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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
CURSO DE DIREITO
MATERIAL DE APOIO Prof. Msc Krystima Chaves 
T E O R I A G E R A L D O P R O C E S S O 
 AULA 2
 
1 - AÇÃO
 
A jurisdição, como vimos acima, é o poder do estado de resolver conflitos surgidos em relações jurídicas. Mas essa é, por sua essência, inerte, devendo ser provocada para entrar em atividade. Ela é provocada através do direito de ação. Podemos compreender, de forma genérica, a ação como a provocação por parte do interessado, visando tirar o estado de sua característica inércia, para que o mesmo preste a jurisdição. 
 
Conceito: o conceito de ação sempre oscilou, e até hoje não é encontrada uma pacificação na doutrina. Diferentes teorias já tentaram explicar o que seria a ação. A adotada pelo CPC é:
a) Teoria eclética: esta teoria entende o direito de ação como autônomo ao direito material, o direito a um julgamento de mérito, o que só ocorrerá se preenchidas as condições da ação. Para esta teoria, o direito de ação seria o direito ao julgamento do mérito da causa, seja de forma favorável ou desfavorável. As condições da ação não se confundiriam com o mérito (sendo estranhas e preliminares). Esta teoria foi expressamente adotada no Brasil, notadamente com o advento do CPC/73. Liebman defende, em verdade, que poderíamos identificar uma diferença entre o direito de demanda (também chamado de acesso ou de petição), o qual seria incondicionado; e o direito de ação propriamente dito, que seria o de obter uma resposta de mérito, e, portanto, condicionado ao preenchimento de alguns requisitos. 
Condições da ação: O direito processual de ação seria o direito à uma decisão de mérito, o qual estaria condicionado ao preenchimento de algumas condições, as chamadas condições da ação. Se restarem ausentes as condições, o autor seria carecedor de ação e, portanto, o processo seria extinto sem resolução do mérito. 
 
No CPC/15, apenas duas são as condições da ação: legitimidade de parte e o interesse processual (ou de agir). No CPC/73, tinha-se mais uma condição da ação, a possibilidade jurídica do pedido, a qual deixou de ser assim considerada com o advento do novo CPC. 
 
O CPC/15 dispõe que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade” (art. 17), fazendo-nos necessário o estudo destas condições da ação: 
 
a) Legitimidade de parte: a legitimidade de parte corresponde à aptidão de alguém figurar no polo ativo ou passivo de uma ação, seja para, respectivamente, postular o direito material dito violado ou ameaçado, ou para responder pela pretensão que é deduzida. 
Como regra, tem essa legitimidade aquela pessoa que figura na relação material discutida em juízo. Trata-se da chamada legitimidade ordinária. A titularidade da relação material é que confere legitimidade para alguém ser parte numa ação judicial.
Nesse sentido é o que reza o art. 18 do CPC/15, ao dispor que “ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio”. 
 
A legitimação ordinária (para a causa – ad causam) consiste no deferimento do direito de ação àquele a quem pertine o possível direito material que estará em discussão no processo. 
O polo ativo, a legitimidade é de quem, em sendo julgada procedente a demanda, recolherá os benefícios da mesma; para o polo passivo, ela é mensurada em função da resistência oferecida à pretensão do autor, sendo legitimado aquele que se opõe ao exercício de seu direito e que, em sendo a demanda procedente, sofrerá efeitos da decisão. 
 
Excepcionalmente, admite-se que seja parte de uma ação alguém que não é parte numa relação material discutida em juízo. Mas isso pode ser feito através de uma autorização pelo ordenamento jurídico (parte final do art. 18 do CPC/15). 
Quando há esse permissivo legal, temos que um sujeito, originariamente sem legitimidade, passa a ter a legitimação para defender um direito alheio. É o que se chama de legitimidade extraordinária, o que se configura verdadeira substituição processual. 
Exemplo é o que acontece com o poder conferido ao Ministério Público de postular em juízo o reconhecimento de paternidade em nome de uma criança. A criança seria a legitimada ordinária para ingressar com a ação, pois verdadeira titular da relação material afirmada (em face do suposto pai), mas nesse caso a lei confere legitimidade (extraordinária) ao MP, que estaria agindo em nome próprio (o MP seria parte) em defesa de direito alheio (da criança). Isso vem previsto no art. 2º, §4º, Lei n. 8.560/1992. 
 
b) Interesse de agir (processual): trata-se da necessidade da prestação jurisdicional, para que seja alcançada certa utilidade. Tem-se interesse de agir quando a tutela jurisdicional almejada é apta a trazer os benefícios e vantagens desejadas, e o interessado não poderia obter estas utilidades sem a intervenção do estado-juiz, seja porque a parte adversa não pode ou não quer satisfazer a pretensão, ou simplesmente porque a intervenção do judiciário é condição para validade do ato (como ocorre nas ações de jurisdição voluntária, as quais são chamadas de ações necessárias). 
 
Faltaria interesse de agir, por exemplo, na ação que visa o pagamento de um crédito ainda não vencido. 
 
