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Resumo para AP1 - Fundamentos da Educação 1

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Fundamentos em Educação 1
Aula 1 - O educador: formação e ação
Como está sendo a formação do professor nos nossos dias? O educador acompanha as mudanças da sociedade e o
avanço do conhecimento e das tecnologias? Qual a prática do docente atual? Qual sua atitude na sala de aula, diante
dos novos desafios da vida contemporânea?
Estes questionamentos perpassam nossa formação e prática. A formação do educador no panorama da sociedade
atual, em que os avanços tecnológicos revolucionam o conhecimento e os processos econômicos globais tem
influenciado todas as atividades sociais, incluindo a escola. Nesta aula, vamos refletir sobre o papel do docente atual:
- como deve lidar com as tecnologias, assim como pode articular a teoria com a prática;
- a função social e política do professor e sua importância para refletir sobre os valores da sociedade;
- papel relevante do docente para estimular o diálogo entre os diversos alunos, fomentando práticas inclusivas e a
troca democrática;
- o professor deve estimular valores como solidariedade, cooperação, gerando um clima de integração na sala de
aula.
Compare estas duas charges: uma mostra o professor que não utiliza a tecnologia em sala de aula para o ensino. E
outro professor que aproveita de forma errônea as tecnologias.
Aula 2 - A origem da profissão docente
Os pontos principais desta aula são:
- A educação na Grécia Homérica: os poetas e a formação do cidadão ateniense;
1
- A educação no século V: os sofistas e o surgimento da profissão docente;
- Sócrates: a crítica sofística e a vocação de ensinar.
Os sofistas foram os primeiros professores profissionais do Ocidente; neles está a origem da docência, entendida
como trabalho específico remunerado. Sócrates, por sua vez, apresentou outra concepção de docência, baseada no
amor ao discípulo, na procura conjunta da verdade, no diálogo, na interação com o aluno.
Aula 3 - O processo de educação na Grécia Antiga
O conceito de areté consiste na expressão da forma mais originária de ideal educativo grego da época homérica. A
areté do período helênico é um ideal conquistado na busca de realização a partir de um modelo de homem: a
excelência simbolizada na figura dos heróis Aquiles e Ulisses. O poeta Homero representa em seus poemas, Ilíada e
Odisséia, o modelo de excelência do homem grego e é considerado o grande educador da Grécia Antiga.
O termo paidéia, como formação do cidadão, surge na Grécia a partir do século V a.C. Após, surgem os sofistas que,
por suas práticas pedagógicas e suas concepções filosóficas, são considerados mestres da argumentação retórica.
Sócrates desenvolve o método maiêutico propondo uma educação voltada para a reflexão racional, isto é, para o
aperfeiçoamento, através da reflexão, de nosso entendimento comum ou crenças habituais. Já Platão propõe, mais
tarde, uma educação que possa garantir o funcionamento de um Estado justo, governado por filósofos-reis.
Aula 4 - O que é Filosofia?
Nesta aula, você teve a oportunidade de familiarizar-se com a Filosofia, seus campos de investigação e
questionamentos básicos. Aprendeu que a Filosofia deseja a compreensão de tudo o que nos provoca
espanto/admiração (são antigas as perguntas "de onde viemos?", "o que somos?", "para onde vamos?" e "qual é o
sentido disso tudo?") e que surgiu como uma busca por conhecimento racional sobre a natureza através da
contemplação da verdade, a fim de “explicar a origem e as transformações do mundo”- os princípios que o regem, a
constituição da matéria, as causas dos fenômenos naturais. Sendo assim, o “amor/amizade pela sabedoria” (uma
tradução para a palavra grega philosophia) se dirigia à Natureza. A verdade, por sua vez, seria alcançada mediante
intuição intelectiva - isto é, por contemplação e emprego da Razão -, mais do que através da experiência sensível.
Em seus primórdios, a Filosofia ocupava-se com temas que, hoje, atribuímos às ciências naturais e à matemática.
Todavia, conforme a historiografia da Filosofia convencionou, a partir de Sócrates e Platão (Século IV a.C.), a Filosofia
passa a dedicar-se às questões humanas, referentes às experiências cotidianas individuais e coletivas: por exemplo,
“o que é o homem?, o que é a verdade, o que é a liberdade, o que é educação, por que e como nos tornamos livres,
racionais e virtuosos?, o que é a coragem?, o que é o bem?, “como devemos viver para vivermos bem?”. Ou seja, a
sabedoria amada e o conhecimento buscado diziam respeito às condições e os critérios segundo os quais tomamos
decisões em nossa vida prática. Nesse sentido, não é incorreto conceber a Filosofia como “sabedoria de vida” -
sabedoria resultante de reflexões e experiências que levam a pensar e agir o mais acertadamente possível
(infelizmente, vivemos dias em que as religiões, os programas de televisão e os livros de autoajuda tomaram de
maneira inadequada essa tarefa da Filosofia).
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Seja com os olhos na Natureza, seja refletindo sobre o sentido das experiências da vida humana, o certo é que a
Filosofia sempre foi caracterizada como busca do conhecimento e amor pela sabedoria sem ter como fim quaisquer
interesses alheios ao aprimoramento das ações humanas, especialmente em termos de organização e participação
política. Nesse sentido, supostamente, o foco da Filosofia não era o poder sobre a vida alheia, nem os ganhos
financeiros de poucas pessoas, tampouco a mera vaidade. Contudo, tudo isso é questionável!
Para os fins de nossa disciplina, você deve ter em mente a distinção entre a Filosofia, enquanto disciplina sistemática,
e o uso coloquial do termo “filosofia”, entendido como uma “visão de mundo” particular, ou modo geral de agir
segundo a adoção de um corpo de doutrinas fechado, de regras fixas aceitas, de início e na maioria das vezes,
dogmaticamente. Lembremos que esse emprego do termo vai contra o sentido de “doutrina sistemática”, tal como
definido na Aula 4, a saber: um “sistema aberto, capaz de acolher novos problemas e de se modificar
continuamente” (p.48). Na página 50, podemos ler mais um esclarecimento sobre a sistematicidade do pensamento
filosófico: “significa dizer que suas indagações não se realizam ao acaso, de acordo com as preferências e as opiniões
de cada um, mas que se trata de um todo cujas partes estão relacionadas entre si, formando conjuntos coerentes de
ideias e de significações que possam ser demonstradas mediante argumentos válidos e corretos”. A Filosofia busca o
entendimento, é reflexiva e intersubjetiva; ela pergunta, avalia, julga e responde de maneira criteriosa. Em outros
termos, a Filosofia é racional, ou antes, é através da Filosofia que a Razão precisa ser construída intersubjetivamente,
antes de ser aplicada (seja como questionamento, seja como teoria explanatória, seja como ideal de conduta).
