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* Mestranda em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especializanda em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná 
(EMAP). Graduada em Direito pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA).
1 A cidade-Estado ou pólis foi o modelo das antigas cidades gregas no período datado desde a Antiguidade até o helenista. 
História da ética
Rosiane Follador Rocha Egg*
Apresentação
Falar sobre ética é lembrar os antigos ensinamentos de uma época em que o homem começou a 
conviver em sociedade e, a partir dessa experiência, passou a estabelecer normas de comportamento 
e convívio. Dessa convivência dos grupos societários surgiu a ética, cujos valores até hoje permanecem 
e vão se modificando, sendo questionados e até mesmo banalizados ou esquecidos. 
Segundo o dicionário de Língua Portuguesa, ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se 
referem à conduta humana susceptível de qualificação, do ponto de vista do bem e do mal, seja relati-
vamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto” (HOLANDA, 1999, p. 848). 
Para entender o que a ética representa nos tempos atuais, vamos começar, mesmo que sucinta-
mente, com os ensinamentos dos primeiros filósofos.
Fundamentos da ética
O significado da palavra ética vem do Grego ethos, referente ao modo de ser do indivíduo, ou ao 
caráter do ser humano. Na Grécia Antiga, período que coincide com o século IV a.C., os filósofos gregos 
foram os primeiros a pensar o conceito de ética, associando a tal palavra a ideia de moral e cidadania. 
Precisavam de honestidade, fidelidade e harmonia entre seus cidadãos, porque suas cidades-Estado1 
estavam em desenvolvimento.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Sócrates
Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores gregos mais estudados e citados no campo da ética. 
De um modo geral, afirmavam que a conduta do ser humano deveria ser pautada no equilíbrio, a fim de 
evitar a falta de ética. Pregavam a virtude, a estreiteza moral e outras atitudes voltadas para a ética.
Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C., e tornou-se um dos principais 
pensadores da Grécia Antiga. Aprendeu música e literatura, mas se dedicou à meditação e ao ensino 
filosófico. Desde jovem, Sócrates ficou conhecido pela sua coragem e pelo seu intelecto. Serviu no exér-
cito, desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Desde 
a juventude, Sócrates tinha o hábito de debater e dialogar com as pessoas de sua região. Não fundou 
uma escola de pensamento, pois preferiu realizar seu trabalho em locais públicos, principalmente nas 
praças e ginásios. Costumava agir de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas 
as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época.
Vázquez (1997, p. 231) esclarece com propriedade:
Resumindo, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente. O homem age retamente 
quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se 
dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz. 
Para Sócrates, virtude é sabedoria (sofia) e conhecimento. Já o vício é o resultado da ignorância. 
O saber fundamental é o saber a respeito do homem. Sobre essa ideia, o pensador teria dito suas frases 
mais conhecidas como: “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”.
Sócrates, devido à sua liberdade de expressão e às fortes críticas que fazia à política da Grécia, foi 
acusado de corromper os jovens da época e foi condenado a beber cicuta2. Morreu em 399 a.C.
Platão
Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C. e morreu em 347 da mesma Era. Pertencia a uma família 
rica, da mais alta aristocracia grega.
Foi discípulo e admirador de Sócrates. Platão retratou seu mestre em muitas de suas obras, segun-
do Natrielli (2003), em A República: 
Platão descreve o diálogo no qual Sócrates pesquisa a natureza da justiça e da injustiça. Para isso, transferindo a análise 
do individual ao coletivo, procura a justiça “em letras grandes”, imaginando a constituição de uma cidade ideal. À medi-
da que essa cidade vai sendo construída, desde sua forma mais primitiva até se tornar mais complexa, há a necessidade 
de uma especialização de tarefas cada vez maior. Essa cidade terá então uma classe de guardiões para defendê-la e 
estes deverão receber uma boa educação para que sejam, segundo Sócrates, “brandos para os compatriotas embora 
acerbos para os inimigos; caso contrário não terão de esperar que outros a destruam, mas eles mesmos se anteciparão 
a fazê-lo” (p. 375). Sendo assim, uma grande parte do diálogo se dedica a decidir qual seria a educação mais adequada 
para se formar homens “com uma certa natureza filosófica” que terão a função de proteger e governar essa cidade 
imaginada como perfeita e justa. 
A descoberta da metafísica3 é atribuída à Platão, cujas reflexões filosóficas culminam para o mundo 
das ideias. Segundo a Teoria das Ideias de Platão, existem dois mundos; o primeiro mundo é composto 
2 Suco que se extrai de uma planta rica em conicina, um dos venenos mais letais que existem. Era comumente usado na Grécia Antiga para 
executar condenados (HOUAISS, 2007).
3 Ciência ou o conjunto das ciências que estudam a essência das coisas, os primeiros princípios e causas do que existe (HOUAISS, 2007).
6 | História da ética
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por ideias imutáveis, eternas, invisíveis e diferentes das coisas concretas; o segundo, o mundo real, é 
constituído por réplicas das ideias (coisas sensíveis), cópias imperfeitas e mutáveis. Ao contrário do que 
se pode pensar, o mundo das Ideias, de Platão, é o lugar das coisas verdadeiras enquanto o mundo real 
é o lugar onde reinam as aparências e as sombras. Segundo esta premissa, o homem não se pode deixar 
levar pelos sentidos, que sempre lhe passam uma percepção distorcida das coisas que o rodeiam. 
A verdadeira realidade só pode ser atingida e verdadeiramente compreendida por intermédio da 
razão. Vale destacar que Platão também afirma que o bem é um molde sobre o qual deveria se processar 
toda a ação humana. Ele entendia que o elemento da vontade do homem deveria estar sempre voltado 
para o bem. 
Platão também encaminhou seus estudos para as áreas da política e da reforma social, em decor-
rência do seu envolvimento com a difícil situação de Atenas, após a Guerra do Peloponeso4. 
Ele ainda entendia que a pólis5 é o próprio terreno da vida moral e que a ética necessariamente 
desemboca na política. 
Platão reconhecia como “classes superiores” as dos governantes e guerreiros, pelas suas ati-
vidades de contemplação, guerra e política. As “classes inferiores” eram as dos artesãos – devido ao 
desprezo do pensador pelo trabalho físico – e dos escravos – considerados pela sua sociedade como 
desprovidos de virtudes morais e de direitos cívicos. A ética de Platão dava-se de acordo com as ideias 
dominantes, a partir da realidade social e política daquela época. 
Seguindo suas ideias reformistas, Platão fundou a sua escola em Atenas, que denominou Aca-
demia, um estabelecimento destinado à educação de adultos, com aulas ministradas por vários pro-
fessores. Nesse estabelecimento, as mulheres eram aceitas com os mesmos direitos à educação que 
os homens, um fato curioso que não condizia com a cultura daquele contexto, em que elas eram 
consideradas inferiores física e intelectualmente. No entanto, para as mulheres frequentarem as salas 
de aula deveriam trajar-se tal qual os homens. A Academia foi fechada após nove séculos de atividade 
pelo imperador Justiniano, por ser considerada um reduto de “paganismo” do povo grego.
Vale notar que, depois destes nove séculos, a cultura grega foi incorporada pelo Império Ro-
mano, que se dividiu em duas partes. A parte que coube ao imperador Justiniano, conhecida como 
Império Bizantino, adotou a religião cristã ortodoxacomo oficial. Justiniano, durante seu governo 
(483 a 565 d.C.), buscou unir o Oriente e o Ocidente em torno de uma só religião. Autoritário, Justi-
niano combateu e perseguiu judeus, pagãos e heréticos, ao mesmo tempo que interveio em todos 
os negócios da Igreja, a fim de mantê-la como sustentáculo e sob controle. As catedrais dos Santos 
Apóstolos e de Santa Sofia foram construídas durante seu governo, para mostrar ao povo a força da 
aliança que a Igreja tinha com o Estado. 
Para Platão, as virtudes se dividem em grupos, como consta a seguir: 
a :::: prudência ou sabedoria é a virtude da parte racional do homem, ou seja, a parte que corres-
ponde à razão; 
4 Foi um conflito armado entre Atenas (centro político do mundo Ocidental do século V a.C.) e Esparta (cidade de tradição militarista e costumes 
austeros), de 431 a 404 a.C. De acordo com Tucídides, autor que relatou esse conflito, a razão fundamental deste foi o crescimento do poder 
ateniense e o temor que o mesmo despertava entre os espartanos. 
5 Pólis: as Polei (termo no plural) constituíram-se elementos fundamentais no desenvolvimento da cultura grega e, de um modo geral, 
Ocidental, que reafirmou a ideia de que o homem é fundamentalmente político, ou seja, da pólis.
7|História da ética
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a :::: fortaleza ou valentia é a virtude do entusiasmo, ou seja, dos impulsos de vontade e ânimo;
a :::: temperança ou autodomínio, relaciona-se à parte do apetite, à vida impulsiva e instintiva, 
mas que freia os prazeres corporais e
a:::: justiça como o equilíbrio de todas as virtudes (VÁZQUEZ, 1997, p. 231).
Platão associava cada parte da alma a uma determinada classe social própria de seu contex-
to. Segundo ele, a razão era própria da classe dos governantes e filósofos, pois a prudência os guiava. 
Os guerreiros eram guiados pela valentia e entusiasmo, pois defendiam as cidades-Estado. A temperança 
era característica da camada dos artesãos e comerciantes, motivados pelo apetite e pela moderação. 
A justiça social era a responsável pela harmonia entre todas as partes da sociedade grega da época. 
As principais obras de Platão são A República e Leis. Morreu em 348 a.C.
Aristóteles
Aristóteles nasceu na Macedônia, na cidade de Estagira, no ano de 384 a.C. Seu pai chamava-se 
Nicômaco e exercia a profissão de médico do rei da Macedônia. No ano de 367 a.C., quando Aristóteles 
tinha aproximadamente 17 anos, foi enviado a Atenas para completar sua educação, devido à intensa 
vida cultural daquela cidade que lhe acenara possibilidade de estudo. Ingressou na Academia de Platão 
e estudou ali até o ano da morte do mestre, quando consolidou sua vocação para filósofo. 
Em 343 ou 342 a.C., Aristóteles foi chamado para ser mestre do jovem Alexandre, o rei da Macedônia, 
quando este ainda tinha 13 anos. Posteriormente o filósofo voltou a Atenas, em 334 a.C., e fundou sua pró-
pria escola, o Liceu, cujos alunos eram chamados de peripatéticos6 . Morreu em 322 a.C.
Aristóteles, refletindo sobre como o homem poderia viver uma boa vida, afirmava que a felicidade era 
a finalidade de todo homem e a plena realização humana era a contemplação do exercício da razão humana. 
Ele ensinava que há três formas de alcançar a felicidade: pela virtude, pela sabedoria e pelo prazer. 
Escreveu aproximadamente uma centena de obras, mas muitos de seus livros perderam-se por 
terem sido proibidos pela Igreja Católica, no final da Idade Média. 
O pensamento moral de Aristóteles está exposto em obras como Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo 
e A Grande Ética. As suas obras foram das mais discutidas e comentadas da Antiguidade, deixando uma 
importante herança para a história da cultura e da filosofia. 
Ética ao longo da história
Ética romana e Cícero
Entre os filósofos romanos da Antiguidade, podemos citar Marco Túlio Cícero, que nasceu em 
106 a.C. e morreu em 43 a.C. Além de filósofo, foi também orador, escritor, advogado e político romano. 
6 Discípulos de Aristóteles, assim chamados porque passeavam no pátio do Liceu aristotélico enquanto aprendiam os ensinamentos do 
filósofo mestre.
8 | História da ética
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Quando Julio César desencadeou a guerra que o levaria a dominar todo o império, tratou de eliminar 
seus últimos adversários. Entre estes estava Cícero, que, na época, era senador e figura proeminente da 
política romana. Vendo-se obrigado a deixar a vida pública, Cícero recolheu-se à vida privada e retomou 
a meditação filosófica. Discutiu diferentes doutrinas gregas sem, no entanto, vincular-se inteiramente a 
nenhuma. Seu conhecimento sobre a filosofia grega fora decorrente do período em que estudou em 
Atenas. Uma de suas frases mais célebres diz que “a filosofia é o melhor remédio para a mente.”
Os filósofos romanos dessa época, de um modo geral, convergiam para a mesma preocupação 
com a conduta humana, com o caráter do indivíduo e com seus costumes. Todos esses aspectos em 
conjunto recebem o nome de moral. Esses filósofos também acreditavam que o principal objetivo das 
ações humanas está na própria virtude, pela sua retidão ou honestidade. A moral foi para os romanos 
um conjunto de deveres que a natureza impôs ao homem, seja pelo respeito a si próprio, seja pela rela-
ção com os outros homens. 
Ética cristã na Idade Média
Por volta do século III a.C., o Império Romano passou por uma enorme crise econômica e política. 
A corrupção instalada no Senado e os gastos exorbitantes com artigos de luxo escassearam os recursos 
a serem investidos no exército romano, fato que atingiu negativamente o Império. Com o enfraqueci-
mento da instituição militar romana, somado à crise política avassaladora, no ano de 395 a.C., o impe-
rador Teodósio resolveu dividir os limites de seu império. Dava-se, com isso, o fim da Antiguidade e o 
início da Idade Média.
Nessa época, a religião cristã assumiu o papel de determinar os valores morais e éticos a serem 
seguidos por boa parte do Ocidente. Ganham ênfase as revelações dos livros sagrados traduzidos pelo 
clero e, a partir deles, passam a ser determinadas as regras de conduta sociais. A figura messiânica de 
Jesus de Nazaré tornou-se o grande arauto de uma nova ética: a do amor ao próximo. A Igreja Católica 
e seus dogmas7 se mantiveram por longos anos. 
São Tomás de Aquino
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frade dominicano8. Era responsável pela orientação e 
proteção religiosa da sociedade. Seu maior mérito foi aplicar a visão aristotélica na doutrina cristã, fato 
que colaborou com o surgimento da Escolástica9. De acordo com Aquino, era a união do corpo com a 
alma que formava a identidade e dignidade de uma pessoa. O autor também acreditava que somente 
por meio do exercício da razão humana aliado à revelação divina o homem poderia atingir a perfeição 
das virtudes. Essa vertente afirma que Deus era o legislador, e os padres, os intérpretes da lei. 
Para Tomás de Aquino, a fé e a razão estavam unidas e não poderia haver contradição entre am-
bas, pois estavam sempre dirigidas rumo a Deus. Esse pensador também afirma que toda a criação é 
boa, tudo o que existe é bom quando se está sob a orientação dos mandamentos de Deus. Ele também 
afirmou que o mal é a ausência de uma perfeição divina.
7 Um dogma, no campo filosófico, é uma crença ou doutrina imposta, que não admite contestação. No campo religioso, é uma verdade divina, 
revelada e acatada pelos fiéis.
8 Ordem religiosa, de característica mendicante, fundada no século XIII por São Domingos.
9 Uma linha dentro da filosofia medieval, surgida para responder às questões sobre a existência humana por meio da fé. Ensinada pela Igreja, 
foi considerada guardiã dos valores espirituais e morais de toda a crença católica.
9|História da ética
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Idade ModernaA partir do século XVI, durante a transição da Idade Média para a Moderna, a Igreja Católica come-
çou a cair no descrédito da população devido ao protestantismo e a outros movimentos que eclodiram 
com a Reforma Religiosa do século XVII. 
Destaca-se dentro desse contexto a figura de Martinho Lutero, monge que viveu entre os anos de 
1483 a 1546 e lutou pela reforma da Igreja Católica. Questionou a falta de ética na venda das indulgências10 
e de relíquias sagradas, como pedaços do manto de Jesus Cristo e de minúsculos fragmentos da sua cruz. 
Lutero foi a Roma e lá presenciou o comportamento antiético de alguns membros da Igreja. Percebeu 
que a venda de indulgências poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, 
deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Além dessa questão, Lutero criticava o fato 
de a Bíblia ser pouco acessível à população geral, pois poucos conheciam o idioma em que estava escrita 
(Latim), e os poucos exemplares do livro sagrado que existiam encontravam-se fechados nos conventos e 
igrejas. Ao contrário de uma elite eclesiástica, a grande maioria da população não conhecia a Bíblia. 
Lutero, no seu movimento reformista, promoveu a educação para todos, inclusive para cam-
poneses e mulheres. Traduziu a Bíblia do Latim para o Alemão, dando a oportunidade para que 
todos a conhecessem. O aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg11 também ajudou a divulgar 
a sagrada escritura dos cristãos.
Na Idade Moderna, foram consideráveis as transformações de ordem social, econômica e política, 
como as viagens às Índias e às Américas e a Revolução Científica, proporcionada por Nicolau Copérnico, 
Galileu Galilei, Newton, entre outros. 
A partir desse contexto, alguns filósofos modernos resgataram aspectos do pensamento filosófi-
co greco-romano no tocante à necessidade de toda a humanidade alcançar a sabedoria e a felicidade, 
principalmente pautando-se no equilíbrio e na razão. 
Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo prussiano, considerado o último grande filósofo dos 
princípios da Era Moderna. Kant teve um grande impacto no Romantismo alemão e nas filosofias idea-
listas do século XIX. Para Kant, a ética é autônoma, ou seja, corresponde à lei ditada pela própria cons-
ciência moral. Esse filósofo deu prosseguimento à construção da própria ideia moral, afirmando que 
aquilo que o homem procura está dentro dele mesmo. Muitos foram os filósofos que seguiram Kant. 
Relação da ética com outras ciências
Ética e política
Estão relacionadas pela natureza do poder. Se pensarmos em democracia12, como nos ensina 
Zajdsznajder (1994, p. 96), a grande preocupação das pessoas que elegem o político refere-se ao uso 
10 Uma indulgência, na teologia católica, é o perdão ao cristão das penas temporais devidas a Deus, pelos pecados cometidos na vida 
terrena.
11 João Gutenberg ou Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (1390-1468) foi um inventor alemão que se tornou famoso pela sua 
contribuição para a tecnologia da impressão e tipografia.
12 Regime de governo por meio do qual o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, 
por meio de eleitos representantes. Numa frase famosa, democracia é o “governo do povo, pelo povo e para o povo”.
10 | História da ética
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indevido do poder, quando o eleito coloca seus interesses particulares acima dos interesses do povo, 
desviando os recursos em benefício próprio ou para pagar promessas feitas durante a campanha eleitoral. 
É uma das questões éticas mais relevantes no campo da política. 
Bioética
Bioética enfoca as questões referentes à vida humana e às melhorias na qualidade de vida do 
homem. É composta por estudos multidisciplinares na área da Biologia, da Medicina e da Filosofia. Com 
o notável avanço da Medicina, em especial na pesquisa genética, surgiram grandes preocupações no 
campo da ética. A clonagem humana e a fecundação artificial são novas práticas genéticas que vêm 
alterar conceitos e realidades da sociedade de hoje. Por exemplo, com as descobertas da biociência, 
passou-se a questionar muitos pilares sobre os quais a família moderna está baseada. 
Tem-se por família o resultado da união de uma mulher e um homem. No entanto, notícias como 
as veiculadas no jornal O Globo de 12/01/2003 (Caderno da Família, p. 2), tratam exatamente de um 
novo conceito familiar. Vejamos: 
Uma clínica na Austrália mantém dois embriões congelados de um casal de milionários morto num acidente de carro 
em 1983. Ao saber da fortuna em jogo, numerosas mulheres ofereceram-se para gerar os bebês. Mas a justiça da Aus-
trália decidiu manter os embriões congelados.
Ética e Sociologia
Estão estreitamente ligadas, pois a Sociologia trata das leis que regem o desenvolvimento e a 
estrutura das sociedades humanas. Além disso, estuda o indivíduo inserido no meio social, de quem 
se espera um comportamento ético para o bem coletivo. As transformações sofridas nos tempos mo-
dernos atingem o homem em sociedade. A evolução das máquinas no campo e na indústria causam o 
alto índice de desemprego, a evasão rural e a superpopulação nas cidades. A Sociologia, por sua vez, 
está cada vez mais próxima da ética para encontrar soluções para esses problemas presentes na vida do 
indivíduo contemporâneo.
Ética e Direito
A relação entre essas áreas refere-se ao próprio fato de que o homem está sujeito às normas 
que regulamentam as condutas sociais. Os homens necessitam das leis e de sanções para manterem 
a ordem na sociedade. A exemplo disso, tem-se o Código de Trânsito Brasileiro. A sociedade também 
precisa de estatutos para determinar regras de convívio, deveres e direitos, como o que está disposto 
nos estatutos da Criança e do Adolescente e do Idoso, todos da década de 1990. 
11|História da ética
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SEVERINO, A.J. Fundamentos ético-políticos da educação no Brasil de hoje. In: LIMA, J.C.F., and 
NEVES, L.M.W., org. Fundamentos da educação escolar do Brasil contemporâneo [online]. Rio de 
Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006, pp. 289-320. ISBN: 978-85-7541-612-9. Available from: doi: 
10.7476/9788575416129.0010. Also available in ePUB from: 
http://books.scielo.org/id/j5cv4/epub/lima-9788575416129.epub. 
 
 
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8. Fundamentos ético-políticos da educação no Brasil de hoje 
 
 
Antônio Joaquim Severino 
https://doi.org/10.7476/9788575416129.0010
http://books.scielo.org/id/j5cv4/epub/lima-9788575416129.epub
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 289
8. FUNDAMENTOS ÉTICO-POLÍTICOS DA EDUCAÇÃO NO
BRASIL DE HOJE
Antônio Joaquim Severino
A educação é processo inerente à vida dos seres humanos, intrínseco
à condição da espécie, uma vez que a reprodução dos seus integrantes não
envolve apenas uma memória genética mas, com igual intensidade, pressupõe
uma memória cultural, em decorrência do que cada novo membro do grupo
precisa recuperá-la, inserindo-se no fluxo de sua cultura. Ao longo da consti-
tuição histórico-antropológica da espécie, esse processo de inserção foi se
dando, inicialmente, de formaquase que instintiva, prevalecendo o processo
de imitação dos indivíduos adultos pelos indivíduos jovens, nos mais diferen-
tes contextos pessoais e grupais que tecem a malha da existência humana.
Porém, com a ‘complexificação’ da vida social, foram implementadas práti-
cas sistemáticas e intencionais destinadas a cuidar especificamente desse pro-
cesso, instaurando-se então instituições especializadas encarregadas de atuar
de modo formal e explícito na inserção dos novos membros no tecido
sociocultural. Nasceram então as escolas.
Sem prejuízo dos esforços e investimentos sistemáticos que ocorrem
no seio de suas práticas formais, o processo abrangente de educação infor-
mal continua presente e atuante no âmbito da vida social em geral, graças às
atividades interativas da convivência humana. Mas a formalização cada vez
maior da interação educativa decorre da própria natureza da atividade huma-
na, que é sempre intencionalmente planejada, sempre vinculada a um télos que
a direciona. Desse modo, todos os agrupamentos sociais, quanto mais se tor-
naram complexos, mais desenvolveram práticas formais de educação,
institucionalizando-as sistematicamente.
290 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Desde sua gênese mais arcaica, essa inserção sociocultural envolve sem-
pre uma significação valorativa, ainda que o mais das vezes implícita nos pa-
drões comportamentais do grupo e inconsciente para os indivíduos envolvidos,
pois se trata de um compartilhamento subjetivamente vivenciado de sentidos e
valores. A cultura, como conjunto de signos objetivados, só é apropriada medi-
ante um intenso processo de subjetivação.
O existir histórico dos homens realiza-se objetivamente nas circunstân-
cias dadas pelo mundo material (a natureza física) e pelo mundo social (a soci-
edade e a cultura) como referências externas de sua vida. No entanto, essa con-
dição objetiva de seu existir concreto está intimamente articulada à vivência
subjetiva, esfera constituída de diferentes e complexas expressões de seus senti-
mentos, sensibilidades, consciência, memória, imaginação. Esses processos põem
em cena a intervenção subjetiva dos homens no fluxo de suas práticas reais,
marcando-as intensamente. Mas, ao mesmo tempo, as referências objetivas
condicionantes da existência atuam fortemente na gestação, na formação e na
configuração dessa vivência. Daí falar-se do processo de subjetivação, modo
pelo qual as pessoas constituem e vivenciam sua própria subjetividade. A per-
cepção dos valores integra esse processo tanto quanto a intelecção lógica dos
conceitos. Esse processo de subjetivação é que permite aos homens atribuir
significações aos dados e situações de sua experiência do real, o que eles fazem
sempre de forma plurivalente, pois essa atribuição de significações não leva a
sentidos unívocos, porém, o mais das vezes, plurais e mesmo equívocos.
A discussão dos fundamentos ético-políticos da educação, objeto desta
reflexão, envolve necessariamente a esfera da subjetivação, uma vez que implica
referência a valores. Para conduzir essa discussão, o presente ensaio, elaborado
de uma perspectiva filosófico-educacional, foi desenvolvido em três movimen-
tos, cada um deles se desdobrando em dois percursos. O primeiro movimento,
de caráter antropológico, procura, no primeiro percurso, situar a educação como
prática humana, mediada e mediadora do agir histórico dos homens; e, no
segundo, fundamentar teoricamente a necessária intencionalidade ético-política
dessa prática, explicitando a sua relação com o processo de subjetivação. No
segundo movimento, de cunho histórico, busca-se no primeiro momento mos-
trar como a experiência socioeducacional brasileira marcou-se por diversas
subjetivações ideológicas, enquanto no segundo são destacados, por sua rele-
vância, os desafios e dilemas da educação brasileira atual no contexto da socia-
bilidade neoliberal. No terceiro movimento, que tem uma perspectiva político-
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 291
pedagógica, ressalta-se, inicialmente, o compromisso ético-político da educa-
ção como mediação da cidadania, para enfatizar, em seguida, a importância que
a escola pública ainda tem como espaço público privilegiado para um projeto
de educação emancipatória.
A EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA HISTÓRICO-SOCIAL
Falar de fundamentos éticos e políticos da educação pressupõe assumi-
la na sua condição de prática humana de caráter interventivo, ou seja, prática
marcada por uma intenção interventiva, intencionando mudar situações indi-
viduais ou sociais previamente dadas. Implica uma eficácia construtiva e reali-
za-se numa necessária historicidade e num contexto social. Tal prática é cons-
tituída de ações mediante as quais os agentes pretendem atingir determinados
fins relacionados com eles próprios, ações que visam provocar transforma-
ções nas pessoas e na sociedade, ações marcadas por finalidades buscadas
intencionalmente. Pouco importa que essas finalidades sejam eivadas de ilu-
sões, de ideologias ou de alienações de todo tipo: de qualquer maneira são
ações intencionalizadas das quais a mera descrição objetivada obtida mediante
os métodos positivos de pesquisa não consegue dar conta da integralidade de
sua significação. O lado visível do agir educacional dos homens fica profun-
damente marcado por essa construtividade e historicidade da prática humana
e, como tal, escapa da normatividade nomotética e de qualquer outra forma
de necessidade, seja ela lógica, seja biológica, física ou mesmo social, se toma-
do este último aspecto como elemento de pura objetividade. Os fenômenos
de natureza política e educacional não se determinam por pura mecanicidade,
ou melhor, só a posteriori ganham objetividade mecânica, transitiva, mas, a essa
altura, já perderam sua significação especificamente humana. É que eles se
dão num fluxo de construtividade histórica, construção esta referenciada a
intenções e finalidades que comprometem toda a logicidade nomotética de
seu eventual conhecimento.
O caráter práxico da educação, ou seja, sua condição de prática
intencionalizada, faz com que ela fique vinculada a significações que não são da
ordem da fenomenalidade empírica dessa existência e que devem ser levadas
em conta em qualquer análise que se pretenda fazer dela, exigindo diferencia-
ções epistemológicas que interferem em seu perfil cognoscitivo. Educação é
prática histórico-social, cujo norteamento não se fará de maneira técnica, con-
292 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
forme ocorre nas esferas da manipulação do mundo natural, como, por exem-
plo, naquelas da engenharia e da medicina.
No seu relacionamento com o universo simbólico da existência humana,
a prática educativa revela-se, em sua essencialidade, como modalidade técnica e
política de expressão desse universo, e como investimento formativo em todas
as outras modalidades de práticas. Como modalidade de trabalho, atividade
técnica, essa prática é estritamente cultural, uma vez que se realiza mediante o
uso de ferramentas simbólicas. Desse modo, é como prática cultural que a edu-
cação se faz mediadora da prática produtiva e da prática política, ao mesmo
tempo que responde também pela produção cultural. É servindo-se de seus
elementos de subjetividade que a prática educativa prepara para o mundo do
trabalho e para a vida social (Severino, 2001). Os recursos simbólicos de que se
serve, em sua condição de prática cultural, são aqueles constituídos pelo pró-
prio exercício da subjetividade, em seu sentido mais abrangente, sob duas mo-
dalidades mais destacadas: a produção de conceitos e a vivência de valores.
Conceitos e valores são as referências básicas para a intencionalização do agir
humano, em toda a sua abrangência. O conhecimento é a ferramenta funda-
mental de que o homem dispõe para dar referências à condução de sua existên-
cia histórica. Tais referências se fazem necessárias para a prática produtiva, para
a política e mesmo para a prática cultural.
Ser eminentemente prático,o homem tem sua existência definida como
um contínuo devir histórico, ao longo do qual vai construindo seu modo de ser,
mediante sua prática. Essa prática coloca-o em relação com a natureza, median-
te as atividades do trabalho; em relação com seus semelhantes, mediante os
processos de sociabilidade; em relação com sua própria subjetividade, median-
te sua vivência da cultura simbólica. Mas a prática dos homens não é uma
prática mecânica, transitiva, como o é a dos demais seres naturais; ela é uma
prática intencionalizada, marcada que é por um sentido, vinculado a objetivos e
fins, historicamente apresentados.
Além disso, a intencionalização de suas práticas também se faz pela sen-
sibilidade valorativa da subjetividade. O agir humano implica, além de sua refe-
rência cognoscitiva, uma referência valorativa. Com efeito, a intencionalização
da prática histórica dos homens depende de um processo de significação simul-
taneamente epistêmico e axiológico. Daí a imprescindibilidade das referências
éticas do agir e da explicitação do relacionamento entre ética e educação.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 293
A PRÁTICA EDUCACIONAL COMO PRÁTICA
ÉTICO-POLÍTICA
Na esfera da subjetividade, a vivência moral é uma experiência comum a
todos nós. Pelo que cada um pode observar em si mesmo e pelo que se pode
constatar pelas mais diversificadas formas de pesquisas científicas e de observa-
ções culturais, todos os homens dispõem de uma sensibilidade moral, mediante
a qual avaliam suas ações, caracterizando-as por um índice valorativo, o que se
expressa comumente ao serem consideradas como boas ou más, lícitas ou ilíci-
tas, corretas ou incorretas. Hoje se sabe, graças às contribuições das diversas
ciências do campo antropológico, que muitos dos padrões que marcam o nos-
so agir derivam de imposições de natureza sociocultural, ou seja, os próprios
homens, vivendo em sociedade, acabam impondo uns aos outros determina-
das normas de comportamento e de ação. Mas a incorporação dessas normas
pressupõe uma espécie de adesão por parte das pessoas individualmente, ou
seja, é preciso que elas vivenciem, no plano de sua subjetividade, a força do
valor que lhe é, então, imposto. Os usos, os costumes, as práticas, os comporta-
mentos, as atitudes que carregam consigo essas características e que configuram
o agir dos homens nas mais diferentes culturas e sociedades constituem a moral.
A moralidade é fundamentalmente a qualificação desses comportamentos, aquela
‘força’ que faz com que eles sejam praticados pelos homens em função dos
valores que essa qualificação subsume. Podemos constatar que é em função
desses valores que as várias culturas, nos vários momentos históricos, vão cons-
tituindo seus códigos morais de ação, impondo aos seus integrantes um modo
de agir que esteja de acordo com essas normas. Porém, por mais que se encon-
tre premido por essas normas, o homem defronta-se com a experiência insu-
perável de que participa pessoalmente da decisão que o leva a agir dessa ou
daquela maneira; sente-se responsável por sua ação e muitas vezes bem ciente
das conseqüências dela. Assim, a norma moral tem um caráter imperativo que o
impressiona. Os valores morais impõem-se ao homem com força normativa e
prescritiva, quase que ditando como e quando suas ações devem ser conduzidas.
Quando não as segue, tem a impressão de estar fazendo o que não devia fazer,
embora continue com um nível proporcional de liberdade para não fazer como
e quando a norma parece lhe impor.
Se toda e qualquer ação do homem dependesse deterministicamente de
fatores alheios à sua vontade livre, então não seria o caso de se sentir responsá-
294 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
vel por elas; mas ocorre que, apesar de toda a gama de condicionamentos que
o cercam e o determinam, há margem para a intervenção de uma avaliação de
sua parte e para uma determinada tomada de posição e de decisão. Goza, por
isso, de um determinado campo de liberdade, de vontade livre, de autonomia,
não podendo alegar total determinação por fatores externos à sua decisão.
Hoje, os conhecimentos objetivos da realidade humana, proporcionados
pelas ciências humanas, de modo especial a psicologia, a sociologia, a economia,
a etologia, a psicanálise, a antropologia e a história, permitem identificar com
bastante precisão aquelas atitudes que são tomadas por imposição de forças
superiores à vontade pessoal. Mas permitem ver igualmente mais claro o alcan-
ce da vontade e o nível de arbítrio de que se dispõe quando se tem de escolher
entre várias alternativas, assim como a possibilidade de saber qual a ‘melhor’
opção cabe em cada caso. Pode-se falar então da consciência moral, fonte de
sensibilidade aos valores que norteiam o agir humano, análoga à consciência
epistêmica, que permite ao homem o acesso à representação dos objetos de sua
experiência geral, mediante a formação de conceitos. Assim, como tem uma cons-
ciência sensível aos conceitos, tem igualmente uma consciência sensível aos valores.
Do mesmo modo que a filosofia sempre se preocupou em discutir e
buscar compreender como se formam os conceitos, como se pode acessá-los,
o que os funda, ela procura igualmente compreender como se justifica essa
sensibilidade aos valores. Desenvolveu então uma área específica de seu campo
de investigação, no âmbito da axiologia, para conduzir essa discussão: a ética.
Cabe aqui um breve esclarecimento semântico. Moral e ética não são
propriamente dois termos sinônimos, apesar da etimologia análoga, em latim e
em grego, respectivamente. É certo que, na linguagem comum do dia-a-dia, já
não se distingue um conceito do outro. Mas, a rigor, moral refere-se à relação
das ações com os valores que a fundam, tais como consolidados num determi-
nado grupo social, não exigindo uma justificativa desses valores que vá além da
consagração coletiva em função dos interesses imediatos desse grupo. No caso
da ética, refere-se a essa relação, mas sempre precedida de um investimento
elucidativo dos fundamentos, das justificativas desses valores, independente-
mente de sua aprovação ou não por qualquer grupo. Por isso, fala-se de ética
em dois sentidos correlatos: de um lado, frisa-se a sensibilidade aos valores
justificados mediante uma busca reflexiva por parte dos sujeitos; de outro,
convencionou-se chamar igualmente de ética a disciplina filosófica que busca
elucidar esses fundamentos.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 295
Mas de onde vem o valor dos valores? Onde se funda a consciência
moral? Se o homem é um ser histórico em construção, em devir, sem vinculação
determinante com a essência metafísica e a natureza física, naquilo que lhe é
específico, onde ancorar a referência valorativa de sua consciência moral? O
valor fundador dos valores que fundam a moralidade é aquele representado
pela própria dignidade da pessoa humana, ou seja, os valores éticos fundam-se
no valor da existência humana. É em função da qualidade desse existir, delinea-
do pelas características que lhe são próprias, que se pode traçar o quadro da
referência valorativa, para se definir o sentido do agir humano, individual ou
coletivo. O próprio homem já é um valor em si, nas suas condições
contingenciais de existência, na sua radical historicidade, facticidade,
corporeidade, incompletude e finitude.
Assim, a filosofia, por meio da ética, busca dar conta dos possíveis fun-
damentos desse nosso modo de ‘vivenciar’ as coisas, tendo sempre em vista que
é necessário ir além das justificativas imediatistas, espontaneístas e particularistas
das morais empíricas de cada grupo social. A ética coloca-se numa perspectiva
de universalidade, enquanto a moral fica sempre presa à particularidade dos
grupos e mesmo dos indivíduos. Mas é possível encontrar um fundamento
universal para os valores éticos? A filosofia ocidental, como mostra sua história
milenar, sempre o procurou e continua a procurá-lo, dada a permanência das
demandas da consciência ética.
A EDUCAÇÃO BRASILEIRA: DETERMINAÇÃOHISTÓRICA
E SUBJETIVAÇÃO VALORATIVA
A presença da educação formal e institucionalizada é traço marcante das
sociedades ocidentais, com destaque para a sociedade européia. No caso do Bra-
sil, em que pese sua ainda pequena trajetória na era moderna da sociedade ociden-
tal e a lentidão de seu desenvolvimento nos três primeiros séculos de sua inserção
histórica nessa sociedade, ela não ocorreu de forma diferente. O Brasil conta com
uma já bastante visível experiência de educação formal, experiência esta herdeira
da experiência européia, forjada sob a marca da perspectiva cristã, mas tributária
igualmente das circunstâncias históricas próprias do contexto local.
Instaurada então nos idos da fase colonial sob a concepção escolástica da
formação humana, a educação no Brasil nasce como obra do trabalho missio-
nário dos jesuítas, fundada sob uma perspectiva ideológica católica, de origem
296 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
na Contra-Reforma, e operacionalizada pedagogicamente sob o modelo da
escolástica. Em que pese a pequena expressão de um aparelho escolar nesse
período, a cultura brasileira dos períodos colonial e imperial foi impregnada
pelo catolicismo. Com seus conceitos e valores, o catolicismo marcou a vida
social e cultural do país, contribuindo significativamente para um forte pro-
cesso de subjetivação de seus habitantes, sob a representação dos dogmas
doutrinários católicos.
No que concerne às relações entre a educação e a ideologia católica,
fundada, de um lado, na teologia cristã e, de outro, na metafísica da escolástica
tomista, prevalece a postulação de uma ética essencialista, articulada ao
voluntarismo moral. A dimensão política não tem autonomia como dinâmica
de pulsão de valores propriamente sociais. Toda a defesa dos valores cristãos é
baseada na crença do poder da vontade individual para a condução da vida,
uma vez que da postura ética de todas as pessoas decorreria necessariamente
uma vida coletiva harmoniosa, independentemente das condições contextuais,
da hierarquização das pessoas e da arbitrariedade das ações dos mais fortes.
Não sem razão, durante todo esse longo período de Colônia e Império, a
evolução do sistema educacional do país, tanto do ponto de vista organizacional
como do ponto de vista de sua função social, foi pouco significativa, uma vez
que a finalidade da escola encontrava-se na continuidade da finalidade
evangelizadora e pastoral da Igreja, não se podendo falar de referências políti-
cas para a configuração da ética. Visava-se a uma ética fundada na vontade
individual das pessoas, o que podia se realizar preferencialmente na esfera priva-
da, não se atribuindo à educação a contribuição para a instauração de um espa-
ço público de vida. Desse modo, o pouco que houve de institucionalização de
educação escolar serviu de reforço para a reprodução da ideologia dominante
e das condições econômico-sociais, marcadas pela degradação, pela opressão e
pela alienação da maioria da população em relação às situações de trabalho, de
participação política e de vivência cultural. O modelo econômico era o agrário-
exportador, voltado para a produção agrícola destinada à exportação aos paí-
ses centrais. Todo o aparato político da época visava dar sustentação aos seg-
mentos dominantes, que, além de possuírem os meios de produção e até a
força de trabalho (detinham a posse da terra, a força escrava, a renda financei-
ra), utilizavam o controle ideológico pela divulgação e ‘inculcação’ da concep-
ção cristã do mundo. Assim, ao lado da alienação objetiva em que as pessoas se
encontravam lançadas pelas condições socioeconômicas, ocorria o reforço de
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 297
uma percepção enviesada dessas condições pela consciência, que instaura então
uma alienação subjetiva. Coube ao ideário católico exercer esse papel, funcio-
nando então como ideologia adequada ao momento histórico.
Pode-se afirmar que o cristianismo, a par de seus princípios teológicos,
apresentava igualmente uma ética individual, da qual decorreram as referências
também para o convívio social, dada a suprema prioridade da pessoa sobre a
sociedade. É a qualidade moral dos indivíduos que devia garantir a qualidade
moral da sociedade. Mas o caráter idealizado dessas referências comprometia
sua eficácia histórica, pois esta dependeria da causalidade da vontade, insuficien-
te para mover a realidade social. Daí transformar-se numa ideologia, atuando
apenas como ideologia. É o que explica sua incapacidade de impedir a prática
da escravidão, apesar de, no plano teórico, tratar-se de prática incompatível
com os valores apregoados.
Mas a ideologia católica dos primeiros séculos de formação da socieda-
de brasileira foi perdendo aos poucos sua hegemonia em decorrência da mu-
dança socioeconômica pela qual o país igualmente sofreu em decorrência da
lenta, extensa e intensa expansão do capitalismo. Embora a imersão do Brasil
no capitalismo não tivesse ocorrido com características idênticas ao que havia
acontecido na Europa e na América do Norte, não se podendo nem mesmo
falar de uma revolução burguesa que o implantasse em nossas paragens, o país
não podia escapar à influência dessa expansão comandada inicialmente pelos
ingleses e, posteriormente, pelos americanos. Assim, a sociedade brasileira, em-
bora conservando muitos elementos de sua fase escravista, incorporou as for-
ças produtivas do modo de produção capitalista e as conseqüentes configura-
ções no plano político e cultural. Da mesma forma, novos valores passaram a
marcar a subjetividade das pessoas, dando nova fisionomia à vida da sociedade.
Com o capitalismo, a oligarquia rural e o campesinato perderam poder social,
emergindo uma burguesia urbano-industrial, as camadas médias e o proletaria-
do, que se tornaram os novos sujeitos a conduzir a vida nacional, impondo
alterações significativas no perfil da vida político-social do país. Em que pesem
suas reconhecidas limitações, o processo republicano espelhou essa nova reali-
dade, ligando-se a novas referências ideológicas, decorrentes de outros
paradigmas filosóficos, como o iluminismo, o liberalismo, o laicismo, o
positivismo (Severino, 1986).
A nova ideologia que se configurou entrou em conflito com a ideologia
conservadora do catolicismo, embora se trate de conflito que não chegou a
298 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
gerar uma ruptura radical na coesão da sociedade, em função das peculiarida-
des da própria configuração das classes sociais do país. A Revolução de 1930 é
um marco representativo desse novo momento vivido pela sociedade brasilei-
ra, referendando-o e dando-lhe maior identidade. O processo se consolidou
com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o capitalismo, sob a égide
americana, se instalou de forma irreversível. Com a Revolução de 1964, esse
ciclo se completou, mediante uma estruturação tecnocrática, inserindo de vez a
economia do país no fluxo do capitalismo mundial.
Essa modernização econômica e cultural do país levou à paulatina subs-
tituição da ideologia religiosa do catolicismo por uma ideologia laica, de inspi-
ração liberal e republicana. Nesse novo ambiente de desenvolvimentismo e
modernização, a educação institucionalizada teve seu papel extremamente
revalorizado, uma vez que lhe cabiam então tarefas importantes não só na for-
mação cultural das pessoas mas também na profissionalização dos trabalhado-
res para as indústrias e para os diversos serviços. Além disso, as camadas médias
viam na educação um dos principais caminhos para a ascensão social, o que
suscitou forte demanda pela educação. Esta deveria ser fornecida por um siste-
ma público, laico, imune às interferências de cunho religioso. À educação cabia
então cuidar da preparação de mão-de-obra para a expansão industrial e dos
serviços, bem como da oferta de cultura e status social. Este passava a ser o
perfil do novo cidadão, imbuído de espírito público e identificado com a cons-
trução de sua pátria nacional.
Todoo complexo conjunto de valores, de forte inspiração iluminista e
liberal, passou a ganhar contornos específicos, constituindo uma nova hegemonia
ideológica. O modelo academicista, literário e humanístico da educação cristã
foi considerado alienado em relação aos problemas sociais do país e não tinha
condições de superar os desafios do atraso nacional. Só um humanismo lastreado
no conhecimento científico e expresso mediante valores liberais poderia levar o
país a seu verdadeiro destino. E a educação pública era o grande instrumento de
que dispunha a sociedade para alcançar esse objetivo. Pública, laica, obrigatória
e gratuita, a nova educação, nascida no bojo de uma reconstrução educacional,
seria a única via para a reconstrução social. São apregoados os valores ligados ao
espírito científico, à ordem democrática, às metodologias renovadas de ensino, à
esfera pública, à cidadania e ao desenvolvimento econômico e social do país.
Mas esse novo projeto encontrou dois obstáculos insuperáveis que fize-
ram com que esses novos valores continuassem sendo apenas valores ideológi-
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 299
cos. De um lado, a ideologia religiosa do catolicismo, embora não mais
hegemônica no plano oficial, continuou impregnando, capilarmente, a vida cul-
tural brasileira, da qual constitui, na verdade, uma camada arcaica da subjetivação
das massas, arraigada que era no espírito do povo – e, como tal, impôs resistên-
cia à recepção das novas referências. Por isso, o impacto da nova ideologia, do
lado da subjetivação, foi muito lento e superficial. De outro lado, o modo de
produção capitalista tem suas exigências férreas, suas cláusulas pétreas, e não
atua nos termos dos valores que apregoa. As políticas educacionais e culturais
efetivamente implementadas não foram necessariamente coerentes, em seu ca-
ráter radical, com os valores declarados. Com isso, não se nega o efetivo desen-
volvimento ocorrido no país, mas ele não aconteceu por força da realização
dos novos valores; ao contrário, ocorreu muito mais pela violência das determi-
nações do capitalismo em sua incansável busca da acumulação, com sensibilida-
de mínima às necessidades objetivas da maioria da população.
