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HIGIENE DO TRABALHO II UNIASSELVI-PÓS Autoria: Luciane Eloisa Brandt Benazzi Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. B456h Benazzi, Luciane Eloisa Brandt Higiene do trabalho II. / Luciane Eloisa Brandt Benazzi. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 252 p.; il. ISBN 978-85-7141-432-7 ISBN Digital 978-85-7141-433-4 1. Higiene do trabalho. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 363.110981 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 AGENTES FÍSICOS ......................................................................... 7 CAPÍTULO 2 AGENTES QUÍMICOS ................................................................... 83 CAPÍTULO 3 AGENTES BIOLÓGICOS E ERGONÔMICOS ............................. 161 APRESENTAÇÃO Prezado acadêmico! É com enorme satisfação que apresentamos a você o material didático que direcionará a disciplina Higiene do Trabalho II, abordando assuntos fundamentais que fazem parte do contexto diário da segurança e higiene do trabalho. Vale relembrar que a Higiene do Trabalho, de modo geral, trata do reconhecimento, avaliação e controle de agentes ambientais laborais que podem causar danos à saúde dos trabalhadores, uma vez que há diversos riscos ambientais e organizacionais a que os trabalhadores estão expostos, em função de sua inserção nos processos de trabalho. A natureza da atividade desenvolvida, as características de organização e a exposição aos agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos podem comprometer a saúde do trabalhador em um curto, médio ou longo prazo, caso esses riscos não sejam controlados ou minimizados, tendo em vista que o ambiente laboral deve ser adaptado ao trabalhador e não o contrário. Assim, conhecer profundamente os agentes/riscos, como estes penetram ou são absorvidos no corpo do trabalhador e quais as agressões ou doenças que podem causar, subsidiam a escolha da melhor proteção individual e coletiva, bem como o controle sobre a saúde do trabalhador, sendo essenciais para o desenvolvimento dos programas de saúde e segurança do trabalhador. Nesta direção, o objetivo geral da disciplina é aprimorar seus conhecimentos no que se refere à higiene de trabalho, visando à melhoria do seu desempenho profissional, fornecendo subsídios para que possa atuar de maneira eficiente e em consonância com as legislações vigentes. A estrutura deste livro está dividida em três capítulos. O primeiro capítulo apresenta os agentes físicos, especificamente sobre pressões anormais, umidade, radiações ionizantes e não ionizantes. No segundo capítulo, adentra-se de forma particular sobre os agentes químicos presentes no ambiente de trabalho e o terceiro capítulo trata dos agentes biológicos, dos agentes ergonômicos e sobre alguns estudos de casos relativos aos agentes estudados. Como pode-se constatar, os assuntos são abrangentes e, por isso, não se pretende esgotar temas tão complexos, mas apresentar considerações relevantes, disponibilizadas nas mais diversas fontes bibliográficas atuais, bem como contextualizar e tematizar algumas questões. Por isso, ao longo do livro serão indicadas leituras técnicas e complementares, além de vídeos que tratam sobre os temas abordados, a fim de que você possa explorá-los com mais profundidade, viabilizando um conhecimento ainda mais amplo, tornando-o mais qualificado para o mundo do trabalho. Em cada seção, estarão disponibilizadas atividades de estudo que lhe possibilitarão o aprofundamento dos conteúdos, proporcionando, assim, uma revisão e reflexão sobre cada um dos agentes discutidos, permitindo verificar o quanto você está avançando em seu processo de aprendizagem. Esperamos que essa obra, a qual foi preparada com muito esmero e dedicação, seja bem aproveitada e muito útil na sua prática profissional, bem como que você participe de todas as atividades propostas. Desta forma, agora você é convidado a trilhar os caminhos de novos conhecimentos, fazendo deste processo um momento em que seus horizontes possam descortinar-se, construindo novos saberes, alinhando a teoria e a prática para o seu desenvolvimento profissional ainda mais promissor. Bons estudos! CAPÍTULO 1 AGENTES FÍSICOS A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Proporcionar conhecimentos sobre agentes e riscos físicos, especificamente sobre pressões anormais, umidade, radiações ionizantes e radiações não ionizantes presentes no ambiente de trabalho, orientando e habilitando os profissionais para a identificação, a análise e a avaliação dos riscos físicos inerentes às várias atividades laborais, bem como seus possíveis impactos e medidas preventivas e de correções para que possam trabalhar de maneira integrada e contributiva em equipes multidisciplinares com vistas à proteção e à prevenção. � Classificar e avaliar qualitativamente os agentes/riscos físicos pressões anormais (hipobáricas e hiperbáricas). � Identificar o agente/risco físico umidade, bem como sua ocorrência, formas avaliativas, normas vigentes, malefícios à saúde do trabalhador e medidas de proteção e prevenção. � Conhecer profundamente os agentes/riscos radiações ionizantes e radiações não ionizantes presentes no ambiente ocupacional. � Reconhecer que estes agentes/riscos (pressões anormais, umidade, radiações ionizantes e radiações não ionizantes) são capazes de ocasionar alterações na saúde do trabalhador ou afetar o seu conforto e a sua eficiência. � Indicar medidas de proteção individual e coletiva de acordo com o tipo de risco a que o trabalhador estiver exposto, a fim de eliminá-lo ou reduzi-lo em níveis aceitáveis. 8 Higiene do Trabalho II 9 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo, abordaremos alguns agentes físicos, como pressões anormais, umidade, radiações ionizantes e não ionizantes. Antes de iniciarmos, que tal relembrarmos, de forma sucinta, um pouco sobre os agentes físicos? Vejamos o que a NR-9, que trata do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, através da Portaria MTB nº 871, de 6 de julho de 2017, define sobre agentes físicos: “Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom” (BRASIL, 2017). A NR-9 não indica a umidade como agente físico, uma vez que os agentes físicos são, em última análise, alguma forma de energia liberada pelas condições dos processos e equipamentos a que será exposto o trabalhador. A maior parte da literatura disponível classifica a umidade como agente físico, o que justifica sua inserção neste material. Também cabe mencionar que não serão abordados o ultrassom e o infrassom neste capítulo. FIGURA 1 – AGENTES FÍSICOS FONTE: A autora Outro fato que devemos levar em consideração é a diferença entre agente e risco, pois muitas vezes esses termos são utilizados de forma inadequada e até mesmo como sinônimos. Vale lembrar que a NR-9, em seu item 9.1.5, considera os agentesfísicos, químicos e biológicos, existentes no ambiente de trabalho, como riscos ambientais, em decorrência de sua natureza, concentração/intensidade e tempo Outro fato que devemos levar em consideração é a diferença entre agente e risco, pois muitas vezes esses termos são utilizados de forma inadequada e até mesmo como sinônimos. 10 Higiene do Trabalho II de exposição, os quais poderão causar danos à saúde do trabalhador (BRASIL, 2017). Portanto, a diferença, justamente, reside aí, ou seja, um agente somente será um risco, quando esse estiver afetando a saúde do trabalhador. Neste sentido, os riscos físicos podem comprometer a performance dos trabalhadores, que “podem sofrer diversos efeitos na saúde que variam em razão da sensibilidade, suscetibilidade e defesa do organismo” (ROSSETE, 2014, p. 14). Após esta rápida revisão dos agentes físicos, iniciaremos nossa reflexão sobre as pressões anormais. Esperamos que você aproveite bem a seção, através da leitura dos conteúdos e participação nas atividades propostas. 2 PRESSÕES ANORMAIS Os trabalhadores, de modo geral, são influenciados pela pressão do ar, que é igual ou muito próxima à pressão atmosférica, no desenvolvimento das suas atividades e não sentem sua intensidade, uma vez que estão acostumados com ela. Contudo, existem situações especiais em que alguns trabalhadores ficam expostos às pressões atmosféricas acima ou abaixo das pressões normais a que estamos inseridos, ou seja, desempenham suas atividades laborais em ambientes disbáricos. De acordo com a Associação Brasileira de Especialistas e Trabalhadores Disbáricos (ABRAETD), caso haja a incapacidade do organismo em equilibrar a pressão das suas cavidades pneumáticas ou outras, com a pressão ambiental em variação, ocorrerão patologias e acidentes disbáricos, sendo que a profundidade ou a altitude, o tempo de permanência e a velocidade da transição à atmosfera normal são alguns dos fatores de risco (ABRAETD, 2014). Conforme Neto (2015), as pressões anormais são classificadas em dois tipos: baixas pressões (hipobárica) e altas pressões (hiperbárica), as quais veremos a seguir. Cabe enfatizar que o trabalho em pressões anormais é considerado especial pela legislação previdenciária (OLIVEIRA, 2017), bem como fatores de riscos do meio ambiente do trabalho, conforme Tabela 23 da Nota de Documentação Evolutiva - NDE nº 01/2018 - Anexo II, sob os códigos 01.01.019 - Pressão Hiperbárica e 01.01.020 - Pressão Hipobárica. As pressões anormais são classificadas em dois tipos: baixas pressões (hipobárica) e altas pressões (hiperbárica). 