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TEORIA CONSTITUCIONAL DO PROCESSO

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TEORIA CONSTITUCIONAL DO PROCESSO 
 
CONCEITOS DE JURISDIÇÃO, AÇÃO E PROCESSO – AULA 1 
1 INTRODUÇÃO 
O Direito por ser uma ferramenta de viabilização da vida em sociedade procura acompanhar as 
mudanças que a sociedade sofre, para que os efeitos produzidos sejam considerados validos e 
sirvam de norte para o bem comum. 
Considerando a dinâmica da sociedade e desta forma do Direito, estamos caminhando nas vias do 
processo moderno, e este se encontra alicerçado sobre três institutos básicos: A jurisdição, a ação e 
o processo, e este trabalho tem como objetivo máximo demonstrar a relação entre estes três 
institutos. 
2 OS TRES PILARES BASICOS DA RELAÇÃO PROCESSUAL JURIDICA 
2.1 AÇÃO 
A ação ocupa hoje, de um modo geral, o centro da teoria do processo. 
A Ação é a responsável pela provocação do Estado, convidando-o a participar da relação jurídica 
como atividade concebida. É o necessário para geração da força propulsora necessária ao sistema. 
Ação pode ser definida como “direito ao exercício da atividade jurisdicional, ou o poder de exigir esse 
exercício. Mediante o exercício da ação provoca-se a jurisdição que por sua vez se exerce através 
daquele complexo de atos que é o processo”[1] 
Característica da Ação é o seu dinamismo, a exemplo do processo e diferente da Jurisdição. 
2.2 JURISDIÇÃO 
A Jurisdição possui função bem definida e age de forma harmônica com as demais funções básicas 
da relação processual jurídica. 
A jurisdição é função exclusiva do Estado que por meio de provocação (concebida pela Ação) 
conforme já verificado, faz com que todo o sistema atue e o Direito produza resultados. 
É característica da Jurisdição ser estática até mesmo como forma de garantir estabilidade e isonomia 
a sociedade. 
Outras características determinates da Jurisdição são a substutividade, imperatividade, 
imutabilidade inafastabilidade, indelegabilidade e inércia. 
A doutrina afirma que “a jurisdição é o poder que toca ao Estado, entre as suas atividades 
soberanas, de formular e fazer atuar praticamente a regra jurídica concreta que, por forca do direito 
vigente, disciplina determinada situação jurídica”.[2] 
2.3 PROCESSO 
O processo é o instrumento responsável por realizar todos os procedimentos necessários desde o 
momento da provocação inicial, ação, e a efetiva prestação da tutela, favorável ou não ao autor. 
Bem aponta a doutrina que “o processo é, na realidade, a fonte da relação jurídica processual, a sua 
gênese. São, por assim dizer, dois momentos diversos: o processo (categoria autônoma de direito já 
conceituada acima) e a relação jurídica que vincula os sujeitos que intervêm no processo”. [3] 
3 CONCLUSÃO 
Considerando os apontamentos básicos dos três pilares da relação processual jurídica, torna-se 
possível verificar que o Estado constitucional possui o dever de resguardar direitos fundamentais da 
sociedade como um todo, seja através de suas normas, seja através da jurisdição. 
A Jurisdição no Estado Contemporâneo passa a ter o dever de proteger todas as espécies de direitos 
e desta forma se torna evidente que a função do juiz, muito mais do que ser um operador do 
sistema de aplicação da lei, tem o dever de compreendê-la e atribuindo sentido e valor a lide. 
Todo o processo de ampliação da Jurisdição possui como pedra angular a real compreensão dos 
direitos fundamentais reais de nossa sociedade. Ocorre que diante de uma banalização do sistema 
judiciário como presenciamos na atualidade, parece que se perdeu o que realmente são os 
verdadeiros direitos fundamentais. 
Não é possível se falar em Direito de Ação sem se considerar Direitos Fundamentais, Em nosso 
ordenamento jurídico a necessidade de proteção a esta classe de Direitos mais do que importantes é 
vital. E mesmo sabedores desta necessidade, nossos legisladores em uma necessidade quase que 
incontrolável, insistem em não agir da forma que o deveriam, protegendo o que é considerado 
básico para que uma sociedade possa se desenvolver de maneira menos injusta. 
Neste ponto, possuem os magistrados função mais do que importante, pois onde for constatada a 
ausência de lei, para a proteção de um direito fundamental, configura lacuna legal, que o juiz pode e 
deve suprir, no caso concreto, na forma da Lei de Introdução ao Código Civil.[4] 
Considerando que diante de uma serie de inconsistências, indecisões e uma crise de identidade, 
aquilo que deveria ser realizado de forma sistemática, direta e repleta de consciência do justo acaba 
por se revelar em uma busca por implementar vários processos, pois parece ser mais cômodo agir 
implementando uma serie de processos ao invés de agir de forma simples e direta, visando 
realmente resolver lides. 
Na atualidade e considerando a sistemática jurídica, o processo é concebido no momento em que 
determinada pessoa decide recorrer ao poder judiciário para buscar uma tutela jurisdicional. 
De forma mais profunda, é possível cogitar que o processo surge no momento em que determinada 
pessoa tem a violação de seu direito, pois passaria a recolher indícios, provas e outros elementos 
subjetivos e objetivos para recorrer ao poder judiciário. 
Percebe-se que o papel do magistrado atualmente (e desde sempre) dentro da sistemática 
processual é importante para a consolidação do Estado Democrático de Direito. De todo é verdade, 
contudo fica o seguinte questionamento: Possuem os magistrados de nosso pais o real interesse de 
representar o papel de representante imparcial do Estado movidos pelos princípios, objetivos e 
valores inscritos na Constituição de 88? 
 A formação extremamente legalista de grande parte dos magistrados brasileiros que se preocupam 
mais em dar uma resposta para a sociedade (ou Estado) ou realizar a aplicação do fato à norma, sem 
o devido acompanhamento da evolução do Direito, e quiçá a sociedade. 
É estranho presenciar discursos na área acadêmica de notáveis representantes da Magistratura que 
pregam pelo ativismo judicial quando, lamentavelmente, o que mais se verifica é justamente 
práticas contrárias ao que professam. 
Entretanto, apesar dessa infeliz tendência, não se pode jamais perder de vista o fundamental papel 
do juiz no processo. 
Isto porque a construção da verdade e, consequentemente, a concretização da paz social dentro do 
processo civil necessita, impreterivelmente da efetiva atuação do magistrado. 
 
