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Indaial – 2022
Interpretação I
Prof.ª Denize Cohen Bochernitsan
Prof. Fernando Henrique Fogaça Carneiro
Prof.ª Juliane Andresa Alves Nunes
1a Edição
tradução e
Elaboração:
Prof.ª Denize Cohen Bochernitsan
Prof. Fernando Henrique Fogaça Carneiro
Prof.ª Juliane Andresa Alves Nunes
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
B664t
 Bochernitsan, Denize Cohen
 Tradução e interpretação I. / Denize Cohen Bochernitsan; 
Fernando Henrique Fogaça Carneiro; Juliane Andresa Alves Nunes. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2022.
 203 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0521-2
 ISBN Digital 978-85-515-0522-9
1. Processo de comunicação. - Brasil. I. Bochernitsan, Denize Cohen. 
II. Carneiro, Fernando Henrique Fogaça. III. Nunes, Juliane Andresa Alves. 
IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 869
Na Unidade 1, abordaremos os conceitos e o processo de comunicação. Ter 
em mente o significado e o entendimento de como se realiza a comunicação em um 
mundo globalizado, bem como entender a diferença entre os aspectos que se fazem 
necessários durante a comunicação, promoverão o entendimento das estratégias 
utilizadas para emitir e receber mensagens. Como a profissão surgiu e qual a legislação 
que a reconhece?
 
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos as diferenças entre a tradução 
e interpretação, afinal de contas, traduzir e interpretar algo diferem em diversas 
perspectivas: desde tempo, precisão e finalidade, e conheceremos todos os enfoques 
que envolvem ambas as funções para entendermos por que nos tornaremos TILSP 
(Tradutores Intérpretes de Libras/Língua Portuguesa) após os nossos estudos.
 
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos sobre os aspectos culturais e as estratégias 
de interpretação em contextos diferenciados, pois a atuação do profissional intérprete 
não se limita a eventos e palestras, existe uma infinidade de locais e possibilidades para 
praticar e promover a acessibilidade linguística, desde salas de aula, empresas, órgãos 
públicos etc. e, justamente por isso, é de suma importância conhecer as questões 
culturais acerca da língua e as técnicas aplicáveis a cada ambiente.
 
Ficou interessado em aprender sobre tradução e interpretação, sobre promover 
a acessibilidade linguística e fazer a diferença no âmbito da inclusão? Então vem com a 
gente e vamos começar a conhecer esse mundo! Bons estudos!
Prof. Fernando Henrique Carneiro Fogaça 
Prof.ª Denize Cohen Bochernitsan
Prof.ª Juliane Nunes
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ........................................................1
TÓPICO 1 - O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ....................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2 TEORIA GERAL DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ..........................................4
2.1 BALIZANDO CONCEITOS .................................................................................................... 4
2.2 COMUNICAÇÃO, LÍNGUA E LINGUAGEM ........................................................................5
2.2.1 O que é linguagem? ...................................................................................................6
2.2.2 E a língua? .................................................................................................................. 8
2.3 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ................................................................................... 8
3 A COMUNICAÇÃO E A TRADUÇÃO E A INTERPRETAÇÃO ................................ 13
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................20
TÓPICO 2 - HISTÓRIA DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ................................23
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................23
2 HISTÓRIA DA TRADUÇÃO NO MUNDO .............................................................23
2.1 O SURGIMENTO DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ............................................... 24
2.2 TILS – TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS .........................................27
2.3 HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE 
 SINAIS ...................................................................................................................................27
2.3.1 Históriada tradução e interpretação no Sul do Brasil .....................................31
RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................38
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................39
TÓPICO 3 - LEGISLAÇÃO E CÓDIGO DE ÉTICA .................................................... 41
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 41
2 LEGISLAÇÃO .....................................................................................................42
2.1 DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005.................................................43
2.2 O INTÉRPRETE A SUA LEGISLAÇÃO .............................................................................45
3 CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE/TRADUTOR ................. 47
LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................50
RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................53
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................54
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 57
UNIDADE 2 — A TRADUÇÃO E A INTERPRETAÇÃO E OS ASPECTOS 
LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS ................................................................. 61
TÓPICO 1 — DIFERENÇA ENTRE INTERPRETAÇÃO E TRADUÇÃO......................63
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................63
2 INTERPRETAR OU TRADUZIR ...........................................................................63
3 O INTÉRPRETE ................................................................................................... 67
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................70
AUTOATIVIDADE ....................................................................................................71
TÓPICO 2 - ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS .......................... 73
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 73
2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS ............................................................................... 73
2.1 LÍNGUA E LINGUAGEM.......................................................................................................74
3 A LINGUÍSTICA DA LÍNGUA DE SINAIS ............................................................. 77
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................80
TÓPICO 3 - ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS: PRAGMÁTICO E 
SEMÂNTICO, SINTÁTICO, MORFOLÓGICO E FONOLÓGICO ................................83
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................83
2 AFINAL, O QUE SÃO OS ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS? 83
2.1 ASPECTO PRAGMÁTICO E SEMÂNTICO ........................................................................83
2.2 ASPECTO SINTÁTICO ........................................................................................................84
2.3 ASPECTO FONOLÓGICO ..................................................................................................85
2.3.1 Configuração de Mãos ............................................................................................86
2.3.2 Locação/ponto de articulação ............................................................................. 87
2.3.3 Movimento ................................................................................................................88
2.3.4 Orientação/direcionalidade ...................................................................................89
2.3.5 Não manuais/expressões faciais e corporais ..................................................90
3 MORFOLÓGICOS ................................................................................................ 91
LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................99
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................105
AUTOATIVIDADE .................................................................................................106
REFERÊNCIAS .....................................................................................................109
UNIDADE 3 — ASPECTOS CULTURAIS E LINGUÍSTICOS DA TRADUÇÃO E DA 
INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS ............................................................................ 113
TÓPICO 1 — CULTURA, IDENTIDADE E RELAÇÕES DE PODER ..........................115
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................115
2 CULTURA, IDENTIDADE E DIFERENÇA ............................................................115
3 RELAÇÕES DE PODER E LUGAR DE FALA ...................................................... 118
4 ESTUDOS SURDOS E CONCEITOS CENTRAIS ............................................... 125
5 O TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NESSE CONTEXTO .....131
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 135
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 136
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 137
TÓPICO 2 - CONHECIMENTO E USO DAS LÍNGUAS E OS PROCESSOS DE 
TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ......................................................................... 141
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 141
2 CONCEITOS BÁSICOS DA LINGUÍSTICA ......................................................... 141
3 ASPECTOS SOBRE O CONHECIMENTO E USO DE UMA LÍNGUA ...................145
4 COMPETÊNCIAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE LIBRAS .................151
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................158
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 159
AUTOATIVIDADE .................................................................................................160
TÓPICO 3 - ENFRENTAMENTO LINGUÍSTICO: FIGURAS DE LINGUAGEM, 
EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS, GÍRIAS, INUENDOS, CLASSIFICADORES E 
DATILOLOGIA ...................................................................................................... 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 163
2 ALGUMAS FIGURAS DE LINGUAGEM.............................................................. 163
3 GÍRIAS, EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS E INUENDOS ....................................... 167
4 CLASSIFICADORES E DATILOLOGIA .............................................................. 173
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................182
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................183
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................188
AUTOATIVIDADE .................................................................................................189
REFERÊNCIAS ......................................................................................................191
1
UNIDADE 1 -
TRADUÇÃO E 
INTERPRETAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partirdo estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a história da tradução e interpretação;
• compreender a importância da tradução interpretação;
• identifi car diferentes conceitos de comunicação;
• compreender as implicações linguísticas do processo de comunicação.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – PROCESSO DA COMUNICAÇÃO
TÓPICO 2 – A HISTÓRIA DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO E CÓDIGO DE ÉTICA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
1 INTRODUÇÃO 
A atuação de profissionais tradutores/intérpretes é uma realidade posta nos dias 
de hoje. É fato que atuam plenamente tanto em línguas orais quanto em língua brasileira 
de sinais de natureza visual-motora originárias de comunidades de pessoas surdas. 
Contudo, entende-se que, ao decidir trilhar o caminho para o exercício profissional, é de 
fundamental necessidade que tenhamos conhecimentos e informações que darão as 
bases para o exercício consciente, cidadão e responsável. Além disso, deve-se atentar 
para o fato de ser necessário ter clareza para onde se quer caminhar, que objetivos 
temos com a formação que buscamos, como projetaremos nosso conhecimento na 
profissão? 
No trecho a seguir, retirado de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, 
ilustra:
— O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair 
daqui? 
— Isso depende muito de para onde você quer ir – respondeu o Gato. 
— Não me importo muito para onde – retrucou Alice. 
— Então não importa o caminho que você escolha” – disse o Gato. 
FONTE: Adaptado de <https://www.pensador.com/autor/alice_no_pais_das_maravilhas_lewis_carroll/>. 
Acesso em: 13 jan. 2022.
Como vimos no trecho anterior, se não tivermos exatidão acerca dos nossos 
objetivos, não fará diferença o conhecimento que adquirirmos, pois não saberemos 
como utilizá-lo e onde aplicá-lo de forma coerente, então acreditamos que você, ao 
fazer esta formação acadêmica, já refletiu sobre algumas questões e fez a escolha: a 
opção de adquirir conhecimentos e informações sobre tradução e interpretação para 
atuar de maneira consciente quando estiver no mercado de trabalho, ou seja, já tem 
consciência do caminho que deverá trilhar. 
A partir dessa premissa, neste tópico iremos trazer alguns elementos 
sobre o processo de comunicação, um processo fundamental e essencial para a 
vida em comunidades, um instrumento de integração, de troca e de interação nos 
relacionamentos humanos. 
Aliado a isso, temos o fato de que tanto o tradutor como o intérprete são 
eminentemente profissionais cuja matéria prima de sua atuação é o ato de comunicar-
se.
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
4
Portanto, neste tópico, abordaremos o processo e elementos presentes na 
comunicação, que, basicamente, se trata da transmissão de informação entre um 
emissor e um receptor que codifica (interpreta) uma determinada mensagem. 
2 TEORIA GERAL DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO 
Antes de ingressarmos nos estudos de tradução, é necessário compreender 
alguns conceitos para nortear o conhecimento do que a função de tradução e 
interpretação representam, fazendo que tenhamos o pleno desenvolvimento de nossas 
ações ao desempenhar ambos os papéis no contexto profissional em que estivermos 
inseridos.
2.1 BALIZANDO CONCEITOS
O processo de comunicação é essencial para a convivência em sociedade e por 
esse motivo propõe-se aqui a realização de percurso que julgamos necessário para que 
a comunicação flua e atinja o objetivo de transmitir determinada mensagem de forma 
que o receptor intérprete a compreenda. Afinal, qual é o desafio de uma comunicação 
para que se atinja plenamente o seu objetivo? 
No processo de comunicação, busca-se que haja um equilíbrio entre a 
mensagem que o emissor quer transmitir (intenção) a fim de que o receptor a receba na 
sua forma original (impacto). O processo de comunicação para cumprir seus objetivos 
não pode ter ruídos, deve ser claro e fidedigno. Então, isso aponta que o intérprete e o 
tradutor, no exercício de sua profissão, devem traduzir a mensagem emitida de forma 
fiel, para que o receptor a receba conforme o emissor comunicou. 
Cabe aqui salientar que não podemos confundir a tradução literal com tradução 
palavra – palavra e sim tradução literal é “aquela que mantém a semântica estrita, 
adequando a morfossintaxe às normas gramaticais da LT [língua da tradução]” (AUBERT, 
1987 apud BARBOSA, 2004, p. 65).
O fato de emitir uma mensagem não significa que ela será bem compreendida. 
Senão, se a emissão não for correta, sua recepção pode ser trocada, entendida ou 
interpretada de modo errado. Na Figura 1, uma representação para melhor compreensão 
da explicação anterior.
5
FIGURA 1 – EMISSOR EXPLICANDO O QUE É A “INTENÇÃO” NA EXPRESSÃO DA MENSAGEM E RECEPTOR 
COM EXPLICAÇÃO DO “IMPACTO” DELA
FONTE: <https://beehavior.com.br/wp-content/uploads/2018/07/Inten%C3%A7%C3%A3o_Impacto-
-768x644.png>. Acesso em: 13 jan. 2022.
Isso posto, sentiu-se a necessidade de explorar pequenos conceitos que são 
princípios básicos, bem como os elementos que compõe a comunicação. 
2.2 COMUNICAÇÃO, LÍNGUA E LINGUAGEM
De acordo com Moreira (2021, s. p., grifo nosso), comunicação “é uma palavra 
derivada do termo latino  ‘communicare’, que signifi ca  ‘partilhar, participar algo, tornar 
comum’”. Para uma comunicação efi caz, o segredo é saber se expressar, saber ouvir e 
saber observar!
Mas qual a importância de sabermos estes signifi cados/conceitos? 
Necessitamos entender que é através da comunicação, que os seres humanos 
partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de comunicar uma atividade 
essencial para a vida em sociedade. Para que haja comunicação, é necessário haver 
uma linguagem, uma língua e uma fala. 
6
Atualmente, existem cerca de 6500 línguas diferentes em todo mundo. Quase 
metade é falada com pouca frequência. As chamadas línguas minoritárias e os 
dialetos estão sob forte ameaça de extinção.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/metade-das-l%C3%ADnguas-faladas-no-mundo-sob-
-amea%C3%A7a-de-extin%C3%A7%C3%A3o/a-643024>. Acesso em: 13 jan. 2022.
INTERESSANTE
2.2.1 O que é linguagem? 
Encontra-se diferentes escritas para elucidar o termo. Para o nosso foco em 
tradução e interpretação, optamos por reproduzir o conceito de Barbosa (2019, s. p.):
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou 
sentimentos, através de signos convencionais, sonoros, gráfi cos 
ou de qualquer tipo. Seguindo uma escala evolutiva, é possível 
considerar que a primeira forma organizada de comunicação é a 
falada, em seguida, com o tempo, criou-se a forma escrita e que 
proporcionou ao ser humano conhecer o tempo e a distância. 
Contudo, se faz coerente resgatar o conceito de Saussure (2006, p. 16) no que 
se refere à linguagem, uma vez que o autor destaca o papel social dela:
A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível 
conceber um sem o outro. [...] A cada instante, a linguagem implica 
ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada 
instante, ela é um produto atual e um produto do passado. [...] Seria 
a questão mais simples se se considerasse o fenômeno linguístico 
em suas origens; se, por exemplo, começássemos por estudar a 
linguagem das crianças? Não, pois é uma ideia bastante falsa crer 
que em matéria de linguagem o problema das origens difi ra do das 
condições permanentes; não se sairá mais do círculo vicioso, então. 
Portanto, os dois autores trazem a linguagem como um sistema para comunicar 
as ideias que expressam o passado e o presente e que se constitui na representação 
dos signifi cados de diferentes modalidades. A linguagem verbal pode ser oral, escrita ou 
gestual(língua dos surdos). 
7
FIGURA 2 – UMA MESMA MENSAGEM SENDO EXPRESSA EM DIFERENTES TIPOS DE LINGUAGEM PARA 
EXPLICITAR A DIFERENÇA DELAS
FIGURA 3 – DUAS PESSOAS COMUNICANDO-SE EM LÍNGUA DE SINAIS
FONTE: <https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/wp-content/uploads/2021/04/IMAGEM-3-SERIE-
-e1618333622862.png>. Acesso em: 13 jan. 2021.
FONTE: <https://cursocompletodepedagogia.com/wp-content/uploads/2021/04/lingua-brasileira-de-sinais.
jpg#main>. Acesso em: 13 jan. 2022.
Para passar para o próximo conceito, encerramos este subtópico trazendo com 
um recorte do prefácio do livro Depois de Babel de Steiner (2005, s. p.), para refl etir 
sobre a linguagem:
O ser humano age como se fosse o criador e o senhor da linguagem, 
mas é ela que permanece a senhora do ser humano. Quando essa 
relação de dominância se inverte, o ser humano sucumbe a uma 
estranha mania de produção. A linguagem se torna, então, um meio 
de expressão. Enquanto expressão, a linguagem pode degenerar 
em simples meio de pressão. Mesmo lá onde o uso da linguagem 
não é mais do que isso, é bom que cada um seja cuidadoso com 
seu próprio dizer. Contudo, isso apenas não basta para nos ajudar 
a retornar à verdadeira relação entre a linguagem e o ser humano. 
Pois, de fato, é a linguagem que fala. O ser humano começa a falar e 
só fala à medida que responde à linguagem, à medida que escuta o 
apelo da linguagem. De todos os apelos a que nós humanos devemos 
responder, a linguagem é o mais alto e por toda parte o primeiro. 
 Linguagem é, portanto, o sistema através do qual o ser humano comunica suas 
ideias e sentimentos, seja através da fala, da escrita ou de outros signos convencionais, 
que se modifi ca e se adapta conforme a passagem do tempo.
8
2.2.2 E a língua? 
 
A língua é um instrumento de comunicação, é composta por regras gramaticais 
que possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que 
lhes permitam comunicar-se e compreender-se. A  língua  possui um caráter social: 
pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. De acordo com 
Saussure (1993, p. 3): “As línguas, esse é o objeto concreto que se oferece, na superfície 
do globo, ao linguista. A língua, esse é o título que se pode dar ao que o linguista souber 
tirar de suas observações sobre o conjunto das línguas, através do tempo e através do 
espaço”.
Portanto, em resumo, a linguagem é a capacidade que os seres humanos têm 
para produzir, desenvolver e compreender a  língua  e outras manifestações, como a 
pintura, a música e a dança. Já a língua é um conjunto organizado de elementos (sons 
e gestos) que possibilitam a comunicação. Entender a diferença entre ambas é de suma 
importância para o tradutor-intérprete, uma vez que seu trabalho está intimamente 
ligado a esses conceitos.
2.3 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
 
O processo de comunicação é o elemento que estabelece o intercâmbio entre 
os indivíduos – grupos – desde que exista um código que é a mensagem organizada. A 
comunicação pode ser verbal ou não verbal e ocorre por meio de linguagem oral, escrita 
ou gestual motora, expressões corporais, sinais, imagens, fotografias etc.
Contudo, independentemente da comunicação ser verbal ou não, existem 
elementos que fazem parte do processo, ou seja, é necessário ter um emissor que 
transmita a mensagem para que o receptor a receba. A mensagem, por sua vez, é o 
conteúdo da comunicação.
Analisemos a Figura 4:
9
FONTE: <https://melinnaguedesportugues.wordpress.com/2014/05/21/elementosdacomunicacao> Aces-
so em: 10 abr. 2021.
FIGURA 4 – FIGURAS HUMANAS REPRESENTANDO OS ELEMENTOS PRIMORDIAIS DA COMUNICAÇÃO: 
EMISSOR, MENSAGEM E RECEPTOR
Como representado na Figura 4, a comunicação é um processo complexo, 
que necessita de pelo menos dois atores ativos e um canal de comunicação para que 
aconteça a emissão de informação.
Um aspecto significativo é que não há papéis definidos entre quem é o emissor 
e quem é o receptor, uma vez que durante o processo de comunicação eles podem se 
revezar: ora emite e ora recebe a mensagem.
• Mensagem – é o conteúdo que é expedido, enviado.
• Código – é o modo como a mensagem é transmitida (escrita, fala, gestos etc.).
• Canal – é a fonte de transmissão da mensagem (revista, livro, jornal, rádio, TV, ar...).
• Contexto – situação que envolve emissor e receptor.
FONTE: <https://bit.ly/33aNlVM>. Acesso em: 13 jan. 2022.
NOTA
Então o processo de comunicação, para cumprir seus objetivos, precisa ter os 
elementos citados e não pode ter ruídos – deve ser claro. Isso quer dizer que o intérprete 
e o tradutor, no exercício de sua profissão, devem traduzir a mensagem emitida de forma 
fiel para que o receptor a receba corretamente.
10
Marques (2013) explica o processo de comunicação como uma lógica que 
poderá ter na fala a sinalização como meio de comunicação, porém não perderá as 
características esquematizadas na Figura 5.
FONTE: Guedes (2011, s. p.)
FIGURA 5 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO DE ACORDO COM A TEORIA MATEMÁTICA DA COMUNICAÇÃO, 
ONDE ENCONTRAMOS: FONTE DE INFORMAÇÃO, TRANSMISSOR, CANAL, RECEPTOR, DESTINATÁRIO
Como podemos ver no esquema, o autor traz mais dois elementos da 
comunicação: a fonte de informação e o destinatário, que pode ou não ser om próprio 
transmissor, ou, ainda, uma terceira pessoa. Você já pensou nisso? E com o surdo o 
processo é o mesmo? Se pensarmos surdo-surdo do mesmo país, sim. Mas e o surdo-
surdo de países diferentes ou surdo-ouvinte? 
Na Figura 6 temos um exemplo de situações que, infelizmente, são corriqueiras 
na vida de um sujeito surdo, em que ele tenta se fazer entender e não consegue, isso 
geralmente acontece quando a língua de sinais utilizada é de outro país ou quando o 
sujeito ouvinte não conhece a língua de sinais. 
11
FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/baixo-alcance-da-lingua-de-
-sinais-leva-surdos-ao-isolamento/imagem-cena-filme/@@images/imagem>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA 6 – TRÊS PESSOAS AO REDOR DE UMA MESA, ONDE UM DELES APARENTEMENTE ESTÁ INDA-
GANDO O SUJEITO DE COSTAS, ENQUANTO A MOÇA DE FRENTE MOSTRA UM AR AFLITO. NA LEGENDA: 
VOCÊS NÃO ESTÃO ENTENDENDO O QUE ELA ESTÁ FALANDO?
Se pensarmos na comunicação do surdo/ouvinte, ou vice-versa, esse processo 
para ser eficiente deverá contar com mais um participante: o tradutor/intérprete, como 
agente mediador de uma comunicação plena, promovendo a acessibilidade linguística 
tanto do emissor, quanto do receptor, sem importar qual dos dois será o surdo e qual 
será o ouvinte, pois ele poderá fazer a interpretação tanto da Libras para a Língua 
Portuguesa, quanto o contrário. Na Figura 7, diferente da Figura 6, podemos observar a 
atuação de uma tradutora/intérprete na sala de aula: 
FONTE: <https://www.librasol.com.br/wp-content/uploads/2015/04/13_jo_libras_certa.jpg>. Acesso em: 
13 jan. 2022.
FIGURA 7 – PROFESSOR DANDO AULA PARA UMA TURMA QUE PARECE SER DE ENSINO FUNDAMENTAL E 
UMA TRADUTORA/INTÉRPRETE REALIZANDO A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA PARA ALUNO SURDO
12
Nesse caso, há uma tríade que será de extrema importância para a compreensão 
da mensagem. O emissor, utilizando a fala, passa sua mensagem para o tradutor que 
colocará o conteúdo na língua de sinais e utilizará o canal visual (Libras) para emitir a 
mensagem ao receptor que, nesse caso, é o surdo. 
Vemos que todos os elementos envolvidos no processo de comunicação 
cumprem seus papéis de forma plena e a mensagem é compreendida pelo receptor, 
diferente da Figura 6, na qual há um “truncamento” na comunicação, por não ter um 
tradutor/intérprete fazendo a mediação. Segundo Reiter (2007, p. 15), “A comunicação 
só se efetivará na medida em que todos os elementos estiverem presentes. Se o receptor 
não capta ou não compreende a mensagem, não pode haver comunicação”. Entretanto, 
como visto anteriormente, a não compreensão da mensagem poderá ter como causa 
a mensagem emitida erroneamente e, por isso o receptor não poderá compreender o 
emitido.
FONTE: <https://www.eosconsultores.com.br/wp-content/uploads/2017/08/ruido-na-comunica%-C3%A7%C3%A3o-768x388.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA 8 – DESENHO DE DUAS FIGURAS HUMANAS REPRESENTANDO UM PROCESSO DE COMUNICA-
ÇÃO, ONDE O RECEPTOR NÃO CONSEGUE ENTENDER A MENSAGEM EMITIDA EM FUNÇÃO DE RUÍDOS NO 
CANAL
O “ruído” representado na Figura 8 pode ser justamente a falta do tradutor/
intérprete, que faz com que o receptor, no caso, o sujeito surdo, não entenda a mensagem 
transmitida pelo sujeito ouvinte ou vice-versa. Imaginemos uma situação em que o 
surdo não tem o tradutor, em decorrência de falha da instituição, ou simplesmente 
porque o profissional precisou se ausentar e não há outro para substituí-lo no local, 
como ficará para esse sujeito entender o que está sendo dito ou se fazer entender? 
Percebe-se, pelos depoimentos a seguir, que, na área educacional, a dificuldade de 
produzir uma comunicação preocupa os docentes, que acabam dependendo dos 
tradutores/intérpretes até mesmo para estabelecerem laços com seus alunos surdos:
13
Um dos professores disse que se sentia de mãos atadas em relação 
à comunicação. Ele relatou que certa vez aplicou uma  prova  de 
recuperação para um garoto surdo e que, no mesmo dia, o intérprete 
faltou. Sentindo-se impotente, o docente conta ter conhecido seu 
aluno verdadeiramente naquele momento. Ele percebeu o quanto 
era “dependente” do intérprete e que sua relação era basicamente 
estabelecida apenas com ele, não com o estudante.
Uma professora disse que ao iniciar suas aulas e perceber que 
o intérprete ainda não estava lá, costumava rezar para que ele 
chegasse, pois sem ele, ela não poderia comunicar-se com seu aluno. 
Outra docente relatou ter dúvidas sobre o que o profissional traduzia, 
porque eram “muitos sinais para pouca fala”. Ela se questionava se de 
fato seu estudante surdo estava compreendendo o conteúdo de sua 
aula (COSTA, 2017, s. p.)
Os exemplos anteriores mostram os ruídos que podem atrapalhar a comunicação, 
portanto, a figura do tradutor intérprete auxilia para minimizar os ruídos da comunicação, 
que resumidamente causam incompreensão da mensagem. Percebam que o intérprete/
tradutor não poderá ser o responsável pelo surdo ou pelo receptor. O emissor também 
deverá conhecer ou interessar-se em obter informações sobre a comunicação desse 
sujeito. Portanto, podemos dizer que o tradutor/intérprete de Libras é o profissional que 
interpreta e traduz a mensagem de uma língua para outra de forma precisa, permitindo 
a comunicação entre duas culturas distintas. Ele possui, assim, a função de intermediar 
a interação comunicativa entre o surdo e a pessoa que não usa a Libras.
3 A COMUNICAÇÃO E A TRADUÇÃO E A INTERPRETAÇÃO
Como vimos anteriormente, uma língua está intimamente ligada à cultura de 
um povo ou comunidade, por isso, enquanto intérpretes, devemos ter muito cuidado 
com nossas intervenções tradutórias, como, por exemplo, quando combinamos um 
determinado sinal para agilizar a tradução de um determinado contexto. 
As combinações tradutórias são muito comuns em áreas de estudo que não 
tem ainda desenvolvidos os vocabulários específicos, mas devemos ter em mente 
que um sinal “combinado” entre as partes envolvidas não passa a ser um sinal oficial. 
Para ampliação de vocabulário em todas as áreas, se faz necessário um amplo estudo, 
principalmente de surdos que tenham conhecimento ou formação na área em análise, 
criando, dessa forma, um glossário, para que esses sinais venham a ser divulgados na 
comunidade surda. 
É importante destacar essa questão, pois uma intervenção na língua é uma 
intervenção na cultura e preservá-la, é preservar todo o povo que a utiliza. Para que 
possamos fazer uma reflexão a respeito do quanto é importante preservarmos a 
integridade da língua, proponho começarmos este subtópico lendo uma notícia 
divulgada na Alemanha, no jornal Deustsche Welle.
https://diversa.org.br/tag/avaliacao
14
METADE DAS LÍNGUAS FALADAS NO MUNDO SOB AMEAÇA DE EXTINÇÃO
Marion Andrea Strüssmann
Preservar o idioma é preservar a cultura de um povo
Atualmente existem cerca de 6500 línguas diferentes em todo o mundo. Quase 
metade é falada com pouca frequência. As chamadas línguas minoritárias e os 
dialetos estão sob forte ameaça de extinção.
A informação é da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura 
(Unesco) a partir de um estudo que analisa a pressão exercida naturalmente pelas 
línguas dominantes e a repressão política, apontadas como principais responsáveis 
pelo possível extermínio de cerca da metade dos 6500 idiomas falados em todo o 
mundo. Tal redução pode causar sérios danos à riqueza Linguística mundial, conforme 
dados do relatório. O texto alerta que o desaparecimento de uma língua acarreta a 
perda defi nitiva de uma parte insubstituível do conhecimento humano. Em outras 
palavras, quando uma língua morre leva consigo a cultura do povo que praticava o 
idioma. E isso é irreversível. [...]
Na Europa são faladas 230 línguas, enquanto no continente asiático são 2200. Na 
África, 550 línguas das 1,4 mil existentes poderão sumir em breve. O estudo cita 
ainda países como Japão, Filipinas e Papua Nova Guiné. Nesta região do Pacífi co 
concentram-se atualmente um terço de todas as línguas faladas no mundo.
Os idiomas francês, espanhol, chinês e russo sufocaram as línguas minoritárias em 
seus países. A principal causa seria a globalização que, indiretamente, padroniza o 
idioma de cada nação. Isso faz com que as línguas que não são ofi ciais acabem sendo 
pouco valorizadas e faladas por um número cada vez menor de pessoas. [...]
FONTE: Adaptado de <https://www.dw.com/pt-br/metade-das-l%C3%ADnguas-faladas-no-mundo-sob-
-amea%C3%A7a-de-extin%C3%A7%C3%A3o/a-643024>. Acesso em: 13 jan. 2022.
O que você acha. As línguas realmente sofrem um dano linguístico e o conhecimento 
humano se perde com a extinção de uma língua? E você já pensou se o interprete/
tradutor poderá prejudicar a estrutura linguística da Língua de Sinais, no momento 
que intervém criando sinais? Por quê?
ATENÇÃO
15
A notícia nos mostra o perigo da extinção e a preocupação da Unesco, o prejuízo 
se o fato ocorresse, o quanto se perderia em questão de comunicação. Contudo, 
como todas essas línguas se comunicam? Em algumas situações utilizam uma língua 
comum entre os envolvidos, como o inglês, francês etc. Contudo, em situações ofi ciais, 
é o intérprete/tradutor quem propicia o estabelecimento de alianças entre diferentes 
países. Também são responsáveis pelas notícias internacionais e ao acesso à cultura e 
literatura de outros povos. Estima-se que, no Brasil, em torno de 75 a 80% dos textos do 
saber científi co e tecnológico provêm de traduções entre diferentes línguas.
Frente a isso, sabe-se que muitas tentativas foram feitas para criação ou 
utilização de uma só língua, que não representasse nenhuma cultura ou comunidade 
e, sim, que pudesse ser utilizada como a língua franca em atividades como o comércio 
e a diplomacia. 
O esperanto, língua artifi cial criada pelo médico e estudioso de línguas polonês, 
Ludwig Lazar Zamenhof (1859-1917), por volta de 1887, para ser língua de comunicação 
internacional –possui gramática muito simples e regular e utiliza as raízes das línguas 
europeias mais faladas, além de raízes latinas e gregas. É a mais conhecida das línguas 
artifi ciais (criadas) para atingir esse objetivo. 
Algumas expressões em Esperanto:
• Jes. – Sim.
• Ne. – Não.
• Saluton! – Olá!
• Kio estas via nomo? – Qual é seu nome?
• Mia nomo estas… – Meu nome é…
• Kiel vi fartas? – Como você está passando?
• Mi fartas bone... – Passo bem...
FONTE: <https://veja.abril.com.br/cultura/aprenda-algumas-palavras-e-frases-em-espe-
ranto/>. Acesso em: 13 jan. 2022.
INTERESSANTE
Podemos dizer que a língua artifi cial (o oposto da língua natural) é planejada 
para um determinado fi m, sem ter uma evolução natural ou interação com uma cultura 
ou comunidade étnica. O esperanto foi uma língua criada artifi cialmente, sem ter o 
aspecto cultural ou qualquer outro relevado, porém, com um únicoobjetivo de ser uma 
língua utilizada por todos, sem se importar com as particularidades da comunidade 
que a utiliza. A Libras, embora muitos continuem não aceitando que é uma língua e 
sim gestos, tem sua estrutura e gramática linguística, tendo como diferença que há 
uma língua internacional, conhecida para facilitar a comunicação entre o povo e a 
comunidade surda.
16
A comunidade surda/povo surdo também tem sua língua universal. Conhecida 
como gestuno ou Língua Internacional de Sinais (LSI). O vocábulo gestuno está caindo 
em desuso e se usa, ou os Sinais Internacionais (SI) ou a Língua Internacional de Sinais 
(LSI).
A LSI é utilizada em eventos onde surdos de diferentes nacionalidades 
interagem, como: surdolimpíadas, conferências internacionais ou, informalmente, 
quando viajam. Uma categoria de tradutores e intérpretes que estão começando a 
aprender essa língua para a tradução internacional. Quando não há um intérprete 
conhecedor da LSI, acaba-se trazendo um surdo bilingue (LSI e LSB) para auxiliar na 
interpretação.
O Brasil vai sediar a surdolimpiadas. As competições estavam previstas para o período 
entre 5 e 21 de dezembro de 2021. Contudo, por conta da situação ainda preocupante da 
pandemia do coronavírus, a nova data prevista é entre os dias 1º e 15 de maio de 2022.
INTERESSANTE
FONTE: <https://www.rbsdirect.com.br/ima-
gesrc/25731112.jpg?w=460>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA – SÍMBOLO E MASCOTE
Assista à tradução em língua de sinais internacional e brasileira 
em: https://bit.ly/34iswbx.
FONTE: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/pioneiro/esportes/
noticia/2021/02/surdolimpiadas-em-caxias-do-sul-e-adiada-para-
maio-de-2022-ckkn9r872007j019wpdt69l7v.html>. Acesso em: 
13 jan. 2022.
Como podemos perceber, o ponto aqui não é sobre qual língua é mais importante 
que outra, não é a quantidade de falantes que determina se é uma língua ou não, mas 
a expressão de uma comunidade, de um povo e de sua cultura. Chamamos de língua 
franca a “língua de contato ou de relação que assume num determinado período 
histórico, ou numa determinada região, importância especial nas relações de contato e 
na comunicação entre grupos ou membros de grupos linguisticamente distintos para o 
comércio internacional e outras formas de interação” (KAHMANN, 2002, p. 70). Podemos 
afi rmar que são questões como a política, econômicas e militares que fazem com que 
um idioma tenha importância no plano internacional e se confi gure como língua franca.
17
Em algumas situações se faz necessário uma tradução para vários idiomas. 
Quando, em 2009, Ahmadinejad, presidente do Irã, veio ao Brasil para encontrar-se 
com o presidente Lula, foi por meio de um complexo sistema de tradução que eles 
se comunicaram. Como não existem tradutores de farsi (que é a língua oficial do Irã) 
direto para o português, houve a necessidade de se fazer a tradução do farsi para o 
inglês e depois a tradução do inglês para o português. Só assim os brasileiros puderam 
compreender as falas do presidente iraniano.
Em Libras também ocorre essa situação. No ano de 2011, no salão de atos da 
UFRGS, foi realizado o Festival da Cultura Surda: entre os palestrantes surdos de outros 
países. A tradução e interpretação foi realizada por um surdo conhecedor da língua de 
sinais utilizada pelo palestrante e colocada em Libras e, após, um intérprete traduzia 
para o oral. Em qualquer ato convencional de tradução encontramos pelo menos duas 
línguas, ou melhor: dois sistemas linguísticos. 
O sistema linguístico aqui entendido como “Conjunto formado pelas unidades 
da língua – em uso e ainda possíveis de serem usadas –, que se relacionam segundo 
regras determinadas” (SAUSSURE, 2006, p. 25). Nesse caso, as modalidades eram as 
mesmas, mas a fonologia era diferente. 
Existem muitos outros locais onde a cultura surda é disseminada através do 
uso da língua de sinais, como podemos observar nas imagens a seguir, que mostram 
eventos já consolidados e amplamente divulgados através da internet:
FONTE: <http://www.signatores.com.br/img/alice/trioescada.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA 9 – ESPETÁCULO ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS – GRUPO SIGNATORES
18
FONTE: <https://mam.org.br/storage/2021/02/festival-corpo-palavra-slam-do-corpo-1-980x246.jpg>. 
Acesso em: 13 jan. 2022.
FONTE: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/07/a-falta-de-familiaridade-gera-medo-diz-
-rapper-surdo.shtml>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA 10 – SLAM DO CORPO
FIGURA 11 – RAP SURDO
Como pudemos observar, os artefatos culturais produzidos pela comunidade 
surda, aqui apresentados, o teatro, o rap e até mesmo o slam – que é um tipo específico 
de poesia colocada sob uma outra perspectiva – são manifestações da língua ou, 
melhor dizendo, são apresentadas através da língua de sinais, dando visibilidade a toda 
a cultura que integra o povo surdo. Esses artefatos são de extrema importância para a 
perpetuação da língua e da cultura que ali estão expressos e o tradutor/intérprete tem, 
frente a isso, a responsabilidade de, ao mediar tais apresentações, fazê-lo da forma 
mais fidedigna possível, pois interferirá diretamente na conservação delas. 
19
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Comunicação é uma palavra derivada do termo latino  "communicare", que 
significa "partilhar, participar algo, tornar comum".
• O processo de comunicação é o elemento que estabelece o intercâmbio entre os 
indivíduos e grupos, desde que exista um código, que é a mensagem organizada. 
• Linguagem verbal é aquela que produz ideias, sentimentos ou manifestações através 
da fala e dos gestos.
 
• Linguagem não verbal, aquela que é produzida por meio de pinturas, desenhos, 
danças e escritas. 
• Linguagem mista ou hibrida é a que utiliza a fala/gestos e imagem, dança etc.
• A língua é um instrumento de comunicação, é composta por regras gramaticais que 
possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que 
lhes permitam comunicar-se e compreender-se.
 
• Conceitos dos elementos presentes e essenciais na comunicação: mensagem, canal, 
contexto, emissor e receptor.
• Houve a tentativa de se criar e utilizar a língua universal esperanto, e, na área da 
surdez, o gestuno. O esperanto está em desuso, porém o gestuno, conhecido 
atualmente por língua internacional de sinais, é utilizada onde a comunidade surda 
de diferentes países se encontram.
• O processo de comunicação do surdo/ouvinte terá um elemento a mais, o intérprete.
RESUMO DO TÓPICO 1
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1 A língua é utilizada na comunicação, porém, na história, diferentes usos foram feitos 
da língua. A respeito disso, associe os itens, utilizando o código a seguir:
I- Língua Universal.
II- Língua Artificial.
III- Língua Natural.
IV- Língua Franca.
( ) O português, inglês, russo são exemplos dessa língua. É o sistema de comunicação 
verbal que se desenvolve espontaneamente no interior de uma comunidade.
( ) São línguas construídas para facilitar a comunicação. Exemplo: esperanto e ido.
( ) É a  língua  tomada como  língua  comum de grupos sociais que falam, cada um, 
uma língua diferente dos outros.
( ) Uma língua mundial ou universal é uma língua falada internacionalmente, que é 
aprendida por muitos como segunda língua.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) III – II – IV – I.
b) ( ) IV – II – III – I.
c) ( ) II – IV – III – I.
d) ( ) I – I – III – IV.
2 Falamos sobre a língua franca, hipoteticamente, pensando se a maioria da população 
mundial fosse surda, você acredita que a língua de sinais internacional seria a língua 
franca nas negociações internacionais? Justifique sua resposta.
3 O fato de sermos pessoas racionais, faz com que utilizemos alguns elementos para 
nos comunicar. A este aspectos chamamos comunicação. A comunicação é um 
processo que deve ter os seguintes elementos para ocorrer:
a) ( ) Emissor, receptor, canal, mensagem.
b) ( ) Emissor, receptor, intérprete, mensagem.
c) ( ) Intérprete, mensagem, surdo,emissor.
d) ( ) Falante, ouvinte, mensagem, canal.
4 A linguagem é vista como meio de interação social entre os indivíduos de uma 
comunidade. Partindo dessa afirmação, comente acerca da relação que se estabelece 
entre os indivíduos participantes.
AUTOATIVIDADE
21
5 Como percebemos, o processo de comunicação é natural no ser humano, porém, 
cientificamente, faz-se necessário conceituar a linguagem, a língua e a fala. Sobre o 
exposto, analise as afirmativas a seguir.
 
