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Aula 03 Ideologias políticas e seus reflexos no Estado

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DESCRIÇÃO
O conhecimento sobre a formação das identidades políticas da sociedade ocidental,
capitalista, seus fundamentos ideológicos e as formas de manifestação política.
PROPÓSITO
Estabelecer parâmetros de compreensão das correntes políticas que vigoram entre o
século XIX e parte do século XX é essencial para todos os estudantes, especialmente
aqueles das áreas de História, Sociologia, Direito, Administração, Geografia e Filosofia.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as particularidades da ideologia política conservadora, que surgiu na
conjuntura da Revolução Francesa (1799–1899)
MÓDULO 2
Distinguir a ideologia política liberal, um dos desdobramentos do pensamento
progressista que fundou a Modernidade
MÓDULO 3
Localizar o surgimento da ideologia nacionalista ao longo do século XIX
MÓDULO 4
Reconhecer o desenvolvimento dos fascismos na primeira metade do século XX
INTRODUÇÃO
A Modernidade europeia produziu ideologias políticas que foram expandidas pelo mundo
na esteira da dominação colonial que os países europeus impuseram às outras regiões
do planeta. Esses sistemas de pensamento inspiraram práticas políticas e diferentes
formas de organizar o Estado. Aqui, neste conteúdo, estudamos as ideologias que foram
desenvolvidas entre o início do século XVIII e meados do século XX, partindo da
premissa elementar da Sociologia do Conhecimento: todo pensamento é produto
de realidades sociais concretas.
No primeiro momento, nos debruçaremos sobre o conservadorismo moderno, que
surgiu na conjuntura da Revolução Francesa (1789–1799). Em seguida, estudaremos o
liberalismo, que foi um dos desdobramentos do pensamento progressista que fundou a
Modernidade. Depois, analisaremos o nacionalismo, que foi a principal ideologia política
formada ao longo do século XIX. Por último, examinaremos o fascismo, que
desestabilizou o sistema internacional na primeira metade do século XX.
Este estudo está inserido na área de interesses da história do pensamento político.
Partimos da premissa de que não existe distinção entre pensamento e ação política,
pois toda ação é sempre prefigurada por determinado pensamento e todo pensamento é
o resultado objetivo e prático de um conjunto de ações. Sendo assim, estudar as
ideologias políticas que nasceram na Europa entre o século XVIII e meados do século
XX nos possibilita a melhor compreensão das práticas políticas que marcaram a história
ocidental nesse período.
MÓDULO 1
 Identificar as particularidades da ideologia política conservadora, que surgiu na
conjuntura da Revolução Francesa (1799–1899)
ASSISTA A UM VÍDEO QUE TRATA DO
DESENVOLVIMENTO E DA DIFUSÃO
GENERALIZADA DO CONSERVADORISMO,
DIFERENCIANDO-O DO TRADICIONALISMO
QUE O PRECEDEU.
CONSERVADORISMO MODERNO
O sociólogo alemão Karl Mannheim (1893–1947) é autor de importante estudo sobre
aquilo que denomina “estilo de pensamento conservador”. Mannheim é um dos principais
representantes da área de estudos que costumamos chamar de Sociologia do
Conhecimento, que tem como premissa elementar a ideia de que o conhecimento não se
produz no vazio social, acima da realidade social. Em outras palavras: todo
conhecimento, todo pensamento, é resultado de condições sociais concretas, pois os
pensadores não vivem acima da sociedade, fora da realidade. Muito pelo contrário, já
que estão sempre respondendo aos desafios do seu tempo.
 Karl Mannheim.
É a partir dessa premissa que nos debruçamos sobre o pensamento político
conservador, que foi uma resposta a uma série de desafios colocados pela Modernidade
ocidental entre os séculos XVIII e XIX. O próprio Karl Mannheim nos ajuda a entender
quais foram as condições sociais concretas de nascimento do conservadorismo.
SOB A PRESSÃO IDEOLÓGICA DA REVOLUÇÃO
FRANCESA SE DESENVOLVEU NA ALEMANHA UM
CONTRA-MOVIMENTO INTELECTUAL QUE RETEVE
SEU CARÁTER PURAMENTE INTELECTUAL POR
UM LONGO PERÍODO E ASSIM FOI CAPAZ DE
DESENVOLVER SUAS PREMISSAS LÓGICAS DE
FORMA A MAIS EXTENSA POSSÍVEL. ELE FOI
PENSADO ATÉ “AS SUAS ÚLTIMAS
CONSEQUÊNCIAS”. A CONTRA-REVOLUÇÃO NÃO
SE ORIGINOU NA ALEMANHA, MAS FOI NA
ALEMANHA QUE SEUS LEMAS FORAM PENSADOS
DE FORMA MAIS COMPLETA E LEVADOS ÀS SUAS
CONCLUSÕES LÓGICAS. [...] A ALEMANHA
CONTRIBUIU PARA ESSE PROCESSO DE “PENSAR
ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS — UM
APROFUNDAMENTO FILOSÓFICO E UMA
INTENSIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS QUE SE
ORIGINARAM COM BURKE E DEPOIS FORAM
COMBINADOS COM ELEMENTOS GENUINAMENTE
ALEMÃES. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MANNHEIM, 1987, p. 87)
FUNDAÇÃO DO CONSERVADORISMO
MODERNO
 A abertura dos Estados Gerais, em 5 de maio de 1789, na Salle des Menus Plaisirs ,
em Versalhes.
Os eventos fundadores do conservadorismo moderno, então, foram a Revolução
Francesa (1784–1804) e a concepção progressista de tempo que lhe caracteriza.
Segundo os estudos do historiador alemão Reinhart Koselleck (1923–2006), a Revolução
Francesa foi o desfecho de uma nova concepção de tempo que vinha se desenvolvendo
desde o fim do século XVII e que se tornaria a principal condição estrutural da
Modernidade. Essa concepção de tempo é marcada pelo ideal do progresso e pela
crença de que a história é potência em movimento e que as coisas mudam sempre
para a melhor.
Essa nova forma de relação com o tempo mudou a posição que o passado ocupava nas
culturas europeias ocidentais. Até então, as experiências pretéritas eram vistas como
fonte de ensinamento à qual os contemporâneos recorriam com o objetivo de evitar
cometer os mesmos erros de antes. Com a Modernidade, o passado se tornou o símbolo
do obsoleto, do atraso, daquilo que deveria ser superado pela marcha inexorável da
história.
O conservadorismo moderno surge como uma ideologia de oposição a esses valores
progressistas, como um tipo de “contrarrevolução ideológica”, para utilizar as palavras
de Karl Mannheim.
EM OUTRAS PALAVRAS, ESSA DIFERENÇA PODE
SER EXPRESSA DA SEGUINTE FORMA: O
PROGRESSISTA CONSIDERA O PRESENTE COMO
O COMEÇO DO FUTURO, ENQUANTO O
CONSERVADOR O VÊ SIMPLESMENTE COMO O
ÚLTIMO PONTO APONTADO PELO PASSADO. A
DIFERENÇA É TANTO MAIS FUNDAMENTAL E
RADICAL NA MEDIDA EM QUE O CONCEITO
LINEAR DE HISTÓRIA — QUE ESTÁ IMPLÍCITO
AQUI — É ALGO SECUNDÁRIO PARA OS
CONSERVADORES. PRIMEIRAMENTE, OS
CONSERVADORES CONHECEM O PASSADO
COMO SENDO ALGO QUE EXISTE COM O
PRESENTE; CONSEQUENTEMENTE, A SUA
CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA TENDE A SER ALGO
MAIS ESPACIAL DO QUE TEMPORAL; ELA
ENFATIZA MAIS A COEXISTÊNCIA DO QUE A
SUCESSÃO.
(MANNHEIM, 1987, p. 123)
É importante deixar claro, ainda de acordo com Karl Mannheim, que a ideologia
conservadora não pode ser resumida ao que o autor chama de “conservadorismo
ontológico”, que seria o incômodo que todos nós sentimos diante de uma mudança, de
algo que desestabiliza a situação de vida com a qual já estamos habituados. O
conservadorismo ontológico de que fala Mannheim é a sensação de desorientação que
sentimos quando trocamos de emprego ou de vizinhança e que, muitas vezes, é
angustiante, fazendo com que algumas pessoas sejam resistentes às mudanças.
O conservadorismo moderno é bastante diferente disso, consistindo em um complexo
sistema de pensamento que buscou reagir aos desafios postos pela modernidade
progressista, sendo ele mesmo uma interpretação dessa modernidade. Também é
importante diferenciar o conservadorismo do reacionarismo, e aqui quem nos ajuda
é o cientista político português João Pereira Coutinho.
O CONSERVADORISMO POLÍTICO RECUSA OS
APELOS DO PENSAMENTO UTÓPICO, VENHAM
ELES DE REVOLUCIONÁRIOS OU REACIONÁRIOS.
MAS O CONSERVADORISMO NÃO SE LIMITA
APENAS A RECUSAR ESSES APELOS UTÓPICOS,
QUE FAZEM DA FUGA PARA O FUTURO (OU PARA
O PASSADO) UM PROGRAMA DE AÇÃO NO
MOMENTO PRESENTE. O CONSERVADORISMO,
POR ENTENDER O POTENCIAL DE VIOLÊNCIA E
REAGIR DEFENSIVAMENTE A TAIS APELOS — E
“REAGIR” É A PALAVRA CRUCIAL PARA
ENTENDER O CONSERVADORISMO COMO
IDEOLOGIA.
