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Evoluções do Estado Liberal e Estado Democrático de Direito - conteúdo do livro

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Conteúdo do livro
A ideia era criar um modelo de organização social que representasse a completa antítese do velho 
absolutismo, no qual o Estado era invasivo, seja por meios de tributos exorbitantes, pelas ameaças 
às liberdades individuais ou pelas prisões e julgamentos arbitrários. 
 
A ideia básica do Estado Liberal estava calcada na ideia de intervenção mínima, da lei e das 
instituições, na vida dos cidadãos. No entanto, com o advento da Revolução Industrial, no século 
XVIII, os postulados e os princípios do Estado Liberal de Direito logo se mostraram insuficientes 
para lidar com as novas complexidades sociais e demandas populares. 
 
Leia mais no capítulo Evoluções do Estado Liberal e Estado Democrático de Direito, da 
obra História do Direito, que é base teórica desta Unidade de Aprendizagem. 
 
Bons estudos.
HISTÓRIA DO 
DIREITO
Henrique Abel
As evoluções do 
Estado Liberal: Estado 
Democrático de Direito
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer a importância do Estado Liberal na história do Direito.
 � Analisar a evolução do Estado Liberal ao Estado Social de Direito.
 � Caracterizar o Estado Democrático de Direito.
Introdução
O Estado Liberal de Direito consagrou os valores do republicanismo, da 
democracia, da separação de poderes e da proteção do Estado à vida, 
à liberdade e à propriedade privada dos cidadãos. Foram conquistas 
históricas fundamentais, mas que, com o passar do tempo, mostraram-se 
insuficientes para lidar com os problemas da sociedade, sobretudo no 
contexto mais complexo e dinâmico das então emergentes economias 
capitalistas industrializadas. 
Neste capítulo, você vai ler a respeito das circunstâncias históricas, 
sociais e políticas que levaram à transição do Estado Liberal para o 
Estado Social e, por fim, ao Estado Democrático de Direito contempo-
râneo. Examinará o impacto da Revolução Industrial nas sociedades 
europeias e sua relação com o surgimento da crítica socialista. Depois, 
verá como o Estado Social representou uma evolução em relação ao 
Estado Liberal clássico.
 Por fim, identificará as principais características e peculiaridades do 
Estado Democrático de Direito, relacionando aquilo que ele tem de 
comum e de inovador em relação aos modelos anteriores. 
A Revolução Industrial e o surgimento 
da crítica socialista
O processo de desenvolvimento capitalista, intensificado pelo dinamismo 
comercial dos séculos XVI e XVII, estava até então basicamente ligado à 
circulação de mercadorias. 
No entanto, a partir da segunda metade do século XVIII, iniciou-se na 
Inglaterra a mecanização industrial, desviando a acumulação de capitais da 
atividade comercial para o setor de produção. Esse fato trouxe grandes mu-
danças, de ordem econômica e social, que possibilitaram o desaparecimento 
dos resquícios do feudalismo ainda existentes em alguns lugares e a definitiva 
implantação do modo de produção capitalista. A esse processo de renovação 
do capitalismo pela via tecnológica deu-se o nome de Revolução Industrial 
(hoje também chamada de Primeira Revolução Industrial). A Revolução 
Industrial se iniciou na Inglaterra, a grande potência econômica e militar da 
Europa no século XVIII, cuja supremacia como potência e império chegaria 
até o começo do século XX.
Entre as invenções e técnicas que fomentaram a Revolução Industrial, estão: 
 � a locomotiva a vapor; 
 � o barco a vapor; 
 � a máquina de fiar; 
 � o tear mecânico;
 � o telégrafo;
 � a mecanização do setor de metalurgia. 
O uso do vapor como força motriz foi um dos principais elementos da 
revolução tecnológica ocorrida no período.
A Revolução Industrial e o êxodo rural deram à Inglaterra uma nova confi-
guração: no campo, predominavam agora os latifúndios e as grandes proprie-
dades rurais; já nas cidades predominavam as fábricas. As grandes economias 
se tornaram mais dinâmicas, as possibilidades tecnológicas se expandiram e 
o moderno mercado de produtos de consumo se estabeleceu. Todavia, em um 
primeiro momento, o custo social dessa revolução na produtividade foi muito 
alto e marcado por enormes desigualdades (Figura 1).
