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Disciplina: Propaganda Política 1 1. MARKETING E PROPAGANDA POLÍTICA Propaganda Política apesar de ser uma das correntes mais contemporâneas da área das comunicações, é uma pratica tão antiga quanto a própria política. Quando os faraós ergueram as pirâmides e construíram a Esfinge, essas obras, da maneira como são interpretadas hoje, eram, de fato monumentos de comunicação. Claro que não podem ser enquadradas dentro das características dadas ao marketing moderno, mas, certamente, contêm elementos de propaganda e veiculação de mensagem política que perduram por milênios. Elas representam o poder concedido aos governantes, que, dessa forma, podiam diferenciar-se da maioria da população e ostentar publicamente sua capacidade de liderança. Até o advento da Televisão no século 20, os políticos utilizavam as obras públicas como carro- chefe das aspirações partidárias. Durante muito tempo, ideologias a parte, especialmente nas democracias européias, um recurso principal imperou para convencer a população a depositar sua confiança (seu voto) neles: o comício político. Os comícios foram e ainda são hoje um forte instrumento de convencimento eleitoral, e a grande arma do marketing político. Com a introdução da tecnologia da comunicação de massa e o surgimento das sociedades do século passado, um novo elemento começou a ser agregado à maneira como a classe política se relacionava com o eleitorado: as técnicas de persuasão. Essas técnicas deram um salto de qualidade na máquina de guerra montada por Adolf Hitler, na Alemanha nazista, e depois da vitória aliada, foram reaplicadas nas campanhas políticas dos candidatos à Casa Branca nos EUA durante a década de 50. Os Estados Unidos foram os pioneiros no desenvolvimento do marketing político moderno e os primeiros a explorar de forma organizada e planejada os meios de comunicação de massa. A primeira vez que um candidato utilizou uma grande empresa de comunicação numa campanha presidencial foi em 1952. O general Eisenhower contratou a BBDO (Batten, Barton, Dustin e Osborne) para adaptar a linguagem de seus discursos aos programas da recém surgida televisão, que possuía uma dinâmica bastante diferente do discurso proferido ao vivo nos comícios, e foi acusado por seus adversários de "tentar se vender como um sabonete". De lá para cá, a cultura norte-americada assimilou de tal forma a propaganda política que passou a servir de parâmetro para o restante do mundo ocidental. Os debates ao vivo pela TV, as campanhas promocionais em outdoors, os jingles, cartazes e a própria nomenclatura, toda ela mesclada de termos em inglês, são a prova de como o marketing político norte americano vem influenciando nossas campanhas. Disciplina: Propaganda Política 2 O que se fez foi uma adaptação do referencial teórico do marketing de produtos às especificidades da área política, com grande influência da teoria da escolha racional (rational choice), que procura identificar a racionalidade nas ações humanas e tenta descobrir quais os fatores e interesses que orientam as escolhas eleitorais dos indivíduos. Atualmente, o marketing político é a principal forma utilizada pelas elites políticas para conquistarem e manterem-se no poder. Representa o conjunto de técnicas de persuasão política e procedimentos de natureza estratégica voltados para a disputa pelo controle da opinião pública, ou seja, a legitimação do poder político. 1.1 Definições e conceitos O marketing político é um processo contínuo e sistemático, que utiliza o método científico (pesquisas qualitativas e quantitativas) como forma de conhecer os eleitores e as técnicas de persuasão para definir uma estratégia que posicione o candidato, através da promoção e do controle da recepção de sua imagem junto à opinião pública. Surge como uma racionalização do processo eleitoral: é uma atividade baseada em um planejamento estratégico, com vistas a maximizar os meios disponíveis para alcançar o número de votos necessários para eleger o candidato-cliente. O desenvolvimento dessa atividade está associado ao uso das modernas e eficientes técnicas de comunicação e, principalmente, do uso adequado dos resultados das pesquisas de opinião pública, que permitem traçar estratégias de divulgação e o posicionamento do político de acordo com os anseios e expectativas do eleitorado. É uma atividade fundamentalmente estratégica, definida com antecedência por uma equipe de especialistas em diversas áreas, que analisam as pesquisas, estudam o quadro político, verificam os recursos disponíveis e traçam o rumo da campanha. Além disso, definem símbolos, o discurso, a imagem a ser transmitida, entre outros aspectos fundamentais. Segundo Rubens Figueiredo, o marketing político pode ser definido como um conjunto de técnicas e procedimentos que têm como objetivos adequar um candidato ao seu eleitorado potencial, procurando fazê-lo, num primeiro momento, conhecido do maior número de eleitores possível e, em seguida, mostrando-o diferente de seus adversários, obviamente melhor que eles. Através de pesquisas de opinião, o marketing político busca descobrir quais são os interesses do eleitorado, definindo estratégias de campanha e comunicação moldadas de acordo com os resultados dos levantamentos. Disciplina: Propaganda Política 3 1.2 Marketing político