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Aula 06 Crise do Capitalismo e sua Reinveção no Século XXI

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DESCRIÇÃO
Estudar a dinâmica do capitalismo, suas crises e reinvenções nas últimas décadas dos
séculos XX e primeiras décadas do XXI.
PROPÓSITO
Compreender os fenômenos do capitalismo contemporâneo, parte fundamental na
dinâmica mundial, é importante para profissionais que precisam analisar o mundo
contemporâneo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a dinâmica do modelo neoliberal de acumulação capitalista
MÓDULO 2
Examinar o fortalecimento dos projetos políticos que, no início do século XXI,
questionaram o modelo neoliberal do capitalismo internacional
MÓDULO 3
Identificar o fortalecimento de populismos de extrema-direita
INTRODUÇÃO
O capitalismo se consolidou como realidade histórica num longo e complexo processo,
que teve início no século XIV e se estendeu até o final do século XVIII. Nesse período,
várias experiências colaboraram para o amadurecimento, lento e não linear, da ordem
capitalista: a crise do feudalismo, a formação do Estado moderno, as reformas religiosas,
a revolução científica, o descobrimento da América e as revoluções burguesas,
especialmente a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. No início do século XIX,
o capitalismo já era realidade estruturada e não havia região no mundo imune à sua
influência. Mas seria equivocado supor que a afirmação do capitalismo como modo de
vida hegemônico significa que o sistema não foi desestabilizado por crises internas e por
questionamentos daqueles que tentaram superá-lo, propondo ordem social alternativa.
Ainda no século XIX, podemos destacar as revoluções sociais de 1848 e de 1871 na
França, que trouxeram ao primeiro plano de suas reivindicações a superação do
capitalismo. A crise geral de 1873 mostrou como a própria dinâmica interna do
capitalismo era capaz de abalar o sistema. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi,
em parte, resultado das contradições internas do capitalismo. Ao mesmo tempo,
acontecia a Revolução Russa, que deu origem à União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, com seu projeto de superação do capitalismo através da implantação do
comunismo. Poderíamos falar, ainda, da crise geral do capitalismo da década de 1929,
da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e da Guerra Fria, na segunda metade do
século XX.
Em 1973, o capitalismo foi balançado por mais uma crise geral. A história do sistema
econômico, portanto, é a história de suas mais diversas experiências críticas. É uma
história marcada mais pela instabilidade do que pela estabilidade. Aqui, neste conteúdo,
estamos interessados em estudar os capítulos mais recentes dessa história. Neste nosso
século XXI, novamente a crise do capitalismo é realidade incontornável, seja no aspecto
político, com a emergência de populismos de extrema-direita que ameaçam o modelo da
democracia liberal burguesa, seja com a pandemia da covid-19, que colocou o ocidente
capitalista de joelhos.
Nossa reflexão está dividida em quatro momentos: primeiramente, tratamos do
neoliberalismo, modelo de acumulação capitalista hegemônico no final do século XX e
que se tornou alvo de questionamentos ao longo das duas primeiras décadas do século
XXI. Em seguida, estudamos os dois governos do democrata Barack Obama nos
Estados Unidos (2009-2017), especialmente o programa “ Obama Care”, que, em
diversos aspectos, tensionou o modelo neoliberal. Depois, nos debruçamos sobre os
governos de centro-esquerda que ascenderam ao poder na América Latina na primeira
década do século XXI, negando as premissas neoliberais. Ainda aqui, abordamos o
desenvolvimentismo chinês, o grande adversário do neoliberalismo ocidental no cenário
mundial. Nosso próximo passo é analisar a dinâmica ideológica dos populismos de
extrema-direita, que se fortaleceram em meio à crise social provocada pelo
neoliberalismo e colocaram em risco o modelo da democracia liberal burguesa ao longo
da década de 2010. Por último, examinamos os efeitos da pandemia da covid-19 para o
sistema capitalista internacional.
OBAMA CARE
Programa de saúde governamental do governo Obama, que foi muito criticado pela
oposição.
MÓDULO 1
 Descrever a dinâmica do modelo neoliberal de acumulação capitalista
javascript:void(0)
CONHECENDO O NEOLIBERALISMO
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez apresentando o papel do
neoliberalismo.
NEOLIBERALISMO: HISTÓRIA E
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
 Manifestação contrária ao Imposto Comunitário na Trafalgar Square, em 31 de
março de 1990.
No final da década de 1980, alguns governos de importantes países centrais, como
Estados Unidos e Inglaterra, começaram a colocar em prática uma modalidade de
gestão político-administrativa que ficaria conhecida como “neoliberalismo”.
O presidente norte-americano Ronald Reagan (1911-2004) e a primeira-ministra britânica
Margaret Thatcher (1925-2013) foram os primeiros líderes a seguirem o receituário
neoliberal, caracterizado pelo corte abrupto nos gastos do Estado, o que significa
precarizar serviços públicos e reduzir o arco de direitos sociais garantidos pelo
governo. Em questão está o debate sobre qual seria a função do Estado, que, na lógica
liberal, deve ficar restrita à garantia da segurança interna e da soberania nacional,
intervindo o mínimo possível na economia, que deveria funcionar de acordo com a
“lei do livre mercado”.
Assim, a relação capital versus trabalho, entre patrões e empregados, aconteceria sem
nenhuma mediação do poder público, com o Estado se eximindo da responsabilidade de
garantir proteção social aos trabalhadores e aos pobres em geral. Margaret Thatcher e
Ronald Reagan chegaram ao comando político de seus países comprometidos com a
agenda neoliberal, o que fez com que seus governos tenham sido marcados por muitas
tensões e protestos promovidos pelos trabalhadores e por outros setores da sociedade
civil organizada. Thatcher já era figura relevante na cena política inglesa desde meados
da década de 1970, quando liderava a oposição conservadora contra o governo
trabalhista comandado por James Callaghan (1912-2005).
 O presidente Ronald Reagan com a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher,
em Camp David, em 1986.
Em síntese, o governo trabalhista estava fundado no projeto da social-democracia, que
defende o Estado como centro planejador do desenvolvimento econômico, da promoção
da justiça social e da ampliação dos direitos sociais, como alimentação, moradia e
proteção laboral aos trabalhadores. Todos esses direitos estariam garantidos através
daquilo que alguns economistas chamam de taxação progressiva da sociedade.
OU SEJA, AS PESSOAS PAGARIAM
IMPOSTOS DE ACORDO COM SUA RIQUEZA.
OS RICOS PAGARIAM MAIS E FINANCIARIAM
OS DIREITOS SOCIAIS DOS MAIS POBRES,
QUE PAGARIAM MENOS IMPOSTOS. ASSIM,
O ESTADO FUNCIONARIA COMO
GARANTIDOR DA EQUIDADE SOCIAL.
Como podemos perceber, trata-se de uma concepção de Estado completamente
diferente daquela que caracteriza o pensamento neoliberal. Margaret Thatcher se
fortaleceu como liderança política questionando esse uso do Estado, argumentando que
a taxa tributária necessária para garantir a manutenção da social-democracia seria
demasiadamente alta e oneraria equivocadamente a sociedade civil, sufocando a
iniciativa privada e o empreendedorismo individual. Assumindo o comando político da
Inglaterra em maio de 1979, Thatcher fundou seu governo na ideia de
desregulamentação: alterou a legislação trabalhista, o que provocou muitos
protestos organizados pelas principais centrais sindicais do país; privatizou
empresas públicas e diminuiu impostos. A popularidade que Thatcher havia
acumulado nos anos de oposição diluiu-se rapidamente, a ponto de ela ter sido alvo, em
1984, de uma tentativa de assassinato.
TENTATIVA DE ASSASSINATO
A tentativa ocorreu em um atentado terrorista reivindicado pelo IRA (Exército
Republicano Irlandês), com uma explosão no Grand Hotel Brighton, onde ocorria uma
reunião do partido conservador.
javascript:void(0)
 Grand Hotel após a explosão de atentado ao assassinato de Thatcher. Ronald Reagan.
Ronald Reagan foi eleito o 40° Presidente dos EUA em novembro de 1980, após derrotar
o candidato democrata Jimmy Carter, que, na época, era o presidente em exercício,
tentando reeleição. A vitória de Reagan foi esmagadora e traduziu um desejo de
mudança compartilhado pela sociedade norte-americana.
A situação, em parte, era semelhante à inglesa. Na década de 1930, em virtude da crise
geral do capitalismo, os Estados Unidos, sob a liderança do presidente Franklin Delano
Roosevelt (1882-1945), estabeleceram um tipo de governo que podemos definir como
sendo de matriz social-democrata.
O Estado se tornou o principal investidor e, por meio de obras públicas, gerou milhares
de empregos, agindo também como protetor social dos mais pobres, com forte legislação
trabalhista. Isso tudo, às custas e tributação progressiva da sociedade civil, na qual os
ricos pagam mais impostos e os pobres são os principais receptores dos direitos sociais
garantidos pelo Estado.
