Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MENU 1 MENU 2 1 - Introdução 1.1 O que você verá nesse e-book? 2 - Nossas origens 2.2 A condição humana: se vira! 2.3 Tomar decisões: nossa sina 3 - Estrutura do comportamento humano 3.1 Deontologia: tomada de decisão 3.2 Ação: só é possível quando existe liberdade 3.3 Consequências: nem tudo depende só de você 4 - O que é a liberdade? MENU 2 4.1 Quem tem liberdade tem conflitos 5 - Ética: escolher entre valores 5.1 Valores humanos 5.2 Valores desumanos 6 - Aprimorando o comportamento 6.1 Só sei que nada sei: questionar é viver 6.2 O sentido da vida: para que serve tudo isso? 7 - Encerramento 7.1 Recapitulando 8 - Material Complementar MENU 3 Podemos garantir que em algum momento você já sofreu com algo e que parte desse sofrimento foi causado pelo comportamento de alguém, ou do seu próprio. Neste e-book, destrincharemos o comportamento humano: quais são os erros que cometemos ao nos comportar; como desperdiçamos nossa vida seguindo caminhos que não deveríamos seguir; e como encontramos os melhores caminhos para nossa vida. 1.1 O que você verá nesse e-book? MENU 3 1 Introdução MENU 4 2 Nossas origens 2.2 A condição humana: se vira! Entender o comportamento humano passa por entender algo fundamental na história do pensamento, a “condição humana”. Esse conceito reside na aceitação de que não podemos escapar: é nossa condição, nossa sina. Se acreditar em destino, pode tomá-lo como tal, mas não como um destino futuro, e sim um destino ao qual nós estamos condenados. Estar condenado a ter uma condição humana específica, é bom ou ruim? Contaremos uma história para explicar melhor! Essa história vem da mitologia grega, anterior até mesmo à filosofia, antes de tudo que você imagina. Lembramos um pensamento mitológico, encontrado nas grandes obras de Homero, uma obra chamada Teogonia, de Hesíodo. A Teogonia remonta ao começo do Universo, quando não havia nada. Pularemos toda a etapa da criação e chegaremos ao momento em que Zeus ganhou a chamada Guerra dos Titãs e se tornou o “chefe” de tudo e criou seu ministério, o Olimpo. Theo: Deus + Gonia: geração = A geração dos deuses MENU 5 Depois que Zeus assumiu o comando do Olimpo, tudo ficou muito sem graça, “certinho” e em ordem, e, como eles gostavam de um pouco mais de agitação, o próprio Zeus viu que não estava muito legal. Foi quando encontrou dois irmãos, da quinta divisão dos deuses, Prometeu e Epimeteu. Prometeu é aquele que tem “pró” no nome e “pró” vem de “antes”, é aquele que pensa antes. Epimeteu é aquele que pensa depois, sempre atrasado, perdido. Zeus pediu para que criassem os mortais. Prometeu disse a Epimeteu: “Está aqui uma caixa com todas as características do universo, faça os animais”. E Epimeteu fez os animais e a natureza, da forma como conhecemos. Ele o fez lindamente e correu para contar a Prometeu: “Olha o que eu fiz! É uma natureza muito linda!”. Prometeu olhou para aquilo e disse a Epimeteu: “Você usou todas as características imagináveis nos animais, não restou nada para o ser humano! O que eu vou fazer?“. Não sobrou nada para o ser humano. Prometeu se viu com um grandessíssimo problema nas mãos: “Como eu criarei um ser sem ter nada para dar a ele?”. E o que ele fez? Nos moldou no barro à semelhança dos deuses, nos pôs em pé, nos deu o fogo que roubou do templo de Atena e nos mandou nos virar. Essa é a nossa condição. Veja se entende: desde sete séculos antes de Cristo, essa já era nossa condição, não ter recursos naturais para lidar com a nossa própria vida. Nessa situação, somos obrigados a usar nossa cabeça para lidar com problemas cotidianamente. Por isso se faz tão importante pensar no nosso comportamento, porque não há uma natureza o regendo. Somos simplesmente nós mesmos, individual e coletivamente. MENU 6 O único recurso natural que temos para lidar com a nossa vida é a inteligência, a racionalidade, a capacidade de deliberar. Sendo assim, quando a vida se coloca à nossa frente, nós naturalmente pensamos em diversas possibilidades de ação e escolhemos uma. Se você comprar uma caminha para seu gato, quando chegar em casa, tirá- la da caixa e mostrá-la para ele, esse preferirá a caixa à cama. O gato rege sua vida de acordo com sua natureza. E nós? Nós não estamos satisfeitos nem com a caixa de papelão, nem com a cama. Essa é nossa sina: decidir pra viver. E, a partir daí, nosso comportamento é dividido em três etapas. O gato só faz. Seu comportamento é ação. Nós temos que tomar decisões o tempo inteiro. E as tomamos, agimos e vivemos a partir de três grandes momentos. 