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Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Rua Conselheiro Nébias, 1384 – Campos Elíseos – 01203-904 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5080-0770 / (21) 3543-0770 faleconosco@grupogen.com.br / www.grupogen.com.br O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998). Quem vender, expuser à venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98). Capa: Rodrigo Lippi Produção digital: Ozone Fechamento desta edição: 18.06.2018 CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. P956 v. 2 Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença: comentários ao CPC de 2015: volume 2 / mailto:faleconosco@grupogen.com.br http://www.grupogen.com.br Fernando da Fonseca Gajardoni ... [et al.]. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. Inclui bibliografia ISBN 978-85-309-8177-8 1. Processo civil – Brasil. 2. Direito processual civil – Brasil. I. Gajardoni, Fernando da Fonseca. II. Título. 18-50224 CDU: 347.91./95(81) Sempre que concluo um trabalho, lembro-me de como minha família é especial. Nunca é demais, portanto, externar o meu agradecimento. À Rosana, ao Ian e à Maitê, com todo o meu amor. Sempre que tenho dúvidas sobre o novo CPC (e são tantas!), recorro a quem confio e respeito. Aos amigos e grandes processualistas Luiz Dellore, Andre Roque e Zulmar Duarte, com todo o meu reconhecimento. Sempre que penso em processo civil, lembro-me de minhas casas, a Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP (FDRP-USP); a Faculdade de Direito da USP (FD-USP); e a Faculdade Paulista de Direito (PUC-SP): ontem, hoje e sempre. Sempre que escrevo sobre o novo Código de Processo Civil, penso nos seus aplicadores, principalmente nos juízes. À magistratura brasileira, com o meu respeito e admiração. Fernando da Fonseca Gajardoni Considerando que, “até aqui nos ajudou o Senhor” (I Sm, 7:12), não há como deixar de agradecer a Deus. Também necessário agradecer à família, especialmente à querida Dani e ao Leo, pelo apoio – e pela compreensão pelos momentos de ausência (ou de presença parcial, pois havia o debate via celular com os coautores...). Agradeço também ao Andre, ao Gajardoni e ao Zulmar pelas ótimas reflexões e pela parceria na elaboração desta obra. Antes de coautores, são amigos – amizade esta que, eu estava certo, já perdura mais que o texto original do CPC 2015 (e perdurará, talvez, mais até que o próprio Código). E, principalmente, agradeço aos alunos (de ontem e de hoje, presenciais e virtuais) e aos leitores. Vocês são a mais relevante motivação para que eu escreva. Luiz Dellore Agradeço, antes de mais nada, aos meus amigos Dellore, Gajardoni e Zulmar, sem os quais este projeto não seria possível. Devo agradecer também, seja lá quem for, a quem inventou essas geniais ferramentas de comunicação virtual, origem do nosso grupo e fonte permanente de debates. Aos meus colegas de trabalho, um agradecimento especial, pelo tempo que pude me ausentar para cuidar destes comentários. Finalmente, aos meus alunos e leitores, razão deste trabalho e motivação para que possamos seguir em frente, apesar de todas as dificuldades. Muito do que acrescentei nesta nova edição se deveu a dúvidas e debates com amigos e leitores, que me levam a buscar aprimorar o texto que aqui apresento, na convicção de que esta é uma obra em eterna construção. Andre Vasconcelos Roque Ao meu amor, Mariana, eternamente agradecido por nosso amor, Antônio, gratidão esquálida ao colorido que vocês imprimem à minha vida. Aos meus pais, às minhas irmãs, aos pais e irmãos de Mariana, que conjuntamente completam a paleta de cores de nossas vidas. Aos Amigos André Roque, Fernando Gajardoni e Luiz Dellore, coautores desta aquarela e que, certamente, sem os quais o quadro não passaria de um mero borrão. Esta não é a primeira vez que agradeço, tampouco será a última, o distanciamento, talvez amadurecimento, permite-me esquadrinhar as tintas que algumas pessoas, cada uma a seu estilo, aplicaram na minha formação profissional, Carlos Jorge de Souza, Rafael Speck de Souza, Fernando Speck de Souza e o professor Cláudio Scarpeta Borges. Zulmar Duarte Quando da primeira edição deste livro, comentários que eram e são o livro I da Parte Especial do CPC/2015 (Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença), ainda estávamos na metade da jornada para completar a obra, que se compunha de três volumes de comentários ao Código (Parte Geral; Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença; Execução e Recursos). Logo, quando veio a lume, a primeira edição deste livro representava dois terços do trabalho a ser feito, pelo que sequer se vislumbrava a dimensão do esforço necessário ao cumprimento do objetivo. Ainda assim, o livro representou a continuidade do desejo de interpretar o Código de Processo Civil (Lei n.º 13.105/2015); de potencializar suas novidades, sem desconsiderar o passado, mas também não ficando a ele amarrado. Comentar o Código como ele é, não como nós ou outros desejássemos que poderia ter sido. A acolhida da primeira edição na academia e no âmbito da prática foi uma grata surpresa, que reforçou a convicção dos autores do acerto das premissas estabelecidas para a construção da obra. Ademais, neste momento, em que os outros volumes dos Comentários restaram editados e já estão na segunda edição, com felicidade se verificam a harmonia e o equilíbrio entre eles, certamente fruto e consequência da sólida base estabelecida desde a primeira edição dos três volumes. Assim, nesta segunda edição, aprofundou-se o exame dos dispositivos do Código, agora iluminados pelas nascentes doutrina e jurisprudência construídas em torno dele nesse biênio de sua vigência, mas sem jamais descurar do objetivo de ser fiel ao Código. Embora falte muito para maturação do entendimento e da interpretação do Código, ainda assim já se apresentam acentuadas tendências na compreensão do sentido e do alcance de suas disposições, as quais, na medida possível, foram objeto de reflexão nesta nova edição, que ainda incorporou os primeiros pronunciamentos do STF e do STJ a respeito do CPC/2015, bem como os enunciados doutrinários editados mais recentemente (sobretudo os das Jornadas de Direito Processual Civil do Conselho da Justiça Federal – 2017). Tal qual o Código, que está em fase de construção de sua intelecção, esta edição representa mais uma fase dessa jornada dos autores de manter atualizados os comentários ao Código de Processo Civil, dos quais já se podem colher alguns resultados na vida real. Nosso compromisso é com a jornada da qual convidamos os leitores a participar ativamente, não como meros espectadores, do objetivo final de um processocivil melhor. Os Autores O Brasil tem um novo Código de Processo Civil (Lei n.º 13.105/2015). O primeiro totalmente concebido em ambiente democrático. Também o primeiro promulgado após a criação do Superior Tribunal de Justiça, que será, desde o início, o seu último intérprete sob a perspectiva infraconstitucional. O Código nasce sob o signo da esperança. Muitas são as apostas do legislador no novo CPC, destacando-se os precedentes vinculantes, o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), a tutela da evidência e o incentivo à conciliação e à mediação, entre tantas outras novidades. Poucas são as certezas. Será o problema do processo civil brasileiro, de fato, a legislação? Os institutos oferecidos pelo novo Código, se desacompanhados de uma mudança de mentalidade dos operadores do Direito, serão capazes de viabilizar a prometida prestação jurisdicional em tempo razoável? Possivelmente não. O País precisa muito mais do que um Código. Precisa de uma nova cultura jurídica, aquela na qual o Judiciário seja a ultima ratio. Uma mentalidade de reverência ao direito independentemente da intervenção do Estado-Juiz. Um modelo em que o paradigma seja o diálogo, com respeito aos precedentes dos Tribunais Superiores também no âmbito extrajudicial, particularmente pelas entidades públicas. Devemos fomentar a cultura da pacificação, e não a do litígio. Evidente que uma lei nova pode contribuir. É alvissareira a novel codificação do processo civil, revigorando o ânimo dos operadores do Direito e motivando os debates a respeito do futuro do processo e da Justiça brasileira. Os benefícios, todavia, somente serão sentidos se os estudiosos do novo Código (em especial o Superior Tribunal de Justiça, seu intérprete autêntico) forem capazes de extrair do novo sistema o máximo rendimento, que compatibilize o respeito às garantias constitucionais e o ideal de celeridade e de eficácia do processo. Parabenizo, por isso, a iniciativa dos autores destes Comentários, de oferecer para a comunidade jurídica uma esmerada análise sobre tudo o que há de novo (ou mesmo aquilo que foi repetido) no Código de Processo Civil. Este segundo volume (o maior da coleção), de quase 1.500 páginas, reúne comentários detalhados sobre o livro I da Parte Especial da Lei n.