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17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 1 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Crescimento endógeno Prof. Pedro Hemsley Descrição Apresentação do modelo de crescimento econômico de Romer. Propósito Compreender o modelo de Romer, ferramenta básica para entender o processo de crescimento econômico e sua relação com a inovação na economia. Objetivos Módulo 1 Inovação e crescimento econômico Módulo 2 Microfundamentos do modelo de Romer 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 2 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Descrever a relação entre inovação e crescimento econômico. Identificar os microfundamentos do modelo de Romer. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 3 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Um dos principais determinantes do padrão de vida de uma sociedade, o crescimento econômico é estudado por cientistas sociais há séculos. Um dos modelos mais importantes para entender o processo desse crescimento é o modelo de Solow, que relaciona o aumento da renda à acumulação de capital e ao avanço tecnológico. Nesse modelo, a acumulação de capital só gera aumento da renda até determinando momento: no longo prazo, a economia só cresce com novas tecnologias. O modelo supõe que avanços tecnológicos sejam exógenos, e assim explica o crescimento econômico. Por isso, dizemos que o modelo de Solow é um modelo de crescimento exógeno: a fonte de crescimento econômico (o avanço tecnológico) é um elemento externo ao modelo. Entretanto, novas tecnologias não caem do céu: elas são resultado de trabalho e investimento, ou seja, há decisões econômicas envolvidas no processo de geração de novas ideias. Tendo isso em vista, podemos estudar o avanço tecnológico dentro do modelo econômico de crescimento. É isso que faz do modelo de Romer o principal modelo de crescimento econômico endógeno. Neste conteúdo, estudaremos a relação entre inovação e crescimento econômico, buscando identificar a taxa de crescimento da tecnologia. Veremos que essa taxa depende do número de pessoas que trabalha no setor de inovação e pesquisa. Além disso, falaremos sobre as escolhas individuais que geram a produção e a inovação na economia. Introdução Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 4 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# 1 - Inovação e crescimento econômico Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a relação entre inovação e crescimento econômico. O papel da inovação no crescimento econômico A ciência econômica sempre estudou o processo de crescimento econômico, um dos fatores mais relevantes para explicar o padrão de vida de um país. Sabemos que, em geral, países mais ricos apresentam menores taxas de mortalidade infantil, maiores níveis educacionais e melhor acesso a serviços diversos. Um dos principais modelos de crescimento econômico é o modelo de Solow, que mostra alguns resultados fundamentais. São eles: 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 5 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Esses resultados são fundamentais para se entender o pensamento econômico, mas ainda falta compreender algo: I A mera acumulação de capital não é suficiente para gerar crescimento econômico de longo prazo, pois o capital tem retornos decrescentes; a partir de determinado momento, o investimento em capital só é suficiente para cobrir sua depreciação. II No longo prazo, o crescimento econômico é sustentado por avanços da tecnologia, isto é, pela geração de novas ideias. Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 6 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# O modelo de Solow toma a taxa de crescimento tecnológico como exógena; portanto, ele não explica a dinâmica do fator que faz a economia crescer. É como se os cientistas e os engenheiros vivessem em uma “bolha” isolada do restante da economia, tendo novas ideias. Para começarmos a preencher essa lacuna, precisamos inicialmente observar que novas ideias (avanços tecnológicos) não caem do céu, ou seja, não são exógenas à economia. Pelo contrário: para gerar ideias, precisamos investir e trabalhar. Em outras palavras, há decisões econômicas que afetam o processo de geração de ideias e avanço tecnológico. Para sermos mais claros: o progresso tecnológico ocorre quando inventores (pessoas ou empresas) buscam lucro por meio da criação de ideias e produtos. Em outros termos, passamos a modelar o setor de inovação como modelamos qualquer outro setor econômico. Ou quase isso: precisamos apenas prestar atenção a algumas peculiaridades do setor de inovação. Em primeiro lugar: ideias são não rivais. O que significa isso? Uma mesma ideia pode ser usada por indivíduos diferentes no mesmo instante. Por exemplo, se um inventor desenvolve um novo método de produção, esse método pode ser aprendido e usado por pessoas em diferentes locais ao mesmo tempo. De onde vêm os avanços tecnológicos? Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 7 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Note que isso é fundamentalmente diferente dos bens típicos que estudamos. Se João está usando uma ferramenta em sua oficina, como um martelo ou uma chave de fenda, José não poderá usar a mesma ferramenta naquele momento. Contudo, João e José podem usá-la de acordo com um mesmo método (uma ideia) desenvolvido por alguém. Isso tem uma implicação importante: o custo fixo para gerar uma ideia pode ser alto, mas o custo marginal para utilizá-la é igual a zero. Depois que a ideia foi gerada uma vez a determinado custo, não precisamos arcar com ele novamente para usá-la duas, dez ou cem vezes. Pense, por exemplo, em um programa de computador, como os sistemas operacionais que rodam nos computadores Dell ou Apple. O custo para seu desenvolvimento é altíssimo: são necessários anos de trabalho e experimentação de inúmeros profissionais altamente qualificados. Depois que o programa é gerado, porém, produzir uma cópia tem custo irrelevante. No entanto, isso nos deixa com uma questão