2.3 Tomar decisões: nossa sina Tal qual o tempo, dividido em passado, presente e futuro, nossa vida e deliberação para viver também são divididas em três momentos. O primeiro deles é a deliberação propriamente dita: pensar nos valores que escolheremos para viver. Em seguida agimos, no presente. Depois lidamos com as consequências de nossas ações. Isto é, deliberação, ação e consequência são os três momentos do nosso comportamento, que estudaremos no próximo módulo. MENU 7 3.1 Deontologia: tomada de decisão Agora que você já sabe que o comportamento humano se divide em três momentos: a tomada de decisão, a ação e as consequências da ação, focaremos no primeiro deles, a tomada de decisão. Fazemos isso o tempo inteiro. No momento em que acordamos, já tomamos a decisão de, contrariados, sair da cama. Na hora em que vamos dormir, ainda tomamos decisões, desligamos o celular para finalmente descansar. Muitas pessoas dão grande ênfase a esse primeiro momento do nosso comportamento, o de tomar decisões, pois é muito importante saber tomá-las e, como Prometeu, pensar antes de agir. Em grego, a ciência de pensar em como agir, de pensar os melhores valores para se viver é chamada “deontologia”. Deontologia deriva de outra palavra grega, “deon”, que significa “dever”. A concentração do pensamento científico sobre o comportamento que se focaliza no momento deontológico é chamada de Ética Deontológica. Isso mesmo, ética é uma ciência, a ciência do melhor comportamento. 3 Estrutura do comportamento humano MENU 7 MENU 8 A Ética Deontológica indicará a melhor maneira de agir de acordo com o dever, ou então, agir por dever. E varia de acordo com a corrente filosófica. Na Grécia antiga e também em Roma, havia os filósofos chamados estoicos. Esses acreditavam que era possível extrair das leis da natureza, que acreditavam ser perfeitas, as melhores formas de agir. Nesse sentido, eles observavam buscando definir as leis naturais para, a partir delas, extrair o “suco” dos deveres, aos quais deram dois nomes. Um deles chama Kathekon e o outro, Kathortoma. É possível encontrá-los também grafados como Kathekontá e Kathortomá. O grande expoente do pensamento dos deveres na antiguidade é Cícero, que escreveu “Dos deveres”, no original, “De ofici”. Cícero nos aponta que há dois tipos de ação: a ação útil e a ação honesta. A ação útil é aquela em que se pensa no resultado no momento da escolha da ação, isto é, quando se toma uma decisão pensando na consequência, em seu valor depois de realizada. Cícero dirá que a utilidade não deve ser critério para a ação, pois é egoísta. Quando a ação útil coincidir com a honesta, terá sido um acidente? Não! Caso se guie pela honestidade, a ação será também útil. “Ah, mas se eu pagar os impostos, eu fico com menos dinheiro”. Essa é uma consequência de se pagar os impostos. Seu dinheiro foi para o Estado. Essa é a atitude honesta a se tomar. Sendo a atitude honesta, é a mais útil. Se não enxerga a utilidade, está falhando ou usando critérios egoístas, que prejudicam os outros, para tomar a decisão. Como será útil algo que faz mal a alguém para fazer bem para você? A grande utilidade está no bem de todos. Agora que estudamos Deontologia, sigamos para a próxima ação. MENU 9 Só existe ação humana quando existeliberdade para agir. Você age o tempo inteiro e faz coisas que nem sempre é livre para escolher, mas as faz. Essas não podem ser consideradas ações deliberadas, comportamentos morais. Por quê? Porque a moral, que é justamente essa nossa capacidade de agir, necessita