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22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 1/37 INTRODUÇÃO A compreensão sobre as formas de composição de con�itos e a sua evolução história ajuda a entender o estágio de nossa sociedade, onde estamos e as ferramentas que o operador do direito terá para a resolução dos diversos con�itos que possam surgir. Ao �nal dos estudos, haverá a devida compreensão de que não se pode fazer a denominada “justiça com as próprias mãos” para resolver as questões pendentes de solução e que o sistema nos confere instrumentos hábeis e e�cazes para resolver os direitos, sejam eles individuais ou coletivos. É sempre muito importante fazer o devido aprofundamento e a detida compreensão desse tema. Bons estudos e até breve! Aula 1 DIREITO E SOCIEDADE: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS A compreensão sobre as formas de composição de con�itos e a sua evolução história ajuda a entender o estágio de nossa sociedade. 44 minutos NOÇÕES TEÓRICAS BÁSICAS DO PROCESSO Aula 1 - Direito e sociedade: evolução histórica da resolução de con�itos Aula 2 - Processo e pressupostos processuais Aula 3 - Acesso à justiça e modos adequados de composição de con�itos Aula 4 - Direito processual versus Direito material e normas processuais no tempo e no espaço Referências 172 minutos 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 2/37 CONFLITOS DE INTERESSES E SEUS MODOS DE RESOLUÇÃO NOS TEMPOS ANTIGOS: DA AUTOTUTELA À JURISDIÇÃO - NULLA POENA SINA IUDICIO A sociedade evoluiu, e com ela as formas de composição de con�itos existentes. A primeira forma de resolução que se conhece é a denominada autotutela. Trata-se da solução de con�itos mais antiga que se tem notícia, que se dá pela vontade de uma das partes em detrimento da outra. O “magistrado” do caso é uma das partes. Esse cenário é proibido, como regra, pelos ordenamentos jurídicos civilizados. Contudo, sempre foi utilizada como alternativa diante da falta de poder do Estado para resolver os con�itos, como ocorria no período romano anterior à fase da cognitio extra ordinem. Atualmente, constitui conduta tipi�cada como crime: exercício arbitrário de suas próprias razões – art. 345 do CP (se for particular) – e exercício arbitrário ou abuso de poder – art. 350 do CP (se for o Estado). Evidente que ainda se mantêm resquícios dos períodos primitivos, e o ordenamento permite, vez ou outra, a possibilidade do uso arbitrário de suas próprias razões, como o desforço imediato (Código Civil, art. 1.210, § 1º), a autotutela do direito obrigacional (Código Civil, arts. 249, parágrafo único, e 251, parágrafo único), o estado de necessidade e a legítima defesa no direito penal (Código Penal, art. 23, II). Fora hipóteses expressamente previstas, a autotutela é crime. Uma das maiores evoluções das formas de resolução de con�itos está justamente na fase da execução (momento em que se satisfaz a obrigação com a penhora de bens do devedor). No Brasil, a execução é eminentemente real, ou seja, recai somente no patrimônio do executado. A con�guração atual do princípio se deu por longa evolução histórica: no período romano (especialmente na Lei das XII Tábuas), a execução era pessoal e o devedor pagava com a vida (cortava-se o devedor em quantos pedaços fossem os credores) ou com prisão pelo descumprimento das obrigações, até mesmo ameaça para compelir os familiares à satisfação da obrigação. Entretanto, em tempos atuais decorrentes da forte in�uência francesa do século XIX acerca da intangibilidade da vontade humana, esta evolução chegou a um estágio tão avançado que mesmo no patrimônio do executado existem bens não suscetíveis à responsabilidade executiva por afrontar o princípio da dignidade humana. Assim, são as hipóteses de: a) impenhorabilidade, prevista no CPC (arts. 832-834); b) impenhorabilidade do bem de família (Lei Federal nº 8.009/90); c) impenhorabilidade, quando “o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução” (CPC, art. 836) (BRASIL, 2015, [s. p.]). Contudo, as novas técnicas de execução indireta não só assumiram um lugar que a sub-rogação não necessariamente alcançava (obrigações in natura) como também ajudaram na mais efetiva aplicação das obrigações em dinheiro (em especial, nos termos autorizadores do CPC, art. 139, IV). Existem raras exceções em que a incidência da execução não será no patrimônio do executado: • Prisão civil. hoje, o Brasil admite apenas uma hipótese de prisão civil: na dívida de alimentos. A despeito de inserta na Constituição Federal, a prisão do depositário in�el não mais é admitida, conforme entendimento do RE 466.343-1, Súmula Vinculante 25 e Enunciado 419 da Súmula do STJ, tendo em vista os Tratados Internacionais rati�cados no Brasil, que restringem a prisão civil ao devedor de alimentos. Contudo, a prisão civil não é forma de satisfação da dívida, e sim mecanismo para compelir o seu cumprimento. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 3/37 • Pressão psicológica. A execução indireta (execução com emprego de mecanismos para “estimular” o cumprimento espontâneo da obrigação) é uma forma de forçar o devedor. Aqui, o Estado busca mecanismos típicos (CPC, art. 497, parágrafo único) ou atípicos para compelir o executado a cumprir a obrigação. A multa do art. 523, § 1º, as astreintes e a possibilidade de redução dos honorários para metade no cumprimento espontâneo (CPC, art. 827) são exemplos da forma de execução por coerção (e não por sub-rogação, método tradicional). PROCESSO CIVIL E O PODER JUDICIÁRIO Nosso ordenamento adotou a teoria da tripartição de poderes (CF, art. 2º). A razão de ser da separação dos Poderes é a melhor descentralização da atividade e, principalmente, a necessidade de evitar que o poder se concentre na mão de apenas um órgão. Dessa forma, com a atribuição especí�ca para cada poder, teve origem a construção doutrinária denominada freios e contrapesos, na medida em que a atuação de um poder especí�co impediria a atuação arbitrária de outro poder. Há, ainda, um relevante motivo para a separação: a especialidade (especialização do Judiciário), ou seja, exercendo função especí�ca, exerce-a melhor e de maneira mais efetiva (CF, art. 5º, LXXVIII). Dessa forma, o Estado moderno, para que melhor possa conservar as condições da sociedade, a�nal essa é a sua função, exerce três funções distintas, mas harmônicas entre si: legislativo, executivo e judiciário. Essa divisão não é importante apenas no plano da divisão estrutural do Poder Judiciário mas também para a �xação do órgão competente e para saber qual matéria (normas de direito material e processual) que incidirá como forma de atuação desses entes. Quanto à atividade jurisdicional do Poder Judiciário (sua função típica), a Constituição Federal estabelece as denominadas justiças especiais. Essa classi�cação toma como premissa a natureza da situação jurídica posta em juízo. Dessa forma, tem-se a Justiça do Trabalho (art. 114, CF), a Justiça Eleitoral (art. 121, CF) e a Justiça Militar (art. 124, CF). O processo civil atua de forma supletiva e subsidiária nas justiças eleitoral e trabalhista, ou seja, para que o processo civil seja aplicado a essas justiças, é necessário que haja: a) omissão legislativa na esfera trabalhista ou eleitoral sobre a norma de processo ou procedimento que se deseja aplicar e b) uma chancela jurisprudencial, ou seja, a mera omissão legislativa não acarreta aplicação automática, pois será necessária a autorização, especialmente, dos órgãos responsáveis pelo processamento e julgamento das causas. Em contraposição a essas hipóteses, por mera exclusão, tem-se a justiça comum, que se encarrega de tutelar todas as demais situações (litigiosas ou não) que não se abarcam nas situações enumeradas nos referidos artigos constitucionais. A justiçacomum é dividida em justiça federal e justiça estadual. Na justiça comum, é possível a divisão entre jurisdição penal e civil. A jurisdição penal, tanto no âmbito federal como no estadual, atua na previsão, no processamento, no julgamento e no cumprimento de práticas de crimes em suas mais diferentes espécies. A jurisdição não penal (federal ou estadual) é denominada jurisdição civil (federal ou estadual). Na jurisdição civil, adota-se integralmente o Código de Processo Civil e demais legislações processuais correlatas que possam de certa maneira regulamentar a atividade da justiça comum (v.g., Lei nº 9.289/96, Lei nº 12.016/2009, 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 4/37 regimentos internos etc.). A justiça federal é regulamentada pelos arts. 108 e 109 da Constituição Federal, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, que assim dispõem: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 5/37 Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I – processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; e) os con�itos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; II – julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5o deste artigo; VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema �nanceiro e a ordem econômico-�nanceira; VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 6/37 É de se ver que, em quase todos os casos, a justiça federal atua quando �gurar como autor, réu ou interveniente a União Federal e seus entes correlatos. A justiça estadual possui competência residual e abrange todas as causas que não forem previstas nas hipóteses dos arts. 108 e 109 da Constituição Federal. Assim, serão levadas à justiça comum estadual, entre outras, as causas de família, cíveis em geral, tributos municipais e estaduais, causas entre particulares, causas de direito do consumidor, meio ambiente, direito empresarial, demandas que envolvam a Fazenda Pública estadual ou municipal (é importante frisar que não VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI – a disputa sobre direitos indígenas. 