11 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 2.1 BAIXAS PRESSÕES OU PRESSÕES HIPOBÁRICAS As baixas pressões ou pressões hipobáricas são aquelas que se situam abaixo da pressão atmosférica normal (a pressão atmosférica média no nível do mar mede 760 mm Hg ou 1 ATM), sendo que as atividades realizadas em condição hipobárica são aquelas desenvolvidas em grandes altitudes. Assim, quanto mais elevada a altitude, menor será a pressão barométrica e, consequentemente, menor será a pressão parcial de oxigênio (PO2) e dos demais gases (SCALDELAI et al., 2012). Contudo, cabe frisar que não importa a altitude, o percentual de O2 presente no ar segue inalterado, sendo que as únicas alterações são nos valores das pressões parciais. Como exemplos de trabalhadores que atuam em ambiente disbárico (pressão atmosférica menor) temos os astronautas, os aeronautas (piloto, copiloto, comissário de bordo), os paraquedistas, os alpinistas, os montanhistas, as pessoas que trabalham em regiões naturalmente altas, entre outros. Como o organismo humano reage a essa pressão hipobárica? O ar atmosférico é uma mistura de diferentes gases, formado essencialmente por nitrogênio (78%), oxigênio (21%) e outros gases (1%), e quando estamos expostos a elevadas altitudes, há uma redução da pressão parcial de oxigênio no organismo (sangue e tecidos corporais), denominada de hipóxia, que, de modo geral, pode acarretar alterações fisiológicas e cerebrais no ser humano. Assim, o corpo humano, ao ser submetido à exposição a uma altitude elevada, fisiologicamente precisa desencadear uma série de modificações e ajustes que vão desde o sistema cardiovascular até o músculo esquelético, passando pelos sistemas endócrino e imunológico, até chegar ao cérebro, a fim de adaptar-se a essa condição hipobárica. Com a diminuição da pressão atmosférica, o ar se torna rarefeito e, consequentemente, há menos oxigênio disponível para ser respirado e entrar nos pulmões, fazendo com que a hemoglobina não consiga transportar o oxigênio em quantidade suficiente para que as funções fisiológicas corporais se mantenham em equilíbrio. Neste sentido, a atividade laboral em altitude faz com que ocorra perda de água corporal, o que aumenta a viscosidade sanguínea, decaindo o volume de ejeção e fazendo com que haja um aumento da frequência cardíaca para sanar momentaneamente essa queda de volume. As baixas pressões ou pressões hipobáricas são aquelas que se situam abaixo da pressão atmosférica normal (a pressão atmosférica média no nível do mar mede 760 mm Hg ou 1 ATM), sendo que as atividades realizadas em condição hipobárica são aquelas desenvolvidas em grandes altitudes. 12 Higiene do Trabalho II À medida que ocorrem mudanças na fisiologia do nosso organismo devido às condições hipobáricas, surgem efeitos fisiopatológicos que podem ir desde uma simples fadiga mental e muscular, mal-estar, cefaleia, respiração ofegante, prurido, sonolência, desorientação, até uma hemorragia retiniana, hipóxia hipobárica, podendo evoluir para um edema pulmonar e/ou edema cerebral, levando a graves complicações e, muitas vezes, ao óbito. Portanto, grandes altitudes suscitam uma instabilidade da homeostase corporal, necessitando que o organismo se ajuste às mudanças fisiológicas quando exposto a elevadas altitudes por tempo prolongado, adotando medidas compensatórias, cujo processo é denominado de aclimatação. Diante dessa realidade, especificamente no que se refere aos aeronautas, estes estão inseridos em um ambiente laboral seguro e confortável (temperatura, pressão e umidade) através das cabines pressurizadas, mantendo a pressão abaixo daquela correspondente à altitude na qual a aeronave está voando, protegendo a tripulação contra o efeito da hipóxia. No entanto, e se acontecer um problema de despressurização ou descompressão? Primeiramente, é importante relatar que os efeitos causados pela despressurização dependerão da rapidez com que a descompressão ocorrerá, bem como dos fatores que ocasionaram tal evento, podendo acarretar manifestações como: saída brusca do ar dos pulmões; sintomas de aeroembolismo (formação de bolhas de nitrogênio no sangue devido à súbita diminuição da pressão atmosférica) e aerobarotraumas (traumas decorrentes da dificuldade de equalização de pressão interna no ouvido com a externa); confusão mental, entre outros. A exposição à baixa pressão barométrica faz com que haja a expansão gasosa nas cavidades corporais, denominada de aerodilatação, podendo levar à aerodontalgia (inflamação dental), disfunção da articulação temporomandibular (ATM), aerogastralgia e aerocolia (estômago e intestino grosso), barotite média e barosinusite (inflamação aguda ou crônica do ouvido médio e seios da face), perfuração timpânica e alteração no paladar. Amplie seus conhecimentos lendo o material “Fisiologia da Aviação”, disponível no site da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial: <https://www.sbma.org.br/copia-dica- de-almoco>. 13 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 Que tal vermos agora sobre trabalho sob condições hiperbáricas? 2.2 ALTAS PRESSÕES OU PRESSÕES HIPERBÁRICAS As altas pressões, também denominadas de pressões hiperbáricas, são as que se situam acima da pressão atmosférica normal,estando presentes nos ambientes abaixo do nível do mar e, de modo artificial, nos ambientes pressurizados propositalmente. Por serem consideradas uma atividade de alto risco, apresentam uma legislação específica (NR-15 - Anexo 6) a ser obedecida. Assim, o Anexo 6 da NR-15, em seu item 2.1 (VII), que trata do trabalho sob condições hiperbáricas, relata que condição hiperbárica é “qualquer condição em que a pressão ambiente seja maior que a atmosférica”, ou seja, é todo trabalho realizado em que a pressão é maior do que a do nível do mar. Conforme a Associação Brasileira de Especialistas e Trabalhadores Disbáricos (ABRAETD, 2014), fazem parte das atividades em ambientes com pressões hiperbáricas: o mergulho (pesquisa, exploração, trabalhos e reparos submarinos, construções subaquáticas, manutenção de embarcações etc.), coleta de pérolas, pesca de lagosta, tubulões pressurizados, câmaras hiperbáricas, Shields (tatuzões), plataformas de petróleo, mineração, entre outras. Quem são os que atuam em ambientes disbáricos sob pressão hiperbárica? De acordo com a literatura analisada, temos os mergulhadores (aquaviários); homens-rãs; trabalhadores em minas; profissionais que atuam em subterrâneos; escavadores; pescadores, especialmente de lagostas e ostras; trabalhadores da construção civil pesada; geólogos; metroviários; petroleiros; antropólogos; profissionais da área da saúde, especialmente os profissionais hiperbaricistas, que atuam em tratamentos com oxigenoterapia hiperbárica, em câmaras hiperbáricas multiplace (onde o atendente também entra para a realização do procedimento); entre outros. 14 Higiene do Trabalho II De modo geral, as altas pressões são encontradas em trabalhos submersos ou abaixo do nível do lençol freático, onde são utilizadas pressões elevadas para expelir a água do local, sendo que o trabalhador fica submetido a uma pressão atmosférica acima do normal, podendo, dessa forma, ocasionar danos à saúde caso não sejam levadas em consideração medidas preventivas e de segurança (SCALDELAI et al., 2012). É preciso lembrar que os trabalhadores devem estar bem preparados e treinados para executar atividades sob alta pressão, uma vez que poderão submeter-se a pressões de até 3,4 kgf/cm², a uma profundidade de até 30 metros abaixo do nível do solo (ABRAETD, 2014). Como consequências das altas pressões, podem ocorrer perfuração da membrana timpânica, quando o aumento de pressão for brusco; liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos sanguíneos e até a morte (OLIVEIRA, 2014). Além disso, nessas condições, há o risco de doenças descompressivas, tendo em vista que, sob pressão, o nitrogênio se solubiliza no organismo e quando a descompressão ocorre de forma inadequada, esse nitrogênio se transforma em bolhas, causando diversas complicações, dentre elas: pulmonares, cardíacas, ósseas e tissulares. É importante relatar que a maioria dessas doenças é tratada em câmaras hiperbáricas, com o uso do oxigênio 100% pressurizado, através da oxigenoterapia hiperbárica (ABRAETD, 2014). Já no que se refere aos profissionais hiperbaricistas, os quais não são amparados por legislação específica que os respaldem em seus direitos em Segurança e Saúde no Trabalho, as principais condições clínicas decorrentes da atividade em câmaras hiperbáricas são: barotraumas do ouvido médio; perfuração timpânica; otite barotraumática; barotrauma facial; sinusite barotraumática; labirintite; embolia traumática; artralgia hiperbárica; doença descompressiva; osteonecrose asséptica; intoxicação pelo oxigênio e/ou pelo nitrogênio; síndrome neurológica das altas pressões, demonstrando, assim, a vulnerabilidade laboral. Para saber mais sobre esse assunto, acesse o site da Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica, disponível em: <https://sbmh. com.br/>. Outro aspecto que merece destaque é que o Anexo 6 da NR-15 divide a condição hiperbárica em dois tipos: trabalhos sob ar comprimido e trabalhos submersos, definindo que ambos são passivos de recebimento de adicional 15 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 de insalubridade (grau máximo). Contudo, referente à periculosidade, a NR-16 não considera tais condições perigosas, não dando o direito ao adicional de periculosidade. Os trabalhos sob ar comprimido são definidos, pelo Anexo 6 da NR-15, como: “[...] os efetuados em ambientes onde o trabalhador é obrigado a suportar pressões maiores que a atmosférica e onde se exige cuidadosa descompressão”, sendo eles: tubulões de ar comprimido e túneis pressurizados, os quais estão muito presentes em atividades da construção civil pesada, construção de pontes, viadutos, túneis em terrenos alagadiços, barragens, portos, indústria naval, entre outros e que são considerados de alto risco, podendo deixar sequelas irreversíveis ou serem fatais. Trabalhos em túneis e escavações, que seja necessária a perfuração do solo, em um determinado momento será encontrada água e para que o trabalho se desenvolva de forma satisfatória, será utilizado o ar comprimido, através do tubulão (Figura 2), onde o trabalhador desenvolverá sua atividade dentro dele, uma vez que é injetado ar sob pressão, evitando que a água entre no local de trabalho, mantendo o ambiente seco. Portanto, é um sistema complexo, pois a pressão do tubulão deve ser mantida a fim de que não entre água, bem como para que o trabalhador não seja descomprimido de repente. FIGURA 2 – TUBULÕES DE AR COMPRIMIDO: TRABALHADORES SOFRENDO AÇÃO DO AGENTE FÍSICO PRESSÕES ANORMAIS FONTE: https://sites.google.com/site/langeotecniaefundacao/ contato/produtos. Acesso em: 20 abr. 2019. 