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS – AULA 2 E 3 
Devido Processo Legal (Art. 5, LIV, CF) 
É conhecido também pela expressão due process of law. Conforme o inciso LIV. do Art. 5° da 
Constituição Federal: 
Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.” 
É a garantia ao cidadão de um processo justo sem qualquer tipo de abuso e ilegalidade. 
Princípio da Igualdade/Isonomia (Art. 5, caput, CF) 
Esse princípio leciona a igualdade de tratamento para as partes no âmbito da relação jurídica 
processual para que, dessa forma, tenham as mesmas oportunidades para apresentar suas razões. 
Princípio da Duração Razoável do Processo ou Celeridade (Art. 5, LXXVIII, CF) 
A marcha processual precisa ter início, meio e fim. As partes têm direito a uma prestação 
jurisdicional célere e eficiente, com razoabilidade e proporcionalidade, de modo a não comprometer 
o contraditório e a ampla defesa. 
Princípio da Ampla Defesa (Art. 5, LV, CF) 
A ampla defesa está correlacionada ao exercício do contraditório, pois a partir dele é que as partes 
poderão se valer de mecanismos legais e probatórios para se defenderem na relação processual. 
Princípio do Contraditório (Art. 5, LV, CRFB) 
O contraditório precede a ampla defesa, pois ela só pode ser exercida de forma ampla quando 
democraticamente se é cientificado dos eventos do processo. 
O art. 9 do CPC dispõe que não será proferida decisão contra uma das partes sem que ela seja 
previamente ouvida. Já o art. 10 do CPC proíbe o juiz de decidir, em qualquer grau de jurisdição, sob 
fundamento sobre o qual nãose tenha dado às partes oportunidade de se manifestarem, mesmo 
que se trate de matéria que ele deva decidir de ofício. 
Princípio da Imparcialidade do Juiz e do Juiz Natural (Art. 5, XXXVII e LIII, CF) 
A imparcialidade do Agente estatal incumbido de dizer o direito no caso concreto é pressuposto 
fundamental para o desenvolvimento de uma relação processual válida. O art. 37 da Constituição 
Federal dispõe que a impessoalidade é dever dos agentes estatais. 
Em relação ao princípio do juiz natural, os órgãos julgadores são investidos de Jurisdição a partir das 
Constituições e das leis a fim de representarem o Estado nas lides que lhes são apresentadas. 
Princípio da Inércia e da Demanda (ou Princípio dispositivo) (Art. 312 do CPC e Art. 2 CPC) 
Em regra, o Juiz não age de ofício. A jurisdição precisa ser provocada para que o processo se 
desenvolva por impulso oficial do Estado. 
Hoje, entretanto, se fala bastante em ativismo judicial, onde o Juiz muitas vezes deve agir de ofício 
com o fito de dar efetividade ao processo. 
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição 
Proporciona a possibilidade de revisão das causas já julgadas pelo juiz na primeira instância ou juiz 
de primeiro grau, garantindo assim um novo julgamento dos órgãos de segunda instância, salvo nas 
hipóteses de julgamento originário pelos Tribunais de segundo grau. 
Princípio da Economia Processual 
O princípio da economia processual visa a prática de atos processuais sem o menor gasto possível, 
seja econômico e de pessoal. Um exemplo de aplicação do princípio é quando há uma reunião de 
processos nos casos de conexão (art. 58 CPC). 
Princípio da Publicidade 
A publicidade dos atos processuais assegura a aplicação correta da justiça e também é um dos 
princípios basilares da administração pública como um todo (art. 37, CF). Os atos sempre serão 
publicados, exceto quando afetarem a intimidade ou o interesse social (Art.5, LX, CF; art. 189, CPC). 
Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional: Art. 5, XXXV, CF) 
Em síntese, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional garante o acesso à justiça, bem 
como a uma prestação jurisdicional efetiva. 
Princípio da Indeclinabilidade 
O juiz não pode declinar do seu ofício/função, ou seja, não pode se recusar a julgar. 
Princípio da Indelegabilidade 
A jurisdição não pode ser delegada, ou seja, transferida a outro órgão/pessoa. 
Princípio da Inevitabilidade 
A jurisdição não pode ser evitada pelas partes. O processo não pode ser ignorado. 
Princípio da Lealdade Processual ou da boa-fé Processual 
Pelo princípio da lealdade processual fica vedado às partes que abusem de seus direitos na relação 
processual, pois deve-se manter uma postura de probidade e de ética na lide. 
Princípio da Motivação das Decisões (Art.93, inc. IX, CF) 
O princípio da motivação das decisões consagra a motivação adequada. Ou seja, o juiz tem a 
obrigação de fundamentar suas decisões com clareza solar e de formas expressa, analisando todos 
os pormenores processuais capazes de influir no julgamento. 
O art. 489, que versa sobre os elementos essenciais da sentença, em seu § 1º estabelece os 
requisitos nos incisos de I — IV os casos em que não será considerada fundamentada qualquer 
decisão judicial, seja interlocutória, sentença ou acórdão. 
Princípio da Oralidade 
O princípio da oralidade tem grande correlação com o princípio da duração razoável do processo na 
medida em que há necessidade, por exemplo, de concentração de todos os atos processuais em 
uma só audiência. 
É claro que a prova oral não supera a prova documental quando a necessidade de produção dela, 
como o laudo pericial. 
 
JURISDIÇÃO - FUNÇÃO JURISDICIONAL + DIVISÃO DO PODER JUDICIÁRIO + EQUIVALENTES 
JURISDICIONAIS - AULA 4 E 5 
A análise etimológica do vocábulo jurisdição indica a presença de duas palavras latinas: jus, juris 
(direito) e dictio, dictionis (ação de dizer). Esse "dizer o direito" começa quando o Estado chama para 
si a responsabilidade de solucionar as lides. 
 Anteriormente ao período moderno, ela era totalmente privada, pois não dependia do 
Estado. 
 Os senhores feudais tinham-na dentro de seu feudo. Eram as jurisdições feudais e baroniais. 
Os donatários das Capitanias Hereditárias, no Brasil colonial, dispunham da jurisdição civil e criminal 
nos territórios de seu domínio. 
 No período monárquico brasileiro, existia a jurisdição eclesiástica, especialmente em matéria 
de direito de família, a qual desapareceu com a separação entre a Igreja e o Estado. 
 Agora só existe a jurisdição estatal, confiada a certos funcionários, rodeados de garantias – os 
magistrados. Hoje, ela é monopólio do Poder Judiciário do Estado (CF, art. 5º, XXXV). A esse Poder 
(CF, art. 92 a 126) compete a distribuição de justiça, de aplicação da lei em caso de conflito de 
interesses. 
 A função jurisdicional, que se realiza por meio de um processo judicial, é de aplicação das 
normas, em caso de litígios surgidos no seio da sociedade. 
 Esses choques são solucionados pelos órgãos do Poder Judiciário com fundamento em ordens 
gerais, abstratas, que são ordens legais, constantes de leis, de costumes ou de simples padrões 
gerais, que devem ser aplicados por eles. 
 Assim os juízes e tribunais devem decidir, atuando o direito objetivo. Não podem estabelecer 
critérios particulares, privados ou próprios. No Brasil, o juiz, pura e simplesmente, aplica os critérios 
editados pelo legislador. 
 A função legislativa é de elaboração de leis, impostas coativamente a todos, emanadas do 
Poder Legislativo. A função executiva é de formulação de políticas governamentais e sua 
implementação, de acordo com a as leis elaboradas pelo Poder Legislativo. A função jurisdicional é 
de aplicação das normas, por um órgão independente do Estado, em caso de falta de entendimento 
surgido no seio da sociedade. 
 Em conformidade com o critério orgânico, jurisdição é aquilo que o legislador constituinte 
incluiu na competência dos órgãos judiciários. Desse modo, ato jurisdicional é o que emana dos 
órgãos jurisdicionais no exercício de sua competência constitucional, respeitante a solução de 
colisão de interesses. 
 A função jurisdicional é exercida pela ordem judiciária do país. Ela compreende: a) um órgão 
de cúpula (CF, art. 92, I), como guarda da Constituição e Tribunal da Federação, que é o Supremo 
Tribunal Federal; b) um órgão de articulação (CF, art. 92, II) e defesa do direito objetivo federal, que 
é o Superior Tribunal de Justiça; c) as estruturas e sistemas judiciários, compreendidos pelos 
Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, Tribunais e Juízes do Trabalho, Tribunais e Juízes 
Eleitorais e Tribunais e Juízes Militares (CF, art. 92, III-VI); d) os sistemas judiciários dos Estados e do 
Distrito Federal (CF, art. 92, VII). 
 A Constituição (CF, art. 92) acolheu a doutrina que vem sustentando pacificamente a unidade 
da jurisdição nacional, agora submetida à do Tribunal Pleno Internacional (CF, art. 5º, § 4º). 
 