de liberdade. Quando não se pode escolher o que fazer, você não é de fato moralmente responsável pela ação. A ação livre é aquela que depende totalmente da sua decisão. Se você não pode escolher a ação, fará algo que lhe foi imposto. Se está fazendo algo que lhe foi imposto, não está propriamente agindo, há outro agindo através de você. Pare para pensar em quantas vezes no seu dia você age sem ser por conta própria. A roupa que está vestindo agora, pode até achar que a escolheu, mas não preferiria estar de roupão e chinelo? Para que seu comportamento seja seu, para que o que faz seja sua própria ação, sua própria razão, é preciso que seja livre. Se não for livre, é ação, mas não é sua. 3.2 Ação: só é possível quando existe liberdade MENU 9 MENU 10 Há um enorme problema aí. Em determinados momentos, você pode escolher sua própria ação e se sentir livre, mas não significa que agir será fácil. Você enfrentará problemas, dificuldades e estresse para realizar o que escolheu. Essa sensação tem nome: angústia. A angústia é o sentimento de quem é livre. Toda vez que se sentir angustiado, pense: “bom, pelo menos eu sou livre”. Quando você precisa fazer algo, mesmo que contra sua vontade, desejo, graça de viver, alegria e saúde, você o faz porque é preciso. Se não fizer, talvez seja ainda pior. Nesse caso, você não sente angústia. Por quê? Porque a decisão está tomada. A ação será feita. Você não se angustia porque não é livre para agir. Se é livre para agir, cabe a você escolher o caminho, e a sensação de não saber qual é o melhor causa angústia. Fica a dúvida: será melhor ser uma pessoa angustiada e livre ou uma pessoa sem liberdade, mas também sem angústia? Veremos a resposta para esse questionamento a seguir. MENU 11 Passamos pela escolha, pela ação e pela angústia. Seguimos para as consequências. A consequência sucede a ação, porém essa não depende apenas da ação. Pense nas decisões das quais se arrependeu de ter tomado na sua vida. Pensou? Por que se arrepende? Você pode responder: “porque as consequências não foram as que imaginava. Mudei de emprego, pensando que teria mais benefícios, um plano de carreira, que teria uma chefia melhor, mas era tudo pior! As consequências foram desastrosas.” Essas consequências dependem única e exclusivamente da sua ação? Se não gostou da sua nova chefia, isso dependia da sua mudança de emprego? Não tinha como saber. Há inúmeros fatores externos, fora do seu controle, atuando sobre esse mundo. Não é possível se arrepender de consequências que estavam fora do seu controle. O consequencialismo moral, a área da filosofia moral, da ética, que se preocupa com as consequências, guia a ação a partir de efeitos que não se pode controlar. O máximo que podemos fazer é desejar que nossas ações tenham determinadas consequências. Agir da melhor maneira possível para que as 3.3 Consequências: nem tudo depende só de você MENU 11 MENU 12 consequências imaginadas sejam realizadas e torcer para que o mundo não interfira. Mas quem consegue controlar o mundo? Em razão disso, o consequencialismo moral enfrenta uma série de problemas. Um de seus maiores expoentes é Machiavel, que nos orienta a agir de maneira a buscar o melhor resultado para nós mesmos. O consequencialismo não pensa no critério para agir, e sim no efeito da sua ação. Sem uma fidelidade de critério, você só é fiel aos seus interesses. Seguindo essa lógica, você pode ser visto como instável e desconfiável, porque pode tomar decisões opostas para situações idênticas em contextos diferentes. Isso não acontece na deontologia, corrente segundo a qual a decisão é orientada por seus valores, anteriores à ação. O consequencialismo e a deontologia não se misturam. MENU 13 4.1 Quem tem liberdade tem conflitos O conflito é desconfortável e fomos ensinados a perseguir o conforto, porém o conflito é parte da nossa condição. E mais: a vida sem conflito não tem razão de existir. Se você elimina as dificuldades de tomar decisões da sua vida, isso quer dizer, como já vimos, que você elimina sua própria liberdade. Se lembra