16 Higiene do Trabalho II De acordo com o Anexo 6 da NR-15, tubulão de ar comprimido “é uma estrutura vertical que se estende abaixo da superfície da água ou solo através da qual os trabalhadores devem descer, entrando pela campânula, para uma pressão maior que a atmosférica”. Vale ressaltar que o trabalhador é comprimido dentro do tubulão e descomprimido quando termina a sua jornada de trabalho, sendo que esse processo deve ser muito bem realizado para que não tenha nenhum problema de saúde decorrente desse processo, objetivando a preservação da sua integridade física. Diante dessa situação, as atividades realizadas sob ar comprimido são consideradas insalubres de grau máximo, sendo que a NR-15 faz uma série de orientações/restrições/prescrições relacionadas a esse tipo de atividade. Dentre as prescrições, o Anexo 6 (NR-15) relata que o trabalhador não pode sofrer mais que uma compressão num período de 24 horas; não pode estar exposto à pressão superior a 3,4 kgf/cm2 durante o transcorrer do trabalho, bem como não pode exceder oito horas em pressões de trabalho de 0 a 1,0 kgf/cm2; seis horas em pressões de 1,1 a 2,5 kgf/cm2 e quatro horas em pressões de trabalho de 2,6 a 3,4 kgf/cm2. Além disso, o trabalhador deverá ter mais de 18 anos e menos de 45 anos de idade, ser submetido a exame médico pré-admissional periódico (a cada seis meses) e/ou em caso de ausência por mais de 10 dias ou afastamento por doença, ao retornar deverá ser submetido a novo exame, pelo médico do trabalho (medicina hiperbárica). Antes da jornada de trabalho deverá ser inspecionado pelo médico, não sendo permitido que trabalhadores com sinais de afecções das vias respiratórias ou outras moléstias, alcoolizados ou com sinais de ingestão de bebidas alcoólicas, desempenhem a função. Convém enfatizar que, após a descompressão, os trabalhadores são obrigados a permanecer por duas horas, no mínimo, no local de trabalho, cumprindo um período de observação médica. A NR-7 (PCMSO), no Quadro II, informa que o trabalhador que estiver em condições hiperbáricas deverá fazer radiografia de articulações coxofemorais (quadril) e escapuloumerais (ombros), sendo obrigatória por ocasião do exame admissional e anualmente. Essa obrigatoriedade ocorre tendo em vista a 17 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOSCapítulo 1 possibilidade de osteonecrose (morte de uma parte do osso decorrente da falta de irrigação sanguínea), decorrente das bolhas de nitrogênio que formam no corpo, devido ao não cumprimento do tempo de descompressão, afetando vários órgãos, inclusive os ossos, em especial as extremidades. Já o Anexo 6 da NR-15 recomenda também a radiografia do joelho desses trabalhadores. No que se refere ao trabalho submerso, de acordo com o Anexo 6 da NR- 15 (subitem 2.1 - inciso XXXII), é “qualquer trabalho realizado ou conduzido por um mergulhador em meio líquido”. O mergulhador é submetido a uma pressão atmosférica maior e é exigida uma cuidadosa descompressão, conforme as tabelas que constam no Anexo C. Considera-se mergulhador o profissional qualificado e legalmente habilitado para utilização de equipamentos de mergulho, o qual deve passar por exame médico específico (admissional e periódico), por profissional qualificado, para o exercício da atividade (NR-15 Anexo 6). Quais são as normas que regem as atividades submersas? Basicamente, são o Anexo 6 da NR-15 (que trata das atividades de mergulho e trabalhos sob ar comprimido) e a Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas (NORMAM-15), aprovada pela Portaria 09/2000. Saiba mais sobre a NORMAM-15. Acesse <https://www. marinha.mil.br/dpc/sites/www.marinha.mil.br.dpc/files/normam15. pdf> e amplie seus conhecimentos. Os Anexos A e B, do Anexo 6 da NR-15, retratam sobre os padrões psicofísicos para seleção dos candidatos e para o controle dos profissionais mergulhadores em atividade, respectivamente. Para o primeiro grupo são considerados a idade, a anamnese e o exame médico, composto por: biometria; aparelhos circulatório, respiratório, digestivo e geniturinário; oftalmo-otorrinolaringológico; exame neuropsiquiátrico; exames complementares; testes de pressão, de tolerância ao oxigênio e aptidão física. Para o segundo grupo, os critérios são os mesmos, com algumas modificações. Conforme NORMAM-15 e o Manual do Trabalho Submerso - normativa produzido pelo Grupo Técnico do Ministério do Trabalho e Emprego -, os 18 Higiene do Trabalho II mergulhadores são classificados em dois níveis: mergulhador raso: podendo operar em até 50 metros de profundidade, utilizando ar comprimido como fonte respiratória, o qual é fornecido através de equipamento autônomo ou dependente, quando interligado à superfície e não podendo exceder a quatro horas o tempo máximo submerso diário; mergulhador profundo: podendo operar em profundidades maiores de 50 metros, com habilitação para operações de mergulho que exijam a utilização de mistura respiratória artificial (MRA), composta de hélio e oxigênio (HeO2), a fim de evitar o efeito narcótico, bem como necessita de um suporte/monitorização dado pela superfície. Ainda de acordo com o Manual, há diversas classificações do mergulho. Dentre elas, quanto ao tipo de equipamento, podendo ser: a) mergulho autônomo: utilizando ar comprimido SCUBA (cilindro), ou seja, a fonte de respiração é transportada pelo mergulhador; b) mergulho dependente: a fonte respiratória está na superfície (umbilical); c) mergulho com umbilical ligado diretamente à superfície: o mergulhador está preso à superfície pela linha de vida (para mergulho até 50 metros); d) mergulho com sino aberto (sinete): campânula com a parte inferior aberta e provida de estrado; e) mergulho com sino de mergulho (fechado): campânula fechada, utilizada para transferir os mergulhadores, sob pressão, entre o local de trabalho e a câmara de descompressão de superfície. O tempo de fundo deverá ser mantido dentro dos limites de mergulho sem descompressão, definidos nas tabelas do Anexo 6. FIGURA 3 – MERGULHO COM EQUIPAMENTO AUTÔNOMO FONTE: https://www.opetroleo.com.br/soldador-subaquatico-conheca-profissao- que-tem-um-dos-maiores-salarios-do-mundo/. Acesso em: 20 abr. 2019. 19 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 FIGURA 4 – MERGULHO DEPENDENTE FONTE: https://clickpetroleoegas.com.br/profissionais-de-mergulho-sao- convocados-por-empresa-offshore/ Acesso em: 20 abr. 2019. Segundo a NORMAM-15, o mergulho profundo é dividido em mergulho de intervenção (Bounce Dive) e mergulho saturado. No mergulho de intervenção é utilizado o sino de mergulho (sino fechado) ou sinete (sino aberto), conforme pode ser visualizado nas Figuras 5 e 6. Com sino aberto, o tempo de permanência do mergulhador na água não poderá exceder a 160 minutos e com sino de mergulho, o tempo de fundo não poderá exceder 90 minutos, (até 90 metros de profundidade); 60 minutos (90 a 120 metros) e 30 minutos (120 a 130 metros de profundidade), segundo o Anexo 6 da NR-15. FIGURA 5 – EQUIPAMENTO PROFISSIONAL DO TIPO SINO FECHADO FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sino_de_mergulho. Acesso em: 20 abr. 2019. 20 Higiene do Trabalho II FIGURA 6 – EQUIPAMENTO PROFISSIONAL DO TIPO SINO ABERTO FONTE: http://www.revistastatus.com.br/2015/02/20/a- caminho-da-escuridao/. Acesso em: 20 abr. 2019. Já o mergulho saturado, conforme a NORMAM-15, emprega técnicas de saturação, nas quais o indivíduo é exposto à pressão por tempo suficiente para que o organismo atinja o limite de absorção de gás inerte, ou seja, ele é saturado de nitrogênio. Após, por meio de um sino fechado, ele é realocado para o local de trabalho, podendo trabalhar por um período maior (máximo de permanência será de 28 dias) e o espaço mínimo entre duas saturações será igual ao tempo de saturação, não podendo este período ser menor que 14 dias. O tempo total de estada sob saturação, num espaço de 12 meses consecutivos, não poderá exceder 120 dias, conforme as regras contidas no Anexo 6. Nessa perspectiva, o mergulho de saturação é uma atividade em alta profundidade, desgastante e perigosa, como a do mergulhador de plataforma submarina de exploração de petróleo, por exemplo, o qual submerge a mais de 300 metros de profundidade, com o objetivo de manipular válvulas nos oleodutos ou reparar equipamentos. Agora que já abordamos sobre os tipos de trabalho em condições hiperbáricas, vamos ver o que acontece com o organismo diante dessas atividades? Para entendermos sobre esse tema, precisamos compreender um pouco sobre a respiração. Em primeiro lugar, respiramos porque necessitamos de oxigênio para a manutenção do nosso organismo e para liberar o gás carbônico. Para que isso aconteça, a glicose circulante no sangue reage com o oxigênio respirado, liberando energia para o funcionamento corporal, sobrando, assim, o gás carbônico (eliminado pela expiração) e a água (eliminada pela urina e pelo suor). Assim, o oxigênio chega até a célula e reage com a glicose, saindo o gás carbônico obtido por essa reação, fazendo com que inspiremos oxigênio e expiremos gás carbônico. 