x marketing comercial Nos dias de hoje, é impossível pensar em eleições sem pensar numa estrutura de marketing atuando em todos os segmentos do eleitorado. A propaganda eleitoral deixou de ser apenas o ato de imprimir alguns milhares de folhetos coloridos e pichar os muros da cidade com o nome do candidato. As campanhas eleitorais deixaram de ser intuitivas e se tornaram racionais, os palpites gratuitos cederam lugar à pesquisa; os temas principais, com determinadas palavras-de-ordem, aparentemente corretas mas aleatórias agora têm origem em slogans com conceito e estratégia. Enfim, a propaganda política deixou para trás o amadorismo para se tornar profissional. Comparando com campanhas de produtos e serviços, de um lado está o produto/serviço (candidato); do outro, o mercado consumidor (os eleitores). O candidato é uma pessoa, mas não é uma pessoa qualquer, representa um conjunto de idéias, de interesses, de ideologias, um partido, propostas e programas, enfim, um líder de um determinado contingente populacional. Os políticos são como os produtos de consumo, para triunfar devem possuir uma história, uma origem, um programa de atuação, pertencer a um movimento político e ter uma posição em relação aos concorrentes. A base de todo trabalho político está em saber como pensam e trabalham os apoiadores, os indiferentes e os opositores, conhecer a fundo seus atos e seus movimentos. Para Ney Figueiredo, campanha política é apenas uma outra forma de campanha comercial, que não pode ser iniciada sem uma informação exaustiva dos produtos, suas virtudes e suas falhas, seus erros e seus acertos e as pessoas que os fabricam e os vendem. É preciso, também, conhecer através do censo e das pesquisas de mercado, quem são os compradores do produto que se pretende fabricar. Deve-se detectar as necessidades do mercado e construir a imagem do político a partir dessas necessidades. A imagem do candidato deve sempre estar baseada naquilo que o mercado quer. Na opinião de Francisco Navarro, tecnicamente não existe nenhuma diferença entre lançar no mercado um político ou um "detergente biodegradável". Para ele, a formação da imagem do candidato deve seguir, passo a passo, o processo da publicidade comercial. Assim, necessita de um produto bem apresentado, que tenha destaque sobre os demais, que seja atrativo e tenha o tamanho e o preço que o público espera. Deve-se Ter uma idéia-força que possa ser traduzida em slogans. E também formar a imagem do produto que seja precisamentea que os componentes do eleitorado consideram ideal, destacando as virtudes e maquiando as falhas. Disciplina: Propaganda Política 4 No livro Marketing Político - a eficiência a serviço do candidato, Kuntz e Luyten falam de uma corrente do marketing político que considera o partido como sendo a empresa e o candidato, um produto a ser vendido. O preço do serviço seria o voto. Para viabilizar a venda, a assessoria contratada realiza pesquisa para avaliar o potencial de aceitação do produto pelos consumidores (eleitores), levantam dados que lhes permitem saber qual a situação dos produtos concorrentes, aspirações, problemas e preferências de cada tipo de consumidor, segmentando o mercado potencial (universo eleitoral) em várias faixas, segundo sexo, idade, classe social e econômica, nível cultural, entre outras. Feito isso, busca-se o melhor rótulo ou embalagem, a mensagem publicitária ideal (slogan, discurso, plataforma), um esquema de promoção de vendas (comícios, passeatas), tendo como objetivo o máximo de adaptabilidade entre o produto (candidato) e a demanda (anseio do eleitor). Na visão de Kotler, as campanhas políticas têm sido cada vez mais comparadas às campanhas de marketing, em que o candidato se coloca no mercado de eleitores e emprega modernas técnicas de marketing e propaganda comercial, a fim de maximizar a "aquisição" do voto. É um processo que busca a eficiência na conquista de uma meta: ser eleito. Nesse processo, alguns elementos que compõem o quadro de planejamento de uma campanha comercial também podem ser observados na campanha de marketing político: 1. O meio ambiente em que se realiza a campanha eleitoral e que vai proporcionar oportunidades e ameaças ao sucesso de um candidato; 2. A administração da campanha eleitoral, que é sua principal força de vendas, formada pelo próprio candidato, o seu partido político e os grupos de interesse alinhados com a sua candidatura; 3. O conceito de produto, que é a filosofia política do candidato, a escolha de temas específicos a serem tratados e a definição de suas posições a propósito dos temas (posicionamento). Além da formulação e da adoção de um estilo pessoal que conserve e amplie suas qualidades. 