O plano de reestruturação econômica idealizado por Roosevelt, que ficou conhecido
como New Deal, impactou o mundo no período entreguerras, demonstrando os limites
práticos da tese do livre mercado, fundamental para o repertório liberal a partir do século
XVIII, desde os textos de Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). As
guerras mundiais e o colapso do sistema capitalista internacional mostraram que, em
momentos de crise aguda, somente o Estado é capaz de promover movimentos
anticíclicos e estimular a economia quando os investidores privados estão assustados e
pouco dispostos a correrem riscos. Segundo Pierre Dardot e Christian Laval, foi a
“necessidade prática de intervenção do governo que pôs em crise o liberalismo
dogmático, pautado numa ideia de desregulamentação que nunca se consolidou na
prática” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 38).
NEW DEAL
O plano tinha uma relação com um modelo econômico baseado em um capitalismo
dirigido e intervencionista conhecido como keynesianismo.
javascript:void(0)
 Sinais para a eleição de 1936 nas ruas de Hardwick, Vermont, EUA.
A cultura do New Deal foi fundamental para a superação da crise catastrófica que se
abateu sobre os EUA entre as décadas de 1930 e 1950. Porém, a partir do final da
década de 1960, ganharam força os questionamentos ao modelo rooseveltiano do
Estado provedor. Como demonstra Jürgen Habermas, as críticas à social-democracia,
nos EUA, tiveram o resultado de refundar a direita norte-americana, dando início àquilo
que o autor chama de “A nova obscuridade”. Além das críticas à carga tributária
necessária para a manutenção do experimento social-democrata, ganhou forma,
também, um tipo de crítica cultural, que explicava o comportamento considerado
desregrado da juventude (movimento pelos direitos civis da população negra, movimento
hippie, festival de Woodstock) pelas alegadas comodidades que o “Estado
assistencialista” possibilitava. Isso teria dado origem a uma geração preguiçosa,
hedonista e pouco afeita ao trabalho.

SEGUNDO OS NEOLIBERAIS, A SITUAÇÃO DE
COLAPSO MORAL QUE ESTARIA SENDO
VIVENCIADA NOS EUA, NAS DÉCADAS DE 1960 E
1970, SE EXPLICAVA PELA “INFLAÇÃO DE
EXPECTATIVAS E REINVINDICAÇÕES
IMPULSIONADA PELA CONCORRÊNCIA ENTRE OS
PARTIDOS, PELAS MÍDIAS DE MASSA, PELO
PLURALISMO DE ASSOCIAÇÕES ETC. ESSA
PRESSÃO DAS EXPECTATIVAS DOS CIDADÃOS
“EXPLODE” EM UMA AMPLIAÇÃO DRÁSTICA DAS
TAREFAS ESTATAIS. OS INSTRUMENTOS DE
CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO SE
SOBRECARREGAM COM ISSO. A SOBRECARGA
LEVA TANTO MAIS ÀS PERDAS DE LEGITIMIDADE
QUANTO O ESPAÇO DE AÇÃO ESTATAL É
ESTRANGULADO POR BLOCOS DE PODER PRÉ-
PARLAMENTARES, E QUANDO OS CIDADÃOS
RESPONSABILIZAM O GOVERNO PELAS PERDAS
ECONÔMICAS PERCEPTÍVEIS. ISSO É TANTO MAIS
PERIGOSO QUANTO MAIS A LEALDADE DA
POPULAÇÃO DEPENDE DE COMPENSAÇÕES
MATERIAIS.
(HABERMAS, 2015, p. 67)
Foi nesse clima de acirrado conflito e intensas disputas entre concepções de Estado
diametralmente opostas que aconteceram as eleições presidenciais de 1980. Todo o
debate eleitoral girou ao redor do legado do modelo rooseveltiano. A vitória esmagadora
de Reagan decretou um novo momento na história dos EUA, caracterizado pela
radicalização da perseguição às esquerdas, pelo enfraquecimento dos sindicatos e pelo
desmonte da legislação destinada à proteção social.
 Ronald Reagan dando seu discurso de aceitação da nomeação na Convenção
Nacional Republicana, em Detroit, no estado de Michigan, em 17 de julho de 1980.
Com todo custo social que tiveram, os governos de Thatcher e Reagan conseguiram
diminuir os gastos públicos e garantir maior rendimento aos setores mais dinâmicos e
poderosos do capitalismo na época, transformando o modelo neoliberal de gestão em
padrão hegemônico.
A FORÇA DO NEOLIBERALISMO PARECIA
INABALÁVEL, TENDO SIDO COROADA PELO
CONSENSO DE WASHINGTON, REALIZADO
EM 1989.
O “consenso”, como ficou conhecido, foi um fórum internacional comandado pelo Banco
Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI, e pelo Departamento de Tesouro
dos EUA que definiram o receituário neoliberal como o único tecnicamente correto para
administrar as economias nacionais. O encontro estabeleceu algumas “regras de ouro”
para a boa prática da gestão econômica, como a desregulamentação dos gastos
obrigatórios do Estado, a privatização das empresas públicas e diminuição da carga
tributária.
O principal efeito ideológico do Consenso de Washington foi transformar aquilo que era
uma orientação ideológica em obrigação técnica e, dessa forma, conseguir pautar o
debate econômico mundial.
 ATENÇÃO
A hegemonia neoliberal, no entanto, não duraria para sempre. O alvorecer do século XXI
trouxe diversos questionamentos ao modelo neoliberal, impulsionando diferentes
experiências de crise, como estudaremos nas próximas seções. Por enquanto, é
importante dedicar mais atenção ao próprio neoliberalismo, às suas transformações,
tentando entender seu lugar na história do pensamento político/econômico liberal.
AGENDA POLÍTICA NEOLIBERAL
A agenda política e econômica do neoliberalismo consiste na radicalização de preceitos
liberais que vinham sendo desenvolvidos desde o século XVIII. Na primeira geração do
liberalismo econômico, podemos situar:
 David Ricardo.
David Ricardo (1772-1823)
 Adam Smith.
Adam Smith (1723-1790)
Cada um a seu modo, ambos defenderam as ideias do Estado mínimo e do livre
mercado, sem desconsiderar o dilema do combate à pobreza social, questão
fundamental para o pensamento econômico liberal.
PARA RICARDO E SMITH, A POBREZA
SOCIAL SE RESOLVERIA NATURALMENTE
PELA LÓGICA DA COMPLEMENTARIEDADE.
Ou seja, setores com excesso produtivo compensariam o deficit produtivo de outros
setores, naturalmente, em troca impulsionada pelo livre fluxo da atividade econômica,
sem interferência do Estado, que somente atrapalharia o processo. Havia, nesses
autores e nas práticas políticas que eles inspiraram, aquilo que podemos chamar de
“utopia liberal”, segundo a qual o aprimoramento das liberdades individuais levaria à
erradicação da pobreza social.
 ATENÇÃO
O dilema da pobreza social tornou-se ainda maior no século XIX, com o aprofundamento
da Revolução Industrial. Surgiram grandes conglomerados urbanos em diversos países
da Europa, com trabalhadores amontoados em bairros proletários, com acesso precário
à água e aos serviços sanitários. As doenças se espalhavam, assim como a violência.
Todos os grandes pensadores oitocentistas trouxeram a pobreza social para o primeiro
plano de suas reflexões. No final do século XIX, o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-
1903) promoveu algumas mudanças no pensamento econômico liberal, especialmente
no que se refere à questão da pobreza social, tornando-se matriz daquilo que
posteriormente seria conhecido como neoliberalismo.
Tal como Ricardo e Smith, Spencer também defendia que a pobreza social seria
naturalmente extinta pelo livre mercado. Porém, diferentemente dos seus antecessores,
Spencer negava a lógica da complementariedadeprodutiva e, evocando os princípios do
darwinismo, falava em competição social.
 Herbert Spencer
PARA SPENCER, A POBREZA
DESAPARECERIA COM O
DESAPARECIMENTO DOS POBRES, QUE,
MENOS PREPARADOS PARA A DISPUTA
SOCIAL, TENDERIAM A DESAPARECER, A
MORRER.
Para isso, o Estado não deveria intervir no processo, tampouco garantir amparo social
aos pobres. Na lógica spenceriana, a pobreza social acabaria na medida em que os
pobres desaparecessem. Nas palavras do próprio Spencer no livro O indivíduo contra o
Estado , publicado pela primeira vez em 1884:

SENDO A AQUISIÇÃO DE UM BEM PARA O POVO O
TRAÇO EXTERNO VISÍVEL COMUM NAS MEDIDAS
LIBERAIS NOS TEMPOS ANTIGOS (E ESSE BEM
CONSISTIA ESSENCIALMENTE NUMA DIMINUIÇÃO
DA COERÇÃO), RESULTOU QUE OS LIBERAIS
VIRAM O BEM DO POVO NÃO COMO UM OBJETIVO
QUE ERA NECESSÁRIO ATINGIR DIRETAMENTE. E,
PROCURANDO ATINGI-LO DIRETAMENTE,
EMPREGARAM MÉTODOS INTRINSECAMENTE
CONTRÁRIOS AOS QUE HAVIAM SIDO
EMPREGADOS ORIGINALMENTE. (...) QUEREM
LASTIMAR AS MISÉRIAS DOS POBRES
MERITÓRIOS, EM VEZ DE REPRESENTÁ-LAS – O
QUE NA MAIORIA DOS CASOS SERIA MAIS
CORRETO – COMO AS MISÉRIAS DOS POBRES
DEMERITÓRIOS. EM MINHA OPINIÃO, PODE-SE
CONSIDERAR QUE UM DITADO CUJA VERDADE É
ACEITA IGUALMENTE PELA CRENÇA COMUM E
PELA CRENÇA DA CIÊNCIA GOZA DE UMA
AUTORIDADE INCONTESTÁVEL. POIS BEM! O
MANDAMENTO: “SE UMA PESSOA NÃO DESEJA
TRABALHAR, NÃO DEVE COMER” É
SIMPLESMENTE O ENUNCIADO CRISTÃO DESSA
LEI DA NATUREZA SOB IMPÉRIO DA QUAL A VIDA
ATINGIU SEU GRAU ATUAL, A LEI SEGUNDO A
QUAL UMA CRIATURA QUE NÃO É
SUFICIENTEMENTE ENÉRGICA PARA SE BASTAR
DEVE PERECER.
