Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nada é impossível para Deus Kathryn Kuhlman Publicado em espanhol, com o título: "Nada es imposible para Dios" Editorial Peniel, Buenos Aires, Argentina Originalmente publicado em inglês com o título: "Nothing is impossible with God" by Bridge Publishing, Copyright © 1974 by The Kathryn Kuhlman Foundation 2ª edição, 2005 Tradução para o espanhol: Virginia Lópes Gradjean ISBN 087-557-088-5 Impresso na Colômbia Digitalização: JEm Tradução para o português: sssuca Nestas páginas... ...você conhecerá Elaine Saint-Germaine, uma atriz cuja queda barranco abaixo em um caminho de drogas e satanismo foi detida por milagre... o Dr. Harold Daebritz, cuja esposa foi curada em segundos de uma lesão nas costas que tinha resistido a vinte anos de tratamentos em mãos de especialistas... e muitos, muitos mais. Maravilhosos, autênticos e imensamente comovedores, estes relatos são testemunhos irrefutáveis da incrível transformação que Deus pode produzir em qualquer pessoa que o busque. Índice Prefácio - Um tributo a Kathryn Kuhlman ............................................................ 4 Capítulo 1 - O que chegou tarde ............................................................................ 6 Capítulo 2 - Não há escassez no depósito de Deus ............................................. 13 Capítulo 3 - Caminhando nas sombras ............................................................... 31 Capítulo 4 - O dia em que a misericórdia de Deus se encarregou ...................... 44 Capítulo 5 - Quando o céu baixa à Terra .............................................................. 53 Capítulo 6 - Diga às montanhas .......................................................................... 71 Capítulo 7 - Este é um ônibus protestante? ......................................................... 85 Capítulo 8 - A cura é só o começo ....................................................................... 96 Capítulo 9 - Um vazio com forma de Deus ........................................................ 105 Capítulo 10 - A cética do chapéu de pele ............................................................ 115 Prefácio Um tributo a Kathryn Kuhlman Creio que, a esta altura, todos a conhecem. Durante quase um quarto de século ela foi um vaso de Deus que fez com que a cura e a restauração fluíssem nas vidas de milhares de seres humanos. É amada e admirada por milhões de pessoas e difamada somente por aqueles que não acreditam na cura divina ou por quem não fez nenhum esforço em compreendê-la ou ao que ela representa. Mas eu a vi, antes de apresentar-se diante de uma multidão para expressar sua ilimitada fé em Deus, e a observei cuidadosamente. Uma e outra vez dizia: "Querido Deus, a menos que me unjas e me toques, eu não sou nada. Quando a carne se põe no meio do caminho, eu não tenho nenhum valor. Se não receberes toda a glória, eu não posso ministrar". E, de repente, sobe à plataforma. É explosivo, quase incrível. Não é tanto o que diz, porque sempre é tão claro e simples como o estilo de pregação que o próprio Senhor Jesus usava. Não o compreendo, e ela também não; mas quando o Espírito começa a mover-se sobre ela, (e se sente repentinamente movida a desafiar o poder do diabo no nome de Jesus), começam a acontecer os milagres. Em todo lugar, todos, até os mais rígidos e dignos, caem prostrados ao chão. Católicos e protestantes elevam as mãos e adoram a Deus, unidos... tudo decentemente e com ordem. O poder do Espírito Santo cai sobre as pessoas como as ondas do oceano. Os representantes dos meios televisivos logo compreenderam que ela não era falsa, nenhuma fanática. Conheciam pessoas que tinham sido tocadas por seu ministério. Sua sabedoria divina e sua capacidade não têm igual. Não é rica, nem está obstinadamente agarrada ao materialismo. Eu sei! Ela