A Filosofia só consegue ser uma disciplina sistemática porque também é uma atitude crítica e questionadora que
mobiliza algumas ações em nós. Queremos dizer que a Filosofia é um “comportamento resultante de uma aspiração
humana de preencher uma falta ou uma incompletude que se traduz na busca pelo conhecimento”. Essa atitude se
expressa em perguntas bastante familiares até para uma criança de cinco anos de idade: o quê, por quê e como. A
persistência de tal atitude é imprescindível para a Filosofia não se confunda com as “filosofias” (tal como fora
descrita na Aula 4), nem com as versões mais sofisticadas destas, as assim chamadas “visões de mundo” e
“doutrinas”. A atitude filosófica é assumida para impedir o dogmatismo - a “paralisia” do pensamento -, não
importando o quão racional, verdadeiro, abrangente e genial um sistema filosófico possa parecer. Nesse caso,
"reflexiva" significa pensar sobre si mesma e julgar a si mesma a partir dos próprios critérios que usa para avaliar e
julgar toda e qualquer outra coisa.
Atenção para a citação a seguir:
"[A] atitude filosófica permanece sempre como indagação acerca do que a coisa (ou a ideia ou o valor) é, como a
coisa (ou ideia ou valor) é e porque a coisa (ou ideia ou valor) é como é, ou seja, mesmo que a Filosofia não se
constitua mais como conhecimento sobre a realidade física, ou mesmo que disséssemos que seu objeto de estudo
não é tampouco a vida moral ou ética, ainda assim as indagações filosóficas sobre a origem, a estrutura e o
significado do mundo e dos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam permaneceriam as mesmas."
(p.52)
Após estudar a Aula 4, você é capaz de reconhecer o quão vital é a Filosofia? Ao final da Aula 4, são oferecidos mais
elementos para convencer você da inevitabilidade da Filosofia em nossas vidas. Se você não foi convencido disso,
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pelo menos está mais familiarizado com os campos de investigação em que se enquadram as grandes questões
filosóficas: Ética (ou Filosofia Moral), Filosofia Política, Estética, Lógica, Teoria do Conhecimento e Ontologia.
É certo que você já tenha feito perguntas similares àquelas que ilustram cada campo de investigação da Filosofia.
Agora, você sabe que tipo de pergunta está fazendo quando indaga seu colega sobre, por exemplo, o que ele pensa
ser o sentido do "Mundo, do Universo e de tudo o mais" (Ontologia/Metafísica), o que ele faria no seu lugar numa
situação moralmente complicada (Ética), por que ele prefere a Teocracia no lugar da Democracia (Filosofia Política),
como seu amigo pode ter certeza de que não está alucinando quando afirma que Deus fala com ele todas as manhãs
(Epistemologia). As conversas podem ficar mais interessantes!
Retorne à página 53, selecione os dois campos de investigação cujas questões chamaram mais a sua atenção e pense
a respeito disso: de que maneira aquilo que você acha que sabe pode se beneficiar (mediante rejeição, mudança,
aprimoramento de suas ideias e de seus valores) das reflexões exigidas pelas questões filosóficas? Como você
poderia contribuir para a busca e difusão de respostas para essas questões?
Aula 5 - Do saber mítico ao saber filosófico
Após aprender noções básicas sobre a disciplina Filosofia, seus campos de investigação e questões primordiais,
esperamos que você tenha exercitado sua atitude questionadora e crítica através das atividades sugeridas no final da
aula anterior (bem como das questões do nosso livro).
Agora, na Aula 5, “Do saber mítico ao saber Filosófico”, somos apresentados a algumas noções sobre as origens do
pensamento filosófico a fim de apontar não apenas suas raízes na cultura grega antiga, como também, em especial,
suas especificidades.
As especificidades do pensamento filosófico, ou do modo filosófico de questionar e oferecer explicações, são
apontadas mediante contraste com outro tipo de pensamento e de explicação do mundo designado como “saber
mítico”.
Para fins de organização, vamos determinar que a Aula 5 tenha duas partes, sendo a segunda intitulada “Noções
Fundamentais do Pensamento Filosófico-Científico”. Aqui, é importante você prestar atenção em como os autores
demarcam a origem do pensamento filosófico-científico, bem como, principalmente, a caracterização deste (primeiro
parágrafo da página 66). Veremos mais sobre isso abaixo.
Um dos objetivos centrais da Aula 5 é oferecer uma resposta suficientemente convincente a duas dúvidas bastante
comuns entre os alunos de disciplinas pedagógicas, a saber:
Por que é preciso estudar a diferença entre Mito e Filosofia em um curso de Pedagogia?
Por que é necessário estudar Filosofia em um curso de Pedagogia?
Espera-se que o conteúdo da Aula 5 tenha dado uma resposta satisfatória à primeira pergunta. Qual é a sua opinião?
Você foi convencido? Por quê?
Seja qual for a sua resposta, convém que você nunca se esqueça de que a oposição que os autores estabelecem entre
os pensamentos míticos e filosóficos é apenas para fins metodológicos. Em outros termos, o Mito e a Filosofia
sempre estiveram interligados e, enquanto forem manifestações sofisticadas da mente humana, é provável que
nunca se eliminarão mutuamente, nunca nos deixarão. São faces da mesma moeda, assim como a Religião e a
Ciência... Mas isso é outra história! Enfim, enquanto formos seres com capacidade racional/cognitiva/intelectual,
Mito, Filosofia, Religião e Ciência serão nossas marcas e partes do que somos, a despeito das tensões e dos conflitos
perenes entre as concepções de mundo e os comportamentos inspirados por essas manifestações humanas.
4
Por sua vez, a segunda pergunta é mais fundamental de todo o livro.
Os autores nos oferecem uma resposta já na página 60.