4. Canais de comunicação e distribuição, que envolvem decisões e ações a respeito da utilização de mídia de massa e seletiva, aparições voluntárias, auxílio voluntário e partidário; 5. Segmentos de eleitores diferenciados; 6. Acompanhamento e revisão contínua e sistemática de resultados que impliquem em reorientação da campanha. Disciplina: Propaganda Política 5 1.3 O marketing político no Brasil Os períodos de disputa eleitoral no Brasil recentemente começaram a ser descobertos como mercado empresarial. A redemocratização que o país começa a respirar renovou as práticas eleitorais e revigorou a importância das posições políticas, que, durante o longo período imposto pelo regime militar, não passavam de meras delegações cartorais. Na opinião de Ronald Kuntz, o mercado eleitoral brasileiro apresenta características distintas de qualquer outro, uma vez que é cercado de altos riscos, infestado de "picaretas", leigos e "charlatães, calotes, fornecedores oportunistas, tudo isso regido por uma legislação inadequada e ultrapassada que acaba levando todos - candidatos, partidos, fornecedores - a agir na clandestinidade e na ilegalidade, sob os olhos complacentes de uma justiça eleitoral despreparada. Nesse mercado tem se visto de tudo, desde a utilização ostensiva de máquinas administrativas controladas pelo Estado com fins eminentemente eleitorais, até o achaque a grandes e pequenos industriais, subornos etc. Enquanto o aprimoramento dos processos eleitorais, a organização e a evolução desse novo mercado se encarregam, naturalmente, de estabelecer a ordem e a natureza de suas verdades, se assiste no país um processo acelerado de organização de um mercado fornecedor mais especializado para atender à demanda de serviços e materiais específicos na área eleitoral, incluindo a capacitação profissional nos meios acadêmicos. Todas essas transformações permitem que se espere, em curto espaço de tempo, um mercado mais evoluído e capaz de atender a todas as necessidades dos candidatos em campanha de uma maneira mais profissional e eficiente do que vem sendo feita até hoje. Os políticos brasileiros, de forma geral, não possuem a cultura do planejamento, acabam por concentrar suas ações de propaganda e marketing político apenas na campanha eleitoral, esquecendo-se que a decisão de voto não se pauta exclusivamente pelos estímulos advindos das campanhas. Disciplina: Propaganda Política 6 1.4 O profissional de marketing político Uma boa assessoria de marketing político deve conhecer profundamente as atividades que cercam o desenvolvimento de uma campanha eleitoral, não somente quanto aos aspectos promocionais e necessidades de comunicação, mas também às ligadas à área operacional e política da campanha. Essa experiência só se adquire através do acompanhamento pessoal de campanhas eleitorais, principalmente as desenvolvidas em nível municipal, quando o contato com a população é muito mais próximo e intenso. Isso não se aprende em livros, aulas ou gabinetes. Além de instrumental teórico e prático, o bom profissional de marketing político precisa ter sensibilidade e vivência para fazer uma análise competente do quadro político; “faro” jornalístico para criar notícias; entender de pesquisa e, principalmente, de análise, que é o grande diferencial; ter noção clara do processo de campanha e habilidade no trato com pessoas; precisa, ainda, ter familiaridade com a dinâmica e o alcance dos meios de comunicação. O profissional de marketing político funciona numa campanha como um diretor de marketing dentro de uma organização empresarial. Deve saber se posicionar frente à sua equipe de campanha, saber suas limitações e as de seu candidato. Tem de ter sempre a visão do cliente, embora conheça a visão da agência. Deve ser o elo entre a agência e o candidato, oferecendo a esta suporte técnico quanto às informações a que deva ter acesso para desenvolver sua atividade, orientando sempre que necessário os profissionais de criação quanto às peculiaridades das atividades eleitorais e mesmo políticas do candidato que assessora e de seus adversários, para que as agências possam apresentar projetos de comunicação eficazes, evitando o vaivém para remendos, além de organizar o plano de materiais e serviços, bem como a sua distribuição no decorrer da campanha. O profissional de marketing político deve orientar o político de acordo com os resultados das pesquisas de opinião, procurando descobrir o que pensam e desejam os eleitores e sintonizando o discurso e a imagem do candidato aos anseios da população. Para isso, é importante uma interpretação adequada das pesquisas, sendo necessário contar com profissionais qualificados e experientes para a execução desta fase do trabalho. 1.5 Limites e possibilidades do marketing político Muitas vezes, o marketing político é acusado de ser imoral e antiético. Questiona-se que o trabalho exercido pelos profissionais de comunicação em uma campanha política acabe por mascarar o candidato. Ou seja, o político é visto como um produto a ser vendido e, portanto, sua Disciplina: Propaganda Política 7 imagem tem mais importância que sua ideologia ou suas propostas. Porém, deve-se ressaltar que se assim fosse, bastava que o político contratasse a melhor agência, os melhores assessores de comunicação ou os melhores marqueteiros e a vitória estaria garantida, mas não é bem assim. Se um político bem assessorado vencesse sempre, o que aconteceria se houvesse dois ou mais políticos na mesma situação? A prática em campanhas eleitorais mostra que, muitas vezes, um candidato,por melhor assessorado que esteja em termos de marketing e comunicação, não vence de jeito nenhum. Existem valores do eleitorado que orientam a escolha do voto e, se o político não se encaixa no perfil desejado, somente por algum fato inusitado ou milagre ele ganha a eleição. O que os profissionais buscam fazer é valorizar as qualidades do candidato. Não é possível fazer milagres, mesmo porque, atualmente, o eleitor