(SPENCER apud DARDOT; LAVAL, 2016, pp. 46-47)
O spencerianismo inspirou a formação de um grupo de economistas que ficaria
conhecido como Escola de Chicago, formada por nomes como George Stigler (1911-
1991) e Milton Friedman (1912-2006). Em síntese, a Escola de Chicago defendia o
monetarismo, confrontando o keynesianismo, que era o fundamento econômico da
social-democracia. Outro importante grupo de economistas que sistematizou os valores
do neoliberalismo foi a Escola Austríaca, representada por nomes como Carl Menger
(1840-1921), Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) e Ludwig von Mises (1881-1973). As
ideias de voluntariedade e agência são norteadoras do pensamento econômico
desenvolvido pela Escola Austríaca. Para os autores, as partes individuais devem ser
totalmente livres para negociar suas interações econômicas, sem nenhum tipo de
regulação por parte do Estado. Para os economistas da Escola Austríaca, o indivíduo é a
célula fundamental da atividade econômica e, por isso, não deve ser constrangido por
interesses externos a ele.
Nas palavras de Mises:
 Ludwig von Mises
Como podemos perceber na citação, o Estado, para Mises, é força coercitiva, cuja única
função é constranger e limitar a liberdade individual. Estamos aqui muito distantes da
concepção de Estado que foi desenvolvida por outros autores do escopo liberal, como
John Locke (1632-1704), para quem o Estado tinha a função de garantir as liberdades
individuais através da aplicação da lei. Em Mises, o Estado é a ameaça à liberdade
individual, e, quanto menos Estado, mais liberdade.
Foi esse modelo neoliberal que se tornou hegemônico no capitalismo internacional em
fins do século XX e, como veremos a seguir, entrou em colapso já nos primeiros anos do
século XXI.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Examinar o fortalecimento dos projetos políticos que, no início do século XXI,
questionaram o modelo neoliberal do capitalismo internacional
CRISES DO NEOLIBERALISMO
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez sobre a crise do modelo
neoliberal no mundo.
CRISE DO NEOLIBERALISMO NAS
AMÉRICAS
O século XXI nasceu sobre os impactos da lógica neoliberal acumulados ao longo da
década de 1990. Em regiões mais pobres do mundo, sobretudo na América Latina, as
diretrizes do Consenso de Washington provocaram o empobrecimento geral das
sociedades civis, a precarização de serviços públicos e o comprometimento da soberania
nacional, com a privatização em empresas públicas estratégicas. Um dos principais
efeitos do neoliberalismo se deu na transformação na ideia de Estado e,
consequentemente, de função do poder público.
O ESTADO DEIXOU DE SER VISTO COMO O
RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA E PELO
BEM-ESTAR SOCIAL DA COMUNIDADE PARA
SER TRATADO COMO UMA EMPRESA QUE
JAMAIS PODE DAR PREJUÍZO.
É o “Estado-firma”, nas palavras de Wendy Brown.

TANTO AS PESSOAS QUANTO OS ESTADOS SÃO
BASEADOS NO MODELO DA EMPRESA
CONTEMPORÂNEA, ESPERA-SE QUE TANTO AS
PESSOAS QUANTO OS ESTADOS SE COMPORTEM
DE MODOS QUE MAXIMIZEM SEU VALOR CAPITAL
NO PRESENTE E AUMENTEM SEU VALOR
FUTURO, E TANTO AS PESSOAS QUANTO OS
ESTADOS O FAZEM ATRAVÉS DE PRÁTICAS DE
EMPREENDEDORISMO, AUTOINVESTIMENTO E
ATRAÇÃO DE INVESTIDORES.
(BROWN, 2015, p. 22)
Como o autor deixa claro, a racionalidade liberal, ou a “nova razão do mundo”, para
usarmos as palavras de Pierre Dardot e Christian Laval, afetou todas as relações
humanas, tanto as públicas como as privadas. É como se o neoliberalismo tivesse
inflado a lógica econômica a tal ponto que todas as ações humanas passaram a ser
vividas a partir das ideias de lucro e prejuízo. Até mesmo a temporalidade, como
argumenta Arthur Ávilla, foi afetada pela lógica neoliberal, com horizontes de futuro
sendo fechados e a experiência humana sendo encerrada no eterno presente, no curto
tempo da performance, da eficiência e do consumo.
A mundialização dos preceitos neoliberais provocou desconforto e mal-estar em diversas
regiões do mundo, o que deu origem ao surgimento de diversos questionamentos que se
fortaleceram já nos primeiros anos do século XXI. Podemos começar pela eleição de
governos de centro-esquerda em vários países da América Latina, fortalecidos pela
insatisfação daquelas sociedades com o modelo de administração neoliberal. Em 2005, a
empresa de comunicação britânica BBC realizou uma pesquisa e concluiu que ¾ dos
350 milhões de pessoas que viviam na América Latina naquela altura estavam sendo
governadas por projetos políticos de esquerda ou de centro-esquerda.
Clique no botão abaixo e confira a lista de presidentes de esquerda e seus períodos de
duração.
Clique no botão para ver as informações. Objeto com interação.
VEJA AQUI!
Na época, o fenômeno ficou conhecido como “guinada latino-americana”. Abaixo, a lista
desses governos, com seus períodos de duração:
Néstor Kirchner, na Argentina, entre 2003 e 2007.
Cristina Kirchner, na Argentina, entre 2007 e 2015.
Evo Morales, na Bolívia, entre 2006 e 2019.
Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, entre 2003 e 2011.
Dilma Rousseff, no Brasil, entre 2011 e 2016.
Ricardo Lagos, no Chile, entre 2002 e 2006.
Michelle Bachelet, no Chile, entre 2006 e 2010 e entre 2014 e 2018.
Oscar Arias, na Costa Rica, entre 2006 e 2011.
Maurício Funes, em El Salvador, entre 2009 e 2014.
Salvador Sánchez Cerén, em Salvador, entre 2014 e 2019.
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Rafael Correia, no Equador, entre 2007 e 2017.
Manuel Zelaya, em Honduras, entre 2006 e 2009.
Daniel Ortega, na Nicarágua, desde 2007.
Fernando Lugo, no Paraguai, de 2008 a 2012.
Tabaré Vázquez, no Uruguai, de 2005 a 2010 e depois de 2015 a 2020.
José Mujica, no Uruguai, de 2010 a 2015.
Hugo Chávez, na Venezuela, entre 1999 e 2013.
Nicolás Maduro, na Venezuela, desde 2013.
 Bandeira de Hugo Chávez durante as eleições presidenciais de abril em Caracas,
Venezuela, 2018.
É claro que esses governos têm suas particularidades e qualquer tentativa de
generalização é analiticamente perigosa. Entre esses governos, podemos encontrar
desde projetos de conciliação nacional que tentaram negociar com as forças do capital,
como foram os casos do kirchnismo na Argentina e do petismo no Brasil. Encontramos,
também, governos de enfrentamento e de ruptura, como foi o de Chávez, na Venezuela,
e de Morales, na Bolívia.
Mas, se é possível pensarmos em características comuns a todos esses governos, como
a rejeição ao neoliberalismoe às diretrizes do Consenso de Washington e a recuperação
da função social do Estado, suas trajetórias políticas também foram bastante diversas.
Alguns encontraram resistências e foram golpeados logo no início, como foram os casos
de Manuel Zelaya, em Honduras, e de Hugo Chávez, na Venezuela, sendo que Chávez
conseguiu reverter a situação e se manter no poder. Também Evo Morales foi golpeado,
mas depois de anos de governo. Fernando Lugo, no Paraguai, e Dilma Rousseff, no
Brasil, foram objeto de processos de impeachment polêmicos e definidos como “golpe
parlamentar” por parte da bibliografia especializada.
KIRCHNISMO
Nome atribuído ao casal que se revezou na presidência argentina – Cristina e Néstor.
As resistências ao neoliberalismo nos primeiros anos do século XXI não ficaram restritas
à América Latina. Também nas duas principais potências do mundo, nos EUA e na
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China, aconteceram críticas e questionamentos ao neoliberalismo.
Seria exagerado dizer que o governo do democrata Barack Obama, entre 2009 e 2017,
rompeu com os preceitos neoliberais. Mas seria equivocado supor que sua
administração seguiu os mesmos passos dos governos republicanos anteriores,
herdeiros de Ronald Reagan, que fizeram dos EUA o laboratório mundial das práticas
neoliberais. Obama, ao menos dentro dos EUA, relativizou algumas dessas
práticas, ainda que tenha as imposto a países mais pobres.