(COUTINHO, 2014, p. 27)
CONSERVADOR X REACIONÁRIO
 Andarilho acima do mar de nevoeiro , por Caspar David Friedrich (1817).
O que distinguiria o conservadordo reacionário, segundo o autor, seria a relação com o
tempo. O reacionário idealiza o tempo, tal como o revolucionário. A lógica seria a
mesma, com a diferença de que o reacionário idealizaria o passado, considerado como o
momento da plena realização da felicidade humana, enquanto o revolucionário
idealizaria o futuro, defendendo a aceleração da marcha da história rumo à utopia
progressista.
Diferente é o conservador, cético tanto com a promessa reacionária como com a
promessa revolucionária. Para o conservador, o presente é a melhor experiência
possível, pois sintetiza as experiências acumuladas ao longo do tempo, os repertórios
que foram testados, que sobreviveram.
Não há, na sensibilidade conservadora, diferentemente do que acontece nas
sensibilidades reacionária e revolucionária, a ideia de perfeição. O conservador é cético,
desconfia das utopias e das promessas de perfectibilidade, partindo do princípio de que
o ser humano é ontologicamente imperfeito, falho e, por isso, as tradições são
importantes.
Porém, não nos enganemos em achar que o conservadorismo é, necessariamente,
avesso à mudança. O conservador entende a importância da mudança, desde que
aconteça à luz do repertório disponível, com inspiração nas experiências acumuladas. A
mudança é prudente, sem a ruptura revolucionária. Segundo Karl Mannheim:
UMA DAS CARACTERÍSTICAS MAIS ESSENCIAIS
DESSE MODO DE VIDA E DESSE PENSAMENTO
CONSERVADOR PARECE SER A FORMA COMO
ELE SE APEGA AO IMEDIATO, O REAL, O
CONCRETO. O RESULTADO É UMA PERCEPÇÃO
NOVA E EXTREMAMENTE DEFINIDA DO TERMO
“CONCRETO” COM IMPLICAÇÕES ANTI-
REVOLUCIONÁRIAS. CONHECER E PENSAR
CONCRETAMENTE AGORA PASSA A SIGNIFICAR O
DESEJO DE RESTRINGIR O ALCANCE DA
PRÓPRIA ATIVIDADE ÀS REDONDEZAS IMEDIATAS
ONDE SE ESTÁ LOCALIZADO E DE ABJURAR
RIGIDAMENTE TUDO AQUILO QUE POSSA
CHEIRAR À ESPECULAÇÃO OU HIPÓTESE. [...] O
CONSERVADORISMO SEMPRE COMEÇA COM O
CASO PARTICULAR QUE ESTÁ NA MÃO E NUNCA
ESTENDE SEUS HORIZONTES ALÉM DE SEUS
PRÓPRIOS ARREDORES PARTICULARES. ELE
ESTÁ PREOCUPADO COM A AÇÃO IMEDIATA, COM
DETALHES CONCRETOS EM MUDANÇAS E,
PORTANTO, NÃO SE PREOCUPA REALMENTE
COM A ESTRUTURA DO MUNDO EM QUE VIVE.
[ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MANNHEIM, 1987, p. 111)
PENSAMENTO CONSERVADOR
 Pintura da execução de Maria Antonieta em 1793, do acervo do Museu da
Revolução Francesa, em Vizille, na França.
Para compreender melhor os princípios políticos conservadores, é importante estudar
com cuidado os escritos dos autores mais representativos dessa corrente de
pensamento. Destacamos aqui quatro nomes: Jüstus Möser (1720–1794), Edmund
Burke (1729–1797), Alexis de Tocqueville (1805–1859) e François-René de
Chateaubriand (1768–1848).
Todos esses autores viveram sob os impactos da Revolução Francesa, e cada um, a seu
modo, criticou o tipo de ideologia política que o evento propunha, principalmente na “fase
do terror”, entre 1793–1794, quando o processo revolucionário foi conduzido pelos
jacobinos.
O jurista alemão Jüstus Möser foi um dos primeiros autores a se debruçar com
perspectiva crítica sobre os eventos da Revolução Francesa, desenvolvendo, assim, o
repertório de ideias que se tornaria representativo de um tipo de pensamento político que
passou a ser conhecido como “conservador”.
Na verdade, as “ideias conservadoras” de Möser já vinham sendo desenvolvidas antes
mesmo do início da Revolução Francesa. No livro História de Osnabruque , publicado
pela primeira vez em 1768, Möser defendeu a tese, que se tornaria típica do pensamento
conservador, de que as instituições jurídicas do Estado deveriam nascer de “modo
orgânico”, a partir dos costumes do seu povo, e não de “artificial”, imposta pelo legislador
“convencido de que detém o monopólio das luzes da razão”.
 Retrato de Justus Möser , por Ernst Gottlob (1777).
A BOA LEI NÃO É AQUELA QUE É INVENTADA
PELO LEGISLADOR CONVENCIDO DE QUE DETÉM
O MONOPÓLIO DAS LUZES DA RAZÃO, MAS SIM
AQUELA QUE SURGE ESPONTANEAMENTE DOS
COSTUMES MAIS GENUÍNOS DO POVO, DOS
HÁBITOS E VALORES QUE SOBREVIVERAM AO
TEMPO.
(MÖSER, 1992, p. 34)
Temos aqui um argumento que se tornaria estruturante do pensamento conservador ao
longo do século XIX. Trata-se da crítica à pretensão de perfectibilidade característica do
iluminismo, que foi o repertório filosófico que inspirou a Revolução Francesa. O
iluminismo está fundado na crença de que a razão é o atributo humano mais virtuoso,
sendo a partir dela possível conhecer perfeitamente a realidade e acelerar a marcha do
progresso humano. O responsável por esse “conhecimento perfeito”, na lógica iluminista,
seria o filósofo, entendido como o homem letrado.
É exatamente essa crença no poder do letramento e do conhecimento racional que está
na alça de mira do organicismo jurídico que Jüstus Möser elabora nas páginas da sua
História de Osnabruque . Möser afirma que o conhecimento humano mais genuíno não
é necessariamente aquele encontrado nos livros, ou desenvolvido com os instrumentos
da razão, mas aquele que é o resultado dos “instintos cotidianos”, da “intuição
manifestada dos costumes e nos hábitos do povo”.
Assim, contrastando com a lógica iluminista, Möser afirma que a capacidade cognitiva
humana é sempre lacunar e frágil, sendo o conhecimento prático, cotidiano e tradicional
o mais genuinamente verdadeiro, justamente por ser um dos desdobramentos da
tradição. No vocabulário de Möser, “tradição” não significa o passado estático, mas o
amplo conjunto das experiências humanas acumuladas, e testadas, ao longo do tempo.
Para Moser, os costumes e hábitos existentes são o resultado de uma maturação de
longo prazo.
O tempo, então, mostra que o presente é resultado daquilo que deu certo, mesmo sem
ser exatamente perfeito. A rejeição à utopia iluminista e o elogio às pulsões cognitivas
pré-racionais foram afirmadas também por outros autores conservadores que beberam
na fonte de Jüstus Möser.
 Retrato de Edmund Burke.
Tal como Möser, o político e jurista irlandês Edmund Burke também foi contemporâneo
da Revolução Francesa. Em 1791, no calor dos acontecimentos, Burke publicou suas
Considerações sobre a Revolução Francesa , livro que se tornaria um dos principais
tratados da Filosofia Política do fim do século XVIII e importante documento de fundação
do pensamento conservador.
A principal crítica de Burke aos revolucionários franceses referia-se ao que o autor
julgava ser uma atitude “prepotente diante da história”. Nas palavras do próprio Burke,
em discurso no parlamento britânico, posteriormente publicado em suas
Considerações :
HOJE, A FRANÇA ESTÁ ENTREGUE AO MAIS
LETAL ESTADO DE BARBÁRIE PORQUE A
SOCIEDADE FRANCESA ALIMENTOU AS
VULGATAS CANTADAS PELO AVENTUREIRO
VOLTAIRE, QUE JAMAIS FEZ JUS AO TÍTULO DE
FILÓSOFO, QUE SE ACHOU CAPAZ DE JOGAR NO
LIXO SÉCULOS E SÉCULOS DE CONHECIMENTO
ACUMULADO, MATURADO E CONSOLIDADO DA
MELHOR FORMA POSSÍVEL NESTE NOSSO
SÉCULO. PARA VOLTAIRE, TUDO ESTAVA
ERRADO, TUDO DEVERIA SER JOGADO FORA EM
FUNÇÃO DE UM CONHECIMENTO
COMPLETAMENTE NOVO, FORMADO NUM PONTO
ZERO DA HISTÓRIA E QUE PROMETIA O FUTURO
PERFEITO. AS ELITES CULTAS FRANCESAS
OUVIRAM VOLTAIRE, SEM IMAGINAR QUE POUCO
TEMPO DEPOIS JÁ NÃO MAIS TERIAM OS
OUVIDOS SOBRE SEUS PESCOÇOS.
