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AMI_TEORI_GERAL_PROCES_ U1 - Livro Didático

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22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro
https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 1/37
INTRODUÇÃO
A compreensão sobre as formas de composição de con�itos e a sua evolução história ajuda a entender o
estágio de nossa sociedade, onde estamos e as ferramentas que o operador do direito terá para a resolução
dos diversos con�itos que possam surgir.
Ao �nal dos estudos, haverá a devida compreensão de que não se pode fazer a denominada “justiça com as
próprias mãos” para resolver as questões pendentes de solução e que o sistema nos confere instrumentos
hábeis e e�cazes para resolver os direitos, sejam eles individuais ou coletivos.
É sempre muito importante fazer o devido aprofundamento e a detida compreensão desse tema.
Bons estudos e até breve! 
Aula 1
DIREITO E SOCIEDADE: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
A compreensão sobre as formas de composição de con�itos e a sua evolução história ajuda a entender o
estágio de nossa sociedade.
44 minutos
NOÇÕES TEÓRICAS BÁSICAS DO PROCESSO
 Aula 1 - Direito e sociedade: evolução histórica da resolução de
con�itos
 Aula 2 - Processo e pressupostos processuais 
 Aula 3 - Acesso à justiça e modos adequados de composição de
con�itos
 Aula 4 - Direito processual versus Direito material e normas
processuais no tempo e no espaço
 Referências
172 minutos
22/03/2024, 11:17 wlldd_231_u1_teo_ger_pro
https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 2/37
CONFLITOS DE INTERESSES E SEUS MODOS DE RESOLUÇÃO NOS TEMPOS ANTIGOS: DA
AUTOTUTELA À JURISDIÇÃO - NULLA POENA SINA IUDICIO
A sociedade evoluiu, e com ela as formas de composição de con�itos existentes. A primeira forma de
resolução que se conhece é a denominada autotutela. Trata-se da solução de con�itos mais antiga que se tem
notícia, que se dá pela vontade de uma das partes em detrimento da outra. O “magistrado” do caso é uma das
partes. Esse cenário é proibido, como regra, pelos ordenamentos jurídicos civilizados.
Contudo, sempre foi utilizada como alternativa diante da falta de poder do Estado para resolver os con�itos,
como ocorria no período romano anterior à fase da cognitio extra ordinem. Atualmente, constitui conduta
tipi�cada como crime: exercício arbitrário de suas próprias razões – art. 345 do CP (se for particular) – e
exercício arbitrário ou abuso de poder – art. 350 do CP (se for o Estado). 
Evidente que ainda se mantêm resquícios dos períodos primitivos, e o ordenamento permite, vez ou outra, a
possibilidade do uso arbitrário de suas próprias razões, como o desforço imediato (Código Civil, art. 1.210, §
1º), a autotutela do direito obrigacional (Código Civil, arts. 249, parágrafo único, e 251, parágrafo único), o
estado de necessidade e a legítima defesa no direito penal (Código Penal, art. 23, II). Fora hipóteses
expressamente previstas, a autotutela é crime. Uma das maiores evoluções das formas de resolução de
con�itos está justamente na fase da execução (momento em que se satisfaz a obrigação com a penhora de
bens do devedor).
No Brasil, a execução é eminentemente real, ou seja, recai somente no patrimônio do executado. A
con�guração atual do princípio se deu por longa evolução histórica: no período romano (especialmente na Lei
das XII Tábuas), a execução era pessoal e o devedor pagava com a vida (cortava-se o devedor em quantos
pedaços fossem os credores) ou com prisão pelo descumprimento das obrigações, até mesmo ameaça para
compelir os familiares à satisfação da obrigação. 
Entretanto, em tempos atuais decorrentes da forte in�uência francesa do século XIX acerca da intangibilidade
da vontade humana, esta evolução chegou a um estágio tão avançado que mesmo no patrimônio do
executado existem bens não suscetíveis à responsabilidade executiva por afrontar o princípio da dignidade
humana. Assim, são as hipóteses de: a) impenhorabilidade, prevista no CPC (arts. 832-834); b)
impenhorabilidade do bem de família (Lei Federal nº 8.009/90); c) impenhorabilidade, quando “o produto da
execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução” (CPC, art.
836) (BRASIL, 2015, [s. p.]). Contudo, as novas técnicas de execução indireta não só assumiram um lugar que a
sub-rogação não necessariamente alcançava (obrigações in natura) como também ajudaram na mais efetiva
aplicação das obrigações em dinheiro (em especial, nos termos autorizadores do CPC, art. 139, IV).
Existem raras exceções em que a incidência da execução não será no patrimônio do executado:
•  Prisão civil. hoje, o Brasil admite apenas uma hipótese de prisão civil: na dívida de alimentos. A despeito de
inserta na Constituição Federal, a prisão do depositário in�el não mais é admitida, conforme entendimento do
RE 466.343-1, Súmula Vinculante 25 e Enunciado 419 da Súmula do STJ, tendo em vista os Tratados
Internacionais rati�cados no Brasil, que restringem a prisão civil ao devedor de alimentos. Contudo, a prisão
civil não é forma de satisfação da dívida, e sim mecanismo para compelir o seu cumprimento.
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•  Pressão psicológica. A execução indireta (execução com emprego de mecanismos para “estimular” o
cumprimento espontâneo da obrigação) é uma forma de forçar o devedor. Aqui, o Estado busca mecanismos
típicos (CPC, art. 497, parágrafo único) ou atípicos para compelir o executado a cumprir a obrigação. A multa
do art. 523, § 1º, as astreintes e a possibilidade de redução dos honorários para metade no cumprimento
espontâneo (CPC, art. 827) são exemplos da forma de execução por coerção (e não por sub-rogação, método
tradicional).
PROCESSO CIVIL E O PODER JUDICIÁRIO
Nosso ordenamento adotou a teoria da tripartição de poderes (CF, art. 2º). A razão de ser da separação dos
Poderes é a melhor descentralização da atividade e, principalmente, a necessidade de evitar que o poder se
concentre na mão de apenas um órgão. Dessa forma, com a atribuição especí�ca para cada poder, teve
origem a construção doutrinária denominada freios e contrapesos, na medida em que a atuação de um
poder especí�co impediria a atuação arbitrária de outro poder.
Há, ainda, um relevante motivo para a separação: a especialidade (especialização do Judiciário), ou seja,
exercendo função especí�ca, exerce-a melhor e de maneira mais efetiva (CF, art. 5º, LXXVIII). Dessa forma, o
Estado moderno, para que melhor possa conservar as condições da sociedade, a�nal essa é a sua função,
exerce três funções distintas, mas harmônicas entre si: legislativo, executivo e judiciário.
Essa divisão não é importante apenas no plano da divisão estrutural do Poder Judiciário mas também para a
�xação do órgão competente e para saber qual matéria (normas de direito material e processual) que incidirá
como forma de atuação desses entes. Quanto à atividade jurisdicional do Poder Judiciário (sua função típica), a
Constituição Federal estabelece as denominadas justiças especiais. Essa classi�cação toma como premissa a
natureza da situação jurídica posta em juízo. Dessa forma, tem-se a Justiça do Trabalho (art. 114, CF), a Justiça
Eleitoral (art. 121, CF) e a Justiça Militar (art. 124, CF).
O processo civil atua de forma supletiva e subsidiária nas justiças eleitoral e trabalhista, ou seja, para que o
processo civil seja aplicado a essas justiças, é necessário que haja: a) omissão legislativa na esfera trabalhista
ou eleitoral sobre a norma de processo ou procedimento que se deseja aplicar e b) uma chancela
jurisprudencial, ou seja, a mera omissão legislativa não acarreta aplicação automática, pois será necessária a
autorização, especialmente, dos órgãos responsáveis pelo processamento e julgamento das causas.
Em contraposição a essas hipóteses, por mera exclusão, tem-se a justiça comum, que se encarrega de tutelar
todas as demais situações (litigiosas ou não) que não se abarcam nas situações enumeradas nos referidos
artigos constitucionais.
A justiçacomum é dividida em justiça federal e justiça estadual. Na justiça comum, é possível a divisão
entre jurisdição penal e civil. A jurisdição penal, tanto no âmbito federal como no estadual, atua na previsão,
no processamento, no julgamento e no cumprimento de práticas de crimes em suas mais diferentes espécies.
