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ESTATÍSTICA APLICADA À SAÚDEESTATÍSTICA APLICADA À SAÚDE ESTUDOSESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS E AEPIDEMIOLÓGICOS E A ÉTICA EM PESQUISAÉTICA EM PESQUISA Au to r ( a ) : M e . M a rc e l o Tava re s d e L i m a R ev i s o r : M e . R e n a t a C r i s t i n a d e S o u z a C h a t a l ov Tempo de leitura do conteúdo estimado em 1 hora. Introdução Prezado(a) estudante! Seja muito bem-vindo(a) a esta disciplina. Saiba que ela é de extrema importância para sua formação. E, para que você possa aproveitá-la da melhor forma possível, é importante que se dedique para que possa aproveitar o conteúdo de forma satisfatória. Este texto apresenta conceitos fundamentais sobre os métodos estatísticos utilizados em estudos epidemiológicos, que estão relacionados, principalmente, com a inferência estatística, que talvez você já tenha visto em disciplinas do seu curso ou mesmo nos seus estudos escolares básicos (Ensino Fundamental e Ensino Médio). Iniciaremos nossos estudos apresentando a questão ética relacionada a estudos epidemiológicos realizados em seres humanos e conceitos associados, assim como a descrição dos principais delineamentos de estudos existentes. Também serão descritos exemplos de aplicação para melhor compreensão e �xação dos conceitos. No decorrer desse estudo, serão apresentados os métodos estatísticos mais utilizados em epidemiologia, juntamente com exemplos de aplicação em programas computacionais, como o SPSS (Statistical Package for Social Science) e o R. Portanto, convido você a se aprofundar mais no assunto! Vamos lá?! Tenha um excelente momento de estudo! O objetivo da análise de conglomerados, também conhecida como análise de agrupamentos ou de cluster, é particionar um conjunto de dados em grupos que são internamente homogêneos e externamente distintos, ou seja, segmentar ou agrupar em grupos menores (subgrupos). A classi�cação é realizada com base em uma medida de similaridade ou dissimilaridade dentro e entre os grupos. A questão ética da pesquisa cientí�ca e, em especial, a relacionada com a pesquisa clínica também é de interesse geral, assim como também dos meios de comunicação, de instituições sociais e da opinião pública. Por isso, é possível a�rmar que a questão moral associada às práticas de pesquisa tem se tornado um dos principais assuntos nas sociedades democráticas contemporâneas (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). Se houve um tempo em que a maioria dos pesquisadores acreditou que sua �rme determinação de fazer o bem, sua integridade de caráter e seu rigor cientí�co fossem su�cientes para assegurar a eticidade de suas pesquisas, nos dias de hoje esta concepção já não é mais objeto de consenso, podendo-se até a�rmar que ela se tornou minoritária se considerarmos a proliferação em nível mundial de eventos e fóruns de debates sobre o assunto (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009, p. 605). O contínuo desenvolvimento das tecnologias na área da saúde e a maior difusão do conhecimento cientí�co dos cuidados da saúde, por meios tradicionais e, também, pela internet, permitiu a ampliação da discussão sobre a ética aplicada à saúde e o crescimento dos movimentos dos direitos individuais e coletivos. Introdução à Ética Aplicada a Seres Humanos Conforme Hair et al. (2009), para realizar uma análise de cluster cuidadosa, são necessários métodos com as seguintes características: A história da regulamentação sobre pesquisas com seres humanos tem em seus registros que o primeiro documento legal que regulamenta esse tipo de pesquisa, em termos da ética, é de 1900, aprovado na Prússia (Alemanha). Nele, foi estabelecida a obrigatoriedade de obter o consentimento dos seres humanos, no entanto, com repercussões limitadas a essa região (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). A limitação regional da regulamentação de 1900 é constatada pelo registro de um teste com a vacina BCG realizado com 100 crianças na própria Alemanha, lembrado como o “desastre de Lübeck”, conhecido assim porque 75 delas vieram a falecer no decorrer do experimento. Esse fato levou o ministro do interior alemão, em 1931, a estabelecer as “Diretrizes para novas terapêuticas e pesquisas em seres humanos” (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). As diretrizes criadas pelo ministro do interior da Alemanha “determinavam a necessidade do consentimento voluntário dos sujeitos envolvidos na pesquisa, após sua devida informação a respeito dos objetivos e riscos” (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009, p. 606). No entanto, essa regulamentação não impediu que fossem realizadas experiências no período nazista daquele país. Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder, em 1933, o panorama mudou radicalmente e se agravou a partir de 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, em que alguns acontecimentos importantes permitiram que instituições médicas formulassem e realizassem políticas públicas “eugenistas” e racistas no contexto de pesquisas cientí�cas (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). As práticas de pesquisa, a partir de 1933, principalmente na Alemanha nazista, consistiram na provocação da doença no indivíduo participante do experimento, com a justi�cativa de que era necessário investigá-la. Os indivíduos objetos dessas pesquisas, muitas vezes, eram internos de hospitais psiquiátricos, asilos e penitenciárias (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). A prática de pesquisa clínica nos moldes descritos não foi exclusividade da Alemanha nazista. Existem registros históricos de que, nos Estados Unidos, durante o governo do presidente democrata Franklin Roosevelt, experimentos com seres humanos, sem o devido consentimento dos participantes ou de seus responsáveis, também, foram realizados e geraram sofrimento e morte de participantes (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). Os abusos cometidos em nome do Estado e da Ciência, apurados e denunciados mundialmente em 1947 no Relatório �nal do Tribunal Internacional de Nuremberg, levaram à elaboração do primeiro Código de conduta em pesquisas, Á internacionalmente aceito – o Código de Nurembergue (1947) (PALÁCIOS; REGO, SCHRAMM, 2009, p. 607). De forma geral, o Código de Nuremberg estabeleceu que nenhum ser humano poderia ser submetido a projetos de pesquisa sem o seu devido consentimento, sendo o primeiro documento a ter alcance internacional, por conta, principalmente, do repúdio da comunidade internacional quanto