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05 Desigualdade socioeconomica e impacto sobre crescimento

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17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento
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Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento
Prof. Livio Ribeiro
Descrição Conceitos de desigualdade e sua relação com o crescimento
econômico.
Propósito Compreender a relação entre desigualdade e crescimento econômico é
fundamental para analisar e formular políticas públicas.
Objetivos
Módulo 1
Trade-off entre eficiência e
equidade e funções de
Módulo 2
Métricas de desigualdade e
pobreza
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utilidade social
Identificar o trade-off entre eficiência e
equidade e as funções de utilidade social.
Reconhecer os índices de desigualdade
social.
Módulo 3
Relação entre desigualdade
e crescimento econômico
Identificar como a desigualdade afeta o
crescimento econômico.
O crescimento econômico e o desenvolvimento econômico são conceitos
distintos, apesar de, no longo prazo, estarem fortemente correlacionados. O
primeiro faz alusão ao aumento da produção e renda agregadas de uma
economia. O segundo considera outros aspectos que avaliam de que forma
o aumento da renda previsto no primeiro impacta a qualidade de vida e o
bem-estar da população como um todo. Um desses aspectos e,
possivelmente, o mais importante deles, é a distribuição de renda: quão
equânime é essa distribuição?
O módulo 1 deste conteúdo abordará o trade-off entre eficiência e equidade.
Em geral, mecanismos distributivos tornam uma sociedade mais igualitária,
porém reduzem a eficiência na alocação dos recursos. Além disso, o módulo
1 também abordará as noções relacionadas ao conceito de função de
utilidade social.
O módulo 2, por sua vez, apresentará diferentes métricas para avaliação da
Introdução
Luiz Eduardo Geoffroy
Luiz Eduardo Geoffroy
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1 - Trade-off entre eficiência e equidade e funções de utilidade
social
desigualdade de renda em uma economia. Serão abordadas métricas
tradicionais, sendo as mais conhecidas delas a Curva de Lorenz e o Índice de
Gini. Além disso, neste módulo, também será feita uma breve apresentação
do conceito de pobreza e de linhas de pobreza, segundo as definições do
Banco Mundial.
No módulo 3, estudaremos vários canais por meio dos quais a desigualdade
pode comprometer o crescimento econômico. Veremos que ela pode afetar
o investimento em educação e a geração de capital humano; comprometer o
financiamento de projetos lucrativos; e distorcer a escolha de tributos em um
sistema democrático.
Essas situações mostram que o trade-off entre eficiência e equidade não
está sempre presente: é importante identificar quando ele é relevante e
quando é possível promover ambos simultaneamente.
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Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o trade-off entre eficiência e equidade e as
funções de utilidade social.
Eficiência e equidade: trade-off
Conforme sugerido pelos modelos modernos de crescimento econômico,
enquanto houver progresso tecnológico, os países tendem a crescer. Esse
crescimento, porém, está longe de ser igualitário. Por conta da persistência de
desigualdades, é cada vez mais aceito que se busque melhorar os indicadores
de equidade de uma sociedade por meio de políticas públicas distributivas
promovidas pelo Estado. No entanto, é preciso considerar que essa realocação
de recursos irá gerar um custo, tornando-a menos eficiente do que a anterior.
Para ilustrar melhor o fenômeno, suponha a seguinte situação de uma economia
fechada, que produz apenas um bem (X), com apenas dois indivíduos:
Indivíduo A
Possui 10 unidades do bem X.
Indivíduo B
Possui apenas 2 unidades do bem X.
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Como se pode ver, a distribuição das dotações desta economia é bastante
desigual.
Suponha, então, que seja criado um governo nesta sociedade, e que uma das
missões desse governo seja a de promover uma sociedade mais igualitária.
Nesse caso, para que essa economia não tenha mais desigualdades, o governo
teria que fazer o procedimento a seguir:
Indivíduo A
Transferência das quatro
unidades do bem X
pertecentes ao indivíduo A.
Indivíduo B
Recebimento das unidades
que agora pertenceriam ao
indivíduo B.
No entanto, esse processo de contar as unidades de que o indivíduo A dispõe e
transportá-las até o local onde o indivíduo B está situado é custoso e, durante
ele, uma das unidades do bem X é consumida. Apenas três das quatro unidades
do bem X passam a pertencer ao indivíduo B, ficando assim:
Indivíduo A
Possui agora seis unidades do bem X
Indivíduo B
Possui agora cinco unidades do bem
X.
Ao fim do processo a economia está mais igualitária, com dotações mais bem
distribuídas.
Percebe-se, no entanto que, a dotação agregada dessa economia está menor.
Inicialmente, a dotação agregada era igual a 12 unidades do bem X. Após o
processo de transferência, a dotação agregada se reduziu para 11 unidades.
Como a dotação agregada da economia diminuiu, diz-se que a economia se
tornou menos eficiente.

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A criação do governo nessa sociedade fez com que a
distribuição de renda se tornasse mais igualitária, ao custo de
uma redução na dotação agregada.
O exemplo é bastante simplista, mas representa muitas situações reais, nas
quais a adoção de políticas públicas ou a redistribuição de renda tem custos que
pioram a alocação geral de recursos.
Por isso, diz-se que existe um trade-off entre eficiência e equidade. Em outras
palavras, o bem-estar de uma sociedade depende de uma combinação entre
esses dois fatores.
Há vários motivos para que a promoção de igualdade prejudique a eficiência. A
seguir, três deles:
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 Custos de realocação
Pode haver custos para realocar recursos, como
no exemplo anterior.
 Impostos sobre o trabalho
Passa a ser menor a remuneração do trabalho, se
os recursos distribuídos forem obtidos a partir de
impostos sobre o trabalho. Portanto, as pessoas
podem trabalhar menos.
 Impostos sobre o capital
Passa a ser menor a remuneração do capital, se
os recursos forem obtidos a partir de impostos
sobre o capital. Portanto, as pessoas podem
investir menos.
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Como veremos posteriormente, nem sempre ocorrerá esse trade off, já que há
diversas situações em que a promoção da igualdade aumenta a eficiência e
iremos estudar ambas as situações.
O trade-off entre eficiência e equidade pode ser facilmente entendido a partir do
conceito de eficiência proposto por Pareto, que ocorre quando os recursos de
uma economia estão alocados de tal forma que nenhum indivíduo pode
aumentar seu bem-estar sem que o bem-estar de outro indivíduo seja reduzido.
Esse ponto, no qual a alocação de recursos é eficiente, também pode ser
chamado de Pareto-eficiente. Seguindo esse mesmo conceito, uma política
pública, ou qualquer investimento que proporcioneaumento de bem-estar para
alguns indivíduos sem ocasionar perda de bem-estar para outros, é vista como
uma melhoria “no sentido de Pareto”.
O conceito de eficiência de Pareto guarda uma relação direta com os teoremas
fundamentais do bem-estar, que são elas:
1º Teorema do bem-
estar
Se os mercados são competitivos, ou
seja, se apresentam informação
completa e concorrência perfeita, a
alocação de recursos é Pareto-
eficiente. Ou seja, os mercados
competitivos promovem uma
alocação tal que, para aumentar o
bem-estar de um indivíduo, é
necessário reduzir o bem-estar de
outro.
2º Teorema do bem-
estar
Existe um número infinito de
alocações de recursos em uma
economia que podem ser
considerados Pareto-eficientes.
Segundo o Teorema, toda alocação
Pareto-eficiente pode ser atingida por
mercados competitivos, mediante o
ajuste das dotações iniciais.
Os teoremas podem ser demonstrados a partir do arcabouço básico tipicamente
empregado na microeconomia tradicional. Nesse arcabouço, o preço é
determinado pela igualdade entre o benefício e o custo marginal de cada um dos
bens existentes, condição que também é empregada para definir eficiência
alocativa.
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Caso o benefício marginal seja maior do que o custo marginal, será mais
eficiente para o indivíduo aumentar seu consumo até que ambos se igualem; se
o custo marginal for maior do que o benefício marginal, então será mais eficiente
para o indivíduo reduzir seu consumo até que ambos se igualem.
É importante esclarecer também que o trade-off entre
eficiência e equidade não ocorre de forma tão estrita quanto
outros trade-offs na literatura econômica. Esses dois
conceitos não são como pontos opostos de um espectro.