º 13.105/2015 (Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença), correspondendo aos arts. 318 a 770 do novo diploma. Há ainda dois outros livros da coleção, o primeiro relativo à parte geral do CPC (Teoria geral do processo : comentários ao CPC/2015); e o outro (Execução e recursos: comentários ao CPC/2015) relativo ao Processo de Execução (livro II da Parte Especial), aos Processos nos Tribunais e aos Meios de Impugnação às Decisões Judiciais (livro III da Parte Especial). Os autores da obra, experimentados e reconhecidos professores de processo civil – além de terem participado ativamente da elaboração e da discussão do novo texto legal –, têm profícua atividade acadêmica, experiências e conhecimentos colhidos na realidade do dia a dia da prática forense, sob diferentes perspectivas, pois atuam em atividades profissionais diversificadas (advocacia pública, advocacia privada e magistratura). Apesar de revelarem preocupações distintas com relação ao processo, ainda assim exprimem nestes Comentários suas impressões de forma compartilhada, oferecendo uma abordagem crítica da obra, preservando a necessária neutralidade hermenêutica ao texto, fundamental para sua exata compreensão. Fernando da Fonseca Gajardoni é do interior paulista. Graduou-se na PUC-SP. Cursou Mestrado e Doutorado em Processo na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Em 2010, por concurso público, tornou-se Professor Doutor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da USP – Ribeirão Preto (FDRP-USP), onde leciona nos cursos de graduação, especialização e mestrado. Desde 1998, é magistrado no Estado de São Paulo. Tem intensa produção científica, com foco nos estudos sobre técnicas de aceleração do processo, legislação processual estadual e flexibilização do procedimento. Luiz Dellore também é paulista, da capital. Graduou-se na Faculdade de Direito da USP, onde também cursou Mestrado e Doutorado em Direito Processual Civil. Além disso, é Mestre em Direito Constitucional pela PUC-SP. É advogado concursado da Caixa Econômica Federal desde 2001 e atuou, de 2011 a 2013, como meu assessor no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. Seus estudos centram-se na disciplina constitucional do processo, especialmente na coisa julgada e nas ações de controle de constitucionalidade. Leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie, nos cursos de graduação e pós, no mestrado e doutorado da Fadisp, como também em outras instituições. Andre Vasconcelos Roque é do Rio de Janeiro. Graduou-se na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde cursou também o Mestrado e o Doutorado em Direito Processual Civil. Desde 2014, é professor adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seus principais estudos voltam-se ao processo coletivo e à arbitragem. É advogado militante. Zulmar Duarte de Oliveira Junior é catarinense. Especialista em direito processual civil, tem intensa atividade docente por todo o País. Foi Procurador-Geral do Município de Imbituba e Consultor Jurídico do Estado de Santa Catarina. Atualmente, é advogado e parecerista. Centra seus estudos e publicações, especialmente, na temática da oralidade e dos princípios processuais. Os autores dos presentes Comentários não optaram por uma obra com breves e superficiais notas. Estudaram minuciosamente os temas da Parte Especial do novo Código de Processo Civil, com profunda pesquisa científica sobre o que se construiu no regime do CPC/1973 e também a propósito do que decidiram os Tribunais Superiores na sua vigência. Resistiram, por sua vez, à tentação de comentar o Código como desejavam que ele fosse. O texto legal não é isento de críticas, sabe-se. Contudo, os presentes Comentários exprimem o que o Código é, e não o que os seus autores gostariam que tivesse sido aprovado, conforme suas convicções ou emendas legislativas não acolhidas. Neste segundo livro da série, que comenta o processo de conhecimento e o cumprimento de sentença, temas importantes do novo CPC são tratados: audiência de conciliação/mediação, provas, sentença, coisa julgada, dever de fundamentação, cumprimento de sentença (de quantia, fazer, não fazer e entrega) e procedimentos especiais. Estes Comentários certamente servirão de importante suporte e referência para os operadores jurídicos. Cumprimentos aos autores e à Editora Método (Grupo GEN) pelo belo projeto editorial e pela valorosa contribuição para a literatura jurídica brasileira. Antonio Carlos Ferreira Ministro do Superior Tribunal de Justiça • • • • Índice Sistemático do Código de Processo Civil Introdução Lei 13.105, de 16 de março de 2015 – Código de Processo Civil Bibliografia LEI 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015 PARTE ESPECIAL LIVRO I DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TÍTULO I DO PROCEDIMENTO COMUM Capítulo I – Das Disposições Gerais – art. 318 Capítulo II – Da Petição Inicial – arts. 319 a 331 Seção I – Dos Requisitos da Petição Inicial – arts. 319 a 321 Seção II – Do Pedido – arts. 322 a 329 Seção III – Do Indeferimento da Petição Inicial – arts. 330 e 331 Capítulo III – Da Improcedência Liminar do Pedido – art. 332 Capítulo IV – Da Conversão da Ação Individual em Ação Coletiva – art. 333 Capítulo V – Da Audiência de Conciliação ou de Mediação – art. 334 Capítulo VI – Da Contestação – arts. 335 a 342 Capítulo VII – Da Reconvenção – art. 343 Capítulo VIII – Da Revelia – arts. 344 a 346 Capítulo IX – Das Providências Preliminares e do Saneamento – arts. 347 a 353 Seção I – Da Não Incidência dos Efeitos da Revelia – arts. 348 e 349 Seção II – Do Fato Impeditivo, Modificativo ou Extintivo do Direito do Autor – art. 350 Seção III – Das Alegações do Réu – arts. 351 a 353 CapítuloX – Do Julgamento conforme o Estado do Processo – arts. 354 a 357 Seção I – Da Extinção do Processo – art. 354 Seção II – Do Julgamento Antecipado do Mérito – art. 355 Seção III – Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito – art. 356 Seção IV – Do Saneamento e da Organização do Processo – art. 357 Capítulo XI – Da Audiência de Instrução e Julgamento – art. 358 a 368 Capítulo XII – Das Provas – arts. 369 a 484 Seção I – Das Disposições Gerais – arts. 369 a 380 Seção II – Da Produção Antecipada da Prova – arts. 381 a 383 Seção III – Da Ata Notarial – art. 384 Seção IV – Do Depoimento Pessoal – arts. 385 a 388 Seção V – Da Confissão – arts. 389 a 395 Seção VI – Da Exibição de Documento ou Coisa – arts. 396 a 404 Seção VII – Da Prova Documental – arts. 405 a 438 Subseção I – Da força probante dos documentos – arts. 405 a 429 Subseção II – Da arguição de falsidade – arts. 430 a 433 Subseção III – Da produção da prova documental – arts. 434 a 438 Seção VIII – Dos Documentos Eletrônicos – arts. 439 a 441 Seção IX – Da Prova Testemunhal – arts. 442 a 463 Subseção I – Da admissibilidade e do valor da prova testemunhal – arts. 442 a 449 Subseção II – Da produção da prova testemunhal – arts. 450 a 463 Seção X – Da Prova Pericial – arts. 464 a 480 Seção XI – Da Inspeção Judicial – arts. 481 a 484 Capítulo XIII – Da Sentença e da Coisa Julgada – arts. 485 a 508 Seção I – Das Disposições Gerais – arts. 485 a 488 Seção II – Dos Elementos e dos Efeitos da Sentença – arts. 489 a 495 Seção III – Da Remessa Necessária – art. 496 Seção IV – Do Julgamento das Ações Relativas às Prestações de Fazer, de Não Fazer e de Entregar Coisa – arts. 497 a 501 Seção V – Da Coisa Julgada – arts. 502 a 508 Capítulo XIV – Da Liquidação de Sentença – arts. 509 a 512 TÍTULO II DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA Capítulo I – Disposições Gerais – arts. 513 a 519 Capítulo II – Do Cumprimento Provisório da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa – arts. 520 a 522 Capítulo III – Do Cumprimento Definitivo da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa – arts. 523 a 527 Capítulo IV – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de Prestar Alimentos – arts. 528 a 533 Capítulo V – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa pela Fazenda Pública – arts. 534 e 535 Capítulo VI – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de Fazer, de Não Fazer ou de Entregar Coisa – arts. 536 a 538 Seção I – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de Fazer ou de Não Fazer – arts. 536 e 537 Seção II – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de Entregar Coisa – art. 538 TÍTULO III DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS Capítulo I – Da Ação de Consignação em Pagamento – arts. 539 a 549 Capítulo II – Da Ação de Exigir Contas – arts. 550 a 553 Capítulo III – Das Ações Possessórias – arts. 554 a 568 Seção I – Das Disposições Gerais – arts. 554 a 559 Seção II – Da Manutenção e da Reintegração de Posse – arts. 560 a 566 Seção III – Do Interdito Proibitório – arts. 567 e 568 Capítulo IV – Da Ação de Divisão e da Demarcação de Terras Particulares – arts. 569 a 598 Seção I – Disposições Gerais – arts. 569 a 573 Seção II – Da Demarcação – arts. 574 a 587 Seção III – Da Divisão – arts. 588 a 598 Capítulo V – Da Ação de Dissolução Parcial de Sociedade – arts. 599 a 609 Capítulo VI – Do Inventário e da Partilha – arts. 610 a 673 Seção I – Disposições Gerais – arts. 610 a 614 Seção II – Da Legitimidade para Requerer o Inventário – arts. 615 e 616 Seção III – Do Inventariante e das Primeiras Declarações – arts. 617 a 625 Seção IV – Das Citações e das Impugnações – arts. 626 a 629 Seção V – Da Avaliação e do Cálculo do Imposto – arts. 630 a 638 Seção VI – Das Colações – arts. 639 a 641 Seção VII – Do Pagamento das Dívidas – arts. 642 a 646 Seção VIII – Da Partilha – arts. 647 a 658 Seção IX – Do Arrolamento – arts. 659 a 667 Seção X – Disposições Comuns a Todas as Seções – arts. 668 a 673 Capítulo VII – Dos Embargos de Terceiro – arts. 674 a 681 Capítulo VIII – Da Oposição – arts. 682 a 686 Capítulo IX – Da Habilitação – arts. 687 a 692 Capítulo X – Das Ações de Família – arts. 693 a 699 Capítulo XI – Da Ação Monitória – arts. 700 a 702 Capítulo XII – Da Homologação do Penhor Legal – arts. 703 a 706 Capítulo XIII – Da Regulação de Avaria Grossa – arts. 707 a 711 Capítulo XIV – Da Restauração de Autos – arts. 712 a 718 Capítulo XV – Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária – arts. 719 a 770 Seção I – Disposições Gerais – arts. 719 a 725 Seção II – Da Notificação e da Interpelação – arts. 726 a 729 Seção III – Da Alienação Judicial – art. 730 Seção IV – Do Divórcio e da Separação Consensuais, da Extinção Consensual de União Estável e da Alteração do Regime de Bens do Matrimônio – arts. 731 a 734 Seção V – Dos Testamentos e Codicilos – arts. 735 a 737 Seção VI – Da Herança Jacente – arts. 738 a 743 Seção VII – Dos Bens dos Ausentes – arts. 744 e 745 Seção VIII – Das Coisas Vagas – art. 746 Seção IX – Da Interdição – arts. 747 a 758 Seção X – Disposições Comuns à Tutela e à Curatela – arts. 759 a 763 Seção XI – Da Organização e da Fiscalização das Fundações – arts. 764 e 765 Seção XII – Da Ratificação dos Protestos Marítimos e dos Processos Testemunháveis Formados a Bordo – arts. 766 a 770 Existe uma velha fábula sobre um grande professor de piano que, não obstante seus méritos musicais, era destituído de posses, pois direcionava seu ensino às pessoas de poucos recursos, quando não despojadas destes. Esse professor ministrava suas aulas utilizando um velho piano, em que algumas teclas não mais funcionavam, pelo que o professor habilidosamente ignorava-as com os seus toques rápidos e certeiros. Ainda assim, o virtuoso professor, nas suas interpretações musicais, extraía do piano os sons necessários à execução musical. Passados vários anos de ensino, formados diversos alunos no maltratado instrumento, um deles presenteou o professor com um novo piano. Ainda que este funcionasse perfeitamente, o professor continuava a tocar majestosamente suas peças ignorando as teclas do novo piano, correspondentes àquelas que não funcionavam no velho piano. Conquanto as interpretações musicais do grande professor continuassem notáveis, elas ficavam sempre aquém das potencialidades do novo piano, da execução musical completa que utilizasse todos os recursos sonoros disponíveis no referido instrumento. A lição por trás do conto é que o novo instrumento não produz resultados renovadores se não acompanhado de uma nova visão, de uma nova postura ou, melhor dizendo, de uma nova prática. Nosso compromisso com estes Comentários foi interpretar o Código de Processo Civil (Lei n.º 13.105/2015) potencializando suas novidades, sem desconsiderar o passado, não ficando a ele amarrados. Tocamos no que o Código traz de novidade para extrair sons antes não propagados pelo CPC de 1973. Assim, ao comentarmos o Código, pretendemos, sempre que possível, apresentar sua dimensão renovadora do atual estado da arte do processo civil, buscando, na sua interpretação, novos sons que permitam uma sinfonia processual mais virtuosa do que aquela produzida pelo CPC de 1973. Comentamos o Código aprovado como ele é, não como nós, ou outros, desejássemos que poderia ter sido. Cada Código, e esse não será diferente, traz consigo sua porção de sombra e luz, de acerto e erro, de novas ideias, renovadas ilusões e algumas decepções. Sem dúvida, a maior qualidade do Código, e isso não é pouca coisa, está no seu caráter democrático. Embora nas audiências públicas não se conhecesse o texto, mas algumas poucas diretrizes, o fato é que, durante o trâmite legislativo do projeto que lhe deu origem, notadamente na Casa do Povo (Câmara de Deputados), o Código restou debatido pela sociedade. Os defeitos do Código derivados desse amplo debate e da tentativa de compatibilizar, acolher e absorver aspulsões da sociedade chamam à reflexão futura de como compatibilizar o exame de questões técnicas com o exercício livre da democracia. De como permitir decisões qualificadas da maioria sobre determinados assuntos sem o risco de direcionar o debate. Perceba-se, muitas decisões previamente tomadas impedem ou direcionam decisões posteriores. O Código em si poderia ter nos dado uma melhor sinfonia. Deveria ter superado a realidade processual vigente, apresentando novas soluções a problemas já conhecidos. Poderia ter rompido com alguns paradigmas vivenciados, trazendo novos arranjos processuais. O modo verbal se posiciona no futuro pretérito (aquilo que poderia ter sido, mas não o foi), porque o Código, em parte significativa, não atendeu às expectativas, dando continuidade ao sistema processual do CPC de 1973. Os autores compartilharam de visão crítica ao projeto apresentado para discussão no Congresso Nacional e hoje transformado em Código. Durante cinco anos, discutimos o projeto, apresentamos propostas de alteração ao texto, participamos, na medida do possível, de sua tramitação, vivemos em plenitude as discussões sobre o Código. Os comentários ao Código surgem dessa visão partilhada entre os autores, de que se poderia fazer melhor, pelo que, no presente livro (e nos que se seguirão), ainda que sejam reconhecidos os méritos ao texto aprovado, serão analisadas criticamente as escolhas legislativas realizadas, apresentando, quando permitido, soluções aos problemas de sempre e os por devir. Ressalte-se, a empreitada não foi fácil. Embora o Código não tenha feito bom uso das inovações tecnológicas – poderia, mas não o fez –, podemos dizer que utilizamos estas como nossas aliadas, discutindo intensamente os comentários por diversos meios eletrônicos. Por muitas noites e madrugadas, em prejuízo do convívio familiar, o debate entre os autores foi de uma nota só: o novo CPC. E sob a perspectiva de como melhor interpretar os diversos dispositivos que trazem dificuldades na sua análise e de como harmonizar as previsões legais como um sistema. Os autores têm diferentes formações, atuam em frentes profissionais diversas, pelo que revelam preocupações distintas diante do processo. Ainda assim, os comentários, na medida do possível, exprimem perspectiva processual compartilhada. A ampliação de enfoques permitiu uma latitude maior dos horizontes dos comentários ao Código, pois a alteridade na sua confecção permite que o alter veja onde os olhos do outro não alcançaram, às vezes por cima do ombro. Tanto para imprimir nos comentários um tom renovador do sistema processual atual quanto para possibilitar sua confecção compartilhada do novo, iniciamos os comentários após sua aprovação pelo Congresso Nacional. Por conta disso, escolhemos a edição de três obras comentadas, cada qual abordando uma parte do Código (Parte Geral, Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença, Processo de Execução e Recursos), aproveitando-se ao máximo dos aportes teóricos trazidos a lume nos períodos de tramitação, vacatio legis e início de vigência do Código. Que tenha início uma nova sinfonia processual, com a participação dos leitores na construção de uma melodia que soe agradável (ou seja, efetiva, justa e segura) para os jurisdicionados. É o que desejamos, inclusive com as críticas e sugestões dos leitores para as próximas edições. LIVRO I DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TÍTULO I DO PROCEDIMENTO COMUM CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS CPC/2015 CPC/1973 Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Art. 271. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei especial. Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução. Art. 272. O procedimento comum é ordinário ou sumário. Parágrafo único. O procedimento especial e o procedimento sumário regem-se pelas disposições que lhes são próprias, aplicando-se-lhes, subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário. Comentários de Andre Vasconcelos Roque: 1. Procedimento comum. O CPC/2015 estabelece um único procedimento comum para o processo de conhecimento, ao contrário do CPC/1973, que previa dois procedimentos dessa espécie (ordinário e sumário). Reconheceu o legislador que, na prática, o procedimento sumário não conseguiu proporcionar tutela jurisdicional mais célere, sobretudo nos órgãos judiciais com pautas de audiência lotadas, em que o processo ficava paralisado, aguardando a realização da audiência de conciliação (art. 277, CPC/1973). 1.1. O procedimento comum do CPC/2015 encontra-se disciplinado nos arts. 319 a 512 e foi constituído pelo legislador visando a assegurar às partes as mais amplas garantias processuais, proporcionando cognição judicial plena no plano horizontal (abrangendo quaisquer matérias) e exauriente no plano vertical (com máxima profundidade), com vistas a debelar a situação de crise jurídica que ensejou o litígio, mediante o acertamento da relação jurídica de direito material controvertida. Sobre as espécies de cognição do juiz, tanto do plano horizontal quanto no vertical, WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. São Paulo: Saraiva, 2012. 1.2. Observa-se a evolução das técnicas processuais: no CPC/1973, estavam previstos dois procedimentos comuns mais rígidos, ao passo que no CPC/2015 há apenas um procedimento comum, mas significativamente mais flexível, como demonstram, entre outros exemplos, os dispositivos que contemplam, entre os poderes do juiz, a ampliação de prazos e a alteração da ordem de produção das provas (art. 139, VI), a cláusula geral de negócio jurídico processual (art. 190) e o calendário processual (art. 191), além das regras relativas ao saneamento em cooperação entre as partes (art. 357). 2. Direito intertemporal: supressão do procedimento sumário. Ėmbora suprimido o procedimento sumário (arts. 275 a 281, CPC/1973), suas disposições continuarão a ser aplicadas aos processos que tramitavam de acordo com tal procedimento e ainda não foram sentenciados na data de entrada em vigor do CPC/2015 (art. 1.046, § 1.