(BURKE, 2014, p. 72)
Na citação fica muito claro o argumento, já visto anteriormente, desenvolvido por João
Pereira: o conservador não é igual ao reacionário, que fetichiza o passado como o
momento ideal, perfeito, defendendo o resgate daquilo que já passou. O fundamental
para o conservador é a noção de que o tempo é o juiz da história, a quem cabe submeter
as experiências humanas ao teste da sobrevivência.
O erro de Voltaire, nesse sentido, teria sido o de ignorar deliberadamente o repertório
acumulado, e testado, ao longo do tempo, idealizando um conhecimento meramente
especulativo, sem fundamentos concretos e ingênuo, na medida em que, pela lógica
inversa à do reacionário, idealizaria o futuro, visto como o desfecho do processo
histórico, como o ponto ideal da trajetóriahumana.
A Revolução Francesa, que, na avaliação de Burke, tem Voltaire como seu pai espiritual,
estaria levando a França à barbárie exatamente porque se achou capaz de refundar a
história a partir de um ponto zero, desprezando a memória das experiências acumuladas
ao longo do tempo. “Conservar”, para Burke, não significa evitar as mudanças, tampouco
ressuscitar o passado, mas, sim, caminhar à luz dos conhecimentos acumulados, manter
vivo o potencial pedagógico da tradição.
Foi exatamente esse o ponto retomado por Alexis de Tocqueville alguns anos depois.
Diferentemente de Burke, Tocqueville escreveu sobre a Revolução Francesa com algum
distanciamento histórico. Em 1856, publicou o livro O Antigo Regime e a Revolução , no
qual podemos encontrar reflexões muito semelhantes àquelas que foram desenvolvidas
por Edmund Burke, o que nos permite situar os dois autores como representantes de
uma mesma linhagem do pensamento político moderno: o conservadorismo.
Tal como Burke, Tocqueville sai em defesa da tradição, que teria sido violada pelo
“ímpeto patológico de renovação” dos revolucionários franceses. Diz Tocqueville:
 Retrato de Alexis de Tocqueville , por Théodore Chassériau (1850).
EMBORA A REVOLUÇÃO QUE SE OPERA NO
ESTADO SOCIAL, NAS LEIS, NAS IDEIAS, NOS
SENTIMENTOS DOS HOMENS ESTEJA BEM LONGE
DE TERMINAR, JÁ NÃO SE PODERIA COMPARAR
SUAS OBRAS COM NADA DO QUE FOI VISTO
ANTERIORMENTE NO MUNDO. REMONTO DE
SÉCULO EM SÉCULO ATÉ A ANTIGUIDADE MAIS
REMOTA: NÃO PERCEBO NADA QUE SE PAREÇA
COM O QUE ESTÁ DIANTE DOS MEUS OLHOS.
COMO O PASSADO NÃO ILUMINA MAIS O FUTURO,
O ESPÍRITO CAMINHA EM MEIO ÀS TREVAS.
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 32)
[OS JACOBINOS] TINHAM UMA PREDILECÇÃO
PELAS AMPLAS GENERALIZAÇÕES, PELOS
SISTEMAS LEGISLATIVOS FEITOS À PRESSA E
UMA HARMONIA PRETENSIOSA; O MESMO
DESPREZO PELAS COISAS DIFÍCEIS; O MESMO
GOSTO POR REFORMAR AS INSTITUIÇÕES EM
MOLDES NOVOS, ENGENHOSOS E ORIGINAIS; O
MESMO DESEJO DE REMODELAR TODA A
CONSTITUIÇÃO SEGUNDO AS REGRAS DA
LÓGICA E DE UM SISTEMA PRECONCEBIDO EM
VEZ DE TENTAR MELHORAR AS SUAS
PASSAGENS DEFEITUOSAS. O RESULTADO FOI
QUASE UM DESASTRE; POIS QUE O QUE
CONSTITUI MÉRITO NO ESCRITOR PODE BEM SER
UM VÍCIO NO ESTADISTA, ·E AQUELAS MESMAS
QUALIDADES QUE FAZEM A GRANDE LITERATURA
PODEM CONDUZIR A REVOLUÇÕES
CATASTRÓFICAS. [...] ATÉ A LINGUAGEM DOS
JACOBINOS ERA EM GRANDE PARTE TIRADA DOS
LIVROS QUE LIAM; ESTAVA CHEIA DE PALAVRAS
ABSTRACTAS, DISCURSOS FLOREADOS,
SONORAS FRASES FEITAS E JOGOS DE FRASES
LITERÁRIOS. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 68)
A leitura cuidadosa das duas citações nos permite perceber como Tocqueville relaciona o
desprezo revolucionário pela tradição com a formulação de ideias equivocadas,
puramente abstratas e sem amparo na realidade. Teria sido esse o grande crime
cometido pelos jacobinos: crentes de que tinham imaginado a ideologia perfeita,
dedicaram-se à implantação de suas ideias na realidade, a qualquer custo.
 Henri de La Rochejacquelein na brutal batalha de Cholet em 1793 , por Paul-Émile
Boutigny.
A certeza de que se tratava de um ideal superior fez com o que os revolucionários
relativizassem qualquer regulação ética em função da realização de seu projeto. O
resultado, nas palavras de Tocqueville, foi o “crime” e a “infâmia”, provocados pela utopia
futurista revolucionária, que levou os jacobinos a se acharem prontos o suficiente para
apagar a história, destruindo todo o legado acumulado, tratado como manifestação do
atraso a ser superado pela ação revolucionária.
O núcleo duro dessa reflexão também pode ser encontrado nos escritos de François-
René de Chateaubriand, que se dedicou a comparar a ideia de “liberdade” defendida
pelos líderes da “Revolução Americana” (a independência dos EUA, em 1776) com o
conceito de “liberdade” que inspirava os jacobinos durante a Revolução Francesa.
Escrevendo na década de 1830, Chateaubriand destacou as diferenças entre as duas
experiências revolucionárias que até então pautavam o imaginário político ocidental.
Para o autor, as lideranças coloniais da América Britânica estavam movidas por um ideal
superior de liberdade, desenvolvido à luz da tradição, de um ideal de justiça
desenvolvido com o tempo e que, desde meados do século XVIII, havia sido violentado
pelo parlamento britânica e sua “nova política colonial”. Diferente era o caso dos
revolucionários franceses, que desenvolveram sua utopia libertária no plano abstrato,
sem nenhum respaldo na tradição.
HÁ DUAS ESPÉCIES DE LIBERDADES
PRATICÁVEIS: UMA PERTENCE À INFÂNCIA DOS
POVOS; É FILHA DOS COSTUMES DA VIRTUDE; A
OUTRA NASCE DA VELHICE DOS POVOS; É FILHA
DAS LUZES E DA RAZÃO; É ESSA LIBERDADE
DOS ESTADOS UNIDOS. TERRA FELIZ QUE, EM
MENOS DE TRÊS SÉCULOS, PASSOU DE UMA
LIBERDADE À OUTRA QUASE SEM ESFORÇO,
COM UMA LUTA QUE DUROU APENAS OITO ANOS.
HOJE, O POVO AMERICANO É O MAIS LIVRE
ENTRE OS POVOS CIVILIZADOS. [...] JÁ A
LIBERDADE JACOBINA É FILHA DA IMAGINAÇÃO
E DA PREPOTÊNCIA DAQUELES QUE, JULGANDO
OCUPAR O TOPO DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA, SE
ACHARAM NO DIREITO DE LANÇAR AO FOGO
TUDO O QUE FOI ENSINADO PELAS GERAÇÕES
ANTERIORES.
(CHATEAUBRIAND, 1861, p. 23)
Novamente, encontramos a concepção de tempo típica da imaginação conservadora. O
passado não é visto como a instância imutável, mas sim como a luz que conduz, que
inspira as mudanças necessárias, e responsáveis, entendendo-se por “mudanças
responsáveis” as transformações que se processem no sentido de atualizar as tradições,
jamais de romper com elas.
A negação da ruptura é o elemento definidor da imaginação política conservadora. O
conservador é reformista, reconhece que é necessário adaptar o que já existe às novas
circunstâncias, melhorar aquilo que está disponível, entender que algo deve ser
preservado, conservado, para que seja possível existir algum vínculo de solidariedade
entre as gerações.
 RESUMINDO
Jüstus Möser, Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e François-René de Chateaubriand
reagiram à modernidade que marcou o mundo em que viveram, atravessado pela ideia
de revolução, pela crença de que a história é um processo em marcha evolutiva
orientada para o futuro e que o passado é o atraso que precisa ser superado. Ao criticar
essas ideias dominantes, os autores acabaram propondo uma modernidade alternativa,
conservadora, reformista, crítica à abstração revolucionária e defensora do potencial
pedagógico das experiências acumuladas no tempo, da tradição.
Na próxima seção, estudamos o liberalismo, outra ideologia política moderna, rival da
conservadora, e um dos desdobramentos do imaginário revolucionário que se consolida
na Europa ocidental na segunda metade do século XVIII.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O CONSERVADORISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Distinguir a ideologia política liberal, um dos desdobramentos do pensamento
progressista que fundou a Modernidade
ASSISTA A UM VÍDEO QUE APRESENTA UMA
REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS
CONCEPÇÕES DE PODER POLÍTICO E DE
ESTADO DE NATUREZA DO SER HUMANO.