relevante: Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 8 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Lembre-se de que, sob competição perfeita, o preço é igual ao custo marginal. Logo, o preço de uma nova ideia em uma economia competitiva é igual a zero! Se o preço é igual a zero, porém, ninguém trabalhará ou investirá em novas ideias. Sem trabalho e novos investimentos, não haverá progresso tecnológico nem - como consequência disso - crescimento econômico. Como resolver esse problema? Vamos prestar atenção à sua estrutura lógica: Se a economia for perfeitamente competitiva, então não haverá incentivo econômico à geração de ideias (o preço é zero). Vamos analisar a contraposição dessa afirmativa: Contraposição Considere uma proposição na forma “Se A, então B”. Exemplo: “se chove, então molha”. A contraposição é: “Se não temos B, então, não temos A”. Seguindo o exemplo anterior: “Se não molhou, é porque necessariamente não choveu”. Se há incentivo à geração de ideias (o preço é maior que zero), então a economia não é perfeitamente competitiva. Essa é uma mudança fundamental do modelo de crescimento endógeno de Romer em relação ao de crescimento exógeno de Solow. Se um bem tem custo marginal igual a zero, o que acontece com ele em uma economia competitiva? Luiz Eduardo Geoffroy Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 9 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Modelo de Solow A economia é perfeitamente competitiva; portanto, não é possível explicar a geração de ideias e o progresso tecnológico. Modelo de RomerA economia não é perfeitamente competitiva; portanto, essa é a chave para se entender o progresso tecnológico. Se a economia de Romer não é perfeitamente competitiva, alguma empresa tem poder de mercado e pode cobrar, desse modo, um preço acima do custo marginal. E é exatamente tal diferença entre preço e custo marginal que será usada para financiar o custo de gerar ideias! Especificamente, ela será usada para comprar a patente que protege os inventores e permite que eles recebam por suas ideias, que, afinal, custam muito para serem desenvolvidas. Com isso, concluímos nossa teoria de crescimento econômico endógeno. Sabemos que a mera acumulação de capital não é suficiente para sustentar o crescimento econômico no longo prazo: é necessário compensar o retorno decrescente do capital. Isso é feito por meio do avanço tecnológico, o qual, por sua vez, é financiado a partir do poder de mercado das firmas na economia. Isso tem implicações importantes para nosso entendimento sobre o processo de crescimento econômico e, portanto, sobre as maneiras de afetá-lo por meio de políticas públicas. A economia cresce no longo prazo não por causa de máquinas e matéria-prima, que podem apenas ajudar por determinado período, e sim com base em conhecimento, o qual, afinal, não tem limites. Vamos apresentar a seguir o modelo de Romer e derivar a taxa de crescimento da tecnologia (que também é a taxa de crescimento na economia). Tomaremos inicialmente a proporção de trabalhadores no setor de inovação como dada. Mais adiante, estudaremos como determinar essa proporção. Luiz Eduardo Geoffroy 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 10 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Estrutura básica do modelo de Romer A ideia básica do modelo de Romer é que a população total (L) é dividida em dois grupos: Empregados no setor produtivo Empregados no setor de inovação Assim, escrevemos: Vamos explorar inicialmente o setor produtivo. Consideremos uma função de produção que, além do número de trabalhadores, também utiliza capital K. Temos, com isso, esta função de produção: Ly LA L = Ly + LA Ly Y = K α(ALy) 1−α 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 11 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Em que: Y = produção; A = tecnologia disponível em determinado momento do tempo. Vamos supor que o parâmetro α pertença ao intervalo (0,1). Observe que, se considerarmos a tecnologia A um parâmetro exógeno, essa função de produção apresentará retornos constantes de escala. Para verificar isso, basta notar que há apenas dois insumos: Capital Trabalho Se esses insumos forem multiplicados por determinada constante c, obteremos: Em outros termos, ao multiplicarmos cada insumo por uma constante c, o produto também será multiplicado por c, ou seja, a função apresenta retornos constantes de escala. Uma maneira simples de ver isso é que os expoentes dos insumos somam um! Entretanto, se considerarmos que a tecnologia A também é um insumo, teremos uma função com retornos crescentes de escala! Agora a conta será esta: Isso reflete o fato de que as ideias são bens não rivais! (cK)α(A (cLy)) 1−α = cαK αA1−αc1−αL1−αy = c α+1−αK αA1−αL1−αy = cK α(ALy) 1−α Y = (cK)α((cA) (cLy)) 1−α = cαK αc1−αA1−αc1−αL1−αy = c α+1−α+1−αK αA1−αL1−αy = c2−αK α(ALy) 1−α Y = c2−αY > Y 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 12 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Uma vez compreendida a função de produção, precisamos entender a dinâmica do capital, isto é, como ele muda ao longo do tempo. A equação de movimento do capital é a seguinte: Atenção à notação , que é a derivada do estoque de capital em relação ao tempo. Essa é a variação do estoque de capital a cada instante - e ela tem dois componentes. O primeiro é a poupança : supomos que as pessoas poupem uma fração da renda total Y. O segundo é a depreciação : uma parcela δ do estoque de capital se deprecia a cada instante (pense nas máquinas que deixam de funcionar ou no custo para fazer a manutenção delas). Imagine que, em determinado instante do tempo, a renda seja Y = 100 e o estoque de capital, K=40. A taxa de poupança é = 10%; a taxa de depreciação, δ = 20%. A variação do estoque de capital é Renda total Lembre-se de contas nacionais: a produção é igual à renda. Portanto, podemos denotar ambas por Y. A taxa de poupança é exógena, assim como no modelo de Solow. A taxa de crescimento populacional é exógena, sendo dada por n: K̇ = sKY − δK K̇ = dK/dt sKY SK δK sK K̇ = sKY − δK = 0, 1 × 100 − 0, 2 × 40 = 10 − 8 = 2 L̇ L = n 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 13 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Ou seja: . Isso significa que, se a população tem L pessoas em um momento, surgirão nL pessoas nesse momento. Você pode interpretar isso como a diferença entre nascimentos e óbitos ou como a diferença entre imigração e emigração. Agora podemos modelar a dinâmica da tecnologia A ao longo do tempo. Dizemos que o modelo de Romer é um modelo de crescimento econômico endógeno exatamente pelo fato de que a dinâmica da tecnologia é modelada de forma explícita. Vamos considerar inicialmente a seguinte equação de movimento para a tecnologia: Em outros termos, se temos pessoas empregadas no setor de inovação, geramos, a cada período , novas ideias. Ou seja, a razão entre as novas ideias ( ) e o número de empregados no setor de inovação ( ) é constante, igual a . Essa é a versão mais simples do modelo, mas podemos modelar de maneiras diferentes. Será que a razão entre novas ideias e o tamanho do setor de inovação é constante? Há outra possibilidade: podemos dizer que depende das ideias que já foram geradas. L̇ = nL Ȧ = δALA LA δALA Ȧ LA δA δA δA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 14 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Mas será que essa taxa é crescente ou decrescente no estoque de ideias já existentes? Os dois efeitos podem existir. Por um lado, talvez as ideias já existentes tornem cada vez mais fácil gerar ideias; portanto, é crescente em A. Pense, por exemplo, no desenvolvimento de métodos matemáticos que permitem a resolução de problemas em engenharia de produção. Dizemos que esse é o efeito “subir nos ombros”. Por outro lado, talvez as ideias “fáceis” sejam descobertas inicialmente e seja cada vez mais difícil gerar ideias: nesse caso, é decrescente em A. Pense, por exemplo, que a matemática se torna cada vez mais sofisticada e difícil. Tal é o efeito conhecido como “pisar nos pés”. Podemos escrever: Subir nos ombros Expressão que vem de uma frase famosa do físico e matemático inglês Isaac Newton (1643-1727): “Se enxerguei mais longe, é porque subi nos ombros de gigantes”. Nessa expressão, ϕ é um parâmetro exógeno, enquanto é um valor-base para . Se ϕ = 0, então . Ou seja, voltamos ao caso básico em que é constante: A geração de ideias é independente do estoque daquelas já geradas. Os efeitos “subir nos ombros” e “pisar nos pés” se cancelam. δA δA δA = δ–A ϕ δ– δA δA = δ–A 0 = δ– δA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 15 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Se ϕ > 0, então é crescente em A: O efeito “subir nos ombros” é dominante. Se ϕ < 0, então é decrescente em A: O efeito “pisar nos pés” é dominante. No restante deste conteúdo, vamos supor que o efeito “pisar nos pés” seja dominante para simplificar nossas contas. Dessa forma, temos: Por último, vamos permitir também que a relação entre novas ideias e o número de empregados no setor de inovação seja não linear: Para algum expoente λ possivelmente diferente de 1. Evolução da tecnologia A taxa de crescimento da renda per capita é, no estado estacionário, igual à de crescimento da tecnologia: esse resultado é conhecido do modelo de Solow. Precisamos, assim, entendera taxa relativa à tecnologia. Vamos retomar a equação de movimento da tecnologia: Dividindo os dois lados por A, obtemos: δA δA Ȧ = δ–A ϕLA Ȧ LA Ȧ = δ–A ϕLλA Ȧ = δ–A ϕLλA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 16 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# O lado esquerdo é exatamente a taxa de crescimento da tecnologia, que denotaremos por . Ou seja: Vamos tirar o logaritmo natural dos dois lados dessa equação: Na segunda linha, usaremos a seguinte propriedade: para quaisquer x e y, Na terceira linha, usaremos o fato de que . Vamos agora tirar a derivada dos dois lados dessa equação em relação ao tempo: Note que podemos manter o sinal da igualdade após tirar a derivada, pois a igualdade vale para todos os instantes de tempo. De forma geral, omitimos a dependência em relação ao tempo para tornar a notação mais leve. Agora vamos estudar a economia no estado estacionário. Portanto, a taxa de crescimento da tecnologia é constante. Além disso, o parâmetro também é constante. Logo, ambos têm derivada igual a zero. Podemos reescrever a penúltima equação assim: Ȧ A = δ–A ϕLλ A A = δ–L λ A A1−ϕ gA gA = δ–L λ A A1−ϕ ln (gA) = ln ( δ–LλA A1−ϕ ) = ln(δ–) + ln (L λ A) − ln (A 1−ϕ) = ln(δ–) + λ ln (LA) − (1 − ϕ) ln(A) ln(xy) = ln(x) + ln(y) ln (xy) = y ln(x) d dt ln (gA) = d dt [ln(δ–) + λ ln (LA) − (1 − ϕ) ln(A)] gA δ– 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 17 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Na primeira igualdade, usamos o fato de que as derivadas de e de , em relação ao tempo, são iguais a zero. Na última igualdade, usamos o fato de que as constantes λ e (1 - ϕ) podem sair da derivada. Com isso, obtemos: Observe agora que temos, dos dois lados da equação, a derivada em relação ao tempo do logaritmo natural de uma variável que depende do tempo — seja a população empregada no setor de pesquisa ( ) no lado esquerdo, seja a tecnologia A no lado direito. Para fazer a derivada, precisamos utilizar a regra da cadeia: Setor de pesquisa Neste conteúdo, vamos nos referir indistintamente a “setor de pesquisa”, “setor de inovação” ou “setor de pesquisa e inovação”. Para a apresentação do modelo de Romer, não há diferença entre esses termos. Dividindo os dois lados por (1 - ϕ), obtemos: 0 = d dt [λ ln (LA)] − d dt [(1 − ϕ) ln(A)] = λ d dt [ln (LA)] − (1 − ϕ) d dt [ln(A)] gA δ– λ d dt [ln (LA)] = (1 − ϕ) d dt [ln(A)] LA λ 1 LA L̇A = (1 − ϕ) 1 A Ȧ Ȧ A = λ (1 − ϕ) L̇A LA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 18 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Temos, desse modo, a taxa de crescimento da tecnologia em função da taxa de crescimento da população empregada no setor de inovação. Mas que taxa é essa? Para obtê-la, vamos lembrar que a população total é dividida entre pessoas empregadas na produção ( ) e aquelas