do questionamento: é melhor viver livre e angustiado do que viver escravo e sem angústia? Afirmo que é muito melhor viver livre e angustiado. “Eu não gosto de sentir angústia”. Claro, ninguém gosta, mas eliminar nossa liberdade não é o único jeito de lidar com conflitos. Na verdade, é um jeito de ignorá-los. Se você ignora o conflito, vende sua liberdade e fica sem angústia, todavia fica sem vida também. Pare para pensar: a vida que é decidida por você é sua? A resposta parece muito óbvia, o contrário também. A vida que não é decidida por você não é sua. 4 O que é a liberdade? MENU 14 É ruim tomar decisões? É angustiante? Sim. Porém, há meios menos caros de lidar com o conflito, são duas as maneiras. A primeira grande maneira de lidar com o conflito passa pela venda da liberdade. A outra grande maneira passa pelo desenvolvimento de um sistema de valores, que não decide por você, mas te guia previamente, como os deveres. Segundo Kant, só somos livres quando agimos contra nossa própria vontade, isto é, quando fazemos o que não queríamos fazer. Kant aponta que, se você deseja fazer algo, essa é uma informação corporal sua, na maioria das vezes egoísta, e não pode interferir na sua ação, que deve se guiar por dever. O dever impõe a ação. Você só é livre quando se livra da escravidão dos sentidos para agir pelo dever inexorável e impessoal da razão. Paradoxal, não é? Mas não é preciso ser kantiano, basta ter um sistema de valores como guia. Por exemplo, se age de acordo com o valor sinceridade, quando for tomar uma decisão, consultará esse valor. Sua decisão está de acordo com ele? Esse é o seu valor. Ele te deixa menos livre? De maneira nenhuma. A seguir, estudaremos os problemas da venda da liberdade em troca da tranquilidade. Immanuel Kant filósofo MENU 15 5.1 Valores humanos Ninguém deseja viver angustiado. Não é um sentimento gostoso, porém indica que nossa vida pertence a nós mesmos. Podemos, porém, tentar senti-lo um pouco menos, sem abrir mão da nossa liberdade. Os dois modelos de comportamento são a autoajuda e a ética, antagônicos. Para viver os preceitos e as leis da autoajuda, é preciso segui-los cegamente. A autoajuda é uma vida inteira preestabelecida para você, que diz que você é triste quando não segue as suas regras. A ética é um guia para a sua vida, mas precisa da sua deliberação para acontecer. A ética é um conjunto de valores a guiar seu comportamento determinado também por você. Se você aprendeu, como quase todos aprenderam, que a ética é a única, determinada e definida boa maneira de agir, está errado. A ética não é isso, mas sim a atividade entre todos os valores disponíveis do universo. 5 Ética: escolher entre valores MENU 15 MENU 16 E são muitos valores! Honestidade, desonestidade, sacanagem, mentira, traição, prudência, prazer, respeito, desprazer, fazer mal a alguém, o ódio, tudo isso é valor. Roubar, dar, ser ou não generoso, tudo é valor. Você é muito melhor do que qualquer pessoa para escolher quais são os melhores valores para a sua vida neste mundo. Não há ninguém melhor do que você mesmo para isso. Qualquer um que te diga que há um modo certo de agir está te aprisionando. Por isso que o exercício da liberdade, quanto mais inserido na sua vida, te desangustiará. Se enfrentar a angústia e resolvê-la, entendendo que seu conjunto de valores não é rígido nem fixo e que você é capaz de lidar com os conflitos que aparecem na sua vida, quanto mais exercitar sua ética e a ética do seu coletivo, mais capacitado será paralidar com os próximos. Cada conflito exige uma solução própria. Não há como se guiar por um manual de autoajuda, você mesmo deve construir consigo suas soluções. Como lidar com conflitos? Não os ignorando. É preciso encará-los, o que não só te deixará mais forte, como te garantirá um futuro com menos intranquilidades. MENU 17 Observe o caminho que trilhamos. Partimos da nossa diferença para os animais na mitologia, vimos a estrutura do comportamento humano e chegamos na nossa verdadeira condição de liberdade, a ética. Praticar ética é escolher entre