A jurisdição não penal (federal ou estadual) é denominada jurisdição civil (federal ou estadual). Na jurisdição
civil, adota-se integralmente o Código de Processo Civil e demais legislações processuais correlatas que
possam de certa maneira regulamentar a atividade da justiça comum (v.g., Lei nº 9.289/96, Lei nº 12.016/2009,
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regimentos internos etc.).
A justiça federal é regulamentada pelos arts. 108 e 109 da Constituição Federal, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, que assim dispõem:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I – processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do
Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público
da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da
região;
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz
federal;
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;
e) os con�itos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;
II – julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional;
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5o deste artigo;
VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema �nanceiro e a ordem econômico-�nanceira;
VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;
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É de se ver que, em quase todos os casos, a justiça federal atua quando �gurar como autor, réu ou
interveniente a União Federal e seus entes correlatos.
A justiça estadual possui competência residual e abrange todas as causas que não forem previstas nas
hipóteses dos arts. 108 e 109 da Constituição Federal.
Assim, serão levadas à justiça comum estadual, entre outras, as causas de família, cíveis em geral, tributos
municipais e estaduais, causas entre particulares, causas de direito do consumidor, meio ambiente, direito
empresarial, demandas que envolvam a Fazenda Pública estadual ou municipal (é importante frisar que não
VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar;
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI – a disputa sobre direitos indígenas.
1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.
2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que
for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou
bene�ciários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado,
sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se veri�cada essa
condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas
pela justiça estadual.
4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal
Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a �nalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal
— Someone famous
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há uma “justiça municipal”, de modo que as demandas contra os entes municipais serão propostas na justiça
estadual).
É possível, ainda, no plano estrutural, dividir o Poder Judiciário pelos seus diferentes graus de jurisdição.
Antes de tudo, não se deve baralhar os conceitos de grau de jurisdição e instância.
Instância é termo ligado à organização judiciária, sendo certo que na estrutura do Poder Judiciário existem
órgãos hierarquicamente inferiores e superiores. É um conceito estático, pois se refere à condição do juiz
dentro do sistema organizacional do Estado. Assim, os juízes de primeira instância são aqueles lotados nas
comarcas/seções judiciárias dos fóruns; os desembargadores estão nos Tribunais Regionais e locais, que
funcionam como segunda instância; os ministros dos tribunais superiores exercem suas atividades em
instância especial.
Grau de jurisdição é um conceito dinâmico, pois não é ligado à organização judiciária de forma estática, mas
no contato do Poder Judiciário com a causa. E esse contato (das diversas instâncias) pode variar conforme as
regras de competência estabelecidas em lei. Dessa forma, uma ação de despejo será processada em primeira
instância e em primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com a causa). Aquele que foi
sucumbente poderá interpor recurso de apelação para o segundo grau de jurisdição, na segunda instância.
Mas, nem sempre é assim. Pelas regras de competência previstas no ordenamento, a ação rescisória será
julgada originariamente por um tribunal. Assim, se o tribunal competente for o Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais, por exemplo, a ação será processada na segunda instância (organização judiciária), mas em
primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com aquela causa).
Essa visão vertical do Poder Judiciário decorre da possibilidade de existência de recursos contra as decisões de
primeiro grau para outro órgão hierarquicamentesuperior e da competência originária dos tribunais para
determinadas demandas. Assim, a jurisdição dos tribunais pode ser categorizada da seguinte maneira:
Quadro 1 | Categorização da jurisdição dos tribunais
1ª instância
(Fórum) + juizados especiais
Juízes
Comarcas para a justiça estadual,
seções ou subseções judiciárias
para a justiça federal
2ª instância
(Tribunais e Turmas Recursais)
Desembargadores (juízes nos
casos de juizados especiais)
27 tribunais estaduais e 5 Tribunais
Regionais Federais
Instâncias especiais
(Tribunais Superiores)
Ministros
Superior Tribunal de Justiça e
Supremo Tribunal Federal
Fonte: elaborado pelo autor.
O PROCESSO CIVIL E AS DEMAIS DISCIPLINAS DO DIREITO
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O processo civil, como disciplina instrumental, possui, em diferentes níveis, relação com os demais ramos do
direito. O processo não apenas mantém íntima relação com o direito material (nas mais diversas disciplinas)
como também entre as próprias vertentes processuais. Assim, é possível estabelecer correspondência entre:
• Direito processual do trabalho e direito processual penal:
No plano estrutural, a despeito dos inúmeros ramos do direito material (direito civil, penal, tributário,
previdenciário, constitucional, administrativo, entre outros), é comum estudar apenas três modalidades de
processo: o processo penal, que tutela o direito penal; o processo do trabalho, que tutela o direito do
trabalho; o processo civil, que tutela todas as outras demais disciplinas do direito material.
Cada uma dessas modalidades possui um aglutinado de normas próprias, com seus prazos, seus recursos e
suas diretrizes principiológicas. Contudo, é comum, no plano do processo civil, a doutrina proceder a
subdivisões em “pequenas áreas do processo”, como processo coletivo, processo constitucional, processo
tributário, processo societário, processo do consumidor, entre outros.
Não existe divisão no plano legislativo, já que não há lei que regulamente somente o processo tributário ou o
processo constitucional, por exemplo. Contudo, para �ns didáticos e de modo a auxiliar o operador do direito
(que, por exemplo, atue apenas no denominado “contencioso tributário” ou “contencioso societário”) é que
diversas publicações literárias grupam os artigos ou leis que possam dar um sentido comum a essa disciplina.
É importante saber que a subdivisão não desnatura o fato de que todos esses “processos” fazem parte do
ramo direito processual civil.
Voltando aos processos penal e do trabalho, essas duas disciplinas possuem, em regra, regime processual
próprio. Contudo, o Código de Processo Civil (CPC) constitui fonte subsidiária e supletiva na falta de normas
que regulem, no plano processual, a questão, conforme o art. 15 do CPC: “Na ausência de normas que
regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas
supletiva e subsidiariamente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). No processo do trabalho, há diversos temas que são
tratados exclusivamente pelo processo civil, por exemplo, tutela provisória, ação rescisória, consignação em
pagamento, ação monitória, preliminares de contestação, embargos de terceiro e algumas questões sobre
penhora. No processo penal, apesar de sofrer menor in�uência do processo civil, há diversos temas que são
trazidos para responder a problemas do processo penal. Essa autorização não decorre apenas do já citado art.
15 do CPC, mas do art. 3º do Código de Processo Penal, que é expresso ao dizer que “a lei processual penal
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica” (BRASIL, 1941, [s. p.]). Ademais, há dispositivos do CPP
que expressamente invocam o CPC, como os arts. 139, 362 e 790. Mas, há outras importantes regras do
processo civil que se aplicam ao processo penal, por exemplo: i) a necessidade de estabilidade da
jurisprudência e da vinculação dos juízos aos precedentes (arts. 926 e 927, NCPC); ii) o atendimento ao
contraditório material (art. 10, CPC); iii) a teoria da fundamentação analítica (art. 489, § 1º, CPC); iv) a
perpetuatio jurisdictionis (art. 43, CPP); v) a calendarização processual (art. 191, CPC); vi) o IRDR e assunção de
competência (arts. 976 e 946, CPC). Para realçar o que foi dito aqui, o Enunciado 3 da I Jornada de Direito
Processual Civil (CJF) estabelece: “As disposições do Código de Processo Civil aplicam-se supletiva e
subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei” (BRASIL, 2017,
p. 13).
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• Direito constitucional
Não existe diploma que exerça tanta in�uência sobre o processo civil como a Constituição Federal. Apesar de
desnecessário, o CPC traz expressa essa submissão: “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]).
Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art.
2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos
especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados
“precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a
súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla
incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros
que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e
ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95, CF): vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em
especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix)
regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução
contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC).
• Direito administrativo
Apesar do adjetivo “civil”, o direito processual não serve apenas ao direito civil, mas a todas as matérias de
direito público. Ademais, para os administrativistas, jurisdição voluntária é procedimento administrativo e não
jurisdicional. A regulamentação da execução �scal, da execução contra a Fazenda Pública, das prerrogativas
da Fazenda Pública em juízo e da remessa necessária são pontos de intersecção entre ambas as matérias. Ele
também se presta a fornecer subsídios ao processo administrativo, regulamentado na Lei nº 9.784/99.