Barack Obama iniciou seu governo sob grande euforia da sociedade civil norte-
americana. Cerca de 2 milhões de pessoas compareceram à cerimônia de posse em 24
de fevereiro de 2009, num clima de congraçamento político que poucas vezes se viu
naquele país. Não era para menos, pois os EUA acabavam de eleger o primeiro
presidente negro, concluindo um ciclo de lutas da população afro-americana que havia
começado na década de 1960, com a jornada dos direitos civis. O governo de Obama foi
bastante contraditório no que se refere à comparação entre as políticas externa e interna.
Poucos presidentes dos EUA foram tão belicistas como Barack Obama, cuja
administração foi marcada por intensa movimentação militar, sobretudo no Oriente
Médio.
 RESUMINDO
No plano da política interna, Obama tentou corrigir problemas estruturais históricos da
sociedade norte-americana, como, por exemplo, a falta de um sistema de saúde ao qual
os cidadãos pudessem recorrer. Pode parecer estranho aos nossos olhos, mas os EUA
não têm um sistema de saúde para atender à população que não tem dinheiro para
pagar pelo serviço privado. Até o governo de Obama, os pobres não tinham atendimento
médico, o que traduz os valores de um país construído historicamente a partir da lógica
do mercado, da iniciativa privada, que desconfia de tudo que é público.
Ao criar o “Obama Care”, em 2010, Obama ofereceu plano de saúde subsidiado pelo
Estado a todos os cidadãos americanos em situação de vulnerabilidade social. Com isso,
o presidente trouxe o Estado para o debate nacional sobre o direito à saúde,
recuperando a ideia, de matriz social-democrata, de que cabe ao poder público garantir
acesso a direitos sociais básicos. Posteriormente, Donald Trump, sucessor de Obama,
tomou o desmonte do “Obama Care” como prioridade política, o que estudaremos com
mais calma na próxima seção, quando nos dedicaremos aos populismos de extrema-
direita, que se fortaleceram em diversas partes do mundo como um dos resultados do
colapso do neoliberalismo.
CRISE DO LIBERALISMO NO MUNDO
Também do outro lado do Oceano Atlântico, na Ásia, diversos países organizaram
estratégias de desenvolvimento econômico que confrontaram preceitos do
neoliberalismo. Analisando justamente a crise do império capitalista estadunidense, o
cientista político norte-americano Chalmers Johnson (1931-2010) foi o primeiro a utilizar
o conceito “desenvolvimentismo asiático” para analisar projetos econômicos emergentes
naquela região do mundo ao longo dos primeiros anos do século XXI. O livro de
Johnson, publicado em 1982, se dedica principalmente ao “milagre econômico japonês”,
mas as linhas gerais da análise do autor podem nos ajudar a compreender outros casos
que configuram, em grande medida, a crise contemporânea do capitalismo neoliberal.
Em outra obra, publicada em 1993, Johnson se debruçou especificamente sobre a
história econômica dos países asiáticos na segunda metade do século XX. Depois do
trabalho de Johnson, tornou-se recorrente dizer que o “estado desenvolvimentista” foi o
grande responsável pelo desenvolvimento econômico acelerado da Coreia do Sul,
Taiwan e Singapura entre os anos 1960 e 1980, da China, a partir dos anos 1990, e do
Vietnã, no início do século XXI.

O “MODELO ECONÔMICO” JAPONÊS DO PÓS-
GUERRA NÃO ERA ORIGINAL E VINHA DOS ANOS
1920; E SUA CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL
NÃO ERA ECONÔMICA, TINHA A VER COM A
“INTENSIDADE” COM QUE A SOCIEDADE E O
GOVERNO JAPONÊS SE DEDICAVAM AO
ESTABELECIMENTO E CUMPRIMENTO DOS SEUS
OBJETIVOS ESTRATÉGICOS. ESTA
“INTENSIDADE” SE DEVIA AO FATO DE QUE O
“MODELO” TINHA SIDO CONCEBIDO COMO UM
INSTRUMENTO DE GUERRA E DE
RECONSTRUÇÃO, DEPOIS DA GUERRA, E COMO
INSTRUMENTO DE DEFESA DA SOBERANIA
JAPONESA, FRENTE AOS DESAFIOS DO MUNDO E
DO CONTEXTO GEOPOLÍTICO ASIÁTICO, NA
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX.
(JOHNSON, 2017, p. 91)
O QUE O AUTOR ESTÁ DIZENDO?
OS MOTIVOS QUE EXPLICAM O SUCESSO
ECONÔMICO JAPONÊS SÃO MAIS
POLÍTICOS DO QUE PROPRIAMENTE
ECONÔMICOS.
Em um contexto de reconstrução nacional após a Segunda Guerra Mundial, o Estado
japonês tomou para si a responsabilidade de zelar pelos interesses nacionais,
condicionando toda atividade econômica ao que Johnson chamou de “pacto de
desenvolvimento coletivo”. Não é difícil perceber que essa forma de tratar a relação do
Estado com a economia é diametralmente oposta ao receituário neoliberal. A trilha aberta
pelo Japão foi seguida por outras nações asiáticas.
O recado que vinha da Ásia parecia claro: o neoliberalismo ocidental, com sua
concepção de “Estado-firma”, não servia para aquela região do mundo. Foi exatamente
dessa negação ao neoliberalismo que se fortaleceu outra ideologia político-econômica
que na transição do século XX para o século XXI acabou reequilibrando a geopolítica
mundial, fazendo da Ásia a região mais economicamente ativa e desenvolvida do
planeta.
Em 1989, foi publicado outro livro sobre o desenvolvimentismo asiático, dessa vez
assinado pela economista norte-americana Alice Amsden (1943-2012). Sugestivamente
intitulado Asia’s Next Giant (O próximo gigante asiático , em tradução livre), Amsden
ampliou a análise de Johnson para a Coreia do Sul, para o “milagre econômico coreano”,
nas palavras da própria autora. Segundo Amsden, no caso da Coreia do Sul, o modelo
de desenvolvimento também era caracterizado pelo protagonismo do Estado, fincando
suas raízes na primeira metade do século XX, na luta anticolonialista contra o próprio
Japão.
Sobre a China, Johnson também chama atenção para a experiência da guerra
anticolonialista, o “campesinato revolucionário” como força de impulsão
desenvolvimentista. Para os autores, as guerras fizeram com que as sociedades
asiáticas criassem vínculos de solidariedade e confiança com o Estado, visto como o
guardião dos interesses nacionais. A partir da leitura desses autores, podemos analisar o
desenvolvimentismo asiático em quatro características principais:
Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação.
A prosperidade asiática observada em fins do século XX se deu pelo fortalecimento dos
Estados nacionais, algo que aconteceu em meados do século passado, a partir de
diversas experiências de guerras emancipatórias. Isso deu origem a um sistema
interestatal regional altamente competitivo que ajudou a potencializar ainda mais o
desenvolvimento dos países locais.
A estratégia econômica destes países asiáticos esteve sempre muito longe dos valores
neoliberais, rejeitando frontalmente a premissa do “Estado mínimo”, ou do “Estado-
firma”.
Não há nenhuma instituiçãoou política que explique isoladamente o sucesso do
crescimento asiático, e que possa ser transplantada para países que tenham se
constituído ou estejam fora de sistemas de poder altamente competitivos. A simples
condição de latecomer ou de “capitalismo tardio” não explica nada, nem é capaz de
gerar um projeto e uma estratégia de alto crescimento.
Os asiáticos nunca se referiram a si mesmos como “desenvolvimentistas”. Suas
estratégias econômicas não têm nada a ver com o chamado “desenvolvimentismo latino-
americano”. Sua política industrial, comercial e macroeconômica sempre esteve a
serviço de sua “grande estratégia” social e nacional e da sua luta pela conquista ou
reconquista de uma posição internacional autônoma e preeminente. Os asiáticos têm
plena consciência de que a política econômica entregue a si mesma é cega e incapaz de
gerar seus próprios objetivos. E muito menos ainda de definir os objetivos de uma
sociedade e de uma nação.
Ao longo dos últimos séculos, os olhares do chamado “mundo ocidental” permaneceram
bastante concentrados nos países que orbitavam em torno das economias europeias e
dos Estados Unidos. Não fossem os países árabes, por sua participação decisiva no
mercado global de petróleo, e pela Rússia, em função de seu desenvolvimento
econômico e das tensões vestigiais da Guerra Fria, nossas preocupações provavelmente
seriam ainda mais ocidentalizadas. Não sem razão, muitos se viram perplexos diante da
emergência da China no cenário global, que passou a ostentar taxas médias de
crescimento econômico de 10% a partir da década de 1990.
Ao longo dos anos, nenhum país ocidental conseguiu rivalizar com esses índices e,
gradualmente, a frase Made in China começou a se fazer bastante presente em nossa
vida cotidiana. Caso esteja lendo esse texto em seu computador, recomendamos que
vire o mouse e procure o local em que o produto foi fabricado. A chance de encontrar
um Made in China é grande. Se não acontecer, basta uma busca simples e você
perceberá que muitos produtos que temos à nossa disposição são chineses. Ainda que
os EUA continuem responsáveis por boa fatia do comércio internacional, o país asiático
deve assumir a dianteira até 2026.
Por esse motivo, nenhuma análise sobre as dinâmicas comerciais do século XXI pode
ignorar a participação chinesa no mercado global. Apesar das inúmeras variáveis e
divergências que compõem o complexo jogo que garantiu essa mudança, muitos
analistas se apoiam em duas explicações gerais para esse processo.