valores. Abordaremos agora esses valores. Tudo que guie sua ação é um valor. Chocolate pode ser um valor? Chocolate pode simbolizar o valor do prazer. Apresentarei um experimento realizado pelo professor Dan Ariely. Ele queria testar se as pessoas eram capazes de se manter honestas diante de uma situação na qual havia garantia de que elas não seriam punidas se fossem desonestas. Foram duas as situações testadas. A primeira consistia em colocar uma pessoa de frente para uma mesa com um dado numerado de 1 a 6. A pessoa jogava o dado e tinha o direito de escolher o número que caiu virado para cima ou para baixo. Ela ganharia o dinheiro equivalente àquele número, isto é, se escolhesse 6 ganharia 60 dólares e, se escolhesse 1, ganharia 10 dólares. O professor constatou que as pessoas escolhiam o número maior 99% das vezes, para ganhar mais dinheiro. Porém, ao menos uma vez, as pessoas perdiam para não ficar tão explícita a “trapaça”. 5.2 Valores desumanos MENU 17 MENU 18 O experimento revela que, diante de uma situação em que a desonestidade não é punida nem verificada, é muito mais recorrente. Outra pesquisa nos apresenta uma situação parecida, quando nos justificamos para agir com desonestidade, querendo nos passar por honestos. O pesquisador colocou as pessoas diante de uma máquina automática de guloseimas, que dava a sua batatinha, mas devolvia a sua moeda ou nota. Nesse experimento, o pesquisador percebeu que as pessoas compravam mais batatinhas. A pessoa inseria a moeda, caía a batata, a moeda voltava. Ela ficava com a moeda e a batata e repetia o ciclo. O limite verificado foram quatro batatinhas, ninguém comprou mais do que isso, mas todos compraram mais que uma. Questionando as pessoas sobre por que pegaram outra, elas diziam: “porque uma vez já perdi dinheiro nessas máquinas” ou “porque tem seguro, não tem problema, não vai dar prejuízo” ou ainda “ah, se deu problema na máquina, a culpa não é minha”. As pessoas justificavam seus comportamentos dissidentes, de maneira que não sentissem culpadas por agir mal. Isso indica o quão apegados somos aos nossos valores. Que ética é essa que nem aos seus próprios valores é fiel? Quanto mais justificamos nossas escapulidas, mais atitudes deploráveis somos capazes de realizar. Não basta ter uma ética, um conjunto de valores. O comportamento humano pode se desvairar através de pequenos atos, de justificativas para “escapadinhas”. Além dos valores e da atitude coerente com eles, é preciso uma autoavaliação constante de comportamento, para medir o quão aproximado ou distante se está desses valores. A tese defendida nesse experimento é a de que, quanto mais embalo se pegar nas justificativas para os maus valores, se convencendo de que não fez nada de errado, pior será o que você será capaz de fazer sem se sentir mal. Ética é escolher valores e se fidelizar a eles, sempre se questionando se estão certos e se está agindo coerentemente. MENU 19 6.1 Só sei que nada sei: questionar é viver Vimos que o comportamento depende não só da nossa deliberação, como das coisas sobre as quais deliberamos, e também de um exercício constante de nos manter em um caminho que julgamos adequado. Sócrates, o pai da filosofia, falou sobre o assunto. Percebeu que as pessoas agiam de certa forma sem saber por que estavam assim agindo. Um dia, um de seus discípulos foi ao Oráculo de Delfos e encontrou uma sacerdotisa que consultava diretamente os deuses. Essa mulher disse que Sócrates era o homem mais sábio do mundo, ele não acreditou e disse: “como sou a pessoa mais sábia do mundo se eu não sei nada de nada?”. Sócrates estabeleceu para si a missão de desmentir os deuses e encontrar alguém mais sábio que ele. Encontrava pessoas reputadas por sua sabedoria ou por um dom visível e público, e passou a tentar aprender com essas pessoas. 