pessoalmente reuniu e entregou ao Teen Challenge o dinheiro necessário para construir em nossa granja um lugar para a reabilitação de viciados. Suas orações trouxeram o dinheiro necessário para construir igrejas em países subdesenvolvidos de todo o mundo. Apoiou a educação de meninos pouco capacitados e também outros jovens superdotados receberam seu amor e seu cuidado. Entrou comigo nos guetos de Nova Iorque e impôs suas mãos carinhosas sobre sujos viciados. Nunca duvidou nem voltou atrás; sua preocupação era genuína. Qual é a razão por que faço este tributo? Porque o Espírito Santo me ordenou que o fizesse! Ela não me deve nada, e eu não lhe peço nada mais que o mesmo amor e respeito que demonstrou por mim durante anos. Mas, muitas vezes, damos tributo unicamente aos mortos. Agora, pois, darei a uma grande mulher de Deus, que tocou tão profundamente minha vida e as de milhões de pessoas mais: Te amamos, no nome do Senhor! A história dirá sobre Kathryn Kuhlman: Sua vida e sua morte deram glória a Deus. David Wilkerson, autor de A cruz e o punhal. Capítulo 1 O que chegou tarde Tom Lewis Tom Lewis, coronel reformado do Exército, é um dos produtores de filmes mais conhecidos de Hollywood. Sua lista de créditos no "Quem é quem na América" ocupa tanto espaço como as medalhas sobre seu peito. Foi o produtor fundador do Screen Guild Theatre, fundador do Serviço de Rádio e Televisão das Forças Armadas Americanas, do qual foi comandante durante toda a Segunda Guerra Mundial, e criador e produtor executivo de "O Show de Loretta Young". Como diretor da Universidade Loyola, recebeu inúmeros prêmios por excelência em produções televisivas, tanto no país como das forças armadas americanas estabelecidas em todo mundo. Devoto católico-romano, conta-se agora entre o crescente grupo dos assim chamados "católicos carismáticos". No inverno passado, meu filho (jovem diretor de filmes), e um produtor de mesma idade dele, planejavam realizar um programa especial de TV sobre o "povo de Jesus" 1. Aceitei escrever a apresentação, mas a contragosto. Como os "Meninos de Jesus" eram jovens, imaginei que meu filho e seu sócio deveriam contratar pessoal de idade similar. Minha investigação preliminar sobre os jovens, a respeito dos quais desejava saber mais, gerou em mim grande interesse e respeito por eles. Muitos tinham saído do inferno da dependência de drogas, através de uma fé renascida em Jesus Cristo. Até esse momento, eu ainda não tinha estudado a motivação religiosa do movimento. Entretanto, do ponto de vista humano, não pude me sentir menos do que muito impressionado por sua sinceridade, assim como assombrado e pasmado diante de sua maneira tão familiar de falar sobre Jesus, como se Ele estivesse ali mesmo com eles. 1 "Jesus People", um movimento cristão surgido na década de 70. Eu sempre tinha me considerado um homem razoavelmente religioso, que desfrutava da vida sacramental da Igreja Católica Romana. Eu não saía por aí referindo-me a Jesus Cristo como se me encontrasse com Ele pessoalmente com freqüência. Na verdade, muito raramente o mencionava por seu nome. Pensava que era melhor evitar o tratamento muito pessoal e preferia uma referência mais reservada, como "meu Senhor", ou "o bom Senhor". Como parte de minha tarefa, me pediu que estudasse o ministério de Kathryn Kuhlman. uma pessoa muito estimada pela "gente de Jesus". A senhorita Kuhlman vinha uma vez por mês ao auditório Shrine de Los Angeles para realizar um culto de milagres. Pedi dois assentos, na seção do centro, sobre o corredor, perto da frente. Entretanto, aparentemente não era assim que se obtinham os ingressos. Teria que entrar numa fila e arriscar tentar conseguir a localização desejada. A capacidade do auditório era de 7.500 pessoas, e me disseram que algumas vezes tentava entrar o dobro dessa quantidade de gente. Isto me deixou