Qual é a importância da Filosofia para a Pedagogia? Compreender e saber se apropriar tanto da atitude
questionadora quanto do aspecto crítico e argumentativo da atitude filosófica é a condição indispensável na busca de
respostas às questões fundamentais que perpassam tanto o curso de Pedagogia quanto qualquer outro que exija de
seus estudantes leitura, pesquisa, atitude crítica e formulação de teorias.
Esta já seria solução o bastante para a questão em jogo. Não obstante, esteja atento: a resposta completa e as
evidências para a mesma se encontram no conjunto do material que você tem em mãos. Convém que você siga
compondo a sua resposta ao longo do curso através de “leitura, pesquisa, atitude crítica e formulação de teorias”.
Além disso, é necessário que, enquanto futuro educador, você refaça a pergunta, aprimore a busca e ofereça
respostas ainda mais bem elaboradas (para si mesmo e para toda e qualquer pessoa interessada em seu trabalho) no
caminho de sua vida profissional.
No que se segue, serão expostos brevemente os pontos-chave da Aula 5.
Em primeiro lugar, é preciso que se enfatize o seguinte: Filosofia e Mito são modos de explicação, formas de o
homem tentar entender o mundo que o cerca, de dar respostas as perguntas “o quê, por quê, como”. Ambos os
modos buscam conceber o que é o mundo, o homem e as relações entre homem e mundo. As características mais
comuns se resumem a isso; porém, a distância e a oposição entre Mito e Filosofia não são tão autoevidentes,
conforme será destacado adiante.
Você deve se lembrar que, na Aula 4, contrapomos a Filosofia às “filosofias” – doutrinas fechadas, visões de mundo,
ideologias – para poder caracterizá-la enquanto disciplina sistemática (aberta e reflexiva) cuja característica perene e
mais marcante é, repetindo, a atitude questionadora (indagação e busca racional por respostas) e crítica (avaliação e
juízos). Certo? Então, a partir do que fora apresentado na Aula 5, você pôde inferir que o pensamento mítico está
mais próximo das “filosofias” do que da Filosofia. Por quê? Continue lendo e tente dar uma resposta.
Definiu-se, resumidamente, a Filosofia como um “discurso argumentativo aberto à discussão e à reformulação de
suas ideias” (aqui, mais uma vez, destaca-se o caráter antidogmático da Filosofia). A fim de dar sentido e unidade a
tais caracterizações/definições da Filosofia, nos concerne a distinção entre Mito e Filosofia.
“Mito” é uma palavra que vem do grego mythos, derivada de mytheyo, que significa conversar, contar, narrar. O
pensamento mítico é uma narrativa que tem características históricas, geográficas e culturais particulares. Nesse
sentido, o mito “é uma narrativa mediante a qual um povo fornece explicações para a realidade em que vive” (p.61).
Ora, a Filosofia também é um modo de fornecer explicações, não é?! Sim, mas faz isso com uma linguagem e um
modus operandi diferentes. À luz do que foi apresentado na Aula 4 e aqui, você já é capaz de indicar onde se
encontram as distinções. Vamos elencá-las:
MITO FILOSOFIA
Narrativa (mythos) Discurso racional, público e
dialógico (logos)
Metáforas e Símbolos Argumentos, Evidências e
Fundamentação
5
Recorre aos deuses e aos
mistérios. Explicações
baseadas na autoridade
oriunda da crença em uma
revelação divina
(sobrenatural).
Recorre à Razão: explicações
baseadas na argumentação, no
debate teórico, em razões
oriundas do próprio
pensamento humano em sua
relação com a Natureza, o
comportamento humano e seus
valores. Construção de um
conjuntode ideias e
significações que possam ser
evidenciadas por meio de
argumentos coerentes e
consistentes.
Dogmática: pressupõe
aceitação de todos sem
questionamentos, nem
possibilidade de discussão.
Não é sujeita à crítica nem à
correção.
Antidogmática: atitude crítica
e questionadora. Sujeita à
correção
É importante observar que, conforme os autores advertem, o mito não rompe totalmente com o discurso racional. Se
esse fosse o caso, nem o discurso da Filosofia nem o da Ciência alcançariam níveis de intuição e inteligibilidade
suficientes para atingir públicos heterogêneos. Se, outrora, filósofos se valiam da linguagem mítica para
apresentarem suas ideias, atualmente, filósofos e cientistas lançam mão de metáforas e símbolos para ilustrar
entidades e fenômenos postuladas em suas teorias (p.ex: “átomos são os ‘tijolos’ da matéria”; “o Bóson de Higgs é a
‘partícula de Deus’”; “o homem é o lobo do homem”).
Mito é metáfora e, de modo algum, isto quer dizer que, originalmente, o mito seja uma falsidade. Em outros termos,
mito não é um sinônimo para "mentira". Ele pode não oferecer explicações satisfatórias, mas possui funções de
extrema importância para dar os passos necessários à correção de nossos modos "mais racionais" (inteligíveis,
reflexivos, críticos, intersubjetivos) de explicar o mundo, o universo e tudo o mais. Volte ao nosso livro e releia a
definição de metáfora: "figura de estilo linguístico que consiste em uma substituição de uma coisa por outra que lhe
é semelhante em algum aspecto (...) ocorre como uma comunicação indireta por meio de uma história ou expressão
usada para simbolizar o tema tratado" (p.61).
6
Entretanto, para os fins teóricos e práticos da Filosofia, há limites para a metáfora. Afinal, a Filosofia visa abordar e
sistematizar experiências e fenômenos humanos direta e criticamente, com apuro lógico-linguístico cada vez maior.
Isto implica que o pensamento filosófico esteja em movimento, aberto à transformações. O Mito não permite isso,
pois muitos que lançaram mão de suas metáfora e símbolos tinham (têm) a pretensão de tomá-la como "verdade
universal e eterna" - fora do tempo, fora do espaço.
Segundo Joseph Campbell (1904-1987), grande estudioso da mitologia, o mito possui quatro funções fundamentais:
(1) "despertar na mente um sentimento de assombro (lembre-se que a Filosofia também começa com um despertar
para a realidade a partir do espanto/admiração) perante o mundo como ele é, afirmando a negação deste ou a
afirmação da restauração do mundo como deve ser. O homem participa dessa situação mediante uma entre três
formas: exteriorizando, interiorizando ou efetuando a correção".
