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Conteúdo Digital - Tema 03 - Ideologias políticas e seus reflexos no Estado

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DESCRIÇÃO
O conhecimento sobre a formação das identidades políticas da sociedade ocidental, capitalista,
seus fundamentos ideológicos e as formas de manifestação política.
PROPÓSITO
Estabelecer parâmetros de compreensão das correntes políticas que vigoram entre o século XIX e
parte do século XX é essencial para todos os estudantes, especialmente aqueles das áreas de
História, Sociologia, Direito, Administração, Geografia e Filosofia.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as particularidades da ideologia política conservadora, que surgiu na conjuntura da
Revolução Francesa (1799–1899)
MÓDULO 2
Distinguir a ideologia política liberal, um dos desdobramentos do pensamento progressista que
fundou a Modernidade
MÓDULO 3
Localizar o surgimento da ideologia nacionalista ao longo do século XIX
MÓDULO 4
Reconhecer o desenvolvimento dos fascismos na primeira metade do século XX
INTRODUÇÃO
A Modernidade europeia produziu ideologias políticas que foram expandidas pelo mundo na
esteira da dominação colonial que os países europeus impuseram às outras regiões do planeta.
Esses sistemas de pensamento inspiraram práticas políticas e diferentes formas de organizar o
Estado. Aqui, neste conteúdo, estudamos as ideologias que foram desenvolvidas entre o início do
século XVIII e meados do século XX, partindo da premissa elementar da Sociologia do
Conhecimento: todo pensamento é produto de realidades sociais concretas.
No primeiro momento, nos debruçaremos sobre o conservadorismo moderno, que surgiu na
conjuntura da Revolução Francesa (1789–1799). Em seguida, estudaremos o liberalismo, que foi
um dos desdobramentos do pensamento progressista que fundou a Modernidade. Depois,
analisaremos o nacionalismo, que foi a principal ideologia política formada ao longo do século
XIX. Por último, examinaremos o fascismo, que desestabilizou o sistema internacional na primeira
metade do século XX.
Este estudo está inserido na área de interesses da história do pensamento político. Partimos da
premissa de que não existe distinção entre pensamento e ação política, pois toda ação é
sempre prefigurada por determinado pensamento e todo pensamento é o resultado objetivo e
prático de um conjunto de ações. Sendo assim, estudar as ideologias políticas que nasceram na
Europa entre o século XVIII e meados do século XX nos possibilita a melhor compreensão das
práticas políticas que marcaram a história ocidental nesse período.
MÓDULO 1
 Identificar as particularidades da ideologia política conservadora, que surgiu na
conjuntura da Revolução Francesa (1799–1899)
ASSISTA A UM VÍDEO QUE TRATA DO
DESENVOLVIMENTO E DA DIFUSÃO
GENERALIZADA DO CONSERVADORISMO,
DIFERENCIANDO-O DO TRADICIONALISMO
QUE O PRECEDEU.
CONSERVADORISMO MODERNO
O sociólogo alemão Karl Mannheim (1893–1947) é autor de importante estudo sobre aquilo que
denomina “estilo de pensamento conservador”. Mannheim é um dos principais representantes da
área de estudos que costumamos chamar de Sociologia do Conhecimento, que tem como
premissa elementar a ideia de que o conhecimento não se produz no vazio social, acima da
realidade social. Em outras palavras: todo conhecimento, todo pensamento, é resultado de
condições sociais concretas, pois os pensadores não vivem acima da sociedade, fora da
realidade. Muito pelo contrário, já que estão sempre respondendo aos desafios do seu tempo.
Foto: Zusasa/Wikimedia commons/Domínio Público
 Karl Mannheim.
É a partir dessa premissa que nos debruçamos sobre o pensamento político conservador, que foi
uma resposta a uma série de desafios colocados pela Modernidade ocidental entre os séculos
XVIII e XIX. O próprio Karl Mannheim nos ajuda a entender quais foram as condições sociais
concretas de nascimento do conservadorismo.
SOB A PRESSÃO IDEOLÓGICA DA REVOLUÇÃO
FRANCESA SE DESENVOLVEU NA ALEMANHA UM
CONTRA-MOVIMENTO INTELECTUAL QUE
RETEVE SEU CARÁTER PURAMENTE
INTELECTUAL POR UM LONGO PERÍODO E ASSIM
FOI CAPAZ DE DESENVOLVER SUAS PREMISSAS
LÓGICAS DE FORMA A MAIS EXTENSA POSSÍVEL.
ELE FOI PENSADO ATÉ “AS SUAS ÚLTIMAS
CONSEQUÊNCIAS”. A CONTRA-REVOLUÇÃO NÃO
SE ORIGINOU NA ALEMANHA, MAS FOI NA
ALEMANHA QUE SEUS LEMAS FORAM PENSADOS
DE FORMA MAIS COMPLETA E LEVADOS ÀS SUAS
CONCLUSÕES LÓGICAS. [...] A ALEMANHA
CONTRIBUIU PARA ESSE PROCESSO DE “PENSAR
ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS — UM
APROFUNDAMENTO FILOSÓFICO E UMA
INTENSIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS QUE SE
ORIGINARAM COM BURKE E DEPOIS FORAM
COMBINADOS COM ELEMENTOS GENUINAMENTE
ALEMÃES. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MANNHEIM, 1987, p. 87)
FUNDAÇÃO DO CONSERVADORISMO
MODERNO
Foto: Coletes Amarelos/Wikimedia commons/Domínio Público
 A abertura dos Estados Gerais, em 5 de maio de 1789, na Salle des Menus Plaisirs , em
Versalhes.
Os eventos fundadores do conservadorismo moderno, então, foram a Revolução Francesa
(1784–1804) e a concepção progressista de tempo que lhe caracteriza. Segundo os estudos do
historiador alemão Reinhart Koselleck (1923–2006), a Revolução Francesa foi o desfecho de uma
nova concepção de tempo que vinha se desenvolvendo desde o fim do século XVII e que se
tornaria a principal condição estrutural da Modernidade. Essa concepção de tempo é marcada
pelo ideal do progresso e pela crença de que a história é potência em movimento e que as
coisas mudam sempre para a melhor.
Essa nova forma de relação com o tempo mudou a posição que o passado ocupava nas culturas
europeias ocidentais. Até então, as experiências pretéritas eram vistas como fonte de
ensinamento à qual os contemporâneos recorriam com o objetivo de evitar cometer os mesmos
erros de antes. Com a Modernidade, o passado se tornou o símbolo do obsoleto, do atraso,
daquilo que deveria ser superado pela marcha inexorável da história.
O conservadorismo moderno surge como uma ideologia de oposição a esses valores
progressistas, como um tipo de “contrarrevolução ideológica”, para utilizar as palavras de Karl
Mannheim.
EM OUTRAS PALAVRAS, ESSA DIFERENÇA PODE
SER EXPRESSA DA SEGUINTE FORMA: O
PROGRESSISTA CONSIDERA O PRESENTE COMO
O COMEÇO DO FUTURO, ENQUANTO O
CONSERVADOR O VÊ SIMPLESMENTE COMO O
ÚLTIMO PONTO APONTADO PELO PASSADO. A
DIFERENÇA É TANTO MAIS FUNDAMENTAL E
RADICAL NA MEDIDA EM QUE O CONCEITO
LINEAR DE HISTÓRIA — QUE ESTÁ IMPLÍCITO
AQUI — É ALGO SECUNDÁRIO PARA OS
CONSERVADORES. PRIMEIRAMENTE, OS
CONSERVADORES CONHECEM O PASSADO COMO
SENDO ALGO QUE EXISTE COM O PRESENTE;
CONSEQUENTEMENTE, A SUA CONCEPÇÃO DE
HISTÓRIA TENDE A SER ALGO MAIS ESPACIAL
DO QUE TEMPORAL; ELA ENFATIZA MAIS A
COEXISTÊNCIA DO QUE A SUCESSÃO.
(MANNHEIM, 1987, p. 123)
É importante deixar claro, ainda de acordo com Karl Mannheim, que a ideologia conservadora não
pode ser resumida ao que o autor chama de “conservadorismo ontológico”, que seria o incômodo
que todos nós sentimos diante de uma mudança, de algo que desestabiliza a situação de vida
com a qual já estamos habituados. O conservadorismo ontológico de que fala Mannheim é a
sensação de desorientação que sentimos quando trocamos de emprego ou de vizinhança e que,
muitas vezes, é angustiante, fazendo com que algumas pessoas sejam resistentes às mudanças.
O conservadorismo moderno é bastante diferente disso, consistindo em um complexo sistema
de pensamento que buscou reagir aos desafios postos pela modernidade progressista, sendo ele
mesmo uma interpretação dessa modernidade. Também é importante diferenciar o
conservadorismo do reacionarismo, e aqui quem nos ajuda é o cientista político português
João Pereira Coutinho.
O CONSERVADORISMO POLÍTICO RECUSA OS
APELOS DO PENSAMENTO UTÓPICO, VENHAM
ELES DE REVOLUCIONÁRIOS OU REACIONÁRIOS.
MAS O CONSERVADORISMO NÃO SE LIMITA
APENAS A RECUSAR ESSES APELOS UTÓPICOS,
QUE FAZEM DA FUGA PARA O FUTURO (OU PARA
O PASSADO) UM PROGRAMA DE AÇÃO NO
MOMENTO PRESENTE. O CONSERVADORISMO,
POR ENTENDER O POTENCIAL DE VIOLÊNCIA E
REAGIR DEFENSIVAMENTE A TAIS APELOS — E
“REAGIR” É A PALAVRA CRUCIAL PARA
ENTENDER O CONSERVADORISMO COMO
IDEOLOGIA.
(COUTINHO, 2014, p. 27)
CONSERVADOR X REACIONÁRIOFoto: Cybershot800i/Wikimedia commons/Domínio Público
 Andarilho acima do mar de nevoeiro , por Caspar David Friedrich (1817).
O que distinguiria o conservador do reacionário, segundo o autor, seria a relação com o tempo. O
reacionário idealiza o tempo, tal como o revolucionário. A lógica seria a mesma, com a
diferença de que o reacionário idealizaria o passado, considerado como o momento da plena
realização da felicidade humana, enquanto o revolucionário idealizaria o futuro, defendendo a
aceleração da marcha da história rumo à utopia progressista.
Diferente é o conservador, cético tanto com a promessa reacionária como com a promessa
revolucionária. Para o conservador, o presente é a melhor experiência possível, pois sintetiza as
experiências acumuladas ao longo do tempo, os repertórios que foram testados, que
sobreviveram.
Não há, na sensibilidade conservadora, diferentemente do que acontece nas sensibilidades
reacionária e revolucionária, a ideia de perfeição. O conservador é cético, desconfia das utopias e
das promessas de perfectibilidade, partindo do princípio de que o ser humano é ontologicamente
imperfeito, falho e, por isso, as tradições são importantes.