As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito140
Figura 1. A miséria das famílias da classe trabalha-
dora, na Europa da segunda metade do século XIX, 
foi magistralmente retratada à época por artistas 
como Émile Zola em seu clássico livro Germinal 
(1885). Na imagem, a ilustração The assault of Pas-de-
-Calais, de Th. A. Steinlen (1859–1923), publicada na 
Le Chambard Socialiste em 16 de dezembro de 1893.
Fonte: [Assault], ([200-?]).
As cidades industriais passaram a abrigar um grande contingente de miserá-
veis. As jornadas de trabalho eram longas (frequentemente superiores a 14 horas 
diárias), as fábricas eram instaladas em locais insalubres e os acidentes de trabalho 
eram frequentes. Não existia qualquer legislação trabalhista ou inspeção estatal. 
Os desempregados eram recolhidos a estabelecimentos chamados de 
workhouses, onde viviam em condições precárias e ficavam confinados à 
disposição do mercado de trabalho. A mão de obra era barata, por vezes quase 
escrava, e os salários eram baixos e indignos. Os industriais frequentemente 
davam preferência para o trabalho de mulheres e crianças, muitas vezes, 
trabalhando apenas em troca de alojamento e comida.
A reação operária aos efeitos da Revolução Industrial fez surgirem crí-
ticos dos malefícios do progresso industrial, que propunham reformulações 
sociais e a construção de uma realidade política, jurídica e social mais justa 
e igualitária, livre da opressão do capital. Podemos dividir esses críticos em: 
socialistas utópicos, socialistas científicos e anarquistas.
141As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito
O socialismo utópico teve os seus principais expoentes em autores como 
Saint-Simon e Fourier. Eles eram opositores da injustiça social gerada pela 
Revolução Industrial e da não realização dos ideais igualitários da Revolução 
Francesa, mas não tinham teorias bem construídas de análise da história e 
das forças políticas, nem um projeto razoavelmente definido em termos de 
política e sociedade.
Os anarquistas constituíam, à época, um grupo mais extremista e violento. 
Desdenhavam da esperança socialista em mudanças pela via do diálogo, da 
conciliação ou da tomada do poder pela classe trabalhadora. Céticos em 
relação a qualquer espécie de governo ou arranjo institucional do Estado, os 
anarquistas estavam voltados à libertação dos homens pela via da destruição 
do governo e do Estado.
O chamado socialismo científico, por sua vez, era um projeto baseado na 
análise dos processos históricos e do funcionamento da sociedade e da economia. 
Ele tinha a pretensão de que as suas conclusões fossem derivadas de constatações 
científicas sobre a forma como as sociedades se desenvolvem historicamente. Não 
se tratava, portanto, de um mero descontentamento com as desigualdades sociais e 
de uma aspiração poética por uma utopia igualitarista, mas de uma análise social 
e histórica sobre as contradições do capitalismo e as condições econômicas e 
políticas necessárias para emancipar os homens e mulheres do jugo do capital.
Karl Marx (1818–1883) é o mais importante dos autores socialistas. Junto 
com Friedrich Engels, ele escreveu obras que causaram uma revolução sem 
precedentes na economia, na política e nas ciências sociais. A sua obra máxima 
é O capital, de 1867. De suma importância é também o Manifesto comunista, 
publicado em 1948, no qual Marx e Engels esboçaram as proposições e pos-
tulados do socialismo científico na forma de um programa político. Entre 
outros conceitos fundamentais, Marx elabora as noções de luta de classes, 
mais-valia, materialismo dialético e materialismo histórico.
As revoltas de trabalhadores e operários se espalharam pela Europa, assim 
como as ideias do socialismo científico. Esses elementos de tensão social gera-
ram, historicamente, dois grandesefeitos distintos. Em alguns países, as lutas 
contra os abusos e as desigualdades foram levadas às últimas consequências, 
por meio de revoluções socialistas que visavam realizar, na prática, a visão 
de um mundo livre da opressão do poder financeiro. A Revolução Russa, de 
1919, é o grande e definitivo evento do século XX nesse sentido.
Todavia, a burguesia liberal europeia — alarmada com “o fantasma que 
rondava a Europa” (o comunismo) — não estava disposta a correr o risco de 
ver a ordem política e social sucumbir por meio de uma revolução popular 
As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito142
socialista. Afinal, pouco mais de um século antes, era a própria burguesia 
liberal que estava capitaneando revoluções sociais contra a antiga aristocracia. 