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou bene�ciários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se veri�cada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual. 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau. § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a �nalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal — Someone famous 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 7/37 há uma “justiça municipal”, de modo que as demandas contra os entes municipais serão propostas na justiça estadual). É possível, ainda, no plano estrutural, dividir o Poder Judiciário pelos seus diferentes graus de jurisdição. Antes de tudo, não se deve baralhar os conceitos de grau de jurisdição e instância. Instância é termo ligado à organização judiciária, sendo certo que na estrutura do Poder Judiciário existem órgãos hierarquicamente inferiores e superiores. É um conceito estático, pois se refere à condição do juiz dentro do sistema organizacional do Estado. Assim, os juízes de primeira instância são aqueles lotados nas comarcas/seções judiciárias dos fóruns; os desembargadores estão nos Tribunais Regionais e locais, que funcionam como segunda instância; os ministros dos tribunais superiores exercem suas atividades em instância especial. Grau de jurisdição é um conceito dinâmico, pois não é ligado à organização judiciária de forma estática, mas no contato do Poder Judiciário com a causa. E esse contato (das diversas instâncias) pode variar conforme as regras de competência estabelecidas em lei. Dessa forma, uma ação de despejo será processada em primeira instância e em primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com a causa). Aquele que foi sucumbente poderá interpor recurso de apelação para o segundo grau de jurisdição, na segunda instância. Mas, nem sempre é assim. Pelas regras de competência previstas no ordenamento, a ação rescisória será julgada originariamente por um tribunal. Assim, se o tribunal competente for o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, por exemplo, a ação será processada na segunda instância (organização judiciária), mas em primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com aquela causa). Essa visão vertical do Poder Judiciário decorre da possibilidade de existência de recursos contra as decisões de primeiro grau para outro órgão hierarquicamentesuperior e da competência originária dos tribunais para determinadas demandas. Assim, a jurisdição dos tribunais pode ser categorizada da seguinte maneira: Quadro 1 | Categorização da jurisdição dos tribunais 1ª instância (Fórum) + juizados especiais Juízes Comarcas para a justiça estadual, seções ou subseções judiciárias para a justiça federal 2ª instância (Tribunais e Turmas Recursais) Desembargadores (juízes nos casos de juizados especiais) 27 tribunais estaduais e 5 Tribunais Regionais Federais Instâncias especiais (Tribunais Superiores) Ministros Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal Fonte: elaborado pelo autor. O PROCESSO CIVIL E AS DEMAIS DISCIPLINAS DO DIREITO 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 8/37 O processo civil, como disciplina instrumental, possui, em diferentes níveis, relação com os demais ramos do direito. O processo não apenas mantém íntima relação com o direito material (nas mais diversas disciplinas) como também entre as próprias vertentes processuais. Assim, é possível estabelecer correspondência entre: • Direito processual do trabalho e direito processual penal: No plano estrutural, a despeito dos inúmeros ramos do direito material (direito civil, penal, tributário, previdenciário, constitucional, administrativo, entre outros), é comum estudar apenas três modalidades de processo: o processo penal, que tutela o direito penal; o processo do trabalho, que tutela o direito do trabalho; o processo civil, que tutela todas as outras demais disciplinas do direito material. Cada uma dessas modalidades possui um aglutinado de normas próprias, com seus prazos, seus recursos e suas diretrizes principiológicas. Contudo, é comum, no plano do processo civil, a doutrina proceder a subdivisões em “pequenas áreas do processo”, como processo coletivo, processo constitucional, processo tributário, processo societário, processo do consumidor, entre outros. Não existe divisão no plano legislativo, já que não há lei que regulamente somente o processo tributário ou o processo constitucional, por exemplo. Contudo, para �ns didáticos e de modo a auxiliar o operador do direito (que, por exemplo, atue apenas no denominado “contencioso tributário” ou “contencioso societário”) é que diversas publicações literárias grupam os artigos ou leis que possam dar um sentido comum a essa disciplina. É importante saber que a subdivisão não desnatura o fato de que todos esses “processos” fazem parte do ramo direito processual civil. Voltando aos processos penal e do trabalho, essas duas disciplinas possuem, em regra, regime processual próprio. Contudo, o Código de Processo Civil (CPC) constitui fonte subsidiária e supletiva na falta de normas que regulem, no plano processual, a questão, conforme o art. 15 do CPC: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). No processo do trabalho, há diversos temas que são tratados exclusivamente pelo processo civil, por exemplo, tutela provisória, ação rescisória, consignação em pagamento, ação monitória, preliminares de contestação, embargos de terceiro e algumas questões sobre penhora. No processo penal, apesar de sofrer menor in�uência do processo civil, há diversos temas que são trazidos para responder a problemas do processo penal. Essa autorização não decorre apenas do já citado art. 15 do CPC, mas do art. 3º do Código de Processo Penal, que é expresso ao dizer que “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica” (BRASIL, 1941, [s. p.]). Ademais, há dispositivos do CPP que expressamente invocam o CPC, como os arts. 139, 362 e 790. Mas, há outras importantes regras do processo civil que se aplicam ao processo penal, por exemplo: i) a necessidade de estabilidade da jurisprudência e da vinculação dos juízos aos precedentes (arts. 926 e 927, NCPC); ii) o atendimento ao contraditório material (art. 10, CPC); iii) a teoria da fundamentação analítica (art. 489, § 1º, CPC); iv) a perpetuatio jurisdictionis (art. 43, CPP); v) a calendarização processual (art. 191, CPC); vi) o IRDR e assunção de competência (arts. 976 e 946, CPC). Para realçar o que foi dito aqui, o Enunciado 3 da I Jornada de Direito Processual Civil (CJF) estabelece: “As disposições do Código de Processo Civil aplicam-se supletiva e subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei” (BRASIL, 2017, p. 13). 