aos crimes cometidos no período nazi-fascista (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). A necessidade de regulamentação de pesquisas em seres humanos, para proteger seus participantes, e o desejo do corpo médico ter sua própria regulamentação foram motivações para a criação da Declaração de Helsinque, a qual foi aprovada pela Associação Médica Mundial, e cuja primeira versão é de 1964 (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). Desde sua primeira versão, a Declaração de Helsinque sofreu modi�cações, em que, uma delas, feita em 1975, tratou da “obrigatoriedade de aprovação prévia de qualquer projeto de pesquisa em seres humanos por um comitê de ética independente” (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009, p. 607). Em 1988, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil estabeleceu normas que tratam da ética em pesquisa com seres humanos e, em 10 de outubro de 1996, aprovou as diretrizes/normas que regulamentam pesquisas com seres humanos, denominada Resolução 196/96 (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). A Resolução 196/96 estabeleceu princípios básicos para permitir apreciação da ética em protocolos de pesquisa, criando os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O conteúdo da resolução incorpora as experiências históricas da regulamentação sobre ética em pesquisa, principalmente com base no Código de Nuremberg (1947), na Declaração dos Direitos Humanos (1948), na Declaração de Helsinque (desde a primeira versão de 1964), nas Diretrizes Internacionais para a Revisão Ética de Estudos Epidemiológicos e nas Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos, assim como em conteúdos de leis promulgadas após a aprovação da Constituição de 1988 (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM,2009; NOVOA, 2014). Samohyl (2009) estabelece que o grá�co de soma acumulada (CUSUM) é um aprimoramento do grá�co de controle X de Shewhart, este, de�nido como sendo a forma de monitoramento da média de um processo especí�co cuja característica de qualidade de interesse X é uma grandeza mensurável representada. Assim sendo, o CUSUM é o mais apropriado para se reconhecer o histórico dos dados, característica μμ ausente em grá�cos mais simples, e também para identi�car pequenas alterações nos processos muito antes dos alarmes dos grá�cos X, considerados como LSC e LIC. #PraCegoVer: o infográ�co apresenta o título “Linha do tempo da criação de normas e diretrizes sobre pesquisas realizadas com seres humanos”. Logo abaixo, há quatro botões seguidos em linha horizontal. Ao clicar no primeiro, é apresentada a data “1900” e, abaixo, o texto “Criação do primeiro documento, na Prússia, que tratava sobre ética em pesquisa com seres humanos (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009)”. Ao lado do texto, há a imagem ilustrativa de uma caneta sobre um papel. No cabeçalho do papel, tem a imagem de um círculo vermelho e, dentro dele, uma cruz. Ao clicar no segundo botão, é apresentada a data “1931” e, abaixo, o texto “O ministro - Linha do tempo da criação de normas e diretrizes sobre pesquisas realizadas com seres humanos - 1 2 3 4 1900 Criação do primeiro documento, na Prússia, que tratava sobre ética em pesquisa com seres humanos (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009). Fonte: Adaptado de ka4an/123RF. do interior da Prússia cria uma norma sobre ética em pesquisa com seres humanos (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009)”. Ao lado do texto, há a imagem ilustrativa de uma folha de papel assinada e, sobre ela, uma caneta. Ao clicar no terceiro botão, é apresentada a data “1947” e, abaixo, o texto “Criação do Código de Nuremberg, primeiro documento com abrangência mundial (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009)”. Ao lado do texto, há a imagem ilustrativa de uma folha de papel assinada e, sobre ela, uma caneta. Ao clicar no quarto botão, é apresentada a data “1996” e, abaixo, o texto “O Brasil cria seu primeiro documento que regulamenta pesquisas com seres humanos (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009)”. Ao lado do texto, há a imagem ilustrativa de uma folha de papel presa em uma prancheta. Essa folha contém um círculo vermelho e, dentro dele, uma cruz. Ao lado da prancheta, há um lápis. As contribuições coletadas foram submetidas à análise dos participantes do Encontro Nacional dos Comitês de Ética em Pesquisa (ENCEP), em que foi produzido um documento que foi submetido ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) (NOVOA, 2014). A Sessão Plenária do CNS, na 240ª Reunião Ordinária, realizada em 11 e 12 de dezembro de 2012, revogou as Resoluções CNS 196/96, 303/2000 e 404/2008, substituindo-as pela Resolução CNS 466/12, de 12 de outubro de 2012, cujo conteúdo aprova as diretrizes e normas relacionadas à ética em pesquisas com seres humanos (NOVOA, 2014). A nova resolução divide-se em 13 partes e apresenta-se mais longa e �losó�ca, levando-se em consideração referenciais básicos de bioética, como o reconhecimento e a a�rmação da dignidade, a liberdade, a autonomia, a bene�cência, a não male�cência, a justiça e a equidade, dentre outros que visam assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade cientí�ca e ao Estado (NOVOA, 2014, p. VII). Mesmo sendo atualizada, a Resolução CNS 466/12 não foi elaborada para ser um manual de regras rígidas (NOVOA, 2014). Seu conteúdo é de diretrizes que pretendem nortear o julgamento ético dos protocolos submetidos aos comitês de ética, com o estabelecimento de normas operacionais (NOVOA, 2014). Apesar de a eticidade e a cienti�cidade da pesquisa cientí�ca, em especial, daquela realizada com seres humanos, serem aspectos que caminham juntos, não cabe aos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) a emissão de pareceres sobre a metodologia utilizada no desenvolvimento dos estudos (NOVOA, 2014). O papel dos CEPs é poder ajudar os pesquisadores a perceber situações que aparecem já no desenho da pesquisa, que os diferentes olhares que constituem um comitê podem perceber facilmente e, desta forma, proteger os direitos e interesses e garantir os benefícios dos sujeitos da pesquisa, individual e coletivamente (PALÁCIOS; REGO; SCHRAMM, 2009, p. 612). A Conep também desempenha papel importante de supervisão, coordenação e orientação para todo o sistema. Ela é composta por uma comissão permanente do Conselho Nacional de Saúde, com 30 membros titulares, 4 membros suplentes e 17 convidados ad-hoc, além de 4 coordenadores (BRASIL, 2021). De acordo com Palácios, Rego e