LIBERALISMOS MODERNOS
 Topo da representação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em
1789, pintura de Jean-Jacques-François Le Barbier.
Tal como acontece com o termo “conservador”, a palavra “liberal” também é bastante
utilizada no debate político, sendo bastante polissêmica. O que significa ser “liberal”
no Brasil é algo bastante diferente do que significa ser liberal nos Estados Unidos.
É exatamente por conta dessa polissemia que o correto é falar em “liberalismos”, no
plural. Porém, é importante saber que, antes dessa pluralidade toda, formou-se, na
especificidade da conjuntura europeia, um repertório de ideias baseado em certa noção
de “liberdade”. Na definição proposta pelo cientista político Nicola Tranfaglia:
É NESTES DEBATES POLÍTICOS QUE COMEÇAM A
SE DEFINIR, NUCLEARMENTE, OS PRINCÍPIOS DO
LIBERALISMO. PORÉM, A VERDADEIRA E
AUTÔNOMA FACE DO LIBERALISMO, SE
MANIFESTA SOMENTE NA RESPOSTA, POR ELE
DADA,AO PROBLEMA DA RUPTURA DA UNIDADE
RELIGIOSA, RESPOSTA QUE, NUM PRIMEIRO
MOMENTO, SE CHAMA TOLERÂNCIA E, NUM
SEGUNDO MOMENTO, LIBERALIDADE RELIGIOSA:
A LIBERDADE RELIGIOSA É O BERÇO DA
LIBERDADE MODERNA.
(TRANFAGLIA, 2000, p. 687)
Aquilo que hoje chamamos de liberalismo, portanto, antes de ser uma corrente do
pensamento político ocidental moderno, é um conjunto de princípios que nasceram na
realidade concreta da história europeia, começando pelo século XVI, na conjuntura das
guerras civis religiosas.
Depois de décadas de conflitos motivados por divergências religiosas, as sociedades
europeias pactuaram o princípio da liberdade do culto privado. Tratou-se de uma
resolução de ordem pragmática, desenvolvida em primeiro momento pelas pessoas
comuns, em suas vivências práticas. Se as guerras civis religiosas estavam ceifando
vidas, paralisando a atividade econômica, por que não pactuar um acordo segundo o
qual cada um, nos limites de sua casa, pudesse seguir a religião que bem entendesse?
Em um segundo momento, essa resolução pragmática foi teorizada pelos pensadores da
época, com destaque para John Locke (1632–1704), como veremos a seguir. Os
grandes pensadores não criam a realidade, pois esta não é criada a partir de uma
formulação filosófica. O que os grandes pensadores fazem é teorizar com excelência, é
verbalizar com argumentos lógicos e coerentes aquilo que está acontecendo em suas
sociedades, legando para a posteridade valiosos testemunhos sobre suas atmosferas de
época.
 Retrato de John Locke , por Godfrey Kneller (1697).
ORIGEM
 Fuzilamento dos Torrijos e seus companheiros nas praias de Málaga , por Antonio
Gisbert (1888), representa as medidas repressivas tomadas pelo rei espanhol Fernando
VII contra as forças liberais em seu país.
O liberalismo, então, começa em uma situação de urgência histórica, na qual sociedades
estruturalmente colapsadas entenderam que era necessário fazer algo, pactuar
princípios que tornassem possível a vida coletiva com mínima insegurança e com
estabilidade e previsibilidade. Os princípios pactuados naquele momento e que até hoje
são inegociáveis para nós são os seguintes:
A divisão do mundo em duas esferas: a pública e a privada. A esfera pública é o
espaço da regulação, da autoridade dos poderes legitimados socialmente. A esfera
privada é o espaço das liberdades domésticas, da autoridade da casa, em que os
governantes não podem interferir.
Entre essas liberdades domésticas, está o livre direito ao culto privado. Assim, cada
um, nos limites de sua casa, exerceria a religião que melhor fosse ao encontro de
suas convicções pessoais. Nessa lógica, não há sentido nas guerras civis
religiosas.
A propriedade privada é um bem tão sagrado como a vida.
O primeiro autor a organizar esses valores em um sistema de pensamento lógico e
dotado de coerência interna foi o filósofo inglês John Locke, que figura nos manuais de
história da Filosofia como o pai do liberalismo. Em 1689, Locke publicou Dois tratados
sobre o governo , que seria considerado o texto de fundação do liberalismo político.
Podemos encontrar sistematizados valores que hoje estruturam as nossas sensibilidades
políticas. A ideia de que as “paredes da casa” são a “fortaleza da liberdade individual” é
sagrada para qualquer um de nós, que tem sua vida privada protegida por volumosa
legislação, pelo menos nos países sob inspiração da cultura jurídica ocidental.
Na segunda citação, Locke positiva o valor do trabalho, entendido como comportamento
ativo de apropriação daquilo que está naturalmente dado pela natureza, mas cujo
consumo só é possível mediante ação deliberada e organizada racionalmente, ou seja,
trabalho. É importante perceber que o pensamento de Locke não está associado ao
regime produtivo capitalista, que somente se constituiria como realidade histórica
consolidada no século XIX, após a Revolução Industrial.
A preocupação política/filosófica de Locke é estabelecer limites para o poder do
Estado, salvaguardando a liberdade individual, entendida pelo autor como o direito de
livre movimentação do corpo, sem constrangimentos externos ao próprio corpo. Com
isso, podemos concluir que o encontro entre o liberalismo e o capitalismo aconteceu
tardiamente, pois o liberalismo tem trajetória histórica independente do capitalismo. Em
Dois tratados sobre o governo , Locke formulou os valores fundamentais do Estado
liberal. Esse aspecto do liberalismo lockeano foi analisado por Nicola Tranfaglia.
LOCKE, INDO MAIS ADIANTE, REIVINDICA, NO
CAMPO POLÍTICO, A AUTONOMIA DA LEI MORAL
OU “FILOSÓFICA”, EM RELAÇÃO À LEI CIVIL, OU
SEJA, DO PODER ESPIRITUAL DO JUÍZO MORAL
QUE É ATRIBUIÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA.
SOMENTE NA CONSTRUÇÃO TEÓRICA DO
UTILITARISMO INGLÊS, CRITICADO JUSTAMENTE
POR JOHN STUART MILL, NÃO ENCONTRAMOS
ESTE ELEMENTO ÉTICO. ESTA DEFESA DA
AUTONOMIA MORAL DO INDIVÍDUO PROVOCA
UMA CONCEPÇÃO DE RELATIVISMO, QUE ACEITA
O PLURALISMO DOS VALORES COMO ALGO
POSITIVO PARA TODA A SOCIEDADE, A
IMPORTÂNCIA DA DISSENÇÃO, DO DEBATE E DA
CRÍTICA E NÃO RECUA DIANTE DO CONFLITO E
DA COMPETIÇÃO. A ÚNICA LIMITAÇÃO, PARA O
CONFLITO E A COMPETIÇÃO, É A NECESSIDADE
DE SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO NOS COSTUMES
MEDIANTE A TOLERÂNCIA, NA POLÍTICA
MEDIANTE INSTITUIÇÕES SIGNIFICATIVAS, QUE
GARANTAM O DEBATE, E MEDIANTE NORMAS
JURÍDICAS GERAIS, UMA VEZ QUE SOMENTE NO
DIREITO É POSSÍVEL ENCONTRAR UM CRITÉRIO
DE COEXISTÊNCIA ENTRE AS LIBERDADES E/OU
AS ARBITRARIEDADES DOS INDIVÍDUOS. UM TAL
RELATIVISMO NÃO É EXPRESSÃO DE CETICISMO,
E SIM DE ANTIDOGMATISMO, VISTO PRESSUPOR
UMA TOTAL CONFIANÇA NA CAPACIDADE
CRÍTICA DO PENSAMENTO, PRESENTE NA
CULTURA ILUMINISTA, BEM COMO NA CULTURA
HISTORICISTA, DESEMBOCADAS AMBAS — A
PARTIR DE ASPECTOS DIVERSOS E DE
DIFERENTES CONTEXTOS — NO LIBERALISMO
QUE NOS É CONTEMPORÂNEO.
(TRAFAGLIA, 1995, p. 701)
Uma das principais colaborações de Locke ao liberalismo foi a ideia de “lei moral ou
filosófica”, que nada mais é do que aquilo que hoje nós podemos chamar de opinião
pública. A lei moral seria, para Locke, a média dos valores compartilhados pela
sociedade, e deveria servir como principal modelo para o poder político, responsável por
elaborar a “lei civil”, a legislação oficial do Estado cujo objetivo é regular a vida em
comunidade. A lei civil, portanto, na lógica lockeana, não deve ser formalizada a partir
dos interesses dos governantes, mas a partir dos valores e desejos da sociedade civil,
consolidados nos costumes.
Temos aqui o deslocamento da soberania do Estado para a sociedade civil, o que é
fundamental para o liberalismo. O Estado deixa de ser a manifestação do poder de Deus
e passa a existir em função da sociedade, tutelado por ela, e a sociedade é formada por
indivíduos livres. Em Locke, podemos encontrar os fundamentos conceituais daquilo que
posteriormente seria conhecido como “Estado Liberal”.