espantado, e essa sensação continuou durante quatroou cinco meses, já que foi esse o tempo que tive que esperar até poder chegar a entrar na fila. O dia em que cheguei a esse lugar era anormalmente quente para o mês de março, até na ensolarada Califórnia. Saí da rodovia na rua Hoover para evitar o trânsito da zona próxima ao auditório. Normalmente essa zona do centro da cidade estaria quase deserta em um domingo. Mas enquanto me aproximava do estádio, todos os lugares destinados para estacionar e as ruas estavam ocupadas. Os ônibus chegavam um após o outro à entrada principal, onde descarregavam seus passageiros. Alguns tinham placas que diziam "Fretado"; outros revelavam o nome de seus pontos de origem. Lembro de um de "Santa Bárbara", e outro, de "Las Vegas". Para meu assombro, havia um, cheio de pó, que tinha uma placa de "Portland, Oregon"... que "pequena viagem" tinham feito somente para assistir a um culto de milagres do Kathryn Kuhlman. Me perguntei o que seria o que a senhorita Kuhlman daria ali dentro. Não podia ser comida; havia muitas pessoas. Tampouco podia ser um bingo... como gerenciar 7.300 cartões de bingo? Uma longa fila de pessoas em cadeiras de rodas avançava pela rua Jeferson para uma entrada lateral, pela qual eram imediatamente admitidas. Algo similar acontecia com um grande grupo de homens e mulheres com hinários nas mãos; aparentemente eram os membros do coro. Também havia muitos com colarinhos romanos e mulheres vestidas sobriamente. Me perguntei o que estariam fazendo ali todos esses padres e freiras. Encontrei um local, onde estacionei meu automóvel, e logo me juntei aos milhares de pessoas que esperavam diante da entrada principal do estádio. Meu relógio marcava onze em ponto. As portas seriam abertas à uma. Normalmente, eu não teria esperado tanto tempo por coisa alguma, nem sequer pela segunda vinda. Mas logo compreendi que essa era uma definição apressada. Começou a reunir-se uma grande quantidade de gente atrás de mim, e me encontrei perto do centro de uma grande multidão. Isto me deu uma ligeira sensação de claustrofobia, por isso me concentrei em tomar notas mentais com as quais construiria minha apresentação: grande multidão, muito ordenada; vários jovens que respondiam às características dos "Meninos do Jesus". Estes jovens tendiam a formar grupos, como ilhas num mar de corpos. Cantavam enquanto esperavam, não muito forte, não necessariamente para que outros os ouvissem; nem sequer atuavam como se tivessem muita consciência da presença de outros. Cantavam de forma bastante quieta e meditativa. Isso me pareceu estranho, incomum. Lembrava um grupo de cristãos coptos que vi uma vez em Roma, orando de forma audível, mas não em uníssono, independentemente de outros, mas juntos. Agora a quantidade de gente tinha realmente aumentado muito, e alguém que estava lá dentro se compadeceu de nós. As portas se abriram uns vinte minutos antes da uma. As pessoas que estavam atrás de mim se lançaram para a frente, e me empurraram para além da entrada. Isto me surpreendeu, porque tinha a mão na carteira, preparado para pagar meu ingresso. Uma senhora que estava justo atrás de mim viu, e riu. "Aqui, o dinheiro não o levará a nenhuma parte", disse. "Mas, se está lhe queimando no bolso, haverá uma oferta voluntária mais tarde." Assim todos se comportavam: em ordem, não festiva, como a multidão que assistiria a uma partida no estádio, bastante quieta, não muito comunicativos uns com outros, embora amistosos, quando se dava ocasião para conversar. Encontrei um assento bastante atrás e para o lado. A plataforma, brilhante e muito iluminada, estava cheia de atividade. Homens e mulheres com hinários nas mãos procuravam seus lugares em uma espécie de arquibancada que ocupava todo o espaço. Em ambos os lados havia dois grandes pianos. Parecia que havia centenas de pessoas