está bem mais informado. O ideal é que a campanha leve em conta sempre a postura ética que tem sido cada vez mais valorizada pelo eleitorado. Cabe ao “marketólogo” saber usar as ferramentas e os meios adequados para criar um quadro favorável ao seu candidato-cliente. Muitas vezes, uma derrota em uma campanha pode criar condições para uma vitória na próxima eleição. O poder do marketing político é limitado por uma série de fatores. Em primeiro lugar, as campanhas ocorrem sob uma legislação eleitoral específica, que, no Brasil, muda de eleição para eleição. Outro fator que limita o alcance do marketing político é o próprio candidato e sua inserção no meio ambiente político-social; com o político errado na hora errada, não há estratégia de marketing e comunicação que dê certo. Em terceiro lugar, e principalmente, vêm os próprios eleitores. O eleitorado possui uma dinâmica própria que muitas vezes é impenetrável pelas técnicas de marketing político. Muitas vezes, os candidatos com as melhores estratégias e campanhas não ganham a eleição. No Brasil, é preciso ainda considerar a complexidade do processo político: voto obrigatório, grande número de eleitores pouco escolarizados, desigualdades regionais, concentração de renda, partidos fracos, desinteresse e descrédito na política. A maioria da população se informa através da mídia eletrônica, principalmente a televisão, para formar sua opinião e decidir o voto. A televisão, no Brasil, é um importante fator político: seus programas transmitem valores que influenciam a população e os políticos precisam estar atentos a isso. O acompanhamento da mídia permite descobrir as preocupações presentes no eleitorado, suas expectativas e seus anseios. Hoje em dia, as campanhas se tornaram grandes negócios. Uma boa campanha exige dinheiro: muitos recursos são gastos com a contratação de especialistas (de diversas áreas), na compra de material de divulgação (panfletos, santinhos, faixas, camisetas etc.), na produção dos programas de rádio e televisão, com o comitê e outras despesas. Porém, o uso da criatividade pode baratear os custos e alcançar resultados mais eficientes, abrindo uma série de possibilidades de trabalho. Disciplina: Propaganda Política 8 Para o consultor Ney Figueiredo, que já participou de dezenas de campanhas e é considerado um dos pioneiros nos estudos de marketing político no Brasil, algumas dicas são fundamentais na hora de se pensar na estratégia para uma campanha: 1. Utilizar sempre pesquisas sérias e confiáveis, porque o resultado é essencial para a definição da estratégia da campanha; o uso de sondagens não confiáveis pode ocasionar um erro fatal para a estratégia adotada; 2. Para a interpretação correta da pesquisa, existe a necessidade de saber ler os dados; uma leitura precipitada ou equivocada será um desastre para a campanha; 3. Definição de uma estratégia prévia, evitando desvios, mas com flexibilidade para corrigir eventuais erros ou mudanças conjunturais; 4. Não se deve montar uma campanha em cima de um único tema: o candidato deve estar atento para as várias preocupações existentes no eleitorado; 5. Os meios de comunicação são fundamentais na eleição: é necessário saber utilizar todo seu potencial em prol de seu candidato-cliente. 3. PESQUISA NA ÁREA POLÍTICA As pesquisas são os principais instrumentos à disposição de um candidato para a elaboração de suas estratégias de campanha. De nada adianta que ele ou sua equipe sejam dotados de inteligência, bom senso, experiência e outras qualidades, se não puder contar, como ponto de partida, com informações confiáveis. A não utilização de pesquisas na formulação estratégica de uma campanha implica a aceitação da intuição, sensibilidade e sorte como elementos capazes de substituir fatos concretos e informações fundamentais, elevando consideravelmente o fator "risco" de cada campanha eleitoral. Fazer pesquisa não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, mas requer experiência, sensibilidade e conhecimentos específicos. Por isso, o melhor a fazer é não se aventurar e entregar os trabalhos dessa área a profissionais especializados, pois é bom que se tenha sempre presente que é primordial preservar a qualidade e a confiabilidade das informações que se deseja obter através deste meio, uma vez que é sobre elas que se irá basear toda estratégia da campanha. Disciplina: Propaganda Política 9 O surgimento da pesquisa política O conceito de pesquisa surge pela primeira vez em 1824, com a publicação da primeira "enquete popular", por Delaware Watchan, com as preferências dos eleitores americanos em relação à eleição presidencial daquele ano. Em 1932, a revista americana The Literary Digest, durante uma campanha promocional para aumentar o número de assinantes, enviou milhões de formulários perguntando a intenção de voto dos norte-americanos e, apesar de Ter recebido milhões de respostas, errou o vencedor das eleições. Em 1935, George Gallup funda o American Institute of Public Opinion, e começa a utilizar os conceitos científicos e estatísticos para a realização das pesquisas, através de técnicas de amostragem, obtendo maior eficiência e agilidade com menores custos. No Brasil, os institutos de pesquisas de opinião surgem em 1942, com a fundação do Ibope, por Auricélio Penteado. A primeira pesquisa eleitoral realizada pelo