CULTURA DO LIBERALISMO POLÍTICO
Após o século XVIII, o liberalismo deixou de ser apenas um repertório de ideias e valores
cujo objetivo era proteger as liberdades individuais dos assédios do Estado, passando a
fazer parte da cultura histórica moderna.
A partir dos estudos do já citado historiador alemão Reinhart Koselleck, a Modernidade
foi fundada no século XVIII por uma nova forma de perceber o tempo, em que a história
é lida como potência em eterno movimento, impulsionada por forças motoras e orientada
para o futuro, entendido como progresso.
É como se a convicção da época fosse a de que o tempo traz melhoras na vida e o
futuro será sempre evolução em relação ao presente, assim como o presente será
evolução em relação ao passado.
Com essa convicção, desenvolveram-se diversas filosofias da história, cada qual tendo
sua própria leitura do processo histórico, tendo seu projeto utópico, sua concepção de
futuro. O liberalismo é uma dessas filosofias da história, baseado nos seguintes
princípios:
A busca pela liberdade (entendida como a liberdade individual, do corpo físico) é a
potência que move a história humana.O movimento histórico caminha sempre da situação de menos liberdade, e de mais
tirania, para a situação de mais liberdade, e de menos tirania.
A utopia liberal idealiza uma situação de plenas liberdades individuais, em que o
Estado teria suas competências tão reduzidas a ponto de possibilitar às pessoas
um tipo de vida similar ao das liberdades naturais, pré-sociais.
 Retrato de John Stuart Mill em 1870.
Esses princípios foram explorados por diversos pensadores liberais ao longo dos séculos
XIX e XX, o que nos mostra uma tradição de pensamento plural e diversificada.
Concentraremos nossos esforços no filósofo britânico John Stuart Mill (1806–1873),
que trouxe a liberdade para o primeiro plano de suas reflexões, tendo contribuído para o
desenvolvimento da cultura jurídica que deu origem ao Estado de direito.
O texto mais importante de Stuart Mill foi o ensaio Sobre a liberdade , publicado pela
primeira vez em 1859. No texto, Mill critica a doutrina dos direitos naturais, que havia
animado os revolucionários tanto em França como nos EUA, e que afirmava a
existência de direitos atribuídos diretamente por Deus aos homens e que não
poderiam ser alienados pelo poder civil.
Como Mill fazia parte da corrente utilitarista do pensamento liberal, materialista e ateia, a
existência de Deus era negada, o que reforçava ainda mais a importância da lei civil,
pactuada pela sociedade. Caberia, então, à lei dos homens garantir a “boa vida”, que, no
utilitarismo de Mill, significa a maior situação de liberdade possível. “Liberdade”, na
concepção de Mill, significa viver em um Estado de direito. Nas palavras do próprio autor:
É PARA CADA UM O DIREITO DE NÃO SE
SUBMETER SENÃO ÀS LEIS, DE NÃO PODAR SER
PRESO, NEM DETIDO, NEM CONDENADO, NEM
MALTRATADO DE NENHUMA MANEIRA, PELO
EFEITO DA VONTADE ARBITRÁRIA DE UM OU DE
VÁRIOS 1INDIVÍDUOS. É PARA CADA UM O
DIREITO DE DIZER SUA OPINIÃO, DE ESCOLHER
SEU TRABALHO E DE EXERCÊ-LO; DE DISPOR DE
SUA PROPRIEDADE, ATÉ DE ABUSAR DELA; DE IR
E VIR, SEM NECESSITAR DE PERMISSÃO E SEM
TER QUE PRESTAR CONTA DE SEUS MOTIVOS OU
DE SEUS PASSOS. É PARA CADA UM O DIREITO
DE REUNIR-SE A OUTROS INDIVÍDUOS, SEJA
PARA DISCUTIR SOBRE SEUS INTERESSES, SEJA
PARA PROFESSAR O CULTO QUE ELE E SEUS
ASSOCIADOS PREFERIREM, SEJA
SIMPLESMENTE PARA PREENCHER SEUS DIAS E
SUAS HORAS DE MANEIRA MAIS CONDIZENTE
COM SUAS INCLINAÇÕES, COM SUAS FANTASIAS.
ENFIM, O DIREITO, PARA CADA UM, DE INFLUIR
SOBRE A ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNO, SEJA
PELA NOMEAÇÃO DE TODOS OU DE CERTOS
FUNCIONÁRIOS, SEJA POR REPRESENTAÇÕES,
PETIÇÕES, REIVINDICAÇÕES, ÀS QUAIS A
AUTORIDADE É MAIS OU MENOS OBRIGADA A
LEVAR EM CONSIDERAÇÃO. COMPARAI AGORA A
ESTA A LIBERDADE DOS ANTIGOS.
(MILL, 1990, p. 3)
Como podemos perceber, a utopia idealizada por Mill não pode ser definida,
simplesmente, como o mundo das liberdades totais. Não se trata, de forma alguma, do
mundo das liberdades irrefreadas. Há a possiblidade do poder e da dominação no
pensamento político de Mill, desde que venha da lei, entendida aqui como contrato
coletivamente construído. O Estado de liberdade de que fala Stuart Mill é o Estado de
direito, o que torna o autor herdeiro de Locke e nome incontornável na tradição político-
jurídica que, no século XIX, seria a responsável pela invenção do Estado liberal, e que
contaria ainda com outros nomes, como Montesquieu (1689–1755).
 Retrato de Montesquieu .
Já Spencer, Keynes e Mises estavam preocupados com as questões econômicas que
vieram à luz a partir do século XIX, nas modernas sociedades de massa industrializadas.
Os três autores, cada um a seu modo, debruçaram-se sobre os temas da distribuição da
riqueza social e da pobreza material. Entender melhor os argumentos deles nos ajuda a
compreender a dinâmica dos conflitos sociais e políticos que atravessaram o século XX e
chegaram até nós.
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HERBERT SPENCER
Filósofo britânico (1820 – 1903).
JOHN MAYNARD KEYNES
Economista britânico (1883 – 1946).
LUDWIG VON MISES
Economista austríaco (1881 – 1973).
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O LIBERALISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Localizar o surgimento da ideologia nacionalista ao longo do século XIX
ASSISTA A UM VÍDEO QUE ABORDA OS
CONCEITOS DE NAÇÃO E DE
NACIONALISMO.
NACIONALISMO
 O sonho das repúblicas democráticas e sociais mundiais , gravura de Frédéric
Sorrieu (1848).
No fim do século XVIII, começou a nascer na Europa o nacionalismo, que se espalharia
pelo mundo nos séculos XIX e XX, transformando-se na principal ideologia moderna.
Não seria exagerado dizer que toda a história humana, do século XVIII ao século XXI,
foi, em alguma medida, pautada pelo nacionalismo. Mas o que seria, exatamente, o
nacionalismo?
É impossível definir o nacionalismo sem dedicar alguma atenção ao seu conceito-base:
nação. O historiador britânico Eric Hobsbawm nos apresenta definições das ideias de
nação e nacionalismo que são importantes para este estudo.
 RESUMINDO
A nação, portanto, não é um dado elementar da realidade, organização natural das
coletividades humanas. A nação, entes de tudo, é uma elaboração conceitual resultando
do sistema de pensamento nacionalista, que está fundamentado na tese de que a vida
social humana somente é possível em comunidade nacional, na qual cidadãos que
compartilham valores culturais, religiosos e linguísticos estão irmanados por vínculos
identitários e de solidariedade, submetidos às mesmas estruturas de poder.
 Retrato de Maximilien de Robespierre .
O processo de afirmação e consolidação histórica dessas categorias foi complexo e
contraditório, sendo diretamente marcado pelos principais eventos da história mundial
nos últimos trezentos anos. O berço do nacionalismo foi a França revolucionária, como
testemunha Maximilien de Robespierre (1758–1794), líder jacobino e um dos
protagonistas da Revolução Francesa:
NOS ESTADOS ARISTOCRÁTICOS A PALAVRA
“PÁTRIA” TEM SENTIDO UNICAMENTE PARA AS
FAMÍLIAS ARISTOCRÁTICAS, ISTO É, PARA OS
QUE SE APODERARAM DA SOBERANIA. SOMENTE
NA DEMOCRACIA O ESTADO É REALMENTE A
PÁTRIA DE TODOS OS INDIVÍDUOS QUE O
COMPÕEM E PODE CONTAR COM UM NÚMERO DE
DEFENSORES, PREOCUPADOS PELA SUA CAUSA,
TÃO GRANDE QUANTO O NÚMERO DE SEUS
CIDADÃOS.
(ROBESPIERRE apud LEVI, 2000, p. 800)
As palavras do líder revolucionário francês apontam para a relação entre nação,
nacionalismo e democracia, entendida aqui como situação política vocacionada para a
ampliação de direitos. O que os revolucionários estavam propondo, especialmente
durante o “terror jacobino”, momento mais radical da Revolução Francesa (1792–1794),
era a inclusão do “povo” no território imaginado da “pátria”, que, no vocabulário político
da revolução, significava o acesso às liberdades fundamentais, aos direitos políticas e ao
conforto material.