De qualquer modo, é correto afirmar que a ideologia que prevaleceu
como elemento aglutinador da constituição da subjetividade social brasileira
desse segundo período da trajetória sociopolítico-educacional do país foi a
ideologia liberal burguesa, laicizada, modernizada e modernizadora, com pre-
tensão de ser fundada na ciência e no reconhecimento da liberdade e da igualda-
de humanas. Impôs-se assim uma concepção liberal do mundo, da cultura e da
educação. Essa ideologia atendia aos interesses da burguesia nacional urbano-
industrial e justificava a modernização de todos os setores da vida social. Na
verdade, estava lançando raízes para um projeto que deveria consolidar cada
vez mais o capitalismo monopolista, a serviço do qual deveria ser colocado o
próprio Estado (Bresser Pereira, 1968; Fernandes, 1975).
No entanto, assim como a ideologia católica, a ideologia liberal não
conseguiu implementar uma educação efetivamente voltada para a emancipa-
ção de toda a população, como pressupunha o ideário republicano, liberal e
iluminista, limitando-se a exercer apenas seu papel ideológico, ou seja, procla-
mar, como se fossem universais, valores que são realizados apenas para aten-
der a interesses particulares de grupos privilegiados. Enquanto as camadas
dominantes mantiveram e ampliaram seus privilégios e as camadas médias
usufruíram de algumas conquistas, vendo atendidas algumas de suas reivindi-
cações, graças a seu poder de negociação e de aliança, os segmentos popula-
res alcançaram objetivamente poucas conquistas econômicas, sociais e cultu-
rais, aí incluída a educação, que sequer se universalizou em seus níveis iniciais.
300 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Apesar de o atendimento das necessidades do povo fazer parte explícita do
discurso político oficial, como se fosse o objetivo primordial das políticas
públicas, na realidade, no tecido socioeconômico, não ocorreram mudan-
ças significativas, nem quanto à quantidade nem quanto à qualidade. É o
que mostram a injusta distribuição não só da renda como também dos
bens culturais e os índices da desigualdade social, que permanecem até
hoje (IBGE, 2005).
Agregou-se a essa ideologia liberal a crença no caráter redentor e
equalizador da educação, que, se fosse difundido universalmente, eliminaria os
conflitos de classe, promoveria o progresso econômico e social e asseguraria a
condição de cidadania a todas as pessoas (Xavier, 2005).
Com o regime militar autoritário que se estabelece no país em 1964, os
elementos básicos dessa concepção socioeducacional foram mantidos tecen-
do a política educacional, mas agregando agora um referencial a mais, que é
aquele do valor técnico especializado da educação. Essa peculiaridade dará às
políticas públicas do período e, em particular, às políticas educacionais um
feitio explicitamente tecnicista sob uma perspectiva ideológica tecnocrática.
Foi característica do movimento conduzido pela elite empresarial e pelo
estamento militar a idéia-força de que o desenvolvimento tecnológico é a
grande matriz de todo desenvolvimento econômico, desde que possa ocorrer
num clima de total harmonia político-social. Daí ser a educação chamada a
implementar uma vocação eminentemente dedicada à formação profissional,
visando à preparação de mão-de-obra técnica bem qualificada de cidadãos
ordeiros e pacíficos. Foi imbuído desse espírito que o próprio mote do novo
sistema de gerenciamento da nação se expressou, retomando o anacrônico
lema comtiano ‘ordem e progresso’, que então passou a ser ‘desenvolvimento
e segurança’. Politicamente, o regime levou aos estertores as últimas veleida-
des do discurso liberal populista, sufocando, inclusive pela repressão violenta,
todas as iniciativas atreladas ao ideário libertário do período anterior, pondo
fim ao populismo sob todas as suas expressões. Ao mesmo tempo, o
atrelamento da economia nacional ao capitalismo internacional se consolidou
definitivamente, mediante uma política de associação e de dependência. A
função do Estado nacional se redefine, gerando um Executivo forte e
centralizador, com poder de controle político-policial, modernizando e cen-
tralizando a administração pública e repelindo brutalmente toda contestação.
Trata-se de um regime tecnoburocrático, assumidamente autoritário e repressor.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 301
Valores proclamados, seja pela ideologia católica, seja pela ideologia libe-
ral, são reenquadrados nas coordenadas da ideologia tecnocrática, que passa a
ser o critério de sua validade e sobrevivência no novo contexto social. Suas
contribuições só são aproveitadas quando não se contrapõem aos novos inte-
resses, não provocando interferências e questionamentos nos negócios de Esta-
do da nova ordem político-social. Ao mesmo tempo, o governo militar apoia-
va, incentivava e induzia iniciativas, em todos os campos da vida social, que
concretizassem os valores de sua nova política plenamente em sintonia com o
capitalismo. Assim, no campo educacional e cultural, favoreceu e incentivou a
privatização, uma vez que a educação deve ser entendida e praticada como um
serviço, no seio de um mercado livre. A demanda por educação, tão cara às
camadas médias da população, deverá ser atendida pela oferta do mercado dos
serviços educacionais. Trata-se de uma política de expansão pela privatização.
Ademais, o Estado pós-64 tem uma visão instrumentalista da educação, organi-
zada em função do crescimento econômico (Martins, 1981). O conteúdo do
ensino deve ser técnico, sem conotação política de cunho crítico. Visa-se à maior
produtividade possível, a baixo custo, mediante o preparo de uma mão-de-
obra numerosa, com qualificação puramente técnica, disciplinada e dócil, ade-
quada ao atendimento das necessidades do sistema econômico. A ideologiatecnocrática do período pratica um autoritarismo disciplinar intrínseco ao pro-
cesso de engenharia social que deve comandar todos os aspectos da vida da
sociedade. Alicerçada epistemologicamente no mesmo cientificismo positivista,
que se julga legitimado pela sua eficácia tecnológica, opera a modernização da
sociedade pelo uso da sofisticação técnico-informacional, ao mesmo tempo
que, investindo pesado nos meios de comunicação, desenvolve um intenso pro-
grama de indústria cultural destinado à formação da opinião pública, banalizan-
do ainda mais os conteúdos do conhecimento disponibilizado para as massas.
Após 25 anos de autoritarismo exacerbado, o regime, no início da déca-
da de 1980, começa a dar sinais de exaustão. Devorando seus próprios filhos,
não mais satisfazia aos interesses capitalistas que pretendiam se universalizar mundo
afora. Considerou-se superada essa fase da imposição tecnocrática, entenden-
do-se que os 25 anos foram suficientes para aplainar o terreno para uma nova
etapa, agora não mais baseada na repressão violenta pela força, mas pela im-
pregnação sutil da subjetivação ideológica por si mesma. Nos últimos trinta
anos, o país vivencia então uma nova fase marcada pela implementação da
agenda neoliberal, nova proposta do capitalismo internacional.
302 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA
SOCIABILIDADE NEOLIBERAL
A partir dos anos 1980, o Brasil, como de resto todo o Terceiro Mundo,
é instado a inserir-se no novo processo de desenvolvimento econômico e social
do capitalismo em expansão. De preferência isso deveria ser feito sem o uso da
violência física de regimes repressivos. Ao contrário, deveria acontecer num
ambiente político-social de redemocratização. Nessa linha, os grandes agentes
desse capitalismo internacional sem pátria especificam, além de cobrar, via me-
canismos propriamente econômicos, a adoção de suas práticas produtivas,
monetárias e financeiras, comprometendo todos os países por meio de acor-
dos mundiais, passando a exigir também adequações nos campos político e
cultural. A meta continua sendo aquela da plena expansão do capitalismo, agora
sem concorrências ideológicas significativas e numa perspectiva declarada de
globalização. Fala-se então da agenda neoliberal, ou seja, de uma retomada dos
princípios do liberalismo clássico, mas com a devida correção de seus desvios
humanitários. O que está em pauta é a total liberação das forças do mercado, a
quem cabe a efetiva condução da vida das nações e das pessoas. Daí a pregação
do livre-comércio, da estabilização macroeconômica e das reformas estruturais
necessárias, em todos os países, para que o sistema tenha alcance mundial e
possa funcionar adequadamente. Opera-se então severa crítica ao Estado do
Bem-Estar Social, propondo-se um estado mínimo, em seu papel e funções. A
iniciativa política deve dar prioridade à iniciativa econômica dos agentes priva-
dos. Graças às impressionantes inovações tecnológicas, mormente na esfera da
informática, mudam-se igualmente as relações industriais, o sistema do trabalho
e o gerenciamento da produção. Os mercados financeiros são liberados e ex-
pandidos. Os Estados nacionais tornam-se reféns das políticas internacionais do
grande capital. A política interna dos países, por sua vez, é forçada a esse ajuste
econômico, impondo a queda dos salários reais, o crescimento do desemprego
estrutural, a estatização da dívida externa e a elevação da taxa de juros. Isso
implica também a ruptura do esquema de financiamento do setor público (Ianni,
2004; Lombardi, Saviani & Sanfelice, 2004).
Assim como nas fases anteriores, também agora desencadeia-se um pro-
cesso ideológico para justificar o modelo imposto, apresentando-o como o
único capaz de realizar os objetivos emancipatórios da sociedade e, nesse senti-
do, superando os anteriores. Mais uma vez, tem-se um conjunto articulado de
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 303
valores que são proclamados, mas não realizados. Uma retórica, que não deixa
de encontrar apoios estratégicos em formulações teóricas do pensamento pós-
moderno, se torna insistentemente presente em todas as frentes do debate so-
cial, fazendo sua cerrada defesa. Ao mesmo tempo, por meio da legislação e
das medidas programáticas, o governo passa a aplicar políticas públicas que vão
efetivando as diretrizes neoliberais, mais uma vez adiando e talvez inviabilizando
uma educação que possa ser mediação da libertação, da emancipação e da
construção da cidadania. Não sem razão, o ceticismo e a desesperança consti-
tuem a conclusão de estudiosos da questão educacional brasileira. Ao falar da
escola brasileira, em conclusão a seus estudos históricos sobre a educação esco-
lar, conclui Xavier (2005:291):
Ela parece ser uma instituição, se não dispensável, secundária para o
funcionamento da sociedade brasileira, tal como se encontra estrutura-
da. Entretanto, é fundamental, para o controle das insatisfações popula-
res e a neutralização dos movimentos sociais contestatórios e reivindica-
tórios, alimentar a crença no caráter redentor da educação escolarizada.
Daí a ênfase no discurso pedagógico, nos debates e na elaboração de
projetos educacionais e a falta de pressa em realizá-los.
Para essa autora, ocorre uma mitificação da escola, mitificação que atua
como um dos pilares da doutrina liberal produzida na transição capitalista e que
penetrou cedo em nossa sociedade como parte da ideologia do colonialismo. E
quanto mais o capitalismo avançou no país, mais se solidificou essa crença. O
poder se concentrava, a riqueza crescia e supostamente não se distribuía porque
a expansão da escola não acompanhava o crescimento populacional, ou sua
qualidade não atendia às demandas sociais. “A escola não revoluciona ou trans-
forma a sociedade que a produz e à qual serve; ela apenas consolida e maximiza
as transformações em curso quando a aparelhamos para tanto” (Xavier,
2005:284).
Essa forma atual de expressão histórica do capitalismo, sob predomínio
do capital financeiro, conduzido de acordo com as regras de um neoliberalismo
desenfreado, num momento histórico marcado por um irreversível processo
de globalização econômica e cultural, produz um cenário existencial em que as
referências ético-políticas perdem sua força na orientação do comportamento
das pessoas, trazendo descrédito e desqualificação para a educação. Ao mesmo
tempo que, pelas regras da condução da vida econômica e social, instaura um
quadro de grande injustiça social, sonegando para a maioria das pessoas as
304 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
condições objetivas mínimas para uma subsistência num patamar básico de
qualidade de vida, interfere profundamente na constituição da subjetividade, no
processo de subjetivação, manipulando e desestabilizando valores e critérios.
Prevalece um espírito de niilismo axiológico, de esvaziamento de todos os valo-
res, de fim das utopias e metanarrativas e da esperança de um futuro melhor,
de incapacidade de construir projetos. A eficiência e a produtividade são os
únicos critérios válidos. Com bem sintetiza Goergen, “generaliza-se nesse pro-
cesso para toda a cultura um aspecto da ordem econômica: a eficiência torna-
se padrão do bom comportamento exigido pela sociedade” (Lombardi &
Goergen, 2005:3).
Configura-se então uma sociabilidade típica desse contexto neoliberal,
que se constitui atrelada a profundas mudanças provocadas pelas injunções des-
sa etapa da economia capitalista na esfera do trabalho, da cidadania e da cultura.
Desse modo, constata-se a ocorrência de situações de degradação, no mundo
técnico e produtivo do trabalho; de opressão, na esfera da vida social; e de
alienação, no universo cultural. Essas condições manifestam-se, em que pesem
as alegações em contrário de variados discursos, como profundamente adver-
sas à formação humana, o que tem levado a um crescente descrédito quanto ao
papel e à relevância da educação, como processo intencional e sistemático.Nesse contexto da história real, a educação é interpelada pela dura deter-
minação dessa realidade, no que diz respeito às condições objetivas da existên-
cia. Numa profunda inserção histórico-social, a educação é serva da história.
Aqui se paga tributo a nossa condição existencial de seres encarnados e, como
tais, profundamente predeterminados – esfera dos a priori existenciais. Uma
lógica perversa compromete o esforço da humanização. São adversas as con-
dições para se assegurar a qualidade necessária para a educação. Em que pese
a existência, nas esferas do Estado brasileiro, de um discurso muito elogioso e
favorável à educação, a prática real da sociedade política e das forças econô-
micas desse atual estágio histórico não corresponde ao conteúdo de seu dis-
curso. Esse discurso se pauta em princípios e valores elevados, mas que não
são sustentados nas condições objetivas para sua realização histórica no plano
da realidade social.
No plano da subjetividade, utilizando-se de diferentes modalidades de
intervenções ideológicas, particularmente através dos meios de comunicação, o
sistema atua fortemente no processo da subjetivação humana. Numa frente,
opera a subversão do desejo, deturpando a significação do prazer, não se inves-
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 305
tindo adequadamente no aprimoramento da sensibilidade estética. Açulam-se
os corpos no sentido de fazer deles fogueiras insaciáveis de prazer que jamais
será satisfeito. Ocorre total regressão do estético. Embora prometa a felicidade,
não gera condições para sua efetiva realização por todas as pessoas. Subverte
também a vontade, impedindo o exercício de sua liberdade, não deixando que
o homem pratique sua condição de igualdade: não investe na formação do
cidadão, ou seja, aquele que pode agir livremente na sociedade de iguais. Propa-
ga a idéia de uma democracia puramente formal. Não tem por meta o cidadão,
mas o contribuinte, o socícola, aquele que habita o locus social mas não compar-
tilha efetivamente de sua constituição, não compartilha das decisões que instau-
ram o processo político-social. No fundo mantém-se a servidão... que até se
torna voluntária... Toda essa pedagogia, em vez de levar os sujeitos a entender-
se no mundo, mistifica o mundo, manipulando-o para produzir a ilusão da
felicidade. Prosperidade prometida mas nunca realizada. Leva ao individualis-
mo egoísta e narcísico, simulacro do sujeito autônomo e livre.
Essa pedagogia subverte ainda a prática do conhecimento, eliminando o
seu processamento como construção dos objetos que são conhecidos. Torna-se
mero produto e não mais processo, experiência de criatividade, de criticidade e
de competência. É literalmente tecnicizado, objetivado, empacotado. A própria
ciência é vista como conhecimento eminentemente técnico, o que vem a ser um
conceito autocontraditório. Todas as demais formas de saber são desqualificadas.
O ceticismo e o relativismo generalizados se impõem, sob alegação de seus
compromissos com metanarrativas infundadas.
Nesse contexto, prospera uma ética hedonista baseada no individualis-
mo, de traço narcísico, que vê o homem como se fosse um átomo solto, viven-
do em torno de si mesmo, numa sensibilidade ligada apenas ao espetáculo. Puro
culto ao prazer que se pretende alcançar pelo consumo compulsivo e desregra-
do dos bens do mercado. Essa lógica fundada na exacerbada valorização de
uma suposta autonomia e suficiência do sujeito individual, no apelo ao consu-
mo desenfreado, compromete o reconhecimento e a reafirmação dos valores
universais da igualdade, da justiça e da eqüidade, referências necessárias para
uma concepção mais consistente da humanidade, alicerçada no valor básico da
dignidade humana.
Coagida pela pressão das determinações objetivas, de um lado, e pelas
interferências subjetivas, de outro, a educação é presa fácil do enviesamento
ideológico, que manipula as intenções e obscurece os caminhos, confundindo
306 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
objetivos com interesses. Tal situação aumenta e agrava o desafio que a educa-
ção enfrenta em sua dialética tarefa de, simultânea e contraditoriamente, inserir
os sujeitos educandos nas malhas culturais de sua sociedade e de levá-los a
criticar e a superar essa inserção; assim como de fazer um investimento na
conformação das pessoas a sua cultura ao mesmo tempo que precisa levá-las a
se tornarem agentes da transformação dessa cultura.
Como a educação tem papel fundamental no processo de subjetivação,
embora não seja ela o único vetor desse processo, já que essa subjetivação se dá
também por outras vias, seja no âmbito da vivência familiar, seja pelos meios de
comunicação de massa, seja ainda por interações informais das pessoas no seio
da sociedade civil, ela sofre o impacto dessas forças geradas no bojo da dinâmi-
ca da vida social e cultural do capitalismo contemporâneo.
O HORIZONTE DO COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO DA
EDUCAÇÃO: EM BUSCA DE UMA NOVA SOCIABILIDADE
No contraponto dessa situação de degradação, de opressão e de aliena-
ção, a educação é interpelada pela utopia, ou seja, por um télos que acena para
uma responsabilidade histórica de construção de uma nova sociedade também
mediante a construção de uma nova sociabilidade. Isso decorre da condição
dos homens como sendo também seres teleológicos, dispondo da necessidade
e da capacidade de estabelecer fins para sua ação. É isso que ocorre com a
educação; ela precisa ter intencionalidades, buscar a realização de fins previa-
mente estabelecidos.
Levando em conta o seu papel no processo de subjetivação e tendo em
vista que o conhecimento é a única ferramenta que cabe ao educador utilizar
para enfrentar esses desafios, há que se entender a educação como processo que
faz a mediação entre os seus resultados e as práticas reais, pelas quais os brasilei-
ros devem conduzir sua história. Assim, cabe à educação ter em seu horizonte
três objetivos intrínsecos:
1) Desenvolver ao máximo o conhecimento científico e tecnológico em
todos os campos e dimensões; superar o amadorismo e apropriar-se da
ciência e da tecnologia disponíveis para alicerçar o trabalho de interven-
ção na realidade natural e social.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 307
2) Desenvolver ao máximo a sensibilidade ética e estética buscando deli-
near o télos da educação com sensibilidade profunda à condição humana;
sentir a razão de ser da existência e a pulsação da vida.
3) Desenvolver ao máximo sua racionalidade filosófica numa dupla dire-
ção: numa frente, esclarecer epistemicamente o sentido da existência, e,
noutra, afastar o ofuscamento ideológico dos vários discursos; construir
uma contra-ideologia como ideologia universalizante que apresenta os
produtos do conhecimento para atender aos interesses da totalidade dos
homens.
Pela sua própria natureza, a educação tende a atuar como força de con-
formação social, mas precisa atuar também como força de transformação so-
cial. A conformação nasce da necessidade de conservação da memória cultural
da espécie, força centrípeta, apelo da imanência, enquanto que a transformação,
força centrífuga, apelo da transcendência, busca um avanço, a criação do novo,
gerando elementos que respondam pela criação de nova cultura.
A educação conforma os indivíduos, inserindo-os na sua sociedade, fa-
zendo-os compartilhar dos costumes morais e de todos os demais padrões
culturais, com o fito de preservar a memória cultural; porém, ao transformar,
impele à criação de nova cultura, reavaliando seus estágios anteriores de
subjetivação. Cabe-lhe questionar os estágios vigentes de uma perspectiva críti-
ca, desconstruindo para reconstruir, pois o que não se transforma se petrifica.
É pela mediação de sua consciência subjetiva que o homem pode
intencionar sua prática, pois essa consciência é capaz de elaborar sentidos e de se
sensibilizar a valores. Assim, ao agir, o homem está sempre se referenciando a
conceitos e valores, de tal modo que todos os aspectos da realidade envolvidos
com suaexperiência, todas as situações que vive e todas as relações que estabe-
lece são atravessados por um coeficiente de atribuição de significados, por um
sentido, por uma intencionalidade, feita de uma referência simultaneamente
conceitual e valorativa. Desse modo, as coisas e situações relacionam-se com
nossos interesses e necessidades, por meio da experiência dessa subjetividade
valorativa, atendendo, de um modo ou de outro, a uma sensibilidade que te-
mos, tão arraigada quanto aquela que nos permite representar as coisas e conhecê-
las mediante os conceitos.
Com efeito, a ética só pode ser estabelecida por meio de um processo
permanente de decifração do sentido da existência humana, tal como ela se
308 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
desdobra no tecido social e no tempo histórico, não mais partindo de um
quadro atemporal de valores, abstratamente concebidos e idealizados. Essa in-
vestigação é inteiramente compromissada com as mediações históricas da exis-
tência humana, não tendo mais a ver apenas com ideais abstratos, mas também
com referências econômicas, políticas, sociais, culturais. Nenhuma ação que pro-
voque a degradação do homem em suas relações com a natureza, que reforce
sua opressão pelas relações sociais, ou que consolide a alienação subjetiva, pode
ser considerada moralmente boa, válida e legítima.
É por isso que, na perspectiva do modo atual de se conceber a ética, ela
se encontra profundamente entrelaçada com a política, concebida esta como a
área de apreensão e aplicação dos valores que atravessam as relações sociais que
interligam os indivíduos entre si. Mas a política, por sua vez, está intimamente
vinculada à ética, pelo fato de não poder se ater exclusivamente a critérios técni-
co-funcionais, caso em que se transformaria numa nova forma de determinismo
extrínseco ao homem, à sua humanidade. Isso quer dizer que os valores pes-
soais não são apenas valores individuais; eles são simultaneamente valores soci-
ais, pois a pessoa só é especificamente um ser humano quando sua existência
realiza-se nos dois registros valorativos. Assim, a avaliação ética de uma ação
não se refere apenas a uma valoração individual do sujeito; é preciso referi-la
igualmente ao índice do coletivo.
É assim que, à luz das contribuições mais críticas da filosofia da educa-
ção da atualidade, impõe-se atribuir à educação, como sua tarefa essencial, a
construção da cidadania. A educação já se deu outrora como objetivo a busca
da perfeição humana, idealizada como realização da essência do homem, de
sua natureza; mais recentemente, essa perfeição foi concebida como plenitude
da vida orgânica, como saúde física e mental. Hoje, no entanto, as finalidades
perseguidas pela educação dizem respeito à instauração e à consolidação da
condição de cidadania, pensada como qualidade específica da existência con-
creta dos homens, lembrando-se sempre que essa é uma teleologia historica-
mente situada.
Com efeito, a educação só se compreende e se legitima enquanto for
uma das formas de mediação das mediações existenciais da vida humana, se for
efetivo investimento em busca das condições do trabalho, da sociabilidade e da
cultura simbólica. Portanto, só se legitima como mediação para a construção da
cidadania. Por isso, enquanto investe, do lado do sujeito pessoal, na construção
dessa condição de cidadania, do lado dos sujeitos sociais estará investindo na
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 309
construção da democracia, que é a qualidade da sociedade que assegura a todos
os seus integrantes a efetivação coletiva dessas mediações.
À educação cabe, como prática intencionalizada, investir nas forças
emancipatórias dessas mediações, num procedimento contínuo e simultâneo de
denúncia, desmascaramento e superação de sua inércia de entropia, bem como
de anúncio e instauração de formas solidárias de ação histórica, buscando con-
tribuir, com base em sua própria especificidade, para a construção de uma
humanidade renovada. Ela deve ser assumida como prática simultaneamente
técnica e política, atravessada por uma intencionalidade teórica, fecundada pela
significação simbólica, mediando a integração dos sujeitos educandos nesse tríplice
universo das mediações existenciais: no universo do trabalho, da produção
material, das relações econômicas; no universo das mediações institucionais da
vida social, lugar das relações políticas, esfera do poder; no universo da cultura
simbólica, lugar da experiência da identidade subjetiva, esfera das relações inten-
cionais. Em suma, a educação só se legitima intencionalizando a prática histórica
dos homens...
Com efeito, se se espera que a educação seja de fato um processo de
humanização, é preciso que ela se torne mediação que viabilize, que invista na
implementação dessas mediações mais básicas, contribuindo para que elas se
efetivem em suas condições objetivas reais. Ora, esse processo não é automáti-
co, não é decorrência mecânica da vida da espécie. É verdade que ao superar a
transitividade do instinto e, com ela, a univocidade das respostas às situações, a
espécie humana ganha em flexibilidade, mas simultaneamente torna-se vítima
fácil das forças alienantes, uma vez que todas as mediações são ambivalentes: ao
mesmo tempo que constituem o lugar da personalização, constituem igualmen-
te o lugar da desumanização, da despersonalização. Assim, a vida individual, a
vida em sociedade, o trabalho, as formas culturais, as vivências subjetivas, po-
dem estar levando não a uma forma mais adequada de existência, da perspec-
tiva humana, mas antes a formas de despersonalização individual e coletiva, ao
império da alienação. Sempre é bom não perdermos de vista a idéia de que o
trabalho pode degradar o homem, a vida social pode oprimi-lo e a cultura
pode aliená-lo, ideologizando-o...
É por isso que, ao lado do investimento na transmissão aos educandos
dos conhecimentos científicos e técnicos, impõe-se garantir que a educação seja
mediação da percepção das relações situacionais, que ela lhes possibilite a apre-
ensão das intrincadas redes políticas da realidade social, pois só a partir daí eles
310 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
poderão se dar conta também do significado de suas atividades técnicas e cultu-
rais. Cabe ainda à educação, no plano da intencionalidade da consciência, des-
vendar os mascaramentos ideológicos de sua própria atividade, evitando assim
que ela se instaure como mera força de reprodução social e se torne força de
transformação da sociedade, contribuindo para extirpar do tecido desta todos
os focos da alienação (Althusser, s.d.; Gramsci, 1968; Severino, 1986).
A análise crítica da experiência histórica da educação brasileira mostra que
ela desempenhou, em cada um dos seus cenários temporais, a função de repro-
dução da ideologia, mediante o que contribuiu para a reprodução das relações
sociais vigentes a cada momento. Mas isso não compromete seu outro papel
fundamental, que é aquele de transformar essas relações sociais, contribuindo para
a elaboração de uma contra-ideologia que possa identificar-se com os interesses e
objetivos da maioria da população, fazendo com que os benefícios do conheci-
mento possam atingir o universo da comunidade humana a que se destina.
Esse compromisso ético-político da educação para com a condução do
destino da sociedade não pode, no entanto, ser concebido nos parâmetros da
ética essencialista, de fundo metafísico, ou de uma ética funcionalista, de fundo
fenomenista. Trata-se de entender sua concepção e prática com base num enfoque
praxista. Isso decorre de um modo igualmente novo de pensar o homem.
Embora continue sendo entendido como ser natural e dotado de uma identida-
de subjetiva, que lhe permite projetar e antever suas ações, ele não é visto mais
nem como um ser totalmente determinado nem como um ser inteiramente
livre. Ele é simultaneamente determinado e livre. Sua ação é sempre um com-
promisso, em equilíbrio instável entre as injunções impostas pelasua condição
de ser natural e a autonomia de sujeito capaz de intencionalizar suas ações, a
partir da atividade de sua consciência.
Por práxis, entende-se a prática real do homem, atravessada pela
intencionalização subjetiva, ou seja, pela reflexão epistêmica elucidativa e
esclarecedora, que delineia os fins e o sentido dessa ação.
O que está em pauta, pois, na reflexão filosófica contemporânea, é a radi-
cal historicidade humana. O homem concebido como ser histórico perde tanto
sua fusão com a totalidade metafísica como com a natureza física do mundo.
Desse ponto de vista, ele só é especificamente humano quando, em que pesem
suas amarras ao mundo objetivo, é capaz de ir construindo-se efetivamente medi-
ante sua ação real. Ora, a ética só tem a ver com sua dimensão especificamente
humana, e é nessa especificidade que ela pode encontrar suas referências.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 311
Esse é o sentido da historicidade da existência humana, ou seja, o ho-
mem não é a mera expressão de uma essência metafísica predeterminada, nem
o mero resultado de um processo de transformações naturais que estaria em
evolução. Ao contrário, naquilo em que o faz especificamente humano, o ho-
mem é um ser em permanente processo de construção, em ininterrupto devir.
Nunca está pronto e acabado, nem no plano individual, nem no plano coletivo,
como espécie. Por sobre um lastro de uma natureza físico-biológica prévia, mas
que é pré-humana, compartilhada com todos os demais seres vivos, ele vai se
transformando e se reconstruindo como ser especificamente humano, como
ser ‘cultural’. E isso não apenas na linha de um necessário aprimoramento, de
um aperfeiçoamento contínuo ou de progresso. Ao contrário, essas mudanças
transformativas, decorrentes de sua prática, podem até ser regressivas, nem
sempre sinalizando para uma eventual direção de aprimoramento de nosso
modo de ser. O que é importante observar é que seu modo de ser vai se
constituindo por aquilo que ele efetivamente faz; é sua ação que o constitui, e
não seus desejos, seus pensamentos ou suas teorias...
Assim, a ética contemporânea entende que o sujeito humano se encontra
sob as injunções de sua realidade natural e histórico-social, que até certo ponto
o conduz, determinando seu comportamento, mas que é também constituída
por ele, por meio de sua prática efetiva. Ele não é visto mais como um sujeito
substancial, soberano e absolutamente livre, nem como um sujeito empírico
puramente natural. Existe concretamente nos dois registros, na medida mesma
em que é um sujeito histórico-social, um sujeito cultural. É uma entidade natural
histórica, determinada pelas condições objetivas de sua existência, ao mesmo
tempo que atua sobre elas por meio de sua práxis.
A NECESSIDADE DO ESPAÇO PÚBLICO PARA UM
PROJETO EDUCACIONAL COMPROMETIDO COM A
EMANCIPAÇÃO HUMANA: A ESCOLA PÚBLICA E A
CIDADANIA
O ético-político incorpora a sensibilidade aos valores da convivência so-
cial, da condição coletiva das pessoas. A relação, a inter-relação, a dependência
recíproca entre as pessoas, é também um valor ético – a eticidade que se apóia
na dignidade humana. Essa dignidade não se referencia apenas à existência so-
cial, mas também à co-existência social.
312 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
É a partir dessa exigência que se pode compreender a importância da
escola para a construção da cidadania. Com efeito, para que a prática educativa
real seja uma práxis, é preciso que ela se dê no âmbito de um projeto. A escola
é o lugar institucional de um projeto educacional. Isso quer dizer que ela deve
instaurar-se como espaço-tempo, como instância social que sirva de base me-
diadora e articuladora dos outros dois projetos que têm a ver com o agir huma-
no: de um lado, o projeto político da sociedade e, de outro, os projetos pessoais
dos sujeitos envolvidos na educação.
Todo projeto implica uma intencionalidade, assim como suas condições
reais, objetivas, de concretização, já que a existência dos homens se dá sempre
no duplo registro da objetividade/subjetividade, de modo que estão sempre
lidando com uma objetividade subjetivada e com uma subjetividade objetivada.
Configura-se aqui a complexa e intrincada questão das relações do pro-
cesso educativo com o processo social que o envolve por todos os lados. É o
que vem sendo apresentado sob o enfoque da teoria do reprodutivismo da
educação, segundo a qual a escola nada mais faria do que reproduzir as relações
de dominação presentes no tecido social na medida em que, como instância que
lida com os instrumentos simbólicos, reproduziria os valores hegemônicos da
sociedade, inculcando-os nas novas gerações. A escola é vista então como privi-
legiado aparelho ideológico do Estado que, por sua vez, não é um representan-
te dos interesses universais da sociedade, mas tão-somente de grupos privile-
giados e, conseqüentemente, dominantes.
Reapresenta-se então a questão da dialética objetividade/subjetividade.
Em se tratando de processo que lida fundamentalmente com ferramentas sim-
bólicas, a educação é ambígua, ambivalente, uma vez que a subjetividade é lugar
privilegiado de alienação. Trata-se ainda de múltiplas subjetividades envolvidas,
o que potencializa a força da alienação em relação aos dados da objetividade
circundante.
Com efeito, a prática da educação pressupõe mediações subjetivas, a
intervenção da subjetividade de todos aqueles que se envolvem no processo.
Dessa forma, tanto no plano de suas expressões teóricas como naquele de suas
realizações práticas, a educação implica a própria subjetividade e suas produ-
ções. Mas a experiência subjetiva é também uma riquíssima experiência das
ilusões, dos erros e do falseamento da realidade, ameaçando assim, constante-
mente, comprometer sua própria atividade. Não sem razão, pois, o exercício
da prática educativa exige, da parte dos educadores, uma atenta e constante
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 313
vigilância diante dos riscos da ideologização de sua atividade, seja ela desenvol-
vida na sala de aula, seja em qualquer outra instância do plano macrossocial do
sistema de educação da sociedade.
O procedimento da consciência, no seu desempenho subjetivo, não tem
a inflexibilidade mecânica e linear dos instintos. Ao representar e ao avaliar os
diversos aspectos da realidade, a consciência facilmente os falseia. A representa-
ção simbólica da realidade, que lhe cabia fazer, perde então seu caráter objetivo
e se impregna de significações que não mais correspondem à realidade, e a visão
elaborada pelo sujeito fica falseada. Na sua atividade subjetiva, a consciência
deveria visar e dirigir-se à realidade objetiva, atendo-se a ela. No entanto, quanto
mais autônoma e livre em relação à transitividade dos instintos, mais frágil se
torna em relação à objetividade e mais suscetível de sofrer interferências
perturbadoras. À consciência subjetiva pode ocorrer de se projetar numa obje-
tividade não-real, apenas projetada, imaginada, ideada. É como se estivesse
imaginando um mundo inventado, invertido. E assim a consciência, alienando-
se em relação à realidade objetiva, constrói conteúdos representativos com os
quais pretende explicar e avaliar os vários aspectos da realidade e que apresenta
como sendo verdadeiros e válidos, aptos não só a explicá-los mas também a
legitimá-los. Porém, alienada, a consciência não se dá conta de que tais conteú-
dos nem sempre estão se referindo adequadamente ao objeto. Na verdade, tais
conteúdos – idéias, representações, conceitos, valores – são ideológicos, ou seja,
têm obviamente um sentido, um significado, mas descolado do real objetivo,
pois referem-se de fato a um outro aspecto da realidade que, no entanto, fica
oculto e camuflado. Ocorre um falseamento da própria apreensão pela consci-
ência, um desvirtuamento de seu proceder, decorrente sobretudo da pressão de
interesses sociais que, intervindo na valoração da própria subjetividade, altera a
relação de significação das representações.
Esses interesses/valoresque intervêm e interferem na atividade cognoscitiva
e valorativa da consciência nascem das relações sociais de poder, das relações
políticas, que tecem a trama da sociedade. É para legitimar determinadas rela-
ções de poder que a consciência apresenta como objetivas, universais e necessá-
rias, portanto supostamente verdadeiras, algumas representações que, na reali-
dade social, referem-se de fato a interesses de grupos particulares, em geral
grupos dominantes, detentores do poder no interior da sociedade.
A força do processo de ideologização é, sem dúvida, um dos maiores
percalços da prática educativa, porque ela atua no seu âmago. Mas a possibilida-
314 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
de da interferência da ideologia não invalida nem inviabiliza a escola. O simples
fato do reconhecimento do poder ideologizador da educação testemunha igual-
mente o valor da subjetividade, seu poder de doação de significações. O que
cabe, no entanto, à escola, na sua autoconstituição como centro de um projeto
educacional, é ter presente essa ambivalência de sua própria condição de agên-
cia educativa e investir na explicitação e na crítica desses compromissos ideoló-
gicos, etapas preliminares para que possa tornar seu projeto elemento que trans-
forma a escola em lugar também de elaboração de um discurso contra-ideoló-
gico e, conseqüentemente, de instauração de uma nova consciência social e até
mesmo de novas relações sociais. A educação pode se tornar também uma
força transformadora do social, atuando portanto contra-ideologicamente.
Educar contra-ideologicamente é utilizar, com a devida competência e
criticidade, as ferramentas do conhecimento, as únicas de que efetivamente o
homem dispõe para dar sentido às práticas mediadoras de sua existência real.
Por mais ambíguos e fragilizados que sejam esses recursos da subjetividade, eles
são instrumentos capazes de explicitar verdades históricas e de significar, com
um mínimo de fidelidade, a realidade objetiva em que o homem desenvolve
sua história. O que se impõe é a adequada exploração do conhecimento, pode-
rosa estratégia do homem para se nortear no espaço social e no tempo históri-
co. Daí a relevância do conhecimento em suas dimensões científica e filosófica,
âmbitos nos quais há a possibilidade efetiva de se assegurar a competência e a
criticidade necessárias no caso de utilização de nossa subjetividade.
A escola se caracteriza, pois, como a institucionalização das mediações
reais para que uma intencionalidade possa tornar-se efetiva, concreta, histórica,
para que os objetivos intencionalizados não fiquem apenas no plano ideal, mas
ganhem forma real.
Assim sendo, a escola se dá como lugar do entrecruzamento do projeto
político coletivo da sociedade com os projetos pessoais e existenciais de
educandos e educadores. É ela que viabiliza que as ações pedagógicas dos edu-
cadores se tornem educacionais, na medida em que se impregna das finalidades
políticas da cidadania que interessa aos educandos. Se, de um lado, a sociedade
precisa da ação dos educadores para a concretização de seus fins, de outro os
educadores precisam do dimensionamento político do projeto social para que
sua ação tenha real significado como mediação da humanização dos educandos.
Estes encontram na escola um dos espaços privilegiados para a vivificação e a
efetivação de seu projeto.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 315
A escola se faz necessária para abrigar e mediatizar o projeto educa-
cional, imprescindível para uma sociedade autenticamente moderna. A
especificidade do trabalho pedagógico exige uma institucionalização de meios
que vinculem educadores e educandos. A escola não pode ser substituída
pelos meios de comunicação de massa; toda relação pedagógica depende
de um relacionamento humano direto. Toda situação de aprendizagem, para
ser educacional, não basta ser tecnicamente operativa; precisa ser pedagógi-
ca, ou seja, relacionar pessoas diretamente entre si. Aliás, a fecundidade di-
dática dos meios técnicos já é dependente da incorporação de significados
valorativos pessoais.
Para que se possa falar de um projeto impregnado por uma
intencionalidade significadora, impõe-se que todas as partes envolvidas na prá-
tica educativa de uma escola estejam profundamente integradas na constituição
e no vivenciamento dessa intencionalidade. Do mesmo modo que, num campo
magnético, todas as partículas do campo estão imantadas, no âmbito de um
projeto educacional todas as pessoas envolvidas precisam compartilhar dessa
intencionalidade, adequando seus objetivos parciais e particulares ao objetivo
abrangente da proposta pedagógica decorrente do projeto educacional. Mas,
para tanto, impõe-se que toda a comunidade escolar seja efetivamente envolvi-
da na construção e na explicitação dessa mesma intencionalidade. É um sujeito
coletivo que deve instaurá-la; e é nela que se lastreiam a significação e a legitimi-
dade do trabalho em equipe e de toda interdisciplinaridade, tanto no campo
teórico como no campo prático.
Ao investir na constituição da cidadania dos indivíduos, a educação esco-
lar está articulando o projeto político da sociedade – que precisa ter seus mem-
bros como cidadãos – e os projetos pessoais desses indivíduos que, por sua
vez, precisam do espaço social para existir humanamente.
Em sociedades históricas passando por momentos de determinação
alienadora, de opressão e de exploração, implementando projeto político volta-
do para interesses egoísticos de grupos particulares hegemônicos, como é o
caso de nossa sociedade brasileira atual, fica ainda mais fragilizada a força da
instituição escolar nesse seu trabalho de construção da cidadania, uma vez que o
projeto educacional autêntico estaria necessariamente em conflito com o proje-
to político da sociedade que, ao oprimir a maioria dos indivíduos que a inte-
gram, compromete até mesmo a possibilidade de o educador construir seu
projeto pessoal. Esbarra-se aí nos limites impostos pela manipulação, pela ex-
316 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
propriação e pela alienação dos seres humanos. Muitas vezes, investir na cons-
trução de um projeto educacional é pura prática de resistência.
No entanto, mesmo nesse caso, a escola se torna ainda mais necessária,
impondo-se um investimento sistemático com vistas a sua sustentação e ao
desenvolvimento de um projeto educacional eminentemente contra-ideológico,
ou seja, desmascarando, denunciando, criticando esse projeto político, não se
conformando com ele, não o aceitando passivamente. Com as armas fornecidas
pelo conhecimento, devendo realizar seu trabalho educacional no contexto de
uma sociedade opressiva, os educadores precisam pautar-se num público de
educação, concebido e articulado em instituições que gerem um espaço público
aberto à totalidade social, sem qualquer tipo de restrição.
Após duas décadas sob a tutela de um Estado autoritário e autocrático,
no qual a dimensão pública se reduzira à expressão meramente tecnoburocrática
do estatal, mergulhada na voracidade consumista do momento neoliberal, o
sentido do público acaba deslizando para uma mera identificação do civil ao
mercadológico, ou seja, a sociedade civil não é mais a comunidade dos cida-
dãos, mas a comunidade dos produtores e dos consumidores em relação de
mercado. Toda a vida social passa a ser medida e marcada pelo compasso das
transações comerciais, do que não escapa nenhum setor da cultura, nem mesmo
a educação. O dilema que vivemos hoje se expressa exatamente por essa ambi-
güidade, pela qual a dimensão pública se esvazia, impondo a minimização do
Estado na condução das políticas sociais, que ficam dependentes apenas das leis
do mercado, tido como dinâmica própria da esfera do privado. Daí o ímpeto
privatizante que varre a sociedade e a cultura do Brasil nas últimas três décadas,
sob o sopro incessante e denso dos ventos ideológicos do neoliberalismo. A
oferta de educação, assim como dos demais chamados serviços públicos, é um
dentreoutros empreendimentos econômico-financeiros a serem conduzidos
nos termos das implacáveis leis do mercado.
Em todas as situações de ambigüidade que as atravessam, as categorias
de público e de privado padecem de uma limitação congênita que compromete
sua validade político-educacional, impondo aos atuais teóricos e práticos da
educação uma inconclusa tarefa de redimensioná-los com vistas a assegurar-lhe
eficácia e legitimidade. Para tanto, é preciso ter presente a historicidade da cons-
trução dessas categorias. Assim, é necessário reconhecer a procedência da uni-
versalidade do bem comum, mas que deve ser entendida como uma possibili-
dade histórica a ser realizada no fluxo do tempo. Impõe-se ainda reconhecer a
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 317
rica contribuição do iluminismo liberal na construção do estado de direito como
tentativa de instauração de uma determinada ordenação do social. Como se
sabe, o direito nasceu na civilização humana como forma de organizar as rela-
ções entre os homens, de modo a garantir um mínimo de simetria nessas rela-
ções, assegurando assim a justiça, ou seja, que um mínimo de eqüidade nelas
reinasse. No entanto, tão logo conseguiu apreender-se como uma coletividade a
que se impunha uma convivência em comum, a humanidade percebeu, com
base em sua experiência empírica, que o tecido social não se constituía como
uma teia de membros iguais. O tecido social era todo marcado por forte
hierarquização estratificada, em que ocorre grande desequilíbrio das forças em
presença, em que alguns indivíduos ou grupos não só se opunham uns aos
outros como dominavam os indivíduos ou grupos mais fracos. Uma intensa
luta de interesses colocava esses elementos em situação de conflito, geradora de
muitas formas de violência e de opressão.
É íntima a aproximação que os teóricos modernos fizeram entre demo-
cracia e o caráter público da atuação do Estado (por isso mesmo, deveria ser
preferencialmente uma res publica), mediante a qual poderia assegurar a todos os
integrantes da sociedade o acesso e o usufruto dos bens humanos, garantindo a
todos, com o máximo de eqüidade, o compartilhamento do bem comum. No
entanto, essa expectativa tende a frustrar-se continuamente, tal a fragilidade do
direito em nossa sociedade. A experiência histórica da sociedade brasileira foi e
continua sendo marcada pela realidade brutal da violência, do autoritarismo, da
dominação, da injustiça, da discriminação, da exclusão, enfim, da falta do direi-
to. É assim que o nosso não tem sido um Estado de direito; ele sempre foi, sob
as mais variadas formas, um Estado de fato, no qual as decisões são tomadas e
implementadas sob o império da força e da dominação. Não é um agenciador
dos interesses coletivos e muito menos dos interesses dos segmentos mais fra-
cos da população que constitui sua sociedade civil. Na verdade, as relações de
poder no interior da sociedade brasileira continuam moldadas nas relações de
tipo escravocrático que a fundaram, aquelas relações do tipo ‘casa-grande e
senzala’, metáfora que é, na verdade, descrição científica.
Desse modo, o direito acaba desvirtuado pelo seu próprio enviesamento
ideológico. Se, de um lado, ele é visto pelos que dele dependem como meio
para contar com o usufruto do bem comum, de outro ele é usado por aqueles
que dele pouco precisam para salvaguardar seus privilégios. No campo especí-
fico da educação, a legislação passa a ser então estratagema ideológico, prome-
318 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
tendo exatamente aquilo que não pretende conceder. Por isso mesmo, na medi-
da em que grupos com interesses diferentes e opostos podem lutar por eles,
acabam travando uma luta ideológica, ou seja, buscam servir-se da legislação
como um instrumento da garantia desses direitos. Nessa luta sem tréguas, o
caráter público da educação vai sendo, cada vez mais, comprometido.
É por isso mesmo que, de acordo com o atual modelo, o processo
fundamental da história humana deve ser conduzido pelas forças da própria
sociedade civil, e não mais pela administração via aparelho do Estado. Entende-
se que o motor da vida social é o mercado, e não a administração política. As
leis gerais são aquelas da economia do mercado, e não as da economia política.