• Direito civil e empresarial
O processo civil serve ao direito civil e empresarial em relação de instrumentalidade (ainda que essa
expressão seja criticada por segmentos da doutrina). Especialmente quanto ao direito civil,
 Não obstante a previsão especí�ca de cabimento desse recurso para as matérias não penais no art.
1.027 do CPC.
os procedimentos especiais foram edi�cados com base nas relações privadas de direito material, assim como
existe uma profícua ligação entre ambas as disciplinas no que concerne às provas, desconsideração da
personalidade jurídica, participação dos cônjuges no processo, prescrição e decadência, evicção, penhora,
entre outros.
•  Direito penal
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O direito penal participa da vida do processo civil no plano da ilicitude, seja para regular o tipo de situação
passível de ação rescisória (art. 966, I, CPC – prevaricação corrupçãoe concussão), seja na aplicação dos
crimes de desobediência (art. 330, CP e arts. 403, parágrafo único, 524, § 3º, 529, § 1º, 532, 536, § 3º, e 912, §
1º, CPC). 
VÍDEO RESUMO
Agora, no vídeo, você entenderá as formas de composição de con�itos e sua evolução, a relação do processo
civil com o Poder Judiciário (e toda sua estrutura orgânica) e como o processo civil convive com as demais
áreas do direito. Para isso, já se recomenda a leitura do texto sobre direito processual e direito material, que
será estudado na Aula 4.
 Saiba mais
Leia A crise do Poder Judiciário: os mecanismos alternativos de solução de con�itos como condição de
possibilidade para a garantia do acesso à justiça . Vale muito a pena ler este texto para aprofundamento
dos seus estudos.
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
A presente aula pretende introduzir você a uma análise constitucional e infraconstitucional do acesso à justiça,
entender o conceito de processo e veri�car os seus requisitos necessários, classicamente denominados
“pressupostos processuais”. Esses conceitos não estão previstos em Lei (Código de Processo Civil). 
São extraídos da doutrina e da jurisprudência, sendo conceitos sazonais, ou seja, podem ser alterados de
acordo com a mudança que se tenha sobre o conceito de processo ou pressupostos. 
Aula 2
PROCESSO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 
A presente aula pretende introduzir você a uma análise constitucional e infraconstitucional do acesso à
justiça, entender o conceito de processo e veri�car os seus requisitos necessários, classicamente
denominados “pressupostos processuais”.
42 minutos
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-AJURIS_142.07.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-AJURIS_142.07.pdf
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É importante entender ainda que não há uma unanimidade, em especial, na doutrina, acerca dessas
de�nições. 
Portanto, pretendo trazer a análise mais ampla possível para que você tenha um panorama geral sobre o
tema.
Bons estudos e até breve!
ACESSO À JUSTIÇA 
Quadro 1 | Linhas evolutivas do processo
LINHAS EVOLUTIVAS DO PROCESSO
Fase inicial
Surgimento das primeiras normas processuais e possibilidade de levar as
pretensões a uma autoridade pública.
Processo civil
na fase da
Grécia antiga
Início do estudo do processo civil como ciência independente de questões
religiosas.
Observância do princípio dispositivo e da oralidade.
Processo
civil na fase
do Império
Romano
Desenvolvido em três fases:
1) Período legis actiones: as partes apenas poderiam usar as cinco ações que
estavam previstas em lei para tutelar seus direitos. O procedimento era solene,
não envolvia advogados e era prioritariamente oral. Possuía duas fases distintas: a
primeira perante um juiz, que veri�cava a admissibilidade e �xava o litígio. A outra
perante cidadãos na função de árbitros para prolação da sentença.
2) Período formulário: com a expansão do império, foi necessária a criação de
novos processos e procedimentos. Com isso, permitiu-se ao magistrado
estabelecer fórmulas para que os litígios pudessem ser resolvidos.
3) Período da extraordinária cognitio: nessa fase se aboliram os árbitros privados
para dar lugar a funcionários do Estado. Adotou-se a forma escrita.
Idade Média
A queda do Império Romano gerou um retrocesso na evolução do processo, com
disparidade de entendimentos e forte in�uência da religião sobre o direito.
Houve a fusão dos direitos germânico, romano e canônico, dando origem ao
processo comum.
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Processo civil
no século XIX
Em decorrência do liberalismo, o Estado mínimo preconizado reduziu o poder do
juiz, fortalecendo a liberdade das partes. O legalismo (Estado Legislativo) foi uma
forma de retirar o poder do regime absolutista até então existente. O direito era
exclusivamente o que a lei dizia, e esta, a lei, possuía ampla legitimidade, já que
produzida por autoridade dotada de competência normativa. Para não afrontar
especialmente os princípios da igualdade e da liberdade, as leis deveriam ser
gerais e abstratas, como garantia de isonomia e imparcialidade de quem as
aplicava. O juiz não podia levar em conta peculiaridades ou circunstâncias
diferentes do caso concreto.
Processo civil
no século XX
O juiz voltou a ter amplos poderes em decorrência da visão publicista do processo.
Em decorrência disso, passou a ter permissão para produzir provas sem
provocação e conhecer determinadas matérias em nome do interesse público.
Processo civil
no século XXI
Mantendo a natureza pública do processo, a Constituição Federal passou a exercer
forte in�uência sobre o processo civil (o denominado neoprocessualismo, pós-
positivismo ou neoconstitucionalismo), fortalecendo os princípios constitucionais,
em especial, o do devido processo legal. Essas questões serão mais bem estudadas
infra.
Processo civil
brasileiro
Com a independência do Brasil, as Ordenações Filipinas se mantiveram em vigor
naquilo em que não afrontassem a soberania do governo.
Regulamento nº 737: primeiro Código brasileiro que regulava apenas causas
comerciais (em virtude do advento do Código Comercial de 1850).
Códigos estaduais: em decorrência da legitimidade conferida pela Constituição de
1891, diversos Estados elaboraram seus próprios Códigos de Processo.
CPC/39: projeto de Pedro Batista Martins com forte in�uência dos direitos alemão
e português.
CPC/73: Código estruturado por Alfredo Buzaid com base nos ensinamentos do
professor italiano Enrico Tullio Liebman.
CPC/2015: originado do Projeto Legislativo n. 166/2010, passou, ao longo de sua
tramitação, por uma série de mudanças no Congresso. Foram instituídas diversas
comissões de juristas, além de audiências públicas para o seu resultado �nal, que
se vê analisado nesse Manual.
Fonte: elaborado pelo autor.
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CONCEITO DE PROCESSO
Processo constitui um método de atuação do Poder Judiciário para o exercício das atividades jurisdicionais em
que participam sujeitos interessados com o objetivo de: a) solucionar uma determinada situação jurídica; b)
que o resultado desse processo possa servir de paradigma para a resolução de casos futuros (precedentes).
Em nosso entender, contudo, o desenvolvimento desse método se dá por meio de uma atividade complexa.
Assim, apenas será possível de�nir processo (dentre outros fatores, como será visto), pelo aspecto da relação
jurídica processual entre autor, réu e juiz somado ao procedimento em contraditório.
Explica-se.
O Estado e as partes estão interligados por uma série de vínculos. Esses vínculos conferem às partes o direito/
ônus/dever de praticar atos, pois são titulares de posições jurídicas: é a denominada relação jurídica. Contudo,
a relação jurídica é apenas uma das partes, uma vertente, da de�nição maior que se agrega também ao
procedimento. Dessa forma, processo é uma entidade complexa com a soma da relação jurídica (seu aspecto
intrínseco) com o procedimento (seu aspecto extrínseco).
O procedimento (que liga a petição inicial até a satisfação do processo) é marcado por uma série de posições
jurídicas afetas ao juiz e às partes. Por ser o processo fenômeno eminentemente dinâmico, essas posições são
alteradas conforme os atos que se sucedem ao longo da cadeia procedimental (assim, o réu não pode recusar
a citação, pois constitui uma obrigação, mas, uma vez citado, tem o ônus de se defender, que se encerra
numa faculdade). Dessa, essas relações são dinâmicas não apenas porque o processo avança, mas porque as
posições processuaistendem a mudar ao longo do procedimento com diferentes poderes, ônus, deveres e
faculdades.