Segundo Rhys Jenkins (2019, p. 22), essas mudanças podem ser observadas a partir de
duas lentes, uma externa e outra interna.
EXTERNA
Do ponto de vista externo, observa-se o impacto significativo do "abandono das políticas
keynesianas do consenso pós-guerra e a adoção do neoliberalismo, especialmente sob
Reagan nos Estados Unidos e Thatcher no Reino Unido. Uma das estratégias do capital
para restaurar a lucratividade foi deslocar a mão de obra para reduzir os custos da
produção”.
INTERNA
Em contraste, a abordagem interna “toma como ponto de partida as mudanças ocorridas
na China após a morte de Mao Tsé-Tung em 1976. As reformas na política econômica
começaram com Deng Xiaoping em 1978 e desencadearam um processo dinâmico de
crescimento que ampliou a competitividade da China" (JENKINS, 2019, p. 22).
Nesse sentido, enquanto os países “ocidentais” diminuíram significativamente a
presença do Estado na economia, a China adotou uma posição oposta, que permitiu o
desenvolvimento tecnológico, a ampliação do mercado consumidor global e diversas
outras ações que tornaram o país atrativo, inclusive, a investidores estrangeiros.
Em 2001, as exportações chinesas ganharam novo impulso com a adesão à
Organização Mundial do Comércio (OMC). Diversas empresas da China começaram a
realizar obras no exterior, e os empréstimos de bancos chineses também consolidaram
sua presença nos mercados financeiros globais.
EM SUMA, ESSA MUDANÇA ECONÔMICA
DESENCADEOU UMA SÉRIE DE EFEITOS,
COMO AS CHAMADAS “GUERRAS
COMERCIAIS”, QUE REPRESENTAM, TALVEZ,
UM DOS ASPECTOS MAIS VISÍVEIS DO
PROTAGONISMO CHINÊS NESSE INÍCIO DO
SÉCULO XXI.
MERCADOS IRREGULARES
Ainda que a ênfase nos estudos sobre as dinâmicas comerciais se dê a partir de
elementos visíveis, parte importante das transações econômicas globais acontece à
margem dos esforços oficiais de contabilização. Para além dos grandes debates acerca
do modus operandi de parte do mercado financeiro, da ausência de transparência em
muitas transações, dos processos de lavagem de dinheiro e de depósitos que se
avolumam em paraísos fiscais, parte do movimento no comércio global se desdobra para
além da superfície através da venda e compra de produtos de inegáveis impactos
políticos, sociais e econômicos.
 EXEMPLO
O comércio ilegal de armas de fogo é um exemplo conhecido, assim como o de
substâncias psicoativas. Esse último caso, inclusive, merece uma observação mais
atenta.
Não menos importante, os processos de globalização e multilateralismo contribuíram
francamente para o aumento do comércio internacional de drogas. Ainda que parte dos
processos de importação e exportação de drogas se dê por vias próprias, a ampliação
dos circuitos de trocas comerciais permitiu que muitos comerciantes incluíssem suas
mercadorias proibidas em redes regulares, o que exige permanente esforço de
fiscalização por parte das autoridades aduaneiras. Também é difícil rastrear o destino
dos valores adquiridos com comércio ilegal. Ainda que traficantes locais façam
investimentos locais e fracionados para “lavar” o dinheiro ilícito, acredita-se que parte
importante das cifras seja regularizada através de aplicações no mercado financeiro,
muito mais difíceis de identificar.
 Oficial da aduana dos EUA recompensa seu cão farejador após identificar narcóticos
escondidos em uma embalagem em Chicago.
Os números estimados ao longo do século XXI são bastante esclarecedores em relação
ao poder desse mercado ilegal. Em 2003, o mercado varejista de drogas teria
arrecadado algo em torno de 322 bilhões de dólares, soma que é maior do que o PIB de
muitos países. De acordo com o relatório Estimating Illicit Financial Flows Resulting From
Drug Trafficking and Other Transnational Organized Crimes (2011), o comércio irregular
teria sido responsável por valores próximos a 1,5% do PIB mundial em 2009, com
destaque para o narcotráfico. Estimativas do World Drug Report , publicação anual do
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, mostram que, no início do século
XXI, cerca de 5,2% da população mundial entre 15 e 64 anos fez uso, regular ou
esporádico, de alguma substância psicoativa ilegal. Em 2012, atingiu-se o número de
4,7% e, em 2015, 5,5%. O relatório aponta que o aumento no consumo acompanha o
crescimento demográfico, mas se mantém percentualmente estável (UNODC, 2019).
Também vale destacar que a distinção geral entre drogas lícitas (tabaco, álcool,
ansiolíticos etc.) e ilícitas (maconha, cocaína, crack, metanfetamina) não depende das
características de cada droga, haja vista que muitas substâncias, hoje ilegais, já foram
permitidas e muitas drogas, hoje ilegais, já foram autorizadas sem qualquer
regulamentação. Há inúmeras questões envolvidas nessa equação, desde o estigma
social do usuário até a criminalização da pobreza.
Refletindo
Com o passar dos anos, a crise do neoliberalismo foi ganhando contornos mais trágicos,
motivados pela insatisfação social provocada pela precarização da qualidade de vida em
diversos países ocidentais. Esse ambiente de frustração e ressentimento serviu como
combustível para a ascensão de governos de extrema-direita, que, nos anos 2010,
colocaram em risco a própria ideia de democracia liberal representativa, que
estudaremos na próxima seção.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Identificar o fortalecimento de populismos de extrema-direita
A EXTREMA-DIREITA E A DEMOCRACIA
LIBERAL
Assista ao vídeo abaixo com o professorRodrigo Perez apresentando o debate da
ascensão de movimentos de extrema-direita no mundo.
COMO AS DEMOCRACIAS MORREM
Em 2018, chegou ao Brasil o best seller Como as democracias morrem , de Steven
Levitsky e Daniel Ziblatt, publicado originalmente nos EUA em 2017. O sucesso do livro
escrito pelos professores de Ciência Política da Universidade de Harvard foi mundial, o
que pode ser explicado pelo tema tratado no texto, o que nos interessa diretamente aqui,
em nossos estudos. Os autores analisaram as crises democráticas contemporâneas e o
seu principal desdobramento no plano político: a ascensão de governos de extrema-
direita em diversos países, como EUA, Georgia, Hungria, Filipinas e Brasil.
O tema também foi explorado por outro livro de destacado sucesso no mercado editorial
internacional: trata-se de O povo contra a democracia , escrito pelo cientista político
Yascha Mounk e publicado no Brasil também em 2018. É a partir desses dois textos que
discutimos as crises democráticas contemporâneas, explorando suas relações com o
colapso internacional da ordem capitalista neoliberal.
MAS DE QUE TIPO DE CRISE DEMOCRÁTICA
ESTAMOS FALANDO?
Tanto “crise” como “democracia” são termos bastante polissêmicos no vocabulário
político ocidental. Começaremos esclarecendo com cuidado qual modalidade de
democracia está colapsando nos dias de hoje. Trata-se do experimento democrático
liberal burguês que nasceu no século XVIII na Europa e nos EUA, tendo se tornado
hegemônico mundialmente no final da década de 1980, com o fim da URSS e com o
término da Guerra Fria.
A convicção de que a democracia liberal era vitoriosa foi tão forte que o cientista político
norte-americano Francis Fukuyama chegou a decretar o “fim da história”, como se a
humanidade houvesse chegado, definitivamente, ao ponto final de sua evolução política.
Em trabalho conjunto, os cientistas políticos norte-americano e alemão Alfred Stepan e
Juan Linz afirmaram que a democracia liberal era a “única opção” e que tinha “vindo para
ficar”.
 Queda do muro de Berlim, simbolizando o fim da Guerra Fria, 1989.
A história teria acabado com o triunfo da democracia liberal, fundada no princípio da
representação política e na proteção das liberdades individuais contra a tirania do
Estado, que seria o melhor arranjo já inventado pela humanidade no sentido de
viabilização da vida coletiva. Diz Yascha Mounk:

IMPRESSIONADOS COM A ESTABILIDADE SEM
PARALELO DAS DEMOCRACIAS RICAS, OS
CIENTISTAS POLÍTICOS COMEÇARAM A
CONCEBER A HISTÓRIA DO PÓS-GUERRA EM
DIVERSOS PAÍSES COMO UM PROCESSO DE
“CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA”. PARA
SUSTENTAR UMA DEMOCRACIA, O PAÍS DEVIA
ATINGIR UM ALTO NÍVEL DE RIQUEZA E
EDUCAÇÃO. TINHA DE CONSTRUIR UMA
SOCIEDADE CIVIL VIBRANTE E ASSEGURAR A
NEUTRALIDADE DE INSTITUIÇÕES DE ESTADO
FUNDAMENTAIS, COMO O JUDICIÁRIO. GRANDES
FORÇAS POLÍTICAS TIVERAM DE ACEITAR QUE
DEVIAM DEIXAR OS ELEITORES – E NÃO O PODER
DE SEUS EXÉRCITOS OU DE SUAS CARTEIRAS
GORDAS – DETERMINAR OS RESULTADOS
POLÍTICOS. TODOS ESSES OBJETIVOS
FREQUENTEMENTE SE REVELARAM ESQUIVOS.