E o mercado se regula por forças concorrenciais, nascidas dos interesses dos
indivíduos e grupos, que se ‘vetorizam’ no interior da própria sociedade civil –
donde a proposta do Estado mínimo e os elogios à fecundidade da livre-
iniciativa, à privatização generalizada etc.
Dessa situação decorrem igualmente os profundos equívocos que vêm
atravessando a política educacional brasileira das últimas décadas, ao estender a
privatização exacerbada e sem critérios também aos assim chamados ‘serviços
educacionais’, atendendo apenas às diretrizes da agenda econômica neoliberal.
Trata-se de prática duplamente perversa. De um lado, desconhece a incapacida-
de econômica da maioria da população brasileira de se integrar no processo
produtivo de uma economia de mercado, que pressupõe um patamar mínimo
de condições objetivas para que os agentes possam dela participar. Abaixo des-
se nível, essa participação se situará necessariamente numa esfera de marginalidade
econômico-social. De outro lado, a perversidade do sistema se manifesta igual-
mente no fato da precária qualidade de educação que sobra para a população
que dela mais precisa, tanto nas escolas/empresas quanto nas escolas públicas
ainda mantidas pelo Estado, ou seja, tal educação ofertada não habilitará essa
população a ponto de lhe viabilizar a ruptura do círculo de ferro de sua opres-
são. Apenas uma elite vinculada aos segmentos dominantes dispõe de uma edu-
cação qualificada, sem dúvida alguma capaz de habilitá-a para continuar no
exercício da dominação.
O sentido do público é aquele abrangido pelo sentido do bem comum
efetivamente universal, ou seja, que garanta ao universo dos sujeitos o direito de
usufruir dos bens culturais da educação, sem nenhuma restrição. A questão bá-
sica não é a da referência jurídica de manutenção dos subsistemas de ensino,
mas a do seu efetivo envolvimento com o objetivo da educação universalizada.
 Fundamentos Ético-Políticos da Educação 319
As instituições particulares de ensino também não podem eximir-se de um
comprometimento que leve em conta um projeto político-social identificado
com as necessidades objetivas do todo da população. O equívoco radical está
em se entenderem e, sobretudo, em se vivenciarem apenas como instâncias do
mercado, em que os bens simbólicos da cultura transformam-se em bens pura-
mente econômicos, esvaziados de todo conteúdo humano e humanizador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De todas essas considerações, impõe-se concluir que, na atual situação
histórico-social brasileira, só mesmo um sistema universalizado de ensino es-
tará em condições de enfrentar o desafio da construção da cidadania –
universalização esta absolutamente imprescindível para tanto. Se é verdade
que possam existir, hipoteticamente, variadas modalidades de mediações da
educação, historicamente é também verdadeiro que a escola se revela como
sua mediação potencialmente mais eficaz para a universalização da educação.
Isso implica, sem nenhuma dúvida, a constituição de um grande e qualificado
sistema público de ensino.
A identidade específica da prática educativa, a ser implementada por
todos aqueles que têm um projeto civilizatório para o enfrentamento dos desa-
fios históricos lançados na atualidade, se encontra no tripé formado pelo domí-
nio do saber teórico, pela apropriação da habilitação técnica e pela sensibilidade
ao caráter político das relações sociais. Mas essas três dimensões só se consoli-
dam se soldadas, se articuladas pela dimensão ética. O envolvimento pessoal e a
sensibilidade ética dos educadores estão radicalmente vinculados a um com-
promisso com o destino dos homens. É à humanidade que cada um tem que
prestar contas. Por isso mesmo é que o maior compromisso ético é ter com-
promisso comas responsabilidades técnicas e com o engajamento político. Tra-
ta-se, pois, para todos os homens, de vincular sua responsabilidade ética à res-
ponsabilidade referencial de construção de uma sociedade mais justa, mais eqüi-
tativa – vale dizer, uma sociedade democrática, constituída de cidadãos partici-
pantes em condições que garantam a todos os bens naturais, os bens sociais e os
bens simbólicos, disponíveis para a sociedade concreta em que vivem, e a que
todos têm direito, em decorrência da dignidade humana de cada um.
O respeito e a sensibilidade ao eminente valor representado pela dignida-
de da pessoa humana não tornam essa postura ética abstrata, idealizada e aliena-
320 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
da. Ao contrário, exigem o aguçamento da sensibilidade às condições históricas
e concretas de nossa existência – afinal, suas únicas mediações reais. Esse
aguçamento exige, por sua vez, o pleno compromisso de aplicação do uso da
única ferramenta para a orientação da existência humana: o conhecimento que
precisa tornar-se, então, competente, criativo e crítico. A mais radical exigência
ética que se faz manifesta, neste quadrante de nossa história, para todos os
sujeitos envolvidos na e pela educação é, sem nenhuma dúvida, o compromisso
de aplicação do conhecimento na construção da cidadania.
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ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. Lisboa, São Paulo: Presença,
Martins Fontes, s.d.
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IBGE. PNAD: Relatório 2004. Brasília: IBGE, 2005.
LOMBARDI, J. C. & GOERGEN, P. (Orgs.). Ética e Educação: reflexões filosóficas e
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LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. & SANFELICE, J. L. (Orgs.). Capitalismo, Trabalho
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MARTINS, C. B. Ensino Privado, um Retrato sem Retoques. São Paulo: Global, 1981.
SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra-Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.
SEVERINO, A. J. Educação, Sujeito e História. São Paulo: Olho d’Água, 2001.
XAVIER, M. E. S. P. Políticas educacionais, modelos pedagógicos e movimentos
sociais. In: MIGUEL, M. E. B. & CORRÊA, L. T. (Orgs.). A Educação Escolar
em Perspectiva Histórica. Campinas: Autores Associados, Capes, 2005. p.283-
291. (Memória da educação)
Formato: 16 x 23 cm
Tipologia: Garamond e Engravers
Papel: Pólen Bold 90g/m2(miolo)
Cartão supremo 250g/m2 (capa)
Fotolito: Graftipo Gráfica e Editora Ltda.(capa)
Fotolitos: Laser vegetal (miolo)
Reimpressão e acabamento: Editora e Papéis Nova Aliança
Rio de Janeiro, julho de 2014
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Painel / Minhas Disciplinas / 10A105 / Aula 01 - História da ética / Atividade 01
Ética nas Organizações
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Monday, 26 Sep 2022, 13:11
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Questão 1
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Com base nos fundamentos ético-políticos da educação no Brasil
de hoje, marque a alternativa correta:
Escolha uma opção:
a.
o ético-político incorpora a sensibilidade aos valores da
convivência social, da condição coletiva das pessoas. A relação, a
inter-relação, a dependência recíproca entre as pessoas, é
também um valor ético – a eticidade que se apóia na dignidade
humana.
b.
educar contra-ideologicamente é utilizar, com a devida
competência e criticidade, as ferramentas do conhecimento, as
únicas de que efetivamente o homem dispõe para dar sentido às
práticas mediadoras de sua existência real.
c.
a ética contemporânea entende que o sujeito humano se
encontra sob as injunções de sua realidade natural e histórico-
social, que até certo ponto o conduz, determinando seu
comportamento, mas que é também constituída por ele, por
meio de sua prática efetiva.
d.
Todas as alternativas estão corretas.
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Questão 2
Completo
Atingiu 0,00 de 2,00
Assinale a alternativa correta, com base no conceitos apresentados
na aula.
Escolha uma opção:
a. os �lósofos gregos foram os primeiros a pensar o conceito de
ética, associando a tal palavra a ideia de imoral e cidadania.
b. precisavam de honestidade, �delidade e harmonia entre seus
cidadãos, porque suas cidades-Estado estavam em
desenvolvimento.
c. o signi�cado da palavra ética vem do Latim ethos, referente ao
modo de ser do indivíduo, ou ao caráter do ser humano. Na
Grécia Antiga, período que coincide com o século V a.C.
d. todos os itens anteriores estão incorretos. 
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Questão 3
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Marque a alternativa incorreta quanto aos pensadores gregos.
Escolha uma opção:
a. Para Sócrates, virtude é sabedoria (so�a) e conhecimento. Já o
vício é o resultado da ignorância.
b. Aristóteles também encaminhou seus estudos para as áreas
da política e da reforma social, em decorrência do seu
envolvimento com a difícil situação de Atenas, após a Guerra do
Peloponeso.
c. Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores gregos mais
estudados e citados no campo da ética. De um modo geral,
a�rmavam que a conduta do ser humano deveria ser pautada no
equilíbrio, a �m de  evitar a falta de ética. Pregavam a virtude, a
estreiteza moral e outras atitudes voltadas para a ética.
d. Segundo a Teoria das Ideias de Platão, existem dois mundos; o
primeiro mundo é composto. por ideias imutáveis, eternas,
invisíveis e diferentes das coisas concretas; o segundo, o mundo
real, é constituído por réplicas das ideias (coisas sensíveis), cópias
imperfeitas e mutáveis.
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Questão 4
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Com base no texto a seguir, marque (V) Verdadeiro ou (F) Falso.
Falar sobre ética é lembrar os antigos ensinamentos de uma época
em que o homem começou a conviver em sociedade e, a partir
dessa experiência, passou a estabelecer normas de
comportamento e convívio. Dessa convivência dos grupos
societários surgiu a ética, cujos valores até hoje permanecem e vão
se modi�cando, sendo questionados e até mesmo banalizados ou
esquecidos.
(     ) ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à
conduta humana susceptível de quali�cação, do ponto de vista do
bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja
de modo absoluto” (HOLANDA, 1999, p. 848).
Escolha uma opção:
Verdadeiro
Falso
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Questão 5
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Marque (V) Verdadeiro e (F) Falso:
( ) O pensamento moral de Aristóteles está exposto em obras
como Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e A Grande Ética. As suas
obras foram das mais discutidas e comentadas da Antiguidade,
deixando uma importante herança para a história da cultura e da
�loso�a.
( ) Seguindo suas ideias reformistas, Platão fundou a sua escola
em Atenas, que denominou Academia, um estabelecimento
destinado à educação de adultos, com aulas ministradas por vários
professores.( ) Aristóteles nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470
a.C., e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga.
Aprendeu música e literatura, mas se dedicou à meditação e ao
ensino �losó�co. 
( ) Ao contrário do que se pode pensar, o mundo das Ideias, de
Sócrates, é o lugar das coisas verdadeiras enquanto o mundo real é
o lugar onde reinam as aparências e as sombras.
Escolha uma opção:
a. V, F, F, V.
b. F, F, V, F.
c. V, V, V, F.
d. F, F, V, V.
e. V, V, F, F.
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Moral e princípios éticos 
Ética e moral
 Relembrando a origem das palavras, ética vem do Grego ethos, que significa “modo de ser”. Moral, 
por sua vez, vem do Latim mores e significa “costumes”. 
Entre os filósofos contemporâneos que discutem o tema, encontram-se aqueles que acreditam 
ser a distinção entre moral e ética algo de elevada importância; já outros sequer distinguem os dois 
conceitos, ou ainda, fazem uma mistura completa, entrelaçando-os e interligando-os constantemente, 
como se um conceito não pudesse existir sem o outro. 
Na religião, por exemplo, pode-se dizer que tanto católicos como protestantes discutem regras 
de conduta e valores sociais. Contudo, para os protestantes, esses aspectos estão bastante relacionados 
à ética. Já os católicos, que discutem o mesmo conteúdo, definem-no no campo da moral. Para que 
haja uma compreensão simplificada sobre o assunto, é interessante alinhavar algumas diferenças, e, em 
outro momento, mostrar a igualdade de conceitos.
Diferenças de conceitos
Para diferenciar ética de moral, é razoável lembrar que a primeira procura as causas do compor-
tamento humano, as atitudes do indivíduo inserido em uma determinada sociedade. Pensar sobre ética 
induz a uma reflexão sobre o significado do bem, das virtudes e de nossa relação com o próximo. A 
moral, por sua vez, trata do juízo de valor concebido pelo indivíduo que agirá conforme sua consciência 
determina. Corresponde a um conjunto de regras de conduta social que contribuem para a harmonia 
da ordem de uma sociedade específica. Tais regras assumem as características próprias do contexto 
sócio-histórico vivenciado pelo indivíduo.
Tendo em vista que os códigos de moral mudam de país para país, de comunidade para comuni-
dade e até mesmo de família para família, deve-se ter muito cuidado ao se julgar esses códigos como 
“inadequados” ou “ignorantes”. Por exemplo, um ocidental, que possui uma moral muito diferente de 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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qualquer povo oriental, não pode querer impor seus princípios. Não há um código mais correto que 
outro, tendo em vista a diversidade cultural que se estende ao redor do mundo.
A moral, na explicação do filósofo Vázquez (1997, p. 24) é “um conjunto de normas e regras 
destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social”. 
Pode-se citar um exemplo para a melhor compreensão dessa questão. Uma pessoa que sai para 
passear completamente nua numa rua movimentada da cidade seria imediatamente considerada imo-
ral, mas sua atitude dificilmente seria considerada uma falta de ética, pois não está praticando mal 
algum ao próximo. Mas se essa nudez é para um fim específico, representando uma forma de perversão 
ou prostituição, daí sim estaria infringindo as leis éticas de nossa sociedade. 
A ética está diretamente relacionada à Filosofia, tendo em vista que busca refletir sobre a existên-
cia humana e, assim, estabelecer o ideal de comportamento do homem em sociedade. 
A reflexão sobre o ethos leva-nos à prática do respeito ao próximo, do bem social, do exercício 
da cidadania. A partir da ética, fala-se sobre autonomia da vontade em praticar o bem. Vale lembrar, no 
entanto, que o comportamento ético não se refere apenas à prática do bem, mas a exteriorizar aquilo 
que se aprendeu a respeito. É exercitar a tolerância diante das faltas alheias, a paciência em muitos mo-
mentos da vida, a obediência aos superiores em uma hierarquia, o silêncio ante uma ofensa recebida. 
Diferenças entre ética e moral.
Ética é permanente, moral é temporal. ::::
Ética é universal, moral é cultural.::::
 Ética é regra, moral é conduta da regra. ::::
 Ética é teoria, moral é prática. ::::
A ética é permanente, imutável e constante, posto que é a determinação do que é o bem, o justo, 
o correto. A moral se modifica conforme a passagem do tempo e se adapta à cultura de um grupo ou 
de um povo. É a regulamentação dos valores e dos comportamentos considerados legítimos por uma 
determinada religião, sociedade, povo, tribo, ordem política, tradição cultural, e, dessa forma, não é 
universal. 
Por fim, a ética está nos conceitos teóricos do bem e do mal, do certo e do errado, do justo e do 
injusto. A moral, por sua vez, está no campo da prática, da consciência do homem, regulando seus atos 
no exercício do bem e da justiça. 
Igualdade de conceitos
Em nossos dias, enfrentamos problemas de ordem moral e ética. Estamos sempre perguntando 
à nossa consciência se devemos fazer isto ou aquilo, sempre preocupados em não prejudicar o próxi-
mo. O entendimento da diferença entre esses dois conceitos na nossa realidade confunde-se e muitos 
16 | Moral e princípios éticos
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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estudiosos ainda encontram dificuldades em diferenciar ambos. Seus significados se misturam na for-
ma cotidiana de viver e pensar de cada indivíduo. Assim, algumas considerações podem ser feitas para 
demonstrar que as duas denominações buscam fins idênticos e benéficos para as sociedades e suas 
organizações e, por isso, igualam-se. Vamos analisar a situação hipotética a seguir:
Ao saber que um prefeito, sem constrangimento e amparado pela legislação, aumentou seu 
salário em 100%, a população daquela cidade, indignada, afirmou que ele foi imoral e faltou com a 
devida ética.
Talvez, o que favoreça a confusão entre ética e moral seja o fato de que, originalmente, os roma-
nos traduziram a palavra ética, do Grego ethos, literalmentepara a palavra mores, moral, no tocante aos 
hábitos, costumes, usos e regras. Por isso, pode-se dizer que ocorre a fusão de ambos os conceitos, na 
medida em que não existe a prática de ato moral sem o prévio conhecimento de conceitos éticos.
Moral como objeto da ética
Pode-se relacionar os dois conceitos, afirmando que a moral é o objeto de estudo da própria ética. 
Tal asserção torna-se coerente se pensarmos que fazem parte da ética os bons costumes, valores como o 
amor, solidariedade, paz, bondade e tolerância, ou seja, aspectos de natureza eminentemente moral. 
A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ética não é 
moral. Ética é a reflexão crítica do ato moral, do que está certo ou errado, do que é justo ou injusto. 
Como lembra Nalini (2001, p. 57), ao praticar um ato seguindo sua moral o indivíduo estará sujei-
to a sofrer consequências negativas. Muitas vezes, o que para uns parece correto, para outros pode ser 
“imoral”. Alguns povos têm hábitos culturais que consideram corretos, mas que podem ser incorretos 
para outro grupo social. Ou seja, tais hábitos podem ser imorais1 ou amorais2. 
Em uma família, pai, mãe e filhos têm o costume de tomar banho todos juntos. É um hábito decor-
rente de uma cultura específica que foi nela introduzido por costumes de familiares antepassados. Nessa 
cultura, considera-se a exposição do corpo nu sem quaisquer conotações de sexualidade ou de promis-
cuidade. No entanto, tal hábito, caso seja relatado a outras pessoas, não pertencentes à cultura da família 
citada, certamente não terá uma boa aceitação, considerando-o imoral.
Diante de uma diversidade de culturas, é necessário que se regulamentem as condutas social-
mente aceitas. Para isso, tem-se o Código de Ética, uma ampla gama de estatutos e regulamentos que 
normalizam o que pode ou não pode ser considerado moral numa organização, numa sociedade, ou 
seja, no âmbito comum. Dentro do campo da ética, está sendo estipulada o que se considera aceitável 
sobre a conduta individual, para manter o equilíbrio, a igualdade de condições, o respeito mútuo, enfim, 
a maneira correta de se comportar adequadamente em sociedade. 
1 Imoral: contrário à moral, contrário às regras de conduta vigentes em dada época ou sociedade ou ainda contrário àquelas regras que um 
indivíduo estabelece para si próprio; sem moralidade, indecoroso, vergonhoso.
2 Amoral: moralmente neutro (nem moral nem imoral, isto é, nem contra, nem a favor da moral); que não leva em consideração preceitos 
morais, indiferente a eles; que não tem senso de moral.
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Virtudes segundo Aristóteles
Ao falarmos sobre ética e moral, é oportuno lembrar que Aristóteles questionou-se bastante 
sobre a ideia do bem e do mal. Esse filósofo grego, por meio da observação do comportamento hu-
mano, notou que o homem parece necessitar de riqueza e prosperidade, mas para ser feliz também 
precisa das virtudes. A felicidade é uma atividade virtuosa da alma. O filósofo ensina que há duas es-
pécies de virtudes: as intelectuais e as morais. As virtudes intelectuais resultam do ensinamento. As vir-
tudes morais resultam do hábito, adquiridas pelo exercício desses costumes. O homem torna-se justo 
praticando atos justos. Os homens tornam-se arquitetos construindo edifícios. Mas Aristóteles alerta 
que, da mesma forma que se gera virtudes, pode-se destruí-las. O homem torna-se completamente 
bom ou completamente mal, não havendo meio-termo. Como já afirmou Chauí (1994, p. 310), “(...) e 
assim, a felicidade não é obra de um só dia, nem de pouco tempo, mas de uma vida inteira”. 
Para tanto, o pensador grego explica que a Doutrina do Meio-Termo garante a prática de ações que 
possibilitam a formação de um caráter excelente, do homem feliz. A virtude ética é a perfeita medida da 
razão para o comportamento do homem, o qual, muitas vezes, tende a cometer excesso em suas atitu-
des. São alguns exemplos de virtudes aristotélicas, de seus respectivos excessos e deficiências:
cora:::: gem – é o meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança. A covardia é a 
deficiência dessa virtude e a temeridade é o excesso. 
temperança:::: – é o meio-termo em relação aos prazeres. Assim, por exemplo, a moderação é a 
temperança no comer e a sobriedade no beber. A gula é o outro extremo dessa virtude. 
seriedade:::: – é o meio-termo entre a complacência e a soberba.
justa indignação:::: – é o meio-termo entre a inveja e o despeito. 
calma:::: – é o meio-termo em relação à cólera e à pacatez. 
magnificência:::: – é o meio-termo entre a suntuosidade e a mesquinharia. 
veracidade:::: – é o meio-termo no tocante à verdade. Já o exagero é a jactância, e a carência 
dessa virtude gera a falsa modéstia.
amabilidade:::: – é o meio-termo na disposição de agradar a todos de maneira devida e amável; 
o excesso é o obsequioso, se não tiver propósito; e lisonjeiro, se visa a um interesse próprio; a 
deficiência é a pessoa mal-humorada (mau-humor).
modéstia:::: – seu exagero gera o envergonhado (vergonha); enquanto aquele que mostra defi-
ciência é o despudorado, que não se envergonha de coisa alguma (despudor).
justiça:::: – é o meio-termo entre o ganho e a perda. A justiça é a disposição de caráter que torna 
as pessoas propensas a fazer o que é justo e a desejar o que é justo. Dessa forma, a justiça é 
uma virtude completa, por isso, é considerada, muitas vezes, a maior das virtudes. 
É importante saber que é o caráter voluntário ou involuntário que determina o justo. O homem 
só é justo quando age de maneira voluntária e tem consciência de seus atos. Caso contrário, não pode 
ser considerado justo ou injusto.
Temos nesses ensinamentos o quanto é importante saber a respeito das deficiências e excessos das 
virtudes para se buscar o meio-termo e, com isso, tornar-se digno e virtuoso. É fundamental aprender, 
por exemplo, o quanto é prejudicial ser excessivamente polido numa determinada situação, quando 
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se poderia ser amável e conquistar a todos. Igualmente, se algumas pessoas fossem menos ostensivas, 
certamente se tornariam mais autênticas. A justa medida dos sentimentos traz ao homem mais sucesso 
em todas as instâncias de sua vida. 
Princípios éticos
Vale lembrar que são muitos os problemas a serem enfrentados pelo homem contemporâneo 
quanto à sua conduta moral. Dentre eles, destaca-se a dificuldade de discernimento entre o bem e o 
mal. É comum, ao longo de sua vida diária, os indivíduos se perguntarem: 
O que é o bem?::::
Quais são os fundamentos das condutas morais e éticas?::::
Colocando tais questões, entraremos no campo dos princípios éticos, refletindo sobre experiên-
cias dos bons costumes, das obrigações e dos deveres.
Ao longo desta aula, será destacada a importância dos princípios éticos para a vida em socieda-
de. Tais princípios devem ser retomados e renovados. Devem ainda instigarem a reflexão no tempo e 
no espaço em que vive o homem. Falar, por exemplo, em dignidade humana, liberdade e igualdade é 
buscar nortear e esclarecer as pessoas para que não incorram em desvios de valores e desconsiderem o 
corrente código ético e moral. O homem a serviço ou não da sociedade onde vive, julga e é julgado por 
ela, com base em princípios éticos comuns. Por isso, os indivíduos têm por obrigação conhecer esses 
princípios sociais, para neles pautar sua conduta moral. 
Atitudes como a de ser íntegro, preservar com sabedoria a liberdade de escolha, praticar o ab-
soluto respeito à vida humana em todas as suas formas e manifestações, ser honesto com o próximo e 
consigo mesmo, falar sempre a verdade, agir com responsabilidade sobre suas atitudes, além de ter boa 
conduta pessoal, são exemplos considerados éticos para boa parte das sociedades contemporâneas.Vázquez (1997) afirma que é possível falar em comportamento moral somente quando o indiví-
duo opta conscientemente por ele. Isso envolve o pressuposto de que o homem pode fazer o que quer, 
ou seja, escolher entre duas ou mais alternativas, agindo de acordo com sua decisão. Por isso, pode-se 
afirmar que a liberdade torna os indivíduos totalmente responsáveis pelas suas escolhas. 
Valores no mundo atual
Moisés repassou 10 mandamentos ou regras ao seu povo que, segundo o profeta, teriam vin-
do diretamente de Deus. Passados milhares de anos, as pessoas ainda relembram esses ensinamentos 
como a verdadeira forma de conduta moral e ética. Contudo, essas mesmas pessoas parecem estar 
numa encruzilhada, sem saber o que é certo ou errado, principalmente quando se trata de sua sobrevi-
vência financeira no mundo dos negócios e na ascensão profissional.
Então, como manter intacto o respeito aos valores, às questões e princípios éticos elaborados e 
desenvolvidos ao longo da história? Como se manter ético na “guerra dos negócios”? 
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A ética e a moral determinam a perfeição do ser. Mas, as pessoas, sofrendo com as pressões da 
vida moderna, confundem os meios com os fins, e não conseguem visualizar claramente o fim último 
da existência humana. O amor ao próximo, o respeito à vida, à igualdade, à solidariedade são valores 
que não caem de moda, são perenes. A ambição nasce de uma vontade a ser realizada e pode ser consi-
derada um sentimento virtuoso, digno, correto. Mas, o que vemos nos dias atuais?
Vemos homens e mulheres esquecendo-se dos princípios éticos, fundamentais para o sucesso no 
campo dos negócios. Para realizar seu projeto de vida, não é necessário que a prática de ações golpeie 
os valores morais. E o mesmo serve para as ações individuais no cumprimento dos deveres, que devem 
respeitar a liberdade do indivíduo e, principalmente, a do próximo. 
Nas relações sociais, os princípios éticos têm extrema importância. Nenhum indivíduo será res-
peitado se não dispensar o mesmo tratamento ao próximo. Ele só será considerado ético se estiver 
vivendo e agindo de acordo com as normas e convenções sociais. 
A população, não só brasileira, mas mundial, tem assistido a ondas de organizações criminosas, 
que têm como código moral não praticar seus crimes nas comunidades onde residem. Além disso, os 
componentes das organizações do narcotráfico obedecem ao código moral imposto pelos traficantes. 
E na política do nosso país? Atualmente há uma reestruturação nos partidos políticos. Todos os 
dias, eleitos pelo povo passam de um grupo para outro, motivados por falsos princípios morais, por 
armações e atitudes individuais vergonhosas com relação ao erário3. Mesmo assim, acabam sendo re-
eleitos, recolocados nas câmaras, assembleias e no Senado Federal. Como bem lembra Zajdsznajder 
(1994, p. 96):
Os políticos dispõem mais que o poder de elaborar e votar leis: podem estabelecer programas e dotações que irão be-
neficiar comunidades, cidades, regiões, setores econômicos. É certo que também faz parte do jogo democrático que os 
interessados busquem, tanto no Congresso quanto nas agências governamentais, a realização de seus interesses. Essas 
atividades, denominadas lobby, contêm um elemento legítimo, que é o de apresentar o caso, mostrando a validade dos 
interesses. O lado ilegítimo apresenta-se quando se parte para adquirir a boa vontade por meio de presentes e facilidades 
– como viagens e hospedagens gratuitas, informações sobre possibilidade de negócios ou mesmo dinheiro.
Todo esse processo ilegítimo já é conhecido há décadas. A cada momento histórico, assiste-se a 
mais uma história de vergonha política. Como se não bastasse, surgem cada vez mais as ondas de vio-
lência, motivadas pelos novos valores do incorreto e do injusto. 
Como alternativa a esse quadro, muitas reflexões devem ser feitas. Os conceitos também deve-
rão ser analisados com base nas nossas aspirações, naquilo que a humanidade quer para os seus dias 
futuros. Certamente queremos o resgate dos valores éticos, queremos a vida de condutas corretas e um 
mundo de respeito e cidadania.
É interessante refletir acerca do comportamento humano, quando muitos apontam criminosos 
do campo da política, do meio ambiente, da área econômica. Culpa-se o outro pela conduta vergo-
nhosa, quando se sabe que pouco se faz para erradicar o crime. A covardia para a realização de soluções 
eficazes também pode ser considerada uma vergonha. 
O problema é global. A infância e a juventude, cada qual ao modo mais adequado, devem ser 
conscientizadas da forma mais ampla possível, acerca dos conceitos de moral, ética, princípios e valores. 
3 Erário: o tesouro público, ou seja, o conjunto de bens ou valores pertencentes ao Estado.
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A compreensão deve ser tal, que possa refletir imediatamente na nossa realidade, no momento atual, 
para que haja tempo de corrigir e reconsiderar. Não se pode esquecer também que somente ensinar a 
moral e a ética nas escolas não é suficiente, pois os mais jovens aprendem através da experiência e do 
exemplo dos mais velhos. Assim, devemos exercer a sabedoria, a felicidade, a coragem, a temperança e 
a justiça em nosso dia a dia; lembrando que se agirmos com respeito para com os outros, temos o direi-
to de também sermos respeitados.
Ampliando conhecimentos
Leitura do livro de Aristóteles :::: Ética a Nicômaco. É de fácil leitura e uma boa iniciação para es-
tudar Filosofia. 
Leitura do livro :::: Ética, de Adolfo Sánchez Vázquez.
Atividades
1. Qual é a diferença entre ética e moral?
2. Cite no mínimo três virtudes, apontando seus excessos e suas deficiências, respectivamente.
21|Moral e princípios éticos
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105
Psicologia: Teoria e Pesquisa 
2010, Vol. n. , pp. 105-114
Moral e Ética: Uma Leitura Psicológica
Yves de La Taille1
Universidade de São Paulo
RESUMO - Após um século de reflexões e investigações, como era de se esperar, a Psicologia Moral apresenta sinais de 
esgotamento de seus referenciais teóricos clássicos. Consequentemente, novas perspectivas se abrem, entre elas a abordagem 
teórica que leva o nome de ‘personalidade ética’, cuja tese é: para compreendermos os comportamentos morais (deveres) dos 
indivíduos, precisamos conhecer a perspectiva ética (vida boa) adotadas por eles. Entre os invariantes psicológicos de realização 
de uma ‘vida boa’, está a necessidade de ‘expansão de si próprio’. Como tal expansão implica ter ‘representações de si’ de 
valor positivo, entre elas poderão estar aquelas relacionadas à moral. Se estiverem, o sujeito experimentará o sentimento de 
dever, do contrário, a motivação para a ação moral será inexistente ou fraca.
Palavras-chave: Psicologia Moral; moral; ética; personalidade ética; representações de si.
Moral and Ethic: A Psychological Reading
ABSTRACT - After nearly a century of reflections and investigations, as it would be expected, the classical theoretical 
referentials of Moral Psychology show signs of exhaustion. Consequently, new perspectives open up, including the theoretical 
approach that takes the name of ‘ethic personality’, whose thesis is: to understand the moral behavior (duties) of individuals, 
one needs to know the ethical perspective (good life) adopted by them. Among the psychological invariants to hold a ‘good 
life’ is the need for ‘expansion of the self’. Such expansion involves positive ‘self representations’, among of which may be 
those related to morality. If so, the subject will experience the feeling of duty, otherwise, the motivation for moral action will 
be weak or non-existent. 
Keywords: Moral Psychology; morality; ethics; ethical personality; self’s representations.26 especial
1 Endereço para correspondência: Via das Acácias, 731. Jardim Colibri. 
Embu, SP. CEP 06805330. E.mail: ytaille@usp.br.
No começo do século XX, em 1902 exatamente, Lévy-
Bruhl, para quem “uma moral, mesmo quando quer ser 
teórica, é sempre normativa, e, justamente porque é nor-
mativa, nunca é realmente teórica” (1971, p. 12), propunha 
que a moralidade fosse finalmente tema de investigações 
científicas, notadamente psicológicas. O seu conselho foi 
seguido e, assim como na Filosofia, praticamente todos os 
grandes autores na área da Psicologia se debruçaram sobre 
o tema da moral. Os construtores de grandes ‘teorias do su-
jeito’, como Freud, Piaget e Skinner, para citar apenas três, 
dedicaram-se a pensar a moralidade por intermédio de suas 
respectivas abordagens teóricas. Todavia, os três autores 
citados o fizeram de maneira, por assim dizer, ocasional. 
Com efeito, a moral não é o tema central da psicanálise, nem 
o é do construtivismo piagetiano, e tampouco do behavio-
rismo skinneriano. Seria preciso esperar a segunda metade 
do século passado para que a chamada Psicologia Moral se 
tornasse campo preciso e consagrado de estudo, notadamente 
graças às já clássicas contribuições de Lawrence Kohlberg. 
Como o psicólogo americano inspirou-se no livro pioneiro 
de Jean Piaget, Le jugement moral chez l’enfant, publicado 
pela primeira vez em 1932, pode-se dizer que a linha mestra 
que orientou grande quantidade de estudos e pesquisas foi 
tributária das ideias do criador da Epistemologia Genética. 
Note-se que, no Brasil, a área da Psicologia Moral foi desen-
volvida por vários pesquisadores, como o atesta a existência, 
desde o início da década de 1990, de um grupo de trabalho da 
Associação Nacional de Pesquisa em Psicologia (ANPEPP) 
dedicado ao tema.
No final do século XX, assiste-se, como era de se esperar, 
a certo esgotamento do referido modelo teórico, que costuma 
responder pelo nome de construtivismo, não que ele se mos-
trasse ‘errado’ (tantos dados comprovaram sua relevância), 
mas porque não somente não oferecia grandes perspectivas 
de novos e relevantes achados empíricos e teóricos, como, 
centrado no aspecto racional da moralidade, relegava a uma 
zona obscura os motivos humanos da ação moral (que não 
se reduz ao juízo moral, embora dele indissociável). Novas 
perspectivas, então, foram encetadas.
Como o presente texto não se pretende ‘didático’, logo 
não pretende contar a história passada e recente da Psicolo-
gia Moral, nele será tratada uma dessas novas perspectivas 
por intermédio de conceitos e propostas teóricas que foram 
elaboradas durante a década de 1990 e os 10 primeiros anos 
do presente século. 
A tese psicológica que vamos aqui analisar pode ser as-
sim enunciada: para compreendermos os comportamentos 
morais dos indivíduos precisamos conhecer a perspectiva 
ética que estes adotam. 
Tal afirmação, é claro, pressupõe uma diferença de senti-
do entre os conceitos de moral e de ética. Vamos, portanto, 
começar por explicitar a diferença de sentido assumida para, 
em seguida, nos debruçarmos sobre a tese acima apresentada.
106 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Y. La Taille
O Plano Moral
A Psicologia trabalha com fatos. Vamos, então, nos 
perguntar se a definição que Kant (1994) propõe da moral 
corresponde a uma possível realidade psíquica. Como se 
sabe, para o filósofo de Königsberg, somente é moral a ação 
inspirada por um imperativo categórico, portanto, oriunda de 
um dever incondicional. Logo, para Kant, a moral ordena: o 
sujeito moral sente-se intimamente obrigado a agir segundo 
determinadas regras. Sua ação é, para ele, necessária, e não 
apenas possível ou provável, e isto porque o bem moral é 
um bem em si. Não nos interessa, por enquanto, discutir 
o conteúdo da moral assim definida. O que nos interessa 
é saber se, sim ou não, tal sentimento de obrigatoriedade 
corresponde a um fato psicológico, pelo menos em alguns 
indivíduos. Se a resposta for afirmativa, seremos obrigados 
a reconhecer que existe um plano moral possível na psique 
humana (empregamos o conceito de plano moral para sepa-
rar forma de conteúdo: tal plano é o lugar do sentimento de 
obrigatoriedade, seja qual for a regra contemplada - a moral 
é sempre uma determinada moral, portanto, comprometida 
com determinados valores, princípios e regras).
Ora, a resposta à nossa pergunta certamente é afirmativa. 
É, pelo menos, o que a experiência leva a pensar, e é também 
o que autores dedicados ao tema que nos interessa assumem. 
Vejamos alguns exemplos, começando por dois filósofos.
Tugendhat (1998), ao perguntar-se que critérios intervêm 
para que um juízo seja concebido como moral, analisa os 
sentidos das palavras ‘bom’ e ‘dever’. Eis a sua conclusão: 
“Todas as proposições que comportam – seja de maneira 
explícita ou implícita – a expressão gramaticalmente abso-
luta de um dever prático ou de um valor (‘bom’ ou ‘mau’) 
expressam, nesse sentido, juízos morais” (p. 31). A referência 
ao absoluto, que se encontra nas falas usuais dos indivíduos, 
corresponde ao que estamos chamando de plano moral, e a 
linguagem expressa a existência psicológica de tal plano. 
Dupréel (1967), pesquisador de formação filosófica e que 
se propôs a escrever um Traité de Morale, no qual analisa 
as dimensões sociológicas e psicológicas da moral, também 
vê na definição kantiana um aspecto incontornável da reali-
dade psicológica. Escreve ele: “O puro respeito pela regra, 
eis o fato decisivo; e por pouco frequente ou limitado que 
seja este estado de consciência, é isto que importa à ciência 
explicar” (p. 164).
Na área da Sociologia, Durkheim (1974), preocupado 
em demonstrar a viabilidade de uma educação moral laica, 
aceita a definição de Kant, que ele traduz por “agir bem é 
obedecer bem” (p. 21), e encontra no sentimento do sagra-
do a explicação psicológica da existência do sentimento de 
obrigatoriedade. Para o sociólogo francês, o plano moral 
corresponde a uma realidade humana, realidade esta durante 
séculos despertada pela religião, mas também passível de ser 
ocupada pelos mandamentos do Ser Coletivo. 
Na área da Psicologia, Freud (1991) não hesitou em 
afirmar que o superego “se manifesta enquanto imperativo 
categórico” (p. 278). Sabe-se que a força superegóica tem, 
para Freud, sua origem em esferas inconscientes: logo, sua 
referência à terminologia kantiana não o compromete com 
a existência de um ‘tribunal da razão’, para empregar uma 
feliz expressão de Deleuze (2004). Mas que há um ‘tribunal’, 
há – aliás tão implacável quanto aquele imaginado por Kant 
– e cabe à Psicologia explicar o lugar e a origem dessa voz 
da consciência que coage o homem a agir de determinadas 
formas, e não de outras. Mais perto da hipótese de um tribunal 
da razão está Piaget (1932), para quem a moral da cooperação 
implica a presença de um sentimento incontornável de dever. 
Para ele, “tal tese só é chocante para os que permanecem 
incapazes de experimentar em si próprios esta obrigação 
superior e puramente imanente que constitui a necessidade 
racional” (p. 298).
Em suma, é perfeitamente legítimo afirmar a existência 
de um sentimento de obrigatoriedade, e explicar tal exis-
tência é um desafio para a Psicologia. Antes de passarmos 
a refletir sobre os possíveis conteúdos desse plano moral e 
as fontes energéticas de sua força psicológica, façamos dois 
comentários.
O primeiro: o sentimento de obrigatoriedade (ou dever) 
experimentado por um sujeito não corresponde sempre e 
necessariamente a uma exigibilidade social. Essa correspon-
dência pode acontecer: por exemplo, quando alguém pauta 
suas ações pela regra ‘não matar’ e vive numa sociedade na 
qual o matar é moralmente proibido. Há, por assim dizer, 
uma dupla exigência: uma pessoal (o imperativo categórico) 
e outra social (castiga-se e/ou se desprezao assassino). Po-
rém, tal correspondência pode não existir, como no caso de 
uma pessoa para a qual ser caridoso traduz um dever, mesmo 
vivendo numa sociedade na qual não há regra que vise obrigar 
a todos fazerem ‘dom de si’. Em geral, a obediência às regras 
que dizem respeito à justiça costuma ser socialmente exigida, 
enquanto a obediência àquelas que tratam de benevolência, 
não. Mas o que importa sublinhar aqui é que o sentimento 
de obrigatoriedade poder ser experimentado sem que haja 
exigibilidade social do comportamento decorrente.
O segundo comentário incide sobre a frequência, na 
população e no próprio indivíduo, do referido sentimento. 
Comecemos pelo aspecto populacional: a maioria dos ho-
mens sente-se movida por essa força interna chamada dever? 
Ou são poucos aqueles que experimentam tal ‘obrigação 
superior’? É evidentemente impossível responder estatistica-
mente a essa indagação, mas o bom senso costuma fazer com 
que nos inclinemos pela raridade do fenômeno. Daí, aliás, 
a admiração comumente despertada pelas pessoas capazes 
de sacrifícios em nome de ideais morais. Os estudiosos da 
moralidade também costumam mostrar-se prudentes na hora 
de generalizar a um grande número de indivíduos a capaci-
dade de serem inspirados por deveres. A citação de Dupréel 
(1967), transcrita acima, o atesta claramente. Freud (1971) 
também expressa seu pessimismo moral dizendo que em 
numerosos adultos, o medo da punição, e não o sentimento 
do dever, explica a correção de seus atos. Assim, escreve 
ele, “esses adultos permitem-se cometer um mal suscetível 
de lhes proporcionar prazer somente com a garantia de que a 
autoridade nunca de nada saberá ou nada poderá lhes fazer; 
apenas o medo de serem descobertos determina sua angústia” 
(p. 81). O próprio Piaget (1977), certamente mais confiante 
nas virtudes da humanidade do que seu colega psicanalista, 
admite que a enorme coerção exercida pela sociedade no 
que tange aos termas morais impede que a maioria aceda à 
autonomia moral. Ora, em fase de heteronomia, segundo ele, 
o sentimento do dever ainda é fraco, pois exterior à cons-
107Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Moral e Ética
ciência. Assim, vemos que Dupréel, Freud e Piaget pensam 
ser rara a determinação das ações humanas por imperativos 
categóricos. Lipovetsky (1992) tem a mesma opinião, mas 
por motivos de ordem cultural. Segundo ele, vivemos tempos 
de crepúsculo do dever, nos quais “cessamos de reconhecer a 
obrigação de nos apegar a outra coisa que não seja nós mes-
mos” (p. 15). A rarefação do sentimento de obrigatoriedade 
não seria devida, portanto, a fraquezas de caráter que, em 
todas as épocas, minam a força moral da maioria dos homens, 
mas sim a uma nova ordem social individualista que mais 
valoriza o prazer que o dever. A sociedade pós-moderna seria 
também a sociedade pós-moralista. O livro de Lipovetsky 
é instigante, repleto de exemplos e análises importantes, 
todavia, não pensamos que as ciências humanas possam 
alegremente abandonar o tema da moralidade, nem que seja 
porque muitos contemporâneos sentem os efeitos do suposto 
pós-moralismo como dolorosos e inquietantes para o futuro 
da sociedade ocidental. Huntington (1999), em seu polêmico 
livro sobre o ‘choque das civilizações’ atesta tal mal-estar. 
Raro? Talvez. Em franca regressão? Talvez. Resta que o 
sentimento de obrigatoriedade é tema humano incontornável.
Mais interessante do que indagarmos sobre a frequência 
do sentimento de obrigatoriedade entre os seres humanos 
é nos perguntarmos sobre essa mesma frequência em cada 
indivíduo. O herói moral, o santo, é aquela pessoa cuja voz 
da consciência sempre fala mais alto do que as outras. Ela 
desconhece fraquezas que a fariam desviar-se do claro cami-
nho do dever. Esta é a exceção, não a regra. O mais comum é 
o homem ‘cair em tentação’, como se diz no âmbito cristão, 
às vezes tornar-se surdo à voz de sua consciência moral. 
Longe de comprometer a validade do tema que nos ocupa, 
tal fenômeno o torna ainda mais interessante, pois ele nos 
mostra que devemos pensá-lo no âmbito do conflito pessoal. 
Em algum lugar, Wallon disse que os ‘eclipses’ permitem 
melhor estudar os fenômenos momentaneamente invisíveis. 
O fato de às vezes acontecerem ‘eclipses’ do sentimento de 
dever pode nos ajudar a melhor compreender as dimensões 
psicológicas que o tornam possível. Voltaremos a elas.
Para finalizarmos nossa análise do plano moral, falta-
nos perguntar se tal plano implica determinados conteúdos 
(uma determinada moral) e que fontes energéticas alimen-
tam o sentimento do dever. Interessantemente, essas duas 
questões, na verdade distintas, mostram-se relacionadas 
nas teorias psicológicas. Encontramos o seguinte: as teorias 
que identificam uma fonte energética para o dever apontam 
para uma relativização do conteúdo da moral, e as teorias 
que postulam que uma determinada moral tende a impor-
se à consciência deixam em aberto a dimensão energética. 
Durkheim e Freud são representantes das primeiras; Piaget 
e Kohlberg, das segundas. Vejamos como esse quadro se 
apresenta, começando por pensar a questão do conteúdo que 
pode ocupar o plano moral.
Tugendhat (1998) afirma que “um conceito de moral que 
não permitiria manter a possibilidade de uma pluralidade 
de concepções morais é hoje inaceitável” (p. 49). Estará o 
filósofo defendendo o chamado ‘relativismo moral’? Existem 
dois tipos de relativismo moral, um que podemos chamar de 
axiológico, outro de antropológico. 
O relativismo axiológico implica pensar que todos e 
quaisquer valores morais assumidos por diversas culturas ou 
pessoas (e as regras de conduta decorrentes) equivalem-se, 
sendo impossível estabelecer uma hierarquia entre eles ou 
considerar alguns como imorais. Por exemplo, o relativista 
moral, embora não pratique, ele mesmo, excisão genital em 
meninas, considerará como válido que algumas pessoas o 
façam em nome de preceitos religiosos. Em tal relativismo, 
a tolerância é máxima. O relativismo moral levanta graves 
questões, tanto morais quanto psicológicas. Do ponto de vista 
moral, essa tolerância ilimitada destrói a si mesma. Como 
escreve Spaemann (1994): “A tolerância não é, de forma 
alguma, a decorrência natural do relativismo moral, como é 
frequentemente afirmado. A tolerância tem seu fundamento 
numa convicção moral bem determinada, uma convicção 
para a qual exige-se universalidade” (p. 23). Essa mesma 
universalidade coloca em cheque a possibilidade do relativis-
mo moral do ponto de vista psicológico: como pode alguém, 
realmente convicto de que mutilar alguém é moralmente 
errado, aceitar, sem maiores problemas de consciência, que se 
mutilem pessoas seja lá em que lugar do mundo for? Faltar-
lhe-ia experimentar o sentimento de indignação, inseparável 
do sentimento de obrigatoriedade.