Essa sucessão de atos tem previsão legal e guarda, em princípio, uma estrita sequência lógica. Em princípio
porque, a despeito da previsão legal, os atos do processo podem ser alterados em sua ordem original,
podendo ser acrescidos atos até então não existentes, suprimidos atos desnecessários aos objetivos daquele
caso, tudo em atenção à �exibilização procedimental decorrente de convenção processual genericamente
prevista nos arts. 190, 191, 139, IV, 536 e 537 do CPC.
Esses artigos são reforçados pelo inciso VI do art. 139 do CPC, em que poderá o magistrado “dilatar os prazos
processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do con�ito de
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito” (BRASIL, 2015, [s. p.]) e pelo § 2º do art. 437 do CPC:
“Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo para manifestação sobre a prova documental
produzida, levando em consideração a quantidade e a complexidade da documentação” (BRASIL, 2015, [s. p.]).
A existência dos procedimentos especiais não é su�ciente para a aderente e justa prestação da tutela do
direito material. Isso porque essas (importantes) técnicas são criadas à luz do direito material em abstrato. É
necessário, em complemento, municiar as partes e o juiz com instrumentos de adaptação do procedimento
com base no caso concreto. Esse é o motivo da existência dos negócios jurídicos processuais, pois muitas
questões não têm como os sujeitos do processo anteverem e somente será vivenciada com o procedimento in
concreto.
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Assim, de cada fato surge uma posição jurídica, e do próximo ato a ser praticado decorre uma nova posição
jurídica (deveres, poderes, ônus, faculdades) e sucessivamente.
Se olharmos uma hipotética linha do tempo, podemos veri�car que o processo caminha pelo procedimento
(sucessão de atos encadeados logicamente) e para cada ato se exige uma determinada posição jurídica que
vincula uma parte a outra e essas ao juiz (relação jurídica).
Contudo, especialmente pelo redimensionamento do princípio do contraditório à luz do atual CPC, o processo,
como método de trabalho, deve prestigiar a efetiva participação dos sujeitos interessados, que constitui o
núcleo desse princípio.
É até intuitivo: se o procedimento é desenvolvido precipuamente para a atividade das partes e que estas
possam demonstrar a existência do seu direito ou contradireito, elas devem participar do procedimento em
contraditório (arts. 9º e 10, CPC). O contraditório constitui a legitimação do procedimento.
É por isso que aumentam os números de adeptos à teoria do processo como procedimento em contraditório,
havendo quem entenda ser necessário haver do processo “uma visão participativa, policêntrica, por força da
qual juiz e partes constroem, juntos, seu resultado �nal”. (CÂMARA, 2022)
Contudo, acreditamos que falar que o processo constitui procedimento em contraditório é muito mais dizer
que a necessidade de participação das partes decorre do devido processo legal do que propriamente
estabelecer uma de�nição de processo.
Como bem observado por Dinamarco e Lopes (2017),
Assim é que o processo é composto pela relação jurídica e o procedimento (que obrigatoriamente deve ser
exercido em contraditório). Todavia, em tempos atuais, o processo assume um conceito muito mais
abrangente, pois ao conceito exposto se agregam outras características inerentes à sua correta de�nição. 
O processo é um re�exo das atividades exercidas pelos poderes no plano constitucional, em especial, o Poder
Legislativo e o Poder Judiciário. Pelo legislativo, na obrigatoriedade de se traçar a criação de processo (e
procedimentos) que atendam às técnicas de direitos fundamentais processuais (devido processo). Da mesma
forma, os juízes devem estabelecer esse controle constitucional criando negócios jurídicos processuais que
atendam à tutela material de forma mais justa e efetiva; declarando a inconstitucionalidade concreta de
normas que sejam contrárias aos valores previstos na CF; valendo-se de técnicas para permitir a devida
de�nir o processo mediante associação do procedimento ao contraditório ou inserir em
seu conceito a relação jurídica processual são apenas dois modos diferentes de ver a
mesma realidade. São perspectivas diferentes que não distorcem essa realidade nem se
excluem reciprocamente, antes se complementam – uma perspectiva política
representada pela exigência do contraditório e uma perspectiva técnico-processual na
qual se revelam aquelas posições jurídicas ativas e passivas.
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isonomia e prestação adequada da tutela jurisdicional como a concessão de tutela provisória, inversão do
ônus da prova, concessão de medidas executivas atípicas. Juiz não pode apenas “administrar o jogo”, mas
fazer valer as regras processuais e constitucionais para a garantia de um processo justo e équo.
Não se pode confundir processo com autos do processo. Esse é a documentação dos atos do processo de
forma física ou eletrônica. 
Assim, processo é:
Quadro 2 | Autos do processo
Uma relação
jurídica
Envolve ao menos três sujeitos de direito (juiz, autor e réu): conceito estático.
Um procedimento
em contraditório
Constitui um conjunto de atos concatenados para a obtenção da tutela
jurisdicional e com a participação das partes (contraditório e colaboração)
para conferir legitimidade a esse procedimento: conceito dinâmico.
Formador de
norma jurídica
O juiz, por meio do processo, criará a solução (norma) que regulará o caso
concreto.
Criador de
precedentes
(vinculantes ou facultativos)
Pelo processo, o magistrado decide o caso concreto, que poderá (ou deverá,
caso se enquadre no art. 927, I, II e III, CPC) servir de precedente para
aplicação em processos análogos futuros.
UM REFLEXO DAS ATIVIDADES
ESTRUTURANTES DO
LEGISLATIVO E DO JUDICIÁRIO
Os primeiros na criação de leis processuais que atendam aos direitos
fundamentais. O Poder Judiciário na concretização desses direitos
fundamentais dentro do processo, ainda que não haja lei prevendo nesse
sentido ou em sentido contrário.
Fonte: elaborado pelo autor.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
O legislador estabelece a observância de algumas regras necessárias para que o processo exista e se
desenvolva regularmente. A este conjunto de regras �cou convencionado a denominação pressupostos
processuais. Os pressupostos processuais agem como uma espécie de “�ltro”, com o objetivo de impedir a
passagem de pretensões manifestamente infundadas.
Classi�cação dos pressupostos processuais
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O exame destes pressupostos parte da premissa de que sua criação decorre de requisitos voltados a
salvaguardar o interesse das partes. Por isso, a maioria dos pressupostos processuais tem essa função
(como se verá nos casos, por exemplo, da suspeição, da citação e da capacidade postulatória).
Entretanto, há outros pressupostos que visam garantir o correto exercício da atividade jurisdicional (como
o impedimento e a incompetência absoluta). Esses pressupostos são essenciais para a estruturação do
processo e não podem ser desconsiderados, mesmo que não causem prejuízo às partes. Aqui, não se trata de
impor a instrumentalidade das formas ou a primazia do mérito, já que a natureza cogente se sobrepõe.
Classi�cam-se os pressupostos processuais (com base no art. 485, IV e V, CPC) da seguinte maneira:
• Positivos
Pressupostos processuais de existência do processo
Demanda
O art. 2º do CPC disciplina que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso o�cial”
(BRASIL, 2015, [s. p.]).
Sendo a jurisdição inerte, é indispensável que o Estado-juiz sejaprovocado por meio da ação. A ação é
formalizada pela petição inicial. Esta formalização denomina-se “demanda”. Sem demanda, o processo sequer
pode ser considerado juridicamente existente.
Jurisdição
Um dos institutos menos contestados no que tange a ser alçado à categoria de pressuposto processual.
Assim, para que um processo exista juridicamente, deverá ser desenvolvido por órgão investido previamente
de jurisdição, conforme os poderes outorgados pela Constituição Federal (art. 92). Dessa forma, um processo
conduzido por um não juiz é considerado juridicamente inexistente. Importante que se entenda que, para o
preenchimento dos requisitos de existência, basta que o órgão tenha jurisdição, pois a competência, a
despeito de sua importância, constitui pressuposto de desenvolvimento, como se verá infra.
Citação
Certamente, é o instituto que mais causa di�culdades no enquadramento dos pressupostos processuais de
existência. Alguns autores[1] entendem não ser a citação pressuposto processual, e o argumento é de fato
muito coerente: a citação não seria requisito de existência, mas de e�cácia do processo. Sabendo que validade
e e�cácia são fenômenos que se situam em planos distintos. O processo existe desde sua propositura.
Todavia, a citação, em nossa opinião, constitui um pressuposto de existência, já que permite a
triangularização do processo, formalizando a relação jurídica entre Estado-juiz, autor e réu.