Uma economia mais eficiente nem sempre será mais
desigual; da mesma forma que uma economia mais
igualitária nem sempre será menos eficiente.
Em outras palavras: como o 2º Teorema do bem-estar indica que existem
inúmeras combinações de alocação dos recursos que podem ser consideradas
Pareto-eficientes, a possibilidade de que uma economia possa ser eficiente e
igualitária não é descartada.
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Dessa forma, é possível dizer que o
trade-off entre eficiência e equidade é
condicional à hipótese de que a
alocação Pareto-eficiente alcançada
apresente algum grau de desigualdade
na distribuição de renda entre os
indivíduos.
Nesse caso, interferências para
reduzir essa desigualdade por meio de
impostos ou regulação governamental
poderão gerar perdas de eficiência se
interferirem na estrutura dos
mercados competitivos.
A discussão a respeito desse trade-off é de grande importância para a
elaboração e aplicação de políticas públicas. Questionamentos relevantes são
levantados sobre este tema, como:
O quanto de eficiência será perdido por políticas públicas de distribuição
de renda?
Existe uma equivalência de valor relativo entre esses dois conceitos?
São conhecidos valores nos quais um dado ganho de equidade pode ser
trocado por uma perda de eficiência?
Há quem afirme que a redução da desigualdade é o objetivo mais importante de
todos, e deve ser perseguida pelos governos incondicionalmente. Outros
afirmam que se deve buscar sempre a máxima eficiência possível. Como
decidir?
Processo de escolha individual: uma
breve apresentação
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Para responder a essas perguntas, economistas tipicamente empregam funções
de utilidade social, como se as sociedades tivessem preferências sobre as
possibilidades de alocação de recursos e pudessem fazer escolhas de forma a
maximizar seu bem-estar agregado. Tal processo é claramente inspirado na
estrutura das escolhas de consumo estudadas na microeconomia básica: no
processo de escolha individual, o consumidor tem uma restrição orçamentária e
preferências de consumo pelos diferentes bens disponíveis.
Relembrando, brevemente, esses conceitos:
Restrição orçamentária
Representa as diferentes
combinações de consumo que podem
ser alcançadas para cada nível de
renda disponível.
Curvas de indiferença
Representam todas as combinações
de consumo que fornecem o mesmo
nível de utilidade a um indivíduo.
A maximização de utilidade de um indivíduo é dada pelo ponto no qual a curva
de indiferença tangencia a reta de restrição orçamentária. Neste ponto, o
indivíduo está maximizando sua utilidade e seu bem-estar, tendo em vista sua
renda disponível.
Graficamente, pode-se apresentar o processo de maximização da utilidade
individual da seguinte forma:
Gráfico 1: Otimização de utilidade individual.
Elaborado por: Livio Ribeiro
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No gráfico, a restrição orçamentária é representada pela reta. Qualquer ponto
pertencente a ela representa uma possível combinação entre os bens X e Y cujo
consumo utiliza toda a renda disponível. Todos os pontos pertencentes à curva
de indiferença, por sua vez, mostram combinações entre os bens X e Y que
garantem uma mesma utilidade para o indivíduo.
Sendo assim, o ponto E representa a combinação entre os bens X e Y que
maximiza a utilidade para o consumidor, tendo em vista sua restrição
orçamentária.
Otimização de utilidade social
A análise anterior baseia-se apenas no indivíduo, e mostra como um consumidor
aloca sua renda, a partir de suas preferências individuais, de forma a maximizar
sua utilidade e, consequentemente, seu bem-estar. Utilizando esse mesmo
ferramental, a literatura econômica busca estabelecer uma análise que possa
fornecer informações a respeito do bem-estar da sociedade associada às
possíveis distribuições de dotação entre seus membros.
Da mesma forma que um indivíduo
possui uma dotação de recursos (sua
renda), a sociedade também tem uma
dotação, representada pela sua
produção e renda agregadas.
Enquanto o indivíduo pode alocar sua
renda em diferentes bens, a alocação
de renda na sociedade é entendida
como o resultado da distribuição da
renda entre os indivíduos que fazem
parte dela.
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Diante desse conjuntura, os seguintes questionamentos surgem:
Existe alguma maneira de determinar as preferências da sociedade?
É possível estabelecer uma função de utilidade social?
Caso uma função assim exista, como a sociedade poderia maximizá-la?
Como a sociedade é constituída por
seus membros, a forma mais natural
de se construir o conceito de utilidade
social seria agregar as utilidades
individuais de forma a representar um
comportamento coletivo.
Suponha uma economia com dois
indivíduos, A e B. Esses dois
indivíduos compõem toda a
sociedade.
Em outras palavras, toda a renda
(todos os recursos) da sociedade está
alocada entre eles (a alocação pode
ser igualitária, ou não).
Da mesma forma que, na análise individual, foram definidos os conceitos de
restrição orçamentária e curvas de indiferença, pode-se usar a sociedade
constituída pelo conjunto dos indivíduos A e B para definir os conceitos de
fronteira de possibilidades de utilidade e curvas de indiferença sociais.
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Page 14 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html#Fronteira de possibilidades de utilidade
Na análise individual, a reta de restrição orçamentária permite identificar o nível
máximo de utilidade, para um dado nível de renda, que um indivíduo pode obter
ao alocar essa renda entre dois produtos.
Na análise social, a fronteira de possibilidades de utilidade define o nível máximo
de utilidade, para um dado nível de renda agregada, que a sociedade pode obter
ao alocar sua renda agregada entre dois indivíduos. A fronteira de possibilidades
de utilidade pode ser observada no gráfico a seguir:
Gráfico 2: Fronteira de possibilidades de utilidade.
Elaborado por: BRCG.
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A renda agregada de uma sociedade pode ser distribuída entre os indivíduos A e
B, em qualquer combinação representada por um ponto que pertença à própria
curva da fronteira de possibilidades de utilidade, ou à área abaixo da curva.
No gráfico correspondente, todos os pontos pertencentes à curva são pontos
cuja alocação de recursos entre os indivíduos é Pareto-eficiente. Portanto, ao
longo da curva diz-se que a eficiência da sociedade é maximizada.
Repare que a alocação de recursos pode ser Pareto-eficiente e extremamente
desigual, como ilustrado pelos pontos 1 e 5. Da mesma forma, pode haver
também uma alocação Pareto-eficiente e extremamente igualitária, como
ilustrado pelo ponto 3. É importante demonstrar como a fronteira de
possibilidades de utilidade apresenta esse formato.
Isso se deve ao fato de a utilidade marginal ser decrescente. Suponha que uma
economia se encontre no ponto 1. Nesse ponto, toda a renda da economia está
nas mãos do indivíduo A e, consequentemente, seu bem-estar é igual ao bem-
estar da sociedade, uma vez que, nesse ponto, o indivíduo B tem utilidade igual a
zero. No entanto, conforme a alocação de recursos é alterada, a utilidade de A e
B varia. No ponto 2, o ganho de utilidade de B é maior do que a perda de utilidade
de A.
Isso porque a utilidade de um aumento marginal de recursos tipicamente é maior
para o indivíduo que tem menos recursos. No cenário 1, o indivíduo B não tinha
nenhuma dotação. Então, ao receber uma pequena parcela de recursos, seu
ganho de utilidade foi muito maior do que a perda de utilidade do indivíduo A.
O contrário ocorre no ponto 4, em que a maior parte dos recursos está nas mãos
do indivíduo B. Um acréscimo marginal na dotação de B, em detrimento de A,
provoca um aumento pequeno na utilidade de B, mas uma queda significativa na
utilidade de A.
Observa-se, portanto, a comparação a seguir:
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Utilidade marginal ser decrescente
“Quanto mais consumimos de um bem, menor o valor de uma unidade adicional
desse bem. O primeiro copo de água vale muito porque você está com sede, mas o
décimo copo de água provavelmente valerá menos.”

Aumento de recursos
Aumento de recursos para o
indivíduo que tem poucos
recursos provoca um ganho
de utilidade elevado para
ele.
Da mesma forma, um
aumento de recursos para o
indivíduo que tem muitos
recursos provoca um ganho
reduzido.

Redução de recursos
Redução de recursos para o
indivíduo que tem poucos
recursos provoca uma
significativa perda de
utilidade.
Enquanto uma diminuição
no volume de recursos
disponível para o indivíduo
que tem muitos recursos
provoca uma perda baixa.