empregadas em inovação ( ). Observe que as taxas de crescimento em cada um desses grupos devem ser iguais: Caso contrário, a população em um setor (inovação ou produção) cresceria mais rapidamente do que no outro; além disso, no longo prazo, a que crescesse a uma taxa mais lenta ficaria com uma proporção próxima de zero na população total. Ou seja, não seria mais verdade que Se os dois subgrupos da população crescem à mesma taxa, ambos se elevam simplesmente à taxa de crescimento populacional Concluímos, portanto, que: Com isso, a taxa de crescimento da tecnologia é: Ly LA L̇A LA = L̇y Ly L = Ly + LA L̇/L = n L̇A LA = L̇y Ly = n gA = Ȧ A = λ (1 − ϕ) n 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 19 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Observamos o seguinte: Observe que um aumento da fração populacional no setor de pesquisa e inovação ( ) causa um impacto imediato na geração de ideias, o que aumenta , pois é crescente em . Mas esse efeito é temporário: no longo prazo, a taxa de crescimento da tecnologia retorna para , que não depende do tamanho do setor de inovação. O nível de tecnologia, porém, será maior do que seria na ausência do aumento em . E se ϕ=1? Nesse caso, teremos um denominador igual a zero. Portanto, a expressão acima não está definida. Mas isso não é um problema. Para determinar a taxa de crescimento da tecnologia, basta voltar à equação de movimento da tecnologia: I A taxa de crescimento da população é crescente em λ: quanto maior o impacto do número de pesquisadores sobre a geração de novas ideias , maior será a taxa de crescimento da tecnologia. LA Ȧ II Quanto maior a taxa de crescimento populacional n, maior será a de crescimento da tecnologia, pois teremos mais pessoas para gerar ideias a cada instante de tempo. LA Ȧ A Ȧ = δ–A ϕLA LA λ (1−ϕ) n LA Ȧ = δ–A ϕLλA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 20 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Se ϕ = 1, podemos escrever: Perceba que, nesse caso, a taxa de crescimento da tecnologia depende diretamente do tamanho da população envolvida em pesquisa, e não apenas da taxa de crescimento populacional. É importante registrar, porém, que esse resultado é uma referência teórica útil, mas não tem suporte empírico: os dados sugerem ϕ < 1. Vamos considerar alguns casos particulares para entendermos a taxa de crescimento da tecnologia ao longo do tempo. Ȧ A = δ–L λ A 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 21 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Suponha que λ = 1 e ϕ = 0. Nesse caso, a geração de ideias é linear no número de pesquisadores, sendo independente do estoque daquelas existentes. Com isso, temos: A taxa de crescimento da tecnologia é simplesmente a de crescimento populacional, ou seja, a taxa de crescimento do número de empregados no setor de inovação. Suponha que λ = 1 e ϕ = 1. Sabemos que, como ϕ = 1, precisamos usar a expressão: Como λ = 1, essa expressão se torna: Em outros termos, a taxa de crescimento da tecnologia depende linearmente do tamanho do setor de inovação na economia. Isso ocorre pelo fato de a produtividade da pesquisa aumentar ao longo do tempo, mesmo que o número de pesquisadores seja constante. Primeiro caso gA = Ȧ A = n Segundo caso Ȧ A = δ–LA λ Ȧ A = δ–LA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 22 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# O modelo de Romer apresenta efeito escala (que não está presente no de Solow): quanto maior a população, maior o nível de renda. Isso é resultado da não rivalidade de ideias: quanto maior o número de pessoas na economia, mais pessoas poderão usar essas ideias. Portanto, a economia será mais rica. Há um mercado maior para inovações. Além disso, uma economia com mais pessoas pode alocar uma força de trabalho maior para o setor de pesquisa e inovação. Saiba mais Para obter o efeito escala matematicamente, basta calcular a renda de longo prazo (ou estado estacionário) na economia, que é crescente no tamanho da população. Apesar de ser uma conta análoga à do modelo de Solow, não apresentaremos aqui os detalhes. Se você estiver interessado no assunto, sugerimos a leitura do capítulo 5 da obra de Jones (2000). Aplicação numérica Descubra mais sobre a teoria aprendida com a aplicação numérica. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 23 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Suponha que a geração de novas ideias seja dada pela expressão . Isso significa que:Ȧ = A0.5L2A 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 24 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Parabéns! A alternativa A está correta. O número de novas ideias ( ) é crescente no estoque de ideias (A), porque é crescente em A, o que podemos ver pelo expoente positivo de A na expressão . Desse modo, oefeito “subir nos ombros” domina o “pisar nos pés”, que pode até existir, mas não de forma suficiente para inverter o sinal. Questão 2 Considere uma taxa de crescimento tecnológico dada por . Isso significa que: A O efeito “subir nos ombros” domina o efeito “pisar nos pés”. B O efeito “pisar nos pés” não existe. C O número de novas ideias a cada período é linear no número de pesquisadores. D A economia não apresentará crescimento de longo prazo. E O crescimento econômico é gerado pela acumulação de capital. Ȧ Ȧ Ȧ = A0.5L2A gA = ȦA = λ (1−ϕ) n 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 25 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Parabéns! A alternativa D está correta. A taxa de crescimento econômico é igual à de crescimento da tecnologia no longo prazo. Se o efeito “pisar nos ombros” cancela o “pisar nos pés”, então ϕ = 0. Logo, . A A taxa de crescimento populacional não afeta o crescimento econômico. B O tamanho da população afeta a taxa de crescimento tecnológico. C A taxa de crescimento da economia diminui ao longo do tempo. D Se o efeito “subir nos ombros” cancela exatamente o efeito “pisar nos pés”, então a taxa de crescimento da economia é igual a λn. E A fração da população envolvida em pesquisa é menor que aquela envolvida em