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gente criando o futuro DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento Ana Lucia Guimarães Natália de Souza Pelinson Valdir Lamim-Guedes Junior BRUNO FONSECA DA SILVA, CAMILA BOLFARINI BENTO, ANA LUCIA GUIMARÃES, NATÁLIA DE SOUZA PELINSON E VALDIR LAMIM-GUEDES JUNIOR AUTORIA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS © Ser Educacional 2022 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento Ana Lucia Guimarães Natália de Souza Pelinson Valdir Lamim-Guedes Junior DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SILVA, Bruno Fonseca da. / BENTO, Camila Bolfarini. / GUIMARÃES, Ana Lucia. / PELINSON, Natália de Souza. / JUNIOR, Valdir Lamim-Guedes. Desenvolvimento Sustentável e Direitos Individuais. ISBN: Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Unidade 1 Introdução .............................................................................................................................. 15 Os problemas ambientais da atualidade ..................................................................... 17 A interdisciplinaridade nas questões ambientais ...................................................... 20 Um convite para repensar o amanhã ........................................................................... 22 Conceitos e definições ........................................................................................................ 23 Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo ................................................................................................................................ 33 Movimentos mundiais ......................................................................................................... 35 Marcos históricos da educação ambiental no Brasil ................................................... 39 Base conceitual da educação ambiental ........................................................................ 42 A política nacional brasileira para a educação ambiental ...................................... 45 Educação ambiental formal ........................................................................................... 46 Educação ambiental não formal ................................................................................... 53 Conceitos e objetivos da educação ambiental .............................................................. 54 Referências bibliográficas ................................................................................................. 58 Unidade 2 Responsabilidade socioambiental ................................................................................... 66 O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental ......................... 67 A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade .......... 69 A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial ......... 70 Sumário Sumário Aspectos legais .................................................................................................................... 73 Leis socioambientais brasileiras .................................................................................. 74 A responsabilidade socioambiental além das exigências legais .......................... 75 Desenvolvimento sustentável ............................................................................................ 77 Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável .............................................. 79 As três dimensões da sustentabilidade ....................................................................... 83 Debates mundiais ................................................................................................................. 84 Agenda 21 ......................................................................................................................... 85 Agenda 2030 ..................................................................................................................... 86 Contexto atual ....................................................................................................................... 88 Ecoeficiência .................................................................................................................... 89 Os 7 R’s da sustentabilidade .......................................................................................... 90 Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão .................................. 90 Paradigma econômico, social e ambiental ................................................................. 92 Empresa sustentável ....................................................................................................... 93 Modelos de gestão ambiental ....................................................................................... 95 Indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos de gestão ........................... 96 Fontes de orientação estratégica ................................................................................. 97 A Norma ISO 26000 .......................................................................................................... 98 Indicadores e índices de sustentabilidade ............................................................... 102 Tecnologias resultantes da gestão ambiental .......................................................... 104 Marketing ambiental ......................................................................................................... 105 Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor ................................................ 106 Iniciativas de marketing ambiental ............................................................................ 107 Sumário Cooperação, articulações intersetoriais e promoção do desenvolvimento ............... 108 O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental ........................... 109 Promoção do desenvolvimento: o papel da educação ambiental ........................ 112 Referências bibliográficas ............................................................................................... 118 Unidade 3 A Ética nas Relações Humanas .......................................................................................126 Raízes históricas da população brasileira ................................................................ 126 Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero ............................................... 128 Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica .............................................................. 136 A Intolerância, o Racismo e a Xenofobia ...................................................................... 139 O Ensino da Ética nas Instituições .................................................................................. 143 Educação das Relações Étnico-Raciais ........................................................................ 145 Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana ......................................... 147 Referências bibliográficas ............................................................................................... 149 Unidade 4 Direitos humanos................................................................................................................ 152 Raízes históricas da população brasileira ................................................................ 152 Conceituação e princípios dos direitos humanos .................................................... 154 Universalismo e multiculturalismo ............................................................................. 156 Ação comunitária e participação democrática ....................................................... 157 Ética, direitos humanos e violência ............................................................................ 160 Sumário Cenário atual e tendências da ética e da cidadania ............................................... 161 Ética e política ........................................................................................................ 163 Ética na saúde ........................................................................................................ 164 Ética nas redes sociais ..................................................................................................... 164 Educação, ética e cidadania hoje ................................................................................... 167 Fundamentação e inversão ideológica dos direitos humanos .............................. 171 Direito internacional dos direitos humanos e seus sistemas de proteção global e regional .......................................................................................................................... 171 Referências bibliográficas ............................................................................................... 173 Dedico este livro a todos que buscam compreender e se preocupam com as causas ambientais – e principalmente aos cientistas da sociedade civil, que defendem e procuram solucionar problemas sobre a temática. O professor Bruno Fonseca da Silva é graduado em Geografia (Licenciatura) e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Pernambuco, atuando desde 2013 em estudos relacionados às ciências am- bientais. Suas pesquisas concentram- se no monitoramento ambiental, por meio da análise de elementos químicos, radioisótopos e compostos orgânicos para avaliação da qualidade do ar – utili- zando organismos vivos (líquens) – e do solo. Tem publicações, participações em eventos científicos e ministração de cur- sos e palestras. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3215963517080495 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 9 O autor Dedico este trabalho aos meus professores, por todos que acrescentaram conhecimento teórico e prático desde a minha formação de base até a pós- graduação. Agradeço por serem profissionais tão dedicados nessa árdua e nobre tarefa de formar pessoas intelectual e socialmente. A professora Camila Bolfarini Bento é Doutora e Mestre em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental pela Univer- sidade Federal de São Carlos (2020), li- cenciada em Biologia (2020) e Bacharel em Engenharia Agronômica pela Uni- versidade Estadual Paulista (2012). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3230386423166043 A autora DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 10 Olá, meu nome é Ana Lucia. Sou Dou- tora em Ciências Humanas e possuo mais de vinte anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho doze anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhe- cimentos e experiências para locali- zar-me como autora nesta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação, laica, democrática e de qua- lidade é mais que um princípio em mi- nha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5544834203408615 A autora DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 11 Dedico este material à Wangari Maathai (1940–2011), uma ativista ambiental e política do Quênia, que estudou biologia nos Estados Unidos e voltou ao seu país para seguir uma carreira pautada nas questões socioambientais. Em 2004, Maathai recebeu o Prêmio Nobel da Paz pela luta por direitos das mulheres e do meio ambiente. A professora Natália de Souza Pelin- son é Mestra (2013) e Doutora (2018) em Ciências pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Pau- lo (EESC-USP). Formada (2010) em En- genharia Ambiental pela Universidade Federal de Viçosa - Minas Gerais (UFV), tem experiência com educação ambien- tal em projetos de extensão universitá- ria e saneamento rural. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7546156506679687 A autora DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 12 O professor Valdir Lamim-Guedes é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP, 2019), mestre em Eco- logia de Biomas Tropicais pela Universi- dade Federal de Ouro Preto (UFOP, 2011) e graduado em Ciências Biológicas pela também Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP, 2008). É especialista em Eduação Ambiental (EESC-USP, 2015), De- sign Instrucional para EaD (UNIFEI, 2014) e Jornalismo Científico (UNICAMP, 2015). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3473994189361010 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 13 O autor 1 UNIDADE Introdução Atualmente, a humanidade apresenta forte preocupação com as questões ambientais. No sentido restrito, utilizamos o termo “ambien- te” para nos referirmos aos aspectos da natureza, como a água, as plantas, os “animais”; mas conside- ramos a “sociedade” como algo à parte, como se não houvesse um elo entre ambos. Qual motivo, porém, para inserimos aspas nos respectivos termos? Porque somos educados, ou doutrinados, a restringi-los em seus sig- nificados. Quando abordamos a palavra “animais”, em certo ponto, infe- riorizamos as demais espécies por sermos seres pensantes – mas, nisso, fracassamos. Nós nos consideramos inteligentes; porém, não sabemos respeitar o meio em que vivemos. Somos definidos como sociais; todavia, negligenciamos o respeito à opinião, a escolha, ao status social do outro. Nessa direção, chegamos ao limite: da abundância de recursos naturais, mas também do preconceito, iniciando uma corrida contra o tempo para equilibrar a balança, e alcançarmos a harmonia. Podemos afirmar que a humanidade formou subgrupos. Diferentemen- te de outras espécies, na nossa, um subgrupo procura sobressair-se ao outro, fazendo com que se estruture uma pirâmide social (Figura 1), o que, em determinados momentos, acarreta discriminação. No entanto, por qual motivo falamos de ser humano e sociedade, se a temática é ambiente? Essa pergunta poderá ser respondida com outra: afinal, somos também ambiente? Se a resposta for positiva, o que nos levaria a pensar que questões sociais não são dis- cutidas na temática ambiental? O primeiro exer- cício necessário é a reflexão de que não existe diferença entre sociedade e ambiente: ser hu- mano e o seu meioconstituem algo mútuo e unitário. A compreensão é aparentemente simples, mas torna-se complexa ao tentarmos colocá-la em prática. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 15 Classe A Renda mensal acima R$ 14.695 3,6% das famílias 37,4% da renda nacional 26,5% da renda nacional 22,6% da renda nacional 13,6% da renda nacional 15% das famílias 27,9% das famílias 53,5% das famílias Renda mensal R$ 4.720 a R$ 14.695 Renda mensal R$ 1.957 A R$ 4.720 Renda mensal até R$ 1.957 Classe B Classe C Classe D/E Figura 1. Modelo de pirâmide social brasileira, classificada pela renda. Fonte: IBGE (2015) apud Mussi, 2017, p. 20. Uma reflexão importante é sobre o que nos leva atualmente a abordar esse discurso socioambiental com afinco. Talvez seja a busca pela sensi- bilização social, não se restringindo à conscientização. Sensibilizar a po- pulação às questões socioambientais procura estimular seu engajamento e trabalho efetivo, com a finalidade de um ambiente de melhor convívio. Deve-se, por sinal, compreender que a palavra trabalho não está restri- ta às relações de emprego, mas a toda e qualquer atividade socioambien- tal realizada. Para melhor compreensão, pode-se afirmar que a produção do conhecimento e o desligamento histórico entre sociedade e ambiente são formas de trabalho. Dessa forma, o trabalho é o produto dos fenôme- nos e da relação entre sociedade e natureza, que procura atingir alguma meta ou objetivo. Essa finalidade é denominada teleologia. CONTEXTUALIZANDO A concepção de trabalho foi estudada pelo cientista Sergio Lessa para elaboração da sua tese de doutorado, que resultou no livro Mundo dos homens: trabalho e ser social. O enredo da obra baseia-se na concepção de trabalho como processo de complexidade do ser social e no trabalho abstrato (força produtiva). A abordagem da obra é de cunho filosófico e sociológico, e convida-nos a conhecer e ampliar a visão sobre o tema (LESSA, 2012). Nesse enredo filosófico, podemos pensar na relação de trabalho que temos com o nosso meio e em ambas as questões, físicas e sociais que o envolvem. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 16 Compreender esse relacionamento socioambiental exige conhecimento de di- versas áreas – humanidades, sociais aplicadas, exatas e saúde. Cada qual traz uma forma de construção de conhecimento – nem sempre convergente –, e essa contradição, ou contraposição de ideias tem a capacidade de formar no- vos conhecimentos. É o que se denomina dialética. Esse debate de ideias é importante para a formação de conhecimento, pois o ambiente se constitui na interdisciplinaridade. Dessa maneira, a implementa- ção do método cartesiano como forma de compreender melhor os fenômenos que nos rodeiam acarretou alguns problemas: com o formato de fragmentação do conhecimento, precisamos, agora, unir as diversas ciências, algo de suma importância para compreendermos o ambientalismo. CITANDO Leandro Konder tratou da dialética em sua obra O que é a dialética, publi- cada pela primeira vez em 1981. O livro, que faz uma abordagem estrutural histórica, filosófica e sociológica sobre o tema, traz a seguinte definição de dialética pelo autor: “O modo de pensarmos as contradições da rea- lidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação” (KONDER, 2008, p. 8). Os problemas ambientais da atualidade A crescente demanda por uma soberania econômica dos países implica sé- rios problemas ambientais. Para movimentar a “máquina” financeira e se tor- narem concorrentes, as grandes empresas buscaram o lucro e se ausentaram das questões do ser humano e seu meio. É complexo afirmar que os governos são responsáveis pelo desenvolvimento regional, pois, durante o processo his- tórico, em especial após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações, as multinacionais, iniciaram uma espécie de regência econômica global. Em geral, torna-se perceptível a necessidade das indústrias e do setor de serviços para a manutenção de empregos, geração de rendas e afins. Uma indústria multinacional, ao se instalar, por exemplo, em determinada cidade, ocasiona o surgimento de outras pequenas empresas que lhe darão su- porte produtivo (peças, tecidos ou qualquer tipo de matéria-prima). Também ocorrerá a ampliação do comércio e outros meios de serviços, devido à chegada DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 17 de novos moradores ou visitantes, ampliando a abertura de hotéis, restauran- tes, entre outros. Além disso, os gestores regionais procuram melhorar os ser- viços básicos, principalmente aqueles relacionados ao transporte, o que facilita a locomoção. Isso