O relativismo antropológico é de outra espécie: não 
consiste em afirmar que todas as opções morais se valem, 
mas que, de fato existem. Por exemplo, aqui, matar o ímpio 
é proibido, lá é um dever; aqui, manter relações sexuais fora 
do casamento é permitido, acolá é terminantemente proibido 
etc. É nesse sentido que Tugendhat (1998) nos fala em plura-
lidade de concepções morais. Porém, não acreditamos que ele 
sugere uma total dispersão dos deveres. Se formos analisar 
os diversos sistemas morais conhecidos, verificaremos que 
as virtudes justiça e benevolência estão sempre presentes. 
Mas o fato é que essa presença recebe interpretações bastante 
diversas e até contraditórias. Terroristas islâmicos matam em 
nome da justiça (divina), militantes dos direitos humanos 
condenam a pena de morte, também em nome da justiça. Em 
suma, parece que, de fato, o plano moral pode ser ocupado 
por uma variedade de conteúdos.
Mas tudo ainda não está dito a respeito do relativismo 
moral antropológico. Os leitores de Piaget e Kohlberg hão de 
lembrar que para esses dois autores, há um desenvolvimento 
moral cujo vetor leva a uma determinada moral. ParaPiaget 
(1932), o gênese individual da moralidade parte da anomia, 
passa pela heteronomia e chega à autonomia. Mas o que é, 
para Piaget, a moral autônoma? É, entre outras coisas, uma 
moral da igualdade, da reciprocidade, do respeito mútuo. 
Logo, se ele tiver razão, o indivíduo moralmente autônomo 
não poderá legitimar deveres contraditórios com tais critérios. 
Dito de outra maneira, ao final da gênese da moralidade, 
o plano moral seria ocupado por uma determinada moral 
e não qualquer uma. Essa tese foi retomada e sofisticada 
por Kohlberg (1981). Para ele, o vetor do desenvolvimento 
moral leva ao ideal de justiça pela equidade, à perspectiva 
da reciprocidade universal, ao imperativo categórico kantia-
no que reza que devemos sempre tratar a humanidade, na 
nossa própria pessoa e na pessoa de outrem, como um fim 
em si e não apenas como meio. Portanto, tanto em Piaget 
como em Kohlberg, há a recusa do relativismo moral an-
tropológico, uma vez que o desenvolvimento moral segue, 
para toda e qualquer pessoa, uma direção precisa. Todavia, 
é preciso sublinhar que a negação do relativismo moral é 
108 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Y. La Taille
apenas parcial, e isto por um motivo bem simples: ambos os 
autores reconhecem que, no caminho para a autonomia ou 
reciprocidade universal, há os estágios da moral heterônoma, 
aqueles durante os quais os indivíduos legitimam os valores 
e normas impostas pela cultura na qual vivem. Portanto, 
não é contraditório com essa abordagem teórica afirmar 
que há pluralidade de concepções morais. Seu provir será 
deixarem o lugar à moral da reciprocidade, mas enquanto 
isto não acontece (seja no nível do indivíduo, seja no nível 
da cultura), prevalecem as outras. Aliás, note-se que as pes-
quisas de Kohlberg mostram que poucos são os indivíduos 
que chegam ao estágio da moral pós-convencional, a maioria 
ficando na moral convencional, justamente aquela que pensa 
a moral como garantia de estabilidade social (e não como 
inspiração para uma sociedade melhor, como pensam aqueles 
no estágio ulterior).
Voltemos agora ao que assinalamos acima: nas aborda-
gens de Piaget e Kohlberg, há uma tese psicológica a respeito 
do conteúdo da moral. Eles não falam de ‘qualquer moral’ 
pois pensam que os processos psicológicos de desenvol-
vimento inevitavelmente trazem ao plano moral deveres 
inspirados pela reciprocidade. Em compensação, eles pouco 
ou nada nos dizem no que tange ao aspecto energético da 
ação. Essa constatação não equivale a uma crítica: o objetivo 
das investigações desses dois grandes autores foi o de obser-
var e analisar a dimensão racional da moralidade, não sua 
dimensão afetiva. O conjunto de dados que tal abordagem 
construtivista reuniu é considerável e nenhum pesquisador in-
teressado em moral pode, sem mais, descartá-lo e interpretar 
como quimera a afirmação de que o desenvolvimento da razão 
tem influência sobre as escolhas de que moral adotar. Todavia, 
o fato é que esse construtivismo deixa em aberto a dimensão 
energética, questão esta que pode ser assim formulada: os 
indivíduos sempre se comportam de maneira coerente com 
o que julgam ser o moralmente correto? O que está em jogo 
é a relação juízo/ação, logo a relação saber/querer (a ação 
moral, como toda ação, pressupõe um querer agir). 
Piaget estava consciente desse embate, tanto que redigiu 
um avertissement à guisa de introdução de seu livro de 1932, 
no qual, na primeira linha, já avisa o leitor que “é o juízo 
moral que nos propomos a estudar, e não as condutas ou os 
sentimentos morais”. Kohlberg (1981) sempre também frisou 
que o desenvolvimento do juízo moral é condição necessária, 
mas não suficiente para explicar as ações humanas. É claro 
que ele pressupunha a existência de uma correlação entre 
nível de desenvolvimento moral e ação morais. Todavia, 
as pesquisas não confirmaram totalmente tal fenômeno: ele 
às vezes é observado, outras vezes não (ver Biaggio, 2002; 
Blasi,1995; Colby & Damon, 1993). Em suma, a despeito de 
sua riqueza conceitual, a perspectiva construtivista de Piaget 
e Kohlberg fica devendo uma explicação para a ação moral 
que leve em conta a relação entre juízo e volição.
Mas, por que não buscar essa explicação em outras teorias 
que, justamente, enfrentaram essa questão? Pode-se fazê-lo, 
é claro, mas não para complementar a abordagem construti-
vista! Como o assinalamos acima, as teorias que contemplam 
a dimensão do querer agir moral nos descrevem um sujeito 
moralmente heterônomo e um plano moral aberto a todo e 
qualquer sistema moral. É o caso da teoria de Durkheim: é 
moral o que a sociedade, este ‘Ser Coletivo’, decidir que é, e 
a ação moral de cada indivíduo é inspirada por um sentimento 
do sagrado experimentado por fontes de autoridade. Também 
é o caso da teoria psicanalítica: é moral o que a sociedade 
impõe como tal através das figuras parentais, e a ação moral 
é comandada por uma esfera inconsciente que se instalou 
na psique humana por um duplo processo de renúncia e 
repressão. O que há de comum entre Durkheim e Freud é a 
hipótese de que a moral instala-se em cada indivíduo por um 
processo de interiorização, uma pressão social (a abordagem 
behaviorista tem a mesma hipótese) que molda o indivíduo. 
Ora, essa hipótese é diametralmente oposta àquela cons-
trutivista que pressupõe uma atividade criadora do sujeito.
Em resumo, se ficarmos com as teorias psicológicas 
clássicas da motivação para a ação moral, devemos assumir o 
relativismo moral e a heteronomia básica de cada indivíduo; 
e se ficarmos com as teorias do juízo moral, reconhecemos a 
realidade da autonomia e da progressiva unidade da moral, 
mas nos privamos de um entendimento do querer agir. Tudo 
se passa como se o estudo da dimensão afetiva implicasse o 
relativismo e a heteronomia morais, e aquele da dimensão 
cognitiva implicasse um ser afetivamente misterioso. Kant 
(1994) parece ter tido razão ao afirmar o inevitável divórcio 
entre autonomia moral e sensibilidade.
Porém, não pode ficar paralisado nem intimidado o 
estudioso da moral convencido da realidade da autonomia 
moral e da necessidade de identificar as raízes afetivas da 
ação moral. Talvez possamos achar novas pistas teóricas no 
campo da ética.
O Plano Ético
Comumente, as palavras ‘moral’ e ‘ética’ são emprega-
das como sinônimas. Por exemplo, diz-se de uma pessoa 
que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e 
atitudes; poder-se-ia muito bem chamá-la ‘imoral’. Quando 
se fala em ‘problemas éticos’, costuma-se fazer referência a 
questões atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral. Em 
uma palavra, emprega-se, na maioria das vezes, ética como 
sinônimo de moral. Note-se que tal sinonímia é perfeitamen-
te aceitável do ponto de vista acadêmico, e alguns autores 
empregam um ou outro conceito indistintamente. Vejamos 
definições de dicionário para nos convencermos da legiti-
midade dessa sinonímia. O Dicionário Houaiss (2001), por 
exemplo, traz como uma das definições de moral “conjunto 
de regras, preceitos, etc. característicos de um determinado 
grupo social que os estabelece e defende” (p. 1958). Para 
a ética, o referido dicionário coloca: “conjunto de regras e 
preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de 
um grupo social ou de uma sociedade” (p. 1270). Outros 
dicionários também atestam a sinonímia. Há de se notar que, 
hoje em dia, assistimos a uma valorização da palavra ‘ética’ 
em detrimento da palavra ‘moral’. Eis a avaliação crítica que 
Spitz (1995) faz dessa preferência: “Esse termo (ética), que 
tomou uma importância cada vez maior, veio para aliviar 
o inextricável embaraço daqueles que desejariam falar em 
moral sem ousar pronunciar esta palavra” (p. 149). Eis um 
diagnóstico convincente!
Todavia, há possibilidades de estabelecer, por con-
venção, diferenças entre ‘moral’e ‘ética’. As duas mais 
109Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Moral e Ética
frequentes e consagradas mantêm os dois termos como refe-
rência a deveres. A primeira dessas possibilidades consiste 
em reservar a palavra ‘ética’ a deveres de ordem pública. 
É o caso de expressões como ‘ética da política’, ‘ ética da 
empresa’, ‘código de ética’ (de determinadas profissões), ou 
ainda ‘comitê de ética para pesquisa com seres humanos’. 
Está claro que em todos esses exemplos, o que está em jogo 
é um conjunto de princípios e regras que visam estabelecer 
obrigações por parte das pessoas contempladas. Ética na 
política nos remete, entre outros conteúdos, ao preceito da 
honestidade (não enganar o eleitor, não apoderar-se de bens 
públicos, não fazer tráfico de influências etc.): tal ética, 
portanto, exige comportamento moral. Os diversos códigos 
de ética trazem normas que devem, de maneira obrigatória, 
reger as atividades dos profissionais, normas cujas raízes 
encontram-se na moral legitimada pela sociedade. Mesma 
coisa pode-se dizer da atualmente muito em voga ‘ética 
da empresa’: trata-se de normatizar condutas (respeitar o 
cliente, por exemplo). Finalmente, os comitês de ética na 
pesquisa com seres humanos visam a regulamentar as ati-
vidades de investigação para garantir o bem-estar físico e 
psicológico dos sujeitos que se submetem a procedimentos 
de investigação científica. Além de sua referência a deveres, 
o que há em comum nas expressões analisadas é o fato de 
referirem-se a ações que dizem respeito ao espaço público 
(não faria muito sentido em se falar em ‘ética familiar’). 
Uma segunda possibilidade de diferenciar ética de moral 
é reservar a primeira para os estudos científicos e filosóficos 
do fenômeno moral. É esta, aliás, a diferenciação mais em-
pregada no meio acadêmico. Kant (1994), um dos primeiros 
a colocar ordem nos conceitos de moral e ética, propõe 
que se defina ética como a ciência das leis da liberdade (a 
física seria a ciência das leis da natureza). Outros autores, 
como o já citado Tugendhat (1998), definem ética de forma 
semelhante: reflexão filosófica sobre a moral. Mas, como já 
dito, a reflexão pode ser de ordem científica, como a busca 
empírica de dados para explicar o fenômeno moral, como o 
fizeram autores como Lévy-Bruhl (1971), Durkheim (1974), 
Freud (1991), Piaget (1932) e tantos outros. Mesmo aceita 
essa diferença de sentido, verifica-se que se permanece no 
campo do dever, da obrigatoriedade, portanto, permanece-se 
no que chamamos de plano moral: apenas o nível de abstração 
faz a diferença entre os dois termos.
Todavia, há outra possibilidade de diferenciar-se ética 
de moral, que rompe claramente com a sinonímia. Leiamos 
a proposta de Paul Ricoeur (1990), a qual faremos nossa: 
“É por convenção que reservarei o termo ética para a busca 
(visée) de uma vida realizada (accomplie) e o de moral para 
a articulação dessa busca com normas caracterizadas ao 
mesmo tempo pela pretensão à universalidade e por um efeito 
de coação” (p. 200).
Vemos que Ricoeur (1990) define moral como o fizemos 
até agora. Todavia, reserva o termo ética para outro plano: 
o da definição e busca do que seja uma ‘vida realizada’, ou, 
em termos filosóficos clássicos, uma ‘vida boa’ ou ‘feliz’. 
Outros autores contemporâneos fazem distinção semelhante 
entre moral e ética. Citemos dois, começando por Bernard 
Williams, que inicia seu livro L’Ethique et les Limites de la 
Philosophie (1990) afirmando que “o objetivo da filosofia 
moral e a esperança de que ela possa merecer atenção estão 
relacionados ao destino dado à questão de Sócrates (de que 
maneira viver?)” (p. 7). Williams (1990) reserva o concei-
to de ética para essa ampla questão, e o de moral para os 
deveres que intimamente nos coagem. Comte-Sponville 
faz eco aos dois autores citados ao escrever que “a moral 
responde à questão ‘que devo fazer?’, e a ética, à questão 
“como viver?’ (Comte-Sponville, em Comte-Sponville & 
Ferry, 1998, p. 214).
Como dito acima, seguiremos os autores que acabamos de 
citar e diferenciaremos, portanto, o plano ético referente ao 
tema da ‘vida boa’ e o plano moral, ao tema dos deveres para 
com outrem e para consigo mesmo. Falamos em plano ético 
para diferenciar forma e conteúdo. Com efeito, as respostas 
ao que seja uma ‘vida boa’ podem variar, logo, há variadas 
éticas, como há diversas morais.
Isso posto, devemos lembrar que a questão da vida boa 
não é nova, que ela preocupa os filósofos desde a antigui-
dade, e que as respostas dadas costumam responder pelo 
nome de eudemonismo (teoria da felicidade como bem 
para o homem). Dizemos que costumam ser chamadas de 
eudemonismo porque, como apontado por Dupréel (1967), 
há divergências a respeito de que propostas merecem, de 
fato, o nome de eudemonismo. Esse autor opta por reservar 
o referido conceito para as propostas que pressupõem que 
cada homem sabe muito em que consiste sua felicidade, 
cabendo à filosofia elaborar as técnicas para conquistá-la. 
É, por exemplo, o caso do utilitarismo de Mill (1988), para 
quem a felicidade consiste em “prazer e ausência de dor” (p. 
48), e que discute regras de prudência para buscar o prazer 
e evitar a dor. A outras propostas, que visam a ensinar ao 
homem o que é a felicidade, Dupréel dá o nome de teorias 
idealistas. É o caso, por exemplo, de Aristote (1965), cuja 
ética implica que a felicidade depende da elevação do homem 
por intermédio do cultivo das virtudes.
Mas deixemos as polêmicas a respeito de que nome 
merecem os diversos sistemas que se debruçaram sobre a 
felicidade, pois o que nos interessa aqui é sublinhar o fato 
de a reflexão sobre a ‘vida boa’ – seja ela intuitivamente 
conhecida ou, pelo contrário, revelada pelos sábios – ser 
tema recorrente da chamada filosofia moral. Aliás, pode-se 
dizer que esse tema tem sido muito mais trabalhado que o do 
dever – que somente ganha realce filosófico a partir de Kant, 
embora tenha sido questão central das religiões de origem 
judaica2. E é grande a variedade e riqueza de temas humanos 
tratados em nome do que estamos chamando de plano ético: a 
harmonia do universo e sua relação com o homem, a natureza 
humana, o papel do conhecimento no alcance da felicidade, 
as mazelas e virtudes das paixões, o egoísmo e o altruísmo, 
a convergência social de interesses, a evolução histórica e o 
porvir do homem etc., e, também, a justiça, a benevolência, 
a coragem, a fidelidade, ou seja, um conjunto de virtudes que 
também interessam à reflexão moral. 
Podemos, então, dizer que a tese anunciada no início 
do presente texto – a saber, que para compreendermos os 
comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer 
a perspectiva ética que estes adotam – já foi defendida por 
2 Note-se que a moral de Kant propõe deveres coerentes com o ‘amor 
universal’ cristão, só que fundamentados na razão e não na fé e obedi-
ência a Deus.
110 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Y. La Taille
diversos sistemas filosóficos? A resposta a essa pergunta é, 
cremos, negativa. Seria talvez melhor dizer que é em parte 
negativa. Expliquemo-lo, lembrando que fizemos uma dife-
renciação entre moral (conteúdo) e plano moral (forma). É 
fato que os diversos sistemas que evocam, de uma maneira 
ou de outra, a questão da ‘vida boa’, trazem-nos conteúdos 
morais sob forma de virtudes (justiça, generosidade etc.); 
porém, eles não as tratam como obrigatórias, mas sim como 
desejáveis. Ora, o plano moral implica o sentimento de 
obrigatoriedade. Portanto, se temos no epicurismo, no estoi-
cismo, no utilitarismo, e em outras reflexões éticas, análises 
precisas de conteúdos morais, falta-nos a articulação entre 
a busca da felicidade e o dever, ou seja, a articulação entre 
o que chamamos de plano ético e plano moral. Edevemos, 
sem dúvidas, a Kant o equacionamento preciso das enormes 
dificuldades de estabelecer tal articulação. 
Dos argumentos kantianos podemos lembrar dois, a 
nosso ver, incontornáveis. O primeiro: a variedade de 
respostas possíveis ao que seja a felicidade. Escreve Kant 
(1994): “Embora o conceito de felicidade sirva em todos os 
casos de base para a relação prática dos objetos da faculda-
de de desejar, ele é apenas o título geral dos princípios sub-
jetivos de determinação e nada determina especificamente 
...” (p. 24). O segundo: a busca da felicidade é determinada 
pela sensibilidade, logo por algo sobre o qual o homem não 
tem domínio, em relação ao qual, portanto, é heterônomo. 
Ora, a responsabilidade moral implica a autonomia. Em 
suma, para Kant (1990), a moral “é uma ciência que ensina 
não a maneira pela qual nós devemos nos tornar felizes, 
mas aquela pela qual devemos nos tornar dignos da feli-
cidade” (p. 15, sublinhado por nós). Essa última definição 
de moral, rica e precisa, mostra o quanto os planos moral 
e ético não se articulam facilmente. Todavia, a referência 
à ‘dignidade’ fornece-nos uma pista de como estabelecer 
essa articulação.
Por enquanto, o leitor poderá pensar que, se aceitamos as 
críticas de Kant a respeito da dificuldade de fazer do eude-
monismo uma ciência moral, estamos, a priori, discordando 
de nossa própria tese segundo a qual os plano moral e ético 
devem ser pensados conjuntamente para explicarmos os 
comportamentos morais dos homens. A esse reparo respon-
deríamos o seguinte: se a definição kantiana de dever (impe-
rativo categórico) corresponde a uma realidade psicológica, a 
referência exclusiva à Razão não explica o fenômeno. Com 
efeito, vimos que as teorias psicológicas de inspiração kantia-
na (Piaget e Kohlberg) deixam-nos, teórica e empiricamente, 
órfãos de uma explicação energética da ação. É, digamos, o 
seu ‘calcanhar de Aquiles’. Aliás, note-se que vários moralis-
tas contemporâneos apontam essa lacuna do sistema kantiano 
(ver, entre outros, MacIntyre, 1997; Taylor, 1998; Tugendhat, 
1998). E vimos também a impossibilidade de articular essas 
teorias psicológicas racionalistas com aquelas que contem-
plam as motivações das ações (Durkheim e Freud), pois essas 
últimas levam ao relativismo moral (variadas podem ser as 
inspirações do sentimento do sagrado e os mandamentos do 
superego). Portanto, um mistério psicológico ainda persiste, 
pelo menos para aqueles que aceitam, com Piaget e Kohlberg, 
um vetor no desenvolvimento moral e a progressiva conquista 
da autonomia. É esse mistério que queremos ajudar, se não 
a desvendar, pelo menos a melhor situar. 
Antes de encetarmos essa busca, finalizemos o item de-
dicado ao plano ético observando duas coisas. A primeira: 
praticamente nada se encontra em psicologia a respeito do 
plano ético. Talvez pudesse ser feita uma comparação entre 
as teorias utilitaristas e a psicanálise, uma vez que ambas 
as abordagens dão ênfase à importância do prazer e da dor 
para explicar as ações humanas. Todavia, essa comparação 
certamente não será fácil porque a hipótese do inconsciente 
equivale a um verdadeiro abismo separando ambas. A se-
gunda coisa que queremos frisar é o fato de o tema da ‘vida 
boa’ ou ‘felicidade’ ter voltado a ser objeto de publicações 
recentes. Exemplos: na França, Ferry (2002) acaba de pu-
blicar um livro de filosofia intitulado Qu’est-ce qu’une vie 
réussie?; no Brasil, Giannetti (2002) publicou diálogos sobre 
a Felicidade; aqui e ali são republicados antigos livros sobre 
o tema como o de Bertrand Russel (1962), intitulado, em 
francês, La conquête du bonheur; estão novamente em voga 
as virtudes, como o atesta o sucesso de venda dos livros de 
Bennett (1995) e também do Dalai Lama (1999); lembremos 
também os inúmeros textos de auto-ajuda, cujo triste sucesso 
reflete um desconforto existencial. Em suma, parece-nos 
que a inquietação ética está na ordem do dia. A nosso ver é 
bom que assim seja, pois as reflexões sobre a vida boa são 
sempre necessárias por incidirem sobre o sentido da vida. 
Camus (1973), na introdução de seu Mito de Sísifo, afirma 
que “somente há um problema filosófico realmente sério: o 
suicídio. Julgar que a vida vale ou não a pena de ser vivida 
é responder à questão fundamental da filosofia” (p. 15). Inte-
ressante lembrar que Camus era um moralista e que, para ele, 
a busca de sentido para a vida não era estranha às questões 
morais, como o atesta seu romance L’Etranger. 
Moral e Ética: Personalidade Ética
Aceitas as definições de plano moral e plano ético, a 
pergunta que imediatamente surge é a de saber se um deles 
engloba ou determina o outro. Para Comte-Sponville (em 
Comte-Sponville & Ferry, 1998), “a moral está dentro da ética 
(responder à pergunta ‘como viver?’ é, entre outras coisas, 
perguntar-se que lugar reservar aos deveres), bem mais do que 
a ética está dentro da moral (responder à pergunta ‘que devo 
fazer?’, ainda não permite saber como viver e nem mesmo – 
uma vez que a vida não é, aos meus olhos, um dever – se é 
preciso viver)” (p. 214)3. Ricoeur (1990) apresenta uma posi-
ção, por assim dizer, intermediária, ao estabelecer “a primazia 
da ética sobre a moral, a necessidade para a perspectiva ética 
de passar pelo crivo da norma (moral), e a legitimidade de um 
recurso da norma à perspectiva (ética) quando a norma conduz 
a impasses práticos” (p. 200). Quanto a Tugendhat (1998), 
“pode-se definir ética diferentemente da moral (ética como 
busca da ‘vida boa’), mas não se pode definir a primeira como 
algo que englobe a segunda. Isto é impossível.” (p. 32). Como 
nossa investigação é psicológica, e não filosófica, vamos nos 
limitar a colocar algumas reflexões sobre a relação axiológica 
entre os planos moral e ético.
3 Lembremos que para Kant, o suicídio merece ser categoricamente 
condenado pois equivale a tratar a si próprio como meio, e não como 
fim: logo, para ele, viver é um dever.
111Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Moral e Ética
É claro que a questão ética é mais ampla que a questão 
moral, mas isso não significa necessariamente que a primei-
ra determine a segunda. Imaginemos, por exemplo, que se 
opte por definir a ‘vida boa’ como a busca de poder sobre 
os homens: não se vê como, de tal busca, podem se deduzir 
deveres morais. Mais ainda: não serão poucos aqueles que 
negarão validade a essa opção ética, por achá-la egoísta. É 
isto que Ricoeur (1990) quer dizer quando fala em passar 
as opções éticas pelo crivo da norma. Teríamos, portanto, 
o seguinte quadro: a moral limita a ética. Expressões como 
‘a liberdade de cada um acaba quando começa a liberdade 
de outrem’, ou ‘live and let live’, traduzem bem o referido 
quadro, que poderia ser assim explicitado: cada um é livre 
para escolher a ‘vida boa’ que quiser, contanto que reconheça 
aos outros o mesmo direito e não os trate como instrumento. 
Nessa formulação, vê-se a moral como critério de limite 
para as escolhas do plano ético. Para alguns, o limite aci-
ma enunciado ainda pode aparecer como demasiadamente 
amplo, pois deixaria as ações de benevolência totalmente a 
critério de cada um, e, portanto, não como dever. Pode-se, 
então, reformular o enunciado: cada um é livre para escolher 
a ‘vida boa’ que quiser, contanto que reconheça aos outros 
o mesmo direito, que não os trate como instrumento e que 
se preocupe com seu bem-estar. O que importa perceber nas 
formulações apresentadas é que o limite moral não parece em 
nada decorrer das opções éticas. Ele teria outro fundamento. 
Mas que fundamento é esse? Será que ele não é inspirado pela 
questão ética? Com efeito, por que respeitar os outros? Por 
que fazer-lhes justiça? Por que preocupar-se com seu bem 
estar? Não estará implícito que, sem respeito, sem justiça 
e sem benevolência, a vida é infeliz? Onde está o poder de 
convencimento da importância da dignidade humana, senão 
no fato de seu reconhecimento ser condição necessária para 
uma ‘vida boa’?E não estará pressuposto, em Kant, que o 
‘merecer ser feliz’ corresponde a um grau de felicidade su-
perior a outras formas de ‘vida boa’? É o que pensa Adam 
Smith: “Que maior felicidade que aquela de ser amado e 
saber que merecemos o amor? Que pior castigo do que ser 
odiado e saber que merecemos esse ódio?” (Smith, 1999, 
p. 105, grifo nosso). Concordamos com ele, o que nos faz 
pensar que, do ponto de vista axiológico, há, sim, relações 
entre o plano ético e o plano moral. 
Essa é a nossa convicção, do ponto de vista psicológico. 
Para começar a apresentá-la, vamos nos debruçar sobre o que 
realmente pode significar, para o ser humano, a ‘vida boa’ ou a 
‘felicidade’, termos consagrados em diversos sistemas éticos 
(não vamos revisitar as concepções da antiguidade, inspiradas 
em sistemas metafísicos estranhos ao homem moderno).
Gozar de saúde e ter condições mínimas de sobrevivên-
cia, certamente, representam o patamar a partir do qual se 
pode falar em ‘vida boa’. Aristote (1965) já o afirmava e o 
bom senso o confirma. Mas uma vez garantido esse direito 
universal, o que mais associar ao alcance e usufruto da fe-
licidade? O leque de conteúdos pode ser grande: amar e ser 
amado, construir uma família, gostar do que se faz no traba-
lho, reconhecimento social, amigos, possibilidades de lazer, 
de alimentar-se intelectualmente, ter uma vida sexual ativa 
e prazerosa etc. Esses itens, e outros possíveis, fazem todo 
sentido. O problema é que não se identifica, entre eles, um 
eixo comum. Estamos em plena dispersão. Outro problema é 
que cada um deles levanta questões complexas quanto à sua 
definição (por exemplo, o que é a amizade?). Outro problema 
ainda: é perfeitamente possível pessoas dispensarem um ou 
outro item (o solitário prefere não ter amigos). Finalmente, 
observemos que tais itens correspondem mais a ‘pedaços 
de vida’, do que à vida como um todo. Ora, como o afirma 
Williams (1990), “é preciso pensar numa vida inteira” (p. 11) 
para realmente responder à questão de Sócrates sobre a vida 
que vale a pena ser vivida. Devemos, portanto, perguntar-nos 
se há algo em comum por detrás dos diversos conteúdos que 
podem ocupar o plano ético.
Uma resposta clássica consiste em identificar a busca 
do prazer e a fuga do desprazer como invariantes do plano 
ético. Já vimos que os utilitaristas e a psicanálise de Freud 
encontram-se, nesse ponto, em companhia dos epicuristas. 
A tese hedonista é simples e elegante. Simples porque iden-
tifica no ‘princípio do prazer’ a motivação básica de todas 
as ações humanas e elegante justamente em razão dessa 
simplicidade, que evita a profusão de conceitos articulados 
em arquiteturas teóricas complexas. Além do mais – e isto é 
essencial – permite separar claramente forma de conteúdo: 
todos os hedonistas afirmam a fundamental importância da 
busca do prazer, mas podem divergir sobre o que é, ou sobre 
o que deveria ser, esse prazer. Para o psicólogo, essa tese 
permite explicar comportamentos totalmente diversos. Em 
poucas palavras, a tese hedonista permite destacar o plano 
ético (busca do prazer e fuga do desprazer) de diferentes 
éticas (conteúdos associados ao prazer). Todavia, ela não 
deixa de apresentar problemas sérios, sendo o principal 
deles o aparente desmentido dos fatos, como por exemplo, 
a autodestruição observável em vários indivíduos, que levou 
Freud a ir ‘para além do princípio de prazer’ e fazer a hipótese 
da existência e da força de um instinto de morte. Spaemann 
(1994) apresenta um argumento diferente para negar a central 
importância do princípio de prazer e de conservação. Ele 
nos pede para imaginar a possibilidade de nosso cérebro ser 
conectado a cabos que conduzem correntes elétricas que nos 
deixariam em estado constante de euforia, e nos pergunta se 
estaríamos dispostos a ficar para o todo sempre nessa situa-
ção que nos garantiria prazer constante e ausência definitiva 
de dor. Esse autor afirma que sentiríamos repulsa por uma 
alternativa de vida desta porque implicaria estarmos “fora 
da vida efetivamente real, fora da realidade” (p. 34). Conclui 
o filósofo: “o sentido verdadeiro da vida não reside nem no 
prazer, nem na conservação” (Spaemann, 1994, p. 36). 
Concordamos com o inevitável reducionismo implicado 
pelas teses hedonistas, embora reconheçamos não ser fácil 
derrubá-las. Mas há uma coisa nelas que deve ser resgatada: 
a identificação de algo que esteja presente em todas as opções 
possíveis de felicidade, ou, melhor dizendo, algo que explica 
– pelo menos em parte – as escolhas feitas para viver uma 
‘vida boa’. Acreditamos encontrar esse invariante na noção 
de sentido da vida.
Acabamos de ver que Spaemann (1994) nega que o 
prazer e a conservação sejam aquilo que confere sentido 
à vida. Também vimos acima que Camus (1973) elege o 
suicídio como grande problema filosófico porque julga que 
“o sentido da vida é a mais urgente das perguntas” (p. 16). 
Outros autores, como Taylor (1998), insistem sobre o fato 
de a atribuição de sentido ser fundamental para se poder 
112 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Y. La Taille
viver. Para esse autor, ‘dar sentido’ é “definir o que torna as 
reações apropriadas: identificar o que torna algo um objeto 
digno delas e, correlativamente, melhor definir a natureza 
das reações e explicar tudo que está implicado quanto a nós 
mesmos e nossa situação no mundo” (p. 22). Mais adiante, 
escreve que a busca de algo na vida “é sempre busca de 
sentido” (p. 33)4. 
Certamente, seriam necessárias várias páginas para 
analisar em profundidade a importância maior do sentido 
da vida para a realização de uma ‘vida boa’. Remetemos o 
leitor aos autores que citamos, entre eles MacIntyre (1997)5, 
que aborda a questão pela dimensão da narrativa, dimensão 
esta tratada por Ricoeur (1990). Limitemo-nos a dizer que o 
sentido da vida remete à questão do ‘por que viver?’ e, logo, a 
escolhas existenciais que revelem o que é uma vida que vale 
a pena ser vivida. As opções que colocamos como possíveis 
conteúdos da ‘vida boa’ (amor, amizade, reconhecimento 
social, vida sexual etc.) não são estranhas ao tema do sen-
tido, pois cada uma pode corresponder a um ‘existir para’. 
Para finalizar, lembremos que, no mundo contemporâneo, a 
angústia frequentemente se traduz pela falta de sentido (ver 
Taylor, 1998). Como escreve Collin (2003), “a reflexão ética 
moderna esteve frequentemente confrontada à questão da 
perda de sentido da vida” (p. 41). 
Em resumo, para nós, o invariante do plano ético é a bus-
ca de sentido para a vida, e os diversos conteúdos dependerão 
dos diversos sentidos atribuídos à vida. Já podemos perceber 
uma relação entre o plano ético e o plano moral: se o grande 
problema da vida é ela fazer sentido, deduz-se que a moral, 
ela mesma, e as obrigações dela derivadas, devem também 
fazer sentido. A questão do sentido é incontornável no plano 
moral, e certamente não é por acaso que a anomia moral, 
ou o ‘crepúsculo do dever’, diagnosticados atualmente, são 
contemporâneos das dificuldades de encontrar um sentido 
para a vida e, logo, para as ações.
Mas essa afirmação ainda não é suficiente para se saber 
que plano determina qual, ou se são independentes. Para 
defender a hipótese da prevalência do plano ético sobre 
o plano moral, devemos nos perguntar se há, dentro da 
própria problemática do sentido da vida, um outro inva-
riante de ordem psicológica. Pensamos que tal invariante 
existe: o sentimento de ‘expansão de si próprio’. Dito de 
outra forma: fazemos a hipótese de que a possibilidade de 
‘expansão de si próprio’ é condição necessária para que a 
vida faça sentido, assim como este fazer sentido é condição 
necessária à ‘vida boa’.
Assumimos aqui a perspectiva teórica de Adler (1991), 
para quem “é unicamente o sentimento de ter atingido um 
grau satisfatóriona tendência a elevar-se que pode fornecer 
um sentimento de quietude, de valor e de felicidade” (p. 
4 Jovens por nós pesquisados parecem lhe dar certa razão, pois numa 
investigação junto a 5160 alunos do Ensino Médio da Grande São Paulo 
(oriundos de escolas particulares e públicas), aos quais foi perguntado 
se o mais importante para a vida era, (1) ser amado, (2) ser tratado de 
forma justa, (3) achar que a vida vale a pena ser vivida, a maioria optou 
pela alternativa 3 (ver La Taille, 2006).
5 Escreve MacIntyre (1997): “Quando alguém se queixa, como os 
suicidas, que sua vida não tem sentido, ele se queixa talvez de que o 
relato de sua vida tornou-se, para ele, ininteligível, sem objetivo, sem 
movimento para um apogeu ou um thelos” (p. 211).
56). A expressão ‘expansão de si próprio’ não é de autoria 
de Adler, mas sim de Piaget (1954), que concordava plena-
mente com o ex-colaborador de Freud, por ver, na tendência 
à superação de si mesmo, o vetor do desenvolvimento e a 
motivação central para as ações. Assumimos, portanto, a 
hipótese de que a vida somente pode fazer sentido para quem 
experimenta o sentimento de nela autoafirmar-se, expandir-
se, em uma palavra, atribuir-se valor. Pela recíproca, quem 
não consegue, seja lá por que motivo for, atribuir a si próprio 
valor, não consegue dar sentido à sua vida e, logo, não usufrui 
de uma ‘vida boa’6. 
A tese acima exposta pode ser traduzida com dois ou-
tros termos: representações de si e valor. Dedicamos dois 
livros à análise desses dois conceitos e de sua relação com 
o sentimento de vergonha, e retemos o leitor a eles para o 
aprofundamento da questão (La Taille, 2002a, 2006; ver 
também Harkot-de-La-Taille & La Taille, 2004). Basta aqui 
apresentar as ideias básicas. 
Entendemos o Eu como um conjunto de representações 
de si (imagens que a pessoa faz de si). Não importa confe-
rir se tais representações correspondem, de fato, ao que a 
pessoa realmente é ou a como é vista pelos outros, mas sim 
sublinhar o fato de que elas correspondem ao que ela julga 
ser. Importante frisar que colocamos representações de si no 
plural: não se trata de um autoconceito, portanto unitário, mas 
realmente de um conjunto de representações, que podem até 
ser conflitivas ou contraditórias entre si. 
Prossigamos: essas representações de si são sempre 
valor. Definimos valor como investimento afetivo, tal qual 
Piaget (1954), e assumimos que, inevitavelmente, o Eu é 
objeto de investimento afetivo. Por isso dizemos que as 
representações de si são sempre valor. Coerentemente com 
a teoria de Adler, assumimos também - e isto é essencial 
para nossa análise - que a busca de representações de si 
com valor positivo é lei fundamental da vida humana. O 
insucesso nessa busca causa o sentimento de vergonha, ou 
seja, a dor psíquica resultante da consciência da disjunção 
entre uma ‘boa imagem’ (idealizada) e a imagem que, de 
fato, se tem de si (Harkot-de-La-Taille, 1999). A força do 
sentimento de vergonha – que pode ser letal – atesta a im-
portância, para a vida, de conseguir ver a si próprio como 
valor positivo.
Como o leitor pode perceber, não hesitamos em co-
locar, no plano ético, o ‘famigerado’ amor próprio. Mas 
não somos os únicos a reconhecer que a ética não pode 
traduzir-se na negação do sujeito (ver Savater, 2000), e 
tampouco a moral pode fazê-lo. Basta atentar para o fato 
de a pergunta do plano ético ‘que vida quero viver?’ im-
plica outra: ‘quem quero ser?’. Portanto, parece-nos não 
haver possibilidade de se pensar a ética sem contemplar a 
dimensão da identidade, e esta, sem a busca de atribuição 
pessoal (e coletiva) de valor.
Estamos agora em condições de defender nossa tese, se-
gundo a qual, para compreender os comportamentos morais 
dos indivíduos precisamos conhecer a perspectiva ética que 
eles adotam.
6 A referência à expansão de si próprio não é estranha à filosofia de 
Nietzsche sobre a ‘vontade de potência’. Escreve ele, “O objetivo não 
é a felicidade, é a sensação de potência” (Nietzsche, 1995, p. 234).
113Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Moral e Ética
Comecemos por resumir o que estabelecemos, do ponto 
de vista psicológico, para o plano ético: a busca de uma 
vida boa implica a busca de uma vida com sentido, e uma 
vida que faça sentido deve, necessariamente, contemplar a 
‘expansão de si próprio’ que se traduz pela busca e manuten-
ção de representações de si com valor positivo. Adotamos, 
por assim dizer, uma teoria geral da motivação das ações 
humanas. Note-se que não assumimos uma perspectiva re-
ducionista, que equivaleria a negar a presença e importância 
de outras fontes motivacionais. Queremos apenas afirmar que 
a busca de sentido, e dentro dela, a expansão de si próprio, 
constituem condições necessárias (mas não suficientes) das 
buscas existenciais no plano ético e, portanto, constituem-
se em motivação incontornável de todas as ações, entre as 
quais se encontram aquelas inspiradas pelo sentimento de 
obrigatoriedade, as ações morais (novamente, devemos 
reafirmar que não negamos a importância e força de outras 
fontes motivacionais tipicamente morais, como a simpatia 
– ou empatia – por exemplo).
Nesse ponto, encontramos a teoria de Psicologia Moral 
que responde pelo nome de moral self, expressão costumei-
ramente traduzida por ‘personalidade moral’ ou, conforme 
preferimos, ‘personalidade ética’. Um dos pioneiros dessa 
teoria, Blasi (1995), afirma que os valores e as regras morais 
somente têm força motivacional se associados à identidade. 
Colby e Damon (1993), após realizarem um estudo com 
pessoas de caráter moral exemplar, chegaram à conclusão 
de que “quando há uma unidade entre Eu e moralidade, juízo 
e conduta são diretamente e previsivelmente relacionados e 
as ações são realizadas com segurança ... Aqueles para os 
quais a moralidade é central nas suas identidades pessoais 
devem ser mais fortemente motivados por suas convicções 
e objetivos” (p. 151). O especialista em educação moral, 
Puig (1998), tece considerações semelhantes, que também 
eram as de Piaget, e que se encontram em filósofos. Segundo 
Flanagan (1996), “é mais que provável que as variações 
do autoconceito e dos ideais intrapessoais acarretem uma 
grande diferença no que é notado, nas emoções, na maneira 
como nos expressamos e agimos, e também na maneira 
como dirigimos nossas vidas” (p. 309), e, logo, também, 
na moral. Taylor (1998) afirma que “o Eu e o bem, ou seja, 
a Eu e a moral, se interpenetram de forma inextricável” 
(p. 13). Os autores que acabamos de citar, e outros, não se 
referem à diferenciação entre moral e ética, mas vê-se que 
suas abordagens são coerentes com o que escrevemos até 
aqui. Em resumo, encontramos na teoria da personalidade 
ética um conjunto de dados e conceitos que sustentam a 
plausibilidade da relação entre planos ético e moral, e a 
prevalência do primeiro sobre o segundo, na dimensão 
psicológica.
Para explicitar melhor tal prevalência, voltemos ao tema 
do ‘conflito’, deixado em suspenso mais acima. Perguntá-
vamos sobre a frequência do sentimento de obrigatoriedade 
em cada indivíduo e assumíamos que, para alguns, e em 
determinadas situações, tal sentimento sofre um ‘eclipse’: a 
pessoa age de forma contraditória com os deveres que, em 
outras situações, inspiram suas ações. Admitindo que esse 
fenômeno ocorre, ele pode ser explicado pela hierarquia de 
valores associados às representações de si. Para descrever 
essa hierarquia, Colby e Damon (1993) empregam metáfo-
ras espaciais: ‘valores periféricos’ e ‘valores centrais’7. Os 
valores periféricos são aqueles que, embora associados às 
representações de si, têm força menor e, portanto, menos 
intensidade motivacional do que outros, justamente aqueles 
chamados de valores centrais. Imaginemos alguém que 
preze ver a si mesmo como honesto, mas preze mais ainda 
ver-se como um ‘vencedor’ na vida – por exemplo, sucesso 
profissional. Em situações nas quais agir de maneira honesta 
não implicacomprometer o referido sucesso, ele agirá mo-
ralmente. Nesse caso, não há conflito. Mas, se houver (por 
exemplo, deixar de obter algum sucesso se não enganar um 
concorrente), o dever moral da honestidade poderá sofrer 
um ‘eclipse’, pois o investimento afetivo da ‘boa imagem’ 
de vencedor é maior que na ‘boa imagem’ moral. Se pen-
sarmos no sentimento de vergonha, nosso sujeito hipotético 
sente mais vergonha de ser mal sucedido do que de não ser 
honesto, pois a razão de viver (o sentido) está mais na glória 
do que na honra (ver Pitt-Rivers, 1965). Tal forma de pen-
sar permite evitar a classificação binária das pessoas entre 
morais e imorais. Em suma, são as opções no plano ético 
que terão decisiva influência sobre a força do sentimento de 
obrigatoriedade.
E quanto às pessoas que sempre (ou praticamente sempre) 
optam por seguir os mandamentos da moral, pode-se delas 
dizer, pela recíproca, que os valores centrais de suas represen-
tações de si são justamente aqueles condizentes com a moral, 
ou eles mesmos morais. Delas se pode dizer que possuem 
realmente uma personalidade ética. Isso não implica dizer que 
não passam por conflitos – pelo menos se não forem heróis 
ou santos –, mas esses costumam ser resolvidos pela força do 
sentimento de obrigatoriedade moral, pois, para tais pessoas, 
ser elas mesmas e ser moral é a mesma coisa.
Considerações Finais
Para finalizar, voltemos à oposição entre as teorias psico-
lógicas que apontam para o potencial de autonomia moral, 
traduzida pela adesão a morais da reciprocidade e aquelas que 
ignoram tal potencialidade. Vimos que as primeiras carecem 
de explicações energéticas, e que aquelas assumidas pelas 
segundas reforçam a tese da radical heteronomia dos homens 
e do relativismo moral. Podemos, então, nos perguntar se a 
relação que estabelecemos entre os planos ético e moral é 
coerente com a moral autônoma, assim como com a heterô-
noma. Acreditamos que sim. As opções no plano ético não 
são dadas para todo o sempre, podem modificar-se, evoluir, 
assim como, segundo Piaget e Kohlberg, a moral evolui. É bem 
provável que à moral heterônoma, cujos conteúdos são coer-
citivamente colocados pela sociedade, correspondam opções 
éticas também heterônomas (as ‘boas imagens’ valorizadas 
pelo grupo – coerente com a fase do ‘good boy, good girl ‘ do 
estágio 3 estabelecido por Kohlberg), e que à moral autônoma, 
inspirada pela reciprocidade entre os homens, correspondam 
outras opções éticas, sentidos da vida que pressuponham maior 
individualismo (no sentido de não dar valor à pessoas – e a si 
próprio – em razão do grupo ao qual pertencem), participação 
7 Mais uma vez, reencontramos uma ideia de Nietzsche (1995): “o homem 
é uma pluralidade de forças hierarquizadas” (p. 289). 
114 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 105-114
Y. La Taille
nas decisões sociais, identidade cosmopolita e não grupal, o 
cultivo da reflexão. É apenas uma hipótese, por sinal passível 
de ser aferida por provas empíricas, como já foi feito por 
Colby e Damon (1993), em sua investigação sobre pessoas de 
vida moral exemplar e, mais recentemente, no Brasil, por nós 
mesmos (La Taille, 2002a, 2002b), por intermédio do estudo 
da gênese do sentimento de vergonha, por Tognetta e La Taille 
(2008), que comprovaram a correlação entre personalidade 
ética e autonomia, por Tardelli (2009), que investigou a relação 
entre personalidade ética e ações solidárias em adolescentes, 
por Nogushi e La Taille (2008), que se debruçaram sobre o 
universo moral de jovens infratores internado na antiga Febem, 
e por Dias (2010), cuja tese de doutorado foi dedicada à relação 
entre personalidade ética e atitudes morais na vida escolar.
Em suma, cremos que pensar a motivação moral por inter-
médio das opções éticas permite maior flexibilidade para dar 
conta da variedade de condutas que se observam. Sendo a área 
da psicologia como é, com profusão de teorias e dos chamados 
‘novos paradigmas’8, é difícil saber se a abordagem teórica que 
responde pelo nome de moral self ou personalidade ética do-
minará doravante os estudos de Psicologia Moral e Psicologia 
do Desenvolvimento Moral. Mas, uma coisa é certa, como o 
explicitamos com referências bibliográficas tanto na filosofia 
quanto na psicologia: tal abordagem encontra-se fortalecida e 
inspiradora de novas investigações, Brasil incluído. 