instituto foi em maio de 1945, sobre a disputa entre Eduardo Gomes e Eurico Gaspar Dutra. Formas de utilização de uma pesquisa O principal objetivo que deve levar um candidato a contratar uma pesquisa é a necessidade de informações confiáveis e estratégicas. Entretanto, uma pesquisa pode ser utilizada de diversas maneiras, sem prejuízo de sua finalidade principal. Assim, a utilização de pesquisas como forte argumento para aumentar a arrecadação de fundos de campanha junto a setores que estejam apoiando a candidatura, desde que o resultado obtido seja favorável, pois é fato incontestável que nenhum investidor se sente confortável em apostar em candidatos sem perspectiva de vitória. Uma pesquisa favorável serve também como propaganda de uma candidatura, elevando o moral de todos os envolvidos na campanha, favorecendo ainda alianças e apoios inesperados e muitas vezes desmotivando cabos eleitorais de candidatos adversários. Quanto à utilização de pesquisas como propaganda, a divulgação das pesquisas de opinião permite a democratização da informação para o grande público. Segundo alguns críticos, porém, isto pode exercer influência sobre o comportamento e a opinião individual das pessoas, funcionando como um instrumento de manipulação, pois existe a crença de que o eleitor não gosta de desperdiçar seu voto, acabando por mudar sua intenção e candidato quando sente que seu preferido não tem chances de alcançar a vitória. Porém, por diversas vezes, a prática provou o contrário, com a vitória de candidatos que não lideravam pesquisas. Pesquisa não ganha eleição, apenas ajuda a ganhar! Disciplina: Propaganda Política 10 A importância da pesquisa como ponto de partida para a formulação de estratégias em campanhas eleitorais se justifica pela diversidade de informações que podem ser obtidas, como tendências, aspirações e preferências populares, principais problemas sob o ponto de vista dos mais diversos segmentos sociais, posição atualizada de cada candidato, identificação das principais lideranças e inúmeras outras informaçõesrelevantes. Esses dados vão servir para orientar um candidato quanto à melhor maneira de apresentar-se perante o eleitorado (imagem), que temas abordar, como elaborar sua plataforma e programas administrativos ou de ação parlamentar, servindo ainda para avaliação de pontos fortes ou vulneráveis de seus adversários, análise de alianças mais ou menos vantajosas etc. A importância da interpretação correta A importância das informações coletadas em uma pesquisa é determinada em função de sua aplicabilidade imediata e dos resultados que essas informações ajudam a obter. A "chave de ouro" de uma pesquisa, capaz de assegurar a sua utilidade, é a interpretação correta das informações recolhidas. Estar bem informado não significa nada se não tiver profissionais com capacidade e inteligência para converter as informações em estratégias de ação. A informação é uma arma poderosa, mas é preciso ter o máximo cuidado para que o tiro não saia pela culatra. Assim, embora todo instituto de pesquisa ofereça um relatório analítico acompanhado dos dados obtidos ao final de cada pesquisa encomendada, é necessário que o candidato e sua assessoria analisem cada informação, cruzando os dados e utilizando-se do máximo bom senso, com toda experiência da qual puderem cercar-se para, só então, definir sua estratégia. O planejamento da pesquisa política Segundo Márcia Cavallari Nunes, diretora do Ibope Opinião, o planejamento das pesquisas políticas em uma campanha eleitoral pode ser dividido em três fases distintas: 1) Mapeamento do eleitorado em termos sociais e políticos; 2) Posicionamento do candidato partido; 3) Acompanhamento da campanha. Disciplina: Propaganda Política 11 A primeira fase consiste na análise da conjuntura na qual irá acontecer a eleição, indicando preferências e expectativas dos eleitores em relação à política ou mesmo à sua vida cotidiana. O mapeamento social do eleitorado tem por objetivo: 1) Detectar o estado de espírito dos eleitores; 2) Distinguir as demandas sociais existentes; 3) Avaliar a atual administração, apontando os aspectos positivos e negativos; 4) Definir a agenda social, selecionando os temas com maior destaque dentro da sociedade no período eleitoral; 5) Propor discursos alternativos e o posicionamento das minorias sociais; 6) Identificar as ações emergenciais; 7) Detectar o interesse popular pelas eleições e o modo como a população vê os candidatos e suas propostas. O mapeamento político do eleitorado tem por objetivo: 1) Identificação das principais lideranças políticas e comunitárias que, além de serem formadoras de opinião, podem auxiliar na estrutura da campanha; 2) Detecção de outros formadores de opinião, identificando seu alinhamento (caso sejam contrários à candidatura de seu candidato-cliente, deve-se procurar formas de neutralizar sua opinião junto ao eleitorado); 3) Aferição do potencial de voto e rejeição dos candidatos em disputa; 4) Definição do perfil ideal do candidato; 5) Definição da imagem dos candidatos no imaginário dos eleitores; 6) Averiguação do posicionamento dos candidatos em relação a determinados temas; 7) Intenção de voto (espontânea e estimulada) 8) Levantamento de preferências ou rejeição a partidos políticos, grupos sociais, movimentos sociais etc. As informações obtidas na primeira