Supremo Tribunal Federal – a jurisdição constitucional 
 Ela surgiu como instrumento de defesa da Carta Magna, não da Lei Maior considerada como 
um puro nome, mas da Constituição tida como expressão de valores sociais e políticos. 
 O Supremo Tribunal Federal (STF) é órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Compete-
lhe a relevante atribuição de julgar as questões constitucionais, assegurando a supremacia da Carta 
Constitucional em todo o território nacional. 
 Ele não é uma corte constitucional, apesar de ter a sua competência reduzida à matéria 
constitucional, pois diversas outras prerrogativas foram-lhe conferidas (CF, arts. 102 e 103). 
Ademais, a defesa da Carta Política não é tarefa exclusiva sua. 
 Cumpre-lhe a guarda da Constituição (art.102), função típica de guarda dos valores 
constitucionais. Mas mantém também o seu ofício de julgar, mediante recurso extraordinário, as 
causas decididas em única ou última instância (art. 102, III), como tribunal de julgamento do caso 
concreto, que sempre conduz à preferência pela decisão da lide e não pelos valores constitucionais. 
 É composto de onze Ministros, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a 
escolha pelo Senado Federal, dentro cidadãos, brasileiros natos (art. 12, § 3º, IV), com mais de trinta 
e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação 
ilibada (art. 101). 
 A jurisdição constitucional com controle de constitucionalidade (art. 102, I, a e p) é de 
competência originária do STF, como juízo único e definitivo. No caso do recurso extraordinário, o 
recorrente deverá demonstrar a repercussão geral (art. 102, § 3º) das questões constitucionais 
discutidas no caso, a fim de que o tribunal examine a sua admissão. 
 A jurisdição constitucional da liberdade, provocada por remédios constitucionais, é destinada 
à defesa dos direitos fundamentais. É o caso do habeas corpus, quando os pacientes forem altas 
autoridades federais (art. 102, I, d), quando o coator ou o paciente for tribunal, autoridade ou 
funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à sua jurisdição única ou quando se trate de 
crime sujeito a essa mesma jurisdição em uma única instância (art. 102, I, i). 
 A jurisdição constitucional sem controle de constitucionalidade, que compõe litígio de 
natureza constitucional, é diverso do que existe no controle da constitucionalidade das leis. É o caso 
dos crimes de membros de outros Poderes (art. 102, I, b e c); as contendas com Estados estrangeiros 
ou organismos internacionais e as entidades federativas brasileiras, ou entre as próprias entidades 
federativas, incluindo-se os órgãos da Administração indireta (art. 102, I, e e f) e a extradição 
solicitada por Estados estrangeiros (art. 102, I, g). 
 A jurisdição constitucional não é função exclusiva do Pretório Excelso. Só o é a suscitada por 
ação direta de inconstitucionalidade. Cabe a qualquer juiz ou tribunal a jurisdição constitucional que 
se exerce por via de exceção. 
 Os princípios fundamentais da Constituição são abordados nos seus artigos 1º a 4º. Eles são o 
mandamento nuclear de um sistema, o alicerce das normas jurídicas e as regras básicas da 
organização constitucional. 
 Mais à frente, a Carta Política diz que a argüição de descumprimento de preceito fundamental 
decorrente da Constituição "será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei" (art. 
102, § 1º). 
 Preceitos fundamentais não é expressão sinônima de princípios fundamentais. É mais ampla, 
pois envolve aqueles princípios e todas as prescrições que dão o sentido primordial do regime 
constitucional. 
 A Lei nº 9.882, de 3/12/99, que dispõe sobre esse processo, não tem a abrangência que o 
texto constitucional prognosticava. Mas poderá ter a importância de um recurso constitucional, para 
impugnar decisões judiciais, bem como para invocar a prestação jurisdicional em defesa de direitos 
fundamentais. 
 Ponto controvertido das reformas do Judiciário são as súmulas vinculantes. José Thomaz 
Nabuco de Araújo apresentou um projeto nesse sentido, em 1843, porque, para ele, era uma 
anomalia que os tribunais inferiores pudessem julgar, em matéria de direito, o contrário do que 
tinha decidido o primeiro tribunal do Império. Em 1855, a Seção de Justiça do Conselho de Estado, 
em face de arestos contraditórios dos tribunais inferiores, lembrava a conveniência de uma medida 
legislativa no sentido de "estabelecer uma interpretação com força dos antigos assentos da Casa de 
Suplicação" (NABUCO, Joaquim, Um estadista do Império. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1975. p. 230 
e 234). 
 Hoje, o artigo 103-A é a norma sobre o assunto, pois a súmula "terá efeito vinculante em 
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta". Visa a 
validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia 
atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarretem grave 
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica (Lei nº 11.417, de 
19/12/06). 
 Tenho para mim que as súmulas vinculantes não parecem reduzir os recursos, pois se o ato 
administrativo ou a decisão judicial contrariar a súmula aplicável caberá reclamação para o Supremo 
Tribunal Federal, que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão 
reclamada e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o 
caso (art. 103-A, § 3º). Talvez tenha pouca utilidade relativamente ao âmbito da interpretação 
constitucional, para a qual está previsto o efeito vinculante. 
 As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas 
de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra 
todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração 
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (art. 102, § 2º). 
 Trata-se de uma providência aceitável e conveniente, pois explicita a situação inerente à 
declaração de inconstitucionalidade abstrata que, publicada, já tem o efeito de retirar a eficácia da 
lei ou ato normativo por ele fulminado, como já acontecia com a declaração de constitucionalidade. 
 Pena que não foi determinado que leis e atos normativos perderiam a eficácia a partir do dia 
seguinte ao da publicação da decisão definitiva que os tenha declarado inconstitucionais, 
suprimindo o inciso X do artigo 52. 
 
Conselho Nacional de Justiça – controle externo do Judiciário 
 Apesar da sua má significação, porque não é um Poder (CF, art. 2º), o Conselho Nacional de 
Justiça existe em razão da necessidade de um órgão não judiciário para o exercício de certas funções 
de controle administrativo, disciplinar e de desvios de conduta da magistratura. É previsto 
constitucionalmente também em outros países, como Itália, França, Portugal, Espanha, Turquia, 
Colômbia e Venezuela. 
 Esse controle externo, que é uma verdadeira política judicial, impede que os integrantes do 
Poder Judiciário se convertam num corpo fechado. Como este não nasce da fonte primária da 
democracia, que é o povo (art. 1º, parágrafo único), esse tipo de controle contribui para dar-lhe 
legitimidade democrática. 
 O Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B) assume algumas dessas funções, para prestar 
bons serviços ao sistema nacional de administração da justiça, embora em sua composição haja 
predomínio de magistrados (incisos I-XIII). 
 Ele funciona sob a presidência do ministro do Supremo Tribunal Federal, que votará em caso 
de empate, ficando assim excluído da distribuição de processos naquele tribunal (§ 1º). Efeito 
danoso, porque um tribunal, sobrecarregado de processos, vai privar-se da contribuição de um de 
seus membros pelo espaço de dois anos. 
 Junto ao Conselho oficiarão o procurador-geral da República e o presidente do Conselho 
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (§ 6º). 
 Ao Conselho compete o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e 
do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Suas atribuições são as mais diversas, conferidas 
pelo Estatuto da Magistratura (§ 4º): 
 I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, 
podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a 
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo 
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato 
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; 
 III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, 
inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de 
registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência 
disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e 
determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos 
proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla 
defesa; 
 IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de 
abuso de autoridade; 
 V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros 
de tribunais julgados há menos de um ano; 
 VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, 
por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; 
 VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a 
situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do 
Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da 
abertura da sessão legislativa. 
 É bom fixar que não faz sentido criar ouvidorias sem conferir-lhes poderes de apuração das 
reclamações e denúncias. 
 
Superior Tribunal de Justiça – a supremacia da legislação federal 
 O Superior Tribunal de Justiça é órgão do Poder Judiciário criado pela Constituição de 1988. 
Sua finalidade é julgar questões federais da justiça comum no Brasil, assegurando a primazia da 
legislação federal em todo o país, bem como a uniformidade de interpretação, entre os tribunais, 
das normas emanadas da União. 
 Compõe-se de, no mínimo, 33 ministros, nomeados pelo presidente da República, dentre 
brasileiros com mais de 35 anos e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, 
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal (CF, art. 104, parágrafo 
único). 
 Um terço virá dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos 
Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal (inciso I). Também 
um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, do Estadual 
e do Distrito Federal, alternadamente, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação 
das respectivas classes, da qual o Tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, 
nos 20 dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação (arts. 94 e 104). 
 A prevalência e a uniformidade de interpretação das leis federais, que eram de competência 
do Supremo Tribunal Federal, foram transferidas para esse novo órgão (STJ), com o claro objetivo de 
desafogar o volume de causas que chegam ao órgão de cúpula do Poder Judiciário no Brasil. 
 A competência do STJ está distribuída em três áreas: 1) competência originária para processar 
e julgar as questões relacionadas no inciso I do art. 105; 2) competência para julgar, em recurso 
ordinário, as causas referidas no inciso II; 3) competência para julgar, em recurso especial, as causas 
indicadas no inciso III. 
 Entre essas atribuições judicantes do STJ algumas constituem matéria de jurisdição 
constitucional da liberdade. É assim que ele processa e julga o habeas data contra ato de Ministro de 
Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio tribunal; o habeas 
corpus, quando o coator ou o paciente for qualquer das pessoas mencionadas no art. 105, I, a; e o 
mandado de injunção. Tem também a competência para julgar, em recurso ordinário, os habeas 
corpus e os mandados de segurança decididos em única ou última instância pelos Tribunais 
Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, quando a decisão for 
denegatória. Ainda lhe cabe julgar as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo 
internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no país (art. 
105, I, b, c e h, e II, a, b e c). 
 Nos crimes comuns, julga os governadores dos Estados e do Distrito Federal; nos crimes 
comuns e de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do 
Distrito Federal; os conflitos de jurisdição; a homologação das sentenças estrangeiras e a concessão 
de exequatur das cartas rogatórias. 
 O que dá característica própria ao STJ são suas atribuições de controle da inteireza positiva, 
da autoridade e da uniformidade da lei federal, consubstanciando-se aí jurisdição de tutela do 
princípio da incolumidade do direito objetivo. 
 Em recurso especial, julga as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais 
Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, quando a decisão recorrida: 
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local 
contestado em face de lei federal; c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja 
atribuído outro tribunal. 
 A questão do art. 105, III, b envolve uma questão constitucional, já que se tem que decidir a 
respeito da competência constitucional para legislar sobre a matéria da lei ou ato de governo local, 
algo suscetível de apreciação pelo STF mediante recurso extraordinário. 
A Justiça Federal 
 Os jornais sempre nos falam sobre a gestão fraudulenta de instituições financeiras, o abuso 
do poder econômico, a lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, aliciamento para o fim de 
emigração e tantos outros crimes. 
 Para julgar os infratores, a Constituição de 1946 criou o Tribunal Federal de Recursos. Pela 
estrutura adotada pela atual Constituição (CF, art. 106), seus órgãos são os Tribunais Regionais 
Federais e os juízes federais. 
 A remoção dos juízes federais (art. 107, § 1º) será disciplinada por lei. Não há problema 
quanto à permuta, que depende da vontade dos permutadores. Mas a remoção nos leva a indagar 
se ela autoriza o afastamento da garantia de inamovibilidade (art. 95, II). A conciliação exegética é 
que a lei tratará da remoção nos limites autorizados no art. 95, II, com a aplicação do art. 93 e seus 
incisos VIII e VIII-A. No mais, ela será somente a pedido do juiz. 
 A sua competência (art. 108) é variada: 
 Processar e julgar originariamente, nos crimes comuns e de responsabilidade, os magistrados 
federais da área de jurisdição, as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados ou dos 
juízes federais; os mandados de segurança e os habeas data contra atos do próprio tribunal ou de 
juiz federal da região; os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; os conflitos de 
competência entre juízes federais vinculados ao tribunal. Em grau de recurso, as causas decididas 
pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal na área de sua 
jurisdição. 
 Providência importante facultativa (art. 107, § 3º) é que poderão funcionar 
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do 
jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo. Pena que não seja impositiva como a do § 2º, 
que determina que instalem justiçaitinerante, com a realização de audiências e demais funções da 
atividade jurisdicional. 
 Denominam-se juízes federais os membros da justiça federal de primeira instância, que 
ingressam no cargo inicial mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da OAB 
em todas as suas fases (art. 93, I). 
 A sua competência (art. 109) é ampla. 
 Processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal 
forem interessadas; as entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e município; as 
fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; as 
referentes às nacionalidades; os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de 
bens da União; os crimes previstos em tratado ou convenção internacional; as relativas a direitos 
humanos; os crimes contra a organização do trabalho, contra o sistema financeiro e a ordem 
econômico-financeira e muitos outros elencados no art. 109. 
 As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde a outra parte 
tiver domicílio (art. 109, § 1º). As intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária 
em que for domiciliado o autor (§ 2º). As processadas e julgadas na justiça estadual terão recurso 
cabível sempre para o Tribunal Regional Federal (§§ 3º e 4º). 
 Nas causas relativas a direitos humanos, no caso de grave violação desses direitos, haverá o 
incidente de deslocamento de competência para a justiça federal (inciso V-A), tendo em vista a 
responsabilidade do Estado brasileiro em face de organismos internacionais de defesa dos direitos 
humanos. 
 