A jurisprudência também é uníssona (inclusive do STF, quando do julgamento de RE com repercussão geral reconhecida) que o prévio requerimento administrativo, indeferido ou não analisado em tempo razoável, é considerado indispensável para que seja reconhecido o interesse de agir, na propositura de ação contra o INSS, visando a concessão de benefício previdenciário. Quando do julgamento do RE 631240, o ministro Barroso (Relator) considerou não haver interesse de agir do segurado que não tenha inicialmente protocolado seu requerimento junto ao INSS, pois a obtenção de um benefício depende de uma postulação ativa. Afirmou-se, ainda, “Não há como caracterizar lesão ou ameaça de direito sem que tenha havido um prévio requerimento do segurado. O INSS não tem o dever de conceder o benefício de ofício. Para que a parte possa alegar que seu direito foi desrespeitado é preciso que o segurado vá ao INSS e apresente seu pedido”. 
 
O CPC/15 (art. 19),afirma que “o interesse do autor pode limitar-se à declaração: 
I da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; 
II – da autenticidade ou da falsidade de documento” assim como 
“é admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha corrido a violação do direito” (art. 20). 
 
Elementos da ação: em toda e qualquer ação (demanda), é possível extrair-se três elementos mínimos, os quais são correlatos da própria relação material discutida na ação. São elementos da demanda: as partes, o pedido e a causa de pedir. 
Os elementos de uma ação permitem, também, a sua individualização, não sendo possível que haja duas ou mais ações idênticas (ou seja, com os mesmos elementos), sob pena de se configurar litispendência ou coisa julgada. 
 
a) Partes: partes da demanda são os sujeitos parciais, precisamente aquele que pede e aquele em face de quem se pede. O conceito de parte deve se ater ao aspecto puramente processual (pouco importante se a parte é legítima ou ilegítima, pois uma vez propondo a ação ou sendo demanda, é considerada parte). 
 
São partes, no processo, aqueles que vem para defender interesse próprio ou alheio, por serem os titulares das situações jurídicas ativas e passivas. Existem quatro formas de se adquirir a qualidade de parte:
i. pelo ingresso da demanda (autor/opoente)
ii. pela citação (réu, denunciado à lide e chamado ao processo)
iii. De maneira voluntária (assistente e terceiro prejudicado)
iv. sucessão processual (alteração subjetiva da demanda)
b) Pedido: é a solicitação da providência jurisdicional sobre certo bem da vida, é o bem da vida a ser perseguido, ou seja o resultado prático que o autor pretende obter com a demanda. 
De acordo com o art. 322 CPC, o pedido deve ser certo e determinado. Assim cabe ao autor delimitar e demonstrar com clareza o que se pede. O pedido do autor é o que delimita a relação do réu, portanto deve ser expresso e preciso, sobpena de violação do princípio do contraditório.
A certeza se relaciona com pedido mediato (tipo de tutela). E a determinação com o pedido imediato (liquidez, quantidade, qualidade, gênero do que se pede.
O STJ decidiu que deve-se promover a interpretação lógico-sistemática do pedido, extraindo-se o que se pretende com a instauração da demanda de todo o corpo da petição inicial e não apenas da leitura de sua parte conclusiva, mas não se admite que a mera descrição dos fatos que poderiam ensejar em tese um pedido, sem que haja qualquer cogitação tendente a exigi-lo, admita sua concessão pelo juiz.
O pedido também estrutura a própria decisão judicial, como se vê na leitura do art, 492 do CPC que proíbe o juiz de conceder diferente (extra petita) ou mais 9ultra petita). 
c) Causa de pedir: Consiste no conjunto de motivos apresentados pelo autor para que o seu pedido seja acolhido. Apresenta, portanto, os fundamentos fáticos e jurídicos que embasam a pretensão. Por exemplo: a parte pode entrar com uma ação requerendo o despejo do réu (pedido), sob o fundamento de que não estão sendo pagos os alugueis (causa de pedir). (art. 319, III CPC)
Causa de pedir remoto: são os fundamentos constitutivos da ação (os fatos jurídicos narrados, porque dos fatos é que se decorrem os fundamentos jurídicos)
Cauda de pedir próximo: São os fundamentos jurídicos, a conexão entre fatos e pedidos, sendo mais amplo do que a mera fundamentação legal.
Classificação: a ação pode ser classificada de acordo com o tipo de tutela jurisdicional que se requer: 
 
a) Ação de conhecimento: é aquela que se caracteriza por visar a declaração de qual das partes litigantes tem razão. Proposta uma ação de conhecimento, instaura-se um processo de conhecimento, diante do qual faz-se necessário que o magistrado conheça todos os elementos do litígio. 
 
b) Ação de execução: diferente da ação de conhecimento, a ação executiva é proposta visando a concretização e a efetivação, no plano dos fatos, de um direito já consagrado e reconhecido pelo ordenamento jurídico como existente, posto que consubstanciado num título executivo. 
 
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