A ruptura com o Estado aristocrático, que somente poderia ser feita por meio da guerra
revolucionária, significava expandir o alcance da pátria. Agora, o ingresso na “pátria”
passaria a se dar não com base no princípio da distinção natural, característica das
sociedades aristocráticas, mas sim a partir da noção de igualdade natural entre todos
aqueles que pudessem ser definidos como “franceses”, incluindo as pessoas
escravizadas nos territórios coloniais. Nas palavras do cientista político italiano Lucio
Levi:
FOI ASSIM QUE A NAÇÃO FOI SE TORNANDO A
FÓRMULA POLÍTICA EM QUE A BURGUESIA, NUM
PRIMEIRO MOMENTO, AS CLASSES MÉDIAS, A
SEGUIR, E O POVO TODO, MAIS TARDE,
IDENTIFICARAM A AFIRMAÇÃO DE SEUS DIREITOS
E O PROGRESSO DAS CONDIÇÕES MATERIAIS
CONTRA OS PRIVILÉGIOS E A DOMINAÇÃO
ARBITRÁRIA DOS MONARCAS, DA ARISTOCRACIA
E DO CLERO.
(LEVI, 2000, p. 800)
Em seu primeiro momento, então, o nacionalismo esteve associado à noção de
soberania popular, tal como havia sido formulada por Jean Jacques Rousseau (1712–
1778), um dos “pais espirituais” da Revolução Francesa. No tratado Contrato Social ,
publicadopela primeira vez em 1762, Rousseau desenvolveu conceitualmente o
deslocamento da soberania que se tornaria elementar para a democracia moderna e
para o novo conceito de “povo” que se afirmaria na Revolução Francesa. Nas palavras
do filósofo:
 Retrato de Jean-Jacques Rousseau , por Maurice Quentin de La Tour.
O ESTADO NÃO É DOMÍNIO PESSOAL DO
PRÍNCIPE, MAS PERTENCE AO POVO,
CONSTITUÍDO PELO CONJUNTO DE CIDADÃOS E
NÃO DE SÚDITOS. O ESTADO DEVE ENCARNAR
OS INTERESSES DO POVO E NÃO OS INTERESSES
DO PRÍNCIPE E DA NOBREZA. O ESTADO
SOBERANO É AQUELE QUE EXISTE EM FUNÇÃO
DO SEU POVO, QUE NÃO POUPA ESFORÇOS
PARA LEVAR FELICIDADE PARA O SEU POVO. SE
O ESTADO NÃO CUMPRE ESSE PAPEL, É DIREITO
DO POVO MUDAR A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
(ROUSSEAU, 2011, p. 33)
Haveria, para Rousseau, uma relação contratual entre o Estado, estrutura de poder
controlada pelos governantes, e o povo, a totalidade das pessoas que habita
determinado território cercado por fronteiras. Esse contrato, ao contrário do que
afirmavam as teologias políticas do Antigo Regime, não era legitimado por Deus, mas
sim por uma troca de interesses entre racionalidades distintas. De um lado, a
racionalidade do Estado, com o objetivo de governar; do outro, a racionalidade do povo,
interessado na “felicidade e no bem-viver”, para falar como o próprio Rousseau.
Se o Estado não cumpre sua parte no contrato, nada mais obriga o povo a cumprir a sua,
ou seja, a permitir que aquele tipo de Estado continue existindo, que aquelas pessoas
continuem governando. Nesse momento, a guerra revolucionária é legítima, para que o
Estado volte a, de fato, atender aos interesses do povo. Em Rousseau, o Estado não é
soberano em si. Sua soberania foi delegada pelo povo, pois pertence a ele.
NACIONALISMO E REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
Outro momento decisivo para o nacionalismo foi a Revolução Industrial, que aconteceu
entre o fim do século XVIII e meados do século XIX. Em síntese, podemos definir a
Revolução Industrial como as mudanças estruturais ocorridas no processo de
transformação de matéria-prima em produto acabado. O processo produtivo foi
mecanizado, racionalizado, em um crescimento de eficiência inédito na história humana.
O resultado disso foi percebido em todas as esferas da vida, com destaque para o
deslocamento de grande quantidade de pessoas para as cidades, estendendo as
relações de troca e de trabalho para espaços mais ampliados do que as comunidades
tradicionais, onde a vida produtiva se dava por meio do artesanato e de outras formas de
trabalho manual. Novamente, é o cientista político Lucio Levi quem nos ajuda na
compreensão.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL QUEBRA AS
PEQUENAS UNIDADES PRODUTIVAS AGRÍCOLA-
ARTESANAIS E AS LIMITADAS COMUNIDADES
QUASE NATURAIS E TRADICIONAIS, QUE
REPRESENTAVAM OS HORIZONTES DE VIDA DA
GRANDÍSSIMA MAIORIA DA POPULAÇÃO, E
AMPLIA ENORMEMENTE O CONTEXTO
ECONÔMICO-SOCIAL A QUE O INDIVÍDUO
PERTENCE. CONSEQUENTEMENTE, LIGOU-SE AO
ESTADO UM NÚMERO CRESCENTE DE
COMPORTAMENTOS, UMA VEZ QUE OS
INDIVÍDUOS PASSARAM A EXIGIR A INTERVENÇÃO
DESTE A FIM DE GARANTIR A EVOLUÇÃO
ORDENADA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NO ÂMBITO
NACIONAL.
(LEVI, 2010, p. 802)
Se a Revolução Francesa fez do nacionalismo um discurso de ampliação de direitos
considerados fundamentais, a Revolução Industrial condicionou o nacionalismo a um
planejamento racionalizado e centralizado da atividade social e econômica. Agora, além
de cidadão, o indivíduo passa a ser tratado como unidade produtiva, como alguém que
teria, entre suas atribuições cívicas, a colaboração para o crescimento da riqueza
nacional. Outra mudança importante no ideário nacionalista viria na década de 1870,
com a unificação da Alemanha.
 O príncipe Frederico Carlos da Prússia dá ordem de ataque às suas tropas
eufóricas, na Batalha de Königgrätz.
Em 1871, após uma série de conflitos, com destaque para a Guerra Franco-Prussiana,
nasceu o Estado-nacional alemão. Inspirada em ideias nacionalistas, a unificação alemã
trouxe a expansão imperialista e o belicismo para o repertório nacionalista, escanteando
o ideário de cooperação transnacional e de fraternidade universal que pautou a ideologia
nos anos da Revolução Francesa. O Estado-nacional alemão nasceu impulsionado pela
doutrina da expansão do espaço vital, questionando as pretensões territoriais da
Inglaterra, a principal potência da época.
O surgimento da Alemanha foi o marco inaugural de constante movimentação militar na
Europa que se estenderia até metade do século XX, envolvendo, inclusive, duas guerras
mundiais. O ideólogo nacionalista italiano Giuseppe Mazzini (1805–1872) viu com
preocupação o nacionalismo belicista alemão.
EM NADA O NACIONALISMO DA JOVEM NAÇÃO
ALEMÃ LEMBRA O NACIONALISMO DOS ANOS DA
REVOLUÇÃO, ONDE A FRATERNIDADE
UNIVERSAL E A PAZ MUNDIAL APONTAVAM PARA
UM MUNDO FORMADO POR NAÇÕES CAPAZES DE
RESPEITAR A AUTO-DETERMINAÇÃO UMAS DAS
OUTRAS. O QUE VEMOS HOJE É A ASSOCIAÇÃO
DO NACIONALISMO COM A GUERRA, COM AS
RIVALIDADES E COM DISCÓRDIA ENTRE OS
HOMENS. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MAZINNI apud LEVI, 2011, p. 802)
UM BARRIL DE PÓLVORA PRESTES A
EXPLODIR
 Grandes canhões fabricados pela Bethlehem Steel Company (empresa siderúrgica
dos Estados Unidos) em 1918.
O desenlace dos acontecimentos mostrou que a intuição de Mazinni estava correta.
Cada vez mais, o sistema internacional europeu se tornava um barril de pólvora,
atravessado por tensões e rivalidades que envolviam as grandes potências da época,
como França, Inglaterra e Alemanha.
Veio à luz, nesse momento, outra tradição do pensamento político nacionalista, bem
diferente daquela de Rousseau, Robespierre e do próprio Mazinni. Na França, o
nacionalismo xenófobo e de extrema-direita teve no poeta e político Charles Maurras
(1868–1952) o seu principal representante. Maurras foi diretor do jornal Action
Française , no qual difundiu aquilo que ele mesmo chamava de “nacionalismo integral”,
que pregava o ódio aos ingleses, alemães, judeus e a tudo aquilo que pudesse
comprometer o que ele entendia como a “genuína nacionalidade francesa”.
Na Alemanha, tem destaque a figura de Alfred Hugenberg (1865–1951), empresário e
político bastante influente durante os anos da República de Weimar (1918–1925),
quando a Alemanha foi governada por uma constituição liberal-democrática. Hugenberg
foi um dos grandes opositores do regime de Weimar, liderando um movimento
nacionalista radical que por anos colaborou com o Partido Nacional-Socialista, liderado
por Adolf Hitler (1889–1945).
 Hitler com membros do Partido Nazista em 1930.
Na Itália, o romancista Enrico Corradini (1865–1931) produziu muitos textos
propagandeado o radicalismo nacionalista, tendo sido um dos inspiradores do fascismo
liderado por Benito Mussolini (1883–1945).