º). Trata-se de regra especial que, afastando o sistema geral do isolamento dos atos processuais para fins de direito intertemporal, segundo o qual cada ato processual é regulado pela lei vigente ao tempo em que for praticado (arts. 14 e 1.046, caput), privilegia o sistema das fases processuais, em que a lei processual a ser aplicada será determinada de acordo com o estágio em que se encontrar o processo no momento em que entrar em vigor a nova lei. Considerou o legislador, nesse caso, que a aplicabilidade imediata das regras procedimentais do CPC/2015 aos processos que tramitavam pelo procedimento sumário e ainda não foram sentenciados traria consigo o risco de incompatibilidade das novas regras processuais com as que lhes antecederam, fator este que justifica a ultra- atividade da lei revogada (PIMENTEL, Wellington Moreira. Questões de direito intertemporal diante do Código de Processo Civil. Revista Forense, v. 251, p. 132, 1975). A ultra-atividade das regras relativas ao procedimento sumário, todavia, se encerra na sentença. Dessa fase processual em diante, entendeu-se não haver mais risco de incompatibilidade, até porque não haveria mais qualquer peculiaridade do procedimento sumário, aplicando-se a regra geral da incidência imediata das novas regras do CPC/2015 aos feitos pendentes. Além disso, a aplicação do CPC/1973 limita-se às regras procedimentais do procedimento sumário estritamente consideradas. Questões processuais verificadas a partir de 18 de março de 2016, como o regime de honorários advocatícios (art. 85 do CPC/2015) ou o cabimento do agravo de instrumento (art. 1.015 do CPC/2015), serão reguladas pelo Código vigente, ainda que o processo tenha se iniciado pelo procedimento sumário na vigência do CPC/1973. 2.1. Os Juizados Especiais Cíveis, de acordo com oart. 3.º, II, da Lei n.º 9.099/1995, são competentes para as causas enumeradas no art. 275, II, do CPC/1973, que relacionava as matérias que obrigatoriamente deveriam tramitar pelo procedimento sumário, independentemente do valor da causa. O CPC/2015 não pretendeu restringir a competência dos Juizados Especiais Cíveis, mas apenas suprimir o procedimento sumário. Por esse motivo, determina o art. 1.063 que, até a edição de lei específica, o art. 275, II, do CPC/1973 continuará a ser observado especificamente para fins de delimitação da competência dos Juizados Especiais Cíveis. Não se trata de ultra-atividade da lei revogada propriamente dita, mas de simples referência ao art. 275, II, do CPC/1973 para que não fosse necessário repetir todo o seu conteúdo na Lei n.º 9.099/1995. 2.2. Exceção, ainda para fins de competência dos Juizados Especiais Cíveis, está no art. 275, II, h, do CPC/1973, segundo o qual deverá ser observado o procedimento sumário nos demais casos previstos em lei. Além de a dupla remissão nunca ter sido admitida para os fins do art. 3.º, II, da Lei n.º 9.099/1995 – da lei especial que contemplasse a utilização do procedimento sumário para o CPC/1973 e deste para as hipóteses de competência da Lei n.º 9.099/1995 (por exemplo, NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 2.246) –, o art. 1.049, parágrafo único, do CPC/2015 prevê que as remissões da legislação especial ao procedimento sumário devem ser compreendidas como se fossem ao procedimento comum, a partir da entrada em vigor do CPC/2015. Assim, as matérias que obrigatoriamente deveriam tramitar pelo procedimento sumário por disposição da lei especial (v. relação de exemplos no item 3, infra) passarão a observar o procedimento comum. Mesmo que tais processos continuem a observar as disposições do procedimento sumário se, tramitando na justiça comum, ainda não foram sentenciados na data de entrada em vigor do CPC/2015 (art. 1.046, § 1.º), não se compreendem tais matérias na competência dos Juizados Especiais Civis. 3. Aplicação subsidiária. As regras do procedimento comum, que apresentam maior nível de detalhamento e profundidade, aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especiais, tanto os regulados no CPC/2015 quanto na legislação extravagante. Para que tal incidência subsidiária ocorra, devem concorrer dois requisitos: (i) ausência de regra especial, na medida em que esta prevalece sobre a regra geral; (ii) compatibilidade da regra geral do procedimento comum com o procedimento especial. Procedimentos especiais, como decorrência dos princípios da adequação e da efetividade da tutela jurisdicional (art. 5.º, XXXV, CF/1988), são construídos pelo legislador processual visando a atender às especificidades do direito material (adequação objetiva), seja por sua importância ou função social (exemplos: ação de alimentos, ações possessórias), pela forma como se apresentam no processo (exemplos: direito líquido e certo no mandado de segurança; prova escrita sem eficácia de título executivo na ação monitória) ou, finalmente, pela situação da urgência (exemplo: procedimento da tutela antecipada requerida em caráter antecedente – arts. 303 e 304). Nesse sentido, v. LACERDA, Galeno. O Código como sistema legal de adequação ao processo. Revista do Instituto dos Advogados do Rio Grandes do Sul – comemorativa do cinquecentenário, Porto Alegre, p. 164-167, 1976; DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador: Juspodivm, 2015. v. 1, p. 115-117). No CPC/2015, os procedimentos especiais encontram-se no Título III do Livro I da Parte Especial (arts. 539 a 770). Para uma análise mais aprofundada sobre a evolução dos procedimentos no CPC/2015, v. comentários ao Título III (Dos Procedimentos Especiais), neste mesmo volume. 3.1. Caso a legislação especial não especifique o procedimento a ser observado, deverá ser considerado o procedimento comum, não apenas em virtude da aplicação subsidiária de suas regras, mas também pela previsão específica do art. 1.049, caput, do CPC/2015. Da mesma forma, se a lei remeter ao procedimento sumário, será aplicada a disciplina do procedimento comum (art. 1.049, parágrafo único), ressalvada a hipótese em que o processo ainda não tenha sido sentenciado até a entrada em vigor do CPC/2015 (art. 1.046, § 1.º e nota 2, supra). Esse é o caso das ações sobre acidentes de trabalho – art. 129, II, da Lei n.º 8.213/1991; da adjudicação compulsória – art. 16 do Decreto-lei n.º 58/1937; da ação discriminatória de terras devolutas da União – art. 20 da Lei n.º 6.383/1976; da ação entre representante comercial e representado – art. 39 da Lei n.º 4.886/1965 e da ação revisional de aluguel – art. 68 da Lei n.º 8.245/1991. 3.2. As regras do procedimento comum também se aplicam subsidiariamente ao processo de a) execução, observados os dois requisitos básicos: ausência de regra especial e compatibilidade da regra do procedimento comum com o processo de execução. Assim, por exemplo, os requisitos da petição inicial no processo de execução devem observar, no que couber, o disposto no art. 319, que disciplina a petição inicial no procedimento comum, sem prejuízo das regras especiais do art. 798. JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA: Enunciado 86 da I Jornada de Direito Processual Civil do Conselho da Justiça Federal: “As prestações vincendas até o efetivo cumprimento da obrigação incluem-se na execução de título executivo extrajudicial (arts. 323 e 318, parágrafo único, do CPC)”. CAPÍTULO II DA PETIÇÃO INICIAL Seção I Dos Requisitos da Petição Inicial CPC/2015 CPC/1973 Art. 319. A petição inicial indicará: I – o juízo a que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido com as suas especificações; V – o valor da causa; VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. § 1.º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. § 2.º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3.º A petição inicial não será indeferida, pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. Art. 282. A petição inicial indicará: I – o juiz ou tribunal, a que é dirigida; II – os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido, com as suas especificações; V – o valor da causa; VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados. Comentários de Andre Vasconcelos Roque: 1. Petição inicial: aspectos gerais. A petição inicial consiste em ato postulatório que instrumentaliza a demanda, ou seja, que formaliza o pedido do autor – ou exequente, no processo de execução – para que lhe seja prestada jurisdição. É a petição inicial que deflagra o desenvolvimento da relação jurídica processual, retirando o Estado-juiz da inércia (art. 2.º), e delimita o objeto da jurisdição, especificando os elementos essenciais da demanda (partes, causa de pedir e pedido). É com base na petição inicial e dentro de seus limites objetivos e subjetivos, portanto, que o Estado prestará jurisdição, assim como o réu irá se defender, no exercício do contraditório. 1.1. A petição inicial deve ser escrita, ressalvada eventual regra especial em sentido contrário, como o art. 14, caput e § 3.º da Lei n.º 9.099/1995, que autoriza a apresentação oral da demanda nos Juizados Especiais Cíveis,com posterior redução a escrito de seus termos. Deve, ainda, ser redigida na língua portuguesa (art. 192). 1.2. Consiste a petição em ato postulatório, de sorte que deve ser apresentada por advogado, Defensor Público, membro do Ministério Público ou qualquer outro agente com capacidade postulatória, observadas as exceções legais, que admitem a postulação pela própria parte, como no habeas corpus (art. 1.º, § 1.º, Lei n.º 8.906/1994), nas causas no Juizado Especial Cível até vinte salários mínimos (art. 9.º, Lei n.º 9.099/1995) e nos Juizados Especial Federal e da Fazenda Pública (art. 1.º, Lei n.º 10.259/2001 e art. 1.º, parágrafo único, Lei n.º 12.153/2009), assim como na ação de alimentos (art. 2.º, Lei n.º 5.478/1968). V., sobre o ponto, comentários ao art. 103. 2. Requisitos da petição inicial. Como ocorre com os atos processuais em geral, atravessado o plano da existência, deve ser analisada a validade desse ato postulatório, verificando-se se estão devidamente preenchidos os requisitos legais, cuja ausência pode conduzir, em última medida, ao indeferimento da petição inicial (art. 321, parágrafo único). Consiste a petição inicial regular, enfim, em um dos pressupostos de validade para o desenvolvimento do processo. 