Existe outro aspecto que impacta diretamente o formato da fronteira de
possibilidades de utilidade: o formato apresentado acima supõe que não
existem custos ao transferir recursos entre os indivíduos.

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Nas sociedades modernas, a
distribuição de recursos ocorre por
meio de impostos.
Tipicamente, os indivíduos detentores
de mais recursos são taxados pelos
governos, e a arrecadação resultante
desses impostos é transferida para os
indivíduos mais pobres.
No entanto, existem custos
associados a esse processo que
derivam tanto da operação do governo
quanto da reação dos indivíduos à
estrutura de tributação e benefícios
criada.
É preciso considerar os dois lados diversos a seguir:
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Quando governos não costumam operar da maneira
mais eficiente
Mesmo sem considerar atos ilegais, como corrupção e
desvio de recursos públicos, a identificação da população
que receberá os recursos é uma tarefa complexa, que
envolve monitoramento e auditoria frequentes. Erros que
deixam de pagar benefícios a pessoas elegíveis ou que
pagam benefícios para pessoas inelegíveis são comuns.
Tais dificuldades, por sua vez, tendem a gerar ineficiências
na distribuição dos valores arrecadados.
Quando governos costumam operar da maneira
mais eficiente
A criação de impostos cria desincentivos para os
indivíduos, mesmo que ocorra de maneira extremamente
eficiente, sem falhas alocativas. Para o indivíduo com mais
recursos, os impostos criam um desincentivo ao trabalho e
à geração de renda, uma vez que o governo tributará uma
parcela significativa dos ganhos auferidos. Para o indivíduo
com menos recursos, o benefício social também pode
gerar desincentivos à oferta de trabalho e à geração de
renda, pois, quanto maior a renda, menor é a chance de o
indivíduo continuar a receber a transferência voltada à
população mais pobre.
Quando se assume que existe um custo inerente à transferência de recursos, a
economia torna-se menos eficiente. Isso significa que a fronteira de
possibilidades de utilidade é afetada. Uma comparação entre as fronteiras de
possibilidade de utilidade com e sem custos de transferência de recursos entre
indivíduos pode ser observada a seguir.
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Gráfico 3: Fronteira de possibilidades de utilidade com e sem custo de transferência.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
No gráfico acima, a curva I (externa) é a mesma do gráfico anterior e representa
a fronteira de possibilidades de utilidade sem custos de transferência. A curva II
(interna) representa a fronteira de possibilidades de utilidade com custos de
transferência.
Observe que a perda de eficiência pela transferência é maior nos extremos, pois
são os cenários mais desiguais (sendo necessário maiores transferências de
recursos). O ponto E, por sua vez, representa o cenário mais igualitário possível,
no qual o indivíduo A e o indivíduo B apresentam a mesma utilidade. Nesse
ponto, as duas curvas são tangentes e não há perdas com custos de
transferência, pois não serão realizadas transferências de recursos.
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Curva de indiferença social
Da mesma forma que a curva de indiferença individual é definida com base na
utilidade que determinado indivíduo obtém com o consumo de uma cesta de
bens, a curva de indiferença social é definida com base no bem-estar que
decorre da distribuição dos recursos entre os indivíduos dessa sociedade e da
utilidade auferida por cada um deles. Ou seja, ao longo dacurva de indiferença
social, a sociedade apresenta o mesmo nível de bem-estar para uma gama de
combinações de utilidade individuais possíveis. A curva de indiferença social
pode ser obtida a partir de uma função de bem-estar social.
Novamente suponha uma economia com apenas dois indivíduos: indivíduo A e
indivíduo B. Esses dois indivíduos compõem toda a sociedade. Graficamente, a
curva de indiferença dessa sociedade pode ser apresentada da seguinte forma:
Gráfico 4: Curvas de indiferença social.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
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No gráfico, é possível observar exemplos genéricos de curvas de indiferenças
sociais: W1 e W2 são exemplos de curvas de indiferença social dadas por
diferentes funções de bem-estar social. Nesse caso, o nível de bem-estar social
de W2 é maior do que o nível de bem-estar social de W1.
Ao longo de cada uma das curvas de indiferença, o nível de bem-estar social
permanece o mesmo para qualquer combinação das utilidades de seus
indivíduos (A e B). Em outras palavras, existem combinações nas quais A tem
maior utilidade do que B, e combinações nas quais B tem maior utilidade do que
A, mas essas combinações são indiferentes para o bem-estar da sociedade
como um todo – o bem-estar social se mantém igual entre elas.
O ponto 2, apresentado no gráfico, mostra um cenário no qual a sociedade é
igualitária, em que a utilidade do indivíduo A e a utilidade do indivíduo B são bem
próximas. Os pontos 1 e 3 mostram cenários nos quais a sociedade é desigual.
No ponto 1, o indivíduo A apresenta uma utilidade muito maior do que B. Já no
ponto 3, o indivíduo B apresenta uma utilidade muito maior do que A. Apesar
dessas diferenças tão grandes na alocação dos recursos da sociedade, o nível
de bem-estar social associado aos pontos 1 e 3 é igual, pois pertencem a uma
mesma curva de indiferença social.
O arcabouço teórico apresentado permite revisitar o conceito de melhora de
Pareto: um ganho de utilidade por parte de um, ou mais indivíduos, sem que
nenhum outro perca utilidade. No gráfico, pontos que se encontram acima e à
direita de outro representam combinações de utilidade que podem ser
consideradas melhorias segundo o conceito de eficiência de Pareto.
Idealmente, o governo deveria realizar
políticas que representem melhorias
de Pareto nos níveis de bem-estar.
Afinal, essas políticas aumentam o
bem-estar social sem que nenhum
indivíduo tenha seu nível de bem-estar
comprometido, sendo consensuais.
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Na prática, no entanto, a maioria das decisões de políticas públicas tem
perdedores e, por isso, enfrenta trade-offs. Ainda que o objetivo dessas políticas
seja aumentar o nível de bem-estar social, esse aumento, em geral, está
acompanhado da perda de bem-estar de um indivíduo, ou, de forma mais
realista, de um grupo de indivíduos. Quando o grupo de indivíduos perdedores é
politicamente organizado, tipicamente eles fazem oposição à reforma
apresentada.
A representação da função de utilidade social indicada acima é genérica. No
entanto, existem dois casos extremos tipicamente utilizados e que, portanto,
devem ser discutidos com maior cuidado:
a curva de indiferença social utilitarista; e
a curva de indiferença social rawlsiana.
Como não existe uma maneira inequívoca de agregar as
funções de utilidade individuais na construção de uma função
de utilidade social, é importante discutir diferentes processos
de agregação e as consequências políticas e filosóficas da
adoção de cada um deles.
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A abordagem utilitarista, por exemplo,
supõe que a função de bem-estar
social é dada pelo somatório do bem-
estar de cada um dos indivíduos que
compõem a sociedade. Nessa
abordagem, se um indivíduo
experimenta um aumento de bem-
estar e outro indivíduo experimenta
uma perda de bem-estar de igual
magnitude, o nível de bem-estar social
permanece inalterado.
Na função de bem-estar social
utilitarista, a sociedade está disposta
a trocar uma “unidade” de bem-estar
do indivíduo A por uma “unidade” de
bem-estar do indivíduo B, e vice-versa.
Algebricamente, essa função de bem-estar social é dada por:
Graficamente, a curva de indiferença social utilitarista é representada por uma
reta.
W = UA + UB
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Gráfico 5: Curvas de indiferença social utilitaristas.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
Uma sociedade cuja função de bem-estar social é utilitarista se importa apenas
com eficiência e ignora equidade. Suponha a seguinte situação:
Indivíduo A
Membro mais rico da economia. Uma
política pública beneficia A de forma
equivalente a um aumento de 100 em
sua utilidade.
Indivíduo B
Membro mais pobre da economia. A
mesma política pública reduz a
utilidade de B em 50 unidades.
De acordo com a função de bem-estar social utilitarista, essa política pública
fará o bem-estar social aumentar em 50 unidades, apesar de a distribuição de
renda ter ficado ainda mais desigual após sua implantação.
No outro extremo das possíveis abordagens para a construção da função de
utilidade social está a abordagem rawlsiana, nomeada a partir do filósofo John
Rawls. Para John Rawls, o bem-estar de uma sociedade depende apenas do
bem-estar do indivíduo em pior situação.