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 9/37 • Direito constitucional Não existe diploma que exerça tanta in�uência sobre o processo civil como a Constituição Federal. Apesar de desnecessário, o CPC traz expressa essa submissão: “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art. 2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados “precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95, CF): vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix) regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC). • Direito administrativo Apesar do adjetivo “civil”, o direito processual não serve apenas ao direito civil, mas a todas as matérias de direito público. Ademais, para os administrativistas, jurisdição voluntária é procedimento administrativo e não jurisdicional. A regulamentação da execução �scal, da execução contra a Fazenda Pública, das prerrogativas da Fazenda Pública em juízo e da remessa necessária são pontos de intersecção entre ambas as matérias. Ele também se presta a fornecer subsídios ao processo administrativo, regulamentado na Lei nº 9.784/99. • Direito civil e empresarial O processo civil serve ao direito civil e empresarial em relação de instrumentalidade (ainda que essa expressão seja criticada por segmentos da doutrina). Especialmente quanto ao direito civil, Não obstante a previsão especí�ca de cabimento desse recurso para as matérias não penais no art. 1.027 do CPC. os procedimentos especiais foram edi�cados com base nas relações privadas de direito material, assim como existe uma profícua ligação entre ambas as disciplinas no que concerne às provas, desconsideração da personalidade jurídica, participação dos cônjuges no processo, prescrição e decadência, evicção, penhora, entre outros. • Direito penal 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 10/37 O direito penal participa da vida do processo civil no plano da ilicitude, seja para regular o tipo de situação passível de ação rescisória (art. 966, I, CPC – prevaricação corrupçãoe concussão), seja na aplicação dos crimes de desobediência (art. 330, CP e arts. 403, parágrafo único, 524, § 3º, 529, § 1º, 532, 536, § 3º, e 912, § 1º, CPC). VÍDEO RESUMO Agora, no vídeo, você entenderá as formas de composição de con�itos e sua evolução, a relação do processo civil com o Poder Judiciário (e toda sua estrutura orgânica) e como o processo civil convive com as demais áreas do direito. Para isso, já se recomenda a leitura do texto sobre direito processual e direito material, que será estudado na Aula 4. Saiba mais Leia A crise do Poder Judiciário: os mecanismos alternativos de solução de con�itos como condição de possibilidade para a garantia do acesso à justiça . Vale muito a pena ler este texto para aprofundamento dos seus estudos. Para visualizar o objeto, acesse seu material digital. INTRODUÇÃO A presente aula pretende introduzir você a uma análise constitucional e infraconstitucional do acesso à justiça, entender o conceito de processo e veri�car os seus requisitos necessários, classicamente denominados “pressupostos processuais”. Esses conceitos não estão previstos em Lei (Código de Processo Civil). São extraídos da doutrina e da jurisprudência, sendo conceitos sazonais, ou seja, podem ser alterados de acordo com a mudança que se tenha sobre o conceito de processo ou pressupostos. Aula 2 PROCESSO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS A presente aula pretende introduzir você a uma análise constitucional e infraconstitucional do acesso à justiça, entender o conceito de processo e veri�car os seus requisitos necessários, classicamente denominados “pressupostos processuais”. 42 minutos http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-AJURIS_142.07.pdf http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-AJURIS_142.07.pdf 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 11/37 É importante entender ainda que não há uma unanimidade, em especial, na doutrina, acerca dessas de�nições. Portanto, pretendo trazer a análise mais ampla possível para que você tenha um panorama geral sobre o tema. Bons estudos e até breve! ACESSO À JUSTIÇA Quadro 1 | Linhas evolutivas do processo LINHAS EVOLUTIVAS DO PROCESSO Fase inicial Surgimento das primeiras normas processuais e possibilidade de levar as pretensões a uma autoridade pública. Processo civil na fase da Grécia antiga Início do estudo do processo civil como ciência independente de questões religiosas. Observância do princípio dispositivo e da oralidade. Processo civil na fase do Império Romano Desenvolvido em três fases: 1) Período legis actiones: as partes apenas poderiam usar as cinco ações que estavam previstas em lei para tutelar seus direitos. O procedimento era solene, não envolvia advogados e era prioritariamente oral. Possuía duas fases distintas: a primeira perante um juiz, que veri�cava a admissibilidade e �xava o litígio. A outra perante cidadãos na função de árbitros para prolação da sentença. 2) Período formulário: com a expansão do império, foi necessária a criação de novos processos e procedimentos. Com isso, permitiu-se ao magistrado estabelecer fórmulas para que os litígios pudessem ser resolvidos. 3) Período da extraordinária cognitio: nessa fase se aboliram os árbitros privados para dar lugar a funcionários do Estado. Adotou-se a forma escrita. Idade Média A queda do Império Romano gerou um retrocesso na evolução do processo, com disparidade de entendimentos e forte in�uência da religião sobre o direito. Houve a fusão dos direitos germânico, romano e canônico, dando origem ao processo comum. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 12/37 Processo civil no século XIX Em decorrência do liberalismo, o Estado mínimo preconizado reduziu o poder do juiz, fortalecendo a liberdade das partes. O legalismo (Estado Legislativo) foi uma forma de retirar o poder do regime absolutista até então existente. O direito era exclusivamente o que a lei dizia, e esta, a lei, possuía ampla legitimidade, já que produzida por autoridade dotada de competência normativa. Para não afrontar especialmente os princípios da igualdade e da liberdade, as leis deveriam ser gerais e abstratas, como garantia de isonomia e imparcialidade de quem as aplicava. O juiz não podia levar em conta peculiaridades ou circunstâncias diferentes do caso concreto. Processo civil no século XX O juiz voltou a ter amplos poderes em decorrência da visão publicista do processo. Em decorrência disso, passou a ter permissão para produzir provas sem provocação e conhecer determinadas matérias em nome do interesse público. Processo civil no século XXI Mantendo a natureza pública do processo, a Constituição Federal passou a exercer forte in�uência sobre o processo civil (o denominado neoprocessualismo, pós- positivismo ou neoconstitucionalismo), fortalecendo os princípios constitucionais, em especial, o do devido processo legal. Essas questões serão mais bem estudadas infra. Processo civil brasileiro Com a independência do Brasil, as Ordenações Filipinas se mantiveram em vigor naquilo em que não afrontassem a soberania do governo. Regulamento nº 737: primeiro Código brasileiro que regulava apenas causas comerciais (em virtude do advento do Código Comercial de 1850). Códigos estaduais: em decorrência da legitimidade conferida pela Constituição de 1891, diversos Estados elaboraram seus próprios Códigos de Processo. CPC/39: projeto de Pedro Batista Martins com forte in�uência dos direitos alemão e português. CPC/73: Código estruturado por Alfredo Buzaid com base nos ensinamentos do professor italiano Enrico Tullio Liebman. CPC/2015: originado do Projeto Legislativo n. 166/2010, passou, ao longo de sua tramitação, por uma série de mudanças no Congresso. Foram instituídas diversas comissões de juristas, além de audiências públicas para o seu resultado �nal, que se vê analisado nesse Manual. Fonte: elaborado pelo autor. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 13/37 CONCEITO DE PROCESSO Processo constitui um método de atuação do Poder Judiciário para o exercício das atividades jurisdicionais em que participam sujeitos interessados com o objetivo de: a) solucionar uma determinada situação jurídica; b) que o resultado desse processo possa servir de paradigma para a resolução de casos futuros (precedentes). Em nosso entender, contudo, o desenvolvimento desse método se dá por meio de uma atividade complexa. Assim, apenas será possível de�nir processo (dentre outros fatores, como será visto), pelo aspecto da relação jurídica processual entre autor, réu e juiz somado ao procedimento em contraditório. Explica-se. O Estado e as partes estão interligados por uma série de vínculos. Esses vínculos conferem às partes o direito/ ônus/dever de praticar atos, pois são titulares de posições jurídicas: é a denominada relação jurídica. Contudo, a relação jurídica é apenas uma das partes, uma vertente, da de�nição maior que se agrega também ao procedimento. Dessa forma, processo é uma entidade complexa com a soma da relação jurídica (seu aspecto intrínseco) com o procedimento (seu aspecto extrínseco). O procedimento (que liga a petição inicial até a satisfação do processo) é marcado por uma série de posições jurídicas afetas ao juiz e às partes. Por ser o processo fenômeno eminentemente dinâmico, essas posições são alteradas conforme os atos que se sucedem ao longo da cadeia procedimental (assim, o réu não pode recusar a citação, pois constitui uma obrigação, mas, uma vez citado, tem o ônus de se defender, que se encerra numa faculdade). Dessa, essas relações são dinâmicas não apenas porque o processo avança, mas porque as posições processuaistendem a mudar ao longo do procedimento com diferentes poderes, ônus, deveres e faculdades. Essa sucessão de atos tem previsão legal e guarda, em princípio, uma estrita sequência lógica. Em princípio porque, a despeito da previsão legal, os atos do processo podem ser alterados em sua ordem original, podendo ser acrescidos atos até então não existentes, suprimidos atos desnecessários aos objetivos daquele caso, tudo em atenção à �exibilização procedimental decorrente de convenção processual genericamente prevista nos arts. 190, 191, 139, IV, 536 e 537 do CPC. Esses artigos são reforçados pelo inciso VI do art. 139 do CPC, em que poderá o magistrado “dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do con�ito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito” (BRASIL, 2015, [s. p.]) e pelo § 2º do art. 437 do CPC: “Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo para manifestação sobre a prova documental produzida, levando em consideração a quantidade e a complexidade da documentação” (BRASIL, 2015, [s. p.]). A existência dos procedimentos especiais não é su�ciente para a aderente e justa prestação da tutela do direito material. Isso porque essas (importantes) técnicas são criadas à luz do direito material em abstrato. É necessário, em complemento, municiar as partes e o juiz com instrumentos de adaptação do procedimento com base no caso concreto. Esse é o motivo da existência dos negócios jurídicos processuais, pois muitas questões não têm como os sujeitos do processo anteverem e somente será vivenciada com o procedimento in concreto. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 14/37 Assim, de cada fato surge uma posição jurídica, e do próximo ato a ser praticado decorre uma nova posição jurídica (deveres, poderes, ônus, faculdades) e sucessivamente. Se olharmos uma hipotética linha do tempo, podemos veri�car que o processo caminha pelo procedimento (sucessão de atos encadeados logicamente) e para cada ato se exige uma determinada posição jurídica que vincula uma parte a outra e essas ao juiz (relação jurídica). Contudo, especialmente pelo redimensionamento do princípio do contraditório à luz do atual CPC, o processo, como método de trabalho, deve prestigiar a efetiva participação dos sujeitos interessados, que constitui o núcleo desse princípio. É até intuitivo: se o procedimento é desenvolvido precipuamente para a atividade das partes e que estas possam demonstrar a existência do seu direito ou contradireito, elas devem participar do procedimento em contraditório (arts. 9º e 10, CPC). O contraditório constitui a legitimação do procedimento. É por isso que aumentam os números de adeptos à teoria do processo como procedimento em contraditório, havendo quem entenda ser necessário haver do processo “uma visão participativa, policêntrica, por força da qual juiz e partes constroem, juntos, seu resultado �nal”. (CÂMARA, 2022) Contudo, acreditamos que falar que o processo constitui procedimento em contraditório é muito mais dizer que a necessidade de participação das partes decorre do devido processo legal do que propriamente estabelecer uma de�nição de processo. Como bem observado por Dinamarco e Lopes (2017), Assim é que o processo é composto pela relação jurídica e o procedimento (que obrigatoriamente deve ser exercido em contraditório). Todavia, em tempos atuais, o processo assume um conceito muito mais abrangente, pois ao conceito exposto se agregam outras características inerentes à sua correta de�nição. O processo é um re�exo das atividades exercidas pelos poderes no plano constitucional, em especial, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Pelo legislativo, na obrigatoriedade de se traçar a criação de processo (e procedimentos) que atendam às técnicas de direitos fundamentais processuais (devido processo). Da mesma forma, os juízes devem estabelecer esse controle constitucional criando negócios jurídicos processuais que atendam à tutela material de forma mais justa e efetiva; declarando a inconstitucionalidade concreta de normas que sejam contrárias aos valores previstos na CF; valendo-se de técnicas para permitir a devida de�nir o processo mediante associação do procedimento ao contraditório ou inserir em seu conceito a relação jurídica processual são apenas dois modos diferentes de ver a mesma realidade. São perspectivas diferentes que não distorcem essa realidade nem se excluem reciprocamente, antes se complementam – uma perspectiva política representada pela exigência do contraditório e uma perspectiva técnico-processual na qual se revelam aquelas posições jurídicas ativas e passivas. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 15/37 isonomia e prestação adequada da tutela jurisdicional como a concessão de tutela provisória, inversão do ônus da prova, concessão de medidas executivas atípicas. Juiz não pode apenas “administrar o jogo”, mas fazer valer as regras processuais e constitucionais para a garantia de um processo justo e équo. Não se pode confundir processo com autos do processo. Esse é a documentação dos atos do processo de forma física ou eletrônica. Assim, processo é: Quadro 2 | Autos do processo Uma relação jurídica Envolve ao menos três sujeitos de direito (juiz, autor e réu): conceito estático. Um procedimento em contraditório Constitui um conjunto de atos concatenados para a obtenção da tutela jurisdicional e com a participação das partes (contraditório e colaboração) para conferir legitimidade a esse procedimento: conceito dinâmico. Formador de norma jurídica O juiz, por meio do processo, criará a solução (norma) que regulará o caso concreto. Criador de precedentes (vinculantes ou facultativos) Pelo processo, o magistrado decide o caso concreto, que poderá (ou deverá, caso se enquadre no art. 927, I, II e III, CPC) servir de precedente para aplicação em processos análogos futuros. UM REFLEXO DAS ATIVIDADES ESTRUTURANTES DO LEGISLATIVO E DO JUDICIÁRIO Os primeiros na criação de leis processuais que atendam aos direitos fundamentais. O Poder Judiciário na concretização desses direitos fundamentais dentro do processo, ainda que não haja lei prevendo nesse sentido ou em sentido contrário. Fonte: elaborado pelo autor. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS O legislador estabelece a observância de algumas regras necessárias para que o processo exista e se desenvolva regularmente. A este conjunto de regras �cou convencionado a denominação pressupostos processuais. Os pressupostos processuais agem como uma espécie de “�ltro”, com o objetivo de impedir a passagem de pretensões manifestamente infundadas. Classi�cação dos pressupostos processuais 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 16/37 O exame destes pressupostos parte da premissa de que sua criação decorre de requisitos voltados a salvaguardar o interesse das partes. Por isso, a maioria dos pressupostos processuais tem essa função (como se verá nos casos, por exemplo, da suspeição, da citação e da capacidade postulatória). Entretanto, há outros pressupostos que visam garantir o correto exercício da atividade jurisdicional (como o impedimento e a incompetência absoluta). Esses pressupostos são essenciais para a estruturação do processo e não podem ser desconsiderados, mesmo que não causem prejuízo às partes. Aqui, não se trata de impor a instrumentalidade das formas ou a primazia do mérito, já que a natureza cogente se sobrepõe. Classi�cam-se os pressupostos processuais (com base no art. 485, IV e V, CPC) da seguinte maneira: • Positivos Pressupostos processuais de existência do processo Demanda O art. 2º do CPC disciplina que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso o�cial” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Sendo a jurisdição inerte, é indispensável que o Estado-juiz sejaprovocado por meio da ação. A ação é formalizada pela petição inicial. Esta formalização denomina-se “demanda”. Sem demanda, o processo sequer pode ser considerado juridicamente existente. Jurisdição Um dos institutos menos contestados no que tange a ser alçado à categoria de pressuposto processual. Assim, para que um processo exista juridicamente, deverá ser desenvolvido por órgão investido previamente de jurisdição, conforme os poderes outorgados pela Constituição Federal (art. 92). Dessa forma, um processo conduzido por um não juiz é considerado juridicamente inexistente. Importante que se entenda que, para o preenchimento dos requisitos de existência, basta que o órgão tenha jurisdição, pois a competência, a despeito de sua importância, constitui pressuposto de desenvolvimento, como se verá infra. Citação Certamente, é o instituto que mais causa di�culdades no enquadramento dos pressupostos processuais de existência. Alguns autores[1] entendem não ser a citação pressuposto processual, e o argumento é de fato muito coerente: a citação não seria requisito de existência, mas de e�cácia do processo. Sabendo que validade e e�cácia são fenômenos que se situam em planos distintos. O processo existe desde sua propositura. Todavia, a citação, em nossa opinião, constitui um pressuposto de existência, já que permite a triangularização do processo, formalizando a relação jurídica entre Estado-juiz, autor e réu. Para Bueno (2016, p. 41), a citação – como manifestação clássica do princípio do contraditório – é pressuposto de existência para o réu. E isso porque “não haveria como conceber um processo juridicamente existente se o réu não for citado”. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 17/37 Essa a�rmação não entra em choque com os arts. 331 e 332 do CPC. Ambos os casos permitem a resolução do processo sem citar o réu. No primeiro, a resolução se dará sem análise do mérito, já que a petição inicial não preenche requisitos mínimos de admissibilidade, sendo inviável o prosseguimento da demanda. No segundo, nas hipóteses previstas na lei, o magistrado já constata que a causa não terá êxito para o autor. Nos dois casos (resolução por inadmissibilidade ou por improcedência prima facie), é desnecessária a citação. O que não desnatura a sua imprescindibilidade, aliás, o art. 239 do CPC realça essa condição. Nestes casos, a celeridade e a efetividade do processo relativizam o rigor do pressuposto. A propósito, o STF já enfrentou a questão (Pleno, AI-AgR 427.533/RS) e asseverou que a regra é compatível com o modelo constitucional do processo desde que o réu, ao ser citado (o que somente será possível com o provimento do recurso de apelação do autor), tenha a possibilidade de levantar toda matéria respeitante ao processo, até mesmo aquela que levou ao indeferimento da petição inicial. Portanto, no Brasil, hoje, há quatro correntes bem delineadas: 1. Citação como pressuposto de existência (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Enrico Tullio Liebman, Nelson Nery e Marcelo Abelha Rodrigues). 2. Citação como pressuposto de existência para o réu (Cassio Scarpinella Bueno). 3. Citação como requisito de validade (Cândido Dinamarco). 4. Citação como condição de e�cácia do processo para o réu (Fredie Didier). • Pressupostos processuais de desenvolvimento (validade) do processo Aqui, o processo já existe, mas, a despeito de sua existência, há outros pressupostos necessários ao desenvolvimento válido e regular do processo. Petição inicial apta Não basta a existência da petição inicial (aqui, denominada “demanda”). É necessário que esta petição seja apta, ou seja, contenha os requisitos essenciais para o seu desenvolvimento. Todavia, é equívoco asseverar que a aptidão da petição inicial decorre do exato cumprimento do art. 319 do CPC, pois, do contrário, dever-se-ia a�rmar que a não observância do referido artigo geraria a inaptidão da petição inicial. Entretanto, a falta de requerimento de provas e do endereço do réu não gera inaptidão da demanda – a despeito de serem requisitos do art. 319 do CPC. A de�nição de aptidão se abstrai por exclusão. Assim como a competência, a imparcialidade e a capacidade são conceitos que somente podem ser formulados produzindo o efeito negativo (incapaz, imparcial, incompetente). A aptidão ocorre quando não houver a inaptidão – esta, sim, de�nida pela lei (CPC): DINAMARCO, C. Instituições de direito processual civil. São Paulo, SP: Malheiros, 2002. p. 507.[1] 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 18/37 Assim, se o autor não enquadrar a sua demanda numa das hipóteses-tipo do art. 330, § 1º, por consequência, sua petição será considerada apta. Conforme será visto no capítulo de petição inicial (infra) à luz do atual sistema que prestigia a primazia do mérito e a convalidação dos atos processuais, é possível a�rmar que a inépcia da petição inicial somente gerará a resolução do processo sem resolução de mérito se e quando a referida invalidade não puder ser corrigida. Assim, se for possível emendar a petição inicial para “inserir pedido” (inciso I, art. 330), “determinar o pedido” (inciso II, art. 330), “corrigir a narrativa para adequar a conclusão” (inciso III, art. 330) ou “compatibilizar os pedidos cumulados” (inciso IV, art. 330), não haverá extinção do feito. Competência do juízo e imparcialidade do juiz Não basta que o juiz esteja investido de jurisdição. É necessário que ele também seja competente e imparcial. A competência, conforme será estudado (infra), é a distribuição aos órgãos judiciários de suas funções e constitui pressuposto de validade. Há quem defenda que a competência não seria pressuposto processual, pois a sua decretação importa na remessa dos autos ao juízo competente, e não na resolução do processo sem análise do mérito, como normalmente ocorre. Contudo, não é a consequência do ato que o caracteriza como pressuposto processual. A própria lei, em certos casos, opta pela “extinção do processo” nos casos de competência dos juizados (art. 51, III, da Lei nº 9.099/95). Ademais, se o mérito não poderá ser examinado por determinado órgão (dada sua incompetência), certamente a sentença ali proferida será inválida, o que con�rma sua situação de pressuposto. Sendo a competência pressuposto de validade, a incompetência relativa também seria alcançada? Quando se fala em competência absoluta, os órgãos jurisdicionais são �xados peremptoriamente pela lei. Já no que se refere à competência relativa, a despeito de ser previamente prevista em lei, esta mesma lei confere certa Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I – for inepta. (...) § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. — (BRASIL, 2015, [s. p.]) 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 19/37 margem de liberdade aos litigantes para escolher outro órgão jurisdicional igualmente competente (veja, por exemplo, a cláusula de eleição de foro diverso daquele em que residem autor e réu, conforme art. 63 do CPC) [1]. Dessa forma, justamente por depender da manifestação da parte contrária, sob pena de prorrogação com a consequente convalidação do ato (CPC, art. 65), a competência relativa não pode ser pressuposto de validade do processo. Já os vícios de parcialidade – impedimento e suspeição – são vícios de capacidade subjetiva do próprio juiz. Conforme já exposto, o principal requisito para o julgamento é que seja proferido por um juiz imparcial, desinteressado na causa e equidistante das partes. Todavia, existem determinadas situações que podem desviar a convicção do magistrado, por motivos deordem familiar, pessoal ou econômica. Atento a esses casos, o legislador mapeou as situações que podem dar ensejo a um julgamento maculado. As questões mais graves, a lei denominou hipóteses de impedimento; as menos graves, suspeição. Citação válida Consoante foi ressaltado, a citação é pressuposto de existência do processo. Entretanto, o ato citatório deve respeitar determinadas regras previstas no CPC em seus arts. 238 e seguintes. Importante frisar que este pressuposto processual pode ser relativizado pelo princípio da instrumentalidade das formas. A citação é ato solene, depende de uma série de requisitos previstos em lei. No entanto, se o réu comparece espontaneamente em juízo, supre a necessidade da citação, pois o ato atingiu, por outra forma, a sua �nalidade (art. 239, § 1º, do CPC). Capacidade postulatória Sabe-se que os atos processuais somente podem ser praticados por quem detenha capacidade de estar em juízo. Esta capacidade permite à parte litigar no processo sem representação ou assistência. Todavia, esta capacidade, por si só, é insu�ciente para a atividade forense, já que a postulação em juízo depende de outro tipo de capacidade conferida somente aos advogados e denominada capacidade postulatória. Consiste na autorização legal para atuação pro�ssional em juízo do advogado. Legitimação para o processo As regras de legitimação para o processo (capacidade processual) serão mais bem desenvolvidas no capítulo destinado às partes. Esse é o posicionamento dominante na doutrina (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Ernane Fidélis dos Santos, Marcelo Abelha Rodrigues). • Pressupostos negativos Os pressupostos processuais negativos são aqueles que, como o próprio nome identi�ca, não podem existir no processo, ao contrário dos positivos, cuja presença se faz obrigatória. Dessa forma, são situações que não podem ocorrer, sob pena de ser cominado com as consequências impostas pela lei. Em virtude de os 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 20/37 Imprimir institutos que compõem os pressupostos negativos serem objeto de estudo ao longo deste Manual, confere- se apenas uma rápida de�nição, remetendo o leitor aos capítulos correspondentes, que aludem, com mais profundidade, a cada um desses conceitos. Perempção Ocorre perempção quando o autor deixa o processo se extinguir por três vezes sem resolução de mérito, por abandono da causa pela hipótese do art. 486, § 3º, do CPC. Contudo, a despeito de gerar a impossibilidade de nova propositura, a alegação de perempção poderá ser utilizada como matéria de defesa mesmo após ter atingido as três extinções do feito. Litispendência Ocorre litispendência quando se distribui uma ação idêntica à que está em curso. Assim, conviveriam contemporaneamente duas ações com as mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. A segunda ação proposta não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, V, CPC). Coisa julgada Ocorre coisa julgada quando se distribui uma ação idêntica à outra que já se �ndou. Essa segunda ação possui os mesmos elementos que a anterior, já julgada (partes, pedido e causa de pedir). Essa segunda ação proposta igualmente não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, V, CPC). Compromisso arbitral Compromisso �rmado entre as partes, no qual se estabelece que determinado litígio não corra pelo Poder Judiciário, mas, sim, pela arbitragem. Há autores que entendem que o compromisso arbitral (uma espécie da convenção de arbitragem) não seria pressuposto processual negativo[1], pois o juiz não pode decretar a nulidade de processo judicial em trâmite, cuja causa deveria correr na arbitragem, como ocorre com a litispendência, a perempção e a coisa julgada. WAMBIER, T. A. A. Nulidades do processo e da sentença. 