Porém, não nos enganemos em achar que o conservadorismo é, necessariamente, avesso à
mudança. O conservador entende a importância da mudança, desde que aconteça à luz do
repertório disponível, com inspiração nas experiências acumuladas. A mudança é prudente, sem
a ruptura revolucionária. Segundo Karl Mannheim:
UMA DAS CARACTERÍSTICAS MAIS ESSENCIAIS
DESSE MODO DE VIDA E DESSE PENSAMENTO
CONSERVADOR PARECE SER A FORMA COMO
ELE SE APEGA AO IMEDIATO, O REAL, O
CONCRETO. O RESULTADO É UMA PERCEPÇÃO
NOVA E EXTREMAMENTE DEFINIDA DO TERMO
“CONCRETO” COM IMPLICAÇÕES ANTI-
REVOLUCIONÁRIAS. CONHECER E PENSAR
CONCRETAMENTE AGORA PASSA A SIGNIFICAR
O DESEJO DE RESTRINGIR O ALCANCE DA
PRÓPRIA ATIVIDADE ÀS REDONDEZAS
IMEDIATAS ONDE SE ESTÁ LOCALIZADO E DE
ABJURAR RIGIDAMENTE TUDO AQUILO QUE
POSSA CHEIRAR À ESPECULAÇÃO OU HIPÓTESE.
[...] O CONSERVADORISMO SEMPRE COMEÇA
COM O CASO PARTICULAR QUE ESTÁ NA MÃO E
NUNCA ESTENDE SEUS HORIZONTES ALÉM DE
SEUS PRÓPRIOS ARREDORES PARTICULARES.
ELE ESTÁ PREOCUPADO COM A AÇÃO IMEDIATA,
COM DETALHES CONCRETOS EM MUDANÇAS E,
PORTANTO, NÃO SE PREOCUPA REALMENTE
COM A ESTRUTURA DO MUNDO EM QUE VIVE.
[ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MANNHEIM, 1987, p. 111)
PENSAMENTO CONSERVADOR
Foto: desconhecido/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0
 Pintura da execução de Maria Antonieta em 1793, do acervo do Museu da Revolução
Francesa, em Vizille, na França.
Para compreender melhor os princípios políticos conservadores, é importante estudar com
cuidado os escritos dos autores mais representativos dessa corrente de pensamento. Destacamos
aqui quatro nomes: Jüstus Möser (1720–1794), Edmund Burke (1729–1797), Alexis de Tocqueville
(1805–1859) e François-René de Chateaubriand (1768–1848).
Todos esses autores viveram sob os impactos da Revolução Francesa, e cada um, a seu modo,
criticou o tipo de ideologia política que o evento propunha, principalmente na “fase do terror”,
entre 1793–1794, quando o processo revolucionário foi conduzido pelos jacobinos.
O jurista alemão Jüstus Möser foi um dos primeiros autores a se debruçar com perspectiva crítica
sobre os eventos da Revolução Francesa, desenvolvendo, assim, o repertório de ideias que se
tornaria representativo de um tipo de pensamento político que passou a ser conhecido como
“conservador”.
Na verdade, as “ideias conservadoras” de Möser já vinham sendo desenvolvidas antes mesmo do
início da Revolução Francesa. No livro História de Osnabruque , publicado pela primeira vez em
1768, Möser defendeu a tese, que se tornaria típica do pensamento conservador, de que as
instituições jurídicas do Estado deveriam nascer de “modo orgânico”, a partir dos costumes do
seu povo, e não de “artificial”, imposta pelo legislador “convencido de que detém o monopólio das
luzes da razão”.
Foto: Jdsteakley/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Justus Möser , por Ernst Gottlob (1777).
A BOA LEI NÃO É AQUELA QUE É INVENTADA
PELO LEGISLADOR CONVENCIDO DE QUE DETÉM
O MONOPÓLIO DAS LUZES DA RAZÃO, MAS SIM
AQUELA QUE SURGE ESPONTANEAMENTE DOS
COSTUMES MAIS GENUÍNOS DO POVO, DOS
HÁBITOS E VALORES QUE SOBREVIVERAM AO
TEMPO.
(MÖSER, 1992, p. 34)
Temos aqui um argumento que se tornaria estruturante do pensamento conservador ao longo do
século XIX. Trata-se da crítica à pretensão de perfectibilidade característica do iluminismo, que foi
o repertório filosófico que inspirou a Revolução Francesa. O iluminismo está fundado na crença
de que a razão é o atributo humano mais virtuoso, sendo a partir dela possível conhecer
perfeitamente a realidade e acelerar a marcha do progresso humano. O responsável por esse
“conhecimento perfeito”, na lógica iluminista, seria o filósofo, entendido como o homem letrado.
É exatamente essa crença no poder do letramento e do conhecimento racional que está na alça
de mira do organicismo jurídico que Jüstus Möser elabora nas páginas da sua História de
Osnabruque . Möser afirma que o conhecimento humano mais genuíno não é necessariamente
aquele encontrado nos livros, ou desenvolvido com os instrumentos da razão, mas aquele que é o
resultado dos “instintos cotidianos”, da “intuição manifestada dos costumes e nos hábitos do
povo”.
Assim, contrastando com a lógica iluminista, Möser afirma que a capacidade cognitiva humana é
sempre lacunar e frágil, sendo o conhecimento prático, cotidiano e tradicional o mais
genuinamente verdadeiro, justamente por ser um dos desdobramentos da tradição. No
vocabulário de Möser, “tradição” não significa o passado estático, mas o amplo conjunto das
experiências humanas acumuladas, e testadas, ao longo do tempo. Para Moser, os costumes e
hábitos existentes são o resultado de uma maturação de longo prazo.
O tempo, então, mostra que o presente é resultado daquilo que deu certo, mesmo sem ser
exatamente perfeito. A rejeição à utopia iluminista e o elogio às pulsões cognitivas pré-racionais
foram afirmadas também por outros autores conservadores que beberam na fonte de Jüstus
Möser.
Foto: PS Burton/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Edmund Burke.
Tal como Möser, o político e jurista irlandês Edmund Burke também foi contemporâneo da
Revolução Francesa. Em 1791, no calor dos acontecimentos, Burke publicou suas Considerações
sobre a Revolução Francesa , livro que se tornaria um dos principais tratados da Filosofia Política
do fim do século XVIII e importante documento de fundação do pensamento conservador.
A principal crítica de Burke aos revolucionários franceses referia-se ao que o autor julgava ser
uma atitude “prepotente diante da história”. Nas palavras do próprio Burke, em discurso no
parlamento britânico, posteriormente publicado em suas Considerações :
HOJE, A FRANÇA ESTÁ ENTREGUE AO MAIS
LETAL ESTADO DE BARBÁRIE PORQUE A
SOCIEDADE FRANCESA ALIMENTOU AS
VULGATAS CANTADAS PELO AVENTUREIRO
VOLTAIRE, QUE JAMAIS FEZ JUS AO TÍTULO DE
FILÓSOFO, QUE SE ACHOU CAPAZ DE JOGAR NO
LIXO SÉCULOS E SÉCULOS DE CONHECIMENTO
ACUMULADO, MATURADO E CONSOLIDADO DA
MELHOR FORMA POSSÍVEL NESTE NOSSO
SÉCULO. PARA VOLTAIRE, TUDO ESTAVA
ERRADO, TUDO DEVERIA SER JOGADO FORA EM
FUNÇÃO DE UM CONHECIMENTO
COMPLETAMENTE NOVO, FORMADO NUM PONTO
ZERO DA HISTÓRIA E QUE PROMETIA O FUTURO
PERFEITO. AS ELITES CULTAS FRANCESAS
OUVIRAM VOLTAIRE, SEM IMAGINAR QUE POUCO
TEMPO DEPOIS JÁ NÃO MAIS TERIAM OS
OUVIDOS SOBRE SEUS PESCOÇOS.
(BURKE, 2014, p. 72)
Na citação fica muito claro o argumento, já visto anteriormente, desenvolvido por João Pereira: o
conservador não é igual ao reacionário, que fetichiza o passado como o momento ideal, perfeito,
defendendo o resgate daquilo que já passou. O fundamental para o conservador é a noção de
que o tempo é o juiz da história, a quem cabe submeter as experiências humanas ao teste da
sobrevivência.
O erro de Voltaire, nesse sentido, teria sido o de ignorar deliberadamenteo repertório acumulado,
e testado, ao longo do tempo, idealizando um conhecimento meramente especulativo, sem
fundamentos concretos e ingênuo, na medida em que, pela lógica inversa à do reacionário,
idealizaria o futuro, visto como o desfecho do processo histórico, como o ponto ideal da trajetória
humana.
A Revolução Francesa, que, na avaliação de Burke, tem Voltaire como seu pai espiritual, estaria
levando a França à barbárie exatamente porque se achou capaz de refundar a história a partir de
um ponto zero, desprezando a memória das experiências acumuladas ao longo do tempo.
“Conservar”, para Burke, não significa evitar as mudanças, tampouco ressuscitar o passado, mas,
sim, caminhar à luz dos conhecimentos acumulados, manter vivo o potencial pedagógico da
tradição.
Foi exatamente esse o ponto retomado por Alexis de Tocqueville alguns anos depois.
Diferentemente de Burke, Tocqueville escreveu sobre a Revolução Francesa com algum
distanciamento histórico. Em 1856, publicou o livro O Antigo Regime e a Revolução , no qual
podemos encontrar reflexões muito semelhantes àquelas que foram desenvolvidas por Edmund
Burke, o que nos permite situar os dois autores como representantes de uma mesma linhagem do
pensamento político moderno: o conservadorismo.
Tal como Burke, Tocqueville sai em defesa da tradição, que teria sido violada pelo “ímpeto
patológico de renovação” dos revolucionários franceses. Diz Tocqueville:
Foto: Dmitry Rozhkov/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Alexis de Tocqueville , por Théodore Chassériau (1850).
EMBORA A REVOLUÇÃO QUE SE OPERA NO
ESTADO SOCIAL, NAS LEIS, NAS IDEIAS, NOS
SENTIMENTOS DOS HOMENS ESTEJA BEM LONGE
DE TERMINAR, JÁ NÃO SE PODERIA COMPARAR
SUAS OBRAS COM NADA DO QUE FOI VISTO
ANTERIORMENTE NO MUNDO. REMONTO DE
SÉCULO EM SÉCULO ATÉ A ANTIGUIDADE MAIS
REMOTA: NÃO PERCEBO NADA QUE SE PAREÇA
COM O QUE ESTÁ DIANTE DOS MEUS OLHOS.
COMO O PASSADO NÃO ILUMINA MAIS O
FUTURO, O ESPÍRITO CAMINHA EM MEIO ÀS
TREVAS.