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Painel / Minhas Disciplinas / 10A105 / Aula 02 - Moral e princípios éticos / Atividade 02
Ética nas Organizações
Iniciado em
Monday, 26 Sep 2022, 13:14
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Finalizada
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Monday, 26 Sep 2022, 13:20
Tempo
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6 minutos 19 segundos
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10,00 de um máximo de 10,00(100%)
Questão 1
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
A virtude ética é a perfeita medida da razão para o
comportamento do homem, o qual, muitas vezes, tende a cometer
excesso em suas atitudes. São alguns exemplos de virtudes
aristotélicas, de seus respectivos excessos e de�ciências:
Justiça
Temperança
Veracidade
Coragem
é o meio-termo entre o ganho e a perda. A justiça é a dispo
é o meio-termo em relação aos prazeres. Assim, por exemp
é o meio-termo no tocante à verdade. Já o exagero é a jact
é o meio-termo em relação ao sentimento de medo e de c


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Questão 2
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Marque (V) Verdadeiro e (F) Falso, quanto a moral e ética:
( ) Amoral é o contrário à moral, contrário às regras de conduta
vigentes em dada época ou sociedade ou ainda contrário àquelas
regras que um indivíduo estabelece para si próprio; sem
moralidade, indecoroso, vergonhoso. 
( ) a ética está nos conceitos teóricos do bem e do mal, do certo e
do errado, do justo e do injusto. A moral, por sua vez, está no
campo da prática, da consciência do homem, regulando seus atos
no exercício do bem e da justiça.
( ) Nalini (2001, p. 57), ao praticar um ato seguindo sua moral o
indivíduo estará sujeito a sofrer consequências negativas. Muitas
vezes, o que para uns parece correto, para outros pode ser “imoral”.
( ) A ética é permanente, imutável e constante, posto que é a
determinação do que é o bem, o justo, o correto. A moral se
modi�ca conforme a passagem do tempo e se adapta à cultura de
um grupo ou de um povo. É a regulamentação dos valores e dos
comportamentos considerados legítimos por uma determinada
religião, sociedade, povo, tribo, ordem política, tradição cultural, e,
dessa forma, não é universal.
Escolha uma opção:
a. V, F, V, V.
b. F, V, V, V.
c. V, V, V, V.
d. F, V, F, V.
e. F, F, V, V.


https://ava.politecnicabr.com.br/
Questão 3
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Para diferenciar ética de moral, marque (V) Verdadeiro ou (F) Falso.
( ) Pensar sobre moral induz a uma re�exão sobre o signi�cado
do bem, das virtudes e de nossa relação com o próximo. A ética,
por sua vez, trata do juízo de valor concebido pelo indivíduo que
agirá conforme sua consciência determina. Corresponde a um
conjunto de regras de conduta social que contribuem para a
harmonia da ordem de uma sociedade especí�ca.
Escolha uma opção:
Verdadeiro
Falso


https://ava.politecnicabr.com.br/
Questão 4
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
Marque a alternativa incorreta que diferencia ética e moral.
Escolha uma opção:
a. Ética é teoria, moral é prática.
b. Ética é temporal, moral é permanente.
c. Ética é regra, moral é conduta da regra.
d. Ética é universal, moral é cultural.


https://ava.politecnicabr.com.br/
Questão 5
Completo
Atingiu 2,00 de 2,00
O que vemos nos dias atuais, conforme o livro da aula 02.
Escolha uma opção:
a. a população, não só brasileira, mas mundial, tem assistido a
ondas de organizações criminosas, que têm como código moral
não praticar seus crimes nas comunidades onde residem.
b. todas as alternativas estão corretas.
c. todos os dias, os políticos eleitos pelo povo passam de um
grupo para outro, motivados por falsos princípios morais, por
armações e atitudes individuais vergonhosas com relação ao
erário.
d. homens e mulheres esquecendo-se dos princípios éticos,
fundamentais para o sucesso no campo dos negócios. Para
realizar seu projeto de vida, não é necessário que a prática de
ações golpeie os valores morais.
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Éticas e normas
É evidente que o homem, como um ser social e político, não vive sozinho. Ao estabelecer sua vida 
em grupo, por necessidade de segurança e por estímulos de sobrevivência, busca garantir o bem-estar 
individual e coletivo.
Como um ser social, o homem está sempre aprendendo a melhor maneira de conviver com seus 
semelhantes e isso significa considerar seu próximo como ele é, com todas suas qualidades, defeitos e 
outras características pessoais. No contato com os outros, o homem deve buscar sempre compartilhar 
experiências, exercitar a confiança e a tolerância. 
Como um ser político, o homem é, segundo as palavras de Aristóteles, “um animal político”, isto 
é, destinado a viver na pólis (cidade), onde se realiza como cidadão. Por isso, os aspectos referentes à 
vida em sociedade são considerados políticos. Nela, o homem e seus pares organizam-se em forma de 
comunidades e desenvolvem a noção de governo,de poder, de liberdade e de igualdade. 
Para o estabelecimento de uma vida coletiva harmoniosa, o homem passou a constituir normas, 
padrões de condutas, regras e leis com a finalidade de regular a vida coletiva. Afinal, para que a harmo-
nia seja instaurada em uma dada comunidade, seus membros devem respeitar uns aos outros, guiados 
por limites preestabelecidos que, como uma linha imaginária, têm a função de orientar os impulsos, 
dominar os instintos e, assim, tornar harmoniosa a convivência coletiva. 
Evolução das normas
O costume de escrever as normas vem de milênios, data dos tempos anteriores à Era Cristã. As 
normas, como visto, passaram a existir como forma efetiva de garantir o equilíbrio entre as relações 
humanas, nas sociedades organizadas. Geralmente, os sistemas dessas normas são voltados à proteção 
do homem e à disciplina do seu comportamento. 
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Antiguidade
Nesta época, as pessoas viviam em um ambiente em que todos os fenômenos maléficos eram 
vistos como resultantes das forças divinas. Para conter aquilo que acreditavam ser a “ira dos deuses”, 
criaram várias proibições que, quando não obedecidas, resultavam em castigo. Das desobediências, sur-
giram os crimes e as penas. Muitas vezes os castigos eram cumpridos com oferendas aos deuses ou com 
o sacrifício da própria vida. O castigo não era algo feito para ofender ou humilhar o castigado. Acima de 
tudo, a prática do castigo tinha um caráter moralizador e corretivo. 
Pode-se afirmar que os homens na Antiguidade limitavam-se a proteger a vida, a integridade 
física, a honra e a propriedade. São algumas das leis escritas dessa época:
Código de Hammurabi (séc. XVII a.C.) 
Hammurabi (1728-1686 a.C.) foi considerado o maior rei da Mesopotâmia Antiga, o verdadeiro 
consolidador do Império Babilônico, que era composto por uma grande heterogeneidade de povos. Ele 
foi também um exímio administrador público. Uma de suas primeiras preocupações foi a implantação 
do direito e da ordem na sociedade da época, fundamento da unidade interna do seu reino. O código 
proposto instituiu 282 parágrafos com matéria processual, penal, patrimonial, obrigacional e contratual, 
família, sucessão, regulamenta profissões, preços e remuneração de serviços. Eis alguns exemplos: 
Se um inquilino paga ao dono da casa a inteira soma do seu aluguel por um ano e o proprietário, antes de decorrido 
o termo do aluguel, ordena ao inquilino mudar-se de sua casa antes de passado o prazo, deverá restituir uma quota 
proporcional à soma que o inquilino lhe deu. (EDUCATERRA, 2007)
As penas adotadas pelo legislador Hammurabi eram severas, principalmente para os crimes de 
lesão corporal e homicídios. Suas leis embasavam-se no princípio de Talião1, cuja premissa era a do 
“olho por olho, dente por dente”. Esse código chegava ao extremo de determinar que, caso um homem 
matasse o filho de outro, a pena seria paga com a vida do filho do homicida. 
Segundo Costa (1992, p. 23), sobre esse código: 
O autor de roubo por arrombamento deveria ser morto e enterrado em frente ao local do fato. (...) As penas eram cruéis: 
jogar no fogo (roubo em um incêndio), cravar em uma estaca (homicídio praticado contra o cônjuge), mutilações cor-
porais, cortar a língua, cortar o seio, cortar a orelha, cortar as mãos, arrancar os olhos e tirar os dentes.
Lei Mosaica (séc. XIII a.C.) 
Sua autoria é atribuída ao profeta Moisés e é encontrada nos primeiros livros da Bíblia cujo con-
junto leva o título de Pentateuco. O judeus os chamam também de Torá. É considerado um dos códigos 
mais importantes da Antiguidade e se divide nos seguintes livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e 
Deuteronômio. Tem como fundamento as leis divinas. Apesar de também considerar o princípio 
de Talião, essa lei possui um caráter mais humanitário, ou seja, concebe o indivíduo com maior digni-
dade, visto que lhe reserva um dia de descanso e, com isso, poupa-lhe do trabalho escravo. Além disso, 
trata a relação social de forma mais igualitária.
1 O termo Talião vem do Latim talis, que significa igual ou semelhante. A lei tem esse nome justamente porque determina que o criminoso 
sofra tal qual fez sua vítima sofrer.
24 | Éticas e normas
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O Código de Manu (séc. II a.C.) 
Este conjunto de leis da Índia Antiga é composto de 12 livros. Protege em especial a posse 
individual de bens, a propriedade privada, a honra pessoal, a vida, a integridade física e o clã, já que 
exigia do homem do casal comportamento digno com relação à mulher e à família. Punia o adultério 
e admitia a separação de casais. Entre suas mais altas penas estava a de morte, o exílio e o confisco 
de bens.
Esse código não teve a mesma projeção do de Hammurabi, no entanto seus escritos se expandi-
ram pelas regiões da Assíria, Judeia e Grécia. Essas leis são consideradas uma obra-prima de organiza-
ção geral da sociedade, com fortes motivações políticas e religiosas.
Nesse código, há uma série de ideias sobre valores, tais como verdade, justiça e respeito. Versa 
sobre a credibilidade dos testemunhos, atribui diferente validade à palavra dos homens, conforme a 
casta que pertencem. 
Lei das XII Tábuas (452 a.C.) 
A repercussão desta lei foi maior que qualquer outro código antigo, pois serviu de alicerce para a 
legislação romana.
É um dos maiores monumentos jurídicos de todos os tempos e é considerado fonte do direito 
universal. Decorridos mais de 2 000 anos, suas palavras estão em legislações de muitos povos, ainda que 
transformadas pelo tempo e adaptadas às novas condições sociais.
Alcorão (Corão) 
Datado do início do século VII d. C., é o livro religioso e jurídico dos muçulmanos. Os seus segui-
dores acreditam que foi ditado por Alá (Deus) através do arcanjo Gabriel e, portanto, não foi redigido 
por Maomé, que não sabia escrever. Por meio de recursos sociológicos e lógicos, muitas complemen-
tações foram feitas ao longo do tempo até os dias atuais, mas sem perder a força dos ditames de Alá 
ao profeta Maomé.
Ainda em vigor em alguns Estados, como Arábia Saudita e Irã, o Alcorão estabelece severas pena-
lidades em relação ao jogo, bebida e roubo, além de considerar a mulher inferior ao homem.
Idade Média
A Idade Média caracterizou-se por ser uma época de batalhas sangrentas, intolerância religiosa, 
perseguições e torturas. Além da frequência com que era aplicada a pena de morte, era executada com 
requintes de crueldade (fogueira, afogamento, soterramento, enforcamento), como forma de intimida-
ção e atemorização e com o objetivo de dar exemplo. As sanções penais eram desiguais, dependendo 
da condição social e política do réu, sendo comum o confisco, a mutilação, os açoites, a tortura e as pe-
nas infamantes. As leis medievais puniam o suicida com o confisco de bens quando consumado o crime, 
que acabava punindo injustamente os filhos pelo “erro” do pai.
Nessa época, a Igreja Católica deixou uma considerável quantidade de informações sobre o que 
era certo e justo na visão da Lei Divina. Também normatizou o comportamento, o socialmente aceitável, 
25|Éticas e normas
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como os bons costumes e os cultos religiosos ministrados em Latim, de forma a estabelecer o compor-
tamento padrão para essa época. 
No cenário medieval, o que prevalecia era a lei fundada naquilo que se acreditava ser a vontade 
de Deus. Outros exemplos do processo de desenvolvimento das leis nessa mesma época encontram-se 
nos seguintes documentos: 
a Carta Magna:::: (1215-1225) – firmada pelo rei inglês João Sem-terra [sic], feita para proteger 
os privilégios dos barões e os direitos dos homens livres. É considerado o documento básico 
das liberdades inglesas.
as Leis de Leão de Castela:::: (1256) – denominadas “as Sete Partidas”, que visavamproteger a 
inviolabilidade da vida, da honra, do domicílio e da propriedade, assegurando aos acusados 
um processo legal que evitasse a punição injusta. A primeira das sete regras dispunha: “os juí-
zes devem garantir a liberdade”.
a:::: Carta das Liberdades (1253) – de Teobaldo II, de Navarra.
o:::: Código de Magnus Erikson (Suécia, 1350) – segundo o qual o rei devia jurar lealdade e jus-
tiça ao povo, comprometendo-se a não privar nem o pobre nem o rico, de sua vida ou de sua 
integridade corporal sem processo judicial em devida forma.
Idade Moderna
Vale lembrar que, na transição da Idade Média para a Idade Moderna (séculos XV e XVI), muitas 
transformações sociais, científicas, econômicas e culturais aconteceram na Europa, como a expansão 
do comércio marítimo, o descobrimento de novas terras pelos povos ibéricos, a formação da burguesia 
mercantil, o advento da imprensa, as descobertas científicas, a Reforma da Igreja Católica e o movimen-
to Protestante. Tudo isso resultou em novas atitudes filosóficas e científicas que situaram o homem no 
centro dos estudos e dos acontecimentos. 
Na Inglaterra, foram produzidos documentos de grande expressão no século XVII , acerca da pro-
teção dos direitos individuais. Vejamos alguns deles: 
Petition of Rights:::: (1628) – requerimento que impunha condições como a de que nenhum ho-
mem livre pudesse ser detido ou aprisionado, nem despojado de seu feudo, suas liberdades e 
franquias, nem posto fora da lei, nem exilado, nem molestado de qualquer outro modo, senão 
em virtude de sentença legal de seus pares ou de disposição das leis do país, respeitando prin-
cípios legais (PINHEIRO, 2001). Esse documento redigido pelos parlamentares foi dirigido ao 
monarca como forma de reconhecimento de diversos direitos e liberdades para os súditos;
Habeas Corpus Amendment Act:::: (1679) – foi um documento que ficou conhecido pela sua 
conquista com relação à liberdade individual, diante da prepotência dos detentores do poder 
público da época; 
26 | Éticas e normas
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Bill of Rights:::: (1688) – declarou ilegais os atos da autoridade real inglesa que, sem permissão 
do parlamento, suspendia as leis ou sua execução e mandava arrecadar dinheiro em nome 
da Coroa inglesa, além da quantia permitida pelo Parlamento. Esse documento também pro-
clamou a liberdade de discussão e proibiu a imposição de penas cruéis e sem fundamento. 
Ainda no século XVIII foram editados três documentos, igualmente expressivos no que diz respei-
to à preocupação com o indivíduo: 
a Declaração de Direitos do Bom Povo:::: da Virgínia (1776) – considerada a primeira decla-
ração de direitos fundamentais, no sentido moderno: consagrava o princípio da isonomia2; da 
imparcilidade do juiz, da liberdade de imprensa e de religião;
a Declaração da Independência dos Estados Unidos:::: (Thomas Jefferson, 1776) – confirma os 
direitos inalienáveis do ser humano e proclama que os poderes dos governantes derivam do 
consentimento do povo governado;
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789):::: – é uma das conquistas mais im-
portantes das liberdades individuais no Ocidente moderno. Surgiu no contexto da Revolução 
Francesa e representa a síntese do pensamento político, moral e social do século XVIII até os 
dias atuais. É o documento marcante do Estado liberal e proclama os seguintes princípios: iso-
nomia, liberdade, propriedade, legalidade, presunção de inocência, liberdade religiosa, livre 
manifestação do pensamento (PINHEIRO, 2001). 
Idade Contemporânea
Muitos historiadores afirmam que esta fase teve seu início a partir da Revolução Francesa (1789). 
Com o evento das duas grandes guerras mundiais, o ceticismo imperou no mundo juntamente com a 
crença de que a humanidade toda, até mesmo as nações consideradas mais avançadas para a época, 
era capaz de cometer atrocidades dignas de bárbaros. A Primeira Grande Guerra3 resultou na criação da 
Sociedade das Nações (1919) e a segunda, na criação da ONU4 (1945). 
A partir desses eventos, a necessidade de normatizar e determinar sistematicamente o que eram 
direitos humanos, em âmbito universal, tornou-se mais evidente. A exemplo desta preocupação surgiu 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Aprovado pela ONU, em meados do século XX, 
esse documento visou estabelecer direitos para todos os seres humanos, independentemente de suas 
características, tais como idade, cor, raça, religião, sexo etc. Traz em seu cerne os princípios iluministas 
de liberdade, igualdade e fraternidade. Baseando-se nestes, essa declaração prevê, ainda, a garantia 
contra qualquer tipo de escravidão humana, tortura, prisão, penas arbitrárias e discriminações (PINHEI-
RO, 2001). Possui 30 artigos no total. 
2 Igualdade conforme a lei.
3 “Primeira” ou “Segunda” Grande Guerra são nomes, mais propriamente conceitos históricos, aceitos academicamente e aqui adotados 
pela autora.
4 A Organização das Nações Unidas (ONU) é a organização internacional que tem como objetivo: manter a paz e a segurança internacionais; 
estabelecer relações cordiais entre as nações do mundo, obedecendo aos princípios da igualdade de direitos e da autodeterminação dos 
povos; e incentivar a cooperação internacional na resolução de problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários.
27|Éticas e normas
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Normas como regras de convívio
Direitos humanos na Constituição Federal do Brasil (1988) 
Encontramos a relação da Constituição Federal com os direitos humanos, pois, já no primeiro 
artigo, aponta a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho como princí-
pios fundamentais. Também determina os objetivos fundamentais para a construção de uma sociedade 
livre, justa e solidária, em que seja possível erradicar a pobreza, a marginalização, reduzir as desigualda-
des sociais e promover o bem de todos sem qualquer forma de discriminação. 
A Constituição de 1988, também conhecida como nossa Carta Magna, garante a igualdade de 
todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Garante ainda aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
dade. São incisos do artigo 5.º:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. 
A Constituição Federal do Brasil trata ainda dos direitos sociais, no que diz respeito à educação, 
à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade, à infância e 
à assistência aos desamparados.
Estatuto do Idoso
Representado pela Lei 10.741/2003, veio para convocar toda a sociedade para zelar pelos idosos, 
estabelecendo regras a fim de esclarecer como devem ser amparados. 
Esse estatuto esclarece que o idoso goza dos mesmos direitos que o indivíduo comum e assegu-
ra-lhe, por lei, todas as oportunidades e facilidades com o fim de preservar-lhe a saúde físico-mental, 
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, sempre em condição de dignidade e liberdade.
Esse código de normas veio esclarecer, no seu artigo 3.º, que é obrigação não só dos familiares 
do idoso, como também da comunidade e do Poder Público, assegurar-lhe com absoluta prioridade a 
efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao traba-
lho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, bem como 
determinar que é dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. 
Antigamente, desrespeitar um indivíduoidoso significava uma atitude antiética. Atualmente, 
aquele que assim proceder, tratando o indivíduo com mais de 60 anos com negligência, discrimina-
ção, violência, crueldade ou opressão será punido na forma da lei. 
28 | Éticas e normas
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Estatuto da Criança e do Adolescente
A Lei 8.069/1990 defende a proteção integral à criança e ao adolescente, considerando criança, a 
pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.
Determina em seu artigo 3.º:
Art. 3.º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo 
da proteção integral de que trata essa Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade 
e de dignidade.
Essa lei veio responder a questões como a da responsabilidade dos pais ou pessoas físicas e jurí-
dicas que, por algum motivo, tornaram-se responsáveis pela manutenção do menor, aplicando medidas 
que vão desde a advertência até a suspensão ou destituição do poder familiar.
Igualmente ao que está estipulado em favor do idoso, o artigo 4.º do Estatuto da Criança e do 
Adolescente dispõe que, além do dever da família em assegurar com absoluta prioridade a efetivação 
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionali-
zação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, também 
incumbe as mesmas obrigações à comunidade, à sociedade em geral e ao Poder Público. 
E mais, o estatuto impõe que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma 
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qual-
quer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.
A grande preocupação do legislador é o bem comum individual e da coletividade, considerando 
a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Num País como o 
nosso, sem dúvida alguma, as crianças devem ter prioridade na prevenção e tratamento de saúde, uma 
farta alimentação e educação, para que se possa mudar o cenário nacional. Infelizmente, a realidade 
ainda está a demonstrar que as crianças brasileiras são alvos da exploração do trabalho sem remunera-
ção (pois o que ganham entregam aos pais ou a outro adulto) e da delinquência (são usadas de mulas 
no tráfico de drogas), com grande representação no alto índice de criminalidade (são usadas por maio-
res de idade5 como álibi para a impunidade de seus atos).
Código do Consumidor
Este conjunto de normas surgiu em resposta ao anseio da sociedade brasileira, cansada de sofrer 
abusos decorrentes da falta de ética de fornecedores de produtos e serviços, fatos estes que, em menor 
índice de ocorrência, ainda estão presentes no cotidiano. 
O Código do Consumidor, formalizado pela Lei 8.078/1990, estabelece normas de proteção e de-
fesa do consumidor e está em conformidade com os termos dos artigos 5.º, inciso XXXII, artigo 170, 
inciso V, da Constituição Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias.
De acordo com esse código, considera-se consumidor “toda pessoa física ou jurídica que adquire 
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. 
5 “Adultos” não corresponde a um termo adequado para assuntos referentes à Constituição, que entende como “maior” o indivíduo com mais 
de 18 anos.
29|Éticas e normas
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Considera fornecedor “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, 
bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, 
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou 
prestação de serviços”.
Estabelece no seu artigo 4.º:
Art. 4.º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consu-
midores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua 
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo.
Nesse código, fica expressamente estabelecida a Política Nacional das Relações de Consumo, que 
é composta por regras que visam proteger o consumidor brasileiro, principalmente no que se refere à 
sua dignidade financeira, saúde e segurança (SIQUEIRA NETO, 2007). 
A grande importância na leitura desse código é o respeito dos direitos básicos do consumidor, 
reconhecidos, principalmente: 
a proteçã:::: o da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no forneci-
mento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, assegura-::::
das a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação ::::
correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os 
riscos que apresentem;
a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou ::::
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de 
produtos e serviços;
a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou ::::
sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e ::::
difusos;
o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de ::::
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurí-
dica, administrativa e técnica aos necessitados;
a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu ::::
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for 
ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
Muito embora não estejamos ainda diante do melhor entrosamento entre consumidor e for-
necedor, com essas normas regulamentadoras temos um campo aberto para muitas negociações, 
conciliações e adaptações que vão alinhavando a melhor conduta a ser praticada nas relações de 
consumo. A exemplo disso, muitas empresas passaram a melhor redigir seus contratos, a esclarecer 
melhor os manuais de instrução dos seus produtos e a qualificar melhor seus funcionários em bene-
fício da coletividade. 
30 | Éticas e normas
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Código de Hamurabi - aproximadamente 1780 a.C.
C
Sexto rei sumério durante período controverso (1792-1750 ou 1730-1685 A.C.) e nascido em Babel, 
“Khammu-rabi” (pronúncia em babilônio) foi fundador do 1o Império Babilônico (correspondente 
ao atual Iraque), unificando amplamente o mundo mesopotâmico, unindo os semitas e os sumérios e 
levando a Babilônia ao máximo esplendor. O nome de Hamurabi permanece indissociavelmente 
ligado ao código jurídico tido como o mais remoto já descoberto: o Código de Hamurabi. O 
legislador babilônico consolidou a tradição jurídica, harmonizou os costumes e estendeu o direito e 
a lei a todos os súditos. Seu código estabelecia regras de vida e de propriedade, apresentando leis 
específicas, sobre situações concretas e pontuais.
O texto de 281 preceitos (indo de 1 a 282 mas excluindo a cláusula 13 por superstições da época) 
foi reencontrado sob as ruínas da acrópole de Susa por uma delegação francesa na Pérsia e 
transportado para o Museu do Louvre, Paris. Consiste em um monumento talhado em dura pedra 
negra e cilíndrica de diorito. O tronco de pedra possui 2,25m de altura,1,60m de circunferência na 
parte superior e 1,90m na base. Toda a superfície dessa “estela” cilíndrica de diorito está coberta por 
denso texto cuneiforme, de escrita acádica. Em um alto-relevo retrata-se a figura de “Khammu-
rabi” recebendo a insígnia do reinado e da justiça de Shamash, deus dos oráculos. O código 
apresenta, dispostas em 46 colunas de 3.600 linhas, a jurisprudência de seu tempo, um agrupamento 
de disposições casuísticas, de ordem civil, penal e administrativa. Mesmo havendo sido formulado a 
cerca de 4000 anos, o Código de Hamurabi apresenta algumas tentativas primeiras de garantias dos 
direitos humanos.
�
 
Código de Hamurabi
�
Fonte: Museu do Louvre, Paris
�
(trechos selecionados)
1. Se alguém enganar a outrem, difamando esta pessoa, e este outrem não puder provar, então que 
aquele que enganou deve ser condenado à morte.
2. Se alguém fizer uma acusação a outrem, e o acusado for ao rio e pular neste rio, se ele afundar, 
seu acusador deverá tomar posse da casa do culpado, e se ele escapar sem ferimentos, o acusado 
não será culpado, e então aquele que fez a acusação deverá ser condenado à morte, enquanto que 
aquele que pulou no rio deve tomar posse da casa que pertencia a seu acusador.
3. Se alguém trouxer uma acusação de um crime frente aos anciões, e este alguém não trouxer 
provas, se for pena capital, este alguém deverá ser condenado à morte.
(...)
5. Um juiz deve julgar um caso, alcançar um veredicto e apresentá-lo por escrito. Se erro posterior 
aparecer na decisão do juiz, e tal juiz for culpado, então ele deverá pagar doze vezes a pena que ele 
mesmo instituiu para o caso, sendo publicamente destituído de sua posição de juiz, e jamais sentar-
se novamente para efetuar julgamentos.
6. Se alguém roubar a propriedade de um templo ou corte, ele deve ser condenado à morte, e 
também aquele que receber o produto do roubo do ladrão deve ser igualmente condenado à morte.
7. Se alguém comprar o filho ou o escravo de outro homem sem testemunhas ou um contrato, prata 
ou ouro, um escravo ou escrava, um boi ou ovelha, uma cabra ou seja o que for, se ele tomar este 
bem, este alguém será considerado um ladrão e deverá ser condenado à morte.
8. Se alguém roubar gado ou ovelhas, ou uma cabra, ou asno, ou porco, se este animal pertencer a 
um deus ou à corte, o ladrão deverá pagar trinta vezes o valor do furto; se tais bens pertencerem a 
um homem libertado que serve ao rei, este alguém deverá pagar 10 vezes o valor do furto, e se o 
ladrão não tiver com o que pagar seu furto, então ele deverá ser condenado à morte.
9. Se alguém perder algo e encontrar este objeto na posse de outro: se a pessoa em cuja posse 
estiver o objeto disser " um mercador vendeu isto para mim, eu paguei por este objeto na frente de 
testemunhas" e se o proprietário disse" eu trarei testemunhas para que conhecem minha 
propriedade" , então o comprador deverá trazer o mercador de quem comprou o objeto e as 
testemunhas que o viram fazer isto, e o proprietário deverá trazer testemunhas que possam 
identificar sua propriedade. O juiz deve examinar os testemunhos dos dois lados, inclusive o das 
testemunhas. Se o mercador for considerado pelas provas ser um ladrão, ele deverá ser condenado à 
morte. O dono do artigo perdido recebe então sua propriedade e aquele que a comprou recebe o 
dinheiro pago por ela das posses do mercador.
10. Se o comprador não trouxer o mercador e testemunhas ante a quem ante quem ele comprou o 
artigo, mas seu proprietário trouxer testemunhas para identificar o objeto, então o comprador é o 
ladrão e deve ser condenado à morte, sendo que o proprietário recebe a propriedade perdida.
11. Se o proprietário não trouxer testemunhas para identificar o artigo perdido, então ele está mal-
intencionado, e deve ser condenado à morte.
12. Se as testemunhas não estiverem disponíveis, então o juiz deve estabelecer um limite, que se 
expire em seis meses. Se suas testemunhas não aparecerem dentro de seis meses, o juiz estará 
agindo de má fé e deverá pagar a multa do caso pendente.
[Nota: não há 13ªLei no Código, 13 provavelmente sendo considerado um número de azar ou então 
sacro]
14. Se alguém roubar o filho menor de outrem, este alguém deve ser condenado à morte.
15. Se alguém tomar um escravo homem ou mulher da corte para fora dos limites da cidade, e se tal 
escravo homem ou mulher, pertencer a um homem liberto, este alguém deve ser condenado à morte.
16. Se alguém receber em sua casa um escravo fugitivo da corte, homem ou mulher, e não trouxe-lo 
à proclamação pública na casa do governante local ou de um homem livre, o mestre da casa deve 
condenado à morte.
17. Se alguém encontrar um escravo ou escrava fugitivos em terra aberta e trouxe-los a seus 
mestres, o mestre dos escravos deverá pagar a este alguém dois shekels de prata.
18. Se o escravo não der o nome de seu mestre, aquele que o encontrou deve trazê-lo ao palácio; 
uma investigação posterior deve ser feita, e o escravo devolvido a seu mestre.
19. Se este alguém mantiver os escravos em sua casa, e eles forem pegos lá, ele deverá ser 
condenado à morte.
20. Se o escravo que ele capturou fugir dele, então ele deve jurar aos proprietários do escravo, e 
ficar livre de qualquer culpa.
21. Se alguém arrombar uma casa, ele deverá ser condenado à morte na frente do local do 
arrombamento e ser enterrado.
22. Se estiver cometendo um roubo e for pego em flagrante, então ele deverá ser condenado à 
morte.
23. Se o ladrão não for pego, então aquele que foi roubado deve jurar a quantia de sua perda; então 
a comunidade e... em cuja terra e em cujo domínio deve compensá-lo pelos bens roubados.
(...)
38. Um capitão, homem ou alguém sujeito a despejo não pode responsabilizar por a manutenção do 
campo, jardim e casa a sua esposa ou filha, nem pode usar este bem para pagar um débito.
39. Ele pode, entretanto, assinalar um campo, jardim ou casa que comprou e que mantém como sua 
propriedade, para sua esposa ou filha e dar-lhes como débito.
40. Ele pode vender campo, jardim e casa a um agente real ou a qualquer outro agente público, 
sendo que o comprador terá então o campo, a casa e o jardim para seu usufruto.
41. Se fizer uma cerca ao redor do campo, jardim e casa de um capitão ou soldado, quando do 
retorno destes, a campo, jardim e casa deverão retornar ao proprietário.
42. Se alguém trabalhar o campo, mas não obtiver colheita dele, deve ser provado que ele não 
trabalhou no campo, e ele deve entregar os grãos para o dono do campo.
43. Se ele não trabalhar o campo e deixá-lo pior, ele deverá retrabalhar a terra e então entregá-la de 
volta ao seu dono.
(...)
48. Se alguém tiver um débito de empréstimo e uma tempestade prostrar os grãos ou a colheita for 
ruim ou os grãos não crescerem por falta d'água, naquele ano a pessoa não precisa dar ao seu credor 
dinheiro algum, ele devendo lavar sua tábua de débito na água e não pagar aluguel naquele ano.
(...)
116. Se o prisioneiro morrer na prisão por mau tratamento, o chefe da prisão deverá condenar o 
mercador frente ao juiz. Caso o prisioneiro seja um homem livre, o filho do mercador deverá ser 
condenado à morte; se ele era um escravo, ele deverá pagar 1/3 de uma mina em outro, e o chefe de 
prisão deve pagar pela negligência.
(...)
127. Se alguém "apontar o dedo" (enganar) a irmã de um deus ou a esposa de outro alguém e não 
puder provar o que disse, esta pessoa deve ser levada frente aos juizes e sua sobrancelha deverá ser 
marcada.
128. Se um homem tomar uma mulher como esposa, mas não tiver relações com ela, esta mulher 
não será esposa dele.
129. Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser 
amarrados e jogados dentro d'água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei 
perdoa a seus escravos.
130. Se um homem violar a esposa (prometida ou esposa-criança) de outro homem, o violador 
deverá ser condenado à morte, mas a esposa estará isenta de qualquer culpa.
131. Se um homem acusar a esposa de outrém, mas ela não for surpreendidacom outro homem, ela 
deve fazer um juramento e então voltar para casa.
132. Se o "dedo for apontado" para a esposa de um homem por causa de outro homem, e ela não for 
pega dormindo com o outro homem, ela deve pular no rio por seu marido.
133. Se um homem for tomado como prisioneiro de guerra, e houver sustento em sua casa, mas 
mesmo assim sua esposa deixar a casa por outra, esta mulher deverá ser judicialmente condenada e 
atirada na água.
134. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela 
deverá ir para outra casa, e a mulher estará isenta de toda e qualquer culpa.
135. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela 
deverá ir para outra casa e criar seus filhos. Se mais tarde o marido retornar e voltar à casa, então a 
esposa deverá retornar ao marido, assim como as crianças devem seguir seu pai.
136. Se fugir de sua casa, então sua esposa deve ir para outra casa. Se este homem voltar e desejar 
Ter sua esposa de volta, por que ele fugiu, a esposa não precisa retornar a seu marido.
137. Se um homem quiser se separar de uma mulher ou esposa que lhe deu filhos, então ele deve 
dar de volta o dote de sua esposa e parte do usufruto do campo, jardim e casa, para que ela possa 
criar os filhos. Quando ela tiver criado os filhos, uma parte do que foi dado aos filhos deve ser dada 
a ela, e esta parte deve ser igual a de um filho. A esposa poderá então se casar com quem quiser.
138. Se um homem quiser se separar de sua esposa que lhe deu filhos, ele deve dar a ela a quantia 
do preço que pagou por ela e o dote que ela trouxe da casa de seu pai, e deixá-la partir.
(...)
148. Se um homem tomar uma esposa, e ela adoecer, se ele então desejar tomar uma Segunda 
esposa, ele não deverá abandonar sua primeira esposa que foi atacada por uma doença, devendo 
mantê-la em casa e sustentá-la na casa que construiu para ela enquanto esta mulher viver.
(...)
154. Se um homem for culpado de incesto com sua filha, ele deverá ser exilado.
155. Se um homem prometer uma donzela a seu filho e seu filho ter relações com ela, mas o pai 
também tiver relações com a moça, então o pai deve ser preso e ser atirado na água para se afogar.
(...)
185. Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, criando-o, este filho 
crescido não poderá ser reclamado por outrém.
186. Se um homem adotar uma criança e esta criança ferir seu pai ou mãe adotivos, então esta 
criança adotada deverá ser devolvida à casa de seu pai.
(...)
190. Se um homem não sustentar a criança que adotou como filho e criá-lo com outras crianças, 
então o filho adotivo pode retornar à casa de seu pai.
191. Se um homem, que tenha adotado e criado um filho, fundado um lar e tido filhos, desejar 
desistir de seu filho adotivo, este filho não deve simplesmente desistir de seus direitos. Seu pai 
adotivo deve dar-lhe parte da legítima, e só então o filho adotivo poderá partir, se quiser. Ele não 
deve dar, porém, campo, jardim ou casa a este filho.
(...)
194. Se alguém der seu filho para uma ama (babá) e a criança morrer nas mãos desta ama, mas a 
ama, com o desconhecimento do pai e da mãe, cuidar de outra criança, então eles devem acusá-la de 
estar cuidando de uma outra criança sem o conhecimento do pai e da mãe. O castigo desta mulher 
será Ter os seus seios cortados.
(...)
- continua até 282.
“...Para que o forte não prejudique o mais fraco, afim de proteger as viúvas e os órfãos, ergui a 
Babilônia...para falar de justiça a toda a terra, para resolver todas as disputas e sanar todos os 
ferimentos, elaborei estas palavras preciosas...”
(retirado do Epílogo do Código de Hamurabi).
(
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1789 
 Os representantes do povo francês, constituídos em ASSEMBLEIA NACIONAL, 
considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as 
únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos Governos, resolveram expor em 
declaração solene os Direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Homem, a fim de que esta 
declaração, constantemente presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre 
sem cessar os seus direitos e os seus deveres; a fim de que os actos do Poder legislativo e 
do Poder executivo, a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as 
reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se 
dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. 
 Por consequência, a ASSEMBLEIA NACIONAL reconhece e declara, na presença e sob os 
auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do Homem e do Cidadão: 
 Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só 
podem fundar-se na utilidade comum. 
 Artigo 2º- O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e 
imprescritíveis do homem. Esses Direitos são a liberdade. a propriedade, a segurança e a 
resistência à opressão. 
 Artigo 3º- O princípio de toda a soberania reside essencialmente em a Nação. Nenhuma 
corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que aquela não emane 
expressamente. 
 Artigo 4º- A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: 
assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que 
asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites 
apenas podem ser determinados pela Lei. 
 Artigo 5º- A Lei não proíbe senão as acções prejudiciais à sociedade. Tudo aquilo que 
não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. 
 Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de 
concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua formação. Ela deve 
ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os cidadãos são 
iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos 
públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e 
dos seus talentos. 
 Artigo 7º- Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela 
Lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou 
mandam executar ordens arbitrárias devem ser castigados; mas qualquer cidadão 
convocado ou detido em virtude da Lei deve obedecer imediatamente, senão torna-se 
culpado de resistência. 
 Artigo 8º- A Lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e 
ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do 
delito e legalmente aplicada. 
 Artigo 9º- Todo o acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se se julgar 
indispensável prendê- lo, todo o rigor não necessário à guarda da sua pessoa, deverá ser 
severamente reprimido pela Lei. 
 Artigo 10º- Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões, incluindo opiniões 
religiosas, contando que a manifestação delas não perturbe a ordem pública estabelecida 
pela Lei. 
 Artigo 11º- A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais 
preciosos direitos do Homem; todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir 
livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei. 
 Artigo 12º- A garantia dos direitos do Homem e do Cidadão carece de uma força 
pública; esta força é, pois, instituída para vantagem de todos, e não para utilidade particular 
daqueles a quem é confiada. 
 Artigo 13º- Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é 
indispensável uma contribuição comum, que deve ser repartida entre os cidadãos de acordo 
com as suas possibilidades. 
 Artigo 14º- Todos os cidadãos têm o direito de verificar, por si ou pelos seus 
representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti- la livremente, de 
observar o seu emprego e de lhefixar a repartição, a colecta, a cobrança e a duração. 
 Artigo 15º- A sociedade tem o direito de pedir contas a todo o agente público pela sua 
administração. 
 Artigo 16º- Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, 
nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. 
 Artigo 17º- Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode 
ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir 
evidentemente e sob condição de justa e prévia indemnização. 
 
2a edição
Atualizada até setembro de 2017
Código de Defesa 
do Consumidor
e normas correlatas
Código de Defesa 
do Consumidor
e normas correlatas
 
SENADO FEDERAL 
Mesa 
Biênio 2017 – 2018
Senador Eunício Oliveira
PRESIDENTE
Senador Cássio Cunha Lima
PRIMEIRO-VICE-PRESIDENTE
Senador João Alberto Souza
SEGUNDO-VICE-PRESIDENTE
Senador José Pimentel
PRIMEIRO-SECRETÁRIO
Senador Gladson Cameli
SEGUNDO-SECRETÁRIO
Senador Antonio Carlos Valadares
TERCEIRO-SECRETÁRIO
Senador Zeze Perrella
QUARTO-SECRETÁRIO
SUPLENTES DE SECRETÁRIO
Senador Eduardo Amorim
Senador Sérgio Petecão
Senador Davi Alcolumbre
Senador Cidinho Santos
Brasília – 2017
Código de Defesa 
do Consumidor
e normas correlatas
2a edição
Secretaria de Editoração e Publicações
Coordenação de Edições Técnicas
Código de defesa do consumidor e normas correlatas. – 2. ed. – Brasília : 
Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017.
132 p.
ISBN: 978-85-7018-872-4
Conteúdo: Dispositivos constitucionais pertinentes – Normas principais – 
Lei no 8.078/1990 – Decreto no 7.962/2013 – Decreto no 6.523/2008 – Decreto 
no 5.903/2006 – Decreto no 2.181/1997 – Normas correlatas.
1. Direito do consumidor, legislação, Brasil. 2. Proteção e defesa do
consumidor, Brasil. 3. Relação de consumo, Brasil. 4. Brasil. [Código de 
proteção e defesa do consumidor (1990)].
CDD 342.5
Coordenação de Edições Técnicas
Senado Federal, Bloco 08, Mezanino, Setor 011
CEP: 70165-900 – Brasília, DF
E-mail: livros@senado.leg.br
Alô Senado: 0800 61 2211
Edição do Senado Federal
Diretora-Geral: Ilana Trombka
Secretário-Geral da Mesa: Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho
Impressa na Secretaria de Editoração e Publicações
Diretor: Fabrício Ferrão Araújo
Produzida na Coordenação de Edições Técnicas
Coordenador: Aloysio de Brito Vieira
Organização: Nerione Nunes Cardoso Júnior
Atualização: Kilpatrick Campelo
Revisão técnica: Fábio Harlan e Marcelo Larroyed
Revisão de provas: Vilma de Sousa
Editoração eletrônica: Rejane Campos
Capa e ilustrações: Serviço de Publicações Técnico-Legislativas
Projeto gráfico: Raphael Melleiro e Rejane Campos
Atualizada até setembro de 2017.
Sumário
7 Apresentação
Dispositivos constitucionais pertinentes
10 Constituição da República Federativa do Brasil
Normas principais
Lei no 8.078/1990
Título I – Dos Direitos do Consumidor
12 Capítulo I – Disposições Gerais
12 Capítulo II – Da Política Nacional de Relações de Consumo
13 Capítulo III – Dos Direitos Básicos do Consumidor
Capítulo IV – Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e 
da Reparação dos Danos
13 Seção I – Da Proteção à Saúde e Segurança
14 Seção II – Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço
15 Seção III – Da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço
16 Seção IV – Da Decadência e da Prescrição
17 Seção V – Da Desconsideração da Personalidade Jurídica
Capítulo V – Das Práticas Comerciais
17 Seção I – Das Disposições Gerais
17 Seção II – Da Oferta
18 Seção III – Da Publicidade
18 Seção IV – Das Práticas Abusivas
19 Seção V – Da Cobrança de Dívidas
19 Seção VI – Dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores
Capítulo VI – Da Proteção Contratual
20 Seção I – Disposições Gerais
20 Seção II – Das Cláusulas Abusivas
21 Seção III – Dos Contratos de Adesão
22 Capítulo VII – Das Sanções Administrativas
23 Título II – Das Infrações Penais
O conteúdo aqui apresentado está atualizado até a data de fechamento da edição. Eventuais 
notas de rodapé trazem informações complementares acerca dos dispositivos que compõem 
as normas compiladas.
Título III – Da Defesa do Consumidor em Juízo
25 Capítulo I – Disposições Gerais
26 Capítulo II – Das Ações Coletivas para a Defesa de Interesses Individuais Homogêneos
27 Capítulo III – Das Ações de Responsabilidade do Fornecedor de Produtos e Serviços
27 Capítulo IV – Da Coisa Julgada
28 Título IV – Do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
28 Título V – Da Convenção Coletiva de Consumo
29 Título VI – Disposições Finais
31 Decreto no 7.962/2013
33 Decreto no 6.523/2008
36 Decreto no 5.903/2006
39 Decreto no 2.181/1997
Normas correlatas
54 Lei no 13.455/2017
55 Lei no 12.965/2014
63 Lei no 12.741/2012
65 Lei no 12.529/2011
90 Lei no 12.414/2011
94 Lei no 12.291/2010
95 Lei no 10.962/2004
97 Lei no 9.870/1999
99 Lei no 9.656/1998
114 Lei no 8.987/1995
115 Lei no 8.137/1990
119 Decreto-Lei no 2.848/1940
120 Decreto no 8.771/2016
124 Decreto no 7.963/2013
128 Decreto no 4.680/2003
130 Decreto no 1.306/1994
7
A
pr
es
en
ta
çã
o
Apresentação
As obras de legislação do Senado Federal visam a permitir o acesso do cidadão 
à legislação em vigor relativa a temas específicos de interesse público.
Tais coletâneas incluem dispositivos constitucionais, códigos ou leis principais 
sobre o tema, além de normas correlatas e acordos internacionais relevantes, 
a depender do assunto. Por meio de compilação atualizada e fidedigna, 
apresenta-se ao leitor um painel consistente para estudo e consulta.
O índice temático, quando apresentado, oferece verbetes com tópicos de relevo, 
tornando fácil e rápida a consulta a dispositivos de interesse mais pontual.
Na Livraria Virtual do Senado (www.senado.leg.br/livraria), além das obras 
impressas disponíveis para compra direta, o leitor encontra e-books para 
download imediato e gratuito.
Sugestões e críticas podem ser registradas na página da Livraria e certamente 
contribuirão para o aprimoramento de nossos livros e periódicos.