4. ed. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 1998. p. 63-64. VÍDEO RESUMO Agora, no vídeo, você entenderá como se deu a evolução história do processo para chegar ao conceito de processo que se tem hoje, a de�nição, ou melhor, as de�nições do processo e o papel que ele assume e, por �m, os pressupostos processuais, que são os requisitos necessários para que o processo exista e se desenvolva regularmente. Para visualizar o objeto, acesse seu material digital. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 21/37 Saiba mais Sobre o Juízo de Admissibilidade, vale muito a pena ler o seguinte texto para aprofundamento dos seus estudos sobre pressupostos processuais: • https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/207/edicao-2/juizo-de-admissibilidade INTRODUÇÃO A compreensão sobre as formas de composição de con�ito e sua evolução história ajuda a entender o estágio de nossa sociedade, onde estamos e as ferramentas que o operador do direito terá para a resolução dos diversos con�itos que possam surgir. Ao �nal dos estudos, haverá a devida compreensão de que não se pode fazer a denominada “justiça com as próprias mãos” para resolver as questões pendentes de solução e que o sistema nos confere instrumentos hábeis e e�cazes para resolver os direitos, sejam eles individuais ou coletivos. É sempre muito importante fazer o devido aprofundamento e a detida compreensão desse tema. Bons estudos! CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O PROCESSO Apesar de os códigos de processo civil brasileiros, ao longo da história, conviverem com as constituições vigentes, foi apenas a partir da CF/88 que se reconheceu sua verdadeira força normativa. Isso se re�ete no art. 1º do CPC, que estabelece: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Em consequência desse reconhecimento, o sistema processual brasileiro passou a: adotar os princípios como importante fonte do direito, reconhecendo sua categoria de norma jurídica; reconhecer a análise da funcionalidade do processo para concretizar os direitos fundamentais, como o direito à saúde (art. 196, CF), e a autoaplicação desses direitos fundamentais (art. 5º, § Aula 3 ACESSO À JUSTIÇA E MODOS ADEQUADOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS Conhecer e aplicar conceitos básicos de con�ito, formas de resolução e atividade jurisdicional. 45 minutos https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/207/edicao-2/juizo-de-admissibilidade 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 22/37 1º, CF); promover a ampla expansão da jurisdição constitucional, em especial, com o controle de constitucionalidade (concentrado e difuso); mostrar que a CF serve para preencher os “buracos” deixados pelo processualista, especialmente na fase cientí�ca. Isso é o que a doutrina denomina como neoprocessualismo, pós-positivismo ou neoconstitucionalismo. Portanto, houve um fortalecimento dos princípios constitucionais, em especial, o do devido processo legal, do qual se constatou a notória di�culdade de a lei regular tudo, somado às novas técnicas de produção legislativa (cláusulas gerais e normas de conceito vago e indeterminado), bem como à complexidade dos fenômenos sociais, à adoção dos princípios como norma, à vinculação aos precedentes e à categorização da jurisprudência como fonte primária do direito. Dessa forma, não apenas analisa o conteúdo da norma em si considerada como (e principalmente) também analisa sua incidência sob o enfoque (�ltragem) constitucional. Assim, compete ao Judiciário aplicar, precipuamente, o ordenamento jurídico (CPC, art. 140). A lei deve sempre ser interpretada de acordo com a Constituição Federal. Caso o juiz, por exemplo, encontre mais de uma solução para o caso concreto, deve escolher aquela mais rente ao interesse disciplinado na CF. Assim, se um texto de lei der margem a várias interpretações,o juiz não deve valer-se de sua convicção pessoal, mas fazer uso da técnica interpretação de acordo com a CF. Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art. 2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados “precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95 da CF): vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix) regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC). A Constituição, em sua função de tutelar o ordenamento, estabelece as diretrizes e os contornos da vida do processo. Não apenas enunciando os princípios a serem seguidos, mas na estruturação do Poder Judiciário, na �xação de competência, na previsão de determinados recursos e medidas judiciais, entre outros. No entanto, essa função constitucional não se dá apenas de cima para baixo, ou seja, não apenas a Constituição alimentará o processo com regras, princípios e diretrizes. O vetor pode ser visto pelo outro lado: o processo poderá mudar as características da Constituição. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 23/37 ARBITRAGEM Constitui mecanismo de heterocomposição, pois é uma forma de solução de con�itos, em que as partes em litígio buscam numa terceira pessoa de sua con�ança uma solução para a questão. Apesar de ser de con�ança das partes, é equidistante delas. Importante asseverar que não há nenhuma inconstitucionalidade na arbitragem que constitui modalidade facultativa. O Supremo Tribunal Federal, em 2001, reconheceu a autonomia das partes para eleger a arbitragem como forma de composição de con�itos e não ofende o art. 5º, XXXV, da CF (inafastabilidade da jurisdição). Tanto não ofende que o próprio art. 3º do CPC, que reproduz quase que �elmente o texto constitucional, estabelece no seu § 1º que “é permitida a arbitragem, na forma da lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Assim, é equiparado aos funcionários públicos e juízes no exercício de suas funções para efeitos da legislação penal (art. 17, Lei nº 9.307/96), o árbitro é também considerado “juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não �ca sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário” (art. 18, Lei nº 9.307/96) e “no desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição” (art. 13, § 6º, Lei nº 9.307/96) (BRASIL, 1996, [s. p.]). O árbitro, não obstante, não possui poder estatal, já que não é agente público, profere decisão que vincula as partes e forma-se título executivo judicial (art. 515, VII, CPC). Dessa forma, profere decisão que tem força imperativa entre as partes, mas, se não cumprida, é necessário levar ao Poder Judiciário, pois o árbitro não pode coagir as partes ao cumprimento da sentença, tampouco praticar atos materiais, como penhora e expropriação. Igualmente, pelo mesmo fundamento, não possui poder para permitir a imissão na posse de imóvel. Assim, “Contrato de locação. Cláusula compromissória. Ação de despejo por falta de pagamento. Imissão na posse pelo abandono do imóvel. Submissão da questão ao juízo arbitral. Impossibilidade. Natureza executória da pretensão. Poder coercitivo direto. Matéria atinente ao juízo togado” (REsp 1.481.644-SP). Não se admite arbitragem em causas penais e, desde a Emenda Constitucional nº 45, há previsão da arbitragem no campo trabalhista (CF, art. 114, § 2º). Conforme dito, vem expressamente regulada como forma de composição de con�itos no CPC, em seu art. 3º, § 1º. No Brasil, há duas correntes acerca da natureza jurídica da arbitragem. A primeira corrente defende que a arbitragem constitui um equivalente jurisdicional, pois representa mais uma forma de heterocomposição ao lado da jurisdição. Ademais, ao escolher a arbitragem, renuncia-se à jurisdição; a jurisdição exige agente público (juiz) aprovado em concurso (art. 93, I, da CF), que constitui um poder indelegável, o