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 32)
[OS JACOBINOS] TINHAM UMA PREDILECÇÃO
PELAS AMPLAS GENERALIZAÇÕES, PELOS
SISTEMAS LEGISLATIVOS FEITOS À PRESSA E
UMA HARMONIA PRETENSIOSA; O MESMO
DESPREZO PELAS COISAS DIFÍCEIS; O MESMO
GOSTO POR REFORMAR AS INSTITUIÇÕES EM
MOLDES NOVOS, ENGENHOSOS E ORIGINAIS; O
MESMO DESEJO DE REMODELAR TODA A
CONSTITUIÇÃO SEGUNDO AS REGRAS DA
LÓGICA E DE UM SISTEMA PRECONCEBIDO EM
VEZ DE TENTAR MELHORAR AS SUAS
PASSAGENS DEFEITUOSAS. O RESULTADO FOI
QUASE UM DESASTRE; POIS QUE O QUE
CONSTITUI MÉRITO NO ESCRITOR PODE BEM
SER UM VÍCIO NO ESTADISTA, ·E AQUELAS
MESMAS QUALIDADES QUE FAZEM A GRANDE
LITERATURA PODEM CONDUZIR A REVOLUÇÕES
CATASTRÓFICAS. [...] ATÉ A LINGUAGEM DOS
JACOBINOS ERA EM GRANDE PARTE TIRADA
DOS LIVROS QUE LIAM; ESTAVA CHEIA DE
PALAVRAS ABSTRACTAS, DISCURSOS
FLOREADOS, SONORAS FRASES FEITAS E JOGOS
DE FRASES LITERÁRIOS. [ORTOGRAFIA
ORIGINAL]
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 68)
A leitura cuidadosa das duas citações nos permite perceber como Tocqueville relaciona o
desprezo revolucionário pela tradição com a formulação de ideias equivocadas, puramente
abstratas e sem amparo na realidade. Teria sido esse o grande crime cometido pelos jacobinos:
crentes de que tinham imaginado a ideologia perfeita, dedicaram-se à implantação de suas ideias
na realidade, a qualquer custo.
Foto: Khaerr ~ commonswiki/Wikimedia commons/Domínio Público
 Henri de La Rochejacquelein na brutal batalha de Cholet em 1793 , por Paul-Émile Boutigny.
A certeza de que se tratava de um ideal superior fez com o que os revolucionários relativizassem
qualquer regulação ética em função da realização de seu projeto. O resultado, nas palavras de
Tocqueville, foi o “crime” e a “infâmia”, provocados pela utopia futurista revolucionária, que levou
os jacobinos a se acharem prontos o suficiente para apagar a história, destruindo todo o legado
acumulado, tratado como manifestação do atraso a ser superado pela ação revolucionária.
O núcleo duro dessa reflexão também pode ser encontrado nos escritos de François-René de
Chateaubriand, que se dedicou a comparar a ideia de “liberdade” defendida pelos líderes da
“Revolução Americana” (a independência dos EUA, em 1776) com o conceito de “liberdade” que
inspirava os jacobinos durante a Revolução Francesa.
Escrevendo na década de 1830, Chateaubriand destacou as diferenças entre as duas
experiências revolucionárias que até então pautavam o imaginário político ocidental. Para o autor,
as lideranças coloniais da América Britânica estavam movidas por um ideal superior de liberdade,
desenvolvido à luz da tradição, de um ideal de justiça desenvolvido com o tempo e que, desde
meados do século XVIII, havia sido violentado pelo parlamento britânica e sua “nova política
colonial”. Diferente era o caso dos revolucionários franceses, que desenvolveram sua utopia
libertária no plano abstrato, sem nenhum respaldo na tradição.
HÁ DUAS ESPÉCIES DE LIBERDADES
PRATICÁVEIS: UMA PERTENCE À INFÂNCIA DOS
POVOS; É FILHA DOS COSTUMES DA VIRTUDE; A
OUTRA NASCE DA VELHICE DOS POVOS; É FILHA
DAS LUZES E DA RAZÃO; É ESSA LIBERDADE DOS
ESTADOS UNIDOS. TERRA FELIZ QUE, EM MENOS
DE TRÊS SÉCULOS, PASSOU DE UMA LIBERDADE
À OUTRA QUASE SEM ESFORÇO, COM UMA LUTA
QUE DUROU APENAS OITO ANOS. HOJE, O POVO
AMERICANO É O MAIS LIVRE ENTRE OS POVOS
CIVILIZADOS. [...] JÁ A LIBERDADE JACOBINA É
FILHA DA IMAGINAÇÃO E DA PREPOTÊNCIA
DAQUELES QUE, JULGANDO OCUPAR O TOPO DA
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, SE ACHARAM NO
DIREITO DE LANÇAR AO FOGO TUDO O QUE FOI
ENSINADO PELAS GERAÇÕES ANTERIORES.
(CHATEAUBRIAND, 1861, p. 23)
Novamente, encontramos a concepção de tempo típica da imaginação conservadora. O passado
não é visto como a instância imutável, mas sim como a luz que conduz, que inspira as mudanças
necessárias, e responsáveis, entendendo-se por “mudanças responsáveis” as transformações que
se processem no sentido de atualizar as tradições, jamais de romper com elas.
A negação da ruptura é o elemento definidor da imaginação política conservadora. O conservador
é reformista, reconhece que é necessário adaptar o que já existe às novas circunstâncias,
melhorar aquilo que está disponível, entender que algo deve ser preservado, conservado, para
que seja possível existir algum vínculo de solidariedade entre as gerações.
 RESUMINDO
Jüstus Möser, Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e François-René de Chateaubriand reagiram
à modernidade que marcou o mundo em que viveram, atravessado pela ideia de revolução, pela
crença de que a história é um processo em marcha evolutiva orientada para o futuro e que o
passado é o atraso que precisa ser superado. Ao criticar essas ideias dominantes, os autores
acabaram propondo uma modernidade alternativa, conservadora, reformista, crítica à abstração
revolucionária e defensora do potencial pedagógico das experiências acumuladas no tempo, da
tradição.
Na próxima seção, estudamos o liberalismo, outra ideologia política moderna, rival da
conservadora, e um dos desdobramentos do imaginário revolucionário que se consolida na
Europa ocidental na segunda metade do século XVIII.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O CONSERVADORISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. KARL MANNHEIM ESTUDOU O “ESTILO CONSERVADOR” NA
PERSPECTIVA TEÓRICA DA SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO. ASSINALE,
ENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA QUE MELHOR DEFINE ESSA
PERSPECTIVA.
A) A Sociologia do Conhecimento parte da premissa de que o pensamento é sempre resultado da
elaboração individual dos intelectuais, sem relações com a realidade que os cerca.
B) A Sociologia do Conhecimento parte da premissa de que o pensamento é sempre resultado da
hegemonia da classe burguesa, o que a torna um desdobramento da teoria marxista.
C) A Sociologia do Conhecimento parte da premissa de que o pensamento é sempre resultado da
hegemonia da Igreja Católica, o que a torna um desdobramento da Teologia.
D) A Sociologia do Conhecimento parte da premissa de que o pensamento é sempre resultado de
condiçõessociais concretas, pois os pensadores estão a todo momento respondendo aos
desafios de seu próprio tempo.
E) A Sociologia do Conhecimento parte da premissa de que o pensamento é sempre resultado da
manipulação feita pelos meios de comunicação de massa, o que a torna um desdobramento da
crítica à indústria cultural.
2. SEGUNDO KARL MANNHEIM, O EVENTO FUNDADOR DO
CONSERVADORISMO MODERNO FOI A REVOLUÇÃO FRANCESA
(1789-1799). ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS, AQUELA QUE
COMPLEMENTA DE MANEIRA MAIS ADEQUADA ESSA AFIRMAÇÃO.
A) O conservadorismo moderno nasceu na conjuntura da Revolução Francesa porque foi nesse
momento que a Igreja Católica se fortaleceu, o que colaborou para o desenvolvimento da teologia
conservadora.
B) O conservadorismo moderno nasceu na conjuntura da Revolução Francesa porque foi nesse
momento que o comunismo se fortaleceu, o que colaborou para o desenvolvimento do socialismo
conservador.
C) O conservadorismo moderno nasceu na conjuntura de Revolução Francesa como o principal
repertório crítico ao pensamento progressista, que vinha se desenvolvendo desde o início do
século XVIII.
D) O conservadorismo moderno nasceu na conjuntura da Revolução Francesa porque foi nesse
momento que se fortaleceu o liberalismo, o que foi fundamental para o desenvolvimento do
conservadorismo liberal.
E) O conservadorismo moderno nasceu na conjuntura da Revolução Francesa porque foi nesse
momento que se fortaleceu o positivismo, o que foi fundamental no desenvolvimento do
conservadorismo científico.
GABARITO
1. Karl Mannheim estudou o “estilo conservador” na perspectiva teórica da Sociologia do
Conhecimento. Assinale, entre as alternativas abaixo, aquela que melhor define essa
perspectiva.
A alternativa "D " está correta.
O objetivo da Sociologia do Conhecimento é mostrar que o pensador não vive acima da realidade,
mas que é afetado por ela, que responde a ela. Logo, todo conhecimento é resultado de
condições sociais concretas.
2. Segundo Karl Mannheim, o evento fundador do conservadorismo moderno foi a
Revolução Francesa (1789-1799). Assinale, entre as alternativas, aquela que complementa
de maneira mais adequada essa afirmação.
A alternativa "C " está correta.
O conservadorismo moderno foi a resposta ao fortalecimento do pensamento progressista, que se
tornou hegemônico na mentalidade ocidental na conjuntura da Revolução Francesa.
MÓDULO 2
 Distinguir a ideologia política liberal, um dos desdobramentos do pensamento
progressista que fundou a Modernidade
ASSISTA A UM VÍDEO QUE APRESENTA
UMA REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE
AS CONCEPÇÕES DE PODER POLÍTICO E DE
ESTADO DE NATUREZA DO SER HUMANO.
LIBERALISMOS MODERNOS
Foto: Pyb/Wikimedia commons/Domínio Público
 Topo da representação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789,
pintura de Jean-Jacques-François Le Barbier.
Tal como acontece com o termo “conservador”, a palavra “liberal” também é bastante utilizada no
debate político, sendo bastante polissêmica. O que significa ser “liberal” no Brasil é algo
bastante diferente do que significa ser liberal nos Estados Unidos. É exatamente por conta
dessa polissemia que o correto é falar em “liberalismos”, no plural. Porém, é importante saber
que, antes dessa pluralidade toda, formou-se, na especificidade da conjuntura europeia, um
repertório de ideias baseado em certa noção de “liberdade”. Na definição proposta pelo cientista
político Nicola Tranfaglia:
É NESTES DEBATES POLÍTICOS QUE COMEÇAM A
SE DEFINIR, NUCLEARMENTE, OS PRINCÍPIOS DO
LIBERALISMO. PORÉM, A VERDADEIRA E
AUTÔNOMA FACE DO LIBERALISMO, SE
MANIFESTA SOMENTE NA RESPOSTA, POR ELE
DADA, AO PROBLEMA DA RUPTURA DA UNIDADE
RELIGIOSA, RESPOSTA QUE, NUM PRIMEIRO
MOMENTO, SE CHAMA TOLERÂNCIA E, NUM
SEGUNDO MOMENTO, LIBERALIDADE RELIGIOSA:
A LIBERDADE RELIGIOSA É O BERÇO DA
LIBERDADE MODERNA.
(TRANFAGLIA, 2000, p. 687)
Aquilo que hoje chamamos de liberalismo, portanto, antes de ser uma corrente do pensamento
político ocidental moderno, é um conjunto de princípios que nasceram na realidade concreta da
história europeia, começando pelo século XVI, na conjuntura das guerras civis religiosas.