Rawls argumenta que as demais abordagens para função de bem-estar social
permitem que um maior nível de bem-estar seja alcançado a partir de uma
diminuição do bem-estar do indivíduo em pior situação, desde que o bem-estar
do indivíduo em melhor situação aumente o suficiente para compensar essa
queda, e que tal abordagem não seria aceitável do ponto de vista social.
Luiz Eduardo Geoffroy
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A curva de indiferença rawlsiana importa-se apenas com a
equidade, e ignora a eficiência alocativa.
Para Rawls, a sociedade não ganha nada ao melhorar a situação de qualquer
indivíduo que não seja o mais pobre e, portanto, nenhuma melhora dos
indivíduos em situação favorável deveria compensar uma piora do indivíduo no
pior de todos os estados. Algebricamente, essa função utilidade pode ser
expressa da seguinte forma:
Na abordagem rawlsiana, o nível de bem-estar social da nossa economia é dado
pelo valor mínimo entre as utilidades do indivíduo A e do indivíduo B.
Graficamente, a curva de indiferença social, nesse caso, apresenta um formato
em L, conforme apresentado a seguir.
Gráfico 6: Curvas de indiferença social rawlsiana.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
W = min (UA, UB)
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Observe que a curva de indiferença social mostrada no gráfico 4 é uma
abordagem intermediária entre a função de bem-estar social utilitarista e a
função de bem-estar social rawlsiana, situação na qual existe algum grau de
substituição entre a utilidade dos diferentes membros da sociedade, embora
essa substituição não seja perfeita.
Ou seja, a função de bem-estar apresentada no gráfico 4 leva em consideraçãotanto a eficiência quanto a equidade de uma sociedade.
Comentário
Todas as abordagens apresentadas para a função de utilidade social
apresentam vantagens e fraquezas, sendo todas passíveis de críticas. A primeira
delas faz referência à possibilidade de comparação dos níveis de utilidade de
diferentes indivíduos, por tal comportamento assumir que o bem-estar é uma
função direta do consumo.
Como as funções de utilidade individual e de bem-estar social são um artifício
analítico, comumente questiona-se a subjetividade envolvida na análise de
políticas públicas baseada nesse processo. Afinal, a dificuldade de fazer
comparações nos níveis de utilidade de diferentes pessoas implica a
impossibilidade de se estimar a função de utilidade social e, consequentemente,
na impossibilidade de agregar os efeitos de políticas com impactos distributivos.
Assim, há quem argumente sobre o que seria uma prática ideal e não ideal,
conforme a seguir:
Ideal
Focar a análise de impacto
na determinação de quem
são os indivíduos que
perdem e quem são os
indivíduos que ganham.
Não ideal
Estabelecer uma relação de
ganhos e perdas que possa
resultar em alguma
consideração a respeito do
bem-estar da sociedade
como um todo.
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Além disso, sabe-se que os indivíduos têm preferências que baseiam suas
decisões de consumo. Nesse sentido, essas decisões são um guia para revelar
as preferências de cada um. No entanto, apesar de a sociedade ser composta
por um conjunto de indivíduos, ela, em si, não tem preferências.
Sendo assim, é válida a pergunta: as escolhas da sociedade representam as
preferências de quem?
Em uma sociedade com sistema político ditatorial, as escolhas da sociedade
são iguais às preferências do ditador, uma vez que as preferências individuais
não serão ouvidas e podem ser até mesmo controladas.
Em uma democracia, essa resposta não é simples. É certo que as preferências
da sociedade não podem representar a preferência de todos os indivíduos ao
mesmo tempo.
Exemplo
Alguns indivíduos podem não se importar com a desigualdade de renda e
valorizar mais a eficiência econômica. Outros indivíduos podem preferir uma
sociedade mais igualitária e justa, mesmo que isso represente uma perda de
eficiência. Em uma democracia, costuma prevalecer a vontade da maioria. Ou
seja, a preferência da sociedade espelha a preferência da maioria das pessoas
que nela vive.
Essa linha de raciocínio é mais simples quando as preferências dos indivíduos
se baseiam em duas opções, como é o caso do trade-off entre eficiência e
equidade, ou, ainda, no segundo turno de uma eleição em que competem o
candidato X e o candidato Y. Nesses casos, a escolha da sociedade ocorre a
partir da preferência da maioria dos indivíduos.
Arrow (1963) mostra que, em uma situação na qual os indivíduos têm três ou
mais opções de escolha, não é possível definir uma função de bem-estar social
que represente as preferências da sociedade sobre todas as combinações
possíveis de escolha. Embora seja possível definir uma das opções como aquela
que é escolhida pelo maior número de pessoas, as propriedades das funções de
preferência individual não são perfeitamente emuladas pela função de
preferência social, inviabilizando a sua construção de forma inequívoca e
ordenada.
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Escolha social na prática
Embora a teoria microeconômica
demonstre que as escolhas feitas pela
sociedade são o resultado de um
conjunto de preferências individuais, a
função de bem-estar social não pode
ser definida.
Assim, na prática, os governos não
definem uma fronteira de
possibilidades de utilidade, tampouco
as curvas de indiferença sociais, para
tomar decisões a respeito de suas
políticas públicas. Contudo, os
conceitos apresentados ajudam na
compreensão do fenômeno de
escolha social e dos fenômenos
relevantes na realidade cotidiana.
Exemplo
Ao avaliar qualquer projeto de política pública, os governos tipicamente
identificam e mensuram os custos e os benefícios dos projetos para diferentes
grupos da população.
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Para o caso de projetos que são Pareto-eficiente, o resultado desse processo
não é muito relevante, dado que a sua implementação tende a ser desejada por
todos, mas poucos são os projetos que efetivamente se enquadram nessa
condição.
Em outras palavras, é comum que qualquer política tenha ganhadores e
perdedores, o que naturalmente faz com que a implantação da política implique
um trade-off a ser mensurado. Há situações em que o trade-off relevante é
puramente distributivo: há grupos que ganham e grupos que perdem, mas não há
grande impacto na eficiência da alocação de recursos. No entanto, geralmente, o
trade-off envolve perdas de eficiência alocativa, requerendo que se estimem os
ganhos e perdas de eficiência que o projeto analisado pode ocasionar.
Mensurar ganhos e perdas de eficiência, a nível agregado, não é uma tarefa fácil.
Para realizá-la, economistas se utilizam do conceito de “disposição a pagar”.
Todos os indivíduos estão dispostos a pagar valores mais elevados pelos bens
que preferem.
Exemplo
Se um indivíduo prefere morar no bairro X em vez de morar no bairro Y, ele está
disposto a pagar um valor mais alto pelo aluguel ou pela aquisição de um imóvel
no bairro X. Da mesma forma que, se um indivíduo prefere determinado sabor de
sorvete, esse indivíduo provavelmente estará disposto a pagar um pouco mais
para consumir seu sorvete preferido.
Repare que a “disposição a pagar” não representa o preço efetivamente pago. Os
preços efetivamente pagos são determinados pelo mercado. Se um consumidor
está disposto a pagar um preço maior do que o preço de mercado efetivamente
pago, este indivíduo tem um excedente de consumo, pois, para ele, o bem está
barato.
Os exemplos apresentados basearam-se em decisões de consumo simples que
as pessoas enfrentam, mas o mesmo procedimento pode ser aplicado para
avaliar uma política pública. Veja o caso a seguir em que os pesquisadores
podem avaliar a disposição das pessoas em pagar pelos benefícios que um
projeto ofereceria a elas:
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Se um indivíduo apresenta
excedente de consumo
Esse indivíduo obterá maior
utilidade pela sua execução.
Se um indivíduo não
apresenta excedente de
consumo
A utilidade desse indivíduo
diminuirá caso a política
pública venha a ser
implantada.
Considerando a utilidade que os bens de consumo oferecem, bem como seus
preços, é possível monetizar a utilidade e, consequentemente, monetizar os
ganhos e perdas das pessoas afetadas por uma nova política pública.
Suponha que o benefício de um projeto seja dado pela soma dos ganhos de
utilidade de todos os indivíduos afetados. Assim, os ganhos e perdas individuais
são somados de forma a se alcançar um valor para o benefício líquido total.
Benefício líquido positivo
O projeto aumenta a
eficiência dessa economia,
mesmo que, para
determinados indivíduos,
ele represente uma perda de
utilidade
Benefício líquido negativo
O projeto reduz a eficiência
dessa economia, mesmo
que, para determinados
indivíduos, ele represente
um ganho de utilidade.