Dispositivos constitucionais 
pertinentes
10
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or
Constituição 
da República Federativa do Brasil
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TÍTULO II – Dos Direitos e Garantias 
Fundamentais
CAPÍTULO I – Dos Direitos e Deveres 
Individuais e Coletivos
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem dis-
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes:
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XXXII – o Estado promoverá, na forma da 
lei, a defesa do consumidor;
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TÍTULO III – Da Organização do Estado
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CAPÍTULO II – Da União
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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao 
Distrito Federal legislar concorrentemente 
sobre:
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VIII – responsabilidade por dano ao meio 
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de 
valor artístico, estético, histórico, turístico e 
paisagístico;
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TÍTULO VI – Da Tributação e do 
Orçamento
CAPÍTULO I – Do Sistema Tributário 
Nacional
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SEÇÃO II – Das Limitações do Poder de 
Tributar
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias 
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, 
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni-
cípios:
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§ 5o A lei determinará medidas para que 
os consumidores sejam esclarecidosacerca 
dos impostos que incidam sobre mercadorias 
e serviços�
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TÍTULO VII – Da Ordem Econômica e 
Financeira
CAPÍTULO I – Dos Princípios Gerais da 
Atividade Econômica
Art. 170. A ordem econômica, fundada na 
valorização do trabalho humano e na livre ini-
ciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, 
observados os seguintes princípios:
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V – defesa do consumidor;
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ATO DAS DISPOSIÇÕES 
CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS
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Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cen-
to e vinte dias da promulgação da Constituição, 
elaborará código de defesa do consumidor�
Normas principais
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Lei no 8.078/1990
Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I – Dos Direitos do Consumidor
CAPÍTULO I – Disposições Gerais
Art. 1o O presente Código estabelece normas 
de proteção e defesa do consumidor, de or-
dem pública e interesse social, nos termos dos 
arts. 5o, inciso XXXII, 170, inciso V, da Cons-
tituição Federal e art. 48 de suas Disposições 
Transitórias.
Art. 2o Consumidor é toda pessoa física ou 
jurídica que adquire ou utiliza produto ou 
serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor 
a coletividade de pessoas, ainda que indeter-
mináveis, que haja intervindo nas relações de 
consumo.
Art. 3o Fornecedor é toda pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, nacional ou es-
trangeira, bem como os entes despersonaliza-
dos, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transforma-
ção, importação, exportação, distribuição ou 
comercialização de produtos ou prestação de 
serviços.
§ 1o Produto é qualquer bem, móvel ou 
imóvel, material ou imaterial.
§ 2o Serviço é qualquer atividade fornecida 
no mercado de consumo, mediante remunera-
ção, inclusive as de natureza bancária, financei-
ra, de crédito e securitária, salvo as decorrentes 
das relações de caráter trabalhista.
CAPÍTULO II – Da Política Nacional de 
Relações de Consumo
Art. 4o A Política Nacional das Relações de 
Consumo tem por objetivo o atendimento das 
necessidades dos consumidores, o respeito à 
sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de 
seus interesses econômicos, a melhoria da sua 
qualidade de vida, bem como a transparência e 
harmonia das relações de consumo, atendidos 
os seguintes princípios:
I – reconhecimento da vulnerabilidade do 
consumidor no mercado de consumo;
II – ação governamental no sentido de pro-
teger efetivamente o consumidor:
a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvi-
mento de associações representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de 
consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com 
padrões adequados de qualidade, segurança, 
durabilidade e desempenho;
III – harmonização dos interesses dos par-
ticipantes das relações de consumo e compa-
tibilização da proteção do consumidor com a 
necessidade de desenvolvimento econômico e 
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios 
nos quais se funda a ordem econômica (art. 
170, da Constituição Federal), sempre com 
base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre 
consumidores e fornecedores;
IV – educação e informação de fornecedo-
res e consumidores, quanto aos seus direitos e 
deveres, com vistas à melhoria do mercado de 
consumo;
V – incentivo à criação pelos fornecedores 
de meios eficientes de controle de qualidade e 
segurança de produtos e serviços, assim como 
de mecanismos alternativos de solução de 
conflitos de consumo;
VI – coibição e repressão eficientes de todos 
os abusos praticados no mercado de consumo, 
13
N
or
m
as
 p
rin
ci
pa
is
inclusive a concorrência desleal e utilização 
indevida de inventos e criações industriais das 
marcas e nomes comerciais e signos distintivos, 
que possam causar prejuízos aos consumidores;
VII – racionalização e melhoria dos serviços 
públicos;
VIII – estudo constante das modificações do 
mercado de consumo.
Art. 5o Para a execução da Política Nacional 
das Relações de Consumo, contará o poder 
público com os seguintes instrumentos, entre 
outros:
I – manutenção de assistência jurídica, 
integral e gratuita para o consumidor carente;
II – instituição de Promotorias de Justiça de 
Defesa do Consumidor, no âmbito do Minis-
tério Público;
III – criação de delegacias de polícia espe-
cializadas no atendimento de consumidores 
vítimas de infrações penais de consumo;
IV – criação de Juizados Especiais de Pe-
quenas Causas e Varas Especializadas para a 
solução de litígios de consumo;
V – concessão de estímulos à criação e de-
senvolvimento das Associações de Defesa do 
Consumidor.
§ 1o (Vetado)
§ 2o (Vetado)
CAPÍTULO III – Dos Direitos Básicos do 
Consumidor
Art. 6o São direitos básicos do consumidor:
I – a proteção da vida, saúde e segurança 
contra os riscos provocados por práticas no 
fornecimento de produtos e serviços conside-
rados perigosos ou nocivos;
II – a educação e divulgação sobre o consu-
mo adequado dos produtos e serviços, assegu-
radas a liberdade de escolha e a igualdade nas 
contratações;
III – a informação adequada e clara sobre os 
diferentes produtos e serviços, com especifica-
ção correta de quantidade, características, com-
posição, qualidade, tributos incidentes e preço, 
bem como sobre os riscos que apresentem;
IV – a proteção contra a publicidade engano-
sa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou 
desleais, bem como contra práticas e cláusulas 
abusivas ou impostas no fornecimento de pro-
dutos e serviços;
V – a modificação das cláusulas contratuais 
que estabeleçam prestações desproporcionais 
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes 
que as tornem excessivamente onerosas;
VI – a efetiva prevenção e reparação de 
danos patrimoniais e morais, individuais, co-
letivos e difusos;
VII – o acesso aos órgãos judiciários e admi-
nistrativos com vistas à prevenção ou reparação 
de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurí-
dica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, 
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu 
favor, no processo civil, quando, a critério do 
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele 
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias 
de experiências;
IX – (Vetado);
X – a adequada e eficaz prestação dos servi-
ços públicos em geral.
Parágrafo único. A informação de que 
trata o inciso III do caput deste artigo deve ser 
acessível à pessoa com deficiência, observado 
o disposto em regulamento.
Art. 7o Os direitos previstos neste Código 
não excluem outros decorrentes de tratados 
ou convenções internacionais de que o Brasil 
seja signatário, da legislação interna ordinária, 
de regulamentos expedidos pelas autoridades 
administrativas competentes, bem como dos 
que derivem dos princípios gerais do direito, 
analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a 
ofensa, todos responderão solidariamente pela 
reparação dos danos previstos nas normas de 
consumo.
CAPÍTULO IV – Da Qualidade de Produtos 
e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos 
Danos
SEÇÃO I – Da Proteção à Saúde e Segurança
Art. 8o Os produtos e serviços colocados no 
mercado de consumo não acarretarão riscos à 
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saúde ou segurança dos consumidores, exceto 
os considerados normais e previsíveis em de-
corrência de sua natureza e fruição, obrigan-
do-se os fornecedores, em qualquer hipótese, 
a dar as informações necessárias e adequadasa seu respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto 
industrial, ao fabricante cabe prestar as infor-
mações a que se refere este artigo, através de 
impressos apropriados que devam acompanhar 
o produto.
Art. 9o O fornecedor de produtos e serviços 
potencialmente nocivos ou perigosos à saúde 
ou segurança deverá informar, de maneira os-
tensiva e adequada, a respeito da sua nocividade 
ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de 
outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar 
no mercado de consumo produto ou serviço 
que sabe ou deveria saber apresentar alto grau 
de nocividade ou periculosidade à saúde ou 
segurança.
§ 1o O fornecedor de produtos e serviços 
que, posteriormente à sua introdução no 
mercado de consumo, tiver conhecimento da 
periculosidade que apresentem, deverá co-
municar o fato imediatamente às autoridades 
competentes e aos consumidores, mediante 
anúncios publicitários.
§ 2o Os anúncios publicitários a que se 
refere o parágrafo anterior serão veiculados 
na imprensa, rádio e televisão, às expensas do 
fornecedor do produto ou serviço.
§ 3o Sempre que tiverem conhecimento de 
periculosidade de produtos ou serviços à saúde 
ou segurança dos consumidores, a União, os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios 
deverão informá-los a respeito.
Art. 11. (Vetado)
SEÇÃO II – Da Responsabilidade pelo Fato 
do Produto e do Serviço
Art. 12. O fabricante, o produtor, o constru-
tor, nacional ou estrangeiro, e o importador 
respondem, independentemente da existência 
de culpa, pela reparação dos danos causados 
aos consumidores por defeitos decorrentes de 
projeto, fabricação, construção, montagem, 
fórmulas, manipulação, apresentação ou acon-
dicionamento de seus produtos, bem como por 
informações insuficientes ou inadequadas sobre 
sua utilização e riscos.
§ 1o O produto é defeituoso quando não 
oferece a segurança que dele legitimamente se 
espera, levando-se em consideração as circuns-
tâncias relevantes, entre as quais:
I – sua apresentação;
II – o uso e os riscos que razoavelmente dele 
se esperam;
III – a época em que foi colocado em cir-
culação.
§ 2o O produto não é considerado defeituo-
so pelo fato de outro de melhor qualidade ter 
sido colocado no mercado.
§ 3o O fabricante, o construtor, o produtor 
ou importador só não será responsabilizado 
quando provar:
I – que não colocou o produto no mercado;
II – que, embora haja colocado o produto 
no mercado, o defeito inexiste;
III – a culpa exclusiva do consumidor ou 
de terceiro.
Art. 13. O comerciante é igualmente respon-
sável, nos termos do artigo anterior, quando:
I – o fabricante, o construtor, o produtor ou 
o importador não puderem ser identificados;
II – o produto for fornecido sem identifica-
ção clara do seu fabricante, produtor, construtor 
ou importador;
III – não conservar adequadamente os pro-
dutos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o 
pagamento ao prejudicado poderá exercer o 
direito de regresso contra os demais responsá-
veis, segundo sua participação na causação do 
evento danoso.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, 
independentemente da existência de culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumido-
res por defeitos relativos à prestação dos servi-
ços, bem como por informações insuficientes 
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
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§ 1o O serviço é defeituoso quando não 
fornece a segurança que o consumidor dele 
pode esperar, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente 
dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
§ 2o O serviço não é considerado defeituoso 
pela adoção de novas técnicas.
§ 3o O fornecedor de serviços só não será 
responsabilizado quando provar:
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito 
inexiste;
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de 
terceiro.
§ 4o A responsabilidade pessoal dos pro-
fissionais liberais será apurada mediante a 
verificação de culpa.
Art. 15. (Vetado)
Art. 16. (Vetado)
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equipa-
ram-se aos consumidores todas as vítimas do 
evento.
SEÇÃO III – Da Responsabilidade por Vício 
do Produto e do Serviço
Art. 18. Os fornecedores de produtos de 
consumo duráveis ou não duráveis respon-
dem solidariamente pelos vícios de qualidade 
ou quantidade que os tornem impróprios ou 
inadequados ao consumo a que se destinam ou 
lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com as indicações 
constantes do recipiente, da embalagem, rotu-
lagem ou mensagem publicitária, respeitadas as 
variações decorrentes de sua natureza, podendo 
o consumidor exigir a substituição das partes 
viciadas.
§ 1o Não sendo o vício sanado no prazo má-
ximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, 
alternativamente e à sua escolha:
I – a substituição do produto por outro da 
mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II – a restituição imediata da quantia paga, 
monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos;
III – o abatimento proporcional do preço.
§ 2o Poderão as partes convencionar a 
redução ou ampliação do prazo previsto no 
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a 
sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos 
contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá 
ser convencionada em separado, por meio de 
manifestação expressa do consumidor.
§ 3o O consumidor poderá fazer uso 
imediato das alternativas do § 1o deste artigo 
sempre que, em razão da extensão do vício, a 
substituição das partes viciadas puder com-
prometer a qualidade ou características do 
produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de 
produto essencial.
§ 4o Tendo o consumidor optado pela al-
ternativa do inciso I do § 1o deste artigo, e não 
sendo possível a substituição do bem, poderá 
haver substituição por outro de espécie, marca 
ou modelo diversos, mediante complementação 
ou restituição de eventual diferença de preço, 
sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do 
§ 1o deste artigo.
§ 5o No caso de fornecimento de produtos 
in natura, será responsável perante o consu-
midor o fornecedor imediato, exceto quando 
identificado claramente seu produtor.
§ 6o São impróprios ao uso e consumo:
I – os produtos cujos prazos de validade 
estejam vencidos;
II – os produtos deteriorados, alterados, 
adulterados, avariados, falsificados, corrom-
pidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, 
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo 
com as normas regulamentares de fabricação, 
distribuição ou apresentação;
III – os produtos que, por qualquer mo-
tivo, se revelem inadequados ao fim a que se 
destinam.
Art. 19. Os fornecedores respondem soli-
dariamente pelos vícios de quantidade do 
produto sempre que, respeitadas as variações 
decorrentes de sua natureza, seu conteúdo 
líquido for inferior às indicações constantes 
do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de 
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mensagem publicitária, podendo o consumidor 
exigir, alternativamente e à sua escolha:
I – o abatimento proporcional do preço;
II – complementação do peso ou medida;
III – a substituição do produto por outro 
da mesma espécie, marca ou modelo, sem os 
aludidos vícios;
IV – a restituição imediata da quantia paga, 
monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos.
§ 1o Aplica-se a este artigo o disposto no 
§ 4o do artigo anterior.
§ 2o O fornecedor imediato será responsável 
quando fizer a pesagem ou a medição e o ins-
trumento utilizado não estiver aferido segundo 
os padrões oficiais.
Art. 20. O fornecedor de serviços responde 
pelos vícios de qualidade que os tornem im-
próprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, 
assim como por aqueles decorrentes da dispari-
dade com as indicações constantes da oferta ou 
mensagem publicitária, podendo o consumidor 
exigir, alternativamente e à sua escolha:
I – a reexecução dosserviços, sem custo 
adicional e quando cabível;
II – a restituição imediata da quantia paga, 
monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos;
III – o abatimento proporcional do preço.
§ 1o A reexecução dos serviços poderá ser 
confiada a terceiros devidamente capacitados, 
por conta e risco do fornecedor.
§ 2o São impróprios os serviços que se 
mostrem inadequados para os fins que razoa-
velmente deles se esperam, bem como aqueles 
que não atendam as normas regulamentares de 
prestabilidade.
Art. 21. No fornecimento de serviços que 
tenham por objetivo a reparação de qualquer 
produto considerar-se-á implícita a obrigação 
do fornecedor de empregar componentes de 
reposição originais adequados e novos, ou que 
mantenham as especificações técnicas do fabri-
cante, salvo, quanto a estes últimos, autorização 
em contrário do consumidor.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas 
empresas, concessionárias, permissionárias ou 
sob qualquer outra forma de empreendimento, 
são obrigados a fornecer serviços adequados, 
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, 
contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumpri-
mento, total ou parcial, das obrigações referidas 
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compeli-
das a cumpri-las e a reparar os danos causados, 
na forma prevista neste Código.
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os 
vícios de qualidade por inadequação dos produ-
tos e serviços não o exime de responsabilidade.
Art. 24. A garantia legal de adequação do pro-
duto ou serviço independe de termo expresso, 
vedada a exoneração contratual do fornecedor.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de 
cláusula que impossibilite, exonere ou atenue 
a obrigação de indenizar prevista nesta e nas 
Seções anteriores.
§ 1o Havendo mais de um responsável pela 
causação do dano, todos responderão solida-
riamente pela reparação prevista nesta e nas 
Seções anteriores.
§ 2o Sendo o dano causado por componente 
ou peça incorporada ao produto ou serviço, 
são responsáveis solidários seu fabricante, 
construtor ou importador e o que realizou a 
incorporação.
SEÇÃO IV – Da Decadência e da Prescrição
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios 
aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I – trinta dias, tratando-se de fornecimento 
de serviço e de produto não duráveis;
II – noventa dias, tratando-se de forneci-
mento de serviço e de produto duráveis.
§ 1o Inicia-se a contagem do prazo decaden-
cial a partir da entrega efetiva do produto ou do 
término da execução dos serviços.
§ 2o Obstam a decadência:
I – a reclamação comprovadamente formu-
lada pelo consumidor perante o fornecedor 
de produtos e serviços até a resposta negativa 
correspondente, que deve ser transmitida de 
forma inequívoca;
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II – (Vetado);
III – a instauração de inquérito civil, até seu 
encerramento.
§ 3o Tratando-se de vício oculto, o prazo 
decadencial inicia-se no momento em que ficar 
evidenciado o defeito.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão 
à reparação pelos danos causados por fato do 
produto ou do serviço prevista na Seção II 
deste Capítulo, iniciando-se a contagem do 
prazo a partir do conhecimento do dano e de 
sua autoria.
Parágrafo único. (Vetado)
SEÇÃO V – Da Desconsideração da 
Personalidade Jurídica
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a per-
sonalidade jurídica da sociedade quando, em 
detrimento do consumidor, houver abuso de 
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou 
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato 
social. A desconsideração também será efeti-
vada quando houver falência, estado de insol-
vência, encerramento ou inatividade da pessoa 
jurídica provocados por má administração.
§ 1o (Vetado)
§ 2o As sociedades integrantes dos grupos 
societários e as sociedades controladas, são 
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações 
decorrentes deste Código.
§ 3o As sociedades consorciadas são so-
lidariamente responsáveis pelas obrigações 
decorrentes deste Código.
§ 4o As sociedades coligadas só responderão 
por culpa.
§ 5o Também poderá ser desconsiderada a 
pessoa jurídica sempre que sua personalidade 
for, de alguma forma, obstáculo ao ressarci-
mento de prejuízos causados aos consumidores.
CAPÍTULO V – Das Práticas Comerciais
SEÇÃO I – Das Disposições Gerais
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do se-
guinte, equiparam-se aos consumidores todas 
as pessoas determináveis ou não, expostas às 
práticas nele previstas.
SEÇÃO II – Da Oferta
Art. 30. Toda informação ou publicidade, 
suficientemente precisa, veiculada por qualquer 
forma ou meio de comunicação com relação a 
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, 
obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela 
se utilizar e integra o contrato que vier a ser 
celebrado.
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos 
ou serviços devem assegurar informações cor-
retas, claras, precisas, ostensivas e em língua 
portuguesa sobre suas características, qualida-
des, quantidade, composição, preço, garantia, 
prazos de validade e origem, entre outros dados, 
bem como sobre os riscos que apresentam à 
saúde e segurança dos consumidores.
Parágrafo único. As informações de que 
trata este artigo, nos produtos refrigerados 
oferecidos ao consumidor, serão gravadas de 
forma indelével.
Art. 32. Os fabricantes e importadores deve-
rão assegurar a oferta de componentes e peças 
de reposição enquanto não cessar a fabricação 
ou importação do produto.
Parágrafo único. Cessadas a produção ou 
importação, a oferta deverá ser mantida por 
período razoável de tempo, na forma da lei.
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por 
telefone ou reembolso postal, deve constar o 
nome do fabricante e endereço na embalagem, 
publicidade e em todos os impressos utilizados 
na transação comercial.
Parágrafo único. É proibida a publicidade de 
bens e serviços por telefone, quando a chamada 
for onerosa ao consumidor que a origina.
Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço 
é solidariamente responsável pelos atos de seus 
prepostos ou representantes autônomos.
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou servi-
ços recusar cumprimento à oferta, apresentação 
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ou publicidade, o consumidor poderá, alterna-
tivamente e à sua livre escolha:
I – exigir o cumprimento forçado da obri-
gação, nos termos da oferta, apresentação ou 
publicidade;
II – aceitar outro produto ou prestação de 
serviço equivalente;
III – rescindir o contrato, com direito à res-
tituição de quantia eventualmente antecipada, 
monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
SEÇÃO III – Da Publicidade
Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de 
tal forma que o consumidor, fácil e imediata-
mente, a identifique como tal.
Parágrafo único. O fornecedor, na publici-
dade de seus produtos ou serviços, manterá, em 
seu poder, para informação dos legítimos inte-
ressados, os dados fáticos, técnicos e científicos 
que dão sustentação à mensagem.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa 
ou abusiva.
§ 1o É enganosa qualquer modalidade de 
informação ou comunicação de caráter publi-
citário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por 
qualquer outro modo, mesmo por omissão, ca-
paz de induzir em erro o consumidor a respeito 
da natureza, características, qualidade, quanti-
dade, propriedades, origem, preço e quaisquer 
outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2o É abusiva, dentre outras, a publicidade 
discriminatória de qualquer natureza, a que 
incite à violência, explore o medo ou a supers-
tição, se aproveite da deficiência de julgamento 
e experiência da criança, desrespeita valores 
ambientais, ou que seja capaz de induzir o con-
sumidor a se comportar de forma prejudicial 
ou perigosa à sua saúde ou segurança.
§ 3o Para os efeitos deste Código, a publi-
cidade é enganosa por omissão quando deixar 
de informar sobre dado essencial do produto 
ou serviço.
§ 4o (Vetado)
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e 
correção da informaçãoou comunicação pu-
blicitária cabe a quem as patrocina.
SEÇÃO IV – Das Práticas Abusivas
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos 
ou serviços, dentre outras práticas abusivas:1
I – condicionar o fornecimento de produto 
ou de serviço ao fornecimento de outro produto 
ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites 
quantitativos;
II – recusar atendimento às demandas dos 
consumidores, na exata medida de suas dispo-
nibilidades de estoque, e, ainda, de conformi-
dade com os usos e costumes;
III – enviar ou entregar ao consumidor, 
sem solicitação prévia, qualquer produto, ou 
fornecer qualquer serviço;
IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorân-
cia do consumidor, tendo em vista sua idade, 
saúde, conhecimento ou condição social, para 
impingir-lhe seus produtos ou serviços;
V – exigir do consumidor vantagem mani-
festamente excessiva;
VI – executar serviços sem a prévia elabo-
ração de orçamento e autorização expressa 
do consumidor, ressalvadas as decorrentes de 
práticas anteriores entre as partes;
VII – repassar informação depreciativa, 
referente a ato praticado pelo consumidor no 
exercício de seus direitos;
VIII – colocar, no mercado de consumo, 
qualquer produto ou serviço em desacordo 
com as normas expedidas pelos órgãos oficiais 
competentes ou, se normas específicas não 
existirem, pela Associação Brasileira de Normas 
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo 
Conselho Nacional de Metrologia, Normaliza-
ção e Qualidade Industrial (Conmetro);
IX – recusar a venda de bens ou a prestação 
de serviços, diretamente a quem se disponha a 
adquiri-los mediante pronto pagamento, res-
salvados os casos de intermediação regulados 
em leis especiais;
X – elevar sem justa causa o preço de pro-
dutos ou serviços;
1 Nota do Editor (NE): o inciso XI foi incluído pela 
Medida Provisória no  1.890-67/1999 e transfor-
mado em inciso XIII, quando da conversão na Lei 
no 9.870/1999.
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XII – deixar de estipular prazo para o cum-
primento de sua obrigação ou deixar a fixação 
de seu termo inicial a seu exclusivo critério;
XIII – aplicar fórmula ou índice de reajuste 
diverso do legal ou contratualmente estabe-
lecido;
XIV – permitir o ingresso em estabele-
cimentos comerciais ou de serviços de um 
número maior de consumidores que o fixado 
pela autoridade administrativa como máximo.
Parágrafo único. Os serviços prestados e 
os produtos remetidos ou entregues ao con-
sumidor, na hipótese prevista no inciso III, 
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo 
obrigação de pagamento.
Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado 
a entregar ao consumidor orçamento prévio 
discriminando o valor da mão de obra, dos 
materiais e equipamentos a serem empregados, 
as condições de pagamento, bem como as datas 
de início e término dos serviços.
§ 1o Salvo estipulação em contrário, o valor 
orçado terá validade pelo prazo de dez dias, 
contado de seu recebimento pelo consumidor.
§ 2o Uma vez aprovado pelo consumidor, 
o orçamento obriga os contraentes e somente 
pode ser alterado mediante livre negociação 
das partes.
§ 3o O consumidor não responde por quais-
quer ônus ou acréscimos decorrentes da con-
tratação de serviços de terceiros não previstos 
no orçamento prévio.
Art. 41. No caso de fornecimento de produtos 
ou de serviços sujeitos ao regime de controle 
ou de tabelamento de preços, os fornecedores 
deverão respeitar os limites oficiais sob pena de, 
não o fazendo, responderem pela restituição da 
quantia recebida em excesso, monetariamente 
atualizada, podendo o consumidor exigir, à 
sua escolha, o desfazimento do negócio, sem 
prejuízo de outras sanções cabíveis.
SEÇÃO V – Da Cobrança de Dívidas
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumi-
dor inadimplente não será exposto a ridículo, 
nem será submetido a qualquer tipo de cons-
trangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado 
em quantia indevida tem direito à repetição 
do indébito, por valor igual ao dobro do que 
pagou em excesso, acrescido de correção mo-
netária e juros legais, salvo hipótese de engano 
justificável.
Art. 42-A. Em todos os documentos de co-
brança de débitos apresentados ao consumidor, 
deverão constar o nome, o endereço e o número 
de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas 
– CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa 
Jurídica – CNPJ do fornecedor do produto ou 
serviço correspondente.
SEÇÃO VI – Dos Bancos de Dados e 
Cadastros de Consumidores
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do 
disposto no art. 86, terá acesso às informações 
existentes em cadastros, fichas, registros e da-
dos pessoais e de consumo arquivados sobre 
ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
§ 1o Os cadastros e dados de consumidores 
devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em 
linguagem de fácil compreensão, não podendo 
conter informações negativas referentes a pe-
ríodo superior a cinco anos.
§ 2o A abertura de cadastro, ficha, registro 
e dados pessoais e de consumo deverá ser co-
municada por escrito ao consumidor, quando 
não solicitada por ele.
§ 3o O consumidor, sempre que encontrar 
inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá 
exigir sua imediata correção, devendo o arqui-
vista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar 
a alteração aos eventuais destinatários das 
informações incorretas.
§ 4o Os bancos de dados e cadastros relati-
vos a consumidores, os serviços de proteção ao 
crédito e congêneres são considerados entida-
des de caráter público.
§ 5o Consumada a prescrição relativa à 
cobrança de débitos do consumidor, não serão 
fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Pro-
teção ao Crédito, quaisquer informações que 
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possam impedir ou dificultar novo acesso ao 
crédito junto aos fornecedores.
§ 6o Todas as informações de que trata o 
caput deste artigo devem ser disponibilizadas 
em formatos acessíveis, inclusive para a pes-
soa com deficiência, mediante solicitação do 
consumidor.
Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do 
consumidor manterão cadastros atualizados 
de reclamações fundamentadas contra for-
necedores de produtos e serviços, devendo 
divulgá-lo pública e anualmente. A divulgação 
indicará se a reclamação foi atendida ou não 
pelo fornecedor.
§ 1o É facultado o acesso às informações 
lá constantes para orientação e consulta por 
qualquer interessado.
§ 2o Aplicam-se a este artigo, no que couber, 
as mesmas regras enunciadas no artigo anterior 
e as do parágrafo único do art. 22 deste Código.
Art. 45. (Vetado)
CAPÍTULO VI – Da Proteção Contratual
SEÇÃO I – Disposições Gerais
Art. 46. Os contratos que regulam as relações 
de consumo não obrigarão os consumidores, 
se não lhes for dada a oportunidade de tomar 
conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se 
os respectivos instrumentos forem redigidos 
de modo a dificultar a compreensão de seu 
sentido e alcance.
Art. 47. As cláusulas contratuais serão in-
terpretadas de maneira mais favorável ao 
consumidor.
Art. 48. As declarações de vontade constantes 
de escritos particulares, recibos e pré-contratos 
relativos às relações de consumo vinculam 
o fornecedor, ensejando inclusive execução 
específica, nos termos do art. 84 e parágrafos.
Art. 49. O consumidor pode desistir do 
contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua 
assinatura ou do ato de recebimento do produto 
ou serviço, sempre que a contratação de forne-
cimento de produtos e serviços ocorrer fora do 
estabelecimento comercial, especialmente por 
telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exer-
citar o direito de arrependimento previsto 
neste artigo, os valores eventualmente pagos, 
a qualquer título, durante o prazo de reflexão, 
serão devolvidos, de imediato, monetariamente 
atualizados.
Art. 50. A garantia contratual é complementar 
à legal e será conferida mediante termo escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou 
equivalente deve ser padronizado e esclarecer, 
de maneira adequada, em que consiste a mesma 
garantia, bem como a forma, o prazoe o lugar 
em que pode ser exercitada e os ônus a cargo 
do consumidor, devendo ser-lhe entregue, de-
vidamente preenchido pelo fornecedor, no ato 
do fornecimento, acompanhado de manual de 
instrução, de instalação e uso do produto em 
linguagem didática, com ilustrações.
SEÇÃO II – Das Cláusulas Abusivas
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre 
outras, as cláusulas contratuais relativas ao 
fornecimento de produtos e serviços que:
I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a 
responsabilidade do fornecedor por vícios de 
qualquer natureza dos produtos e serviços ou 
impliquem renúncia ou disposição de direitos. 
Nas relações de consumo entre o fornecedor e 
o consumidor pessoa jurídica, a indenização 
poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II – subtraiam ao consumidor a opção de 
reembolso da quantia já paga, nos casos pre-
vistos neste Código;
III – transfiram responsabilidades a ter-
ceiros;
IV – estabeleçam obrigações consideradas 
iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor 
em desvantagem exagerada, ou sejam incom-
patíveis com a boa-fé ou a equidade;
V – (Vetado);
VI – estabeleçam inversão do ônus da prova 
em prejuízo do consumidor;
VII – determinem a utilização compulsória 
de arbitragem;
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VIII – imponham representante para con-
cluir ou realizar outro negócio jurídico pelo 
consumidor;
IX – deixem ao fornecedor a opção de con-
cluir ou não o contrato, embora obrigando o 
consumidor;
X – permitam ao fornecedor, direta ou 
indiretamente, variação do preço de maneira 
unilateral;
XI – autorizem o fornecedor a cancelar o 
contrato unilateralmente, sem que igual direito 
seja conferido ao consumidor;
XII – obriguem o consumidor a ressarcir 
os custos de cobrança de sua obrigação, sem 
que igual direito lhe seja conferido contra o 
fornecedor;
XIII – autorizem o fornecedor a modificar 
unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do 
contrato, após sua celebração;
XIV – infrinjam ou possibilitem a violação 
de normas ambientais;
XV – estejam em desacordo com o sistema 
de proteção ao consumidor;
XVI – possibilitem a renúncia do direito de 
indenização por benfeitorias necessárias.
§ 1o Presume-se exagerada, entre outros 
casos, a vantagem que:
I – ofende os princípios fundamentais do 
sistema jurídico a que pertence;
II – restringe direitos ou obrigações funda-
mentais inerentes à natureza do contrato, de 
tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio 
contratual;
III – se mostra excessivamente onerosa para 
o consumidor, considerando-se a natureza e 
conteúdo do contrato, o interesse das partes e 
outras circunstâncias peculiares ao caso.
§ 2o A nulidade de uma cláusula contra-
tual abusiva não invalida o contrato, exceto 
quando de sua ausência, apesar dos esforços de 
integração, decorrer ônus excessivo a qualquer 
das partes.
§ 3o (Vetado)
§ 4o É facultado a qualquer consumidor ou 
entidade que o represente requerer ao Ministé-
rio Público que ajuíze a competente ação para 
ser declarada a nulidade de cláusula contratual 
que contrarie o disposto neste Código ou de 
qualquer forma não assegure o justo equilíbrio 
entre direitos e obrigações das partes.
Art. 52. No fornecimento de produtos ou 
serviços que envolva outorga de crédito ou 
concessão de financiamento ao consumidor, 
o fornecedor deverá, entre outros requisitos, 
informá-lo prévia e adequadamente sobre:
I – preço do produto ou serviço em moeda 
corrente nacional;
II – montante dos juros de mora e da taxa 
efetiva anual de juros;
III – acréscimos legalmente previstos;
IV – número e periodicidade das prestações;
V – soma total a pagar, com e sem finan-
ciamento.
§ 1o As multas de mora decorrentes do 
inadimplemento de obrigações no seu termo 
não poderão ser superiores a dois por cento do 
valor da prestação.
§ 2o É assegurado ao consumidor a liquida-
ção antecipada do débito, total ou parcialmente, 
mediante redução proporcional dos juros e 
demais acréscimos.
§ 3o (Vetado)
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de 
móveis ou imóveis mediante pagamento em 
prestações, bem como nas alienações fidu-
ciárias em garantia, consideram-se nulas de 
pleno direito as cláusulas que estabeleçam a 
perda total das prestações pagas em benefício 
do credor que, em razão do inadimplemento, 
pleitear a resolução do contrato e a retomada 
do produto alienado.
§ 1o (Vetado)
§ 2o Nos contratos do sistema de consórcio 
de produtos duráveis, a compensação ou a res-
tituição das parcelas quitadas, na forma deste 
artigo, terá descontada, além da vantagem eco-
nômica auferida com a fruição, os prejuízos que 
o desistente ou inadimplente causar ao grupo.
§ 3o Os contratos de que trata o caput deste 
artigo serão expressos em moeda corrente 
nacional.
SEÇÃO III – Dos Contratos de Adesão
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas 
cláusulas tenham sido aprovadas pela autorida-
de competente ou estabelecidas unilateralmente 
pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem 
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que o consumidor possa discutir ou modificar 
substancialmente seu conteúdo.
§ 1o A inserção de cláusula no formulário 
não desfigura a natureza de adesão do contrato.
§ 2o Nos contratos de adesão admite-se 
cláusula resolutória, desde que alternativa, ca-
bendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se 
o disposto no § 2o do artigo anterior.
§ 3o Os contratos de adesão escritos serão 
redigidos em termos claros e com caracteres 
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não 
será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar 
sua compreensão pelo consumidor. 
§ 4o As cláusulas que implicarem limitação 
de direito do consumidor deverão ser redigidas 
com destaque, permitindo sua imediata e fácil 
compreensão.
§ 5o (Vetado)
CAPÍTULO VII – Das Sanções 
Administrativas
Art. 55. A União, os Estados e o Distrito Fe-
deral, em caráter concorrente e nas suas respec-
tivas áreas de atuação administrativa, baixarão 
normas relativas à produção, industrialização, 
distribuição e consumo de produtos e serviços.
§ 1o A União, os Estados, o Distrito Federal 
e os Municípios fiscalizarão e controlarão a 
produção, industrialização, distribuição, a pu-
blicidade de produtos e serviços e o mercado 
de consumo, no interesse da preservação da 
vida, da saúde, da segurança, da informação 
e do bem-estar do consumidor, baixando as 
normas que se fizerem necessárias.
§ 2o (Vetado)
§ 3o Os órgãos federais, estaduais, do Dis-
trito Federal e municipais com atribuições para 
fiscalizar e controlar o mercado de consumo 
manterão comissões permanentes para elabora-
ção, revisão e atualização das normas referidas 
no § 1o, sendo obrigatória a participação dos 
consumidores e fornecedores.
§ 4o Os órgãos oficiais poderão expedir 
notificações aos fornecedores para que, sob 
pena de desobediência, prestem informações 
sobre questões de interesse do consumidor, 
resguardado o segredo industrial.
Art. 56. As infrações das normas de defesa do 
consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às 
seguintes sanções administrativas, sem prejuízo 
das de natureza civil, penal e das definidas em 
normas específicas:
I – multa;
II – apreensão do produto;
III – inutilização do produto;
IV – cassação do registro do produto junto 
ao órgão competente;
V – proibição de fabricação do produto;
VI – suspensão de fornecimento de produtos 
ou serviço;
VII – suspensão temporária de atividade;
VIII – revogação de concessão ou permissão 
de uso;
IX – cassação de licença do estabelecimento 
ou de atividade;
X – interdição, total ou parcial, de estabele-
cimento, de obra ou de atividade;
XI – intervenção administrativa;
XII – imposição de contrapropaganda.
Parágrafo único. As sanções previstas neste 
artigo serão aplicadas pela autoridade adminis-
trativa, no âmbito de sua atribuição, podendo 
ser aplicadas cumulativamente, inclusive por 
medida cautelar antecedente ou incidente de 
procedimento administrativo.
Art. 57. A pena de multa, graduada de acordo 
com a gravidade da infração,a vantagem au-
ferida e a condição econômica do fornecedor, 
será aplicada mediante procedimento adminis-
trativo, revertendo para o Fundo de que trata a 
Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, os valores 
cabíveis à União, ou para os Fundos estaduais 
ou municipais de proteção ao consumidor nos 
demais casos.
Parágrafo único. A multa será em montante 
não inferior a duzentas e não superior a três 
milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de 
Referência (Ufir), ou índice equivalente que 
venha a substituí-lo.
Art. 58. As penas de apreensão, de inutiliza-
ção de produtos, de proibição de fabricação de 
produtos, de suspensão do fornecimento de 
produto ou serviço, de cassação do registro do 
produto e revogação da concessão ou permissão 
de uso serão aplicadas pela administração, me-
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diante procedimento administrativo, assegu-
rada ampla defesa, quando forem constatados 
vícios de quantidade ou de qualidade por inade-
quação ou insegurança do produto ou serviço.
Art. 59. As penas de cassação de alvará de 
licença, de interdição e de suspensão tempo-
rária da atividade, bem como a de intervenção 
administrativa serão aplicadas mediante proce-
dimento administrativo, assegurada ampla de-
fesa, quando o fornecedor reincidir na prática 
das infrações de maior gravidade previstas neste 
Código e na legislação de consumo.
§ 1o A pena de cassação da concessão será 
aplicada à concessionária de serviço público, 
quando violar obrigação legal ou contratual.
§ 2o A pena de intervenção administrativa 
será aplicada sempre que as circunstâncias de 
fato desaconselharem a cassação de licença, a 
interdição ou suspensão da atividade.
§ 3o Pendendo ação judicial na qual se 
discuta a imposição de penalidade administra-
tiva, não haverá reincidência até o trânsito em 
julgado da sentença.
Art. 60. A imposição de contrapropaganda 
será cominada quando o fornecedor incorrer 
na prática de publicidade enganosa ou abusiva, 
nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre 
às expensas do infrator.
§ 1o A contrapropaganda será divulgada 
pelo responsável da mesma forma, frequência 
e dimensão e, preferencialmente no mesmo 
veículo, local, espaço e horário, de forma capaz 
de desfazer o malefício da publicidade enganosa 
ou abusiva.
§ 2o (Vetado)
§ 3o (Vetado)
TÍTULO II – Das Infrações Penais
Art. 61. Constituem crimes contra as relações 
de consumo previstas neste Código, sem prejuí-
zo do disposto no Código Penal e leis especiais, 
as condutas tipificadas nos artigos seguintes.
Art. 62. (Vetado)
Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos 
sobre a nocividade ou periculosidade de produ-
tos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes 
ou publicidade:
Pena – Detenção de seis meses a dois anos 
e multa.
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas quem 
deixar de alertar, mediante recomendações 
escritas ostensivas, sobre a periculosidade do 
serviço a ser prestado.
§ 2o Se o crime é culposo:
Pena – Detenção de um a seis meses ou 
multa.
Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade 
competente e aos consumidores a nocividade 
ou periculosidade de produtos cujo conhe-
cimento seja posterior à sua colocação no 
mercado:
Pena – Detenção de seis meses a dois anos 
e multa.
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas pe-
nas quem deixar de retirar do mercado, imedia-
tamente quando determinado pela autoridade 
competente, os produtos nocivos ou perigosos, 
na forma deste artigo.
Art. 65. Executar serviço de alto grau de pe-
riculosidade, contrariando determinação de 
autoridade competente:
Pena – Detenção de seis meses a dois anos 
e multa.
§ 1o As penas deste artigo são aplicáveis sem 
prejuízo das correspondentes à lesão corporal 
e à morte.
§ 2o A prática do disposto no inciso XIV do 
art. 39 desta Lei também caracteriza o crime 
previsto no caput deste artigo.
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, 
ou omitir informação relevante sobre a na-
tureza, característica, qualidade, quantidade, 
segurança, desempenho, durabilidade, preço 
ou garantia de produtos ou serviços:
Pena – Detenção de três meses a um ano 
e multa.
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas quem 
patrocinar a oferta.
§ 2o Se o crime é culposo:
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Pena – Detenção de um a seis meses ou 
multa.
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que 
sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:
Pena – Detenção de três meses a um ano 
e multa.
Parágrafo único. (Vetado)
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que 
sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o 
consumidor a se comportar de forma preju-
dicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena – Detenção de seis meses a dois anos 
e multa.
Parágrafo único. (Vetado)
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, téc-
nicos e científicos que dão base à publicidade:
Pena – Detenção de um a seis meses ou 
multa.
Art. 70. Empregar, na reparação de produtos, 
peça ou componentes de reposição usados, sem 
autorização do consumidor:
Pena – Detenção de três meses a um ano 
e multa.
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de 
ameaça, coação, constrangimento físico ou 
moral, afirmações falsas, incorretas ou enga-
nosas ou de qualquer outro procedimento que 
exponha o consumidor, injustificadamente, a 
ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso 
ou lazer:
Pena – Detenção de três meses a um ano 
e multa.
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do con-
sumidor às informações que sobre ele constem 
em cadastros, banco de dados, fichas e registros:
Pena – Detenção de seis meses a um ano 
ou multa.
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente 
informação sobre consumidor constante de 
cadastro, banco de dados, fichas ou registros 
que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena – Detenção de um a seis meses ou 
multa.
Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o 
termo de garantia adequadamente preenchido 
e com especificação clara de seu conteúdo:
Pena – Detenção de um a seis meses ou 
multa.
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer 
para os crimes referidos neste Código, incide 
nas penas a esses cominadas na medida de sua 
culpabilidade, bem como o diretor, adminis-
trador ou gerente da pessoa jurídica que pro-
mover, permitir ou por qualquer modo aprovar 
o fornecimento, oferta, exposição à venda ou 
manutenção em depósito de produtos ou a 
oferta e prestação de serviços nas condições 
por ele proibidas.
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos 
crimes tipificados neste Código:
I – serem cometidos em época de grave crise 
econômica ou por ocasião de calamidade;
II – ocasionarem grave dano individual ou 
coletivo;
III – dissimular-se a natureza ilícita do 
procedimento;
IV – quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja 
condição econômico-social seja manifestamen-
te superior à da vítima;
b) em detrimento de operário ou rurícola; 
de menor de dezoito ou maior de sessenta anos 
ou de pessoas portadoras de deficiência mental, 
interditadas ou não;
V – serem praticados em operações que en-
volvam alimentos, medicamentos ou quaisquer 
outros produtos ou serviços essenciais.
Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Se-
ção será fixada em dias-multa, correspondente 
ao mínimo e ao máximo de dias de duração da 
pena privativa da liberdade cominada ao crime. 
Na individualização desta multa, o juiz observa-
rá o disposto no art. 60, § 1o do Código Penal.
Art. 78. Além das penas privativas de liberda-
de e de multa, podem ser impostas, cumulativa 
ou alternadamente, observado o disposto nos 
arts. 44 a 47, do Código Penal:
I – a interdição temporária de direitos;
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II – a publicação em órgãos de comunicação 
de grande circulação ou audiência, às expensas 
do condenado, de notícia sobre os fatos e a 
condenação;
III – a prestação de serviços à comunidade.
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de 
que trata este Código, será fixado pelo juiz, ou 
pela autoridade que presidir o inquérito, entre 
cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus do 
TesouroNacional (BTN), ou índice equivalente 
que venha a substituí-lo.
Parágrafo único. Se assim recomendar a 
situação econômica do indiciado ou réu, a 
fiança poderá ser:
a) reduzida até a metade do seu valor 
mínimo;
b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes 
previstos neste Código, bem como a outros 
crimes e contravenções que envolvam relações 
de consumo, poderão intervir, como assistentes 
do Ministério Público, os legitimados indicados 
no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é 
facultado propor ação penal subsidiária, se a 
denúncia não for oferecida no prazo legal.
TÍTULO III – Da Defesa do Consumidor em 
Juízo
CAPÍTULO I – Disposições Gerais
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos 
consumidores e das vítimas poderá ser exercida 
em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será 
exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim en-
tendidos, para efeitos deste Código, os transin-
dividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por 
circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim 
entendidos, para efeitos deste Código, os tran-
sindividuais de natureza indivisível de que seja 
titular grupo, categoria ou classe de pessoas 
ligadas entre si ou com a parte contrária por 
uma relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais ho-
mogêneos, assim entendidos os decorrentes de 
origem comum.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo úni-
co, são legitimados concorrentemente:
I – o Ministério Público;
II – a União, os Estados, os Municípios e o 
Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da Administração 
Pública, direta ou indireta, ainda que sem per-
sonalidade jurídica, especificamente destinados 
à defesa dos interesses e direitos protegidos por 
este Código;
IV – as associações legalmente constituídas 
há pelo menos um ano e que incluam entre 
seus fins institucionais a defesa dos interesses e 
direitos protegidos por este Código, dispensada 
a autorização assemblear.
§ 1o O requisito da pré-constituição pode 
ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas 
nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto 
interesse social evidenciado pela dimensão ou 
característica do dano, ou pela relevância do 
bem jurídico a ser protegido.
§ 2o (Vetado)
§ 3o (Vetado)
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses 
protegidos por este Código são admissíveis 
todas as espécies de ações capazes de propiciar 
sua adequada e efetiva tutela.
Parágrafo único. (Vetado)
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o 
cumprimento da obrigação de fazer ou não 
fazer, o juiz concederá a tutela específica da 
obrigação ou determinará providências que 
assegurem o resultado prático equivalente ao 
do adimplemento.
