária por vários motivos: para registrá-la (em prontuário, por exemplo), para compreendê-la, para tratá-la/treiná-la e também sendo relevante a rea- lização de uma reavaliação posterior ao treinamento ou tratamento, pautado nos mesmos critérios da avaliação, o que irá permitir mudar ou manter a estratégia de treinamento ou dar alta. É assim toda e qualquer ação Fisioterapêutica, organizada em etapas, em momentos coerentes e direcionados ao quadro clínico do indivíduo em questão, partindo de uma ava- liação e sendo finalizada com a reavaliação. Este estudo biomecânico pode ser feito de várias formas, com vários instrumentos e programas. Os métodos quantitativos são considerados melhores pois exprimem de forma valorada as características daquela disfunção. Porém, estes são mais complexos e podem, inclusive, ser mais caros. Já os métodos qualitativos são mais simples, não são expressos em números e dependem mais da experiência do avaliador. Um exemplo de um estudo quantitativo é a avaliação da Amplitude de Movimento (ADM) articular do ombro de uma senhora que não consegue abotoar o sutiã nas costas. Usa-se para este fim um goniômetro universal, instrumento de acrílico ou ferro composto por duas hastes e um eixo/ângulo (Figura 2). Posicionado corretamente na estrutura do corpo desta senhora, seu ângulo exprimirá até onde ela consegue levantar o braço, ou até onde ela consegue alcançar as costas para colocar o sutiã (neste caso a rotação interna do ombro). Este assunto será abordado mais analiticamente na Unidade III deste material. FIGURA 2 - O GONIÔMETRO UNIVERSAL Vários outros instrumentos também são usados num estudo biomecânico, como fita métrica, câmera fotográfica, GPS, acelerômetro, programas de computador, dinamômetros, plataforma de força, eletromiografia, entre outros. Sua escolha depende do que se quer avaliar/conhecer. 12UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 3. O USO DE VARIÁVEIS MECÂNICAS NAS AÇÕES TERAPÊUTICAS 3.1 Forças da Mecânica Para compreender um movimento humano e todas as suas peculiaridades, através do estudo biomecânico, é necessário conhecer algumas considerações físicas/mecânicas que tem ação no corpo humano. A compreensão delas permite explicar os movimentos e dão embasamento para as ações terapêuticas do fisioterapeuta. São elas: A Força Peso, a Força Normal, a Força de Tração, a Força Elástica e a Força de Atrito. A primeira delas é a Força Peso, a força de atração gravitacional sofrida por um corpo de massa m que esteja próximo da superfície de um corpo de massa planetária M. Já sabemos que P = m.g, ou seja, todos os corpos sofrem ação da força da gravidade, que incide na mesma direção e depende da massa do objeto ou corpo. Em ambientes controlados isto pode não ocorrer, como numa piscina terapêutica. Esta Força é importante pois determina que para que um movimento de elevação do braço ocorra, o músculo seja capaz de gerar tensão suficiente, tenha capacidade de vencer a gravidade, além do que o peso do membro ou do objeto que ele esteja segurando influenciam na atividade (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). A segunda delas é a Força Normal, que é a reação que um objeto impõe sobre uma superfície de apoio. Ela é contrária a Força Peso. Desta forma, sabemos que ao apoiar sobre algo ou alguma superfície, criamos uma Força de baixo para cima, com o intuito de se manter estável, equilibrado. Um exemplo de uso desta força é a força em que os pés tocam o chão, inclusive as alterações no formato do arco plantar (longitudinal medial do pé) nesse 13UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica apoio. São os conhecidos pés planos ou cavos. Há, nestes casos, uma pressão maior em uma região do pé sobre o solo e como consequência uma Força Normal alterada. Outro exemplo é o uso de um salto alto, que provoca um aumento do apoio na frente do pé (no ante pé, ou seja, na cabeça dos metatarsos) (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). A terceira destas forças é a de Tração, que aparece quando dois ou mais corpos estão ligados por um fio de tensão que intermedeia a interação entre eles. Este fio, de massa desprezível, é apenas um transmissor de forças de um corpo a outro. Este conceito pode ser usado na Reabilitação com o intuito de promover resistência através deste fio ligado a uma outra pessoa, por exemplo (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). A quarta é a Força Elástica, que surge quando comprimimos ou distendemos uma mola. O módulo de Força Elástica é diretamente proporcional à deformação nela provo- cada. Exemplos relevantes da utilização deste conceito em Reabilitação são exercícios terapêuticos com uso de molas e elásticos parapromover resistência a um segmento, cor- po ou movimento, e desta forma treinamento adequado frente aos objetivos de tratamento (HOUGLUM e BERTOTI, 2014) (Figura 3). FIGURA 3 - EXEMPLO DO USO DA FORÇA ELÁSTICA NA AÇÃO TERAPÊUTICA A última, a Força de Atrito, aparecem como resultado da interação entre o corpo e a superfície por onde ele se movimenta. Portanto, sabemos que é diferente um atleta correr descalço e correr com uma sapatilha de atletismo que tenha cravos, por exemplo. Este também é um conceito usado em Reabilitação, por exemplo, na facilitação de um movimento do membro superior que deve ser realizado com um paciente que apresenta dificuldade, colocando um tecido leve e liso que promova pouco atrito entre a mesa e o braço do indivíduo (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). 14UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica Compreendendo estas Forças que atuam nos corpos, reforçamos a ideia de que tudo é explicável pela Biomecânica, e que inclusive, é possível usar destas Forças e seus conceitos em ações diversas de avaliação e de tratamento pelo fisioterapeuta. 3.2 Alavancas Torna-se importante também compreender os sistemas de alavancas e suas rela- ções com o corpo humano e como consequência compreender que a ação muscular pode ou não apresentar vantagem mecânica ou não. As alavancas são máquinas simples que remontam sua invenção a mais tenra antiguidade e que possuem por finalidades a multiplicação da força e o aumento do con- forto de quem as utiliza. Essas finalidades são denominadas por vantagem mecânica das alavancas (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). Num primeiro momento, alavanca é uma peça ou barra rígida que gira em torno de um ponto de apoio, ou seja, de um eixo de rotação para executar e efetivar o movimen- to desejado, ela é usada nas atividades de vida diária e profissionais o tempo todo. Um profissional da construção civil carrega a areia na carriola com o intuito de ter vantagem mecânica, fazer menos esforço e conseguir o objetivo desejado: a transferência daquele material para outro local dentro da obra. Ele está usando uma alavanca (Figura 4). FIGURA 4 - EXEMPLOS DE ALAVANCAS UTILIZADAS NO DIA A DIA 15UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica A alavanca se compõe de uma barra rígida, de um eixo, de uma força motora e de uma resistência. Exatamente por isso é que os movimentos do corpo humano acontecem neste sistema, já que o osso é a barra rígida, o eixo é a articulação, a força motora é o músculo e a resistência é o peso que se pretende levar. São funções do sistema de alavanca: equilibrar as múltiplas forças, acentuar uma força com o objetivo de reduzir a força