(2) o "Mito é interpretativo e deve apresentar uma imagem consistente do universo". Embora consideremos
ultrapassadas e falsas as explicações de cunho mitológico, todas as mitologias tradicionais refletiram a ciência de seu
tempo. Por mais estranho que possa parecer, programas televisivos, revistas e livros de divulgação popular das
ciências naturais ainda utilizam linguagem mitológica (extrapolação do emprego de metáforas) para exibir a
grandiosidade das descobertas da Ciência. Alguns chamam isso de "publicidade cientificista".
(3) "dar validade e respaldo a uma ordem moral específica, a ordem da sociedade da qual surgiu uma mitologia.
Todas as mitologias chegam a nós no âmbito de uma certa cultura específica e precisam falar a nós através da
linguagem e dos símbolos dessa cultura." Em suma, "a mitologia reforça a ordem moral moldando a pessoa às
exigências de um grupo social específico geográfico e historicamente condicionado". Como exemplo, pensemos na
mitologia judaico-cristã. Ao nos forçarem à seguir a Bíblia porque lá está a "palavra de Deus" (uma metáfora) sobre a
conduta moral do homem, os cristãos incorporam a mentalidade e os valores de povos que viveram há,
aproximadamente, seis mil anos, no Oriente Médio. Você considera isso razoável?
(4) “conduzir o indivíduo através dos vários estágios e crises da vida, isto é, ajudar as pessoas a compreender o
desdobramento da vida com integridade” (Campbell, Joseph. Isto és tu: redimensionando a metáfora religiosa. São
Paulo: Landy Livraria Editora e Distribuidora Ltda, 2002, pp.29-34). Por exemplo, pensemos nas parábolas e contos
elaborados com fins moralizantes e/ou confortadores que ouvimos e lemos desde a infância. As publicações de Paulo
Coelho são um bom exemplo, mas, atualmente, o mercado editorial está repleto de livros de autoajuda (de cunho
religioso ou não) que têm a finalidade de nos confortar e estimular em momentos difíceis da vida.
Observamos que o pensamento mítico (com suas metáforas e seus símbolos) é uma marca indelével do ser humano.
As funções do Mito, conforme descrito acima, atendem a nossos anseios de ordem psicossomática. Somos carentes
de sentido, precisamos suprir nossos sentimentos de pertencimento, de ordem, de identidade e harmonia com a
realidade que nos cerca. Nossa capacidade de agir pode ficar comprometida diante da ausência desses elementos.
Você saberia dizer o porquê disso?
A nossa posição histórica já não nos permite encarar o mundo apenas mitologicamente. Mitologias mal
compreendidas estão nos levando à destruição há muitos séculos. Veja os conflitos entre as religiões. Ainda hoje, e
com mais crueldade, muçulmanos massacram cristãos (e quem não for seguidor de Maomé), cristãos já massacraram
muçulmanos, cristãos mataram cristãos e desrespeitam espíritas e adeptos de religiões de raiz africana.
7
Tudo isso em nome de Mitos, os quais são tomados como fatos e despertam o que há de pior em nós. O mal se
encontra no esquecimento do caráter metafórico dos Mitos. Todos sustentam orgulho e soberba excessivos na
disputa de quem louva o deus verdadeiro. Há deuses "factuais" demais para pouco mundo!
[A] metade das pessoas do mundo pensa que as metáforas de suas tradições religiosas são fatos. E a outra metade
sustenta que não são, de modo algum, fatos. O resultado é que temos pessoas que se consideram crentes porque
aceitam metáforas como fatos, e temos outros indivíduos que se classificam como ateus porque acham que as
metáforas religiosas são mentiras. (Campbell, 2002, p.29)
O desenvolvimento do pensamento filosófico-científico nas cidades-Estados gregas teve a intenção de superar esses
e outros problemas referentes às explicações sobre a natureza das coisas. No lugar de recorrer ao sagrado e ao
sobrenatural, assim como aos poucos “escolhidos” pelos deuses para falar por eles, a Filosofia procurou retirar o
manto de mitologia que encobria a realidade. Ia-se o mais direto possível à Physis, às Causas e à Arché através de
investigação intelectual elaborado em discurso público, racional e dialógico.
Entre outras coisas, isto quer dizer que qualquer pessoa suficientemente educada e interessada poderia proceder na
investigação da Natureza, discutir e justificar publicamente suas teorias. Para tanto, era preciso educar os homens a
pensarem para além da aceitação e submissão imediata aos Mitos. “Filosofia” também era o nome desse
empreendimento pedagógico: “um comportamento teórico que não recorre à experiência (como na ciência)
tampouco à autoridade do divino (como no mito e na religião), mas que possui a particularidade de tentar oferecer
explicações apelando para razões construídas pela própria compreensão humana” (p.71).
Brevíssimo resumo das noções fundamentais do pensamento filosófico-científico.
Physis Em latim, significa natura. Fonte originária
de todas as coisas.
Causalidad
e
Modo de explicação que relaciona uma
causa a um efeito antecedente que o justifica
8
Arché O princípio básico que está na origem de
todas as relações causais
Logos A palavra que exprime o pensamento de um
modo que seja possível compartilhá-lo
tornando-o compreensível para todos.
Esperamos que aula tenha atingido os dois objetivos centrais, cada um em sua medida. Ou seja, tomara que você
seja capaz de reconhecer a relevância da distinção entre pensamento míticoe pensamento filosófico para a
Pedagogia. Você precisa identificar quando as metáforas deixam de cumprir suas funções porque são tomadas como
fatos, pois esse equívoco pode provocar (e vem provocando há séculos) fanatismos, mortes e destruição. Você e seus
futuros alunos precisam acionar a Filosofia e a atitude filosófica a cada momento em que uma narrativa explanatória
pretender se impor como verdade absoluta. Duvide, questione, critique e avalie antes se sentir confortável ou
consolado por qualquer explicação bem contada, cheia de ilustrações, emoções e visões fantásticas sobre a vida, o
universo e seres sobrenaturais. Desconfie do caráter simplista, dogmático e obscuro das narrativas; busque o
discurso que há por baixo disso tudo. Você deve isso a seus alunos e à sociedade. Enfim, tomara que a Aula 5 tenha
contribuído ainda mais para o seu engajamento filosófico enquanto futuro educador.
Para quem quiser se divertir com uma atividade cheia de referências filosóficas (Sócrates, Platão, René Descartes,
Marx,Jean Baudrillard, críticas ao Humanismo, livre-arbítrio, entre outras), mitológicas (mitos gregos, romanos,
egípcios e judaico-cristãos) e literárias ("Alice no País das Maravilhas", "O Mágico de Oz"), sugiro assistir ao filme
"Matrix" (1999).