Schramm (2009), nos três primeiros anos de vigência da Resolução 196/96, foram criados 255 comitês de ética em pesquisa e, posteriormente, em 2005, já existia, no Brasil, um total de 394 comitês em atividade, de acordo com informações divulgadas pela Conep. A norma vigente, a Resolução 466/12, no item VII – Do sistema CEP/Conep, descreve a composição do sistema, em especí�co, a composição dos comitês de ética em pesquisa dos órgãos que realizam pesquisas com seres humanos. No item VII.2, está escrito: [...] os CEP são colegiados interdisciplinares e independentes, de relevância pública, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos (CNS, 2013, p. 8). Para reforçar, podemos concordar com a a�rmativa feita pelos autores Palácios, Rego e Schramm (2009, p. 612), os quais declaram que O papel dos CEPs é poder ajudar os pesquisadores a perceber situações que aparecem já no desenho da pesquisa, que os diferentes olhares que constituem um comitê podem perceber mais facilmente e, desta forma, proteger os direitos e interesses e garantir os benefícios dos sujeitos da pesquisa, individual e coletivamente. No portal da Conep, estão disponibilizados todos os documentos normativos que regulamentam as pesquisas cientí�cas brasileiras, principalmente em relação a questões éticas. Se você pretende continuar sua carreira trabalhando nesse tipo de pesquisa, é importante que os conheça. Portanto, é válido que você acesse o portal e vasculhe o seu conteúdo, continuamente. Assim, você irá se familiarizar com esse conteúdo. Não existem sistemas de medição que possam ser classi�cados como ideais. Dessa forma, é atribuição direta dos engenheiros de�nir e implantar sistemas de medição que apresentem propriedades estatísticas consideradas adequadas. Por mais tentador que seja, considerando uma série de facilitadores no seu desenvolvimento, o uso de dados secundários precisa ser avaliado, considerando aspectos como o direito à privacidade do participante e, também, o respeito à autonomia dele. REFLITA Falar sobre pesquisas com seres humanos sempre ge tensão, pois se trata de um assunto muito polêmico e q tem um histórico, de certa forma, macabro ao longo desenvolvimento das tecnologias farmacológicas terapêuticas. No entanto, é um assunto que não po deixar de ser trazido para a discussão e, principalmen para regulamentação, pois, só assim, os participant desse tipo de pesquisa estarão respaldados resguardados de grandes riscos para sua saúde. Pen sobre isso! Para o caso de uso de dados públicos, como os divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geogra�a e Estatística (IBGE) e o Datasus, por exemplo, alguns cuidados também devem ser tomados em relação ao sigilo das informações e ao uso que será dado a elas. Conhecimento Teste seus Conhecimentos (Atividade não pontuada) No desenvolvimento da pesquisa cientí�ca e, principalmente, em pesquisa com seres humanos, muitas injustiças foram cometidas com seus participantes. Diversas autoridades da história tentaram, por meio da elaboração de documentos o�ciais, proteger indivíduos que �zessem parte de experimentos. O primeiro documento, nesse sentido, que se tem registrado foi elaborado em 1947. Assinalea alternativa que apresenta corretamente como �cou conhecido esse documento. a) Declaração de Helsinque. b) Associação Médica Mundial. c) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. d) Código de Nuremberg. e) Resolução de 196. Antes de falar dos desenhos de estudos epidemiológicos, é importante que apresentemos alguns conceitos e de�nições de epidemiologia. Ela tem recebido muitas de�nições, basta procurar na literatura que trata do assunto. No entanto, vamos utilizar a de�nição apresentada por Bloch e Coutinho (2009, p. 173), que a�rmam que “trata-se do estudo da distribuição e dos determinantes dos eventos ou padrões de saúde em populações de�nidas, e a aplicação deste estudo para controlar problemas de saúde”. Para entender sua utilidade, podemos a�rmar que, de acordo com Bloch e Coutinho (2009, p. 173), os objetivos da pesquisa epidemiológica são: Descrever frequência, distribuição, padrão e tendência temporal de eventos ligados à saúde em populações especí�cas e/ou subpopulações. Explicar a ocorrência de doenças e distribuição de indicadores de saúde, identi�cando as “causas” e os determinantes da sua distribuição, tendência e modo de transmissão nas populações. Predizer a frequência de doenças e os padrões de saúde em populações especí�cas. Controlar a ocorrência de doenças e de outros eventos ou estados negativos para a saúde, através da prevenção de novos casos, cura de casos existentes, aumento da sobrevida e melhoria da saúde. A pesquisa epidemiológica tem por base a coleta sistemática de dados sobre eventos associados, principalmente, à saúde das pessoas pertencentes a populações de interesse. O tratamento analítico dado aos fatores pesquisados tem base em três procedimentos, a saber, a mensuração de variáveis aleatórias, a estimação de parâmetros populacionais e o uso de testes estatísticos (BLOCH; COUTINHO, 2009). Desenhos de Estudos Epidemiológicos Estudos que desejam avaliar fatores prognósticos e/ou que querem comparar tratamentos são muito frequentes. De forma geral, têm a intenção de avaliar a “associação entre um desfecho de interesse (por exemplo, uma doença) e a exposição a um fator de risco” (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 13). Para uma boa execução, é preciso ter cuidado no seu planejamento, a �m de evitar a produção de vícios e garantir a obtenção de controle adequado de fatores que possam interferir nos resultados. Como resultados, a depender do estudo, é possível realizar a estimação de prevalências (ocorrências existentes) ou da incidência (novas ocorrências) do desfecho de interesse (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Em situações reais, é possível que existam diversos fatores importantes para um estudo, sendo que alguns devem ser controlados e outros incorporados na análise da pesquisa. É fato que deverá existir pelo menos um fator de risco principal a ser investigado e, também, pelo menos um desfecho de interesse, pois podem existir vários (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Por questões didáticas e para melhor compreensão neste primeiro contato, vamos considerar estudos com apenas um desfecho e um fator associado (fator de risco). É possível cometer dois tipos de erros em estudos epidemiológicos, o aleatório e o sistemático. Fonte: serezniy / 123RF. Os estudos realizados na área da saúde, também conhecidos como estudos epidemiológicos ou pesquisa clínica, correspondem a uma grande variedade de problemas investigados na área da saúde. Por exemplo, estudos que envolvem “prevenção e tratamento, diagnóstico, prognóstico e causas de problemas de saúde, índices de saúde e de qualidade de vida, bem como avaliação de impacto e viabilidade econômica na implantação de inovações tecnológicas” (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 13). Erro aleatório Erro sistemático “é um resultado errado devido ao acaso” (HULLEY et al., 2015, p. 9). 