total necessária para superar uma resistência, acen- tuar a amplitude e a velocidade do movimento de modo que a resistência possa ser movida a uma distância maior ou de forma mais rápida e alterar a direção resultante da força aplicada. As alavancas podem ser de três tipos (Figura 5): - Interfixa (de primeira classe), em que o eixo está localizado entre a força e a resistência. Um bom exemplo é a própria coluna vertebral que tem como eixo as vértebras, como força os músculos de um lado e como resistência o peso do outro lado do tronco. Este tipo de alavanca tem o intuito de proporcionar equilíbrio. Exemplo: gangorra; - Inter-resistente (de segunda classe), em que a resistência está entre o eixo e a força. A finalidade desta alavanca é promover força, sendo bastante escassa no corpo humano. Exemplo são a carriola, o quebra-nozes e o tornozelo; - Interpotente (de terceira classe), em que o eixo e a resistência estão nas extre- midades com a força no meio, sendo que seu intuito é proporcionar velocidade e amplitude de movimento. Exemplos são a vara de pesca, a vassoura e vários dos movimentos corpo- rais, como o movimento do cotovelo. FIGURA 5 - TIPOS DE ALAVANCAS 16UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica Agora é mais compreensível o fato de usarmos alavancas o tempo todo para executar ações motoras do dia a dia. Desta forma, usamos as alavancas com o intuito de obter vantagem mecânica, ou seja, carregar menos peso, com menor esforço. Para o fisioterapeuta isto se torna relevante em muitos casos. Se o indivíduo tem dificuldade para realizar determinada atividade funcional, o profissional do movimento irá realizar ajustes e tentativas de facilitar o movimento, utilizando a vantagem mecânica. Em contrapartida, quando um indivíduo já está em processo mais avançado no tratamento e torna-se neces- sária a realização de um exercício de fortalecimento com gesto desportivo, por exemplo, o indivíduo pode querer usar deste conceito/recurso para facilitar a execução daquela manobra, o que pode não ser interessante para o profissional. Pode estar ocorrendo uma compensação, algo prejudicial para o treinamento/tratamento. Portanto, há momentos em que é necessária uma facilitação e em outros uma resistência, dificuldade. Vantagem mecânica é expressa como o braço de força dividido pelo braço de resis- tência (VM = BF/BR). Desta forma, para se obter mais vantagem é mais coerente diminuir o braço de resistência, visto que são grandezas inversamente proporcionais. Na prática isto ocorre da seguinte forma: Tomemos por base um indivíduo que necessita guardar uma lata de pó de café no armário aéreo da cozinha, sendo que a lata pesa 500 gramas. É mais fácil ele fazer o movimento de flexão do ombro (levantar o braço para frente com o intuito de alcançar o armário) com o cotovelo fletido do que com ele estendido, ainda que com a mesma lata de café, ou seja, o mesmo peso. REFLITA A cada movimento que fazemos, a cada função que executamos, a vantagem mecânica é usada. Para se levantar da cama pela manhã ao acordar usamos uma forma mais fácil de fazê-lo. Para abrir a porta do carro usamos uma alavanca com vantagem bio- mecânica. Imagine como seria se não houvesse esta vantagem mecânica. Como seria se não tivéssemos inteligência suficiente para criar objetos ou atividades que as usam? Seriamos mais fortes ou teríamos mais lesão? Fonte: O autor (2021). 17UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 3.3 Equilíbrio Outra qualidade física diretamente ligada as nossas vidas é o equilíbrio, fundamental para muitos dos movimentos que fazemos, para esportes, entre outros. O estudo do equi- líbrio corporal envolve dois parâmetros que são: Manutenção da Posição dos segmentos corporais em relação aos próprios segmentos e ao meio ambiente; e o Equilíbrio Postural, indicado pelas interações entre as forças que agem no corpo na busca de um equilíbrio corporal durante as ações motoras gerais e desportivas (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). O corpo humano, independente do movimento que esteja realizando, requer o equi- líbrio e o mesmo pode ocorrer de forma estável, instável e neutro. O primeiro se caracteriza pela situação em que o indivíduo tende a se manter na mesma posição por bastante tempo, sem ter suas condições de estabilidade corporal alteradas. A base de apoio é grande o sufi- ciente, sendo necessária uma grande força para mover seu centro de gravidade. Exemplo: posição sentada, ortostatismo bipodal (em pé com os dois pés apoiados), caminhar em um terreno plano e com bom índice de atrito entre o piso e o calçado. Já o estado de equilíbrio instável é descrito como a situação em que o indivíduo está em pequenos intervalos de tempo, sofrendo momentos de desequilíbrio e em constan- te risco de queda. Isto ocorre quando a base de apoio é reduzida e assim uma leve força já é capaz de alterar o centro de gravidade daquele indivíduo. Exemplo: Ortostatismo unipodal (quando estamos em pé com apoio apenas de um pé). E o estado de equilíbrio neutro é aquele em que o centro de gravidade não é eleva- do e nem abaixado no movimento do corpo. Exemplo: Decúbito (deitado). Reconhecer na avaliação/ estudo biomecânico quais são os estados de equilíbrio que necessitam ser trabalhados no individuo é fundamental para o sucessoda Reabili- tação. Se o paciente apresenta déficit de equilíbrio, será necessário executar atividades que treinem esta valência com o intuito de promover maior estabilização para o segmento/ corpo como um todo, prevenção de quedas, por exemplo. O treinamento sempre partirá da atividade mais simples e fácil para a mais difícil; de um equilíbrio neutro ou estável para um equilíbrio instável. 18UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica SAIBA MAIS Vamos a um exemplo de tratamento de um paciente. Ele sofreu uma fratura de tíbia di- reita há 2 meses e já se encontra com consolidação óssea completa. Porém, deambula com dificuldade, claudicando, mas já não faz uso de dispositivos auxiliares da marcha (muleta ou bengala). Pergunta-se: Como treinar o equilíbrio neste caso pautado no con- teúdo aprendido? Vamos a resposta. Primeiramente, dependerá do estudo biomecânico já realizado com ele, ou seja, a avaliação do equilíbrio. Levando em consideração que ele já tem uma marcha sem dispositivo auxiliar de deambulação, acreditamos que ele consiga manter um estado de equilíbrio neutro e possivelmente estável. Ou seja, tanto em decúbito quanto em posição ortostática com apoio bipodal (os dois pés apoiados), qualquer desequilíbrio provocado, é reconhecido e corrigido com facilidade. Mas no momento atual da Reabilitação, o estado de equilíbrio instável é difícil ser executado por este indivíduo. Como já dito, o treinamento de equilíbrio deve partir do mais fácil para o mais difícil, buscando desafiar o paciente. Assim, entende-se como indicado para este momento exercícios terapêuticos que, primeiramente, o paciente permanecerá em apoio bipodal e importantes desequilíbrios serão instituídos, por exemplo, jogar uma bola para ele segurar e soltar; passando para exercícios ainda com apoio bipodal porém em superfícies instáveis, como o balancim ou uma cama elástica; passando para outro com apoio unipodal (só o pé direito apoiado, o que ele fraturou há 2 meses); e por fim, atividades com apoio unipodal em superfícies instáveis e com grandes instabilidades. Fonte: O autor (2021). 19UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 4. TERMINOLOGIA EM BIOMECÂNICA Para aproximar você dos termos e bases relevantes para o estudo da Biomecânica, é necessário conhecer sobre a posição anatômica, os eixos e planos de movimentos, a terminologia direcional e a descrição dos movimentos articulares. Vamos a eles. 4.1 Posição anatômica O primeiro termo que precisamos saber é o fato de que existe uma posição de re- ferência, pela qual sempre pensamos o início dos planos, eixos e movimentos: É a posição anatômica. O indivíduo está em posição ortostática (em pé), com a face voltada para frente, olhar para a linha do horizonte, membros superiores estendidos ao longo do tronco, palma das mãos voltadas para a frente (antebraço supinado), membros inferiores unidos e com as pontas dos pés voltadas para frente (Figura 6). FIGURA 6 - POSIÇÃO ANATÔMICA OU DE REFERÊNCIA 20UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 4.2 Eixos Os eixos são linhas imaginárias que atravessam o centro da junção de duas estru- turas ósseas (articulação). É ao redor delas que os movimentos são realizados. São eles: - O eixo lateral (transversal ou horizontal), que se estende horizontalmente de um lado para o outro, perpendicular ao plano sagital, e possibilita o movimento de flexão e extensão. Ou seja, atravessa o centro de uma articulação de um lado ao outro. - O eixo anteroposterior (sagital), que se estende no sentido anterior para posterior, perpendicular ao plano frontal, e possibilita os movimentos de abdução e adução. - O eixo longitudinal (vertical), que se estende no sentido de cima para baixo, perpendi- cular ao solo e ao plano transversal, possibilitando os movimentos de rotação lateral e medial. SAIBA MAIS Imagine que o eixo que você está estudando é um cabo de vassoura e que este atra- vessa o centro da articulação de interesse. O movimento que acontece naquele eixo é o movimento do membro “rolando” no cabo de vassoura. Fonte: O autor (2021). 4.3 Planos Já os Planos anatômicos são superfícies bidimensionais imaginárias que dividem o segmento em duas hemipartes, ou seja, correspondem às dimensões espaciais onde se executa um movimento. São eles: - O plano sagital, paralelo à sutura sagital do crânio, atravessando o corpo da frente até atrás, dividindo o corpo em lado esquerdo e direito. Fotograficamente, trata-se de uma vista lateral e é neste plano que ocorrem os movimentos de flexão, extensão, dorsi e plantiflexão; - O plano frontal ou coronal, paralelo ao osso frontal ao longo da sutura coronal do crânio, dividindo o corpo em parte anterior e parte posterior. Os movimentos que ocorrem neste plano são abdução e adução, desvio ulnar e radial e flexão lateral da coluna vertebral; - O plano transverso (ou horizontal), é aquele em que o corte acontece na hori- zontal, atravessando o corpo ao meio dividindo-o em parte superior e parte inferior. Neste ocorrem os movimentos de rotação medial e lateral, pronação e supinação e inversão e eversão (Figura 7). 21UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica FIGURA 7 - PLANOS ANATÔMICOS SAIBA MAIS Imagine que o plano que você está estudando é uma grande página de um caderno. Ao colocar esta página naquele determinado plano, o movimento do segmento (braço, por exemplo), ocorre deslizando naquela página de caderno. Fonte: O autor (2021). 4.4 Outros termos relevantes Outros termos também se revelam como importantes no estudo biomecânico, que serão relevantes na prática clínica, ou seja, são usados diariamente nas ações fisioterapêu- ticas. Vamos a eles: - Anterior (ventral): voltado para frente ou parte da frente. (por exemplo, o abdome); - Posterior (dorsal): voltado para trás, ou parte de trás (por exemplo, as costas); - Superior (cefálico): superior, acima em relação a outra estrutura; - Inferior (caudal): inferior, abaixo em relação a outra estrutura; - Proximal: Mais próximo do tronco (por exemplo, o ombro é mais proximal do que a mão); - Distal: mais distante do tronco; - Medial: relativo ao centro, mais próximo da linha mediana, ou seja, do meio; 22UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica - Lateral: relativo ao centro, mais distante da linha mediana; - Unilateral: apenas um lado; - Bilateral: ambos os lados; - Ipsilateral ou homolateral: do mesmo lado; - Contralateral: do lado oposto. 4.5 Movimentos fundamentais Os movimentos fundamentais do corpo humano, baseados nos eixos e planos de acordo com Marques (2014) são: - Flexão, que resulta na redução do ângulo da articulação pela aproximação dos ossos, ocorrendo no plano sagital; - Extensão, que resulta o aumento do ângulo da articulação pelo afastamento dos ossos, no plano sagital. Tanto o movimento de flexão quanto de extensão ocorre em pratica- mente todas as articulações do corpo humano, sendo que os usamos abundantemente nas atividades de vida diária, visto que tudo que fazemos é a frente do nosso corpo, levando o braço a frente e retornando à posição inicial, caminhando para frente; - Abdução, que é o movimento lateral afastando o segmento da linha mediana do tronco no plano frontal; - Adução, que é o movimento feito medialmente em direção à linha mediana do tronco no plano frontal, ou seja, aproximando o segmento da linha mediana; - Rotação lateral ou externa, que é o movimento rotacional em torno do eixo longi- tudinal, afastando-se da linha mediana do corpo. Aplica-se a poucas articulações e neste movimento a parte anterior do segmento “olha para fora”; - Rotação medial ou interna, que é o movimento rotacional em torno do eixo lon- gitudinal, aproximando-se da linha mediana do corpo. Ou seja, traz a face anterior de um membro para mais perto do plano mediano. FIGURA 8 - MOVIMENTOS ARTICULARES 23UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 4.6 Movimentos complementaresAinda existem alguns outros movimentos, chamados de complementares, pois acontecem em poucas ou uma articulação (MARQUES, 2014). Vamos conhecê-los: - Hiperextensão, que é a continuação do movimento de extensão, ou um movimento excessivo de extensão. Exemplo é a hiperextensão do cotovelo (que deveria ser de 0 grau, porém algumas pessoas apresentam uma extensão além do normal, ou seja, excessiva); - Flexão lateral (ou Inclinação Lateral), que ocorre no mesmo plano da abdução (plano frontal), porém ocorre na cabeça e no tronco (ou seja, na coluna vertebral); - Pronação, que ocorre no antebraço (na articulação radioulnar, tanto proximal, intermédia quanto distal). Neste movimento, o osso do rádio gira medialmente em torno do seu eixo longitudinal de modo que a região palmar da mão olhe para o lado posterior (ou para baixo quando o cotovelo se encontra fletido); - Supinação, que também ocorre no antebraço, é o contrário do movimento de pro- nação, sendo que o rádio gira lateralmente em torno de seu eixo longitudinal de modo que a região palmar olha anteriormente (ou para cima quando o cotovelo se encontra fletido); - Desvio ulnar, que ocorre no punho (articulação radiocárpica), sendo também chamado de adução, visto que ocorre uma aproximação do 5º metacarpo da linha media- na no plano frontal; - Desvio radial, que também ocorre no punho, sendo também chamado de abdução, já que ocorre um distanciamento da mão (5º metacarpo) da linha mediana no plano frontal; - Dorsi flexão (ou flexão dorsal), que ocorre no tornozelo, quando se aproxima a região dorsal do pé da