fase devem ser analisadas por profissionais qualificados, evitando a interferência de pessoas envolvidas emocionalmente com o processo eleitoral, principalmente o político e seus assessores, que se deixam influenciar por idéias pré- concebidas e muitas vezes acabam por atrapalhar na análise da conjuntura política e social. O objetivo dessas pesquisas é posicionar o político de acordo com o contexto, sintonizar seu discurso com as preocupações sociais e políticas existentes, posicioná-lo de acordo com o que o Disciplina: Propaganda Política 12 eleitor deseja, para atrair os votos necessários à sua vitória. Ou seja, o objetivo é conhecer os eleitores, suas aspirações, demandas e frustrações. A segunda fase consiste na identificação do posicionamento dos candidatos e dos partidos na cena política, fazendo um levantamento que aborde os seguintes pontos: 1) Reconhecer os atributos mais associados a cada candidato e partidos; 2) Detectar o grau de conhecimento do eleitorado sobre os candidatos e os partidos; 3) Conhecer as razões para votar ou não votar em um candidato e/ou partido; 4) Descobrir os pontos fortes e fracos de cada candidato e/ou partido; 5) Identificar cada candidato e/ou partido com grupos sociais e movimentos sociais; 6) Associar cada candidato e/ou partido com propostas, soluções, projetos etc. É importante conhecer os adversários e seus partidos, de modo a permitir uma inserção mais favorável na mente do eleitor, como também atacar, quando é o caso, os candidatos e/ou partidos concorrentes. A mensuração da força dos adversários e de suas posições no imaginário coletivo permite conhecer os principais rivais na corrida eleitoral, bem como distinguir o candidato que atinge o mesmo segmento eleitoral. Na fase três, no acompanhamento da campanha, é necessário atenção aos seguintes pontos: 1) Percentuais de intenção de voto; 2) Índices de rejeição; 3) Evolução e formação da imagem durante a campanha eleitoral; 4) Surgimento de novos temas no contexto eleitoral; 5) Mensuração da aceitação ou rejeição às propostas apresentadas; 6) Análise dos impactos da campanha, da propaganda, da comunicação, dos programas eleitorais etc. Essa fase tem a preocupação de corrigir eventuais erros e redirecionar a campanha de acordo com os rumos que o processo eleitoral segue, que é dinâmico e sofre uma série de influências que forçam a mudança das estratégias. Uma denúncia de corrupção, um boato ou um fato inusitado podem alterar a campanha, por mais bem estruturada e planejada que esteja. Disciplina: Propaganda Política 13 O importante é não ser pego de surpresa e estar sempre preparado para uma ação alternativa em casos emergenciais. Tipos de pesquisas Para a realização da campanha política são utilizados basicamente dois tipos de pesquisas: as qualitativas e as quantitativas. Uma não substitui a outra, ambas são complementares. Pesquisas Qualitativas: buscam a qualidade de expressão e de verbalização e não a quantidade das informações coletadas. Também chamadas de motivacionais, têm caráter exploratório e são realizadas através de duas técnicas: entrevistas em profundidade e grupos focais. • Entrevistas em profundidade: são realizadas por entrevistadores treinados que, a partir de um roteiro previamente estabelecido, devem estimular os entrevistados (geralmente formadores de opinião: lideranças, jornalistas, sindicalistas, intelectuais etc.) a discorrer sobre temas associados ao processo político. • Grupos focais: reuniões com a participação de pessoas selecionadas em função da segmentação socioeconômica e educacional para debater questões apresentadas por um moderador, criando artificialmente, uma situação de interação entre os participantes, capaz de estimular a espontaneidade dos pensamentos e opiniões. Nesse tipo de pesquisa, procura-se trazer á tona as opiniões dos participantes e medir suas reações diante de determinados assuntos. Essas pesquisas visam trabalhar com aspectos motivacionais implícitos ou inconscientes do eleitorado. As reuniões normalmente contam com 8 a 10 participantes, de forma a preencher um perfil previamente estabelecido para cumprir objetivos do levantamento. As pessoas ficam numa sala, sentadas em volta de uma mesa, e são convidadas a comentar os assuntos que são colocados em debate. Geralmente, essas salas têm um espelho, através do qual outros profissionais, e algumas vezes o próprio candidato, assistem à discussão.O moderador deve ter capacidade de estimular a discussão e fazer com que os participantes se expressem livremente, sem constrangimentos. Disciplina: Propaganda Política 14 Em ambos os casos as entrevistas devem ser gravadas e transcritas para serem analisadas por profissionais especializados, que irão produzir um relatório que indique o potencial do candidato, suas deficiências e seu posicionamento dentro do cenário político, segundo a visão dos formadores de opinião. As pesquisas qualitativas também são utilizadas para verificar qual vai ser a possível reação do conjunto do eleitorado diante de alguma jogada mais arriscada. Os tópicos mais abordados nas pesquisas qualitativas, principalmente nos grupos de foco, são: 1) Situação de vida dos participantes; 2) Perspectivas em relação ao futuro; 3) Análise da situação do município, do estado ou do país, dependendo do caso; 4) Percepção de progresso ou