§ 1o A conversão da obrigação em perdas e 
danos somente será admissível se por elas optar 
o autor ou se impossível a tutela específica ou a 
obtenção do resultado prático correspondente.
§ 2o A indenização por perdas e danos se 
fará sem prejuízo da multa (art. 287, do Código 
de Processo Civil).
§ 3o Sendo relevante o fundamento da 
demanda e havendo justificado receio de 
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz 
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conceder a tutela liminarmente ou após justi-
ficação prévia, citado o réu.
§ 4o O juiz poderá, na hipótese do §  3o 
ou na sentença, impor multa diária ao réu, 
independentemente de pedido do autor, se 
for suficiente ou compatível com a obrigação, 
fixando prazo razoável para o cumprimento 
do preceito.
§ 5o Para a tutela específica ou para a obten-
ção do resultado prático equivalente, poderá 
o juiz determinar as medidas necessárias, tais 
como busca e apreensão, remoção de coisas e 
pessoas, desfazimento de obra, impedimento 
de atividade nociva, além de requisição de 
força policial.
Art. 85. (Vetado)
Art. 86. (Vetado)
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este 
Código não haverá adiantamento de custas, 
emolumentos, honorários periciais e quais-
quer outras despesas, nem condenação da 
associação autora, salvo comprovada má-fé, 
em honorários de advogados, custas e despesas 
processuais.
Parágrafo único. Em caso de litigância 
de má-fé, a associação autora e os diretores 
responsáveis pela propositura da ação serão 
solidariamente condenados em honorários 
advocatícios e ao décuplo das custas, sem pre-
juízo da responsabilidade por perdas e danos.
Art. 88. Na hipótese do art.  13, parágrafo 
único deste Código, a ação de regresso poderá 
ser ajuizada em processo autônomo, facultada 
a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos 
autos, vedada a denunciação da lide.
Art. 89. (Vetado)
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste 
Título as normas do Código de Processo Civil e 
da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive 
no que respeita ao inquérito civil, naquilo que 
não contrariar suas disposições.
CAPÍTULO II – Das Ações Coletivas para a 
Defesa de Interesses Individuais Homogêneos
Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 
poderão propor, em nome próprio e no inte-
resse das vítimas ou seus sucessores, ação civil 
coletiva de responsabilidade pelos danos indi-
vidualmente sofridos, de acordo com o disposto 
nos artigos seguintes.
Art. 92. O Ministério Público, se não ajuizar a 
ação, atuará sempre como fiscal da lei.
Parágrafo único. (Vetado)
Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça 
Federal, é competente para a causa a justiça 
local:
I – no foro do lugar onde ocorreu ou deva 
ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II – no foro da Capital do Estado ou no 
do Distrito Federal, para os danos de âmbito 
nacional ou regional, aplicando-se as regras do 
Código de Processo Civil aos casos de compe-
tência concorrente.
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital 
no órgão oficial, a fim de que os interessados 
possam intervir no processo como litisconsor-
tes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos 
meios de comunicação social por parte dos 
órgãos de defesa do consumidor.
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a 
condenação será genérica, fixando a responsa-
bilidade do réu pelos danos causados.
Art. 96. (Vetado)
Art. 97. A liquidação e a execução de senten-
ça poderão ser promovidas pela vítima e seus 
sucessores, assim como pelos legitimados de 
que trata o art. 82.
Parágrafo único. (Vetado)
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo 
promovida pelos legitimados de que trata o 
art.  82, abrangendo as vítimas cujas indeni-
zações já tiverem sido fixadas em sentença de 
liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de 
outras execuções.
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§ 1o A execução coletiva far-se-á com base 
em certidão das sentenças de liquidação, da 
qual deverá constar a ocorrência ou não do 
trânsito em julgado.
§ 2o É competente para a execução o juízo:
I – da liquidação da sentença ou da ação 
condenatória, no caso de execução individual;
II – da ação condenatória, quando coletiva 
a execução.
Art. 99. Em caso de concurso de créditos 
decorrentes de condenação prevista na Lei 
no 7.347, de 24 de julho de 1985, e de indeniza-
ções pelos prejuízos individuais resultantes do 
mesmo evento danoso, estas terão preferência 
no pagamento.
Parágrafo único. Para efeito do disposto 
neste artigo, a destinação da importância re-
colhida ao fundo criado pela Lei no 7.347, de 
24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto 
pendentes de decisão de segundo grau as ações 
de indenização pelos danos individuais, salvo 
na hipótese de o patrimônio do devedor ser 
manifestamente suficiente para responder pela 
integralidade das dívidas.
Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem 
habilitação de interessados em número com-
patível com a gravidade do dano, poderão os 
legitimados do art. 82 promover a liquidação 
e execução da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização 
devida reverterá para o fundo criado pela Lei 
no 7.347, de 24 de julho de1985.
CAPÍTULO III – Das Ações de 
Responsabilidade do Fornecedor de Produtos 
e Serviços
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do 
fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo 
do disposto nos Capítulos I e II deste Título, 
serão observadas as seguintes normas:
I – a ação pode ser proposta no domicílio 
do autor;
II – o réu que houver contratado seguro de 
responsabilidade poderá chamar ao processo o 
segurador, vedada a integração do contraditório 
pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta 
hipótese, a sentença que julgar procedente o 
pedido condenará o réu nos termos do art. 80 
do Código de Processo Civil. Se o réu houver 
sido declarado falido, o síndico será intimado 
a informar a existência de seguro de responsa-
bilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o 
ajuizamento de ação de indenização diretamen-
te contra o segurador, vedada a denunciação da 
lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dis-
pensado o litisconsórcio obrigatório com este.
Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste 
Código poderão propor ação visando compelir 
o Poder Público competente a proibir, em todo 
o território nacional, a produção, divulgação, 
distribuição ou venda, ou a determinar a alte-
ração na composição, estrutura, fórmula ou 
acondicionamento de produto, cujo uso ou 
consumo regular se revele nocivo ou perigoso 
à saúde pública e à incolumidade pessoal.
§ 1o (Vetado)
§ 2o (Vetado)
CAPÍTULO IV – Da Coisa Julgada
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este 
Código, a sentença fará coisa julgada:
I – erga omnes, exceto se o pedido for julga-
do improcedente por insuficiência de provas, 
hipótese em que qualquer legitimado poderá 
intentar outra ação, com idêntico fundamento, 
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso 
I do parágrafo único do art. 81;
II – ultra partes, mas limitadamente ao gru-
po, categoria ou classe, salvo improcedência por 
insuficiência de provas, nos termos do inciso 
anterior, quando se tratar da hipótese prevista 
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III – erga omnes, apenas no caso de pro-
cedência do pedido, para beneficiar todas as 
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso 
III do parágrafo único do art. 81.
§ 1o Os efeitos da coisa julgada previstos nos 
incisos I e II não prejudicarão interesses e direi-
tos individuais dos integrantes da coletividade, 
do grupo, categoria ou classe.
§ 2o Na hipótese prevista no inciso III, em 
caso de improcedência do pedido, os interes-
sados que não tiverem intervindo no processo 
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como litisconsortes poderão propor ação de 
indenização a título individual.
§ 3o Os efeitos da coisa julgada de que 
cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da 
Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, não pre-
judicarão as ações de indenização por danos 
pessoalmente sofridos, propostas individual-
mente ou na forma prevista neste Código, mas, 
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas 
e seus sucessores, que poderão proceder à liqui-
dação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4o Aplica-se o disposto no parágrafo an-
terior à sentença penal condenatória.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos 
incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, 
não induzem litispendência para as ações in-
dividuais, mas os efeitos da coisa julgada erga 
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos 
II e III do artigo anterior não beneficiarão os 
autores das ações individuais, se não for re-
querida sua suspensão no prazo de trinta dias, 
a contar da ciência nos autos do ajuizamento 
da ação coletiva.
TÍTULO IV – Do Sistema Nacional de 
Defesa do Consumidor
Art. 105. Integram o Sistema Nacional de De-
fesa do Consumidor (SNDC) os órgãos federais, 
estaduais, do Distrito Federal e municipais e as 
entidades privadas de defesa do consumidor.
Art. 106. O Departamento Nacional de Defe-
sa do Consumidor, da Secretaria Nacional de 
Direito Econômico (MJ), ou órgão federal que 
venha substituí-lo, é organismo de coordenação 
da política do Sistema Nacional de Defesa do 
Consumidor, cabendo-lhe:
I – planejar, elaborar, propor, coordenar 
e executar a política nacional de proteção ao 
consumidor;
II – receber, analisar, avaliar e encaminhar 
consultas, denúncias ou sugestões apresentadas 
por entidades representativas ou pessoas jurí-
dicas de direito público ou privado;
III – prestar aos consumidores orientação 
permanente sobre seus direitos e garantias;
IV – informar, conscientizar e motivar o 
consumidor através dos diferentes meios de 
comunicação;
V – solicitar à polícia judiciária a instaura-
ção de inquérito policial para a apreciação de 
delito contra os consumidores, nos termos da 
legislação vigente;
VI – representar ao Ministério Público 
competente para fins de adoção de medidas 
processuais no âmbito de suas atribuições;
VII – levar ao conhecimento dos órgãos 
competentes as infrações de ordem admi-
nistrativa que violarem os interesses difusos, 
coletivos, ou individuais dos consumidores;
VIII – solicitar o concurso de órgãos e enti-
dades da União, Estados, do Distrito Federal e 
Municípios, bem como auxiliar a fiscalização de 
preços, abastecimento, quantidade e segurança 
de bens e serviços;
IX – incentivar, inclusive com recursos 
financeiros e outros programas especiais, a 
formação de entidades de defesa do consu-
midor pela população e pelos órgãos públicos 
estaduais e municipais;
X – (Vetado);
XI – (Vetado);
XII – (Vetado);
XIII – desenvolver outras atividades compa-
tíveis com suas finalidades.
Parágrafo único. Para a consecução de seus 
objetivos, o Departamento Nacional de Defesa 
do Consumidor poderá solicitar o concurso de 
órgãos e entidades de notória especialização 
técnico-científica.
TÍTULO V – Da Convenção Coletiva de 
Consumo
Art. 107. As entidades civis de consumidores 
e as associações de fornecedores ou sindicatos 
de categoria econômica podem regular, por 
convenção escrita, relações de consumo que te-
nham por objeto estabelecer condições relativas 
ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia 
e características de produtos e serviços, bem 
como à reclamação e composição do conflito 
de consumo.
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§ 1o A convenção tornar-se-á obrigatória a 
partir do registro do instrumento no cartório 
de títulos e documentos.
§ 2o A convenção somente obrigará os filia-
dos às entidades signatárias.
§ 3o Não se exime de cumprir a convenção o 
fornecedor que se desligar da entidade em data 
posterior ao registro do instrumento.
Art. 108. (Vetado)
TÍTULO VI – Disposições Finais
Art. 109. (Vetado)
Art. 110. Acrescente-se o seguinte inciso IV 
ao art. 1o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985:
“IV – a qualquer outro interesse difuso ou 
coletivo.”
Art. 111. O inciso II do art. 5o da Lei no 7.347, 
de 24 de julho de 1985, passa a ter a seguinte 
redação:
“II – inclua, entre suas finalidades institu-
cionais, a proteção ao meio ambiente, ao 
consumidor, ao patrimônio artístico, esté-
tico, histórico, turístico e paisagístico, ou a 
qualquer outro interesse difuso ou coletivo.”
Art. 112. O § 3o do art. 5o da Lei no 7.347, de 24 
de julho de 1985, passa a ter a seguinte redação:
“§ 3o Em caso de desistência infundada ou 
abandono da ação por associação legitimada, 
o Ministério Público ou outro legitimado 
assumirá a titularidade ativa.”
Art. 113. Acrescente-se os seguintes §§ 4o, 5o 
e 6o ao art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho 
de 1985:
“§  4o O requisito da pré-constituição po-
derá ser dispensado pelo juiz, quando haja 
manifesto interesse social evidenciado pela 
dimensão ou característica do dano, ou pela 
relevância do bem jurídico a ser protegido.
§ 5o Admitir-se-á o litisconsórcio facultati-
vo entre os Ministérios Públicos da União, 
do Distrito Federal e dos Estados na defesa 
dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 6o Os órgãos públicos legitimados pode-
rão tomar dos interessados compromisso de 
ajustamento de sua conduta às exigênciaslegais, mediante combinações, que terá 
eficácia de título executivo extrajudicial.”
Art. 114. O art. 15 da Lei no 7.347, de 24 de 
julho de 1985, passa a ter a seguinte redação:
“Art. 15. Decorridos sessenta dias do trân-
sito em julgado da sentença condenatória, 
sem que a associação autora lhe promova 
a execução, deverá fazê-lo o Ministério 
Público, facultada igual iniciativa aos demais 
legitimados.”
Art. 115. Suprima-se o caput do art.  17 da 
Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, passando 
o parágrafo único a constituir o caput, com a 
seguinte redação:
“Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a 
associação autora e os diretores responsáveis 
pela propositura da ação serão solidariamen-
te condenados em honorários advocatícios 
e ao décuplo das custas, sem prejuízo da 
responsabilidade por perdas e danos.”
Art. 116. Dê-se a seguinte redação ao art. 18 
da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985:
“Art. 18. Nas ações de que trata esta Lei, 
não haverá adiantamento de custas, emo-
lumentos, honorários periciais e quaisquer 
outras despesas, nem condenação da asso-
ciação autora, salvo comprovada má-fé, em 
honorários de advogado, custas e despesas 
processuais.”
Art. 117. Acrescente-se à Lei no 7.347, de 24 
de julho de 1985, o seguinte dispositivo, renu-
merando-se os seguintes:
“Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos 
e interesses difusos, coletivos e individuais, 
no que for cabível, os dispositivos do Título 
III da lei que instituiu o Código de Defesa 
do Consumidor.”
Art. 118. Este Código entrará em vigor 
dentro de cento e oitenta dias a contar de sua 
publicação.
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Art. 119. Revogam-se as disposições em 
contrário.
Brasília, 11 de setembro de 1990; 169o da Inde-
pendência e 102o da República.
FERNANDO COLLOR – Bernardo Cabral – 
Zélia M. Cardoso de Mello – Ozires Silva
Promulgada em 11/9/1990, publicada no DOU de 
12/9/1990 – Edição extra – e retificada no DOU de 
10/1/2007.
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Decreto no 7.962/2013
Regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio 
eletrônico.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da 
atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso 
IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto 
na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990,
DECRETA:
Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei 
no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor 
sobre a contratação no comércio eletrônico, 
abrangendo os seguintes aspectos:
I – informações claras a respeito do produto, 
serviço e do fornecedor;
II – atendimento facilitado ao consumidor; e
III – respeito ao direito de arrependimento.
Art. 2o Os sítios eletrônicos ou demais meios 
eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão 
de contrato de consumo devem disponibilizar, 
em local de destaque e de fácil visualização, as 
seguintes informações:
I – nome empresarial e número de inscrição 
do fornecedor, quando houver, no Cadastro 
Nacional de Pessoas Físicas ou no Cadastro 
Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério 
da Fazenda;
II – endereço físico e eletrônico, e demais 
informações necessárias para sua localização 
e contato;
III – características essenciais do produto 
ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à 
segurança dos consumidores;
IV – discriminação, no preço, de quaisquer 
despesas adicionais ou acessórias, tais como as 
de entrega ou seguros;
V – condições integrais da oferta, incluídas 
modalidades de pagamento, disponibilidade, 
forma e prazo da execução do serviço ou da 
entrega ou disponibilização do produto; e
VI – informações claras e ostensivas a respei-
to de quaisquer restrições à fruição da oferta.
Art. 3o Os sítios eletrônicos ou demais meios 
eletrônicos utilizados para ofertas de compras 
coletivas ou modalidades análogas de contra-
tação deverão conter, além das informações 
previstas no art. 2o, as seguintes:
I – quantidade mínima de consumidores 
para a efetivação do contrato;
II – prazo para utilização da oferta pelo 
consumidor; e
III – identificação do fornecedor responsável 
pelo sítio eletrônico e do fornecedor do produto 
ou serviço ofertado, nos termos dos incisos I 
e II do art. 2o.
Art. 4o Para garantir o atendimento facilitado 
ao consumidor no comércio eletrônico, o for-
necedor deverá:
I – apresentar sumário do contrato antes 
da contratação, com as informações necessá-
rias ao pleno exercício do direito de escolha 
do consumidor, enfatizadas as cláusulas que 
limitem direitos;
II – fornecer ferramentas eficazes ao consu-
midor para identificação e correção imediata 
de erros ocorridos nas etapas anteriores à 
finalização da contratação;
III – confirmar imediatamente o recebimen-
to da aceitação da oferta;
IV – disponibilizar o contrato ao consumi-
dor em meio que permita sua conservação e 
reprodução, imediatamente após a contratação;
V – manter serviço adequado e eficaz de 
atendimento em meio eletrônico, que possibi-
lite ao consumidor a resolução de demandas 
referentes a informação, dúvida, reclamação, 
suspensão ou cancelamento do contrato;
VI – confirmar imediatamente o recebi-
mento das demandas do consumidor referidas 
no inciso, pelo mesmo meio empregado pelo 
consumidor; e
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VII – utilizar mecanismos de segurança 
eficazes para pagamento e para tratamento de 
dados do consumidor.
Parágrafo único. A manifestação do forne-
cedor às demandas previstas no inciso V do 
caput será encaminhada em até cinco dias ao 
consumidor.
Art. 5o O fornecedor deve informar, de forma 
clara e ostensiva, os meios adequados e eficazes 
para o exercício do direito de arrependimento 
pelo consumidor.
§ 1o O consumidor poderá exercer seu direi-
to de arrependimento pela mesma ferramenta 
utilizada para a contratação, sem prejuízo de 
outros meios disponibilizados.
§ 2o O exercício do direito de arrependi-
mento implica a rescisão dos contratos aces-
sórios, sem qualquer ônus para o consumidor.
§ 3o O exercício do direito de arrependi-
mento será comunicado imediatamente pelo 
fornecedor à instituição financeira ou à ad-
ministradora do cartão de crédito ou similar, 
para que:
I – a transação não seja lançada na fatura do 
consumidor; ou
II – seja efetivado o estorno do valor, caso o 
lançamento na fatura já tenha sido realizado.
§ 4o O fornecedor deve enviar ao consumi-
dor confirmação imediata do recebimento da 
manifestação de arrependimento.
Art. 6o As contratações no comércio eletrô-
nico deverão observar o cumprimento das 
condições da oferta, com a entrega dos produ-
tos e serviços contratados, observados prazos, 
quantidade, qualidade e adequação.
Art. 7o A inobservância das condutas descritas 
neste Decreto ensejará aplicação das sanções 
previstas no art. 56 da Lei no 8.078, de 1990.
................................................................................
Art. 9o Este Decreto entra em vigor sessenta 
dias após a data de sua publicação.
Brasília, 15 de março de 2013; 192o da Indepen-
dência e 125o da República.
DILMA ROUSSEFF – José Eduardo Cardozo
Decretado em 15/3/2013 e publicado no DOU de 
15/3/2013 – Edição extra.
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Decreto no 6.523/2008
Regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para fixar normas gerais sobre o Serviço de 
Atendimento ao Consumidor – SAC.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da 
atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, 
da Constituição, e tendo em vista o disposto na 
Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990,
DECRETA:
Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei 
no  8.078, de 11 de setembro de 1990, e fixa 
normas gerais sobre o Serviço de Atendimento 
ao Consumidor – SAC por telefone, no âmbito 
dos fornecedores de serviços regulados pelo 
Poder Público Federal, com vistas à observância 
dos direitos básicos do consumidor de obter 
informação adequada e clara sobre os serviços 
que contratar e de manter-se protegido contra 
práticas abusivas ou ilegais impostas no forne-cimento desses serviços.
CAPÍTULO I – Do Âmbito da Aplicação
Art. 2o Para os fins deste Decreto, compreen-
de-se por SAC o serviço de atendimento telefô-
nico das prestadoras de serviços regulados que 
tenham como finalidade resolver as demandas 
dos consumidores sobre informação, dúvida, 
reclamação, suspensão ou cancelamento de 
contratos e de serviços.
Parágrafo único. Excluem-se do âmbito de 
aplicação deste Decreto a oferta e a contratação 
de produtos e serviços realizadas por telefone.
CAPÍTULO II – Da Acessibilidade do 
Serviço
Art. 3o As ligações para o SAC serão gratuitas 
e o atendimento das solicitações e demandas 
previsto neste Decreto não deverá resultar em 
qualquer ônus para o consumidor.
Art. 4o O SAC garantirá ao consumidor, no 
primeiro menu eletrônico, as opções de contato 
com o atendente, de reclamação e de cancela-
mento de contratos e serviços.
§ 1o A opção de contatar o atendimento 
pessoal constará de todas as subdivisões do 
menu eletrônico.
§ 2o O consumidor não terá a sua ligação 
finalizada pelo fornecedor antes da conclusão 
do atendimento.
§ 3o O acesso inicial ao atendente não será 
condicionado ao prévio fornecimento de dados 
pelo consumidor.
§ 4o Regulamentação específica tratará do 
tempo máximo necessário para o contato di-
reto com o atendente, quando essa opção for 
selecionada.
Art. 5o O SAC estará disponível, ininterrup-
tamente, durante vinte e quatro horas por dia 
e sete dias por semana, ressalvado o disposto 
em normas específicas.
Art. 6o O acesso das pessoas com deficiência 
auditiva ou de fala será garantido pelo SAC, em 
caráter preferencial, facultado à empresa atri-
buir número telefônico específico para este fim.
Art. 7o O número do SAC constará de forma 
clara e objetiva em todos os documentos e ma-
teriais impressos entregues ao consumidor no 
momento da contratação do serviço e durante 
o seu fornecimento, bem como na página ele-
trônica da empresa na INTERNET.
Parágrafo único. No caso de empresa ou 
grupo empresarial que oferte serviços con-
juntamente, será garantido ao consumidor o 
acesso, ainda que por meio de diversos núme-
ros de telefone, a canal único que possibilite o 
atendimento de demanda relativa a qualquer 
um dos serviços oferecidos.
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CAPÍTULO III – Da Qualidade do 
Atendimento
Art. 8o O SAC obedecerá aos princípios da 
dignidade, boa-fé, transparência, eficiência, 
eficácia, celeridade e cordialidade.
Art. 9o O atendente, para exercer suas funções 
no SAC, deve ser capacitado com as habilidades 
técnicas e procedimentais necessárias para rea-
lizar o adequado atendimento ao consumidor, 
em linguagem clara.
Art. 10. Ressalvados os casos de reclamação e 
de cancelamento de serviços, o SAC garantirá 
a transferência imediata ao setor competente 
para atendimento definitivo da demanda, 
caso o primeiro atendente não tenha essa 
atribuição.
§ 1o A transferência dessa ligação será efe-
tivada em até sessenta segundos.
§ 2o Nos casos de reclamação e cance-
lamento de serviço, não será admitida a 
transferência da ligação, devendo todos os 
atendentes possuir atribuições para executar 
essas funções.
§ 3o O sistema informatizado garantirá ao 
atendente o acesso ao histórico de demandas 
do consumidor.
Art. 11. Os dados pessoais do consumidor se-
rão preservados, mantidos em sigilo e utilizados 
exclusivamente para os fins do atendimento.
Art. 12. É vedado solicitar a repetição da de-
manda do consumidor após seu registro pelo 
primeiro atendente.
Art. 13. O sistema informatizado deve ser 
programado tecnicamente de modo a garantir 
a agilidade, a segurança das informações e o 
respeito ao consumidor.
Art. 14. É vedada a veiculação de mensagens 
publicitárias durante o tempo de espera para o 
atendimento, salvo se houver prévio consenti-
mento do consumidor.
CAPÍTULO IV – Do Acompanhamento de 
Demandas
Art. 15. Será permitido o acompanhamento 
pelo consumidor de todas as suas demandas 
por meio de registro numérico, que lhe será 
informado no início do atendimento.
§ 1o Para fins do disposto no caput, será 
utilizada sequência numérica única para iden-
tificar todos os atendimentos.
§ 2o O registro numérico, com data, hora 
e objeto da demanda, será informado ao con-
sumidor e, se por este solicitado, enviado por 
correspondência ou por meio eletrônico, a 
critério do consumidor.
§ 3o É obrigatória a manutenção da grava-
ção das chamadas efetuadas para o SAC, pelo 
prazo mínimo de noventa dias, durante o qual 
o consumidor poderá requerer acesso ao seu 
conteúdo.
§ 4o O registro eletrônico do atendimento 
será mantido à disposição do consumidor e 
do órgão ou entidade fiscalizadora por um 
período mínimo de dois anos após a solução 
da demanda.
Art. 16. O consumidor terá direito de acesso 
ao conteúdo do histórico de suas demandas, 
que lhe será enviado, quando solicitado, no 
prazo máximo de setenta e duas horas, por 
correspondência ou por meio eletrônico, a seu 
critério.
CAPÍTULO V – Do Procedimento para a 
Resolução de Demandas
Art. 17. As informações solicitadas pelo con-
sumidor serão prestadas imediatamente e suas 
reclamações, resolvidas no prazo máximo de 
cinco dias úteis a contar do registro.
§ 1o O consumidor será informado sobre a 
resolução de sua demanda e, sempre que solici-
tar, ser-lhe-á enviada a comprovação pertinente 
por correspondência ou por meio eletrônico, a 
seu critério.
§ 2o A resposta do fornecedor será clara e 
objetiva e deverá abordar todos os pontos da 
demanda do consumidor.
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§ 3o Quando a demanda versar sobre ser-
viço não solicitado ou cobrança indevida, a 
cobrança será suspensa imediatamente, salvo 
se o fornecedor indicar o instrumento por meio 
do qual o serviço foi contratado e comprovar 
que o valor é efetivamente devido.
CAPÍTULO VI – Do Pedido de 
Cancelamento do Serviço
Art. 18. O SAC receberá e processará imedia-
tamente o pedido de cancelamento de serviço 
feito pelo consumidor.
§ 1o O pedido de cancelamento será per-
mitido e assegurado ao consumidor por todos 
os meios disponíveis para a contratação do 
serviço.
§ 2o Os efeitos do cancelamento serão ime-
diatos à solicitação do consumidor, ainda que o 
seu processamento técnico necessite de prazo, 
e independe de seu adimplemento contratual.
§ 3o O comprovante do pedido de cancela-
mento será expedido por correspondência ou 
por meio eletrônico, a critério do consumidor.
CAPÍTULO VII – Das Disposições Finais
Art. 19. A inobservância das condutas descri-
tas neste Decreto ensejará aplicação das sanções 
previstas no art. 56 da Lei no 8.078, de 1990, 
sem prejuízo das constantes dos regulamentos 
específicos dos órgãos e entidades reguladoras.
Art. 20. Os órgãos competentes, quando ne-
cessário, expedirão normas complementares 
e específicas para execução do disposto neste 
Decreto.
Art. 21. Os direitos previstos neste Decreto 
não excluem outros, decorrentes de regula-
mentações expedidas pelos órgãos e entidades 
reguladores, desde que mais benéficos para o 
consumidor.
Art. 22. Este Decreto entra em vigor em 1o de 
dezembro de 2008.
Brasília, 31 de julho de 2008; 187o da Indepen-
dência e 120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Tarso Genro
Decretado em 31/7/2008 e publicado no DOU de 
1o/8/2008.
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Decreto no 5.903/2006
Regulamenta a Lei no 10.962, de 11 de outubro de 2004, e a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da 
atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, 
da Constituição, e tendo em vista o disposto na 
Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, e na Lei 
no 10.962, de 11 de outubro de 2004,
DECRETA:
Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei 
no 10.962, de 11 de outubro de 2004, e dispõe 
sobre as práticas infracionais que atentam 
contra o direito básico do consumidor de obter 
informação adequada e clara sobre produtos 
e serviços, previstas na Lei no 8.078, de 11 de 
setembrode 1990.
Art. 2o Os preços de produtos e serviços 
deverão ser informados adequadamente, de 
modo a garantir ao consumidor a correção, 
clareza, precisão, ostensividade e legibilidade 
das informações prestadas.
§ 1o Para efeito do disposto no caput deste 
artigo, considera-se:
I – correção, a informação verdadeira que 
não seja capaz de induzir o consumidor em 
erro;
II – clareza, a informação que pode ser 
entendida de imediato e com facilidade pelo 
consumidor, sem abreviaturas que dificultem 
a sua compreensão, e sem a necessidade de 
qualquer interpretação ou cálculo;
III – precisão, a informação que seja exata, 
definida e que esteja física ou visualmente li-
gada ao produto a que se refere, sem nenhum 
embaraço físico ou visual interposto;
IV – ostensividade, a informação que seja de 
fácil percepção, dispensando qualquer esforço 
na sua assimilação; e
V – legibilidade, a informação que seja vi-
sível e indelével.
Art. 3o O preço de produto ou serviço deverá 
ser informado discriminando-se o total à vista.
Parágrafo único. No caso de outorga de 
crédito, como nas hipóteses de financiamento 
ou parcelamento, deverão ser também discri-
minados:
I – o valor total a ser pago com financia-
mento;
II – o número, periodicidade e valor das 
prestações;
III – os juros; e
IV – os eventuais acréscimos e encargos que 
incidirem sobre o valor do financiamento ou 
parcelamento.
Art. 4o Os preços dos produtos e serviços 
expostos à venda devem ficar sempre visíveis 
aos consumidores enquanto o estabelecimento 
estiver aberto ao público.
Parágrafo único. A montagem, rearranjo 
ou limpeza, se em horário de funcionamento, 
deve ser feito sem prejuízo das informações 
relativas aos preços de produtos ou serviços 
expostos à venda.
Art. 5o Na hipótese de afixação de preços de 
bens e serviços para o consumidor, em vitrines 
e no comércio em geral, de que trata o inciso I 
do art. 2o da Lei no 10.962, de 2004, a etiqueta ou 
similar afixada diretamente no produto exposto 
à venda deverá ter sua face principal voltada 
ao consumidor, a fim de garantir a pronta 
visualização do preço, independentemente de 
solicitação do consumidor ou intervenção do 
comerciante.
Parágrafo único. Entende-se como similar 
qualquer meio físico que esteja unido ao pro-
duto e gere efeitos visuais equivalentes aos da 
etiqueta.
Art. 6o Os preços de bens e serviços para 
o consumidor nos estabelecimentos comer-
ciais de que trata o inciso II do art. 2o da Lei 
no 10.962, de 2004, admitem as seguintes mo-
dalidades de afixação:
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I – direta ou impressa na própria embala-
gem;
II – de código referencial; ou
III – de código de barras.
§ 1o Na afixação direta ou impressão na 
própria embalagem do produto, será observado 
o disposto no art. 5o deste Decreto.
§ 2o A utilização da modalidade de afixação 
de código referencial deverá atender às seguin-
tes exigências:
I – a relação dos códigos e seus respecti-
vos preços devem estar visualmente unidos 
e próximos dos produtos a que se referem, e 
imediatamente perceptível ao consumidor, sem 
a necessidade de qualquer esforço ou desloca-
mento de sua parte; e
II – o código referencial deve estar fisi-
camente ligado ao produto, em contraste de 
cores e em tamanho suficientes que permitam 
a pronta identificação pelo consumidor.
§ 3o Na modalidade de afixação de código 
de barras, deverão ser observados os seguintes 
requisitos:
I – as informações relativas ao preço à vista, 
características e código do produto deverão 
estar a ele visualmente unidas, garantindo a 
pronta identificação pelo consumidor;
II – a informação sobre as características do 
item deve compreender o nome, quantidade e 
demais elementos que o particularizem; e
III – as informações deverão ser disponibi-
lizadas em etiquetas com caracteres ostensivos 
e em cores de destaque em relação ao fundo.
Art. 7o Na hipótese de utilização do código 
de barras para apreçamento, os fornecedores 
deverão disponibilizar, na área de vendas, para 
consulta de preços pelo consumidor, equipa-
mentos de leitura ótica em perfeito estado de 
funcionamento.
§ 1o Os leitores óticos deverão ser indicados 
por cartazes suspensos que informem a sua 
localização.
§ 2o Os leitores óticos deverão ser dispostos 
na área de vendas, observada a distância máxi-
ma de quinze metros entre qualquer produto e 
a leitora ótica mais próxima.
§ 3o Para efeito de fiscalização, os for-
necedores deverão prestar as informações 
necessárias aos agentes fiscais mediante dispo-
nibilização de croqui da área de vendas, com 
a identificação clara e precisa da localização 
dos leitores óticos e a distância que os separa, 
demonstrando graficamente o cumprimento da 
distância máxima fixada neste artigo.
Art. 8o A modalidade de relação de preços de 
produtos expostos e de serviços oferecidos aos 
consumidores somente poderá ser empregada 
quando for impossível o uso das modalidades 
descritas nos arts. 5o e 6o deste Decreto.
§ 1o A relação de preços de produtos ou 
serviços expostos à venda deve ter sua face 
principal voltada ao consumidor, de forma a 
garantir a pronta visualização do preço, inde-
pendentemente de solicitação do consumidor 
ou intervenção do comerciante.
§ 2o A relação de preços deverá ser também 
afixada, externamente, nas entradas de restau-
rantes, bares, casas noturnas e similares.
Art. 9o Configuram infrações ao direito bá-
sico do consumidor à informação adequada e 
clara sobre os diferentes produtos e serviços, 
sujeitando o infrator às penalidades previstas 
na Lei no 8.078, de 1990, as seguintes condutas:
I – utilizar letras cujo tamanho não seja uni-
forme ou dificulte a percepção da informação, 
considerada a distância normal de visualização 
do consumidor;
II – expor preços com as cores das letras e 
do fundo idêntico ou semelhante;
III – utilizar caracteres apagados, rasurados 
ou borrados;
IV – informar preços apenas em parcelas, 
obrigando o consumidor ao cálculo do total;
V – informar preços em moeda estrangeira, 
desacompanhados de sua conversão em moeda 
corrente nacional, em caracteres de igual ou 
superior destaque;
VI – utilizar referência que deixa dúvida 
quanto à identificação do item ao qual se refere;
VII – atribuir preços distintos para o mesmo 
item; e
VIII – expor informação redigida na vertical 
ou outro ângulo que dificulte a percepção.
Art. 10. A aplicação do disposto neste Decreto 
dar-se-á sem prejuízo de outras normas de 
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controle incluídas na competência de demais 
órgãos e entidades federais.
Parágrafo único. O disposto nos arts. 2o, 3o 
e 9o deste Decreto aplica-se às contratações no 
comércio eletrônico.
Art. 11. Este Decreto entra em vigor noventa 
dias após sua publicação.
Brasília, 20 de setembro de 2006; 185o da Inde-
pendência e 118o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Márcio 
Thomaz Bastos
Decretado em 20/9/2006 e publicado no DOU de 
21/9/2006.
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Decreto no 2.181/1997
Dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor – SNDC, estabelece as 
normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas na Lei no 8.078, de 11 de setembro 
de 1990, revoga o Decreto no 861, de 9 julho de 1993, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da 
atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, 
da Constituição, e tendo em vista o disposto na 
Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990,
DECRETA:
Art. 1o Fica organizado o Sistema Nacional de 
Defesa do Consumidor – SNDC e estabeleci-
das as normas gerais de aplicação das sanções 
administrativas, nos termos da Lei no 8.078, de 
11 de setembro de 1990.
CAPÍTULO I – Do Sistema Nacional de 
Defesa do Consumidor
Art. 2o Integram o SNDC a Secretaria Nacio-
nal do Consumidor do Ministério da Justiça e 
os demais órgãos federais, estaduais, do Distrito 
Federal, municipais e as entidades civis de de-
fesa do consumidor.
CAPÍTULO II – Da Competênciados 
Órgãos Integrantes do SNDC
Art. 3o Compete à Secretaria Nacional do 
Consumidor do Ministério da Justiça, a coor-
denação da política do Sistema Nacional de 
Defesa do Consumidor, cabendo-lhe:
I – planejar, elaborar, propor, coordenar e 
executar a política nacional de proteção e defesa 
do consumidor;
II – receber, analisar, avaliar e apurar con-
sultas e denúncias apresentadas por entidades 
representativas ou pessoas jurídicas de direito 
público ou privado ou por consumidores in-
dividuais;
III – prestar aos consumidores orientação 
permanente sobre seus direitos e garantias;
IV – informar, conscientizar e motivar o 
consumidor, por intermédio dos diferentes 
meios de comunicação;
V – solicitar à polícia judiciária a instauração 
de inquérito para apuração de delito contra o 
consumidor, nos termos da legislação vigente;
VI – representar ao Ministério Público 
competente, para fins de adoção de medidas 
processuais, penais e civis, no âmbito de suas 
atribuições;
VII – levar ao conhecimento dos órgãos 
competentes as infrações de ordem administra-
tiva que violarem os interesses difusos, coletivos 
ou individuais dos consumidores;
VIII – solicitar o concurso de órgãos e 
entidades da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, bem como auxiliar 
na fiscalização de preços, abastecimento, quan-
tidade e segurança de produtos e serviços;
IX – incentivar, inclusive com recursos 
financeiros e outros programas especiais, a 
criação de órgãos públicos estaduais e muni-
cipais de defesa do consumidor e a formação, 
pelos cidadãos, de entidades com esse mesmo 
objetivo;
X – fiscalizar e aplicar as sanções admi-
nistrativas previstas na Lei no 8.078, de 1990, 
e em outras normas pertinentes à defesa do 
consumidor;
XI – solicitar o concurso de órgãos e entida-
des de notória especialização técnico-científica 
para a consecução de seus objetivos;
XII – celebrar convênios e termos de ajusta-
mento de conduta, na forma do § 6o do art. 5o 
da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985;
XIII – elaborar e divulgar o cadastro na-
cional de reclamações fundamentadas contra 
fornecedores de produtos e serviços, a que se 
refere o art. 44 da Lei no 8.078, de 1990;
XIV – desenvolver outras atividades com-
patíveis com suas finalidades.
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Art. 4o No âmbito de sua jurisdição e com-
petência, caberá ao órgão estadual, do Distrito 
Federal e municipal de proteção e defesa do 
consumidor, criado, na forma da lei, especifi-
camente para este fim, exercitar as atividades 
contidas nos incisos II a XII do art.  3o deste 
Decreto e, ainda:
I – planejar, elaborar, propor, coordenar e 
executar a política estadual, do Distrito Federal 
e municipal de proteção e defesa do consumi-
dor, nas suas respectivas áreas de atuação;
II – dar atendimento aos consumidores, 
processando, regularmente, as reclamações 
fundamentadas;
III – fiscalizar as relações de consumo;
IV – funcionar, no processo administrativo, 
como instância de instrução e julgamento, no 
âmbito de sua competência, dentro das regras 
fixadas pela Lei no 8.078, de 1990, pela legislação 
complementar e por este Decreto;
V – elaborar e divulgar anualmente, no 
âmbito de sua competência, o cadastro de re-
clamações fundamentadas contra fornecedores 
de produtos e serviços, de que trata o art. 44 da 
Lei no 8.078, de 1990 e remeter cópia à Secre-
taria Nacional do Consumidor do Ministério 
da Justiça;
VI – desenvolver outras atividades compa-
tíveis com suas finalidades.
Art. 5o Qualquer entidade ou órgão da Admi-
nistração Pública, federal, estadual e municipal, 
destinado à defesa dos interesses e direitos do 
consumidor, tem, no âmbito de suas respectivas 
competências, atribuição para apurar e punir 
infrações a este Decreto e à legislação das rela-
ções de consumo.
Parágrafo único. Se instaurado mais de um 
processo administrativo por pessoas jurídicas 
de direito público distintas, para apuração de 
infração decorrente de um mesmo fato impu-
tado ao mesmo fornecedor, eventual conflito 
de competência será dirimido pela Secretaria 
Nacional do Consumidor, que poderá ouvir a 
Comissão Nacional Permanente de Defesa do 
Consumidor – CNPDC, levando sempre em 
consideração a competência federativa para 
legislar sobre a respectiva atividade econômica.
Art. 6o As entidades e órgãos da Administra-
ção Pública destinados à defesa dos interesses 
e direitos protegidos pelo Código de Defesa do 
Consumidor poderão celebrar compromissos 
de ajustamento de conduta às exigências legais, 
nos termos do § 6o do art. 5o da Lei no 7.347, 
de 1985, na órbita de suas respectivas compe-
tências.
§ 1o A celebração de termo de ajustamento 
de conduta não impede que outro, desde que 
mais vantajoso para o consumidor, seja lavrado 
por quaisquer das pessoas jurídicas de direito 
público integrantes do SNDC.
§ 2o A qualquer tempo, o órgão subscritor 
poderá, diante de novas informações ou se 
assim as circunstâncias o exigirem, retificar ou 
complementar o acordo firmado, determinando 
outras providências que se fizerem necessárias, 
sob pena de invalidade imediata do ato, dando-
se seguimento ao procedimento administrativo 
eventualmente arquivado.
§ 3o O compromisso de ajustamento con-
terá, entre outras, cláusulas que estipulem 
condições sobre:
I – obrigação do fornecedor de adequar sua 
conduta às exigências legais, no prazo ajustado;
II – pena pecuniária, diária, pelo descum-
primento do ajustado, levando-se em conta os 
seguintes critérios:
a) o valor global da operação investigada;
b) o valor do produto ou serviço em ques-
tão;
c) os antecedentes do infrator;
d) a situação econômica do infrator;
III – ressarcimento das despesas de investi-
gação da infração e instrução do procedimento 
administrativo.
§ 4o A celebração do compromisso de 
ajustamento suspenderá o curso do processo 
administrativo, se instaurado, que somente será 
arquivado após atendidas todas as condições 
estabelecidas no respectivo termo.
Art. 7o Compete aos demais órgãos públi-
cos federais, estaduais, do Distrito Federal e 
municipais que passarem a integrar o SNDC 
fiscalizar as relações de consumo, no âmbito de 
sua competência, e autuar, na forma da legisla-
ção, os responsáveis por práticas que violem os 
direitos do consumidor.
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Art. 8o As entidades civis de proteção e de-
fesa do consumidor, legalmente constituídas, 
poderão:
I – encaminhar denúncias aos órgãos públi-
cos de proteção e defesa do consumidor, para 
as providências legais cabíveis;
II – representar o consumidor em juízo, 
observado o disposto no inciso IV do art. 82 
da Lei no 8.078, de 1990;
III – exercer outras atividades correlatas.
CAPÍTULO III – Da Fiscalização, das 
Práticas Infrativas e das Penalidades 
Administrativas
SEÇÃO I – Da Fiscalização
Art. 9o A fiscalização das relações de consu-
mo de que tratam a Lei no 8.078, de 1990, este 
Decreto e as demais normas de defesa do con-
sumidor será exercida em todo o território na-
cional pela Secretaria Nacional do Consumidor 
do Ministério da Justiça, pelos órgãos federais 
integrantes do Sistema Nacional de Defesa do 
Consumidor, pelos órgãos conveniados com a 
Secretaria e pelos órgãos de proteção e defesa 
do consumidor criados pelos Estados, Distrito 
Federal e Municípios, em suas respectivas áreas 
de atuação e competência.
Art. 10. A fiscalização de que trata este Decre-
to será efetuada por agentes fiscais, oficialmente 
designados, vinculados aos respectivos órgãos 
de proteção e defesa do consumidor, no âmbito 
federal, estadual, do Distrito Federal e munici-
pal, devidamente credenciados mediante Cédu-
la de Identificação Fiscal, admitida a delegação 
mediante convênio.
Art. 11. Sem exclusão da responsabilidade dos 
órgãos que compõem o SNDC, os agentes de 
que trata o artigo anterior responderão pelos 
atos que praticarem quando investidos da ação 
fiscalizadora.
SEÇÃO II – Das Práticas Infrativas
Art. 12. São consideradaspráticas infrativas:
I – condicionar o fornecimento de produto 
ou serviço ao fornecimento de outro produto 
ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites 
quantitativos;
II – recusar atendimento às demandas dos 
consumidores na exata medida de sua disponi-
bilidade de estoque e, ainda, de conformidade 
com os usos e costumes;
III – recusar, sem motivo justificado, aten-
dimento à demanda dos consumidores de 
serviços;
IV – enviar ou entregar ao consumidor 
qualquer produto ou fornecer qualquer serviço, 
sem solicitação prévia;
V – prevalecer-se da fraqueza ou ignorân-
cia do consumidor, tendo em vista sua idade, 
saúde, conhecimento ou condição social, para 
impingir-lhe seus produtos ou serviços;
VI – exigir do consumidor vantagem mani-
festamente excessiva;
VII – executar serviços sem a prévia ela-
boração de orçamento e autorização expressa 
do consumidor, ressalvadas as decorrentes de 
práticas anteriores entre as partes;
VIII – repassar informação depreciativa 
referente a ato praticado pelo consumidor no 
exercício de seus direitos;
IX – colocar, no mercado de consumo, qual-
quer produto ou serviço:
a) em desacordo com as normas expedidas 
pelos órgãos oficiais competentes, ou, se nor-
mas específicas não existirem, pela Associação 
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ou 
outra entidade credenciada pelo Conselho 
Nacional de Metrologia, Normalização e Qua-
lidade Industrial – CONMETRO;
b) que acarrete riscos à saúde ou à segurança 
dos consumidores e sem informações ostensi-
vas e adequadas;
c) em desacordo com as indicações constan-
tes do recipiente, da embalagem, da rotulagem 
ou mensagem publicitária, respeitadas as varia-
ções decorrentes de sua natureza;
d) impróprio ou inadequado ao consumo 
a que se destina ou que lhe diminua o valor;
X – deixar de reexecutar os serviços, quando 
cabível, sem custo adicional;
XI – deixar de estipular prazo para o cum-
primento de sua obrigação ou deixar a fixação 
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ou variação de seu termo inicial a seu exclusivo 
critério.