produção. gA = λn 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 26 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# 2 - Microfundamentos do modelo de Romer Ao final deste módulo, você será capaz de descrever os microfundamentos do modelo de Romer. Economia de três setores Vimos que o modelo de Romer gera crescimento econômico por meio da geração de novas ideias, as quais, por sua vez, são resultado do trabalho da população empregada no setor de inovação. Mas o que determina a escolha das pessoas para trabalhar nesse setor? O modelo de Romer supõe que a economia seja composta de três setores: 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 27 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Bens finais Bens intermediários Pesquisa e inovação Os dois primeiros setores geram produtos; o último, ideias. O setor de pesquisa gera os insumos necessários para o desenvolvimento de novos bens intermediários, os quais, por sua vez, serão usados para produzir bens finais. Vamos entender melhor esses setores da economia propostos no modelo de Romer. Setor de bens finais Vamos supor que o setor de bens finais seja competitivo, tendo um grande número de empresas pequenas que toma os preços de mercado como dados. Essas empresas utilizam capital e trabalho para gerar um bem final homogêneo Y de acordo com a seguinte função de produção: Nesse modelo, cada representa um bem de capital distinto. Supomos ainda que existam exatamente A bens de capital. Ou seja, nossa medida de tecnologia é exatamente o número desses bens (ou bens intermediários) existentes nessa economia. Podemos ainda usar uma representação contínua para os bens de capital: Y = L1−αY A ∑ j=1 xαj xj Y = L1−αY ∫ A j=1 xαj dj 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 28 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Em outras palavras, a tecnologia A mede a disponibilidade de bens intermediários nessa economia. Essa gama de bens finais é representada pelo intervalo real [0, A]. Vamos supor que o preço do bem final (único e homogêneo) Y seja igual a 1. Estamos usando esse bem como bem numerário da economia. Por conta disso, vamos interpretar os preços dos demais bens como razões de preços em relação ao bem final. O preço do bem de capital é e o do trabalho (ou seja, o salário) é w. Uma firma no setor de bens finais vai escolher o quanto usar de cada bem de capital para maximizar seus lucros: O gasto total com mão de obra é e com bens de capital é . Substituindo a função de produção no problema de maximização de lucro, obtemos: Agora vamos obter as condições de primeira ordem em relação a (a escolha de mão de obra) e (a escolha pelo bem de capital j). Condição de primeira ordem em relação à mão de obra xj pj xj Maxxj,LY Y − wLY − ∫ A j=1 pjx α j dj wLY ∫ A j=1 pjxαj dj Maxxj,LY L 1−α Y ∫ A j=1 xαj Y − wLY − ∫ A j=1 pjx α j dj LY xj LY 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 29 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Quanto à escolha de mão de obra, temos: Vamos multiplicar e dividir o lado esquerdo da última equação por : Note agora que o trecho marcado em vermelho é simplesmente a função de produção, que denotamos por Y. Podemos, dessa forma, escrever: O lado esquerdo dessa equação é simplesmente o produto marginal do trabalho; o direito, o custo marginal do trabalho, isto é, o salário. Essa equação nos informa simplesmente que a empresa contrata trabalhadores até igualar o produto marginal do trabalho a seu custo marginal. Esse é um resultado tradicional em mercados competitivos. Atenção! Estritamente, deveríamos falar em receita marginal do trabalho em vez de produto marginal do trabalho, mas não faz diferença em nosso contexto, já que o preço do bem final é igual a 1. Portanto, o produto marginal é igual à receita marginal. (1 − α)LY 1−α−1 ∫ A j=1 xj α − w = 0 ⇒ (1 − α)LY −α ∫ A j=1 xj α = w LY LY LY (1 − α)L−αY ∫ A j=1 xαj = w (1 − α) Y LY 1−α ∫ A j=1 xα j LY = w (1 − α)Y LY = w 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 30 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Condição de primeira ordem em relação ao bem intermediário A derivada em relação a pode parecer mais complicada, porque temos uma integral no caminho, mas não é muito diferente. Basta lembrar que uma integral é apenas uma soma. Para ajudá-lo a entender isso, vamos começar com uma versão bem simples, tendo apenas dois bens de capital: e . O problema de maximização de lucro se torna: Podemos agora tirar a derivada em relação a , por exemplo. Construímos, assim, a condição de primeira ordem: Portanto: Analogamente, podemos obter a condição de primeira ordem em relação a : xj xj x1 x2 Maxx1,x2,Ly LY 1−α [x1α + x2α] Y − wLy − [p1x1α + p2x2α] Maxx1,x2,Ly LY 1−αx1 α + LY 1−αx2α Y − wLy − [p1x1α + p2x2α] x1 αL1−αY x α−1 1 − p1 = 0 αL1−αY x α−1 1 = p1 x2 αL1−αY x α−1 2 = p2 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 31 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Note que não aparece na derivada em relação a , e vice-versa. Vale o mesmo para qualquer na expressão original da função de produção. Logo, a condição de primeira ordem para é simplesmente: Ou ainda: Nessa última passagem, simplesmente observamos que A interpretação é semelhante à da condição de primeira ordem anterior: o lado esquerdo é o produto marginal do bem de capital (ou, estritamente, sua receita marginal), enquanto o direito é o custo marginal desse bem. Setor de bens intermediários Vamos supor que o setor de bens intermediários seja composto de empresas monopolistas, isto é, cada uma tem o monopólio sobre o bem intermediário que produz. E de onde vem esse monopólio? x2 x1 xj xj αL1−αY x α−1 j = pj αLY 1−α xj 1−α = pj xα−1 j = 1/x1−αj xj 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 32 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# É simples: a empresa compra uma patente para produção de um bem de capital no setor de pesquisa. Como as patentes são protegidas, cada bem de capital pode ser produzido por uma única firma. Vamos montar agora o problema de maximização de lucro de uma firma do setor