que não ocorre na arbitragem; na arbitragem, não existe a regra do juiz natural; o árbitro não pode executar suas sentenças; não pode ser jurisdição, pois as decisões do árbitro podem ser controladas pelo Poder Judiciário; por �m, a arbitragem apenas se aplica a uma classe especí�ca de causas (direitos patrimoniais disponíveis), restringindo demais essa atividade. É posição defendida por Humberto Theodoro Júnior, Luiz Guilherme Marinoni e Cassio Scarpinella Bueno. A segunda corrente defende que arbitragem é jurisdição (Carlos Alberto Carmona, Fredie Didier e Joel Dias Figueira Jr.). Para essa corrente, a arbitragem seria uma jurisdição privada (ao lado da jurisdição estatal). Isso porque: a sentença arbitral tem força própria, não precisando de homologação da jurisdição estatal para que gere sua vinculação; ademais, é apta a formar coisa julgada, somente podendo ser alterada se a parte 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 24/37 interessada pleitear ao Poder Judiciário sua nulidade nos casos previstos em lei (arts. 32 e 33, Lei nº 9.307/96); a Lei de Arbitragem prevê a garantia da imparcialidade, tal qual na jurisdição estatal; o fato de não poder executar suas sentenças constitui um caso de incompetência, e não de falta de jurisdição (vide a execução da sentença penal condenatória que será no cível e inegavelmente é atividade jurisdicional). Acreditamos que a primeira corrente é a mais acertada. O CPC aparentemente também a adotou, conforme se veri�ca do § 1º do art. 3º, que coloca a arbitragem como uma exceção à inafastabilidade da jurisdição. Ademais, o art. 42 também apresenta a arbitragem em outro plano ao estabelecer que “as causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Apesar da tentativa de equiparação, árbitro e juiz de�nitivamente não se confundem. Em comum, apenas a necessidade de ser terceiro imparcial (art. 21, § 2º, da Lei nº 9.307/96) para a solução do con�ito. Aliás, no tocante à sua imparcialidade, o art. 14, § 1º, da Lei nº 9.307/96 estabelece que “as pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justi�cada quanto à sua imparcialidade e independência” (BRASIL, 1996, [s. p.]). Dessa forma, as regras de impedimento e suspeição se aplicam ao árbitro com muito mais rigor. No Poder Judiciário, é necessário provar a parcialidade do juízo. Na arbitragem, como a relação é de con�ança (art. 13, da Lei nº 9.307/96), a mera descon�ança de uma das partes sobre o terceiro já gera o afastamento do árbitro. O árbitro não se submete às regras de competência (e, consequentemente, do juiz natural), sendo escolhido direta e aleatoriamente pelas partes. Está sendo remunerado especi�camente para atender àquele processo (que poderia ter recusado), ao contrário do juiz, que deve cuidar de diversos processos e, emdecorrência de sua função pública, não pode delegá-los ou recusar o seu processamento. A arbitragem é regulamentada no Brasil pela Lei nº 9.307/96, e agora com as substanciais alterações trazidas pela Lei nº 13.129/2015. Pode ser constituída por meio de negócio jurídico denominado convenção de arbitragem, que, nos termos do art. 3º da lei, pode ser tanto: Regramento da arbitragem no Brasil 1. Disponibilidade da norma substancial a ser escolhida no caso concreto (art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei de Arbitragem). Assim, direitos indisponíveis não podem ser submetidos à arbitragem. – Cláusula compromissória – convenção contratual em que as partes resolvem que as divergências do negócio jurídico serão solucionadas pela arbitragem; – Compromisso arbitral – aqui o litígio já existe e as partes decidem, de comum acordo, submeter a solução desse con�ito para a arbitragem. — (BRASIL, 1996, [s. p.]) 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 25/37 2. Para a arbitragem, o árbitro deve ser pessoa física e possuir capacidade. O árbitro enverga a condição de juiz, sendo equiparado aos servidores públicos para efeitos penais, conforme dito. 3. A sentença arbitral não precisa ser homologada, pois possui autonomia e�cacial, produzindo efeitos no momento de sua prolação. Assim, tal qual a sentença proferida pelo Poder Judiciário, a sentença arbitral constitui espécie de título executivo judicial (art. 515, VII, CPC). Contudo, a despeito de o árbitro decidir, por não possuir poder de constrição, não tem jurisdição para tomar nenhuma providência executiva. 4. É possível a arbitragem com o Poder Público (art. 1º, §§ 1º e 2º, da LArb), desde que seja para discutir direitos patrimoniais disponíveis e a autoridade pública que celebrar a convenção deve seja a mesma para realizar acordos ou convenções. 5. A sentença arbitral poderá ser revista pelo Poder Judiciário, não no tocante ao mérito (a decisão do árbitro é soberana), mas no tocante a aspectos formais (arts. 32 e 33 da LARb): Assim, pode-se acentuar como principais diferenças: Art. 32. É nula a sentença arbitral se: I – for nula a convenção de arbitragem; II – emanou de quem não podia ser árbitro; III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; VI – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; VII – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e VIII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2o, desta Lei. Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei. § 1º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou �nal, seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), e deverá ser proposta no prazo de até 90 (noventa) dias após o recebimento da noti�cação da respectiva sentença, parcial ou �nal, ou da decisão do pedido de esclarecimentos. § 2º A sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal pro�ra nova sentença arbitral. — (BRASIL, 1996, [s. p.]) 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 26/37 Quadro 1 | Diferenças entre jurisdição e arbitragem JURISDIÇÃO ARBITRAGEM É estatal É arbitral É permanente É transitória Decorre de lei Decorre da convenção das partes Versa sobre direitos disponíveis ou indisponíveis Apenas sobre direitos disponíveis Postulam pessoas capazes ou incapazes Postulam somente pessoas capazes A sentença jurisdicional será executada no Judiciário A sentença arbitral não pode ser executada perante o árbitro ou câmara arbitral A decisão jurisdicional faz coisa julgada admitindo ação rescisória (art. 966, CPC) no prazo de 2 anos A decisão arbitral faz coisa julgada admitindo ação anulatória no prazo de 90 dias (art. 32 da LARb) Fonte: elaborada pelo autor. A Lei nº 13.129/2015 traz importantes novidades à Lei de Arbitragem, como: a possibilidade de utilização da arbitragem pela administração direta ou indireta, quando o objeto for direitos patrimoniais disponíveis; a interrupção da prescrição retroagindo à data de seu requerimento de instituição; as medidas cautelares antecedentes à instituição da arbitragem; a utilização da nomenclatura “sentenças parciais” conforme o art. 23, § 1º. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO In�uenciado pela Resolução nº 125/10, que estabelece a “Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos con�itos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”, o CPC atual estabeleceu, em seus arts. 165 a 175, o regramento mínimo conferido à mediação e à conciliação, bem como a atuação do conciliador e do mediador nesses casos. O CPC de�nitivamente ingressa na tentativa de incentivar as técnicas de autocomposição para desafogar o excessivo número de demandas que trafegam no Judiciário. Está entre os poderes do magistrado no processo (art. 139, V, CPC). Apenas para se ter uma ideia, em 2013, o Brasil contava com, aproximadamente, 200 milhões de processos (praticamente uma causa para cada brasileiro). O número de juízes existentes é �sicamente incompatível com a escala industrial das causas que surgem todos os dias no Judiciário. Alguns autores defendem que a conciliação e a mediação não constituem “formas alternativas” de composição de con�ito, mas, meios adequados para esse �m. 