involução na unidade geográfica considerada; 5) Imagem dos candidatos em disputa (quem é mais honesto, quem é mais competente, trabalhador etc.); 6) Principais problemas do eleitorado; 7) Grau de informação e maneiras através das quais o eleitorado se informa; 8) Avaliação da situação e da oposição, do ponto de vista político; 9) Por que possuem simpatia ou antipatia a determinados políticos; 10) Pontos fortes e fracos de cada candidatura. Pesquisas Quantitativas: têm como objetivo mensurar as opiniões, valores e disposição de comportamento do eleitorado. Devem ser realizadas periodicamente, medindo o comportamento eleitoral através de variáveis pré-determinadas. São realizadas através de amostras que, através de critérios sociológicos e estatísticos, representam o conjunto do universo pesquisado, funcionando como uma “miniatura do eleitorado”. Ao se trabalhar com sondagens quantitativas, é preciso verificar se ela foi realmente representativa do eleitorado em questão e se todos os grupos sociais e todas as regiões estavam presentes na amostra em proporção próxima à da população pesquisada. As perguntas realizadas nas pesquisas quantitativas devem ter quatro características: 1) Objetividade: cada pergunta deve enfocar um único e exclusivo assunto; 2) Brevidade: questões curtas que facilitem as respostas; Disciplina: Propaganda Política 15 3) Clareza: o significado da pergunta deve ser perfeitamente entendido pelo entrevistado; 4) Adequação do vocabulário: o vocabulário utilizado pelo entrevistador deve ser adequado ao público-alvo. As questões referentes à intenção de voto são as mais comuns nas pesquisas quantitativas. Através delas é possível saber qual o índice de voto dos candidatos e verificar em qual segmento do eleitorado eles têm mais votos. Existem duas formas de medir a intenção de voto: a espontânea e a estimulada. Na pesquisa espontânea não são dadas ao eleitor as alternativas de nomes de candidatos para que ele mostre sua opinião. Ele deve escolher com base em seu conhecimento prévio. O resultado reflete a hierarquia dos nomes mais conhecidos naquele momento – muitas vezes os eleitores citam personalidades que não são candidatos. As pesquisas de intenção de voto espontânea começam a aparecer cerca de um ano antes da eleição e refletem o chamado “voto cristalizado”, isto é, aquele voto que o eleitor muito provavelmente não irá modificar, salvo ocorra algum acontecimento extraordinário durante a campanha. A elaboração do questionário O primeiro passo na estruturação de uma pesquisa eleitoral é definir exatamente o que se quer saber, de quem se quer saber e o nível de detalhamento das respostas que se pretende obter. São esses elementos que irão determinar a formulação das perguntas dirigidas ao eleitorado. A elaboração de um questionário exige uma série de cuidados que vão desde o número de perguntas incluídas até a ordem em que serão feitas pelos entrevistadores, passando pela escolha criteriosa das palavras utilizadas nas perguntas. Isso porque da forma da elaboração do questionário depende, em grande parte, a isenção, a objetividade e, até mesmo, a confiabilidade e validade da pesquisa. Os questionários de pesquisa utilizam basicamente dois tipos de questões: abertas e fechadas, cada qual oferecendo vantagens e desvantagens. • Questões abertas: são aquelas que permitem ao pesquisado responder livremente a questão formulada. Vantagens: permite ao analista identificar observações e motivações do entrevistado com muito mais riqueza de detalhes. Disciplina: Propaganda Política 16 Desvantagens: o grau de dispersão na resposta é maior e o trabalho de filtragem, análise e seleção das respostas é muitas vezes maior, não permitindo a utilização do computador na tabulação primária dos dados. Isso demanda maior tempo de trabalho dos profissionais envolvidos nas etapas e, conseqüentemente, maior custo operacional. • Questões fechadas: são aquelas em que o entrevistado escolhe uma opção entre as respostas previamente colocadas pelo pesquisador, atribui notas, elenca prioridades, aponta preferências etc. Vantagens: permite ao analista classificar as respostas rapidamente e sem possibilidade de erro, principalmente com a utilização do computador, facilitando o cruzamento e a interpretação dos dados coletados. Demanda menor tempo de trabalho dos profissionais envolvidos nas etapas e, conseqüentemente, menor custo operacional. Desvantagens: esse tipo de questão não oferece as vantagens das questões abertas e requer maior cuidado na elaboração das perguntas e apresentação das respostas para não influenciar ou induzir os entrevistados. Definição da amostragem Os critérios de segmentação do eleitorado são baseados na experiência adquirida pelos profissionais ao longo das campanhas e subsidiados por estudos estatísticos comprovados cientificamente. Assim, o tamanho das amostras utilizadas pelos institutos de pesquisa para aferir a opinião e a preferência dos eleitores adota o seguinte padrão: Nº DE HABITANTES/CIDADE Nº DE ENTREVISTAS Até 20 mil habitantes Até 400 entrevistas Entre 20 mil e 100 mil Entre 500 e 600 De 100 mil a 1 milhão Entre 600 e 800 Mais de 1 milhão de habitantes Entre 1000 e 1500 Existem várias formas de seleção de amostras, porém as mais usuais são a probabilística e a de amostragem por cotas. Na probabilística, é feito o