A burguesia e os emergentes capitalistas não queriam repetir os erros do Ancien 
Régime nem ter o mesmo fim violento, pelas mãos dos revolucionários, que tive-
ram os membros da aristocracia durante a Revolução Francesa. É nesse contexto 
que, entre os últimos anos do século XIX e as duas primeiras décadas do século 
XX, começa a se estabelecer o que viria a ficar conhecido como Estado Social.
Marx parte das velhas doutrinas materialistas da filosofia grega clássica para desen-
volver o conceito de materialismo dialético, ou seja, a ideia de que os fenômenos 
materiais são processos. Segundo o materialismo dialético, toda ordem econômica 
cresce até um estado de máxima eficiência, ao mesmo tempo em que desenvolve, 
progressivamente, contradições internas que enfraquecem o sistema e, no longo 
prazo, levam este à sua decadência e derrocada. O materialismo histórico, por sua 
vez, é aplicação dos princípios do materialismo dialético ao campo da história. É a 
explicação da história por fatores materiais, ou seja, econômicos e técnicos. É uma 
interpretação socioeconômica da história. Dentro dessa compreensão, Marx dirá que 
a sociedade se estrutura em níveis. 
O primeiro nível, a infraestrutura, constitui a base econômica, que é o nível de-
terminante dentro da concepção materialista. O segundo nível, a superestrutura, é 
político-ideológico e é constituído pela estrutura jurídico-política (O Estado e o Direito) 
e pela estrutura ideológica (consciência social, religião, educação, literatura, filosofia, 
ciência, arte, entre outras). Significa dizer: para o marxismo, a infraestrutura determina a 
superestrutura. Ou seja, o modo de produção vigente, a maneira como ele se organiza 
e as suas necessidades determinam as respostas dadas pelo Estado, pelo Direito, pela 
religião e pelo senso comum moral da sociedade.
É por isso que, para Marx, seria impossível melhorar o capitalismo internamente, 
via reformas desde dentro. Pela teoria marxista, a única forma de criar condições de 
possibilidade para o estabelecimento de novas instituições, valores e regras seria por 
meio da tomada dos meios de produção — pelas mãos do proletariado — e pelo 
estabelecimento de um novo modo de produção, formando uma nova base econômica 
e, consequentemente, um novo modelo de sociedade.
A transição para o Estado Social
Podemos dizer que o Estado Social surge como uma espécie de terceira via 
entre o velho Estado de Direito Liberal e o socialismo desejado pelos revolu-
cionários marxistas da época. Sem maiores rupturas, sem revoluções e sem 
143As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito
violência, o Estado Social se estabelece, na maioria dos países, pela via do 
reformismo e da política. 
Importante destacar que o Estado Social não é, de forma alguma, uma 
negação do velho Estado Liberal. Pelo contrário: ele é mais adequadamente 
compreendido enquanto evolução do modelo anterior. O Estado Social mantém 
todos os velhos compromissos com a liberdade, a livre iniciativa, a proteção 
da propriedade privada e a manutenção da ordem capitalista. Nada disso muda 
nessa transição de paradigma político-jurídico.
A principal inovação, aqui, dá-se no fato de que a chamada agenda social 
deixa de ser caso de polícia e passa a ser tratada como questão de política. 
Em outras palavras, a pauta de reivindicações dos trabalhadores, miseráveis, 
inconformados e excluídos deixa de ser respondida pela via da repressão e da 
violência, passando a ser assimilada pelo próprio Estado. 
Na prática, isso significava que o Estado passava a assumir uma nova 
agenda com os seus cidadãos. Não mais apenas a agenda negativa, absenteísta, 
do liberalismo — ou seja, o compromisso de não intervenção na vida e nos 
negócios das pessoas. Essa nova agenda agora abrigava todo um novo rol de 
compromissos positivos, retirados da agenda social própria das reivindicações 
populares. Em outras palavras, o Estado passava a assumir compromissos como 
educação, saúde pública, previdência social, direitos trabalhistas, fiscalização 
das condições de trabalho, salário mínimo, entre outros. Dessa forma, de 
acordo com Streck e Morais (2010, p. 96):
Apesar de sustentado o conteúdo próprio do Estado de Direito no individua-
lismo liberal, faz-se mister a sua revisão frente à própria disfunção ou desen-
volvimento do modelo clássico do liberalismo. Assim, ao Direito antepõe-se 
um conteúdo social. Sem renegar as conquistas e os valores impostos pelo 
liberalismo burguês, dá-se lhe um novo conteúdo axiológico-político. [...] A 
adjetivação pelo social pretende a correção do individualismo liberal por in-
termédio de garantias coletivas. Corrige-se o liberalismo clássico pela reunião 
do capitalismo com a busca do bem-estar social, fórmula geradora do welfare 
state neocapitalista no pós-Segunda Guerra Mundial. Com o Estado Social de 
Direito, projeta-se um modelo onde o bem-estar e o desenvolvimento social 
pautam as ações do ente público.