(MOUNK, 2018, pp. 18-19)
Qualquer eventual crise nas democracias liberais era explicada, e justificada, pelas
condições inadequadas das sociedades em que a crise se manifestou, sempre em
países pobres, sobretudo na América Latina, África e Ásia.
 ATENÇÃO
O argumento era o de que a desigualdade social, a pobreza estrutural e o baixo nível de
industrialização dificultavam a consolidação da democracia, potencializando projetos
políticos autoritários, como as ditaduras militares que governaram a América Latina,
incluindo o Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980.
 John F. Kennedy durante a visita do então presidente João Goulart aos Estados
Unidos em 1962. Posteriormente descobriu-se que o presidente estadunidense planejava
invadir militarmente o Brasil para depor o governo de Goulart.
A causa das crises democráticas, então, não seria o modelo liberal, mas o precário
desenvolvimento capitalista desses países, sendo os ataques à democracia originários
sempre de atores políticos exteriores ao funcionamento da própria democracia, como as
forças armadas.
Sobre essas crises democráticas, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt escreveram:

DURANTE A GUERRA FRIA, GOLPES DE ESTADO
FORAM RESPONSÁVEIS POR QUASE TRÊS EM
CADA QUATRO COLAPSOS DEMOCRÁTICOS. AS
DEMOCRACIAS EM PAÍSES COMO ARGENTINA,
BRASIL, GANA, GRÉCIA, GUATEMALA, NIGÉRIA,
PAQUISTÃO, PERU, REPÚBLICA DOMINICANA,
TAILÂNDIA, TURQUIA E URUGUAI MORRERAM
DESSA MANEIRA. (...) COM UM GOLPE DE
ESTADO, A MORTE DA DEMOCRACIA É IMEDIATA E
EVIDENTE PARA TODOS. O PALÁCIO
PRESIDENCIAL ARDE EM CHAMAS. O
PRESIDENTE É MORTO, APRISIONADO OU
EXILADO.
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p.17)
A segunda década do século XXI negou os prognósticos feitos no final dos anos 1980. A
democracia liberal não era uma realidade eterna. O mundo viu um novo tipo de crise
democrática, bem diferente do modelo “clássico” observado no século XX e capaz de
desestabilizar o ambiente político, também, em países ricos. Agora, a democracia não
está colapsando apenas em países pobres.
Países ricos, de desenvolvimento capitalista avançado, estão vendo seus sistemas
democráticos ruírem. Dessa vez, a morte da democracia não acontece em dia marcado,
demarcada claramente por um evento de ruptura, por um golpe de Estado. A democracia
morre aos poucos, de dentro para fora, sendo assassinada por líderes políticos eleitos
pelos próprios ritos democráticos.

PORÉM, HÁ OUTRA MANEIRA DE ARRUINAR UMA
DEMOCRACIA. É MENOS DRAMÁTICA, MAS
IGUALMENTE DESTRUTIVA. DEMOCRACIAS
PODEM MORRER NÃO NAS MÃOS DE GENERAIS,
MAS DE LÍDERES ELEITOS – PRESIDENTES OU
PRIMEIROS-MINISTROS QUE SUBVERTEM O
PRÓPRIO PROCESSO QUE OS LEVOU AO PODER.
ALGUNS DESSES LÍDERES DESMANTELAM A
DEMOCRACIA RAPIDAMENTE, COMO FEZ HITLER
NA SEQUÊNCIA DO INCÊNDIO DO REICHSTAG EM
1933 NA ALEMANHA. COM MAIS FREQUÊNCIA,
PORÉM, AS DEMOCRACIAS DECAEM AOS
POUCOS, QUE MAL CHEGAM A SER VISÍVEIS.
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p.15)
Levitsky e Ziblatt afirmam que, do ponto de vista das defesas democráticas, os novos
tipos de crise dificultam ainda mais a autodefesa dos regimes democráticos. Como não
há um momento claro de ruptura, pois o processo de erosão da democracia se dá dentro
dos próprios ritos democráticos, nada é capaz de disparar os dispositivos de alarme da
sociedade.
 Uma mulher com a foto de Hugo Chávez em protesto a favor dele. Caracas,
Venezuela, 2007.
Assim, quando a sociedade civil se dá conta, o autoritarismo já está instalado. Os
autores destacam dois casos emblemáticos desse novo tipo de crise democrática: a
Venezuela, com a ascensão de Hugo Chávez, em 1999, e os EUA, com a eleição de
Donald Trump, em 2016.
Em ambas as situações, argumentam Levitsky e Ziblatt, a própria democracia,
representada pelos partidos políticos estabelecidos e pelas instituições legislativas e
judiciárias, falhou ao permitir que lideranças com evidentes ideias antidemocráticas
tivessem a oportunidade de apresentar seus projetos à sociedade civil. O aspecto
aparentemente contraditório desse novo tipo de crise democrática está no fato de que as
lideranças populistas chegam ao poder legitimadas pelas eleições (o rito mais sagrado
da democracia) sendo, inclusive, apoiadas por segmentos relevantes da sociedade civil.
Se essas lideranças foram eleitas, se são apoiadas por segmentos relevantes da
sociedade civil, por que representam ameaças à democracia? Novamente, é relevante
prestar atenção no que dizem Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.

UMA VEZ QUE UM ASPIRANTE A DITADOR
CONSEGUE CHEGAR AO PODER, A DEMOCRACIA
ENFRENTA UM SEGUNDO TESTE CRUCIAL: IRÁ
ELE SUBVERTER AS INSTITUIÇÕES
DEMOCRÁTICAS OU SER CONSTRANGIDO POR
ELAS? AS INSTITUIÇÕES ISOLADAMENTE NÃO
SÃO O BASTANTE PARA CONTER AUTOCRATAS
ELEITOS. CONSTITUIÇÕES TÊM QUE SER
DEFENDIDAS – POR PARTIDOS POLÍTICOS E
CIDADÃOS ORGANIZADOS, MAS TAMBÉM POR
NORMAS DEMOCRÁTICAS, QUE NEM SEMPRE
ESTÃO CODIFICADAS EM LEI.
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018,pp. 18-19)
ASCENSÃO DE TRUMP
Em março de 2016, e-mails particulares de John Podesta, principal responsável pela
campanha de Hillary Clinton, foram divulgados pela WikiLeaks. As mensagens não
continham nada que pudesse levantar suspeitas. No entanto, fóruns da internet com
usuários anônimos passaram a explorar a repetição das palavras pizza e cheese
(queijo) nas mensagens. Eles alegaram que o termo cheese pizza era uma espécie de
código para child pornography (pornografia infantil), amparados sobretudo na
coincidência que criaram entre as iniciais "c" e "p". A história continuou sendo alimentada
e novas palavras foram associadas à pedofilia: segundo esses usuários, por exemplo, a
palavra sauce (molho) fazia referência, naqueles e-mails, a orgias. A narrativa começou
a ficar ainda mais intrincada: esses abusos sexuais aconteceriam em um suposto porão
da pizzaria Comet Ping Pong, em Washington.
O irmão do coordenador da campanha de Hillary, Tony Podesta, frequentava esse
estabelecimento. O dono da pizzaria, James Alefantis, foi apresentado a John Podesta e
chegaram a organizar um jantar de arrecadação de fundos para a campanha de Hillary.
Não tardou para que outras questões fossem associadas à pizzaria, como suposto
envolvimento dos donos com cultos satânicos. A então candidata passou a ser acusada
de associação com uma rede de pedofilia e a repercussão foi tão enfática que até
mesmo investigações policiais foram realizadas e, como era de se supor, nenhum indício
que sustentasse essas alegações foi identificado. O FBI, ainda que acionado, se recusou
a investigar um fato visivelmente falso, criado no meio da disputa política.
Não menos importante, e ainda que a campanha de Hillary Clinton também tenha
adotado esse expediente, as fakes news circularam mais e de forma mais intensa em
favor de Donald Trump, conforme diversas análises sugerem (SILVERMAN, 2016).
Muitos consideram que a eficácia dessa tática de Trump não pode ser apartada do
conhecimento dos dados dos usuários fornecidos ilegalmente pelo Facebook: conhecer
minuciosamente o perfil dos eleitores permitiu produzir notícias falsas que
exploravam questões sensíveis para o eleitorado norte-americano. Um dos nomes
mais expressivos nesse contexto foi de Steve Bannon, diretor executivo da campanha de
Trump que também era responsável pelo Breitbart News , um veículo de mídia de
extrema-direita.
As instituições da democracia (tribunais de justiça, parlamento, órgãos regulatórios e
instituições policiais), em si, não são capazes de resistir aos ataques dos autocratas
eleitos, que, uma vez no governo, investem no aparelhamento desses espaços.
É NECESSÁRIO QUE OS ATORES POLÍTICOS
E A SOCIEDADE CIVIL ZELEM PELO
CUMPRIMENTO DAS NORMAS QUE MUITAS
VEZES NÃO ESTÃO CODIFICADAS, MAS QUE
SÃO FUNDAMENTAIS PARA O PLENO
FUNCIONAMENTO DA DEMOCRACIA.