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Para mensurar a perda de eficiência resultante da introdução de um imposto, por
exemplo, o conceito de excedente de consumo pode ser aplicado. O quanto um
indivíduo estaria disposto a pagar para eliminar uma ineficiência econômica?
Para responder a esta pergunta, suponha as situações a seguir:
A existência de uma ineficiência causada pela aplicação de um imposto
sobre um bem X. Ao responder à pergunta anterior, o indivíduo responde
que ele estaria disposto a pagar $100 para que o imposto seja eliminado.
O imposto arrecadado pelo governo seja de $80, que é o quanto a pessoa
de fato paga pela existência do imposto. Essa diferença implica em um
peso-morto, de $20, que não está sendo consumido ou arrecadado pelo
governo.
Contudo, caso o imposto não
existisse, esse valor seria parte do
excedente do consumidor ou do
excedente do produtor. Por essa
razão, diz-se que esse peso-morto
representa uma perda de eficiência.
Medir a equidade em uma sociedade
não é necessariamente mais fácil do
que medir a sua eficiência. Afinal, a
forma como políticas públicas afetam
pessoas com diferentes níveis de
renda é contrafactual, e tipicamente
heterogênea. Diferentes métodos para
mensurar a desigualdade na
distribuição de renda já estão bem
estabelecidos na literatura econômica.
Esses indicadores serão analisados
em detalhes mais à frente.
Abordagens de escolha social
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Neste bate-papo, você entenderá que avaliar o trade-off eficiência e equidade e
definir políticas nem sempre é fácil. Robert Stiglitz resume três abordagens
possíveis para contornar essa questão.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A respeito do que foi apresentado acerca das funções de utilidade social, a
curva de indiferença social representa
Parabéns! A alternativa D está correta.
A
o quanto um indivíduo se importa com a sociedade na qual
está inserido.
B
um conjunto de combinações possíveis entre dois bens que
são amplamente consumidos pela sociedade.
C
um conjunto de combinações possíveis entre dois bens que
são indiferentes para o consumidor.
D
um conjunto de combinações possíveis para a alocação de
recursos de uma sociedade que possibilitam um mesmo nível
de bem-estar social.
E
um conjunto de combinações possíveis para a alocação de
recursos de uma sociedade que possibilitam diferentes níveis
de bem-estar social.
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Ao longo da curva de indiferença social, a sociedade apresenta todas as
combinações de utilidade individual que resultam em um mesmo nível de
bem-estar agregado.
Questão 2
O trade-off entre eficiência e equidade é um tema de grande discussão por
economistas ao redor do mundo. Sobre ele, é possível afirmar que
Parabéns! A alternativa A está correta.
Se a alocação de recursos em uma economia é Pareto-eficiente, tentativas de
reduzir a desigualdade irão torná-la menos eficiente.
As alternativas B, C e D são falsas pois o trade-off entre eficiência e equidade
não ocorre no sentido estrito: uma economia pode ser eficiente e igualitária, a
A
reduzir a desigualdade de uma economia tende a torná-la
menos eficiente.
B quanto mais eficiente uma economia, mais desigual ela é.
C quanto mais igualitária uma economia, menos eficiente ela é.
D
eficiência e equidade não podem ser alcançadas ao mesmo
tempo.
E
a distribuição igualitária dos recursos iniciais impede que uma
economia seja eficiente.
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depender da dotação inicial dos recursos. A alternativa E também é falsa, de
acordo com o Segundo Teorema do Bem-Estar.
2 - Métricas de desigualdade e pobreza
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os índices de desigualdade social.
Curva de Lorenz
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A Curva de Lorenz é um instrumento
gráfico e analítico que permite
construir a distribuição relativa de
uma variável em um grupo. Nesse
sentido, ela não é apenas um
instrumento de análise de
desigualdade social, sendo possível
sua aplicação a qualquer variável
aleatória. Pode-se, por exemplo,
construir uma Curva de Lorenz para a
distribuição das vendas das empresas
de determinado setor da atividade
econômica para avaliar o grau de
concentração do mercado analisado.
Quando utilizada como um indicador
para a desigualdade de renda, a Curva
de Lorenz mostra a relação entre a
proporção de pessoas com renda até
determinado patamar e a proporção
da renda agregada recebida por elas.
Em outras palavras, ela mostra o quanto uma proporção acumulada de renda
varia para cada patamar de proporção acumulada da população. Graficamente, a
Curva de Lorenz está representada a seguir:
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Gráfico 7: Curva de Lorenz.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
O gráfico mostra uma Curva de Lorenz genérica, que tem os seguintes eixos:
O eixo horizontal
Representa a proporção da população,
e varia de 0% a 100%.
O eixo vertical
Representa a proporção da renda
agregada, e varia de 0% a 100%.
Evidentemente, essa curva sempre passará pelos pontos (0%, 0%) e (100%,
100%), pois 0% da população detém 0% da renda e 100% da população detém
100% da renda.
A reta estabelecida entre os pontos 0 e 100 é conhecida como reta de total
igualdade. Em uma economia hipotética extremamente igualitária, na qual todos
os indivíduos têm a mesma renda, a Curva de Lorenz da renda e a reta de total
igualdade seriam coincidentes. Ao longo da reta de total igualdade, 10% da
população detém 10% da renda, 20% da população detém 20% da renda, e assim
por diante, até que 100% da população detenha 100% da renda. Na economia
real, o cenário no qual a curva de Lorenz coincide com a reta de total igualdade
não existe.
Suponha, então, um país que apresente a Curva de Lorenz (de espessura mais
grossa) apresentada no gráfico, com os pontos a seguir:
Luiz Eduardo Geoffroy
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Ponto A
É dado pelas coordenadas
(50, 20). A metade mais
pobre da população detém
apenas 20% da renda
agregada. Isso significa que
a metade mais rica da
população detém 80% da
renda agregada.
Ponto B
É dado pelas coordenadas
(80, 50). Isso significa que
os 80% mais pobres da
população detém metade
da renda, enquanto os 20%
mais ricos detém a outra
metade.
O exemplo da Curva de Lorenz apresentada mostra uma sociedade com uma
distribuição de renda desigual, na qual os 80% mais pobres detém a mesma
renda dos 20% mais ricos. Note que, quanto mais a Curva de Lorenz se aproxima
do canto inferior direito do gráfico, mais desigual é a distribuição de renda da
sociedade representada.
Não por acaso, quanto mais a Curva de Lorenz se aproxima do canto inferior
direito do gráfico, mais longe ela se encontra da reta de total igualdade.
Uma vez definido o comportamento da Curva de Lorenz, é interessante analisar
qual o movimentoesperado de uma política pública que reduza a desigualdade
de renda. Graficamente, esse comportamento está indicado a seguir.
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Gráfico 8: Curva de Lorenz e políticas de distribuição de renda.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
No gráfico, é possível observar o efeito que uma política de distribuição de renda
pode ter sobre o formato da Curva de Lorenz de uma economia.
Suponha que:
Curva I
Seja a Curva de Lorenz antes da
política de distribuição de renda.
Curva II
Seja a Curva de Lorenz após a
implantação dessa política.
Perceba que, após a implantação da política, o percentual da renda concentrado
nas famílias de menor renda aumentou.
Por exemplo, os 50% mais pobres têm maior parcela da renda na curva II do que
na curva I. Perceba também que a política de distribuição de renda aproximou a
Curva de Lorenz da reta de total igualdade e a distanciou do canto inferior direito
do gráfico. Portanto, a sociedade representada pela curva II é menos desigual do
que a sociedade representada pela curva I.
Índice de Gini
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A análise da Curva de Lorenz mostra a forma como a renda é distribuída entre os
diferentes percentuais da população mais pobre e mais rica. No entanto, a
simples observação da Curva de Lorenz não produz um indicador numérico e
direto a respeito da situação de desigualdade de renda de uma economia.
Se, no exemplo do gráfico anterior, a linha II cruzasse a linha I, não seria trivial
saber se a nova política aumentou ou reduziu a desigualdade. Ou seja, muitas
vezes, não é tão claro qual o real valor da diferença dos níveis de desigualdade
entre essas economias.
O Índice de Gini, criado pelo
matemático italiano Conrado Gini,
busca contornar essa limitação. Esse
índice se utiliza da Curva de Lorenz
para construir um indicador numérico
a fim de mensurar o grau de
desigualdade na distribuição de renda
de diferentes países.