I- Linguagem é um sistema para comunicar as ideias que expressam o passado e 
o presente e que se constitui na representação dos significados de diferentes 
modalidades. A linguagem verbal pode ser oral, escrita ou gestual (língua dos surdos).
II- Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais 
que possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados 
que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. A  língua  possui um caráter 
social: pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela.
III- A  linguagem  é o mecanismo que utilizamos para transmitir nossos conceitos, 
ideias e sentimentos. Trata-se de um processo de interação. Qualquer conjunto de 
signos ou sinais é considerado uma forma de linguagem. Já a  língua é um código 
verbal característico, ou seja, um conjunto de palavras e combinações específicas 
compartilhado por um determinado grupo.
IV- Fala é a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada 
indivíduo, para a manifestação da  fala, pode escolher os elementos da língua que 
lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o 
contexto, sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive etc.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas I e II estão corretas.
b) ( ) Respostas II, III e IV estão corretas.
c) ( ) Nenhuma alternativa correta.
d) ( ) Todas as respostas estão corretas.
22
23
HISTÓRIA DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
1 INTRODUÇÃO 
O surdo, durante muito tempo, teve em sua história uma barreira de comunicação, 
sua língua não era aceita e somente em 2002 a Libras conseguiu o reconhecimento, e 
com isso surgiu a luta pela oficialização de uma nova profissão, o tradutor/intérprete. No 
Brasil, surgiram cursos para profissionalizar as pessoas para trabalhar nessa mediação, 
tornando cada vez mais necessário que haja estudos e pesquisas para esta área.
O profissional tradutor intérprete de Língua Brasileira de Sinais-Libras e, também, 
de Língua Portuguesa é o profissional responsável por fazer a mediação entre as línguas 
brasileira de sinais e portuguesa esse é o papel do intérprete promover a Acessibilidade 
à pessoa surda nos diversos espaços sociais. 
 Os intérpretes de Libras sempre existiram no Brasil, assim como as pessoas 
surdas, embora ainda não tendo o reconhecimento como profissionais intérpretes e 
nem aclamados como tal, mesmo porque a Libras não era tida como língua, e nem 
existiam cursos de formação para tradutor/intérprete. 
Entretanto, com o surgimento do primeiro curso, em 1997, em uma parceria da 
UFRGS e da Federação Nacional de Educação de Integração dos Surdos, regional do 
Rio Grande do Sul (Feneis) a visão para com a Libras e os intérpretes passou a ser mais 
clara, com um olhar verdadeiro, natural e respeitoso. O surgimento, também, de várias 
associações de intérpretes solidifica a profissão e auxilia na construção da identidade do 
tradutor intérprete. No entanto, como essa profissão surgiu? 
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos a história da tradução/interpretação. 
Veremos como surgiu na história, bem como o necessário em diferentes países para 
exercer essa função. Após, focalizaremos na história do Brasil e no Rio Grande do Sul. 
Vamos lá?
2 HISTÓRIA DA TRADUÇÃO NO MUNDO 
Traduzir é a maneira mais atenta de ler, é quando se pensa e repensa sobre as 
palavras, se busca interpretá-las e substituí-las. Por isso é de extrema importância que 
se tenha um conhecimento amplo das duas línguas, pois a busca por sinônimos e sinais 
acontece numa fração de segundos.
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
24
 O tradutor/intérprete tem a responsabilidade de repassar o conteúdo da 
interpretação, seja aula, palestra, ou qualquer outro tipo de evento, de forma o mais 
fi dedigna possível, pois é direito dos sujeitos envolvidos nesse processo de comunicação 
receberem todas as informações. Então, essa profi ssão tem um papel social muito 
importante. Como surgiu a necessidade desse profi ssional? É o que veremos a seguir:
2.1 O SURGIMENTO DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO 
Vários personagens da história foram intérpretes ou tradutores. Um exemplo 
foi Martinho Lutero (1483-1546), que ousou interpretar diferentemente as escrituras 
sagradas. Outro exemplo foi Francisco de Assis, que viajava pela Europa aprendendo e 
atuando em resolução de situações problemas entre pessoas com línguas diferentes. 
No entanto, nossos estudos não focam somente nesses momentos, e também em 
documentos encontrados em diferentes épocas. 
De acordo com a pesquisa de Pagura (2013), a mais antiga referência a um 
intérprete parece ser um hieróglifo egípcio do terceiro milênio antes de Cristo. Há 
registros de intérpretes na antiga Grécia e no Império Romano. Na Bíblia, o Apóstolo 
Paulo faz a seguinte admoestação em sua Epístola aos Coríntios: "E se alguém falar em 
língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja 
intérprete" (1 Co 14.28). 
A atuação de intérpretes também está documentada na Idade Média, seja nas 
Cruzadas ou em encontros diplomáticos.  Os processos de tradução e interpretação 
não constituem atos da contemporaneidade como muitos imaginam. Batalha (2015) 
coloca que a interpretação simultânea seja relacionada aos movimentos pós-guerra, 
principalmente em conferências, essa modalidade já era praticada desde o Egito Antigo 
e no Império Romano quando se utilizavam línguas orais. Em documentos datados de 
três mil anos antes de Cristo pode-se constatar uma referência a um supervisor de 
intérpretes onde indica que essa categoria era usada na administração pública.
A tradução simultânea foi usada pela primeira vez durante os julgamentos dos na-
zistas após a Segunda Guerra Mundial.
ATENÇÃO
Focando na tradução diplomática, estima-se que sua existência data de mais de 
quatro milênios. Na Grécia Antiga, embaixadores eram enviados para diferentes missões 
à diferentes regiões para entregar mensagens, intercambiar oferendas e sustentar os 
pontos de vistas de seu povo para os governantes. E para isso era necessário pessoas 
que fi zessem o papel de tradutores e intérpretes.
25
Entretanto, foi em Roma que surgiram as primeiras teorias sobre a tradução. 
Horácio, Vírgilio e Cícero, que traduziam do grego, utilizaram sua prática para estudar as 
dificuldades de transpor uma mensagem produzida em uma língua para a compreensão 
dos leitores em outro idioma.
FONTE: <https://bit.ly/3LGTqKT>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA 12 – HORÁCIO, VIRGÍLIO E CÍCERO
Até o início da Idade Média as atividades do tradutor Intérprete continuaram as 
mesmas. Na Idade Média, o francês predominava como o idioma usado pelos nobres 
nos negócios e nas relações internacionais. Somente em 1919, após a Conferência de 
Paris, deixaria de sê-lo, pois os políticos exigiam a implantação do multilinguismo, dada 
à abertura comercial com países anglo-saxônicos e demais países do mundo.
Os registros da tradução ocorrem em maior número na área religiosa. As práticas 
de tradução e da interpretação aconteciam em mosteiros, concílios e sinagogas, que 
agrupavam diferentes pessoas em busca de uma identidade religiosa, de um maior 
aprofundamento sobre a religião ou simplesmente prática da crença religiosa. Também, 
diversos religiosos viajavam para locais remotos levando a palavra de Deus e aprendiam 
a comunicação local, atuando como intérpretes quando necessário.
 Lutero afirmava que teria que se interpretar a palavra de Deus para que 
houvesse a compreensãode todos e não simplesmente aceitá-la. Nesse momento, 
Lutero é condenado e acontece a reforma protestante.
Mais ou menos na época da reforma, aconteceram as grandes navegações, 
descobertas de novas terras exigiram intérpretes para comunicar-se com os índios. 
Assim, os conquistadores desenvolveram a prática de raptar jovens entre as tribos e 
forçá-los ao convívio com os europeus até que aprendessem o idioma. 
26
Cristóvão Colombo constatou que seu intérprete de árabe e hebreu de pouco lhe 
serviu para comunicar com os índios. Consequentemente, e após essa primeira viagem, 
ele decide capturar alguns índios e ensinar-lhes o espanhol para que lhe pudessem ser 
úteis como intérpretes na expedição seguinte. O mesmo aconteceu com espanhóis que 
estiveram presos pelos índios e aprenderam a língua e os costumes desse povo, servindo 
também de intérpretes. Naturalmente, a “confi ança”, que é um elemento fundamental 
para a realização da comunicação, não se estabeleceu nem de um lado nem de outro.
 Na conquista do território que hoje é o México, houve um episódio que ilustra 
bem essa questão. Segundo Paz e Gutierrez (2013) uma asteca chamada Malinche 
(que era de origem nobre, mas foi dada como escrava) conviveu entre vários grupos 
que habitavam aquela região e aprendeu vários idiomas indígenas. Quando chegou 
o conquistador Hernán Cortez, ela serviu de intérprete para as mensagens que os 
espanhóis traziam de uma nova religião e de domínio. Ela tornou-se amante de Cortez 
e teve com ele um fi lho. Cortez foi o responsável pelo massacre dos indígenas na 
península de Yucatán. O nome “Malinche” entre os mexicanos é até hoje sinônimo de 
“traidora”. Essa importante personagem histórica é representada como uma mulher de 
duas caras e duas palavras. 
FONTE: <https://www.cceturin.com/wp-content/uploads/2019/03/LaMalinche.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2022.
FIGURA 13 – ÓLEO DE ROSARIO MARQUARDT, 1992
Surge a necessidade de esclarecer que a tradução e interpretação era diferente 
como conhecemos. Utilizava-se muita mímica, gesto quando a língua oral não era fl uente. 
O personagem da tradução e interpretação, não era uma preocupação acadêmica, 
bastava que detivesse a técnica e conhecesse a língua, podendo migrar de uma para 
a outra com pouca difi culdade, sendo ainda essa atividade de caráter voluntário. O 
aperfeiçoamento das estratégias da tradução e interpretação se desenvolve a partir dos 
avanços mercantis e o surgimento de organismos internacionais.
27
Importante salientar que no século XIX, aqui no Brasil, a leitura de livros e 
periódicos se tornou comum. Naquela época não havia os direitos autorais, portanto 
o tradutor era considerado, perante a lei, como autor do texto em português. Um 
marco importante foi a institucionalização da profi ssão de intérprete, no século XIX. As 
profi ssões de tradutor e intérprete contribuíram para o desenvolvimento econômico, 
cultural, social e político do Brasil.
2.2 TILS – TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS 
Segundo o site da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos 
(2018), antes de conhecermos como o Tils (doravante, utilizaremos essa sigla para referir 
ao profi ssional tradutor intérprete da língua de sinais) como profi ssão, essa função era 
realizada por familiares de sujeitos surdos ou por pessoas que se interessaram em 
aprender a Libras e desenvolver ações de interpretação voluntariamente. Sua aparição 
não se diferenciou da história mundial e a presença dos primeiros intérpretes no Brasil foi 
em atividades religiosas, a partir de 1980. Aos poucos precisou o aperfeiçoamento desse 
profi ssional e surge, então, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos 
(Feneis). A Feneis é uma instituição fi lantrópica, sem fi ns lucrativos, que promove ações 
de integração entre os surdos, bem como desenvolve atividades políticas, culturais, 
educacionais, sociais e linguísticas da comunidade surda do Brasil. Ela também contribui 
para o fortalecimento e reconhecimento da carreira dos intérpretes. 
É preciso que o TILPS conheça a história do surdo, por isto sugerimos a leitura do 
artigo “Emiliano critica a política do MEC sobre a educação de Surdos”, disponível em: 
https://bit.ly/3J6XVfC.
DICAS
2.3 HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE 
DE LÍNGUA DE SINAIS
A existência dos tradutores e intérpretes de língua de sinais tem uma história 
diferenciada em cada país até hoje. O surgimento da história da constituição desse 
profi ssional se deu a partir de atividades voluntárias que foram sendo valorizadas 
enquanto atividade laboral na medida em que os surdos foram conquistando o seu 
exercício de cidadania. 
28
À medida que o surdo participava e conquistava seu lugar na sociedade 
representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes 
de língua de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da 
língua de sinais em cada país. 
A partir do momento em que o surdo se fez presente, que sua língua se 
fortaleceu, a garantia ao direito linguístico do surdo teve que ser reconhecida, pois esse 
direito lhe havia sido negado a partir do congresso de Milão.
Conquistado o direito linguístico, foi necessário garantir acessibilidade através 
as instituições que se viram obrigadas a assegurar acessibilidade através do profissional 
intérprete de língua de sinais. A seguir, serão apresentados os fatos históricos relevantes 
sobre a constituição do profissional intérprete de língua de sinais na Suécia, nos Estados 
Unidos e no Brasil.
Na Suécia, também iniciou sua presença na área religiosa. No final do século 
XlX, ao passar do tempo (1938) com a participação efetiva do surdo no parlamento, 
foi necessário ter mais Tils. Então, em 1947, mais 20 pessoas começaram na função 
de tradução e interpretação. Após 21 anos, em 1968, por uma decisão do Parlamento, 
todos os surdos teriam acesso ao profissional intérprete livre de encargos diante de 
reivindicações da Associação Nacional de Surdos. Nesse ano, também foi criado o 
primeiro curso de treinamento de intérprete na Suécia, organizado pela Associação 
Nacional de Surdos, junto à Comissão Nacional de Educação e à Comissão Nacional 
para Mercado de Trabalho. Em 1981, foi instituído que cada conselho municipal deveria 
ter uma unidade com intérpretes.
A Suécia foi o primeiro país a reconhecer a Língua de Sinais Sueca. Na lei, está 
escrito a responsabilidade do estado em relação a sua proteção e promoção: “Lei da 
Língua Sueca. §9º O estado tem a responsabilidade principal de proteger e promover a 
língua sueca de sinais” (SUÉCIA, 2009). Cabe ressaltar que a língua sueca de sinais é 
uma das várias línguas minoritárias reconhecidas nessa lei, e é desenvolvida e utilizada 
na Suécia. 
Nos Estados Unidos, em 1815, Thomas Gallaudet era intérprete de Laurent Clerc 
(surdo francês, discípulo de L’Epée, que estava nos EUA para promover a educação de 
surdos). Esse foi um grande marco na história dos surdos.
Conforme Quadros (2004), entre os países escandinavos, a Suécia foi o primeiro 
país a promover um curso de formação de ILS, elaborado através da Associação Nacional 
de Surdos com a parceria da Comissão Nacional de Educação e a Comissão Nacional 
para Mercado de Trabalho. 
29
Já a Dinamarca teve sua Associação Nacional – Foreningen af Tegnsprogstolke 
– fundada em maio de 1977. Na Finlândia, a Suomen Viittomakielen Tulkit foi fundada em 
1982 e, atualmente, possui aproximadamente 400 ILS sócios e atuantes. Atualmente, 
o país conta com duas escolas politécnicas que oferecem cursos de formação de ILS 
de quatro anos de duração. O registro dos ILS da Finlândia é compartilhado entre a 
Associação dos Surdos, a Associação de Surdos Cegos e a Associação dos Intérpretes.
Na Inglaterra, a história da organização dos ILS é mais recente. A fundação da 
Associação Nacional – Association of Sign Language Intérpreters –, aconteceu no ano 
de 1987, durante a High Leigh Conference Centre, em Hertfordshire, com a participaçãode 40 intérpretes da Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Atualmente, a Inglaterra 
conta com Centros de Estudos Surdos em algumas universidades, como a Universidade 
de Bristol, que promovem cursos de formação para intérpretes, tanto em nível de 
graduação (com duração de três anos) quanto de pós-graduação.
Como acontecido em outros lugares, pessoas intermediavam a comunicação 
para surdos (normalmente vizinhos, amigos, filhos, religiosos) como voluntários 
utilizando uma comunicação muito restrita.
Em 1964, foi fundada uma organização nacional de intérpretes para surdos 
(atual RID), estabelecendo alguns requisitos para a atuação do intérprete. E, em 1972, o 
RID começou a selecionar intérpretes oferecendo um registro após avaliação. 
O RID apresenta, até os dias de hoje, as seguintes funções: selecionar os 
intérpretes, certificar os intérpretes qualificados; manter um registro; promover o código 
de ética; e oferecer informações sobre formação e aperfeiçoamento de intérpretes.
Russo (2009) coloca que, na América Latina, nos países da América Central e 
do norte da América do Sul, percebe-se uma forte influência dos Estados Unidos, que 
assume o investimento dos cursos de formação de intérpretes e tradutores de Língua 
de sinais, desde que sejam ministrados em ASL (Língua de Sinais Americana). E essa 
exigência influencia a língua de sinais desses países, uma vez que percebemos muitos 
sinais originados dessa língua. Em alguns casos, inclusive, a ASL é a língua de sinais 
utilizada pela comunidade surda e pelos ILS.
Já no Brasil, segundo Russo (2009), não há muitos registros dessa profissão. Os 
intérpretes apareceram em trabalhos religiosos iniciados por volta dos anos 1980.
Não temos muitos registros oficiais sobre a formação mais acadêmica 
ou formal de intérpretes anteriormente à década de 1990. Apesar 
disso, temos alguns relatos de pessoas ligadas à comunidade surda – 
amigos de surdos ou filhos ouvintes de pais surdos – em que atuavam 
como intérpretes durante idas ao médico, intermediando ligações 
telefônicas, conversas com o gerente de banco, com advogados, 
com os padres, com familiares que não sabiam a língua de sinais, 
bem como em reuniões com os professores dos próprios filhos 
30
ouvintes nas escolas em que eles estudavam. Também há relatos 
de alguns professores ouvintes que atuavam em escolas de surdos 
e tinham um bom conhecimento de língua de sinais, onde assumiam 
a função de intérpretes em eventos relacionados à escola (RUSSO, 
2009, p. 27).
Como podemos perceber, a profissão, antes dos anos 1990, tinha um caráter 
assistencialista, que descaracteriza a função do tradutor/intérprete enquanto 
profissional e o coloca no papel de “cuidador”, “ajudante” e acaba fazendo com que 
o sujeito surdo, por sua vez, fosse visto como uma pessoa “deficiente”, no sentido de 
ineficiência, de algo que falta. 
Essa visão da surdez está atrelada à um olhar clínico, que a vislumbra como 
algo a ser curado, minimizado e, consequentemente, apagado. Hoje entendemos que 
a profissionalização do tradutor/intérprete de Libras também contribuiu para uma 
mudança de paradigma acerca da surdez e do ser surdo. 
Há pessoas que acreditam que o primeiro tradutor de LIBRAS foi o surdo Flausino Gama, 
que traduziu os sinais franceses para sinais brasileiros publicando a Iconografia dos Sinais.
IMPORTANTE
FIGURA – ICONOGRAPHIA DOS SIGNAES (FLAUSINO JOSÉ DA GAMA, 1875)
FONTE: <https://bit.ly/3zVfBYi>; <https://bit.ly/3zSYCG6>. Acesso em: 13 jan. 2022.
Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais 
organizado pela Feneis, que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns 
intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete.
Quatro anos depois, em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes 
de Língua de Sinais, também organizado pela Feneis, que promoveu o intercâmbio entre 
as diferentes experiências dos intérpretes no país, discussões e votação do regimento 
interno do Departamento Nacional de Intérpretes fundado mediante a aprovação dele. 
31
E assim começou, via Feneis, a contratação e cursos de formação de tradutores/
intérpretes. Em 2007, o departamento de intérpretes da Feneis transformou-se em 
Associação Gaúcha dos Intérpretes da Língua de Sinais (AGILS).
Em 22 de setembro de 2008 é fundada a FEPRAPILS, uma entidade profissional 
autônoma, sem fins lucrativos ou econômicos, de duração indeterminada, com 
personalidade jurídica de direito privado, qualificável como de interesse público e 
pertencente ao território brasileiro.
2.3.1 História da tradução e interpretação no Sul do Brasil
No Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul e Minas Gerais, o relato de 
Geralda Eustáquia Ferreira e Ricardo Sander, nos trazem a história viva da profissão de 
tradutor/intérprete. 
FIGURA 14 – PRIMEIROS TRADUTORES E INTÉRPRETES “PROFISSIONAIS”
GERALDA E. FERREIRA E RICARDO ERNANI SANDER
 FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=CEkB3a9PaNE&ab_channel=RicSander>. Acesso em: 13 jan. 
2021.
Os dois salientam que não havia cursos e, então, aprenderam empiricamente e 
não são Codas, mas se interessaram pela língua de sinais. Geralda Eustáquia Ferreira 
narra que, no seu tempo, não havia nenhum recurso a não ser a carta e o telefone 
convencional (poucos):
Bom, aprendi muito e comecei a traduzir comecei a pesquisar estudei 
por conta própria e foi isso, a minha história é essa, não tenho parente 
surdo mas eu tive e tenho uma vontade muito grande de selo de 
ligação. Minha formação em psicologia não me ensinou nada sobre 
surdo. Eu fui procurando, garimpando e sempre na cola do surdo. 
Se eu quis alguma coisa eu tive que contar muito com Antônio .O 
Antônio ia de Belo Horizonte ao Rio, eu pedia emprestado xerocava 
aquelas coisas todas bem antigas ia para Belo Horizonte e aí ou 
era em francês ou espanhol aí eu ia ali né traduzindo pescando as 
coisas aqui em Minas nós falamos que é uma peleja foi uma peleja 
,não foi sofrimento, mas foi uma feliz e valeu a pena porque isso me 
fez é encontrar em mim e nas coisas ao meu redor possibilidades de 
traduzir né [...] (SANDER, 2021, 24:18 min.)
32
Já Ricardo salienta que começou seu contato na área religiosa e, assim, foi 
aprendendo a língua e a cultura surda. Com esse interesse foram se aperfeiçoando em 
contato com o surdo e posteriormente tornaram-se referência e professores para e de 
outros intérpretes.
A primeira aparição do intérprete de língua de sinais foi televisionada pela 
Gaúcha e Bandeirantes e ocorreu em Belo Horizonte no ano de 1999. Era um evento 
com autoridades surdas. Foi aberto com a tradução do Hino Nacional feita pelo Ricardo 
Sander, e a abertura foi realizada por Antônio Campos e a intérprete foi Geralda Eustáquia 
Ferreira. Geralda nos conta como aconteceu a preparação para esse momento. 
Antonio escreveu o discurso no português dele, me enviou. Após eu 
escrevi no meu português (fiz a tradução) E começamos a treinar. 
Foram três meses até o dia do evento. Neste dia, estava eu ao lado 
direito de Antonio olhando-o ê interpretando para o oral. Essa era 
mais uma estratégia que eu não sabia: não ficar ao lado do surdo e 
sim na sua frente para ver e traduzir seus sinais. Esse evento foi um 
marco nas definições da luta da comunidade surda (SANDER, 2021, 
30:10 min.).
A partir desses movimentos, a comunidade surda fortalece e começa o 
movimento dos intérpretes. No Sul do Brasil, a interpretação e tradução começa a ter 
uma clientela maior e, com isso, o pensamento de um curso para sanar a necessidade 
imediata do momento. Então, reúne-se na escola Frei Pacífico tradutores e intérpretes 
atuantes, candidatos e representantes da comunidade gaúcha (Carlos Alberto, André 
Reichert e Mariane Stumpf). A partir desse momento, grupos de estudos surgem para 
debater e definir algumas estratégias e regras para a tradução e interpretação.
FIGURA 15 – PRIMEIRO GRUPO DE INTÉRPRETES. SURDOS E OUVINTES PRESENTES
FONTE: Acervo dos autores.33
A tradução e interpretação era um serviço contratado através da Feneis, tendo, 
naquele momento (1998), a Dra. Lodenir Karnoop como representante da categoria na 
Feneis. Em 2007, resolveu-se fundar a Associação Gaúcha de intérpretes de Língua de 
Sinais (AGILS).
A AGILS é uma entidade sem fins lucrativos que visa oportunizar aos intérpretes 
de Libras do RS momentos de formação continuada em diferentes modalidades. Realiza 
atividades sociais e culturais, com o objetivo de estabelecer um plano profissional para a 
categoria, bem como defender seus os direitos atribuídos aos seus deveres. Valorizando 
a profissão, promovendo ações coletivas entre os intérpretes, participando da discussão 
nacional e regional de toda as pautas que tratem sobre as nossas demandas.
Em Santa Catarina, de acordo com o site da ACATILS, essa é uma entidade 
civil, não governamental, sem fins lucrativos, de duração indeterminada, pertencente ao 
Estado de Santa Catarina. É função dessa entidade defender os direitos dos profissionais 
da área bem como difundir a importância dessa profissão; promover e apoiar o acesso 
à formação continuada e a integração da classe; realizar um trabalho em parceria com 
as Associações, Federações, Confederações de Surdos e de Tradutores e Intérpretes 
dentre outras instituições, bem como apoiar projetos que incluam a pessoa surda em 
um escopo social. Hoje existem várias Associações de TILS, conheça algumas:
Associações do Sudeste:
• SP: APILSBESP – Associação dos Profissionais Intérpretes e Guias-Intérpretes da 
Língua de Sinais Brasileira do Estado de São Paulo.
• RJ: APILRJ / AGITE – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guias-
Intérpretes de Língua de Sinais Brasileira do Estado do Rio de Janeiro.
• MG: APILSEMG – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes do Par Linguístico, Língua Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa do 
Estado de Minas Gerais
• ES: APILES – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-Intérpretes 
de Língua Brasileira de Sinais do Espírito Santo.
Associações do Sul:
• SC: ACATILS – Associação Catarinense de Tradutores e Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Língua de Sinais.
• PR: APTILS – Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Língua de Sinais do Paraná.
• RS: AGILS – Associação Gaúcha de Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de 
Sinais.
Associações do Centro-Oeste:
• DF: APILDF – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais do Distrito Federal e entorno.
34
• MT: APILMT – Associação dos Profissionais Intérpretes e Gui-Intérpretes de Língua 
de Sinais do estado do Mato Grosso.
• MS: APILMS – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais do Mato Grosso do Sul.
• GO: APILGO – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
intérpretes de Língua de Sinais do Estado de Goiás.
Associações do Nordeste:
• BA: APILSBA – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais do estado da Bahia.
• MA: APILMA – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
intérpretes de Libras do Maranhão.
• PI: APILSPI – Associação dos Tradutores, Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua 
Brasileira de Sinais do Piauí.
• CE: APILCE – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Libras do Ceará.
• PE: APILPE – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Libras do Pernambuco.
• RN: APILRN – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes da Língua Brasileira de Sinais do Rio Grande do Norte.
• SE: AILES – Associação dos Tradutores, Intérpretes e Guia-intérpretes de Língua 
Brasileira de Sinais do Estado do Sergipe.
Associações do Norte:
• AP: ASTILAP – Associação dos Tradutores, Intérpretes e Guia-Intérpretes de Libras-
português do Amapá.
• AC: ASTILEAC – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais – Libras, no estado do Acre.
• RR: APPIS – Associação dos Professores, Parentes, Amigos e Intérpretes dos 
Surdos de Roraima.
• AM: APILAM – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
intérpretes de Língua Brasileira de Sinais do Amazonas.
• PA: ASTILP – Associação dos Tradutores, Intérpretes e Guia-intérpretes de Língua 
Brasileira de Sinais do Estado do Pará.
• RO: APTIGILSP/RO – Associação dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guia-
intérprete de Língua de Sinais do Estado de Rondônia.
FONTE: Adaptado de <https://apilsemg-br.wixsite.com/tils/conheca-as-outras-apils>. Acesso em: 13 
jan. 2022.
Neste tópico, estudamos o surgimento dos profissionais e das associações, 
porém, com o aumento de pessoas trabalhando nesse setor, algumas decisões foram 
discutidas, como a formação desse profissional e sua conduta. Portanto, no próximo 
tópico, discutiremos o código de ética dessa categoria.
35
Apesar da categoria de intérpretes e tradutores ser reconhecida por decreto, 
ela ainda luta por sua valorização. A falta de informação da sociedade faz com que, em 
alguns momentos, o tradutor intérprete passe por situações inusitadas. É necessário 
que se conheça quem é o sujeito com que o TILPS irá trabalhar.
O texto a seguir nos possibilita a reflexão sobre o que sente o surdo em ser surdo. 
Como intérpretes, temos que conhecer a realidade de nosso cliente. Leia e perceba a 
reflexão feita e o caminho trilhado do surdo.
Falamos bastante sobre a história da tradução e interpretação, mas quem é o sujeito que 
esse profissional irá trabalhar? Para responder esse questionamento, sugere-se a leitura a 
seguir para conhecer a opinião desse sujeito.
O ORGULHO DE SER SURDO
Leland Emerson McCleary
Quero agradecer o convite para estar aqui hoje. É uma honra para mim. Acho este encontro 
entre surdos e intérpretes muito importante neste momento histórico. Fico muito satisfeito 
de ver que eventos como este, organizados por instituições surdas e reunindo surdos e 
ouvintes, estão começando a acontecer com frequência.
Também quero agradecer a Priscilla pelo tópico que ela me passou. Ela pediu que eu 
falasse sobre "a crença que surdos norte-americanos têm na sua língua e na sua cultura". 
É um tópico muito interessante, e um que pode nos ensinar muita coisa.
Eu não perguntei para a Priscilla, mas eu acho que ela tinha também uma outra pergunta 
em mente: Por que os surdos norte-americanos crêem na sua língua e na sua cultura, e os 
brasileiros não? Ou talvez: Por que os surdos norte-americanos parecem crer mais na sua 
língua do que os brasileiros? Em outras palavras, eu entendi que o interesse no tópico não 
era apenas uma curiosidade sobre o que acontece nos Estados Unidos. Eu entendi que 
ela estava interessada em ver o que nós, brasileiros, podemos aprender com a experiência 
norte-americana. Pelo menos, é assim que eu entendi, e é sobre isso que eu vou falar hoje.
Vamos supor que os surdos norte-americanos creem mais na sua língua e na sua cultura 
do que os brasileiros. Será que é porque os surdos norte-americanos são mais sensíveis, 
ou mais espertos? Certamente que não! Será que é porque sua língua e sua cultura 
merecem mais admiração ou que são mais bem desenvolvidas ou mais completas do que 
a língua de sinais e a cultura surda brasileira? Também a resposta teria que ser: não!
Hoje eu vou sugerir uma explicação histórica e política para o orgulho que a comunidade 
surda norte-americana tem da sua língua e da sua cultura.
Primeiro, eu queria mudar um pouco o foco do meu tema, se a Priscilla permitir. Daqui 
para frente, não vou falar mais da “crença” dos surdos norte-americanos na sua língua e na 
sua cultura. Vou falar do orgulho que eles têm. E não é só o orgulho que eles têm da sua 
língua e da sua cultura. É o próprio “orgulho de ser surdo”. Eu digo isso, porque em inglês, 
os surdos falam deDeaf Pride (que em português seria “orgulho de ser surdo”). Então, eu 
posso falar disso porque eles mesmos falam disso.
IMPORTANTE
36
O orgulho que os surdos sentem em relação à sua língua é apenas um aspecto – um 
reflexo – de uma coisa maior: seu orgulho de ser surdo.
A comunidade surda se define em grande parte pelo uso da língua de sinais – quem 
usa língua de sinais faz parte da comunidade surda; quem não a usa está fora ou está à 
margem da comunidade. Então, qual seria a diferença entre “ter orgulho da sua língua” 
e “ter orgulho de ser surdo”? Pode existir um sem o outro? Vocês já conheceram alguém 
que tem orgulho da língua de sinais, mas que tem vergonha de ser surdo? Os dois andam 
juntos. Mas entre as duas maneiras de falar, existe uma enorme diferença política.
Por exemplo: diga para um ouvinte: “Eu tenho orgulho de usar a língua de sinais brasileira”. 
Qual pode ser a reação dele? Ele pode pensar, “Sim, claro! Os gestos são muito bonitos e 
expressivos!” Mas não é por isso que você tem orgulho! Você tem orgulho porque quando 
você usa a língua de sinais, você pode ser surdo e feliz ao mesmo tempo.
Ou o ouvinte pode pensar: “O surdo não pode usar a língua oral, então ele se satisfaz com 
a língua de sinais, mas isso não faz mal! Deixa ele ter orgulho da sua língua. Ele pode ter 
orgulho de muito pouco na vida, então deixa ele ter orgulho da língua.” Mas isso está tudo 
errado. Parece que no fundo o ouvinte acha que o surdo é um coitado, e quando o surdo 
diz que ele tem orgulho da sua língua, nada muda na cabeça do ouvinte. Ele não precisa 
entender o surdo; ele continua achando a mesma coisa.
Agora, diga para um ouvinte, “Eu tenho orgulho de ser surdo!” O ouvinte vai ficar chocado. 
Ele vai ficar confuso. Por que razão ter orgulho de ser surdo? O ouvinte sempre acreditou 
no seu coração que a surdez é uma falta. 
É uma deficiência. Como é possível ter orgulho de uma deficiência? As pessoas podem 
ter orgulho de alguma coisa que elas têm, mas não de uma coisa que não tem, uma falta, 
uma deficiência.
Então quando o surdo diz, “Eu tenho orgulho de ser surdo”, ele choca e confunde o 
ouvinte. O ouvinte não gosta de ouvir isso, porque começa a colocar em questão a certeza 
que o ouvinte tem sobre o mundo. Ele não pode mais achar que o surdo é um “coitado”, 
porque um coitado não tem orgulho de si mesmo. O ouvinte fica com medo. O mundo do 
ouvinte começa a ficar menos seguro, mais complexo. O ouvinte não tem explicação para 
o orgulho do surdo ser surdo. Como é possível uma pessoa ter orgulho de ser surdo? Para 
o ouvinte, é um absurdo. É um paradoxo.
É por isso que dizer que você tem orgulho de ser surdo é um ato político. É porque você 
começa a balançar o mundo do ouvinte. Ele começa a ter menos controle sobre você. E 
quando isso acontece, começa a abrir espaços para a mudança. Também, ter orgulho de 
ser surdo é um ato de afirmação pessoal. É um ato de autoestima. O mundo ouvinte não 
poupa o surdo de todo tipo de humilhação, mesmo quando dizem que querem ajudar. Os 
surdos, como todos os outros portadores de diferença, se sentem humilhados por serem 
o que são. Não por terem feito nada de errado. Só porque são o que são. Essa humilhação 
faz com que o surdo não acredite nele mesmo.
Como mudar essa situação? A autoestima é o começo. Você não vai ter autoestima porque 
você fez faculdade. É o contrário. Você vai fazer faculdade porque você tem autoestima. 
Você acredita em você mesmo. Tudo começa com a autoestima. Mas não basta dizer para 
você mesmo, “Eu tenho orgulho de ser surdo”. Isso não funciona. Você olha para os lados. 
Você olha para os companheiros. Você olha para os professores. Você olha para seus 
pais e seus irmãos. Eles têm orgulho de você, por ser surdo? Ou eles têm pena? Ou têm 
vergonha?
37
O orgulho que é uma coisa pessoal, individual, é ruim. É chamado de arrogância. Nós 
olhamos para uma pessoa “muito orgulhosa” com desprezo. O orgulho saudável é um valor 
social que compartilhamos com outras pessoas, com uma comunidade. Nós procuramos 
o nosso valor nos olhos dos outros e, com o nosso olhar, atribuímos valor aos outros.
Quando olhamos por volta e vemos pena ou vergonha ou desprezo, é isso que sentimos 
de nós mesmos. Por outro lado, quando olhamos por volta e vemos outros olhando para 
nós com orgulho, é isso que sentimos.
Por essa razão, “ter orgulho de ser surdo” tem que ser um esforço de toda a comunidade 
surda. Não é uma coisa que acontece isoladamente e por si só. É uma coisa que tem 
que ser construída. Pode até ser planejada. Acontece quando as pessoas decidem que 
deve acontecer, e fazem um esforço para que aconteça. Justamente por isso, também, ter 
orgulho de ser surdo é um ato político. É um ato que um grupo de pessoas faz para mudar 
suas relações com o mundo por sua volta. É uma maneira de redefinir o que significa ser 
surdo.
Agora eu vou voltar e falar sobre o tópico que a Priscilla me deu: o orgulho que os surdos 
norte-americanos têm de ser surdos. Se isso aconteceu nos Estados Unidos, e ainda 
não aconteceu no Brasil, pode ser porque os surdos norte-americanos aproveitaram e 
aprenderam com outros grupos minoritários e marginalizados que já tinham feito sua luta 
política pelo reconhecimento e a autoestima anteriormente.
Grandes transformações começaram a acontecer na sociedade norte-americana a partir 
da Segunda Guerra Mundial e continuaram até a década de 1990. Antes dos surdos, vários 
outros grupos marginalizados fizeram suas lutas pela 
dignidade humana e pela garantia dos seus diretos 
como cidadãos. Primeiro foram os negros norte-
americanos, depois as mulheres, depois os hispânicos 
e os gays, e depois os surdos.
Todos são grupos que sofreram humilhações e injustiças 
por causa dos preconceitos institucionalizados da 
sociedade “padrão” dominante: branca, masculina, 
classe média, falante de inglês, heterossexual e ouvinte.
Quando os surdos norte-americanos chegaram à 
consciência de afirmar seu “orgulho de ser surdo”, 
essa mesma trilha já tinha sido desbravada por outros 
grupos marginalizados. Os surdos puderam aprender 
com a história. 
FONTE: MCCLEARY, L. O orgulho de ser surdo. 
In: ENCONTRO PAULISTA ENTRE INTÉRPRETES E 
SURDOS, 1., 2003, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: 
Feneis-SP, 2003.
38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Não há muito registro da história da interpretação e tradução. Seu início consta na 
área religiosa.
• Os primeiros tradutores e intérpretes surgiram nas conquistas de terra, mas sua 
metodologia era usar mímicas, gestos, pequenas palavras e o corpo.
• Na história do mundo, vários personagens, como Colombo e Cortez, utilizaram 
intérpretes quando exploraram as terras novas.
• Passados anos e dados os avanços mercantis e o surgimento de organismos 
internacionais, há necessidade de aperfeiçoar as estratégias da tradução e 
interpretação.
• A tradução como profissão, aqui no Brasil, surge em meados de 1980 quando a Feneis 
organiza seminário de intérpretes e tradutores.
• A profissionalização de tradutores intérpretes ocorreu através de programas 
governamentais em convênio com a Feneis.
• Antes os intérpretes eram pessoas que conviviam com os surdos: familiares, amigos 
e pessoas interessadas.
• Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais 
organizado pela Feneis, que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns 
intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete.
• No Rio Grande do Sul, os primeiros intérpretes foram formados informalmente pelo 
convívio com os surdos. Geralda Eustáquia Ferreira e Ricardo Sander foram os 
primeiros intérpretes de língua de sinais, formadores de outros intérpretes.
• Todas as regiões do Brasil já possuem associações de tradutores intérpretes.
• Em 22 de setembro de 2008, é fundada a FEPRAPILS, uma entidade profissional 
autônoma, sem fins lucrativos ou econômicos, de duração indeterminada, com 
personalidade jurídica dedireito privado, qualificável como de interesse público e 
pertencente ao território brasileiro.
39
1 A partir do que estudamos até aqui, percebemos que a profissão de tradutor 
intérprete teve em sua base a área religiosa, porém, a história encarregou-se de 
mostrar a necessidade dessa profissão. Assinale a alternativa CORRETA da causa do 
surgimento desses profissionais:
a) ( ) O fato de Cristóvão Colombo e Cortez, grandes conquistadores, partirem 
em busca de novas terras, fez com que os reis criassem a profissão da tradução e 
interpretação.
b) ( ) As conquistas de novos territórios, os avanços mercantis e o surgimento de 
organismos internacionais fizeram surgir a necessidade do tradutor e intérprete.
c) ( ) A tradução e interpretação, como conhecemos hoje, surgiu no tempo da idade 
média, quando se fazia necessário esse profissional para intermediar os salvos 
condutos entre a igreja e as famílias abastadas.
d) ( ) Em todas as regiões do Brasil, já existem instituições de representatividade 
do TILPS, e podemos afirmar que essa foi a causa do surgimento e solidificação da 
profissão.
2 Aqui no Brasil, cursos técnicos e graduação são necessários para exercer a profissão 
de tradutor. Escreva resumidamente como surgiram os TILS em alguns países como 
Suécia e Estados Unidos.
3 A atuação do TILPS deve estar em concordância com a comunidade surda. Algumas 
instituições brasileiras são necessárias para serem a base e apoio dessa relação. 
Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
( ) A Febrapils, Feneis e o sindicato dos tradutores intérpretes (Sintra). 
( ) As instituições em que o surdo está presente juntamente com a Feneis e a Agils.
( ) As diferentes associações como Agils, Acatils, Febrapils e a Feneis. 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 A profissionalização de tradutores intérpretes ocorreu através de programas 
governamentais em convenio com a Feneis. A partir desse momento, eventos foram 
realizados. Sobre qual evento organizado pela Feneis que propiciou, pela primeira 
vez, o intercâmbio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do 
profissional intérprete, assinale a resposta CORRETA:
AUTOATIVIDADE
40
a) ( ) Encontro paulista entre intérpretes e surdos.
b) ( ) Festival da cultura surda.
c) ( ) Encontro internacional da Federação Mundial dos Surdos (FWD).
d) ( ) Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais.
5 A surdez sempre teve e tem diferentes entendimentos sobre o sujeito surdo e sua 
relação com a surdez. Disserte sobre a responsabilidade do tradutor e intérprete.
41
TÓPICO 3 - 
LEGISLAÇÃO E CÓDIGO DE ÉTICA
1 INTRODUÇÃO 
Neste tópico, apresentaremos alguns dispositivos legais, como leis, decretos 
e documentos que respaldam a prática profissional do intérprete/tradutor, bem como 
compreender a atuação desses profissionais. Também buscamos traçar uma linha 
histórica sobre a formação desses profissionais, focados especificamente na Língua 
Brasileira de Sinais (Libras).
Não pretendemos trazer todo o arcabouço legal, mas apenas ponderar aquelas 
legislações que são significativas dentro do conteúdo abordado até o momento, 
contribuindo para a atuação do profissional tradutor/intérprete de Língua Brasileira de 
Sinais (TILPS).
O intérprete/tradutor tem um amplo campo de atuação e sua ação profissional 
é relevante em diversas áreas da sociedade, porém, é no espaço educacional que existe 
uma demanda significativa para atuação desse profissional, motivo pelo qual se optou 
em incluir neste tópico.
A educação se configura como parte dos direitos fundamentais assegurado para 
todos na Constituição Federal em vigor (promulgada em 5 de outubro de 1988, sendo a 
sétima adotada no país conhecida por "Constituição Cidadã”), sendo parte do conjunto 
de políticas públicas que objetivam proporcionar condições para o livre exercício da 
cidadania com liberdade e garantia de direitos. Contudo, a teoria nem sempre é 
executada na prática, e muitos grupos necessitam travar verdadeiras lutas para fazer 
valer seus direitos. Exemplo disso são os surdos que somente tiveram assegurado seus 
direitos na área educacional formal, após muitas lutas de educadores e membros da sua 
comunidade.
 Na Constituição Federal, carta magna que rege e norteia os princípios 
fundamentais do estado democrático de direito no Brasil, aponta para a garantia de 
direitos aos surdos, bem como para outras deficiências, demandando principalmente 
necessidades educacionais especiais, entre outros direitos assegurados. A partir daí, 
ao longo dos anos, outras legislações foram sancionadas ganhando força e garantindo 
o exercício dos direitos fundamentais para a comunidade surda. Outro elemento que 
agregou força a essas lutas foram documentos internacionais que influenciaram as leis 
brasileiras.
UNIDADE 1
42
Cabe mencionar que não iremos fazer nenhuma pesquisa do histórico da 
educação surda no Brasil, mas apontar legislações que impactaram diretamente no 
fazer dos profi ssionais de tradução e/ou interpretação, ou seja, buscou-se, através de 
pesquisa em documentos como leis, decretos, entre outros, traçar uma linha histórica 
sobre a ação do profi ssional intérprete/tradutor de Língua de Sinais. 
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos as leis que permeiam a profi ssão de 
intérprete, bem como conhecer o código de ética e sua importância.
2 LEGISLAÇÃO 
A luta pelo reconhecimento da profi ssão tradutor e intérprete aconteceu 
ofi cialmente no ano de 2005, que reconheceu esse profi ssional como o responsável por 
dar concretude ao direito linguístico do surdo. Não podemos deixar de lembrar que a Lei 
nº 10.436, de 24 de abril de 2002, foi um marco para a profi ssionalização do tradutor e 
intérprete.
Através deste iconográfi co (Figura 16) é possível ter a dimensão da necessidade 
do tradutor intérprete de Libras:
FIGURA 16 – O UNIVERSO DA LÍNGUA DE SINAIS
FONTE: <https://blog.handtalk.me/wp-content/uploads/2017/04/infografi co-universo-lingua-de-sinais-1.
png>. Acesso em: 13 jan. 2022.
43
2.1 DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005
Esse decreto é muito significativo para o reconhecimento do intérprete/tradutor 
e trata de regulamentar a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a 
Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o Art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 
2000. No Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, o Capítulo 4, Art. 14, trata sobre 
o uso e a difusão da Libras e da Língua Portuguesa para o acesso das pessoas surdas ao 
processo educacional, e destaca-se o inciso III, alínea “b”, que trata do provimento das 
escolas, com tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa. 
Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, 
obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à 
informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e 
nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas 
e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior.
§ 1º Para garantir o atendimento educacional especializado e o 
acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem:
I - [...],
II - [...],
II I- prover as escolas com:
a) [...],
b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa [...] (BRASIL, 
2005)
Nesse artigo, observa-se a importância do intérprete/tradutor como mediador 
no processo de comunicação entre o sujeito surdo e o ouvinte. Conquista muito 
significativa. Imagine-se tentando entender, compreender e se expressar em uma língua 
com estrutura totalmente diferente da sua. Vamos lá! Você agora será transportado 
para um local onde irá conviver somente com Libras e para aqueles que dominam 
essa língua, imagine-se em um espaço onde o processo de comunicação acontece 
através do mandarim. Você há de concordar que pouco conseguiria se apropriar e teria 
muita dificuldade de traçar um diálogo, ou pediruma informação ou mesmo pedir um 
cafezinho, ou seja, o processo de comunicação não fluiria. Nesse contexto, emerge a 
figura do intérprete/tradutor. Provavelmente seria um alívio e, assim, poderia iniciar o 
inter-relacionamento através do diálogo, ou ter respondido alguma informação que 
questionou e até tomar aquele cafezinho. Fluiria, entre os membros daquela comunidade 
e você, o processo de comunicação com a mediação de um intérprete/tradutor.
O próximo item do Decreto nº 5.626/2005, que se considera um grande avanço, 
é o Capítulo V, que trata da formação do intérprete/tradutor de Libras/língua Portuguesa 
(BRASIL, 2005). Determina, no Art. 17, que esses profissionais devem ter sua formação 
efetivada por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em 
Libras – Língua Portuguesa. Em seu Art. 18, faculta a formação de tradutor e intérprete 
de Libras – Língua Portuguesa, em nível médio, devendo obrigatoriamente ser realizada 
por meio de cursos de educação profissional, de extensão universitária e/ou de formação 
continuada em instituições de ensino superior. Ainda em seu parágrafo único decreta 
que: “A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações 
44
da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja 
convalidado por uma das instituições referidas no inciso III” (BRASIL, 2005).
Em outras palavras, o decreto apresenta diversas possibilidades de órgãos que 
podem se habilitar para formação específica para intérpretes/tradutores viabilizando aos 
surdos a possibilidade de minimizar as barreiras linguísticas, o acesso à comunicação, à 
informação, à participação e ao conhecimento. Há de se atentar que as legislações não 
garantem a sua perfeita execução na prática. 
 