Assim, em contraste com o modelo do Estado Liberal de Direito, que atuava 
sobretudo como sancionador, privilegiando a esfera individual, o Estado Social 
de Direito complementará o individualismo com a noção do grupo, ou seja, 
do bem-estar social. Além da atuação policial e sancionadora, o Estado passa 
As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito144
também a ser compreendido como agente de promoção de políticas públicas 
voltadas para o bem comum.
Embora os primeiros precedentes normativos do Estado Social encontrem-se 
em legislações esparsas europeias de fins do século XIX e começo do século 
XX, em termos de Direito Constitucional tradicionalmente se costuma apontar 
a atual Constituição do México, promulgada em 1917, como a precursora do 
modelo (Figura 2). Ela foi a primeira constituição a estabelecer direitos sociais 
propriamente ditos, vindo a servir de modelo para a Constituição russa de 1918, 
para a Constituição alemã de 1919 e também para a Constituição brasileira de 
1934 (que vigorou por apenas 3 anos).
Figura 2. A Constituição mexicana, promulgada em 
1917 e ainda em vigor, é universalmente considerada 
a precursora da constitucionalização dos chamados 
direitos sociais, institucionalizando a transição do antigo 
Estado Liberal de Direito para o Estado Social de Direito.
Fonte: Portada Original de la Constitucion Mexicana de 1917 
(2011).
145As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito
Esse mesmo período de transição do Estado Liberal para o Estado Social 
marcou, também, o movimento de progressiva universalização do voto. 
Progressivamente, a questão do voto censitário (reservado apenas a certos 
homens, em virtude de renda ou escolaridade) vai desaparecendo, sendo que a 
última barreira transposta foi a conquista do direito de voto para as mulheres. 
O sufrágio feminino surge em 1918 no Reino Unido, em 1932 no Brasil, em 
1944 na França, em 1949 no Chile e em 1953 no México. Nos Estados Unidos, 
as mulheres conquistaram o direito ao voto em 1919 — mas as mulheres negras 
só vieram a ter o mesmo direito a partir de 1965.
Para saber mais a respeito do Estado Liberal e Social, leia 
o artigo A evolução histórica do Estado Liberal ao Estado De-
mocrático de Direito e suarelação com o constitucionalismo 
dirigente, de Ricardo Quartim de Moraes. Acesse o artigo 
pelo link abaixo ou pelo código ao lado:
https://goo.gl/Zq6w65 
O Estado Democrático de Direito
Como fruto do constitucionalismo europeu da segunda metade do século XX, 
nasce o paradigma político-jurídico do Estado Democrático de Direito — um 
modelo que não se resume mais a mero “limitador dos poderes estatais” ou 
“gestor de políticas sociais”. 
O Estado Democrático de Direito se caracteriza como modelo pautado 
pela ideia de igualdade e pluralismo político e social. Tem um compromisso 
assumido com a transformação do status quo, ou seja, busca livrar o Direito 
do seu histórico papel de mero discurso de legitimação do poder e de meio 
de conservação e estagnação das estruturas sociais. As ideias de indivíduo 
e de grupo são complementadas pela ideia de comunidade. A educação, a 
solidariedade e a lei como instrumento de transformação da sociedade são 
os novos paradigmas emergentes.
As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito146
Na lição de Streck e Morais (2010, p. 124):
O Estado Democrático de Direito tem um conteúdo transformador da realidade, 
não se restringindo, como o Estado Social de Direito, a uma adaptação me-
lhorada das condições sociais de existência. Assim, o seu conteúdo ultrapassa 
o aspecto material de concretização de uma vida digna ao homem e passa a 
agir simbolicamente como fomentador da participação pública no processo de 
construção e reconstrução de um projeto de sociedade. [...] Dito de outro modo, 
o Estado democrático é plus normativo em relação às formulações anteriores.