Depois de décadas de conflitos motivados por divergências religiosas, as sociedades europeias
pactuaram o princípio da liberdade do culto privado. Tratou-se de uma resolução de ordem
pragmática, desenvolvida em primeiro momento pelas pessoas comuns, em suas vivências
práticas. Se as guerras civis religiosas estavam ceifando vidas, paralisando a atividade
econômica, por que não pactuar um acordo segundo o qual cada um, nos limites de sua casa,
pudesse seguir a religião que bem entendesse?
Em um segundo momento, essa resolução pragmática foi teorizada pelos pensadores da época,
com destaque para John Locke (1632–1704), como veremos a seguir. Os grandes pensadores
não criam a realidade, pois esta não é criada a partir de uma formulação filosófica. O que os
grandes pensadores fazem é teorizar com excelência, é verbalizar com argumentos lógicos e
coerentes aquilo que está acontecendo em suas sociedades, legando para a posteridade valiosos
testemunhos sobre suas atmosferas de época.
Imagem: Uau/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de John Locke , por Godfrey Kneller (1697).
ORIGEM
Foto: Outisnn/Wikimedia commons/Domínio Público
 Fuzilamento dos Torrijos e seus companheiros nas praias de Málaga , por Antonio Gisbert
(1888), representa as medidas repressivas tomadas pelo rei espanhol Fernando VII contra as
forças liberais em seu país.
O liberalismo, então, começa em uma situação de urgência histórica, na qual sociedades
estruturalmente colapsadas entenderam que era necessário fazer algo, pactuar princípios que
tornassem possível a vida coletiva com mínima insegurança e com estabilidade e previsibilidade.
Os princípios pactuados naquele momento e que até hoje são inegociáveis para nós são os
seguintes:
A divisão do mundo em duas esferas: a pública e a privada. A esfera pública é o espaço da
regulação, da autoridade dos poderes legitimados socialmente. A esfera privada é o espaço
das liberdades domésticas, da autoridade da casa, em que os governantes não podem
interferir.
Entre essas liberdades domésticas, está o livre direito ao culto privado. Assim, cada um, nos
limites de sua casa, exerceria a religião que melhor fosse ao encontro de suas convicções
pessoais. Nessa lógica, não há sentido nas guerras civis religiosas.
A propriedade privada é um bem tão sagrado como a vida.
O primeiro autor a organizar esses valores em um sistema de pensamento lógico e dotado de
coerência interna foi o filósofo inglês John Locke, que figura nos manuais de história da Filosofia
como o pai do liberalismo. Em 1689, Locke publicou Dois tratados sobre o governo , que seria
considerado o texto de fundação do liberalismo político.
Podemos encontrar sistematizados valores que hoje estruturam as nossas sensibilidades
políticas. A ideia de que as “paredes da casa” são a “fortaleza da liberdade individual” é sagrada
para qualquer um de nós, que tem sua vida privada protegida por volumosa legislação, pelo
menos nos países sob inspiração da cultura jurídica ocidental.
Na segunda citação, Locke positiva o valor do trabalho, entendido como comportamento ativo de
apropriação daquilo que está naturalmente dado pela natureza, mas cujo consumo só é possível
mediante ação deliberada e organizada racionalmente, ou seja, trabalho. É importante perceber
que o pensamento de Locke não está associado ao regime produtivo capitalista, que somente se
constituiria como realidade histórica consolidada no século XIX, após a Revolução Industrial.
A preocupação política/filosófica de Locke é estabelecer limites para o poder do Estado,
salvaguardando a liberdade individual, entendida pelo autor como o direito de livre
movimentação do corpo, sem constrangimentos externos ao próprio corpo. Com isso, podemos
concluir que o encontro entre o liberalismo e o capitalismo aconteceu tardiamente, poiso
liberalismo tem trajetória histórica independente do capitalismo. Em Dois tratados sobre o
governo , Locke formulou os valores fundamentais do Estado liberal. Esse aspecto do liberalismo
lockeano foi analisado por Nicola Tranfaglia.
LOCKE, INDO MAIS ADIANTE, REIVINDICA, NO
CAMPO POLÍTICO, A AUTONOMIA DA LEI MORAL
OU “FILOSÓFICA”, EM RELAÇÃO À LEI CIVIL, OU
SEJA, DO PODER ESPIRITUAL DO JUÍZO MORAL
QUE É ATRIBUIÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA.
SOMENTE NA CONSTRUÇÃO TEÓRICA DO
UTILITARISMO INGLÊS, CRITICADO JUSTAMENTE
POR JOHN STUART MILL, NÃO ENCONTRAMOS
ESTE ELEMENTO ÉTICO. ESTA DEFESA DA
AUTONOMIA MORAL DO INDIVÍDUO PROVOCA
UMA CONCEPÇÃO DE RELATIVISMO, QUE ACEITA
O PLURALISMO DOS VALORES COMO ALGO
POSITIVO PARA TODA A SOCIEDADE, A
IMPORTÂNCIA DA DISSENÇÃO, DO DEBATE E DA
CRÍTICA E NÃO RECUA DIANTE DO CONFLITO E
DA COMPETIÇÃO. A ÚNICA LIMITAÇÃO, PARA O
CONFLITO E A COMPETIÇÃO, É A NECESSIDADE
DE SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO NOS COSTUMES
MEDIANTE A TOLERÂNCIA, NA POLÍTICA
MEDIANTE INSTITUIÇÕES SIGNIFICATIVAS, QUE
GARANTAM O DEBATE, E MEDIANTE NORMAS
JURÍDICAS GERAIS, UMA VEZ QUE SOMENTE NO
DIREITO É POSSÍVEL ENCONTRAR UM CRITÉRIO
DE COEXISTÊNCIA ENTRE AS LIBERDADES E/OU
AS ARBITRARIEDADES DOS INDIVÍDUOS. UM TAL
RELATIVISMO NÃO É EXPRESSÃO DE CETICISMO,
E SIM DE ANTIDOGMATISMO, VISTO PRESSUPOR
UMA TOTAL CONFIANÇA NA CAPACIDADE
CRÍTICA DO PENSAMENTO, PRESENTE NA
CULTURA ILUMINISTA, BEM COMO NA CULTURA
HISTORICISTA, DESEMBOCADAS AMBAS — A
PARTIR DE ASPECTOS DIVERSOS E DE
DIFERENTES CONTEXTOS — NO LIBERALISMO
QUE NOS É CONTEMPORÂNEO.
(TRAFAGLIA, 1995, p. 701)
Uma das principais colaborações de Locke ao liberalismo foi a ideia de “lei moral ou filosófica”,
que nada mais é do que aquilo que hoje nós podemos chamar de opinião pública. A lei moral
seria, para Locke, a média dos valores compartilhados pela sociedade, e deveria servir como
principal modelo para o poder político, responsável por elaborar a “lei civil”, a legislação oficial do
Estado cujo objetivo é regular a vida em comunidade. A lei civil, portanto, na lógica lockeana, não
deve ser formalizada a partir dos interesses dos governantes, mas a partir dos valores e desejos
da sociedade civil, consolidados nos costumes.
Temos aqui o deslocamento da soberania do Estado para a sociedade civil, o que é fundamental
para o liberalismo. O Estado deixa de ser a manifestação do poder de Deus e passa a existir em
função da sociedade, tutelado por ela, e a sociedade é formada por indivíduos livres. Em Locke,
podemos encontrar os fundamentos conceituais daquilo que posteriormente seria conhecido
como “Estado Liberal”.
CULTURA DO LIBERALISMO POLÍTICO
Após o século XVIII, o liberalismo deixou de ser apenas um repertório de ideias e valores cujo
objetivo era proteger as liberdades individuais dos assédios do Estado, passando a fazer parte da
cultura histórica moderna.
A partir dos estudos do já citado historiador alemão Reinhart Koselleck, a Modernidade foi
fundada no século XVIII por uma nova forma de perceber o tempo, em que a história é lida como
potência em eterno movimento, impulsionada por forças motoras e orientada para o futuro,
entendido como progresso.
É como se a convicção da época fosse a de que o tempo traz melhoras na vida e o futuro será
sempre evolução em relação ao presente, assim como o presente será evolução em relação ao
passado.
Com essa convicção, desenvolveram-se diversas filosofias da história, cada qual tendo sua
própria leitura do processo histórico, tendo seu projeto utópico, sua concepção de futuro. O
liberalismo é uma dessas filosofias da história, baseado nos seguintes princípios:
A busca pela liberdade (entendida como a liberdade individual, do corpo físico) é a potência
que move a história humana.
O movimento histórico caminha sempre da situação de menos liberdade, e de mais tirania,
para a situação de mais liberdade, e de menos tirania.
A utopia liberal idealiza uma situação de plenas liberdades individuais, em que o Estado
teria suas competências tão reduzidas a ponto de possibilitar às pessoas um tipo de vida
similar ao das liberdades naturais, pré-sociais.
Foto: Scewing/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de John Stuart Mill em 1870.
Esses princípios foram explorados por diversos pensadores liberais ao longo dos séculos XIX e
XX, o que nos mostra uma tradição de pensamento plural e diversificada. Concentraremos nossos
esforços no filósofo britânico John Stuart Mill (1806–1873), que trouxe a liberdade para o
primeiro plano de suas reflexões, tendo contribuído para o desenvolvimento da cultura jurídica
que deu origem ao Estado de direito.
O texto mais importante de Stuart Mill foi o ensaio Sobre a liberdade , publicado pela primeira vez
em 1859. No texto, Mill critica a doutrina dos direitos naturais, que havia animado os
revolucionários tanto em França como nos EUA, e que afirmava a existência de direitos
atribuídos diretamente por Deus aos homens e que não poderiam ser alienados pelo poder
civil.
Como Mill fazia parte da corrente utilitarista do pensamento liberal, materialista e ateia, a
existência de Deus era negada, o que reforçava ainda mais a importância da lei civil, pactuada
pela sociedade. Caberia, então, à lei dos homens garantir a “boa vida”, que, no utilitarismo de
Mill, significa a maior situação de liberdade possível. “Liberdade”, na concepção de Mill, significa
viver em um Estado de direito. Nas palavras do próprio autor:
É PARA CADA UM O DIREITO DE NÃO SE
SUBMETER SENÃO ÀS LEIS, DE NÃO PODAR SER
PRESO, NEM DETIDO, NEM CONDENADO, NEM
MALTRATADO DE NENHUMA MANEIRA, PELO
EFEITO DA VONTADE ARBITRÁRIA DE UM OU DE
VÁRIOS 1INDIVÍDUOS. É PARA CADA UM O
DIREITO DE DIZER SUA OPINIÃO, DE ESCOLHER
SEU TRABALHO E DE EXERCÊ-LO; DE DISPOR DE
SUA PROPRIEDADE, ATÉ DE ABUSAR DELA; DE IR
E VIR, SEM NECESSITAR DE PERMISSÃO E SEM
TER QUE PRESTAR CONTA DE SEUS MOTIVOS OU
DE SEUS PASSOS. É PARA CADA UM O DIREITO
DE REUNIR-SE A OUTROS INDIVÍDUOS, SEJA
PARA DISCUTIR SOBRE SEUS INTERESSES, SEJA
PARA PROFESSAR O CULTO QUE ELE E SEUS
ASSOCIADOS PREFERIREM, SEJA SIMPLESMENTE
PARA PREENCHER SEUS DIAS E SUAS HORAS DE
MANEIRA MAIS CONDIZENTE COM SUAS
INCLINAÇÕES, COM SUAS FANTASIAS. ENFIM, O
DIREITO, PARA CADA UM, DE INFLUIR SOBRE A
ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNO, SEJA PELA
NOMEAÇÃO DE TODOS OU DE CERTOS
FUNCIONÁRIOS, SEJA POR REPRESENTAÇÕES,
PETIÇÕES, REIVINDICAÇÕES, ÀS QUAIS A
AUTORIDADE É MAIS OU MENOS OBRIGADA A
LEVAR EM CONSIDERAÇÃO. COMPARAI AGORA A
ESTA A LIBERDADE DOS ANTIGOS.