O que podemos perceber é que, no fim do século XIX, a ideologia nacionalista
abandonou os ideais democráticos de soberania popular e até mesmo a pretensão do
planejamento econômico para sucumbir à xenofobia e à ambição de expansão militar,
tornando-se, assim, prelúdio do nazifascismo que, como veremos na próxima seção,
desestabilizou o sistema internacional na primeira metade do século XX.
EXISTE UMA RELAÇÃO MUITO ESTREITA ENTRE O
PROGRAMA POLÍTICO DO MOVIMENTO
NACIONALISTA E O DO FASCISMO E DO NAZISMO.
O NACIONALISMO É UM COMPONENTE
ESSENCIAL DAS IDEOLOGIAS FASCISTA E
NAZISTA. PORÉM, O MOVIMENTO NACIONALISTA
NUNCA CHEGOU A SER, DIFERENTEMENTE DO
FASCISTA E DO NAZISTA, UM MOVIMENTO DE
MASSA. O NAZI-FASCISMO, COMO
MANIFESTAÇÃO DA FASE MÁXIMA DE
DEGENERESCÊNCIA DO ESTADO NACIONAL, FOI
UMA TENTATIVA PARA IR CONTRA A LINHA
EVOLUTIVA DA HISTÓRIA, FOI A EXPRESSÃO DA
VONTADE DE SOBREVIVÊNCIA DO ESTADO
NACIONAL NUMA CONJUNTURA HISTÓRICO-
SOCIAL NOVA. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(LEVI, 2011, p. 805)
Não seria exagerado dizer que o nacionalismo foi a mais vitoriosa entre todas as
ideologias modernas. Mais que o conservadorismo, o liberalismo, o comunismo e o
fascismo, o nacionalismo mostrou grande capacidade de sobrevivênciano tempo,
estruturando, até hoje, a vida coletiva em, absolutamente, todos os lugares do mundo.
Segundo o cientista político inglês Benedict Anderson, o nacionalismo é o principal
sistema de crença já inventado pela humanidade.
Essa crença é muito forte e foi difundida pelo mundo nas experiências de emancipação
nacional que aconteceram na América, na África e na Ásia entre os séculos XIX e XX,
fundada naquilo que Anderson chama de “comunidade imaginada”: uma abstração,
artificial, inventada, que, ao longo da modernidade, inspirou identidade, arte e cultura,
mas também violência e morte. A seguir, estudaremos o desdobramento mais perverso
do nacionalismo, corrente ideológica que transformou a política na indústria da morte.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O NACIONALISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
 Reconhecer o desenvolvimento dos fascismos na primeira metade do século
XX
ASSISTA AGORA A UM VÍDEO QUE
REPRODUZ UM DOS DISCURSOS DE
MUSSOLINI E PROPÕE UMA BREVE
REFLEXÃO SOBRE O IDEAL DO HOMEM
FASCISTA.
NAZIFASCISMO
 Adolf Hitler faz um discurso na Kroll Opera House aos homens do Reichstag sobre o
assunto Roosevelt e a guerra no Pacífico, declarando guerra aos Estados Unidos.
A história da primeira metade do século XX foi marcada pelo fortalecimento de ideologias
políticas autoritárias e violentas, que transformaram o Estado em máquina de
extermínio e perseguição. Trabalharemos, aqui, com as duas manifestações clássicas
dessas ideologias: o nazismo alemão e o fascismo italiano, que desestabilizaram o
sistema internacional nas décadas de 1930 e 1940.
 Benito Mussolini e Adolf Hitler durante a visita de Mussolini a Munique, em 19 de
junho de 1940.
Esses regimes deixaram a semente do autoritarismo e do terrorismo de Estado
plantados na cultura política ocidental. Até hoje, no século XXI, podemos observar, nos
EUA, na América do Sul e em diversas outras partes do mundo, lideranças políticas e
governos que se inspiram nos valores nazifascistas.
No caso alemão, segundo os estudos do cientista Karl Dietrich Bracher, a ascensão do
nazismo deve ser explicada a partir de duas matrizes distintas. A primeira se refere,
como já vimos na seção anterior, ao nacionalismo agressivo e militarizado
protagonizado no século XIX pela Prússia, Estado que liderou o processo de unificação
da Alemanha. A segunda está na derrota alemã na Primeira Guerra Mundial (1914–1918)
e nas sanções que a comunidade internacional impôs ao país.
COMO FENÔMENO HISTÓRICO, O NACIONAL-
SOCIALISMO TEM QUE SER DEFINIDO
FOCALIZANDO DOIS NÍVEIS PRINCIPAIS: COMO
REAÇÃO DIRETA À PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E
A SUAS CONSEQUÊNCIAS, PORÉM, TAMBÉM,
COMO RESULTADO DE TENDÊNCIAS E IDEIAS
BEM MAIS ANTIGAS, RELACIONADAS COM A
PROBLEMÁTICA DA UNIFICAÇÃO POLÍTICA E DA
MODERNIZAÇÃO SOCIAL — PROBLEMÁTICA QUE
DOMINA O DESENVOLVIMENTO ALEMÃO DESDE O
COMEÇO DO SÉCULO XIX.
(BRACHER, 2000, p. 807)
Segundo o autor, o fundamental para a compreensão da ascensão do nazismo ao
controle do Estado alemão foi a combinação de uma retórica nacionalista fundada no
princípio da expansão vital, que inspirou a unificação alemã em meados do século XIX, e
o trauma da derrota da Primeira Guerra Mundial. No momento em que a Alemanha se
tornou pária no sistema internacional europeu após o fim do conflito, a ideologia
nacionalista, em toda sua agressividade, foi acionada pelas lideranças nazistas para
insuflar a sociedade civil alemã em um desejo coletivo de revanche.
CONTEXTO
 Tropas alemãs entram em Saaz (cidade na atual República Tcheca) em 1938.
Sem dúvida alguma, a Alemanha foi a grande derrotada na Primeira Guerra Mundial,
sendo o Tratado de Versalhes, armistício assinado em 1918, o grande símbolo da nova
ordem que se estabeleceu após o conflito. O Tratado de Versalhes impôs diversas
sanções à Alemanha, indo desde indenizações que deveriam ser pagas aos países
vencedores (Inglaterra e França, por exemplo), passando por concessões territoriais
(como a Alsácia e Lorena, na fronteira com a França) e chegando até a proibições no
que se refere à organização das forças armadas. Foi um golpe duro na autoestima do
povo alemão, algo que foi potencializado pelo ex-militar austríaco Adolf Hitler, que
rapidamente se tornou uma das principais lideranças do partido nazista.
EM TERMOS DE PSICOLOGIA SOCIAL, ELE
[HITLER] REPRESENTA O HOMEM COMUM, EM
POSIÇÃO DE SUBORDINAÇÃO, ANSIOSO PARA
COMPENSAR SEUS SENTIMENTOS DE
INFERIORIDADE ATRAVÉS DA MILITÂNCIA E DO
RADICALISMO POLÍTICO. SEU NASCIMENTO NA
ÁUSTRIA, SEU FRACASSO NA ESCOLA E NA
PROFISSÃO E A EXPERIÊNCIA LIBERTADORA DA
CAMARADAGEM MASCULINA DURANTE A
GUERRA, FORJARAM, AO MESMO TEMPO, SUA
VIDA E A IDEOLOGIA DO NACIONAL-SOCIALISMO.
(BRACHER, 2000, p. 810)
Militar de baixa patente sem grandes feitos militares, artista frustrado pelo não
reconhecimento do mercado cultural, é como se Hitler representasse a própria Alemanha
naquela conjuntura: apequenado, menosprezado e com ódio, muito ódio. Foi nas franjas
desse ressentimento coletivo que o Partido Nacional-Socialista (“socialista”, aqui, não
tem nenhuma relação com o socialismo, sistema social e político idealizado por Karl
Marx), foi ganhando força e se tornando popular.
O nazismo foi se construindo na prática política sem se inspirar em grandes tratados de
delimitação conceitual. Porém, se quisermos encontrar um “teórico do nazismo”,
podemos destacar o escritor Alfred Rosenberg (1893–1946), autor do livro O mito do
século XX , publicado pela primeira vez em 1930. Rosenberg chegou a ser ministro de
Hitler, participando ativamente da deportação e do extermínio de milhares de pessoas.
O grande argumento de Rosenberg apontava para a incapacidade da República de
Weimar — regime político liberal-democrático que governou a Alemanha entre 1918 e
1933 — de promover a “restauração da grandeza alemã”. Toda a propaganda política
nazista, dirigida pessoalmente por Joseph Goebbels (1897–1945), o “marqueteiro de
Hitler”, investiu na acusação de fraqueza para deslegitimar o regime de Weimar.
 Alfred Rosenberg.
Outro fator explorado pela propaganda foi o medo das elites perante o fortalecimento do
socialismo após 1918, com a Revolução Russa. Até então, muitos analistas, incluindo o
próprio Karl Marx, acreditavam que a Alemanha seria o palco da primeira grande
revolução socialista, por já contar com uma organização industrial sólida e uma
numerosa classe operária.