Para Bueno (2016, p. 41), a citação – como manifestação clássica do princípio do contraditório – é pressuposto
de existência para o réu. E isso porque “não haveria como conceber um processo juridicamente existente se o
réu não for citado”.
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Essa a�rmação não entra em choque com os arts. 331 e 332 do CPC. Ambos os casos permitem a resolução do
processo sem citar o réu. No primeiro, a resolução se dará sem análise do mérito, já que a petição inicial não
preenche requisitos mínimos de admissibilidade, sendo inviável o prosseguimento da demanda.
No segundo, nas hipóteses previstas na lei, o magistrado já constata que a causa não terá êxito para o autor.
Nos dois casos (resolução por inadmissibilidade ou por improcedência prima facie), é desnecessária a citação.
O que não desnatura a sua imprescindibilidade, aliás, o art. 239 do CPC realça essa condição.
Nestes casos, a celeridade e a efetividade do processo relativizam o rigor do pressuposto. A propósito, o STF já
enfrentou a questão (Pleno, AI-AgR 427.533/RS) e asseverou que a regra é compatível com o modelo
constitucional do processo desde que o réu, ao ser citado (o que somente será possível com o provimento do
recurso de apelação do autor), tenha a possibilidade de levantar toda matéria respeitante ao processo, até
mesmo aquela que levou ao indeferimento da petição inicial.
Portanto, no Brasil, hoje, há quatro correntes bem delineadas:
1. Citação como pressuposto de existência (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Enrico Tullio Liebman, Nelson
Nery e Marcelo Abelha Rodrigues).
2. Citação como pressuposto de existência para o réu (Cassio Scarpinella Bueno).
3. Citação como requisito de validade (Cândido Dinamarco).
4. Citação como condição de e�cácia do processo para o réu (Fredie Didier).
• Pressupostos processuais de desenvolvimento (validade) do processo
Aqui, o processo já existe, mas, a despeito de sua existência, há outros pressupostos necessários ao
desenvolvimento válido e regular do processo.
Petição inicial apta
Não basta a existência da petição inicial (aqui, denominada “demanda”). É necessário que esta petição seja
apta, ou seja, contenha os requisitos essenciais para o seu desenvolvimento.
Todavia, é equívoco asseverar que a aptidão da petição inicial decorre do exato cumprimento do art. 319 do
CPC, pois, do contrário, dever-se-ia a�rmar que a não observância do referido artigo geraria a inaptidão da
petição inicial. Entretanto, a falta de requerimento de provas e do endereço do réu não gera inaptidão da
demanda – a despeito de serem requisitos do art. 319 do CPC.
A de�nição de aptidão se abstrai por exclusão. Assim como a competência, a imparcialidade e a capacidade
são conceitos que somente podem ser formulados produzindo o efeito negativo (incapaz, imparcial,
incompetente). A aptidão ocorre quando não houver a inaptidão – esta, sim, de�nida pela lei (CPC): 
 DINAMARCO, C. Instituições de direito processual civil. São Paulo, SP: Malheiros, 2002. p. 507.[1]
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Assim, se o autor não enquadrar a sua demanda numa das hipóteses-tipo do art. 330, § 1º, por consequência,
sua petição será considerada apta.
Conforme será visto no capítulo de petição inicial (infra) à luz do atual sistema que prestigia a primazia do
mérito e a convalidação dos atos processuais, é possível a�rmar que a inépcia da petição inicial somente
gerará a resolução do processo sem resolução de mérito se e quando a referida invalidade não puder ser
corrigida. Assim, se for possível emendar a petição inicial para “inserir pedido” (inciso I, art. 330), “determinar o
pedido” (inciso II, art. 330), “corrigir a narrativa para adequar a conclusão” (inciso III, art. 330) ou
“compatibilizar os pedidos cumulados” (inciso IV, art. 330), não haverá extinção do feito.
Competência do juízo e imparcialidade do juiz
Não basta que o juiz esteja investido de jurisdição. É necessário que ele também seja competente e imparcial.
A competência, conforme será estudado (infra), é a distribuição aos órgãos judiciários de suas funções e
constitui pressuposto de validade. Há quem defenda que a competência não seria pressuposto processual,
pois a sua decretação importa na remessa dos autos ao juízo competente, e não na resolução do processo
sem análise do mérito, como normalmente ocorre. Contudo, não é a consequência do ato que o caracteriza
como pressuposto processual. A própria lei, em certos casos, opta pela “extinção do processo” nos casos de
competência dos juizados (art. 51, III, da Lei nº 9.099/95). Ademais, se o mérito não poderá ser examinado por
determinado órgão (dada sua incompetência), certamente a sentença ali proferida será inválida, o que
con�rma sua situação de pressuposto.
Sendo a competência pressuposto de validade, a incompetência relativa também seria alcançada? Quando se
fala em competência absoluta, os órgãos jurisdicionais são �xados peremptoriamente pela lei. Já no que se
refere à competência relativa, a despeito de ser previamente prevista em lei, esta mesma lei confere certa
Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:
I – for inepta.
(...)
§ 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:
I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o
pedido genérico;
III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. 
— (BRASIL, 2015, [s. p.])
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margem de liberdade aos litigantes para escolher outro órgão jurisdicional igualmente competente (veja, por
exemplo, a cláusula de eleição de foro diverso daquele em que residem autor e réu, conforme art. 63 do CPC)
[1].
Dessa forma, justamente por depender da manifestação da parte contrária, sob pena de prorrogação com a
consequente convalidação do ato (CPC, art. 65), a competência relativa não pode ser pressuposto de validade
do processo.
Já os vícios de parcialidade – impedimento e suspeição – são vícios de capacidade subjetiva do próprio juiz.
Conforme já exposto, o principal requisito para o julgamento é que seja proferido por um juiz imparcial,
desinteressado na causa e equidistante das partes.
Todavia, existem determinadas situações que podem desviar a convicção do magistrado, por motivos deordem familiar, pessoal ou econômica. Atento a esses casos, o legislador mapeou as situações que podem dar
ensejo a um julgamento maculado. As questões mais graves, a lei denominou hipóteses de impedimento; as
menos graves, suspeição.
Citação válida
Consoante foi ressaltado, a citação é pressuposto de existência do processo. Entretanto, o ato citatório deve
respeitar determinadas regras previstas no CPC em seus arts. 238 e seguintes.
Importante frisar que este pressuposto processual pode ser relativizado pelo princípio da instrumentalidade
das formas. A citação é ato solene, depende de uma série de requisitos previstos em lei. No entanto, se o réu
comparece espontaneamente em juízo, supre a necessidade da citação, pois o ato atingiu, por outra forma, a
sua �nalidade (art. 239, § 1º, do CPC).
Capacidade postulatória
Sabe-se que os atos processuais somente podem ser praticados por quem detenha capacidade de estar em
juízo. Esta capacidade permite à parte litigar no processo sem representação ou assistência. Todavia, esta
capacidade, por si só, é insu�ciente para a atividade forense, já que a postulação em juízo depende de outro
tipo de capacidade conferida somente aos advogados e denominada capacidade postulatória. Consiste na
autorização legal para atuação pro�ssional em juízo do advogado.
Legitimação para o processo
As regras de legitimação para o processo (capacidade processual) serão mais bem desenvolvidas no capítulo
destinado às partes.
Esse é o posicionamento dominante na doutrina (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Ernane Fidélis dos
Santos, Marcelo Abelha Rodrigues).
• Pressupostos negativos
Os pressupostos processuais negativos são aqueles que, como o próprio nome identi�ca, não podem existir
no processo, ao contrário dos positivos, cuja presença se faz obrigatória. Dessa forma, são situações que não
podem ocorrer, sob pena de ser cominado com as consequências impostas pela lei. Em virtude de os
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institutos que compõem os pressupostos negativos serem objeto de estudo ao longo deste Manual, confere-
se apenas uma rápida de�nição, remetendo o leitor aos capítulos correspondentes, que aludem, com mais
profundidade, a cada um desses conceitos.
Perempção
Ocorre perempção quando o autor deixa o processo se extinguir por três vezes sem resolução de mérito, por
abandono da causa pela hipótese do art. 486, § 3º, do CPC. Contudo, a despeito de gerar a impossibilidade de
nova propositura, a alegação de perempção poderá ser utilizada como matéria de defesa mesmo após ter
atingido as três extinções do feito.