(MILL, 1990, p. 3)
Como podemos perceber, a utopia idealizada por Mill não pode ser definida, simplesmente, como
o mundo das liberdades totais. Não se trata, de forma alguma, do mundo das liberdades
irrefreadas. Há a possiblidade do poder e da dominação no pensamento político de Mill, desde
que venha da lei, entendida aqui como contrato coletivamente construído. O Estado de liberdade
de que fala Stuart Mill é o Estado de direito, o que torna o autor herdeiro de Locke e nome
incontornável na tradição político-jurídica que, no século XIX, seria a responsável pela invenção
do Estado liberal, e que contaria ainda com outros nomes, como Montesquieu (1689–1755).
Foto: Alonso de Mendoza/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Montesquieu .
Já Spencer, Keynes e Mises estavam preocupados com as questões econômicas que vieram à
luz a partir do século XIX, nas modernas sociedades de massa industrializadas. Os três autores,
cada um a seu modo, debruçaram-se sobre os temas da distribuição da riqueza social e da
pobreza material. Entender melhor os argumentos deles nos ajuda a compreender a dinâmica
dos conflitos sociais e políticos que atravessaram o século XX e chegaram até nós.
HERBERT SPENCER
Filósofo britânico (1820 – 1903).
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JOHN MAYNARD KEYNES
Economistabritânico (1883 – 1946).
LUDWIG VON MISES
Economista austríaco (1881 – 1973).
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O LIBERALISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO O CIENTISTA POLÍTICO ITALIANO NICOLA MATTEUCCI, O
LIBERALISMO NASCEU EM UMA CONJUNTURA ESPECÍFICA DA HISTÓRIA
EUROPEIA. ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA QUE
DEFINE DE MANEIRA MAIS ADEQUADA ESSA CONJUNTURA.
A) A conjuntura histórica concreta que serviu como berço do liberalismo foi a formação das
monarquias absolutistas no fim do século XIV, quando se formou o princípio da soberania
nacional, que se tornaria o valor fundamental do repertório liberal.
B) A conjuntura histórica concreta que serviu como berço do liberalismo foi a revolução industrial
no século XVIII, quando se formou o princípio da mais-valia, que se tornaria o valor fundamental
do repertório liberal.
C) A conjuntura histórica concreta que serviu como berço do liberalismo foram as guerras civis
religiosas do século XVI, quando se formou o princípio da liberdade privada de culto, que se
tornaria o valor fundamental do repertório liberal.
D) A conjuntura histórica concreta que serviu como berço do liberalismo foi o renascimento
artístico e cultural do século XVI, quando se formou o princípio do antropocentrismo, que se
tornaria o valor fundamental do repertório liberal.
E) A conjuntura histórica concreta que serviu como berço do liberalismo foi a Revolução Inglesa,
no século XVII, quando se formou o princípio da monarquia constitucional, que se tornaria o valor
fundamental do repertório liberal.
2. O FILÓSOFO BRITÂNICO JOHN STUART MILL É REPRESENTANTE DA
CORRENTE UTILITARISTA DO PENSAMENTO LIBERAL. MARQUE, ENTRE
AS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA QUE DEFINE DA MANEIRA CORRETA
O UTILITARISMO.
A) O utilitarismo consiste na negação do princípio dos direitos naturais e na afirmação de que
toda liberdade deve ser garantida pela lei civil, construída coletivamente em sociedade.
B) O utilitarismo consiste na afirmação do princípio dos direitos naturais, o que condiciona a lei
civil aos direitos fundamentais que Deus teria delegado aos seres humanos.
C) O utilitarismo consiste na afirmação do materialismo histórico, o que consiste na ideia de que
as sociedades humanas estão fundadas na exploração material.
D) O utilitarismo consiste na afirmação da teoria da origem divina do poder do Estado, o que fez
dos utilitaristas como Mill herdeiros da escolástica medieval.
E) O utilitarismo consiste na ideia de que a lei civil deve ser formulada pelas aristocracias
nacionais, o que fez de utilitaristas como Mill defensores das sociedades de antigo regime.
GABARITO
1. Segundo o cientista político italiano Nicola Matteucci, o liberalismo nasceu em uma
conjuntura específica da história europeia. Assinale, entre as alternativas abaixo, aquela
que define de maneira mais adequada essa conjuntura.
A alternativa "C " está correta.
O estudante deve saber que foram as guerras civis religiosas europeias do século XVI que
serviram como berço para o liberalismo, na medida em que serviram como gatilho para a
formação do princípio da liberdade privada de culto, que se tornaria um dos valores basilares para
o ideário liberal.
2. O filósofo britânico John Stuart Mill é representante da corrente utilitarista do
pensamento liberal. Marque, entre as alternativas abaixo, aquela que define da maneira
correta o utilitarismo.
A alternativa "A " está correta.
O estudante deve saber que o utilitarismo é materialista e ateu, tendo negado o princípio dos
direitos naturais, na medida em que negou a própria existência de Deus.
MÓDULO 3
 Localizar o surgimento da ideologia nacionalista ao longo do século XIX
ASSISTA A UM VÍDEO QUE ABORDA OS
CONCEITOS DE NAÇÃO E DE
NACIONALISMO.
NACIONALISMO
Imagem: Huzaifa Abedeen/Wikimedia commons/Domínio Público
 O sonho das repúblicas democráticas e sociais mundiais , gravura de Frédéric Sorrieu
(1848).
No fim do século XVIII, começou a nascer na Europa o nacionalismo, que se espalharia pelo
mundo nos séculos XIX e XX, transformando-se na principal ideologia moderna. Não seria
exagerado dizer que toda a história humana, do século XVIII ao século XXI, foi, em alguma
medida, pautada pelo nacionalismo. Mas o que seria, exatamente, o nacionalismo?
É impossível definir o nacionalismo sem dedicar alguma atenção ao seu conceito-base: nação. O
historiador britânico Eric Hobsbawm nos apresenta definições das ideias de nação e nacionalismo
que são importantes para este estudo.
 RESUMINDO
A nação, portanto, não é um dado elementar da realidade, organização natural das coletividades
humanas. A nação, entes de tudo, é uma elaboração conceitual resultando do sistema de
pensamento nacionalista, que está fundamentado na tese de que a vida social humana
somente é possível em comunidade nacional, na qual cidadãos que compartilham valores
culturais, religiosos e linguísticos estão irmanados por vínculos identitários e de solidariedade,
submetidos às mesmas estruturas de poder.
Imagem: DIREKTOR/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Maximilien de Robespierre .
O processo de afirmação e consolidação histórica dessas categorias foi complexo e contraditório,
sendo diretamente marcado pelos principais eventos da história mundial nos últimos trezentos
anos. O berço do nacionalismo foi a França revolucionária, como testemunha Maximilien de
Robespierre (1758–1794), líder jacobino e um dos protagonistas da Revolução Francesa:
NOS ESTADOS ARISTOCRÁTICOS A PALAVRA
“PÁTRIA” TEM SENTIDO UNICAMENTE PARA AS
FAMÍLIAS ARISTOCRÁTICAS, ISTO É, PARA OS
QUE SE APODERARAM DA SOBERANIA. SOMENTE
NA DEMOCRACIA O ESTADO É REALMENTE A
PÁTRIA DE TODOS OS INDIVÍDUOS QUE O
COMPÕEM E PODE CONTAR COM UM NÚMERO DE
DEFENSORES, PREOCUPADOS PELA SUA CAUSA,
TÃO GRANDE QUANTO O NÚMERO DE SEUS
CIDADÃOS.
(ROBESPIERRE apud LEVI, 2000, p. 800)
As palavras do líder revolucionário francês apontam para a relação entre nação, nacionalismo e
democracia, entendida aqui como situação política vocacionada para a ampliação de direitos. O
que os revolucionários estavam propondo, especialmente durante o “terror jacobino”, momento
mais radical da Revolução Francesa (1792–1794), era a inclusão do “povo” no território imaginado
da “pátria”, que, no vocabulário político da revolução, significava o acesso às liberdades
fundamentais, aos direitos políticas e ao conforto material.
A ruptura com o Estado aristocrático, que somente poderia ser feita por meio da guerra
revolucionária, significava expandir o alcance da pátria. Agora, o ingresso na “pátria” passaria a se
dar não com base no princípio da distinção natural, característica das sociedades aristocráticas,
mas sim a partir da noção de igualdade natural entre todos aqueles que pudessem ser definidos
como “franceses”, incluindo as pessoas escravizadas nos territórios coloniais. Nas palavras do
cientista político italiano Lucio Levi:
FOI ASSIM QUE A NAÇÃO FOI SE TORNANDO A
FÓRMULA POLÍTICA EM QUE A BURGUESIA, NUM
PRIMEIRO MOMENTO, AS CLASSES MÉDIAS, A
SEGUIR, E O POVO TODO, MAIS TARDE,
IDENTIFICARAM A AFIRMAÇÃO DE SEUS
DIREITOS E O PROGRESSO DAS CONDIÇÕES
MATERIAIS CONTRA OS PRIVILÉGIOS E A
DOMINAÇÃO ARBITRÁRIA DOS MONARCAS, DA
ARISTOCRACIA E DO CLERO.
(LEVI, 2000, p. 800)
Em seu primeiro momento, então, o nacionalismo esteve associado à noção de soberania popular,
tal como havia sido formulada por Jean Jacques Rousseau (1712–1778), um dos “pais
espirituais” da Revolução Francesa. No tratado Contrato Social , publicado pela primeira vez em
1762, Rousseau desenvolveu conceitualmente o deslocamento da soberania que se tornaria
elementar para a democracia moderna e para o novo conceito de “povo” que se afirmaria na
Revolução Francesa. Nas palavras do filósofo:
Imagem: MLWatts/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Jean-Jacques Rousseau , por Maurice Quentin de La Tour.