A Justiça do Trabalho – o trabalho humano 
 Embora reconheça o direito dos missionários à sua subsistência (1Cor 9, 6-14; Gl 6, 6; 2Ts 3,9; 
Lc 10, 7), Paulo quis sempre trabalhar com as próprias mãos (1Cor 4, 12), para não ser pesado a 
ninguém (1Ts 2, 9; 2Ts 3, 8; 2Cor 12, 13s) e provar seu desinteresse (At 20,33s; 1Cor 9, 15-18; 2Cor 
11, 7-12). Só aceitou auxílio dos filipenses (Fl 4, 10-19; 2Cor 11, 8s; At 16, 15 +). Recomenda também 
aos fiéis que trabalhem para prover às próprias necessidades (1Ts 4, 11s; 2Ts 3, 10-12) e às dos 
indigentes (At 20, 35; Ef 4, 28). 
 "Quem não quer trabalhar também não há de comer" (2Ts 3,10). Esta regra, que visa apenas à 
recusa de trabalhar, provém talvez de uma palavra de Jesus, ou simplesmente de máxima popular. É 
a "regra de ouro do trabalho cristão". 
 Essa, a teologia do trabalho. E que diz o direito a esse respeito? 
 A Constituição de 1934, art. 122, instituiu a justiça do trabalho. Foi criada em 1942, como 
órgão vinculado ao Ministério do Trabalho. A Constituição de 1946 integrou-a ao Poder Judiciário, 
dotando-a de função jurisdicional destinada a solucionar conflitos de interesse decorrentes das 
relações de trabalho. 
 Sua organização compreende o Tribunal Superior do Trabalho, que é o órgão de cúpula dessa 
justiça especializada, os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho (CF, arts. 111 e 111-
A). 
 Deve haver pelo menos um Tribunal Regional do Trabalho em cada Estado e no Distrito 
Federal. Nas comarcas onde não for instituída Vara do Trabalho, a jurisdição do trabalho em 
primeira instância poderá ser atribuída aos juízes de direito (CF, art. 112). No Estado de São Paulo, 
por exemplo, existem dois Tribunais Regionais do Trabalho, um com sede na capital e outro em 
Campinas, para julgar as causas do interior paulista. 
 É múltipla a sua competência, para processar e julgar as reclamações oriundas da relação de 
trabalho. Assim lhe compete (art. 114) processar e julgar: 
 I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e 
da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios; 
 II – as ações que envolvam exercício do direito de greve; 
 III – as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores e 
entre sindicatos e empregadores; 
 IV – os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado 
envolver matéria sujeita à sua jurisdição; 
 V – os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto 
no art. 102, I, o; 
 VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de 
trabalho; 
 VII – as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos 
órgãos de fiscalização das relações de trabalho; 
 VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus 
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; 
 IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. 
 Entes de direito público externo entendem-se as representações diplomáticas de outros 
países. Assim, a justiça é competente para examinar e decidir as reclamações de trabalho de 
brasileiros com essas representações estrangeiras. 
 Dissídio individual é o que se funda no contrato individual de trabalho de um ou alguns, e a 
sentença que o resolve tem eficácia apenas entre as partes da relação jurídica processual. Dissídio 
coletivo visa a estabelecer normas e condições de trabalho; envolve interesse genérico e abstrato da 
categoria de trabalhadores; a sentença que o soluciona tem por objetivo fixar essas normas e 
condições, e sua eficácia se estende a todos os membros da categoria indistintamente. 
 O dissídio coletivo pressupõe negociação coletiva intersindical. Se as partes não chegarem a 
um acordo, poderão eleger árbitros (art. 114, § 1º). Se uma das partes recusar-se à negociação ou à 
arbitragem, será facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a justiça do 
trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem 
como as disposições convencionadas anteriormente. 
 As decisões do TST são irrecorríveis, salvo as que denegarem mandado de segurança, habeas 
data e mandado de injunção e as que contrariarem a Constituição ou declararem a 
inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, caso em que caberá, respectivamente, recurso 
ordinário e extraordinário para o STF (art. 102, II e III). 
 O STJ não tem competência para rever decisões da justiça do trabalho. O art. 105, I e II, exclui 
as causas decididas por ela das hipóteses recursais ali indicadas. 
 
Algumas Justiças especiais 
 Com a publicação do Código Eleitoral, Getúlio Vargas, em 1932, instituiu a justiça eleitoral, 
com o propósito de moralizar o processo eleitoral. 
 Na República Velha, as eleições eram controladas pelo grupo político que estava no poder, 
com voto em aberto e listas fraudadas de eleitores. A desmoralização do processo eleitoral serviu de 
justificativa política para a não aceitação do resultado pelos vencidos e a posterior Revolução de 30, 
comandadas por Getúlio Vargas. 
 Sua criação visou substituir o então sistema político de aferição de poderes (feita pelos órgãos 
legislativos) pelo sistema jurisdicional, em que se incluiriam todas as atribuições referentes ao 
direito político-eleitoral. 
 A organização e a competência da justiça eleitoral serão dispostas em lei complementar (CF, 
art. 121), mas a Constituição já oferece um esquema básico de sua estrutura. Assim, ela compõe-se 
de um Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seu órgão de cúpula, de Tribunais Regionais Eleitorais (TRE), 
de Juízes Eleitorais e de Juntas Eleitorais (art. 118). 
 Das decisões dos TREs, somente caberá recurso para o TSE quando: forem proferidas contra 
disposiçãoexpressa da Constituição ou de lei; ocorrer divergência na interpretação da lei entre dois 
ou mais tribunais eleitorais; versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições 
federais ou estaduais; anularem diplomas ou decretarem a perda de mandados eletivos federais ou 
estaduais; ou denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de 
injunção (art. 121, § 4º). 
 São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem a 
Constituição e a denegatória de habeas corpus ou mandado de segurança (art. 121, § 3º). 
 A justiça militar foi instituída em decorrência da vida do militar, sujeita a estrita hierarquia e 
disciplina. É composta pelo Superior Tribunal Militar e por Tribunais e Juízes Militares (art. 122). 
 Tem competência para julgar os crimes militares definidos em lei (art. 124, parágrafo único), 
que são os tipificados no Código Penal Militar. 
 Militares e civis podem ser julgados pela prática de infrações previstas na legislação penal de 
competência da justiça militar da União, pois esta não estabelece qualquer restrição, ao contrário do 
que ocorre em relação à justiça militar dos Estados, que se aplica somente a militares dos Estados 
(art. 125, § 4º). 
 O artigo 98, I, impõe a criação de juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e 
leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor 
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e 
sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por 
turmas de juízes de primeiro grau. 
 Já no Império, a Constituição exigia que se intentasse conciliação prévia entre as partes, sem 
o que não começaria processo algum (art. 161). E acrescentava no art. 162: "Para este fim haverá 
juízes de paz, os quais serão eletivos pelo mesmo tempo, e maneira, por que se elegem os 
Vereadores das Câmaras. Suas atribuições e distritos serão regulados por lei." 
 A Constituição atual dá-lhe configuração semelhante (art. 98, II), com as mesmas 
características de juizado eletivo e de conciliação. 
 