Outro ponto importante para a propaganda nazista foi o estímulo ao antissemitismo, que
já era presente no imaginário europeu desde a Antiguidade. Como a identidade judaica é
antes religiosa que política, os judeus se consideram mais pertencentes a uma
comunidade irmanada pela fé do que as comunidades nacionais unificadas pela
identidade nacionalista. Nesse sentido, o judeu inglês, francês ou alemão tende a se
considerar mais judeu do que inglês, francês ou alemão. Esse cosmopolitismo religioso
judaico foi visto como uma ameaça à integração e à pureza da “nação alemã”.
BASES DO PENSAMENTO
Assim, podemos dizer que, em termos doutrinários, o nazismo apresenta as seguintes
características:
Discurso ultranacionalista que definiu a nacionalidade alemã como representante
de uma raça evolutivamente superior e, por isso, vocacionada à expansão.
Negação do regime democrático-liberal, acusado de ser fraco e incapaz de
resgatar a “grandeza alemã”, que estava sendo comprometida pelas imposições do
Tratado de Versalhes.
Anticomunismo, o que fez com que as elites alemãs, assustadas com o espectro da
Revolução Russa, não pensassem duas vezes antes de apoiar o partido nazista.
Antissemitismo, por considerar o cosmopolitismo religioso judeu uma ameaça à
“pureza” da nacionalidade alemã.
Uma eficiente máquina de propaganda em massa, baseada na narrativa de que a
história alemã era a história do conflito com os “outros”, e que o que estava em
jogo nesse conflito era a sobrevivência e a pureza da pátria.Combinando todos esses fatores, somados à percepção da sociedade alemã de que o
governo democrático não seria capaz de superar os efeitos da derrota na Primeira
Guerra Mundial, a década de 1920 foi marcada pela ascensão política meteórica do
Partido Nazista. Em pouco tempo, Hitler deixou de ser uma figura caricata, alvo de
piadas em jornais e folhetins, e se tornou a principal liderança política do país.
Após a tentativa de golpe frustrada em 1923, que levou Hitler à prisão por um ano, o
Partido Nazista foi se acomodando às regras do jogo eleitoral, e assim foi corroendo a
democracia por dentro. Em 1930, Hitler assumiu o cargo de chanceler, uma espécie de
primeiro-ministro. Em 1933, após a morte do presidente Paul von Hindenburg (1847-
1933), Hitler se tornou o ditador supremo da Alemanha, o Führer . O resultado para a
Alemanha e para o mundo já é bastante conhecido.
A trajetória histórica do fascismo na Itália guarda algumas semelhanças com o caso do
nazismo europeu, mas existem também diferenças que precisam ser destacadas. No
que se refere às semelhanças, podemos destacar, a partir da leitura dos estudos
desenvolvidos pelo cientista político italiano Edda Saccomani:
Nacionalismo agressivo: tal como aconteceu na Alemanha, a Itália também se construiu
como nação unificada no século XIX, em um processo político marcado por intensa
agitação militar.
 Reunião do partido nazista em Nurembergue em 1936.
Tal como Hitler, Benito Mussolini também se fortaleceu liderando um sentimento crítico
ao liberalismo político, acusado de ser fraco e potencialmente corrupto. O fascismo
italiano, assim como o nazismo alemão, defendia que a representação política deveria
acontecer fora dos canais legislativos estabelecidos pelo liberalismo político. O chefe
seria o único capaz de representar o povo, por meio de uma relação direta e não
mediada.
 Benito Mussolini durante a marcha sobre Roma em 28 de outubro de 1922.
As semelhanças entre Hitler e Mussolini não param por aí. Ambos foram militares,
lutaram na Primeira Guerra Mundial e construíram suas trajetórias por dentro da
democracia liberal, concorrendo a eleições e ocupando cadeiras no legislativo.
 Adolf Hitler e Benito Mussolini em Munique, na Alemanha.
UNIÃO E DISSEMINAÇÃO DE UM
MODELO
 A assinatura do Pacto de Aço em 22 de maio de 1939 em Berlim.
Essas semelhanças levaram a uma aliança entre Alemanha e Itália, firmada em maio de
1939, no acordo que ficou conhecido como “Pacto de Aço”. Por outro lado, a questão
racial, especialmente o antissemitismo, não foi central para o fascismo italiano,
intensificando-se mais depois da consolidação da aliança com a Alemanha. Outra
diferença importante se refere ao peso da Primeira Guerra Mundial, que não foi tão
grande para a ascensão de Mussolini como havia sido para Hitler.
Já as relações com o comunismo foram ainda mais tensas na Itália fascista do que foram
na Alemanha nazista, e isso se explica pelo fato de que o próprio Mussolini começou sua
trajetória política no partido socialista. O partido fascista disputou as mesmas bases
sociais com o partido socialista: os trabalhadores urbanos organizados em sindicatos,
que foram cooptados pela estrutura burocrática do Estado fascista.
Se, na Alemanha nazista, a perseguição nazista aos comunistas se deu pelo temor de
que pudesse acontecer uma revolução socialista no país, na Itália, isso aconteceu,
também, devido à disputa política direta entre fascistas e comunistas pela mesma base
social.
Outra diferença importante se dá no plano da sistematização doutrinária. Enquanto o
nazismo não chegou a produzir um tratado de definição teórica, o fascismo foi mais
cuidadoso nesse sentido. O livro A doutrina do fascismo , escrito por Mussolini e pelo
filósofo Giovanni Gentile (1875–1944), foi publicado em 1932. A doutrina fascista nega o
individualismo, que é uma das principais invenções conceituais da Modernidade, como
vimos na primeira parte de nosso estudo.
PODEMOS PENSAR QUE ESTE É O SÉCULO DA
AUTORIDADE, UM SÉCULO DE DIREITA, UM
SÉCULO FASCISTA; SE O SÉCULO XIX FOI O
SÉCULO DO INDIVIDUALISMO (LIBERALISMO
SEMPRE SIGNIFICA INDIVIDUALISMO), PODEMOS
PENSAR QUE ESTE É O SÉCULO DO
COLETIVISMO E, PORTANTO, O SÉCULO DO
ESTADO.
(GENTILE; MUSSOLINI, 2019, p. 23)
O principal adversário ideológico do fascismo é o liberalismo individualista. A célula social
básica para o fascismo é a coletividade social, representada, em espírito, pelo líder
carismático. Na moralidade fascista, o individualismo é sinônimo de egoísmo e tem como
resultado a desagregação da sociedade. O ideal, então, seria a coesão social, a partir de
critérios definidos pelo próprio Estado, de cima para baixo, pautada em valores gerais
como religião, ordem e família. Assim, o Estado teria autoridade para perseguir
liberdades individuais, matar e torturar, sempre em nome da “razão coletiva”.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO DOS
SANTOS RAINHA RETOMA OS PONTOS
PRINCIPAIS SOBRE O NAZIFASCISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudamos quatro sistemas de pensamento político que, desde o século XIX, inspiram
comportamentos políticos de indivíduos e grupos e a própria organização do Estado.
Conservadores, liberais, nacionalistas e fascistas deixaram heranças que até hoje se
fazem presentes no debate político, ainda que, muitas vezes, não tenhamos consciência
disso. Fundamental para nós é estudar esses repertórios e entender que a política é
capaz de nos emancipar, de garantir direitos que não deveriam ser negados a nenhum
ser humano. Porém, é capaz, também, de promover a barbárie, o extermínio, o
preconceito e a violência. Cabe, então, a cada um de nós escolher. A escolha é sempre
um ato político.
 PODCAST
Ouça agora a conversa dos professores Rodrigo Rainha e Rodrigo Perez sobre os
principais tópicos do tema.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras,
2008.
BRACHER, Karl Dietrich. Nacional-socialismo. In : Dicionário de política. BOBBIO,
Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Brasília: UNB, 2000. pp. 806-
812.
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Edipro,
2014.
COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e
reacionários. São Paulo: Três estrelas, 2014.
CHATEAUBRIAND, René. Études historiques. Œuvres complètes de Chateaubriand.
Paris: Garnier, T.IX, 1861.
GENTILE, Giovanni; MUSSOLINI, Benito. A doutrina fascista. São Paulo: Apris, 2019. 
HOBSAWM, Eric. Nações e nacionalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos
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LEVI, Luci. Nacionalismo. In : Dicionário de política. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI,
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LOCKE, John. Os dois tratados sobre o governo. Brasília: Imprensa Oficial, 1986.
MANNHEIM, Karl. Conservative thought. Londres: P&C, 1987.
ROUSSEAU, Jean Jacques. O contrato social. Rio de Janeiro: LPM, 2011.
TRANFAGLIA, Nicola. Liberalismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionários de Ciência Política Brasília: UNB, 2000. pp. 686-
705.
MÖSER, Jüstus. Osnabrückische Geschichte: Allgemeine Einleitung. Osnabruque:
Schmid, 1992. 
NISBET, Robert. O conservadorismo. Lisboa: Estampa, 1989.
EXPLORE+
Leia as seguintes obras, que são referências para seus estudos:
Dicionários de Ciência Política , de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci, Gianfranco
Pasquino.
O antigo regime e a revolução , de Alexis Tocqueville.
Sobre a liberdade , de Stuart Mill.
Existem comentários e vídeos na rede. Vale a pena uma boa pesquisa.
CONTEUDISTA
Rodrigo Perez Oliveira
 CURRÍCULO LATTES
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