O ESTADO NÃO É DOMÍNIO PESSOAL DO
PRÍNCIPE, MAS PERTENCEAO POVO,
CONSTITUÍDO PELO CONJUNTO DE CIDADÃOS E
NÃO DE SÚDITOS. O ESTADO DEVE ENCARNAR
OS INTERESSES DO POVO E NÃO OS INTERESSES
DO PRÍNCIPE E DA NOBREZA. O ESTADO
SOBERANO É AQUELE QUE EXISTE EM FUNÇÃO
DO SEU POVO, QUE NÃO POUPA ESFORÇOS PARA
LEVAR FELICIDADE PARA O SEU POVO. SE O
ESTADO NÃO CUMPRE ESSE PAPEL, É DIREITO
DO POVO MUDAR A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
(ROUSSEAU, 2011, p. 33)
Haveria, para Rousseau, uma relação contratual entre o Estado, estrutura de poder controlada
pelos governantes, e o povo, a totalidade das pessoas que habita determinado território cercado
por fronteiras. Esse contrato, ao contrário do que afirmavam as teologias políticas do Antigo
Regime, não era legitimado por Deus, mas sim por uma troca de interesses entre racionalidades
distintas. De um lado, a racionalidade do Estado, com o objetivo de governar; do outro, a
racionalidade do povo, interessado na “felicidade e no bem-viver”, para falar como o próprio
Rousseau.
Se o Estado não cumpre sua parte no contrato, nada mais obriga o povo a cumprir a sua, ou seja,
a permitir que aquele tipo de Estado continue existindo, que aquelas pessoas continuem
governando. Nesse momento, a guerra revolucionária é legítima, para que o Estado volte a, de
fato, atender aos interesses do povo. Em Rousseau, o Estado não é soberano em si. Sua
soberania foi delegada pelo povo, pois pertence a ele.
NACIONALISMO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Imagem: Shutterstock.com
Outro momento decisivo para o nacionalismo foi a Revolução Industrial, que aconteceu entre o fim
do século XVIII e meados do século XIX. Em síntese, podemos definir a Revolução Industrial
como as mudanças estruturais ocorridas no processo de transformação de matéria-prima em
produto acabado. O processo produtivo foi mecanizado, racionalizado, em um crescimento de
eficiência inédito na história humana.
O resultado disso foi percebido em todas as esferas da vida, com destaque para o deslocamento
de grande quantidade de pessoas para as cidades, estendendo as relações de troca e de
trabalho para espaços mais ampliados do que as comunidades tradicionais, onde a vida produtiva
se dava por meio do artesanato e de outras formas de trabalho manual. Novamente, é o cientista
político Lucio Levi quem nos ajuda na compreensão.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL QUEBRA AS
PEQUENAS UNIDADES PRODUTIVAS AGRÍCOLA-
ARTESANAIS E AS LIMITADAS COMUNIDADES
QUASE NATURAIS E TRADICIONAIS, QUE
REPRESENTAVAM OS HORIZONTES DE VIDA DA
GRANDÍSSIMA MAIORIA DA POPULAÇÃO, E
AMPLIA ENORMEMENTE O CONTEXTO
ECONÔMICO-SOCIAL A QUE O INDIVÍDUO
PERTENCE. CONSEQUENTEMENTE, LIGOU-SE AO
ESTADO UM NÚMERO CRESCENTE DE
COMPORTAMENTOS, UMA VEZ QUE OS
INDIVÍDUOS PASSARAM A EXIGIR A
INTERVENÇÃO DESTE A FIM DE GARANTIR A
EVOLUÇÃO ORDENADA DAS RELAÇÕES SOCIAIS
NO ÂMBITO NACIONAL.
(LEVI, 2010, p. 802)
Se a Revolução Francesa fez do nacionalismo um discurso de ampliação de direitos considerados
fundamentais, a Revolução Industrial condicionou o nacionalismo a um planejamento
racionalizado e centralizado da atividade social e econômica. Agora, além de cidadão, o indivíduo
passa a ser tratado como unidade produtiva, como alguém que teria, entre suas atribuições
cívicas, a colaboração para o crescimento da riqueza nacional. Outra mudança importante no
ideário nacionalista viria na década de 1870, com a unificação da Alemanha.
Imagem: 1970 gemini/Wikimedia commons/Domínio Público
 O príncipe Frederico Carlos da Prússia dá ordem de ataque às suas tropas eufóricas, na
Batalha de Königgrätz.
Em 1871, após uma série de conflitos, com destaque para a Guerra Franco-Prussiana, nasceu o
Estado-nacional alemão. Inspirada em ideias nacionalistas, a unificação alemã trouxe a expansão
imperialista e o belicismo para o repertório nacionalista, escanteando o ideário de cooperação
transnacional e de fraternidade universal que pautou a ideologia nos anos da Revolução
Francesa. O Estado-nacional alemão nasceu impulsionado pela doutrina da expansão do espaço
vital, questionando as pretensões territoriais da Inglaterra, a principal potência da época.
O surgimento da Alemanha foi o marco inaugural de constante movimentação militar na Europa
que se estenderia até metade do século XX, envolvendo, inclusive, duas guerras mundiais. O
ideólogo nacionalista italiano Giuseppe Mazzini (1805–1872) viu com preocupação o
nacionalismo belicista alemão.
EM NADA O NACIONALISMO DA JOVEM NAÇÃO
ALEMÃ LEMBRA O NACIONALISMO DOS ANOS DA
REVOLUÇÃO, ONDE A FRATERNIDADE
UNIVERSAL E A PAZ MUNDIAL APONTAVAM
PARA UM MUNDO FORMADO POR NAÇÕES
CAPAZES DE RESPEITAR A AUTO-
DETERMINAÇÃO UMAS DAS OUTRAS. O QUE
VEMOS HOJE É A ASSOCIAÇÃO DO
NACIONALISMO COM A GUERRA, COM AS
RIVALIDADES E COM DISCÓRDIA ENTRE OS
HOMENS. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MAZINNI apud LEVI, 2011, p. 802)
UM BARRIL DE PÓLVORA PRESTES A
EXPLODIR
Foto: Everett Collection/shutterstock.com
 Grandes canhões fabricados pela Bethlehem Steel Company (empresa siderúrgica dos
Estados Unidos) em 1918.
O desenlace dos acontecimentos mostrou que a intuição de Mazinni estava correta. Cada vez
mais, o sistema internacional europeu se tornava um barril de pólvora, atravessado por tensões e
rivalidades que envolviam as grandes potências da época, como França, Inglaterra e Alemanha.
Veio à luz, nesse momento, outra tradição do pensamento político nacionalista, bem diferente
daquela de Rousseau, Robespierre e do próprio Mazinni. Na França, o nacionalismo xenófobo e
de extrema-direita teve no poeta e político Charles Maurras (1868–1952) o seu principal
representante. Maurras foi diretor do jornal Action Française , no qual difundiu aquilo que ele
mesmo chamava de “nacionalismo integral”, que pregava o ódio aos ingleses, alemães, judeus e
a tudo aquilo que pudesse comprometer o que ele entendia como a “genuína nacionalidade
francesa”.
Na Alemanha, tem destaque a figura de Alfred Hugenberg (1865–1951), empresário e político
bastante influente durante os anos da República de Weimar (1918–1925), quando a Alemanha
foi governada por uma constituição liberal-democrática. Hugenberg foi um dos grandes opositores
do regime de Weimar, liderando um movimento nacionalista radical que por anos colaborou com o
Partido Nacional-Socialista, liderado por Adolf Hitler (1889–1945).
Foto: DIREKTOR/Wikimedia commons/Domínio Público
 Hitler com membros do Partido Nazista em 1930.
Na Itália, o romancista Enrico Corradini (1865–1931) produziu muitos textos propagandeado o
radicalismo nacionalista, tendo sido um dos inspiradores do fascismo liderado por Benito
Mussolini (1883–1945).
O que podemos perceber é que, no fim do século XIX, a ideologia nacionalista abandonou os
ideais democráticos de soberania popular e até mesmo a pretensão do planejamento econômico
para sucumbir à xenofobia e à ambição de expansão militar, tornando-se, assim, prelúdio do
nazifascismo que, como veremos na próxima seção, desestabilizou o sistema internacional na
primeira metade do século XX.
EXISTE UMA RELAÇÃO MUITO ESTREITA ENTRE
O PROGRAMA POLÍTICO DO MOVIMENTO
NACIONALISTA E O DO FASCISMO E DO
NAZISMO. O NACIONALISMO É UM COMPONENTE
ESSENCIAL DAS IDEOLOGIAS FASCISTA E
NAZISTA. PORÉM, O MOVIMENTO NACIONALISTA
NUNCA CHEGOU A SER, DIFERENTEMENTE DO
FASCISTA E DO NAZISTA, UM MOVIMENTO DE
MASSA. O NAZI-FASCISMO, COMO
MANIFESTAÇÃO DA FASE MÁXIMA DE
DEGENERESCÊNCIA DO ESTADO NACIONAL, FOI
UMA TENTATIVA PARA IR CONTRA A LINHA
EVOLUTIVA DA HISTÓRIA, FOI A EXPRESSÃO DA
VONTADE DE SOBREVIVÊNCIA DO ESTADO
NACIONAL NUMA CONJUNTURA HISTÓRICO-
SOCIAL NOVA. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(LEVI, 2011, p. 805)
Não seria exagerado dizer que o nacionalismo foi a mais vitoriosa entre todas as ideologias
modernas. Mais que o conservadorismo, o liberalismo, o comunismo e o fascismo, o nacionalismo
mostrou grande capacidade de sobrevivência no tempo, estruturando, até hoje, a vida coletiva
em, absolutamente, todos os lugares do mundo. Segundo o cientista político inglês Benedict
Anderson, o nacionalismo é o principal sistema de crençajá inventado pela humanidade.
Essa crença é muito forte e foi difundida pelo mundo nas experiências de emancipação nacional
que aconteceram na América, na África e na Ásia entre os séculos XIX e XX, fundada naquilo que
Anderson chama de “comunidade imaginada”: uma abstração, artificial, inventada, que, ao longo
da modernidade, inspirou identidade, arte e cultura, mas também violência e morte. A seguir,
estudaremos o desdobramento mais perverso do nacionalismo, corrente ideológica que
transformou a política na indústria da morte.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O NACIONALISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (ENTRE O FIM DO SÉCULO XVIII E MEADOS
DO SÉCULO XIX) FOI UM MOMENTO DECISIVO NA HISTÓRIA DO
NACIONALISMO. ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA
QUE EXPLICA DE MANEIRA MAIS ADEQUADA ESSA AFIRMAÇÃO.
A) A Revolução Industrial endossou os princípios da teologia política, reforçando a ideia de que
nação consistiria em uma comunidade universal tutelada diretamente por Deus.
B) A Revolução Industrial marcou o início da revolução mundial do proletariado, reforçando a ideia
de que a nação consistiria em uma comunidade de trabalhadores.
C) A Revolução Industrial deslocou massas populacionais para espaços geograficamente
concentrados, o que acabou associando a nação ao planejamento racional da atividade
econômica.
D) A Revolução Industrial fragmentou a população em unidades produtivas autocentradas, o que
acabou aproximando o nacionalismo dos sentimentos comunitários que existiam na Europa antes
do início da Modernidade.