2.1 O dispositivo em tela relaciona as informações que devem constar da petição inicial. Para que tal ato postulatório seja deferido pelo juiz, isto é, admitido por preencher os requisitos de validade, deve atender às exigências dos arts. 319 e 320. Somente a lei pode estabelecer requisitos para a petição inicial, não se admitindo que atos infralegais, como portarias, resoluções ou regimentos internos de tribunais criem novas exigências formais (por exemplo, distância mínima da margem, tamanho da fonte utilizada, apresentação de cópia do CPF ou CNPJ da parte ou de comprovante de residência), por violarem a reserva legal, incorrendo em inconstitucionalidade. V. NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 885. 3. Indicação do juízo. O primeiro dos requisitos (inciso I) é a indicação do juízo a que se dirige a petição inicial, o qual deve ser competente para conhecer da demanda. A redação do CPC/2015 é mais apurada que a do CPC/1973, na medida em que a petição inicial não se endereça propriamente à pessoa física do juiz, mas sim, objetivamente, ao órgão jurisdicional. De toda sorte, eventual endereçamento a juízo incompetente não é causa de indeferimento da petição inicial, mas de remessa dos autos ao juízo competente (art. 64, § 3.º), com exceção dos Juizados Especiais, nos quais a incompetência territorial efetivamente acarreta a extinção do processo, sem resolução de mérito (art. 51, III, Lei n.º 9.099/1995). Para fins de atendimento ao dispositivo em análise, portanto, basta que haja a indicação do juízo para o qual a petição inicial se dirige. 4. Identificação das partes. O autor deve identificar suficientemente as partes da demanda, fornecendo os dados indicados no inciso II. Parte, no processo, é quem pede ou contra quem se pede determinada tutela jurisdicional. Os nomes e prenomes são, naturalmente, o principal dado de identificação das partes. No caso de pessoas jurídicas, deve ser fornecida sua denominação completa. O estado civil pode ser importante para determinar a necessidade de eventual participação ou anuência do cônjuge ou do companheiro no processo (art. 73, § 3.º). A profissão pode repercutir nas regras sobre citação (art. 243, parágrafo único, sobre a citação do militar), nos casos de escusa do depoimento pessoal (art. 388, II) ou das hipóteses de impenhorabilidade de bens do executado (art. 833, V). Finalmente, o domicílio e a residência das partes servirão não apenas, em alguns casos, para a determinação do juízo competente, mas também para informar o endereço em que deverá ser citado o réu e intimadas as partes. Não se exige, porém, a apresentação de comprovante de residência, ainda que possa excepcionalmente o juiz determinar a sua juntada se tiver fundada suspeita da veracidade dos dados fornecidos. 4.1. O CPC/2015 aprimora a qualificação das partes, em comparação com o CPC/1973, exigindo três informações adicionais na petição inicial. A primeira delas é a existência de união estável das partes, a qual deve ser identificada na petição inicial, se de conhecimento do autor. A razão para tal requisito é que, na ordem jurídica brasileira contemporânea, a união estável é tutelada como entidade familiar (art. 226, § 3.º, CFRB/1988 e art. 1.723, caput, do Código Civil) com muitos efeitos similares aos do casamento, consistindo em circunstância relevante para se exigir a participação ou anuência do companheiro nas ações reais imobiliárias (art. 73, § 3.º) e podendo impactar no próprio direito material, como no caso de partilha de bens em inventário. A segunda diz respeito ao número de inscrição no CPF ou no CNPJ (exigência esta que já constava do art. 15 da Lei n.º 11.419/2006), informação útil não apenas para evitar eventual confusão com homônimos, mas para facilitar a utilização de ferramentas como a penhora on- line e a busca por endereços das partes ou por bens de seu patrimônio, que são muito mais eficientes com tais dados. Observe-se que o dispositivo apenas exige a indicação desse número de inscrição, não impondo a apresentação de cópia desses documentos. Deve ser fornecido na petição inicial, ainda, o endereço eletrônico do autor e, se possível, do réu. Embora o CPC/2015 não admita a citação ou a intimação por correio eletrônico, por não haver segurança suficiente para aferir o seu recebimento pelo destinatário, a previsão em tela é louvável, a fim de que se estabeleça mais uma forma de comunicação pessoal às partes, a qual deverá ser utilizada em conjunto com as modalidades de intimação estabelecidas na legislação processual (arts. 269 a 275). 4.2. Não é necessário, todavia, que o autor tenha conhecimento de rigorosamente todos esses dados em relação ao réu. Em primeiro lugar, pode o demandante sequer ter correio eletrônico, realidade que ainda não se pode desprezar no Brasil contemporâneo. Nesse caso, bastará ao advogado informar tal circunstância na petição inicial para que esta seja deferida. Além disso, sob a perspectiva do endereço eletrônico do réu, imagine-se, por exemplo, uma ação proposta em face de um vizinho para que cessem os barulhos em horário noturno, não tendo o autor conhecimento do número de inscrição do réu no CPF. Se, com os dados que possuir, for possível individualizar o demandado e realizar sua citação, a petição inicial será deferida sem qualquer exigência adicional (art. 319, § 2.º). Caso, por outro lado, as informações de que disponha sejam insuficientes para tal identificação, poderá o autor, na petição inicial, requerer a realização das diligências necessárias à sua obtenção, como consultas de cadastros em órgãos públicos ou concessionárias de serviços públicos (art. 319, § 1.º), as quais não devem ser indeferidas pelo órgão jurisdicional sem fundamento razoável, sob pena de desprezo à colaboração no processo civil (art. 6.º). Finalmente, se tais diligências forem infrutíferas ou inúteis, sendo impossível a identificação do réu ou somente sendo esta viável mediante providências excessivamente onerosas ao autor, não deverá ser indeferida a petição inicial (art. 319, § 3.º), realizando-se, nesta hipótese, a citação por edital, nos termos do art. 256, I. Exemplo específico dessa última situação contemplado no próprio CPC/2015 diz respeito à ação possessória ajuizada contra grande número de pessoas, em que se prevê a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais (art. 554, § 1.º). Em síntese, a exigência de identificação do réu não pode comprometer o acesso à justiça (art. 5.º, XXXV, CRFB/1988), criando obstáculo intransponível. 4.3. De acordo com o Enunciado 424 do FPPC: “Os parágrafos do art. 319 devem ser aplicados imediatamente, inclusive para as petições iniciais apresentadas na vigência do CPC/1973”. Talorientação é correta, por privilegiar a instrumentalidade das formas (art. 277) e o acesso à justiça, mesmo para as petições iniciais apresentadas antes da entrada em vigor do CPC/2015. 5. Fatos e fundamentos jurídicos do pedido: causa de pedir. Teorias da substanciação e individuação. Limites ao iura novit curia. O autor deve, também, indicar na petição inicial os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido (inciso III), ou seja, a causa de pedir de sua demanda, que dizem respeito aos motivos pelos quais pleiteia que lhe seja prestada a tutela jurisdicional. 5.1 De acordo com consistente doutrina, tal dispositivo, que preservou a mesma redação do CPC/1973, positivaria a chamada teoria da substanciação, segundo a qual, para a identificação da demanda, devem ser descritos na petição inicial os fundamentos jurídicos invocados e, principalmente, o contexto fático (entre outros, MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 1990. v. 1, p. 173; ASSIS, Araken de. Cumulação de ações. São Paulo: RT, 2002. p. 138; MACHADO, Marcelo Pacheco. A correlação no processo civil. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 58). Em sentido oposto encontra-se a teoria da individuação, que exige somente a especificação do direito substancial, tendo a causa de pedir a função de identificar a relação jurídica controvertida. 5.2. A causa de pedir se divide, portanto, como é da tradição no processo civil brasileiro, em remota (fatos essenciais) e próxima (fundamentos jurídicos). 5.3. Compõem a causa de pedir remota apenas os fatos essenciais, sobre os quais se funda o pedido. A causa de pedir remota se subdivide em ativa ou passiva. Causa de pedir ativa diz respeito aos fatos jurígenos (constitutivos) alegados pelo autor (por exemplo, um acidente de trânsito causado pelo réu), ao passo que a causa de pedir passiva remete ao ato atribuído ao réu que consiste em resistência ou na não satisfação da pretensão do autor (por exemplo, recusa em indenizar os danos causados). No caso de jurisdição voluntária, a causa de pedir passiva se resume à necessidade da prestação jurisdicional para a tutela pretendida. Fatos secundários ou instrumentais, que apenas servem para corroborar que os fatos essenciais ocorreram (por exemplo, o horário em que ocorreu o acidente de trânsito), não integram a causa de pedir e, por isso mesmo, podem ser trazidos ao processo em momento posterior, sem que se verifique indevida modificação da demanda (art. 329). Dos fatos essenciais se extrai a consequência jurídica pretendida, ao passo que dos fatos secundários se infere a ocorrência dos fatos essenciais. 