É um processo lento, passo a passo, no qual é de suma importância que o 
intérprete/tradutor tenha amplo e profundo conhecimento das especificidades, dos 
aspectos linguísticos, culturais, históricos que envolvem a surdez, técnicas e estratégias 
que permeiam as línguas envolvidas, bem como se faz necessário ter atitude ética, 
comprometida e consciência de sua responsabilidade. Soma-se a isso o fato de conhecer 
seus limites de atuação e sua função como intérprete/tradutor nos diversos espaços 
em que atua. A formação exigida para o exercício legal da profissão está assegura pela 
Lei nº 10.436/2002; no Decreto nº 5.626/2005 e na Lei nº 12.319/2010, qual seja:
• Qualificação conferida por graduação em curso superior de Tradução e Interpretação, 
com habilitação em Libras – Língua Portuguesa, em instituição reconhecida pelo 
Ministério da Educação. 
• Qualificação conferida por curso educação profissional promovido por organização da 
sociedade civil representativa da comunidade surda reconhecido (convalidado) por 
instituição credenciada em Secretaria de Educação ou por instituição credenciada 
em secretarias de educação (curso técnico em tradução e interpretação de LIBRAS).
• Capacitação em Libras através de curso de extensão, por cursos de educação 
continuada certificados por instituições de ensino superior e instituições devidamente 
e legalmente credenciadas por órgãos oficiais, com carga horária inferior ao exigido 
por lei para certificação de nível técnico. 
• Certificação de proficiência (Pro Libras) – Exame Nacional para Certificação de 
Proficiência no uso e no ensino de Libras e/ou para Certificação de Proficiência na 
tradução e interpretação de Libras/Português/Libras, realizado anualmente pelo 
Ministério da Educação;
A Câmara dos Deputados analisa agora o Projeto de Lei nº 9.382/2017, 
da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que 
passa a exigir diploma de curso superior para o profissional que exercer 
a atividade de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), 
fixando a jornada diária em seis horas.
FONTE: <https://www.camara.leg.br/noticias/715030-plenario-analisa-
projeto-que-regulamenta-atividade-de-tradutor-e-intérprete-de-libras/>. 
Acesso em: 13 jan. 2022.
IMPORTANTE
45
2.2 O INTÉRPRETE A SUA LEGISLAÇÃO
Como estudamos, a interpretação sempre foi realizada por pessoas não 
especializadas. Com o reconhecimento da comunidade e com o movimento social, 
direitos, assim como deveres, foram adquiridos. Um dos marcos do movimento dos 
intérpretes foi a regulamentação dessa profissão que repercutiu em todos os campos 
da sociedade. Na educação, além da contratação de intérpretes como trabalhadores 
contratados da própria instituição, cursos de formação a nível superior foram surgindo. 
A seguir, a lei que regulamentou a profissão de intérprete e tradutor de Libras. Lei 
nº 12.319, de 1º de setembro 2010, trata de regulamentar o exercício da profissão de 
Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras, a qual, em seu Art. 6º, define 
as atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências, a saber:
 
I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, 
surdos e surdos- cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras 
para a língua oral e vice-versa;
II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, 
as atividades didático pedagógicas e culturais desenvolvidas nas 
instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de 
forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;
III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de 
ensino e nos concursos públicos; 
IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim 
das instituições de ensino e repartições públicas; e 
V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos 
administrativos ou policiais (BRASIL, 2010).
Apesar de estar pontuado as funções desse profissional, observa-se que os 
contratantes e contratados ainda não prezam pela qualidade do trabalho e encontramos 
muitos profissionais que ainda não estão com uma prática e teoria condizente com a atuação. 
Portanto, torna-se a ressaltar que o intérprete e o tradutor têm que ser cientes de suas 
condições em questão da área a atuar. Dando sequência, esta lei, em seu Art. 7º, determina que 
o profissional deve ter um rigor técnico e que toda sua atuação deve ser norteada por aspectos 
éticos, sigilo, bem como valores aliados à profissão como honestidade, imparcialidade, postura 
e condutas adequadas, além de conhecimento da comunidade surda.
Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, 
zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa 
humana e à cultura do surdo e, em especial:
I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da 
informação recebida;
II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, 
idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; 
III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber 
traduzir; 
IV - pela postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar 
por causa do exercício profissional; 
V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão 
é um direito social, independentemente da condição social e 
econômica daqueles que dele necessitem; 
VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda 
(BRASIL, 2010). 
46
Um aspecto interessante é que a Lei nº 12.319/2010, apesar de ser um 
grande avanço no processo de comunicação inclusiva, foi alvo de grandes 
discussões por conta de ter sido vetado três artigos (Arts. 3º, 8º e 9º) – vide 
texto complementar, disponível em: https://bit.ly/3ovXp2X.
Assista ao vídeo a seguir, para melhor compreensão da necessidade 
do profi ssional tradutor e intérprete: https://www.youtube.com/
watch?v=qahwWmyJH-M.
INTERESSANTE
DICAS
Ser tradutor e intérprete é poder ter seus direitos respeitados, porém, não 
esquecer dos seus deveres. Ter leis que amparem, garante a qualidade do serviço 
prestado, bem como de sua qualidade, porém, ainda há um longo caminho ser trilhado, 
pois uma lei deve transformar o âmbito social, político e econômico.
Para essa transformaçãoocorrer, todos os setores deverão se adequar às novas 
regras e leis. Começou na própria LBI (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015) que não coloca 
o intérprete e tradutor como exigência, mas para o nosso conhecimento, institui a Lei 
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi ciência (Estatuto da Pessoa com Defi ciência). 
No item V do Art. 3º, traz a interação com todos utilizando todas as alternativas de 
comunicação:
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, 
entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais 
(Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização 
ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos 
multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os 
sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios 
e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo 
as tecnologias da informação e das comunicações (BRASIL, 2015.)
Já a ABNT NBR 15290:2005, determina como regra para o intérprete de Libras 
a seguinte especifi cação:
Na janela com intérprete da LIBRAS: a) os contrastes devem ser 
nítidos, quer em cores, quer em preto e branco; b) deve haver 
contraste entre o pano de fundo e os elementos do intérprete; 
c) o foco deve abranger toda a movimentação e gesticulação do 
intérprete; d) a iluminação adequada deve evitar o aparecimento de 
sombras nos olhos e/ou seu ofuscamento
47
Para a boa visualização da interpretação, devem ser atendidas as 
seguintes condições: a) a vestimenta, a pele e o cabelo do intérprete 
devem ser contrastantes entre si e entre o fundo. Devem ser 
evitados fundo e vestimenta em tons próximos ao tom da pele do 
intérprete; b) na transmissão de telejornais e outros programas, com 
o intérprete da LIBRAS em cena, devem ser tomadas medidas para a 
boa visualização da LIBRAS; c) no recorte não devem ser incluídas ou 
sobrepostas quaisquer outras imagens (ABNT, 2005, p. 9).
Portanto, durante muito tempo o surdo teve intérpretes e tradutores, 
primeiramente do núcleo familiar, após pessoas ouvintes que se interessavam na língua 
de sinais e assim começou uma nova profissão, a de tradutor/intérprete. Com o passar 
do tempo, leis foram estabelecidas para divulgarem e garantir o direito, aqui no caso do 
surdo.
Percebe-se, ainda, que a sociedade, embora saiba da existência do surdo, não 
prioriza sua acessibilidade, portanto, ainda há muito o que discutir sobre o assunto 
estabelecendo como prioridade a comunicação.
3 CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE/
TRADUTOR
O código de ética é um instrumento que se caracteriza por ser a base para o 
exercício profissional de qualquer categoria. Nesse caso dos profissionais intérpretes/
tradutores, o qual estabelece as diretrizes que os norteiam quanto às atitudes e posturas 
aceitas pela sociedade em geral. A ética, sem dúvida, deve estar no “cerne” da atuação 
profissional, onde cada um deve ter suas ações rigidamente realizadas sobre o agir 
eticamente, tendo respeito pelos profissionais seus pares, normas, comportamentos e 
conduta.
Vamos iniciar pelo conceito de ética. Segundo o dicionário Aurélio Buarque de 
Holanda, ÉTICA é: "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana 
susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à 
determinada sociedade, seja de modo absoluto” (HOLANDA, 1988, p. 849). 
 
Em outros termos, o conceito aponta para uma performance com bases em juízo 
de valores, bem como aborda a conduta e o comportamento, considerando aspectos 
culturais e sociais que define o que é certo ou errado. 
Simplificando ainda mais, a Ética é direcionada à ideia de caráter, designando os 
costumes e o modo de ser de uma pessoa, ou de um grupo de pessoas. A ética também 
é uma área da filosofia que estuda a conduta humana. 
48
A ética pode ser entendida através de três conceitos:
1 - A que a considera como ciência do bem para o qual a conduta dos 
homens deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim, deduzindo 
tanto o fim quanto os meios da natureza do homem. 
2 - A que a considera como a ciência do fundamento da conduta 
humana e procura determinar tal fundamento com o objetivo de 
dirigir ou disciplinar essa conduta. 
3 - A de que a ética é a busca de argumentos para que os outros 
façam aquilo que nós acreditamos ser justo fazer (DOMINGOS, 2020, 
p. 28)
 Em geral os códigos de ética, apontam para questões relativas a:
• confidencialidade do profissional que deve manter sob sigilo as informações 
apreendidas durante o seu fazer profissional; 
• competência, habilitação e qualificação profissional;
• pessoalmente deve ter como atitudes habituais no seu dia a dia, tais como: ser 
confiável, honesto, íntegro, correto dentro dos padrões morais e de conduta;
• ter decoro – apresentação pessoal adequada e postura profissional –, não devendo 
nunca se servir de informações privilegiadas obtidas por intermédio da interpretação/
tradução para ganhos pessoais ou de terceiros;
• rejeitar qualquer forma concorrência desleal.
Venha conhecer um pouco mais sobre a ética, acesse: https://bit.ly/3nnD3Iw.
DICAS
Os itens elencados anteriormente são bem comuns em todos os códigos de 
éticas, seja no dos intérpretes/tradutores de línguas orais ou nos de Libras. 
Aqui será tratado sobre o código de ética do intérprete/tradutor de Libras-
português considerando-se que, a partir do momento em que foi reconhecida legalmente 
a língua (Libras) como meio de comunicação e paralelamente a aprovação da lei que 
regulamenta a profissão, alavancou o mercado de trabalho nessa área. 
Portanto, é muito significativo proporcionar conhecimentos que venham 
contribuir sobremaneira com o exercício da profissão de intérprete/tradutor Libras-
português e vice-versa. E essa ampliação nos campos de atuação para tradutor/
intérprete de Libras não é somente na área educacional, mas na área empresarial, 
judiciaria, até mesmo para acompanhar o surdo em uma consulta médica, dentre tantos 
outros espaços de atuação.
49
Outro aspecto que contribuiu para essa decisão foi o fato de que a profissão 
intérprete/tradutores de Libras-português, e vice-versa, ainda é relativamente nova 
enquanto os intérpretes de línguas orais já estão estabelecidos a mais tempo e possuem 
uma organização formal mais adiantada.
Portanto, tem que continuar o movimento para que a profissão seja aceita, pois, 
em muitos lugares, ainda há a resistência de aceitar a necessidade desse profissional, o 
que acaba desvalorizando-o financeiramente e prejudicando o surdo, que nem sempre 
tem acesso a um tradutor/intérprete. 
FIGURA 17 – QUE LÍNGUA É ESTA?
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-Nc2gSD19Jss/Wsd_cZsItnI/AAAAAAAA5iw/JdgEgRw3EncCZRu2JH-
GwAyiLpTziYEwrwCEwYBhgL/s640/AUTO_myrria.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2022.
Embora muitas vezes encontremos charges como esta da Figura 17, em 
algumas situações é esse o sentimento que o profissional, responsável por passar 
uma mensagem, sente. E por isso se faz necessário que o tradutor e intérprete seja 
consciente de sua competência e capacidade, não aceitando serviços que não conheça 
a área.
A concorrência nesse campo aumentou após a regularização da profissão, e por 
isso urge, além da formação, o conhecimento profundo do código de ética, transcrito a 
seguir. Cabe salientar que esse código foi escrito em um encontro criado especificamente 
para a construção e alinhamento das atitudes profissionais necessárias ao profissional 
e à ética.
50
CÓDIGO DE ÉTICA DO INTÉRPRETE
 
Febrapils
CAPÍTULO 1 
Princípios fundamentais 
Artigo 1 
São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser uma pessoa de alto 
caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará 
informações confidenciais e não poderá trair confidências, as quais foram confiadas a 
ele; 
Artigo 2 
O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, 
evitando interferências e opiniões próprias,a menos que seja requerido pelo grupo a 
fazê-lo; 
Artigo 3 
O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre 
transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar dos 
limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; 
Artigo 4 
O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em 
aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando 
necessário, especialmente em palestras técnicas; 
Artigo 5 
O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo 
a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o 
exercício da função.
LEITURA
COMPLEMENTAR
51
CAPÍTULO II 
Relações com o contratante do serviço 
Artigo 6 
O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar 
serviços de interpretação, em situações em que fundos não são possíveis; 
Artigo 7 
Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de cada 
estado, aprovada pela Feneis. 
CAPÍTULO III 
Responsabilidade Profissional 
Artigo 8 
O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou outras 
em seu favor; 
Artigo 9 
O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como 
da Língua Portuguesa;
 Artigo 10 
Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação 
da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é possível e o 
intérprete, então terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa 
surda e o que ela está dizendo à autoridade;
 Artigo 11 
O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas 
envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso 
for necessário para o entendimento; 
52
Artigo 12 
O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e 
fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares.
CAPÍTULO IV 
Relações com os colegas 
Artigo 13 
Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve 
agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos conhecimentos 
de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e 
tradução. 
Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo 
sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido 
devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com 
o surdo. 
Diante deste código de ética, apresentar-se-á a seguir diferentes situações que 
podem ser exemplos do dia a dia do profissional intérprete. Tais situações exigem 
um posicionamento ético do profissional intérprete. Sugere-se que, a partir destes 
contextos, cada intérprete reflita, converse com outros intérpretes e tome decisões em 
relação a seu posicionamento com base nos princípios éticos destacados no código de 
ética. 
FONTE: FEBRAPILS – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DOS PROFISSIONAIS TRADUTORES E 
INTÉRPRETES E GUIA-INTÉRPRETES DE LÍNGUA DE SINAIS. Código de ética do intérprete. Brasília, DF: 
Febrapils, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3nKgq1p. Acesso em: 13 jan. 2022.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A Libras – a língua Brasileira de Sinais é reconhecida não oficializada, como a língua 
da comunidade surda.
• Se faz necessário a profissionalização dos intérpretes e tradutores o que foi regrado 
pelo decreto nº5626 de dezembro de 2005. 
 
• Com o surgimentoLei nº 12.319, de 1 de setembro de 2010, regulamenta a profissão 
de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Lei nº 13.146, de 6 de 
julho de 2015 Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto 
da Pessoa com Deficiência).
• O TILPS poderá trabalhar como professor, porém não há uma obrigatoriedade.
• Surge a necessidade de conceituar o que significa guia intérprete, intérprete, 
profissional de apoio, o que é regulamentado pela Lei nº 12.319.
• O código de ética devera nortear a atuação do intérprete, e deverá ser conhecido e 
praticado.
• Para que se possa entender o código de ética, alguns termos são necessários que se 
saiba o significado e internalizado como norteadores da profissão: confidencialidade 
competência, habilitação e qualificação profissional, honesto, íntegro, correto dentro 
dos padrões morais e de conduta, bem como ter decoro, e postura profissional.
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1 Em uma palestra universitária, uma intérprete X foi contratada para tradução e 
interpretação de um professor surdo. Na plateia, além de diversos interessados, 
estavam outros professores bilíngues. A intérprete começou a contar sua carreira no 
meio da fala dos palestrantes. Podemos dizer que a intérprete não teve:
a) ( ) Fluência na tradução.
b) ( ) Imparcialidade.
c) ( ) Ética.
d) ( ) Visibilidade.
2 A profissão de tradutor e intérprete teve seu início com familiares. Ao decorrer do 
tempo, a profissionalização foi necessária, portanto, foi necessário criar princípios. 
Princípios estes que regem a conduta profissional dos TILS e GI. De acordo com o 
Código de Conduta e Ética da FEBRAPILS (2014), os princípios definidores da conduta 
profissional do TILS elencados a seguir são?
FONTE: FEBRAPILS – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DOS PROFISSIONAIS TRADUTORES E 
INTÉPRETES E GUIA-INTÉRPRETES DE LÍNGUA DE SINAIS. Código de ética do intérprete. Brasília, DF: 
Febrapils, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3nKgq1p. Acesso em: 13 jan. 2022.
I- Confidencialidade
II- Assistencialismo
III- Competência Tradutória. 
IV- Voluntariado
V- Supremacia da comunidade surda. 
VI- Respeito aos envolvidos na profissão.
VII- Compromisso pelo desenvolvimento profissional. 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) II – III – IV – VI.
b) ( ) I – VI – VII.
c) ( ) I – II – V – VII.
d) ( ) III – IV – V.
3 O papel do intérprete é realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada 
e vice-versa, devendo, porém, observar os preceitos éticos. Escreva sobre cinco 
preceitos éticos estudados.
4 O código de ética rege as profissões, e com os tradutores intérpretes não seria 
diferente. Sobre o código de ética do intérprete de Libras, classifique V para as 
sentenças verdadeiras e F para as falsas: 
AUTOATIVIDADE
55
( ) Em situações em que fundos financeiros não são possíveis, o intérprete de Libras 
deve se dispor a interpretar voluntariamente. 
( ) O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que 
possível, reconhecendo que existe má informação e falta de conhecimento do 
público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo.
( ) Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete 
deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos 
conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em 
interpretação e tradução.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – V.
5 Como vimos os tradutores e intérpretes existem desde os tempos remotos, porém 
sem uma notoriedade ou apoio estrutural. Com os movimentos sociais, este 
profissional teve que receber profissionalização, colocada em leis que regulam a 
profissão. No que concerne a Lei nº 13.146/2015, descreva a formação do profissional 
da tradução e interpretação no nível superior.
56
57
REFERÊNCIAS
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em comunicação na televisão. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. Disponível em: http://www.
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Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/linguagem-verbal-e-nao-verbal. Acesso em: 13 jan. 2022.
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Campinas: Pontes, 2004.
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interpretação simultânea. [S. l.: s. n.], 2015. E-book.
 
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de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.
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Sinais - Libras e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso 
em: 13 jan. 2022.
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei n° 
10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, 
e o art. 18 da Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, DF: Presidência da 
República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 13 jan. 2022.
BRASIL. Lei nº 12.319, de 1 de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de 
Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Brasília, DF: Presidência 
da República, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
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Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Presidência 
da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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PAZ, J. F. da; GUTIERREZ, N. R. G. Tradução e interpretação: o intérprete de sinais 
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QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de Libras e Língua Portuguesa. Brasília, DF: 
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59
REITER, A. J. Língua portuguesa – expressão escrita e compreensão de texto. Indaial: 
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RIBEIRO, F. A. Aventuras na história. São Paulo: Grupo Perfil, 2019 
RUSSO, A. Intérprete de língua brasileira de sinais: uma posição discursiva em 
construção. 2009. 130 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-
Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 
2009. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/191509/
RUSSO%20%c3%82ngela%202009%20%28disserta%c3%a7%c3%a3o%29%20UFGRS.
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RIZZATTI, M. E. C. A Linguagem e suas múltiplas manifestações. Florianópolis: 
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SAUSSURE, F. Troisième cours de linguistique générale: d’après les cahiers d’Emile 
Constantin/Saussure’s third course of lectures on general linguistics (1910-1911): from 
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SAUSSURE, F. [1973]. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006. 279 p.
SANDER, R. Roda de conversa entre ''TILS'', 2021. 1 vídeo. (73 min.). 
Publicado pelo canal Ric Sanders. Disponível em: https://www.youtube.com/
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contentassets/9e56b0c78cb5447b968a29dd14a68358/spraklag-pa-engelska. Acesso 
em: 13 jan. 2022.
60
61
A TRADUÇÃO E A 
INTERPRETAÇÃO E OS 
ASPECTOS LINGUÍSTICOS 
DA LÍNGUA DE SINAIS
UNIDADE 2 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• identifi car os conceitos de tradução e interpretação; 
• compreender o signifi cado de tradução e interpretação na língua de sinais;
• diferenciar e identifi car a linguística da língua oral com a de sinais;
• conhecer os aspectos linguísticos da Língua de Sinais.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – DIFERENÇA ENTRE INTERPRETAÇÃO E TRADUÇÃO 
TÓPICO 2 – ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS
TÓPICO 3 – ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS: PRAGMÁTICO E 
SEMÂNTICO, SINTÁTICO, MORFOLÓGICO E FONOLÓGICO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
62
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
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63
TÓPICO 1 — 
DIFERENÇA ENTRE INTERPRETAÇÃO E 
TRADUÇÃO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos fazendo algumas considerações sobre o que significa interpretar e 
traduzir, para isso, evidenciamos vários estudos sobre esse assunto, nos dando, assim, 
um panorama mais amplo das diferenças, semelhanças, necessidades teóricas e 
práticas em cada uma dessas ações. 
O principal a saber sobre tradução e interpretação na língua de sinais é: o objetivo 
é sempre a comunicação e a forma que ela ocorre entre as línguas orais e a de sinais. 
O ato de interpretar e traduzir traz uma responsabilidade muito grande, 
pois é através dessas ações que a comunicação se dará. A partir dele, o receptor da 
comunicação receberá o objeto do trabalho que é a informação traduzida para sua 
língua alvo.
Alguns autores serão trazidos a fim de conceituar a tradução e a interpretação 
em línguas de sinais, bem como a ação dos profissionais atuantes na área. Traremos o 
assunto TILS (Tradutores Intérpretes de Língua De Sinais) relatando sobre seu trabalho, 
necessidades e aspectos que envolvem a sua atuação profissional. No final do tópico, 
ainda falaremos da representação do intérprete no mundoatual e a sua importância na 
questão global do acesso à comunicação.
2 INTERPRETAR OU TRADUZIR 
Iniciamos o Tópico 1 com uma questão: qual a diferença entre interpretar 
e traduzir em línguas de sinais? Podemos pensar que são a mesma coisa, pois se 
assemelham durante o trabalho do tradutor intérprete de Libras, mas perceberemos 
neste conteúdo que são diferentes. 
Mounin (1965) fala da diferenciação entre o intérprete e o tradutor. Até meados 
do século XI, o intérprete era quem fazia tradução oral e escrita, depois, no século XII, o 
intérprete começa a ser tratado como aquele que faz a tradução oral e o tradutor aquele 
que faz tradução escrita. O intérprete era vinculado à oralidade ou a gestualidade e o 
tradutor aquele que faz a escrita. As condições de trabalho desses profissionais também 
eram diferentes. 
64
Mounin (1965) ainda fala que o intérprete tem que trabalhar de forma imediata, 
gestual e consecutiva de tradução, comparando com um orador ou a um ator, enquanto 
o tradutor tem mais tempo para se planejar e elaborar seu trabalho. O tradutor que 
trabalha com o texto escrito, sempre terá mais tempo para consultar os instrumentos 
documentais e pesquisa, diferentemente do intérprete.
As tarefas de tradução e interpretação são diferentes, a primeira envolve uma 
língua escrita, a segunda envolve línguas na modalidade oral/sinalizada (QUADROS, 
2004; LACERDA, 2009). Essa distinção pode ser observada de forma que a tradução 
parte do texto escrito, enquanto a interpretação tem como foco a produção oral. Por 
essas diferenças podemos dizer que as condições de trabalho do tradutor e do intérprete 
são muito distintas. 
As diferenças entre interpretação e tradução, no que diz respeito a um conceito 
geral, e não só na língua de sinais, é que a tradução é a elaboração da mensagem escrita 
no idioma do público-alvo, enquanto a interpretação transmite o conteúdo oralmente, 
considerando os padrões de pensamento cultural do público, a tradução não tem a 
flexibilidade de improvisar considerações de ordem social, ou seja, é uma significação 
pontual sem levar em consideração os aspectos históricos, sociais e culturais. Vista 
essa definição, pensemos agora como elas interagem na língua de sinais.
 