E) A Revolução Industrial reforçou a ideia de que a Europa deveria seguir sua vocação agrícola e
rural, o que fez do nacionalismo um desdobramento das ideias identitárias do colonato feudal.
2. O SURGIMENTO DO NACIONALISMO COMO IDEAL POLÍTICO PODE SER
VINCULADO AOS PROCESSOS ABAIXO IDENTIFICADOS:
I. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, EM QUE O CAPITAL BURGUÊS SE VALE DOS
VALORES COLETIVOS PARA AFIRMAR SUA PRÓPRIA FORÇA.
II. REVOLUÇÃO AMERICANA, MARCO DE UM NOVO IDEAL POLÍTICO,
EXPRESSO POR TOCQUEVILLE, VALORIZADO COMO BERÇO DO
VERDADEIRO NACIONALISMO.
III. REVOLUÇÃO FRANCESA, EM QUE OS IDEAIS DO ANTIGO REGIME SÃO
SUBSTITUÍDOS POR VALORES NACIONALISTAS, GUARDADAS A
NECESSÁRIAS PROPORÇÕES.
ESTÃO CORRETAS AS AFIRMATIVAS:
A) Apenas I e II.
B) Apenas I e III.
C) Apenas II e III.
D) As afirmativas I, II e III.
E) Apenas a afirmativa I.
GABARITO
1. A Revolução Industrial (entre o fim do século XVIII e meados do século XIX) foi um
momento decisivo na história do nacionalismo. Assinale, entre as alternativas abaixo,
aquela que explica de maneira mais adequada essa afirmação.
A alternativa "C " está correta.
O estudante precisa saber que a Revolução Industrial concentrou grandes contingentes
populacionais nas cidades, o que fez do nacionalismo um tipo de planejamento racional da
atividade econômica.
2. O surgimento do nacionalismo como ideal político pode ser vinculado aos processos
abaixo identificados:
I. Revolução Industrial, em que o capital burguês se vale dos valores coletivos para afirmar
sua própria força.
II. Revolução americana, marco de um novo ideal político, expresso por Tocqueville,
valorizado como berço do verdadeiro nacionalismo.
III. Revolução Francesa, em que os ideais do Antigo Regime são substituídos por valores
nacionalistas, guardadas a necessárias proporções.
Estão corretas as afirmativas:
A alternativa "E " está correta.
Os três eventos estão vinculados às transformações que dão sentido à emergência do
nacionalismo, no entanto, a ideia de uma revolução marginal — ainda que importante — como a
Americana é base do ideal nacionalista é um equívoco.
MÓDULO 4
 Reconhecer o desenvolvimento dos fascismos na primeira metade do século XX
ASSISTA AGORA A UM VÍDEO QUE
REPRODUZ UM DOS DISCURSOS DE
MUSSOLINI E PROPÕE UMA BREVE
REFLEXÃO SOBRE O IDEAL DO HOMEM
FASCISTA.
NAZIFASCISMO
Foto: Blight55/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0
 Adolf Hitler faz um discurso na Kroll Opera House aos homens do Reichstag sobre o assunto
Roosevelt e a guerra no Pacífico, declarando guerra aos Estados Unidos.
A história da primeira metade do século XX foi marcada pelo fortalecimento de ideologias políticas
autoritárias e violentas, que transformaram o Estado em máquina de extermínio e
perseguição. Trabalharemos, aqui, com as duas manifestações clássicas dessas ideologias: o
nazismo alemão e o fascismo italiano, que desestabilizaram o sistema internacional nas décadas
de 1930 e 1940.
Foto: MagentaGreen/Wikimedia commons/Domínio Público
 Benito Mussolini e Adolf Hitler durante a visita de Mussolini a Munique, em 19 de junho de
1940.
Esses regimes deixaram a semente do autoritarismo e do terrorismo de Estado plantados na
cultura política ocidental. Até hoje, no século XXI, podemos observar, nos EUA, na América do Sul
e em diversas outras partes do mundo, lideranças políticas e governos que se inspiram nos
valores nazifascistas.
No caso alemão, segundo os estudos do cientista Karl Dietrich Bracher, a ascensão do nazismo
deve ser explicada a partir de duas matrizes distintas. A primeira se refere, como já vimos na
seção anterior, ao nacionalismo agressivo e militarizado protagonizado no século XIX pela
Prússia, Estado que liderou o processo de unificação da Alemanha. A segunda está na derrota
alemã na Primeira Guerra Mundial (1914–1918) e nas sanções que a comunidade internacional
impôs ao país.
COMO FENÔMENO HISTÓRICO, O NACIONAL-
SOCIALISMO TEM QUE SER DEFINIDO
FOCALIZANDO DOIS NÍVEIS PRINCIPAIS: COMO
REAÇÃO DIRETA À PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
E A SUAS CONSEQUÊNCIAS, PORÉM, TAMBÉM,
COMO RESULTADO DE TENDÊNCIAS E IDEIAS
BEM MAIS ANTIGAS, RELACIONADAS COM A
PROBLEMÁTICA DA UNIFICAÇÃO POLÍTICA E DA
MODERNIZAÇÃO SOCIAL — PROBLEMÁTICA QUE
DOMINA O DESENVOLVIMENTO ALEMÃO DESDE
O COMEÇO DO SÉCULO XIX.
(BRACHER, 2000, p. 807)
Segundo o autor, o fundamental para a compreensão da ascensão do nazismo ao controle do
Estado alemão foi a combinação de uma retórica nacionalista fundada no princípio da expansão
vital, que inspirou a unificação alemã em meados do século XIX, e o trauma da derrota da
Primeira Guerra Mundial. No momento em que a Alemanha se tornou pária no sistema
internacional europeu após o fim do conflito, a ideologia nacionalista, em toda sua agressividade,
foi acionada pelas lideranças nazistas para insuflar a sociedade civil alemã em um desejo coletivo
de revanche.
CONTEXTO
Foto: Ras67/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0
 Tropas alemãs entram em Saaz (cidade na atual República Tcheca) em 1938.
Sem dúvida alguma, a Alemanha foi a grande derrotada na Primeira Guerra Mundial, sendo o
Tratado de Versalhes, armistício assinado em 1918, o grande símbolo da nova ordem que se
estabeleceu após o conflito. O Tratado de Versalhes impôs diversas sanções à Alemanha, indo
desde indenizações que deveriam ser pagas aos países vencedores (Inglaterra e França, por
exemplo), passando por concessões territoriais (como a Alsácia e Lorena, na fronteira com a
França) e chegando até a proibições no que se refere à organização das forças armadas. Foi um
golpe duro na autoestima do povo alemão, algo que foi potencializado pelo ex-militar austríaco
Adolf Hitler, que rapidamente se tornou uma das principais lideranças do partido nazista.
EM TERMOS DE PSICOLOGIA SOCIAL, ELE
[HITLER] REPRESENTA O HOMEM COMUM, EM
POSIÇÃO DE SUBORDINAÇÃO, ANSIOSO PARA
COMPENSAR SEUS SENTIMENTOS DE
INFERIORIDADE ATRAVÉS DA MILITÂNCIA E DO
RADICALISMO POLÍTICO. SEU NASCIMENTO NA
ÁUSTRIA, SEU FRACASSO NA ESCOLA E NA
PROFISSÃO E A EXPERIÊNCIA LIBERTADORA DA
CAMARADAGEM MASCULINA DURANTE A
GUERRA, FORJARAM, AO MESMO TEMPO, SUA
VIDA E A IDEOLOGIA DO NACIONAL-SOCIALISMO.
(BRACHER, 2000, p. 810)
Militar de baixa patente sem grandes feitos militares, artista frustrado pelo não reconhecimento do
mercado cultural, é como se Hitler representasse a própria Alemanha naquela conjuntura:apequenado, menosprezado e com ódio, muito ódio. Foi nas franjas desse ressentimento coletivo
que o Partido Nacional-Socialista (“socialista”, aqui, não tem nenhuma relação com o socialismo,
sistema social e político idealizado por Karl Marx), foi ganhando força e se tornando popular.
O nazismo foi se construindo na prática política sem se inspirar em grandes tratados de
delimitação conceitual. Porém, se quisermos encontrar um “teórico do nazismo”, podemos
destacar o escritor Alfred Rosenberg (1893–1946), autor do livro O mito do século XX ,
publicado pela primeira vez em 1930. Rosenberg chegou a ser ministro de Hitler, participando
ativamente da deportação e do extermínio de milhares de pessoas.
O grande argumento de Rosenberg apontava para a incapacidade da República de Weimar —
regime político liberal-democrático que governou a Alemanha entre 1918 e 1933 — de promover a
“restauração da grandeza alemã”. Toda a propaganda política nazista, dirigida pessoalmente por
Joseph Goebbels (1897–1945), o “marqueteiro de Hitler”, investiu na acusação de fraqueza para
deslegitimar o regime de Weimar.
Foto: Quibik/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0
 Alfred Rosenberg.
Outro fator explorado pela propaganda foi o medo das elites perante o fortalecimento do
socialismo após 1918, com a Revolução Russa. Até então, muitos analistas, incluindo o próprio
Karl Marx, acreditavam que a Alemanha seria o palco da primeira grande revolução socialista, por
já contar com uma organização industrial sólida e uma numerosa classe operária.
Outro ponto importante para a propaganda nazista foi o estímulo ao antissemitismo, que já era
presente no imaginário europeu desde a Antiguidade. Como a identidade judaica é antes religiosa
que política, os judeus se consideram mais pertencentes a uma comunidade irmanada pela fé do
que as comunidades nacionais unificadas pela identidade nacionalista. Nesse sentido, o judeu
inglês, francês ou alemão tende a se considerar mais judeu do que inglês, francês ou alemão.
Esse cosmopolitismo religioso judaico foi visto como uma ameaça à integração e à pureza da
“nação alemã”.
BASES DO PENSAMENTO
Assim, podemos dizer que, em termos doutrinários, o nazismo apresenta as seguintes
características:
Discurso ultranacionalista que definiu a nacionalidade alemã como representante de uma
raça evolutivamente superior e, por isso, vocacionada à expansão.
Negação do regime democrático-liberal, acusado de ser fraco e incapaz de resgatar a
“grandeza alemã”, que estava sendo comprometida pelas imposições do Tratado de
Versalhes.
Anticomunismo, o que fez com que as elites alemãs, assustadas com o espectro da
Revolução Russa, não pensassem duas vezes antes de apoiar o partido nazista.
Antissemitismo, por considerar o cosmopolitismo religioso judeu uma ameaça à “pureza” da
nacionalidade alemã.
Uma eficiente máquina de propaganda em massa, baseada na narrativa de que a história
alemã era a história do conflito com os “outros”, e que o que estava em jogo nesse conflito
era a sobrevivência e a pureza da pátria.
Combinando todos esses fatores, somados à percepção da sociedade alemã de que o governo
democrático não seria capaz de superar os efeitos da derrota na Primeira Guerra Mundial, a
década de 1920 foi marcada pela ascensão política meteórica do Partido Nazista. Em pouco
tempo, Hitler deixou de ser uma figura caricata, alvo de piadas em jornais e folhetins, e se tornou
a principal liderança política do país.