Litispendência
Ocorre litispendência quando se distribui uma ação idêntica à que está em curso. Assim, conviveriam
contemporaneamente duas ações com as mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. A segunda
ação proposta não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, V,
CPC).
Coisa julgada
Ocorre coisa julgada quando se distribui uma ação idêntica à outra que já se �ndou. Essa segunda ação possui
os mesmos elementos que a anterior, já julgada (partes, pedido e causa de pedir). Essa segunda ação
proposta igualmente não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485,
V, CPC).
Compromisso arbitral
Compromisso �rmado entre as partes, no qual se estabelece que determinado litígio não corra pelo Poder
Judiciário, mas, sim, pela arbitragem.
Há autores que entendem que o compromisso arbitral (uma espécie da convenção de arbitragem) não seria
pressuposto processual negativo[1], pois o juiz não pode decretar a nulidade de processo judicial em trâmite,
cuja causa deveria correr na arbitragem, como ocorre com a litispendência, a perempção e a coisa julgada.
WAMBIER, T. A. A. Nulidades do processo e da sentença. 4. ed. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 1998. p.
63-64.
VÍDEO RESUMO
Agora, no vídeo, você entenderá como se deu a evolução história do processo para chegar ao conceito de
processo que se tem hoje, a de�nição, ou melhor, as de�nições do processo e o papel que ele assume e, por
�m, os pressupostos processuais, que são os requisitos necessários para que o processo exista e se
desenvolva regularmente.
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
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 Saiba mais
Sobre o Juízo de Admissibilidade, vale muito a pena ler o seguinte texto para aprofundamento dos seus
estudos sobre pressupostos processuais:
• https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/207/edicao-2/juizo-de-admissibilidade
INTRODUÇÃO
A compreensão sobre as formas de composição de con�ito e sua evolução história ajuda a entender o estágio
de nossa sociedade, onde estamos e as ferramentas que o operador do direito terá para a resolução dos
diversos con�itos que possam surgir.
Ao �nal dos estudos, haverá a devida compreensão de que não se pode fazer a denominada “justiça com as
próprias mãos” para resolver as questões pendentes de solução e que o sistema nos confere instrumentos
hábeis e e�cazes para resolver os direitos, sejam eles individuais ou coletivos.
É sempre muito importante fazer o devido aprofundamento e a detida compreensão desse tema.
Bons estudos!
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O PROCESSO
Apesar de os códigos de processo civil brasileiros, ao longo da história, conviverem com as constituições
vigentes, foi apenas a partir da CF/88 que se reconheceu sua verdadeira força normativa. Isso se re�ete no art.
1º do CPC, que estabelece: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e
as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as
disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Em consequência desse reconhecimento, o sistema
processual brasileiro passou a: adotar os princípios como importante fonte do direito, reconhecendo sua
categoria de norma jurídica; reconhecer a análise da funcionalidade do processo para concretizar os direitos
fundamentais, como o direito à saúde (art. 196, CF), e a autoaplicação desses direitos fundamentais (art. 5º, §
Aula 3
ACESSO À JUSTIÇA E MODOS ADEQUADOS DE
COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS
Conhecer e aplicar conceitos básicos de con�ito, formas de resolução e atividade jurisdicional.
45 minutos
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1º, CF); promover a ampla expansão da jurisdição constitucional, em especial, com o controle de
constitucionalidade (concentrado e difuso); mostrar que a CF serve para preencher os “buracos” deixados pelo
processualista, especialmente na fase cientí�ca.
Isso é o que a doutrina denomina como neoprocessualismo, pós-positivismo ou neoconstitucionalismo.
Portanto, houve um fortalecimento dos princípios constitucionais, em especial, o do devido processo legal, do
qual se constatou a notória di�culdade de a lei regular tudo, somado às novas técnicas de produção legislativa
(cláusulas gerais e normas de conceito vago e indeterminado), bem como à complexidade dos fenômenos
sociais, à adoção dos princípios como norma, à vinculação aos precedentes e à categorização da
jurisprudência como fonte primária do direito. Dessa forma, não apenas analisa o conteúdo da norma em si
considerada como (e principalmente) também analisa sua incidência sob o enfoque (�ltragem) constitucional.
Assim, compete ao Judiciário aplicar, precipuamente, o ordenamento jurídico (CPC, art. 140). A lei deve sempre
ser interpretada de acordo com a Constituição Federal. Caso o juiz, por exemplo, encontre mais de uma
solução para o caso concreto, deve escolher aquela mais rente ao interesse disciplinado na CF. Assim, se um
texto de lei der margem a várias interpretações,o juiz não deve valer-se de sua convicção pessoal, mas fazer
uso da técnica interpretação de acordo com a CF.
Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art.
2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos
especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados
“precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a
súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla
incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros
que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e
ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95 da CF): vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em
especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix)
regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução
contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC).
A Constituição, em sua função de tutelar o ordenamento, estabelece as diretrizes e os contornos da vida do
processo. Não apenas enunciando os princípios a serem seguidos, mas na estruturação do Poder Judiciário,
na �xação de competência, na previsão de determinados recursos e medidas judiciais, entre outros. No
entanto, essa função constitucional não se dá apenas de cima para baixo, ou seja, não apenas a Constituição
alimentará o processo com regras, princípios e diretrizes. O vetor pode ser visto pelo outro lado: o processo
poderá mudar as características da Constituição.
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ARBITRAGEM
Constitui mecanismo de heterocomposição, pois é uma forma de solução de con�itos, em que as partes em
litígio buscam numa terceira pessoa de sua con�ança uma solução para a questão. Apesar de ser de con�ança
das partes, é equidistante delas. Importante asseverar que não há nenhuma inconstitucionalidade na
arbitragem que constitui modalidade facultativa. O Supremo Tribunal Federal, em 2001, reconheceu a
autonomia das partes para eleger a arbitragem como forma de composição de con�itos e não ofende o art. 5º,
XXXV, da CF (inafastabilidade da jurisdição). Tanto não ofende que o próprio art. 3º do CPC, que reproduz
quase que �elmente o texto constitucional, estabelece no seu § 1º que “é permitida a arbitragem, na forma da
lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]).
Assim, é equiparado aos funcionários públicos e juízes no exercício de suas funções para efeitos da legislação
penal (art. 17, Lei nº 9.307/96), o árbitro é também considerado “juiz de fato e de direito, e a sentença que
proferir não �ca sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário” (art. 18, Lei nº 9.307/96) e “no
desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência,
diligência e discrição” (art. 13, § 6º, Lei nº 9.307/96) (BRASIL, 1996, [s. p.]).
O árbitro, não obstante, não possui poder estatal, já que não é agente público, profere decisão que vincula as
partes e forma-se título executivo judicial (art. 515, VII, CPC).
Dessa forma, profere decisão que tem força imperativa entre as partes, mas, se não cumprida, é necessário
levar ao Poder Judiciário, pois o árbitro não pode coagir as partes ao cumprimento da sentença, tampouco
praticar atos materiais, como penhora e expropriação. Igualmente, pelo mesmo fundamento, não possui
poder para permitir a imissão na posse de imóvel. Assim, “Contrato de locação. Cláusula compromissória.
Ação de despejo por falta de pagamento. Imissão na posse pelo abandono do imóvel. Submissão da questão
ao juízo arbitral. Impossibilidade. Natureza executória da pretensão. Poder coercitivo direto. Matéria atinente
ao juízo togado” (REsp 1.481.644-SP). Não se admite arbitragem em causas penais e, desde a Emenda
Constitucional nº 45, há previsão da arbitragem no campo trabalhista (CF, art. 114, § 2º). Conforme dito, vem
expressamente regulada como forma de composição de con�itos no CPC, em seu art. 3º, § 1º.
No Brasil, há duas correntes acerca da natureza jurídica da arbitragem. A primeira corrente defende que a
arbitragem constitui um equivalente jurisdicional, pois representa mais uma forma de heterocomposição ao
lado da jurisdição. Ademais, ao escolher a arbitragem, renuncia-se à jurisdição; a jurisdição exige agente
público (juiz) aprovado em concurso (art. 93, I, da CF), que constitui um poder indelegável, o que não ocorre na
arbitragem; na arbitragem, não existe a regra do juiz natural; o árbitro não pode executar suas sentenças; não
pode ser jurisdição, pois as decisões do árbitro podem ser controladas pelo Poder Judiciário; por �m, a
arbitragem apenas se aplica a uma classe especí�ca de causas (direitos patrimoniais disponíveis), restringindo
demais essa atividade. É posição defendida por Humberto Theodoro Júnior, Luiz Guilherme Marinoni e Cassio
Scarpinella Bueno.