demonstra a formação de uma cadeia que, com o passar dos anos, gera maior engajamento. Aparentemente, todo esse processo parece positivo; contudo, há, também, um lado obscuro. A falta de preocupação com o meio físico ocasionou a devasta- ção de florestas, ameaçando a sobrevivência de espécies. Essa remoção de co- bertura vegetal também ocasionou a degradação dos solos, bem essencial à ma- nutenção da vida, assim como dos recursos hídricos, que foram poluídos – em ambos os casos, com consequências consideradas irreversíveis. A exploração de bens minerais tornou-se altamente crescente, mas a manutenção dos recursos não pôde acompanhar a demanda. Além disso, o fenômeno da urbanização ocasionou aumento demasiado na geração de resíduos sólidos e efluentes, bem como a constante emissão de parti- culados atmosféricos (orgânicos e inorgânicos), por meio dos gases emitidos por indústrias, transportes e pela realização de queimadas (Figura 2). Figura 2. Ilustração dos problemas ambientais da atualidade. Fonte: SOUZA, 2014. AR TERRA FOGO ÁGUA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 18 Não somente as questões relacionadas ao meio físico, porém, registraram impactos. A necessidade de mão de obra acarretou a busca por pessoas de outras regiões que aceitassem empregos exploratórios, sujeitando-se a uma elevada carga de trabalho e a baixos salários. Os resultados desse processo fo- ram xenofobia e inferiorização do trabalho feminino, e o preconceito contra raça e gênero tornou-se crescente. O status social e profissional paira sobre o ambiente, dando margem à inferiorização. Mesmo assim, os subgrupos, co- mentados anteriormente, foram incorporados socialmente e ganharam força, mas sabemos que esses problemas ainda se encontram presentes, embora as legislações e os movimentos para mudanças se encontrem ativos e tenham obtido resultados positivos. Todavia, muito ainda precisa ser feito. CURIOSIDADE A história de Marie Curie é inspiradora. Nascida em 1867, na Polônia, desafiou todos os preconceitos existentes quanto à inferiorização social da mulher. Realizou um trabalho crucial sobre a radioatividade, sendo a primeira mulher, e a única pessoa no mundo, a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes em categorias científicas distintas, química e física. Lutou contra toda forma de discriminação e preconceito, e seu legado científico é reconhecido e aplicado até os dias atuais, principalmente nas áreas de física, química e na medicina. É importante perceber que as atividades relacionadas à economia estarão sempre interligadas aos problemas socioambientais. A empregabilidade e a ne- cessidade de circulação financeira elevam as relações no interior da sociedade e o meio físico. A educação é uma ferramenta “libertadora” para a erradicação dos pro- blemas apresentados; entretanto, as falhas nesse processo são enormes. O esquecimento de que educar é a principal ferramenta para a formação de ci- dadãos é uma das principais delas. A realização de mudanças deve ser iniciada a qualquer momento, por mais simples que seja a atitude; porém, a educação será crucial e terá impactos na construção de um novo futuro. As questões relatadas implicam sérias consequências para um bom desen- volvimentosocioambiental. A saúde humana é a principal impactada e motivo de estudos em diversos países. Um dos temas trabalhados em países desen- volvidos é a influência das questões socioambientais na população, pois é per- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 19 ceptível o crescimento do número de mortes por câncer devido à poluição, da procura por psicólogos e psiquiatras devido a problemas de relacionamento etc. – e isso influencia a qualidade de vida e bem-estar do ser humano. As me- lhorias surgirão primeiramente da sensibilização, e posteriormente no traba- lho para modificação – formas de ação denominadas práxis. DICA A práxis é o processo da junção entre teoria e prática. A explanação des- se conceito foi realizada no trabalho realizado por Pereira e colaboradores (2016), chamado: “O conceito de práxis e a formação docente como ciên- cia da educação”. Mesmo com uma abordagem mais voltada à pedagogia, os autores procuram apresentar os princípios fundamentais do conceito. A interdisciplinaridade nas questões ambientais Os meios de comunicação facilitaram nossa percepção sobre o sistema cau- sa-efeito dos problemas ambientais. Todavia, é importante relembrá-los para fixá-los em nosso cotidiano. Podemos classificá-los em: 1. Discriminação por questões de classe, gênero, raça e etnia; 2. Exploração irregular de recursos naturais; 3. Abuso de autoritarismo por status social, empregatício ou acadêmico; 4. Despejo de rejeitos em locais e formas indevidas; 5. Desmatamento e caça predatória; 6. Exploração de mão de obra; 7. Emissão constantes de poluentes atmosféricos; 8. Ausência de aprendizado sobre deveres sociais éticos. As causas dessas questões acarretam uma conjuntura de reuniões, debates e movimentos sociais, para o despertar da sensibilização. A academia, como principal membro estrutural de discussão dos problemas socioambientais, tem o compromisso de trabalhar esses temas e propor soluções. Entretanto, uma única ciência não é capaz de ter a totalidade de conhecimentos necessários para essa finalidade. Um sociólogo, por exemplo, não tem competência, em sua formação, para implementar tecnologias industriais de recuperação de áreas degradadas – mas tem o conhecimento necessário para compreender as causas humanas que le- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 20 varam à degradação do local. Um administrador não tem, em seu perfil profis- sional, qualificação para análises químicas de despejo de efluentes em rios – mas pode trabalhar em conjunto com um especialista na área ambiental para propor uma gestão sustentável de resíduos. Esses exemplos demonstram a importân- cia do trabalho conjunto das diferentes áreas. No decorrer do processo de construção do conhecimento, podemos subdivi- dir esse trabalho conjunto em três aspectos: 1. Multidisciplinar: cada área contribui com seu conhecimento, sem modifi- cações; há uma espécie de ponto de vista; 2. Interdisciplinar: as áreas do conhecimento adentram-se umas nas outras e formam uma interligação de conhecimentos; 3. Transdisciplinar: não existem áreas de conhecimento. Tudo é contínuo, sem ocasionar espécie alguma de divisão ou interrupção. Este último aspecto é considerado, por diversos cientistas, uma utopia, de- vido à complexidade de um único ser lidar com todo tipo de área existente. No caráter multidisciplinar, a falta da construção de novos pensamentos não apresentará eficácia quando em comparação com a interdisciplinaridade. Já a interdisciplinaridade recebe contribuições em diferentes áreas, e ocorre um engajamento, com a construção de novas formas de pensamentos aplicadas em diferentes contextos. Nesse caminho, o discurso socioambiental apresenta sua formação. Atualmente, praticamente todos os cursos de formação profissional e tecno- lógica (técnico, graduação ou pós-graduação) trazem alguma disciplina, ou as- suntos dentro de sua ementa, que abordam a temática ambiental. Nesse sentido, os projetos ambientalistas, por abarcarem diferentes áreas do conhecimento, demonstram robustez de elaboração e execução, uma vez que sua construção exige diferentes pontos de vistas, que são interligados e contextualizados. No Brasil, os cursos de pós-graduações stricto sensu (mestrado e doutorado) inseridos na área de ciências ambientais da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) apresentam a interdisciplinaridade de áreas como obrigatoriedade no processo de construção de suas dissertações e teses. Caso o trabalho não tenha esse escopo, poderá ser penalizado com reprovação. As DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 21 questões sociais, inclusive, devem ser contempladas na problemática da pesqui- sa, pois, em sua maioria, os programas têm o objetivo de formar recursos huma- nos capazes de compreender e solucionar problemas relacionados ao ambiente. Um convite para repensar o amanhã Nossas formas de agir, sejam elas positivas ou negativas, implicarão no futuro. Como forma de refletir sobre a exposição anteriormente realizada, percebe-se que o ambiental é algo mais abrangente do que os elementos físicos. Compreender a natureza e suas interligações é um processo comple- xo; contudo, em um primeiro momento, talvez seja primordial respeitarmos os elementos que nos rodeiam. Somos todos os dias convidados a refazer um novo amanhã, e repensá-lo significa transformar nossas atitudes e pro- por ações de melhoria. Procuremos deixar o pensamento focado no dinheiro, as atitudes de so- berba, a ganância para passarmos a conviver em harmonia. A teoria ética que aprendemos no período escolar é sempre necessária de ser colocada em prática, sensibilizando-nos com o meio em que estamos e que vivencia- mos. Diferentemente das demais espécies, somos seres pensantes – e, ao realizarmos escolhas e ponderarmos nossas atitudes, conhecemos as con- sequências das nossas ações. Portanto, ao prejudicarmos o meio em que vi- vemos, temos conhecimento dos impactos que causaremos a nós mesmos. As gerações futuras agradecerão as transformações positivas que nos propusermos fazer hoje, e deverão dar continuidade a elas, pois este é um trabalho constante, ininterrupto e inacabável: a manutenção do nosso meio é fundamental para melhorar exponencialmente a qualidade de vida e, con- sequentemente, nossa felicidade. Numa sociedade harmonizada, todos têm bons lucros em ambos os aspectos, financeiro e moral – pois pas- samos a refletir sobre o coletivo, e não somente sobre as questões individuais. Procuremos, por- tanto, sempre fazer esse exercício de pensar no próximo, sobre as coisas que nos rodeiam e so- bre o amanhã. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 22 Conceitos e definições Antes de iniciarmos este tópico, é importante pensarmos que o conhecimento é construtivo. A academia exige constantes reflexões sobre suas teorias, pois é dela a responsabilidade de formar novos conhecimentos. Como acadêmicos, de- vemos lembrar que o conhecimento deve ser por nós construído, e não simples- mente recebido e reproduzido. Algumas pessoas se perguntam por qual motivo existe a necessidade de constantes e diferentes formas de leituras – livros, notas, artigos, comunicações curtas –, e essas questões dúbias são erradicadas quando entendemos o verdadeiro sentido de sermos acadêmicos. Neste tópico, serão tratados alguns conceitos e definições utilizados frequen- temente na temática socioambiental. Todavia, é importante lembrar que eles são passíveis de mudanças, uma vez que a academia é dinâmica e se encontra em constantes transformações. As práxis implementadas são responsáveis pelo sur- gimento de novas formas de visão, já que a prática é crucial na efetivação do pen- samento teórico. Socioambiental/ambiental Como abordado, compreende-se como socioambientais (ou ambientais) as relações existenciais entre sociedade e natureza. É algo inseparável, que tem como produto o trabalho.Não há, nessa relação, superioridade ou inferioridade entre as partes, mas um equilíbrio. Torna-se importante a fixação dessa “balança equilibrada”, pois duran- te séculos existiu uma discussão acerca de uma superioridade entre as partes: ora, a sociedade é responsável pela regência do seu meio; ora, a gerência ocorre no sentido inverso. Essa discussão de questões de meio físico e social foi funda- mental para o surgimento de determinadas ciências, como a Geografia. A ideia de que o meio físico era superior ao homem fez com que surgisse o conceito de espaço vital, de que o homem necessitava explorar os recursos para que ocorresse um equilíbrio. Essa forma de pen- samento, denominada determinista, foi elaborada por Friedrich Ratzel e largamente incorporada nas ideolo- gias de Hitler para o nazismo, sendo esse um dos pri- meiros relatos escritos sobre a implementação das questões sociais sobre o ambiente. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 23 Meio ambiente Termo usualmente empregado nos estudos voltados às ciências ambientais. Entretanto, há cientistas que iniciaram uma espécie de desuso, pois, ao inserirmos a palavra “meio”, estaríamos abordando a metade de algo, e, devido à interligação existente, não se deve realizar essa inferência. Por muitos anos, as questões ambientais foram abordadas nos seus aspectos físicos. Contudo, o papel social tem apresentado uma inserção gradativa e abran- gente na discussão. Por termos sido acostumados (ou até mesmo doutrinados) a dividirmos o conhecimento para melhor compreensão, esse termo pode ser usualmente empregado para o estudo das questões físicas ambientais. Áreas degradadas Umas das maiores problemáticas ambientais existentes atualmente é a degradação ambiental. O termo é em- pregado principalmente para estudos de solos e ecossistemas. As atividades humanas, principal- mente de industrialização, agricultura, pecuária, e mineração, destacam-se no desmatamento e improdutividade do solo, por meio do lançamento de rejei- tos, como elementos químicos tóxicos. Ao dizermos que uma área é degrada- da, ocorre uma referência àquelas que se encontram altamente poluídas e reque- rem regeneração, a partir de tecnologias sustentáveis para melhoramento de so- los, afluentes e reflorestamento. No meio acadêmico, pesquisas voltadas à recuperação dessas áreas são cons- tantes. O avanço nas ciências dos materiais possibilitou a aplicação de nanopartí- culas, hidrogéis e estruturas poliméricas que auxiliam, com sucesso, a recupera- ção de solos e rios. Atualmente, empresas propõem o financiamento de pesquisas ou compra de patentes para solucionar tais problemas, o que implica na inserção de uma série de profissionais, como engenheiros, físicos, químicos, administradores, biólogos e afins. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 24 Desertificação A desertificação adentra os temas globais em discussão na Organizações das Nações Unidas (ONU). A utilização de recursos naturais de forma inapropriada, somada às mudanças climáticas e aspectos físicos naturais, ocasiona uma degra- dação de tal forma que torna impossível a regeneração dos locais explorados, fa- zendo surgir áreas áridas e semiáridas. Esse debate foi iniciado devido a problemas existentes no continente africano, alvo de grandes preocupações. Por envolver aspectos de auxílio financeiro, países como os Estados Unidos entraram na “corrida”, com o intuito de adquirir lucros, contestando a existência de áreas em processo de desertificação em seu terri- tório. No entanto, atualmente existe um mapeamento e acompanhamento dos países com tendências ao processo de desertificação, que podem ser encontrados nas Américas, África e Europa. No Brasil, as áreas susceptíveis à desertificação são encontradas na Região Nordeste. Um dos núcleos de estudos é o município de Cabrobó, Pernambuco, que se encontra em processo avançado (Figura 3). A utilização das técnicas de agri- cultura por inundação, associada à topografia do terreno e alta evapotranspiração devido às condições climáticas, ocasionou a formação de extensas camadas de sais no solo, tornando-o improdutivo e causando abandono das áreas. As pesqui- sas estão concentradas nos aspectos de impactos socioambientais, bem como na tentativa de mitigar o problema. Figura 3. Solo salinizado no município de Cabrobó, Pernambuco, um dos núcleos de desertificação brasileiro. Fonte: MAIA, 2015. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 25 As problemáticas não se restringem aos aspectos físicos, pois os fatores sociais são duramente afetados. Ao tornar o solo improdutivo, ocorre um im- pacto direto na produção de alimentos, bem como o abandono dos locais pelos moradores. Nesse processo, há uma queda na arrecadação econômica. Sendo a região responsável por produzir alimentos para outros municípios, estados e afins, o processo ocasionará desabastecimento e prejudicará milhares de famí- lias. Fatores como esses ressaltam a preocupação das entidades governamen- tais sobre o tema. Efluentes Umas das temáticas mais trabalhadas pelas empresas no setor ambiental são os efluentes. A água é um bem precioso, utilizado corriqueiramente em nossas atividades do cotidiano. O processo de “chegada, recebimento” da água é denominado afluente; e a “saída”, denominada efluente. Devido à mistura com outros compostos, orgânicos e inorgânicos, como gorduras, pesticidas, metais e afins, os efluentes tornaram-se uma temática de grande discussão, pois o destino, em sua maioria, são os rios. Ao serem lança- dos em aquíferos, um dos principais problemas é a carga microbiana existente no material, que ocasiona sequestro de oxigênio e impede o desenvolvimento e manutenção da vida aquática. Os metais são outro exemplo de grandes preocupações, devido à capaci- dade de se acumular nos organismos. Os acúmulos podem acontecer em seres humanos, por meio da ingestão, acarretando sérios problemas de saúde. ASSISTA A série Aruanas, produzida pela Rede Globo, demonstra com cla- reza os problemas causados pelo não tratamento de efluentes. O enredo concentra-se nos impactos socioambientais causados pela mineração na região amazônica. O despejo irregular dos efluentes, com altas concentrações de metais como chumbo e mercúrio, ocasiona problemas de saúde nos moradores da região devido à ingestão por meio do consumo de peixes. Em algumas cenas, é demonstrada a morte gradativa dessas pessoas. Atualmente, há empreendimentos com estações de tratamento e moni- toramento constante, por meio de análises químicas que atendem às legisla- ções ambientais. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 26 Pesquisas nessa temática registram grandes avanços, principalmente pela aplicação de carvões ativados como adsorventes. Outros buscam a utilização de organismos vivos, como plantas aquáticas, para realização de tratamentos. O propósito, porém, vai além do tratamento, e busca a reutili- zação para fins de serviços gerais ou alguma etapa de processo produtivo. No Brasil, a importância do tema reflete-se na construção de linhas de pes- quisas em cursos de mestrado e doutorado, que se propõem a estudar o problema e buscar soluções. Bioenergia As preocupações do petróleo e carvão mineral como bens finitos acarreta- ram mudanças energéticas globais. A busca por fontes alternativas de energia tornou-se crescente, a fim de evitar um colapso energético futuro. Não somente a falta, mas também a intenção dos países em melhorar suas condições ambientais proporcionaram o avanço de pesquisas e implementa- ção de fontes limpas e renováveis. A bioenergia é compreendida como aquela que acarreta menores níveis de impactos ambientais, composta por fontes sustentáveis. Matérias-primas como biomassa, sol, vento, são consideradas formas de energia limpa (Figura 4). Solar Geotérmica Biomassa Mini-hídricas Eólica Ondas Figura 4. Principais fontes deenergia limpa. Fonte: CreaJR-PR, 2010. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 27 É de suma importância saber que qualquer forma de energia trará algum nível de impacto: o que se diferencia é o grau implicado. Petróleo e carvão mineral, além de considerados bens finitos, emitem par- ticulados e compostos orgânicos quando em combustão, como os hidrocar- bonetos polissacarídeos aromáticos, altamente prejudiciais à saúde. Estudos apontam positividade em sua substituição por outras fontes, mais sustentáveis, com tendência mundialmente crescente; porém, são necessárias uma constante atenção e acompanhamento. A utilização de biomassa pode ocasionar uma competição entre produção de energia e alimentos. Entre as matérias-primas utilizadas, os óleos derivados da soja e do milho são os principais, mas são eles também fontes nutricionais importantes. Pesquisas que procuram avaliar os impactos ambientais da energia solar e eólica apontaram dois sérios problemas: elevação da morte de animais, princi- palmente de aves, e erosão. A devastação de áreas para implementação desses modais energéticos também é outra problemática. Compreender tais problemas é importante para entendermos que, mesmo em se tratando de uma energia sustentável, há alguma forma de impacto. Economia verde Devido às preocupações com as questões ambientais, as empresas iniciaram um processo de mudança e implementaram tecnologias em seu processo de trabalho para proporcionar menos impactos ao ambiente. Seu propósito sustenta-se em menores emissões de poluentes, bem como na criação de produtos biodegradáveis. Esse novo formato produtivo é deno- minado de economia verde e tem demonstrado adesão crescente por parte de empreendimentos do setor público e privado. Essa adesão não se encontra restrita à diminuição de impactos ambientais, mas também abrange mais lucra- tividade, com diminuição de custos. Essa nova visão econômica encontra-se presente em grandes de- bates e participa da agenda da ONU. Os empreendimentos estão gradativamente reestruturando suas linhas produti- vas e investindo em tecnologias sustentáveis. Já os setores públicos têm uma tendência em incentivar essa transição, principalmente para atingir as metas propostas em acordos DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 28 de cooperação sobre diminuições da poluição ambiental. São mudanças que de- vem atingir de forma positiva a sociedade, possibilitando e garantindo seu bem -estar, sem ocorrência de danos. Padrões de consumo Vivemos numa sociedade em que somos “forçados” ao constante consumo, e essa atividade é de suma importância para manutenção econômica. Por quais- quer produtos utilizados necessitar, em seu processo, de alguma matéria-prima originada do ambiente, preocupações ambientalistas foram iniciadas. O consumismo demasiado poderá ocasionar, em breve, a escassez de recur- sos naturais. Daí, o debate visando à mudança. Ao se mencionar sobre padrões de consumo, estamos nos referindo à forma como a sociedade adquire e descar- ta seus bens – roupas, eletrodomésticos, calçados e afins. O desafio atual encontra-se na sensibilização social para o consumo cons- ciente, uma atividade de alto grau de dificuldade. Em um meio em que se apren- deu que o comprar pode ser uma ferramenta de felicidade, ocasionar uma mu- dança nessa forma de pensar é complexo. Contudo, não ocorre a existência de uma alternativa sem ser por meio de mu- dança de atitudes – e a realidade atual é a falta de recursos naturais no futuro, já que a demanda é superior se comparada à oferta. Como consequência, poderá ocorrer uma queda no bem-estar da população, assim como a falta de atendi- mento para questões básicas e essenciais de manutenção diária. Mudanças climáticas Para compreensão desse tema, uma primeira definição precisa ser es- clarecida, que é a diferença entre clima e tempo. O tempo é algo mutável – um dia poderá ser de sol, e o outro é de chuva. Já o clima é uma observação das modificações do tempo numa faixa mí- nima de 30 anos. Quando falamos de mudanças climáticas, a referência é uma grande mo- dificação no clima em escala regional ou global. Essa mudança pode apresentar sérios riscos à qualidade de vida da população. Áreas de climas frios, por exem- plo, podem apresentar constante aquecimento. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 29 As constantes emissões de poluentes são as principais causadoras da proble- mática, uma vez que podem provocar reações com o ozônio atmosférico e oca- sionar aumento na destruição de filtragem dos raios ultravioletas. Esse processo é denominado aquecimento global. Ocorrem grandes discussões na comunidade acadêmica sobre essa temáti- ca. Alguns estudiosos afirmam que a Terra se encontra em um processo de aque- cimento natural, com tendências futuras de ocorrer um resfriamento, já que, no contexto histórico de formação do planeta, existem evidências de processos de glaciação e deglaciação. Entretanto, a maior quantidade de pesquisas aponta que os impactos ocasio- nados ao ambiente, principalmente pela emissão de gases tóxicos no ar, são os principais responsáveis por esse processo atualmente. Desenvolvimento sustentável Entende-se por desenvolvimento sustentável o emprego de tecnologias que ocasionem menores níveis de agressão ao ambiente, como a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. A terminologia tecnologias limpas tam- bém é usualmente empregada nessa temática. A substituição dos combustíveis fósseis (petróleo) por energia de biomassa é considerada uma forma de desenvolvimento sustentável. As inovações tecnoló- gicas sustentáveis também devem ter um custo acessível, para beneficiar todas as classes sociais. A questão social também se encontra inclusa no discurso des- sa temática, devido à necessidade de melhorar a qualidade de vida da popula- ção, em uma tentativa de diminuir as desigualdades. Os limites de recursos naturais devem ser respeitados, e são necessários altos investimentos em pesquisas que busquem fontes alternativas em substi- tuição parcial, ou total. Atividades que contribuam para a extinção de espécies devem ser imediatamente interrompidas e reelaboradas, por poderem provocar um desequilíbrio no sistema ecológico. Essas novas visões e perspectivas estão sendo gradativamente postas em práticas, principalmente por países europeus; entretanto, muito ainda precisa ser realizado. Preservação e conservação Esses termos, diferentemente do pensamento comum, têm significados to- talmente opostos. A preservação é designada para áreas com proteção total, em que não pode ocorrer nenhuma forma de intervenção humana. Quando se DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 30 trata de conservação, poderá ocorrer a exploração de forma racional, não fo- mentando indícios de qualquer tipo de impacto ao ambiente. O Brasil conta com legislações que garantem e delimitam áreas preservadas e conservadas, tendo como punição de descumprimento multas e/ou prisões. O desrespeito a essas áreas, porém, é uma problemática existente e difícil de ser erradicada. As fraudes sobre as legislações ambientais, o descompromisso de empreendimentos, tentativas de subornos e trabalho exploratório e ilegal, são situações encontradas na exploração de bens naturais: em muitos casos, as áreas protegidas têm riquezas minerais, como ouro, ferro, grafeno, estanho e afins, cobiçadas por grandes empresas devido às diversas aplicações. Uma face esquecida é a riqueza da biodiversidade na fauna e flora existente nessas áreas, em alguns casos, pouco conhecidas e estudadas. Pesquisas constantes em áreas protegidas demonstram a descoberta de novas espécies, bem como melhor compreensão das dinâmicas ecológicas. Os estudos de base (aqueles que dão margem a outras pesquisas) apontam que há muito que ser descoberto. São fatores como esses que demonstram a importân- cia de proteção dasrespectivas áreas, especialmente em um contexto em que, em muitos casos, ocorre negligência para atender anseios econômicos. Ecologia, ecossistemas e biomas A procura pela compreensão dos aspectos de interrelação dos seres vivos com seu ambiente é denominado ecologia. Entre seus campos de pesquisa, busca-se o entendimento dos padrões e diversidades de espécies, modificações fisiológicas ou genéticas, ciclos biogeoquímicos e afins. São assuntos de extrema complexidade que envolvem, em determinados casos, anos de pesquisas para obtenção de resultados. O bioma é compreendido pela delimitação de uma região com característi- cas (climáticas, fisiológicas, geomorfológicas, entre outros aspectos) bem defini- das. No território brasileiro há seis biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Denomina-se ecossistema a interação dos fatores bióticos e abióticos, e se propõe estudar suas respectivas influências. Esse é um conceito bastante utilizado e estudado pelos ecologistas. Contudo, os setores de tecnologia da informa- ção também têm-se apropriado dessa terminologia. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 31 Recentemente, o termo ecossistemas de inovação tem ganhado espaço nos debates. Seu objetivo é uma parceria sólida entre entidades governamentais, empresas e instituições universitárias, visando à construção e implementação de parques tecnológicos. Os temas que têm foco são aqueles voltados ao campo das engenharias, informática e outros que envolvem a tecnologia da informação. Equidade social A busca por uma sociedade mais justa é uma das lutas ambientais atuais. A questão de justiça não deve se restringir aos aspectos do ser humano em sua relação com o meio físico, mas abranger também a relação entre seres sociais. O termo igualdade adentra este século para realizar reparos, consertar e evitar erros relacionados à justiça social. Contudo, outro termo tem tido sua apli- cação ampliada: a equidade. Diferentemente da igualdade, que busca realizar uma avaliação, julgamento e afins e é aplicada igualitariamente a todos, a equidade busca estudar o caso, ocasionando uma restruturação de regra, mas sem perda alguma da ética e da justiça (Figura 5). Figura 5. Exemplificação da diferença entre igualdade e equidade social. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/08/2020. Igualdade Equidade Segurança alimentar Esse tema pode ser definido como a capacidade de produção e distribuição de alimentos seguros para toda a população. As políticas voltadas a mecanis- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 32 mos produtivos e disponibilidade de alimentos, a serem elaboradas pelas enti- dades governamentais, é denominada soberania alimentar. A temática da segurança alimentar envolve diversos temas: todos aqueles voltados à disponibilidade de terra, água e fertilizantes. O contexto também está relacionado à aquisição de alimentos saudáveis para a população. Temáticas como obesidade e doenças causadas pelo consumo alimentício inadequado também são relacionadas à segurança alimentar. Resíduos sólidos Esse tema é definido como qualquer tipo de material ou bem adquirido e descar- tado pela sociedade. Em sua maioria, os materiais podem ser reciclados e/ou reu- tilizados. Contudo, o descarte inadequado apresenta um dos principais problemas ambientais atuais. No Brasil, em 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10): o Ministério do Meio Ambiente (2010) aborda políticas de gestão, res- ponsabilidade sobre o ciclo de vida, viabilização de coleta seletiva e sistema de infor- mações sobre o gerenciamento de resíduos. Contudo, falhas envolvendo aspectos financeiros inviabilizam um trabalho efeti- vo, especialmente as diversas falhas no gerenciamento de resíduos. Nossas atitudes como cidadãos são importantes pois a separação dos resíduos ainda é algo pouco executado na sociedade. Racismo estrutural Vivemos em uma sociedade diversificada. Contudo, as políticas étnicas e de res- peito ao próximo, em alguns casos, não são implementadas. No histórico de desenvolvimento humano, a ascensão de um determi- nado grupo social e inferiorização de outro é algo ainda encontrado neste século. Essa trajetória histórica, que põe em prática uma cultura que atinge diferentes grupos sociais de forma negativa, sem respeito à ética civil, é denominada racismo estrutural. Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo Os debates sociais sobre as responsabilidades e valores éticos ocorrem todos os dias. As mesas redondas e eventos científicos são constantes no mundo inteiro, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 33 sendo eles responsáveis por traçar e fomentar a compreensão do hoje e promo- ver ações que terão efeitos significativos em curto ou longo prazo. Os meios aca- dêmicos e as universidades são os principais polos desses debates, destacando-se as Ciências Humanas, embora não sejam exclusivas nessas mesas. Uma visão de aspecto mundial O debate sobre a reponsabilidade social tem seu principal início marcado pela Revolução Industrial no século XVIII. A situação precária de trabalho, em maioria exploratórios, fez diversos teóricos debaterem a problemática. Entre as teorias realizadas, uma se encontra em debate até os dias atuais: Karl Marx elabora as primeiras formulações sobre o capitalismo. A corrente de pensa- mento de Marx era uma dura crítica à exploração exacerbada da classe operária, e, em contrapartida, aos lucros e à concentração de renda que estavam nas mãos dos grandes donos de empreendimentos. Além disso, as teorias de Marx também contemplavam questões ambientais devido aos altos níveis de poluição que se alastravam pela Europa. As problemáticas relacionadas ao trabalho exploratório fizeram a classe operá- ria procurar lutar por alguma forma de garantia de direitos. Esse fator estava atre- lado, também, à constante modernização fabril, que diminuiu a dependência de mão de obra e fez com que antigos artesões se tornassem desempregados. Essas perspectivas levaram os operários a lutar e a construir os sindicatos, reconhecidos pelo parlamento inglês após várias lutas, que também resultaram no surgimento de movimentos grevistas. Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida social foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preo- cupações com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pau- tas ambientalistas. O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma im- portante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, pre- conceito racial e consumo consciente, dando margem a ou- tros debates pouco comentados naquele período. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 34 O Brasil no caminho da responsabilidade social Após o período da Ditadura Militar e constituição do Brasil como democra- cia, novos debates surgiram. A elaboração da Constituição garantiu as legisla- ções trabalhistas anteriormente reduzidas durante a ditadura. A liberdade de expressão e de imprensa é devolvida, ampliando a ascensão sobre os proble- mas sociais, principalmente relacionados à pobreza, existentes devido à liber- dade dos pesquisadores das ciências humanas definirem seus estudos sem a ocorrência de algum tipo de retaliação. A reforma agrária é outro importante marco, que possibilitou a distribui- ção e posse de terras para os pequenos agricultores. Diferentemente do que se imagina, esse grupo de trabalhadores são os principais responsáveis pelo abastecimento alimentício nacional. As grandeslavouras, as agroindústrias, têm foco na manutenção do mercado internacional, uma vez que o Brasil é um dos principais centros do agronegócio mundial. Movimentos mundiais A Segunda Guerra Mundial teve fim no ano de 1945 e deixou conse- quências graves para humanidade. O mundo precisava reestruturar-se fi- sicamente e economicamente. Além da morte de milhares de pessoas, outro grande grupo ficou sem acesso a alimentos e suprimentos de neces- sidades básicas. Fatores como esses impulsionaram o problema da fome existente em diversos países do mun- do, mesmo anteriormente à guerra, e fizeram com que surgisse uma visão agrí- cola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que ace- lerassem a produção agrícola. Por outro lado, a utilização desenfreada de pesticidas trouxe problemas ambientais. O uso de produtos químicos como fertilizantes era algo corriquei- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 35 ro. Todavia, estudos de monitoramento do meio físico e saúde humana, bem como avaliações de riscos, não eram realizados com frequência, e não existiam protocolos seguros de utilização e afins. Estudos que fossem contra e apre- sentassem divergências de pensamentos eram duramente criticados: um deles realizado por Rachel Carson em 1962, denominado Primavera silenciosa. A obra, que buscava explicar os impactos da utilização inadequada de pes- ticidas no desenvolvimento vegetal, biodiversidade de espécies e saúde hu- mana, foi considerada livro célebre pelo movimento ambientalista moderno. Mesmo sendo duramente criticado na época, ele demonstrou com clareza os impactos desse modelo de produção e foi crucial para o processo de mudança, que, obviamente, não foi rápido. Atualmente, o avanço científico possibilita o desenvolvimento de novas perspectivas e tecnologias no campo agrícola, com níveis mais baixos de impactos ambientais. Conferência de Estocolmo O fim da Segunda Guerra também ocasionou outras preocupações am- bientais. O relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972 apontou um problema de crescimento rápido da po- pulação e que os recursos naturais não conseguiriam suprir as necessidades. Naquele mesmo ano, a ONU de- cidiu realizar a primeira reunião com chefes de Estado que procurassem tratar dos problemas ambientais, de- nominada Conferência Mundial do Homem e do Meio Ambiente, popu- larmente conhecida como Conferência de Estocolmo (Figura 6). Problemas como catástrofes naturais, mudanças climáticas, possível es- cassez de recursos naturais e modificações econômicas e sociais foram de- batidas no encontro, que resultou na Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, também denominada Declaração de Estocolmo, que pro- movia ações ambientais. A importância dessa reunião é pautada por ser a Figura 6. Notícia de jornal brasileiro sobre a Conferência de Estocolmo. Fonte: FEITOSA, 2018. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 36 primeira vez que as entidades governamentais se preocuparam, oficialmente, com os aspectos ambientais. A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) As mudanças globais do clima despertaram grande interesse das institui- ções governamentais e seus respectivos gestores, o que culminou na criação do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change, em 1988. A intenção do Painel é voltada à junção e difusão de dados relacionados a mudanças climáticas, com a proposta de conhecimento sobre seus aspectos fundamentais, formas de solução e efeitos na sociedade (pessoas e questões econômicas). Protocolo de Quioto Os relatórios de IPCC foram fundamentais para, em 1997, ser construído o Protocolo de Quioto. A entrada em vigor do Protocolo, porém, foi realizada apenas no ano de 2005. Sua finalidade tem um significado importante para a manutenção da vida no planeta, pois o intuito foi o estabelecimento do controle na emissão de ga- ses do efeito estufa (GEE) pelas atividades industriais na atmosfera. Os países assinaram um compromisso para diminuição das emissões de CO2, e o protocolo também deu margem para o surgimento do termo créditos de carbono, em que uma tonelada de dióxido de carbono geraria um crédito em forma de certificado. Essas certificações poderiam ser negociadas no mer- cado internacional. Eco 92 e Rio + 20 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92, foi uma das principais reuniões mundiais a tratar dos temas ambientais, com um significativo envolvimento de diversos países (176) de todo o planeta. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a conferência procurava de- finir um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, e tor- nou-se o início da ascensão global das discussões sobre os problemas ambientais, tendo como foco a busca por alternativas de solução (Figura 7). Assim como o relatório do IPCC, a Eco 92 foi fundamental para ela- boração do Protocolo de Quioto. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 37 Figura 7. Registro do encerramento da Eco 92. Fonte: ROZARIO, 1992. Figura 8. Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030. Fonte: ONU Brasil, 2015. A Rio+20, por sua vez, foi realizada 20 anos depois e teve por objetivo a rea- firmação dos compromissos adotados na Eco 92. A conferência também teve como foco a observação e discussão de problemas ainda existentes e buscou formas de soluções futuras. Um grande diferencial do encontro foi a intensifi- cação dos debates voltados à implementação da economia verde. Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Esse importante evento ocorreu na cidade de Nova York, Estados Unidos, com o objetivo de direcionar o planejamento para o de- senvolvimento sustentável até o ano de 2030. Foram traçados 17 objetivos, denominados ODS (Objetivos para o Desenvolvi- mento Sustentável), como demonstra a Figura 8. No encontro, também foram discutidas as ações propostas durante a Rio +20. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 38 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 39 Marcos históricos da educação ambiental no Brasil O primeiro registro da institucionalização da educação ambiental no Bra- sil ocorreu em 1973, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). A SEMA pode ser considerada o início do processo de conscientização da sociedade brasileira sobre a necessidade de preservação do meio ambiente para a manutenção e melhoria da qualidade de vida. Com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) pela Lei Fe- deral n. 6.938/81, foram explicitados conceitos relacionados à conscientização ambiental e à promoção da educação ambiental em diferentes níveis de ensino e setores da sociedade (art. 2°, caput, X). Assim, podemos considerar que a PNMA foi o primeiro marco da educação ambiental formal no País. Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental pro- pícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvi- mento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...] X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a edu- cação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981, n.p.). A Constituição do Brasil de 1988 reforça a consolidação da EA no País ao defi- nir, no artigo 225, o direito de todos ao acesso de um ambiente ecologicamente equilibrado e, em seu inciso VI, a necessidade de promoção da EA, ao menos no contexto educacional ou formal: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi- librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o deverde defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988, n.p.). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 40 Note que temos em nossa Constituição Federal, portanto, explicitamente a definição de que a promoção da educação ambiental deve ser responsa- bilidade do poder público. Porém, vale observar que a obrigatoriedade do Estado em estabelecer as bases da EA no contexto formal não dispensa a participação social no processo de conservação e proteção ambiental. A Conferência, Earth Summit, ou Eco-92, possibilitou a adoção do Trata- do de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Já a Agenda 21 reforça a perspectiva de atribuição de poder aos grupos comunitários e, com o apoio do Ministério da Educação na Rio-92, foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que, entre outras coisas, reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos para via- bilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e da manutenção da vida humana. Infelizmente, a Carta já admitia a existência da lentidão de produção de conhecimentos e a falta de comprometimento dos gestores públicos em relação à fiscalização da legislação de um modelo educacional que não resolve as reais necessidades do País. DICA A Agenda 21, definida pela ONU na Eco-92, reafirma, dentre outros princípios básicos, a reorientação da educação a um desenvolvi- mento ambientalmente sustentável e o aprofundamento da cons- cientização pública. Em consonância com esta, em 2015 criou-se a Agenda 2030, um plano de reafirmação das metas estabelecidas em 1992 que também dá continuidade aos esforços das agora 192 nações que fazem parte do tratado. Posteriormente, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental no País. Em uma análise inicial, podemos perceber que a PNEA é resul- tado de inúmeras ideias debatidas em diversos eventos nacionais e internacionais acerca das questões ambientais. Em especial, pode ser percebida em seu texto a adoção de conceitos apresentados pela Carta de Belgrado. Assim, a determinação da responsabilidade do poder público se dá de forma concorrente (nas esferas de poder federal, estadual e municipal), também com o intuito de incentivar a ampla participação das organizações não governamentais (ONGs) e de toda a sociedade na elaboração e execução de programas de educação ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 41 Criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) 1973 1988 Artigo 225 (Constituição): direito a um ambiente ecologicamente equilibrado 1992Earth Summit (Eco 92) 1999Instituição da Política Nacionalda Educação Ambiental (PNEA) 2004Criação do Programa Nacional de Educa-ção Ambiental (PRONEA) 2010Lei federal de educaçãoambiental não formal Figura 9. Linha do tempo simplificada dos principais eventos relacionados à EA no contexto brasileiro. Ressalta-se que, na prática, não há uma ocorrência que seja mais importante, sendo todas as ações e todos os proje- tos necessários para que seja possível atingir os objetivos coletivos com o desenvolvimento da consciência ambiental a partir da criticidade dos cidadãos. No próximo tópico, analisare- mos alguns dos principais conceitos da edu- cação ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 42 Base conceitual da educação ambiental Primeiramente, para definir as bases conceituais da educação ambiental, é necessário ressaltar que ao longo do aprimoramento dessa ferramenta perce- beu-se que o público a ser considerado, na realidade, é toda a sociedade. Assim, enfatizamos que a EA é considerada formal quando aplicada em qualquer nível da educação formal (estudantes, professores e funcionários de escolas, universi- dades e institutos). Adicionalmente, a educação não formal engloba campanhas, projetos e outras atividades práticas que envolvem diferentes grupos populacio- nais (trabalhadores, gestores públicos e agricultores, por exemplo). Assim, a PNEA definiu a educação ambiental e destacou a importância do de- senvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização e à organização da coletividade sobre questões ambientais. No art. 1º da PNEA, a definição de educação ambiental é apresentada: Art 1º. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, es- sencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, n.p.). No art. 2º, a PNEA complementa que a educação ambiental é “um componen- te essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999, n.p.). Por fim, a PNEA define como princípios básicos da EA: Art. 4º São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cul- tural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; Fonte: EPA, 2018, n.p. QUADRO 1. PRINCIPAIS DIFERENÇAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL VERSUS INFORMAÇÃO AMBIENTAL Educação ambiental • Aumenta a consciência pública e o conhecimento das questões ambientais; • Auxilia no desenvolvimento do pensamento; • Aumenta as habilidades de resolução de problemas e tomada de decisão; • Não defende um único ponto de vista, fomenta a análise crítica. Informação ambiental • Disponibiliza fatos e opiniões sobre problemas ambientais; • Não se preocupa com o ensino do pensamento crítico e emancipatório; • Não gera diretamente ferramentas para resolução de problemas; • Pode apresentar apenas um ponto de vista sobre a questão ambiental de interesse. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 43 VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regio- nais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural (BRASIL, 1999, n.p.). Assim, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), apresentando conceitos e definições. Desta forma, podemos sintetizar que o público-alvo da EA são tanto os integrantes da educação formal quanto os da não formal. Ressalta-se que os objetivos de ensino em ambientes formais são construir conhecimento científico e desenvolver a relação dos alunos com a natureza por meio de pedagogias de aprendizagem ativa, como trabalho de campo e experiências ao ar livre (PARRA et al., 2020). Assim, mais do que se informar sobre processos que envolvem nossa vida so- cioeconômica, é necessário priorizar o desenvolvimento da EA como ferramenta de participação social e crítica. No Quadro 1, há uma síntese das principais dife- renças entre educação ambiental e informação ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 44 Observe que a informação ambiental deve possuir qualidade e não ser ten- denciosa em sua transmissão; mas é a EA que define como essencial o aumento da consciência pública ambiental a partir de ensinamentos contínuos de pensa- mento crítico, reforçando as habilidades individuais e a análise de fatos utilizan- do o raciocíniológico. Outra distinção que cabe em uma breve análise é acerca da educação de for- ma mais ampla e sua comparação com a EA. É consenso que a educação, além de instruir, já traz em si o conceito de propiciar o desenvolvimento da capacidade crítica e o senso de responsabilidade. Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Opri- mido, enfatiza que a educação é um processo complexo de conscientização cole- tiva. Hoje, compreendemos que a educação ambiental faz parte desse processo. De fato, podemos considerar que ambientalismo não é uma opção, mas uma responsabilidade e um aspecto fundamental para a construção de uma socie- dade coesa e que respeita as leis de proteção do ambiente que ocupa (SAYLAN; BLUMSTEIN, 2011). Isso se refere às responsabilidades de proteção ambiental, mas também em compreender minimamente como os ciclos ocorrem: na ex- tração de recursos naturais, na geração de resíduos, na produção agrária e/ou industrial, entre outros. Tendo em vista o desenvolvimento necessário para sociedades mais susten- táveis, os cidadãos precisam ser apoiados e ensinados a superar quaisquer la- cunas ou desafios importantes para integrar esta sociedade sustentável (PARRA et al., 2020). Assim, a educação ambiental se concentra na promoção do conhe- cimento ambiental e no aprimoramento de atitudes e valores ecologicamente corretos, bem como na conquista da cidadania e das habilidades cognitivas de alto nível necessárias para promover um estilo de vida ecologicamente correto. A educação para a cidadania ambiental deve auxiliar os alunos a compreenderem a complexidade dos sistemas socioecológicos e a identificar as causas estruturais da degradação ambiental. Com isso em mente, a educação para a cidadania ambiental amplia a perspectiva do aspecto local para o global e enfatiza as interrelações e inter- dependências. Além disso, a aprendizagem da sustentabilidade é um conceito multinível que ocorre tanto no nível individual quanto no nível DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 45 dos agregados sociais, grupos, organizações e a sociedade como um todo (PARRA et al., 2020). O conhecimento de como mudar democraticamente uma sociedade e os efeitos da justiça social dessas mudanças local e globalmente não foram, pelo menos no início, suficientemente enfatizados na educação para a sustentabili- dade, posto que suas raízes estão na educação ambiental e possuem foco mais estreito na proteção ambiental e conservação de recursos (PARRA et al., 2020). DICA Você sabe o que significa uma educação ambiental crítica? Para compreen- der melhor o processo emancipatório da educação sobre o qual a EA vem sendo discutida e desenvolvida, sugerimos a leitura dos seguintes textos: “Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação”, es- crito por Isabel Cristina de Moura Carvalho, e “Educação ambiental crítica”, estruturado por Mauro Guimarães. A política nacional brasileira para a educação ambiental O termo educação ambiental (EA) é muito utilizado, apesar de muitas pessoas não saberem sua definição. Assim, algumas distorções podem ocorrer, e a prá- tica da EA pode ser prejudicada. Nesse sentido, Silva Junior et al. (2018, n. p.) destacam que a democratização e a divulgação das formas que temos para inte- ragir com o meio ambiente de maneira responsável ainda é muito frágil, em uma sociedade que não exerce, no cotidiano, hábitos que favorecem o fortalecimento da temática em questão. Dessa forma, começamos esse tópico destacando que uma maior preocupa- ção com o meio ambiente é necessária, bem como o reconhecimento do papel crucial da educação para melhorar a relação do ser humano com o meio. Para isso, é preciso que haja em todas as bases da sociedade ferramentas para traçar diretrizes para o surgimento de mais iniciativas de conscientização ambiental. A escola é um espaço em que os estudantes podem se tornar pessoas mais atentas quanto à importância da conservação e restauração do meio ambiente, fomentando a proteção também da biodiversidade, de um modo geral (SILVA JUNIOR et al., 2018). A educação é um processo contínuo, de elevada relevância e, por isso, se fa- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 46 zem necessários planejamentos complexos para que possamos obter resultados satisfatórios, colaboran- do para as reflexões de ensino e aprendizagem que ultrapassem as salas de aula. Cada vez mais, precisamos de nos formar como cidadãos, críticos e responsáveis pela preservação dos recursos naturais. A educação ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de educação, mas como uma série de etapas contínuas ao longo processo de aprendizagem, em que coexiste a filosofia da contribuição participativa em que todos (família, escola e comunidade) devem estar envolvidos (SILVA JUNIOR et al., 2018). Por esse motivo, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) brasileira visou traçar diretrizes não apenas para a EA formal, que ocorre nas escolas, mas também para a EA não formal, englobando a diversidade de atores sociais e a importância de todos construirmos coletivamente uma preocupação que paute as ações e decisões regionais e nacionais. Educação ambiental formal Uma questão importante dentro do sistema educacional superior é propiciar a especialização na área de formação e também em áreas científicas semelhantes ou relacionadas. A relevância se dá, justamente, pelas conexões interdisciplinares e pela transferência teórico-conceitual decorrente de novos resultados científicos. Nesse contexto, é importante que cada país explicite em sua política de educação ambiental a importância de toda a sociedade para a conservação ambiental e os possíveis papéis das mais diversas áreas de formação técnica nessa conservação. Assim, os atores socioeducativos envolvidos nas atividades de EA devem assu- mir as ações em termos de aumento do conhecimento científico, e também possi- bilitar a existência e qualidade de vida das próximas gerações. Desse modo, ao nível da consciência humana, é visível um peso científico-axiológico, segundo o qual são estabelecidas conexões entre diferentes níveis de realidade (COSTEL, 2015). Para tanto, Costel (2015, n. p.) explicita que para se tornar pragmático um sistema social deve ser construído, antes de mais nada, sobre a educação es- pontânea. Em segundo lugar, acreditamos que uma perspectiva de política social DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 47 efetiva envolve uma abordagem específica sobre a educação ambiental. Portanto, as correspondências sociais e meto- dológicas transpõem em plano operacional às finalidades inscritas na diligência educacional. Nas últimas duas décadas, no entanto, inúmeras pessoas ao redor do mundo se preocuparam (e continuam se preocupando) com as ques- tões interligadas de meio ambiente e desenvolvimento ambientalmente susten- tável. Desta forma, temos nos tornado cada vez mais conscientes da necessida- de de mudanças nas escolhas de hábitos e nos padrões nacionais e globais de desenvolvimento, consumo e comércio. Portanto, poderíamos considerar um erro pensar que apenas a educação ambiental nas escolas seria suficiente para a transição para a sustentabilidade, a menos que grandes reformas educacionais pudessem ser implementadas e que projetos em consonância com outros setores da sociedade fossem executados. Nesse momento, destacamos que a educação ambiental está prevista na Constituição Federal, em seu artigo 225º (Inciso VI), que estabelece que é dever do Estado e de todos de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988). A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n. 9.795, em seu artigo 3º, determina que, como parte de um processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: I - Ao Poder Público, nos
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