21 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 Como vimos na condição hipobárica, quase 80% do ar que respiramos é nitrogênio, mas na respiração usamos o oxigênio. Como entender isso? O nitrogênio é um gás inerte, pois o corpo humano não o utiliza. Dessa forma, a maior parte do ar que respiramos não usamos. Aqui, é importante lembrar que a pressão atmosférica do nitrogênio na superfície é de 0,8 ATM (representando 80% de 1 ATM). Então, à medida que o trabalhador exerce suas funções num local hiperbárico, a pressão relativa do nitrogênio é maior, entrando com mais facilidade nitrogênio no corpo (do pulmão para o sangue), sendo que essa quantidade depende da pressão e do tempo de exposição sob a pressão. Portanto, quanto maior a pressão e/ou o tempo de exposição, maior será a difusão do nitrogênio no corpo e, consequentemente, esse nitrogênio com maior pressão espalhado pelo corpo gerará a doença descompressiva, assim como poderá provocar efeito narcótico. Podemos dizer que o aparelho auditivo é o mais exigido do corpo devido às condições hiperbáricas, uma vez que a pressão empurra o tímpano para dentro, ocasionandootalgia (dor de ouvido). Assim, deve-se realizar a manobra de Valsalva (pressão com a boca e nariz fechado) para que entre ar pela tuba faringotimpânica, a fim de regular/igualar a pressão do ouvido médio e a do ouvido externo, fazendo com que o tímpano retorne para a posição neutra (na pressão de superfície). Em contrapartida, quando o trabalhador emerge, a pressão do ouvido interno que estava elevada quando ele estava submerso, torna-se maior do que a pressão externa, esticando o tímpano para fora, sendo que a tuba deverá fazer com que o ar saia pela garganta para que o tímpano volte a sua posição neutra. Desta forma, o mecanismo de regulagem da pressão realizado pela tuba faringotimpânica é essencial para esses trabalhadores para que não tenham problemas auditivos. Como visto anteriormente, o nitrogênio se espalha pelo corpo do trabalhador e deve ser eliminado, sendo que o indivíduo precisa ser submetido, de forma lenta, a pressões menores, para que, através da respiração, elimine gradualmente o excesso de nitrogênio, sendo esse processo denominado de descompressão. Todavia, quanto maior a quantidade de nitrogênio no corpo, maior será o tempo de descompressão, conforme as Tabelas disponibilizadas no Anexo 6. Lembrando que o processo de descompressão serve tanto para o trabalhador sob ar comprimido como para o que está submerso. Assim, os riscos das atividades realizadas sob condições hiperbáricas estão relacionados com o momento de compressão e descompressão do trabalhador. Logo, o trabalhador precisa ser pressurizado e despressurizado gradualmente, a fim de equilibrar a pressão dos gases contidos no corpo com o ambiente externo, pois se a descompressão for de forma abrupta, gerará 22 Higiene do Trabalho II sintomas, causará dores abdominais, dentárias e nas articulações, rupturas dos alvéolos, funcionamento cerebral anormal, paralisia (caso a expansão dos gases atingir o sistema nervoso central), embolia gasosa, entre outros, inclusive levando ao óbito. Para entender melhor sobre a atividade de mergulho, assista ao vídeo Pesca da Lagosta Nordeste do Brasil. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?time_continue=19&v=e-cLS-SI5_s>. É oportuno frisar que o Anexo 6 da NR-15, em seu Anexo C, estabelece parâmetros para a descompressão como medidas de controle através das tabelas, as quais apresentam os mais diversos períodos de trabalho em função da pressão (trabalhos sob ar comprimido) e em função da profundidade e do tempo (trabalhos submersos), bem como padrões psicofísicos que recomendam a forma de tratamento para doença descompressiva e embolia gasosa. Também é necessário esclarecer que, de acordo com o Anexo II da NDE nº 01/2018, Tabela 28, os trabalhos em caixões ou câmaras hiperbáricas (cód. 09.009); trabalhos em tubulões ou túneis sob ar comprimido (cód. 09.010); operações de mergulho com o uso de escafandros ou outros equipamentos (cód. 09.011); atividades sob ar comprimido (cód. 10.005) e submersas (cód. 10.006) são consideradas atividades especiais por exposição aos agentes físicos. Além disso, essas atividades são passíveis de aposentaria especial (PPP e LTCAT), conforme Decreto 3048/99 em seu Anexo IV (cód. 2.0.5). Diante dessas considerações, segue um quadro com as doenças relacionadas ao trabalho sob ar comprimido, do Ministério da Saúde, através da Portaria nº 1339/GM de 18 de novembro de 1999. QUADRO 1 – DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO: AR COMPRIMIDO • Otite média não supurativa (H65.9). • Perfuração da membrana do tímpano (H72 ou S09.2). • Labirintite (H83.0). • Otalgia e secreção auditiva (H92-). • Outros transtornos especificados do ouvido (H93.8). 23 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 • Osteonecrose no “Mal dos Caixões” (M90.3). • Otite barotraumática (T70.0). • Sinusite barotraumática (IT70.1). • “Mal dos Caixões” (Doença da Descompressão) (T70.4). • Síndrome devido ao deslocamento de ar de uma explosão (T70.8). FONTE: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1999/ prt1339_18_11_1999.html. Acesso em: 19 ago. 2019. Como podemos constatar, a lista oficial brasileira de doenças relacionadas ao trabalho sob ar comprimido (condições hiperbáricas) refere-se a muitas doenças relacionadas ao ouvido, já que é o órgão mais afetado, justificando o item 1.3.7, do Anexo 6 da NR-15, que relata que trabalhadores com afecções nas vias respiratórias ou outras moléstias (gripe, sinusite) não deverão trabalhar em condições hiperbáricas, devendo ser examinados pelo médico antes da jornada de trabalho, a fim de detectar tais problemas. Essa lista também apresenta a labirintite, a sinusite e o “mal dos caixões” (osteonecrose e doença da descompressão). É oportuno frisar que a doença da descompressão pode afetar o cérebro e a medula espinhal, uma vez que as bolhas de nitrogênio podem se expandir até a medula, provocando paralisia dos membros inferiores, como pôde-se comprovar com os casos dos pescadores de lagostas ou provocar lesões cerebrais, como convulsões, AVC (derrame) e até levar ao óbito, como exemplificado no vídeo indicado para assistir. Existem, contudo, para as atividades realizadas sob condições hiperbáricas, as câmaras hiperbáricas de recompressão e terapêuticas, que têm como finalidade a descompressão e o tratamento de doenças descompressivas, respectivamente. Para as atividades submersas, os mergulhadores devem permanecer dentro da câmara hiperbárica por algumas horas antes de realizar sua tarefa, objetivando a adaptação a essas condições. Já as câmaras de superfície servem para a descompressão dos trabalhadores, seja em decorrência da atividade exercida ou para tratamento hiperbárico e há, ainda, as câmaras terapêuticas, as quais são utilizadas exclusivamente para o tratamento hiperbárico (oxigenoterapia hiperbárica), sendo imprescindível nos casos de doenças descompressivas em mergulhadores, operários dos tubulões pressurizados e de outros profissionais que trabalham em ambientes hiperbáricos, uma vez que a pressão e o oxigênio são a única maneira que se tem para eliminar as bolhas de nitrogênio. Tal atividade envolve profissionais da saúde e de áreas multidisciplinares, já mencionados no 24 Higiene do Trabalho II início dessa seção, quando apresentamos as principais patologias ocasionadas em profissionais hiperbaricistas. Agora, vamos ver como são realizadas as medidas de proteção coletiva para as condições hiperbáricas? Conforme a literatura, pode-se atuar na fonte, modificando-a, ou seja, automatizar os processos de grandes riscos, como túneis de metrôs com o uso do Shield (tatuzão) ou um robô que realize trabalhos submersos a grandes profundidades, isto é, sem a presença de um ser humano. Outra forma é a manutenção preventiva dos equipamentos, os quais devem estar em perfeito funcionamento, a fim de evitar qualquer risco ao trabalhador, sendo que a NR aponta diversos testes que devem ser realizados, com item específico para a manutenção dos equipamentos. O treinamento diário é uma das principais ações, pois é fundamental que o trabalhador entenda o risco que ele está sendo submetido ao desempenhar sua tarefa e suas possíveis consequências. Você sabia que pesquisas demonstram que os trabalhadores de tubulões pressurizados possuem pouco conhecimento sobre as normas que regem suas atividades? Você concorda? Um artigo que corrobora com isso é “Avaliação do conhecimento das normas de segurança no trabalho por trabalhadores em tubulões pressurizados”, que está disponível em: <http://www.rbmt.org.br/details/62/en-US/ avaliacao-do-conhecimento-das-normas-de-seguranca-no-trabalho- por-trabalhadores-em-tubuloes-pressurizados>. É importante lembrar que o Anexo 6 traz uma série de itens que o trabalhador deve seguir antes de realizar a tarefa sob condições hiperbáricas (planejamento, preparação, execução). Relativo aos equipamentos de proteção individual (EPIs), especificamente para os mergulhadores, temosos controladores de pressão, tempo e profundidade; computadores de mergulho (que controlam profundidade, pressão, realizam cálculos de descompressão etc., ou seja, substituindo as tabelas do Anexo 6); tanques de ar e ares com misturas adequadas com equipamentos que realmente irão protegê-lo da condição hiperbárica. Para concluir, no que se refere às medidas de controle relativas ao 25 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 trabalhador em condições de pressões anormais, o quadro a seguir apresenta um resumo destas. QUADRO 2 – MEDIDAS DE CONTROLE EM CONDIÇÕES DE PRESSÕES ANORMAIS FONTE: A autora Consulte a NR-15, Anexo 6 “Trabalho sob condições hiperbáricas” e revise com detalhes os cuidados a serem tomados em condições hiperbáricas. Disponível em: <http://www.guiatrabalhista. com.br/legislacao/nr/nr15_anexoVI.htm>. Assim, chegamos ao final dessa seção, onde vimos sobre as pressões anormais (condições hipobáricas e hiperbáricas), bem como sobre as patologias laborais causadas por elas, as normas vigentes e as medidas de controle aplicáveis. Agora, convidamos você a testar os conhecimentos adquiridos. 