sorteio dos indivíduos que serão entrevistados e todos possuem as mesmas chances de serem selecionados. A amostra por cotas é feita a partir do conhecimento de algumas características representativas da sociedade (sexo, idade, classe social), fornecidas principalmente por entidades como o IBGE (Instituto Brasileiro de Disciplina: Propaganda Política 17 Geografia e Estatística) e pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). A amostra selecionada representa o eleitorado total. Aparentemente, as amostras são muito pequenas em relação ao eleitorado total, mas representam cientificamente a opinião do eleitorado. Para se ter uma idéia, o Brasil possui cerca de 114 milhões de eleitores, em uma pesquisa nacional, os institutos entrevistam cerca de duas mil pessoas, escolhidas de acordo com o perfil dos eleitores. A chance de um cidadão ser entrevistado é de 0,0000013, ou uma em 57.000. Para ser representativa, a amostra deve reproduzir com a maior fidelidade possível o universo pesquisado (bairro, cidade, estado, segmento social etc.). Se o segmento pesquisado for uma cidade, e a amostra indicada for de 600 entrevistas, estas devem ser subdivididas na exata proporção das características da cidade-alvo levadas em consideração. No caso brasileiro, por exemplo, existem 51% de mulheres no eleitorado. Assim, a amostra deverá ter a mesma porcentagem de mulheres. Margem de erro das amostras Os resultados das pesquisas são passíveis de variações para mais ou paramenos. Tecnicamente, admite-se uma margem de erro de 3% para mais e 3% para menos, o que representaria até 6%. Na quebra de relatórios, ou seja, a segmentação da pesquisa por bairro, idade, sexo, profissão etc., a margem poderá ser maior, pois ali diminuem as quantidades de amostras tabuladas. Se dentro de um bairro desejarmos segmentar ainda a classe social, a margem de erro poderá crescer. No entanto, a tendência para orientação a um trabalho político permanece, com grande valia, na hora das decisões. Fatores que podem induzir a erros de estratégia Contratar uma pesquisa profissional pode parecer caro, mas oferece inúmeras vantagens em relação a pesquisas amadoras, a começar pela qualidade e confiabilidade das informações obtidas. Em algumas campanhas, na intenção de otimizar os recursos investidos na realização de pesquisas, muitas vezes são cometidos erros que colocam em risco a própria validade das informações coletadas. O erro mais comum é quando se tenta aproveitar a realização de uma pesquisa em meio promocional, transformando os entrevistadores em cabos eleitorais que, após a realização das entrevistas, fazem a apologia do candidato contratante, distribuindo santinhos, brindes etc. Disciplina: Propaganda Política 18 Pesquisa é pesquisa e não deve ser confundida ou misturada com promoção pessoal de candidatos. O que se pode fazer é solicitar à empresa pesquisadora a relação dos endereços e nomes dos entrevistados para envio de mala-direta agradecendo a participação e garantindo o acatamento das sugestões ou as soluções dos problemas apontados. Essa ação garante resultados melhores do que a propaganda feita pelo próprio entrevistador. Na realização de pesquisas políticas é comum nos depararmos também com a questão do voto enrustido, representado por eleitores vinculados empregaticiamente às situações governistas que, ao preferir candidato da oposição, ocultam sua intenção de voto com receio de sofrer represálias. A experiência na realização de pesquisas comprova que outra situação que pode induzir a erros de avaliação são os dados coletados junto ao segmento do eleitorado feminino representado por mulheres casadas, com mais de 35 anos, pertencentes a grupos menos favorecidos e esclarecidos da população, pois existe a tendência de que, embora possuam preferência por outro candidato, essas mulheres acabem por acompanhar o voto de seus maridos. Considerações importantes Uma pesquisa eleitoral deve ser sempre realizada em condições de normalidade social, ou seja, períodos que não estejam situados na fase imediatamente posterior a situações ou fatos causadores de impacto, como debates políticos, medidas governamentais populares ou impopulares, escândalos envolvendo políticos ou o governo etc. Sob o impacto de fatos novos a sociedade tende a reagir de maneira atípica, o que pode resultar na distorção dos resultados obtidos. Mesmo realizadas nesses momentos, a pesquisa é um precioso meio de se avaliar com precisão o impacto de acertos e erros de determinadas ações e efetuar a análise do comportamento do eleitorado face a diversas situações, não servindo, porém, como base para definição de estratégias gerais ou linhas mestras da campanha. O grande ponto fraco de uma pesquisa é a sua efemeridade, pois retrata apenas o momento em que é realizada. Numa disputa eleitoral, o ambiente é profundamente dinâmico e passível de transformações radicais em curtíssimo espaço de tempo, enquanto a pesquisa é sempre estática. Assim, é importante que o candidato realize diversas pesquisas no decorrer de sua campanha, a fim de avaliar seu progresso e o de seus adversários, detectar novas tendências e oportunidades eleitorais junto à população, efetuando correções de rota estratégica ou mudando suas táticas em função das novas informações disponíveis.
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