É importante esclarecer que, por se basear na Curva de
Lorenz, a metodologia do Índice de Gini também pode ser
usada para analisar a distribuição de qualquer variável e, não
necessariamente, a distribuição de renda em determinado
país.
Aqui, no entanto, o objeto em questão é a renda e sua distribuição entre os
membros da sociedade. Sendo assim, será apresentado de que forma o Índice
de Gini mensura a distribuição de renda em uma economia.
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Próxima da reta de total
igualdade
Quanto mais próxima da
reta de total igualdade a
Curva de Lorenz estiver,
menor a desigualdade de
renda de uma economia.
Afastada da reta de total
igualdade
Quanto mais afastada da
reta de total igualdade a
Curva de Lorenz estiver,
maior a desigualdade de
renda de uma economia
Sendo assim, a área entre a reta de total igualdade e a Curva de Lorenz fornece
uma informação importante a respeito dos níveis de desigualdade na
distribuição de renda de um país. Considere o gráfico a seguir da Curva de
Lorenz.
Gráfico 9: Curva de Lorenz e índice de Gini.
Elaborado por: Livio Ribeiro.
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Observe que a Curva de Lorenz divide o triângulo formado pela reta de total
igualdade em duas áreas, A e B. Quanto menor a desigualdade de distribuição de
renda de um país, mais próxima sua Curva de Lorenz se encontra da reta de total
igualdade e, consequentemente, menor a área de A e maior a área de B.
Da mesma forma, quanto maior a desigualdade de distribuição de renda de um
país, mais afastada sua Curva de Lorenz se encontra da reta de total igualdade e,
consequentemente, maior a área de A e menor a área de B.
O Índice de Gini é calculado a partir das áreas A e B: o índice de Gini de um país é
igual ao tamanho da área A dividida pelo somatório das áreas A e B.
Algebricamente, o índice de Gini pode ser apresentado da seguinte forma:
Perceba que a metodologia de cálculo do índice de Gini limita os seus valores
entre 0 e 1. Além disso, observe que, quanto mais próximo de zero for o índice de
Gini de um país, mais igualitária é a sua distribuição de renda. Por outro lado,
quanto mais próximo de 1 for o Índice de Gini, mais desigual é a distribuição de
renda do país em questão.
Isso também deriva da própria metodologia de cálculo. Observe os dois pontos a
seguir:
Gin i =
A
A + B
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Na prática, os valores para A e B são determinados por meio de integrais,
método pelo qual é possível calcular a área sob uma curva. Neste momento, no
entanto, não é o foco deste conteúdo apresentar como essas integrais são
resolvidas, mas sim apresentar a intuição e a base da metodologia de cálculo do
Índice de Gini.
É importante ressaltar que o Índice de Gini é uma medida da
distribuição de renda, não de seu nível. Portanto, a partir dele
não é possível fazer afirmações a respeito do nível de renda
agregada deste país. Em outras palavras, um país pode ser
considerado rico, com alta renda agregada, e ter um índice de
Gini que mostra uma alta concentração dessa renda nas
mãos de poucos.
 No limite
Considere uma economia completamente igualitária, a
Curva de Lorenz é coincidente à reta de total igualdade e,
portanto, a área A é igual a zero. Nesse caso, o Índice de
Gini dessa economia também será igual a zero.
 No extremo oposto
Considere uma economia na qual toda a renda agregada
está concentrada nas mãos de um único indivíduo. Nesse
caso, a área B será igual a zero e, consequentemente, o
Índice de Gini será igual a 1.
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Esse pode ser considerado o caso dos Estados Unidos, por exemplo. Por outro
lado, há países que não são ricos, até mesmo considerados de renda baixa (ou
média), que apresentam um baixo Índice de Gini, sugerindo que a renda
agregada é bem distribuída entre a população. É o caso de países como
Montenegro, Bielorrússia e, até mesmo, a Etiópia.
As distribuições de renda em diferentes países variam consideravelmente.
Quando comparado internacionalmente, o Índice de Gini apresenta alguns
padrões. Na imagem a seguir, é apresentado o mapa mundi com os índices de
Gini para cada país cujo dado está disponível. Os dados são de 2014 e foram
construídos pelo Banco Mundial.
Índice de Gini ao redor do mundo.
O mapa mostra que, em geral, muitos dos países associados a um alto nível de
bem-estar social também apresentam baixos índices de Gini, indicando uma
associação entre bem-estar e igualdade social. Isso ocorre para praticamente
todos os países europeus – com destaque para os países da Escandinávia – e
outros países do mundo desenvolvido, como o Canadá, a Austrália e o Japão.
Percebe-se também que todos os países da América Latina apresentam altos
índices de desigualdade na distribuição de renda, bem como os países da África
Subsaariana, com destaque para a África do Sul, Botswana e Namíbia.
Dentre todos os países para os quais o Índice de Gini é calculado, o Brasil
frequentemente figura entre os dez países com maior desigualdade de
distribuição de renda.
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Índice de Gini
Neste bate-papo, você verá como o índice de Gini é o mais popular indicador dos
níveis de desigualdade de renda de uma economia. Sua metodologia é intuitiva e
deriva diretamente da curva de Lorenz.
Pobreza e desigualdade
Pobreza e desigualdade são conceitos relacionados, mas diferentes. De certa
forma:
A pobreza pode ser percebida como um conceito absoluto.
A desigualdade é sempre medida em termos relativos.
Diz-se que pobreza é um conceito absoluto, pois é possível afirmar se um
indivíduo vive em condições de pobreza observando somente a sua renda. Já a
desigualdade é um termo relativo pois, para que ela seja mensurada, é
necessário comparar a renda de um indivíduo com a renda de todos os outros.

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Teoricamente, é possível que haja
pobreza e, ao mesmo tempo, não haja
desigualdade.
Afinal, é possível que todos os
habitantes de determinada região
vivam em condições iguais de
pobreza. Nesse caso teórico, tem-se
uma região pobre, mas não desigual.
Da mesma forma, é possível que um
país seja desigual sem que nenhum de
seus habitantes viva em condições de
pobreza.
Comentário
Os exemplos utilizados no parágrafo anterior são extremos e servem apenas
para melhor ilustrar a diferença entre os dois conceitos.
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Na economia real, na maioria das
vezes, países com grandes
desigualdades de renda são também
países com uma elevada parcela da
população vivendo em condições de
pobreza. Ou seja, são dois fenômenos
que tipicamente coexistem e estão
correlacionados.
A pobreza é medida com base em um
nível de renda (ou consumo) mínimo
pré-definido. Todos os indivíduos cuja
renda ou consumo se encontrem
abaixo da linha de pobreza são
considerados pobres. Atualmente, o
Banco Mundial define como linha de
extrema pobreza uma renda de US$
1,90 por pessoa por dia, mensurada a
preços em paridade de poder de
compra de 2011.
Lembrando que, por se tratar de uma referência para
comparação internacional, é importante que os valores
utilizados sejam medidos de acordo com o poder de compra
de US$ 1,90 em 2011 em cada um dos diferentes países
envolvidos no cômputo da estatística.
Saber o número de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza é crucial. No
entanto, somente essa informação é insuficiente. Veja a seguir três motivos
dessa insuficiência:
Luiz Eduardo Geoffroy
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Não mede a posição exata na linha da pobreza
Por se tratar de uma contagem que não compara o bem-
estar de diferentes indivíduos, ela não permite identificar,
por exemplo, o quanto abaixo da linha da pobreza as
pessoas se encontram.
Não considera as pessoas localizadas logo acima
na linha da pobreza
A contagem ignora pessoas que se encontram ligeiramente
acima da linha de pobreza definida, e que não estão em
uma situação muito melhor do que aquelas que se
encontram abaixo dela, mas acabam sendo negligenciadas
por essa métrica. Afinal, essas pessoas, que também se
encontram em situação vulnerável, podem cair abaixo da
linha da pobreza a qualquer momento.
Não considera outros tipos de benefícios sem ser
obtidos na sua forma monetária
A linha de pobreza não leva em consideração outros tipos
de benefícios recebidos pelas pessoas que não
necessariamente são obtidos na sua forma monetária
(como acesso a sistemas de saúde gratuitos e universais e
merendas escolares subsidiadas), ao considerar apenas a
renda, ou o patamar de consumo.