Aula 6 - As fontes do conhecimento
Nesta aula, são apresentadas algumas concepções filosóficas sobre as origens do conhecimento. Não seria incorreto
afirmar que o conhecimento é o tema mais importante da Filosofia.
Você já se acostumou a ouvir que as ciências produzem conhecimento sobre o real, o mundo, a Natureza, etc.
Dissemos que as teorias científicas, a detecção de entidades inobserváveis num aparelho de experimentação e o
amontoado de traquitanas tecnológicas exibem o conhecimento científico. Todavia, o que faz dessas coisas exemplos
de conhecimento? Talvez você não se preocupe com isso em seu dia-a-dia; porém, enquanto futuro professor, é seu
dever não se colocar diante de seus alunos sem questionar o que é conhecimento e como é possível obtê-lo. Quem
se ocupa desse questionamento é o pensamento filosófico.
Conforme vimos na Aula 4, o campo de investigação da Filosofia que se dedica às teorias e conceitos sobre as
origens, fontes, tipos, limites e condições do conhecimento humano chama-se Epistemologia ou Teoria do
Conhecimento. Através das teses epistemológicas (isto é, teses relativas à investigação sobre o conhecimento) de
Platão (427-347 a.C), Aristóteles (384-322 a. C.), René Descartes (1596-1650), John Locke (1632-1704), Immanuel
Kant (1724-1804) e Martin Heidegger (1889-1976), a Aula 6 nos mostra as seguintes questões básicas da investigação
filosófica sobre conhecimento: como temos acesso àquilo que chamamos de “real”?; existe um mundo real
independente de nossas mentes e experiências sensíveis?; quais são as origens de nossas ideias, representações e de
9
nossos conceitos: a Razão (racionalismo) ou a experiência sensível (empirismo)?; a relação entre as fontes é
disjuntiva, isto é, Razão vs Empiria?; como se dá a relação entre sujeito e objeto?; o que é subjetividade?; o que
podemos saber?; já nascemos com ideias e conceitos “pré-instalados” em nossas mentes, ou nascemos como um
“papel em branco”, sobre o qual, aos poucos, os objetos e as experiências vão imprimindo suas marcas?(p.74); o que
é ceticismo?; conhecemos de fato tanto quanto pensamos conhecer?
As respostas sobre a origem e as fontes do conhecimento dividiram-se, ao longo da história da filosofia (segundo a
historiografia mais popular), em duas correntes filosóficas: o Racionalismo e o Empirismo. Antes de avançar na
exposição destas, abordemos as concepções epistemológicas de dois filósofos seminais, Platão e Aristóteles. Ambos
influenciaram pensadores, respectivamente, "racionalistas" e "empiristas".
Para Platão, o conhecimento era reconhecimento (recordação) das ideias universais e abstratas encontradas na
"verdadeira realidade", que ele chamava de "mundo inteligível" ("mundo supra-sensível ou "mundo das essências).
Conhecer é relembrar a verdade que já trazemos conosco ao nascer. Platão afirma que cada um de nós possui uma
alma imortal que conheceu as ideias - entidades abstratas universais, perfeitas, imutáveis e eternas. Ao nascermos,
esquecemos essas esperiências e começamos a topar com meros simulacros, cópias imperfeitas, ilusões e sombras
do que outrora haviamos contemplado antes de sermos "jogados" no "mundo sensível" - temporal, mutável e
corruptível. Por exemplo, ao observar uma rosa, um cavalo ou uma montanha, estamos diante de cópias
particulares (imperfeitas e sujeitas à corrupção do tempo) das ideias de rosa, cavalo e montanha. Há também ideias
que podem ser comuns entre os objetos, tais como uma rosa, um cavalo e uma montanha particulares que
observamos: são todas coisas belas. Isto quer dizer que a ideia de Beleza, que é um universal, subjaz aqueles
particulares. Embora nossos juízos sobre o que é belo se transformem com o tempo, a ideia da Beleza, a Beleza em si
(ou, como dizem por aí, a essência da beleza"), não muda, não se corrompe.
Platão é aquele que aponta o dedo indicador para cima (imagem anterior), mostrando a direção que a razão deve tomar para
atingir o conhecimento genuíno e o Bem (conforme demonstra o diagrama acima)
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Platão dizia que o conhecimento das ideias era o único conhecimento genuíno (episteme) e que não havia
conhecimento do "mundo sensível", apenas opiniões (doxa), crenças e conjecturas sobre a "realidade das coisas". O
conhecimento genuíno é imutável, mas em nosso mundo (o sensível) opiniões, crenças e conjecturas sobre a
realidade mudam constantemente. Logo, só pode haver conhecimento do que é imutável, em outras palavras,
conhecimento das ideias. O diagrama mostra que objetos matemáticos e conhecimentos matemáticos são da ordem
das ideias universais, perfeitas, eternas e imutáveis. As figuras geométricas são um bom exemplo: a soma dos
ângulos internos de um triângulo é e sempre será 180 graus, em todo e qualquer lugar, independente de conjecturas.
crenças particulares, preferências.
Platão era um inatista, isto é, alguém que acreditava que já nascemos com ideias e verdades "pré-instaladas" em
nossas mentes. Para que o (re)conhecimento se realize, precisaríamos despertar e exercitar a razão para que esta
nos conduza às verdadeiras ideias, nos leve das crenças do mundo sensível ao conhecimento do mundo inteligível
(em termos mais dramáticos, "das sombras às luzes"!). Dito isto, podemos considerar Platão um racionalista.