Se faz igualmente oportuna a contextualização histórica elaborada por 
Santos (2009, p. 27-28), quando o autor esclarece que:
[...] num terceiro momento, particularmente no período pós-Segunda Grande 
Guerra, com o surgimento de uma série de problemas que passaram a afetar 
o bem-estar da população mundial em função de avanços tecnológicos e 
de outros fatores ligados à reorganização geopolítica mundial, surgiram os 
modelos constitucionais denominados Estados Democráticos de Direito, com 
redefinições fundamentais em relação aos modelos anteriores. Não foram sim-
plesmente agregações de gerações de direitos, mas rearticulações conceituais 
fundamentais como a ideia de democracia, de cidadania, de dignidade, etc. Isso 
porque a concepção de vida boa, de felicidade, que era lastreada unicamente 
em possibilidades de exercício de uma autonomia individual, atomizada, a 
partir da imposição de exigências de abstenção, em relação ao Estado e a 
todos os demais cidadãos, de prática de ações que pudessem macular direitos 
individuais, foi suplantada historicamente por uma compreensão coletiva 
de qualidade de vida que passou a demandar a satisfação de necessidades 
materiais, dentre as quais estava a educação.
Significa dizer que essa nova etapa do constitucionalismo, pós-Declaração 
Universal dos Direitos Humanos de 1948, toma como primordial a ideia de Direito 
legitimado pela proteção a direitos e garantias fundamentais, com um aprofun-
dado compromisso com a democracia — não meramente democracia em um 
sentido formal, mas substancial. Não se trata mais de uma noção de democracia 
com mera expressão aritmética da vontade da maioria, mas democracia enquanto 
sistema de proteção de garantias, de concretização de direitos e de compromisso 
com o pluralismo, com a socialidade e com a alteridade. O Estado Democrático 
de Direito, nesse sentido, pode até mesmo atuar de forma contramajoritária, ou 
seja, na contramão da vontade circunstancial de uma maioria de ocasião, com 
o objetivo de salvaguardar os direitos de eventuais minorias.
147As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito
A Constituição Federal brasileira de 1988 é um perfeito exemplo de constituição 
orientada pelos princípios do paradigma contemporâneo do Estado Democrático 
de Direito. Para o renomado jurista italiano Luigi Ferrajoli, trata-se hoje de uma das 
constituições mais avançadas do mundo.
Importante frisar que o Estado Democrático de Direito não rompe com 
as formulações anteriores (Estado Liberal e Estado Social), sendo mais bem 
compreendido como um terceiro momento na evolução desses modelos. Os 
compromissos com a liberdade, a livre-iniciativa, a proteção da propriedade 
privada e a manutenção da ordem capitalista — próprios do Estado Liberal 
— permanecem em vigor. O mesmo pode ser dito da agenda positiva do 
Estado Social — educação, saúde pública, previdência social, fiscalização 
das condições de trabalho, salário-mínimo e direitos trabalhistas em geral.
A tudo isso, soma-se, no entanto, um inédito compromisso preliminar com 
a transformação da realidade social vigente. Ou seja, o Estado Democrático 
de Direito já inaugura os fundamentos de uma nova ordem jurídica partindo 
do pressuposto de que a ordem atual das coisas é injusta e assumindo um 
compromisso com a transformação das condições sociais.
Para entender melhor o que foi estudado neste capítulo, 
assista aos vídeos Estado de bem-estar social — Welfare 
State, com Dejalma Cremonese, e Transição do Estado Liberal 
para o Estado Social, José Luiz Quadros de Magalhães, nos 
seguintes links: 
https://goo.gl/8HK6dy 
https://goo.gl/9SwJwx 
As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito148
[ASSAULT]. [200-?]. Disponível em: <https://www.ibiblio.org/eldritch/ez/assault.jpg>. 
Acesso em: 10 out. 2017.
PORTADA original de la Constitucion Mexicana de 1917. In: Wikipédia. 2011. Disponível 
em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Portada_Original_de_
la_Constitucion_Mexicana_de_1917.png>. Acesso em: 9 out. 2017.
SANTOS, A. L. C. Elementos de filosofia constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2009.
STRECK, L. L.; MORAIS, J. L. B. de. Ciência política e teoria do Estado. 7. ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2010.
Leituras recomendadas
BARRETTO, V. de P. (Coord.). Dicionário de filosofia política. São Leopoldo: Editora 
Unisinos, 2010.
DALLARI, D. de A. A constituição na vida dos povos: da idade média ao século XXI. São 
Paulo: Saraiva, 2010.
GILISSEN, J. Introdução histórica ao Direito. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 
2013. 
149As evoluções do Estado Liberal: Estado Democrático de Direito

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