intermediário: Nessa expressão, é a demanda (inversa) da firma j. Essa demanda vem dos consumidores do bem intermediário, ou seja, é dada pelas empresas no setor de bens finais. Como vimos, a escolha ótima da firma produtora de bens finais implica: Para deixar claro que essa é a função de demanda inversa, vamos escrevê-la da seguinte forma (trata-seapenas de uma mudança de notação): Essa é a demanda inversa enfrentada pela empresa produtora de bens de capital. Além disso, r é simplesmente o custo de produzir o bem intermediário. Podemos computar a condição de primeira ordem do problema da firma do setor intermediário: Maxxj pj (xj)xj − rxj pj (xj) αLY 1−α xj 1−α = pj p (xj) = αL1−αY x1−α j p′ (xj) × xj + p (xj) − r = 0 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 33 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Talvez você já tenha visto essa equação: ela é simplesmente a condição que caracteriza a escolha ótima de uma firma monopolista. Se a firma fosse competitiva, sua escolha não teria impacto sobre o preço; portanto, teríamos . Nesse caso, o preço seria igual ao custo marginal: . Como a firma tem poder de mercado , vamos desenvolver a equação anterior da seguinte forma: Desenvolveremos agora a expressão em vermelho. Observe inicialmente que ela é o inverso da elasticidade da demanda por bens de capital. E como podemos obter essa elasticidade? Vamos olhar para essa demanda (derivada a partir do problema de maximização de lucro de uma firma de bens finais): Podemos, com isso, obter a derivada: Vamos agora obter a elasticidade: p′ (xj) = 0 p (xj) = r (p′ < 0) p′ (xj) × xj + p (xj) p = r p p′ (xj) × xj p + 1 = r p p = r p′(xj)×xj p + 1 p (xj) = αL1−αY x1−α j = αL1−αY x α−1 j p′ (xj) = (α − 1)αL 1−α Y x α−1−1 j = (α − 1)αL1−αY x α−2 j 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 34 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Desse modo, o preço será: Em suma: Esse é o preço que cada monopolista cobra. Observe que o preço é o mesmo para todas as firmas: afinal, a razão não depende de j, que é o índice que identifica cada firma. Concluímos, assim, que todas produzirão a mesma quantidade de bens de capital: , que denotaremos simplesmente por x. Podemos obter essa quantidade voltando à função de demanda inversa: Vamos rearranjá-la e descartar o subscrito j, que já sabemos que é desnecessário, pois preços e quantidades são iguais para todas as firmas: p′ (xj) × xj p = (α − 1)αL1−αY x α−2 j × xj αL1−αY x α−1 j = (α − 1)αL1−αY x α−2+1 j αL1−αY x α−1 j = (α − 1)αL1−αY x α−1 j αL1−αY x α−1 j = (α − 1) p = r p′(xj)×xj p + 1 = r (α − 1) + 1 = r α p = r α r α xj = x (pj) = x(p) p (xj) = αL1−αY x1−αj 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 35 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Agora vamos substituir : Podemos elevar os dois lados dessa equação a : Podemos obter agora o capital total produzido pelo setor intermediário (e consumido pelo de bens finais): Na passagem 1, substituímos por x, pois todas as firmas escolhem o mesmo nível de capital. Na passagem 2, usamos o fato de que x é constante, podendo, portanto, sair da integral. Na 3, observamos que apenas integramos a constante 1 no intervalo [0, A]. Temos, com isso, K = xA. Desse modo: x1−α = αL1−αY p p = r α x1−α = αL1−αY r α = α2L1−αY r = ( α2 r )L1−αY 1 (1−α) (x1−α) 1 (1−α) = (( α2 r )LY 1 − α) 1 (1−α) x (1−α)× 1(1−α) = ( α2 r ) 1 (1−α) LY (1 − α) × 1 (1 − α) x = ( α2 r ) 1 (1−α) LY xj x = K A 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 36 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Vamos voltar à função de produção: Em suma: Mas sabemos que ; portanto, . Podemos substituir na expressão anterior e obter isto: Em suma: Ou seja, conseguimos construir nossa função de produção a partir das decisões dos agentes econômicos nos setores de bens finais e de bens intermediários. Nosso último passo é encontrar o lucro das empresas do setor intermediário. Esse lucro é importante, já que ele é exatamente a fonte de recursos para financiar a inovação: as empresas do setor intermediário investirão o lucro na compra de patentes. A expressão do lucro é: Y = L1−αY ∫ A 0 xαj dj = L 1−α Y ∫ A 0 xαdj = L1−αY x α ∫ A 0 dj = L1−αY x α(A − 0) = L1−αY x αA Y = L1−αY x αA x = K A xα = K α Aα Y = LY 1−α K α Aα A = LY 1−αK αA1−α = K α(ALY ) 1−α Y = K α(ALY ) 1−α πj = pjxj − rxj = px − rx = (p − r)x 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 37 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Observe que o lado direito não depende de j, ou seja, é comum para todas as firmas. Vamos escrever simplesmente: Trabalharemos inicialmente com a expressão entre parênteses. Já temos o preço ; portanto, Reescrevendo a expressão anterior, temos: Vamos simplificar um pouco mais, usando uma expressão para px. Para isso, voltaremos à demanda do setor de bens finais por bens intermediários: Vamos usar esse valor de px na expressão do lucro: Reorganizando um pouco, temos: π = (p − r)x p = r α r = αp π = (p − αp)x = px(1 − α) x1−α = αL1−αY p ⇒ x xα = αL1−αY p ⟹ px = αL1−αY x α x1−α = αL1−αY p ⇒ x xα = αL1−αY p ⟹ px = αL1−αY x α π = px(1 − α) = α(1 − α)L1−αY x α 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 38 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Estamos quase lá. Precisamos agora encontrar uma expressão para o trecho em vermelho. Para isso, vamos voltar à função de produção que construímos: Dividindo os dois lados por A, obtemos: Mas também sabemos que . Logo, , que é exatamente o trecho em vermelho que destacamos. Temos, assim, nossa expressão para o lucro das firmas do setor intermediário: Setor de pesquisa e inovação No modelo de Romer, ideias são interpretadas como “manuais de instruções” que ensinam a fazer bens intermediários, ou seja, a transformar uma unidade de capital “bruto” em uma de um novo bem de capital. Por exemplo, um metal pode ser transformado em um computador. Y = K α(ALY ) 1−α Y A = K α(ALY ) 1−α A = K αL1−αY Aα = ( K A )αL1−αY K A = x Y A = xαL1−αY π = α(1 − α) Y A 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 39 