Luiz Eduardo Geoffroy
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Esses benefícios não deixam de representar uma transferência de recursos,
embora não sejam pagos em termos monetários. Se esses benefícios fossem
considerados como renda adicional, o número de pessoas abaixo da linha da
pobreza tenderia a diminuir.
Essas críticas podem ser amenizadas pelo cálculo de índices de hiato de
pobreza, ou índices de pobreza multidimensional. No entanto, elas também
reforçam a relevância de indicadores de bem-estar que sejam relativos, como as
métricas de desigualdade apresentadas nesse módulo.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A Curva de Lorenz é um ferramental importante para avaliação da distribuição
de renda em uma economia. A interpretação correta da Curva de Lorenz diz
que
Parabéns! A alternativa C está correta.
Por definição da ferramenta, quanto maior a curvatura, mais afastada da reta
A
quando maior sua curvatura, mais igualitária é a distribuição
de renda.
B
quanto menor sua curvatura, mais desigual é a distribuição de
renda.
C
quanto maior sua curvatura, mais desigual é a distribuição de
renda.
D
a curvatura depende da distribuição relativa de renda em
comparação com outros países.
E
sua curvatura não é explicada pela distribuição de renda, mas
sim pelo seu nível.
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de total igualdade; logo, maior a desigualdade.
Questão 2
A partir da metodologia de construção do Índice de Gini, é possível afirmar
que
Parabéns! A alternativa E está correta.
Esse resultado é consequência do próprio cálculo do índice. Quanto mais
próximo de 1, mais desigual. Quanto mais próximo de 0, mais igualitário.
A
se trata de uma das mais populares medidas de eficiência
social.
B países mais ricos apresentam índices de Gini mais elevados.
C
países cuja distribuição de renda é mais igualitária
apresentam índices de Gini mais elevados.
D
o índice de Gini depende tanto da renda per capita quanto da
eficiência econômica.
E
quanto mais próximo de 1 for o Índice de Gini, mais
concentrada é a distribuição de renda.
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3 - Relação entre desigualdade e crescimento econômico
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar como a desigualdade afeta o crescimento
econômico.
Qual é a relação entre desigualdade e
crescimento econômico?
Aprendemos que há um trade-off entre eficiência e equidade, o que significa que
políticas para combater a desigualdade econômica podem comprometer o
crescimento. Certamente, essa é uma preocupação que deve estar presente na
análise de políticas públicas, mas é preciso fazer uma pergunta importante: será
que esse trade-off está sempre presente?
A resposta é não. Às vezes, a própria desigualdade pode reduzir o crescimento
econômico.
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De acordo com a OECD (2014), um
aumento da desigualdade diminuiu o
crescimento econômico, em média,
em uma amostra de países analisados
entre 1985 e 2011. Especificamente,
um aumento de três pontos no
coeficiente de Gini diminuiu o ritmo de
crescimento econômico em 0.35% ao
ano durante um período de 25 anos.
Pequenas diferenças na taxa de crescimento econômicogeram grandes perdas a longo prazo. Por exemplo, ao final
desse período de 25 anos, o PIB teve redução de 8,5%. Mais
do que isso, é importante ressaltar que não há trade-off: essa
queda do PIB não foi compensada por algo positivo. Afinal,
uma desigualdade maior também é ruim.
A desigualdade representa um problema mais grave naturalmente para a
população mais pobre, mas isso não significa que o problema para o
crescimento econômico seja focado apenas nessa parte da população.
De acordo com a OCDE, os 40% mais
pobres sofrem com o crescimento
econômico comprometido pela
desigualdade. Isso é quase metade da
população, e significa que a política
pública não pode focar apenas no
combate à pobreza: é necessário
combater a desigualdade na
sociedade como um todo.
Há vários canais por meio dos quais a desigualdade pode comprometer o
crescimento econômico. Vamos estudar alguns deles.
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Democracia e sistema tributário
Vamos considerar o sistema tributário e, mais do que isso, a escolha de tributos
em um sistema democrático.
Pense em uma sociedade com pessoas ricas e pobres. Para simplificar, pense
que há dois tipos de tributo:
Um imposto sobre a
renda
Incide sobre todas as pessoas e não
afeta a escolha de investimentos de
cada uma.
Um imposto sobre o
capital
Incide proporcionalmente mais sobre
os mais ricos, que são exatamente os
detentores de capital.
Pensando apenas em crescimento econômico, o ideal é que seja usado apenas
um imposto sobre a renda, proporcional à renda de cada indivíduo na sociedade.
Afinal, um imposto sobre capital reduz o incentivo ao investimento e à
acumulação de capital, o que compromete o crescimento econômico e prejudica
todos – inclusive aqueles que detêm pouco ou nenhum capital, ou seja, os mais
pobres.
Mas é assim que as coisas funcionam? Vamos pensar que esses impostos são
escolhidos por meio de votação.
As pessoas mais pobres preferem
votar em um sistema tributário com
altos impostos sobre capital –
exatamente porque esse imposto não
irá recair de maneira relevante sobre
elas, que não têm muito capital. Dessa
forma, elas poderão se beneficiar de
gastos públicos sem ter o custo dos
impostos.
Luiz Eduardo Geoffroy
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Se essa sociedade for desigual, com renda muito concentrada em poucas
pessoas ricas, teremos então muitas pessoas pobres.
Essa maioria de pessoas pobres irá votar por altos impostos sobre capital, o que:
Compromete o investimento e a acumulação de capital.
Prejudica o crescimento econômico.
Dessa forma, concluímos que a desigualdade reduz o crescimento por gerar um
sistema tributário ruim.
Se não houvesse desigualdade, não haveria incentivo para que as pessoas
votassem em um imposto que compromete o investimento, a acumulação de
capital e o crescimento econômico.
É importante notar que esse resultado vale de maneira
bastante ampla. Você pode pensar que essa distorção
tributária é menos relevante se o capital tem externalidades
positivas: os ricos acumulam capital do qual os pobres se
beneficiam diretamente.
Isso é verdade em alguns casos: por
exemplo, os ricos podem fazer
investimentos que beneficiam a
sociedade como um todo, como
ciência e arte. Mas os mais ricos nem
sempre fazem esse tipo de
investimento, é claro.
Mais do que isso, esse investimento
às vezes só beneficia os mais pobres
em um futuro distante: por exemplo,
um investimento em uma nova forma
de energia, mais limpa, beneficia a
sociedade como um todo, mas esse
impacto é distribuído ao longo de
muitos anos.
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Se as pessoas mais pobres não podem esperar, e acabam votando por altas
taxas sobre o capital, novamente a desigualdade compromete o crescimento
econômico.
Sistema financeiro?
Duas pessoas, João e José, têm ideias
para um abrir um bom negócio – por
exemplo, abrir um restaurante.
Nenhum deles possui recursos
suficientes, e precisam ir ao banco
tomar um empréstimo.
Cada um deles, separadamente, pode
mostrar ao banco seu projeto: há
chance de dar errado, e não será
possível pagar o empréstimo, mas é
mais provável que dê certo e gere
grandes lucros, o que permitirá
devolver o dinheiro ao banco.
Pense que os projetos são exatamente iguais, ou seja, têm o mesmo retorno
esperado (positivo) e as mesmas chances de dar certo ou errado.
Suponha que o banco saiba avaliar exatamente o projeto. Nesse caso, não
temos problema: se o projeto vale a pena e o banco sabe avaliar riscos e
retornos esperados, dará o empréstimo, e ambos poderão abrir seus
restaurantes.
A mensagem que temos aqui é simples: projetos lucrativos
serão implementados mesmo que o empreendedor não tenha
os recursos necessários – desde que o emprestador consiga
avaliar os riscos do projeto.
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Na prática, porém, a probabilidade de sucesso de um projeto não é um dado
exógeno que um banco poderá avaliar. Essa probabilidade depende, por
exemplo, do esforço que o empreendedor irá colocar. Quem trabalhar duro terá
um risco menor, ainda que esse esforço tenha um custo pessoal.
O emprestador (um banco ou qualquer outro), porém, não consegue avaliar esse
esforço: afinal, o gerente do banco não estará dia a dia ao lado do empreendedor
para ver se ele atende bem os clientes ou se capricha nos pratos.
Surge, então um problema e uma possível forma com que o banco possa lidar.