5.4. O fundamento jurídico que compõe a causa de pedir próxima refere-se ao nexo entre os fatos essenciais e o efeito jurídico (pedido) postulado pelo autor na petição inicial (no exemplo indicado, a responsabilidade civil do réu pelo acidente de trânsito). Outros exemplos de fundamentos jurídicos são os vícios do consentimento ou o direito à renovação do contrato de locação não residencial. Não se exige do autor a indicação da regra de direito positivo aplicável, mas apenas a especificação da relação jurídica de direito material controvertida. Não compõem a causa de pedir, dessa forma, nem a capitulação legal dos fatos descritos nem o nome que o autor dá à ação na petição inicial (nomen iuris), a qual pode ser denominada incorretamente sem maior consequência. 5.5. Controvertida na doutrina a abrangência dos adágios da mihi factum, dabo tibi jus e iura novit curia, segundo os quais o juiz conhece o direito, devendo aplicá-lo de ofício aos fatos alegados pelas partes. Há quem sustente que o juiz somente se vincula aos fatos essenciais veiculados na petição inicial, podendo alterar o enquadramento normativo proposto, desde que observe o dever de consulta consagrado no art. 10 do CPC/2015, instando as partes a se manifestaram sobre o ponto e evitando a chamada decisão-surpresa ou de terceira via (Enunciado 282 do FPPC). V. BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Comentários ao art. 319. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 817; e, anteriormente ao CPC/2015, BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Os elementos objetivos da demanda à luz do contraditório. In: CRUZ E TUCCI, José Rogério; BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coord.). Causa de pedir e pedido no processo civil. São Paulo: RT, 2002. p. 32. Esse não parece o melhor entendimento, todavia. O juiz não pode surpreender as partes com uma nova qualificação jurídica sequer suscitada e o autor tem o direito de delimitar, subjetiva e objetivamente, os limites em que será exercida a jurisdição, não devendo o Estado-juiz interferir na esfera de liberdade dos litigantes sem a sua provocação (art. 2.º). O iura novit curia deve, assim, ser limitado à correção do nomen iuris ou dos dispositivos legais apontados pelo autor ou, no máximo, à correção do erro de enquadramento dos fatos em determinada figura jurídica (por exemplo, anulação em vez de declaração de nulidade), não sendo possível a alteração do fundamento jurídico suscitado. Nesse sentido, GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. I, p. 191-192; e JARDIM, Augusto Tanger. A causa de pedir no direito processual civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 121. Também nesse sentido, tendo sido modificada a sua redação para contemplar tal orientação, Enunciado 281 do FPPC: “A indicação do dispositivo legal não é requisito da petição inicial e, uma vez existente, não vincula o órgão julgador”. 5.5. A causa de pedir próxima, conforme a espécie de relação jurídica de direito material deduzida, pode ser classificada em pessoal e real. Tal classificação é relevante, por exemplo, para determinar em que situações a pessoa casada ou em união estável necessitará do consentimento do cônjuge ou companheiro para demandar, como ocorre nas ações reais imobiliárias (art. 73), ou ainda para definir as regras de competência aplicáveis, que podem variar, conforme se trate de ação real ou pessoal (arts. 46 e 47). 5.6. Ainda sobre a causa de pedir, distinguem-se as demandas em autodeterminadas e heterodeterminadas. As primeiras são aquelas que, por apenas poderem se configurar uma única vez com o mesmo conteúdo e entre as mesmas partes, podem ser identificadas simplesmente pela especificação da relação jurídica, independentemente do fato gerador. São exemplos de demandas autodeterminadas as relativas a direitos da personalidade e a direitos reais. Heterodeterminadas, por sua vez, são as demandas que podem se configurar com o mesmo conteúdo e entre as mesmas partes por mais de uma vez, como ocorre nas relações obrigacionais – nada impede, por exemplo, que duas dívidas com o mesmo valor e derivadas de diferentes contratos sejam ajustadas entre os mesmos sujeitos em épocas distintas. Para essas demandas, é ainda mais importante a identificação do fato gerador, de sorte que a alteração desses fatos implica modificação da própria causa de pedir. 5.7. No direito brasileiro, não há distinção, para fins de requisitos da petição inicial, entre demandas autodeterminadas e heterodeterminadas. Em ambos os casos, deverá o autor indicar na petição inicial, invariavelmente, os fatos e os fundamentos jurídicos. Ainda assim, naturalmente, haverá maior rigor quanto à exigência de especificação dos fatos essenciais nas demandas heterodeterminadas. A distinção é relevante, ainda, para aferir se a introdução de novos fatos acarreta modificação da causa de pedir, a qual deve observar os limites estabelecidos pela legislação processual (art. 329). 5.8. De toda sorte, a verificação de quais fatos compõem a causa de pedir e se há ou não modificação da demanda pela introdução de novos fatos no processo é assunto complexo e que acaba sendo necessariamente casuístico, na medida em que, na interpretação da petição inicial, deve-se ater mais à intenção das partes do que ao sentido literal da linguagem (art. 322, § 2.º, do CPC/2015 e art. 112, Código Civil). Assim, por exemplo,em ação ajuizada pela esposa contra o marido sob o fundamento de agressão, pouco importaria, a princípio, determinar em que data ocorreu tal fato. Trata-se de circunstância secundária, acidental, que não integra a causa de pedir. No entanto, se a esposa alega que sofreu a agressão na data de seu aniversário e que, por isso, a agressão foi especialmente grave, introduziu-se maior substanciação na causa de pedir, de sorte que a descoberta de que tal agressão ocorreu sim, mas em outra data, poderá ter consequências relevantes, podendo eventualmente ser compreendida como uma nova causa de pedir (v. GRECO, Leonardo. İnstituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. I, p. 194). 6. Fundamentação analítica. Assim como foi consagrado, no CPC/2015, o dever de fundamentação analítica para o juiz (art. 489, § 1.º), também a parte, como resultado dos deveres de boa-fé e cooperação (arts. 5.º e 6.º), está obrigada a fundamentar adequadamente a sua petição inicial, não podendo se limitar a alegar genericamente o seu pretenso direito. Assim, refletindo-se sob a perspectiva da parte o dever de fundamentação analítica, não pode o autor (i) simplesmente indicar, reproduzir ou parafrasear ato normativo sem explicar sua relação com a causa; (ii) invocar termos vagos (conceitos jurídicos indeterminados ou cláusulas gerais) sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; (iii) invocar precedente ou enunciado de súmula sem demonstrar que seus fundamentos determinantes se ajustam ao caso veiculado na petição inicial; (iv) invocar princípios sem justificar adequadamente por qual razão incidem no caso. Sobre o ponto, v. MARINONI, Luiz Guilherme et al. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT, 2015. p. 339; MACHADO, Marcelo Pacheco. Novo CPC: precedentes e contraditório. Jota, 23 nov. 2015. Disponível em: <http://jota.info/novo-cpc-precedentes-e-contraditorio>. 7. Pedido. O autor deve ainda indicar na petição inicial o pedido, que diz respeito à prestação jurisdicional postulada. A jurisdição deve observar o princípio da inércia ou da demanda (art. 2.º), de sorte que apenas será prestada mediante provocação da parte e nos limites do pedido na petição inicial. Não se admite, fora situações absolutamente excepcionais, de extraordinário interesse público (arts. 712, 730 e 738 do CPC/2015 e art. 878 da CLT), a jurisdição de ofício, não apenas porque tal providência implicaria excessiva intervenção do Estado sobre a esfera de liberdade dos jurisdicionados – que podem preferir não submeter a controvérsia ao Poder Judiciário, lançando mão, por exemplo, de outros meios de solução de conflitos, como a negociação, a mediação ou a arbitragem –, mas também porque colocaria em risco a imparcialidade do juiz. 7.1. O princípio da demanda é tão importante e prestigiado que, mesmo na maioria das situações que envolvem interesse público, o ordenamento jurídico prefere confiar a iniciativa da jurisdição a outros entes, como o Ministério Público ou os órgãos estatais, em vez de simplesmente permitir que o desenvolvimento do processo ocorra de ofício, independentemente de provocação, colocando em risco a garantia da imparcialidade. É o caso, exemplificativamente, das ações coletivas (art. 5.º da Lei n.º 7.347/1985 e art. 82 do Código de Defesa do Consumidor), da ação de improbidade administrativa (art. 17 da Lei n.º 8.429/1992) e das ações de controle concentrado de inconstitucionalidade (art. 103, CRFB/1988; arts. 2.º, 12-A e 13 da Lei n.º 9.868/1999 e art. 2.º da Lei n.º 9.882/1999). 7.2. Como decorrência do princípio da demanda, o pedido bitola a atividade jurisdicional, que não deve ser exercida além de seus limites. Trata-se da necessária congruência entre o pedido e a sentença (art. 141), vedando-se, nos termos do art. 492, a decisão ultra petita (além do que foi pedido) ou extra petita (que concede algo de natureza diversa do pedido). Apesar disso, em determinadas situações, expressamente reguladas em lei, o órgão jurisdicional pode conceder tutela diversa da pedida, de maneira a assegurar a efetividade da prestação jurisdicional (por exemplo, arts. 497, 536 e 537, que se referem à tutela específica ou à obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente ou, ainda, a conversão superveniente em perdas e danos, na forma do art. 499). Além disso, há pedidos que serão examinados pelo juiz mesmo não constando da petição inicial (pedidos implícitos), como os juros legais, a correção monetária e as verbas sucumbenciais (art. 322, § 1.