Por sua vez, Aristóteles foi aquele que passou para a história da Filosofia como o mais célebre e influente discípulo
de Platão. Uma de suas marcas intelectuais foi ter objetado as concepções de seu mestre sobre o realidade das coisas
e o conhecimento das mesmas. Especificamente, a teoria do conhecimento de Aristóteles vai de encontro às teoria
das ideias de Platão. Aristóteles rejeitava a divisão entre mundo sensível e mundo inteligível. Enquanto Platão
apontava para o alto (indicando a transcendência), desmerecendo o mundo sensível como fonte para obtenção de
conhecimento, Aristóteles indicava a horizontalização do caminho para o conhecimento e valorizava a experiências
do mundo sensível (a imanência). Era neste que se encontrava a condição de possibilidade para o conhecimento, já
que não existem ideias em si mesmas, independentes das coisas materiais. Aristóteles se enquadraria como
"empirista", pois partia das experiências sensíveis particulares para alcançar conhecimento universal. Isso precisava
de um método, o qual chamou de "indução". Esta é uma operação lógico-observacional em que vamos do acúmulo
de dados particulares à generalizações teóricas com pretensões à universalização. Desse modo, a "essência das
coisas" ou a ideia seria conhecida de maneira cumulativa. Além disso, nessa nessa operação cumulativa, cada etapa
alcançada pressupõe o estágio anterior. Os estágios são a sensação, a percepção, a imaginação, a memória, alinguagem, o raciocínio e a intuição. O estágio mais elevado do processo do conhecer consiste em um conhecimento
da realidade em seu sentido mais abstrato e genérico: o conhecimento das causas primeiras e universais, chamado
metafísica ou "Filosofia Primeira".
Para Aristóteles, o conhecimento genuíno, ou "Ciência" (episteme), significava conhecer as 4 Causas: Causa Formal -
a forma ou a estrutura que alguma coisa tem; Causa Material - do que a coisa é composta; Causa Eficiente - qual
agente produziu a coisa; Causa Final - que função, meta ou finalidade a coisa cumpre.
À luz da Teoria da Causas, podemos dizer que Aristóteles considerava as sensações fundamentais para a aquisição de
algum conhecimento; porém, as sensações não explicavam as causas de coisa alguma. Os demais estágios do
processo do conhecimento deveriam ser acionados para alcançarmos o verdadeiro conhecimento, pois a sensação
nos diz como as coisas são (causa material e causa formal), mas não explicam a origem nem por que as coisas são do
jeito que são (causa eficiente e causa final - a razão de algo existir).
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Vamos partir para a discussão entre Racionalistas e Empiristas. Seguindo o salto histórico dos autores do livro,
vejamos as concepções de conhecimentos dos filósofos da, assim chamada, Idade Moderna: René Descartes e John
Locke.
Descartes viveu no começo do século XVII, num período chamado de '"Revolução Científica", uma era em que
ocorreram rápidos avanços na ciência. Quando falamos em "rápido avanço na ciência", queremos dizer, entre outras
coisas, que fenômenos outrora considerados verdadeiros, que contavam como "conhecimento", foram refutados
diante de outras evidências, tornando-se meras crenças ou itens no acervo de coisas falsas. Em outros termos, o
preço a pagar pelo progresso e pela "Revolução Científica" fora a destruição de nossas ilusões a respeito da
capacidade humana de ter acesso à "verdadeira realidade" e produzir conhecimento verdadeiro". A poder da Razão
foi colocado em dúvida. Já que as concepções sobre o mundo e a realidade estavam em transformação, não havia
verdades absolutas a serem respeitadas e tomadas como fundamento, a maior parte das coisas em que as pessoas
acreditavam eram ilusões; logo, tudo seria objeto de suspeita e dúvida, principalmente aquilo que tivesse sido obtido
através das experiências sensíveis.
Para Descartes, a razão é a característica humana fundamental. Segundo o filósofo francês, desde que nascemos
trazemos conosco ideias inatas, ou seja, ideias que provêm da razão, da iluminação natural que nos permite conhecer
a verdade. Embora Descartes estivesse fascinado com o projeto de expandir o conhecimento e a compreensão do
mundo, ele se preocupava com as bases sólidas para o conhecimento, algo que pudesse garantir nosso poder
racional/epistêmico de encontrar verdades certas e indubitáveis. Outro objetivo era refutar os céticos empedernidos
(livrar a ciência do ceticismo perturbante!). Para atingir suas metas, Descartes lançou mão da própria atitude dos
céticos: assumiu a dúvida radical. Afinal, este era, indubitavelmente, um ponto de partida confiável e certo. (atenção:
volte ao nosso livro, abra na página 83 e leia o quadro sobre o termo "ceticismo").
Descartes empregou o método da dúvida radical (ou "atitude de radical ceticismo") para atingir outra certeza
indubitável, um fundamento que sustentasse a primazia da razão. Não obstante ele fosse um corpo material sujeito
às ilusões trazidas pelas experiências sensoriais (visão, audição, olfato e paladar) do mundo externo, de tal modo que
não fosse capaz de distinguir entre o que era realidade e o que era sonho, a dúvida radical de Descartes o levou a
conclusão de que ele era algo que duvidava e, mais importante, pensava sobre isso. Assim sendo, o pensamento
indicava que alguma coisa existia de verdade, que era real, a saber: ele mesmo, a "coisa pensante". Descartes
estendeu a capacidade de pensar a todos os seres humanos, determinando-a como a característica humana
fundamental. Tendo em vista que o pensamento é uma capacidade racional humana; logo, a racionalidade é natural
ao homem e compartilhada por todas. Eis o fundamento, eis a certeza: "Penso, logo existo". Para saber isso, não seria
necessária a ação das sensações, da percepções nem das lembranças. Você consegue ver as semelhanças entre as
noções de Descartes e as de Platão? Volte ao livro e avalie isso, especialmente nas páginas 82, 83 e 84.
Em oposição ao racionalismo de Descartes, o filósofo inglês John Locke, representante do Empirismo, afirmava que
o valor e o sentido da atividade racional, bem como a existência das ideias dependem do que é determinado pela
experiência sensível. Os racionalistas acreditam que nascemos com algumas ideias e conceitos (Platão, Descarte);
porém, Locke objetava essa asseverando que não há verdades encontradas em todos nós no nascimento e que não
há ideias universais encontradas em pessoas de todas as culturas em todos os tempos! Daí a sua conclusão de que
tudo o que os humanos diziam saber havia sido adquirido a partir da experiência. Locke adotava a concepção de que
a mente, no nascimento, é uma tábula rasa, uma espécie de folha de papel em branco sobre a qual a experiência
deixa seus registros. O processo seria algo parecido com a forma que a luz pode criar imagens no filme fotográfico.
Para o inglês, a única intervenção que nós teríamos nesse processo de "estampagem" se daria mediante a
capacidade humana básica de aplicar a razão à informação reunida por meios dos sentidos.