Levitsky e Ziblatt chamam essas normas de “padrões de comportamento democrático
não escritos”, como, por exemplo, o comedimento no uso das prerrogativas
constitucionais, o respeito à liturgia no exercício do cargo, confiança nos tribunais
eleitorais, aceitação dos resultados eleitorais. Os autores demonstram como Donald
Trump, eleito em 2016 o 45° Presidente dos EUA, atuou como inimigo da democracia,
corroendo por dentro aquela que tinha a fama de ser a república mais estável do mundo.
Os autores, convencidos de que os EUA são o país mais “livre do mundo”, o que denota
postura algo etnocêntrica, mostram estupefação com o comportamento de Donald Trump
no governo daquele país.
 Uma forca foi pendurada perto do Capitólio dos Estados Unidos durante a invasão
do Capitólio dos Estados Unidos em 2021
Sem contar que o texto foi escrito antes da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de
2021, quando, em um evento inédito na história dos EUA, o candidato derrotado não
reconheceu o resultado das eleições e insuflou seus apoiadores a invadirem o
parlamento. Definitivamente, o novo tipo de crise democrática não acontece, apenas, em
países pobres, de desenvolvimento capitalista atrasado.
Mas ainda podemos investir mais na questão elementar para essa reflexão: se
esses autocratas foram eleitos e são apoiados por setores relevantes da sociedade
civil, por que representam um perigo para a democracia?
Agora, é Yascha Mounk quem nos ajuda na reflexão.

AS DEMOCRACIAS LIBERAIS TÊM MUITOS
MECANISMOS DE CONTROLE CRIADOS PARA
IMPEDIR UM PARTIDO DE ACUMULAR DEMASIADO
PODER E PARA CONCILIAR OS INTERESSES DE
GRUPOS DIFERENTES. MAS NA IMAGINAÇÃO DOS
POPULISTAS A VONTADE DO POVO NÃO PRECISA
SER MEDIADA E QUALQUER COMPROMISSO COM
AS MINORIAS É UMA FORMA DE CORRUPÇÃO.
NESSE SENTIDO, OS POPULISTAS SÃO
PROFUNDAMENTE DEMOCRATAS: MUITO MAIS
FERVOROSOS DO QUE OS POLÍTICOS
TRADICIONAIS, ELES ACREDITAM QUE O DEMOS
DEVE GOVERNAR. MAS TAMBÉM SÃO
PROFUNDAMENTE ILIBERAIS: AO CONTRÁRIO
DOS POLÍTICOS TRADICIONAIS, DIZEM
ABERTAMENTE QUE NEM AS INSTITUIÇÕES
INDEPENDENTES NEM OS DIREITOS INDIVIDUAIS
DEVEM ABAFAR A VOZ DO POVO.
(MOUNK, 2018, pp. 23-24)
Se debruçando sobre diversos exemplos de lideranças autocráticas de extrema-direita
que vêm se fortalecendo no mundo recentemente, o autor propõe uma tipologia geral
desse tipo de orientação política ideológica. Seja nos EUA de Donald Trump, na Hungria
de Viktor Orbán, na Grã-Bretanha de Nigel Farage, na França de Marine Le Pen ou no
Brasil de Jair Bolsonaro, está acontecendo a perversão da própria ideia de democracia
que vem sendo construída na cultura ocidental desde os gregos.
TEMOS AQUI UMA DISCUSSÃO MUITO
DIFÍCIL E QUE EXIGE DE NÓS MUITA
ATENÇÃO!
A democracia não é simplesmente o governo fundado na vontade da maioria. Esse é um
aspecto elementar da democracia, mas não a esgota. A democracia não pode se esgotar
na simples manifestação da vontade da maioria porque é função do Estado democrático
proteger, também, as minorias, muitas vezes contra a vontade da maioria. Posições
políticas minoritárias e derrotadas nas eleições, minorias étnicas, grupos socialmente
vulneráveis por questões de raça e gênero. É dever da democracia garantir a
existência, na diversidade, dessas pessoas, com pleno acesso a todos os direitos
garantidos pela cidadania. Por isso, ao transformar a democracia em tirania da maioria,
esses autocratas eleitos, mesmo que contando com apoio de setores numericamente
relevantes da sociedade, se transformam em risco para a ordem democrática.
Há ainda outra questão fundamental em nosso exercício de compreensão das crises
democráticas contemporâneas. Yascha Mounk demonstra dados que apontam para um
cenário bastante preocupante:

HÁ UM QUARTO DE SÉCULO, A MAIORIA DOS
CIDADÃOS DAS DEMOCRACIAS LIBERAIS ESTAVA
MUITO SATISFEITA COM SEUS GOVERNOS E O
ÍNDICE DE APROVAÇÃO DE SUAS INSTITUIÇÕES
ERA ELEVADO; HOJE, A DESILUSÃO É MAIOR DO
QUE NUNCA. HÁ UM QUARTO DE SÉCULO, A
MAIORIA DOS CIDADÃOS TINHA ORGULHO DE
VIVER NUMA DEMOCRACIA LIBERAL E REJEITAVA
ENFATICAMENTE UMA ALTERNATIVA
AUTORITÁRIA A SEU SISTEMA DE GOVERNO;
HOJE, MUITOS ESTÃO CADA VEZ MAIS HOSTIS À
DEMOCRACIA.
(MOUNK, 2018, p. 19)
O que mudou? Por que o povo está contra a democracia? A resposta passa pela
situação de mal-estar social gerado pela própria lógica econômica neoliberal que já
estudamos.
Até mesmo nos países ricos, cada vez mais, o neoliberalismo está cobrando um alto
preço social. Na medida em que o Estado, movido pela necessidade de corte de gastos
e pela imposição de projetos de ajuste fiscal, vai abandonando sua vocação protetora, as
pessoas se sentem mais desamparadas.
O trabalho nunca esteve tão precarizado, a ponto de, mesmo nas economias centrais,
ser raro encontrar trabalhador, fora do serviço público, sendo protegido pelos direitos
tradicionais garantidos pela social-democracia, como férias remuneradas, 13° salário,
licença-maternidade. Soma-se à “flexibilização das relações trabalhistas” a precarização
dos serviços públicos provocada pela redução da capacidade de investimento dos
governos. A máxima neoliberal do “Estadomínimo” é especialmente opressora com as
pessoas comuns, trabalhadoras, e generosa com os grandes investidores que atuam no
mercado financeiro.
É COMO SE FOSSE “ESTADO MÍNIMO” PARA
A MAIORIA DA POPULAÇÃO E “ESTADO
MÁXIMO” PARA OS GRANDES OPERADORES
FINANCISTAS.
A população percebe isso, entende que a política se transformou no avalista da
especulação e direciona sua revolta às instituições democráticas e à classe política
tradicional. Não à toa, Donald Trump foi eleito nos EUA com um discurso contra Wall
Street, e prometendo defender os empregos da indústria norte-americana. Nesse
sentido, a ascensão dos populismos de extrema-direita, que no mundo inteiro estão
abalando a ordem liberal-democrática, é um dos desdobramentos do esgotamento do
modelo neoliberal de acumulação capitalista. Na próxima seção, estudaremos como a
pandemia da covid-19, decretada pela OMS em março de 2020, vem intensificando as
contradições do neoliberalismo.
A PANDEMIA E O CAPITALISMO
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez sobre a pandemia da covid-19 e
a intensificação das contradições do neoliberalismo.
COVID-19 E O MUNDO EM CRISE
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde usou pela primeira vez o
termo “pandemia” para se referir à covid-19. Naquela altura, a doença já estava
espalhada pelo mundo, impondo desafios estruturais à ordem social, política e
econômica capitalista. Liberdades individuais como o direito de ir e vir, livre mercado,
Estado mínimo. Todo o sistema de valores construído desde o século XVI, que estruturou
historicamente o capitalismo, foi desafiado pela doença que se mostrou ser, antes de
tudo, uma patologia social.
Desde o início, os especialistas foram claros: até o desenvolvimento de vacinas capazes
de imunizar em massa a população mundial e de remédios com poder de atenuar os
efeitos da doença, o isolamento e o distanciamento social eram as únicas formas de
conter o avanço do vírus. Começou, então, aquele que talvez tenha sido o mais
espetacular capítulo da história da ciência.
Os cientistas mais brilhantes do mundo começaram a trabalhar 24 horas por dia com o
objetivo de desenvolver substâncias capazes de controlar o contágio e a letalidade do
SARSCOV-19. A vacina foi desenvolvida em tempo recorde. A “corrida pela vacina” se
tornou mais do que uma urgência de saúde pública. Transformou-se mesmo em questão
geopolítica de primeira importância.
Em agosto de 2020, a Rússia, sob desconfianças da comunidade científica internacional,
registrou a SPUTNIK V, primeira vacina contra a covid-19. O governo russo, comandado
por Vladimir Putin, viu na vacina a oportunidade de reeditar o protagonismo do país
vigente nos tempos da Guerra Fria.
O mundo, entretanto, recebeu a vacina russa com ressalva e o imunizante não foi usado
pelas nações centrais. Isso aconteceria apenas com a vacina BNT162b2 desenvolvida
pela farmacêutica multinacional Pfizer, em parceria com o laboratório alemão Biontech.
 SAIBA MAIS
Em 08 dezembro de 2020, Margaret Keenan, mulher inglesa com 90 anos, se tornou o
primeiro ser humano vacinado contra a covid-19. A partir de então, a “vacina do Pfizer”,
como ficou popularmente conhecida, passou a ser usada em diversos países do mundo,
com a exceção daqueles que tiveram o infortúnio de serem governados por lideranças
negacionistas.