Art. 13. Serão consideradas, ainda, práticas 
infrativas, na forma dos dispositivos da Lei 
no 8.078, de 1990:
I – ofertar produtos ou serviços sem as in-
formações corretas, claras, precisas e ostensivas, 
em língua portuguesa, sobre suas característi-
cas, qualidade, quantidade, composição, preço, 
condições de pagamento, juros, encargos, 
garantia, prazos de validade e origem, entre 
outros dados relevantes;
II – deixar de comunicar à autoridade 
competente a periculosidade do produto ou 
serviço, quando do lançamento dos mesmos no 
mercado de consumo, ou quando da verificação 
posterior da existência do risco;
III – deixar de comunicar aos consumi-
dores, por meio de anúncios publicitários, a 
periculosidade do produto ou serviço, quando 
do lançamento dos mesmos no mercado de 
consumo, ou quando da verificação posterior 
da existência do risco;
IV – deixar de reparar os danos causados 
aos consumidores por defeitos decorrentes de 
projetos, fabricação, construção, montagem, 
manipulação, apresentação ou acondiciona-
mento de seus produtos ou serviços, ou por 
informações insuficientes ou inadequadas sobre 
a sua utilização e risco;
V – deixar de empregar componentes de 
reposição originais, adequados e novos, ou que 
mantenham as especificações técnicas do fabri-
cante, salvo se existir autorização em contrário 
do consumidor;
VI – deixar de cumprir a oferta, publicitária 
ou não, suficientemente precisa, ressalvada a in-
correção retificada em tempo hábil ou exclusi-
vamente atribuível ao veículo de comunicação, 
sem prejuízo, inclusive nessas duas hipóteses, 
do cumprimento forçado do anunciado ou do 
ressarcimento de perdas e danos sofridos pelo 
consumidor, assegurado o direito de regresso 
do anunciante contra seu segurador ou res-
ponsável direto;
VII – omitir, nas ofertas ou vendas eletrôni-
cas, por telefone ou reembolso postal, o nome 
e endereço do fabricante ou do importador na 
embalagem, na publicidade e nos impressos 
utilizados na transação comercial;
VIII – deixar de cumprir, no caso de forne-
cimento de produtos e serviços, o regime de 
preços tabelados, congelados, administrados, 
fixados ou controlados pelo Poder Público;
IX – submeter o consumidor inadimplente a 
ridículo ou a qualquer tipo de constrangimento 
ou ameaça;
X – impedir ou dificultar o acesso gratuito 
do consumidor às informações existentes em 
cadastros, fichas, registros de dados pessoais e 
de consumo, arquivados sobre ele, bem como 
sobre as respectivas fontes;
XI – elaborar cadastros de consumo com 
dados irreais ou imprecisos;
XII – manter cadastros e dados de consumi-
dores com informações negativas, divergentes 
da proteção legal;
XIIII – deixar de comunicar, por escrito, ao 
consumidor a abertura de cadastro, ficha, re-
gistro de dados pessoais e de consumo, quando 
não solicitada por ele;
XIV – deixar de corrigir, imediata e gratui-
tamente, a inexatidão de dados e cadastros, 
quando solicitado pelo consumidor;
XV – deixar de comunicar ao consumidor, 
no prazo de cinco dias úteis, as correções ca-
dastrais por ele solicitadas;
XVI – impedir, dificultar ou negar, sem justa 
causa, o cumprimento das declarações cons-
tantes de escritos particulares, recibos e pré-
contratos concernentes às relações de consumo;
XVII – omitir em impressos, catálogos ou 
comunicações, impedir, dificultar ou negar a 
desistência contratual, no prazo de até sete dias 
a contar da assinatura do contrato ou do ato de 
recebimento do produto ou serviço, sempre que 
a contratação ocorrer fora do estabelecimento 
comercial, especialmente por telefone ou a 
domicílio;
XVIII – impedir, dificultar ou negar a devo-
lução dos valores pagos, monetariamente atua-
lizados, durante o prazo de reflexão, em caso 
de desistência do contrato pelo consumidor;
XIX – deixar de entregar o termo de garantia, 
devidamente preenchido com as informações 
previstas no parágrafo único do art. 50 da Lei 
no 8.078, de 1990;
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XX – deixar, em contratos que envolvam 
vendas a prazo ou com cartão de crédito, de 
informar por escrito ao consumidor, prévia e 
adequadamente, inclusive nas comunicações 
publicitárias, o preço do produto ou do serviço 
em moeda corrente nacional, o montante dos 
juros de mora e da taxa efetiva anual de juros, 
os acréscimos legal e contratualmente previstos, 
o número e a periodicidade das prestações e, 
com igual destaque, a soma total a pagar, com 
ou sem financiamento;
XXI – deixar de assegurar a oferta de com-
ponentes e peças de reposição, enquanto não 
cessar a fabricação ou importação do produto, 
e, caso cessadas, de manter a oferta de com-
ponentes e peças de reposição por período 
razoável de tempo, nunca inferior à vida útil 
do produto ou serviço;
XXII – propor ou aplicar índices ou formas 
de reajuste alternativos, bem como fazê-lo em 
desacordo com aquele que seja legal ou contra-
tualmente permitido;
XXIII – recusar a venda de produto ou a 
prestação de serviços, publicamente ofertados, 
diretamente a quem se dispõe a adquiri-los 
mediante pronto pagamento, ressalvados os 
casos regulados em leis especiais;
XXIV – deixar de trocar o produto impró-
prio, inadequado, ou de valor diminuído, por 
outro da mesma espécie, em perfeitas condi-
ções de uso, ou de restituir imediatamente a 
quantia paga, devidamente corrigida, ou fazer 
abatimento proporcional do preço, a critério 
do consumidor.
Art. 14. É enganosa qualquer modalidade de 
informação ou comunicação de caráter publici-
tário inteira ou parcialmente falsa, ou, por qual-
quer outro modo, mesmo por omissão, capaz 
de induzir a erro o consumidor a respeito da 
natureza, características, qualidade, quantida-
de, propriedade, origem, preço e de quaisquer 
outros dados sobre produtos ou serviços.
§ 1o É enganosa, por omissão, a publicidade 
que deixar de informar sobre dado essencial do 
produto ou serviço a ser colocado à disposição 
dos consumidores.§ 2o É abusiva, entre outras, a publicidade 
discriminatória de qualquer natureza, que inci-
te à violência, explore o medo ou a superstição, 
se aproveite da deficiência de julgamento e da 
inexperiência da criança, desrespeite valores 
ambientais, seja capaz de induzir o consumi-
dor a se comportar de forma prejudicial ou 
perigosa à sua saúde ou segurança, ou que viole 
normas legais ou regulamentares de controle 
da publicidade.
§ 3o O ônus da prova da veracidade (não 
enganosidade) e da correção (não abusividade) 
da informação ou comunicação publicitária 
cabe a quem as patrocina.
Art. 15. Estando a mesma empresa sendo 
acionada em mais de um Estado federado 
pelo mesmo fato gerador de prática infrativa, a 
autoridade máxima do sistema estadual poderá 
remeter o processo ao órgão coordenador do 
SNDC, que apurará o fato e aplicará as sanções 
respectivas.
Art. 16. Nos casos de processos administra-
tivos em trâmite em mais de um Estado, que 
envolvam interesses difusos ou coletivos, a 
Secretaria Nacional do Consumidor poderá 
avocá-los, ouvida a Comissão Nacional Perma-
nente de Defesa do Consumidor, e as autorida-
des máximas dos sistemas estaduais.
Art. 17. As práticas infrativas classificam-se 
em:
I – leves: aquelas em que forem verificadas 
somente circunstâncias atenuantes;
II – graves: aquelas em que forem verificadas 
circunstâncias agravantes.
SEÇÃO III – Das Penalidades 
Administrativas
Art. 18. A inobservância das normas contidas 
na Lei no 8.078, de 1990, e das demais normas 
de defesa do consumidor constituirá prática 
infrativa e sujeitará o fornecedor às seguintes 
penalidades, que poderão ser aplicadas isolada 
ou cumulativamente, inclusive de forma caute-
lar, antecedente ou incidente no processo admi-
nistrativo, sem prejuízo das de natureza cível, 
penal e das definidas em normas específicas:
I – multa;
II – apreensão do produto;
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III – inutilização do produto;
IV – cassação do registro do produto junto 
ao órgão competente;
V – proibição de fabricação do produto;
VI – suspensão de fornecimento de produtos 
ou serviços;
VII – suspensão temporária de atividade;
VIII – revogação de concessão ou permissão 
de uso;
IX – cassação de licença do estabelecimento 
ou de atividade;
X – interdição, total ou parcial, de estabele-
cimento, de obra ou de atividade;
XI – intervenção administrativa;
XII – imposição de contrapropaganda.
§ 1o Responderá pela prática infrativa, su-
jeitando-se às sanções administrativas previstas 
neste Decreto, quem por ação ou omissão lhe 
der causa, concorrer para sua prática ou dela 
se beneficiar.
§ 2o As penalidades previstas neste artigo 
serão aplicadas pelos órgãos oficiais integran-
tes do SNDC, sem prejuízo das atribuições do 
órgão normativo ou regulador da atividade, na 
forma da legislação vigente.
§ 3o As penalidades previstas nos incisos III 
a XI deste artigo sujeitam-se a posterior con-
firmação pelo órgão normativo ou regulador 
da atividade, nos limites de sua competência.
Art. 19. Toda pessoa física ou jurídica que 
fizer ou promover publicidade enganosa ou 
abusiva ficará sujeita à pena de multa, cumu-
lada com aquelas previstas no artigo anterior, 
sem prejuízo da competência de outros órgãos 
administrativos.
Parágrafo único. Incide também nas penas 
deste artigo o fornecedor que:
a) deixar de organizar ou negar aos legíti-
mos interessados os dados fáticos, técnicos e 
científicos que dão sustentação à mensagem 
publicitária;
b) veicular publicidade de forma que o 
consumidor não possa, fácil e imediatamente, 
identificá-la como tal.
Art. 20. Sujeitam-se à pena de multa os órgãos 
públicos que, por si ou suas empresas conces-
sionárias, permissionárias ou sob qualquer 
outra forma de empreendimento, deixarem de 
fornecer serviços adequados, eficientes, seguros 
e, quanto aos essenciais, contínuos.
Art. 21. A aplicação da sanção prevista no 
inciso II do art. 18 terá lugar quando os pro-
dutos forem comercializados em desacordo 
com as especificações técnicas estabelecidas 
em legislação própria, na Lei no 8.078, de 1990, 
e neste Decreto.
§ 1o Os bens apreendidos, a critério da 
autoridade, poderão ficar sob a guarda do pro-
prietário, responsável, preposto ou empregado 
que responda pelo gerenciamento do negócio, 
nomeado fiel depositário, mediante termo pró-
prio, proibida a venda, utilização, substituição, 
subtração ou remoção, total ou parcial, dos 
referidos bens.
§ 2o A retirada de produto por parte da 
autoridade fiscalizadora não poderá incidir 
sobre quantidade superior àquela necessária à 
realização da análise pericial.
Art. 22. Será aplicada multa ao fornecedor 
de produtos ou serviços que, direta ou indire-
tamente, inserir, fizer circular ou utilizar-se de 
cláusula abusiva, qualquer que seja a modali-
dade do contrato de consumo, inclusive nas 
operações securitárias, bancárias, de crédito 
direto ao consumidor, depósito, poupança, mú-
tuo ou financiamento, e especialmente quando:
I – impossibilitar, exonerar ou atenuar a 
responsabilidade do fornecedor por vícios de 
qualquer natureza dos produtos e serviços ou 
implicar renúncia ou disposição de direito do 
consumidor;
II – deixar de reembolsar ao consumidor 
a quantia já paga, nos casos previstos na Lei 
no 8.078, de 1990;
III – transferir responsabilidades a terceiros;
IV – estabelecer obrigações consideradas 
iníquas ou abusivas, que coloquem o consumi-
dor em desvantagem exagerada, incompatíveis 
com a boa-fé ou a equidade;
V – estabelecer inversão do ônus da prova 
em prejuízo do consumidor;
VI – determinar a utilização compulsória 
de arbitragem;
VII – impuser representante para concluir 
ou realizar outro negócio jurídico pelo con-
sumidor;
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VIII – deixar ao fornecedor a opção de 
concluir ou não o contrato, embora obrigando 
o consumidor;
IX – permitir ao fornecedor, direta ou indi-
retamente, variação unilateral do preço, juros, 
encargos, forma de pagamento ou atualização 
monetária;
X – autorizar o fornecedor a cancelar o 
contrato unilateralmente, sem que igual direi-
to seja conferido ao consumidor, ou permitir, 
nos contratos de longa duração ou de trato 
sucessivo, o cancelamento sem justa causa e 
motivação, mesmo que dada ao consumidor a 
mesma opção;
XI – obrigar o consumidor a ressarcir os cus-
tos de cobrança de sua obrigação, sem que igual 
direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XII – autorizar o fornecedor a modificar 
unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do 
contrato após sua celebração;
XIII – infringir normas ambientais ou pos-
sibilitar sua violação;
XIV – possibilitar a renúncia ao direito de 
indenização por benfeitorias necessárias;
XV – restringir direitos ou obrigações funda-
mentais à natureza do contrato, de tal modo a 
ameaçar o seu objeto ou o equilíbrio contratual;
XVI – onerar excessivamente o consumidor, 
considerando-se a natureza e o conteúdo do 
contrato, o interesse das partes e outras cir-
cunstâncias peculiares à espécie;
XVII – determinar, nos contratos de compra 
e venda mediante pagamento em prestações, 
ou nas alienações fiduciárias em garantia, a 
perda total das prestações pagas, em beneficio 
do credor que, em razão do inadimplemento, 
pleitear a resilição do contrato e a retomada do 
produto alienado, ressalvada a cobrança judicial 
de perdas e danos comprovadamente sofridos;
XVIII – anunciar, oferecer ou estipular 
pagamento em moeda estrangeira, salvo nos 
casos previstos em lei;
XIX – cobrar multas de mora superiores a 
dois por cento, decorrentes do inadimplemento 
de obrigação no seu termo, conforme o dispos-
to no § 1o do art. 52 da Lei no 8.078, de 1990, 
com a redação dada pela Lei no 9.298, de 1o de 
agosto de 1996;
XX – impedir, dificultar ou negar ao consu-
midor a liquidação antecipada do débito, total 
ou parcialmente, mediante redução proporcio-
nal dos juros, encargos e demais acréscimos, 
inclusive seguro;
XXI – fizer constar do contratoalguma das 
cláusulas abusivas a que se refere o art. 56 deste 
Decreto;
XXII – elaborar contrato, inclusive o de 
adesão, sem utilizar termos claros, caracteres 
ostensivos e legíveis, que permitam sua ime-
diata e fácil compreensão, destacando-se as 
cláusulas que impliquem obrigação ou limi-
tação dos direitos contratuais do consumidor, 
inclusive com a utilização de tipos de letra 
e cores diferenciados, entre outros recursos 
gráficos e visuais;
XXIII – que impeça a troca de produto 
impróprio, inadequado, ou de valor diminuí-
do, por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso, ou a restituição imediata da 
quantia paga, devidamente corrigida, ou fazer 
abatimento proporcional do preço, a critério 
do consumidor.
Parágrafo único. Dependendo da gravidade 
da infração prevista nos incisos dos arts.  12, 
13 e deste artigo, a pena de multa poderá ser 
cumulada com as demais previstas no art. 18, 
sem prejuízo da competência de outros órgãos 
administrativos.
Art. 23. Os serviços prestados e os produtos 
remetidos ou entregues ao consumidor, na 
hipótese prevista no inciso IV do art. 12 deste 
Decreto, equiparam-se às amostras grátis, ine-
xistindo obrigação de pagamento.
Art. 24. Para a imposição da pena e sua gra-
dação, serão considerados:
I – as circunstâncias atenuantes e agravantes;
II – os antecedentes do infrator, nos termos 
do art. 28 deste Decreto.
Art. 25. Consideram-se circunstâncias ate-
nuantes:
I – a ação do infrator não ter sido fundamen-
tal para a consecução do fato;
II – ser o infrator primário;
III – ter o infrator adotado as providências 
pertinentes para minimizar ou de imediato 
reparar os efeitos do ato lesivo.
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Art. 26. Consideram-se circunstâncias agra-
vantes:
I – ser o infrator reincidente;
II – ter o infrator, comprovadamente, co-
metido a prática infrativa para obter vantagens 
indevidas;
III – trazer a prática infrativa consequências 
danosas à saúde ou à segurança do consumi-
dor;
IV – deixar o infrator, tendo conhecimento 
do ato lesivo, de tomar as providências para 
evitar ou mitigar suas consequências;
V – ter o infrator agido com dolo;
VI – ocasionar a prática infrativa dano co-
letivo ou ter caráter repetitivo;
VII – ter a prática infrativa ocorrido em 
detrimento de menor de dezoito ou maior 
de sessenta anos ou de pessoas portadoras de 
deficiência física, mental ou sensorial, interdi-
tadas ou não;
VIII – dissimular-se a natureza ilícita do ato 
ou atividade;
IX – ser a conduta infrativa praticada 
aproveitando-se o infrator de grave crise 
econômica ou da condição cultural, social ou 
econômica da vítima, ou, ainda, por ocasião 
de calamidade.
Art. 27. Considera-se reincidência a repetição 
de prática infrativa, de qualquer natureza, às 
normas de defesa do consumidor, punida por 
decisão administrativa irrecorrível.
Parágrafo único. Para efeito de reincidência, 
não prevalece a sanção anterior, se entre a data 
da decisão administrativa definitiva e aquela da 
prática posterior houver decorrido período de 
tempo superior a cinco anos.
Art. 28. Observado o disposto no art.  24 
deste Decreto pela autoridade competente, a 
pena de multa será fixada considerando-se a 
gravidade da prática infrativa, a extensão do 
dano causado aos consumidores, a vantagem 
auferida com o ato infrativo e a condição eco-
nômica do infrator, respeitados os parâmetros 
estabelecidos no parágrafo único do art. 57 da 
Lei no 8.078, de 1990.
CAPÍTULO IV – Da Destinação da Multa e 
da Administração dos Recursos
Art. 29. A multa de que trata o inciso I do 
art. 56 e caput do art. 57 da Lei no 8.078, de 
1990, reverterá para o Fundo pertinente à pes-
soa jurídica de direito público que impuser a 
sanção, gerido pelo respectivo Conselho Gestor.
Parágrafo único. As multas arrecadadas pela 
União e órgãos federais reverterão para o Fundo 
de Direitos Difusos de que tratam a Lei no 7.347, 
de 1985, e Lei no 9.008, de 21 de março de 1995, 
gerido pelo Conselho Federal Gestor do Fundo 
de Defesa dos Direitos Difusos – CFDD.
Art. 30. As multas arrecadadas serão destina-
das ao financiamento de projetos relacionados 
com os objetivos da Política Nacional de Re-
lações de Consumo, com a defesa dos direitos 
básicos do consumidor e com a modernização 
administrativa dos órgãos públicos de defesa 
do consumidor, após aprovação pelo respectivo 
Conselho Gestor, em cada unidade federativa.
Art. 31. Na ausência de Fundos municipais, 
os recursos serão depositados no Fundo do 
respectivo Estado e, faltando este, no Fundo 
federal.
Parágrafo único. O Conselho Federal Gestor 
do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos po-
derá apreciar e autorizar recursos para projetos 
especiais de órgãos e entidades federais, esta-
duais e municipais de defesa do consumidor.
Art. 32. Na hipótese de multa aplicada pelo 
órgão coordenador do SNDC nos casos pre-
vistos pelo art. 15 deste Decreto, o Conselho 
Federal Gestor do FDD restituirá aos fundos 
dos Estados envolvidos o percentual de até 
oitenta por cento do valor arrecadado.
CAPÍTULO V – Do Processo Administrativo
SEÇÃO I – Das Disposições Gerais
Art. 33. As práticas infrativas às normas de 
proteção e defesa do consumidor serão apu-
radas em processo administrativo, que terá 
início mediante:
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I – ato, por escrito, da autoridade compe-
tente;
I – lavratura de auto de infração;
III – reclamação.
§ 1o Antecedendo à instauração do processo 
administrativo, poderá a autoridade competen-
te abrir investigação preliminar, cabendo, para 
tanto, requisitar dos fornecedores informações 
sobre as questões investigados, resguardado o 
segredo industrial, na forma do disposto no § 4o 
do art. 55 da Lei no 8.078, de 1990.
§ 2o A recusa à prestação das informações 
ou o desrespeito às determinações e convo-
cações dos órgãos do SNDC caracterizam 
desobediência, na forma do art. 330 do Código 
Penal, ficando a autoridade administrativa com 
poderes para determinar a imediata cessação 
da prática, além da imposição das sanções 
administrativas e civis cabíveis.
SEÇÃO II – Da Reclamação
Art. 34. O consumidor poderá apresentar sua 
reclamação pessoalmente, ou por telegrama, 
carta, telex, fac-símile ou qualquer outro meio 
de comunicação, a quaisquer dos órgãos oficiais 
de proteção e defesa do consumidor.
SEÇÃO III – Dos Autos de Infração, de 
Apreensão e do Termo de Depósito
Art. 35. Os Autos de infração, de Apreensão 
e o Termo de Depósito deverão ser impressos, 
numerados em série e preenchidos de forma 
clara e precisa, sem entrelinhas, rasuras ou 
emendas, mencionando:
I – o Auto de Infração:
a) o local, a data e a hora da lavratura;
b) o nome, o endereço e a qualificação do 
autuado;
c) a descrição do fato ou do ato constitutivo 
da infração;
d) o dispositivo legal infringido;
e) a determinação da exigência e a intima-
ção para cumpri-la ou impugná-la no prazo 
de dez dias;
f) a identificação do agente autuante, sua 
assinatura, a indicação do seu cargo ou função 
e o número de sua matrícula;
g) a designação do órgão julgador e o res-
pectivo endereço;
h) a assinatura do autuado;
II – o Auto de Apreensão e o Termo de 
Depósito:
a) o local, a data e a hora da lavratura;
b) o nome, o endereço e a qualificação do 
depositário;
c) a descrição e a quantidade dos produtos 
apreendidos;
d) as razões e os fundamentos da apreensão;
e) o local onde o produto ficará armaze-
nado;
f) a quantidade de amostra colhida para 
análise;
g) a identificação do agente autuante, sua 
assinatura, a indicação do seu cargo ou função 
e o número de sua matrícula;
h) a assinatura do depositário;
i) as proibições contidas no § 1o do art. 21 
deste Decreto.
Art. 36. Os Autos de Infração, de Apreensão 
e o Termo de Depósito serão lavrados pelo 
agente autuante que houver verificado a prática 
infrativa, preferencialmente no local onde foi 
comprovada a irregularidade.
Art. 37. Os Autos de Infração, de Apreensão e 
o Termo de Depósito serãolavrados em impres-
so próprio, composto de três vias, numeradas 
tipograficamente.
§ 1o Quando necessário, para comprovação 
de infração, os Autos serão acompanhados de 
laudo pericial.
§ 2o Quando a verificação do defeito ou 
vício relativo à qualidade, oferta e apresentação 
de produtos não depender de perícia, o agente 
competente consignará o fato no respectivo 
Auto.
Art. 38. A assinatura nos Autos de Infração, de 
Apreensão e no Termo de Depósito, por parte 
do autuado, ao receber cópias dos mesmos, 
constitui notificação, sem implicar confissão, 
para os fins do art. 44 do presente Decreto.
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Parágrafo único. Em caso de recusa do 
autuado em assinar os Autos de Infração, de 
Apreensão e o Termo de Depósito, o Agente 
competente consignará o fato nos Autos e no 
Termo, remetendo-os ao autuado por via pos-
tal, com Aviso de Recebimento (AR) ou outro 
procedimento equivalente, tendo os mesmos 
efeitos do caput deste artigo.
SEÇÃO IV – Da Instauração do Processo 
Administrativo por Ato de Autoridade 
Competente
Art. 39. O processo administrativo de que tra-
ta o art. 33 deste Decreto poderá ser instaurado 
mediante reclamação do interessado ou por 
iniciativa da própria autoridade competente.
Parágrafo único. Na hipótese de a inves-
tigação preliminar não resultar em processo 
administrativo com base em reclamação 
apresentada por consumidor, deverá este ser 
informado sobre as razões do arquivamento 
pela autoridade competente.
Art. 40. O processo administrativo, na for-
ma deste Decreto, deverá, obrigatoriamente, 
conter:
I – a identificação do infrator;
II – a descrição do fato ou ato constitutivo 
da infração;
III – os dispositivos legais infringidos;
IV – a assinatura da autoridade competente.
Art. 41. A autoridade administrativa poderá 
determinar, na forma de ato próprio, cons-
tatação preliminar da ocorrência de prática 
presumida.
SEÇÃO V – Da Notificação
Art. 42. A autoridade competente expedirá 
notificação ao infrator, fixando o prazo de dez 
dias, a contar da data de seu recebimento, para 
apresentar defesa, na forma do art.  44 deste 
Decreto.
§ 1o A notificação, acompanhada de cópia 
da inicial do processo administrativo a que se 
refere o art. 40, far-se-á:
I – pessoalmente ao infrator, seu mandatário 
ou preposto;
II – por carta registrada ao infrator, seu 
mandatário ou preposto, com Aviso de Rece-
bimento (AR).
§ 2o Quando o infrator, seu mandatário ou 
preposto não puder ser notificado, pessoalmen-
te ou por via postal, será feita a notificação por 
edital, a ser afixado nas dependências do órgão 
respectivo, em lugar público, pelo prazo de dez 
dias, ou divulgado, pelo menos uma vez, na im-
prensa oficial ou em jornal de circulação local.
SEÇÃO VI – Da Impugnação e do 
Julgamento do Processo Administrativo
Art. 43. O processo administrativo decor-
rente de Auto de Infração, de ato de ofício de 
autoridade competente, ou de reclamação será 
instruído e julgado na esfera de atribuição do 
órgão que o tiver instaurado.
Art. 44. O infrator poderá impugnar o pro-
cesso administrativo, no prazo de dez dias, 
contados processualmente de sua notificação, 
indicando em sua defesa:
I – a autoridade julgadora a quem é dirigida;
II – a qualificação do impugnante;
III – as razões de fato e de direito que fun-
damentam a impugnação;
IV – as provas que lhe dão suporte.
Art. 45. Decorrido o prazo da impugnação, 
o órgão julgador determinará as diligências 
cabíveis, podendo dispensar as meramente pro-
telatórias ou irrelevantes, sendo-lhe facultado 
requisitar do infrator, de quaisquer pessoas fí-
sicas ou jurídicas, órgãos ou entidades públicas 
as necessárias informações, esclarecimentos ou 
documentos, a serem apresentados no prazo 
estabelecido.
Art. 46. A decisão administrativa conterá re-
latório dos fatos, o respectivo enquadramento 
legal e, se condenatória, a natureza e gradação 
da pena.
§ 1o A autoridade administrativa competen-
te, antes de julgar o feito, apreciará a defesa e 
as provas produzidas pelas partes, não estando 
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vinculada ao relatório de sua consultoria jurí-
dica ou órgão similar, se houver.
§ 2o Julgado o processo e fixada a multa, 
será o infrator notificado para efetuar seu re-
colhimento no prazo de dez dias ou apresentar 
recurso.
§ 3o Em caso de provimento do recurso, 
os valores recolhidos serão devolvidos ao re-
corrente na forma estabelecida pelo Conselho 
Gestor do Fundo.
Art. 47. Quando a cominação prevista for 
a contrapropaganda, o processo poderá ser 
instruído com indicações técnico-publicitárias, 
das quais se intimará o autuado, obedecidas, na 
execução da respectiva decisão, as condições 
constantes do § 1o do art. 60 da Lei no 8.078, 
de 1990.
SEÇÃO VII – Das Nulidades
Art. 48. A inobservância de forma não acarre-
tará a nulidade do ato, se não houver prejuízo 
para a defesa.
Parágrafo único. A nulidade prejudica 
somente os atos posteriores ao ato declarado 
nulo e dele diretamente dependentes ou de 
que sejam consequência, cabendo à autoridade 
que a declarar indicar tais atos e determinar o 
adequado procedimento saneador, se for o caso.
SEÇÃO VIII – Dos Recursos 
Administrativos
Art. 49. Das decisões da autoridade compe-
tente do órgão público que aplicou a sanção 
caberá recurso, sem efeito suspensivo, no prazo 
de dez dias, contados da data da intimação da 
decisão, a seu superior hierárquico, que profe-
rirá decisão definitiva.
Parágrafo único. No caso de aplicação de 
multas, o recurso será recebido, com efeito 
suspensivo, pela autoridade superior.
Art. 50. Quando o processo tramitar no âm-
bito do Departamento de Proteção e Defesa 
do Consumidor, o julgamento do feito será de 
responsabilidade do Diretor daquele órgão, ca-
bendo recurso ao titular da Secretaria Nacional 
do Consumidor, no prazo de dez dias, contado 
da data da intimação da decisão, como segunda 
e última instância recursal.
Art. 51. Não será conhecido o recurso inter-
posto fora dos prazos e condições estabelecidos 
neste Decreto.
Art. 52. Sendo julgada insubsistente a in-
fração, a autoridade julgadora recorrerá à 
autoridade imediatamente superior, nos termos 
fixados nesta Seção, mediante declaração na 
própria decisão.
Art. 53. A decisão é definitiva quando não 
mais couber recurso, seja de ordem formal ou 
material.
Art. 54. Todos os prazos referidos nesta Seção 
são preclusivos.
SEÇÃO IX – Da Inscrição na Dívida Ativa
Art. 55. Não sendo recolhido o valor da multa 
em trinta dias, será o débito inscrito em dívida 
ativa do órgão que houver aplicado a sanção, 
para subsequente cobrança executiva.
CAPÍTULO VI – Do Elenco de Cláusulas 
Abusivas e do Cadastro de Fornecedores
SEÇÃO I – Do Elenco de Cláusulas Abusivas
Art. 56. Na forma do art. 51 da Lei no 8.078, 
de 1990, e com o objetivo de orientar o Sis-
tema Nacional de Defesa do Consumidor, a 
Secretaria Nacional do Consumidor divulgará, 
anualmente, elenco complementar de cláusulas 
contratuais consideradas abusivas, notadamen-
te para o fim de aplicação do disposto no inciso 
IV do caput do art. 22.
§ 1o Na elaboração do elenco referido no 
caput e posteriores inclusões, a consideração 
sobre a abusividade de cláusulas contratuais se 
dará de forma genérica e abstrata.
§ 2o O elenco de cláusulas consideradas 
abusivas tem natureza meramente exemplifi-
cativa, não impedindo que outras, também, 
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possam vir a ser assim consideradas pelos ór-
gãos da Administração Pública incumbidos da 
defesa dos interesses e direitos protegidos pelo 
Código de Defesa do Consumidor e legislação 
correlata.
§ 3o A apreciação sobre a abusividade de 
cláusulas contratuais, para fins de sua inclusão 
no elenco a que se refere o caput deste artigo, se 
dará de ofício ou por provocação dos legitima-
dos referidos no art. 82 da Lei no 8.078, de 1990.
SEÇÃO II – Do Cadastro de Fornecedores
Art. 57. Os cadastros de reclamações fun-
damentadascontra fornecedores constituem 
instrumento essencial de defesa e orientação 
dos consumidores, devendo os órgãos públicos 
competentes assegurar sua publicidade, confia-
bilidade e continuidade, nos termos do art. 44 
da Lei no 8.078, de 1990.
Art. 58. Para os fins deste Decreto, conside-
ra-se:
I – cadastro: o resultado dos registros feitos 
pelos órgãos públicos de defesa do consumidor 
de todas as reclamações fundamentadas contra 
fornecedores;
II – reclamação fundamentada: a notícia de 
lesão ou ameaça a direito de consumidor ana-
lisada por órgão público de defesa do consumi-
dor, a requerimento ou de ofício, considerada 
procedente, por decisão definitiva.
Art. 59. Os órgãos públicos de defesa do 
consumidor devem providenciar a divulgação 
periódica dos cadastros atualizados de recla-
mações fundamentadas contra fornecedores.
§ 1o O cadastro referido no caput deste 
artigo será publicado, obrigatoriamente, no 
órgão de imprensa oficial local, devendo a en-
tidade responsável dar-lhe a maior publicidade 
possível por meio dos órgãos de comunicação, 
inclusive eletrônica.
§ 2o O cadastro será divulgado anualmen-
te, podendo o órgão responsável fazê-lo em 
período menor, sempre que julgue necessá-
rio, e conterá informações objetivas, claras e 
verdadeiras sobre o objeto da reclamação, a 
identificação do fornecedor e o atendimento 
ou não da reclamação pelo fornecedor.
§ 3o Os cadastros deverão ser atualizados 
permanentemente, por meio das devidas 
anotações, não podendo conter informações 
negativas sobre fornecedores, referentes a pe-
ríodo superior a cinco anos, contado da data 
da intimação da decisão definitiva.
Art. 60. Os cadastros de reclamações funda-
mentadas contra fornecedores são conside-
rados arquivos públicos, sendo informações 
e fontes a todos acessíveis, gratuitamente, 
vedada a utilização abusiva ou, por qualquer 
outro modo, estranha à defesa e orientação 
dos consumidores, ressalvada a hipótese de 
publicidade comparativa.
Art. 61. O consumidor ou fornecedor poderá 
requerer, em cinco dias a contar da divulgação 
do cadastro e mediante petição fundamentada, 
a retificação de informação inexata que nele 
conste, bem como a inclusão de informação 
omitida, devendo a autoridade competente, no 
prazo de dez dias úteis, pronunciar-se, motiva-
damente, pela procedência ou improcedência 
do pedido.
Parágrafo único. No caso de acolhimento do 
pedido, a autoridade competente providenciará, 
no prazo deste artigo, a retificação ou inclusão 
de informação e sua divulgação, nos termos do 
§ 1o do art. 59 deste Decreto.
Art. 62. Os cadastros específicos de cada 
órgão público de defesa do consumidor serão 
consolidados em cadastros gerais, nos âmbitos 
federal e estadual, aos quais se aplica o disposto 
nos artigos desta Seção.
CAPÍTULO VII – Das Disposições Gerais
Art. 63. Com base na Lei no 8.078, de 1990, e 
legislação complementar, a Secretaria Nacional 
do Consumidor poderá expedir atos adminis-
trativos, visando à fiel observância das normas 
de proteção e defesa do consumidor.
Art. 64. Poderão ser lavrados Autos de Com-
provação ou Constatação, a fim de estabelecer 
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a situação real de mercado, em determinado 
lugar e momento, obedecido o procedimento 
adequado.
Art. 65. Em caso de impedimento à aplicação 
do presente Decreto, ficam as autoridades com-
petentes autorizadas a requisitar o emprego de 
força policial.
Art. 66. Este Decreto entra em vigor na data 
de sua publicação.
Art. 67. Fica revogado o Decreto no 861, de 9 
de julho de 1993.
Brasília, 20 de março de 1997; 176o da Indepen-
dência e 109o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO – 
Nelson A. Jobim
Decretado em 20/3/1997 e publicado no DOU de 
21/3/1997.
Normas correlatas
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Lei no 13.455/2017
Dispõe sobre a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público em função do prazo 
ou do instrumento de pagamento utilizado, e altera a Lei no 10.962, de 11 de outubro de 2004.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Fica autorizada a diferenciação de 
preços de bens e serviços oferecidos ao públi-
co em função do prazo ou do instrumento de 
pagamento utilizado.
Parágrafo único. É nula a cláusula contra-
tual, estabelecida no âmbito de arranjos de pa-
gamento ou de outros acordos para prestação de 
serviço de pagamento, que proíba ou restrinja 
a diferenciação de preços facultada no caput 
deste artigo.
................................................................................
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua 
publicação.
Brasília, 26 de junho de 2017; 196o da Indepen-
dência e 129o da República.
MICHEL TEMER – Henrique Meirelles – Ilan 
Goldfajn
Promulgada em 26/6/2017 e publicada no DOU de 
27/6/2017.
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s
Lei no 12.965/2014
Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I – Disposições Preliminares
Art. 1o Esta Lei estabelece princípios, garan-
tias, direitos e deveres para o uso da internet no 
Brasil e determina as diretrizes para atuação da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios em relação à matéria.
Art. 2o A disciplina do uso da internet no Bra-
sil tem como fundamento o respeito à liberdade 
de expressão, bem como:
I – o reconhecimento da escala mundial 
da rede;
II – os direitos humanos, o desenvolvimento 
da personalidade e o exercício da cidadania em 
meios digitais;
III – a pluralidade e a diversidade;
IV – a abertura e a colaboração;
V – a livre iniciativa, a livre concorrência e 
a defesa do consumidor; e
VI – a finalidade social da rede.
Art. 3o A disciplina do uso da internet no 
Brasil tem os seguintes princípios:
I – garantia da liberdade de expressão, co-
municação e manifestação de pensamento, nos 
termos da Constituição Federal;
II – proteção da privacidade;
III – proteção dos dados pessoais, na forma 
da lei;
IV – preservação e garantia da neutralidade 
de rede;
V – preservação da estabilidade, segurança 
e funcionalidade da rede, por meio de medidas 
técnicas compatíveis com os padrões interna-
cionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI – responsabilização dos agentes de acordo 
com suas atividades, nos termos da lei;
VII – preservação da natureza participativa 
da rede;
VIII – liberdade dos modelos de negócios 
promovidos na internet, desde que não con-
flitem com os demais princípios estabelecidos 
nesta Lei.
Parágrafo único. Os princípios expressos 
nesta Lei não excluem outros previstos no 
ordenamento jurídico pátrio relacionados à 
matéria ou nos tratados internacionais em que 
a República Federativa do Brasil seja parte.
Art. 4o A disciplina do uso da internet no 
Brasil tem por objetivo a promoção:
I – do direito de acesso à internet a todos;
II – do acesso à informação, ao conheci-
mento e à participação na vida cultural e na 
condução dos assuntos públicos;
III – da inovação e do fomento à ampla 
difusão de novas tecnologias e modelos de uso 
e acesso; e
IV – da adesão a padrões tecnológicos aber-
tos que permitam a comunicação, a acessibili-
dade e a interoperabilidade entre aplicações e 
bases de dados.
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I – internet: o sistema constituído do con-
junto de protocolos lógicos, estruturado em 
escala mundial para uso público e irrestrito, 
com a finalidade de possibilitar a comunicação 
de dados entre terminais por meio de diferentes 
redes;
II – terminal: o computador ou qualquer 
dispositivo que se conecte à internet;
III – endereço de protocolo de internet (en-
dereço IP): o código atribuído a um terminal 
de uma rede para permitir sua identificação, 
definido segundo parâmetros internacionais;
IV – administrador de sistema autônomo: a 
pessoa física ou jurídica que administrablocos 
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de endereço IP específicos e o respectivo sis-
tema autônomo de roteamento, devidamente 
cadastrada no ente nacional responsável pelo 
registro e distribuição de endereços IP geogra-
ficamente referentes ao País;
V – conexão à internet: a habilitação de um 
terminal para envio e recebimento de pacotes 
de dados pela internet, mediante a atribuição 
ou autenticação de um endereço IP;
VI – registro de conexão: o conjunto de 
informações referentes à data e hora de início 
e término de uma conexão à internet, sua du-
ração e o endereço IP utilizado pelo terminal 
para o envio e recebimento de pacotes de dados;
VII – aplicações de internet: o conjunto de 
funcionalidades que podem ser acessadas por 
meio de um terminal conectado à internet; e
VIII – registros de acesso a aplicações de 
internet: o conjunto de informações referentes 
à data e hora de uso de uma determinada apli-
cação de internet a partir de um determinado 
endereço IP.
Art. 6o Na interpretação desta Lei serão 
levados em conta, além dos fundamentos, 
princípios e objetivos previstos, a natureza da 
internet, seus usos e costumes particulares e sua 
importância para a promoção do desenvolvi-
mento humano, econômico, social e cultural.
CAPÍTULO II – Dos Direitos e Garantias 
dos Usuários
Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exer-
cício da cidadania, e ao usuário são assegurados 
os seguintes direitos:
I – inviolabilidade da intimidade e da vida 
privada, sua proteção e indenização pelo dano 
material ou moral decorrente de sua violação;
II – inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas 
comunicações pela internet, salvo por ordem 
judicial, na forma da lei;
III – inviolabilidade e sigilo de suas co-
municações privadas armazenadas, salvo por 
ordem judicial;
IV – não suspensão da conexão à internet, 
salvo por débito diretamente decorrente de sua 
utilização;
V – manutenção da qualidade contratada da 
conexão à internet;
VI – informações claras e completas cons-
tantes dos contratos de prestação de serviços, 
com detalhamento sobre o regime de proteção 
aos registros de conexão e aos registros de 
acesso a aplicações de internet, bem como sobre 
práticas de gerenciamento da rede que possam 
afetar sua qualidade;
VII – não fornecimento a terceiros de seus 
dados pessoais, inclusive registros de conexão, 
e de acesso a aplicações de internet, salvo me-
diante consentimento livre, expresso e informa-
do ou nas hipóteses previstas em lei;
VIII – informações claras e completas so-
bre coleta, uso, armazenamento, tratamento e 
proteção de seus dados pessoais, que somente 
poderão ser utilizados para finalidades que:
a) justifiquem sua coleta;
b) não sejam vedadas pela legislação; e
c) estejam especificadas nos contratos de 
prestação de serviços ou em termos de uso de 
aplicações de internet;
IX – consentimento expresso sobre coleta, 
uso, armazenamento e tratamento de dados 
pessoais, que deverá ocorrer de forma desta-
cada das demais cláusulas contratuais;
X – exclusão definitiva dos dados pessoais 
que tiver fornecido a determinada aplicação 
de internet, a seu requerimento, ao término da 
relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses 
de guarda obrigatória de registros previstas 
nesta Lei;
XI – publicidade e clareza de eventuais 
políticas de uso dos provedores de conexão à 
internet e de aplicações de internet;
XII – acessibilidade, consideradas as caracte-
rísticas físico-motoras, perceptivas, sensoriais, 
intelectuais e mentais do usuário, nos termos 
da lei; e
XIII – aplicação das normas de proteção e 
defesa do consumidor nas relações de consumo 
realizadas na internet.
Art. 8o A garantia do direito à privacidade e 
à liberdade de expressão nas comunicações é 
condição para o pleno exercício do direito de 
acesso à internet.
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Parágrafo único. São nulas de pleno direito 
as cláusulas contratuais que violem o disposto 
no caput, tais como aquelas que:
I – impliquem ofensa à inviolabilidade e 
ao sigilo das comunicações privadas, pela 
internet; ou
II – em contrato de adesão, não ofereçam 
como alternativa ao contratante a adoção do 
foro brasileiro para solução de controvérsias 
decorrentes de serviços prestados no Brasil.
CAPÍTULO III – Da Provisão de Conexão e 
de Aplicações de Internet
SEÇÃO I – Da Neutralidade de Rede
Art. 9o O responsável pela transmissão, comu-
tação ou roteamento tem o dever de tratar de 
forma isonômica quaisquer pacotes de dados, 
sem distinção por conteúdo, origem e destino, 
serviço, terminal ou aplicação.
§ 1o A discriminação ou degradação do 
tráfego será regulamentada nos termos das atri-
buições privativas do Presidente da República 
previstas no inciso IV do art. 84 da Constituição 
Federal, para a fiel execução desta Lei, ouvidos 
o Comitê Gestor da Internet e a Agência Na-
cional de Telecomunicações, e somente poderá 
decorrer de:
I – requisitos técnicos indispensáveis à 
prestação adequada dos serviços e aplicações; e
II – priorização de serviços de emergência.
§ 2o Na hipótese de discriminação ou degra-
dação do tráfego prevista no § 1o, o responsável 
mencionado no caput deve:
I – abster-se de causar dano aos usuários, 
na forma do art. 927 da Lei no 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 – Código Civil;
II – agir com proporcionalidade, transpa-
rência e isonomia;
III – informar previamente de modo trans-
parente, claro e suficientemente descritivo aos 
seus usuários sobre as práticas de gerenciamen-
to e mitigação de tráfego adotadas, inclusive as 
relacionadas à segurança da rede; e
IV – oferecer serviços em condições comer-
ciais não discriminatórias e abster-se de praticar 
condutas anticoncorrenciais.
§ 3o Na provisão de conexão à internet, 
onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, 
comutação ou roteamento, é vedado bloquear, 
monitorar, filtrar ou analisar o conteúdo dos 
pacotes de dados, respeitado o disposto neste 
artigo.
SEÇÃO II – Da Proteção aos Registros, aos 
Dados Pessoais e às Comunicações Privadas
Art. 10. A guarda e a disponibilização dos 
registros de conexão e de acesso a aplicações 
de internet de que trata esta Lei, bem como de 
dados pessoais e do conteúdo de comunicações 
privadas, devem atender à preservação da inti-
midade, da vida privada, da honra e da imagem 
das partes direta ou indiretamente envolvidas.
§ 1o O provedor responsável pela guarda 
somente será obrigado a disponibilizar os 
registros mencionados no caput, de forma 
autônoma ou associados a dados pessoais ou 
a outras informações que possam contribuir 
para a identificação do usuário ou do terminal, 
mediante ordem judicial, na forma do disposto 
na Seção IV deste Capítulo, respeitado o dis-
posto no art. 7o.
§ 2o O conteúdo das comunicações privadas 
somente poderá ser disponibilizado mediante 
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a 
lei estabelecer, respeitado o disposto nos incisos 
II e III do art. 7o.
§ 3o O disposto no caput não impede o 
acesso aos dados cadastrais que informem 
qualificação pessoal, filiação e endereço, na 
forma da lei, pelas autoridades administrativas 
que detenham competência legal para a sua 
requisição.
§ 4o As medidas e os procedimentos de 
segurança e de sigilo devem ser informados 
pelo responsável pela provisão de serviços de 
forma clara e atender a padrões definidos em 
regulamento, respeitado seu direito de confi-
dencialidade quanto a segredos empresariais.
Art. 11. Em qualquer operação de coleta, 
armazenamento, guarda e tratamento de re-
gistros, de dados pessoais ou de comunicações 
por provedores de conexão e de aplicações de 
internet em que pelo menos um desses atos 
ocorra em território nacional, deverão ser obri-
gatoriamente respeitados a legislação brasileira 
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do
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e os direitos à privacidade, à proteção dos dados 
pessoais e ao sigilo das comunicações privadas 
e dos registros.
§ 1o O disposto no caput aplica-se aos dados 
coletados em

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