1. Erro aleatório: “é um resultado errado devido ao acaso” (HULLEY et al., 2015, p. 9). 2. Erro sistemático: “pode ser entendido como um vício, também chamado viés ou tendenciosidade, que pode aparecer se não forem tomadas medidas de controle” (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 14). Os mais comuns são vícios de seleção, aferição, memória, informação e confusão. Outro aspecto de muita importância para um estudo epidemiológico é o tamanho da amostra (n), ou seja, o total de participantes do estudo obtido a partir de uma população de tamanho N (MARTINEZ, 2015). Não entraremos em detalhes neste texto, mas o que podemos a�rmar é que esse item deve ser realizado com o suporte de um pro�ssional que conheça técnicas de amostragem – para dimensionamento da amostra –, para que o estudo não contenha menos que o necessário para se obter a precisão desejada nos resultados, nem mais que o necessário, para que esforços desnecessários não sejam realizados. Para realizar um experimento, ensaio clínico ou estudo de intervenção, podemos descrever as etapas do trabalho de acordo com Siqueira e Tibúrcio (2011, p. 15): [...] o roteiro para o planejamento de um estudo na área da saúde consiste basicamente em: a) explicitar os objetivos e as hipóteses de pesquisa; b) especi�car claramente a população-alvo; c) listar as variáveis a serem consideradas; d) determinar o tamanho da amostra e esquematizar os métodos de coletar os dados, incluindo o tipo de amostragem; e) preparar o questionário, a �cha de coleta de dados ou, de forma geral, o instrumento que deve ser validado, caso isto não tenha sido feito em estudos anteriores; f) especi�car o cronograma do estudo; g) submeter o projeto/protocolo do estudo a um comitê de ética em pesquisa; h) selecionar a amostra e coletar os dados; i) editar, codi�car e entrar os dados de forma eletrônica e fazer a consistência dos mesmos; j) analisar os dado; k) relatar os achados. Vamos apresentar neste texto os principais tipos de estudos epidemiológicos, de forma resumida. Mais detalhes podem ser encontrados nas referências bibliográ�cas utilizadas para a elaboração do que está sendo apresentado a você neste texto. Continuemos a desbravar os estudos epidemiológicos. Estudos Descritivos O objetivo de um estudo descritivo, conforme o seu nome indica, é descrever aspectos e características dos participantes do estudo, inclusive do tempo e do lugar de um grupo de interesse (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Não há a intenção de fazer comparações ou qualquer tipo de análise inferencial. A unidade de observação, em geral, são os indivíduos participantes do estudo. Mas é possível considerar como unidade de observação um grupo, por exemplo, uma escola, uma indústria, municípios, estados e até mesmo países. Nesse caso, o estudo é conhecido como estudo ecológico – estudos com unidade de observação composta por mais de um elemento, sujeito ou participante (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Os principais estudos descritivos, de acordo com Siqueira e Tibúrcio (2011, p. 17), são os “estudos de casos, de uma série de casos e os baseados em dados institucionais”. Para esses estudos, não se faz necessário cálculo de tamanho amostral, pois a seleção dos participantes não é baseada em amostragem probabilística, sendo que ela recorre a métodos estatísticos para selecionar amostras aleatórias de populações de interesse (BUSSAB; MORETTIN, 2017). A aplicação de um estudo de caso consiste na descrição cuidadosa, por um ou mais dos envolvidos no estudo, do diagnóstico e da evolução do desfecho de um número reduzido de sujeitos investigados (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Trata-se do tipo mais básico de estudo clínico. Estudos de séries de casos utilizam dados de arquivos de instituições para serem realizados e consistem na apresentação detalhada e organizada dos resultados de procedimentos e de divulgação de informações consideradas relevantes. Possuem boa qualidade quando se baseiam em conjuntos de casos uniformes, que satisfaçam a um critério claro e objetivo (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Muitos estudos desenvolvidos com dados institucionais são realizados com bancos de dados de base nacional disponibilizados em diversas redes de informação, como Datasus, IBGE,dentre outros órgãos. Outro exemplo de base de dados muito utilizada em estudos epidemiológicos é o Sistema de Informação de Agravos de Noti�cação (SINAN), de responsabilidade do Ministério da Saúde do Brasil. Para exempli�car, Siqueira e Tibúrcio (2011) descrevem um estudo que avaliou o per�l epidemiológico da hanseníase na cidade de Uberaba (MG), no período de 2000 a 2006. O estudo utilizou dados do SINAN e encontrou, no período avaliado, 455 casos da doença, em que 55,4% dos registros eram de homens. Outro aspecto achado no estudo: a faixa etária de 34 a 39 anos mais frequente representava 31,4% dos casos e apenas 2% eram menores de 15 anos. Os autores do estudo consideram os achados preocupantes ao considerarem a faixa etária identi�cada com maior percentual, pois é uma população economicamente ativa, podendo ser potencial disseminadora da doença. Estudos Comparativos São estudos delineados para avaliar a existência de associação entre exposição e alguma condição relacionada à saúde (desfecho). Os principais estudos desse tipo são os de coorte, caso-controle, transversais e os ensaios clínicos. Os dois primeiros estudos citados são considerados etiológicos, ou seja, estudos que buscam descobrir associação entre fatores de riscos ambientais ou aspectos pessoais e o desfecho estudado, podendo ser uma doença (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Fonte: golubovy / 123RF. Um dos pontos fundamentais para a realização de um estudo comparativo é a correta identi�cação do desfecho (resposta) de interesse. Por exemplo, o estudo pode querer estudar a cura de uma doença ou a remissão de um tumor que, nesse caso, poderá ser representada por uma variável binária ou dicotômica. Outra possibilidade seria