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1 Conceitos, Fontes e Princípios

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DIREITO 
PROCESSUAL 
PENAL 
CONCEITOS, FONTES E PRINCÍPIOS 
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
1.1. CONCEITO 
 
O Direito Processual Penal é um ramo do Direito Público que, por meio de 
princípios e regramentos, disciplina a persecução penal, a qual é composta por 
uma etapa preliminar, chamada de Inquérito Policial (IP), e por uma fase 
subsequente, chamada de Processo Criminal, sendo, portanto, instrumental ao 
Direito Penal. 
 
 
1.2. PAPEL DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
Aplicar a lei penal, utilizando o devido processo legal, objetivando proporcionar 
o contraditório e ampla defesa ao indivíduo e, em este sendo condenado, aplicar 
a pena. 
 
 
1.3. PAPEL DO ESTADO 
 
Garantir a Paz Social por meio de suas leis, ainda que usando a força necessária, 
por meio do Direito Penal, com o objetivo de evitar que bens jurídicos relevantes 
sejam atingidos por condutas ilícitas, prevendo penalidades ao agente agressor, 
conforme as circunstâncias. 
 
 
1.4. JUS PUNIENDI 
 
É o poder dever de punir aquele que ofende um bem jurídico relevante sem a 
devida justificativa. 
 
• O jus puniendi em abstrato é a previsão legal da conduta; 
 
• O jus puniendi em concreto é o desenvolvimento da atividade estatal em 
busca da aplicação da pena; 
 
• A persecutio criminis é o conjunto de atividades realizadas pelo Estado para 
efetivar o jus puniendi; 
 
1.5. FONTES 
 
Material 
(fonte de criação) 
União (regra) e Estados e DF (competência suplementar). 
Formal 
(fonte de expressão) 
Imediata/Direta CF, Lei e Tratados Internacionais. 
Mediata/Indireta Doutrina, jurisprudência, costumes, princípios. 
 
 
 
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2. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO 
 
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, 
ressalvados: 
 
• Conforme o princípio da territorialidade, o ato será regido pela lei processual do 
local em que foi praticado (soberania nacional); 
 
• De acordo com o princípio da territorialidade absoluta, não há previsão legal de 
aplicação do CPP em processos que ocorram fora do território nacional; 
 
• Segundo a doutrina, o CPP pode ser aplicado fora do território nacional em caso 
de território in nullius (sem soberania), de intervenção militar e de acordo 
internacional; 
 
• O crime que ocorrer fora do Brasil também pode ser punido no Brasil (aspecto 
material), mas a aplicação do processo ocorrerá somente no Brasil (aspecto 
processual) e não será aplicada lei estrangeira a processo que ocorra no território 
nacional. Entretanto, o CPP pode ter sua aplicação afastada nos seguintes casos: 
 
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; 
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, 
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do STF, nos crimes 
de responsabilidade; 
III - os processos da competência da Justiça Militar; 
IV - os processos da competência do tribunal especial; 
V - os processos por crimes de imprensa. 
 
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV 
e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. 
 
• O Princípio da territorialidade poderá ser afastado se, mediante tratado 
internacional celebrado pelo Brasil e referendado internamente por decreto, 
houver disposição que determine, nos casos que ele indicar, a aplicação de norma 
diversa; 
 
• A Convenção de Viena concede imunidade penal para representantes 
diplomáticos (absoluta), funcionários da embaixada (relativa) e membros da ONU 
(relativa); 
 
• Para que os tratados e convenções tenham validade, devem ser ratificados pelo 
Congresso Nacional, por meio de um decreto legislativo; 
 
• Regras de direito internacional podem preencher lacunas de forma subsidiária, 
ou seja, quando a legislação pátria não regular, é possível a aplicação dessas regras; 
 
• A doutrina entende que o CPP pode ser aplicado subsidiariamente em processos 
que se enquadrem em ritos específicos (Lei 9.099, Lei 11.343 etc.); 
 
 
 
 
 
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3. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO 
 
Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos 
realizados sob a vigência da lei anterior. 
 
• De acordo com o princípio da imediaticidade, a lei processual penal será aplicada 
tanto aos processos em andamento, sem prejuízo aos atos já realizados (sistema 
do isolamento dos atos processuais), quanto aos processos novos, ainda que mais 
gravoso ao réu – tempus regit actum; 
 
• A lei processual penal posterior, ainda que favoreça o agente, não será aplicada 
aos fatos anteriores (irretroatividade da lei processual); 
 
EXCEÇÕES NA APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 
Norma Processual 
Pura 
- Prazo alterado, mas em aberto (aplica-se o maior prazo) 
- Recurso extinto com prazo em aberto (aplica-se, ainda que já extinto) 
Norma Processual 
Material 
- Não se aplica o princípio da imediatidade (vale a mais benéfica) 
- Norma de execução penal (vale a mais benéfica) 
 
 
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL 
 
Art. 3º - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem 
como o suplemento dos princípios gerais de direito. 
 