A magistratura 
 O ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, far-se-á mediante concurso 
público de provas e títulos (CF, art. 93, I). 
 Sua promoção será de entrância para entrância, por antiguidade e merecimento. 
 É obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas 
em lista de merecimento (II, a); a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na 
respectiva entrância (II, b); a aferição do merecimento será conforme o desempenho e pelos 
critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e 
aproveitamento em cursos oficiais (II, c); na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá 
recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, assegurada 
ampla defesa (II, d); não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver os autos em seu 
poder, além do prazo legal (II, e), medida esta destinada a realizar o cumprimento do direito à 
duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII). 
 O acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e por merecimento, 
apurados na última entrância ou única entrância (Art. 93, III), dada a extinção dos Tribunais de 
Alçada, onde havia. 
 A sua remuneração assumiu a forma de subsídios (arts. 48, XV, 93, V, 95, III, e 96, II, b), com 
critérios variados para os ministros do Supremo Tribunal Federal (arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III e § 2º, 
I) e para os membros dos Tribunais Superiores e dos Tribunais de Justiça dos Estados, sendo que eles 
serão fixados em parcela única, sem acréscimos. 
 A sua inatividade será por aposentadoria e disponibilidade. A regra da sua aposentadoria e a 
pensão de seus dependentes subordinam-se às normas constitucionais (arts. 40 e 93, VI), podendo 
ser por invalidez ou compulsória aos 70 anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de 
contribuição, e voluntária, desde que cumprido o tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no 
serviço público e cinco no cargo de magistratura, observando-se as condições de idade (art. 40, III, a 
e b). A inatividade por disponibilidade é aplicada mediante voto da maioria absoluta do tribunal ou 
do Conselho Nacional de Justiça (art. 93, VIII), assegurada ampla defesa. 
 Todos os seus julgamentos serão públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de 
nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às 
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito 
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (art. 93, IX). 
 Igualmente se requer que as decisões administrativas dos tribunais sejam motivadas e em 
sessão pública, sendo que as disciplinares, tomadas por voto da maioria absoluta de seus membros 
(do tribunal, não do órgão especial – art. 93, XI). 
 Nos tribunais com número superior a 25 julgadores poderá ser constituído órgão especial, 
com o mínimo de 11 e o máximo de 25 membros, para o exercício das atribuições administrativas e 
jurisdicionais de competência do tribunal pleno. 
 Metade das vagas será provida por antiguidade e a outra metade, por eleição pelo tribunal 
pleno. Tal política procura evitar uma composição só com os magistrados mais antigos, supondo que 
a eleição vai selecionar membros mais jovens para o órgão especial (art. 93, XI). 
 A Constituição anterior (art. 144, V) impunha a criação de órgão especial. Agora, sua 
instituição é facultativa. Só não ficou claro se é facultativa para o legislador ou para o próprio 
tribunal. 
 A doutrina mais moderna inclina-se para a segunda solução, que dá mais liberdade e 
independência de organização interna aos tribunais, em harmonia com os princípios constitucionais. 
 A solução dos conflitos de interesses, a aplicação da lei aos casos concretos, inclusive contra o 
governo e a administração, missão que interfere com a liberdade humana, destinando-se a tutelar 
os direitos subjetivos, tinha mesmo que ser conferida a um poder do Estado cercado de garantias 
constitucionais de independência, o Judiciário (CF, art. 2º). 
 Faz parte da competência privativa dos tribunais (art. 96, I) a autonomia orgânica 
administrativa para: 
 a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das 
normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o 
funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; 
 b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízes que lhes forem vinculados, 
velando pelo exercício da atividade correicional respectiva; 
 c) prover, na forma prevista [na] Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva 
jurisdição; 
 d) propor a criação de novas varas judiciárias; [...]. 
 Igualmente lhes é reconhecida a garantia de autonomia financeira de elaboração do próprio 
orçamento (arts. 99, § 1º, e 165, II). 
 Mas para manter a sua independência e exercer a função jurisdicional com dignidade, 
desassombro e imparcialidade, a Constituição estabeleceu em favor dos juízes garantias de 
independência (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio) e de imparcialidade dos 
órgãos judiciários (vedações). 
 A vitaliciedade diz respeito à vinculação do titular ao cargo para o qual tenha sido nomeado. 
Não é privilégio, mas condição para o exercício da funçãojudicante, que exerce garantias especiais 
de permanência e de estar definitivamente no cargo. Tornam-se vitalícios a partir da posse os 
integrantes dos tribunais (art. 95, I). 
 A inamovibilidade refere-se à permanência do juiz no cargo para o qual foi nomeado, não 
podendo ser removido, a qualquer título, de forma compulsória, do cargo que ocupa, salvo por 
ordem de interesse público (arts. 95, II, e 93, VIII). 
 Irredutibilidade de subsídios significa que os seus salários não podem ser reduzidos. Mas a 
Constituição determina que ficam sujeitos aos limites máximos previstos no art. 37 e ao imposto de 
renda, como qualquer contribuinte, com a aplicação do disposto nos arts. 150, II, 153, III e § 2 º, I. 
 As garantias de imparcialidade dos órgãos judiciários aparecem, no art. 95, parágrafo único, 
sob a forma de vedações aos juízes, denotando-lhes restrições formais. Assim, lhes é vedado: 
 I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; 
 II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; 
 III – dedicar-se à atividade político-partidária; 
 IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, 
entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; 
 V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos 
do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. 
 A reforma do Judiciário preocupou-se com a morosidade da atividade jurisdicional, adotando 
providências que podem auxiliar no andamento mais rápido dos processos e a efetividade do direito 
(art. 5º, LXXVIII). 
 É assim que a atividade jurisdicional é ininterrupta (art. 93, XII), sendo proibidas férias 
coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau. 
 Fica idealizado que "o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva 
demanda judicial e à respectiva população" (XIII) e que "a distribuição dos processos será imediata, 
em todos os graus de jurisdição" (XV). 
 O que é inacreditável é que essas medidas tinham que ser cuidadas por emenda 
constitucional. Isso tornou-se necessário diante do fato de que os órgãos superiores não vinham 
distribuindo os processos na sua totalidade, sob o argumento de não poderem sobrecarregar os 
juízes. Data venia, tal procedimento era antiético e imoral. 
 Para o aperfeiçoamento e preparação de magistrados, ficam eles obrigados a participar de 
"curso oficial ou reconhecido por escola nacional" destinada à sua formação e aprimoramento (arts. 
93, IV, 105, parágrafo único, I, e 111-A, § 2º, I). 
 O perigo dessas escolas é tornarem-se mecanismo de orientação unilateral, sem atender ao 
livre curso das idéias, o que poderá ser uma deformação que contraria a "liberdade de aprender, 
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber", assim como o "pluralismo de idéias" 
(art. 206, II e III). 
Equivalentes jurisdicionais 
Equivalentes jurisdicionais são técnicas de solução de conflito que não são jurisdicionais. Equivalem 
à jurisdição porque servem para resolver conflitos. São eles: 
a) AUTOTUTELA: Em regra, é proibida, porque nos remete ao tempo da barbárie, já que um dos 
conflitantes impõe a solução do conflito ao outro. Excepcionalmente, é permitida como, por 
exemplo, na legítima defesa, no desforço incontinenti nas ações possessórias, etc. 
b) AUTOCOMPOSIÇÃO: As partes conflitantes chegam à solução do conflito, sem imposição de uma 
vontade sobre a outra, podendo ocorrer extrajudicialmente ou em juízo. É chamada pelos 
americanos de alternative dispute resolution. Há três espécies de autocomposição: 
b.1) transação: forma mais tradicional, na qual a solução é dada pelas partes, sendo que cada uma 
delas faz concessões recíprocas; 
b.2) renúncia: não há concessões recíprocas, mas apenas unilateral, por parte do autor que abdica 
de sua pretensão; 
b.3) reconhecimento da procedência do pedido: também não se vislumbram concessões recíprocas, 
mas apenas unilateral, por parte do réu que reconhece a razão do autor. 
c) MEDIAÇÃO: Há intervenção de um terceiro que se põe no conflito para auxiliar as partes a 
chegarem à autocomposição. Ressalte-se que o mediador não decide, apenas estimula a 
autocomposição. 
d) ARBITRAGEM: É o equivalente jurisdicional mais polêmico no que tange à sua natureza. Fredie 
Didier Jr., por exemplo, entende que a arbitragem é jurisdição privada e não equivalente 
jurisdicional. Já, Luiz Guilherme Marinoni entende que a arbitragem não é jurisdição porque não é 
estatal. Nela tem-se um terceiro que decide e impõe sua decisão. No Direito Brasileiro, a decisão 
arbitral, em regra, não pode ser discutida no Poder Judiciário, nem precisa de homologação para ser 
exigida. 
Diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa 
Enquanto a jurisdição voluntária possui caráter administrativo, solucionando um negócio judicial 
com a participação do juiz, a jurisdição contenciosa tem caráter jurisdicional, onde o Direito tem 
como objetivo a pacificação social, substituindo a vontade das partes que, se não for cumprida, pode 
ser aplicada de forma coercitiva. 
A jurisdição voluntária não apresenta conflito de interesses, não havendo uma coisa a ser julgada. 
Dessa forma, não existe uma sentença, mas sim um procedimento, ao contrário da jurisdição 
contenciosa, onde o juiz age a partir de um conflito de interesses, julgando um processo e 
determinando o que deve ser feito. 
 