A partir do que dizem Quadros (2004) e Lacerda (2009), podemos identificar 
muito o que diz respeito às semelhanças entre a tradução e interpretação em língua 
de sinais, ambos os processos envolvem a comunicação. Tanto o tradutor como o 
intérprete precisam conhecer ambas as línguas que estão atuando, isto é fundamental 
para o bom andamento do trabalho desses profissionais, por exemplo, uma pessoa que 
entenda bem a língua portuguesa encontrará muito mais rápido os sinônimos na hora da 
interpretação simultânea. No caso da língua de sinais, quando conhecemos como ela se 
organiza e quais são as características específicas dessa língua, podemos compreender 
certos detalhes que fazem a diferença no momento da tradução, como uma expressão 
de intensidade, um movimento mais devagar, um classificador entre outros aspectos. O 
tradutor e o intérprete tomam decisões, e, em muitos casos, o intérprete não tem tempo 
hábil para pensar dedicadamente na diversidade de significados e por isso precisa 
conhecer as culturas das línguas envolvidas e ter um repertório linguístico que permita 
a eles transitar de uma língua para outra.
O português e a língua de sinais são línguas distintas, então podemos falar 
em tradução e interpretação entre elas. Iniciando pela tradução para língua de sinais, 
podemos dizer que ela requer o envolvimento de um texto (em escrita de sinais ou outro 
idioma) e a interpretação acontece no momento do discurso, seja ele oral ou sinalizado. 
Algumas possibilidades de tradução envolvendo a língua de sinais podem ocorrer entre 
ela e a escrita de sinais (sign writing), a língua de sinais e um idioma escrito, um idioma 
escrito para a escrita de sinais. 
65
Já a interpretação acontece entre as línguas expressivas, como a língua 
de sinais e outro idioma falado. Os intérpretes são intermediários da interlocução da 
comunicação, não apenas transmitindo o que o palestrante fala, mas percebendo as 
expressões e entonações para dar sentido a sua tradução de maneira a representar da 
melhor forma possível o que o outro está querendo dizer, para que sua mensagem seja 
clara e entendível para o receptor dessa tradução. É importante lembrar que o Brasil tem 
a Libras, mas outros países têm suas próprias línguas de sinais, então é possível que 
haja a tradução ou interpretação da língua brasileira de sinais (Libras) para a americana 
(ASL), por exemplo.
Sobre a diferença entre tradução e interpretação, o vídeo de Madson Barreto é 
bem interessante e explica a diferença entre os termos de modo simplifi cado. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cr33ZQHlWVE.
DICAS
VÍDEO "QUAL A DIFERENÇA ENTRE TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS?
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=Cr33ZQHlWVE>. 
Acesso em: 10 fev. 2022.
Pereira (2008) traz a discussão desta distinção para o domínio das línguas de 
sinais, ele diz que se nos referirmos à história, a interpretação tem mais importância 
que a tradução. Klamt (2014) relata que grande parte das traduções envolvendo a Libras 
sempre recorreu à interpretação simultânea. Essa autora diz que o termo “tradução” 
serve, especifi camente, para operações que partam da língua sinalizada para uma 
língua escrita, ela ainda diz que o termo “interpretação” se destina a operações que 
partem da língua escrita para a língua sinalizada. A tradução é a transformação de um 
texto a partir de uma língua fonte, por meio de modalidade oral, escrita ou sinalizada em 
outra língua, que é a língua fi nal do processo de comunicação. Enfi m, se a língua fi nal 
estiver na modalidade escrita, trata-se de uma tradução e se estiver na modalidade oral 
ou sinalizada o termo utilizado é interpretação.
66
O nosso próprio Hino Nacional, quando se pensa em sua escrita, poderá ter 
como tradução:
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante/
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos/
Brilhou no céu da pátria nesse instante.
Tradução:
O grito de Independência do povo brasileiro
foi dado nas margens do calmo riacho do Ipiranga. 
Naquele momento a liberdade 
brilhou no céu do Brasil, como um sol.
e segue ofi cial:
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
 Em teu seio, ó liberdade,
Desafi a o nosso peito a própria morte! 
Tradução:
Nós lutamos para conseguir direitos iguais. 
Agora estamos dispostos a morrer 
pela liberdade conquistada 
com a Independência.
FONTE: <https://bit.ly/34wxZeL>. Acesso em: 10 fev. 2022. 
Portanto percebemos que a tradução envolve o conhecimento de uma 
estrutura linguística não envolvida em uma interpretação, por não haver esse “tempo” 
de analisar a inversão ou não de frases, bem como a estrutura invertida da escrita do 
tempo de 1822-1823.
A música do Hino Nacional foi composta por  Francisco Manoel da Silva, 
entre 1822 e 1823. Já a letra foi escrita por  Joaquim Osório Duque 
Estrada e  ofi cializada em 1922, durante o centenário da Proclamação da 
Independência. Saiba mais em: https://bit.ly/34wxZeL.
INTERESSANTE
67
O trabalho de Stokoe (1960) e de pesquisas seguintes mostram uma complexa 
estrutura linguística das línguas de sinais e a existência de uma gramática nesses 
sistemas linguísticos, com seus níveis (morfológico, fonológico, sintático, semântico e 
pragmático) muito bem estruturados. 
A tradução e a interpretação entre uma língua de sinais e a oral apresenta 
características diferentes, pois os profissionais trabalham com línguas de modalidades 
diferentes. A diferença de modalidade exige um trabalho exaustivo do profissional, pois 
a constituição gramatical das línguas é diferente e o tradutor intérprete deve lidar com 
ambas as línguas e suas especificidades.
Então, como devemos, enfim, definir os papéis do tradutor e do intérprete?
Para ambos é imprescindíveltransitar bem entre as duas línguas, é fundamental 
possuir competência comunicativa nas línguas de comunicação. Esses saberes 
são especializados, formados por um conjunto de conhecimentos e habilidades que 
tornam o tradutor diferente dos demais falantes bilíngues que não exercem a função de 
tradutores. Uma das capacidades dos intérpretes é o poder de interagir em eventos e 
utilizar do improviso nas suas traduções. 
No mundo de hoje o papel do tradutor ganha novas faces, com a multiplicidade 
de eventos sociais, midiáticos principalmente, a função ganha algumas especificidades. 
Os autores Guerini e Costa (2006, p. 30) falam que a partir da globalização, ocorre um 
crescimento da interpretação, por causa do aumento dos eventos internacionais. 
3 O INTÉRPRETE
Quadros (2004) diz que o processo de interpretação envolve um ato COGNITIVO-
LINGUÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete está envolvido em uma 
situação com pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que 
utilizam línguas diferentes para conseguir atingir tal comunicação. O intérprete está 
profundamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com influência 
no objeto e no produto da interpretação. O intérprete recebe a informação, a processa e a 
dá na língua fonte, fazendo todo o processo de escolhas lexicais, estruturais, semânticas 
e pragmáticas na língua alvo. Essas escolhas devem se aproximar, da maneira mais 
próxima possível, da informação dada na língua inicial. 
O intérprete também precisa ter conhecimento técnico, pois suas escolhas 
devem ser apropriadas tecnicamente ao processo comunicativo entre línguas. “A 
função de interpretar requer processos altamente complexos” (QUADROS, 2004, p. 
27). O intérprete está inserido em duas culturas diferentes, que falam línguas distintas, 
sendo uma delas não a sua natural, isto é, não é aquela que ele está exposto desde a 
68
aquisição linguística, precisando, assim, ter passado por exercícios repetitivos para a 
preensão de uma segunda língua, bem como adquirir a percepção de sua funcionalidade 
comunicativa dentro do grupo cultural que ela está inserida.
Utilizamos o termo TILS para descrever Tradutor Intérprete de Libras. “O trabalho 
do TILS é fazer a tradução e a interpretação e esses dois se completam e remetem a 
uma só tarefa, que é de transpor os conteúdos de uma dada língua para outra, buscando 
trazer nesse processo sentidos pretendidos, sem que eles se percam ou que sejam 
distorcidos no percurso” (LACERDA, 2009, p.14). A interpretação envolve modalidades 
orais-auditivas e espaço-visuais, a partir disso pode haver “a interpretação da língua 
de sinais para a língua falada e vice-versa, da língua falada para a língua de sinais” 
(QUADROS, 2004, p. 9).
Lacerda (2019) faz um comparativo em relação ao tradutor e intérprete de 
língua de sinais. O autor diz que o tradutor deve dominar as línguas envolvidas em seu 
trabalho. É importante, também, que o material seja disponibilizado com antecedência 
para poder ser estudado e traduzido previamente. O profissional tradutor trabalha mais 
isolado, com o auxílio do computador e de várias consultas e pesquisas, ainda tendo 
a possibilidade de trocar conhecimentos com outros profissionais semelhantes. Já o 
intérprete deve, também, dominar as línguas envolvidas, assim como o assunto em 
questão e expressões orais e corporais presentes nos idiomas. Esse profissional não 
tem acesso ao material previamente, e o assunto pode mudar no decorrer da tradução. 
O intérprete atua em equipe e pode se revezar em eventos, atuando frente aos alvos de 
seu processo comunicativo, podendo adequar sua atuação da melhor maneira a atingir 
seu público. O profissional TILS possui características diferentes em relação à tarefa que 
vai exercer, se tradução ou interpretação, a partir disso ele pode escolher seus recursos, 
língua e representações de acordo com seu público-alvo, momento de interpretação, 
para que o objetivo final de seu trabalho seja alcançado.
O intérprete deve estar completamente envolvido na interação comunicativa, 
social e cultural, com poder completo para influenciar os seres integrantes da 
interpretação, pois recebe, processa e devolve a informação na língua fonte e faz 
escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se 
aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua comunicante. 
Quadros (2004) diz que nas relações culturais e linguísticas os intérpretes de 
Língua de Sinais fazem um processo de desconstrução no que diz respeito ao visual, 
a forma de pensar e de sentir a diferença das línguas, para que possa haver, assim, 
o entendimento das comunidades surdas. Esse processo é a representação de uma 
língua para outra, mas também da cultura dessa língua e não é estático, ele age a partir 
da organização de diferentes processos do campo simbólico e imaginário, que trazem 
marcas inconscientes. A tensão está nos diversos sentidos que um texto pode trazer, 
isso traz incertezas para a tradução, fazendo com que o intérprete tenha dificuldades 
entre ambas as realidades linguísticas. 
69
Quadros (2004) diz que o intérprete é o único a combinar três competências: 
a linguística, a técnica e a metodológica. A competência linguística é a habilidade de 
lidar com as línguas envolvidas no processo de interpretação. Reafi rmado pela autora, 
novamente falamos na necessidade de os intérpretes serem bilíngues e possuidores 
de um excelente conhecimento dos dois idiomas envolvidos na comunicação. A 
competência técnica é referente à habilidade de saber como se comportar eticamente 
na interpretação, usar o microfone, os fones quando necessário, assim como modular 
a voz ou a intensidade dos gestos dando coerência a sua tradução conforme a ouve. 
A competência metodológica é a utilização de diferentes modos de interpretação, 
escolher o mais apropriado diante do momento e encontrar o item lexical e a terminologia 
adequada ao discurso.
Neste tópico você estudou os conceitos de tradução (envolve um processo 
escrito) e interpretação (envolve um processo mais imediato), no próximo 
tópico veremos os aspectos linguísticos das línguas de sinais.
ESTUDOS FUTUROS
O fi lme A chegada aborda de modo bem interessante o processo de tradução e interpretação 
que uma linguista precisa fazer para compreender a mensagem que uma nave alienígena 
traz para a Terra. É muito interessante notar todo o processo que ela precisa desenvolver 
para ser capaz de compreender aquilo que as criaturas querem passar através da escrita 
absurdamente diferente da nossa, o longa mostra todo o desenrolar do raciocínio linguístico 
envolvido para que ela consiga compreender o que é apresentado pelos visitantes do espaço. 
Vale a pena assistir!
DICAS
FIGURA – CARTAZ DO FILME "A CHEGADA"
FONTE: <https://www.palomaviricio.com.br/2018/02/a-chegada-the-arrival-mo-
vie.html>. Acesso em: 10 fev. 2022.
70
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• As tarefas de tradução e interpretação são diferentes, a primeira envolve uma língua 
escrita, a segunda envolve línguas na modalidade oral/sinalizada.
• Para os intérpretes é imprescindível transitar bem entre as duas línguas, é fundamental 
possuir competência comunicativa nas línguas de comunicação. 
• Os tradutores e intérpretes devem ter um conjunto de conhecimentos e habilidades 
que os tornam diferentes dos demais falantes bilíngues que não exercem a função de 
tradutores. Uma das capacidades dos intérpretes é o poder de interagir em eventos e 
utilizar do improviso nas suas traduções. 
• O processo em que o intérprete está envolvido em uma situação com pessoas que 
apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes 
para conseguir atingir tal comunicação chama-se cognitivo linguístico.
• Tanto o tradutor como o intérprete precisam conhecer ambas as línguas que estão 
atuando, isso é fundamental para o bom andamento do trabalho desses profissionais.• As diferenças entre interpretação e tradução, no que diz respeito a um conceito geral, 
e não só na língua de sinais, é que a tradução é a elaboração da mensagem escrita no 
idioma do público-alvo.
• Tanto para a tradução como para a interpretação, é imprescindível transitar bem 
entre as duas línguas envolvidas, é fundamental possuir competência comunicativa 
nas línguas de comunicação. 
• O intérprete, com suas escolhas, devolverá a informação na língua fonte e fará 
escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem 
se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua 
comunicante.
• Quadros (2004) diz que o intérprete é o único ao combinar três competências: a 
linguística, a técnica e a metodológica.
71
RESUMO DO TÓPICO 1
1 Segundo Mounin (1965), nos seu estudo sobre problemas teóricos da tradução, há 
uma diferença entre o intérprete e o tradutor, no âmbito do exercício de seu trabalho. 
Pensando nessas diferenças analise as afirmações abaixo e assinale quais delas 
estão corretas.
FONTE: MOUNIN, G. Os problemas teóricos da tradução. Tradução de Heloysa de Lima Dantas. São 
Paulo: Cultrix, 1965.
I- O intérprete é quem faz tradução oral e escrita, isso acontece até os dias atuais.
II- O intérprete é aquele que faz a tradução oral e o tradutor é aquele que faz tradução 
escrita, essa visão ocorre depois do século XII.
III- O intérprete era vinculado à oralidade ou a gestualidade e o tradutor à escrita e as 
condições de trabalho também eram diferentes. 
IV- O intérprete tem que trabalhar de forma imediata, gestual e consecutiva de tradução, 
comparado com um orador ou a um ator, enquanto o tradutor tem mais tempo para 
planejar e elaborar seu trabalho. 
V- O tradutor trabalha com o texto escrito, mas não terá tempo para consultar os 
instrumentos documentais e pesquisa em cima deles, diferentemente do intérprete.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente as sentenças I, II, III estão corretas.
b) ( ) Somente as sentenças II, III, IV estão corretas.
c) ( ) Somente as sentenças I, V, II estão corretas.
d) ( ) Somente as sentenças II, V, IV estão corretas.
e) ( ) Todas estão corretas.
2 As tarefas de tradução e interpretação se mostram de formas diferentes, segundo 
Quadros (2004) e Lacerda (2009) em seu estudo sobre o tradutor e o intérprete de 
língua de sinais. Observe as alternativas listadas e marque somente a que está de 
acordo com o pensamento das autoras:
FONTES: QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portu-
guesa. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradu-
torlibras.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.; LACERDA, C. B. F. Intérprete de Libras: em atuação na educação 
infantil e no ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação, 2009.
a) ( ) A primeira envolve uma língua escrita, a segunda envolve línguas na modalidade 
oral/sinalizada. 
b) ( ) Tradução é a expressão de uma língua, enquanto a interpretação é algo mais 
teatral.
c) ( ) A tradução tem foco a produção oral, já a interpretação parte do texto escrito.
AUTOATIVIDADE
72
d) ( ) Interpretar e traduzir são a mesma coisa.
e) ( ) As condições de trabalho do tradutor e do intérprete são iguais, assim como o 
processo que exercem.
3 Segundo Quadros (2004), o intérprete é único ao combinar três competências: a 
linguística, a técnica e a metodológica. Observe as características e associe os itens, 
utilizando o código a seguir.
FONTE: QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portu-
guesa. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutor-
libras.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.
I- Competência linguística. 
II- Competência técnica. 
III- Competência metodológica. 
( ) É a habilidade de lidar com as línguas envolvidas no processo de interpretação. 
( ) É a utilização de diferentes modos de interpretação, escolher o mais apropriado 
diante do momento e encontrar o item lexical e a terminologia adequada ao discurso.
( ) É referente à habilidade de saber como se comportar eticamente na interpretação, 
usar o microfone, os fones quando necessário, assim como modular a voz ou a 
intensidade dos gestos dando coerência a sua tradução conforme a ouve.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) A ordem correta é I, II, III.
b) ( ) A ordem correta é II, III, I.
c) ( ) A ordem correta é I, III, II.
d) ( ) Todas estão erradas.
e) ( ) Todas estão corretas.
4 No estudo de Lacerda (2009) sobre o intérprete de Libras, a autora faz um comparativo 
em relação a função que exerce o tradutor e o intérprete de língua de sinais. Com 
base no que diz a autora disserte sobre a função dos dois profissionais.
FONTE: LACERDA, C. B. F. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 
Porto Alegre: Mediação, 2009.
5 O intérprete combina três competências: a linguística, a técnica e a metodológica, 
quem afirma isso é Quadros (2004) quando fala sobre o tradutor intérprete da língua 
de sinais e língua portuguesa. Disserte sobre essas três competências, tendo como 
base a autora referida.
FONTE: QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portu-
guesa. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutor-
libras.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.
73
ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE 
SINAIS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, falaremos sobre o conceito de língua e linguagem, suas diferenças 
e empregos na comunicação das pessoas. Observaremos os aspectos linguísticos 
da língua de sinais e a sua relação com a língua oral, observando o que falam alguns 
autores sobre as línguas em questão.
Para a explicação das línguas, traremos os autores Chomsky (2007) e Saussure 
(2006) e seus conceitos de língua e linguagem, como produtos naturais e sociais da 
vida humana, incluindo nela a língua de sinais. Mais voltados para as línguas de sinais, 
traremos, principalmente, Karnopp (2004), Quadros (2004) e Stokoe (1986).
Para a introdução deste tópico é importante lembrar o que Stokoe (1986) coloca 
que na linguagem estão presentes a marcas do convívio social e das interações sociais 
entre indivíduos com a mesma língua, e assim a língua se forma e se transforma a 
partir do meio que está inserida, o que com a língua de sinais não seria diferente. Sua 
modalidade não é oral, porém, é possível identificar a construção de sinais a partir da 
interação e convívio social. 
2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS 
Se tratando de linguagem, entendemos que ela é um sistema de códigos ou 
signos convencionais abstratos adotados por determinado grupo social, por exemplo, o 
grupo de ouvintes e o de surdos, os dois possuem linguagem diferentes. Essa linguagem 
pode ser verbal ou não verbal e elas são usadas para expressar suas ideias, mensagens, 
informações ou alertas. A gramática é o único sistema convencionado em que há 
regras que estabelecem o uso de uma língua nos seus diversos aspectos. Definimos a 
linguagem verbal aquela que produz ideias, sentimentos ou manifestações através da 
fala e dos gestos e ela se diferencia da linguagem não verbal, que é produzida por meio 
de pinturas, desenhos, danças e escritas. 
UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 
74
2.1 LÍNGUA E LINGUAGEM
Quando falamos em língua de sinais existe uma máxima que diz que nunca 
devemos chamar a Libras ‘de linguagem de sinais’, mas para entender essa forma de se 
referir, devemos entender o que significa língua e linguagem.
Língua são as palavras organizadas dentro de uma gramática específica. 
Essas regras gramaticais permitem que mensagens sejam transmitidas ao receptor da 
mensagem, de forma a compreendê-las. A língua é variável, dependendo da sua região, 
cultura, grupo social e demais fatores naturais. Para dizer que sabe uma língua, não 
basta só conhecer os vocábulos dela, mas sim compreender e empregar a gramáticaque rege essa língua.
A linguagem é o ato de comunicar-se com outro interlocutor, transmitindo uma 
mensagem composta por ideias, pensamentos, sentimentos, crítica, opiniões, sonhos, 
informações. A linguagem ocorre de forma verbal, não verbal e mista. A verbal são as 
palavras, podendo ser faladas ou escritas. A não verbal se utiliza de formas que enviem 
uma comunicação, como sons, gestos, cores, imagens, fotos, expressões faciais e 
corporais, símbolos, marcas e demais materiais visuais. A mista é a junção dos dois 
tipos de linguagem antes mencionadas, como, por exemplo, uma placa composta por 
uma palavra e uma imagem, as histórias em quadrinhos composta por falas e desenhos, 
cinema, teatro, revistas, além desses ainda utilizamos, hoje em dia, as redes sociais, nas 
quais também podemos encontrar a linguagem mista, pois possibilitam a postagem de 
material visual de forma a utilizar texto e imagem simultaneamente.
Agora que sabemos a diferença entre língua e linguagem vamos pensar em qual 
delas a Libras se enquadra. Desde 2002, com a Lei nº 10.436, de 24 de abril, sabemos 
que a Libras é uma língua reconhecida oficialmente. Ela se enquadra no conceito de 
língua por ter uma estrutura gramatical própria (veremos no próximo tópico mais sobre 
a estrutura gramatical). Antes da referida lei, a Libras era considerada apenas uma 
linguagem, utilizada para se comunicar, mas sem estrutura própria, pensando no que a 
Libras representa, não podemos mais pensar nela como linguagem que utilizam sinais 
ou gestos soltos para sua comunicação. 
A língua está dentro da linguagem, mas a diferença é a estrutura gramatical. 
O ato de se comunicar através da Libras é fazer uso da linguagem, não verbal em sua 
grande maioria, pois ela está ligada à língua, demonstrada por sinais, expressões, mas 
a grande questão é que esses sinais estão amparados gramaticalmente dentro de um 
sistema plenamente constituído, por isso a Libras é uma LÍNGUA. 
Para exercemos ou para sermos competentes em uma língua precisamos 
conhecê-la, estudá-la e convivermos com um público com o qual possamos adquirir 
uma fluência.
75
Noam Chomsky (1994) ok fala sobre o conceito de competência. Podemos dizer 
que ela é medida na produção da língua e da linguagem de um sujeito, podendo ser 
classifi cados em: Competência cultural, que é o conhecimento adquirido acerca do 
entendimento no contexto sociocultural de um grupo; Competência sociolinguística 
que é o conhecimento de se contextualizar um tema qualquer para a realidade de um 
grupo; Competência discursiva que é a capacidade de construir ou interpretar textos no 
seu conjunto diante do contexto do grupo; Competência estratégica que é a capacidade 
de pensar, estudar, escolher e usar estratégias apropriadas para compensar defi ciências 
no domínio do código linguístico no ato de traduzir e de interpretar para o determinado 
grupo.
Defi nidas as competências, Chomsky (1986) evidencia a necessidade de se ter 
a certeza de que a linguagem é representativa, ou seja, o que se fala, se ela mostra a 
signifi cação e se a raça humana tem como utilizá-la para comunicar-se.
FIGURA 1 – NOAM CHOMSKY
FONTE: Os autores
Como dito anteriormente, a língua pode ter diferentes representações e 
signifi cados, mas as investigações feitas podem servir de modelo para conhecer e 
aprofundar na comunicação.
76
Por muito tempo a língua de sinais era vista como mera linguagem, que 
pode ser entendida como um meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos 
através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc. Com o passar do 
tempo foi comprovado seu status de língua, que é entendida como um instrumento 
de comunicação, é composta por regras gramaticais que possibilitam que as pessoas 
possam produzir enunciados que permitam a comunicação e a compreensão entre 
os seres. Por essas razões, a língua de sinais passou a ser considerada uma língua 
propriamente dita, uma língua natural do sujeito surdo. Observemos o que Saussure 
(2006, p. 17) coloca sobre a linguagem
[...] linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que os 
homens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e 
outras manifestações simbólicas semelhantes à língua. A linguagem 
é heterogênea e multifacetada: ela tem aspectos físicos, fisiológicos 
e psíquicos, e pertence tanto ao domínio individual quanto ao 
domínio social. Para Saussure, é impossível descobrir a unidade da 
linguagem. Por isso, ela não pode ser estudada como uma categoria 
única de fatos humanos. A língua é diferente. Ela é uma parte bem 
definida e essencial da faculdade da linguagem. Ela é um produto 
social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções 
necessárias, estabelecidas e adotadas por um grupo social para o 
exercício da faculdade da linguagem. A língua é uma unidade por si 
só. Para Saussure, ela é a norma para todas as demais manifestações 
da linguagem. Ela é um princípio de classificação, com base no qual 
é possível estabelecer uma certa ordem na faculdade da linguagem.
Percebe-se que Saussure (2006) nos mostra um conceito de língua e linguagem 
sem colocar a interação social de comunidades diferentes para que possamos ter uma 
competência linguística. A língua teria uma estrutura definida.
O desenvolvimento de uma língua está unida com as faculdades da linguagem, 
com uma gramática já definida dentro de nosso cérebro.
77
FIGURA 2 – FERDINAND DE SAUSSURE
FONTE: Os autores
A linguagem pode ser defi nida como um produto social e a capacidade do ser 
humano em produzir conceitos. As línguas naturais são um sistema linguístico usado 
por uma comunidade específi ca e estão dentro desse conceito as línguas de sinais, 
pois nela há uma estrutura que permite que diferentes conceitos sejam demonstrados 
através dela, dependendo da intenção e necessidade comunicativa do indivíduo. A 
língua natural é, segundo Quadros e Karnopp (2004), uma realização da linguagem que 
se dicotomiza em um sistema abstrato de regras fi nitas que possibilitam a produção 
de frases limitadas. A utilização desse sistema, socialmente, possibilita a comunicação 
entre os usuários dessa mesma língua.
3 A LINGUÍSTICA DA LÍNGUA DE SINAIS
Stokoe, segundo Quadros e Karnopp (2004), foi um dos primeiros estudiosos 
a realizar pesquisas referentes às línguas de sinais, assim como constatar seu status 
linguístico. Ele comprovou a complexidade da língua de sinais igualmente com as 
línguas orais, pois elas possuem regras gramaticais, léxico e permitem a expressão 
conceitos abstratos e a produção de uma quantidade infi nita de sentenças. Todas as 
línguas de sinais se diferem, ela não é universal. As línguas de sinais são naturais, por 
essa razão elas apresentam variações regionais e suas estruturas gramaticais não 
dependem das línguas orais. Por ser uma língua de modalidade gestual-visual, seu canal 
de comunicação é através das mãos, das expressões faciais e do corpo. Acredita-se 
78
que a língua de sinais deve ser a língua materna dos surdos por estar ligada a um canal 
que não é o oral-auditivo, pois essa modalidade não oferece ao surdo uma aquisição 
espontânea da língua, ao contrário da gestual-visual, que garante uma percepção e 
articulação mais fácil, coerente e confortável, além de contribuir para o desenvolvimento 
linguístico, cognitivo e social do sujeito surdo.
A língua materna também, conhecida como idioma materno, língua nativa 
ou primeira língua. Trata da língua adquirida de forma natural, através da 
interação com o meio envolvente, sem intervenção pedagógica e sem uma 
reflexão linguística consciente.
FONTE: <https://conceito.de/lingua-materna>. Acesso em: 10 fev. 2022.
NOTA
Stokoe (1986) fala que aos sistemas presentes na linguagem de sinais teriam 
sido decorrentes do convívio social e das interações comunicativas individuais que os 
surdos estabelecem entre si, através da em decorrência do uso e de sua inserção social, 
tornaram-se mais simbólicos e menos icônicos. Hoje as línguas de sinais interagem 
com umaestrutura linguistica completa em que há um sistema de junção de elementos 
menores em palavras e um sistema de construção de sentenças a partir daquelas 
palavras.
Quadros e Karnopp (2004) relatam que, assim como as línguas orais, a de sinais 
também se estrutura a partir de determinados mecanismos. Diante desse cenário de 
mecanismos, vamos discorrer sobre a estrutura apresentada no que diz respeito às 
línguas e principalmente à língua de sinais.
https://conceito.de/lingua-materna
79
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Língua é definida como palavras organizadas dentro de uma gramática específica. 
E linguagem é o ato de comunicar-se com outro interlocutor, transmitindo uma 
mensagem composta por ideias, pensamentos, sentimentos, crítica, opiniões, 
sonhos, informações.
• A Libras e sua gramática como sistema convencionado em que há regras que 
estabelecem o uso de uma língua nos seus diversos aspectos. 
• O conceito de competência cultural, sociolinguística, discursiva e estratégica 
proposta por Chomsky (1986).
• Competência cultural é o conhecimento adquirido acerca do entendimento no 
contexto sociocultural de um grupo. 
• Competência sociolinguística é o conhecimento de se contextualizar um tema 
qualquer para a realidade de um grupo. 
• Competência discursiva é a capacidade de construir ou interpretar textos no seu 
conjunto diante do contexto do grupo. 
• Competência estratégica é a capacidade de pensar, estudar, escolher e usar 
estratégias apropriadas para compensar deficiências no domínio do código linguístico 
no ato de traduzir e de interpretar para o determinado grupo.
• Comprovação do status de língua para a língua de sinais, entendida como um 
instrumento de comunicação, é composta por regras gramaticais que possibilitam 
que as pessoas possam produzir enunciados que permitem a comunicação e a 
compreensão entre os seres.
80
1 Noam Chomsky, Saussure, Stokoe e Quadros e Karnopp falam sobre os aspectos 
linguísticos das línguas, sejam elas de sinais ou orais. A seguir, utilize os códigos para 
relacionar as afirmações que competem a cada um dos autores.
I- Noam Chomsky. 
II- Saussure.
III- Stokoe. 
IV- Quadros e Karnopp.
( ) A linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que os homens têm para 
produzir, desenvolver, compreender a língua e outras manifestações simbólicas 
semelhantes à língua.
( ) O conceito de competência, podemos dizer, é medido na produção da língua e da 
linguagem de um sujeito.
( ) A língua de sinais, assim como as línguas orais, também se estrutura a partir de 
determinados mecanismos.
( ) Comprovou a complexidade da língua de sinais igualmente com as línguas orais, 
pois elas possuem regras gramaticais, léxico e permitem a expressão conceitos 
abstratos e a produção de uma quantidade infinita de sentenças.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) II – I – III – IV.
b) ( ) II – I – IV – III.
c) ( ) I – II – III – IV.
d) ( ) IV – II – III – I.
2 Quando falamos em linguagem, entendemos que ela é um sistema de códigos ou 
signos convencionais abstratos adotados por determinado grupo social, por exemplo, 
o grupo de ouvintes e o de surdos, os dois possuem linguagem diferentes. Essa 
linguagem pode ser verbal ou não verbal e elas são usadas para expressar suas ideias, 
mensagens, informações ou alertas. Associe os itens, utilizando o código a seguir:
(1) Linguagem verbal. 
(2) Linguagem não verbal.
( ) É aquela produzida por meio de pinturas, desenhos, danças e escritas. 
( ) É aquela que produz ideias, sentimentos.
( ) É expressa através da fala e dos gestos. 
AUTOATIVIDADE
81
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) 1 – 1 – 2.
b) ( ) 1 – 2 – 2.
c) ( ) 2 – 1 – 2.
d) ( ) 2 – 2 – 2.
e) ( ) 2 – 1 – 1.
3 Stokoe, segundo Quadros e Karnopp (2004), foi um dos primeiros estudiosos a 
realizar pesquisas referentes às línguas de sinais, assim como constatar seu status 
linguístico. Marque a alternativa CORRETA em relação ao que o autor trouxe para as 
pesquisas na língua de sinais.
FONTE: QUADROS, R. M; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: 
Artmed, 2004.
a) ( ) Comprovou a complexidade da língua de sinais igualmente com as línguas 
orais, pois elas possuem regras gramaticais, léxico e permitem a expressão conceitos 
abstratos e a produção de uma quantidade infinita de sentenças.
b) ( ) Comprovou que, assim como as línguas orais, a de sinais também se estrutura 
a partir de determinados mecanismos.
c) ( ) Comprovou que a língua de sinais é uma realização da linguagem que se 
dicotomiza em um sistema abstrato de regras finitas que possibilitam a produção de 
frases limitadas.
d) ( ) Comprovou que a linguagem pode ser definida como um produto social e a 
capacidade do ser humano em produzir conceitos.
4 Como visto no texto, piudemos perceber qua há uma diferença entre língua e 
linguagem, se tratando do aspecto gramatical, de comunicação e transmissão de 
mensagens entre outros. Com base no texto lido, disserte sobre as diferenças entre 
língua e linguagem.
5 Neste tópico vimos as diferenças entre língua e linguagem e ao se tratar da Libras 
podemos dizer que ela se enquadra na classificação de língua e não linguagem. 
Disserte sobre essa afirmação.
82
83
TÓPICO 3 - 
ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA 
DE SINAIS: PRAGMÁTICO E SEMÂNTICO, 
SINTÁTICO, MORFOLÓGICO E FONOLÓGICO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos os aspectos linguísticos da língua de sinais, ou 
seja, PRAGMÁTICO E SEMÂNTICO, SINTÁTICO, MORFOLÓGICO E FONOLÓGICO. 
Os aspectos pragmáticos e semânticos serão observados em relação à língua 
de sinais e a sua estrutura pragmática que contempla componentes usuais em qualquer 
língua, como sentenças implícitas, metáforas, ironia e demais significados não literais. 
Já a sintática trará as relações entre as palavras dentro de uma frase, bem como as 
regras que as articulam para a construção de tal sentença. 
Quanto à fonologia, a qual vem sendo usada no âmbito das línguas de sinais 
nos estudos dos elementos que envolvem a formação dos sinais em suas unidades 
mínimas, como os parâmetros da língua. E o morfológico, como uma parte da linguística 
que estuda a estrutura interna, a formação e classificação das palavras ou sinais.
2 AFINAL, O QUE SÃO OS ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA 
LÍNGUA DE SINAIS?
Os aspectos linguísticos da língua de sinais se subdvidem em pragmático e 
semântico, sintático, morfológico e fonológico. Veremos, a seguir, as visões de vários 
autores sobre esses aspectos e sua utilização na língua de sinais brasileira (Libras), a 
fim de compreender a língua de sinais como uma língua estruturada como as demais 
línguas orais que conhecemos.
2.1 ASPECTO PRAGMÁTICO E SEMÂNTICO
Na língua de sinais, a sua estrutura pragmática contempla componentes usuais 
como em qualquer outra língua, como sentenças implícitas, metáforas, ironia e demais 
significados não literais. 
UNIDADE 2
84
Segundo McCleary e Viotti (2009), novas teorias sobre a língua de sinais relatam 
que o estudo do significado linguístico é semântico e pragmático ao mesmo tempo, pois 
os conceitos que entendemos das palavras, das frases e dos textos vêm da experiência 
de cada pessoa, ela busca elementos já existentes na sua cabeça para que possa 
transmitir a mensagem. Utilizando a semântica e a pragmática podemos usar diferentes 
estruturas nas várias situações comunicacionais na língua de sinais, fazendo, assim, 
a correspondência linguística, dessa forma, mais uma vez, evidenciamos o status de 
língua natural à língua de sinais.
2.2 ASPECTO SINTÁTICO
A sintaxe é a parte da gramática que estuda as relações entre as palavras dentro 
de uma frase, bem como as regras que as articulam para a construção de tal sentença. 
Diferentemente da língua oral, na língua de sinais se estuda partindo da organização dos 
sinais no espaço, sendo o uso de expressões faciais de forma intuitivanas estruturas 
de frase. Os aspectos não manuais também são relevantes na sintaxe da Libras, pois os 
enunciados que contêm verbos com concordância na sua formação obrigatoriamente 
devem ter a marca (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 163).
A Libras apresenta organização na estrutura da frase, igualmente como na 
língua portuguesa. Preferencialmente, a ordem SVO (sujeito + verbo + objeto) é a que 
se destaca na produção das frases, mas, mesmo com essa preferência, não se descarta 
outras ordens. De acordo com Brito (1997), na Libras, uma outra forma de produção que 
acontece é a topicalização ou tópico-comentário. A topicalização, que é frequente, é 
definida como a distribuição no espaço dos elementos da frase, assim não seguindo a 
ordem SVO. Desde que não altere o sentido da frase, ela pode ser usada. 
Em relação aos verbos em Libras, destacam-se os com concordância e os sem 
concordância. De acordo com a concepção de Quadros (2004), os sem concordância 
são os que não flexionam em pessoa e número, sendo que alguns podem flexionar em 
aspecto. Existe ainda uma subdivisão dessa categoria de verbos, podendo ser, ainda, 
classificados em verbos de locomoção/movimento. 
De acordo com o contexto, o sinal pode ser classificado como substantivo ou 
verbo, mas os verbos com concordância, flexionam em número, pessoa e aspecto. 
Segundo Felipe (2001), esses verbos podem também ser subdivididos em dois: os que 
possuem concordância em número e pessoa, classificadores que trazem o parâmetro 
da orientação e os que concordam com a localização, esses que têm concordância com 
a localização e, em destaque, têm o parâmetro do ponto de articulação ou locação. Nos 
classificadores, evidencia-se o parâmetro configuração de mão, o que não invalida o uso 
dos outros parâmetros. 
85
2.3 ASPECTO FONOLÓGICO
A fonologia vem sendo usada no âmbito das línguas de sinais nos estudos dos 
elementos que envolvem a formação dos sinais. Stokoe et al. (1976 apud QUADROS, 
2004), ao confirmarem que a língua de sinais é uma língua natural, começaram a utilizar 
os termos fonema e fonologia nos estudos linguísticos das línguas de sinais. Quadros 
(2004, p. 47) define a fonologia das línguas de sinais da seguinte forma: 
Fonologia das línguas de sinais é o ramo da linguística que objetiva 
identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, 
propondo modelos descritivos e explanatórios. Em primeiro lugar, a 
fonologia da língua de sinais deve determinar quais são as unidades 
mínimas que formam os sinais, depois deve estabelecer quais são 
os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as 
variações possíveis no ambiente fonológico. 
Os autores Cunha e Cintra (2008, p. 41) falam que, nas línguas orais, a fonologia 
é “a disciplina que estuda minuciosamente os sons da fala, as múltiplas realizações dos 
FONEMAS[...]. A parte da gramática que estuda o comportamento dos FONEMAS numa 
língua denomina-se FONOLOGIA OU FONÉMICA”. Como podemos pensar na fonologia na 
língua de sinais, já que ela estuda os sons e na Libras isso não se aplica? 
A Fonética e a Fonologia focalizam o estudo nas unidades mínimas que formam 
os sinais e que isoladamente não apresentam nenhum significado (QUADROS; KARNOPP, 
2004). Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 81-82), “essas duas áreas se relacionam, 
já que possuem o mesmo objeto de estudo, porém há pontos de vista diferentes”. As 
autoras relatam que o objetivo da fonética na Libras é descrever as unidades mínimas 
dos sinais, são elas: propriedades físicas, articulatórias e perceptivas de configuração e 
orientação de mão, movimento, locação, expressão corporal e facial. Ainda, a fonologia 
estuda as diferenças observadas e produzidas relacionadas com as diferenças de 
significado.
Os parâmetros fonológicos da Libras são um conjunto de unidades mínimas 
que carregam informações complementares. Stokoe (1960) foi o primeiro pesquisador a 
afirmar que a língua de sinais americana atendia a todos os critérios linguísticos de uma 
língua genuína. Ele investigou a formação do sinal e definiu três parâmetros que eram 
utilizados simultaneamente na formação de um sinal particular: configuração de mãos, 
localização e movimento. Battison (1974) acrescentou o quarto parâmetro: orientação 
das palmas das mãos. Baker e Padden (1978) incluíram o quinto parâmetro: traços não 
manuais, como: expressão facial, movimentos da boca e direção do olhar. Vamos ver 
como ocorre cada um desses parâmetros no uso da Libras:
86
2.3.1 Confi guração de Mãos 
As confi gurações de mãos são as várias formas que a mão fi ca ao realizar os 
sinais. Na Figura 3, mostramos as confi gurações de acordo com Felipe e Monteiro (2007), 
na Libras há 64 confi gurações distintas:
FIGURA 3 – AS 64 CONFIGURAÇÕES DE MÃOS EM LIBRAS
FONTE: Felipe e Monteiro (2007, p. 28)
87
FIGURA 4 – EXEMPLOS DE SINAIS QUE UTILIZAM A MESMA CONFIGURAÇÃO DE MÃO: SINAL DE "APREN-
DER", "SÁBADO"/ "LARANJA" E "DESODORANTE-SPRAY"
FONTE: Felipe e Monteiro (2007, p. 21)
Apesar de mostrarmos as configurações anteriores, alguns estudos nacionais 
e internacionais sobre as configurações de mãos já mostram até 104 configurações 
diferentes, porém, alguns não estão presentes nos sinais do Brasil.
Embora haja a diferenciação do local da sinalização, o movimento é idêntico, 
mas seu significado é diferente como o observado nos sinais expostos.
2.3.2 Locação/ponto de articulação
A locação ou ponto de articulação, diz respeito à área do corpo ou do espaço em 
que o sinal é realizado ou assim dizendo, o espaço utilizado para a sinalização. A mão 
pode ou não tocar no corpo durante a realização do sinal, assim como podemos utilizar o 
mesmo ponto de articulação para realizar diferentes sinais com a mesma configuração 
de mão. Podemos identificar, nesse parâmetro, o espaço neutro, que fica em frente ao 
corpo e o que direciona a uma parte do corpo. Veja na Figura 5:
88
FIGURA 5 – LOCAÇÃO/ PONTO DE ARTICULAÇÃO
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
2.3.3 Movimento
O movimento envolve várias formas e direções, eles podem ser internos da 
mão, do pulso ou direcionais no espaço utilizando as mãos, os pulsos e os antebraços. 
Os movimentos podem ser parados ou não, sendo eles unidirecionais, bidirecionais ou 
multidirecionais. Podemos também falar sobre a categoria e a frequência, a primeira 
descreve a qualidade, a tensão e a velocidade do movimento, já a segunda descreve o 
número de movimentos repetitivos.
A seguir, exploraremos alguns sinais que apresentam características com o 
movimento e sem movimento. O primeiro conjunto de sinais: FAMÍLIA, LIBRAS e SURDO, 
percebe-se que as mãos realizam o movimento circular frontal, o movimento circular 
horizontal e o movimento direcional respectivamente.
89
FIGURA 6 – SINAIS COM MOVIMENTO E SEM MOVIMENTO
FIGURA 7 – SINAIS SEM MOVIMENTO
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Micaely Dutra Nunes)
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Micaely Dutra Nunes)
E comparando com o próximo conjunto: DESCULPA, TRISTE, EU e LEI, 
percebemos que as mãos estão estáticas. Expressam o sinal, porém sem necessidade 
de movimentar para qualquer lado ou direção.
2.3.4 Orientação/direcionalidade
Brito (1995) enumera seis tipos de orientação, na palma da mão, na Língua 
de Sinais Brasileira (LSB), sendo para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para 
a direita ou para a esquerda. Alguns sinais têm a mesma confi guração, o mesmo 
ponto de articulação e o mesmo movimento, mas se diferem na orientação da mão. 
É extremamente relevante observar que a modifi cação de um único parâmetro pode 
alterar todo o signifi cado do sinal.
Segundo os autores Felipe e Monteiro (2007, pg. 23), os verbos IR e VIR se 
diferenciam em relação à direcionalidade, como os verbos SUBIR e DESCER, ACENDER 
e APAGAR, ABRIR-PORTA e FECHAR-PORTA, como veremos na Figura 8.
90
FONTE: Felipe e Monteiro (2007, p. 23)
FIGURA 8 – EXEMPLOS DE SINAIS ORIENTAÇÃO/DIRECIONALIDADE
Se observarmos os pares de sinais,o que clarifi ca seu signifi cado é a direção 
em que o sinal é realizado. Como os sinais “ACENDER” e “APAGAR” se não houvesse 
a direcionalidade, não saberíamos seu signifi cado, a não ser se houvesse uma 
contextualização anterior. Igualmente acontece com os outros sinais exemplifi cados.
2.3.5 Não manuais/expressões faciais e corporais
As expressões não manuais, ou expressões faciais e corporais, são movimentos 
realizados pela face, pelos olhos, pela cabeça ou pelo tronco durante o processo de 
realização dos sinais.
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 9 – EXEMPLOS DE EXPRESSÕES FACIAIS
91
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as expressões não manuais formam 
os componentes lexicais, que marcam referência específica, referência pronominal, 
partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto. Precisamos enfatizar, aqui, que os surdos 
utilizam as expressões não manuais de forma natural, sem premeditar para enfatizar 
algo no momento da comunicação, porém nem todas as pessoas que utilizam a língua 
de sinais executam esse parâmetro de maneira satisfatória.
3 MORFOLÓGICOS 
Morfologia é uma parte da linguística que estuda a estrutura interna, a formação 
e classificação das palavras ou sinais, como define Quadros (2004, p. 86), “a morfologia 
é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras 
que determinam a formação das palavras. Os morfemas são as unidades mínimas de 
significado”. 
A partir do conceito de Quadros (2004), pode-se dizer que as formações dos 
sinais se dão a partir da combinação dos parâmetros configuração de mão, ponto de 
articulação, movimento, expressão facial e corporal, então considerados morfemas, 
ou seja, unidades mínimas com significado, como explica Felipe (2006), os cinco 
parâmetros podem expressar morfemas através de algumas configurações de mão, de 
alguns movimentos direcionados, de algumas alterações na frequência do movimento, 
de alguns pontos de articulação na estrutura morfológica e de alguma expressão facial 
ou movimento de cabeça concomitante ao sinal, que, através de alterações em suas 
combinações, formam os itens lexicais das línguas de sinais. 
Quando falamos em categorias lexicais na língua de sinais relacionamos aos 
nomes, adjetivos, advérbios, verbo, numeral, conjunção. Um exemplo quanto ao léxico 
é a diferenciação do gênero feminino e masculino de algum ser, usando, para isso, um 
sinal para cada um deles juntamente com o sinal do que se refere, por exemplo para 
sinalizar ‘TIA’ fazemos o sinal de TIO + MULHER no caso de ‘TIO’ faz-se o sinal de TIO + 
HOMEM.
92
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 10 – EXEMPLOS DE SINAL DE DIFERENCIAÇÃO DE GÊNERO
Percebe-se que a diferença entre os sinais é executada através do sinal do 
gênero, pois o sinal de ti@ é o mesmo.
Há o caso de sinais próprios (em alguns lugares do Brasil) como MÃE e PAI, 
esses não necessitam de um outro sinal para defi nir o sexo.
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 11 – EXEMPLOS DE SINAIS SEM MARCA DE GÊNERO
93
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 13 – EXEMPLOS DE SINAL DIRECIONAL NO USO DE PRONOME EU
FIGURA 12 – EXEMPLOS DE SINAL COM ADVÉRBIO DE INTENSIDADE
A expressão facial e a intensidade do sinal demonstram o adjetivo na língua 
de sinais, por exemplo, quando queremos dizer que estamos com MUITO FRIO, não 
precisamos fazer o sinal de MUITO + FRIO, fazemos apenas o de frio utilizando expressões 
faciais e corporais para dar o adjetivo de intensidade ao sinal.
• Pronomes:
Os pronomes na língua de sinais se dão através de direcionalidade e pontos no 
espaço e depende da pessoa que reproduz o sinal. O EU dito por mim, não será o mesmo 
EU dito pelo outro comunicante, ele terá uma direcionalidade diferente.
94
• Conjunção:
As conjunções mais utilizadas em língua de sinais são MAS, PORQUE, SE, POR 
ISSO, TAMBÉM. Podemos destacar alguns exemplos de frases ditas por usuários da 
Libras.
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 14 – EXEMPLOS DE FRASES SINALIZADAS COM CONJUGAÇÃO MAS
Percebe-se que no caso da Figura 14, o elemento “mas” tem como função ligar 
uma sentença à outra colocando o que realizou na escola.
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 11 – EXEMPLOS DE SINAIS SEM MARCA DE GÊNERO
95
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 16 – EXEMPLOS DE FRASES SINALIZADAS COM CONJUGAÇÃO POR ISSO
Na Figura 15, a conjunção tem como fi nalidade explicar ou justifi car a ação. A 
intensidade da fome será demonstrada pela quantidade de repetição do movimento do 
sinal.
• Numeral:
Os numerais são usados com confi guração de mãos específi cas e diferenciados 
em cardinais e ordinais, dependendo do contexto da interlocução. Os dias da semana 
são usados, na sua maioria, os números como representação, salvo sexta, sábado e 
domingo que têm sinais específi cos.
96
FONTE: Adaptada de Paraná (2014, p. 13)
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Micaely Dutra Nunes)
FIGURA 18 – SINAIS DOS DIAS DA SEMANA
FIGURA 17 – EXEMPLOS DE NÚMEROS CARDINAIS E ORDINAIS
DIAS DA SEMANA
97
Frase em língua portuguesa: Estudei na escola de surdos
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 19 – EXEMPLOS DE FRASE SINALIZADA COM MARCA TEMPORAL PASSADO
• Verbos
Para os verbos utilizamos marcas temporais e o verbo no infi nitivo, de forma a 
dar um contexto correto ao discurso. A marcação do tempo verbal é realizada através de 
itens lexicais ou sinais adverbiais como afi rma Brito (1997, p. 46): “Dessa forma, quando 
o verbo se refere a um tempo passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo 
da ação ou do evento serão itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ, 
HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM”. Um exemplo pode ser visto na frase 
em Libras: PASSADO ESTUDAR ESCOLA SURDOS. A frase em língua portuguesa seria: 
ESTUDEI NA ESCOLA DE SURDOS. Na frase em língua portuguesa, o verbo está contido 
na desinência de tempo e de pessoa, mas na Libras essa marca não existe, sendo 
apenas utilizado sinais extras para demarcar a pessoa e o tempo da ação.
A seguir, senão houver a marcação do tempo através do sinal PASSADO, não 
tem como saber quando ocorre a ação (Figura 19).
Entretanto, não é só o tempo passado que há marcação, o presente também 
possui a necessidade de ser marcado. Não existe um só sinal para demonstra o presente, 
pode-se utilizar hoje, agora, já...
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FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FONTE: Arquivo pessoal (Ilustração de Henrique Rodolfo)
FIGURA 20 – EXEMPLOS DE FRASES SINALIZADAS COM MARCA TEMPORAL PRESENTE
FIGURA 21 – EXEMPLOS DE FRASES SINALIZADAS COM MARCA TEMPORAL FUTURO
Então, como pudemos notar, as noções temporais na língua de sinais são 
percebidas pelo contexto no caso de uma conversa, porém, também pelos sinais que 
marcam os tempos verbais.
Fique agora, acadêmico, com um trecho da obra “Aspectos linguísticos da Língua 
Brasileira de Sinais”, de Karin Lilian Strobel e Sueli Fernandes como Leitura Complementar. 
No livro você pode visualizar imagens exemplifi cando os itens citados no texto.
99
ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Karin Lilian Strobel
Sueli Fernandes
1 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 
Na maioria do mundo, há, pelo menos, uma língua de sinais usada amplamente 
na comunidade surda de cada país, diferente daquela da língua falada utilizada na mesma 
área geográfica. Isso se dá porque essas línguas são independentes das línguas orais, 
pois foram produzidas dentro das comunidades surdas. A Língua de Sinais Americana 
(ASL) é diferente da Língua de Sinais Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua 
de Sinais Francesa (LSF). 
Além disso, dentro de um mesmo país há as variações regionais. 
A LIBRAS apresenta dialetos regionais, salientando assim, uma vez mais, o seu 
caráter de línguanatural. 
• VARIAÇÃO REGIONAL: representa as variações de sinais de uma região para outra, no 
mesmo país.
• VARIAÇÃO SOCIAL: refere-se às variações na configuração das mãos e/ou no 
movimento, não modificando o sentido do sinal. 
• MUDANÇAS HISTÓRICAS: com o passar do tempo, um sinal pode sofrer alterações 
decorrentes dos costumes da geração que o utiliza.
2 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE 
A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a LIBRAS é produzida e 
percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais 
são o ́ desenho´ no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua 
natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características 
do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos 
sinais da LIBRAS são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu 
referente. Vejamos alguns exemplos entre os sinais icônicos e arbitrários. 
LEITURA
COMPLEMENTAR
100
2.1 SINAIS ICÔNICOS 
Uma foto é icônica porque reproduz a imagem do referente, isto é, a pessoa ou 
coisa fotografada. Assim também são alguns sinais da LIBRAS, gestos que fazem alusão 
à imagem do seu significado.
2.2 SINAIS ARBITRÁRIOS 
São aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da realidade 
que representam. Uma das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade 
existente entre significante e referente. Durante muito tempo afirmou-se que as línguas 
de sinais não eram línguas por serem icônicas, não representando, portanto, conceitos 
abstratos. Isto não é verdade, pois em língua de sinais tais conceitos também podem ser 
representados, em toda sua complexidade.
3 ESTRUTURA GRAMATICAL 
3.1 ASPECTOS ESTRUTURAIS 
A LIBRAS têm sua estrutura gramatical organizada a partir de alguns parâmetros 
que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos. 
Três são seus parâmetros principais ou maiores: a Configuração da(s) mão(s)-
(CM), o Movimento - (M) e o Ponto de Articulação - (PA); e outros três constituem seus 
parâmetros menores: Região de Contato, Orientação da(s) mão(s) e Disposição da(s) 
mão(s) (FERREIRA BRITO, 1990). 
3.1.1 Parâmetros principais 
Os parâmetros principais são: 
a) configuração da mão (CM). 
b) ponto de articulação (PA). 
c) movimento (M). [...]
Direcionalidade do movimento 
a) Unidirecional: movimento em uma direção no espaço, durante a realização 
de um sinal. 
Ex.: PROIBID@, SENTAR, MANDAR.
b) Bidirecional: movimento realizado por uma ou ambas as mãos, em duas 
direções diferentes. 
101
Ex.: PRONT@, JULGAMENTO, GRANDE, COMPRID@, DISCUTIR, EMPREGAD@, 
PRIM@, TRABALHAR, BRINCAR. 
c) Multidirecional: movimentos que exploram várias direções no espaço, durante 
a realização de um sinal. 
Ex.: INCOMODAR, PESQUISAR.
3.1.2 Parâmetros secundários 
a) Disposição das mãos: a realização dos sinais na LIBRAS pode ser feito com a 
mão dominante ou por ambas as mãos. 
Ex.: BURR@, CALMA, DIFERENTE, SENTAR, SEMPRE, OBRIGAD@ 
b) Orientação das mãos: direção da palma da mão durante a execução do sinal 
da LIBRAS, para cima, para baixo, para o lado, para a frente etc. Também pode ocorrer a 
mudança de orientação durante a execução de um sinal. 
Ex.: MONTANHA, BAIX@, FRITAR. 
c) Região de contato: a mão entra em contato com o corpo, através do: 
º toque: MEDO, ÔNIBUS, CONHECER. 
º duplo toque: FAMÍLIA, SURD@, SAÚDE. 
º risco: OPERAR, JOSÉ (nome bíblico), PESSOA. 
º deslizamento: CURSO, EDUCAD@, LIMP@, GALINHA
3.1.3 Componentes não manuais 
Além desses parâmetros, a LIBRAS conta com uma série de componentes não 
manuais, como a expressão facial ou o movimento do corpo, que muitas vezes podem 
definir ou diferenciar significados entre sinais. A expressão facial e corporal podem 
traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc., dando mais sentido à LIBRAS 
e, em alguns casos, determinando o significado de um sinal. 
Ex.: o dedo indicador em [G] sobre a boca, com a expressão facial calma e 
serena, significa silêncio; o mesmo sinal usado com um movimento mais rápido e com a 
expressão de zanga, significa uma severa ordem: Cale a boca! 
A mão aberta, com o movimento lento e com expressão serena, significa calma; 
o mesmo sinal com movimento brusco e com expressão séria, significa para. 
Em outros casos, utilizamos a expressão facial e corporal para negar, afirmar, 
duvidar, questionar etc.
102
Sinais faciais: em algumas ocasiões, o sinal convencional é modificado, sendo 
realizado na face, disfarçadamente. 
Exemplos: ROUBO, ATO-SEXUAL.
 