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 27/37 A conciliação se diferencia da mediação. Na conciliação, existe uma atuação mais efetiva do terceiro, que pode propor soluções para a resolução do con�ito. Atua, preferencialmente, nos casos em que não havia prévio vínculo jurídico entre as partes (CPC, art. 165, § 2º), como nos casos de acidente de carro ou propaganda enganosa, em que a relação entre as partes se deu exatamente no momento que gerou a situação litigiosa. Já na mediação, a participação do terceiro é mais reservada. Sua atividade se limita a instruir as partes para auxiliar no objeto do litígio e para que se estabeleça um diálogo, a �m de lograr a autocomposição. O mediador não faz proposta de acordo; deve deixar as próprias partes chegarem a esse desiderato. Isso decorre do fato de ele atuar em casos em que já exista prévia relação jurídica entre as partes (CPC, art. 165, § 3º), como nas relações contratuais ou nas relações envolvendo direito de família (daquilo que for objeto de disponibilidade). Assim, a atuação do conciliador é mais intensa, pois este apresenta potenciais soluções para o litígio, enquanto na mediação apenas se abre o caminho para a comunicação entre as partes. É possível que haja conciliação ou mediação parcial que verse apenas sobre um fragmento do con�ito, e as demais, possivelmente, são levadas ao Poder Judiciário. O conciliador e o mediador devem preencher o requisito de capacitação mínima em curso a ser realizado por entidade credenciada a ser de�nida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério da Justiça. Esse curso permite ao mediador e ao conciliador procederem à inscrição no cadastro nacional e no cadastro dos tribunais regionais. Posteriormente, o Tribunal remeterá os dados do conciliador ou mediador para o foro da comarca, a �m de que conste de lista a participar das atividades de autocomposição naquele local. A escolha do mediador e do conciliador será realizada de forma aleatória e alternada, tal qual na distribuição de uma causa. É possível, ainda, as partes, por negócio jurídico processual, escolherem o conciliador/mediador ou a câmara privada para julgamento, independentemente de estar cadastrado ou não no tribunal. Se o conciliador/mediadorfor advogado, estará impedido de exercer essa função na comarca em que atuar. Igualmente, nos casos de impedimento do próprio conciliador ou mediador (por exemplo, parente de uma das partes no processo), este deverá comunicar e devolver os autos ao juiz do processo ou coordenador do CEJUSC para nova distribuição. Ademais, o art. 172 do CPC estabelece que “O conciliador e o mediador �cam impedidos, pelo prazo de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes” (BRASIL, 2015, [s. p.]). O conciliador e o mediador, salvo nas hipóteses do art. 167, § 6º, do CPC, receberão remuneração conforme tabela do tribunal correspondente, parametrizada pelo Conselho Nacional de Justiça. Se o conciliador ou mediador estiver temporariamente indisponível, deve comunicar o fato ao Centro Judiciário de Solução de Con�itos e Cidadania (CEJUSC), para não receber, nesse período, novas distribuições. Por �m, será excluído do cadastro o mediador ou conciliador, sem prejuízo do processo administrativo, que: agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou mediação sob sua responsabilidade ou violar qualquer dos deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º; atuar em procedimento de mediação ou conciliação apesar de impedido ou suspeito. Ademais, de acordo com o art. 173, § 2º, CPC, 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 28/37 Posteriormente, foi editada a Lei nº 13.140/15, que regulamenta a mediação entre particulares e no âmbito da administração pública, o que gerou, como se verá, uma contradição com algumas disposições do diploma processual. Para melhor cumprir a função de meios adequados à autocomposição, à conciliação e à mediação, o CPC atual didaticamente estabeleceu (assim como o art. 1º do Anexo III da Resolução nº 125, que dispõe sobre o Código de Ética dos Conciliadores e Mediadores) princípios que norteiam as atividades para fomentar a autocomposição entre as partes, bem como limitam a atividade dos terceiros. O art. 166 refere-se aos princípios da independência, imparcialidade, autonomia da vontade, con�dencialidade, oralidade, informalidade e decisão informada. • Independência: a independência constitui um dos principais pilares da condição de conciliador ou mediador. Ao contrário da magistratura, em que há elementos objetivos para a garantia de sua independência (inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos – art. 95 da CF). No tocante aos terceiros, tem-se apenas um mandamento genérico. Assim: “dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível” (BRASIL, 2010, [s. p.]). • Imparcialidade: o inciso IV do referido artigo assevera: “dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não inter�ram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no con�ito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Esse controle é feito pelo próprio terceiro e deverá recusar-se a atuar quando se encontre em alguma situação de suspeição e impedimento (art. 148, II e III, CPC), nada impedindo que as partes também aleguem. Ademais, não poderá o mediador ou conciliador atuar como assessor técnico das partes ou na forma de “advogado”, a �m de que se mantenha a sua equidistância em relação às partes. • Autonomia da vontade: como a conciliação e a mediação consistem em mecanismos de autocomposição, é natural que o resultado desse acordo decorra da vontade soberana das partes. Assim, são vedadas pressões externas para que o acordo seja formalizado deste ou daquele jeito. As partes têm preferência na forma como o negócio jurídico será estabelecido. Evidente que essa autonomia de vontade sofre restrições: quando o acordo for resultante de violação à ordem pública ou às leis vigentes (que constitui outro princípio, de acordo com o Anexo III da Resolução nº 125), por incapacidade das partes ou quando o acordo decorrer de algum vício, como erro, dolo, lesão, coação, estado de perigo ou fraude. O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e mediação, se houver, veri�cando atuação inadequada do mediador ou conciliador, poderá afastá-lo de suas atividades por até 180 (cento e oitenta) dias, por decisão fundamentada, informando o fato imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo processo administrativo. — (BRASIL, 2015, [s. p.]) 22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 29/37 A autonomia se aplica igualmente às regras procedimentais necessárias à autocomposição (art. 166, § 4º, CPC). A autonomia de vontade se aplica até mesmo na possibilidade de as partes escolherem, de comum acordo, o conciliador, mediador ou mesmo a câmara privada destinada a esse �m (art. 168, CPC). Não é sequer necessário que esse conciliador/mediador esteja previamente cadastrado no tribunal. • Con�dencialidade: a con�dencialidade não se refere especi�camente ao sigilo das informações apresentadas em audiência, mas especialmente à incomunicabilidade entre a audiência de conciliação ou mediação e o processo judicial. O que vale dizer: aquilo que se diz em audiência de autocomposição não poderá ser usado pelas partes futuramente no processo judicial contra a outra. Isso tem por �nalidade deixar as partes mais livres para apresentar à mesa de negociação todos os elementos possíveis para a tentativa de costurar um acordo. Se as informações pudessem ser utilizadas no Judiciário, certamente as partes não abririam tantas informações com medo de se prejudicarem caso o acordo restasse infrutífero. A con�dencialidade alcança não apenas as partes, mas os advogados e o terceiro imparcial que preside a audiência e seus auxiliares (art. 166, § 2º, CPC). Dessa forma, não poderá a parte no Poder Judiciário alegar que a outra parte admitiu o acidente ou que confessou o inadimplemento em audiência de autocomposição de mediação ou conciliação. Contudo, as provas documentais descobertas em audiência poderão ser produzidas no procedimento judicial e não estão acobertadas pelo manto da con�dencialidade. Explica-se: a incomunicabilidade entre conciliação/mediação e processo judicial poderá fazer com que as partes criem a estratégia de alegar absolutamente tudo que as desabone nessas audiências, para que nada possa ser utilizado em fase de instrução de procedimento judicial. • Oralidade: o princípio da oralidade se opõe à documentação dos atos. Consiste, na prevalência da palavra como forma de expressão, imediação da relação entre o juiz e as partes, permanência subjetiva do juiz na instrução do processo, concentração do procedimento. A oralidade, além das vantagens enumeradas, tem por pressuposto especí�co guardar a con�dencialidade, na medida em que os depoimentos não serão consignados em ata. • Informalidade: até mesmo para facilitar a autocomposição, não há solenidade ou forma especí�ca para que se realize a mediação ou conciliação. O terceiro terá a possibilidade de conduzir da melhor maneira que lhe aprouver, atentando aos demais princípios de modo a facilitar o acordo. Não há tipicidade de conduta. • Decisão informada: é fundamental que os mediadores e conciliadores informem as partes sobre as consequências do acordo e seus efeitos jurídicos. Assim, o inciso II estabelece que o terceiro tem o “dever de manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido” (BRASIL, 2010, [s. p.]). VÍDEO RESUMO Agora, no vídeo, você entenderá como se deu a denominada constitucionalização do processo (incidência da Constituição Federal no Código de Processo Civil e leis extravagantes),
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