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As querelas sobre as fontes e fundamentos legítimos e primordiais do conhecimento renderam séculos, e vários
filósofos entraram nessa disputa entre Racionalismo e Empirismo. O duelo entre "razão x experiência sensível"
pressupunha que uma das partes seria mais infalível que a outra, que uma iria corrigir as limitações da outra,
havendo, assim, uma hierarquização das condições para o conhecimento. No século XVIII, entra em cena o filósofo
alemão Immanuel Kant, que buscou reconciliar as duas perspectivas através do "Idealismo Transcendental" e da
noção de "juízo sintéticos a priori" (para os fins desta aula, não entraremos em detalhes sobre esses termos).
De acordo com Kant, o conhecimento do mundo não depende nem inteiramente da experiência, nem inteiramente
de uma intuição intelectual. A produção do conhecimento depende de duas estruturas: o entendimento e a
sensibilidade. A sensibilidade é a capacidade de sentir as coisas do mundo; o entendimento, por sua vez, é a
capacidade de pensar sobre as coisas. A razão é uma estrutura vazia, uma forma sem conteúdos, mas é uma forma
universal e necessária que organiza os conteúdos. Assim, para conhecer, a razão precisa que a experiência fornaça os
conteúdos. Os conteúdos são fenômenos. Estes aparecem para nós no espaço e no tempo. Espaço e tempo não
podem ser conhecidos pela experiência, pois são intuições da mente, ou, nos termos de Kant, "intuições puras da
sensibilidade". Diz-se "puras" porque alguma noção de espaço e tempo devem ser conhecidas para que possamos
localizar e identificar fenômenos do mundo externo. Para conhecer algo fora de mim (o "mundo exterior"), preciso
saber que as coisas estão fora de mim; para perceber as mudanças nessas coisa, também precisamos ter alguma
noção prévia de tempo.
Assim sendo, Kant dividiu o conhecimento em intuições, adquiridas a partir da sensibilidade direta do mundo, e em
conceitos, que provêm indiretamente de nossa compreensão. Uma parte do conhecimento - tanto da sensibilidade
quanto do entendimento - provém da evidência empírica, enquanto outra parte é conhecida a priori (anterior à
experiência; grosso modo, seria aquilo já presente na razão do sujeito cognoscente).
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Kant, podemos dizer, resolveu alguns problemas ligados ao inatismo e ao empirismo como origens/fontes de
conhecimento. Você já percebeu que Kant quis fazer as pazes entre racionalistas e empiristas! Ele estabeleceu algo
como umainterdependência entre razão e experiência. Resumindo, nós, enquanto seres cognoscentes, precisamos
de ambas para produzir conhecimento válido e confiável. Assim como Descartes, ele também se inspirou nas grandes
realização da ciência de sua época, no caso na física newtoniana. Para Kant, a teoria da gravitação universal não seria
possível se Issac Newton não houvesse "sintetizado" razão e sensibilidade. Resumindo, os racionalistas acreditavam
que o uso da razão, em vez da experiência, leva à compreensão dos objetos no mundo. De outro lado, os empiristas
acreditavam que o conhecimento provém da experiência dos objetos no mundo, em vez da razão. Kant, por sua vez,
afirmou que tanto a razão quanto a experiência são necessárias para compreender o mundo.
As abordagens sobre origens/fontes e condições do conhecimento apresentadas até aqui carregam a pressuposição
de que somos sujeitos pensantes (uma estrutura cognitiva, ou um "eu" capaz de experimentar a realidade e extrair
conhecimento dessa relação) diante de objetos externos à disposição de nossas "ferramentas epistêmicas" e técnicas
de manipulação. Isto é, a pressuposição de uma relação fixa e bem determinada entre sujeito e objeto, "homem" e
"mundo". Coloca-se o "mundo" ou os objetos "fora de nós" como passivos e secundários na relação. O "outro", o
diferente do sujeito pensante, é sempre objeto.
Uma das consequências desses pressupostos pode ser observada no modo como as ciências e as engenharias lidam
com aquilo que chamamos de "Natureza" - objeto que se põe diante de nós para ser tomado, representado,
recortado, "escravizado", manipulado, controlado e posto à disposição de nossas necessidades. Esquece-se que nós,
os que pensam ser sujeitos, contamos como objetos na tal "Natureza". Segundo Martin Heidegger, a explicação para
nossa relação com a realidade pode ser buscada na própria concepção de mundo tomado como campo de
manifestação dos entes no real. Heidegger afirma que a relação entre um sujeito do conhecimento e um objeto
cognoscível pressupõe uma relação ainda mais originária, uma dimensão no interior da qual lidamos com os entes
como algo que serve para alguma coisa, a partir de uma familiaridade com o nosso mundo.
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Na filosofia contemporânea, filósofos como Martin Heidegger, procuraram mostrar que a relação com a realidade
requer um conhecimento que coloque o homem contextualizado em seu mundo (ser-no-mundo). Grosso modo,
quer-se dizer que o contato de "sujeitos" com o mundo deveria não apenas ser para explicar a existência dos
objetos/coisas e de como "funcionam", mas também para que esses "sujeitos" refletissem sobre o sentido de suas
relações com o mundo, o sentido de si mesmo enquanto "seres jogados" no mundo com os demais objetos. Ou seja,
pensar em si mesmos como algo mais do que sujeitos cognoscentes apartados das condições e necessidades
(facticidade) que dão sentido às suas próprias condições de sujeitos cognoscentes, produtores de teorias e técnicas
sobre um mundo que consideram alheio de significações (mas que está disponível ao uso).
Soma-se a isso a ideia de um conhecimento produzido de forma individual: o conhecimento socialmente aceito seria
simples um agregado daquilo que é conhecido pelos indivíduos. O problema disso é a negligência do conhecimento
como produto da ação coletiva, que envolve condições que vão além daquelas postuladas pelos filósofos aqui
mencionados. Alguns exemplos dessas condições: contexto, linguagem, "trocas" (discussões, aversões, aceitação,
concordâncias, cooperações etc), instituições sociais, culturas e valores diferentes.
O vídeo abaixo tem o propósito de ilustrar as consequências geradas pela falta de reflexão sobre as relações entre
Homem e Mundo (Homem entendido como sujeito pensante e de ação; mundo tomado como objeto passível, alheio
e disponível ao pensamento e à ação tecnocientífica).
Veja como uma aula sobre as fontes do conhecimento nos levou à reflexões ainda mais amplas, complexas e atuais!