3.2 ESTRUTURA SINTÁTICA 
A LIBRAS não pode ser estudada tendo como base a Língua Portuguesa, porque 
ela tem gramática diferenciada, independente da língua oral. A ordem dos sinais na 
construção de um enunciado obedece a regras próprias que refletem a forma de o 
surdo processar suas ideias, com base em sua percepção visual-espacial da realidade. 
Observação: na estruturação da LIBRAS, observa-se que ela possui regras 
próprias; não são usados artigos, preposições, conjunções, porque esses conectivos 
estão incorporados ao sinal. [...]
3.2.1 Sistema pronominal 
a) Pronomes pessoais: a LIBRAS possui um sistema pronominal para representar 
as seguintes pessoas do discurso: 
o no singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo CM[G], o que diferencia 
uma das outras é a orientação das mãos; 
o dual: a mão ficará com o formato de dois, CM [K] ou [V]; 
o trial: a mão assume o formato de três, CM [W]; Þ quatrial: o formato será de 
quatro, CM [54]; 
o plural: há dois sinais: 
– sinal composto (pessoa do discurso no singular + grupo). 
 – configuração da mão [Gd] fazendo um círculo (nós). [...]
b) Pronomes demonstrativos: na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os 
advérbios de lugar têm o mesmo sinal, sendo diferenciados no contexto. [...]
c) Pronomes possessivos: também não possuem marca para gênero e estão 
relacionados às pessoas do discurso e não à coisa possuída, como acontece em 
português. [...]
d) Pronomes interrogativos: os pronomes interrogativos QUE, QUEM e 
ONDE caracterizam-se, essencialmente, pela expressão facial interrogativa feita 
simultaneamente ao pronome. [...]
e) Pronomes indefinidos. [...]
103
3.2.2 Tipos de verbos
 