º), assim como a condenação do réu no pagamento das prestações vincendas (art. 323). 7.3. Divide-se o pedido em imediato (espécie de providência jurisdicional postulada pelo autor) e mediato (bem da vida pleiteado pelo demandante em juízo). 7.4. O pedido imediato classifica-se, de acordo com doutrina tradicional (teoria ternária), em declaratório, constitutivo e condenatório (por exemplo, THEODORO JR., Humberto. Ċurso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. I, p. 169/170; GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. I, p. 187). Tem ganhado adeptos na doutrina, todavia, a teoria quinária, segundo a qual o pedido pode ser classificado nas três espécies anteriormente indicadas e, ainda, em mais http://jota.info/novo-cpc-precedentes-e-contraditorio duas categorias: executivo lato sensu e mandamental (por exemplo, PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado das ações. Campinas: Bookseller, 1998. t. 1, p. 66), que estariam compreendidas na espécie condenatória, de acordo com a teoria anterior. Não é esta a oportunidade para a discussão de qual das teorias é a mais adequada. Importante, no entanto, definir os conceitos de cada uma das espécies de pedidos imediatos. Declaratório (ou meramente declaratório, já que todas as categorias contemplam alguma carga de eficácia declaratória, própria do processo de conhecimento) é o pedido que se limita a resolver situação de incerteza a respeito da existência, inexistência ou modo de ser de alguma relação jurídica ou da autenticidade ou falsidade de documento (art. 19). Constitutivo é o pedido que, relacionado aos direitos potestativos, busca criar, modificar ou extinguir determinada relação jurídica, como ocorre no divórcio, por exemplo, em que se pretende por fim ao vínculo matrimonial. Condenatório, por sua vez, é o pedido que, relacionado aos direitos a uma prestação, busca impor ao réu alguma conduta e cujo cumprimento forçado ensejará a deflagração da fase denominada cumprimento de sentença (art. 513 e ss.), como acontece com relação às indenizações por danos materiais e morais. Executivo lato sensu (compreendido na categoria condenatória, de acordo com a teoria ternária) é o pedido que busca estabelecer alguma obrigação ao réu, a qual poderá ser cumprida de forma forçada por meios sub-rogatórios (que independem da colaboração do demandado, como a busca e apreensão, frequentemente utilizada para efetivar o dever de entregar coisa), sem maior formalidade, na forma dos arts. 536 a 538 ou da legislação especial. Exemplos clássicos de pedido executivo lato sensu são o despejo forçado, o qual se cumpre mediante simples mandado expedido após o encerramento do prazo para desocupação voluntária pelo locatário (art. 65 da Lei n.º 8.245/1991), e a busca e apreensão de veículo, providência frequente nos casos de alienação fiduciária (art. 3.º, Decreto-lei n.º 911/1969). Finalmente, mandamental (também incluído na categoria condenatória, pela teoria ternária) é o pedido que busca impor prestação ao réu, a qual poderá ser cumprida de forma forçada por meios coercitivos (que pressupõem certa dose de colaboração do demandado, ainda que sob ameaça de sanção em caso de recalcitrância, como a cominação de multa periódica), como se passa, por exemplo, na hipótese de construção de um muro, sob pena de multa diária em caso de descumprimento. 7.5. O pedido mediato, por sua vez, classifica-se em imobiliário ou mobiliário, de acordo com a espécie de bem jurídico sobre o qual recairáa atividade jurisdicional. Bens imóveis ou móveis são os definidos nos arts. 79 a 84 do Código Civil. Bens semoventes, ou seja, suscetíveis de movimento próprio (art. 82 do Código Civil) são considerados móveis pelo ordenamento jurídico. A importância em distinguir as espécies de pedido mediato diz respeito, por exemplo, à determinação do juízo competente (arts. 46 e 47), que poderá variar conforme o pedido se refira a um bem móvel ou imóvel. 7.6. O autor deverá formular pedido adequado à tutela do direito solicitada, não podendo pedir aleatoriamente qualquer espécie de providência jurisdicional. Como decorrência do princípio da proporcionalidade (art. 8.º), concretizado no processo de execução no princípio da menor onerosidade para o executado (art. 805), mas igualmente aplicável ao processo de conhecimento, deve a providência postulada causar a menor restrição possível à esfera jurídica do réu. 7.7. Os pedidos não necessitam constar em tópico próprio da petição inicial (art. 322, § 2.º), embora assim recomende a boa técnica processual, mas devem estar delineados o suficiente para que se compreenda o que o autor pretende em juízo, de modo a delimitar o exercício da jurisdição e a amplitude do contraditório. 8. Valor da causa. A toda causa, nos termos do art. 291, deve ser atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível. Em razão disso, o autor deve indicá-lo na petição inicial, de acordo com os critérios estabelecidos no art. 292 do CPC. 9. Indicação das provas a serem produzidas. O autor deve, já na petição inicial, indicar os meios de prova que pretende produzir para demonstrar a veracidade de suas alegações. Como, neste momento, ainda não se sabe sequer se o réu contestará o pedido, a jurisprudência acabou por aceitar o protesto genérico “por todos os meios de prova admitidos em direito”, ante a impossibilidade de delimitar os pontos controvertidos antes da contestação. Na passagem da fase postulatória para a instrutória, por ocasião das providências preliminares (art. 347), poderá o juiz, se considerar necessário, determinar que as partes especifiquem as provas que pretendem produzir ou mesmo designar audiência para que o saneamento seja feito em audiência, em cooperação com as partes (art. 357, § 3.º). Apenas após tal providência, ou seja, a intimação das partes para que especifiquem as provas que pretendem produzir, uma vez delimitadas as questões controvertidas, é que se poderá cogitar de preclusão do direito à produção probatória. Ainda assim, poderá o juiz a qualquer tempo determinar a produção de novas provas, dentro de sua iniciativa probatória, se considerar necessária para a adequada resolução da controvérsia (art. 370). 9.1. A disciplina da prova documental é distinta, pois, nos termos do art. 434, tal prova, em regra, deve ser trazida pelo autor já com a petição inicial, dependendo a juntada de novos documentos da verificação das circunstâncias previstas no art. 435. Ainda assim, é relativamente comum – embora dispensável – o protesto genérico pela produção de prova documental suplementar. 10. Opção pela realização de audiência de conciliação ou mediação. O CPC prevê, como uma das etapas do procedimento comum, a realização da audiência de conciliação ou mediação (art. 334). A audiência não será realizada, porém, se a causa não admitir autocomposição (direitos indisponíveis) ou se ambas as partes tiverem manifestado de forma expressa o desinteresse na composição consensual (art. 334, § 4.º). A ausência da indicação dessa opção, portanto, não acarretará o indeferimento da petição inicial, sendo compreendida apenas como manifestação de interesse do autor na realização da audiência. Por outro lado, caso o autor requeira a designação de tal audiência na petição inicial e verifique o juiz que a causa não admite autocomposição, deverá corrigir o procedimento e determinar desde logo a citação do réu para apresentar resposta, justificando a inutilidade da audiência. Não é o caso, portanto, de intimar o autor para emendar a petição inicial. 11. Dispensa do requerimento para a citação do réu. O CPC/2015 não reproduziu a exigência do CPC/1973 de fazer constar na petição inicial o requerimento para a citação do réu. A citação não depende de requerimento, podendo ser realizada de ofício, como decorrência do princípio do impulso oficial (art. 2.º). Isso não significa, evidentemente, que o autor deixará de delimitar subjetivamente a sua demanda. Não se pode citar quem não foi indicado como réu na petição inicial, nem mesmo nos casos de litisconsórcio necessário, hipótese em que o autor será intimado para requerer a citação de todos os litisconsortes, sob pena de extinção do processo (art. 115, parágrafo único). Entretanto, uma vez indicado o réu e apresentada toda a narrativa, com causa de pedir e pedido, é evidente que o autor pretende que o réu seja chamado a juízo, sendo desnecessário o requerimento formal de que se proceda à sua citação. 11.1. Ausente o requerimento de citação, esta será realizada de acordo com as modalidades estabelecidas em lei. Se o autor pretender, por exemplo, realizar a citação por outra forma que não a postal, não sendo o caso de vedação legal a tal modalidade, deverá formular requerimento expresso e justificado de realização da citação de outra forma (art. 247, V). 