Aula 7 - A Origem do Estado: A Política como um fenômeno natural
Tanto para Platão quanto para Aristóteles a existência de leis, de governantes e da ideia de justiça decorre da
natureza humana. O Estado não se constitui como uma criação artificial imposta ao homem natural, mas existe, ao
contrário, como uma manifestação da própria natureza humana.
* sociabilidade natural humana ≠ concepção dos contratualistas (essas diferenças vamos ver ao estudarmos Thomas
Hobbes e Jean-Jacques Rousseau – aula 8)!
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Para Platão o Estado ideal deveria ser governado por alguém dotado de uma rigorosa formação filosófica. Para tanto
deviam ser levadas em consideração três virtudes baseadas na alma: sabedoria (cabeça do Estado – o governante),
pois possui caráter de ouro e utiliza a razão; a coragem (peito do Estado – os soldados ou guardiães do Estado), pois
sua alma de prata é imbuída de vontade; e a temperança (devia ser o baixo-ventre do Estado – os trabalhadores),
pois sua alma de bronze orienta-se pelo desejo das coisas sensíveis.
Agora partimos da concepção política de Aristóteles. Para ele a Política é a ciência que tem por objetivo a felicidade
humana. Com isso o objetivo de Aristóteles com sua Política é justamente investigar as formas de governas e as
instituições capazes de assegurar uma vida feliz ao cidadão.
Aristóteles faz em sua obra A Política uma distinção entre os seres humanos e os animais, pois os seres humanos são
dotados de razão e da capacidade de pensar.
Desse modo, Platão e Aristóteles pensam que a Política se articula com a ética, pois ambas investigam o contexto em
que o homem virtuoso deve exercer sua virtude. Esse contexto é a pólis. Para Aristóteles os seres humanos não
devem ser concebidos como indivíduos isolados. Ou seja, sempre em sociedade (grupo).
Para ambos os filósofos o Estado é uma entidade natural que possui uma finalidade última. Na obra Ética a
Nicômaco Aristóteles diz que o fim último do ser humano é tornar-se bom e alcançar o grau mais elevado do bem
humano, que é a felicidade (Ética a Nicômaco, 1984, 1097b-1101a). E para atingir esse fim último somente é possível
através do exercício das faculdades distintivamente humanas que são elas: coragem, generosidade, imparcialidade
etc.
Aula 8 - A Origem do Estado: A Política como uma criação artificial
Podemos observar nesta aula que a tese defendida por Platão e Aristóteles sobre a sociabilidade natural dá lugar à
tese do contrato social difundida por Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau.
Para Hobbes e Rousseau o homem não é sociável por natureza. Embora os dois filósofos compartilhem a ideia de
que são os próprios homens que dão o consentimento para a instauração do poder legitimado pelo pacto social,
apresentam teorias distintas para justificar a aceitação do contrato social. E também discordam em alguns pontos
importantes nas concepções de soberano e de governo, assim também no valor e no significado de estado de
natureza e Estado Civil.
Foi nos séculos XVII e XVIII que surgiram as teorias contratualistas, ou seja, as teorias que defendem o caráter leigo e
racional da origem do poder. Com isso podemos observar que a origem do poder não advém do direito divino dos
reis, mas sim o próprio indivíduo dá seu consentimento para se instaurar o poder por meio do contrato social.
Hobbes com sua teoria procurou legitimar o poder do Estado racionalmente, sem recorrer a intervenção divina e
com isso começa a questionar a origem do Estado partindo em sua investigação de uma suposição acerca de como
viveria o homem em um estado de natureza antes de qualquer tipo de adesão social. Sendo em uma situação natural
na qual todos tivessem os mesmos direitos a todas as coisas, possuindo a liberdade de usar o seu próprio poder, pois
assim os homens viveriam em uma luta permanente, em uma guerra de todos contra todos. Em uma situação de
absoluta liberdade reinaria o medo.
Para Hobbes a passagem do estado natural para o Estado Civil ocorre mediante um pacto oucontrato social. No
contrato social os indivíduos aceitam transferir os seus direitos naturais ao poder soberano, o poder para instituir e
aplicar leis, determinando, assim, o legal e o ilegal, o permitido e o proibido, o justo e o injusto. Sendo assim, a
sociedade civil asseguraria a posse exclusiva dos bens pessoais, garantindo, assim, o sistema da propriedade
individual. Isto é feito de modo voluntário e livre, transferindo ao soberano o poder para governa-los, constituindo-se
não mais uma multidão de indivíduos, mas um corpo político, denominado Estado.
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Rousseau e “Bom Selvagem”
Rousseau assim como Hobbes elaborou sua política a partir da hipótese de um estado de natureza, ou seja, vivendo
em total liberdade. Porém, se diferencia no que aspecto em que Rousseau afirma que o indivíduo no estado de
natureza viveria na condição de “bom selvagem”, isto é, viveria em um estado de felicidade e inocência, sem lutas e
conflitos. Para ele é a propriedade privada que dá origem ao estado de sociedade no qual prevalecem a luta e os
conflitos entre os indivíduos. Esses conflitos e lutas que surgem fazem com que os indivíduos estabeleçam o contrato
social, dando assim origem a soberania e a autoridade política.
O Contrato Social recebe sua legitimação no conceito de “direito natural” ou jusnaturalismo, segundo o qual todos
os indivíduos são livres por natureza e têm direito à vida e a tudo o que for necessário para sua sobrevivência. Na
medida em que todos os indivíduos que se encontram em uma condição natural são livres, todos possuem o direito e
o poder para transferir ao soberano tanto os seus direitos naturais quanto o poder para governa-los.
Para Hobbes a reunião de um agrupamento de indivíduos passa a formar, por meio do pacto, um “corpo político”, ou
seja, a construção de uma pessoa artificial denominada Estado. Já para Rousseau, os indivíduos se reúnem por meio
do pacto porque são seres morais que criam a “vontade geral”, no sentido de um corpo moral coletivo, também
denominado Estado Civil.
Para Hobbes o soberano pode ser um grupo de aristocratas, um rei ou uma assembleia democrática, para Rousseau
o soberano deve ser o povo, concebido como “vontade geral”. Por meio do contrato, os indivíduos criam-se a si
mesmos como povo, e é a este que transferem os direitos naturais a fim de que ele lhes garanta paz e segurança.
Boa sorte galera!!!
“Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não
puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.”
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