São elas:
Problema
O empreendedor passa a ter
um incentivo menor a se
esforçar, pois a falta de
esforço não será observada,
e ele não arca com todo o
custo do fracasso do
projeto – se o restaurante
der errado, é o banco que
fica no prejuízo.
Solução
Dividir o prejuízo com o
empreendedor.
Especificamente, o banco
pode financiar apenas parte
do projeto, e exigir que o
empreendedor aporte
recursos próprios. Dessa
forma, se o projeto der
errado, o empreendedor
também sofre um prejuízo,
o que gera incentivo para
que se esforce.
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Imagine que o investimento necessário é de $100.000, e o banco exige que o
empreendedor participe com $40.000. Se João e José têm $40.000 cada, ambos
poderão tomar o empréstimo para completar os $100.000 e fazer o
investimento.
É bom para cada um deles; é bom para o banco, que (em média) tem retorno
positivo nesse tipo de investimento; e é bom para a economia, que tem
investimento e crescimento econômico.
Porém, se João tem $60.000 e José tem apenas $20.000, apenas João poderá
obter o empréstimo e fazer o investimento. Novamente, a desigualdade,
representada aqui na concentração de recursos em José, compromete o
investimento e o crescimento econômico.
Educação
A desigualdade limita a aquisição de
capital humano (educação,
treinamento, ou qualificação de forma
geral) para uma parte relevante da
população. Especificamente, os filhos
de pais pouco educados tendem a
perder capital humano quando a
desigualdade aumenta.
Porém, esse mesmo aumento da
desigualdade não compromete o
capital humano de filhos de pais com
alto nível educacional.
Por que essa diferença?
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Observe inicialmente que há uma forte correlação entre educação erenda: em
média, pessoas com maior nível educacional têm renda mais alta. Além disso, a
educação apresenta inércia intergeracional. O que é isso?
Essa inércia diz que pais com alto nível educacional costumam formar filhos
também com alto nível educacional.
Porém, pais com baixo nível
educacional precisam de apoio: eles
talvez não tenham muitos livros em
casa, ou não tiveram oportunidade de
adquirir conhecimentos importantes, e
por isso precisam de acesso à
educação formal para os filhos (além
de bons empregos, que também são
fontes de aprendizado).
Maior desigualdade compromete tanto o acesso à educação formal quanto a
bons empregos.
É extremamente importante destacar como um capital
humano comprometido é um problema grave – não apenas
do ponto de vista ético, mas também econômico. Uma
pessoa com alto nível educacional tem um grande benefício
individual: tem mais chance de conseguir um bom emprego e
renda alta, além do bem-estar direto por ser detentor de
conhecimento.
Mas o impacto da educação vai além: uma pessoa educada tem mais chance de
gerar novas ideias que irão beneficiar não somente a ela própria, mas à
sociedade como um todo. É uma externalidade positiva. Pense em todos os
cientistas e artistas que a sociedade encontrará quando der oportunidades para
as pessoas que hoje não tem acesso à educação.
Não é à toa que o investimento em educação é fortemente subsidiado na maior
parte dos países.
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E como combater a desigualdade?
Há algumas ferramentas particularmente importantes para reduzir a
desigualdade. Uma das principais é a transferência de renda: podemos usar o
sistema tributário para redistribuir renda dos mais ricos para os mais pobres.
Porém, é importante ter cuidado ao desenhar um programa de transferência de
renda na prática.
Reflexão
Pense na seguinte situação: o governo transfere renda para as pessoas pobres
em uma determinada região, talvez porque essas pessoas não tenham recursos
sequer para comprar alimentos. Ao receber a transferência, elas correm ao
mercado e elevam a demanda por alimentos; os preços aumentam, o que pode
consumir a renda adicional que as pessoas ganharam com a transferência.
Isso é uma possibilidade teórica e precisa ser considerada. Ao fazer um
programa de transferência de renda, precisamos estimar:
1. No que as pessoas pobres irão gastar os recursos adicionais que vão
receber.
2. Se o mercado é capaz de ofertar os bens e serviços adicionais que as
pessoas irão consumir.
A primeira pergunta diz respeito à teoria do consumidor, enquanto a segunda usa
ferramentas da teoria de equilíbrio geral. Em particular, é necessário perguntar
qual é a elasticidade da oferta dos bens e serviços que as pessoas irão
consumir.
Se essa elasticidade for baixa, a política de transferência de renda
provavelmente funcionará mal: as pessoas terão uma renda maior, mas os
preços subirão.
Você está tentando transferir recursos para as pessoas mais pobres, mas acaba
transferindo para o dono do mercado onde essas pessoas fazem suas compras
– e o dono do mercado, em geral, não está entre os mais pobres da sociedade.
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É por isso que, com frequência, o
combate à desigualdade é feito por
meio da transferência direta de
recursos financeiros para gasto
irrestrito, ou seja, que permitem que as
pessoas escolham como gastar. Se
um preço subir demais, elas poderão
escolher outros bens e serviços.
Quando a transferência é feita para
gastos pré-definidos (por exemplo, um
subsídio à educação), torna-se mais
difícil escapar de um aumento de
preços.
Em suma: para combater a desigualdade, é preciso estar atento à estrutura de
mercado.
E no Brasil?
Neste bate-papo, você verá como se coloca a discussão sobre desigualdade e
crescimento no contexto brasileiro.

Luiz Eduardo Geoffroy
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
1. Considere as afirmativas abaixo.
I. Quanto maior a desigualdade, maior a taxação sobre a renda.
II. Quanto maior a desigualdade, maior a taxação sobre o capital.
III. Quanto maior a desigualdade, maior a taxa de crescimento econômico.
São verdadeiras as afirmativas:
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Parabéns! A alternativa D está correta.
Quanto maior a desigualdade, maior a taxação sobre o capital, e não sobre a
renda. Como o capital é concentrado em poucas pessoas, a maioria tem
pouco capital e prefere votar em impostos sobre capital para financiar os
gastos públicos. Dessa forma, fica comprometida a acumulação de capital e,
portanto, o crescimento econômico
Questão 2
Considere as afirmativas abaixo a respeito de um projeto com retorno
esperado positivo.
I. Quando a probabilidade de sucesso de um projeto é independente do
esforço do empreendedor, não é possível obter financiamento para o projeto.
II. Quando a probabilidade de sucesso de um projeto depende do esforço do
empreendedor, é possível obter 100% de financiamento em um banco.
A Apenas I e II.
B Apenas I e III.
C Apenas II e III.
D Apenas II.
E Apenas III.
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III. Quando a probabilidade de sucesso de um projeto depende do esforço do
empreendedor, a desigualdade pode afetar o crescimento econômico.
São verdadeiras as afirmativas:
Parabéns! A alternativa E está correta.
Quando a probabilidade de sucesso é independente do esforço do
empreendedor, pode ser possível que o banco faça o financiamento, desde
que seja capaz de observar essa probabilidade. Portanto, I é falsa.
Quando a probabilidade de sucesso depende do esforço do empreendedor, o
banco pode exigir participação do empreendedor no investimento. Logo, II é
falsa.
Quando a probabilidade de sucesso depende do esforço do empreendedor, o
banco pode exigir participação do empreendedor no investimento; portanto,
empreendedores com poucos recursos podem não conseguir realizar o
projeto.
Quando a desigualdade é alta, poucos empreendedores concentram a maior
parte dos recursos, e muitos outros ficam sem o mínimo exigido pelo banco
A Apenas I e II.
B Apenas I e III.
C Apenas II e III.
D Apenas II.
E Apenas III.
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para realizar o projeto, o que compromete o crescimento econômico.
Considerações finais
O trade-off entre eficiência e equidade afeta diretamente a capacidade dos
formuladores de política pública de promover o bem-estar de uma sociedade.
Diante dele, na prática, o principal papel do formulador de políticas públicas
acaba sendo o de encontrar maneiras de tornar a economia cada vez mais
igualitária, comprometendo o mínimo possível de sua eficiência.
Para isso, obter informações a respeito dos ganhos e perdas de eficiência
resultantes das políticas propostas é crucial, bem como atentar-se para o fato de
que as políticas públicas podem apresentar impactos heterogêneos sobre os
diversos grupos da sociedade.
Nesse sentido, entender quais grupos são beneficiados e quais grupos são
prejudicados é crucial para que se possa avaliar seus impactos sobre a equidade
e a justiça

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