o interesse em avaliar o tempo de sobrevivência ou de remissão de uma doença até a recidiva. Os desfechos desse tipo de estudo poderão ser a incidência e/ou a prevalência do resultado investigado. Para tanto, podemos utilizar diferentes medidas de efeito ou de associação, como a razão ou a diferença entre proporções, o risco relativo ou, ainda, a razão de chances (odds ratio), por exemplo. Estudo de Coorte Os estudos comparativos podem ser observacionais ou experimentais. Nos observacionais, os participantes não são alocados, de forma aleatória, em fatores de estudo. Nos estudos experimentais, ou ensaios clínicos, os participantes são alocados aleatoriamente nos fatores de interesse (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Trata-se de um estudo observacional que acompanha um grupo de indivíduos por determinado período de tempo com o objetivo de avaliar algum desfecho (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). O termo coorte, de acordo com Siqueira e Tibúrcio (2011, p. 20), “é usado para designar um grupo de pessoas que tenham determinadas características em comum, por exemplo, terem nascido no mesmo ano”. No desenho do estudo, os participantes são distribuídos em grupos, conforme sua situação em relação ao fator de exposição considerado, ou seja, consideram-se grupos de sujeitos expostos ao fator de risco e o grupo controle (não exposto). Os grupos são acompanhados e as incidências do desfecho são calculadas. No geral, são estudos do tipo prospectivo. Por isso, utilizam a incidência como medida estatística para análise dos dados. A Figura 1.1 apresenta um esquema geral de um estudo de coorte, vamos analisá-la. Figura 1.1 – Esquema ilustrativo de estudo de coorte Fonte: Adaptada de Siqueira e Tibúrcio (2011). #PraCegoVer: a imagem apresenta um �uxograma composto por um círculo à esquerda com a palavra “População” em seu interior, seguido de uma reta direcional tracejada com direção a um quadrado com o texto “Pessoas sem a doença” no seu interior. Deste último, segue uma reta tracejada que se divide em duas retas tracejadas direcionadas para dois retângulos, cada uma. O retângulo superior possui em seu interior a palavra “Expostos” e o inferior o texto “Não expostos”. De cada um desses retângulos, partem retas tracejadas que se subdividem em duas retas direcionais, cada uma apontada para quatro retângulos, que representam o desfecho do estudo de coorte, contendo os seguintes termos em seu interior (de cima para baixo), “Doença”, “Sem doença”, entre os expostos ao fator de risco, e “Doença” e “Sem doença”, entre os não expostos ao fator de risco. Pode-se concluir, na existência de associação entre o desfecho e o fator, se a incidência entre expostos for mais alta do que a incidência entre não expostos, considerando além da variação devida ao acaso. Vale lembrar que, nesse tipo de estudo, a exposição ao fator é anterior ao desenvolvimento do desfecho, impedindo, assim, a ocorrência de vieses de memória e de seleção, ou, ao menos, minimizando-os. Os estudos de coorte possuem várias vantagens. Por exemplo, o pesquisador tem a possibilidade de usar critérios uniformes, tanto na identi�cação ou não do fator de risco ao início do estudo, quanto na veri�cação da ocorrência da doença nos vários exames de acompanhamento. A comparabilidade dos dois grupos (com e sem a exposição ao fator de risco) pode ser veri�cada no início do estudo e identi�cadas as variáveis para as quais são necessários ajustes na análise dos dados (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 21). Outro aspecto vantajoso de um estudo de coorte trata-se da liberdade que o pesquisador tem sobre o que medir e como medir o desfecho, já que não estará limitado ao uso de dados coletados previamente. Com isso, é possível obter medidas de risco relativo, ou seja, “é possível quanti�car o risco de desenvolver a doença comparando o grupo de expostos ao fator de risco com o grupo de não expostos” (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 21). Para exempli�car, Siqueira e Tibúrcio (2011) descrevem um estudo de coorte cujo objetivo foi avaliar o efeito da personalidade no risco de desenvolver doença coronariana. Participaram do estudo 3.154 trabalhadores do sexo masculino, com idades entre 30 e 59 anos. Os participantes entraram no estudo nos anos de 1960/1961 e foram acompanhados por um período médio de 8,5 anos. Por meio de entrevista, realizada no início do estudo, foram classi�cados em dois tipos de personalidade, indicadas por A e B, considerando que os do grupo A eram os mais agressivos, competitivos e ansiosos. A Tabela 1.1, a seguir, apresenta os percentuais de participantes que desenvolveram doença coronariana de acordo com grupo determinado previamente, assim como duas faixas etárias consideradas. Vamos analisar o conteúdo da tabela para entender melhor o que foi levantado. Tabela 1.1 – Percentual de trabalhadores que desenvolveram doença coronariana segundo faixa de idade e tipo de personalidade Fonte: Adaptada de Siqueira e Tibúrcio (2011). #PraCegoVer: A Tabela 1.1 apresenta três colunas. A primeira apresenta as faixas etárias consideradas, uma em cada linha (39 a 49 anos na segunda linha; 50 a 59 anos na terceira linha). Na segunda coluna, estão os percentuais de desenvolvimento de doença coronariana entre os participantes da pesquisa considerados como grupo A (oito vírgula noventa na segunda linha; quinze vírgula noventa na terceira linha), os mais ansiosos, agressivos e competitivos e, a terceira coluna apresenta os percentuais para o grupo B (quatro vírgula vinte na segunda linha; sete vírgula sessenta na terceira linha). Claro que outros fatores podem ter contribuído para o resultado encontrado, como tipo de trabalho, hábitos alimentares, peso corporal, hábitos de fumo e consumo alcoólico, dentre outros que podem aumentar o risco de doença cardiovascular. Podem ser complicadores para a interpretação dos resultados, no entanto, podem ser incorporados na análise, de forma apropriada, em qualquer repetição do estudo. Alguns aspectos vistos como desvantajosos para estudos de coorte podem ser o tempo de duração e, por serem, em geral, grandes estudos, o custo de sua realização. São estudos muito suscetíveis a perdas de participantes e podem ser afetados por uma série de mudanças nos critérios diagnósticos e por alterações ocorridas nos grupos em estudo, como mudança de hábitos dosparticipantes, por exemplo (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Para exempli�car, vamos considerar o estudo de Framingham, iniciado no ano de 1948, para estudar