A segunda corrente defende que arbitragem é jurisdição (Carlos Alberto Carmona, Fredie Didier e Joel Dias
Figueira Jr.). Para essa corrente, a arbitragem seria uma jurisdição privada (ao lado da jurisdição estatal). Isso
porque: a sentença arbitral tem força própria, não precisando de homologação da jurisdição estatal para que
gere sua vinculação; ademais, é apta a formar coisa julgada, somente podendo ser alterada se a parte
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interessada pleitear ao Poder Judiciário sua nulidade nos casos previstos em lei (arts. 32 e 33, Lei nº 9.307/96);
a Lei de Arbitragem prevê a garantia da imparcialidade, tal qual na jurisdição estatal; o fato de não poder
executar suas sentenças constitui um caso de incompetência, e não de falta de jurisdição (vide a execução da
sentença penal condenatória que será no cível e inegavelmente é atividade jurisdicional).
Acreditamos que a primeira corrente é a mais acertada. O CPC aparentemente também a adotou, conforme
se veri�ca do § 1º do art. 3º, que coloca a arbitragem como uma exceção à inafastabilidade da jurisdição.
Ademais, o art. 42 também apresenta a arbitragem em outro plano ao estabelecer que “as causas cíveis serão
processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir
juízo arbitral, na forma da lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]).
Apesar da tentativa de equiparação, árbitro e juiz de�nitivamente não se confundem. Em comum, apenas a
necessidade de ser terceiro imparcial (art. 21, § 2º, da Lei nº 9.307/96) para a solução do con�ito. Aliás, no
tocante à sua imparcialidade, o art. 14, § 1º, da Lei nº 9.307/96 estabelece que “as pessoas indicadas para
funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote
dúvida justi�cada quanto à sua imparcialidade e independência” (BRASIL, 1996, [s. p.]). Dessa forma, as regras
de impedimento e suspeição se aplicam ao árbitro com muito mais rigor. No Poder Judiciário, é necessário
provar a parcialidade do juízo. Na arbitragem, como a relação é de con�ança (art. 13, da Lei nº 9.307/96), a
mera descon�ança de uma das partes sobre o terceiro já gera o afastamento do árbitro.
O árbitro não se submete às regras de competência (e, consequentemente, do juiz natural), sendo escolhido
direta e aleatoriamente pelas partes.
Está sendo remunerado especi�camente para atender àquele processo (que poderia ter recusado), ao
contrário do juiz, que deve cuidar de diversos processos e, emdecorrência de sua função pública, não pode
delegá-los ou recusar o seu processamento.
A arbitragem é regulamentada no Brasil pela Lei nº 9.307/96, e agora com as substanciais alterações trazidas
pela Lei nº 13.129/2015. Pode ser constituída por meio de negócio jurídico denominado convenção de
arbitragem, que, nos termos do art. 3º da lei, pode ser tanto:
Regramento da arbitragem no Brasil
1.  Disponibilidade da norma substancial a ser escolhida no caso concreto (art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei de
Arbitragem). Assim, direitos indisponíveis não podem ser submetidos à arbitragem.
– Cláusula compromissória – convenção contratual em que as partes resolvem que as
divergências do negócio jurídico serão solucionadas pela arbitragem;
– Compromisso arbitral – aqui o litígio já existe e as partes decidem, de comum acordo,
submeter a solução desse con�ito para a arbitragem. 
— (BRASIL, 1996, [s. p.])
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2.  Para a arbitragem, o árbitro deve ser pessoa física e possuir capacidade. O árbitro enverga a condição de
juiz, sendo equiparado aos servidores públicos para efeitos penais, conforme dito.
3.  A sentença arbitral não precisa ser homologada, pois possui autonomia e�cacial, produzindo efeitos no
momento de sua prolação. Assim, tal qual a sentença proferida pelo Poder Judiciário, a sentença arbitral
constitui espécie de título executivo judicial (art. 515, VII, CPC). Contudo, a despeito de o árbitro decidir, por
não possuir poder de constrição, não tem jurisdição para tomar nenhuma providência executiva.
4.  É possível a arbitragem com o Poder Público (art. 1º, §§ 1º e 2º, da LArb), desde que seja para discutir
direitos patrimoniais disponíveis e a autoridade pública que celebrar a convenção deve seja a mesma para
realizar acordos ou convenções.
5.  A sentença arbitral poderá ser revista pelo Poder Judiciário, não no tocante ao mérito (a decisão do árbitro
é soberana), mas no tocante a aspectos formais (arts. 32 e 33 da LARb):
Assim, pode-se acentuar como principais diferenças:
Art. 32. É nula a sentença arbitral se: 
I – for nula a convenção de arbitragem; 
II – emanou de quem não podia ser árbitro; 
III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; 
IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; 
VI – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; 
VII – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e 
VIII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2o, desta Lei.
Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a
declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei. 
§ 1º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou �nal,
seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), e deverá ser proposta no prazo de até 90 (noventa) dias
após o recebimento da noti�cação da respectiva sentença, parcial ou �nal, ou da decisão
do pedido de esclarecimentos. 
§ 2º A sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença arbitral,
nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal pro�ra nova
sentença arbitral. 
— (BRASIL, 1996, [s. p.])
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Quadro 1 | Diferenças entre jurisdição e arbitragem
JURISDIÇÃO ARBITRAGEM
É estatal É arbitral
É permanente É transitória
Decorre de lei Decorre da convenção das partes
Versa sobre direitos disponíveis ou
indisponíveis
Apenas sobre direitos disponíveis
Postulam pessoas capazes ou incapazes Postulam somente pessoas capazes
A sentença jurisdicional será executada no
Judiciário
A sentença arbitral não pode ser executada perante o
árbitro ou câmara arbitral
A decisão jurisdicional faz coisa julgada
admitindo ação rescisória (art. 966, CPC) no
prazo de 2 anos
A decisão arbitral faz coisa julgada admitindo ação
anulatória no prazo de 90 dias (art. 32 da LARb)
Fonte: elaborada pelo autor.
A Lei nº 13.129/2015 traz importantes novidades à Lei de Arbitragem, como: a possibilidade de utilização da
arbitragem pela administração direta ou indireta, quando o objeto for direitos patrimoniais disponíveis; a
interrupção da prescrição retroagindo à data de seu requerimento de instituição; as medidas cautelares
antecedentes à instituição da arbitragem; a utilização da nomenclatura “sentenças parciais” conforme o art.
23, § 1º.
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
In�uenciado pela Resolução nº 125/10, que estabelece a “Política Judiciária Nacional de tratamento adequado
dos con�itos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”, o CPC atual estabeleceu, em seus arts. 165 a 175, o
regramento mínimo conferido à mediação e à conciliação, bem como a atuação do conciliador e do mediador
nesses casos. O CPC de�nitivamente ingressa na tentativa de incentivar as técnicas de autocomposição para
desafogar o excessivo número de demandas que trafegam no Judiciário. Está entre os poderes do magistrado
no processo (art. 139, V, CPC).
Apenas para se ter uma ideia, em 2013, o Brasil contava com, aproximadamente, 200 milhões de processos
(praticamente uma causa para cada brasileiro). O número de juízes existentes é �sicamente incompatível com
a escala industrial das causas que surgem todos os dias no Judiciário.
Alguns autores defendem que a conciliação e a mediação não constituem “formas alternativas” de composição
de con�ito, mas, meios adequados para esse �m.
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A conciliação se diferencia da mediação. Na conciliação, existe uma atuação mais efetiva do terceiro, que pode
propor soluções para a resolução do con�ito. Atua, preferencialmente, nos casos em que não havia prévio
vínculo jurídico entre as partes (CPC, art. 165, § 2º), como nos casos de acidente de carro ou propaganda
enganosa, em que a relação entre as partes se deu exatamente no momento que gerou a situação litigiosa. Já
na mediação, a participação do terceiro é mais reservada. Sua atividade se limita a instruir as partes para
auxiliar no objeto do litígio e para que se estabeleça um diálogo, a �m de lograr a autocomposição. O
mediador não faz proposta de acordo; deve deixar as próprias partes chegarem a esse desiderato. Isso
decorre do fato de ele atuar em casos em que já exista prévia relação jurídica entre as partes (CPC, art. 165,
§ 3º), como nas relações contratuais ou nas relações envolvendo direito de família (daquilo que for objeto de
disponibilidade).