TEORIA DA AÇÃO - AULA 6 E 7 
TEORIA IMANENTISTA 
Nos primórdios da discussão acerca da natureza jurídica da ação, esta era vista como o uma mera 
vertente do direito material. Compreendia-se que a ação era extensão do próprio direito material, 
pois, violado este, tem o ofendido direito à reparação. Conforme descrevem Cintra, Grinover e 
Dinamarco (2012): “a ação é tida, enfim, como o direito de pedir em juízo o que nos é devido” (p. 
279). Assim sendo, caso o credor exercesse sua faculdade de levar a violação de seu crédito a juízo, o 
que se veria, aí, seria o próprio direito de crédito reagindo à sua violação, em movimento, e, não, um 
direito autônomo de acionar o judiciário para que substitua as partes e decida, imparcialmente, a 
lide; “logo, não há ação sem direito, nem direito sem ação. E a ação segue a natureza do direito” 
(CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2012, p. 268). 
De tal modo, teve origem a teoria civilista do direito de ação, perpetuada por Savigny e 
acompanhada pela maioria dos juristas, até meados do século XIX. Conforme explica José Miguel 
Garcia Medina (2015, p.35), em tal concepção, a ação era vista como extensão do direito material, e 
não uma proteção do cidadão contra o Estado. Vale citar, porém, que ainda existem resquícios desta 
teoria em nossa legislação: originou o art. 75 do Código Civil de 1916 (“a todo direito corresponde a 
uma ação que o assegura”), bem como, no Código Civil de 2002, os artigos 80, I, e 83, II e III. 
Após séculos de unanimidade dentre os sistemas de leis decentes do direito romano, começaram a 
surgir críticas à estrutura deste entendimento a respeito da ação, por ser incapaz de explicar a 
natureza jurídica da ação declarada improcedente, que repulsa a pretensão de direito – pois, na 
verdade, constituiria uma possibilidade de ação sem direito assegurado, ou até mesmo a ausência 
de uma ação. 
A POLÊMICA ENTRE WINDSCHEID E MUTHER 
O crescente descrédito da teoria imanentista, em todos os aplicadores do direito, deu início a 
diversos debates acerca de sua inaptidão. Um deles, perpetrado pelos alemães Theodore Muther e 
Bernhard Windscheid, em meados do século XIX, sobre o correto entendimento da actio, teve 
imenso destaque e inegável importância a evolução do entendimento sobre o direitode ação. 
Conforme ensinam Garcia e Braga (2014, p. 123), Windscheid considerava que actio se referia a 
pretensão material em oposição ao réu, argumentando que o direito material age de modo que 
ecloda uma predileção do seu titular de fazer-se valer da própria vontade, vinculando a vontade 
alheia, que é denominada de pretensão (Anspruch). Muther, por outro lado, pensava que actio era o 
direito público de demandar algo contra o Estado (Klagerecht). Windscheid não cede, porém, 
também, não contesta mais a possibilidade do direito público de litigar versus o Estado. 
Ao fim, ambos concordam com a ideia de existência de uma diversidade entre a pretensão material 
(Anspruch) e o direito de ação (Klagerecht); sendo assim, tem-se uma concepção do direito de ação 
como o direito de originar a execução da jurisdição. 
A AÇÃO COMO DIREITO AUTÔNOMO 
Mesmo com a inegável autonomia do direito de ação – agora pacificado na doutrina – surgem, 
agora, novos questionamentos acerca deste instituto: caso seja negada a demanda, seria tido como 
satisfeito o direito de ação? Além disso, contra quem é exercida a demanda? 
Para sanar estes e outros questionamentos, diversas teorias, escolas e autores foram ganhando 
espaço, no âmbito jurídico. Dentre estes, como destacam Cintra, Grinover e Dinamarco, (2010, p 
272). destacam-se, inegavelmente, Adolf Wach, Giuseppe Chiovenda, Heinrich Degenkolb, entre 
outros. 
A AÇÃO COMO DIREITO AUTÔNOMO E CONCRETO 
Conforme brilhantemente ensina Marinoni (2008, p. 167), na concepção concretista, o direito de 
ação é exercido tanto contra o Estado, como contra o demandado. Tal entendimento foi 
fundamentado por Wach, tendo em vista, principalmente, a ação declaratória; diferentemente de 
objetivar a realização de um direito subjetivo, visa declarar “a existência ou inexistência de uma 
relação jurídica”. Destaca o autor: 
Se o autor pode propor uma ação para declarar a inexistência de uma relação jurídica, é lógico que a 
ação não tem como pressuposto um direito material insatisfeito. Na verdade, a ação declaratória, 
seja da declaração da existência ou da inexistência de uma relação jurídica, requer apenas um 
interesse na declaração (MARINONI, p. 167, 2008) 
Foi seguindo os passos de Muther que Adolf Wach, jurista alemão nascido no século XIX, elaborou a 
teoria da ação como direito autônomo e concreto, classificando o instrumento como um direito não-
incidental dirigido contra o Estado e o litigante (em verdadeiro litisconsórcio necessário unitário 
passivo). Deste modo, consagra-se a ideia de que o direito material lesado está desvinculado da 
ação, que seria satisfeita por meio de proteção concreta; ou seja, só há direito de ação quando a 
sentença é favorável à parte demandante. 
Por este prisma, porém, deve-se interpretar que, por mais que a ação esteja desvinculada do direito 
material, este ainda é pressuposto para a existência daquela. Assim, qualifica-se a sentença apta a 
legitimar o direito de ação como “sentença justa” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO apud BULOW, 
2010, p. 272-273). 
A AÇÃO COMO DIREITO POTESTATIVO 
Ainda no âmbito da ação como direito concreto, surge, proposta pelo italiano Giuseppe Chiovenda, 
outra vertente teórica, tendo como objeto a ação: a teoria da ação como direito potestativo – em 
face do oponente. 
Discordando da atual classificação da ação (direito público subjetivo), Chiovenda propõe que, na 
verdade, esta é o direito de demandar, dirigido unicamente contra o adversário, do qual 
corresponde em sujeição. Deste modo, “a ação configura o poder jurídico de dar vida à condição 
para a atuação da vontade da lei” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO. 2010. p. 273) e seria “(...) um 
direito potestativo a ser exercido em relação ao adversário (MEDINA, op. cit.). 
Deste direito, ao ser acolhido pelo juiz, inicia-se uma relação de poder entre o autor e o réu. Assim 
ensina Luiz Guilherme Marinoni: 
Ao precisar seu conceito de ação, Chiovenda esclarece que a ação é um poder em face do 
adversário, mais do que um poder contra o adversário. Como isso, quer dizer que a ação não exige 
obrigação alguma, pois o adversário, diante da ação, não é obrigado a nada, mas apenas fica sujeito 
aos efeitos jurídicos da atuação da lei (MARINONI, p. 168, 2008) 
De certa maneira, o ponto de vista instituído por Chiovenda, ao classificar a ação como a 
manifestação de um direito de poder, de quem tem razão sobre quem não tem, também é pautado 
no entendimento formulado por Wach e outros: só existe, verdadeiramente, a ação, quando a 
sentença for favorável ao demandante. 
A AÇÃO COMO DIREITO AUTÔNOMO E ABSTRATO 
Também na Alemanha, Heinrich Degenkolb lança mão de uma teoria um pouco diferente, que 
classificava o direito de ação como autônomo, também, porém abstrato; ou seja, independente do 
teor da sentença (positiva ou negativa) e da preexistência de direito material. Concomitantemente, 
o húngaro Alexandre Plósz, lança parecer similar, onde entendia que o direito de agir não exclui a 
possibilidade de uma sentença desfavorável (MARINONI, p. 165, 2008) 
Também adepta do entendimento de que a ação não está vinculada ao direito material, essa teoria 
foi criada como uma espécie de segunda via à efervescente doutrina que advogava pela concretude 
do direito de ação. Assim, não deixa de existe ação quando a sentença nega a pretensão do autor, 
nem quando uma sentença injusta (que não corresponde ao direito material) for proferida. 
Como citam Cintra, Grinover e Dinamarco (ob. cit., 2010): 
A demanda ajuizada pode ser até mesmo temerária, sendo suficiente, para caracterizar o direito de 
ação, que o autor mencione um interesse seu, protegido em abstrato pelo direito. É com referência 
a esse direito que o Estado está obrigado a exercer função jurisdicional, proferindo uma decisão, que 
tanto pode ser favorável como desfavorável. 
Como explica Marinoni (ob. cit., 2008), Plósz e Degenkolb “sustentaram a ideia de que o direito de 
agir é antecedente ao seu exercício, que se daria através da demanda” (p. 165). De tal modo, a 
demanda deveria basear-se num pedido cujo objeto fosse lícito, pois não poderia, o agente, mover a 
máquina judiciária para cobrar dívida de jogo (MARINONI, p. 165-166) 
A TEORIA ECLÉTICA DA AÇÃO 
Enfim, em 1949, tendo sido superadas as correntes que condicionavam o reconhecimento de direito 
de ação a uma sentença positiva, surge a teoria eclética da ação, proposta pelo italiano Enrico Tullio 
Liebman. Adepto da garantia constitucional do acesso ao judiciário, o autor define ação como um 
direito subjetivo instrumental, do qual não corresponde uma obrigação do Estado. 
Liebman demonstrou grande esforço em diferenciar o direito de ação, constitucionalmente 
garantido, da ação em si. Conforme ensinam Cintra, Grinover e Dinamarco (2010), “(...) o direito de 
ação constitucional (emanação do status civitatis), (...) não pode ter nenhuma relevância ao 
processo, constituindo o simples fundamento ou pressuposto pelo qual se baseia a ação em sentido 
processual” (p. 275). Além disse, segundo a teoria proposta pelo italiano, tal função jurisdicional dar-
se-ia por existente com uma sentença sobre o mérito, positiva ou negativa. 
O ponto crucial da doutrina de Liebman – e o motivo que, fundamentalmente, a diferencia das 
demais – é encontrado no condicionamento da ação. De certa forma, pode-se afirmar que, para 
Liebman, a ação é um instrumento desvinculado do direito de material, de existência abstrata, 
porém condicionado a determinadas circunstâncias. Este entendimento, notoriamente recepcionado 
pelo direito brasileiro (tanto pelo Código de Processo Civil de 1973, quanto pelo novo código, de 
2015), conforme asseveram Cintra, Grinover e Dinamarco (2008), limitaria a resolução do mérito a 
três condições: possibilidade jurídica do pedido; interesse de agir e legitimidade ad causam. Deste 
modo, pode-se concluir que, para que a demanda sejaconsiderada verdadeiramente exercida, 
indispensáveis são as condições da ação. 
Tal entendimento sofreu aparente mitigação, com a promulgação do Código de Processo Civil 
brasileiro, de 2015, onde a lei expressa unicamente, em seu artigo 17, que “para postular em juízo é 
necessário interesse e legitimidade”. Apesar disso, a conclusão não aponta para o entendimento de 
que não há mais necessidade de possibilidade jurídica do pedido; pelo contrário: por serem mais 
amplos, as duas condições acima citadas englobam, logicamente, pedido juridicamente possível. 
A AÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO 
Como acima apontado, a promulgação do Novo Código de Processo Civil brasileiro não promoveu 
notória alteração no direito de ação; unicamente, não mais se fala em possibilidade jurídica do 
pedido, pois englobado pelas outras condições. Está genericamente apreciado pelos artigos 2º e 17, 
que consagram o princípio da inércia judicial e as condições para demandar, respectivamente. 
A respeito da extinção da ação, por outro lado, com a consagração do princípio do contraditório 
participativo, garantidos pelos artigos 9º e 10 da nova norma, caso não presentes as condições da 
ação, antes de extinguir o processo, deve o juiz possibilitar à parte proposição de emenda, visando 
sanar o vício encontrado. 
 