doenças coronarianas e sendo modi�cado ao longo de sua realização, passando a incluir outras doenças, como câncer, demência, artrite, osteoporose e desordens auditivas e visuais (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Faixa de idade (anos) Personalidade A B 39 a 49 8,90 4.20 50 a 59 15.90 7,60 Outro aspecto que pode ser considerado desvantajoso para estudos de coorte corresponde a estudos de doenças raras, pois, quanto mais rara for a doença, mais sujeitos deverão ser investigados, se a intenção é estabelecer associação entre exposição a um fator e a doença. Estudo Caso-controle Assim como os estudos de coorte, são os estudos observacionais, no entanto, eles são especi�camente retrospectivos, com o objetivo de comparar dois grupos em relação ao fator de exposição. O grupo considerado caso é composto pelos participantes com o desfecho de interesse (doença ou outra condição) e o grupo controle é composto pelos participantes que não possuem o desfecho. A intenção é estimar a proporção de expostos ao fator de risco nos grupos caso e controle. O estudo é iniciado com o levantamento da história clínica dos participantes selecionados. Em seguida, busca-se saber se o fator de risco está presente e, se estiver, onde, mais frequentemente, ou seja, em qual dos grupos. Se houver evidência su�ciente, deverá ser concluído que existe associação entre o fator de risco considerado e o desfecho. Esse tipo de estudo produz medida de prevalência do desfecho de interesse. Não é possível obter informação sobre a incidência porque se trata de estudo com grupos de�nidos em relação ao desfecho, no início de seu planejamento, ou seja, de forma retrospectiva. A Figura 1.2 ilustra o esquema geral de um estudo do tipo caso-controle, vamos analisá-la. Figura 1.2 – Esquema ilustrativo de estudo do tipo caso-controle Fonte: Adaptada de Siqueira e Tibúrcio (2011). #PraCegoVer: a Figura 1.2 apresenta um esquema de formas geométricas ligadas por setas direcionais que representam a relação entre elas. Da esquerda para a direita, temos quatro balões (elipses) e dois deles têm no seu interior a palavra “exposto” e outros dois o termo “não exposto”. Na parte direita da imagem, temos dois retângulos que representam os dois grupos de estudo, “caso” e “controle” e, deles, saem setas direcionais para os pares de balões citados. Na parte inferior da imagem, há uma linha amarela que representa a retrospectividade do estudo, que se inicia no �nal de uma linha do tempo, já sabendo quem tem e quem não tem o desfecho de interesse. Em estudos caso-controle é possível investigar, de forma simultânea, diversas hipóteses etiológicas. São delineamentos e�cientes no estudo de doenças raras, pois são relativamente mais baratos e de obtenção rápida de resultados (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Pode ser utilizado mais de um grupo controle ou de casos, bastando, apenas, cuidado no processo de seleção, a �m de garantir investigação de maior alcance. Uma desvantagem é a limitação do estudo de único desfecho e, também, maior suscetibilidade à ocorrência de vieses, principalmente os de seleção e de memória, pois faz uso de informações retrospectivas. Outra característica que pode ser considerada desvantajosa corresponde à prévia determinação do número de casos, impossibilitando cálculo de incidência, mas que pode ser substituída por uma medida alternativa conhecida como razão de chances (odds ratio). Siqueira e Tibúrcio (2011) descrevem um estudo divulgado em uma tese de doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em que o autor realizou estudo caso-controle para avaliar a in�uência de fatores de risco para câncer de mama. Como grupo caso, o autor da tese selecionou pacientes diagnosticadas com câncer de mama dos registros do Hospital das Clínicas da UFMG, as quais satis�zeram aos critérios de seleção da pesquisa. Como grupo controle, o autor selecionou pacientes do mesmo hospital com idades semelhantes às do grupo caso (com tolerância de mais ou menos dois anos de diferença) dentre outros fatores, resultando em dois controles para cada caso. A análise dos dados concluiu que a história familiar de câncer de mama aumentava o risco da doença em 8,84 vezes. Estudo Transversal Também conhecido como estudo de coorte transversal, estudo seccional e estudo de prevalência. Consiste na coleta de dados em um determinado tempo especí�co, é como se fosse um corte, onde o fator de exposição e o desfecho são observados simultaneamente, funcionando como uma fotogra�a do que acontece em um certo instante (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). É um tipo de estudo útil para o estudo de condições que podem ser avaliadas de forma quantitativa e que variam com o decorrer do tempo, como a pressão sanguínea, por exemplo, ou, ainda, para avaliar doenças que são frequentes e possuem longa duração. Sua vantagem, em relação aos outros estudos, consiste na rápida realização, por não se tratar de estudo longitudinal, não perde seguimento facilmente e é relativamente barato (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Alguns estudos transversais não fazem uso de amostragem para sua realização, o que pode limitar o alcance dos resultados encontrados. Também não permite determinar relação temporal entre exposição e desfecho, o que também traz limitações em termos de análise estatística inferencial. Permite estimar a prevalência, a razão ou a diferença de proporções ou, ainda, a razão de chances (odds ratio). Siqueira e Tibúrcio (2011) apresentam um estudo transversal composto por 1.029 adolescentes de 14 a 19 anos, moradores da cidade de Cuiabá (MT). O objetivo do estudo foi estimar a prevalência e os fatores associados a episódios de compulsão alimentar. A pesquisa utilizou como instrumento de coleta de dados o questionário sobre padrões de alimentação e peso-revisado (QEWP-R). Como resultado, a pesquisa encontrou que a prevalência de episódios de compulsão alimentar foi de 24,6% e teve como fatores associados o sexo, a idade, o uso de bebida alcoólica mais de três vezes por mês, assim como a �utuação de peso. Estudos Ecológicos São estudos que têm como unidade de análise o coletivo ou grupos agregados em função de fatores geográ�cos ou temporais. Diferenciam-se dos estudos apresentados anteriormente, pois, naqueles, a unidade de análise é o indivíduo. Por exemplo, quando não se tem informação sobre determinada doença (ou desfecho) e a exposição do indivíduo, mas se tem sobre um grupo como um todo. Nos estudos ecológicos, compara-se a ocorrência da doença ou a condição relacionada