• Verbos direcionais: verbos que possuem marca de concordância. A direção do 
movimento, marca no ponto inicial o sujeito e no final o objeto.
• Verbos não direcionais: verbos que não possuem marca de concordância. 
Quando se faz uma frase é como se eles ficassem no infinitivo. Os verbos não 
direcionais aparecem em duas subclasses: 
º Ancorados no corpo: são verbos realizados com contato muito próximo do 
corpo. Podem ser verbos de estado cognitivo, emotivo ou experienciais, 
como: pensar, entender, gostar, duvidar, odiar, saber; e verbos de ação, 
como: conversar, pagar, falar. 
º Verbos que incorporam o objeto: quando o verbo incorpora o objeto, alguns 
parâmetros modificam-se para especificar as informações. [...]
3.2.3 Tipos de frases 
Para produzirmos uma frase em LIBRAS nas formas afirmativa, exclamativa, 
interrogativa, negativa ou imperativa é necessário estarmos atentos às expressões 
faciais e corporais a serem realizadas, simultaneamente, a elas. 
• Afirmativa: a expressão facial é neutra. 
• Interrogativa: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça, 
inclinando-se para cima. 
• Exclamativa: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça 
inclinando-se para cima e para baixo. 
• Forma negativa: a negação pode ser feita através de três processos: 
º incorporando-se um sinal de negação diferente do afirmativo; 
º realizando-se um movimento negativo com a cabeça, simultaneamente à 
ação que está sendo negada;
º acrescida do sinal NÃO (com o dedo indicador) à frase afirmativa; [...]
Observação: em algumas ocasiões podem ser utilizados dois tipos de negação 
ao mesmo tempo
3.2.4 Noções temporais 
Quando se deseja especificar as noções temporais, acrescentamos sinais que 
informam o tempo presente, passadoou futuro, dentro da sintaxe da LIBRAS. [...]
104
3.2.5 Classificadores (Cl) 
Um classificador (Cl) é uma forma que estabelece um tipo de concordância em 
uma língua. Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por configurações 
de mão que, substituindo o nome que as precedem, podem vir junto de verbos de 
movimento e de localização para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação 
do verbo. 
Portanto, os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de 
gênero para pessoas, animais ou coisas. São muito importantes, pois ajudam construir 
sua estrutura sintática, através de recursos corporais que possibilitam relações 
gramaticais altamente abstratas. 
Muitos classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança entre a 
sua forma ou tamanho do objeto a ser referido. As vezes o Cl refere-se ao objeto ou ser 
como um todo, outras refere-se apenas a uma parte ou característica do ser (FERREIRA 
BRITO, 1995). [...] 
FONTE: Adaptada de STROBEL, K. L.; FERNANDES, S. Aspectos linguísticos da língua brasileira de 
sinais. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.
105
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Se tratando de linguagem, entendemos que ela é um sistema de códigos ou signos 
convencionais abstratos adotados por determinado grupo social, por exemplo, 
o grupo de ouvintes e o de surdos, os dois possuem linguagem diferentes. Essa 
linguagem pode ser verbal ou não verbal e elas são usadas para expressar suas 
ideias, mensagens, informações ou alertas.
• A gramática é o único sistema convencional em que há regras que estabelecem o 
uso de uma língua nos seus diversos aspectos. Definimos a linguagem verbal como 
aquela que produz ideias, sentimentos ou manifestações através da fala e dos 
gestos e ela se diferencia da linguagem não verbal, esta que é produzida por meio de 
pinturas, desenhos, danças e escritas.
• O conceito de competência é medido na produção da língua e da linguagem de 
um sujeito, podendo ser classificados em: competência cultural; competência 
sociolinguística; competência discursiva; competência estratégica.
• A linguagem pode ser definida como um produto social e a capacidade do ser humano 
em produzir conceitos. As línguas naturais são um sistema linguístico usado por uma 
comunidade específica e estão dentro desse conceito as línguas de sinais, pois nelas 
há uma estrutura que permite que diferentes conceitos sejam demonstrados através 
delas, dependendo da intenção e necessidade comunicativa do indivíduo.
• Existem aspectos linguísticos em língua de sinais, por ela se tratar de uma língua 
estruturada e natural de uma porção da sociedade e, dentre esses aspectos, estão:
º fonológicos: identificação da estrutura e da organização dos constituintes 
fonológicos, propondo descrições e explicações;
º morfológicos: estudo da estrutura interna das palavras/sinais;
º sintáticos: estudo das estruturas das frases;
º semânticos: estudo do sentido/significado das palavras/sinais de uma língua;
º pragmáticos: consideração do contexto linguístico.
106
1 Vimos que os parâmetros da Libras envolvem cinco categorias, sendo uma delas o 
movimento. Cada parâmetro é fundamental para a sinalização e o movimento que se 
faz durante o sinal é essencial para a compreensão do que está sendo dito. Assinale 
a alternativa correta sobre o parâmetro do movimento:
a) ( ) O movimento envolve poucas formas e direções, eles podem ser internos da 
mão, do pulso ou direcionais no espaço utilizando as mãos, os pulsos e os antebraços. 
b) ( ) Os movimentos não podem ser parados.. Eles unidirecionais, bidirecionais ou 
multidirecionais. 
c) ( ) Podemos também falar sobre a categoria e a frequência, a primeira descreve a 
qualidade, a tensão e a velocidade do movimento, já a segunda descreve o número 
de movimentos repetitivos. A C está correta
d) ( ) Os movimentos são vários parâmetros juntos, como a direção que o sinal faz, as 
expressões faciais e corporais, a configuração de mãos e não se diferencia por sua 
direcionalidade ou repetições.
2 Os aspectos linguísticos da língua de sinais envolvem o pragmático e semântico, 
sintático, morfológico e fonológico. Assinale a alternativa que contempla o aspecto 
fonológico da língua de sinais:
a) ( ) Contempla componentes usuais em qualquer língua, como sentenças implícitas, 
metáforas, ironia e demais significados não literais. 
b) ( ) Estuda as relações entre as palavras dentro de uma frase. 
c) ( ) Usada no âmbito das línguas de sinais nos estudos dos elementos que envolvem 
a formação dos sinais.
d) ( ) Estuda a estrutura interna, a formação e classificação das palavras ou sinais.
3 Na Fonologia da Libras temos os parâmetros, que são um conjunto de unidades 
mínimas que carregam informações complementares. Esses parâmetros foram 
investigados por Stokoe (1960), Battison (1974) e Baker e Padden (1978). Com relação 
aos padrões que todos esses autores determinaram, assinale a alternativa CORRETA:
FONTES: STOKOE, W. Sign language structure: an outline of the visual communication systems of the ame-
rican deaf. Studies in Linguistics, Buffalo, n. 8, 1960.; BATTISON, R. “Phonological deletion in american 
sign language”. Sign Language Studies, [s. l.], n. 5, p. 1-19, 1974.; BAKER, C.; PADDEN, C. American sign 
language: a look at its history, structure, and community. Silver Spring: Linstok Press, 1978.
a) ( ) Não manuais/expressões faciais e corporais, orientação/direcionalidade, 
movimento, pragmático e semântico, configuração de mãos.
b) ( ) Configuração de mãos, expressões manuais, movimento, mímicas, 
direcionalidade.
AUTOATIVIDADE
107
c) ( ) Locação/ponto de articulação, orientação/direcionalidade, competência 
estratégica, configuração de mãos, não manuais/expressões faciais e corporais.
d) ( ) Linguagem verbal e não verbal, orientação/direcionalidade, movimento, 
locação/ponto de articulação, configuração de mãos.
e) ( ) Configuração de mãos, locação/ponto de articulação; movimento; orientação/
direcionalidade; não manuais/expressões faciais e corporais.
4 As pesquisas mostram uma complexa estrutura linguística das línguas de sinais e 
da existência de uma gramática nesses sistemas linguísticos. Disserte sobre seus 
aspectos linguísticos, explicando cada um deles:
5 Sabemos que os parâmetros fonológicos da Libras são um conjunto de unidades 
mínimas que carregam informações complementares. Stokoe (1960) foi o primeiro 
pesquisador a afirmar que a língua de sinais americana atendia a todos os critérios 
linguísticos de uma língua genuína. Battison (1974) acrescentou o quarto parâmetro. 
Baker e Padden (1978) incluíram o quinto parâmetro. Liste esses parâmetros e disserte 
sobre eles:
FONTES: STOKOE, W. Sign language structure: an outline of the visual communication systems of the amer-
ican deaf. Studies in Linguistics, Buffalo, n. 8, 1960.; BATTISON, R. “Phonological deletion in american 
sign language”. Sign Language Studies, [s. l.], n. 5, p. 1-19, 1974.; BAKER, C.; PADDEN, C. American sign 
language: a look at its history, structure, and community. Silver Spring: Linstok Press, 1978.
108
109
REFERÊNCIAS
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2015, 329 p. Disponível em https://static.scielo.org/scielobooks/6vkk8/pdf/
amorim-9788568334614.pdf#page=180. Acesso em: 10 fev. 2022.
BAKER, C.; PADDEN, C. American sign language: a look at its history, structure, and 
community. Silver Spring: Linstok Press, 1978.
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Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 
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língua brasileira de sinais – fascículo 7. Brasília, DF: SEESP, 1997. p. 23-62. v. 3. (Série 
Atualidades Pedagógicas, n. 4). Disponível em https://www.livrosgratis.com.br/ler-
livro-online-27078/educacao-especial-lingua-brasileira-de-sinais--serie-atualidades-
pedagogicas-4---volume-iii. Acesso em: 10 fev. 2022.
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www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_
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seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.
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SEGALA, R. R.; QUADROS, R. M. Tradução intermodal, intersemiótica e interlinguística 
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STOKOE, W. Where should we look for language? Sign Language Studies, [s. l.], n. 51, 
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STROBEL, K. L; FERNANDES, S. Aspectos linguísticos da língua brasileira de 
sinais. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.
112
113
ASPECTOS CULTURAIS 
E LINGUÍSTICOS DA 
TRADUÇÃO E DA 
INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS
UNIDADE 3 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• refl etir sobre a existência de elementos culturais e identitários que envolvem o 
processo de tradução e interpretação de Libras, bem como a presença e existência 
do tradutor e intérprete de Libras na comunidade surda e nos contextos profi ssionais 
que atua;
• explorar com maior profundidade alguns dos aspectos linguísticos da Libras e da 
língua portuguesa, relacionando esses conhecimentos com a prática profi ssional do 
tradutor e intérprete de Libras;
• analisar elementos linguísticos complexos, como fi guras de linguagem, classifi cadores 
e inuendos, pensando na inserção desses aspectos nos processos tradutórios e 
interpretativos da Libras;
• considerar a utilização de recursos específi cos da Libras, como os classifi cadores e a 
datilologia, durante o processo de tradução e interpretação.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – CULTURA, IDENTIDADE E RELAÇÕES DE PODER
TÓPICO 2 – CONHECIMENTO E USO DAS LÍNGUAS E OS PROCESSOS DE TRADUÇÃO E 
INTERPRETAÇÃO
TÓPICO 3 – ENFRENTAMENTO LINGUÍSTICO: FIGURAS DE LINGUAGEM, EXPRESSÕES 
IDIOMÁTICAS, GÍRIAS, INUENDOS, CLASSIFICADORES E DATILOLOGIA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
114
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 3!
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115
TÓPICO 1 — 
CULTURA, IDENTIDADE E RELAÇÕES DE 
PODER
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, parece ser um consenso o fato de que o papel do TILS abarca 
complexas trocas, que não se limitam apenas à transposição de uma língua para 
a outra numa abordagem literal. Muitos pesquisadores têm se dedicado ao estudo 
desses diferentes aspectos, aprofundando as noções que envolvem conceitos como 
cultura, relações de poder, estética, conhecimento linguístico, formação generalista/
especializada, entre outros. Nesta primeira parte da unidade, veremos um resumo de 
conceitos como cultura, identidade e relações de poder, conceitos bastante utilizados 
há muitos anos nos textos atuais que versam sobre a educação de surdos. Para isso, 
faremos uma retomada histórica do passado para, então, entendermos o presente e 
como ele foi se constituindo dessa forma.
2 CULTURA, IDENTIDADE E DIFERENÇA
As discussões acerca do conceito de cultura vêm crescendo desde, pelo menos, 
a década de 1960, período que sucedeu o final da Segunda Guerra Mundial. Como nos 
mostra Veiga-Neto (2003), muitos movimentos sociais começaram a se desenvolver 
nessa época, promovendo uma série de mudanças nas percepções acerca de elementos 
da modernidade, fortemente marcada pelo movimento do Iluminismo. 
Iniciam-se debates acerca dos saberes “pós-”, abarcando conceitos que 
envolvem a subjetividade, as identidades, as diferenças, as culturas, as rupturas, 
as mudanças. Seria possível mencionar uma grande quantidade de autores que 
pesquisaram os fenômenos sociais e políticos a partir dessa época, contudo iremos nos 
limitara apresentar alguns dos conceitos que se encontram nas correntes denominadas 
Estudos Culturais e Estudos Surdos, para então chegarmos aos Estudos da Tradução e 
Estudos da Interpretação.
VEIGA-NETO, A. Cultura, culturas e educação. Revista Brasileira de 
Educação, Rio de Janeiro, n. 23, p. 5-15, maio/ago. 2003. Disponível em: https://
www.scielo.br/j/rbedu/a/G9PtKyRzPcB6Fhx9jqLLvZc/?format=pdf&lang=pt. 
Acesso em: 13 jun. 2021.
DICAS
116
Os Estudos Culturais (EC) têm sido bastante citados na contemporaneidade, 
servindo como terreno fértil para se desenvolver tantas outras linhas de pensamento, 
como a dos Estudos Decoloniais, Estudos Foucaultianos, Estudos Surdos, entre outros. 
Importante mencionar que, não necessariamente, o campo dos EC se constituiu como 
base ou precursor dos demais ramos, contudo parece ser uma área com maior número 
de publicações e pesquisas. Com efeito, Paraíso (2014) ressalta que muitas das formas 
de se pensar sobre pesquisa, nesse tipo de registro teórico, não costumam abarcar 
somente um grupo específico de saberes, mas todo e qualquer tipo de saber que 
possa servir como insumo das análises a serem realizadas. Dessa forma, esse grande 
agrupamento de campos vinculados aos saberes “pós-” costuma ter um caráter infiel em 
relação a si mesmo, buscando materiais e teorias de diferentes fontes para se construir.
Um dos célebres pesquisadores envolvidos com os EC é o jamaicano Stuart Hall. 
Dentre suas obras, talvez a mais pertinente no debate referente a esse tópico seja A 
identidade cultural na pós-modernidade (HALL, 2005). O autor explora os movimentos 
sociais referentes às culturas e às identidades no período por ele chamado de pós-
moderno. Temos aqui pelo menos três conceitos importantes de abordarmos com maior 
detalhamento: o de cultura, o de identidade e o de diferença.
Stuart Hall nasceu em 1932 na cidade de Kingston, capital da Jamaica. Em 1952, foi para a 
Universidade de Oxford, Inglaterra, graças a uma bolsa de estudos recebida pelo programa 
Rhodes Scholarship. Atuou como professor no campo da Sociologia e estudou diversos 
fenômenos envolvendo cultura, raça, colonização, identidade, diferença, entre outros 
conceitos. É considerado o pai do multiculturalismo e um dos principais nomes do campo 
dos Estudos Culturais. Faleceu em 2014, aos 82 anos, na cidade de Londres, decorrente de 
problemas nos rins.
NOTA
FIGURA – STUART HALL
FONTE: <https://bit.ly/3n2ydAH>. Acesso em: 10 nov. 2021.
https://bit.ly/3n2ydAH
117
Para muitos de nós, talvez não seja estranho pensarmos em um conceito de 
cultura baseada em elementos como literatura, artes plásticas, música, cinema, teatro e 
tantos outros elementos que se remetem à erudição. Veiga-Neto (2003) empreende um 
longo debate a respeito desse conceito e mostra com maior aprofundamento de que 
forma o conceito de cultura foi sendo compreendido ao longo do tempo. 
Assumindo os pressupostos vinculados à concepção pós-estruturalista da 
linguagem, o autor mostra o deslocamento dessa ideia de Cultura (singular e com letra 
maiúscula), juntamente com as noções de “alta cultura” e “baixa cultura”, até chegar à 
noção de culturas (no plural e com letra minúscula) comumente assumida pela linha 
dos EC. Dito de forma sucinta e com base nas ideias de Hall (1997, 2005), podemos 
pensar que a cultura que temos determina nossas formas de ver, interpelar, ser, explicar 
e compreender o mundo em que vivemos. Nesse sentido, não se enxerga “a cultura” 
como algo singular e existente a priori, mas como aspecto instável, mutável, múltiplo 
em suas possibilidades e único para cada sujeito.
Alinhado com os movimentos de virada linguística e cultural impulsionados 
pelos estudos pós-estruturalistas, Hall (2005) parte do pressuposto de que o 
entendimento a respeito do que era identidade sofreu signifi cativas transformações na 
contemporaneidade. Para o autor, as identidades fi xas e estáveis, antes responsáveis 
pela organização da sociedade, passam a assumir um caráter cada vez mais fragmentado 
e múltiplo, em constante mudança de acordo com os contextos cultural e social nos 
quais os sujeitos se encontram. Entende-se que as identidades não mais podem ser 
entendidas como um construto único e dito no singular, pois um mesmo sujeito pode 
ter identidades muito diferentes – por vezes contraditórias ou mal resolvidas –, as quais 
variam de acordo com a posição que esse sujeito ocupa em determinada estrutura social. 
Nesse sentido, abre-se espaço para uma multiplicidade de aspectos, que envolvem a 
maneira como um sujeito se constitui, denominados diferenças.
Mais do que algo que mostra quem de fato somos, podemos entender a identidade como 
posições de sujeito que assumimos dependendo da situação. Características importantes 
como maternidade, paternidade, profi ssão, local em que se encontra, momento do dia, 
alterações de humor, entre outros, constroem identidades únicas para cada um, a cada 
momento.
ATENÇÃO
FIGURA – POSIÇÕES DE SUJEITO
FONTE: <https://www.shutterstock.com/image-illustration/illustration-busines-
sman-without-face-choosing-right-1845578704>. Acesso em: 10 ago. 2021.
118
Silva (2014), no célebre texto intitulado “A produção social da identidade e 
da diferença”, faz um paralelo com a lógica estruturalista de Ferdinand de Saussure, 
juntamente com a filosofia pós-estruturalista de Jacques Derrida. Mencionando os 
estudos desses autores – ainda que sejam de vertentes notoriamente distintas –, Silva 
(2014) sustenta que o significado de determinado signo só existe por meio de tudo 
aquilo que ele não é. Nesse sentido, o conceito de “cadeira” não existiria per se em um 
plano das ideias, mas só existe na medida em que está vinculado a todas as outras 
coisas que não são cadeiras. Transpondo essa lógica para a ideia de identidade e de 
diferença, entende-se que aquilo que somos (identidade) só existe por conta de uma 
multiplicidade de coisas que não somos (diferenças), e uma coisa não pode existir sem 
a outra.
Essa linha de pensamento parece ser especialmente útil quando pensamos na 
nossa própria constituição e nas escolhas que fazemos – ou vamos sendo conduzidos 
a fazer – durante a nossa vida. Diante uma imensidão de possibilidades, vamos nos 
subjetivando (nos tornando sujeitos) e sendo objetivados (sendo tornados objetos), ao 
mesmo tempo em que objetivamos outros sujeitos. Essa lógica faz parte das ideias de 
Michel Foucault, filósofo francês que dedicou boa parte de sua carreira na investigação 
da constituição dos sujeitos e das relações de poder envolvidas nesse processo, assunto 
que veremos a seguir.
3 RELAÇÕES DE PODER E LUGAR DE FALA
De acordo com o Michel Foucault, o conceito de poder resulta de uma vontade 
de potência, ou seja, “[...] a vontade que cada um tem de atuar sobre a ação alheia 
[...]” (VEIGA-NETO, 2014, p. 119), com o objetivo de governá-los. Ao contrário do que 
usualmente se entende a respeito do conceito de “poder”, as relações de poder devem 
ser vistas como forças positivas, pois possuem um grande potencial produtivo na 
constituição de sujeitos e práticas.
119
Michel Foucault nasceu em 1926 na cidade de Poitiers, França. Conhecido filósofo, filólogo 
e sociólogo, atuou como professor no renomado Collège de France, sendo o catedrático 
responsável pela disciplina História dos Sistemas do Pensamento. É muito citado por 
estudiosos pós-estruturalistas e tem sido crescentemente mencionado em pesquisas de 
campos como Educação, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Psicologia, Publicidade e Saúde. 
Faleceu em 1984 aos 57 anos, na cidade de Paris, por problemas decorrentes do HIV/AIDS.
NOTA
FIGURA – MICHEL FOUCAULT
FONTE: <https://bit.ly/3FjKEP9>. Acesso em: 10 nov. 2021.
Para entendermos minimamente a lógica do autor, passamos a apresentar uma 
breve retomada do caminho que ele constrói, passando pela lógica das relações de 
poder, indo para a construção das identidades e para o que ele compreende como ideia 
de sujeito. No texto intitulado O sujeito e o poder,Michel Foucault (1995) propõe que a 
analítica do poder parta da observação dos movimentos de resistência, das oposições. 
Sugere que, ao estudarmos a sanidade, por exemplo, se analise a insanidade; para se 
investigar a legalidade, que se observe a ilegalidade. Segundo o filósofo, essas oposições, 
as quais ele chama de lutas antiautoritárias, apresentam uma série de pontos em 
comum. Para Foucault (1995, p. 235), as lutas “[...] são uma recusa a essas abstrações, do 
estado de violência econômico e ideológico, que ignora quem somos individualmente, 
e uma recusa de uma investigação científica ou administrativa que determina quem 
somos”. Conclui, então, que o principal objetivo das lutas antiautoritárias não é ir contra 
alguma instituição ou um conjunto social específico, mas contra as técnicas ou formas 
de poder que se exercem na relação com esses grupos.
https://bit.ly/3FjKEP9
120
FONTE: O autor
FIGURA 1 – PODER E LUTA PARA FOUCAULT
Ao mencionar essas formas de poder, o filósofo pondera que elas se aplicam 
ao cotidiano de cada um e produzem marcas a respeito de sua individualidade. Para 
Foucault (1995, p. 235, grifo nosso), trata-se de uma técnica de poder que trata do 
indivíduo que “[...] liga-o à sua própria identidade, impõe-lhe uma lei de verdade, que 
devemos reconhecer e que os outros têm que reconhecer nele. É uma forma de poder 
que faz dos indivíduos sujeitos”. Com essa argumentação, o autor passa a debater seu 
conceito de sujeito e o faz levando em consideração dois significados possíveis que 
podem ser atribuídos ao termo: “[...] sujeito a alguém pelo controle e dependência, e 
preso à sua própria identidade por uma consciência ou autoconhecimento. Ambos 
sugerem uma forma de poder que subjuga e torna sujeito a” (FOUCAULT, 1995, p. 235).
Em seguida, Foucault (2017) reforça que tais processos não são independentes 
e que, em conjunto, originam o que ele chama de jogos de verdade, ou seja, “[...] não 
a descoberta das coisas verdadeiras, mas as regras segundo as quais, a respeito de 
certas coisas, aquilo que um sujeito pode dizer decorre da questão do verdadeiro e do 
falso” (FOUCAULT, 2017, p. 229). 
Pode-se perceber que esse entendimento converge para os debates que 
o filósofo realizou acerca dos discursos, enunciados e enunciações – tema que será 
abordado com maior profundidade no tópico seguinte –, emblematicamente ilustrado 
nas primeiras páginas do seu curso intitulado “A ordem do discurso”. Na palestra, afirma 
a partir do pressuposto de que em qualquer sociedade cada maneira de se produzir um 
discurso “[...] é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por 
certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, 
dominar seu acontecimento aleatório, esquivar de sua pesada e temível materialidade” 
(FOUCAULT, 2014, p. 8). Em seguida, passa a descrever diferentes processos internos e 
externos pelos quais os discursos são modulados, citando três dimensões de cada um.
121
Embora não seja de interesse, neste momento, mencionar cada um desses 
procedimentos, ressaltamos a ideia básica discutida por Foucault (2014) de que existe 
uma série de mecanismos capazes de modificar a configuração dos discursos, reforçar 
ou atenuar seus enunciados, produzir balizamentos a respeito do que cada sujeito diz 
ou deixa de dizer em determinados contextos. De maneira especial, assume-se que 
“[...] não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer 
circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa” (FOUCAULT, 
2014, p. 9). Nesse sentido, retomando os dizeres de Hall (2005), vê-se que existem 
diferentes posições de sujeito, as quais podem ser ocupadas em diferentes contextos, 
cargos, instituições, cada qual autorizando ou desautorizando um sujeito a falar sobre 
alguma coisa.
Normalmente, associamos a ideia de “poder” a algo que se detém, um 
objeto ou uma posse que pode ser utilizado sobre outra pessoa mais 
fraca. Sobre isso, Michel Foucault, em inúmeras entrevistas e textos, 
reafirmou que seu conceito não se trata desse tipo de acepção da palavra, 
e dedicou boa parte de seus estudos à construção da ideia de relações 
de poder, ou seja, um conjunto de forças presentes somente em relação 
com os sujeitos, exercidas tanto pelo soberano quanto pelo súdito, ainda 
que de forma assimétrica. Com efeito, boa parte da trajetória acadêmica 
de Michel Foucault esteve envolvida com a questão do poder, e pode 
ser encontrada hoje nas diversas obras publicadas e palestras proferidas 
pelo filósofo.
IMPORTANTE
Essa ideia parece se aproximar do conceito de lugar de fala, muito utilizado em 
textos contemporâneos da antropologia e assunto principal da obra de Djamila Ribeiro 
intitulada O que é lugar de fala. 
De fato, a autora cita a noção de discurso em Michel Foucault como sendo 
central no seu entendimento a respeito do conceito. 
Apoiando-se em autoras como Linda Alcoff, Gayatri Spivak, Patricia Hill Collins 
e Grada Kilomba, Ribeiro (2017) faz uma breve retomada histórica sobre grupos ditos 
minoritários e seus movimentos reacionários – notoriamente os movimentos feminista 
e negro –, pontuando uma série de situações emblemáticas envolvendo as opressões 
sofridas por esses grupos no decorrer da história.
Para Ribeiro (2017), o conceito de lugar de fala passa a fazer sentido a partir 
do sentimento de invisibilidade social que envolve determinados conjuntos de pessoas 
em detrimento da alta visibilidade de outros. Citando exemplos das relações de 
poder presentes nos discursos que envolvem mulheres e homens, negros e brancos, 
transgêneros e cisgêneros, entre outros, a antropóloga põe sob suspeita a ideia de 
122
universalidade da ciência e a existência de determinados padrões sociais. Aponta-
os como produzidos a partir de uma ótica homogênea dominante, que desqualifica e 
interdita saberes provenientes de outros territórios. Segundo a autora,
[...] não poder acessar certos espaços, acarreta não se ter produções 
e epistemologias desses grupos [ditos minoritários] nesses espaços; 
não poder estar de forma justa nas universidades, meios de 
comunicação, política institucional, por exemplo, impossibilita que 
as vozes dos indivíduos desses grupos sejam catalogadas, ouvidas, 
inclusive, até ele quem tem mais acesso à internet. O falar não se 
restringe ao ato de emitir palavras, mas de poder existir. Pensamos 
lugar de fala como refutar a historiografia tradicional e a hierarquização 
de saberes consequente da hierarquia social (RIBEIRO, 2017, p. 64, 
grifo nosso).
Nesse sentido, Ribeiro (2017) sustenta que o cerne do lugar de fala está na 
busca pelo reconhecimento de saberes advindos de outros campos epistemológicos, 
não somente os ditos acadêmicos e universais. Para a autora, não se trata de utilizar 
a ideia de lugar de fala como uma forma de inversão da opressão, ou seja, fazer uma 
interdição dos discursos provenientes dos conjuntos hierarquicamente superiores na 
sociedade atual; pelo contrário, sustenta que se trata de mostrar que cada sujeito tem 
o seu lugar de fala, e que todos esses lugares, juntamente com os saberes que deles 
emergem, devem ser reconhecidos. 
Ribeiro (2017, p. 84) aponta para a urgência de que cada pessoa reflita sobre sua 
posição social, seja ela qual for, e convoca: “[...] é preciso cada vez mais que homens 
brancos estudem branquitude, cisgeneridade, masculinos”, ao mesmo tempo em que 
esses grupos atentem para as falas de outros tantos que não compartilham das mesmas 
posições sociais. 
Nesse sentido, acreditamos que este trabalho vai na direção de observar o lugar 
de fala dos ouvintes e convidar esses sujeitos a realizar o mesmo movimento, da mesma 
forma para os surdos, em seu lugar de fala.
123
Djamila Ribeiro nasceu em 1980 na cidade de Santos (SP). É filósofa e professora da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo. Colunista da Folha e São Paulo e autora de célebres 
obras como O que é lugar de fala (citada nesta unidade),Quem tem medo do feminismo negro? 
e Pequeno manual antirracista. Tem ganhado espaço na mídia por seus debates envolvendo 
feminismo e negritude, os quais são facilmente encontrados nos principais portais de notícias 
e plataformas de vídeo.
NOTA
FIGURA – DJAMILA RIBEIRO
FONTE: <https://bit.ly/31Pf5y5>. Acesso em: 11 nov. 2021.
Para compreender melhor o processo de constituição do ser surdo e seu lugar de 
fala, recorremos à Paddy Ladd (2003), na obra originalmente intitulada Understanding 
deaf culture: in search of deafhood. As versões traduzidas para o português do livro 
mostram o termo “surdidade” como tradução de “deafhood”, conceito principal abordado 
pelo autor no livro. A versão portuguesa da primeira parte da obra traz um glossário 
com curtas definições a respeito de alguns conceitos abordados pelo autor, dentre eles 
“surdidade”, entendido da seguinte maneira:
Esse termo foi desenvolvido em 1990 pelo presente autor [Paddy 
Ladd], a fim de iniciar o processo de definição do estado existencial 
dos Surdos como ‘ser-no-mundo’. Até agora, o termo médico ‘surdez’ 
foi usado para englobar essa experiência dentro da categoria mais 
ampla de ‘deficiente auditivo’, a grande maioria dos quais eram 
pessoas idosas ‘com problemas de audição’, de modo a tornar invisível 
a verdadeira natureza da existência coletiva Surda. A Surdidade não 
é vista como um estado finito, mas como um processo através do 
qual os indivíduos surdos chegam a efetivar sua Identidade Surda, 
postulando que aqueles indivíduos constroem aquela identidade em 
torno de vários conjuntos de prioridades e princípios ordenados de 
maneiras diferentes, que são afetados por diversos fatores, como 
nação, era e classe (LADD, 2013, p. 15).
Essa citação parece conter muito do que foi discutido neste tópico, como as 
ideias de identidade, lutas antiautoritárias e lugar de fala. Segundo o autor, trata-se 
https://bit.ly/31Pf5y5
124
principalmente das maneiras de se constituir surdo, formas de ser surdo na sociedade, 
em um processo contínuo e infindável, mas que tem por referência a efetivação de uma 
identidade surda.
Retomando as discussões que envolvem identidade e diferença, podemos 
imaginar que a constituição de sujeitos com determinadas identidades faz parte de 
uma grande trama de poderes e saberes que circulam na sociedade e são moduladas 
de acordo com os discursos que capturam esses sujeitos. 
De fato, Silva (2014, p. 81) menciona que “A afirmação da identidade e a enunciação 
da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente 
situados, de garantir acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença 
estão, pois, em estreita conexão com relações de poder”. Nesse sentido, constituir um 
grupo social que possui identidades similares – como a identidade surda – possui um 
valor político significativo na reivindicação de direitos e produção de um bem-estar 
social a esse grupo. 
Por outro lado, considerando que diferentes grupos sociais assimetricamente 
situados possuem diferentes desejos, parte-se do pressuposto de que os debates que 
envolvem esses bens sociais sejam intrinsecamente conflituosos, havendo embates 
constantes na busca pela imposição de desejos vindos de cada sujeito e cada grupo 
social. Começam a entrar em campo uma série de pesquisas que envolvem os conceitos 
de lugar de fala, privilégio, colonização, performatividade, entre outros.
Ainda que não tenhamos a pretensão de explorar com detalhes tais conceitos, 
mencionamos a relevância discursiva de se pensar nas ideias que envolvem estudos 
detalhados das relações de poder e das identidades/diferenças, em especial as formas 
como essas relações se transformam com o passar o tempo e assumem diferentes 
facetas, ainda que busquem por um objetivo comum. 
Nesse rol, pensando no nosso contexto, cita-se o campo dos Estudos Surdos, 
iniciado por uma revolução no que se entende por linguagem humana e por cultura 
(notoriamente os estudos pós-estruturalistas, já mencionados), descrita por Bauman 
(2008, p. 1) como uma mudança pautada pela “[...] validação da natureza completamente 
linguística das línguas de sinais e a subsequente reescrita da identidade surda de surdo 
para Surdo, ou seja, de um estado patológico de perda de audição para a identidade 
cultural de uma minoria linguística”. 
Dessa forma, entendemos que toda essa mobilização iniciada na década de 
1960, a emergência dos estudos “pós-” e as viradas linguística e cultural, serviram como 
base para as ideias que estão em circulação há bastante tempo a respeito das noções 
de cultura surda, identidade surda, língua de sinais e tantas outras pautas dos Estudos 
Surdos. É sobre esses assuntos que trataremos a seguir.
125
4 ESTUDOS SURDOS E CONCEITOS CENTRAIS
Para pensarmos sobre os Estudos Surdos, convidamos você a uma viagem pelo 
tempo para que possamos entender o contexto no qual esse campo emergiu. À luz do 
Congresso de Milão, ocorrido em 1880, a metodologia de ensino para surdos sugerida 
era o oralismo. 
A área médica, conta H-Dirksen Bauman (2008), tinha um grande envolvimento 
nos espaços de ensino, aprisionando seus corpos e sua forma de comunicação natural. 
O autor complementa seus argumentos ao afirmar que as línguas de sinais eram 
desvalorizadas e mal-entendidas, sendo consideradas complicadoras na aquisição da 
linguagem humana.
Em 1880, na cidade de Milão, ocorreu o Congresso Internacional de Educadores de Surdos. O 
objetivo do evento era elaborar diretrizes para o ensino de surdos. A principal proposição do 
congresso foi a de que a educação desses indivíduos deveria ocorrer por meio do oralismo. 
Autores como Giordani (2005; 2015), Thoma (2006; 2011; 2013) e Lopes (2011), referem-
se ao Congresso de Milão como o grande responsável pela disseminação e utilização do 
oralismo no mundo, e afirmam que a maioria dos delegados escolhidos para participar do 
evento era a favor desse método. Independentemente de suas questões, um dos efeitos 
do Congresso de Milão foi a legitimação do oralismo como paradigma educacional (SKLIAR, 
2013a).
IMPORTANTE
FIGURA – O CONGRESSO DE MILÃO
FONTE: <https://bit.ly/31QhqsA>. Acesso em: 10 nov. 2021.
https://bit.ly/31QhqsA
126
Ainda que as pesquisas de William Stokoe, em 1960, reforçassem o status 
de língua às línguas de sinais, H-Dirksen Bauman (2008) afirma que havia questões 
culturais e identitárias pendentes. Segundo o autor, os movimentos sociais pelos direitos 
civis, ocorridos em meados da década de 1960, constituíram um terreno favorável para 
o aparecimento de ativistas surdos, os quais buscavam uma revolução nas formas de 
representação do surdo. 
Transformações ocorreram por volta da década de 1970, quando “[...] o clima 
cultural e intelectual começ[ou] a mudar” (BAUMAN, 2008, p. 2). Viu-se, então, a 
necessidade de um espaço, aliado às questões culturais, que problematizasse essas 
representações e proporcionasse mudanças na maneira de ensinar e lidar com tais 
sujeitos.
O termo Deaf Studies, no Brasil traduzido para Estudos Surdos, foi mencionado 
pela primeira vez (que se tem registro) em 1971, pelo então diretor executivo da National 
Association for the Deaf, dos Estados Unidos, chamado Fredrick Schreiber. 
A partir de então, estudiosos adotaram a expressão nas suas produções, 
realizando pesquisas acadêmicas em diversos espaços de ensino superior. H-Dirksen 
Bauman (2008) destaca dois deles: Boston University e California State University, os 
quais iniciaram programas de ensino formal em Deaf Studies, nos anos de 1981 e 1983, 
respectivamente. Na Gallaudet University, um programa de ensino em Deaf Studies foi 
criado somente em 1994.
No Brasil, dentro desse contexto, muitos autores, como Skliar (2013a; 2013b), 
Giordani (2005) e Thoma (2006; 2011; 2013), observaram que as práticas oralistas 
reforçaram a validade de uma perspectiva por eles chamada de clínico-terapêutica, 
fazendo alusão à participação da área médica na educação. Percebeu-se uma nova 
modalidade na qualo processo educativo é transformado em um processo terapêutico, 
de tratamento das deficiências do indivíduo.
Skliar (2013b) atenta para uma limitação imposta por esse modelo, no qual o 
sujeito se constitui por meio de suas faltas, de suas deficiências. Para o autor, as pesquisas 
do campo da Educação Especial circulam em torno dessa visão. Em função disto, em 
contraposição ao modelo clínico-terapêutico, surge o modelo socioantropológico, o 
qual, segundo Skliar (2013b, p. 8), proporciona – ou deveria proporcionar – um contraste 
à “[...] visão incompleta de sujeito que oferece o modelo clínico-terapêutico”.
127
A ideia que embasa a perspectiva clínico-terapêutica não parece envolver somente a questão 
da surdez ou das pessoas com deficiência – embora tenha um apelo maior quando associada 
a esse grupo. Cada vez mais, temos vivenciado a ideia de que os saberes médicos possuem 
uma proeminência maior nas nossas vidas em detrimento de qualquer outro saber. Mais do 
que promover uma revolução contra esses sujeitos Médicos – ou Advogados, Políticos, entre 
outras profissões –, a proposta dos estudos que se aproximam dos campos “pós-” vem como 
uma luta antiautoritária contra as formas de poder que se exercem na relação entre sujeitos 
e grupos da sociedade, sob a forma de uma crítica à posição discursiva que esses sujeitos em 
questão assumem na nossa sociedade.
IMPORTANTE
FIGURA – A PERSPECTIVA CLÍNICO-TERAPÊUTICA
FONTE: <https://shutr.bz/3n3Pg5s>. Acesso em: 10 ago. 2021.
Todas essas problematizações mencionadas, no Brasil e no exterior, estavam de 
alguma maneira vinculadas às discussões empreendidas no campo dos Deaf Studies no 
final do século XX. 
As principais pautas dos estudos dessa época, diz H-Dirksen Bauman (2008, 
p. 7), circulavam em torno “[...] da defesa da cultura surda, definição de atributos das 
Identidades Surdas e a construção de um modelo bilíngue/bicultural para o ensino de 
surdos”. Entretanto, nos últimos anos, não parece haver uma concordância plena acerca 
do entendimento de cultura em diferentes perspectivas. Um exemplo disso está no 
texto de Bueno e Ferrari (2013), no qual os autores afirmam que:
Considerar a existência de uma cultura própria para surdos e outra 
para ouvintes é cindi-los pela diferenciação entre ouvir e não ouvir 
e homogeneizar, culturalmente, de um lado, pessoas surdas e, de 
outro, pessoas ouvintes, com nacionalidades, condições econômicas 
e sociais, posição no espaço geográfico, assim como pertencimento 
étnico-racial, idade e sexo muito diferentes (BUENO; FERRARI, 2013, 
p. 48).
Ao contrário do que está exposto nessa citação em relação à homogeneização 
da cultura, porém concordando com a premissa de que cada sujeito tem múltiplas 
diferenças, Perlin (2004) afirma que não há uma cultura, ainda que existam marcas 
128
comuns a determinado grupo cultural, ou seja, ainda que apresentem traços das mais 
diferentes culturas, os sujeitos surdos estão imersos na cultura surda, por ser o espaço 
no qual as diferenças e alteridades são evidenciadas (PERLIN, 2004).
Entretanto, não se pode ver a cultura surda – assim como qualquer outra cultura 
– como algo inocente e ingênuo, mas como um entrelugar imerso em relações de poder-
saber, de resistência, de articulação política e de luta, no qual os saberes nele produzidos 
circulam e se legitimam. Anie Gomes (2011) trata da emergência da cultura surda e, 
mediante análises das falas de líderes surdos, atenta para as diferentes significações que 
esse conceito vem assumindo. Nesse sentido, parece pelo menos plausível a crítica a 
essas movimentações proposta por Bueno e Ferrari (2013) anteriormente, considerando 
que a cultura surda “[...] vem se tornando um dispositivo que coloca em funcionamento 
uma série de fatores que hoje se constituem em uma norma, não mais tendo o ouvinte 
como centro, mas calcando-se em um padrão surdo essencialmente cultural” (GOMES, 
2011, p. 133).
FIGURA 2 – LIMITES QUE UNIFICAM PARA O FORTALECIMENTO DE DISPUTAS
FONTE: <https://www.shutterstock.com/image-photo/divided-social-groups-culture-war-betwe-
en-1914410110>. Acesso em: 10 ago. 2021.
Assim, alinhado com Perlin (2004), Gomes (2011) e Giordani (2005), a cultura 
surda pode ser entendida como uma “fortaleza cultural”, isto é, um entrelugar que 
produz e propicia a sobrevivência das diferenças presentes no grupo que a constitui – 
neste caso, o dos surdos. A necessidade desse baluarte provém de algumas ameaças 
à cultura surda, descritas por Giordani (2005, p. 145). A autora atenta para práticas 
de “esmagamento cultural” exercidas por diferentes grupos, presentes em diferentes 
discursos, entre eles o Médico, o Pedagógico, o Jurídico e o Governamental. A autora 
cita ainda algumas dessas práticas, quais sejam:
129
• os olhares piedosos das pessoas ao se depararem com surdos;
• o foco nas “dificuldades” e “problemas” que os surdos supostamente têm em relação 
à língua portuguesa ou em avaliações de larga escala;
• a visão do surdo como pessoa doente;
• as práticas pedagógicas com inspirações oralistas;
• as políticas linguísticas e a primazia da língua portuguesa;
• as políticas de formação de uma cultura nacional.
Dessa forma, a cultura surda, sobre a qual discutimos aqui, é a que surge da 
necessidade, por parte de determinado agrupamento de surdos, de resistir a essas 
práticas, por eles julgadas inadequadas. Indo de encontro a essas ideias, Bueno e Ferrari 
(2013) comentam as muitas discussões acerca do discurso médico e sua invalidação, 
bem como uma espécie de esquecimento da questão biológica que marca a surdez: a 
ausência da audição. Além disso, nos seus escritos, pode-se perceber uma visão única 
da cultura surda, conforme colocações que seguem.
Considerar a existência de uma “comunidade surda”, que abrange 
somente aqueles surdos que admitem e assumem a “cultura 
surda”, decorrente de uma “apropriação visomanual” do mundo é 
desconsiderar, de um lado, a existência de um enorme número de 
surdos que, em razão de condições e trajetórias sociais diferenciadas, 
utilizam a língua oral como forma básica de comunicação e que 
pouco ou nada convivem com outros surdos. [...] Em suma, a 
divisão do mundo entre surdos “oprimidos” e ouvintes “opressores” 
contribui para a manutenção da desigualdade social produzida pelas 
diferenças de classe, raça e sexo (BUENO; FERRARI, 2013, p. 55).
Embora as constatações de Bueno e Ferrari (2013) contraponham outros 
autores já mencionados aqui, convergem com uma das possibilidades de sentido da 
cultura surda descritas por Gomes (2011, p. 129): “[...] muralhas do mundo surdo [...]”, 
responsáveis por dividir o mundo surdo do mundo ouvinte, colocando os habitantes 
sob constante vigilância. Dessa forma, tendo em mente todas essas colocações e 
seguindo na esteira de Lopes (2011), entendemos a cultura surda não como estática 
nem angelical, mas como uma invenção do povo surdo, um porto seguro que possa 
garantir, ainda que minimamente, a sobrevivência das identidades e diferenças surdas e 
a produção de determinados tipos de sujeitos, regulados pelos saberes que ali circulam, 
em nome da segurança da comunidade surda.
Enquanto a cultura surda se constitui como um entrelugar, o qual interpela 
determinado grupo cultural, a comunidade surda se configura como “[...] um lugar de 
referência, um lugar onde [os surdos] possam proclamar uma identidade forjada dentro 
de um espaço forte, seguro e sustentado por elos de amizade e cumplicidade” (LOPES, 
2011, p. 71). Entretanto, tal espaço não se configura como natural, desde sempre aí, mas 
“[...] uma invenção surda para que a diferença surda possa ser narrada de um outro 
lugar” (LOPES, 2011, p. 72). Assim como a cultura surda, a comunidade surda também 
tem seu papel na constituição de discursos e produção de sujeitos, visto que:
130
[...] o sentido construído para o que chamamos de “comunidade” traz 
arraigadas as necessidades que temos – como sujeitos modernos 
e incansáveis na busca da homogeneização dos gruposhumanos 
– de tornar sujeitos, através de agrupamentos por semelhança, nos 
mesmos (LOPES, 2011, p. 72, grifo do original).
Esses agrupamentos por semelhança, os quais a autora refere, parecem 
fazer menção às identidades e diferenças presentes num mesmo grupo cultural. 
Lembramos aqui o texto já citado de Silva (2014, p. 81), o qual pondera que identidades 
e diferenças “[...] não são simplesmente definidas; elas são impostas. Elas não convivem 
harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; elas são disputadas”. 
Dessa forma, tais conceitos também possuem um caráter estratégico, objetivando ter 
“[...] acesso privilegiado aos bens sociais [...]” (SILVA, 2014, p. 81) nos quais os grupos 
estão inseridos. No caso da surdez, como aponta Lopes (2011), tratá-la como apenas 
uma diferença – sem afiliá-la a uma marca identitária – pressupõe eliminar a dicotomia 
surdo-ouvinte e a delimitação de grupos étnicos (como negros, gays, surdos), o que 
não é interessante do ponto de vista político, pois a presença de determinados traços 
identitários une e articula os sujeitos que as detêm.
Evitando tais ambiguidades, Lopes e Veiga-Neto (2010) chamam as semelhanças 
percebidas nas falas de surdos de marcadores culturais, e não de “diferenças surdas”. 
Para os autores, ao contrário de marcas negativas – que hierarquizam e estereotipizam 
– e de marcas positivas – que servem de modelo em favor da normalização e docilização 
–, os marcadores culturais são traços fortemente vinculados à visão do outro sobre 
si, nesse caso sobre o ser surdo. Essa percepção acaba por evidenciar diferenças e 
constituir o sujeito como marcado pelo outro, diferente do outro.
Alguns marcadores citados por Lopes e Veiga-Neto (2010), e ilustrados na 
Figura 3, são o uso da língua de sinais, a constante luta pelo reconhecimento de suas 
diferenças, a exaltação à comunidade surda e a exaltação ao sujeito surdo. 
De maneira geral, convergindo com o que já foi exposto até aqui, pode-se 
perceber que tais marcadores, aliados às chamadas identidades e diferenças surdas, 
propõem mudar as formas pelas quais o surdo é representado/visto, bem como legitimar 
suas demandas sociais. Dentro desse campo de batalha, encontram-se as pessoas 
ouvintes que participam da comunidade surda, grupo do qual fazem parte os tradutores 
e intérpretes de Libras. É sobre esse ponto que iremos discutir a seguir.
131
FIGURA 3 – MARCADORES CULTURAIS SURDOS
FONTE: Adaptada de Lopes e Veiga-Neto (2010)
5 O TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS 
NESSE CONTEXTO
Conseguimos perceber, neste breve apanhado de informações a respeito dos 
conceitos de cultura, identidade e relações de poder, que estamos lidando com um 
verdadeiro campo de batalha. Neste contexto e ao contrário do que muitos teóricos 
esperam, o grande troféu dessa batalha não é necessariamente “o poder” que se obtém 
como recompensa, mas a conformação de um regime de verdade capaz de constituir 
determinados sujeitos, com determinadas características que sejam favoráveis a 
determinados propósitos. Por meio das resistências, cada vez mais essas definições têm 
se transformado, de forma que hoje em dia podemos vislumbrar um contexto bastante 
diferenciado para os surdos do que víamos há 30 anos, por exemplo.
Enquanto profissionais que atuam com e na comunidade surda, mesmo que 
não compartilhemos dos traços identitários que fazem parte das pessoas surdas, é 
certo que teremos contato com sua cultura e sua diferença por compartilharmos do 
principal artefato e principal marcador cultural dos surdos: o uso da língua de sinais. 
Certamente teremos uma capacidade maior de compreender as piadas que 
surgem na comunidade surda e os jogos de palavras que estão presentes na linguagem 
cotidiana, pois estaremos imersos na lógica organizacional do pensamento das pessoas 
que têm a língua de sinais como sua primeira língua. Mais do que isso, ainda que 
não tenhamos uma experiência profunda do que é ser surdo – pois não temos como 
vivenciar esse sentimento –, muito provavelmente teremos contato com uma série de 
problemas que são enfrentados pelos surdos na sociedade, além da oportunidade de 
fornecer acesso a ambientes, informações e serviços que, caso contrário, não seriam 
ofertados a essa população.
132
Parece ser um consenso entre a imensa maioria da comunidade científica, que a língua de 
um povo está intimamente ligada com a sua cultura, de forma que não seria possível falarmos 
de uma língua sem que esteja impregnada de elementos culturais próprios das pessoas que 
a utilizam. Isso pode ser percebido de maneira muito clara nos estudos das Neurociências e 
da Linguagem, os quais demonstram que a nossa primeira língua define as maneiras pelas 
quais organizamos nosso pensamento e os caminhos que são construídos internamente no 
nosso cérebro. O mesmo ocorre com as línguas de sinais, o que reforça o seu status de língua 
perante as demais línguas orais.
IMPORTANTE
FIGURA – LIGAÇÃO ENTRE LÍNGUA E CULTURA
FONTE: <https://shutr.bz/3wy4yTb>. Acesso em: 10 ago. 2021.
Para isso, acreditamos ser muito importante refletirmos sobre o papel que 
estamos assumindo nesse contexto, pensarmos sobre o nosso lugar de fala e de que 
modo nós estamos inseridos no campo de batalha de que estamos tratando desde o início 
deste tópico. Primeiramente, devemos reconhecer nossa posição enquanto pessoas 
ouvintes, de forma que tenhamos em mente que o nosso processo de construção 
identitária, nossa visão de mundo e nosso contato com a sociedade foram constituídos 
de uma forma bastante diferente, somente em função da presença da audição. Partindo 
da posição em que estamos neste momento, podemos olhar um sujeito surdo e pensar 
que ele tem dificuldade de aprendizado, que ele tem dificuldade de fala, que ele 
escreve errado, que ele precisa de ajuda, que ele não tem tanto conhecimento quanto 
às pessoas ouvintes, e assim por diante. Esse tipo de lógica parece estar presente na 
nossa sociedade, circulando sorrateiramente por meio de frases e ações piedosas, as 
quais muitas vezes não surgem com a intenção de diminuir ou invalidar os esforços das 
pessoas, mas acabam produzindo esses sentidos.
Essa é a problemática principal do que chamamos de capacitismo, ou seja, um 
conjunto de práticas que tem como base “[...] o imaginário de que existem pessoas com 
capacidades plenas, de que as pessoas com deficiência são incapazes por natureza. 
Esse imaginário engessa um discurso generalizador e impede a possibilidade de exercer 
um olhar individual sobre o sujeito com deficiência [...]” (MARCHEZAN; CARPENEDO, 
2021, p. 54). 
133
A armadilha do capacitismo, muitas vezes apresentada por meio de piadas ou 
pensamentos do senso comum, costuma estar presente no cotidiano da sociedade, em 
especial dos profi ssionais que atuam com pessoas surdas. Esse sentimento é alimentado 
também pelas pessoas que usufruem dos serviços de tradução e interpretação, como 
palestrantes e professores, quando se referem ao intérprete ao invés de se voltarem 
para o surdo, na expectativa de que o profi ssional fale por ele. Essas são situações 
que envolvem o compromisso ético e moral do tradutor e intérprete de Libras, portanto, 
estão detalhadas na disciplina referente a esse assunto; contudo, pensamos ser 
importante evidenciar que o papel do tradutor intérprete, em qualquer caso, extrapola 
os limites da transposição entre uma língua e outra nesse contexto, pois sua atuação 
produz efeitos na forma como os sujeitos que usufruem dos seus serviços constroem 
uma representação do que é o sujeito surdo.
A atuação do profi ssional tradutor e intérprete de Libras produz efeitos 
na forma como os sujeitos que usufruem dos seus serviços constroem 
representações do que é o sujeito surdo.
ATENÇÃO
Diante disso, podemos imaginar que a posição de sujeito que ocupamos, 
enquanto porta-vozes de pessoas que não compartilham uma língua comum, apresenta 
um conjunto de riscos, acompanhados de uma assimetria que nos possibilita dominar o 
outro,pois temos a possibilidade de falar por alguém. 
Atualmente, com a popularização dos debates que envolvem os Estudos 
Decoloniais, temos visto uma série de discussões que envolvem ideias como a de 
privilégio ouvinte e estudos que ponderam as relações de poder existentes entre os 
tradutores e intérpretes de Libras e os surdos que são atendidos por esse profi ssional. 
Este é o assunto abordado por Russell e Shaw (2019), no interessante artigo intitulado 
“Poder e privilégio: uma exploração da tomada de decisões de intérpretes”, apresentado 
como Leitura Complementar desta unidade. Nele, as autoras lançam luz sobre algumas 
práticas recorrentes no processo de tradução e interpretação no âmbito jurídico, 
realizado nos Estados Unidos e no Canadá, pontuando as dinâmicas de poder presentes 
nessas interações. Dessa forma, amplia-se o entendimento a respeito da posição de 
sujeito assumida pelo tradutor e intérprete e pelo sujeito ouvinte, quando em relação ao 
sujeito surdo.
134
Talvez, neste momento, pareça absurdo pensarmos que nossas atitudes, 
por mais benevolentes que sejam, possam assumir uma postura de dominação ou 
privilégio, ou talvez estranhemos o uso desses termos, pois os associarmos a práticas 
exageradamente autoritárias. Apesar disso, convidamos você a refletir sobre a seguinte 
situação:
Marina é surda e está no sexto período de um curso de graduação. Ela é atendida 
por uma equipe de profissionais tradutores e intérpretes, que atuam em todas as 
aulas presenciais e a distância que frequenta. Nessa equipe, um dos intérpretes, 
Joaquim, entende que Marina tem dificuldades em compreender os assuntos que 
os professores abordam. Justifica para si mesmo que isso é produto de uma série de 
problemas enfrentados por Marina durante toda a sua vida, como a grave ausência 
da língua de sinais nos seus primeiros anos de vida, a escolarização em um espaço 
que não fornecia educação bilíngue e metodologias adequadas, falta de acesso ao 
sistema de saúde e aos serviços públicos, entre outros. Por conta disso, Joaquim 
tem por costume assumir que Marina precisa de mais ajuda do que dispõe, portanto 
se prontifica em ajudar nos estudos e escreve para ela os seus trabalhos. Durante as 
aulas, sinaliza explicações mais detalhadas do que o professor forneceu.
Essa é uma situação bastante usual, que nos oferece vários pontos de debate. 
Primeiramente, é importante pensarmos que as preocupações de Joaquim costumam 
ser reais e relevantes, visto que, infelizmente, ainda temos uma quantidade significativa 
de pessoas surdas que não possuem acesso a sua língua e aos direitos básicos de 
todo cidadão. Quando esse acesso não é assegurado nos primeiros anos de vida, os 
estudos das Neurociências e da Linguagem apontam para a ocorrência de prejuízos 
linguísticos e cognitivos para esses indivíduos, impactando o seu desenvolvimento. 
Sabendo disso, e como pessoas que têm contato com essa situação cotidianamente, 
somos chamados a conscientizar e promover mudanças nas políticas públicas do país, 
alertando a população em geral a respeito dessas situações. Disso não há dúvidas.
Por outro lado, a postura adotada por Joaquim – por mais que tenha como 
base uma vontade de justiça pelo que foi retirado de Marina, ou então um desejo de 
providenciar elementos capazes de tornar essa aluna apta a se desenvolver como os 
demais membros do grupo – poderia ser repensada sob o viés do capacitismo. 
Ao realizar estudos e escrever trabalhos por Marina, Joaquim se coloca como 
um tutor ou curador de Marina, não fornecendo a ela as ferramentas necessárias para 
seu desenvolvimento. Ao invés de informar Marina de tudo o que ela tem direito e 
lutar com (e não por) ela para que as suas necessidades sejam atendidas, busca uma 
solução de curto prazo que faz sentido dentro de sua lógica piedosa.
Ademais, não podemos perder de vista que, nesse processo todo, não 
somente Marina e não somente Joaquim são os responsáveis pelo sucesso. Marina é 
a protagonista, visto que essa é a sua história e o seu desenvolvimento; Joaquim faz 
135
parte dessa composição, por atuar como profissional que promove a acessibilidade de 
Marina. Além dos dois, temos um papel bastante importante do professor, que precisa 
estar atento às necessidades de Marina e também é um dos usuários que usufruem do 
serviço de tradução e interpretação. 
Ao invés de acrescentar detalhes à explicação, Joaquim poderia estar atento 
aos olhares de Marina e informá-la da possibilidade de solicitar mais esclarecimentos 
ao professor. Ao mesmo tempo, Joaquim também poderia recordar o professor de que 
Marina é sua aluna, e não do intérprete.
Para finalizarmos a reflexão acerca dessa história, podemos ainda levar em 
consideração todo o contexto em que ela ocorre. É possível pensar que somente o fato 
de Marina conseguir estar em um curso de graduação com tradutores intérpretes já 
é algo tristemente raro, dada a falta de condições e acesso que a comunidade surda 
historicamente teve. Como coadjuvantes dessa caminhada, estão as instituições, as 
políticas públicas, a opinião pública, as mobilizações sociais, as associações, os órgãos 
representativos, enfim, todo o conjunto de elementos que compõem o histórico de lutas 
que os surdos precisaram e ainda precisam estar atentos para a conquista de direitos 
básicos que há muito tempo já são ofertados para ouvintes.
Apresentamos essa história para ilustrar o complexo cenário de que fazemos 
parte, seja enquanto tradutores e intérpretes de Libras, seja enquanto cidadãos. Por 
mais que tenhamos um conhecimento técnico e teórico acerca dos processos que 
envolvem o fazer cotidiano de um tradutor e intérprete, estamos intimamente ligados à 
história, à cultura, às identidades, às lutas, convidados a pensar sobre nossos lugares de 
fala e nas relações de poder que são mobilizadas por meio de nossa atuação.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Expostos todos esses elementos, pensamos que foi possível refletirmos um 
pouco sobre as dinâmicas presentes na sociedade e nas relações conosco e com os 
outros. Além disso, também pudemos iniciar reflexões acerca de nossa posição dentro 
da sociedade e da comunidade que fazemos parte, tendo ciência da existência de 
privilégios e das relações de poder que exercemos/sofremos ao interagirmos com os 
outros. Com isso, concluímos a primeira parte da nossa terceira unidade, a qual servirá 
como base para pensarmos sobre o papel do conhecimento da cultura e da competência 
linguística nos processos de tradução e interpretação da Libras.
136
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os conceitos de cultura, identidade e diferenças se constituem como relevantes para 
a atuação de um profissional tradutor e intérprete.
• Nas relações com outras pessoas, estamos constantemente trocando informações e 
envolvidos em uma trama de relações de poder, as quais constituem nós mesmos e 
os outros.
• Cada um de nós possui seu lugar de fala, seja o surdo, seja o ouvinte, e devemos 
respeitar a subjetividade de cada um, sem a pretensão de “falar por” o outro.
• O reconhecimento e a valorização dos saberes advindos das pessoas surdas fazem 
parte das conquistas da comunidade surda ao longo dos anos e devem ser respeitados 
e levados em consideração.
• Os profissionais tradutores e intérpretes fazem parte do meio em que as pessoas 
surdas vivem, portanto devem conhecer e respeitar as particularidades dessa 
comunidade a qual compõem.
• As atitudes do profissional tradutor e intérprete produz efeitos nos usuários dos seus 
serviços, portanto devem ser realizadas de forma consciente, ética e responsável.
137
RESUMO DO TÓPICO 1
1 Vimos que os conceitos de cultura, identidade e diferença são muito 
conhecidos em uma área conhecida como Estudos Culturais (EC). Esse 
campo faz parte de um conjunto maior de pesquisas que englobam o que 
chamamos de estudos “pós-”, emergido a partir do final da Segunda Guerra 
Mundial. Um momento bastante importante desse movimento foia “virada 
linguística”, a qual culminou na emergência do que hoje identificamos como 
“pós-estruturalismo”. A respeito da base do pensamento pós-estruturalista, 
assinale alternativa CORRETA:
a) ( ) O pós-estruturalismo veio como uma oposição ao estruturalismo concebido por 
Ferdinand de Saussure. Se difere dos preceitos saussureanos por estabelecer regras 
claras a respeito da língua, apontando para suas estruturas mais complexas antes 
não abordadas no estruturalismo.
b) ( ) Assim como todos os saberes “pós-”, o pós-estruturalismo veio como uma nova 
proposta de se pensar a linguagem. Dessa forma, notamos impactos nos estudos da 
Linguística, os quais prontamente passaram a encarar a língua de uma forma mais 
fluída, abandonando os aspectos datados do estruturalismo. 
c) ( ) O pensamento pós-estruturalista parte do pressuposto de que na linguagem 
não há significados já definidos a priori em algum plano transcendental, mas são 
construídos e (re)significados ao longo da vida, de forma particular, por cada sujeito 
e cada comunidade. Os efeitos desse pensamento estão presentes em pesquisas 
de vários campos de conhecimento, como Linguística, Sociologia, Antropologia e 
Educação.
d) ( ) O pós-estruturalismo surgiu em meados da década de 1960, impulsionado pelo 
filósofo Jacques Derrida. Apesar disso, o principal autor pós-estruturalista é Michel 
Foucault, o qual dedicou boa parte do seu trabalho à difusão e fortalecimento dessa 
corrente de pensamento no meio sociológico e filosófico.
2 O conceito de “relações de poder” costuma trazer muitas dúvidas sobre o 
que se quer dizer. Essa noção, elaborada por Michel Foucault e desenvolvida 
ao longo de parte de sua obra, mostra um caráter até então inexplorado do 
que se chamava de poder: a sua positividade. A respeito do que o filósofo 
compreendia sobre a problemática do poder na sociedade, classifique V para 
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Para Foucault, o poder se manifestava por meio de relações entre sujeitos, portanto 
referido como “relações de poder” ao invés de um poder singular e objetificado, que 
pode ser detido por um soberano e retirado de um súdito.
AUTOATIVIDADE
138
( ) As teorizações de Foucault sustentam a ideia de que as relações de poder nos 
constituem enquanto sujeitos, produzindo as nossas formas de ser e estar no mundo, 
nossas condutas, nossos pensamentos.
( ) Foucault faz uma crítica à ideia de poder marxista, problematizando a noção de 
ausência total do poder pelos súditos. Para o filósofo, mesmo os sujeitos que estão 
em posições hierarquicamente inferiores a outros também mostram resistência – se 
há poder, há resistência.
( ) A obra de Foucault foi muito importante para denunciar os detalhes que estão 
envolvidos na complexa rede de poderes e estratégias de coerção dos governantes, 
promovendo uma grande revolução na forma como se entende o poder e de que 
maneiras podemos subverter esse poder para o redirecionar às minorias que não o 
detêm.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – V – F.
3 Falamos muito sobre cultura surda e identidade surda, analisando que tais 
conceitos abarcam uma ampla gama de possibilidade de se constituir, ao 
mesmo tempo em que protegem e mantêm a unidade de uma comunidade. A 
respeito da cultura e da identidade surdas, analise as seguintes alternativas:
I- Alguns autores consideram que a cultura surda se configura como “as muralhas do 
povo surdo”, pois se caracteriza como uma invenção necessária para a unidade e 
defesa desse grupo. Assim, entendemos que as pessoas surdas precisam exaltar 
essa cultura e a identidade que os une para que não percam sua força política, 
necessitando da ajuda das pessoas ouvintes para isso – em especial os profissionais 
tradutores e intérpretes.
II- Ainda que tenhamos os conceitos de cultura surda e identidade surda, já é sabido 
que não há somente uma forma de ser surdo. Ainda que seja uma presença muito 
marcante na vida das pessoas surdas, existem outros recortes que podem estar 
presentes na sua constituição, como as questões de gênero, de raça/etnia, de idade, 
de sexualidade, de saúde, de estética, entre outros.
III- É possível determinarmos algumas diferenças importantes nas pessoas que 
se constituem como surdas, chamadas de “marcadores culturais”. Parte-se 
do pressuposto de que toda a diferença é única e particular, porém se nota a 
predominância desses marcadores culturais na vida e na constituição dos sujeitos 
que assumem uma identidade surda.
IV- Os Estudos Surdos surgem como forma de lançar luz a esses e outros conceitos 
que envolvem a subjetividade surda. Uma das principais noções que tem sido muito 
discutida nos últimos anos é a de “surdidade” ou “deafhood”, inventada pelo professor 
surdo Paddy Ladd.
139
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente II, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente I, II e III estão corretas.
c) ( ) Somente I e IV estão corretas.
d) ( ) Somente II e III estão corretas.
4 Um dos conceitos que discutimos nesta unidade é o de “lugar de fala”, alinhado 
com as discussões feitas pela autora Djamila Ribeiro (2017). A autora critica a 
utilização do termo como uma forma de silenciar os dizeres do outro sobre si, 
ao mesmo tempo em que mostra quem muitas vezes determinados sujeitos 
têm suas vozes silenciadas e subalternizadas pelo outro que não conhece 
e não respeita a sua subjetividade. Completa sustentando que, idealmente, 
todos os indivíduos deveriam pensar e refletir sobre o seu próprio lugar de 
fala, os seus privilégios, o seu lugar na sociedade, ao passo em que escutam 
e respeitam os lugares de fala dos outros. Tendo como base as discussões 
de vimos no material e fazendo uma relação desse debate com o cotidiano 
profissional do tradutor e intérprete, disserte a respeito da maneira pela 
qual o conhecimento desses debates pode produzir efeitos na conduta desse 
sujeito, seja no fazer profissional cotidiano, seja na maneira de condução das 
suas atitudes pessoais.
FONTE: RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? 1. ed. Belo Horizonte: Letramento, 2017.
5 Um dos exemplos que foram mostrados ao longo deste tópico foi o de um 
profissional tradutor e intérprete que estudava com uma pessoa surda, 
escrevia seus trabalhos e acrescentava informações ao que o professor 
explicava, sob o pretexto de apoiar um sujeito que não havia tido acesso pleno 
aos seus direitos básicos. Deixando de lado as atitudes citadas no exemplo, 
mas pensando nessa mesma situação – sala de aula do ensino superior, com 
uma turma de ouvintes que não sabem Libras e somente um aluno surdo –, 
disserte sobre as corretas funções do profissional tradutor e intérprete 
nesse contexto, mencionando as suas atribuições oficiais e suas limitações 
éticas.
140
141
CONHECIMENTO E USO DAS LÍNGUAS E OS 
PROCESSOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, vimos a respeito dos aspectos culturais e identitários que 
envolvem a surdez e os sujeitos que se constituem por meio dessa condição. Certamente 
isso envolve questões complexas e que muito dificilmente conseguem ser debatidas de 
maneira sintética. Contudo, essa é apenas uma das partes que conformam o trabalho 
do profissional tradutor e intérprete de Libras. 
Outra parte bastante importante tem a ver com as competências de um indivíduo 
durante o uso de uma língua observada nos processos de tradução e interpretação, 
temática que iremos abordar neste segundo tópico da unidade. 
Antes de iniciarmos a respeito desses conceitos específicos, importante 
definirmos que iremos partir dos conceitos tais como descritos pelo linguista José 
Carlos de Azeredo (2002) e avançando com algumas das noções descritas por Luiz 
Carlos Travaglia (2014a, 2014b, 2014c). 
Tal advertência se faz importante, pois assim como em qualquer ciência, 
podemos falar dos mesmos fenômenos usando termos e perspectivas diferentes. 
Portanto,julgamos ser importante estabelecermos um balizamento sobre o 
solo teórico no qual estamos situados, ainda que muito provavelmente esses pontos já 
tenham sido estudados por vocês no decorrer do curso.
2 CONCEITOS BÁSICOS DA LINGUÍSTICA
É muito comum, em especial nos estudos que envolvem a língua de sinais, 
encontrarmos a seguinte explicação para o significado de determinado sinal: “Depende 
do contexto”. 
Essa frase faz menção à aplicação de algo que se chama contexto como 
um recurso desambiguador entre os sinais de “Laranja” e de “Sábado”, por exemplo, 
apresentados na Figura 4. Mas o que seria esse contexto que tanto falamos?
UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 
142
FIGURA 4 – SINAIS DE LARANJA E DE SÁBADO EM LIBRAS
FONTE: Faders (2010, p. 56; 86)
Iniciaremos falando do conceito de gramática, o qual possui, pelo menos, 
quatro definições segundo Azeredo (2002). A primeira delas, e a mais conhecida por 
nós, indica a gramática como as “[...] regras que uma pessoa deve conhecer para falar e 
escrever corretamente uma língua” (AZEREDO, 2002, p. 31). 
A segunda, semelhante à primeira, aborda ainda a existência de livros que 
têm no seu título a palavra “gramática”, os quais “[...] ensina[m], entre outras coisas, 
a classificar os sons que pronunciamos, as palavras e suas partes, as orações e seus 
termos, e a enunciar os processos usuais na combinação dessas unidades” (AZEREDO, 
2002, p. 32). 
Essas suas definições, conforme o autor, fazem menção ao que se chama de 
gramática normativa, ou seja, aquela que mostra a norma culta da língua, com regras 
que são comumente aprendidas na escola ao invés de serem adquiridas naturalmente.
A outra categorização citada por Azeredo (2002) é a gramática descritiva, 
aquela que reflete o conhecimento que um indivíduo tem da sua língua e que é adquirido 
na prática de forma internalizada ou descritiva. 
Nesse agrupamento, temos mais dois conceitos de gramática além dos já 
apresentados: o terceiro trata do “[...] sistema de unidades ou conteúdos entre os quais 
se estabelecem distinções obrigatórias e de número limitado” (AZEREDO, 2002, p. 33), 
ou seja, tudo o que se pode e o que não se pode fazer no uso da língua; por fim, a 
quarta acepção define que “O sistema gramatical compreende as unidades portadores 
de significado e os recursos formais que regem a combinação dessas unidades nos 
diferentes níveis da língua” (AZEREDO, 2002, p. 33). Esses conceitos estão sumarizados 
no Quadro 1:
143
QUADRO 1 – OS CONCEITOS DE GRAMÁTICA
FONTE: Adaptado de Azeredo (2002, p. 31-33)
Categoria Conceito
G
ra
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á
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c
a
 
