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17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 1 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Prof. Livio Ribeiro Descrição Conceitos de desigualdade e sua relação com o crescimento econômico. Propósito Compreender a relação entre desigualdade e crescimento econômico é fundamental para analisar e formular políticas públicas. Objetivos Módulo 1 Trade-off entre eficiência e equidade e funções de Módulo 2 Métricas de desigualdade e pobreza 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 2 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# utilidade social Identificar o trade-off entre eficiência e equidade e as funções de utilidade social. Reconhecer os índices de desigualdade social. Módulo 3 Relação entre desigualdade e crescimento econômico Identificar como a desigualdade afeta o crescimento econômico. O crescimento econômico e o desenvolvimento econômico são conceitos distintos, apesar de, no longo prazo, estarem fortemente correlacionados. O primeiro faz alusão ao aumento da produção e renda agregadas de uma economia. O segundo considera outros aspectos que avaliam de que forma o aumento da renda previsto no primeiro impacta a qualidade de vida e o bem-estar da população como um todo. Um desses aspectos e, possivelmente, o mais importante deles, é a distribuição de renda: quão equânime é essa distribuição? O módulo 1 deste conteúdo abordará o trade-off entre eficiência e equidade. Em geral, mecanismos distributivos tornam uma sociedade mais igualitária, porém reduzem a eficiência na alocação dos recursos. Além disso, o módulo 1 também abordará as noções relacionadas ao conceito de função de utilidade social. O módulo 2, por sua vez, apresentará diferentes métricas para avaliação da Introdução Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 3 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# 1 - Trade-off entre eficiência e equidade e funções de utilidade social desigualdade de renda em uma economia. Serão abordadas métricas tradicionais, sendo as mais conhecidas delas a Curva de Lorenz e o Índice de Gini. Além disso, neste módulo, também será feita uma breve apresentação do conceito de pobreza e de linhas de pobreza, segundo as definições do Banco Mundial. No módulo 3, estudaremos vários canais por meio dos quais a desigualdade pode comprometer o crescimento econômico. Veremos que ela pode afetar o investimento em educação e a geração de capital humano; comprometer o financiamento de projetos lucrativos; e distorcer a escolha de tributos em um sistema democrático. Essas situações mostram que o trade-off entre eficiência e equidade não está sempre presente: é importante identificar quando ele é relevante e quando é possível promover ambos simultaneamente. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 4 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o trade-off entre eficiência e equidade e as funções de utilidade social. Eficiência e equidade: trade-off Conforme sugerido pelos modelos modernos de crescimento econômico, enquanto houver progresso tecnológico, os países tendem a crescer. Esse crescimento, porém, está longe de ser igualitário. Por conta da persistência de desigualdades, é cada vez mais aceito que se busque melhorar os indicadores de equidade de uma sociedade por meio de políticas públicas distributivas promovidas pelo Estado. No entanto, é preciso considerar que essa realocação de recursos irá gerar um custo, tornando-a menos eficiente do que a anterior. Para ilustrar melhor o fenômeno, suponha a seguinte situação de uma economia fechada, que produz apenas um bem (X), com apenas dois indivíduos: Indivíduo A Possui 10 unidades do bem X. Indivíduo B Possui apenas 2 unidades do bem X. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 5 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Como se pode ver, a distribuição das dotações desta economia é bastante desigual. Suponha, então, que seja criado um governo nesta sociedade, e que uma das missões desse governo seja a de promover uma sociedade mais igualitária. Nesse caso, para que essa economia não tenha mais desigualdades, o governo teria que fazer o procedimento a seguir: Indivíduo A Transferência das quatro unidades do bem X pertecentes ao indivíduo A. Indivíduo B Recebimento das unidades que agora pertenceriam ao indivíduo B. No entanto, esse processo de contar as unidades de que o indivíduo A dispõe e transportá-las até o local onde o indivíduo B está situado é custoso e, durante ele, uma das unidades do bem X é consumida. Apenas três das quatro unidades do bem X passam a pertencer ao indivíduo B, ficando assim: Indivíduo A Possui agora seis unidades do bem X Indivíduo B Possui agora cinco unidades do bem X. Ao fim do processo a economia está mais igualitária, com dotações mais bem distribuídas. Percebe-se, no entanto que, a dotação agregada dessa economia está menor. Inicialmente, a dotação agregada era igual a 12 unidades do bem X. Após o processo de transferência, a dotação agregada se reduziu para 11 unidades. Como a dotação agregada da economia diminuiu, diz-se que a economia se tornou menos eficiente. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 6 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# A criação do governo nessa sociedade fez com que a distribuição de renda se tornasse mais igualitária, ao custo de uma redução na dotação agregada. O exemplo é bastante simplista, mas representa muitas situações reais, nas quais a adoção de políticas públicas ou a redistribuição de renda tem custos que pioram a alocação geral de recursos. Por isso, diz-se que existe um trade-off entre eficiência e equidade. Em outras palavras, o bem-estar de uma sociedade depende de uma combinação entre esses dois fatores. Há vários motivos para que a promoção de igualdade prejudique a eficiência. A seguir, três deles: Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 7 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Custos de realocação Pode haver custos para realocar recursos, como no exemplo anterior. Impostos sobre o trabalho Passa a ser menor a remuneração do trabalho, se os recursos distribuídos forem obtidos a partir de impostos sobre o trabalho. Portanto, as pessoas podem trabalhar menos. Impostos sobre o capital Passa a ser menor a remuneração do capital, se os recursos forem obtidos a partir de impostos sobre o capital. Portanto, as pessoas podem investir menos. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 8 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Como veremos posteriormente, nem sempre ocorrerá esse trade off, já que há diversas situações em que a promoção da igualdade aumenta a eficiência e iremos estudar ambas as situações. O trade-off entre eficiência e equidade pode ser facilmente entendido a partir do conceito de eficiência proposto por Pareto, que ocorre quando os recursos de uma economia estão alocados de tal forma que nenhum indivíduo pode aumentar seu bem-estar sem que o bem-estar de outro indivíduo seja reduzido. Esse ponto, no qual a alocação de recursos é eficiente, também pode ser chamado de Pareto-eficiente. Seguindo esse mesmo conceito, uma política pública, ou qualquer investimento que proporcioneaumento de bem-estar para alguns indivíduos sem ocasionar perda de bem-estar para outros, é vista como uma melhoria “no sentido de Pareto”. O conceito de eficiência de Pareto guarda uma relação direta com os teoremas fundamentais do bem-estar, que são elas: 1º Teorema do bem- estar Se os mercados são competitivos, ou seja, se apresentam informação completa e concorrência perfeita, a alocação de recursos é Pareto- eficiente. Ou seja, os mercados competitivos promovem uma alocação tal que, para aumentar o bem-estar de um indivíduo, é necessário reduzir o bem-estar de outro. 2º Teorema do bem- estar Existe um número infinito de alocações de recursos em uma economia que podem ser considerados Pareto-eficientes. Segundo o Teorema, toda alocação Pareto-eficiente pode ser atingida por mercados competitivos, mediante o ajuste das dotações iniciais. Os teoremas podem ser demonstrados a partir do arcabouço básico tipicamente empregado na microeconomia tradicional. Nesse arcabouço, o preço é determinado pela igualdade entre o benefício e o custo marginal de cada um dos bens existentes, condição que também é empregada para definir eficiência alocativa. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 9 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Caso o benefício marginal seja maior do que o custo marginal, será mais eficiente para o indivíduo aumentar seu consumo até que ambos se igualem; se o custo marginal for maior do que o benefício marginal, então será mais eficiente para o indivíduo reduzir seu consumo até que ambos se igualem. É importante esclarecer também que o trade-off entre eficiência e equidade não ocorre de forma tão estrita quanto outros trade-offs na literatura econômica. Esses dois conceitos não são como pontos opostos de um espectro. Uma economia mais eficiente nem sempre será mais desigual; da mesma forma que uma economia mais igualitária nem sempre será menos eficiente. Em outras palavras: como o 2º Teorema do bem-estar indica que existem inúmeras combinações de alocação dos recursos que podem ser consideradas Pareto-eficientes, a possibilidade de que uma economia possa ser eficiente e igualitária não é descartada. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 10 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Dessa forma, é possível dizer que o trade-off entre eficiência e equidade é condicional à hipótese de que a alocação Pareto-eficiente alcançada apresente algum grau de desigualdade na distribuição de renda entre os indivíduos. Nesse caso, interferências para reduzir essa desigualdade por meio de impostos ou regulação governamental poderão gerar perdas de eficiência se interferirem na estrutura dos mercados competitivos. A discussão a respeito desse trade-off é de grande importância para a elaboração e aplicação de políticas públicas. Questionamentos relevantes são levantados sobre este tema, como: O quanto de eficiência será perdido por políticas públicas de distribuição de renda? Existe uma equivalência de valor relativo entre esses dois conceitos? São conhecidos valores nos quais um dado ganho de equidade pode ser trocado por uma perda de eficiência? Há quem afirme que a redução da desigualdade é o objetivo mais importante de todos, e deve ser perseguida pelos governos incondicionalmente. Outros afirmam que se deve buscar sempre a máxima eficiência possível. Como decidir? Processo de escolha individual: uma breve apresentação 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 11 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Para responder a essas perguntas, economistas tipicamente empregam funções de utilidade social, como se as sociedades tivessem preferências sobre as possibilidades de alocação de recursos e pudessem fazer escolhas de forma a maximizar seu bem-estar agregado. Tal processo é claramente inspirado na estrutura das escolhas de consumo estudadas na microeconomia básica: no processo de escolha individual, o consumidor tem uma restrição orçamentária e preferências de consumo pelos diferentes bens disponíveis. Relembrando, brevemente, esses conceitos: Restrição orçamentária Representa as diferentes combinações de consumo que podem ser alcançadas para cada nível de renda disponível. Curvas de indiferença Representam todas as combinações de consumo que fornecem o mesmo nível de utilidade a um indivíduo. A maximização de utilidade de um indivíduo é dada pelo ponto no qual a curva de indiferença tangencia a reta de restrição orçamentária. Neste ponto, o indivíduo está maximizando sua utilidade e seu bem-estar, tendo em vista sua renda disponível. Graficamente, pode-se apresentar o processo de maximização da utilidade individual da seguinte forma: Gráfico 1: Otimização de utilidade individual. Elaborado por: Livio Ribeiro Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 12 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# No gráfico, a restrição orçamentária é representada pela reta. Qualquer ponto pertencente a ela representa uma possível combinação entre os bens X e Y cujo consumo utiliza toda a renda disponível. Todos os pontos pertencentes à curva de indiferença, por sua vez, mostram combinações entre os bens X e Y que garantem uma mesma utilidade para o indivíduo. Sendo assim, o ponto E representa a combinação entre os bens X e Y que maximiza a utilidade para o consumidor, tendo em vista sua restrição orçamentária. Otimização de utilidade social A análise anterior baseia-se apenas no indivíduo, e mostra como um consumidor aloca sua renda, a partir de suas preferências individuais, de forma a maximizar sua utilidade e, consequentemente, seu bem-estar. Utilizando esse mesmo ferramental, a literatura econômica busca estabelecer uma análise que possa fornecer informações a respeito do bem-estar da sociedade associada às possíveis distribuições de dotação entre seus membros. Da mesma forma que um indivíduo possui uma dotação de recursos (sua renda), a sociedade também tem uma dotação, representada pela sua produção e renda agregadas. Enquanto o indivíduo pode alocar sua renda em diferentes bens, a alocação de renda na sociedade é entendida como o resultado da distribuição da renda entre os indivíduos que fazem parte dela. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 13 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Diante desse conjuntura, os seguintes questionamentos surgem: Existe alguma maneira de determinar as preferências da sociedade? É possível estabelecer uma função de utilidade social? Caso uma função assim exista, como a sociedade poderia maximizá-la? Como a sociedade é constituída por seus membros, a forma mais natural de se construir o conceito de utilidade social seria agregar as utilidades individuais de forma a representar um comportamento coletivo. Suponha uma economia com dois indivíduos, A e B. Esses dois indivíduos compõem toda a sociedade. Em outras palavras, toda a renda (todos os recursos) da sociedade está alocada entre eles (a alocação pode ser igualitária, ou não). Da mesma forma que, na análise individual, foram definidos os conceitos de restrição orçamentária e curvas de indiferença, pode-se usar a sociedade constituída pelo conjunto dos indivíduos A e B para definir os conceitos de fronteira de possibilidades de utilidade e curvas de indiferença sociais. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 14 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html#Fronteira de possibilidades de utilidade Na análise individual, a reta de restrição orçamentária permite identificar o nível máximo de utilidade, para um dado nível de renda, que um indivíduo pode obter ao alocar essa renda entre dois produtos. Na análise social, a fronteira de possibilidades de utilidade define o nível máximo de utilidade, para um dado nível de renda agregada, que a sociedade pode obter ao alocar sua renda agregada entre dois indivíduos. A fronteira de possibilidades de utilidade pode ser observada no gráfico a seguir: Gráfico 2: Fronteira de possibilidades de utilidade. Elaborado por: BRCG. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 15 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# A renda agregada de uma sociedade pode ser distribuída entre os indivíduos A e B, em qualquer combinação representada por um ponto que pertença à própria curva da fronteira de possibilidades de utilidade, ou à área abaixo da curva. No gráfico correspondente, todos os pontos pertencentes à curva são pontos cuja alocação de recursos entre os indivíduos é Pareto-eficiente. Portanto, ao longo da curva diz-se que a eficiência da sociedade é maximizada. Repare que a alocação de recursos pode ser Pareto-eficiente e extremamente desigual, como ilustrado pelos pontos 1 e 5. Da mesma forma, pode haver também uma alocação Pareto-eficiente e extremamente igualitária, como ilustrado pelo ponto 3. É importante demonstrar como a fronteira de possibilidades de utilidade apresenta esse formato. Isso se deve ao fato de a utilidade marginal ser decrescente. Suponha que uma economia se encontre no ponto 1. Nesse ponto, toda a renda da economia está nas mãos do indivíduo A e, consequentemente, seu bem-estar é igual ao bem- estar da sociedade, uma vez que, nesse ponto, o indivíduo B tem utilidade igual a zero. No entanto, conforme a alocação de recursos é alterada, a utilidade de A e B varia. No ponto 2, o ganho de utilidade de B é maior do que a perda de utilidade de A. Isso porque a utilidade de um aumento marginal de recursos tipicamente é maior para o indivíduo que tem menos recursos. No cenário 1, o indivíduo B não tinha nenhuma dotação. Então, ao receber uma pequena parcela de recursos, seu ganho de utilidade foi muito maior do que a perda de utilidade do indivíduo A. O contrário ocorre no ponto 4, em que a maior parte dos recursos está nas mãos do indivíduo B. Um acréscimo marginal na dotação de B, em detrimento de A, provoca um aumento pequeno na utilidade de B, mas uma queda significativa na utilidade de A. Observa-se, portanto, a comparação a seguir: Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 16 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Utilidade marginal ser decrescente “Quanto mais consumimos de um bem, menor o valor de uma unidade adicional desse bem. O primeiro copo de água vale muito porque você está com sede, mas o décimo copo de água provavelmente valerá menos.” Aumento de recursos Aumento de recursos para o indivíduo que tem poucos recursos provoca um ganho de utilidade elevado para ele. Da mesma forma, um aumento de recursos para o indivíduo que tem muitos recursos provoca um ganho reduzido. Redução de recursos Redução de recursos para o indivíduo que tem poucos recursos provoca uma significativa perda de utilidade. Enquanto uma diminuição no volume de recursos disponível para o indivíduo que tem muitos recursos provoca uma perda baixa. Existe outro aspecto que impacta diretamente o formato da fronteira de possibilidades de utilidade: o formato apresentado acima supõe que não existem custos ao transferir recursos entre os indivíduos. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 17 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Nas sociedades modernas, a distribuição de recursos ocorre por meio de impostos. Tipicamente, os indivíduos detentores de mais recursos são taxados pelos governos, e a arrecadação resultante desses impostos é transferida para os indivíduos mais pobres. No entanto, existem custos associados a esse processo que derivam tanto da operação do governo quanto da reação dos indivíduos à estrutura de tributação e benefícios criada. É preciso considerar os dois lados diversos a seguir: Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 18 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Quando governos não costumam operar da maneira mais eficiente Mesmo sem considerar atos ilegais, como corrupção e desvio de recursos públicos, a identificação da população que receberá os recursos é uma tarefa complexa, que envolve monitoramento e auditoria frequentes. Erros que deixam de pagar benefícios a pessoas elegíveis ou que pagam benefícios para pessoas inelegíveis são comuns. Tais dificuldades, por sua vez, tendem a gerar ineficiências na distribuição dos valores arrecadados. Quando governos costumam operar da maneira mais eficiente A criação de impostos cria desincentivos para os indivíduos, mesmo que ocorra de maneira extremamente eficiente, sem falhas alocativas. Para o indivíduo com mais recursos, os impostos criam um desincentivo ao trabalho e à geração de renda, uma vez que o governo tributará uma parcela significativa dos ganhos auferidos. Para o indivíduo com menos recursos, o benefício social também pode gerar desincentivos à oferta de trabalho e à geração de renda, pois, quanto maior a renda, menor é a chance de o indivíduo continuar a receber a transferência voltada à população mais pobre. Quando se assume que existe um custo inerente à transferência de recursos, a economia torna-se menos eficiente. Isso significa que a fronteira de possibilidades de utilidade é afetada. Uma comparação entre as fronteiras de possibilidade de utilidade com e sem custos de transferência de recursos entre indivíduos pode ser observada a seguir. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 19 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Gráfico 3: Fronteira de possibilidades de utilidade com e sem custo de transferência. Elaborado por: Livio Ribeiro. No gráfico acima, a curva I (externa) é a mesma do gráfico anterior e representa a fronteira de possibilidades de utilidade sem custos de transferência. A curva II (interna) representa a fronteira de possibilidades de utilidade com custos de transferência. Observe que a perda de eficiência pela transferência é maior nos extremos, pois são os cenários mais desiguais (sendo necessário maiores transferências de recursos). O ponto E, por sua vez, representa o cenário mais igualitário possível, no qual o indivíduo A e o indivíduo B apresentam a mesma utilidade. Nesse ponto, as duas curvas são tangentes e não há perdas com custos de transferência, pois não serão realizadas transferências de recursos. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 20 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Curva de indiferença social Da mesma forma que a curva de indiferença individual é definida com base na utilidade que determinado indivíduo obtém com o consumo de uma cesta de bens, a curva de indiferença social é definida com base no bem-estar que decorre da distribuição dos recursos entre os indivíduos dessa sociedade e da utilidade auferida por cada um deles. Ou seja, ao longo dacurva de indiferença social, a sociedade apresenta o mesmo nível de bem-estar para uma gama de combinações de utilidade individuais possíveis. A curva de indiferença social pode ser obtida a partir de uma função de bem-estar social. Novamente suponha uma economia com apenas dois indivíduos: indivíduo A e indivíduo B. Esses dois indivíduos compõem toda a sociedade. Graficamente, a curva de indiferença dessa sociedade pode ser apresentada da seguinte forma: Gráfico 4: Curvas de indiferença social. Elaborado por: Livio Ribeiro. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 21 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# No gráfico, é possível observar exemplos genéricos de curvas de indiferenças sociais: W1 e W2 são exemplos de curvas de indiferença social dadas por diferentes funções de bem-estar social. Nesse caso, o nível de bem-estar social de W2 é maior do que o nível de bem-estar social de W1. Ao longo de cada uma das curvas de indiferença, o nível de bem-estar social permanece o mesmo para qualquer combinação das utilidades de seus indivíduos (A e B). Em outras palavras, existem combinações nas quais A tem maior utilidade do que B, e combinações nas quais B tem maior utilidade do que A, mas essas combinações são indiferentes para o bem-estar da sociedade como um todo – o bem-estar social se mantém igual entre elas. O ponto 2, apresentado no gráfico, mostra um cenário no qual a sociedade é igualitária, em que a utilidade do indivíduo A e a utilidade do indivíduo B são bem próximas. Os pontos 1 e 3 mostram cenários nos quais a sociedade é desigual. No ponto 1, o indivíduo A apresenta uma utilidade muito maior do que B. Já no ponto 3, o indivíduo B apresenta uma utilidade muito maior do que A. Apesar dessas diferenças tão grandes na alocação dos recursos da sociedade, o nível de bem-estar social associado aos pontos 1 e 3 é igual, pois pertencem a uma mesma curva de indiferença social. O arcabouço teórico apresentado permite revisitar o conceito de melhora de Pareto: um ganho de utilidade por parte de um, ou mais indivíduos, sem que nenhum outro perca utilidade. No gráfico, pontos que se encontram acima e à direita de outro representam combinações de utilidade que podem ser consideradas melhorias segundo o conceito de eficiência de Pareto. Idealmente, o governo deveria realizar políticas que representem melhorias de Pareto nos níveis de bem-estar. Afinal, essas políticas aumentam o bem-estar social sem que nenhum indivíduo tenha seu nível de bem-estar comprometido, sendo consensuais. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 22 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Na prática, no entanto, a maioria das decisões de políticas públicas tem perdedores e, por isso, enfrenta trade-offs. Ainda que o objetivo dessas políticas seja aumentar o nível de bem-estar social, esse aumento, em geral, está acompanhado da perda de bem-estar de um indivíduo, ou, de forma mais realista, de um grupo de indivíduos. Quando o grupo de indivíduos perdedores é politicamente organizado, tipicamente eles fazem oposição à reforma apresentada. A representação da função de utilidade social indicada acima é genérica. No entanto, existem dois casos extremos tipicamente utilizados e que, portanto, devem ser discutidos com maior cuidado: a curva de indiferença social utilitarista; e a curva de indiferença social rawlsiana. Como não existe uma maneira inequívoca de agregar as funções de utilidade individuais na construção de uma função de utilidade social, é importante discutir diferentes processos de agregação e as consequências políticas e filosóficas da adoção de cada um deles. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 23 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# A abordagem utilitarista, por exemplo, supõe que a função de bem-estar social é dada pelo somatório do bem- estar de cada um dos indivíduos que compõem a sociedade. Nessa abordagem, se um indivíduo experimenta um aumento de bem- estar e outro indivíduo experimenta uma perda de bem-estar de igual magnitude, o nível de bem-estar social permanece inalterado. Na função de bem-estar social utilitarista, a sociedade está disposta a trocar uma “unidade” de bem-estar do indivíduo A por uma “unidade” de bem-estar do indivíduo B, e vice-versa. Algebricamente, essa função de bem-estar social é dada por: Graficamente, a curva de indiferença social utilitarista é representada por uma reta. W = UA + UB Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 24 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Gráfico 5: Curvas de indiferença social utilitaristas. Elaborado por: Livio Ribeiro. Uma sociedade cuja função de bem-estar social é utilitarista se importa apenas com eficiência e ignora equidade. Suponha a seguinte situação: Indivíduo A Membro mais rico da economia. Uma política pública beneficia A de forma equivalente a um aumento de 100 em sua utilidade. Indivíduo B Membro mais pobre da economia. A mesma política pública reduz a utilidade de B em 50 unidades. De acordo com a função de bem-estar social utilitarista, essa política pública fará o bem-estar social aumentar em 50 unidades, apesar de a distribuição de renda ter ficado ainda mais desigual após sua implantação. No outro extremo das possíveis abordagens para a construção da função de utilidade social está a abordagem rawlsiana, nomeada a partir do filósofo John Rawls. Para John Rawls, o bem-estar de uma sociedade depende apenas do bem-estar do indivíduo em pior situação. Rawls argumenta que as demais abordagens para função de bem-estar social permitem que um maior nível de bem-estar seja alcançado a partir de uma diminuição do bem-estar do indivíduo em pior situação, desde que o bem-estar do indivíduo em melhor situação aumente o suficiente para compensar essa queda, e que tal abordagem não seria aceitável do ponto de vista social. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 25 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# A curva de indiferença rawlsiana importa-se apenas com a equidade, e ignora a eficiência alocativa. Para Rawls, a sociedade não ganha nada ao melhorar a situação de qualquer indivíduo que não seja o mais pobre e, portanto, nenhuma melhora dos indivíduos em situação favorável deveria compensar uma piora do indivíduo no pior de todos os estados. Algebricamente, essa função utilidade pode ser expressa da seguinte forma: Na abordagem rawlsiana, o nível de bem-estar social da nossa economia é dado pelo valor mínimo entre as utilidades do indivíduo A e do indivíduo B. Graficamente, a curva de indiferença social, nesse caso, apresenta um formato em L, conforme apresentado a seguir. Gráfico 6: Curvas de indiferença social rawlsiana. Elaborado por: Livio Ribeiro. W = min (UA, UB) Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 26 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Observe que a curva de indiferença social mostrada no gráfico 4 é uma abordagem intermediária entre a função de bem-estar social utilitarista e a função de bem-estar social rawlsiana, situação na qual existe algum grau de substituição entre a utilidade dos diferentes membros da sociedade, embora essa substituição não seja perfeita. Ou seja, a função de bem-estar apresentada no gráfico 4 leva em consideraçãotanto a eficiência quanto a equidade de uma sociedade. Comentário Todas as abordagens apresentadas para a função de utilidade social apresentam vantagens e fraquezas, sendo todas passíveis de críticas. A primeira delas faz referência à possibilidade de comparação dos níveis de utilidade de diferentes indivíduos, por tal comportamento assumir que o bem-estar é uma função direta do consumo. Como as funções de utilidade individual e de bem-estar social são um artifício analítico, comumente questiona-se a subjetividade envolvida na análise de políticas públicas baseada nesse processo. Afinal, a dificuldade de fazer comparações nos níveis de utilidade de diferentes pessoas implica a impossibilidade de se estimar a função de utilidade social e, consequentemente, na impossibilidade de agregar os efeitos de políticas com impactos distributivos. Assim, há quem argumente sobre o que seria uma prática ideal e não ideal, conforme a seguir: Ideal Focar a análise de impacto na determinação de quem são os indivíduos que perdem e quem são os indivíduos que ganham. Não ideal Estabelecer uma relação de ganhos e perdas que possa resultar em alguma consideração a respeito do bem-estar da sociedade como um todo. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 27 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Além disso, sabe-se que os indivíduos têm preferências que baseiam suas decisões de consumo. Nesse sentido, essas decisões são um guia para revelar as preferências de cada um. No entanto, apesar de a sociedade ser composta por um conjunto de indivíduos, ela, em si, não tem preferências. Sendo assim, é válida a pergunta: as escolhas da sociedade representam as preferências de quem? Em uma sociedade com sistema político ditatorial, as escolhas da sociedade são iguais às preferências do ditador, uma vez que as preferências individuais não serão ouvidas e podem ser até mesmo controladas. Em uma democracia, essa resposta não é simples. É certo que as preferências da sociedade não podem representar a preferência de todos os indivíduos ao mesmo tempo. Exemplo Alguns indivíduos podem não se importar com a desigualdade de renda e valorizar mais a eficiência econômica. Outros indivíduos podem preferir uma sociedade mais igualitária e justa, mesmo que isso represente uma perda de eficiência. Em uma democracia, costuma prevalecer a vontade da maioria. Ou seja, a preferência da sociedade espelha a preferência da maioria das pessoas que nela vive. Essa linha de raciocínio é mais simples quando as preferências dos indivíduos se baseiam em duas opções, como é o caso do trade-off entre eficiência e equidade, ou, ainda, no segundo turno de uma eleição em que competem o candidato X e o candidato Y. Nesses casos, a escolha da sociedade ocorre a partir da preferência da maioria dos indivíduos. Arrow (1963) mostra que, em uma situação na qual os indivíduos têm três ou mais opções de escolha, não é possível definir uma função de bem-estar social que represente as preferências da sociedade sobre todas as combinações possíveis de escolha. Embora seja possível definir uma das opções como aquela que é escolhida pelo maior número de pessoas, as propriedades das funções de preferência individual não são perfeitamente emuladas pela função de preferência social, inviabilizando a sua construção de forma inequívoca e ordenada. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 28 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Escolha social na prática Embora a teoria microeconômica demonstre que as escolhas feitas pela sociedade são o resultado de um conjunto de preferências individuais, a função de bem-estar social não pode ser definida. Assim, na prática, os governos não definem uma fronteira de possibilidades de utilidade, tampouco as curvas de indiferença sociais, para tomar decisões a respeito de suas políticas públicas. Contudo, os conceitos apresentados ajudam na compreensão do fenômeno de escolha social e dos fenômenos relevantes na realidade cotidiana. Exemplo Ao avaliar qualquer projeto de política pública, os governos tipicamente identificam e mensuram os custos e os benefícios dos projetos para diferentes grupos da população. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 29 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Para o caso de projetos que são Pareto-eficiente, o resultado desse processo não é muito relevante, dado que a sua implementação tende a ser desejada por todos, mas poucos são os projetos que efetivamente se enquadram nessa condição. Em outras palavras, é comum que qualquer política tenha ganhadores e perdedores, o que naturalmente faz com que a implantação da política implique um trade-off a ser mensurado. Há situações em que o trade-off relevante é puramente distributivo: há grupos que ganham e grupos que perdem, mas não há grande impacto na eficiência da alocação de recursos. No entanto, geralmente, o trade-off envolve perdas de eficiência alocativa, requerendo que se estimem os ganhos e perdas de eficiência que o projeto analisado pode ocasionar. Mensurar ganhos e perdas de eficiência, a nível agregado, não é uma tarefa fácil. Para realizá-la, economistas se utilizam do conceito de “disposição a pagar”. Todos os indivíduos estão dispostos a pagar valores mais elevados pelos bens que preferem. Exemplo Se um indivíduo prefere morar no bairro X em vez de morar no bairro Y, ele está disposto a pagar um valor mais alto pelo aluguel ou pela aquisição de um imóvel no bairro X. Da mesma forma que, se um indivíduo prefere determinado sabor de sorvete, esse indivíduo provavelmente estará disposto a pagar um pouco mais para consumir seu sorvete preferido. Repare que a “disposição a pagar” não representa o preço efetivamente pago. Os preços efetivamente pagos são determinados pelo mercado. Se um consumidor está disposto a pagar um preço maior do que o preço de mercado efetivamente pago, este indivíduo tem um excedente de consumo, pois, para ele, o bem está barato. Os exemplos apresentados basearam-se em decisões de consumo simples que as pessoas enfrentam, mas o mesmo procedimento pode ser aplicado para avaliar uma política pública. Veja o caso a seguir em que os pesquisadores podem avaliar a disposição das pessoas em pagar pelos benefícios que um projeto ofereceria a elas: Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 30 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Se um indivíduo apresenta excedente de consumo Esse indivíduo obterá maior utilidade pela sua execução. Se um indivíduo não apresenta excedente de consumo A utilidade desse indivíduo diminuirá caso a política pública venha a ser implantada. Considerando a utilidade que os bens de consumo oferecem, bem como seus preços, é possível monetizar a utilidade e, consequentemente, monetizar os ganhos e perdas das pessoas afetadas por uma nova política pública. Suponha que o benefício de um projeto seja dado pela soma dos ganhos de utilidade de todos os indivíduos afetados. Assim, os ganhos e perdas individuais são somados de forma a se alcançar um valor para o benefício líquido total. Benefício líquido positivo O projeto aumenta a eficiência dessa economia, mesmo que, para determinados indivíduos, ele represente uma perda de utilidade Benefício líquido negativo O projeto reduz a eficiência dessa economia, mesmo que, para determinados indivíduos, ele represente um ganho de utilidade. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 31 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Para mensurar a perda de eficiência resultante da introdução de um imposto, por exemplo, o conceito de excedente de consumo pode ser aplicado. O quanto um indivíduo estaria disposto a pagar para eliminar uma ineficiência econômica? Para responder a esta pergunta, suponha as situações a seguir: A existência de uma ineficiência causada pela aplicação de um imposto sobre um bem X. Ao responder à pergunta anterior, o indivíduo responde que ele estaria disposto a pagar $100 para que o imposto seja eliminado. O imposto arrecadado pelo governo seja de $80, que é o quanto a pessoa de fato paga pela existência do imposto. Essa diferença implica em um peso-morto, de $20, que não está sendo consumido ou arrecadado pelo governo. Contudo, caso o imposto não existisse, esse valor seria parte do excedente do consumidor ou do excedente do produtor. Por essa razão, diz-se que esse peso-morto representa uma perda de eficiência. Medir a equidade em uma sociedade não é necessariamente mais fácil do que medir a sua eficiência. Afinal, a forma como políticas públicas afetam pessoas com diferentes níveis de renda é contrafactual, e tipicamente heterogênea. Diferentes métodos para mensurar a desigualdade na distribuição de renda já estão bem estabelecidos na literatura econômica. Esses indicadores serão analisados em detalhes mais à frente. Abordagens de escolha social Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 32 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Neste bate-papo, você entenderá que avaliar o trade-off eficiência e equidade e definir políticas nem sempre é fácil. Robert Stiglitz resume três abordagens possíveis para contornar essa questão. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 33 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A respeito do que foi apresentado acerca das funções de utilidade social, a curva de indiferença social representa Parabéns! A alternativa D está correta. A o quanto um indivíduo se importa com a sociedade na qual está inserido. B um conjunto de combinações possíveis entre dois bens que são amplamente consumidos pela sociedade. C um conjunto de combinações possíveis entre dois bens que são indiferentes para o consumidor. D um conjunto de combinações possíveis para a alocação de recursos de uma sociedade que possibilitam um mesmo nível de bem-estar social. E um conjunto de combinações possíveis para a alocação de recursos de uma sociedade que possibilitam diferentes níveis de bem-estar social. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 34 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Ao longo da curva de indiferença social, a sociedade apresenta todas as combinações de utilidade individual que resultam em um mesmo nível de bem-estar agregado. Questão 2 O trade-off entre eficiência e equidade é um tema de grande discussão por economistas ao redor do mundo. Sobre ele, é possível afirmar que Parabéns! A alternativa A está correta. Se a alocação de recursos em uma economia é Pareto-eficiente, tentativas de reduzir a desigualdade irão torná-la menos eficiente. As alternativas B, C e D são falsas pois o trade-off entre eficiência e equidade não ocorre no sentido estrito: uma economia pode ser eficiente e igualitária, a A reduzir a desigualdade de uma economia tende a torná-la menos eficiente. B quanto mais eficiente uma economia, mais desigual ela é. C quanto mais igualitária uma economia, menos eficiente ela é. D eficiência e equidade não podem ser alcançadas ao mesmo tempo. E a distribuição igualitária dos recursos iniciais impede que uma economia seja eficiente. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 35 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# depender da dotação inicial dos recursos. A alternativa E também é falsa, de acordo com o Segundo Teorema do Bem-Estar. 2 - Métricas de desigualdade e pobreza Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os índices de desigualdade social. Curva de Lorenz 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 36 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# A Curva de Lorenz é um instrumento gráfico e analítico que permite construir a distribuição relativa de uma variável em um grupo. Nesse sentido, ela não é apenas um instrumento de análise de desigualdade social, sendo possível sua aplicação a qualquer variável aleatória. Pode-se, por exemplo, construir uma Curva de Lorenz para a distribuição das vendas das empresas de determinado setor da atividade econômica para avaliar o grau de concentração do mercado analisado. Quando utilizada como um indicador para a desigualdade de renda, a Curva de Lorenz mostra a relação entre a proporção de pessoas com renda até determinado patamar e a proporção da renda agregada recebida por elas. Em outras palavras, ela mostra o quanto uma proporção acumulada de renda varia para cada patamar de proporção acumulada da população. Graficamente, a Curva de Lorenz está representada a seguir: Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 37 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Gráfico 7: Curva de Lorenz. Elaborado por: Livio Ribeiro. O gráfico mostra uma Curva de Lorenz genérica, que tem os seguintes eixos: O eixo horizontal Representa a proporção da população, e varia de 0% a 100%. O eixo vertical Representa a proporção da renda agregada, e varia de 0% a 100%. Evidentemente, essa curva sempre passará pelos pontos (0%, 0%) e (100%, 100%), pois 0% da população detém 0% da renda e 100% da população detém 100% da renda. A reta estabelecida entre os pontos 0 e 100 é conhecida como reta de total igualdade. Em uma economia hipotética extremamente igualitária, na qual todos os indivíduos têm a mesma renda, a Curva de Lorenz da renda e a reta de total igualdade seriam coincidentes. Ao longo da reta de total igualdade, 10% da população detém 10% da renda, 20% da população detém 20% da renda, e assim por diante, até que 100% da população detenha 100% da renda. Na economia real, o cenário no qual a curva de Lorenz coincide com a reta de total igualdade não existe. Suponha, então, um país que apresente a Curva de Lorenz (de espessura mais grossa) apresentada no gráfico, com os pontos a seguir: Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 38 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Ponto A É dado pelas coordenadas (50, 20). A metade mais pobre da população detém apenas 20% da renda agregada. Isso significa que a metade mais rica da população detém 80% da renda agregada. Ponto B É dado pelas coordenadas (80, 50). Isso significa que os 80% mais pobres da população detém metade da renda, enquanto os 20% mais ricos detém a outra metade. O exemplo da Curva de Lorenz apresentada mostra uma sociedade com uma distribuição de renda desigual, na qual os 80% mais pobres detém a mesma renda dos 20% mais ricos. Note que, quanto mais a Curva de Lorenz se aproxima do canto inferior direito do gráfico, mais desigual é a distribuição de renda da sociedade representada. Não por acaso, quanto mais a Curva de Lorenz se aproxima do canto inferior direito do gráfico, mais longe ela se encontra da reta de total igualdade. Uma vez definido o comportamento da Curva de Lorenz, é interessante analisar qual o movimentoesperado de uma política pública que reduza a desigualdade de renda. Graficamente, esse comportamento está indicado a seguir. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 39 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Gráfico 8: Curva de Lorenz e políticas de distribuição de renda. Elaborado por: Livio Ribeiro. No gráfico, é possível observar o efeito que uma política de distribuição de renda pode ter sobre o formato da Curva de Lorenz de uma economia. Suponha que: Curva I Seja a Curva de Lorenz antes da política de distribuição de renda. Curva II Seja a Curva de Lorenz após a implantação dessa política. Perceba que, após a implantação da política, o percentual da renda concentrado nas famílias de menor renda aumentou. Por exemplo, os 50% mais pobres têm maior parcela da renda na curva II do que na curva I. Perceba também que a política de distribuição de renda aproximou a Curva de Lorenz da reta de total igualdade e a distanciou do canto inferior direito do gráfico. Portanto, a sociedade representada pela curva II é menos desigual do que a sociedade representada pela curva I. Índice de Gini Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 40 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# A análise da Curva de Lorenz mostra a forma como a renda é distribuída entre os diferentes percentuais da população mais pobre e mais rica. No entanto, a simples observação da Curva de Lorenz não produz um indicador numérico e direto a respeito da situação de desigualdade de renda de uma economia. Se, no exemplo do gráfico anterior, a linha II cruzasse a linha I, não seria trivial saber se a nova política aumentou ou reduziu a desigualdade. Ou seja, muitas vezes, não é tão claro qual o real valor da diferença dos níveis de desigualdade entre essas economias. O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, busca contornar essa limitação. Esse índice se utiliza da Curva de Lorenz para construir um indicador numérico a fim de mensurar o grau de desigualdade na distribuição de renda de diferentes países. É importante esclarecer que, por se basear na Curva de Lorenz, a metodologia do Índice de Gini também pode ser usada para analisar a distribuição de qualquer variável e, não necessariamente, a distribuição de renda em determinado país. Aqui, no entanto, o objeto em questão é a renda e sua distribuição entre os membros da sociedade. Sendo assim, será apresentado de que forma o Índice de Gini mensura a distribuição de renda em uma economia. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 41 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Próxima da reta de total igualdade Quanto mais próxima da reta de total igualdade a Curva de Lorenz estiver, menor a desigualdade de renda de uma economia. Afastada da reta de total igualdade Quanto mais afastada da reta de total igualdade a Curva de Lorenz estiver, maior a desigualdade de renda de uma economia Sendo assim, a área entre a reta de total igualdade e a Curva de Lorenz fornece uma informação importante a respeito dos níveis de desigualdade na distribuição de renda de um país. Considere o gráfico a seguir da Curva de Lorenz. Gráfico 9: Curva de Lorenz e índice de Gini. Elaborado por: Livio Ribeiro. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 42 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Observe que a Curva de Lorenz divide o triângulo formado pela reta de total igualdade em duas áreas, A e B. Quanto menor a desigualdade de distribuição de renda de um país, mais próxima sua Curva de Lorenz se encontra da reta de total igualdade e, consequentemente, menor a área de A e maior a área de B. Da mesma forma, quanto maior a desigualdade de distribuição de renda de um país, mais afastada sua Curva de Lorenz se encontra da reta de total igualdade e, consequentemente, maior a área de A e menor a área de B. O Índice de Gini é calculado a partir das áreas A e B: o índice de Gini de um país é igual ao tamanho da área A dividida pelo somatório das áreas A e B. Algebricamente, o índice de Gini pode ser apresentado da seguinte forma: Perceba que a metodologia de cálculo do índice de Gini limita os seus valores entre 0 e 1. Além disso, observe que, quanto mais próximo de zero for o índice de Gini de um país, mais igualitária é a sua distribuição de renda. Por outro lado, quanto mais próximo de 1 for o Índice de Gini, mais desigual é a distribuição de renda do país em questão. Isso também deriva da própria metodologia de cálculo. Observe os dois pontos a seguir: Gin i = A A + B Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 43 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Na prática, os valores para A e B são determinados por meio de integrais, método pelo qual é possível calcular a área sob uma curva. Neste momento, no entanto, não é o foco deste conteúdo apresentar como essas integrais são resolvidas, mas sim apresentar a intuição e a base da metodologia de cálculo do Índice de Gini. É importante ressaltar que o Índice de Gini é uma medida da distribuição de renda, não de seu nível. Portanto, a partir dele não é possível fazer afirmações a respeito do nível de renda agregada deste país. Em outras palavras, um país pode ser considerado rico, com alta renda agregada, e ter um índice de Gini que mostra uma alta concentração dessa renda nas mãos de poucos. No limite Considere uma economia completamente igualitária, a Curva de Lorenz é coincidente à reta de total igualdade e, portanto, a área A é igual a zero. Nesse caso, o Índice de Gini dessa economia também será igual a zero. No extremo oposto Considere uma economia na qual toda a renda agregada está concentrada nas mãos de um único indivíduo. Nesse caso, a área B será igual a zero e, consequentemente, o Índice de Gini será igual a 1. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 44 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Esse pode ser considerado o caso dos Estados Unidos, por exemplo. Por outro lado, há países que não são ricos, até mesmo considerados de renda baixa (ou média), que apresentam um baixo Índice de Gini, sugerindo que a renda agregada é bem distribuída entre a população. É o caso de países como Montenegro, Bielorrússia e, até mesmo, a Etiópia. As distribuições de renda em diferentes países variam consideravelmente. Quando comparado internacionalmente, o Índice de Gini apresenta alguns padrões. Na imagem a seguir, é apresentado o mapa mundi com os índices de Gini para cada país cujo dado está disponível. Os dados são de 2014 e foram construídos pelo Banco Mundial. Índice de Gini ao redor do mundo. O mapa mostra que, em geral, muitos dos países associados a um alto nível de bem-estar social também apresentam baixos índices de Gini, indicando uma associação entre bem-estar e igualdade social. Isso ocorre para praticamente todos os países europeus – com destaque para os países da Escandinávia – e outros países do mundo desenvolvido, como o Canadá, a Austrália e o Japão. Percebe-se também que todos os países da América Latina apresentam altos índices de desigualdade na distribuição de renda, bem como os países da África Subsaariana, com destaque para a África do Sul, Botswana e Namíbia. Dentre todos os países para os quais o Índice de Gini é calculado, o Brasil frequentemente figura entre os dez países com maior desigualdade de distribuição de renda. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz EduardoGeoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 45 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Índice de Gini Neste bate-papo, você verá como o índice de Gini é o mais popular indicador dos níveis de desigualdade de renda de uma economia. Sua metodologia é intuitiva e deriva diretamente da curva de Lorenz. Pobreza e desigualdade Pobreza e desigualdade são conceitos relacionados, mas diferentes. De certa forma: A pobreza pode ser percebida como um conceito absoluto. A desigualdade é sempre medida em termos relativos. Diz-se que pobreza é um conceito absoluto, pois é possível afirmar se um indivíduo vive em condições de pobreza observando somente a sua renda. Já a desigualdade é um termo relativo pois, para que ela seja mensurada, é necessário comparar a renda de um indivíduo com a renda de todos os outros. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 46 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Teoricamente, é possível que haja pobreza e, ao mesmo tempo, não haja desigualdade. Afinal, é possível que todos os habitantes de determinada região vivam em condições iguais de pobreza. Nesse caso teórico, tem-se uma região pobre, mas não desigual. Da mesma forma, é possível que um país seja desigual sem que nenhum de seus habitantes viva em condições de pobreza. Comentário Os exemplos utilizados no parágrafo anterior são extremos e servem apenas para melhor ilustrar a diferença entre os dois conceitos. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 47 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Na economia real, na maioria das vezes, países com grandes desigualdades de renda são também países com uma elevada parcela da população vivendo em condições de pobreza. Ou seja, são dois fenômenos que tipicamente coexistem e estão correlacionados. A pobreza é medida com base em um nível de renda (ou consumo) mínimo pré-definido. Todos os indivíduos cuja renda ou consumo se encontrem abaixo da linha de pobreza são considerados pobres. Atualmente, o Banco Mundial define como linha de extrema pobreza uma renda de US$ 1,90 por pessoa por dia, mensurada a preços em paridade de poder de compra de 2011. Lembrando que, por se tratar de uma referência para comparação internacional, é importante que os valores utilizados sejam medidos de acordo com o poder de compra de US$ 1,90 em 2011 em cada um dos diferentes países envolvidos no cômputo da estatística. Saber o número de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza é crucial. No entanto, somente essa informação é insuficiente. Veja a seguir três motivos dessa insuficiência: Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 48 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Não mede a posição exata na linha da pobreza Por se tratar de uma contagem que não compara o bem- estar de diferentes indivíduos, ela não permite identificar, por exemplo, o quanto abaixo da linha da pobreza as pessoas se encontram. Não considera as pessoas localizadas logo acima na linha da pobreza A contagem ignora pessoas que se encontram ligeiramente acima da linha de pobreza definida, e que não estão em uma situação muito melhor do que aquelas que se encontram abaixo dela, mas acabam sendo negligenciadas por essa métrica. Afinal, essas pessoas, que também se encontram em situação vulnerável, podem cair abaixo da linha da pobreza a qualquer momento. Não considera outros tipos de benefícios sem ser obtidos na sua forma monetária A linha de pobreza não leva em consideração outros tipos de benefícios recebidos pelas pessoas que não necessariamente são obtidos na sua forma monetária (como acesso a sistemas de saúde gratuitos e universais e merendas escolares subsidiadas), ao considerar apenas a renda, ou o patamar de consumo. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 49 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Esses benefícios não deixam de representar uma transferência de recursos, embora não sejam pagos em termos monetários. Se esses benefícios fossem considerados como renda adicional, o número de pessoas abaixo da linha da pobreza tenderia a diminuir. Essas críticas podem ser amenizadas pelo cálculo de índices de hiato de pobreza, ou índices de pobreza multidimensional. No entanto, elas também reforçam a relevância de indicadores de bem-estar que sejam relativos, como as métricas de desigualdade apresentadas nesse módulo. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 50 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A Curva de Lorenz é um ferramental importante para avaliação da distribuição de renda em uma economia. A interpretação correta da Curva de Lorenz diz que Parabéns! A alternativa C está correta. Por definição da ferramenta, quanto maior a curvatura, mais afastada da reta A quando maior sua curvatura, mais igualitária é a distribuição de renda. B quanto menor sua curvatura, mais desigual é a distribuição de renda. C quanto maior sua curvatura, mais desigual é a distribuição de renda. D a curvatura depende da distribuição relativa de renda em comparação com outros países. E sua curvatura não é explicada pela distribuição de renda, mas sim pelo seu nível. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 51 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# de total igualdade; logo, maior a desigualdade. Questão 2 A partir da metodologia de construção do Índice de Gini, é possível afirmar que Parabéns! A alternativa E está correta. Esse resultado é consequência do próprio cálculo do índice. Quanto mais próximo de 1, mais desigual. Quanto mais próximo de 0, mais igualitário. A se trata de uma das mais populares medidas de eficiência social. B países mais ricos apresentam índices de Gini mais elevados. C países cuja distribuição de renda é mais igualitária apresentam índices de Gini mais elevados. D o índice de Gini depende tanto da renda per capita quanto da eficiência econômica. E quanto mais próximo de 1 for o Índice de Gini, mais concentrada é a distribuição de renda. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 52 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# 3 - Relação entre desigualdade e crescimento econômico Ao final deste módulo, você será capaz de identificar como a desigualdade afeta o crescimento econômico. Qual é a relação entre desigualdade e crescimento econômico? Aprendemos que há um trade-off entre eficiência e equidade, o que significa que políticas para combater a desigualdade econômica podem comprometer o crescimento. Certamente, essa é uma preocupação que deve estar presente na análise de políticas públicas, mas é preciso fazer uma pergunta importante: será que esse trade-off está sempre presente? A resposta é não. Às vezes, a própria desigualdade pode reduzir o crescimento econômico. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 53 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# De acordo com a OECD (2014), um aumento da desigualdade diminuiu o crescimento econômico, em média, em uma amostra de países analisados entre 1985 e 2011. Especificamente, um aumento de três pontos no coeficiente de Gini diminuiu o ritmo de crescimento econômico em 0.35% ao ano durante um período de 25 anos. Pequenas diferenças na taxa de crescimento econômicogeram grandes perdas a longo prazo. Por exemplo, ao final desse período de 25 anos, o PIB teve redução de 8,5%. Mais do que isso, é importante ressaltar que não há trade-off: essa queda do PIB não foi compensada por algo positivo. Afinal, uma desigualdade maior também é ruim. A desigualdade representa um problema mais grave naturalmente para a população mais pobre, mas isso não significa que o problema para o crescimento econômico seja focado apenas nessa parte da população. De acordo com a OCDE, os 40% mais pobres sofrem com o crescimento econômico comprometido pela desigualdade. Isso é quase metade da população, e significa que a política pública não pode focar apenas no combate à pobreza: é necessário combater a desigualdade na sociedade como um todo. Há vários canais por meio dos quais a desigualdade pode comprometer o crescimento econômico. Vamos estudar alguns deles. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 54 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Democracia e sistema tributário Vamos considerar o sistema tributário e, mais do que isso, a escolha de tributos em um sistema democrático. Pense em uma sociedade com pessoas ricas e pobres. Para simplificar, pense que há dois tipos de tributo: Um imposto sobre a renda Incide sobre todas as pessoas e não afeta a escolha de investimentos de cada uma. Um imposto sobre o capital Incide proporcionalmente mais sobre os mais ricos, que são exatamente os detentores de capital. Pensando apenas em crescimento econômico, o ideal é que seja usado apenas um imposto sobre a renda, proporcional à renda de cada indivíduo na sociedade. Afinal, um imposto sobre capital reduz o incentivo ao investimento e à acumulação de capital, o que compromete o crescimento econômico e prejudica todos – inclusive aqueles que detêm pouco ou nenhum capital, ou seja, os mais pobres. Mas é assim que as coisas funcionam? Vamos pensar que esses impostos são escolhidos por meio de votação. As pessoas mais pobres preferem votar em um sistema tributário com altos impostos sobre capital – exatamente porque esse imposto não irá recair de maneira relevante sobre elas, que não têm muito capital. Dessa forma, elas poderão se beneficiar de gastos públicos sem ter o custo dos impostos. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 55 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Se essa sociedade for desigual, com renda muito concentrada em poucas pessoas ricas, teremos então muitas pessoas pobres. Essa maioria de pessoas pobres irá votar por altos impostos sobre capital, o que: Compromete o investimento e a acumulação de capital. Prejudica o crescimento econômico. Dessa forma, concluímos que a desigualdade reduz o crescimento por gerar um sistema tributário ruim. Se não houvesse desigualdade, não haveria incentivo para que as pessoas votassem em um imposto que compromete o investimento, a acumulação de capital e o crescimento econômico. É importante notar que esse resultado vale de maneira bastante ampla. Você pode pensar que essa distorção tributária é menos relevante se o capital tem externalidades positivas: os ricos acumulam capital do qual os pobres se beneficiam diretamente. Isso é verdade em alguns casos: por exemplo, os ricos podem fazer investimentos que beneficiam a sociedade como um todo, como ciência e arte. Mas os mais ricos nem sempre fazem esse tipo de investimento, é claro. Mais do que isso, esse investimento às vezes só beneficia os mais pobres em um futuro distante: por exemplo, um investimento em uma nova forma de energia, mais limpa, beneficia a sociedade como um todo, mas esse impacto é distribuído ao longo de muitos anos. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 56 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Se as pessoas mais pobres não podem esperar, e acabam votando por altas taxas sobre o capital, novamente a desigualdade compromete o crescimento econômico. Sistema financeiro? Duas pessoas, João e José, têm ideias para um abrir um bom negócio – por exemplo, abrir um restaurante. Nenhum deles possui recursos suficientes, e precisam ir ao banco tomar um empréstimo. Cada um deles, separadamente, pode mostrar ao banco seu projeto: há chance de dar errado, e não será possível pagar o empréstimo, mas é mais provável que dê certo e gere grandes lucros, o que permitirá devolver o dinheiro ao banco. Pense que os projetos são exatamente iguais, ou seja, têm o mesmo retorno esperado (positivo) e as mesmas chances de dar certo ou errado. Suponha que o banco saiba avaliar exatamente o projeto. Nesse caso, não temos problema: se o projeto vale a pena e o banco sabe avaliar riscos e retornos esperados, dará o empréstimo, e ambos poderão abrir seus restaurantes. A mensagem que temos aqui é simples: projetos lucrativos serão implementados mesmo que o empreendedor não tenha os recursos necessários – desde que o emprestador consiga avaliar os riscos do projeto. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 57 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Na prática, porém, a probabilidade de sucesso de um projeto não é um dado exógeno que um banco poderá avaliar. Essa probabilidade depende, por exemplo, do esforço que o empreendedor irá colocar. Quem trabalhar duro terá um risco menor, ainda que esse esforço tenha um custo pessoal. O emprestador (um banco ou qualquer outro), porém, não consegue avaliar esse esforço: afinal, o gerente do banco não estará dia a dia ao lado do empreendedor para ver se ele atende bem os clientes ou se capricha nos pratos. Surge, então um problema e uma possível forma com que o banco possa lidar. São elas: Problema O empreendedor passa a ter um incentivo menor a se esforçar, pois a falta de esforço não será observada, e ele não arca com todo o custo do fracasso do projeto – se o restaurante der errado, é o banco que fica no prejuízo. Solução Dividir o prejuízo com o empreendedor. Especificamente, o banco pode financiar apenas parte do projeto, e exigir que o empreendedor aporte recursos próprios. Dessa forma, se o projeto der errado, o empreendedor também sofre um prejuízo, o que gera incentivo para que se esforce. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 58 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Imagine que o investimento necessário é de $100.000, e o banco exige que o empreendedor participe com $40.000. Se João e José têm $40.000 cada, ambos poderão tomar o empréstimo para completar os $100.000 e fazer o investimento. É bom para cada um deles; é bom para o banco, que (em média) tem retorno positivo nesse tipo de investimento; e é bom para a economia, que tem investimento e crescimento econômico. Porém, se João tem $60.000 e José tem apenas $20.000, apenas João poderá obter o empréstimo e fazer o investimento. Novamente, a desigualdade, representada aqui na concentração de recursos em José, compromete o investimento e o crescimento econômico. Educação A desigualdade limita a aquisição de capital humano (educação, treinamento, ou qualificação de forma geral) para uma parte relevante da população. Especificamente, os filhos de pais pouco educados tendem a perder capital humano quando a desigualdade aumenta. Porém, esse mesmo aumento da desigualdade não compromete o capital humano de filhos de pais com alto nível educacional. Por que essa diferença? Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 59 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Observe inicialmente que há uma forte correlação entre educação erenda: em média, pessoas com maior nível educacional têm renda mais alta. Além disso, a educação apresenta inércia intergeracional. O que é isso? Essa inércia diz que pais com alto nível educacional costumam formar filhos também com alto nível educacional. Porém, pais com baixo nível educacional precisam de apoio: eles talvez não tenham muitos livros em casa, ou não tiveram oportunidade de adquirir conhecimentos importantes, e por isso precisam de acesso à educação formal para os filhos (além de bons empregos, que também são fontes de aprendizado). Maior desigualdade compromete tanto o acesso à educação formal quanto a bons empregos. É extremamente importante destacar como um capital humano comprometido é um problema grave – não apenas do ponto de vista ético, mas também econômico. Uma pessoa com alto nível educacional tem um grande benefício individual: tem mais chance de conseguir um bom emprego e renda alta, além do bem-estar direto por ser detentor de conhecimento. Mas o impacto da educação vai além: uma pessoa educada tem mais chance de gerar novas ideias que irão beneficiar não somente a ela própria, mas à sociedade como um todo. É uma externalidade positiva. Pense em todos os cientistas e artistas que a sociedade encontrará quando der oportunidades para as pessoas que hoje não tem acesso à educação. Não é à toa que o investimento em educação é fortemente subsidiado na maior parte dos países. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 60 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# E como combater a desigualdade? Há algumas ferramentas particularmente importantes para reduzir a desigualdade. Uma das principais é a transferência de renda: podemos usar o sistema tributário para redistribuir renda dos mais ricos para os mais pobres. Porém, é importante ter cuidado ao desenhar um programa de transferência de renda na prática. Reflexão Pense na seguinte situação: o governo transfere renda para as pessoas pobres em uma determinada região, talvez porque essas pessoas não tenham recursos sequer para comprar alimentos. Ao receber a transferência, elas correm ao mercado e elevam a demanda por alimentos; os preços aumentam, o que pode consumir a renda adicional que as pessoas ganharam com a transferência. Isso é uma possibilidade teórica e precisa ser considerada. Ao fazer um programa de transferência de renda, precisamos estimar: 1. No que as pessoas pobres irão gastar os recursos adicionais que vão receber. 2. Se o mercado é capaz de ofertar os bens e serviços adicionais que as pessoas irão consumir. A primeira pergunta diz respeito à teoria do consumidor, enquanto a segunda usa ferramentas da teoria de equilíbrio geral. Em particular, é necessário perguntar qual é a elasticidade da oferta dos bens e serviços que as pessoas irão consumir. Se essa elasticidade for baixa, a política de transferência de renda provavelmente funcionará mal: as pessoas terão uma renda maior, mas os preços subirão. Você está tentando transferir recursos para as pessoas mais pobres, mas acaba transferindo para o dono do mercado onde essas pessoas fazem suas compras – e o dono do mercado, em geral, não está entre os mais pobres da sociedade. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 61 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# É por isso que, com frequência, o combate à desigualdade é feito por meio da transferência direta de recursos financeiros para gasto irrestrito, ou seja, que permitem que as pessoas escolham como gastar. Se um preço subir demais, elas poderão escolher outros bens e serviços. Quando a transferência é feita para gastos pré-definidos (por exemplo, um subsídio à educação), torna-se mais difícil escapar de um aumento de preços. Em suma: para combater a desigualdade, é preciso estar atento à estrutura de mercado. E no Brasil? Neste bate-papo, você verá como se coloca a discussão sobre desigualdade e crescimento no contexto brasileiro. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 62 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 1. Considere as afirmativas abaixo. I. Quanto maior a desigualdade, maior a taxação sobre a renda. II. Quanto maior a desigualdade, maior a taxação sobre o capital. III. Quanto maior a desigualdade, maior a taxa de crescimento econômico. São verdadeiras as afirmativas: 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 63 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# Parabéns! A alternativa D está correta. Quanto maior a desigualdade, maior a taxação sobre o capital, e não sobre a renda. Como o capital é concentrado em poucas pessoas, a maioria tem pouco capital e prefere votar em impostos sobre capital para financiar os gastos públicos. Dessa forma, fica comprometida a acumulação de capital e, portanto, o crescimento econômico Questão 2 Considere as afirmativas abaixo a respeito de um projeto com retorno esperado positivo. I. Quando a probabilidade de sucesso de um projeto é independente do esforço do empreendedor, não é possível obter financiamento para o projeto. II. Quando a probabilidade de sucesso de um projeto depende do esforço do empreendedor, é possível obter 100% de financiamento em um banco. A Apenas I e II. B Apenas I e III. C Apenas II e III. D Apenas II. E Apenas III. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 64 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# III. Quando a probabilidade de sucesso de um projeto depende do esforço do empreendedor, a desigualdade pode afetar o crescimento econômico. São verdadeiras as afirmativas: Parabéns! A alternativa E está correta. Quando a probabilidade de sucesso é independente do esforço do empreendedor, pode ser possível que o banco faça o financiamento, desde que seja capaz de observar essa probabilidade. Portanto, I é falsa. Quando a probabilidade de sucesso depende do esforço do empreendedor, o banco pode exigir participação do empreendedor no investimento. Logo, II é falsa. Quando a probabilidade de sucesso depende do esforço do empreendedor, o banco pode exigir participação do empreendedor no investimento; portanto, empreendedores com poucos recursos podem não conseguir realizar o projeto. Quando a desigualdade é alta, poucos empreendedores concentram a maior parte dos recursos, e muitos outros ficam sem o mínimo exigido pelo banco A Apenas I e II. B Apenas I e III. C Apenas II e III. D Apenas II. E Apenas III. 17/01/24, 07:02Desigualdade socioeconômica e impacto sobre crescimento Page 65 of 67https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02516/index.html# para realizar o projeto, o que compromete o crescimento econômico. Considerações finais O trade-off entre eficiência e equidade afeta diretamente a capacidade dos formuladores de política pública de promover o bem-estar de uma sociedade. Diante dele, na prática, o principal papel do formulador de políticas públicas acaba sendo o de encontrar maneiras de tornar a economia cada vez mais igualitária, comprometendo o mínimo possível de sua eficiência. Para isso, obter informações a respeito dos ganhos e perdas de eficiência resultantes das políticas propostas é crucial, bem como atentar-se para o fato de que as políticas públicas podem apresentar impactos heterogêneos sobre os diversos grupos da sociedade. Nesse sentido, entender quais grupos são beneficiados e quais grupos são prejudicados é crucial para que se possa avaliar seus impactos sobre a equidade e a justiça
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