26 Higiene do Trabalho II 1 Todo local de trabalho apresenta uma pressão atmosférica, que é denominada de pressão normal. Entretanto, existem profissões ou ocupações que exigem que o trabalhador esteja em pressões diferentes da normal, as quais são denominadas de pressões anormais, que podem ser hipobáricas ou hiperbáricas. Sobre o assunto, classifique as sentenças em “V” para as verdadeiras e “F” para as falsas: ( ) As pressões anormais podem se dar em condições hipobáricas (pressões menores que a pressão atmosférica) ou hiperbáricas (pressões maiores que a pressão atmosférica), sendo a segunda a mais comum. ( ) Como medida preventiva, no que se refere às atividades em condições hiperbáricas, podemos citar o cumprimento ao Anexo 6 da NR-15, observando, unicamente, as tabelas de descompressão para o pessoal envolvido na atividade submersa. ( ) Quando os trabalhadores estão expostos a uma pressão acima da atmosférica normal, como em tubulões a ar comprimido, esses devem receber insalubridade de grau máximo. ( ) É exigida cuidadosa compressão e descompressão, de acordo com as tabelas do Anexo 5 da NR-15, sendo que antes de cada jornada de trabalho, os trabalhadores deverão ser inspecionados pelo médico, bem como o trabalhador não poderá sofrer mais de uma compressão num período de 48 horas. ( ) Nas atividades laborais em grandes altitudes, como no caso dos aeronautas, à medida que se ganha altura sobre o nível do mar, a pressão total do ar ambiental e a concentração de oxigênio diminuem gradualmente. ( ) Visando monitorar os trabalhadores expostos às pressões anormais (condições hiperbáricas, nas avaliações periódicas de saúde, deve ser solicitado pelo médico do trabalho radiografia das articulações coxofemorais e escapuloumerais como exame complementar, de acordo com o que preceitua a NR-7, Quadro II. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: ( ) V – V – V – F – V – V. ( ) F – F – V – F – F – V. ( ) V – F – V – F – V – V. ( ) F – V – F – V – V – F. 27 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 3 UMIDADE Agora, discutiremos sobre o agente físico umidade, considerando os aspectos técnicos relativos à segurança, à higiene e à saúde no trabalho, objetivando a preservação da saúde do trabalhador exposto a essa condição. Como já vimos na introdução dos agentes físicos, a umidade não faz parte da NR-9 (última atualização em 2017), mas está contemplada na NR-15 e em diversas fontes bibliográficas, sendo considerada um risco físico pela Portaria nº 25/1994, do Ministério do Trabalho e Emprego. Quando falamos em umidade, o que vem logo em mente? A maioria das pessoas associa a umidade com a quantidade de vapor de água que está presente na atmosfera, configurando se o ar está seco ou úmido, ou seja, a umidade relativa do ar. No entanto, a umidade, no âmbito laboral, também está relacionada às atividades desempenhadas em locais encharcados ou alagados, com excessiva umidade, o que pode trazer consequências à saúde do trabalhador, como veremos a seguir. Há de se considerar que a umidade pode ser benéfica ou maléfica para o organismo, pois dependerá de como ela está presente no ambiente laboral, ou seja, se em maior ou menor quantidade, bem como de que forma o trabalhador está exposto a ela. Portanto, aqui abordaremos sobre o excesso de umidade no ambiente laboral e quem são os trabalhadores expostos. 3.1 ENTENDENDO A UMIDADE Para a NR-15, a umidade está relacionada a um local molhado, encharcado ou alagado. O que esses termos significam? 28 Higiene do Trabalho II De acordo com o Dicionário On-line de Português: Encharcado: que está envolto por charco; imerso em água parada, suja e lodacenta. Ensopado; que possui excesso de água. Alagado: que está envolto por água em excesso; inundado. FONTE: https://www.dicio.com.br. Acesso em: 6 maio 2019. Assim, o Anexo 10 da NR-15, que aborda sobre umidade, define que as atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcados, com umidade excessiva, capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores, serão consideradas insalubres em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. Em suma, o Anexo 10 relata que atividades desempenhadas em locais com excessiva umidade são caracterizadas como insalubres, uma vez que podem provocar danos à saúde do trabalhador, ou seja, que tem risco para a saúde (nocividade), conforme pode ser corroborado com a NR-9 - PPRA (Item 9.1.5). Portanto, a nocividade tem a ver com a intensidade do agente (o quanto o trabalhador está molhado) e com o tempo de exposição (por quanto tempo ele está molhado). Quem são os trabalhadores que estão expostos a esse agente? Ao considerarmos o Anexo 10 da NR-15, podemos dizer que são trabalhadores que executam atividades ou operações em locais alagados ou encharcados, a exemplo de: rios; riachos; açudes; lagoas; represas; poços subterrâneos; tanques e regiões pantanosas (limpadores de riachos/esgotos; atividades de pesca, aquicultura); entre outros, conforme podemos visualizar na Figura 7. Trabalhadores que desempenham atividades em lavanderias, lavação de veículos, frigoríficos, cozinhas, limpeza em geral (predial, urbana), atividade a céu aberto (sujeito às intempéries), mineração, construção civil (escavação) etc., também estão expostos a esse agente. 29 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 FIGURA 7 – EXEMPLOS DE TRABALHADORES EM LOCAIS COM O AGENTE UMIDADE FONTE: http://www.cmedicinaocupacional.com.br/site/novidades/ comentando-o-anexo-10-da-nr-15-umidade/. Acesso em: 6 maio 2019. Convém ressaltar que a base legal para o risco físico umidade está contemplada na Lei 6.514/1977 (CLT), no Artigo 200 (Das Outras Medidas Especiais de Proteção): V - “proteção contra insolação, calor, frio, umidade e ventos, sobretudo no trabalho a céu aberto, com provisão, quanto a este, de água potável, alojamento profilaxia de endemias”, bem como o seu adicional de insalubridade consta nos Artigos 189 e 190 da CLT. A NR-21 - Trabalho a Céu Aberto, no item 21.2, relata que “serão exigidas medidas especiais que protejam os trabalhadores contra a insolação excessiva, o calor, o frio, a umidade e os ventos inconvenientes”. Assim como a CLT, a NR-21 também está preocupada com a proteção do trabalhador frente ao risco umidade. Um fato que merece atenção é sobre a diferença entre agente de insalubridade e adicional de insalubridade, pois trabalhadores expostos à chuva ou um lavador de pratos de um restaurante, por exemplo, estão expostos à umidade, mas não são contemplados com o adicional de insalubridade. Todavia, independente se o trabalhador faz jus ou não ao adicional de insalubridade, deve-se considerar que a umidade pode ser umagente agressor à saúde do trabalhador. Portanto, a meta primordial é a proteção da saúde do trabalhador, com o devido fornecimento do equipamento adequado para a realização da atividade laboral, a fim de que não venha sofrer consequências, acarretando danos a sua saúde, e não o adicional de insalubridade em si. No Decreto nº 611/1992, o qual, na época, validou o Anexo do Decreto nº 53.831/1964, a umidade permaneceu como condição especial de trabalho até 5 de março de 1997. Entretanto, o Decreto nº 2.172, de 6 de março de 1997, exclui o agente umidade para fins de enquadramento de tempo especial, de acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (2017). Um fato que merece atenção é sobre a diferença entre agente de insalubridade e adicional de insalubridade, pois trabalhadores expostos à chuva ou um lavador de pratos de um restaurante, por exemplo, estão expostos à umidade, mas não são contemplados com o adicional de insalubridade. 