6 Aprimorando o comportamento Sócrates filósofo MENU 20 Encontrou, por exemplo, um general de guerra prestes a ir numa grande campanha marítima, numa batalha monumental. Pediu que lhe explicasse o que era coragem. Não satisfeito com a definição do general, Sócrates replicou, até que ele assumiu não saber definir coragem. Sócrates respondeu: “nenhum de nós sabe o que é coragem! Eu fracassei na minha missão, ainda não encontrei alguém mais sábio do que eu. Mas ao menos tivemos a chance de descobrir que em sua vida inteira você que achava que sabia o que era coragem e na verdade não sabia. A sua vida inteira, tudo o que fez, fez a partir de uma definição de coragem que descobriu que está errada”. Veja a oportunidade de se perguntar o que está movendo sua vida. “A minha vida, eu guio pelo prazer!”. O que é o prazer? É físico? É intelectual também? É necessariamente para mim? Ou guiar-se pelo prazer é dar prazer para os outros? O que Sócrates está nos dizendo? Que o exercício de questionar quais valores guiam a nossa vida deve ser constante. Imagine descobrir um dia que viveu sua vida a partir de valores definidos de uma maneira que não faz sentido, simplesmente porque não tinha parado para pensar nisso? Sócrates diria que sua vida foi desperdiçada até então, pois você estava andando por um caminho que não te levava a lugar nenhum. A melhor maneira de não desperdiçar a vida e facilitar a ação livre é sempre questionar os valores usados para nos guiar. Você que pensava que a ética estava escrita na pedra, para nunca mais mudar, está aprendendo que o comportamento humano requer uma autoavaliação incessante para que você se livre de vícios que adquiriu ao longo da vida. MENU 21 Para que pensar em valores e encarar a angústia? O motivo é o sentido da vida como um todo e a pergunta “qual o sentido da vida?” é uma das mais fundamentais da nossa existência, pela qual passamos mais tempo sentindo um vazio ao não saber responder. E você já sabe qual é essa resposta, apesar de nunca ter nomeado. A razão de tudo isso existir, por uma lógica muito simples, é a felicidade. Não há nada depois da felicidade. Ela não serve para coisa alguma além dela. Não se é feliz para isso ou para aquilo. Você toma suas decisões escolhendo o que acredita que vai te fazer mais feliz. 6.2 O sentido da vida: para que serve tudo isso? A razão da ética, o exercício da moral, a capacidade de raciocinar, de deliberar, de avaliar suas próprias ações têm uma finalidade: buscar a felicidade. O sentido da vida é a felicidade. A ética é a felicidade. Tudo isso que você viu até aqui serve para que tenha mais chances de ser feliz na sua vida. E o que é felicidade? Deixo essa pergunta aberta para você responder. Espero que, com esse conteúdo, suas possibilidades de ser mais feliz tenham se ampliado. Espero também que você não sofra tanto com o que viu aqui, mas que o sofrimento que vier sirva para te catapultar a patamares de felicidade que sequer imaginou que fossem possíveis. MENU 22 7 Encerramento 7.1 Recapitulando É muito pedante dizer: “eu vou reler o livro” ou “ah, preciso reler tal conteúdo”. É pedante porque a primeira leitura é só uma degustação, uma leitura afetiva. Ao ler um livro, você sente o que ele está te despertando. A segunda leitura, uma revisão, é o momento que permite efetivamente mergulhar nas questões que nos interessam com maior intensidade. Façamos aqui uma revisãopara que você tenha a chance de rememorar os conteúdos dos primeiros tópicos depois de ter passado por todos os demais. Primeiro, aprendemos que o ser humano tem uma condição só sua, uma sina, uma característica própria: a necessidade de escolher que tipo de vida quer viver. Se lembra do Prometeu e do Epimeteu? Epimeteu deu tudo para os animais e não sobrou nada para a gente. Prometeu roubou o fogo de Atena, nos pôs de pé, parecidos com os deuses e com a capacidade de usar nossos braços para manipular o mundo. Essa é a nossa sina e condição. Tendo que escolher como viver, nosso comportamento se divide em três grandes momentos, de acordo com a filosofia moral. Esses são equiparáveis ao passado, presente e futuro: a deliberação, a ação e a consequência. Vimos também que a ética, ao longo de mais de dois mil anos de pensamento, definiu, em alguns momentos, como mais importante a