N
o
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a
ti
va
A gramática refere-se às regras que uma pessoa deve conhecer para 
falar e escrever corretamente uma língua.
Gramática é um conjunto de informações geralmente aprendidas na 
escola, contidas em um livro específico também chamado “gramática”, 
que nos ensina, entre outras coisas, a classificar os sons que 
pronunciamos, as palavras e suas partes, as orações e seus termos, e a 
enunciar os processos usuais na combinação dessas unidades.
G
ra
m
á
ti
c
a
 D
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sc
ri
ti
va
A gramática é o que, numa língua, constitui o sistema de unidades ou 
conteúdos entre os quais se estabelecem distinções obrigatórias e em 
número limitado. Ela difere do léxico, que é o conjunto das palavras da 
língua, listadas em ordem alfabética nos dicionários.
O sistema gramatical compreende as unidades portadoras de 
significado e os recursos formais que regem a combinação dessas 
unidades nos diferentes níveis da língua. Neste sentido, a gramática 
difere da fonologia – cujas unidades são desprovidas de significado – e 
do léxico, que é o conjunto das palavras listadas no dicionário.
Com isso, partimos para a discussão do conceito de discurso. Para Azeredo 
(2002, p. 34), o discurso é “A prática da comunicação ling[u]ística oral ou escrita [...]”, e 
necessariamente envolve um enunciador, juntamente com um ou mais destinatários. 
Essa configuração ocorre em uma determinada situação (contexto), e por meio das 
interações discursivas são produzidos o que chamamos de textos. 
Na lógica de Azeredo (2002), texto e contexto são duas faces complementares 
presentes em qualquer atividade discursiva, sendo o texto o produto dessa atividade, 
e o contexto o conjunto de elementos que regulam os significados, a relevância e a 
pertinência do texto. Essa organização está esquematizada na Figura 5.
144
FIGURA 5 – DISCURSO, TEXTO E CONTEXTO
FONTE: Adaptada de de Azeredo (2002)
Detalhando ainda mais o que estamos compreendendo por contexto discursivo, 
Azeredo (2002) pondera que, nesse grupo, temos três aspectos a considerar. O primeiro 
deles é a condição discursiva, ou seja, aquilo que regula quem tem o direito à palavra. 
Dentro disso, temos duas possiblidades: o discurso planejado, ou seja, quando o 
enunciador tem a palavra já concedida e pode utilizar da forma que achar melhor, como 
é o caso de um palestrante, de um professor, do autor de um artigo, entre outros; e o 
discurso espontâneo, quando existe no mínimo dois enunciadores que vão intercalando 
o controle desse discurso, como em uma conversa. Muitos estudos podem ser feitos a 
respeito desse direito à fala, o que de fato tem ocorrido em estudos que se alinham à 
Análise do Discurso e à Análise da Conversa.
O segundo aspecto do contexto é a situação discursiva, ou seja, o “[...] 
conjunto de fatores socioculturais representados nos papéis sociocomunicativos 
assumidos pelos participantes de um evento comunicativo qualquer” (AZEREDO, 2002, 
p. 36). 
Nesse ponto, enquadram-se as diferentes maneiras de se expressar – com 
formalidade ou com coloquialidade –, modulando os termos que serão utilizados, a 
postura corporal, a entonação, ajustados de acordo com os interlocutores e destinatários 
da atividade discursiva. 
Por fi m, temos o campo discursivo, o qual se refere aos diferentes domínios 
nos quais as atividades discursivas podem ocorrer. Por meio do campo discursivo, 
entendemos que determinados textos estão alinhados com um conjunto de saberes 
específi co, a gêneros discursivos específi cos.
145
Poderíamos, ainda, explorar outros conceitos importantes desse campo teórico, 
porém já temos o suficiente para empreender os debates propostos para esse tópico. 
A seguir, passaremos a analisar mais algumas noções importantes que se referem às 
competências associadas à utilização de uma língua.
3 ASPECTOS SOBRE O CONHECIMENTO E USO DE UMA 
LÍNGUA
Azeredo (2002) pontua que existe um conjunto de aspectos que são aprendidos 
pelos falantes de uma língua e constituem um arcabouço capaz de subsidiar as práticas 
de seu uso. O autor lista seis saberes específicos que compõem esse conjunto, quais 
sejam, saber cognitivo, saber antropológico, saber histórico, saber léxico-gramatical, 
saber sociolinguístico e saber textual. 
A fim de apresentá-los de forma sintética e esquematizada, mostramos a seguir 
um quadro explicativo contendo esses conceitos.
Tipo de saber Descrição
Cognitivo Relativo à aptidão humana para a linguagem.
Antropológico Atinente às peculiaridades da língua que falamos como 
expressão de um certo modo de simbolizar a realidade.
Histórico Referente à nossa condição de “depositários” de textos 
integrantes de uma memória coletiva.
Léxico-gramatical Referente ao domínio das palavras, dos recursos sonoros, 
mórficos e sintáticos que formam as frases.
Sociolinguístico Relativo às funções da língua como forma de convívio e 
interação sociais.
Textual Relativo ao domínio dos procedimentos de construção dos 
textos.
QUADRO 2 – SABERES REFERENTES AO CONHECIMENTO E USO DA LÍNGUA
FONTE: Adaptado de Azeredo (2002, p. 40-41)
146
Segundo o autor, esses saberes são desenvolvidos a partir de algumas aptidões 
do indivíduo – como as afetivas, intelectuais – e também adquiridas por meio do convívio 
social, levando em consideração os aspectos sociais e históricos das comunidades das 
quais o sujeito faz parte (AZEREDO, 2002). 
A partir disso, diz Azeredo (2002), são desenvolvidascompetências 
comunicativas que refletem as situações as quais determinado indivíduo vivenciou 
nas diferentes facetas de sua vida em sociedade. Utilizando argumentos que se 
assemelham àqueles dos debates que realizamos no Tópico 1 sobre identidade e 
diferença, o autor deixa bastante claro em sua narrativa a multiplicidade de forma de 
se conhecer e se utilizar uma língua, de forma que cada indivíduo, mesmo que conviva 
em uma mesma sociedade e utilize uma mesma língua, possui uma relação única com 
essa língua, apresentando pronúncia diferente, ritmo diferente, construindo frases de 
maneira diferente, com sotaque diferente e contextos cultural e social diferentes.
Dessa forma, Azeredo (2002, p. 41) pontua que “Quando se diz que uma 
comunidade ‘fala uma língua’, deixa-se normalmente a impressão de que todos os seus 
membros conhecem ‘a mesma coisa’. Isso não é verdade. Ninguém de fato conhece 
uma língua na totalidade de seus usos, que são múltiplos”. 
Diante desses argumentos, conclui-se que não há, de fato, a forma correta 
de se utilizar determinada língua num processo comunicativo, mas uma das múltiplas 
variedades que essa língua pode apresentar. Dito isso, um possível corolário derivado 
dessa afirmação seria a ideia de que tudo vale, ou seja, seria possível falar e entender 
qualquer coisa, independente do sistema linguístico, visto que as infinitas variações 
linguísticas tirariam o espaço de uma gramática normativa, de uma norma culta e ideal. 
A respeito disso, Azeredo (2002) pondera que a língua não existe per se, ou seja, 
não esteve “sempre lá” à disposição dos seus falantes, mas se construiu (e segue sendo 
construída) com o passar dos anos e as mudanças da sociedade. 
Diferente de um construto puro e normativo, ou então de um construto caótico e 
desorganizado, se trata de um conjunto de convenções estipuladas pelas comunidades 
para a sua comunicação, portanto carece de referências comuns que possam aproximar 
os significados entre os falantes a fim de que uma efetiva comunicação aconteça. Assim, 
não se cria ou se usa uma língua somente para si, mas para estabelecer vínculos com 
os outros.
Consideradas essas questões, Azeredo (2002) menciona que cada indivíduo 
possui um conjunto de habilidades que os capacita para utilizar de forma eficaz uma 
língua, e para isso propõe o agrupamento desses saberes em duas grandes categorias 
chamadas competência léxico-gramatical e competência pragmático-textual. 
147
Por competência léxico-gramatical, Azeredo (2002, p. 42) entende ser 
aquela que se refere “[...] ao conhecimento das unidades dos dois planos da língua – 
expressão e conteúdo – e respectivas regras combinatórias”, entrando nessa categoria 
os conhecimentos referentes à fonologia, à morfologia, ao léxico e à linguagem. 
O autor passa a citar exemplos das operações linguísticas que podemos 
realizar quando temos domínio dos aspectos léxico-gramaticais de uma língua, como 
a aplicação do plural, a correta aplicação de preposições, conhecimento das palavras 
e dos significados da língua, enfim, a aplicação adequada da gramática da língua em 
questão. Já a competência pragmático-textual é definida como sendo aquela “´[...] 
que habilita os usuários da língua a comunicar-se em situações concretas por meio de 
textos” (AZEREDO, 2002, p. 43). 
Nesse aspecto, o autor pontua e descreve seis pontos que envolvem essa 
categoria: o registro; os tipos de texto; os modos de organização do discurso; significados 
implícitos e valores não literais dos enunciados; articulação coerente e conexão das 
frases; e expressividade. 
O registro trata da “[...] propriedade que a língua tem de variar formalmente de 
acordo com as características do contexto discursivo [...]” (AZEREDO, 2002, p. 43), ou 
seja, o contexto que envolve as condições discursivas (quem pode e quem não pode 
falar), a situação discursiva (quais os papéis sociais dos participantes) e o campo 
discursivo (o domínio em que o discurso se processa). Sobre isso, podemos pensar nas 
diferentes configurações que um texto ou discurso pode estar alocado. 
A Figura 6 mostra um mapa conceitual abrangendo todos os aspectos 
mencionados até o momento sobre as teorizações de Azeredo (2002) que envolvem o 
conhecimento e o uso da língua.
148
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149
Outros autores, como Travaglia (2014a, 2014b, 2014c), apresentam outros 
tipos de competências envolvidas no conhecimento e uso de uma língua, tais como 
as competências comunicativa, discursiva e linguística. Por competência linguística, 
Travaglia (2014c, s. p.) entende ser “[...] um termo que denomina a capacidade do 
usuário da língua de produzir e entender um número infinito de sequências linguísticas 
significativas, que são denominadas sentenças, frases ou enunciados, a partir de 
um número finito de regras e estruturas”, ou seja, uma competência que envolve o 
conhecimento das normas da língua, o que muito se aproxima da noção de competência 
léxico-gramatical descrita anteriormente.
Segundo o autor, a competência linguística faz parte de um conjunto ainda 
maior, denominado competência discursiva e que abarca “[...] a capacidade do 
usuário da língua, que produz e compreende textos orais ou escritos, de contextualizar 
sua interação pela linguagem verbal (ou outras linguagens), adequando o seu produto 
textual ao contexto de enunciação” (TRAVAGLIA, 2014b, s. p.). Esse tipo de competência 
também se aproxima da noção de competência pragmático-textual já mencionada, 
com especial atenção aos tipos de texto e à organização do discurso, demonstrando a 
habilidade do falante em lidar com essas diferenças.
Por fim, temos a competência comunicativa, a qual Travaglia (2014a, s. p.) 
sustenta ser a “[...] capacidade do usuário da língua de produzir e compreender textos 
adequados à produção de efeitos de sentido desejados em situações específicas e 
concretas de interação comunicativa”. Segundo o autor, muitos linguistas consideram 
que as competências discursiva e comunicativa sejam sinônimas, porém, opta por fazer 
esta separação para mostrar o objetivo do ensino de determinada língua a um aprendiz, 
por exemplo, que é a efetiva comunicação entre esse e os demais falantes da língua 
ensinada. Um breve esquema dessa organização está disposto na Figura 7.
FONTE: Adaptada de Travaglia (2014a, 2014b, 2014c)
FIGURA 7 – RELAÇÃO ENTRE AS COMPETÊNCIAS DE USO DA LÍNGUA
150
Dessa forma, podemos entender que num processo de aquisição de uma 
língua, e pensando nos conhecimentos que precisamos mobilizar para que utilizemos 
efetivamente determinada língua, temos uma série de fatores a levar em consideração. 
Isso se torna especialmente importante ao tratarmos do processo de tradução 
e interpretação. Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, somente a 
competência linguística – ou competência léxico-gramatical – não parece ser suficiente 
para uma transposição efetiva de uma língua para outra. É isso que defende a quase 
totalidade de pesquisadores dos Estudos da Tradução e dos Estudos da Interpretação, 
como Metzger (2000), Almeida e Lodi (2014), Lacerda (2015) e Napier (2016).
Almeida e Lodi (2014, p. 110) deixam clara a ideia de que “Reduzir a prática de 
tradução e interpretação ao conhecimento das línguas implica em compreender essa 
atividade como mecânica, [...] concepção que tem sido criticada por diversos estudos”. 
Indo ao encontro dessa afirmação, Lacerda (2015) pondera que o domínio das regras da 
língua, embora seja fundamental,
[...] não é suficiente para a atuação profissional [do tradutor e 
intérprete], e será necessário desenvolver conhecimentos para além 
do conteúdo mais óbvio da mensagem, compreender as sutilezas 
dos significados, valores culturais, emocionais e outros envolvidos 
no texto de origem e os modos mais adequados de fazer esses 
mesmos sentidos serem passados para a língua alvo. Trata-se de 
compreender bem asideias, pois são elas o foco do trabalho, para 
além das palavras que as compõem [...] (LACERDA, 2015, p. 20).
Nesse sentido, ambas autoras sustentam que, apesar dos diferentes recursos 
que as línguas podem oferecer, cada uma a seu modo, o sentido da enunciação deve ser 
preservado, à despeito de sua forma. Para isso, defende-se uma abordagem que leve 
em consideração a ideia de que a tradução e a interpretação são eventos interacionais 
e de ordem discursiva (METZGER, 2000; ALMEIDA; LODI, 2014). 
Ao mencionar esses modelos, Almeida e Lodi (2014) se embasam nos conceitos 
de Mikhail Bakhtin, ao considerarem que a tradução e a interpretação não envolvem 
apenas palavras com significados soltos, mas enunciados que fazem parte de um 
discurso. Nesse contexto, não seria possível realizar uma transposição literal de sentidos 
ou palavras termo a termo, pois essa passagem não seria capaz de abarcar toda a 
complexidade da qual a língua faz parte. Nesse contexto, pensando especificamente no 
caso dos profissionais tradutores e intérpretes de Libras, algumas particularidades de 
tornam evidentes, as quais serão abordadas a seguir.
151
4 COMPETÊNCIAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE 
LIBRAS
Pensando especificamente nos tradutores e intérpretes de Libras, temos um 
ponto bastante significativo que vai ao encontro do que já discutimos no primeiro 
tópico desta unidade, que é o envolvimento desse profissional com os aspectos sociais, 
culturais e contextuais nos quais está inserido. 
Considerando as diferenças e assimetrias sociais presentes nas relações da 
sociedade majoritariamente ouvinte com as comunidades surdas, é de se considerar que 
muitas vezes esse profissional se encontra em uma posição que extrapola a transposição 
de termos de uma língua para outra, tal como verificamos no texto de Russell e Shaw 
(2019), mencionado no tópico anterior e sugerido como Leitura Complementar desta 
unidade. 
Assumir a posição de porta-voz de uma pessoa em diferentes situações do 
cotidiano que envolvem o acesso a direitos básicos da sociedade contemporânea – 
como a saúde, a educação, a liberdade de expressão, a ampla defesa, entre outros –, 
em especial ao lidar com um público que historicamente não teve (e por vezes continua 
não tendo) acesso a muitos desses direitos, acaba produzindo uma tensão ainda maior 
no fazer cotidiano do tradutor e intérprete de Libras.
Além de todos esses aspectos que já foram evidenciados no tópico anterior, 
temos ainda pelo menos duas situações importantes de mencionarmos nesta unidade, 
que vai ao encontro dos debates realizados até o momento: os gêneros discursivos. 
Um dos autores que mais explorou esses elementos foi Mikhail Bakhtin, em especial no 
capítulo de livro intitulado Os gêneros do discurso. 
Na percepção de Bakhtin (2003), nos comunicamos por meio de enunciados 
relativamente estáveis, os quais configuram gêneros do discurso. Esse conceito parece 
se aproximar muito dos contextos discursivos, vistos anteriormente neste tópico. 
Segundo o autor, escolhemos as palavras que utilizamos levando em consideração os 
gêneros do discurso, constituindo enunciados (BAKHTIN, 2003).
152
Mikhail Bakhtin nasceu em 1895 na cidade de Oriol, Rússia. Tornou-se conhecido pelos 
seus estudos sobre a linguagem humana, passando por estudos que envolvem Filosofia, 
Linguística, Sociologia, Psicologia e Antropologia. Atualmente tem sido muito citado em 
vários trabalhos acadêmicos, havendo um grupo de pesquisadores que se denominam 
“bakhtinianos”, os quais utilizam seus conceitos como base teórica na formulação de suas 
pesquisas. Faleceu em 1975 aos 79 anos, na cidade de Moscou.
NOTA
FIGURA – MIKHAIL BAKHTIN
FONTE: <https://bit.ly/3wwXc28>. Acesso em: 10 nov. 2021.
O autor entende que a palavra, assim como a oração, não é endereçada para 
um destinatário específico, portanto, não requer um ato comunicativo, um diálogo, uma 
resposta do outro. Ela pode ser retirada do contexto, lida com outro viés, compreendida 
de múltiplas formas. 
Mesmo que não tenha um compromisso com o ato comunicativo, Bakhtin 
(2003) pondera que a escolha das palavras respeita os gêneros do discurso, ainda que 
sem o endereçamento. Já o enunciado faz parte de um ato comunicativo, portanto, 
compõe o discurso realmente. 
Nesses casos, entende-se que o destinatário não é passivo, e pode/deve fazer 
parte do diálogo por meio de uma atitude responsiva, algo que o autor salienta como 
de suma importância no discurso.
A obra do autor, ainda que mostre algumas diferenças em relação às outras 
formas de análise do discurso conhecidas, é vasta e tem servido como base para a 
elaboração de trabalhos incrivelmente relevantes, tanto para a linguística quanto para 
a educação.
Considerando o escopo deste material, entendemos que não é possível 
adentrarmos por toda a riqueza teórica empreendida pelo autor, mas colocamos como 
sugestão de leitura um texto da pesquisadora Ana Cláudia Balieiro Lodi que trata da 
educação de surdos e das teorizações bakhtinianas.
https://bit.ly/3wwXc28
153
LODI, A. C. B. Plurilingüismo e surdez: uma leitura bakhtiniana da história 
da educação dos surdos. Educação e pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, 
p. 409-424, set./dez. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/
sDspdPVX9s4TSnNhSZRJSzj/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 ago. 2021.
DICAS
Com isso, podemos entender que nosso discurso vai sendo modulado de acordo 
com os gêneros que estamos lidando, alterando nossa escolha de palavras, nossas 
atitudes, nossos atos comunicativos. 
Para tal, torna-se interessante analisarmos cada situação para vermos qual 
ou quais gêneros estão presentes, a fim de que adequemos nosso discurso de acordo 
com a situação em que estamos presentes. Na escola, ainda que de uma forma bem 
simplificada e distinta das teorizações bakhtinianas, costumamos ter contato com 
diferentes gêneros, a fim de aprendermos a trabalhar com eles. Mesmo que seja 
impossível mapear todos os gêneros existentes – inclusive porque eles mudam ao longo 
do tempo –, alguns estão dispostos na Figura 8:
FIGURA 8 – ALGUNS GÊNEROS
FONTE: Os autores
Dessa forma, podemos pensar que, ao atender o telefone, se faz bastante 
adequado iniciarmos com “Alô”, ao passo em que num ofício essa mesma escolha de 
palavras se tornaria muito incongruente. Enquanto profissionais tradutores e intérpretes 
de Libras, esse tema assume uma relevância ainda maior, considerando o status e o 
corpus dessa língua, bem como o seu léxico. 
154
Mandelblatt e Favorito (2018) pontuam que, se comparamos o tempo de 
existência, circulação, reconhecimento e organização das línguas de sinais, veremos 
que as línguas orais possuem um repertório muito maior em termos lexicais. Ainda que 
esse repertório esteja aumentando exponencialmente nos últimos anos, a principal 
questão encontrada pelos profissionais que atuam com as línguas de sinais é a falta de 
sinais específicos para alguns termos das áreas especializadas, ou mesmo a adequação 
dos termos utilizados no português de acordo com o que é sinalizado.
Sobre esse ponto, é constante as vezes em que nos encontramos, enquanto 
tradutores e intérpretes, em situações nas quais precisamos sinalizar ou oralizar sinais 
que possuem, na comparação com a língua portuguesa, um significado bastante 
simples. Para exemplificar essas situações, pensemos no sinal de “MULHER”, disposto 
na Figura 9. Na Libras, é muito comum que façamos referência às pessoas apontando 
o seu gênero/sexo como um indicativo de que se trata de um ser humano do gênero 
feminino. Esse recurso é bastante utilizado em muitas situações, inclusive logo antes 
de se mostrar por meio da datilologia o nome de alguém, a fim de deixar claro que a 
soletração que está por vir é o nome de uma mulher. Outro caso, é para apontar o gênero 
de determinada pessoa, como “PRIM@”, “TI@”, “IRMÃ@”, considerando que em geral o 
gênero não está incorporado aos sinais da Libras.
FIGURA 9 – SINAL DE “MULHER” EM LIBRAS
FONTE: Faders (2010, p. 65)
Tendoem mente essas possibilidades, vamos fazer um rápido exercício 
pensando em uma situação na qual estejamos atuando como intérpretes. Analisemos 
a seguinte frase, transcrita da língua de sinais por meio de glosa, seguida das possíveis 
transposições que podem ser realizadas a partir dela:
155
JÁ CONVERSAR MULHER SECRETARIA. ELA FALAR NÃO-PODER.
Já conversei com a mulher da secretaria. Ela falou que não pode. (4.1)
Já conversei com a mulher, a secretária. Ela falou que não pode. (4.2)
Conversei com a secretária. Ela falou que não é possível. (4.3)
Entrei em contato com a secretária. Ela informou que não é possível. (4.4)
Entrei em contato com a Senhora Secretária. Ela informou que não é possível. (4.5)
Vamos pensar, agora, em cada uma dessas cinco possibilidades. Na Frase (4.1), 
identificamos uma possibilidade de tradução típica de quando estamos iniciando na 
interpretação. Costumamos seguir à risca, termo a termo, o significado em português 
dos sinais isoladamente, muitas vezes como forma de garantir que não estamos 
suprimindo e nem alterando a mensagem que está sendo emitida pelo enunciador. Por 
outro lado, ao seguirmos nessa forma literal, corremos o risco de causar estranhamentos 
por conta da inadequação do gênero discursivo. Como sabemos, muitas vezes o 
emprego do termo “mulher” na língua portuguesa pode demonstrar desdém, raiva 
ou um caráter pejorativo, algo que não necessariamente procede na Libras, como já 
mencionamos. Assim, dependendo da situação em que essa frase foi dita, há o risco de 
causar constrangimentos para o enunciador e/ou para o próprio profissional produzir 
representações negativas a respeito da língua de sinais e/ou da pessoa surda e, no 
limite, causar prejuízos irreparáveis aos envolvidos por falta de decoro ou ruídos na 
comunicação. Por outro lado, seria possível que o enunciador quisesse, de fato, se 
referir à secretária com um tom negativo, como seria o caso de o enunciador estar 
contando para um amigo alguma situação em que se sentiu frustrado no contato com 
a secretária. Cabe aqui a atenção ao gênero discursivo presente.
Seguindo adiante, temos a Frase (4.2), cuja diferença envolve a elucidação, por 
parte do/a profissional intérprete, de que o termo “mulher” poderia estar se referindo ao 
gênero da pessoa que estava trabalhando na secretaria. Neste caso, há um ajuste tardio 
do que poderia ter sido um ruído na comunicação. Essa é uma saída possível ao nos 
depararmos com um potencial equívoco de nossa parte e tende a atenuar os prováveis 
constrangimentos que poderiam ser causados decorrente da nossa ação. Por outro 
lado, mostra a necessidade que temos de desenvolver o que chamamos de memória 
de curto prazo, a fim de que guardemos as informações que estão sendo proferidas e 
tenhamos um pequeno delay entre o que foi sinalizado e a interpretação, com o objetivo 
de realizar previamente as adequações necessárias ao contexto.
156
Existem diferentes tipos de memória. Izquierdo (2018) as classifi ca de acordo com sua 
função, o seu tempo de duração e o seu conteúdo. No caso da memória de trabalho 
– que faz parte da memória de curto prazo –, aponta que ela “[...] serve para ‘gerenciar a 
realidade’ e determinar o contexto em que os diversos fatos, acontecimentos ou outros tipos 
de informação ocorrem, se vale a pena ou não fazer uma nova memória disso ou se esse 
tipo de informação já consta dos arquivos” (IZQUIERDO, 2018, p. 13). No caso específi co 
da interpretação, usamos esse tipo de memória para organizar as informações, transpor 
adequadamente a mensagem de acordo com o contexto e, em seguida, as esquecemos para 
dar espaço às novas transposições.
IMPORTANTE
FIGURA – MEMÓRIA
FONTE: <https://shutr.bz/3Hd16lK>. Acesso em: 14 ago. 2021.
Uma terceira possibilidade está expressa na Frase (4.3). Aqui identifi camos a 
supressão do termo “JÁ”. Esse sinal, assim como outros indicadores de tempo (ONTEM, 
ANTEONTEM, ANTES, PASSADO, QUANDO-PASSADO, entre outros), serve para indicar o 
passado em uma frase, visto que na Libras o tempo não é fl exionado no verbo. 
Portanto, houve um entendimento do profi ssional intérprete de que o “JÁ” 
funcionava não necessariamente como a palavra “JÁ”, mas como uma fl exão do verbo 
“CONVERSAR”. Além disso, vemos uma outra alteração para o sinal de “NÃO-PODE”, 
desta vez colocado como “não é possível”. 
Novamente, relembramos que o repertório da Libras é quantitativamente menor 
do que o da língua portuguesa (MANDELBLATT; FAVORITO, 2018), consequentemente, a 
seleção dos termos mais adequados no português faz parte do processo tradutório, de 
acordo com o gênero discursivo vigente no diálogo. 
Com o tempo e a experiência, vamos adquirindo um repertório maior de 
possibilidades tradutórias entre os sinais da Libras e a língua portuguesa. Vejamos 
alguns exemplos que representam uma pequena fração das possibilidades, apenas para 
ilustrar o que estamos dizendo aqui:
157
QUADRO 3 – SINAIS EM LIBRAS E POSSÍVEIS TERMOS EM LÍNGUA PORTUGUESA
FONTE: Os autores
SINAL (Libras) TERMOS (LP)
NÃO-PODE Não poder, não ser permitido, não ser possível, ser inviável, ser 
proibido, ser inexequível, estar indisponível.
DIFÍCIL Difícil, complexo, complicado, custoso, dispendioso, elaborado, 
improvável
ERRADO Erro, falha, equívoco, acidente, contratempo, situação, 
acontecimento, fato, problema inesperado.
SABER Saber, compreender, ter ciência, ter conhecimento, estar a par de.
AJUDAR Ajudar, auxiliar, prestar auxílio, prestar socorro, acudir, apoiar, 
solidarizar-se.
Na mesma linha, temos a Frase (4.4), que se difere da anterior por ajustar o 
termo “CONVERSAR” por “entrar em contato”, e “FALAR” por “informar”. 
Na Libras, ainda que exista os sinais de “CONTATO” e de “INFORMAÇÃO”, cabe 
mencionar que eles costumam ser utilizados em outros contextos. Assim como na língua 
portuguesa, quando estamos narrando uma situação temos o hábito de utilizar palavras 
como “ela me falou que”, ou “ele disse que”, na Libras também há essa preponderância 
e, mais do que isso, há a aplicação desses termos mesmo em situações mais formais. 
Portanto, torna-se algo que precisamos estar atentos, para evitar a falta de decoro ou 
inadequação à situação em que o enunciador se encontra.
Neste ponto, é importante mencionarmos a complexidade que envolve a atuação 
do intérprete, visto a tênue linha que está presente entre a adequação linguística e 
o respeito ético ao que foi dito. Por meio de nossas escolhas, podemos realizar uma 
transposição correta quando comparada ao gênero discursivo presente no contexto, ou 
podemos interferir do que foi dito. 
Uma situação comum vista na tradução e interpretação é o acréscimo ou a 
supressão de informações, de forma que as coisas ditas pelo enunciador sejam alteradas 
da sua mensagem inicial. Assim como outras funções da nossa profissão, este não é 
um evento para o qual podemos nos preparar por meio de estudos, mas por meio da 
vivência e da prática. 
A sugestão é que, no decorrer da nossa carreira, estejamos atentos a essa 
armadilha e tentemos nos ajustar para que nossas transposições sejam as mais fiéis 
possíveis à mensagem que foi emitida e ao contexto no qual ela será enunciada.
158
Por fi m, temos a Frase (4.5) que possui uma única alteração: o acréscimo do 
termo “Senhora Secretária”. Na Libras, é pouquíssimo usual a sinalização manual de 
pronomes de tratamento – muito embora nos últimos anos, com a chegada de surdos 
a cargos de proeminência no meio político e corporativo, esse cenário tenha começado 
a mudar. No caso dessa frase, imagina-se que a Senhora Secretária seja alguém que 
ocupe um cargo de secretaria em um Ministério ou órgão governamental, portanto, 
carecendo de um pronome de tratamento. Dessa forma, torna-se especialmente 
importante verifi car se o gênero discursivo presente no contexto exige um decoro maior, 
como seria o caso de um Ofício, um Pronunciamento, entre outros.
Você sabia que temos documentos orientadores que instituem a forma de tratamento 
adequadados agentes públicos da administração federal? Um deles é o “Manual de Redação 
da Presidência da República”, de 2018, que apresenta um quadro com a autoridade, a forma 
de endereçamento, o vocativo, o tratamento no corpo do texto e a abreviatura. Por outro 
lado, temos o Decreto nº 9.758, de 11 de abril de 2019. Em suma, a legislação determina 
que o pronome “senhor”, podendo ser fl exionado para o feminino e para o plural, é o único 
indicado para se referir aos agentes públicos. Então você já sabe: na dúvida, utilize “senhor”, 
“senhora”, “senhores” ou “senhoras”.
IMPORTANTE
FIGURA – BRASÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
FONTE: <https://shutr.bz/3C3kGxg>. Acesso em: 14 ago. 2021.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante desses elementos, pensamos que foi possível refl etirmos um pouco sobre 
as competências que envolvem o conhecimento e o uso de uma língua, bem com alguns 
dos efeitos dessas competências na atuação de um profi ssional tradutor e intérprete 
de Libras. Com isso, concluímos a segunda parte da terceira unidade, e passamos 
para a última parte, na qual levaremos em consideração diferentes problemáticas que 
podem surgir durante o processo de tradução e interpretação, em especial aquelas que 
envolvem determinadas fi guras de linguagem ou recursos linguísticos específi cos da 
Libras e da língua portuguesa.
159
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Existem diferentes formas de se conceber a ideia de gramática e os conceitos que a 
compõem.
• O conhecimento de uma língua não é suficiente para a atuação na tradução e 
interpretação, havendo diversas habilidades que envolvem saberes da sociolinguística, 
do contexto, do discurso, da cultura, do léxico, do texto, entre outros.
• Existem diferentes gêneros do discurso, os quais devem ser levados em consideração 
durante o processo de tradução e interpretação, principalmente ao lidarmos com 
uma língua tão recente como a Libras.
• Deve-se ajustar a terminologia utilizada de acordo com cada gênero discursivo e cada 
situação, sob pena de causar prejuízos irreparáveis aos emissores da mensagem.
• Deve-se ter conhecimento de sinônimos e termos específicos de cada área a fim de 
que haja uma tradução/interpretação adequada.
160
1 No início deste tópico, vimos dois tipos de gramática: a gramática normativa 
e a gramática descritiva. A respeito desses conceitos que compõem a 
gramática, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A gramática normativa costuma estar vinculada à ideia de norma culta, 
mostrando as regras padronizadas de uma determinada língua e a forma correta de 
escrita.
b) ( ) A gramática normativa costuma ser ensinada na escola e está compilada em 
livros chamados “Gramáticas”.
c) ( ) A gramática descritiva se ocupa da análise das estruturas básicas da língua, 
como fonemas, grafemas, morfemas, sílabas, palavras e frases.
d) ( ) A gramática descritiva entende que o sistema gramatical compreende unidades 
portadoras de significado que podem ser combinadas e recombinadas dentro dos 
limites da língua.
2 Dentre os conhecimentos e usos da língua, temos a competência pragmático-
textual e a competência léxico-gramatical. Muitas pessoas acreditam que 
apenas o conhecimento da língua e sua estrutura (competência léxico-
gramatical) é suficiente, porém esquecem de um conhecimento ainda mais 
complexo e necessário que envolve outros elementos da língua (competência 
pragmático-textual). Considere as seguintes afirmações acerca da 
competência pragmático-textual:
I- Habilita os usuários da língua a se comunicarem em situações concretas por meio de 
textos.
II- Compreende seis fatores principais: registro, tipos de texto, significados implícitos e 
valores não literais dos enunciados, modos de organização do discurso, expressividade 
e articulação coerente e conexão das frases.
III- Compreende o conhecimento das unidades dos dois planos da língua – expressão e 
conteúdo – e respectivas regras combinatórias.
IV- Abrange os conhecimentos acerca da sintaxe, do léxico, da fonologia e da morfologia.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas I e II estão corretas.
b) ( ) Apenas I e IV estão corretas.
c) ( ) Apenas II e III estão corretas..
d) ( ) Apenas III e IV estão corretas..
AUTOATIVIDADE
161
3 Vimos que existem diferentes gêneros do discurso, os quais modulam a forma 
como o enunciado é produzido e a adequação da terminologia adotada. Na 
Libras, o conhecimento acerca dos gêneros do discurso se torna ainda mais 
relevante, considerando o menor repertório lexical que esta língua apresenta 
em relação à língua portuguesa. A respeito dos gêneros do discurso e a Libras, 
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Um dos principais autores que se dedicou ao estudo dos gêneros do discurso foi 
o russo Mikhail Bakhtin, o qual elaborou um tipo de análise discursiva muito utilizado 
em pesquisas contemporâneas que envolvem a Libras.
b) ( ) Os diferentes gêneros discursivos são muito importantes para definir qual ou 
quais termos são utilizados durante uma tradução ou interpretação.
c) ( ) Considerando a escassez de sinais na Libras, deve-se atentar ao contexto e ao 
gênero discursivo para acrescentar as informações necessárias à compreensão do 
texto.
d) ( ) Ainda que o repertório lexical da Libras seja menor, todas as informações podem 
ser transpostas para a língua portuguesa, porém é necessária maior atenção ao 
gênero discursivo vigente para uma adequação condizente com a situação presente.
4 Durante as discussões sobre gramática, mencionamos a ideia de que não há 
uma forma única e correta de se utilizar uma língua, mas que cada pessoa 
utiliza uma das variações possíveis dessa língua. Essa discussão vai ao 
encontro dos debates pós-estruturalistas que vimos no primeiro tópico 
desta unidade, fortalecendo a ideia de que não há uma única maneira de 
significar uma palavra, e cada palavra não tem um único significado. Nesse 
sentido, os significados derivam das experiências pessoais de cada um e a 
forma como as palavras foram apresentadas a cada sujeito. Tendo como base 
os conhecimentos mobilizados por essa corrente teórica, disserte sobre os 
efeitos dessa linha de pensamento na concepção de língua e na postura do 
profissional tradutor e intérprete de Libras.
5 Vimos o exemplo de uma frase em Libras que poderia ser sido traduzida/
interpretada de diferentes formas, e em cada uma delas haveria uma 
adequação de acordo com o possível contexto. Tendo isso em mente, 
analise a seguinte frase em glosa e elabore opções de tradução para a 
língua portuguesa, citando para cada uma o gênero discursivo ou contexto 
adequado: “HOMEM CHEFE JÁ SABER EU OCUPADO”.
162
163
TÓPICO 3 - 
ENFRENTAMENTO LINGUÍSTICO: FIGURAS 
DE LINGUAGEM, EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS, 
GÍRIAS, INUENDOS, CLASSIFICADORES E 
DATILOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Durante o processo de tradução e interpretação, em especial nesse último, por 
ser mais imediato, é comum nos depararmos com uma série de recursos linguísticos 
que costumam dificultar a transposição do discurso de uma língua para outra. Esse 
é o tópico principal da obra de Napier (2016) intitulada Linguistic coping strategies in 
sign language interpreting, podendo ser traduzida como Estratégias de enfrentamento 
linguístico na interpretação de língua de sinais. Por enfrentamento linguístico, a autora 
faz menção à ideia de se lidar com diferentes situações durante a interpretação, como 
o uso do alfabeto datilológico, transposição literal, metáforas, gírias, entre outros. Neste 
tópico, iremos conhecer alguns desses pontos críticos, seus significados, juntamente 
com algumas sugestões de como lidar com tais termos.
2 ALGUMAS FIGURAS DE LINGUAGEM
Antes de analisarmos alguns elementos mais complexos que envolvem 
o enfrentamento linguístico na Libras, vamos observar três figuras de linguagem 
importantes que são bastante comuns: a comparação, a metáfora e a metonímia. 
Certamente, muitos de nós já as estudamos na escola, visto que elasestão presentes 
na língua portuguesa. Uma das mais utilizadas é a comparação, a qual consiste em 
aproximar dois seres, objetos ou ideias por haver uma característica em comum (ALBRES, 
2006). Em geral, a comparação carece de um complemento – normalmente conectivos 
ou advérbios de intensidade – para que se estabeleça a relação de proximidade. Vejamos 
alguns exemplos de comparações da língua portuguesa:
UNIDADE 3
164
Frase
Bonito como uma flor.
Burro que nem uma porta.
Lento igual uma tartaruga.
Parece um touro de tão forte.
Rápido como um trovão.
Tremendo que nem vara verde.
QUADRO 4 – COMPARAÇÃO NA LÍNGUA PORTUGUESA
FONTE: Os autores
Na Libras, utilizamos a comparação muitas vezes; não só como um recurso 
linguístico complexo e estético, mas como uma forma de se expressar. Analisemos a 
seguinte frase em português e as propostas de sinalização:
Marcos não está indo bem na escola, pois não se esforça.
M-A-R-C-O-S BEM-NÃO ESCOLA, MOTIVO ESFORÇAR-NÃO. (2.1)
M-A-R-C-O-S REPROVAR ESCOLA. ELE IGUAL ESFORÇAR-NÃO. (2.2)
Na Frase (2.1), notamos o uso de “BEM-NÃO”, provavelmente por conta de uma 
tentativa de aproximação com a frase original em língua portuguesa. Nessa mesma 
linha de pensamento, temos a utilização do sinal “MOTIVO” para expressar a causa 
de Marcos não estar indo bem na escola. Essa frase, mesmo que esteja muito fiel à 
estrutura que serviu de input para a transposição, parece estar aberta a ambiguidades. 
Se pensarmos na estrutura da Libras, o que poderia significar “M-A-R-C-O-S BEM-NÃO 
ESCOLA”? Quer dizer que ele não está indo bem nas avaliações? Ou que ele não se sente 
bem estando na escola? Ou então que ele não é comportado na escola? A expressão em 
português “não está indo bem na escola”, ainda que não seja explícita, carrega consigo 
o significado de “estar indo mal nas avaliações da escola”. Se deixarmos de lado esse 
significado comum e implícito, corremos o risco de passar informações equivocadas ou 
ambíguas durante a interpretação.
Por outro lado, a Frase (2.2) utiliza o sinal de “REPROVAR”. Embora no português 
o termo “reprovar” – que inclusive tem caído em desuso com o passar dos anos e 
as tendências mais atuais da educação – seja muito forte e pejorativo, na Libras ele 
costuma ser utilizado para demonstrar qualquer situação em que não foi possível ter o 
desempenho esperado. 
165
Se eu aprovar Marcos, estarei sendo irresponsável
S-I EU APROVAR M-A-R-C-O-S, EU NADA RESPONSABILIDADE (2.3)
S-I EU APROVAR M-A-R-C-O-S, SIGNIFICA EU NÃO-TEM RESPONSABILIDADE (2.4)
S-I EU APROVAR M-A-R-C-O-S, EU IGUAL NÃO-TEM RESPONSABILIDADE (2.5)
Em seguida, ao invés de se utilizar o sinal de “MOTIVO” – normalmente pouco 
utilizado nesse contexto –, aplicou-se a comparação como forma de mostrar que 
Marcos não se esforça. Ainda que não esteja exatamente igual à estrutura do input, 
essa forma de apresentação mostra corretamente a ideia central da frase, enquanto 
utiliza estratégias da Libras mais usuais e claras. Vejamos outra situação semelhante.
Observando a Frase (2.3), identificamos que ela busca uma aproximação com 
o input na língua portuguesa. Mesmo que as expressões não manuais possam retirar 
a ambiguidade da sinalização, a utilização de “EU NADA RESPONSABILIDADE” como 
consequência da aprovação de Marcos poderia ser compreendida como uma isenção do 
locutor a respeito do que vai acontecer. Seria algo do tipo “Se Marcos for aprovado, eu 
não me responsabilizo”. Além disso, a ideia de futuro do pretérito – flexionado no verbo 
“seria” – correria o risco de não estar presente no discurso em Libras.
Já nas Frases (2.4) e (2.5), vemos três situações. A primeira é a utilização do 
termo “NÃO-TER”, o que expressa a ideia de estar ou não sendo responsável, um adjetivo 
do locutor. A segunda é a aplicação do termo “SIGNIFICA” para mostrar o que representa 
tal atitude na vida do locutor. Por fim, a outra opção é a utilização da comparação, como 
forma de o locutor se comparar a uma pessoa irresponsável. A comparação na Libras é 
bastante usual nos casos de futuro do pretérito, pois consegue mostrar como algo seria 
em determinada situação, sem a preocupação explícita em mostrar qual a flexão verbal. 
Reforçamos que isso é algo que costuma ser adquirido com a experiência e a prática, 
mas que vale a pena de se atentar durante a utilização da língua.
Um outro recurso bastante interessante e que também existe na língua 
portuguesa é a metonímia. Albres (2006, p. 2) aponta que as metonímias “[...] substituem 
um elemento pela citação de outro que lhe está relacionado, que lhe é próximo”. Existem 
diferentes tipos de metonímia, porém, a característica principal é a possibilidade de 
substituição do termo figurado pelo seu significado real. Vejamos alguns exemplos da 
língua portuguesa:
166
Frases
É preciso muita bagagem para falar sobre isso (experiência).
O homem não respeita a natureza (a humanidade). 
O valor da entrada é R$ 20,00 por cabeça (pessoa).
Tive que suar muito para comprar essa televisão (trabalhar).
Todos os dias, bebo Nescau com leite gelado (achocolatado em pó).
Você pode me alcançar um copo d’água? (copo com água).
QUADRO 5 – METONÍMIAS NA LÍNGUA PORTUGUESA
FONTE: Os autores
Na Libras, também encontramos exemplos de metonímias, as quais ocorrem 
de forma muito semelhante, por meio da substituição de um significado literal por um 