30 Higiene do Trabalho II Conforme o Anexo II da NDE nº 01/2018, as atividades executadas em locais alagados ou encharcados, com umidade excessiva (cód. 10.009) são consideradas atividades especiais por exposição a agentes físicos e o Anexo 10 da NR considera uma atividade insalubre de grau médio (20% do salário mínimo), sendo que a eliminação ou neutralização da insalubridade determinará a cessação do pagamento do adicional. A NR-16 não considera a umidade como um agente perigoso. É importante destacar que a ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) e outros órgãos internacionais, como NIOSH (National Institute of Occupational Safety and Health) e OSHA (Occupational Safety and Health Administration) não estabelecem limites de tolerância para o agente umidade, bem como não consideram a umidade como um agente em higiene ambiental de forma isolada e que precisa ser tratado especificamente, ou seja, diferentemente da legislação brasileira, onde a umidade está prevista na NR-15, mais precisamente no Anexo 10, como agente insalubre, tendo como principal característica a produção de danos à saúde do trabalhador (intensidade e tempo de exposição a esse agente), a qual acarretará consequências ao trabalhador, sendo essa análise qualitativa, pois depende da percepção visual. Dessa maneira, embora tenhamos uma legislação específica para o adicional de insalubridade frente ao risco umidade, não há uma regra clara, ocasionando controvérsias, uma vez que o Anexo 10 é abreviado, trazendo pouca informação a respeito da exposição. Ao analisarmos a lista de doenças relacionadas ao trabalho do Ministério da Saúde (Portaria nº 1.339/1999), o item 27 aborda sobre os agentes físicos, químicos ou biológicos que afetam a pele, mas não apresenta a umidade como um agente físico, bem como não consta nenhuma doença relacionada à umidade nessa listagem. No entanto, a umidade excessiva danifica a pele, o que facilita a ação de agentes biológicos, como bactérias, fungos, entre outros, ocasionando micoses. Assim, geralmente, a umidade está associada a outros agentes ambientais, como o calor, o frio e os riscos biológicos. Em consequência disso, as doenças ocupacionais relacionadas à umidade se encontram na lista do Ministério da Saúde relativa aos agentes/ riscos biológicos (do Grupo II da Classificação de Schilling), onde constam a Dermatofitose (infecções micóticas que afetam a superfície epidérmica, devido a fungos dermatófitos) e Outras Micoses Superficiais, devido a trabalhos em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, piscinas e ginásios). A ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) e outros órgãos internacionais, como NIOSH (National Institute of Occupational Safety and Health) e OSHA (Occupational Safety and Health Administration) não estabelecem limites de tolerância para o agente umidade, bem como não consideram a umidade como um agente em higiene ambiental de forma isolada e que precisa ser tratado especificamente 31 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 Também é oportuno relatar que órgãos, como OSHA, NIOSH, International Labour Organization (ILO) e European Agency for Safety and Health at Work reconhecem a umidade associada ao frio, o que pode ocasionar o pé de emersão, degradando os tecidos do pé devido a uma exposição prolongada em ambiente úmido ou molhado e com temperatura acima do ponto de congelamento (10 a 15 ºC). Não se pode deixar de mencionar que, além da questão umidade e dos agentes micóticos, a água também serve de contaminante para esses trabalhadores, uma vez que pode estar poluída, causando doenças por bactérias (leptospirose, cólera etc.), por vírus (rotavírus, hepatite etc.) e por parasitas (esquistossomose, giárdia etc.). Tendo em vista que as atividades as quais o trabalhador é exposto ao agente umidade são diversas, como vimos anteriormente, no que se refere às medidas de proteção coletiva, estas também são variadas, podendo ser através de estudo de modificação no processo de trabalho; automação de processos de risco; isolamento de processos; revezamento com diminuição do tempo de exposição; treinamento; instalações sanitárias adequadas para secagem e troca de vestimenta; abrigo contra as intempéries; colocação de ralos para escoamento da água, estrado de madeira, entre outras medidas. Já no que se refere à proteção individual (EPI), esta é essencial, haja vista as controvérsias com relação aos geradores do adicional de insalubridade e à proteção do trabalhador, que é o fator primordial. Em função disso, o uso de vestimentas impermeáveis é imprescindível (macacão e capa), sem desconsiderar o calor e o suor, fazendo revezamento e pausa. Além do uso de avental, botas e luvas de PVC e perneiras. Considerando a NR-7, não existem exames específicos que detectem se o trabalhador está exposto ao excesso de umidade, sendo que o médico do trabalho deverá enfatizar o exame médico para as lesões específicas das doenças relacionadas à umidade excessiva, especialmente para as patologias dermatológicas, bem como estar atento aos sinais e sintomas relatados pelos trabalhadores. Pessoas com doenças dermatológicas, alérgicas e com doenças circulatórias periféricas devem ser restringidas a exercerem funções sob essas condições, pois há a tendência de aumentar esses riscos. Essa NR também enfatiza a importância das palestras educativas aos trabalhadores, os quais devem conhecer os efeitos da umidade excessiva, as patologias geradas, bem como a identificação dos primeiros sinais e sintomas, a fim de buscar atendimento médico imediato. Órgãos, como OSHA, NIOSH, International Labour Organization (ILO) e European Agency for Safety and Health at Work reconhecem a umidade associada ao frio. Considerando a NR-7, não existem exames específicos que detectem se o trabalhador está exposto ao excesso de umidade. 32 Higiene do Trabalho II Desta forma, finalizamos a seção, na qual vimos os efeitos da umidade excessiva no organismo, as normas aplicáveis à exposição ocupacional e as medidas de controle. Atividades exercidas ou operações executadas em locais com excessiva umidade, ou seja, em locais encharcados ou alagados, podem acarretar danos à saúde do trabalhador, devendo, desta forma, ter uma atenção especial por parte dos profissionais prevencionistas, a fim de implantar medidas de proteção.Com base no tema umidade excessiva no ambiente laboral, responda: 1 Complete as lacunas a seguir: a) As atividades laborais desempenhadas em locais com _______________ (pouca/excessiva) umidade são caracterizadas como ______________ (insalubres/salubres), uma vez que podem provocar _____________ (danos/benefícios) à saúde do trabalhador. b) As atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcados estão amparadas pelo Anexo ___________ (10/9) da ___________ (NR-13/NR-15), considerandoatividade insalubre de grau __________ (médio/máximo). c) No _____________ (PCMSO/PPRA) em seu Quadro II não consta o risco umidade, mas o ______________ (clínico/ médico do trabalho) deve enfatizar as lesões _______________ (oculares/dermatológicas). 2 Relacione as colunas de acordo com o controle da exposição do trabalhador exposto à umidade excessiva no que se refere às medidas de proteção: I- EPI. II- EPC. ( ) Colocação de estrado de madeira. ( ) Uso de avental de borracha. ( ) Macacão impermeável. ( ) Capacitação e treinamento. 33 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: ( ) II – I – I – II. ( ) I – I – II – II. ( ) II – I – II – I. ( ) I – II – II – I. 4 INTRODUÇÃO À RadiaçÃO E ÀS RADIAÇões IONIZANTES Agora, abordaremos sobre as radiações do tipo ionizante, sua conceituação; ocorrência; efeitos das exposições; limites de tolerância; medidas de controle e medidas preventivas, além de apresentar as Normas Regulamentadoras vigentes, a fim de proporcionar conhecimento sobre sua aplicação, uso e riscos. Antes de adentrarmos no assunto específico sobre as radiações ionizantes, faremos uma breve revisão sobre radiação. 4.1 INTRODUÇÃO À RADIAÇÃO Com certeza você já ouviu falar muito em radiação! Já parou para pensar o que é radiação? Muitos associam a radioatividade fazendo analogia aos acontecimentos como o de Fukushima, Chernobyl, Hiroshima e Nagasaki ou a catástrofe nuclear brasileira com o césio-137 em Goiânia. Entretanto, é certo que estamos expostos a ela a todo momento, sem nem mesmo estarmos conscientes disso, seja no dia a dia ou no ambiente laboral, ou seja, a radiação existe em todo lugar, através dos raios cósmicos, da radiação terrestre (radônio), da incorporação de radioisótopos (alimentos) ou nas exposições ambientais específicas. A principal radiação e a mais abundante é a luz solar, ou seja, a luz branca, que varia do vermelho ao violeta, compondo a luz visível. É importante lembrarmos que o olho humano somente consegue captar radiações de certas frequências, que vai do vermelho (frequência mais baixa e 34 Higiene do Trabalho II comprimento de onda maior) até o violeta (frequência mais alta e comprimento de onda menor), conforme pode ser visualizado na Figura 8. Portanto, a radiação que vemos se encontra dentro desta estreita fração do espectro eletromagnético (espectro visível), sendo que acima da frequência do violeta existem outras radiações, como a radiação ultravioleta, e abaixo da frequência do vermelho existe a radiação infravermelha, por exemplo, as quais não são visíveis ao olho humano e que serão vistas detalhadamente adiante. FIGURA 8 – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Espectro_vis%C3%ADvel. Acesso em: 19 ago. 2019. Veja que, na figura, o espectro eletromagnético é o intervalo de todas as possíveis frequências (Hz) e comprimentos de onda (m) da radiação eletromagnética, ou seja, ele se estende desde as ondas de alta frequência até as de mais baixa frequência e, em contrapartida, o comprimento de onda se estende da menor para a maior. Convém ressaltar que todas as radiações que veremos durante a nossa disciplina serão comparadas às faixas visíveis, isto é, do vermelho ao violeta, pois as faixas acima do violeta e abaixo do vermelho são as mais nocivas aos trabalhadores, como veremos mais adiante. Na literatura, podemos constatar diversas definições e classificações sobre radiação. Antes disso, que tal iniciarmos com um pouco da história? Muito antes que a vida surgisse, os materiais radioativos e suas radioatividades já existiam na Terra, mas foi somente no final do século XIX que noções sobre radiação foram abordadas. A Figura 9 ilustra um breve panorama histórico dos precursores da ciência da radiação. 