Assim, a atuação do conciliador é mais intensa, pois este apresenta potenciais soluções para o litígio,
enquanto na mediação apenas se abre o caminho para a comunicação entre as partes.
É possível que haja conciliação ou mediação parcial que verse apenas sobre um fragmento do con�ito, e as
demais, possivelmente, são levadas ao Poder Judiciário.
O conciliador e o mediador devem preencher o requisito de capacitação mínima em curso a ser realizado por
entidade credenciada a ser de�nida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério da Justiça. Esse
curso permite ao mediador e ao conciliador procederem à inscrição no cadastro nacional e no cadastro dos
tribunais regionais. Posteriormente, o Tribunal remeterá os dados do conciliador ou mediador para o foro da
comarca, a �m de que conste de lista a participar das atividades de autocomposição naquele local. A escolha
do mediador e do conciliador será realizada de forma aleatória e alternada, tal qual na distribuição de uma
causa.
É possível, ainda, as partes, por negócio jurídico processual, escolherem o conciliador/mediador ou a câmara
privada para julgamento, independentemente de estar cadastrado ou não no tribunal.
Se o conciliador/mediadorfor advogado, estará impedido de exercer essa função na comarca em que atuar.
Igualmente, nos casos de impedimento do próprio conciliador ou mediador (por exemplo, parente de uma
das partes no processo), este deverá comunicar e devolver os autos ao juiz do processo ou coordenador do
CEJUSC para nova distribuição. Ademais, o art. 172 do CPC estabelece que “O conciliador e o mediador �cam
impedidos, pelo prazo de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de assessorar,
representar ou patrocinar qualquer das partes” (BRASIL, 2015, [s. p.]).
O conciliador e o mediador, salvo nas hipóteses do art. 167, § 6º, do CPC, receberão remuneração conforme
tabela do tribunal correspondente, parametrizada pelo Conselho Nacional de Justiça.
Se o conciliador ou mediador estiver temporariamente indisponível, deve comunicar o fato ao Centro
Judiciário de Solução de Con�itos e Cidadania (CEJUSC), para não receber, nesse período, novas distribuições.
Por �m, será excluído do cadastro o mediador ou conciliador, sem prejuízo do processo administrativo, que:
agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou mediação sob sua responsabilidade ou violar qualquer
dos deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º; atuar em procedimento de mediação ou conciliação apesar de
impedido ou suspeito. Ademais, de acordo com o art. 173, § 2º, CPC,
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Posteriormente, foi editada a Lei nº 13.140/15, que regulamenta a mediação entre particulares e no âmbito da
administração pública, o que gerou, como se verá, uma contradição com algumas disposições do diploma
processual.
Para melhor cumprir a função de meios adequados à autocomposição, à conciliação e à mediação, o CPC atual
didaticamente estabeleceu (assim como o art. 1º do Anexo III da Resolução nº 125, que dispõe sobre o Código
de Ética dos Conciliadores e Mediadores) princípios que norteiam as atividades para fomentar a
autocomposição entre as partes, bem como limitam a atividade dos terceiros. O art. 166 refere-se aos
princípios da independência, imparcialidade, autonomia da vontade, con�dencialidade, oralidade,
informalidade e decisão informada.
• Independência: a independência constitui um dos principais pilares da condição de conciliador ou
mediador. Ao contrário da magistratura, em que há elementos objetivos para a garantia de sua independência
(inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos – art. 95 da CF). No tocante aos terceiros,
tem-se apenas um mandamento genérico. Assim: “dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão
interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as condições
necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível”
(BRASIL, 2010, [s. p.]).
• Imparcialidade: o inciso IV do referido artigo assevera: “dever de agir com ausência de favoritismo,
preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não inter�ram no resultado do
trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no con�ito e jamais aceitando qualquer espécie de favor
ou presente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Esse controle é feito pelo próprio terceiro e deverá recusar-se a atuar
quando se encontre em alguma situação de suspeição e impedimento (art. 148, II e III, CPC), nada impedindo
que as partes também aleguem. Ademais, não poderá o mediador ou conciliador atuar como assessor técnico
das partes ou na forma de “advogado”, a �m de que se mantenha a sua equidistância em relação às partes.
• Autonomia da vontade: como a conciliação e a mediação consistem em mecanismos de autocomposição, é
natural que o resultado desse acordo decorra da vontade soberana das partes. Assim, são vedadas pressões
externas para que o acordo seja formalizado deste ou daquele jeito. As partes têm preferência na forma como
o negócio jurídico será estabelecido. Evidente que essa autonomia de vontade sofre restrições: quando o
acordo for resultante de violação à ordem pública ou às leis vigentes (que constitui outro princípio, de acordo
com o Anexo III da Resolução nº 125), por incapacidade das partes ou quando o acordo decorrer de algum
vício, como erro, dolo, lesão, coação, estado de perigo ou fraude.
O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e mediação, se houver,
veri�cando atuação inadequada do mediador ou conciliador, poderá afastá-lo de suas
atividades por até 180 (cento e oitenta) dias, por decisão fundamentada, informando o fato
imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo processo administrativo.
— (BRASIL, 2015, [s. p.])
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A autonomia se aplica igualmente às regras procedimentais necessárias à autocomposição (art. 166, § 4º,
CPC). A autonomia de vontade se aplica até mesmo na possibilidade de as partes escolherem, de comum
acordo, o conciliador, mediador ou mesmo a câmara privada destinada a esse �m (art. 168, CPC). Não é
sequer necessário que esse conciliador/mediador esteja previamente cadastrado no tribunal.
• Con�dencialidade: a con�dencialidade não se refere especi�camente ao sigilo das informações
apresentadas em audiência, mas especialmente à incomunicabilidade entre a audiência de conciliação ou
mediação e o processo judicial. O que vale dizer: aquilo que se diz em audiência de autocomposição não
poderá ser usado pelas partes futuramente no processo judicial contra a outra. Isso tem por �nalidade deixar
as partes mais livres para apresentar à mesa de negociação todos os elementos possíveis para a tentativa de
costurar um acordo. Se as informações pudessem ser utilizadas no Judiciário, certamente as partes não
abririam tantas informações com medo de se prejudicarem caso o acordo restasse infrutífero. A
con�dencialidade alcança não apenas as partes, mas os advogados e o terceiro imparcial que preside a
audiência e seus auxiliares (art. 166, § 2º, CPC). Dessa forma, não poderá a parte no Poder Judiciário alegar
que a outra parte admitiu o acidente ou que confessou o inadimplemento em audiência de autocomposição
de mediação ou conciliação. Contudo, as provas documentais descobertas em audiência poderão ser
produzidas no procedimento judicial e não estão acobertadas pelo manto da con�dencialidade. Explica-se: a
incomunicabilidade entre conciliação/mediação e processo judicial poderá fazer com que as partes criem a
estratégia de alegar absolutamente tudo que as desabone nessas audiências, para que nada possa ser
utilizado em fase de instrução de procedimento judicial.
• Oralidade: o princípio da oralidade se opõe à documentação dos atos. Consiste, na prevalência da palavra
como forma de expressão, imediação da relação entre o juiz e as partes, permanência subjetiva do juiz na
instrução do processo, concentração do procedimento. A oralidade, além das vantagens enumeradas, tem por
pressuposto especí�co guardar a con�dencialidade, na medida em que os depoimentos não serão
consignados em ata.
• Informalidade: até mesmo para facilitar a autocomposição, não há solenidade ou forma especí�ca para que
se realize a mediação ou conciliação. O terceiro terá a possibilidade de conduzir da melhor maneira que lhe
aprouver, atentando aos demais princípios de modo a facilitar o acordo. Não há tipicidade de conduta.
• Decisão informada: é fundamental que os mediadores e conciliadores informem as partes sobre as
consequências do acordo e seus efeitos jurídicos. Assim, o inciso II estabelece que o terceiro tem o “dever de
manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está
inserido” (BRASIL, 2010, [s. p.]).
VÍDEO RESUMO
Agora, no vídeo, você entenderá como se deu a denominada constitucionalização do processo (incidência da
Constituição Federal no Código de Processo Civil e leis extravagantes),

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