deliberação, a deontologia, isto é, agir de MENU 23 acordo com os valores. Não podemos escapar da ação, mas podemos escapar da liberdade. Quando agimos sem liberdade não somos donos da nossa própria vida. Já quando agimos com liberdade, essa vem acompanhada da angústia, o sentimento de não ter uma resposta pronta. Logo após, abordamos o consequencialismo, aquele que guia as ações de acordo com as consequências esperadas. Vimos que a deontologia e o consequencialismo são incompatíveis entre si, como são também incompatíveis os valores disponíveis no cardápio existencial à nossa escolha. Dessa maneira, a honestidade te leva para um caminho de vida, e o valor “se dar bem, não importa a situação” te leva para outro caminho. A confiança te leva a uma série de decisões opostas às da desconfiança. Por isso, viver livre é viver em conflito. Depois de ter lido todo esse conteúdo, você deve ter diagnosticado uma infinidade de conflitos que sente, desde escolher qual filme assistir ou o que comer, até saber se vai sair do seu emprego ou não. O conflito é inerente à nossa vida e nós temos duas grandes maneiras de evitá-lo, abrindo mão da liberdade ou adquirindo um hábito moral. Se escolher abrir mão da sua liberdade, entregará as decisões da sua vida a um programa pronto de existência. Esse programa toma as decisões por você, que se torna mero executor de ações pelas quais não decidiu. Se escolher um hábito moral saudável, elegerá uma série de valores que considera dignos para sua vida e buscará agir de acordo com eles, fazendo uma autoavaliação constante para saber se os valores que está seguindo são o que pensa que são - e isso quem nos ensinou foi Sócrates -, e para saber se não está fugindo desses valores e dando desculpas para isso. O experimento moral da máquina de batatinha nos mostrou que aos poucos nos afastamos dos nossos valores e nos habituamos a comportamentos viciosos. Todo esse trabalho de hábito moral que desenvolveremos tem uma razão de ser. A razão de ser, vimos que é a felicidade. Por que a felicidade? Porque a felicidade não deve nada a ninguém e não há nada depois dela. A felicidade nos guia em direção do sentido último da existência. A felicidade é esse caminho que nos guia ao longo de toda a existência para termos uma vida digna, para não desperdiçá-la. Por isso, agir eticamente é agir sobre o que guia as nossas ações, tendo como certeza que a busca última da nossa vida é a felicidade. MENU 24 Material complementar Vídeo: Pesquisa Profº Dan Ariely - Nosso código moral cheio de erros - https://bit.ly/2ZHDQZ2 Livro: Aprender a Viver - Luc Ferry Livro: Pequeno tratado das grandes virtudes – André Comte- Sponville Podcast com o Prof. Clóvis de Barros Filho: Inédita Pamonha - https://bit.ly/33GgQuR Livro: A metafísica dos costumes – Kant Livro: O príncipe - Maquiavel Livro: Ética - Adolfo Sanchez Vazquez Vídeo: Sócrates e a verdade - https://bit.ly/3c5blcS Livro: A felicidade é inútil – Clóvis de Barros Filho https://bit.ly/2ZHDQZ2 https://bit.ly/33GgQuR https://bit.ly/3c5blcS MENU 25 1 Introdução 1.1 2 2.2 2.3 3 3.1 3.2 3.3 4 4.1 5 5.1 5.2 6 6.1 6.2 7 7.1 Material complementar Bookmark 21 Button 5: Page 1: Page 2: Page 3: Page 4: Page 5: Page 6: Page 7: Page 8: Page 9: Page 10: Page 11: Page 12: Page 13: Page 14: Page 15: Page 16: Page 17: Page 18: Page 19: Page 20: Page 21: Page 22: Page 23: Page 24: Page 25: Button 6: Page 1: Page 2: Page 3: Page 4: Page 5: Page 6: Page 7: Page 8: Page 9: Page 10: Page 11: Page 12: Page 13: Page 14: Page 15: Page 16: Page 17: Page 18: Page 19: Page 20: Page 21: Page 22: Page 23: Page 24: Page 25: Button 7: Page 1: Page 2: Page 3: Page 4: Page 5: Page 6: Page 7: Page 8: Page 9: Page 10: Page 11: Page 12: Page 13: Page 14: Page 15: Page 16: Page 17: Page 18: Page 19: Page 20: Page 21: Page 22: Page 23: Page 24: Page 25: Button 8: Button 9: Button 10: Button 11: Button 12: Button 13: Button 14: Button 15: Button 16: Button 17: Button 18: Button 19: Button 20: Button 21: Button 22: Button 23: Button 24: Button 25: Button 26: Button 27:
Compartilhar