35 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 FIGURA 9 – PIONEIROS DA CIÊNCIA DA RADIAÇÃO FONTE: A autora Como podemos constatar na figura, os raios X foram descobertos em 1895, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen, rendendo-lhe, em 1901, o primeiro Prêmio Nobel de Física, tendo em vista um grande avanço para a medicina. Em 1896, Henri Becquerel, cientista francês, descobriu, acidentalmente, o fenômeno da radioatividade, após colocar alguns filmes fotográficos em uma gaveta junto a fragmentos de um mineral que continha urânio. Em seguida, a química Marie Sklodowska Curie deu continuidade à pesquisa sobre radioatividade, tornando- se a primeira a usar esse termo e, em 1898, junto a seu marido, Pierre Curie, identificaram que à medida que o urânio liberava radiação, este transformava- se em outros elementos, os quais denominaram de polônio e de radium (rádio), recebendo o Prêmio Nobel de Física, em 1903, juntamente a Becquerel. Em 1911, ela recebeu outro Prêmio Nobel por descobertas na química da radiação. No início do século XX, em 1903, Ernest Rutherford formulou hipóteses sobre as emissões radioativas, após profundos estudos, formulando o primeiro modelo atômico criado. Até hoje permanecem suas características (ANDREUCCI, 2013). Outro fato histórico que merece destaque é que em 1928, durante o 2º Congresso Internacional de Radiologia, em Estocolmo, foi estabelecido o Comitê Internacional de Proteção aos Raios X e ao Rádio e que durante a 2ª Guerra Mundial foi reestruturado e renomeado como Comissão Internacional em Proteção Radiológica (International Commission on Radiological Protection - ICRP). Neste momento, você deve estar se perguntando: e qual é a definição de radiação? Como dissemos no início, temos diversas definições e a que apresentamos é a de Saliba (2015, p. 131): Radiação pode ser definida como “ondas eletromagnéticas vibratórias que se trasladam no espaço acompanhadas por um campo magnético vibratório, com as características de um movimento ondulatório”. Assim, as radiações se movimentam no espaço em forma de ondas, dependem Radiação pode ser definida como “ondas eletromagnéticas vibratórias que se trasladam no espaço acompanhadas por um campo magnético vibratório, com as características de um movimento ondulatório”. 36 Higiene do Trabalho II do comprimento e da frequência da sua onda eletromagnética e “viajam” na velocidade da luz. As radiações são categorizadas em dois tipos de fontes: naturais e artificiais, as quais são capazes de realizar ionização em moléculas ou átomos. As radiações de fontes naturais, as quais estão presentes no ambiente e não há maneira de evitar a sua exposição, são responsáveis pela maior parte das exposições humanas. Dentre elas, temos as fontes terrestres (solo; gás radônio - que é a principal fonte de exposição à radiação em todos os tipos de minas subterrâneas), fontes em alimentos e bebidas (radionuclídeos) e os raios cósmicos, que são a maior fonte natural de exposição externa à radiação e, portanto, é pertinente remetermos à altitude, pois o nível de exposição aumenta e, consequentemente, afeta os trabalhadores da aviação e astronautas, por exemplo. Você sabia que pessoas que vivem ao nível do mar recebem, em média, uma dose efetiva anual de cerca de 0,3 mSv proveniente de fontes cósmicas de radiação ou, grosseiramente, 10 - 15% de sua dose total proveniente de fontes naturais? (UNEP, 2016). Profissionais da saúde envolvidos nas áreas de radiações de fontes artificiais recebem uma dose efetiva anual média de cerca de 0,5 mSv (UNEP, 2016). Já no que se refere às radiações de fontes artificiais, o uso da energia do átomo para diversas finalidades, pelos cientistas, aumentou muito nos últimos anos, sendo as aplicações médicas as mais prevalentes, seguidas das fontes ocupacionais (aplicações industriais; indústrias/usinas nucleares). A Figura 10 apresenta uma estimativa de dose anual que uma pessoa recebe por ano, demonstrando que, em média, a dose anual proveniente de fontes naturais é 2,4 mSv,sendo que 2/3 desse valor provêm de substâncias radioativas do ar que respiramos, dos alimentos que comemos e da água que bebemos. Já no que se refere às fontes artificiais, em média, recebemos 0,65 mSv (UNEP, 2016). 37 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 FIGURA 10 – EXPOSIÇÕES MÉDIAS DO PÚBLICO POR FONTES DE RADIAÇÃO* *ESTIMATIVA DE DOSE EFETIVA PARA UMA PESSOA EM UM ANO (MÉDIA MUNDIAL) FONTE: http://www.ird.gov.br/index.php/publicacoes/download/35- publicacoes/109-publicacao-das-nacoes-unidas-sobre-efeitos- da-radiacao-e-fontes. Acesso em: 14 maio 2019. As radiações estão divididas em dois grupos: a corpuscular ou de partícula e a eletromagnética, sendo que o esquema a seguir auxilia a entender melhor o que é a radiação. FIGURA 11 – CLASSIFICAÇÃO DA RADIAÇÃO FONTE: A autora 38 Higiene do Trabalho II Conforme a figura, a radiação, de forma bem concisa, é uma forma de energia, podendo estar dividida em radiação corpuscular e radiação eletromagnética. A radiação corpuscular ou de partícula é formada por um feixe de partículas, compostos por elétrons, prótons, nêutrons, partículas alfa, entre outras; enquanto que a radiação eletromagnética é uma forma de energia que se propaga através de ondas com a combinação de campos elétricos e magnéticos oscilantes, viajando no vácuo ou no ar, na mesma velocidade que a luz. As radiações eletromagnéticas podem ser descritas como ionizantes e não ionizantes, dependendo da quantidade de energia e segundo o resultado de sua interação com a matéria, sendo denominada de ionizante “quando a radiação é superior à energia de ligação dos elétrons de um átomo com o seu núcleo, suficiente para arrancar elétrons de seus orbitais e de não ionizante, quando isso não ocorre” (INSS, 2017, p. 98). Saliba (2015) informa que a diferença entre as duas é que a quantidade de energia da radiação não ionizante é insuficiente para desalojar elétrons dos tecidos do corpo humano. De forma bem simplificada, podemos dizer que o que diferencia uma radiação ionizante de uma não ionizante é a frequência da onda, comprimento e energia irradiada. A figura a seguir nos mostra exemplos de diferentes aplicações utilizando radiação não ionizante e ionizante, bem como demonstra que a não ionizante possui um comprimento de onda eletromagnética maior e uma frequência baixa em relação à ionizante. FIGURA 12 – EXEMPLOS DE RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE E IONIZANTE FONTE: https://radioprotecaonapratica.com.br/wp-content/uploads/2017/11/ diferentes_utilizacoes_radiacao.png. Acesso em: 19 ago. 2019. 39 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 Está lembrado dos pioneiros da ciência da radiação? Devido à exposição constante e sem os devidos cuidados preventivos, que na época nem se tinha conhecimento, eles sofreram alguns efeitos. Henri Becquerel, ao colocar um frasco de rádio no bolso, teve danos na pele. Wilhelm Conrad Roentgen, em 1923, faleceu devido a um câncer no intestino e Marie Curie veio a óbito, em 1934, devido a uma doença sanguínea. Atualmente, sabe-se que a energia da radiação pode danificar o tecido vivo, causando efeitos biológicos, ou seja, danos tardios e/ou genéticos, quando atingem as fitas do ácido desoxirribonucleico (DNA), acarretando alguma mutação celular, podendo levar ao câncer. Há também os efeitos imediatos, como queimaduras na pele, infertilidade e alopecia (queda de cabelo). A quantidade de energia da radiação acumulada no tecido é denominada de dose, podendo ser expressa de diferentes formas, pois depende de quanto o corpo, ou parte do corpo, tenha sido irradiado, bem como a quantidade de pessoas expostas e a duração do tempo de exposição. Desta forma, temos a dose de exposição (X), que é a quantidade de radiação transferida para determinada massa de ar; a dose absorvida (D), expressa em uma unidade denominada gray (Gy), que é a quantidade de energia da radiação absorvida por quilograma de tecido; a dose equivalente ou dose de efeito (H), que serve para comparar doses absorvidas resultantes de diferentes tipos de radiação, é avaliada em uma unidade chamada sievert (Sv). Há também a dose efetiva, que é um indicador da probabilidade de indução de câncer e de efeitos genéticos, pois leva em conta a suscetibilidade de causar danos em diferentes tecidos e órgãos e a dose efetiva coletiva, resultante de todas as doses efetivas recebidas por cada indivíduo em uma população e é expressa em homem.sievert (homem.Sv), conforme UNEP (2016) e Pereira (2015). O UNSCEAR (United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation) avalia informações científicas sobre os efeitos da exposição à radiação em humanos e no meio ambiente, utilizando faixas de doses, empregando o termo dose alta para maior do que ~1 Gy; dose moderada para ~100 mGy a ~1 Gy; dose baixa para ~10 mGy a ~100 mGy e dose muito baixa para menor do que ~10 mGy. Para se ter ideia, uma dose maior que 50 Gy danifica o sistema nervoso central de tal forma que a morte ocorre em poucos dias. Mesmo doses menores, como uma dose de 8 Gy pode provocar diversos sinais e sintomas, como náuseas, vômitos, diarreia, salivação, sudorese, cefaleia, fadiga, apatia, letargia, entre outros. Vale ressaltar que a radiação, por ter diferentes quantidades de energia e tipos de partículas, apresenta diferentes poderes de penetração, bem como diferentes efeitos na matéria viva. Contudo, veremos mais detalhadamente sobre esse tema em outro momento. 40 Higiene do Trabalho II Convidamos você a ler o artigo “A Radiação: Má ou Boa”, publicado na Revista Internacional em Língua Portuguesa, de 2018, o qual está disponível em: <http://rilp-aulp.org/index.php/rilp/article/ view/RILP2018.34.7>. 