12. Outros requisitos. O dispositivo em tela não esgota todos os requisitos da petição inicial. Quando postular em causa própria, por exemplo, deve o advogado declarar, na petição inicial, o endereço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações (art. 106). Caso não cumpra tal exigência, será o autor intimado para sanar o vício em cinco dias, sob pena de indeferimento da peça inaugural. Nos casos em que não estiver postulando em causa própria, tais dados do a) b) c) d) e) f) g) advogado, em especial os seus endereços eletrônico e físico, deverão constar da procuração, a qual será apresentada com a petição inicial (art. 287). JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA: Súmula 558 do STJ: “Em ações de execução fiscal, a petição inicial não pode ser indeferida sob o argumento da falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ da parte executada”. Essencial, porém, que haja outros dados para a suficiente identificação do executado. Enunciado 281 do FPPC: “A indicação do dispositivo legal não é requisito da petição inicial e, uma vez existente, não vincula o órgão julgador”. Enunciado 282 do FPPC: “Para julgar com base em enquadramento normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta, previsto no art. 10”. Enunciado 424 do FPPC: “Os parágrafos do art. 319 devem ser aplicados imediatamente, inclusive para as petições iniciais apresentadas na vigência do CPC/1973”. Enunciado 519 do FPPC: “Em caso de impossibilidade de obtenção ou de desconhecimento das informações relativas à qualificação da testemunha, a parte poderá requerer ao juiz providências necessárias para a sua obtenção, salvo em casos de inadmissibilidade da prova ou de abuso de direito”. Distinguindo fundamento jurídico e enquadramento normativo, sendo este último dispensável, em respeito ao princípio iura novit curia: “Não se confunde ‘fundamento jurídico’ com ‘fundamento legal’, sendo aquele imprescindível e este dispensável, em respeito ao Princípio ‘iura novit curia’ (o juiz conhece o direito)” (STJ, REsp 477.415, Rel. Min. José Delgado, j. 08.04.2003). Em sentido contrário, no entanto, sustentando que inocorre modificação da causa de pedir com a nova qualificação jurídica, “Não se verifica alteração da causa de pedir quando se confere ao fato ou ao conjunto de fatos qualificação jurídica diversa da originariamente atribuída. Incumbindo ao juiz a subsunção do fato a norma, ou seja, a categorização jurídica do fato, inocorre modificação da causa petendi se há compatibilidade do fato descrito com a nova qualificação jurídica ou com o novo enunciado legal” (STJ, REsp 2.403, Rel.Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 28.08.1990). Admitindo, em matéria de fornecimento de medicamentos, que seja concedida providência diversa da postulada, em precedente submetido ao regime dos recursos repetitivos: “Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo, o sequestro de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada fundamentação” (STJ, REsp 1.069.810, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 23.10.2013). CPC/2015 CPC/1973 Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. Comentários de Andre Vasconcelos Roque: 1. Documentos indispensáveis à propositura da ação. São indispensáveis apenas os documentos substanciais, que a lei exige expressamente que sejam apresentados para a propositura da ação, como é o caso, por a) exemplo, do título de propriedade na ação demarcatória (art. 574) ou da prova escrita necessária para a ação monitória (art. 700). Embora haja precedentes em sentido contrário, os documentos fundamentais em geral, necessários à prova das alegações que compõem a causa de pedir, por mais que sejam relevantes para a obtenção de resultado favorável, não devem ser considerados indispensáveis à propositura da ação, na medida em que podem ser supridos por outro meio de prova ou mesmo dispensados, caso o réu não conteste o fato correspondente, ante a presunção de veracidade das alegações não impugnadas (art. 374, III). Se o demandante alega, por exemplo, pagamento de uma dívida cuja cobrança ele pretende questionar em juízo, a falta do recibo não acarreta o indeferimento da petição inicial, embora possa ser – e frequentemente será – decisiva para o julgamento do mérito. Quanto aos documentos úteis, ou seja, os que apenas auxiliam a compreensão da controvérsia, mas não se relacionam diretamente à causa de pedir, por mais forte razão, não são indispensáveis para que seja deferida a petição inicial. 1.1. Isso não significa, porém, que não precise o autor se preocupar com qualquer outro documento que não seja indispensável à propositura da ação. É que, nos termos do art. 434, a prova documental, em regra, deve ser trazida pelo autor já na petição inicial, dependendo a juntada de novos documentos da verificação das circunstâncias estabelecidas no art. 435. 1.2. Além disso, deve o autor apresentar a procuração de seu advogado com a petição inicial, salvo se for o caso de advogado postulando em causa própria, ou se o autor estiver representado pela Defensoria Pública ou, ainda, se a sua representação decorrer da Constituição ou da lei, como no caso dos advogados da União (arts. 104 e 287). 2. Ausência de documentos substanciais ou fundamentais: consequências distintas. Ċaso não seja apresentado algum documento substancial (ou seja, indispensável à propositura da ação) com a petição inicial, deverá o juiz determinar a intimação do autor para que o apresente em quinze dias, sob pena de indeferimento (art. 321). Por outro lado, não tendo sido apresentado documento fundamental (que se refere à prova das alegações constantes da causa de pedir), não será o caso de emenda ou indeferimento da petição inicial. Ressalvada a hipótese excepcional de demanda aventureira (item 2.1, infra), na falta de documento fundamental, deverá o réu ser citado e, caso a questão reste controvertida e não se desincumba o autor de demonstrar suas alegações, será o pedido julgado improcedente por ausência de provas. 2.1. Deve o juiz, no entanto, considerar se foi apresentado substrato probatório mínimo pelo autor, desde a petição inicial, para aferir a própria viabilidade do feito, obstando aventuras fadadas ao insucesso e que apenas serviriam para perturbar o demandado na plena fruição de seu direito. Isso não significa que o juiz possa exigir para o deferimento da petição inicial que outros documentos, além dos indispensáveis à propositura da ação, sejam desde logo apresentados, sob pena de impor requisitos à postulação inaugural não previstos em lei, mas poderá o magistrado, antes de determinar a citação do réu, intimar o autor para esclarecer a ausência de algum documento fundamental. 3. Documentos indispensáveis à propositura da ação e acesso à justiça. A exigência em tela não pode servir de obstáculo intransponível para o acesso à justiça, garantia constitucionalmente tutelada (art. 5.º, XXXV, CFRB/1988). Não possuindo o autor os documentos indispensáveis à propositura da ação e não tendo meios de obtê-los por conta própria, poderá este requerer ao juiz as diligências necessárias à sua obtenção (art. 319, § 1.º) ou, ainda, formular pedido incidental de sua exibição (arts. 396 e seguintes, CPC). Esse é o entendimento consagrado no Enunciado 283 do FPPC. JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA: Enunciado 283 do FPPC: “Aplicam-se os arts. 319, § 1.º, 396 a 404 também quando o autor não dispuser de b) c) d) e) documentos indispensáveis à propositura da ação”. Considerando possível determinar que o réu exiba documentos relativos a contas de energia elétrica, quando não for razoável se exigir que o autor tenha guardado todas elas: “Cabe ao autor instruir a petição inicial com os documentos indispensáveis à propositura da ação (art. 283, do CPC/73, atual 320 do CPC/15). Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu no sentido de que não há ilegalidade na determinação de que a Eletrobrás forneça documentos (em matéria de exibição de documentos referentes a empréstimo compulsório), não sendo razoável exigir do contribuinte que guarde todas as suas contas mensais de energia elétrica, a fim de calcular o valor devido. Também é entendimento desta Corte no sentido de que o fornecimento dos documentos pode ser determinado em liquidação de sentença” (STJ, AgInt no AREsp 953.514/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 20.06.2017). Apontando que a juntada de original ou cópia da sentença homologanda estrangeira é documento indispensável à propositura da demanda destinada à sua homologação no Brasil: “2. É indispensável ao exame do pleito de homologação de sentença estrangeira a juntada de original ou cópia da sentença homologanda, consoante disciplina do art. 216 - C do RISTJ. 3. Caso em que a requerida foi intimada a proceder à juntada do documento, sob pena de extinção do feito sem apreciação do mérito, deixando, não obstante, de trazê-lo aos autos. 4. Sentença estrangeira extinção sem apreciação do mérito” (STJ, SEC 7.204, Corte Especial, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJE 21.02.2017). Considerando desnecessária a juntada dos comprovantes de pagamento em ação de repetição de indébito tributário: “Prevalência, no âmbito da Primeira Seção deste Superior Tribunal de Justiça do entendimento de que, em sede de ação de repetição de indébito da taxa de iluminação pública, é desnecessária a juntada de todos os comprovantes de pagamento com o fito de definir o quantum debeatur, o que pode ser feito na fase de liquidação de sentença” (STJ, REsp 1.003.691, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 13.05.2008). Entretanto, entendendo indispensáveis os documentos que comprovam a realização do pagamento indevido: “Em sede de repetição de indébito, os documentos indispensáveis à propositura da ação são aqueles hábeis a comprovar a realização do pagamento indevido e a legitimidade ativa ad causam do contribuinte que arcou com o referido recolhimento” (STJ, REsp 923.150, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 16.08.2007). Entendendo, ainda, indispensáveis tanto os documentos substanciais quanto os fundamentais: “Por documentos ‘indispensáveis’, aos quais se refere ao art. 283, CPC, entendem-se: a) os substanciais, a saber, os exigidos por lei; b) os fundamentais, a saber, os que constituem o fundamento da causa de pedir” (STJ, REsp 114.052, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 15.10.1998). De forma diversa, considerando indispensáveis os documentos necessários
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