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Computador. Mas como uma empresa do setor intermediário pode comprar uma ideia? Como discutimos anteriormente, isso significa que ela deve comprar uma patente que dá direito exclusivo de uso dessa ideia - ao menos por determinado período. Vamos denotar o preço da patente por . Suponhamos que, enquanto haja lucro econômico estritamente positivo no setor intermediário, novas empresas possam entrar para adquirir uma patente e produzir. Isso significa que a patente terá o maior preço possível, isto é, ela esgotará o lucro econômico da empresa nesse setor. Isso implica que o preço da patente é o valor presente do lucro de uma empresa no setor intermediário. Note que isso significa que o setor de bens intermediários funciona em concorrência monopolística: Há poder de mercado, mas, em equilíbrio, não existe lucro econômico. pa pa 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 40 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Mas como determinar ? Para resolver isso, faremos um argumento de arbitragem. Pense que um investidor tem duas opções: ele pode investir em bens de capital para alugá-lo a uma empresa do setor intermediário ou comprar uma patente. Em outras palavras, ele pode atuar no setor de bens intermediários ou no de inovação. Atenção! O setor de bens finais tem lucro econômico igual a zero, pois é perfeitamente competitivo, e por isso não é relevante em nossa discussão. Se o investidor compra um valor em bens de capital, ele tem um retorno de . Lembre-se de que r é o custo que a empresa desse setor paga para poder usar capital em sua produção. Se o investidor usa esse valor para comprar uma patente, ele obtém o lucro que a patente gerará. Além disso, tem um ganho de capital que é variação do valor da patente no tempo: . No total, ele ganha . Por arbitragem, o retorno deve ser igual nos dois setores: caso contrário, não haveria investimento em um deles. Temos, com isso, a seguinte condição: Precisamos encontraruma expressão para e substituí-la na expressão acima. Vamos começar isolando r: Podemos obter a razão entre lucro no setor intermediário e o preço da patente: pa pa rpa π = α(1 − α) Y A pa π + ṗa rpa = π + ṗa pȧ r = π + ṗa pa = π pa + ṗa pa 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 41 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# A razão é simplesmente a taxa de crescimento do preço da patente e deve ser constante em uma trajetória de crescimento equilibrado. Da mesma forma, o custo do capital r também tem de ser constante. O lado direito dessa equação, portanto, é constante. Dessa forma, o lado esquerdo também precisa ser constante, o que só ocorrerá se o lucro π e o preço da patente crescerem à mesma taxa. Concluímos, assim, que as taxas de crescimento de π e devem ser iguais: Logo, precisamos obter Vamos começar recuperando a expressão de π, o lucro de uma empresa do setor intermediário: Podemos passar o logaritmo neperiano e derivar dos dois lados para obter: Sabemos também que, em uma trajetória de crescimento equilibrado, a razão é constante. Dessa forma, o numerador e o denominador devem crescer à mesma taxa: π pa = r − ṗa pa ṗa pa pa pa π̇ π = ṗa pa π̇ π . π = α(1 − α) Y A π̇ π = Ẏ Y − Ȧ A Y AL 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 42 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Com isso, obtemos: Portanto: Ou ainda . Com isso, podemos obter o preço da patente. Vamos voltar à condição de não arbitragem: Substituindo o valor de , obtemos: Reorganizando: Esse é o preço da patente ao longo da trajetória de crescimento equilibrado. Podemos interpretar esse resultado de outra forma. Note o seguinte: Ẏ Y = Ȧ A + L̇ L = Ȧ A + n ⇒ Ẏ Y − Ȧ A = n π̇ π = n ṗa pa = n ṗa = npa rpa = π + ṗa ṗa rpa = π + npa pa = π r − n 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 43 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Ou seja, é a soma de uma progressão geométrica de razão . Essa razão pode ser interpretada como a taxa de desconto dos lucros futuros do investidor. Ela é decrescente em r, porque, quanto maior o preço do capital usado no setor de bens intermediários, mais valerá investir nele em vez de em patentes. Portanto, o preço da patente diminui. Observe finalmente que, ao interpretarmos A como uma variável, e não como um parâmetro, a função de produção passa a apresentar retornos crescentes de escala. Esses retornos crescentes geram competição imperfeita, o que permite lucro econômico, que é exatamente do que precisamos para financiar as ideias, as quais, aliás, têm custo marginal igual a zero (e, portanto, teriam preço zero em uma economia competitiva). Saiba mais No fim das contas, ninguém fica com lucro econômico estritamente positivo: todo lucro é usado para remunerar algum fator de produção. O lucro econômico obtido no setor de bens intermediários é inteiramente gasto com a aquisição de ideias no setor de pesquisa e inovação. Alocação de mão de obra Vamos analisar agora a alocação de mão de obra. Em equilíbrio, os indivíduos devem ser indiferentes quanto a trabalhar no setor de bens finais ou no de pesquisa. Atenção! O setor de bens intermediários não emprega mão de obra e por isso não é relevante para nossa discussão. Isso é uma simplificação que não afeta os resultados principais do modelo. π r − n = π + (1 − (r − n))π + (1 − (r − n))2π + ⋯ π r−n (1 − (r − n)) 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 44 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# No setor de bens finais, o trabalhador ganha um salário igual ao produto marginal do trabalho. Para obtê-lo, vamos retomar a função de produção: Precisamos do produto marginal do trabalho, ou seja, a derivada da produção em relação a : Logo, o salário no setor de bens finais deve ser: Vamos estudar agora o salário no setor de pesquisa. Comecemos supondo que a produtividade da pesquisa seja dada por , que é fixa do ponto de vista do próprio pesquisador. Ou seja, eles não consideram o impacto do estoque de ideias ou do número de pesquisadores sobre a produtividade, o que significa que há externalidades. O