à saúde e a exposição de interesse entre agregados de indivíduos para veri�car a possível existência de associação entre elas. Assim, é possível examinar associações entre exposição e doença ou condição pesquisada de forma coletiva. Tal limitação é que a associação observada não signi�ca, obrigatoriamente, que a mesma seja constatada em nível individual (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 28). Estudos ecológicos têm como vantagem o fato de serem executados com custo relativamente baixo, principalmente se �zerem uso de dados secundários. São boas opções de apresentação de resultados de grandes estudos de base individual, tais como inquéritos nacionais realizados periodicamente (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Por se basearem em informações coletivas, ou médias, a força encontrada entre a exposição e o desfecho, em geral, é atenuada. Sua principal limitação trata-se do que se conhece por falácia ecológica, que é um viés que surge quando se supõe que todos os componentes do grupo avaliado têm as mesmas características. Um estudo ecológico, famoso mundialmente, realizado por Émile Durkheim, no século XIX, encontrou associação entre a religião protestante e o suicídio, com base em dados de várias províncias da Prússia. Com esse resultado, ele concluiu que os protestantes têm maior probabilidade de se suicidar do que católicos. “Mesmo que isto possa serverdadeiro, a inferência causal não é clara, uma vez que poderiam ter sido os católicos em províncias predominantemente protestantes que se suicidaram, e a metodologia ecológica não permite distinguir qual das hipóteses está correta” (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 28). Por �m, uma outra limitação trata-se da di�culdade em controlar fatores de confusão, pois não há informação sobre a distribuição conjunta do fator de interesse, assim como de demais fatores associados. Um estudo sobre fecundidade realizado no estado de Minas Gerais, entre 1970 e 2000, analisou 66 microrregiões e concluiu que existia um processo de redução no período. Observou-se que a taxa de fecundidade total passou de 6,4 �lhos por mulher para 2,2 �lhos. Ensaios Clínicos São estudos experimentais que seguem procedimentos especí�cos da metodologia cientí�ca. Avaliam a segurança e a e�cácia de novas drogas ou procedimentos a serem utilizados em seres humanos (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Na década de 1990, foi criado um manual denominado Consolidated Standards of Reporting Trials (CONSORT) com conteúdo relacionado à realização de ensaios clínicos, no sentido de recomendações de boas práticas em sua realização. Podem ser delineados de diversas formas, a depender do estudo, no entanto só podem ser realizados de forma prospectiva, pois as observações são coletadas no decorrer do tempo em seguida à alocação aos tratamentos investigados. O desfecho pode ser quantitativo ou qualitativo, dependendo, também, do que se deseja investigar. Podem conter dois ou mais grupos, tanto em paralelo (independentes), quanto cruzados (crossover), para situações de amostras pareadas. Em estudos para desenvolvimento de medicamentos, dois agentes ativos podem ser comparados ou eventualmente um dos grupos pode receber o placebo. Além disso, dois aspectos devem ser avaliados: segurança e e�cácia. Em geral, as pesquisas são realizadas em várias etapas. A taxonomia utilizada em indústrias farmacêuticas para descrever as fases de ensaios clínicos divide- se em: fase I – farmacologia clínica e toxicologia; fase II - investigação clínica inicial sobre o efeito do tratamento; fase III – avaliação completa do efeito do tratamento; fase IV – vigilância pós-comercialização (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011, p. 29). Os ensaios clínicos também podem ser classi�cados como ensaios de superioridade, não inferioridade e equivalência. O ensaio de superioridade deve ser utilizado quando se deseja estudar superioridade de desfechos em relação a outro resultado ou quando se deseja estudar se uma droga é superior a uma outra de referência. Ensaios clínicos de não inferioridade são utilizados para investigar desfechos que não sejam piores do que um desfecho de referência, como, por exemplo, uma nova terapia menos invasiva em relação a uma terapia-padrão, considerando uma margem de diferença pre�xada denominada limite de não inferioridade (SIQUEIRA; TIBÚRCIO, 2011). Ensaios clínicos de equivalência têm o objetivo de encontrar evidências de que os tratamentos comparados são, essencialmente, equivalentes, em que as diferenças encontradas são originárias unicamente do acaso. O teste de equivalência utiliza intervalos de equivalência de�nidos com limites inferior e superior, em que os tratamentos são considerados equivalentes se as diferenças observadas se encontram dentro desse intervalo. Siqueira e Tibúrcio (2011, p. 30) a�rmam que “a escolha do tipo de teste (superioridade, não inferioridade e equivalência) depende do objetivo do estudo; o dimensionamento da amostra (exigido em protocolos de ensaios clínicos) e o método estatístico”. Para cada tipo de hipótese considerada no estudo, deve-se determinar o método estatístico apropriado. Aspectos relacionados a critérios de inclusão e exclusão de participantes, assim como os relacionados à alocação aos tratamentos, devem ser estabelecidos com muito cuidado, sendo que este último pode ser desconhecido pelo participante, o que caracteriza um estudo cego, mas também pode ser desconhecido pelo pesquisador responsável pelo estudo, caracterizando um estudo duplo-cego. Para exempli�car, Siqueira e Tibúrcio (2011) apresentam um caso de realização de ensaio clínico sobre reposição hormonal relacionado com o desenvolvimento de doenças. As autoras citam o estudo publicado em artigo cientí�co denominado “Risks and bene�ts of estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women” divulgado na revista cientí�ca “Journal of American Medical Association (JAMA)”. A pesquisa teve a participação de 16.608 mulheres dos Estados Unidos em pós-menopausa e com idades entre 50 e 79 anos. O desfecho principal foi a ocorrência de doença coronariana, incluindo infarto do miocárdio não fatal. Sua duração foi de oito anos e meio, com tempo médio de acompanhamento de 5,2 anos. Conhecimento Teste seus Conhecimentos (Atividade não pontuada) Leia o caso hipotético a seguir. Podemos considerar que o erro de medição sempre estará presente quando a indicação do sistema de medição não relacionar corretamente com o valor verdadeiro do mensurando. Sendo assim, de�ne-se como erro