Interpretação Extensiva Serve para fazer uma ampliação. 
Aplicação Analógica Serve para suprir uma lacuna. 
Princípios gerais do direito Utilizado apenas de forma subsidiária. 
*No CPP, a analogia é possível tanto para beneficiar quanto para prejudicar; 
 
• Na interpretação analógica, o legislador descreve exemplos e encerra com uma 
cláusula genérica (vontade da lei). Na analogia (comparação), não há lei prevendo 
a situação, sendo necessário aplicar outra disposição legal que não foi inicialmente 
prevista para o caso concreto. Ambas se aplicam no CPP; 
 
• A aplicação analógica in malam partem só pode ocorrer diante de normas 
tipicamente processuais, visto que é vedada diante de normas materiais; 
 
 
5. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
5.1. DEVIDO PROCESSO LEGAL 
 
Consiste em assegurar a qualquer litigante a garantia de que o processo em que 
for parte, necessariamente, se desenvolverá na forma que a lei estabelece. 
 
CF, art. 5, LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal; 
 
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5.2. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA 
 
É a garantia de que ninguém pode ser considerado culpado senão após o 
trânsito em julgado de uma sentença condenatória. 
 
CF, art. 5, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória; 
 
• Decorre desse princípio que, para demonstrar a culpabilidade, a prova cabe à 
acusação; 
 
• Havendo dúvida quanto à culpa do agente é de rigor a sua absolvição - in 
dubio pro reo; 
 
• É um princípio relativo, visto que o cumprimento da pena pode se iniciar com 
a mera condenação em segunda instância por um órgão colegiado – STF; 
 
• Processos criminais em curso e inquéritos policiais em face do acusado não 
podem ser considerados maus antecedentes, nem circunstâncias judiciais 
desfavoráveis – STJ; 
 
 
5.3. PUBLICIDADE 
 
Todo processo é público, constituindo um requisito de democracia e de 
segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem em segredo de justiça). É 
estipulado com o objetivo de garantir a transparência da justiça, a imparcialidade 
e a responsabilidade do juiz. 
 
CF, art. 5, art. 93. Lei complementar, de iniciativa do STF, disporá sobre o Estatuto da 
Magistratura, observados os seguintes princípios: 
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a 
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a 
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo 
não prejudique o interesse público à informação; 
 
• É um princípiorelativo, visto que a publicidade pode ser restringida às partes 
e a seus procuradores ou somente a estes; 
 
 
5.4. SILÊNCIO 
 
O réu possui o direito de não produzir provas contra si, entretanto pode ser 
submetido à obrigatoriedade de estar presente em atos do processo (ex. 
reconhecimento pela vítima). 
 
CF, art. 5, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de 
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado. 
 
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5.5. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO 
 
O réu tem direito a um amplo arsenal de instrumentos de defesa como forma 
de compensar sua enorme hipossuficiência e fragilidade em relação ao Estado. 
 
CF, art. 5, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela 
inerentes; 
 
Súmula 523/STF - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas 
a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. 
 
 
5.6. IN DUBIO PRO REU / FAVOR REI 
 
Decorrente do princípio da presunção de inocência, esse princípio determina 
que, no momento do veredito, havendo dúvida por parte do magistrado, a 
decisão prolatada deve ser em favor do réu. 
 
• Apesar disso, esse princípio não tem aplicação nas fases de oferecimento 
da denúncia e na prolação da decisão de pronúncia do Tribunal do Júri, 
nas quais prevalece o princípio do in dubio pro societate; 
 
 
5.7. JUIZ NATURAL 
 
É a garantia de que não haverá um Tribunal de Exceção, ou seja, um tribunal 
para julgar fatos isolados e de que haverá regras para definição de competência 
do juiz do caso. 
 
CF, art. 5, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade 
competente; 
 
CF, art. 5, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 
 
 
5.8. VEDAÇÃO ÀS PROVAS ILÍCITAS 
 
É o direito de admitir no processo somente aquelas provas oriundas de meios 
lícitos. 
 
CF, art. 5, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 
 
• Somente pode ser utilizada quando for o único meio de provar a inocência 
do réu;

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