salário dos pesquisadores é dado simplesmente por: Y = L1−αY ∫ A j=1 xαj dj LY ∂Y ∂LY = (1 − α)LY 1−α−1 ∫ A j=1 xj αdj = (1 − α)LY 1−α ∫ A j=1 xj αdj Y × 1 LY = (1 − α) Y LY wY wY = (1 − α) Y LY δA wR = δApA 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 45 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Por exemplo, se , então cada pesquisador produz e vende duas patentes, obtendo um salário Vamos usar nosso argumento de arbitragem mais uma vez: os salários nos dois setores (bens finais e pesquisa) precisam ser iguais, ou seja, . Portanto: Sabemos o valor da patente: Logo: Lembrando que , podemos escrever . Substituindo na equação anterior, temos: Vamos rearranjar essa expressão: δA = 2 2pA wY = wR (1 − α) Y LY = δApA pa = π r − n (1 − α) Y LY = δA ( πr − n ) LY + LA = L LY = L − LA (1 − α) Y L − LA = δA ( π r − n ) (1 − α) Y δA ( πr−n ) = L − LA LA = L − (1 − α) Y δA ( πr−n ) 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 46 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Vamos substituir o lucro nessa expressão: Ou seja: Vamos dividir os dois lados por L: Essa é a proporção da população no setor de pesquisa e inovação. Obtemos, com isso, o tamanho desse setor na economia. Por último, observe que o equilíbrio de mercado do modelo de Romer não é necessariamente eficiente: o mercado pode prover um investimento em pesquisa abaixo do ótimo. A decisão econômica de pesquisar leva em consideração o fluxo de lucros que poderá ser gerado com uma invenção, e não o impacto sobre a produtividade da pesquisa dos demais trabalhadores do setor de pesquisa e inovação. Há uma externalidade positiva, o que, em geral, faz com que o equilíbrio de mercado tenha uma produção menor que a eficiente. Isso abre espaço para intervenção do setor público, que pode criar subsídios para pesquisa. Aplicação numérica π = α(1 − α) Y A LA = L − (1 − α) Y δA ( α(1−α) YAr−n ) = L − 1 δA ( α 1Ar−n ) = L − 1 δAα A(r−n) LA = L − A(r − n) δAα LA L = 1 − A L (r − n) δAα 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 47 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Descubra mais sobre a teoria aprendida com a aplicação numérica. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 48 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Assinale a alternativa correta a respeito do modelo de Romer. Parabéns! A alternativa A está correta. O custo marginal da inovação é igual a zero. Portanto, seu preço é igual a zero em um mercado competitivo. Sua remuneração depende do poder de A A inovação é remunerada por meio do poder de mercado dos usuários das patentes. B A economia é competitiva; portanto, o preço de todos os bens é igual ao custo marginal de produção. C Há poder de mercado no setor de bens finais. D O retorno no setor de bens intermediários é maior que no setor de pesquisa. E A inovação não é remunerada, pois seu produto marginal é igual a zero. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 49 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# mercado dos usuários das patentes, que podem cobrar um preço acima do custo marginal e, com a diferença, pagar pelas patentes. Questão 2 Marque a alternativa correta a respeito da alocação de mão de obra no modelo de Romer. Parabéns! A alternativa D está correta. No modelo de Romer, o setor de bens intermediários não emprega mão de obra e, portanto, não tem um salário definido. Os trabalhadores escolhem entre o setor de bens finais e o de pesquisa, devendo ser indiferentes em equilíbrio. Casocontrário, todos escolheriam o mesmo setor, enquanto o A O salário no setor de bens finais é maior que no setor de pesquisa. B O salário no setor de pesquisa é menor que no setor de bens intermediários. C Em equilíbrio, os trabalhadores são indiferentes quanto a trabalhar no setor de bens intermediários ou no de bens finais. D Em equilíbrio, os trabalhadores são indiferentes entre trabalhar no setor de bens finais ou no de pesquisa. E Em equilíbrio, os trabalhadores são indiferentes quanto a trabalhar no setor de bens intermediários ou no de pesquisa. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 50 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# outro desapareceria (ou não haveria produção, ou não haveria inovação e crescimento econômico). Considerações finais Neste conteúdo, estudamos o modelo de Romer, que explica como as inovações geram crescimento econômico e como elas são resultado de escolhas econômicas. Dessa forma, temos uma teoria de crescimento econômico endógeno: o modelo mostra que a taxa de crescimento da economia é igual à de crescimento da tecnologia. Além disso, ele explica como determinar essa taxa relativa à tecnologia, considerando que a decisão de investir e trabalhar para gerar ideias é uma decisão econômica como outra qualquer. Também aprendemos que, dada a natureza não rival das ideias, o modelo precisa supor algum poder de mercado a fim de gerar o lucro econômico usado para comprar novas ideias e, portanto, incentivar seu desenvolvimento. Com isso, nos afastamos de modelos de concorrência perfeita para explicar o crescimento econômico, como, por exemplo, o modelo de Solow. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 51 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Revisão Ouça agora um resumo de tudo que você viu durante os módulos. Explore + Para se aprofundar em nosso estudo, sugerimos a leitura das seguintes obras: Economic growth – a segunda edição do livro de Robert J. Barro e Xavier Sala-i- Martin sobre crescimento econômico foi publicada em 2003 pelo Massachussetts Institute of Technology. Advanced macroeconomics – a quarta edição do livro de David Romer sobre macroeconomia avançada foi publicada em 2012 pelo Business and Economics. Referências JONES, C. Introdução à teoria do crescimento econômico. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 17/01/24, 07:01Crescimento endógeno Page 52 of 52https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/03111/index.html# Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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