figurado. Em geral, quando lidamos com casos de metonímia durante os processos de 
interpretação a opção é a substituição pelo termo literal. Quando não há essa substituição, 
deve-se ter certeza de que a compreensão da mensagem não terá prejuízos. Além disso, 
também é importante verificar se não é possível substituir os termos figurados em uma 
língua por um termo figurado da outra língua. Como exemplo, podemos citar o “copo 
d’água” do português; na Libras, o recipiente costuma ser suprimido, sendo solicitado 
somente “ÁGUA”.
Por fim, temos o recurso da metáfora, tão comum em nosso cotidiano. Também 
se trata de um tipo de comparação, com a diferença de não utilizar conectivos ou 
advérbios de intensidade (ALBRES, 2006). 
As metáforas apresentam como fato algo que claramente não faz sentido em 
sua forma literal, estabelecendo assim uma relação entre termos com significados muito 
distintos. Vejamos alguns exemplos na língua portuguesa:
Frases
Ele tem um coração de pedra.
Estou morto de cansado.
O amor é uma dor.
Por que você é tão frio?
Seus olhos são espelhos d’água.
Você é a luz da minha vida.
QUADRO 6 – METÁFORAS NA LÍNGUA PORTUGUESA
FONTE: Os autores
167
Na Libras as metáforas são muito comuns, principalmente na Literatura Surda. 
Assim como na língua portuguesa, estabelecem relações entre significados muito 
diferentes e as apresentam dentro de uma lógica espacial-visual – muitas vezes por 
meio de sinais polimorfêmicos, como os classificadores. Considerando a dificuldade de 
se grafar e transcrever esses tipos de sinais, veremos um exemplo bastante comum na 
língua portuguesa e uma possível transposição para a Libras.
Ana é o Sol que ilumina e aquece os meus dias.
A-N-A É IGUAL SOL, DAR-ME LUZ QUENTE TODO-DIA (2.6)
Vemos a aplicação do sinal de “IGUAL”, mostrando a presença de uma 
comparação. Como a metáfora também é um tipo de comparação, em geral a utilização 
de sinais que mostram a comparação também se aplica à interpretação de metáforas. 
Uma outra forma de realizar essa transposição seria a incorporação das letras 
do nome “A-N-A” ao sinal de “SOL”, formando um classificador e assumindo, de fato, a 
característica da metáfora na Libras. 
Contudo, tais processos costumam ser bastante complexos e carecem de um 
profundo conhecimento das línguas em questão. Ainda assim, mesmo com grande 
experiência e considerando o caráter instantâneo da interpretação, as metáforas 
costumam ser substituídas por comparações nesses casos.
3 GÍRIAS, EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS E INUENDOS
Agora que já vimos algumas figuras de linguagem, passamos a analisar com 
um pouco mais de detalhamentodiferentes formas de utilização desses recursos. 
Porém, antes disso, veremos um conjunto particular de expressões, extremamente 
variáveis e presentes em determinadas épocas, para determinados grupos sociais e em 
determinados espaços: as gírias. Vejamos algumas das existentes na língua portuguesa:
168
Termo Significado
Abalar Ter sucesso
Bolado Surpreso
Bonde Turma de amigos
Bucha Pessoa inconveniente
Caô Mentira, boato
Chapa quente Lugar que o ambiente é animado ou agitado
Colar com Andar junto com, aproximar-se
Mercenário Interesseiro
Tá osso Difícil, desfavorável
Presepeiro Pessoa que não cumpre o que promete
X9 Dedo duro, informante
Zoar Agitar, se divertir
QUADRO 7 – ALGUMAS GÍRIAS NA LÍNGUA PORTUGUESA
FONTE: Vitral (2017, p. 48)
QUADRO 8 – ALGUMAS GÍRIAS NA LIBRAS
Da mesma forma que na língua portuguesa, as gírias estão presentes na Libras, 
de maneira especial nos espaços de convivência informal entre surdos, como as escolas, 
os eventos e as associações. 
Muitos estudos têm sido realizados para que sejam mapeadas as gírias utilizadas 
na Libras em cada região, porém, se trata de um trabalho em constante mudança, visto 
que a cada momento novas gírias surgem e entram em circulação. Vejamos alguns 
exemplos:
169
FONTE: Adaptada de <https://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/existem-girias-na-lingua-de-sinais-
-dos-surdos/>. Acesso em: 16 ago. 2021.
Nesse aspecto, ressalta-se a importância de se ter conhecimento das gírias 
de ambas as línguas, para que o significado possa ser transposto adequadamente. 
Ademais, deve-se ter em mente que as gírias surgem e desaparecem com frequência, 
sendo seu aprendizado um exercício constante de comunicação, ainda que aconteça 
naturalmente durante a utilização da língua.
Além das gírias, temos as expressões idiomáticas, entendidas como 
expressões cujo significado do todo não corresponde ao significado de suas partes. 
Fazem parte dessas expressões alguns ditos populares, frases que derivam 
de acontecimentos, expressões que vieram de outras línguas e outras culturas, entre 
outros. Vejamos alguns exemplos:
170
Expressão Significado
Bater perna. Caminhar.
Estar mais pra lá do que pra cá. Estar fora de si.
Fazer das tripas coração. Fazer um grande esforço.
Gostar de viver perigosamente. Ser ousado.
Pisar no matinho. Humilhar alguém que já está fragilizado. 
Roer a corda. Desistir.
Se virar nos trinta. Improvisar.
Ter o olho vivo. Estar atento.
Tomar um chá de cadeira. Ficar aguardando por muito tempo.
Vestir o paletó de madeira. Morrer.
Vir com as mãos abanando. Ir a um evento sem um presente ao 
anfitrião.
Virar a casaca. Trair um grupo.
FONTE: Os autores
QUADRO 9 – EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA
Da mesma forma que as gírias, as expressões idiomáticas também são bastante 
variáveis ao longo do tempo. Costumam ser próprias de cada língua, embora muitas 
possuam uma origem comum. É usual que algumas expressões idiomáticas sejam 
traduzidas de uma língua para outra, algo que acontece bastante entre a língua 
portuguesa e a Libras. Na língua portuguesa, a expressão idiomática “Sentir muito” 
significa “Lamentar”. 
No dicionário da Faders (2010), temos registrado o sinal de “LAMENTAR”, 
expresso pela junção dos sinais de “SENTIR” e de “MUITO”, ilustrado na Figura 10. Vemos, 
então, que essa mesma expressão possui significados iguais em ambas as línguas, além 
de demonstrar um fenômeno curioso: a utilização literal de termos diretamente ligados 
à língua portuguesa. Dito isso, é importante ressaltar que esse tipo de construção literal 
não tem sido utilizado e para muitos é considerado equivocado, por não respeitar a 
estrutura nativa da língua de sinais.
171
FONTE: Faders (2010, p. 56)
FIGURA 10 – SINAL DE “LAMENTAR”
Além das gírias e das expressões idiomáticas, temos ainda um outro recurso 
que é bastante utilizado e pouco pesquisado na área da língua de sinais: o inuendo. 
Alguns linguistas traduzem esse termo como “sugestão” ou “insinuação”. 
Esse processo foi estudado de forma aprofundada pelo pesquisador 
estadunidense Shaun Tray (2005), o qual menciona que “Conversacionalmente, [o 
inuendo] pode ser representado por um comentário ácido, sarcasmo, espirituosidade, 
duplo sentido, ou jogos de palavra similares, como paródia, ironia e subentendimento” 
(TRAY, 2005, p. 96, tradução nossa). 
Dito de outra forma, podemos entender o inuendo como sendo um conjunto 
de “[...] enunciados que carregam um significado depreciativo implícito voltado para um 
alvo específico, muitas vezes disfarçado com intenção humorística ou falsa ingenuidade” 
(TRAY, 2005, p. 96, tradução nossa). Vejamos alguns exemplos clássicos de inuendo na 
língua portuguesa:
Frases Insinuação
Ariel e Beatriz estão saindo muito 
ultimamente...
Ariel e Beatriz estão namorando.
Dei um jeito de conseguir uma “ajuda 
extra” na prova.
O emissor realizou algum ato escuso para 
alterar o resultado da prova.
É claro que pode ser feito; afinal, tudo é 
justo no amor e na guerra.
Justificativa para que uma atitude 
questionável possa ser tomada diante de 
uma situação extrema.
Eu gosto muito de dormir fora de casa, se 
é que você me entende.
O emissor está com desejo de dormir com 
o destinatário.
Oficialmente eu não posso pedir que 
você faça isso.
Solicitação extraoficial que não pode cair 
no conhecimento público.
QUADRO 10 – INUENDOS NA LÍNGUA PORTUGUESA
172
Se você quiser, e só se quiser, você pode 
fazer isso.
Maneira sutil de insistir para que uma 
pessoa faça algo.
Seria uma pena se a sua mãe soubesse 
o que você anda fazendo...
O emissor está ameaçando contar um 
segredo para a mãe do destinatário.
Isso já era esperado. Sabemos que Bruno 
não é especialmente brilhante.
Forma sutil de insultar Bruno, 
chamando-o de burro.
FONTE: Os autores
No Quadro 10, foram colocadas as frases juntamente com alguns termos-
chave em negrito. Esses termos, aliados ao contexto, à expressão facial e à entonação 
do emissor, podem expressar os diferentes signifi cados apresentados na coluna 
da direita, bem como vários outros. Note que a imensa maioria dos inuendos possui 
alguma expressão que os identifi ca claramente como tais, ao exemplo de “se é que 
você me entende”. Por outro lado, quando o objetivo é ocultar informações ou realizar 
atos escusos, costumam ser utilizados termos mais discretos, os quais possibilitem ao 
emissor se isentar de qualquer responsabilidade, colocando a culpa sobre a língua por 
meio de uma suposta falha na comunicação com o destinatário.
Nas línguas de sinais, os inuendos costumam ser acompanhados de expressões 
não manuais menos convencionais que indicam insinuações. Além disso, de maneira 
especial, vemos muitos inuendos nas piadas e no humor, os quais estão muito presentes 
na Literatura Surda. Tray (2005) investiga esses processos na língua de sinais americana 
(ASL) e mostra um esquema detalhado de como ocorre uma narrativa e quais os papéis 
do inuendo para produzir a “graça” de uma piada.
FONTE: Traduzida e adaptada de Tray (2005, p. 104)
FIGURA 11 – MODELO DE RESOLUÇÃO DA INCONGRUÊNCIA DE SULS
Vemos então que o inuendo pode estar a serviço de diferentes funções, como 
o humor. É por isso que se torna um desafi o tão grande realizar a interpretação (e até 
mesmo a tradução) de uma piada em língua de sinais. É necessário um conhecimento 
muito profundo do tipo de humor do emissor para que haja uma identifi cação rápida do 
sentido que está querendo ser produzido por meio das insinuações. 
173
FONTE: Traduzido e adaptado de Tray (2005, p. 108)
QUADRO 11 – POSSÍVEIS RESULTADOS DE AÇÕES COM INUENDOS
Enquanto estamos no terreno do humor, os riscos podem ser um pouco mais 
atenuados; por outro lado, quando estamos em discussões acaloradas ou em diálogos 
oficiais, a presença de inuendos pode ser um problema, pois a existência de significados 
em aberto deixam margem para quaisquer interpretações.
Intenção do 
emissor
Interpretação do 
destinatário
Expectativa 
do emissor
Expectativado 
destinatário
Quer ofender Se sente ofendido Insulto Insulto
Quer ofender
Não se sente 
ofendido
Insulto Entretenimento
Não quer ofender Se sente ofendido Entretenimento Insulto
Não quer ofender
Não se sente 
ofendido
Entretenimento Entretenimento
Assim, podemos entender que existe uma série de riscos envolvidos entre o 
que o emissor pretende e o que o destinatário entende. Enquanto profissionais que 
atuam na mediação da comunicação entre esses dois papéis, estamos em uma posição 
bastante delicada ao lidarmos com significados e compreensões dúbias. 
Dessa forma, os inuendos se tornam pontos críticos que devem ser levados em 
consideração durante o processo de tradução e interpretação, enfrentados por meio 
da nossa consciência diante das informações sendo produzidas e trocadas. Isso é algo 
que não necessariamente pode ser ensinado – o que seria bastante improvável em um 
curto período de tempo –, mas adquirido aos poucos durante o uso da língua e a prática 
da interpretação.
4 CLASSIFICADORES E DATILOLOGIA
Os últimos pontos deste tópico envolvem os classificadores e a datilologia. Não 
veremos especificamente as características de cada um desses conceitos, visto que 
vocês ou já tiveram ou ainda terão contato com eles nas disciplinas que envolvem a 
Linguística das Línguas de Sinais. Neste subtópico, veremos como esses recursos podem 
se fazer presentes nas práticas de tradução e interpretação, em quais momentos eles 
podem ser utilizados e quais as possíveis estratégias utilizadas para sua transposição.
174
“Classificadores são sinais considerados altamente complexos produzidos nas diferentes 
línguas de sinais, pois são polimorfêmicos, ou seja, envolvem diferentes informações 
produzidas em um único sinal sem uma forma lexical estável. Os classificadores são também 
chamados de descrições imagéticas ou descrições visuais, pois apresentam em sua forma 
uma representação do mundo real, logo, icônica. Integram um componente instável do 
léxico porque são combinados a cada vez, de acordo com a referência ao mundo real, que 
pode incluir o evento, a forma do referente, a forma do evento em si, o modo e o tempo, 
produzidos simultaneamente em um único sinal” (QUADROS, 2019, p. 30).
IMPORTANTE
FIGURA – CLASSIFICADORES
FONTE: <https://shutr.bz/3HdCmK7>. Acesso em: 11 nov. 2021.
Classificadores costumam ser tidos como grandes desafios para muitas pessoas 
que utilizam a língua de sinais. Em geral, assustam por não possuírem uma forma estável 
e poderem assumir diferentes significados que inicialmente não fazem parte do léxico 
já conhecido. 
Por outro lado, é um recurso que, na maior parte das vezes, proporciona uma 
maior liberdade aos interlocutores, seja pela economia de tempo, seja pelo respeito 
à lógica espacial-visual na qual a língua de sinais opera. Para muitos linguistas, os 
classificadores são considerados elementos nativos das línguas de sinais, e justamente 
por isso se configuram como desafios para as pessoas que adquirem essas línguas 
posteriormente na vida.
Uma coisa importante que sempre faz parte de um classificador é a existência 
de diferentes morfemas, cada um tendo um significado por si só. Em geral, existem 
certos tipos de configurações de mão que representam algumas situações, como é o 
caso da configuração de mão em “V” com os dedos para baixo, que representa uma 
pessoa em pé. Da mesma forma, a configuração de mão em “1” com o dedo para cima 
também pode representar uma pessoa. 
https://shutr.bz/3HdCmK7
175
FIGURA 12 – CONFIGURAÇÕES DE MÃO (CM) EM LIBRAS
FONTE: Pizzio et al. (2009, p. 15)
A confi guração de mão em “5” com as pontas dos dedos para baixo costuma 
representar animais quadrúpedes ou veículos de quatro rodas. Dessa forma, entender 
os signifi cados dos morfemas mais usuais dos classifi cadores costuma ser sufi ciente 
para que se compreender o signifi cado do todo. Vejamos os exemplos mais comuns:
176
Categoria CM Exemplos de CL
Fino
5
45
BARRA-FERRO-CONSTRUÇÃO
FIO-DENTAL-FINO
Plano
56 ou 53 MESA-PLANA
TELHADO-RETO
PORTA-ARMÁRIO-RETA
Plano com ângulo
30 PRATELEIRA
ESTANTE
Espessura fina
17
45
LÂMINA-FERRO
LIVRO-FINO
ALIANÇA-FINA
Espessura média
18 LIVRO-MÉDIO
ALIANÇA-MÉDIA
Espessura grossa
19 LIVRO-GROSSO
ALIANÇA-GROSSA
Espessura grossa e densa
28 ESPESSURA-MESA
ESPESSURA-SAPATO
Arredondado
22 CABO-VASSOURA
CANO
Arredondado médio e grosso
29 LUMINÁRIA-ARREDONDADA
CANECA-COPO
Retângulo
18 RÉGUA
FAIXA-TESTA
FAIXA-CABELO
Quadrado
38 PORTA-RETRATO
CAIXA-CD
QUADRO
Largura
14
53
MEDIDA DE ALGO PEQUENO
MEDIDA DE ALGO GRANDE
Altura
56 HOMEM-ALTO
HOMEM-BAIXINHO
OBJETO-NO-ALTO
OBJETO-EM-BAIXO
FONTE: Pizzio et al. (2009, p. 16)
QUADRO 12 – CLASSIFICADORES (CL) DE TAMANHO E FORMA
177
QUADRO 13 – CLASSIFICADORES (CL) DE ENTIDADES
Categoria CM Exemplos de CL
Humano – 1 pessoa
14
49
48
HUMANOIDE-PASSANDO-UM-PELO-OUTRO
HUMANOIDE-PASSANDO
HUMANOIDE-ANDANDO
HUMANOIDE-CAINDO
HUMANOIDE-DEITADO
HUMANOIDE-PARADO
Humano – 2 pessoas 49 2-HUMANOIDES-PASSANDO
Humano – 3 pessoas 51 3-HUMANOIDES-PASSANDO
Humano – 4 pessoas 54 4-HUMANOIDES-PASSANDO
Humano – 5+ pessoas
61 PLATEIA-EM-AUDITÓRIO
MUTAS-PESSOAS-CAMINHANDO
MUITAS-PESSOAS-VINDO
Animal andando
7
48 ou 56
36
ELEFANTE-ANDANDO
CACHORRO-ANDANDO
GATO-ANDANDO
AVES-ANDANDO
Animal nadando
57 PEIXE-NADANDO
GOLFINHO-NADANDO
Animal rastejando
57
14
JACARÉ-RASTEJANDO
COBRA-RASTEJANDO
LESMA-RASTEJANDO
Animal voando
61 BORBOLETA-VOANDO
PÁSSARO-VOANDO
Animal pulando
58 COELHO-PULANDO
SAPO-PULANDO
Veículos em geral em 
locomoção
57 AVIÃO-LOCOMOVENDO-SE
ÔNIBUS-LOCOMOVENDO-SE
TREM-LOCOMOVENDO-SE
METRÔ-LOCOMOVENDO-SE
CAMINHÃO-LOCOMOVENDO-SE
Veículos de duas rodas em 
locomoção
57 MOTO-LOCOMOVENDO-SE
BICICLETA-LOCOMOVENDO-SE
FONTE: Pizzio et al. (2009, p. 17-18)
178
CM Exemplos de CL
17 e 44 PINCELAR
PEGAR-LÁPIS
PEGAR-FOLHA
28 PEGAR-LIVRO
PUXAR-PRATELEIRA
1 e 7 PASSAR-ROUPA
PINTAR-COM-PINCEL-GROSSO
PINTAR-COM-ROLO
COZINHAR
VARRER
29 PEGAR-CELULAR
PASSAR-ESCOVA-SAPATO
FONTE: Pizzio et al. (2009, p. 19)
QUADRO 14 – CLASSIFICADORES (CL) DE VERBOS MANUAIS
Ainda que tenhamos algumas dúvidas a respeito dos classificadores durante o 
processo de tradução ou interpretação, dispomos agora de alguns elementos básicos 
para orientar a nossa compreensão, além de algumas sugestões para lidar com 
classificadores na transposição Libras-Português:
• A primeira é estar atento ao contexto e aos sinais que são apresentados antes 
e depois do classificador. Em geral, os classificadores vêm acompanhados de 
outros sinais do léxico estável que os identificam, ou pelo menos dão algumas pistas 
sobre a intenção do emissor.
• A segunda é observar com atenção os morfemas que constituem o sinal, visto 
que cada uma trará um significado adicional à composição.
• A terceira é levar em consideração as categorias de cada sinal.
• A quarta é tomarmos um tempo a mais para entender o significado do todo.
• A quinta é não ter medo de utilizar muitas palavras em português para 
descrever um classificador, pois é extremamente comum que um mesmo sinal 
classificador englobe vários significados que precisam ser expressos linearmente no 
português.
• Por fim, lembremos sempre que o classificador não é um enigma ou um desafio 
a ser vencido, mas um recurso de língua que tem um significado instável, porém 
coerente. De nada adianta utilizar um classificador se o resultado da mensagem 
produzir dúvidas nos destinatários.
179
Ao mencionarmos “categorias de cada sinal”, nos referimos aos agrupamentos de sinais 
com signifi cados semelhantes e que possuem aproximações quanto aos seus parâmetros. 
Por exemplo, sinais que expressam sentimentos costumam ser articulados no peito; sinais 
relacionados às faculdades mentais ou intelectuais costumam ser articulados na cabeça; 
sinais relacionados à educação costumam ser articulados no braço. Essas categorias 
fornecem ainda mais signifi cados na composição do classifi cador.
ATENÇÃO
FIGURA – CATEGORIA DE CADA SINAL
FONTE: <https://shutr.bz/3D5VnMi>.Acesso em: 10 nov. 2021.
As mesmas sugestões se aplicam quando decidirmos utilizar classifi cadores 
durante as transposições Português-Libras. Para muitas pessoas isso se torna um 
desafi o, por ser um tipo de construção nativa de uma segunda língua. 
Contudo, conforme a prática e a experiência vão sendo desenvolvidas, criam-
se estratégias que possibilitam a utilização de classifi cadores, mesmo num contexto de 
interpretação. Em geral, quando um profi ssional tradutor e intérprete consegue se servir 
de todos os recursos que a língua oferece, a impressão que se passa para os usuários 
do serviço é de fl uidez e segurança, pontos importantes na constituição de uma carreira 
na área.
180
Muitas pessoas costumam forçar a inserção de um classificador para 
mostrar sua competência linguística e fluência em determinada língua. 
Sugerimos que deixem esse preciosismo de lado e considerem que o 
classificador não é um objeto de desejo dos usuários das línguas de 
sinais ou uma meta a ser alcança para a obtenção de um atestado de 
fluência. Ademais, reforçamos que não deve se tratar de um enigma 
ou desafio – e isso serve não só para os classificadores, mas também 
para sinais pouco usuais da língua. Regra de ouro: de nada adianta 
haver uma erudição linguística se a mensagem não for compreendida 
claramente pelo destinatário.
IMPORTANTE
Para terminarmos este subtópico, falaremos da datilologia e seu papel nos 
processos de tradução e interpretação. Sabemos que o alfabeto manual e o uso da 
datilologia não são recursos nativos das línguas de sinais. Sua função principal é 
a aproximação com as línguas orais, em especial a língua oficial do país em que 
determinada língua de sinais é utilizada. Esse recurso se torna útil, principalmente, em 
três situações: (a) para expressar conceitos que não possuem um sinal já definido; (b) 
para expressar substantivos/nomes próprios na língua oral que não possuem um sinal 
já definido; e (c) para produzir sinais provisórios em caráter emergencial para qualquer 
termo que não possua um sinal definido. 
Um dos significados do termo datilologia, dactilologia ou quirologia é a comunicação por 
meio de sinais feitos com os dedos. Na língua de sinais, falamos de datilologia quando nos 
referimos à escrita, letra por letra, de uma palavra advinda da escrita de uma língua oral. 
Para isso, utilizamos o alfabeto manual da língua de sinais, o qual contém os símbolos que 
representam os caracteres presentes na escrita da língua oral do seu país.
NOTA
FIGURA – DATILOLOGIA/DACTOLOGIA/QUIROLOGIA
FONTE: <https://shutr.bz/3n5yxPn>. Acesso em: 10 nov. 2021.
https://shutr.bz/3n5yxPn
181
As duas primeiras situações já são bastante conhecidas por todas as pessoas 
que estudam a língua de sinais, por isso não iremos nos aprofundar nesse ponto. 
Neste momento, importa-nos mencionar a terceira situação, muito comum durante os 
processos de interpretação. 
Muitas vezes surgem palavras ou nomes próprios que não possuem sinais, e 
algumas vezes esses termos são repetidos com frequência em uma mesma narrativa/
evento. Para os usuários do serviço de tradução de interpretação, a datilologia funciona 
como uma forma de se expressar um conceito que não possui sinal, evitando um 
desconforto causado por essa ausência; para o profissional que atua na tradução e 
interpretação de língua de sinais, a datilologia costuma ser uma grande rede de proteção, 
pois fornece uma aproximação clara da língua de sinais (em geral uma língua adicional 
desses profissionais) e da sua própria língua materna.
Ainda que a datilologia seja um recurso útil e muitas vezes necessário, há de 
se considerar que a sua utilização, por não ser nativa da língua de sinais, causa alguns 
truncamentos na fluidez da sinalização, principalmente se houverem muitos termos 
desconhecidos. 
O excesso de datilologia provoca um cansaço visual e mental, além de uma 
dificuldade na compreensão e na construção de significado. Para que isso seja evitado, 
disponibilizamos a seguir algumas orientações:
• O estudo prévio dos materiais a serem utilizados no evento costuma ser de muita 
valia para evitar o uso da datilologia. Essa atitude permite a identificação de sinais 
desconhecidos e a criação de um sinal provisório anterior à atuação, o qual pode ser 
pensado em conjunto com os usuários do serviço de tradução e interpretação.
• Mantenha sempre contato visual com o usuário do serviço de tradução e interpretação, 
a fim de ter certeza de que a palavra soletrada foi compreendida com clareza.
• É possível realizar combinações durante o ato da interpretação, criando sinais 
provisórios para termos que se repetem muitas vezes no discurso. Em geral, utiliza-
se a primeira letra da palavra como configuração de mão, junto a outro sinal que 
mostre uma ideia semelhante.
• Muitas vezes o datilológico pode ser evitado por meio da composição de dois ou mais 
sinais já conhecidos. Por exemplo, o termo “anticoncepcional” poderia ser soletrado – 
o que levaria muito tempo e poderia gerar confusões com termos semelhantes, como 
“antiespasmódico” ou “antirretroviral” –, mas também poderia ser substituído por 
“REMÉDIO EVITAR GRAVIDEZ”. Embora o ideal seja a existência de um sinal específico 
para esse substantivo, durante a interpretação temos que nos munir de todas as 
ferramentas possíveis para lidar com qualquer situação.
• Priorize sempre a compreensão do conceito. Às vezes é necessário acrescentar 
algumas informações a mais para mostrar o significado da palavra. Retomando 
“anticoncepcional”, temos várias informações na mesma palavra, como “anti-” (prefixo 
que significa “evitar”), “-concepcion-” (radical que deriva de conceber ou engravidar) 
182
e “-al” (sufi xo que signifi ca “relacionado a”). Da mesma forma que os classifi cadores 
possuem vários morfemas em um mesmo sinal e carecem de uma explicação maior 
no português, o contrário também se aplica aos termos polimorfêmicos como 
“anticoncepcional”.
• Muitas vezes é preciso soletrar rapidamente uma palavra para não perder o ritmo 
da fala do emissor. Em geral, por conta da capacidade que nosso cérebro tem de 
completar lacunas, muitos profi ssionais dão ênfase à primeira e à última letra da 
palavra. Com isso, o cérebro consegue, ainda que de maneira imprecisa, inferir a que 
termo estamos nos referindo.
Por mais que a datilologia seja confortável para muitos de nós, lembremos 
sempre que ela é apenas um dos recursos que a língua oferece. Sempre 
que possível, ao nos depararmos com termos pouco comuns, devemos 
pesquisar a existência de um sinal específi co e informá-los aos usuários 
do serviço de tradução e interpretação previamente. Lembre-se: a 
datilologia é o último caso.
SANTOS, S. A. Estudos da tradução e interpretação de línguas de sinais 
nos programas de pós-graduação em Estudos da Tradução. Revista 
da Anpoll, Florianópolis, v. 1, p. 375-394, jan./abr. 2018. Disponível em: 
https://doi.org/10.18309/anp.v1i44.1148. Acesso em: 27 jun. 2021.
ATENÇÃO
DICAS
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, concluímos o último tópico da Unidade 3. Seria impossível citar 
todos os aspectos do enfrentamento linguístico que envolvem a Libras, porém, muitas 
pesquisas têm sido realizadas sobre esses assuntos, conforme já havíamos citado 
anteriormente. O artigo de Santos (2018) analisa de forma qualitativa e quantitativa 
os trabalhos publicados na área dos Estudos da Tradução, abarcando uma série de 
produções da pós-graduação que envolveram a Libras. Essa revisão de literatura mostra 
dissertações e teses com assuntos bastante pertinentes ao que temos debatido neste 
tópico e nesta unidade e pode oferecer mais materiais para estudo aos interessados.
Finalizamos esta unidade com a Leitura Complementar que já havia sido 
anunciada anteriormente. Trata-se de um texto que engloba um pouco de cada coisa 
que vimos nesta unidade, em especial, a postura do tradutor e intérprete e seu papel 
social, cultural e linguístico, juntamente com as armadilhas que existem nos processos 
emque se envolve.
183
PODER E PRIVILÉGIO: UMA EXPLORAÇÃO DA
TOMADA DE DECISÕES DE INTÉRPRETES
Debra Russel
Risa Shaw
Introdução
Pessoas Surdas e ouvintes que não compartilham um mesmo idioma 
dependem diariamente do trabalho de intérpretes de línguas de sinais em todos 
os tipos de ambientes e situações, da mesma maneira que indivíduos que não 
compartilham uma mesma língua oral trabalham com intérpretes de línguas orais. 
Como a interpretação é um processo cognitivo majoritariamente invisível para o próprio 
intérprete, discussões e reflexões sobre as decisões de interpretação e a tarefa são uma 
maneira de examinar como um intérprete conduz seu trabalho. Se, por um lado, todas as 
interações interpretadas têm consequências associadas com as decisões linguísticas, 
interacionais e éticas do intérprete, eventos que envolvem discursos jurídicos podem 
ter consequências particularmente sérias se intérpretes tomarem decisões que não 
resultam em uma interpretação eficaz e ética.
A interpretação de discursos jurídicos e o trabalho em interações jurídicas é 
uma área repleta de desequilíbrios de poder, por exemplo: entre os diferentes atores do 
sistema jurídico, que podem possuir ou não um poder institucional de acordo com seus 
papéis no processo; entre participantes Surdos e ouvintes; entre intérpretes que buscam 
informações prévias para se prepararem e advogados que retêm essa informação etc. 
O construto de poder relacionado à interpretação, especialmente no que diz respeito à 
tomada de decisões, encontra-se, apesar de todos esses fatores, relativamente sem 
relatos na literatura sobre intérpretes de línguas de sinais e faladas.
Este estudo se concentrou no discurso jurídico e em ambientes jurídicos em 
sentido amplo, incluindo contextos que vão além de interações com a polícia e em 
tribunais. Enquanto a ênfase é relativa a interações jurídicas e aos problemas que 
surgem nesses ambientes, os cenários e as descobertas se relacionam a intérpretes 
trabalhando em qualquer ambiente, independentemente dos pares linguísticos. 
Adicionalmente, as perspectivas dos intérpretes Surdos neste estudo 
necessitam ser consideradas seriamente por parte de todos os intérpretes, iniciantes 
ou experientes, Surdos ou ouvintes. Acreditamos que as descobertas se aplicam tanto 
LEITURA
COMPLEMENTAR
184
a intérpretes de línguas faladas quanto a intérpretes de línguas de sinais e a todos os 
ambientes em que atuam intérpretes. Interpretar é interpretar, e os resultados revelados 
neste conjunto de dados são importantes e devem ser considerados pela profissão.
Neste artigo, relatamos as principais descobertas de como os intérpretes 
discutiram os construtos de poder e as dinâmicas de poder conforme aparecem em 
suas atuações como intérpretes. Nosso foco inclui a relação entre a consciência dos 
intérpretes sobre suas tomadas de decisão e o modo como eles preparam e executam 
seu trabalho. Uma estrutura interseccional enriquece as compreensões de fenômenos 
sociais e sistemas de poder (COLLINS, 1998, 2012). 
Collins (1998, 2004) define poder como um fenômeno que intersecciona a 
relação entre aqueles que têm privilégio concedido por virtude de sistemas institucionais 
sociais e aqueles sem esses mesmos privilégios. Mason e Ren (2012) afirmam que o 
poder institucional reside em organizações, governos e outras autoridades. Além disso, 
Lorde (1984, p. 339) afirma que “[...] existem muitos tipos de poder, usados e não-
usados, reconhecidos ou não..”. Todos esses construtos têm particular relevância para 
intérpretes, especialmente intérpretes que trabalham em ambientes jurídicos. 
De que maneiras intérpretes perpassam pelos sistemas institucionais na 
execução de seu trabalho? Estão conscientes de, e será que reconhecem, o poder 
que têm em virtude de serem intérpretes que têm acesso a conhecimentos e recursos 
linguísticos e culturais indisponíveis aos outros participantes de uma dada interação? 
De que maneiras fazem uso desse poder? Essas perguntas são exploradas a seguir.
Metodologia
O objetivo deste estudo era explorar a experiência de intérpretes veteranos 
trabalhando em ambientes jurídicos, fazendo perguntas a indivíduos que estão em 
condições para discutir e refletir sobre seu trabalho, suas decisões e os processos de 
tomada de decisão. As seguintes perguntas de pesquisa estruturaram o estudo:
1. De que maneira intérpretes jurídicos experientes demonstram consciência das 
relações de poder em seu trabalho com o discurso jurídico e/ou em ambientes 
jurídicos?
2. Que decisões os intérpretes tomam que contribuem de maneira positiva ou negativa 
para as relações de poder dentro de uma interação interpretada?
3. Que aspectos relacionados ao contexto são vistos pelos intérpretes como fatores 
que influenciam suas decisões profissionais?
4. Quais são as experiências de intérpretes Surdos e ouvintes que atuam em equipes 
em ambientes jurídicos?
Nós conduzimos um estudo de métodos mistos que incluiu intérpretes de 
ASL-Inglês, Surdos e ouvintes, do Canadá e dos Estados Unidos. Usamos uma amostra 
185
intencional para selecionar intérpretes experientes que trabalham em ambientes jurídicos 
para compreender as perspectivas e os processos de tomada de decisão que podem 
contribuir para as dinâmicas de poder nessa área especializada. Isso inclui interações 
que têm um componente ou consequência jurídica, incluindo o seguinte: eventos em 
tribunais ou relacionados a tribunais; interações com órgãos de aplicação da lei, trabalho 
social, escola, emprego, entrevistas e reuniões médicas; interações advogado-cliente 
etc. Usamos análise fenomenológica interpretativa (AFI) para compreender fenômenos 
particulares em contextos particulares (SMITH; FLOWERS; LARKIN, 2009).
Implicações para a prática e o treinamento constante
Este estudo identifica várias implicações para intérpretes e formadores de 
intérpretes que trabalham na área especializada do discurso jurídico e dentro de 
contextos jurídicos. As respostas dos participantes resultaram em temas que sugerem 
que os intérpretes reconhecem as construções de poder e seus efeitos. Os dados também 
sugerem que as decisões dos intérpretes são dirigidas por sua consciência (ou pela falta 
dela) de poder e dinâmicas de poder, seu senso (ou falta dele) de controle, a maneira 
pela qual entendem, conceituam e realizam sua tarefa de interpretação, e o tipo e a 
quantidade de formação e a experiência que tiveram. Em todos esses temas, é evidente 
que a construção de relações respeitosas e profissionais entre todos os participantes 
contribui para uma interpretação eficaz e para a natureza cíclica e recursiva de tomadas 
de decisões eficazes nas interações imediatas e subsequentes.
Além disso, com a formação adequada, os intérpretes podem entender seu 
tremendo poder para afetar a vida das pessoas por meio de suas decisões. Ficou claro 
que existem diferentes caminhos de formação para esse ambiente especializado e 
que os profissionais que trabalham nessa área podem se beneficiar de um treinamento 
contínuo, construído sobre uma estrutura que inclui explicitamente o exame da dinâmica 
do poder e das tomadas de decisões, de como a tarefa de interpretar é conceitualizada 
e de como o comportamento agentivo pode levar a escolhas éticas e eficazes. Uma 
formação que aborde como os intérpretes conceituam a tarefa de interpretar parece ser 
um fator-chave no sucesso da interação interpretada, em que o poder é mediado pela 
interpretação. 
Com base nas respostas dos participantes, as seguintes recomendações 
emergiram:
1. Revisar as oportunidades de treinamento e/ou mentoria disponíveis para intérpretes 
que trabalham com o discurso jurídico e em ambientes jurídicos para garantir que 
conceitos de poder e privilégio e a consciência desses conceitos sejam parte explícita 
do treinamento.
2. Revisar as oportunidades de treinamento e/ou mentoria disponíveis para intérpretes, 
de modo a garantir que tenham acesso a treinamento contínuo que se concentre 
nos conceitosde senso de controle e em como um indivíduo conceitualiza a tarefa 
186
de interpretar, garantindo que esses elementos estejam inseridos em simulações, 
análises de estudos de caso e encontros de mentoria.
3. Revisar as oportunidades de treinamento e/ou mentoria disponíveis às equipes de 
intérpretes Surdos e ouvintes para garantir que conceitos de relações de poder, 
audismo, sensibilidade intercultural e estratégias – para construir equipes eficazes 
que não retirem poder de intérpretes Surdos –, estejam inseridos em simulações, 
análises de estudos de caso e encontros de mentoria.
4. Garantir que mentores e supervisores trabalhando com intérpretes em carreira 
de especialização jurídica tenham compreensão clara de dinâmicas de poder, 
conceitualização da tarefa e práticas agentivas, para que possam engajar outros 
em conversas e possam modelar práticas que reconheçam e demonstrem esses 
conceitos em uma estrutura de tomadas de decisões éticas.
5. Abordar a formação necessária para que intérpretes construam relações eficazes com 
equipes de intérpretes (equipes de Surdos, equipes de Surdos e ouvintes, equipes de 
ouvintes), e com consumidores de serviços de interpretação, para que possam criar 
condições de trabalho mais eficazes e impactar o trabalho de maneira positiva.
Conclusão
Os participantes deste estudo demonstraram uma consciência da dinâmica do 
poder e de como os construtos de poder os afetam como intérpretes em nível individual, 
e como eles enquanto intérpretes afetam a dinâmica do poder em uma interação 
interpretada por meio de suas decisões conscientes e inconscientes. 
Nos vários temas, vemos que a maneira como o intérprete reconhece 
conscientemente o poder também influencia a maneira como conceitua a tarefa de 
interpretar, especialmente na aplicação do seu próprio poder profissional, a fim de tomar 
decisões mais agentivas e eficazes. O estudo também revelou exemplos perturbadores 
da dinâmica de poder entre intérpretes ouvintes e Surdos e como decisões inadequadas 
podem alterar as relações profissionais entre todos os participantes.
Uma abordagem construída sobre os temas principais poderia servir como uma 
base possível para a formação, a supervisão e a mentoria de intérpretes em geral e para 
a formação para trabalhar na especialização jurídica. 
A partir dos dados, a fundação de decisões eficazes parece começar com 
uma forte compreensão do poder e dos privilégios em dois níveis: social e pessoal. Da 
percepção pessoal de poder e privilégio é possível desenvolver um senso de controle 
e compreensão de poder e privilégio nas interações. Isso pode ser aplicado à maneira 
como um intérprete entende o que significa fornecer uma interpretação eficaz e precisa 
em todos os contextos.
187
Em última análise, esse processo de tomada de decisões é influenciado pela 
formação generalista dos intérpretes e, posteriormente, pelo treinamento especializado 
para interpretar em contextos jurídicos. Outras pesquisas que examinem o impacto 
da formação de intérpretes para essa especialidade, utilizando-se desses construtos, 
beneficiariam a área.
FONTE: Adaptada de RUSSELL, D.; SHAW, R. Poder e privilégio: uma exploração da tomada de decisões de 
intérpretes. Revista Espaço, Rio de Janeiro, n. 51, p. 127-159, jan./jun., 2019. Disponível em: https://www.
ines.gov.br/seer/index.php/revista-espaco/article/view/605. Acesso em: 10 ago. 2021.
188
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Existem muitos recursos linguísticos que envolvem figuras de linguagem e expressões 
pouco convencionais que fazem parte da Libras.
• Existem várias formas de se expressar ideias semelhantes por meio de diferentes 
estratégias, em especial nos casos mais complicados que envolvem comparações, 
metonímias, metáforas, gírias, expressões idiomáticas, inuendos, classificadores e 
datilologia.
• Elementos complexos como inuendos fazem parte do nosso cotidiano e influenciam 
nossa comunicação cotidiana e, em especial, os processos de tradução e interpretação 
de Libras.
• Todos os elementos recém mencionados estão presentes tanto na língua portuguesa 
quanto na Libras e é necessário ter atenção para lidar com o surgimento destes nos 
discursos.
• Podemos identificar os fenômenos linguísticos apresentados tanto da língua 
portuguesa quanto na Libras, bem como produzir relações entre essas duas línguas.
• Ainda que existam sugestões e orientações básicas para lidar com elementos mais 
complexos, a prática e a experiência no uso da língua se constituem como pontos 
fundamentais da construção de estratégias de enfrentamento linguístico.
189
1 Neste tópico, analisamos três figuras de linguagem importantes: a 
comparação, a metonímia e a metáfora. A respeito dessas três figuras de 
linguagem, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
( ) A comparação costuma vir acompanhada de algum conectivo ou advérbio. Na 
Libras, pode ser mostrada com alguns sinais específicos, como o de “IGUAL”.
( ) A metonímia possui vários tipos, mas é caracterizada principalmente pela substituição 
de um termo comum por outro figurado e que lhe é próximo.
( ) A metáfora é composta de afirmações que não fazem nenhum sentido real e 
carecem de uma explicação quando aplicadas.
( ) A metáfora pode ser considerada um tipo de comparação, porém não utiliza 
conectivos ou advérbios.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – F.
2 As gírias e expressões idiomáticas fazem parte da língua e se modificam 
ao longo do tempo, da história, dos povos, dos acontecimentos. Em relação 
à postura do tradutor e intérprete de Libras ao se deparar com gírias e 
expressões idiomáticas, assinale a alternativas CORRETA.
a) ( ) O profissional deve oralizar/sinalizar somente o significado global dos termos em 
detrimento da forma.
b) ( ) O profissional deve analisar se tais termos possuem uma relação entre as línguas 
para avaliar a adequação de uma transposição literal ou de uma tradução livre.
c) ( ) O profissional deve oralizar/sinalizar literalmente o que cada termo significa, sob 
pena de estar deixando de mostrar a erudição linguística empregada pelo emissor.
d) ( ) O profissional não deve oralizar/sinalizar esses termos, pois costumam causar 
muita confusão na comunicação.
3 No final deste tópico, abordamos o assunto da datilologia. Na prática de 
tradução e interpretação – em especial nesta última –, muitas vezes se faz 
necessário o uso desse recurso. Considere as seguintes afirmações acerca 
da datilologia na interpretação de Libras.
AUTOATIVIDADE
190
I- O seu uso pode ocorrer sempre e em qualquer situação, visto que é um recurso 
confortável para o tradutor e intérprete de Libras.
II- Nem sempre é indicado, pois o alfabeto manual não faz parte do léxico nativo da 
Libras.
III- Em geral, é utilizada para expressar conceitos que não possuem um sinal amplamente 
convencionado na Libras.
IV- Seu uso não costuma atrapalhar a fluidez do discurso, desde que o profissional 
intérprete seja rápido o suficiente para soletrar toda a palavra corretamente.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas I e III estão corretas.
b) ( ) Apenas I e IV estão corretas.
c) ( ) Apenas II e III estão corretas.
d) ( ) Apenas II e IV estão corretas.
4 Os classificadores são sinais polimorfêmicos e instáveis, muitas vezes 
único em cada discurso e para cada emissor. Apesar disso, seu significado 
costuma ser claro e, mesmo que provoque uma estranheza por ser diferente 
do léxico estável, seu emprego facilita a compreensão de muitas expressões 
complexas. Disserte sobre o uso de classificadores no processo de tradução 
e interpretação de e para Libras, juntamente com os cuidados que devem ser 
tomados pelo profissional.
5 Analisamos o significado e os efeitos dos inuendos no discurso. Em geral, são 
mecanismos que expressam sugestões ou insinuações de cunho humorístico,irônico, sexual, escuso, ameaçador e argumentativo. Pensemos num 
contexto em que esteja ocorrendo um debate político e você seja o intérprete 
responsável naquele momento. Os debatedores estão insinuando uma série 
de questões e fazendo acusações de forma sutil e sugestiva, deixando suas 
palavras abertas para a interpretação do público. Cite algumas formas pelas 
quais você poderia expressar esses inuendos por meio da Libras.
191
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