Após a tentativa de golpe frustrada em 1923, que levou Hitler à prisão por um ano, o Partido
Nazista foi se acomodando às regras do jogo eleitoral, e assim foi corroendo a democracia por
dentro. Em 1930, Hitler assumiu o cargo de chanceler, uma espécie de primeiro-ministro. Em
1933, após a morte do presidente Paul von Hindenburg (1847-1933), Hitler se tornou o ditador
supremo da Alemanha, o Führer . O resultado para a Alemanha e para o mundo já é bastante
conhecido.
A trajetória histórica do fascismo na Itália guarda algumas semelhanças com o caso do nazismo
europeu, mas existem também diferenças que precisam ser destacadas. No que se refere às
semelhanças, podemos destacar, a partir da leitura dos estudos desenvolvidos pelo cientista
político italiano Edda Saccomani:
Foto: Ras67/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0
Nacionalismo agressivo: tal como aconteceu na Alemanha, a Itália também se construiu como
nação unificada no século XIX, em um processo político marcado por intensa agitação militar.
 Reunião do partido nazista em Nurembergue em 1936.
Foto: ANGELUS/Wikimedia commons/Domínio Público
Tal como Hitler, Benito Mussolini também se fortaleceu liderando um sentimento crítico ao
liberalismo político, acusado de ser fraco e potencialmente corrupto. O fascismo italiano, assim
como o nazismo alemão, defendia que a representação política deveria acontecer fora dos canais
legislativos estabelecidos pelo liberalismo político. O chefe seria o único capaz de representar o
povo, por meio de uma relação direta e não mediada.
 Benito Mussolini durante a marcha sobre Roma em 28 de outubro de 1922.
Foto: Diretor/Wikimedia commons/Domínio Público
As semelhanças entre Hitler e Mussolini não param por aí. Ambos foram militares, lutaram na
Primeira Guerra Mundial e construíram suas trajetórias por dentro da democracia liberal,
concorrendo a eleições e ocupando cadeiras no legislativo.
 Adolf Hitler e Benito Mussolini em Munique, na Alemanha.
UNIÃO E DISSEMINAÇÃO DE UM MODELO
Foto: RiccardoP1983/Wikimedia commons/Domínio Público
 A assinatura do Pacto de Aço em 22 de maio de 1939 em Berlim.
Essas semelhanças levaram a uma aliança entre Alemanha e Itália, firmada em maio de 1939, no
acordo que ficou conhecido como “Pacto de Aço”. Por outro lado, a questão racial, especialmente
o antissemitismo, não foi central para o fascismo italiano, intensificando-se mais depois da
consolidação da aliança com a Alemanha. Outra diferença importante se refere ao peso da
Primeira Guerra Mundial, que não foi tão grande para a ascensão de Mussolini como havia sido
para Hitler.
Já as relações com o comunismo foram ainda mais tensas na Itália fascista do que foram na
Alemanha nazista, e isso se explica pelo fato de que o próprio Mussolini começou sua trajetória
política no partido socialista. O partido fascista disputou as mesmas bases sociais com o partido
socialista: os trabalhadores urbanos organizados em sindicatos, que foram cooptados pela
estrutura burocrática do Estado fascista.
Se, na Alemanha nazista, a perseguição nazista aos comunistas se deu pelo temor de que
pudesse acontecer uma revolução socialista no país, na Itália, isso aconteceu, também, devido à
disputa política direta entre fascistas e comunistas pela mesma base social.
Outra diferença importante se dá no plano da sistematização doutrinária. Enquanto o nazismo
não chegou a produzir um tratado de definição teórica, o fascismo foi mais cuidadoso nesse
sentido. O livro A doutrina do fascismo , escrito por Mussolini e pelo filósofo Giovanni Gentile
(1875–1944), foi publicado em 1932. A doutrina fascista nega o individualismo, que é uma das
principais invenções conceituais da Modernidade, como vimos na primeira parte de nosso estudo.
PODEMOS PENSAR QUE ESTE É O SÉCULO DA
AUTORIDADE, UM SÉCULO DE DIREITA, UM
SÉCULO FASCISTA; SE O SÉCULO XIX FOI O
SÉCULO DO INDIVIDUALISMO (LIBERALISMO
SEMPRE SIGNIFICA INDIVIDUALISMO), PODEMOS
PENSAR QUE ESTE É O SÉCULO DO COLETIVISMO
E, PORTANTO, O SÉCULO DO ESTADO.
(GENTILE; MUSSOLINI, 2019, p. 23)
O principal adversário ideológico do fascismo é o liberalismo individualista. A célula social básica
para o fascismo é a coletividade social, representada, em espírito, pelo líder carismático. Na
moralidade fascista, o individualismo é sinônimo de egoísmo e tem como resultado a
desagregação da sociedade. O ideal, então, seria a coesão social, a partir de critérios definidos
pelo próprio Estado, de cima para baixo, pautada em valores gerais como religião,ordem e
família. Assim, o Estado teria autoridade para perseguir liberdades individuais, matar e torturar,
sempre em nome da “razão coletiva”.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO DOS
SANTOS RAINHA RETOMA OS PONTOS
PRINCIPAIS SOBRE O NAZIFASCISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA QUE APRESENTA
DA MANEIRA CORRETA AS ORIGENS HISTÓRICAS DO NAZISMO ALEMÃO.
A) Podemos falar em duas origens históricas: na Idade Média, por conta do fortalecimento da
cultura germânica, e no século XIX, em virtude do nacionalismo agressivo protagonizado pela
Prússia na ocasião da unificação do Estado alemão.
B) Podemos falar em duas origens históricas: na Idade Média, por conta do fortalecimento da
cultura germânica, e no século XX, por conta dos desdobramentos da derrota na Primeira Guerra
Mundial.
C) Podemos falar em duas origens históricas: no século XIX, em virtude do nacionalismo
agressivo protagonizado pela Prússia na ocasião da unificação do Estado alemão, e no século
XX, por conta dos desdobramentos da derrota na Primeira Guerra Mundial.
D) Podemos falar em duas origens históricas: a Antiguidade, em virtude da ocasião das invasões
germânicas no Império Romano, e no século XX, por conta dos desdobramentos da derrota na
Primeira Guerra Mundial.
E) Podemos falar em duas origens históricas: a Antiguidade, em virtude da ocasião das invasões
germânicas no Império Romano, e no século XIX, em virtude do nacionalismo agressivo
protagonizado pela Prússia na ocasião da unificação do Estado alemão.
2. OS JUDEUS FORAM AS GRANDES VÍTIMAS DA MÁQUINA DE
DESTRUIÇÃO NAZISTA QUE FUNCIONOU AO LONGO DOS ANOS 1930.
ASSINALE, ENTRE AS OPÇÕES ABAIXO, AQUELA QUE EXPLICA POR QUE
OS JUDEUS ESTIVERAM ENTRE OS PRINCIPAIS ALVOS DO NAZISMO.
A) Os judeus foram as grandes vítimas do nazismo porque eram, em grande parte, operários
vinculados ao partido comunista.
B) Os judeus foram as grandes vítimas do nazismo porque eram, em grande medida, defensores
do liberalismo democrático.
C) Os judeus foram as grandes vítimas do nazismo em virtude de seu cosmopolitismo religioso,
que ameaçava o nacionalismo agressivo alemão.
D) Os judeus foram as grandes vítimas do nazismo porque, em grande parte, eram empresários
ricos, e o governo nazista era comunista.
E) Os judeus foram as grandes vítimas do nazismo porque seu nacionalismo violento se tornou
uma ameaça para o cosmopolitismo alemão.
GABARITO
1. Assinale, entre as alternativas abaixo, aquela que apresenta da maneira correta as
origens históricas do nazismo alemão.
A alternativa "C " está correta.
O estudante deve saber que, segundo os estudos do cientista político alemão Karl Dietrich
Bracher, o nazismo tem duas origens: o nacionalismo agressivo que resultou na unificação da
Alemanha ainda no século XIX e o trauma da derrota na Primeira Guerra Mundial, já na década
de 1920.
2. Os judeus foram as grandes vítimas da máquina de destruição nazista que funcionou ao
longo dos anos 1930. Assinale, entre as opções abaixo, aquela que explica por que os
judeus estiveram entre os principais alvos do nazismo.
A alternativa "C " está correta.
O estudante precisa saber que a identidade judaica é antes religiosa que nacionalista, o que se
tornou uma ameaça para o nacionalismo agressivo alemão.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudamos quatro sistemas de pensamento político que, desde o século XIX, inspiram
comportamentos políticos de indivíduos e grupos e a própria organização do Estado.
Conservadores, liberais, nacionalistas e fascistas deixaram heranças que até hoje se fazem
presentes no debate político, ainda que, muitas vezes, não tenhamos consciência disso.
Fundamental para nós é estudar esses repertórios e entender que a política é capaz de nos
emancipar, de garantir direitos que não deveriam ser negados a nenhum ser humano. Porém, é
capaz, também, de promover a barbárie, o extermínio, o preconceito e a violência. Cabe, então, a
cada um de nós escolher. A escolha é sempre um ato político.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
BRACHER, Karl Dietrich. Nacional-socialismo. In : Dicionário de política. BOBBIO, Norberto;
MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Brasília: UNB, 2000. pp. 806-812.
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Edipro, 2014.
COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e
reacionários. São Paulo: Três estrelas, 2014.
CHATEAUBRIAND, René. Études historiques. Œuvres complètes de Chateaubriand. Paris:
Garnier, T.IX, 1861.
GENTILE, Giovanni; MUSSOLINI, Benito. A doutrina fascista. São Paulo: Apris, 2019. 
HOBSAWM, Eric. Nações e nacionalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de
Janeiro: ContraPonto, 2006.
LEVI, Luci. Nacionalismo. In : Dicionário de política. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Brasília: UNB, 2000. pp.799-806.
LOCKE, John. Os dois tratados sobre o governo. Brasília: Imprensa Oficial, 1986.
MANNHEIM, Karl. Conservative thought. Londres: P&C, 1987.
ROUSSEAU, Jean Jacques. O contrato social. Rio de Janeiro: LPM, 2011.
TRANFAGLIA, Nicola. Liberalismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
Gianfranco. Dicionários de Ciência Política Brasília: UNB, 2000. pp. 686-705.
MÖSER, Jüstus. Osnabrückische Geschichte: Allgemeine Einleitung. Osnabruque: Schmid,
1992. 
NISBET, Robert. O conservadorismo. Lisboa: Estampa, 1989.
EXPLORE+
Leia as seguintes obras, que são referências para seus estudos:
Dicionários de Ciência Política , de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci, Gianfranco
Pasquino.
O antigo regime e a revolução , de Alexis Tocqueville.
Sobre a liberdade , de Stuart Mill.
Existem comentários e vídeos na rede. Vale a pena uma boa pesquisa.
CONTEUDISTA
Rodrigo Perez Oliveira
 CURRÍCULO LATTES
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