Mesmo com o desenvolvimento em tempo recorde da vacina, a pandemia continuou
avançando, provocando milhares de mortes por dia, em todos os países do mundo, com
destaque para EUA, Índia e Brasil, que rapidamente se tornaram epicentros mundiais da
pandemia. A limitação operacional dos laboratórios e a dificuldade da comunidade
internacional em avançar na discussão sobre a quebra das patentes foram os principais
obstáculos para que a humanidade avançasse em ritmo acelerado no sentido da
imunização em massa e do fim da pandemia.
PORTANTO, MESMO COM VACINAS
DISPONÍVEIS, A COVID-19 CONTINUOU
AVANÇANDO E MATANDO.
Governos de quase todos os países do mundo se viram, então, obrigados a adotar
medidas de restrição de movimentação social, decretando toques de recolher,
lockdowns , multando pessoas que transitassem nas ruas sem justificativa. Criou-se,
assim, a normalização de um Estado de exceção que durou muitos meses, nos quais os
direitos de livre movimento e de reunião, dois entre os mais importantes no repertório do
liberalismo político democrático, foram sacrificados. Aqueles que por séculos foram
considerados direitos individuais sagrados, como símbolos da luta da sociedade contra a
tirania do Estado, foram suspensos, mostrando na prática, como os valores políticos
ocidentais não eram capazes de enfrentar o novo desafio que se impunha ao mundo.
Outro recado claro que a pandemia da covid-19 deu ao mundo foi em relação ao
esgotamento do neoliberalismo como modelo viável de organização da economia
capitalista.
 ATENÇÃO
O SARSCOV-19 não mata apenas as pessoas, mas também a capacidade do Estado em
tratar os doentes. Como o vírus tem grande capacidade de contágio, muitas pessoas
adoecem ao mesmo tempo, o que sobrecarrega os hospitais públicos e privados,
demandando dos governos mais investimentos na construção de estruturas hospitalares
de emergência, na aquisição de insumos médicos e na viabilização de assistência social
e políticas públicas de distribuição de renda para aqueles cujo sustento depende da
atividade social, da circulação de pessoas.
Em outras palavras, para sermos mais diretos: com as necessárias medidas de restrição
de atividade social, a economia mundial entrou na maior recessão desde 1929, o que
praticamente anulou a capacidade de investimento das empresas privadas. Se a
iniciativa privada não é capaz de, por si só, contrariar o ciclo econômico recessivo, quem
seria? A resposta é óbvia: o Estado, o poder público, os governos. Mas como fazê-lo
dentro da cartilha neoliberal? A resposta está vindo da economia mais capitalista do
mundo, que, simplesmente, propõe o abandono da cartilha neoliberal.
ESTAMOS FALANDO DO GOVERNO DO
DEMOCRATA JOE BIDEN NOS EUA.
NOVOS RUMOS?
Biden assumiu a Casa Branca no início de 2021 em um cenário político bastante
conflituoso, como já vimos na seção anterior. Logo nos primeiros dias de seu mandato,
Biden anunciou um pacote de recuperação econômica na ordem de 2,3 trilhões de
dólares, o maior da história daquele país. Trata-se de investimento público direto em
proteção social a pessoas e empresas e obras de infraestrutura com o objetivo de gerar
empregos. Segundo o economista norte-americano Paul de Grauwe, Biden está
rompendo com a herança de Reagan e retomando herança ainda mais antiga, de
Franklin Roosevelt (1882-1945), o New Deal . Biden estaria, portanto, ainda segundo
Paul de Grauwe, apresentando para a sociedade norte-americana um Great New Deal
e, com isso, está dizendo ao mundo que os preceitos neoliberais não são capazes de
solucionar a crise provocada pela pandemia, que só o Estado, agindo como indutor do
desenvolvimento e não como “firma”, pode proteger a economia e a vida das pessoas.
A China e a Rússia, adversários globais dos EUA, também aumentaram a participação
dos investimentos públicos em suas economias. O mesmo aconteceu na Espanha,
Portugal, Inglaterra e França, também segundo os dados apresentados por Paul de
Gauwe. Poucos países do mundo ainda insistem na fórmula neoliberal do ajuste fiscal e
da redução de gastos públicos, como o Brasil e a Índia. Não à toa, são países que, após
mais de um ano de pandemia, encontram mais dificuldades em controlar o número de
pessoas infectadas e mortas pelo SARSCOV-2.
NÃO SERIA EXAGERADO, PORTANTO,
AFIRMAR QUE A PANDEMIA DA COVID-19
REPRESENTA MAIS UM CAPÍTULO NA
HISTÓRIA DAS CRISES DO CAPITALISMO,
TENDO A ESPECIFICIDADE DE TER
ESCANCARADO OS LIMITES DA LÓGICA
NEOLIBERAL.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, nos dedicamos a entender com mais cuidado a história recente do
capitalismo internacional,com atenção especial à dinâmica neoliberal e às crises por ela
provocada. Como vimos na primeira seção, o neoliberalismo é hegemônico no sistema
capitalista desde a década de 1980, quando nasceu com a promessa de desonerar a
sociedade civil da carga tributária necessária para a manutenção do Estado de Bem-
Estar Social. Com o tempo, entretanto, o resultado foi o contrário, tendo como
consequências o aumento das desigualdades sociais e a precarização das condições de
vida em diversas cidades do mundo. O aumento das insatisfações sociais levou a
diversos questionamentos do modelo neoliberal ao longo das duas primeiras décadas do
século XXI, indo desde governos progressistas na América Latina e nos EUA até os
populismos de extrema-direita, passando pelo desenvolvimentismo asiático.
A pandemia da covid-19, deflagrada no início de 2020, se tornou a prova cabal da
dificuldade do neoliberalismo em reagir a crises estruturais, quando a economia precisa
de incentivos e a iniciativa privada não pode investir, seja porque não tem dinheiro, seja
porque não tem confiança para gastar suas reservas. Em situações desse tipo, somente
o Estado, agindo como indutor do desenvolvimento social e econômico, é capaz de
romper com o ciclo da carestia.
É impossível saber de antemão os desdobramentos da atual crise do capitalismo. Certo
mesmo é que a história do capitalismo, desde o início, é a história de suas crises, mas
também de suas refundações. A ver o que acontece dessa vez.
 PODCAST
Escute o podcast com o resumo sobre a crise do capitalismo: reinvenção do século XXI.
FALA MESTRE
Capitalismo, propriedade e fatores de produção
Sinopse: José Luiz Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do
Ibmec RJ, e Guilherme Benchimol, fundador da XP Inc, refletem sobre os caminhos
possíveis para a evolução do capitalismo.
Sinopse: José Luiz Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do
Ibmec RJ, e Guilherme Benchimol, fundador da XP Inc, refletem sobre os caminhos
possíveis para a evolução do capitalismo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Arthur Lima de. Apontamentos sobre o fim da temporalidade: elementos para
uma discussão. In : PEREZ, Rodrigo; SILVA, Daniel. Tempos de crise: ensaios de
história política. Rio de Janeiro: Autografia, 2020. pp. 127-150.
BROWN, Wendy. Undoing the Demos: neoliberalism’s stealth revolution. Nova York:
Zone Books, 2015.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade
neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
FUKUYAMA, Francis. The end of history and the last man. Nova York: Free Press,
1992.
GUERRA, Roberto Rodrigues. El liberalismo conservador contemporâneo. Santa
Cruz de Tenertie: Universidade de La Laguna, 1998.
HABERMAS, Jürgen. A nova obscuridade. São Paulo: UNESP, 2015.
JENKINS, Rhys. How China is Reshaping the Global Economy. Development Impacts
in Africa and Latin America. Oxford: Oxford University Press, 2019.
JHONSON, Chalmers. O milagre da Ásia de Leste: Crescimento Econômico e Política
Pública. Rio de Janeiro: Record, 2017.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro:
Zahar, 2018.
LINZ, Juan; STEPAN, Alfred. Toward consolidated democracies. Journal of democracy,
v. 27, n 3, 2016, pp 5-17. Consultado na internet em: 4 maio 2021.
MOUNK, Yascha. O povo contra a democracia. São Paulo: Companhia das Letras,
2018. UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME - UNODC. About UNODC.
[S.l.], 2019. Consultado na internet em: 4 maio 2021.
SILVERMAN, Craig; ALEXANDER, Lawrence. How teens in the Balkans are duping
Trump supporters with fake news. Buzzfeed News, v. 3, p. 874-888, 2016. Consultado
na internet em: 4 maio 2021.
EXPLORE+
Leia o artigo Neoliberalismo: genocídio de almas , publicado pela Revista Cult , sobre
formas críticas de pensar o capitalismo.
Leia também o texto publicado em Opera Mundi , intitulado Hoje na História: 1933 -
Roosevelt apresenta New Deal ao congresso , sobre o pensamento de Roosevelt.
Por último, consulte o texto Coronavírus: OMS decreta pandemia; o que muda nos
cuidados com a saúde? , publicado no portal UOL, sobre a pandemia de coronavírus.
CONTEUDISTA
Rodrigo Perez Oliveira
 CURRÍCULO LATTES
NOTAS
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