região anterior da tíbia, ou seja, quando o antepé (ponta do pé) sobe. Também chamado de flexão; - Plantiflexão (ou flexão plantar), que também ocorre no tornozelo, quando se aumen- ta o ângulo entre o dorso do pé e a região anterior da tíbia, também chamado de extensão; - Inversão, que ocorre no tornozelo e pé, sendo que o tornozelo roda para dentro, fazendo com que a região plantar do pé fique voltada para o outro pé (ou seja, para dentro, por isso o termo inversão); - Eversão, que também ocorre no tornozelo e pé, movimento de rotação dos calcâ- neos para fora e para cima, em que a região plantar fica “olhando para fora”; - Adução horizontal, que ocorre apenas no ombro, sendo que o ombro parte de 90º de flexão e realiza o movimento para dentro no plano transverso, ou seja, aproximando o úmero do tronco; 24UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica - Abdução horizontal, também ocorrendo apenas no ombro, sendo o movimento no sentido oposto a adução horizontal, ou seja, como o ombro em 90º de flexão realiza-se o movimento do braço na direção lateral e posterior; - Circundução, que ocorre no ombro e no quadril, sendo circular do membro que delineia um arco ou descreve um cone no espaço. Trata-se da combinação da flexão, ex- tensão, abdução, adução e as rotações. Apesar de estudarmos os eixos e planos anatômicos que servem como base para a compreensão dos movimentos do corpo humano, o que permite que possamos explicar de for- ma didática o que ocorre com os pacientes, nossos movimentos em geral não se dão totalmente em um plano específico, mas sim numa combinação de movimentos de mais de um plano. 25UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) acadêmico(a), nesta primeira Unidade vimos algumas bases fundamen- tais da Cinesiologia e Biomecânica do corpo humano, desde alguns conceitos, sendo que compreendemos que a Biomecânica é mais ampla e mais analítica do que a Cinesiologia, até aplicabilidades diárias do fisioterapeuta, como os termos clínicos. Para que possamos ser bons fisioterapeutas, que impactam positivamente na vida das pessoas, necessitamos conhecer estas características que embasam nossas ações. O estudo biomecânico pode ser simples, feito qualitativamente, porém é melhor quando obtemos resultados numéricos na avaliação, e para isso, há recursos diversos, e cada vez haverá mais, devido a evolução tecnológica. Alguns muito simples continuam sendo usados, como o goniômetro, que mede os ângulos articulares e a fita métrica, que mede o trofismo do membro do paciente, ou seja, o volume do músculo ou a presença de edema, por exemplo. Já outros são bastante avançados e proporcionam resultados mais aprofundados e analíticos do movimento em questão, como o dinamômetro isocinético (que mensura a força muscular de uma forma específica, com um movimento angular constante e uma resistência variável), plataforma de força, que mede o equilíbrio ou os desequilíbrios, por exemplo. Independente do formato ou da tecnologia usada, o estudo biomecânico, ou seja, a avaliação do movimento de um indivíduo que busca o atendimento do fisioterapeuta é fundamental para o estabelecimento dos objetivos e do tratamento, com o intuito principal de retornar à função de antes da lesão ou disfunção. Vimos também que algumas forças da mecânica (força peso, força normal, força de atrito, força elástica e de tração), as alavancas (de primeira, segunda e terceira ordem) e o equilíbrio embasam as práticas clínicas, pois as compreendendo é possível modificar estratégias de tratamento, buscando as potencialidades do indivíduo para o retorno de função desejada. Por fim, discutimos alguns termos usados na vida diária do fisioterapeuta, inclusive os movimentos articulares, tanto os fundamentais quanto os complementares, foco e objeti- vo de muitos tratamentos deste profissional. Assim, julgamos que esta primeira parte tenha trazido informações claras e que subsidiarão a caminhada daqui pra frente. 26UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: Avaliação funcional do movimento: incidência do valgo dinâmico do joelho em mulheres praticantes de musculação e sedentárias. RESUMO A avaliação do movimento é importante e necessária para identificar os riscos de lesão possibilitando a elaboração de programas de exercícios preventivos e corretivos, visando a melhora do desempenho das atividades funcionais e o consequente bem-estar. O objetivo deste estudo foi analisar e comparar a incidência do valgo dinâmico do joelho em mulheres praticantes de musculação e mulheres sedentárias, e identificar os sintomas álgi- cos e o potencial de lesão associados a essa alteração biomecânica. Sessenta mulheres foram divididas em dois grupos: praticantes de musculação e sedentárias, com idade entre 18 e 30 anos. Os dados foram coletados utilizando-se o sistema Functional Move- ment Screen e foram submetidos a análises estatísticas descritiva e inferencial. O valgo dinâmico do joelho é apresentado por 60% das mulheres sedentárias, quando comparadas às mulheres praticantes de musculação (33,3%), demonstrando associação entre o valgo dinâmico e o sedentarismo (p<0,03). Não houve associação entre a dor e o valgo dinâmico do joelho (p>0,06) para ambos os grupos. Das mulheres sedentárias, 50,0% apresentaram escore FMS abaixo de seis pontos, representando alto risco de lesão. Conclui-se que mu- lheres sedentárias apresentam maior predisposição ao valgismo dinâmico do joelho, maior sintomatologia dolorosa e maior risco de lesão nos membros inferiores. Fonte: CAVALCANTI, et al. Avaliação funcional do movimento: incidência do valgo dinâmico do joelho em mulheres praticantes de musculação e sedentárias. Fisioterapia e Pesquisa. v. 26 n. 2. abr/jun. 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/fpusp/article/view/161192/155194. Acesso em: 29 jul. 2021. 27UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica MATERIAL COMPLEMENTAR FILME / VÍDEO Título: Planos, Eixos e Movimentos nas articulações - Cinesiologia - Anatomia Humana Ano: 2013. Sinopse: Neste vídeo aula de cinesiologia, biomecânica e Anato- mia Humana sobre o Sistema Articular com o Professor Rogério Gozzi, ele descreve de forma simples e prática a relação entre os planos, os eixos e os movimentosnas articulações sinoviais. LIVRO Título: Fisiologia articular. Volume 1 – Ombro, cotovelo prono-su- pinação, punho e mão Autor: Kapandji, A.I. Editora: Guanabara Koogan, 2007 Sinopse: Esta nova edição, consideravelmente enriquecida e ainda mais atraente pelo uso de figuras em cores, apresenta um público-alvo amplo. Este livro interessa não apenas aos cirurgiões ortopedistas, que são os mais beneficiados, mas também a outros especialistas, aos fisioterapeutas, aos estudantes de anatomia e a todos aqueles que consideram intrigantes as maravilhosas engre- nagens da máquina humana, ou que são sensíveis à harmonia dos corpos. O leitor encontrará uma sinopse dos nervos do membro superior, assim como um novo teste que possibilita a detecção de paralisia ulnar do antebraço. Um clássico universalmente conheci- do e apreciado, este livro permanece como referência no assunto. Não há dúvida de que seus usuários, nele encontrarão o conteúdo que procuram e que mais leitores descobrirão a biomecânica do ser humano sob um ângulo novo e fascinante. 28UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica LIVRO Título: Fisiologia articular. Volume 2 – Membro inferior Autor: Kapandji, A. I. Editora: Guanabara Koogan, 2001. Sinopse: Inclui 690 desenhos originais do autor. Uma obra atual cujo objetivo é o ensino do funcionamento do Aparelho Locomotor de maneira atrativa, privilegiando a imagem diante do texto: o prin- cípio é explicar uma única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensão definitivas. É a clareza da representação espacial do funcionamento dos músculos e das arti- culações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as três dimensões do espaço, mas também uma Quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcional está viva e, consequentemente, móvel – isto é, inscrita no Tempo. 29 Plano de Estudo: ● O sistema articular; ● O sistema muscular; ● Biomecânica do membro superior; ● Biomecânica do membro inferior. Objetivos da Aprendizagem: ● Apresentar os tipos de articulação do corpo humano e suas características; ● Conhecer o sistema muscular e sua importância para o fisioterapeuta; ● Compreender as funções articulares e musculares, além da sua importância para o profissional do movimento; ● Aprofundar o estudo biomecânico apendicular. UNIDADE II O Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 30UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 30UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior INTRODUÇÃO Introduzo agora a você a Unidade II da nossa disciplina. Já conhecendo alguns conceitos sobre Cinesiologia e Biomecânica, a importância do conhecimento de variáveis mecânicas e suas implicações na prática clínica e termos relevantes de uso diário do fi- sioterapeuta, podemos passar para os conteúdos seguintes. O foco agora é conversar sobre as articulações e suas características biomecânicas, seus tipos e implicações nas ações terapêuticas, passando para a discussão sobre os músculos, elementos base para qualquer movimento, além de aprofundarmos na Biomecânica apendicular, ou seja, dos membros superiores e inferiores. O que não é diferente da primeira unidade é a relevância do conteúdo e sua implicação clínica. Na primeira parte da unidade vamos abordar as articulações, também chamadas de junturas, em que ocorrem os movimentos. São compostas por várias estruturas que interagem e permitem tanto a mobilidade quanto a estabilidade. Exatamente por isso que temos articulações de diferentes tipos, já que algumas são mais móveis, ou seja, apresen- tam caracteristicamente um número maior de movimentos e uma Amplitude de Movimento (ADM) maior; e outras mais estáveis, ou seja, com menor número de movimentos e ADM. Um exemplo geral seria a relação entre a coluna vertebral e o ombro. O ombro necessita ser muito móvel, para alcançarmos os objetos, tanto para frente quanto para cima e para trás. Para que isto ocorra, a coluna precisa estar estável, em contração isométrica (que abor- daremos mais à frente nesta Apostila). Assim, a coluna, mesmo precisando de mobilidade, necessita ser estável para que permita que o ombro se movimente dentre da sua ADM e permita que a mão alcance com mais facilidade os objetos que queremos segurar. Quando você quer escovar os dentes e a escova está no alto, num armário aéreo, você permanece com a coluna praticamente parada e o ombro se estica todo para que proporcione que a mão alcance a escova e depois alcance a boca. O segundo momento de estudo desta unidade focará os músculos, órgão motor primá- rio, ou seja, aquele que executa o movimento, muitas vezes tão desejado pelo paciente, além de extremamente requerido para as atividades funcionais do dia a dia (atividades de vida diária). O terceiro e quarto momento de estudo aprofundarão a biomecânica das articulações dos membros superiores e inferiores, responsáveis especialmente pelos movimentos, tanto para alcançar objetos (o membro superior) quanto para a deambulação e suas relações (o membro inferior). Julgamos, assim, que estes assuntos sejam valiosos na compreensão das disfunções apresentadas por indivíduos que buscam reabilitação e permitam a formulação de técnicas e abordagens terapêuticas. Aproveite o conteúdo. 31UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 31UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior 1. O SISTEMA ARTICULAR O Sistema Articular do adulto contém 206 ossos, sendo dividido em esqueleto axial (80 ossos), composto de crânio, coluna vertebral, esterno e costelas; e esqueleto apendicular (126 ossos), aqueles dos membros superiores e inferiores, cada um com suas características ana- tômicas. Como já dito, abordaremos especificamente nesta unidade o esqueleto apendicular. É a junção de dois ou mais ossos que forma uma articulação, além das partes moles e duras que servem como meio de união entre eles. Segundo Kendall et al. (2007), articulação é o local de união, usualmente mais ou menos móvel, entre dois ou mais ossos, ou uma conexão esquelética osso com osso, unida por tecido fibroso, cartilaginoso ou sino- vial. É através dela que se transfere e dissipa a força produzida pela contração muscular e pela força da gravidade. Desta forma, a artrologia estuda a classificação, estrutura e função das articulações no movimento humano, independente se nas lesões, disfunções ou no processo de enve- lhecimento. É importante frisar que as articulações são responsáveis por fornecer suporte estrutural e funcional ao nosso corpo (HOUGLUM e BERTOTI, 2014). 32UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 32UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior Algumas das articulações do nosso corpo são mais móveis do que outras, pois as nossas atividades de vida diária solicitam especificamente mais de algumas do que de ou- tras, ou seja, precisamos de mais movimentos em algumas do que eu outras. É por isso que as articulações são classificadas em três tipos, conforme sua mobilidade. As sinartroses são articulações imóveis, as anfiartroses são levemente móveis e as diartroses são móveis. As sinartroses, que são articulações imóveis, são aquelas separadas unicamente por uma fina camada de periósteo. São as suturas (do crânio), as gonfoses (dente com o osso correspondente) e as sindesmoses (articulação púbica e distal de tíbia e fíbula). A maioria destas que não provêm movimento são aquelas que mantêm os dois lados do corpo juntos. A sutura sagital do crânio é considerada uma articulação não móvel, unida por uma membrana fibrosa forte (KENDALL et al. 2007). Já as anfiartroses, que apresentam pouca mobilidade, são as sincondroses (ar- ticulação cartilaginosa, por exemplo entre costelas eesterno) e as sínfises (sua conexão é feita por um disco largo e plano de fibrocartilagem (exemplo é o disco intervertebral). A articulação sacroilíaca e a sínfise púbica são consideradas discretamente móveis e são unidas por membranas fibrocartilaginosas fortes. A maioria das nossas articulações pertence à categoria das que se movem livre- mente, chamadas de diartroses (Figura 1). Elas permitem diferentes movimentos, apresen- tam cavidade articular, membrana sinovial, líquido sinovial, discos cartilaginosos, meniscos, ligamentos e grandes movimentos. Podem ser planas (que permitem discretos movimentos de deslizamento, como a articulação sacro-ilíaca), gínglimo (permite movimento em um eixo, ou seja, são uniaxiais, exemplo é a articulação úmero-ulnar, a do cotovelo), trocóide (também chamada de pivô, apresentando superfícies cilíndricas com rotações em torno do seu próprio eixo, como exemplo temos a atlantoaxial e a radioulnar), sela (ambos os ossos têm uma face em forma de sela que se encaixam entre si), condilar ou elipsóide (com su- perfícies articulares elípticas, ou seja, uma superfície oval se articula com uma depressão no outro osso) e esferoide (ou bola e soquete, sendo que suas superfícies são esféricas e se encaixam; são as maiores articulações, como exemplo, a glenoumeral e a coxofemoral, ou seja, o ombro e o quadril respectivamente). 33UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 33UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior FIGURA 1 - TIPOS DE ARTICULAÇÕES EM DIARTROSE As articulações são formadas a partir de fibroblastos, enquanto que a cartilagem hialina e fibrocartilagem advém de condrócitos para reparo e manutenção (que tem como função, em tecidos lesionados e envelhecidos, de remover e reparar a estrutura). As articu- lações ainda contêm colágeno e elastina, proteínas fibrosas, abundantes no corpo (especi- ficamente o colágeno). Dividido em dois tipos: o colágeno Tipo I apresenta fibras espessas, fortes e rígidas, o que forma os ligamentos, tendões, fáscias e cápsula articular fibrosa; já o Tipo II tem fibras mais finas, de menor força tênsil, dando formato e consistência as es- truturas mais complexas (como a cartilagem hialina). Já a elastina forma uma rede quando suas fibras se entrelaçam, além do que apresentam a capacidade de se esticar, alongar e retornar ao tamanho original. Estão presentes na cartilagem hialina e, por exemplo, no ligamento amarelo da coluna vertebral, o que permite a inclinação anterior e o retorno à posição inicial da coluna. 34UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 34UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior Ainda nas articulações, especificamente na cápsula articular adentram os vasos sanguíneos, entre a camada fibrosa e a membrana sinovial. Esta é uma característica fundamental pois ela permite que essas estruturam cicatrizem, por exemplo, após uma lesão parcial. Em detrimento disso, nervos sensoriais também invadem a camada externa da cápsula e dos ligamentos, o que nos confere a possibilidade de sentir dor (algia). Ainda bem que não há somente a parte ruim, pois são estas estruturas que nos conferem a propriocepção articular. SAIBA MAIS Propriocepção é um tipo de sensibilidade, ou seja, a capacidade que o nosso corpo apresenta de sentir. Por isso, é também chamada de sensibilidade proprioceptiva. O tipo de sensibilidade mais simples e primitiva é a sensibilidade cutânea ou superficial, que ocorre quando alguém toca a nossa pele, inclusive mesmo quando estamos de olhos fechados percebemos este toque. No caso da sensibilidade proprioceptiva ou profunda, nós sentimos a posição do segmento no espaço (por exemplo se o braço está pra cima ou pra baixo, fletido ou estendido, abduzido ou aduzido); e o movimento do segmento no espaço (por exemplo se o braço está fletindo ou estendendo), mesmo se estivermos de olhos fechados. Este tipo de sensibilidade é especialmente importante para o corpo hu- mano e ainda mais para o fisioterapeuta. Imagine-se caminhando por um terreno plano e regular olhando para o horizonte. Se logo a frente tiver um buraco no chão e você não o visualizar, quando seu pé entrar em contato com ele, estruturas nas suas articulações (ligamentos e cápsulas), músculos (fuso muscular) e tendões (órgãos tendinosos de Golgi) irão ser estimulados e informar ao Sistema Nervoso Central (SNC) que a superfí- cie mudou. É esta informação que permitirá que tenhamos uma reação motora (ou seja, contrairmos um ou um grupo muscular) para não cair no chão ou não lesionar alguma estrutura do corpo (por exemplo uma entorse ligamentar no tornozelo). Fonte: (O’SULLIVAN; SCHIMITZ; FULK, 2018). Outras estruturas também fazem parte das articulações, como o labrum (ou lábio) (Figura 2), disco articular e menisco, sendo formados por coxins fibrocartilaginosos, o que promove aumento da área de contato entre as superfícies ósseas e dissipação de forças. Além disso, há coxins adiposos que aumentam a espessura da cápsula e preenchem os es- paços não articulares. Por último, as bursas (ou bolsas sinoviais) são extensões da membrana sinovial e são preenchidas por fluido sinovial, servindo para absorção de força e proteção de tecidos conjuntivos periarticulares, especialmente em situações de atrito (Figura 3). 35UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 35UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior FIGURA 2 - ARTICULAÇÃO DO QUADRIL MOSTRANDO O LABRUM FIGURA 3 - ALGUMAS ARTICULAÇÕES ACOMETIDAS POR BURSITE 36UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 36UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior 37UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 37UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior 2. O SISTEMA MUSCULAR Para mover as articulações o nosso corpo é formado por músculos, que compõem quase a metade da massa corporal, fixando-se ao esqueleto por meio de aponeuroses, fáscias ou tendões (KENDALL et al., 2007). Variadas estruturas se relacionam com os músculos para que estes possam exe- cutar suas funções, como as aponeuroses, os tendões, fáscias, etc. As aponeuroses são bainhas de tecido conjuntivo denso e tem de cor branca cintilante; fornecem as origens largas para o músculo grande dorsal, por exemplo. Exemplos são os músculos oblíquo ex- terno e interno se fixam à linha alba (média anterior) por meio de aponeuroses e o músculo palmar longo insere-se na aponeurose palmar e a tensiona (KENDALL et al., 2007). Por sua vez, as fáscias são de dois tipos: superficial, já que se localizam abaixo da pele e permitem o livre movimento desta; e profunda, a qual envolve, recobre e separa músculos. Algumas fáscias profundas ainda proporcionam a fixação de músculos, como por exemplo o trato iliotibial, que é uma faixa resistente de fáscias profundas que provê fixação para o músculo tensor da fáscia lata na tíbia e para o músculo glúteo máximo no fêmur e na tíbia (Figura 4). A fáscia toracolombar provê fixação para o músculo transverso do abdome (KENDALL et al., 2007). 38UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 38UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior FIGURA 4 - FÁSCIA LATA Já os tendões são faixas fibrosas brancas que fixam músculos aos ossos; possuem uma grande força tênsil, porém são praticamente inelásticos e pouco resistentes à disten- são. Ou seja, são eles que transferem a força gerada pelos músculos ao osso, levando ao movimento. Possuem poucos vasos sanguíneos, entretanto apresentam fibras nervosas sensoriais que terminam nos órgãos tendinosos de Golgi, localizados próximos da junção musculotendíneas . Em lesõesque envolvem uma distensão intensa, é mais provável que o músculo seja afetado em algumas vezes, a fixação tendinosa ao osso. Por exemplo, a fixação do músculo fibular curto na base do 5º osso metatarso pode ser rompida em uma lesão por entorse em inversão do tornozelo/pé. As tendinopatias (disfunções ou algias localizadas nos tendões) são extremamente frequentes na prática clínica do fisioterapeuta, visto que eles são tensionados praticamente o tempo todo, nas Atividades da Vida Diária (AVD’s), nos momentos de contração que gera movimento ou quando esta promove estabilização das posições dos segmentos ou tronco. Quando esta tensão ou tracionamento se torna excessivo, gera estímulos nocivos e ativa- ção da sensação e dor. Além disso, os tendões podem se romper. Por exemplo, quando o tendão do calcâneo se rompe, ocorre retração dos músculos gastrocnêmio e sóleo com presença de espasmo e dor aguda (KENDALL et al., 2007). A Figura 5 mostra tendões íntegros, inclusive o tendão do calcâneo e a Figura 6 uma ruptura deste com retração. 39UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 39UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior FIGURA 5 - TENDÕES ÍNTEGROS DO TORNOZELO E PÉ FIGURA 6 - TENDÃO CALCÂNEO COM RUPTURA E RETRAÇÃO Voltando a falar dos músculos, suas funções são: produzir movimentos, estabili- zação das posições corporais, regular volume dos órgãos, o movimento de substâncias dentro do corpo e produção de calor. Os músculos são compostos por células musculares e tecido conjuntivo circundan- te, cruzam uma ou mais articulações e por este motivo e através de sua contração trans- mitem movimento. Suas células denominadas fibras musculares efetuam suas funções, apresentam energia latente e são controladas pelo sistema nervoso (LIMA e PINTO, 2007). Os tipos de músculos ou fibra muscular são: o liso, nos vasos sanguíneos, vias aé- reas e maioria dos órgãos da cavidade abdominopélvica (controlados pelo Sistema Nervoso Autônomo); o estriado cardíaco, no coração (é involuntário); e o estriado esquelético, aquele que voluntariamente é capaz de produzir movimento ou estabilização da posição segmentar. A partir de agora falaremos especificamente dos músculos estriados esqueléticos. 40UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 40UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior As propriedades do tecido muscular são: - Irritabilidade ou excitabilidade: pois o músculo é sensível ou responsivo à estímu- los químicos, elétricos e mecânicos; - Contratilidade: que é a capacidade do músculo quando estimulado de contrair-se e desenvolver tensão (força); - Extensibilidade: que é a capacidade do músculo ser estendido de forma passiva além do seu comprimento de repouso; - Elasticidade: que é a capacidade do músculo de retornar ao seu comprimento de repouso original após ter sido estirado. 2.1 Tipos de contração muscular Os músculos podem se contrair de forma distinta uma da outra, com objetivos e funções diferentes. Assim, surgiu a compreensão dos tipos de contração, explicadas a seguir. A contração isométrica é aquela em que há aumento de tensão do músculo, po- rém não há deslocamento de carga, já que o comprimento muscular é mantido. Este tipo serve especialmente para manutenção das posições corporais. Um exemplo clássico é a coluna vertebral. Todo o tempo que permanecemos em posição ortostática (em pé), parado ou deambulando, a musculatura dorsolombar está em contração isométrica, ou seja, em ação, mesmo que não haja movimento da coluna. Isto ocorre porque se os músculos não estiverem contraindo, a coluna não é mantida na posição, o que provocaria uma queda da pessoa. Ocorre também porque estes músculos das costas apresentam em uma fisiologia mais fibras musculares de contração lenta, que funcionam mais em isometria. Já a contração isotônica é aquela em que há um aumento da tensão com desloca- mento de uma carga, o que provoca movimento. É este tipo que permite que façamos os movimentos para pegar os objetos, por exemplo, que deambulemos, que movimentemos nossas articulações de modo geral. A contração isotônica pode ser concêntrica ou excên- trica. A primeira se dá quando ocorre aproximação da origem e da inserção do músculo, ou seja, este se contrai acelerando o movimento quando se faz força (contração isotônica concêntrica). Já a segunda ocorre quando há um distanciamento entre origem e inserção daquele músculo ou grupamento muscular, sendo que há uma frenagem do movimento (contração isotônica excêntrica). Tomemos um exemplo como base: Um indivíduo está executando uma ação motora de flexão de cotovelo segurando um peso de três quilogramas na mão estando na posição sentada. Antes de iniciar o movimento, o braço está ao longo do corpo e o antebraço supi- nado. Quando há o início do movimento de flexão do cotovelo e até o seu final, o músculo bíceps braquial está contraindo gerando força para que o peso suba contra a força da 41UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 41UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior gravidade, além do que sua origem e inserção estão se aproximando, ou seja, este músculo está em contração isotônica concêntrica. Logo após o peso chegar lá no alto, ou seja, na máxima flexão do cotovelo, o movimento de descida do braço vai ocorrer e neste momento o mesmo bíceps braquial estará contraindo, porém agora freando o movimento de descida, visto que está a favor da gravidade, além do próprio peso do braço e da resistência imposta, ou seja, o peso de três quilos. Além disso, neste movimento a origem e a inserção do bíceps braquial estão se distanciando, portanto, ele está em contração isotônica excêntrica. O terceiro e último tipo de contração muscular é a isocinética, quando um movimen- to é produzido por uma resistência variável e uma velocidade angular constante, o que é conseguido especialmente numa máquina, chamada dinamômetro isocinético. Este serve para avaliação e tratamento de diversos quadros clínicos. REFLITA Um indivíduo está descendo um lance de escadas. Sabendo que o pé direito dele tocou imediatamente o degrau de baixo, responda: Que tipo de contração muscular está ocor- rendo no tríceps sural (plantiflexores)? Fonte: O autor (2021). 42UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 42UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior 3. BIOMECÂNICA DO MEMBRO SUPERIOR A partir de agora, passaremos a discutir as características biomecânicas de cada região do corpo humano, iniciando pelo membro superior, que é objeto fundamental de estudo para o Fisioterapeuta. As capacidades da extremidade superior são variadas e impressionantes. Com a mesma estrutura anatômica básica do braço, do antebraço, da mão e dos dedos, os arremessadores de beisebol da liga principal arremessam bolas a 40 m/s, os nadadores atravessam o canal da mancha, os ginastas executam a cruz nas argolas, os viajantes carregam malas, as costureiras introduzem a linha através da agulha e os estudantes ma- nobram as teclas do computador (HALL, 2021). Os membros superiores fazem parte do esqueleto apendicular e são conectados ao esqueleto axial por meio de um cíngulo ou cintura, conhecido também como cintura escapular. Esta cintura é formada pela clavícula e escapula, possui uma ampla possibili- dade de movimentação, seus lados, esquerdo e direito não são conectados diretamente e sua fixação indireta acontece através do manúbrio do esterno. As articulações esterno- claviculares são responsáveis por conectar o esterno a cada clavícula, e as articulações acromioclaviculares conectam as escapulas às clavículas. Conectado a esta cintura escapular surge o ombro, seguido do cotovelo, sendo que estes têm como principalfunção posicionar a mão no espaço para a execução dos movimentos funcionais como pegar objetos, manipulá-los, comer, se lavar, entre outros. 43UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 43UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior 3.1 O ombro Não é possível estudar o ombro abordando apenas a articulação glenoumeral. O ombro está conectado ao tronco (esqueleto axial) através da escápula e clavícula (como já dito). Desta forma, além da articulação glenoumeral, que ocorre entre a escápula (cavidade glenóide) e o úmero (cabeça umeral), há a articulação escápulo-torácica (que liga a escápula ao gradil costal), uma articulação falsa, pois não é composta por cápsula nem ligamentos, mas um deslizamento entre as estruturas; a articulação esterno-clavicular (como o próprio nome já diz, que liga o esterno a clavícula); e a articulação acromioclavicular (sendo que o acrômio é também uma estrutura da escápula, que se liga a extremidade acromial da clavícula) (Figura 7). Vamos falar rapidamente de cada uma delas. FIGURA 7 - ARTICULAÇÕES DO OMBRO A articulação glenoumeral é verdadeira, possui três graus de liberdade e é bastante móvel. É sinovial do tipo esferóide, formada pelo úmero, cavidade glenóide da escápula e labrum glenoidal (uma espécie de fibrocartilagem que recobre esta cavidade glenóide com o intuito de aumentar sua congruência articular). Também apresenta uma cápsula, um envoltório membranoso que produz o líquido sinovial (que lubrifica e nutre a articulação) que contém ácido hialurônico. Ela é ricamente vascularizada e inervada (ou seja, ela pode provocar dor). Apresenta os ligamentos: coracoumeral (bloqueia a extensão e flexão) e glenoumeral superior, médio e inferior (bloqueiam a abdução e a rotação externa) (HALL, 2021). Esta é uma das articulações mais móveis do corpo, de maior Amplitude de Movimen- to (ADM) articular. Mas quando há uma grande mobilidade, há caracteristicamente menor estabilidade. Por isso, a glenoumeral é uma articulação que frequentemente é acometida por luxações e subluxações. 44UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 44UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior Já a articulação esterno clavicular, apesar de também verdadeira, é artrodial (plana) e multiaxial. A clavícula e o esterno são separados por um disco que ajusta a articulação e amortece impactos. Seus movimentos são de elevação (45º), depressão (5º), prostração (15º), retração (15º) e rotação posterior. Seus ligamentos são o esternoclavicular anterior (estabiliza o deslocamento anterior) / esternoclavicular posterior (estabiliza o deslocamento posterior); costoclavicular (estabiliza o deslocamento superior) e interclavicular (estabiliza o deslocamento superior). A articulação acromioclavicular também é verdadeira, do tipo sindesmose (permea- da por tecido fibroso) e multiaxial. Seus movimentos são elevação/depressão, protração/ retração e rotação. Seus ligamentos são o coracoclaviculares (trapezoide e conoide); acro- mioclavicular superior e inferior (HALL, 2021). Já a articulação escapulotorácica é falsa, já que não há cápsula nem ligamentos específicos dela. Seu movimento ocorre sobre o gradil costal, entre a fáscia do músculo subescapular e serrátil anterior. Seus movimentos (da escápula) são elevação/depressão, prostração (ou abdução) /retração (ou adução) e rotação interna e externa. SAIBA MAIS A escápula tem sido vista nos últimos anos como parte fundamental para a função do ombro. Uma disfunção desta, tanto se ela estiver mais rígida do que o normal quanto se estiver mais móvel do que o normal, pode provocar disfunção nesta e em todo o ombro, inclusive nas outras articulações de forma compensatória. Fonte: O autor (2021). Retomando, como já vimos, temos então quatro articulações no ombro, sendo que três verdadeiras e uma falsa. Estudos mais novos têm incluído mais uma, sendo a articulação subacromial (ou supraumeral), que na verdade é uma região que fica abaixo do arco coracoacromial e acima da cabeça do úmero. Nas imagens radiográficas aparece como um espaço, porém contém ligamentos, tendões, bursas, entre outros e se revela como importante aspecto para compreensão de várias disfunções encontradas na prática clínica, por exemplo as tendinopatias do manguito rotador. Daqui a pouco falaremos dele. 45UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 45UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior Possivelmente até agora você acreditava que quando você observava alguém le- vantando o braço para alcançar algum objeto no alto, por exemplo, que era apenas o úmero que se movimentava (o braço), mas isto não é verdadeiro. Agora sabemos que outros ossos além do úmero (escápula e clavícula) e articulações também têm sua contribuição. Biomecanicamente, esta relação entre as articulações do ombro é estudada pelo ritmo escápulo-umeral, que é a coordenação sincronizada dos movimentos de todas as articulações do ombro, sendo que o estudo ocorre no movimento de abdução. Vamos a este estudo. No total, o movimento de abdução do ombro é de 180º, e é estudado em três fases ou momentos, sendo de 0 a 30º, de 30 a 90º e de 90 a 180º. Biomecanicamente, na primeira fase praticamente todo o movimento é feito na glenoumeral, ou seja, a escápula e a clavícula quase não se movem (a clavícula pode fazer de 0 a 15º de elevação). Já na 2ª fase, ou seja, de 30 a 90º de abdução, a articulação glenoumeral é responsável por realizar dois terços da amplitude (ou seja, 40º) e a escápulo-torácica faz um terço (20º). Além disso a clavícula se eleva de 30 a 36º para auxiliar o movimento. É importante ressaltar que estes movimentos ocorrem de forma concomitante. Já a terceira fase (entre 90 e 180º de abdução), a glenoumeral continua fazendo dois terços do movimento (60º) e a escápulo-torácica, um terço (30º), sendo que é acrescido o movimento de rotação externa da glenoumeral de 90º, o que é fundamental para a saúde biomecânica do ombro, já que com esta rotação o tubérculo maior desvia do arco coracoacromial permitindo continuação do movimento até sua amplitude máxima, a de 180º. Nesta terceira fase também ocorre de 30 a 50º de rotação posterior da clavícula e até 30º de elevação da mesma (MAGEE, 2010). Assim, a partir de agora, sabemos que não é apenas o úmero que se movimenta ao realizarmos os movimentos do braço, mas a escápula (e sua articulação escápulotorácica) e a clavícula (e suas articulações acromioclavicular e esternoclavicular) contribuem signifi- cativamente para a função do ombro. Além dos ligamentos, cápsula, meniscos ou discos, os músculos também auxiliam na estabilização (neste caso dinâmica) de uma articulação. No caso do ombro, todos são importantes, mas há um grupo deles que têm maior relevância, pois estabiliza a glenoumeral e potencializa as rotações. Estamos falando do manguito rotador, formado pelos músculos do supraespinhal (ou supraespinhoso), infraespinhal (ou infraespinhoso), redondo menor e subescapular. Seus tendões comprimem a cabeça do úmero na cavidade glenóide, ou seja, promovendo uma coaptação articular, permitindo inclusive que outros músculos atuem de forma mais biomecânica e eficiente. Funciona como um capuz, fazendo a convergência na direção da cabeça do úmero (Figura 8) (ALBURQUERQUE, 2020). Vamos falar de cada um deste músculos pois isto se revela como importante na compreensão da função do ombro, e inclusive devido ao fato de que a incidência de disfunções neste é enorme. 46UNIDADE I Introdução da Cinesiologia e Biomecânica 46UNIDADE II Sistema Articular e Muscular do Corpo Humano. Biomecânica do Membro Superior e Inferior FIGURA 8 - MANGUITO ROTADOR O supraespinhal, músculo que tem origem na fossa supraespinhal da escápula (dois
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