CONDIÇÕES DA AÇÃO 
São três as condições da ação: Interesse Processual (interesse de agir), Legitimidade das Partes 
(legitimidade ad causam) e Possibilidade Jurídica do Pedido. 
Interesse de Agir 
O interesse processual, interesse de agir, ou ainda, o legítimo interesse, como trazem alguns 
doutrinadores, consiste na demonstração, pelo menos em linhas gerais, de que a providência 
jurisdicional é realmente necessária. Pois não se configurará o interesse de agir se a coisa puder ser 
obtida sem a interferência do juiz e consequentemente se a movimentação de toda a máquina 
judiciária. 
Em outros termos, exige que, no caso concreto, a tutela jurisdicional pleiteada seja necessária e 
adequada. A necessidade revela-se na impossibilidade de obter a satisfação do alegado direito sem a 
intervenção do Estado. Já a adequação é a relação existente entre a situação alegada pelo autor ao 
levar a juízo e o provimento jurisdicional concretamente pleiteado. O provimento deve ser apto a 
corrigir o mal de que o autor se queixa-se, sob pena de não ter razão de ser. 
O interesse de agir, no dizer de Liebman, “decorre da necessidade de obter através do processo a 
proteção do interesse substancial; pressupõe, por isso, a afirmação da lesão deste interesse e a 
aptidão do provimento pedido a protegê-lo e satisfazê-lo.” 
Se alguém, por exemplo, foi esbulhado em sua posse, fará pedido inadequado, faltando-lhe 
interesse, se pleitear a declaração de que é proprietário. Evidentemente, a existência de interesse 
não quer dizer, ainda, que o autor tem razão e que a demanda será julgada procedente. Este 
resultado dependerá de outra ordem de indagações, consistente no mérito da demanda”. 
Legitimidade AD CAUSAM 
Também é chamada legitimidade para agir ou qualidade para agir. Para o sistema do Código, a 
legitimidade é uma condição da ação, e não pressuposto processual. As condições da ação 
consubstanciam-se em uma categoria muito mais próxima ao mérito, cuja existência e regularidade 
devem ser examinadas pelo juiz depois dos pressupostos processuais. 
Legitimidade para a causa ou “legitimatio ad causam” é a melhor identificação entre o sujeito da lide 
(relação material) e o sujeito do processo (relação processual ou formal), chamada pela doutrina de 
legitimação ordinária[5]. 
Preconiza o Código de Processo Civil Brasileiro: 
“Art. 3.º. Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade”. 
A capacidade de ser parte corresponde à capacidade jurídica em geral de ser titular de direitos e 
obrigações na ordem civil. O seu exercício depende de capacidade própria ou de uma forma de 
suprimento, tanto para a lei civil quanto para a lei processual civil (capacidade processual, para estar 
em juízo ou legitimatio ad processum). 
Se não existir simetria entre os titulares do direito material e do direito formal poderão ocorrer duas 
situações distintas: 
a) ilegitimidade ativa ou passiva; ou 
b) substituição processual (legitimação extraordinária). 
Em outras palavras, segundo Liebman, “a legitimidade para agir é a titularidade (ativa e passiva) da 
ação”. No dizer de Alfredo Buzaid, “é a pertinência subjetiva da ação, isto é, a regularidade do poder 
de demandar de determinada pessoa sobre determinado objeto”. 
A regra geral autoriza a demandar quem é o titular da relação jurídica, dizendo-se, então, que a 
legitimação é ordinária. Há casos, porém, de texto expresso de lei que autoriza alguém que não seja 
sujeito da relação jurídica de direito material a demandar. Nestes casos, diz-se que a legitimação é 
extraordinária[6]. 
A legitimação extraordinária foi denominada por Chiovenda como “substituição processual”, e 
ocorre quando alguém, em virtude de texto legal expresso, tem respaldo legal para litigar, em nome 
próprio, sobre direito alheio. Como diz Moacyr Amaral Santos “quem litiga como autor ou réu é o 
substituto processual, fá-lo em nome próprio, na defesa de direito de outrem, que é o substituído” 
[7]. 
Distinguem-se, a legitimidade, do interesse de agir, condição da ação anteriormente examinada. Pois 
neste, não importa o exame de qualquer aspecto subjetivo. Assim, qualquer pessoa que demande 
por dívida não vencida será carecedora da ação por falta de interesse. Não importa quem seja o 
credor ou o devedor. 
Se, por outro lado, supondo-se uma dívida vencida, o pedido fosse formulado por ‘A’, mas o titular 
do crédito fosse de ‘C’, faltaria ao primeiro legitimidade ativa[8] para agir, justamente pelo fato de 
não ser ele o afirmado titular do direito. Da mesma forma, se se dissesse que o titular da obrigação 
fosse ‘B’, mas se propusesse a ação em face de ‘D’, este seria parte passiva ilegítima. O autor ‘A’, 
neste último caso, seria carecedor do direito de ação em face de ‘D’. Como se observa, o exame da 
legitimidade como condição da ação impõe a análise do aspecto subjetivo das partes, 
diferentemente do que ocorre no interesse de agir. 
Entretanto, lembra, Adroaldo Furtado Fabrício sobre o tema, verbis: “Efetivamente, ao sentenciar 
que o autor não tem legitimatio ad causam, denega-lhe o juiz, clarissimamente, o bem jurídico a que 
aspirava, posto que à sua demanda responde: “Se é que existe o direito subjetivo invocado, dele não 
és titular”. Proclamando o juiz, por outro lado, ilegitimidade passiva ad causam, em face do réu, não 
tem o autor razão ou direito. Em qualquer dos casos, há clara prestação jurisdicional de mérito, 
desfavorável ao autor – vale dizer, sentença de improcedência.” (in Extinção do processo, p. 40). 
Isto não quer dizer, porém, como salienta Nelton Agnaldo Moraes dos Santos, que não exista a 
legitimidade como condição da ação, exemplificando que se ‘A’ propõe o divórcio de ‘B’ e ‘C’, 
dizendo que estão separados de fato há mais de 2 anos (CF/88, art. 226, § 6º), há manifesta 
ilegitimidade ativa. Não há como dizer, neste caso, que ocorreu decisão de mérito. 
Tem-se ainda, a legitimidade passiva, que é a sofrida pelo réu no decorrer da ação, tendo este que 
prestar o que lhe pedido, ao menos em tese. Por exemplo, em uma “ação de despejo, a parte ativa é 
o senhorio e a passiva é o inquilino, e não qualquer outra pesoa que não ele.” (RT 415/319). 
Por fim, não se pode confundir a legitimidade ad causam com a legitimidade ad processum, que é 
pressuposto processual, em que a parte deve ter: 
1) Capacidade de ser parte (capacidade para figura num dos pólos da relação processual – pessoas 
naturais, inclusive o nascituro, jurídicas e formais – massa falida); 
2) Capacidade processual ( o absolutamente incapaz, por ex., pode ser parte, mas não pode por si, 
agir noprocesso, devendo estar representado em juízo); 
3) Capacidade postulatória (ius postulandi, representação por advogado). 
Possibilidade jurídica do pedido 
Segundo Humberto Theodoro Júnior, “Pela possibilidade jurídica, indica-se a exigência de que deve 
existir, abstratamente, dentro do ordenamento jurídico, um tipo de providência como a que se pede 
através da ação.” (in Curso de Direito Processual Civil, p.53). É a verificação prévia que incumbe ao 
juiz fazer sobre a viabilidade jurídica da pretensão deduzida pela parte, em face do direito positivo 
vigente. 
Faz-se oportuno no momento, a distinção dos pedidos formulados na ação. O pedido que o autor 
formula ao impetrar uma ação é sempre dúplice: 
1º) Pedido imediato, contra o Estado, que se refere à tutela jurisdicional; 
2º) Pedido mediato, dirigido contra o réu, que se refere à providência de direito material pretendida. 
Logo, a possibilidade jurídica do pedido e as condições da ação, devem ser localizada dentro do 
pedido imediato (tutela jurisdicional do Estado). Ou seja, a permissão ou não, frente ao direito 
positivo, para que se instaure a relação processual, visando à pretensão (material) do autor. 
No entanto, “a ausência de norma a regular a situação fática não enseja a impossibilidade jurídica. O 
que leva à impossibilidade jurídica é a expressa proibição de que tal provimento jurisdicional seja 
emitido. Nestas circunstâncias, o pedido de condenação ao pagamento de importância devida por 
jogo não enseja, como defendido por certos autores, carência de ação, em face do disposto no art. 
814 do CC/02 (correspondente ao art. 1.477, caput, do CCB). Para decidir contrariamente ao que o 
autor pede, necessita o juiz recorrer a uma regra de direito material. O julgador há de sentenciar no 
sentido de que a obrigação é inexigível, porque o ordenamento jurídico material não o ampara. A 
solução, será de mérito, ou seja, de improcedência do pedido, caso seja conflitante com o 
ordenamento jurídico em vigor, ainda que a pretensão, prima facie, se revele temerária ou 
absurda”[9]. Segundo Nelton Agnaldo Moraes dos Santos, verdadeiros exemplos de impossibilidade 
jurídica do pedido seriam os casos de mandado de segurança normativo e de pedido de análise do 
mérito do ato administrativo em via jurisdicional. 
Veja-se que a discussão não é meramente acadêmica, pois a decisão de carência de ação permite a 
repropositura da ação, o que não acontece nos casos de sentença de mérito (vide CPC, art. 268, 
caput). 
 