5 RADIAÇÕES IONIZANTES Veremos agora, mais especificamente, sobre a radiação ionizante, que é definida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) como “energia capaz de interagir com a matéria, arrancando elétrons de seus átomos (ionização) e modificando as moléculas”, ou seja, essas radiações possuem um poder energético elevado, que transformam os átomos ou moléculas em íons, à medida que interagem com a matéria. São invisíveis, pois estão numa frequência de onda acima do espectro visível. Devido ao seu comprimento de onda e alta frequência são capazes de ionizar. A radiação ionizante se propaga pelo ar e também por contato direto, bem como se comporta como a luz, uma vez que emite radiações espalhadas. Há a utilização de um colimador, criando um feixe único, concentrando a radiação, como quando somos submetidos a um raio X, pois a potência maior ionizante vai para a pessoa que está sendo radiografada. Todavia, isso não significa que não há radiação no restante do ambiente e, portanto, o profissional que está realizando o exame também está exposto, só que em menor quantidade. Outra forma de propagação é através do contato direto com a fonte, como o contato direto com a gamagrafia industrial, que é uma das principais causas de acidentes com trabalhadores. O que significa ionizante? Devemos lembrar que toda matéria é constituída de átomos, os quais são compostos por prótons (carga positiva) e nêutrons (carga neutra) que estão inseridos no seu núcleo e, girando em torno desse núcleo, existem os elétrons (carga negativa), sendo que todo átomo tem carga neutra, ou seja, a mesma quantidade de prótons e elétrons. Desta forma, a ionização ocorre quando há uma alteração dessa neutralidade, passando a ter uma carga positiva ou negativa, formando um íon, expulsando o elétron da sua órbita. Outro fato importante é que a ionização não ocorre somente com as ondas eletromagnéticas, mas também com partículas nucleares, que veremos a seguir. 41 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 Cabe ressaltar que o termo nuclear ou energia nuclear é bastante conhecido, especialmente no que se refere à usina nuclear, medicina nuclear, arma nuclear e gamagrafiaindustrial. Outro ponto a discutir é sobre as fontes de radiação ionizante. Você lembra quais são elas? As fontes geradoras de radiação ionizante são: gás radônio; construções e solos; raios cósmicos, comidas e bebidas e fontes artificiais (energias nucleares, testes de armas atômicas, atividades médicas, as quais são as principais, em especial, o raio X etc.). Além disso, são fontes geradoras: atividades de operação e manutenção de reatores nucleares; atividade de operação e manutenção de aceleradores de partículas (ex.: radioterapia, tratamento de câncer ou fabricação de radiofármaco); atividades de operação com aparelhos de raio X; irradiadores de radiação gama (utilizado na radioterapia por Cobalto-60 para tratamento de câncer ou para a esterilização de material médico e de alimentos, a fim de eliminar os micróbios, entre outros); radiação beta (utilizada na medicina, especialmente para tratamento da tireoide com iodo-131) ou radiações de nêutrons (através da bomba aceleradora de nêutrons, utilizada para o tratamento de tumor da glândula parótida); atividades de medicina nuclear (aparelho de cintilografia, por exemplo) e descomissionamentos de instalações nucleares, radioativas, de minas, moinhos, usinas de tratamento de minerais radioativos. Portanto, as radiações ionizantes são assim denominadas, tendo em vista a produção de ionização nos materiais sobre os quais incidem, bem como são provenientes de materiais radioativos, como: raios alfa (α), beta (β) e gama (γ) ou através da produção artificial, como raio X (SCALDELAI et al., 2012). Vamos, agora, conhecer as principais características destas radiações? l Partículas alfa (α): são partículas que provêm da emissão do núcleo de átomos instáveis, as quais apresentam uma grande quantidade de energia em curtas distâncias, o que limita seu poder de penetração, ou seja, a radiação alfa é a combinação de dois prótons e dois nêutrons que saem do núcleo do átomo, sem que possa penetrar uma folha de papel, por exemplo (ver Figura 13). Seus efeitos na exposição humana são observados no tecido cutâneo, uma vez que essa radiação é facilmente suavizada pela camada superficial da pele. Portanto, a maior parte destas partículas não consegue atravessar a camada externa da pele. Já em casos de exposição acidental, através de ingestão ou inalação, no organismo humano, devido a sua toxidade, torna-se uma fonte de exposição interna nos órgãos e tecidos expostos (BREVIGLIERO; POSSEBON; SPINELLI, 2017). A radiação alfa é a maior e, por isso, é a menos penetrante, tornando-se perigosa se atingir os pulmões ou se for 42 Higiene do Trabalho II ingerido algum material capaz de emiti-la. Seu principal risco quanto aos elementos químicos emissores está em sua ingestão (PEREIRA, 2015). l Partículas beta (β): são partículas emitidas por núcleos de átomos instáveis, isto é, a radiação beta é um elétron que parte do núcleo atômico. É uma radiação que penetra facilmente na matéria ao ser comparada com a alfa; por isso, conseguem atravessar a pele, mas não todo o corpo, conforme pode-se visualizar na Figura 13. No que se refere aos danos biológicos, a radiação beta pode causar lesões oculares e cutâneas (SCALDELAI et al., 2012). l Radiação gama (γ): são ondas eletromagnéticas de frequência elevada e de altíssima energia, que têm origem no núcleo do átomo, com alto poder de penetração, inclusive todo o corpo humano, devido a não terem massa, devendo ser blindadas por materiais densos (chumbo, concreto e aço). É uma radiação que não pode ser percebida, uma vez que não envolve partículas. Provocam danos mais profundos no organismo humano, tendo em vista seu poder de penetração e nível de energia. Portanto, podem causar alterações genéticas, anemia, câncer e leucemia, por exemplo (SCALDELAI et al., 2012; PEREIRA, 2015). l Raio X: é uma onda eletromagnética ionizante não nuclear, pois não é produzida no núcleo do átomo e sim num equipamento, através de movimentos de elétrons, gerando uma onda eletromagnética de alta frequência, a qual é capaz de ionizar. Portanto, não é uma energia nuclear, pois não existe no aparelho de raio x um elemento radioativo. É uma radiação que atravessa o papel, o corpo humano e o aço, mas não penetra o chumbo. São utilizados na área da saúde, em aeroportos e diversas outras atividades. Assim, os raios alfa e beta oferecem menor risco, tendo em vista que produzem menor penetração no organismo, enquanto que o raio gama e os raios X são mais maléficos, uma vez que têm alto poder de penetração (SCALDELAI et al., 2012), conforme pode- se comprovar na figura a seguir. 43 AGENTES FÍSICOSAGENTES FÍSICOS Capítulo 1 FIGURA 13 – PODER DE PENETRAÇÃO DO RAIO ALFA, BETA E GAMA FONTE: http://www.eletronuclear.gov.br/Nossas-Atividades/Documents/ EIA/v01_02_caracterizacao.html. Acesso em: 2 abr. 2019. Há também os nêutrons, produzidos artificialmente e que também podem ocorrer naturalmente como componentes da radiação cósmica. Por serem partículas eletricamente neutras, eles possuem um alto poder de penetração à medida que interagem com material ou tecido. Desde a descoberta dos raios X por Röntgen e da radioatividade por Becquerel, como já mencionado, as radiações ionizantes passaram a ser amplamente utilizadas em diversas áreas e são comumente encontradas em serviços de saúde (diagnóstico e tratamento médico e diagnóstico odontológico); em indústrias (controle de processos, como medição de nível, espessura e gramatura etc.); radiografia industrial (avaliação de soldas, peças etc.); agricultura (verificar a ação de fertilizantes, ensaio sobre a alimentação do gado, marcação de insetos para eliminação de pragas); esterilização de produtos e alimentos; medição de umidade e densidade de solos; escâneres de inspeção corporal e de cargas; traçadores radioativos; transporte de materiais radioativos; prospecção de petróleo e inúmeras outras aplicações, conforme consta na literatura. Embora algumas aplicações, como na área da saúde, resultassem em benefícios para a população, com o uso indiscriminado da radiação ionizante e a falta de conhecimento sobre os riscos associados à exposição às fontes radioativas, começaram a aparecer os danos advindos dos efeitos biológicos desse tipo de radiação. O que acontece com o trabalhador que está exposto às radiações ionizantes? 44 Higiene do Trabalho II 5.1 EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES Inicialmente, considerando que todo indivíduo é constituído por sistemas, órgãos, tecidos, células e assim por diante, tudo é formado por átomo. Portanto, somos formados por átomos e moléculas. Também é importante recordar que o principal efeito provocado pela radiação ionizante é a ionização, que é a capacidade de arrancar elétrons dos átomos e, consequentemente, transformar o átomo em íon. O átomo forma uma molécula; a molécula forma uma substância e esta, por sua vez, forma uma célula, sendo que os efeitos biológicos podem acontecer em função dessa ionização ocorrida no átomo, que forma a célula. Nesse sentido, a célula é basicamente formada por membrana, citoplasma e núcleo, sendo que a radiação atua com mais intensidade no núcleo da célula, onde se encontra a molécula do DNA, que é a mais importante, não a única, na qual haverá a atuação da radiação. Dessa forma, as radiações ionizantes, por serem invisíveis, agirem de forma lenta e devido a sua alta energia, podem ser nocivas, pois favorecem reações químicas entre os átomos presentes no corpo humano, alterando a estrutura das células, causando danos aos órgãos e ao ser humano como um todo. Assim, os efeitos biológicos dessa radiação ocorrem quando a radiação translada energia para as moléculas das células dos tecidos expostos, ocorrendo em quatro etapas: efeitos físicos, químicos, biológicos e orgânicos. Há que se considerar que os efeitos biológicos das radiações dependem da dose ministrada, bem como da distribuição
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