de medição a diferença entre o valor indicado pelo sistema de medição e o valor verdadeiro do componente ou da peça dimensionada. Em estudos epidemiológicos, podem ocorrer erros no desenvolvimento da pesquisa. Para reduzi-los ou evitá-los, é necessário fazer um planejamento/protocolo de pesquisa. Assinale a alternativa que apresenta corretamente como se chama o erro que ocorre devido ao acaso em estudos epidemiológicos. a) Erro sistêmico. b) Erro determinístico. c) Erro sistemático. d) Erro aleatório. e) Erro certo. praticar Vamos Praticar Você conhece os sistemas de dados públicos brasileiros? Existem diversas instituições, como IBGE, Inep, Ministério da Saúde, dentre outras, que divulgam dados, de forma pública, que podem ser utilizados para diversos �ns, tanto acadêmicos quanto para outros, como elaboração de políticas públicas. Convido você a conhecer essas bases de dados, fazendo uma breve pesquisa nas páginas de internet dessas instituições, e a pensar sobre uma possível situação a ser enfrentada por você na sua futura prática pro�ssional. Para desenvolver trabalhos/pesquisas na área da saúde, você precisará ou poderá fazer uso das informações disponibilizadas pelos diversos órgãos de pesquisa que divulgam de forma pública esses dados. Você consegue pensar e exempli�car uma situação em que podem ser utilizados dados públicos de saúde pública ou epidemiológica? praticar Vamos Praticar Para realizar uma pesquisa cientí�ca, deve-se elaborar um protocolo composto por informações sobre o estudo, incluindo os dados que se deseja obter com a sua realização, conhecidos como variáveis, assim como o tipo de cada um deles. Um dado possível de se coletar é o que se conhece por variável binária ou dicotômica. Você sabe o que é uma variável binária ou dicotômica? Exempli�que uma situação em que é possível aplicar esse tipo de variável em um estudo epidemiológico. Sugiro que busque nas referências bibliográ�cas deste material. Material Complementar W E B Sam Harris: a ciência pode responder questões morais Ano: 2010 Comentário: Questões sobre o conceito do bem e do mal, o que é certo e o que é errado são geralmente aceitas como perguntas sem resposta pela ciência. No entanto, Sam Harris, escritor, �lósofo e neurocientista nascido nos Estados Unidos (1967), argumenta que a ciência pode e deve ser uma autoridade em questões morais, dar forma aos valores humanos e determinar o que constitui uma vida boa. Para conhecer mais sobre o vídeo, acesse o trailer disponível em: ACESSAR https://www.ted.com/talks/sam_harris_science_can_show_what_s_right/transcript?language=pt-br L E IT U R A Controle estatístico de qualidade Editora: Ministério da Saúde do Brasil Autor: Conselho Nacional de Saúde (CNS) ISBN: Não possui. Comentário: Trata-se de um documento normativo que tem linguagem formal e, por isso, requer uma leitura cuidadosa. No entanto, é um documentoimportante de ser conhecido por aqueles que estão envolvidos ou que pretendem se envolver com pesquisas epidemiológicas, clínicas ou biológicas, pois apresenta diversos conceitos relacionados com o desenvolvimento de investigações que envolvem seres humanos. Apresenta, também, diversas normas éticas e os órgãos que compõem a rede Conep/CEP do Conselho Nacional de Saúde. Conclusão Prezado(a) estudante! Neste estudo, você teve contato com os fundamentos da ética em pesquisa com seres humanos, conheceu o sistema Conep/CEP do Conselho Nacional de Saúde, as normas e as resoluções que tratam do assunto, além de compreender alguns pontos importantes relacionados à temática. Caro(a) estudante, a con�abilidade e a aceitação dos resultados obtidos pelos processos de medição são muito relevantes no âmbito das questões metrológicas. Basicamente, nenhum tipo de medição que possa ser realizada representa o verdadeiro valor mensurado. Essa variação normalmente é explicada pelas limitações inerentes ao processo dimensional, as quais limitam as quantidades de medições que podem ser realizadas, assim como está associada aos efeitos das demais variações que possam estar presentes. Na sequência, apresentamos os principais desenhos de estudos epidemiológicos, dividindo-os em descritivos e comparativos. Apresentamos exemplos de aplicação para cada um dos delineamentos, para que você pudesse compreender melhor a aplicação prática desses métodos cientí�cos. O acompanhamento da disciplina com postura engajada e comprometida levará você para o sucesso. Desejo a você um excelente curso! Referências BLOCH, K. V.; COUTINHO, E. da S. F. Fundamentos da pesquisa epidemiológica. In: MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. p. 173-179. BRASIL. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Conselho Nacional de Saúde, [2021]. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/comissoes- cns/conep/. Acesso em: 22 ago. 2021. http://conselho.saude.gov.br/comissoes-cns/conep/ http://conselho.saude.gov.br/comissoes-cns/conep/ BUSSAB, W. de O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. (Biblioteca Laureate). CNS – CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Brasília, 2013. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 24 ago. 2021. HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica. 4. ed. Porto Alegre: Grupo A, 2015. (Biblioteca Laureate). MARTINEZ, E. Z. Bioestatística para os cursos de graduação da área da saúde. São Paulo: Editora Blucher, 2015. (Biblioteca Laureate). NOVOA, P. C. R. O que muda na ética em pesquisa no Brasil: Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Einstein, São Paulo, v. 12, n. 1, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1679-45082014ED3077. Acesso em: 05 set. 2021. PALÁCIOS, M.; REGO, S.; SCHRAMM, F. R. Eticidade da pesquisa cientí�ca: o caso da regulamentação brasileira da ética em pesquisa envolvendo seres humanos. In: MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. p. 605-619. SAM Harris: a ciência pode responder questões morais. TED, 2010. Disponível em: https://www.ted.com/talks/sam_harris_science_can_show_what_s_right/transcript?language=pt- br. Acesso em: 05 set. 2021. SIQUEIRA, A. L.; TIBÚRCIO, J. D. Estatística na área da saúde: conceitos, metodologia, aplicações e prática computacional. Belo Horizonte: Coopmed, 2011. https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf https://doi.org/10.1590/S1679-45082014ED3077 https://www.ted.com/talks/sam_harris_science_can_show_what_s_right/transcript?language=pt-br https://www.ted.com/talks/sam_harris_science_can_show_what_s_right/transcript?language=pt-br
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