Elementos da ação 
São elementos da ação as partes, o objeto de demanda judicial e a causa que originou o pedido. 
As Partes 
De acordo com a doutrina, “partes são as pessoas que pedem, ou em face das quais se pede, em 
nome próprio, a tutela jurisdicional” (Schöner, Rosenberg, Amaral Santos, Frederico Marques, 
Gabriel de Rezende Filho). Ou seja, são os sujeitos que compõem a lide, – no caso mais simples, em 
que a ação abrange uma única lide, com uma única pretensão, cada uma das partes corresponderá a 
uma pessoa. Mas poderá a ação abranger várias lides, ou ainda possuir um grupo de indivíduos 
previamente identificados que serão parte processual frente ao litígio, como ocorre nas obrigações 
solidárias o credor formula uma pretensão contra vários devedores solidários, caso em que as partes 
na ação ainda são duas, autor e réus, conquanto estes sejam diversos, como sujeitos passivos das 
várias lides. 
Objeto 
A providência jurisdicional solicitada quanto a um bem – objeto da ação é o pedido do autor. O 
pedido é imediato ou mediato. Aquele consiste na providência jurisdicional solicitada: sentença 
condenatória, declaratória, constitutiva, etc. O pedido mediato é o que se deseja alcançar com a 
sentença, ou providência jurisdicional, isto é, o bem material ou imaterial pretendido pelo autor. 
Aqui será o recebimento de um crédito; ali, a entrega de uma coisa, móvel ou imóvel. Nas chamadas 
ações meramente declaratórias (CPC, art. 4º), o pedido mediato se confunde com o pedido imediato 
porque na simples declaração da existência ou inexistência da relação jurídica se esgotam a 
pretensão do autor e a finalidade da ação. 
Causa do Pedido 
Aqui, são as razões que suscitam a pretensão e a providência, pois o pedido deve corresponder uma 
causa de pedir (causa petendi). O Código exige que o autor exponha na exordial os fatos e os 
fundamentos jurídicos do pedido. Assim sendo, deduz-se que na inicial se deve expor não somente a 
causa próxima – os fundamentos jurídicos, a natureza do direito controvertido –, como também a 
causa remota – o fato gerador do direito. Quer dizer que o Código adotou a Teoria da Substanciação, 
tal como os códigos alemão e austríaco. Por esta teoria não basta a exposição da causa próxima, ou 
propriamente dita, mas também se exige a da causa remota. No que concerne às ações pessoais, a 
necessidade de exposição das duas causas é pacífica. Entretanto, no que respeita às ações reais, uma 
parte da doutrina entende bastar referência à causa próxima, que é o domínio, não havendo 
necessidade de mencionar-se a causa remota, que é o modo de sua aquisição. Não é o que 
predomina. Em face do nosso direito expresso, e conforme a melhor doutrina, mesmo no tocante às 
ações reais a causa de pedir compreende não só a causa propriamente dita, o domínio do autor, 
como também a causa remota, o modo de aquisição do domínio, qual o seu título de aquisição, e os 
fatos que violam dito domínio. 
 
Constituição da relação processual 
A ação origina o processo e a relação processual. Assim, esta se constitui por iniciativa da parte que 
provoca o exercício da função jurisdicional nemo iudex sine actore. Portanto, a relação processual se 
esboça com a apresentação, pelo autor, da petição inicial ao juiz, para seu despacho e completa-se 
no momento em que o réu toma conhecimento desta. Assim sendo afirmar-se que a relação 
processual se constitui através da iniciativa do autor, por meio da petição inicial, que será distribuída 
e despachada pelo magistrado, o qual ordenará a citação do réu, e quando tal citação ocorrer estará 
constituída a relação jurídico-processual. 
Por iniciativa do Autor 
“O processo civil começa por iniciativa da parte” (vide CPC, art 262). 
 
Distribuição da petição inicial e o despacho do juiz 
“Considera-se proposta de ação, a partir do instante em que a petição inicial é despachada pelo juiz, 
ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma Vara” (vide art 263, do CPC). A exordial será 
dirigida ao juiz, nos termos dos arts 263 e 282, inciso I, que devera despachá-la, deferindo-a ou 
indeferindo-a, observadas as compilações dos arts 295 e 267, inciso I, ambos do CPC. Da relação já 
participam, então, dois sujeitos – autor e magistrado – podendo ocorrer que não se complete por se 
extinguir no nascedouro, o que se dará com o indeferimento da inicial (vide art 295, do CPC). 
 
Citação do réu 
“Citação é o ato judicial para que alguém, em prazo fixado, responda à ação que lhe é proposta ou 
pronuncie-se a cerca do objeto que lhe é indicado”[10], ou ainda pode-se dizer que a citação “é o 
ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender” (art 213, CPC). Feita a 
citação do réu, considerar-se-á constituído o processo, formada a relação jurídico-processual, sendo 
irrelevante aqui a natureza do procedimento. Na petição inicial, do processo de procedimento 
ordinário, o autor requererá “a citação do réu” (conforme exige o CPC, art 282, inciso VII) e o juiz, ao 
despachá-la, mandará cita-lo (CPC, art 285). O mesmo ocorrerá nos processos do rito sumário: “O 
juiz designará a audiência de conciliação (…) citando-se o réu …” (nos moldes do art 277, do CPC). 
Igualmente no processo de execução: “Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação 
do devedor…” (com fulcro no art 614, do CPC). E após a liquidação da sentença: “julgada a 
liquidação, a parte promoverá a execução,

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