no coro, mas, assim como entre o resto do povo, não havia desordem nem confusão. Apesar do constante movimento devido aos que chegavam tarde, o coro continuava cantando como se estivesse em uma silenciosa catedral. O diretor, um homem magro, branco e de aspecto aristocrático, guiava o ensaio com precisão e inquestionável autoridade. Uma anciã de aspecto encantador se sentou à minha direita. Pela atenção que me dedicou ou aos milhares de pessoas que a rodeavam, era como se estivesse sozinha na Capela de Nossa Senhora da Catedral de São Patrício. Tinha uma Bíblia aberta sobre o regaço, e algumas vezes a lia em silêncio. A Bíblia parecia o equipamento comum de muitos dos presentes. Dois jovens sentados atrás de mim tinham Bíblias, mas não as liam. Simplesmente cantarolavam ou cantavam as letras dos hinos que o coro ensaiava na plataforma. Isso eu não gostei. Nunca me agradei dos teatros ou concertos ou cinemas em que o público participa, sobretudo quando não lhe foi especialmente solicitado que o fizesse. Mas ia escutar muito mais destes jovens. Enquanto isso, as luzes brilhantes sobre a plataforma baixaram um pouco, e lhes acrescentou cor. As cores pastéis dos vestidos das mulheres do coro faziam um agradável contraste com o azul do cenário curvo que rodeava tudo. Uma vez terminado o ensaio, o coro começou a cantar segundo o programa. A maioria dos hinos eram conhecidos e muito queridos: "Quão grande és Tu", "Sublime Graça". Os cantores eram excelentes; mais tarde soube que provinham de igrejas de todas as denominações da zona de Los Angeles. Sem interrupção, o coro começou a cantar "Ele me tocou". Senti que uma tensa expectativa se apoderava da audiência. A luz de um spot se concentrou em uma área à direita do público. Todos ficaram de pé e aqui e acolá algumas pessoas começaram a aplaudir. A senhorita Kuhlman, uma figura frágil e magra, vestida com um encantador vestido branco, subiu à plataforma, cantando com o coro. Aproximou-se de um conjunto de alto-falantes à direita do centro do cenário, tomou um microfone pendente que colocou ao redor do pescoço, e sem se deter, dirigiu o coral em "Ele me tocou", energicamente, várias vezes, e finalmente em forma decrescente. Em seguida, sem explicação nenhuma, continuou com "Ele é o Salvador de minha alma". O público e Kathryn Kuhlman pareciam concordar em que estes hinos eram especiais para ela. Sem explicações, uma vez, mais, começou a orar em voz alta. O público ficou de pé, com as cabeças inclinadas, seguindo sua oração em silêncio. Soube então o que era o que tinha sido distinto no canto dessas "ilhas" de jovens que esperavam fora do auditório; o que era isso tão especial no canto desse grande coro que estava sobre a plataforma. Estavam cantando, sim, mas era mais do que cantar. Não estavam atuando; estavam adorando. E o público reagia de forma diferente. Não era público, era uma congregação. Cantavam a uma só voz com o coro, quando lhes indicava. Oravam em uníssono com a senhorita Kuhlman. Isto não era um show, era uma reunião de oração. Não sei como me senti nesse momento; provavelmente impressionado, e agradado por ter feito um descobrimento interessante. Entretanto, logo descobri outra coisa, que me surpreendeu muito. Uma e outra vez, os jovens que estavam sentados atrás de mim gritavam "Amém", e "Louvado seja Deus", aparentemente em resposta a uma oração ou a uma afirmação. Muitos outros faziam o mesmo. Outros levantavam as mãos em um gesto de súplica que relacionei com a posição das figuras bíblicas representadas nos vitrais de igrejas. "Já imagino aonde terminará tudo isto", pensei, e automaticamente comecei a procurar a saída mais próxima. Uma das coisas que mais me incomodava era um jovem que estava em uma das filas superiores do coro. Esteve quase todo o culto com as mãos levantadas. Este deve ser "o" milagre do culto de milagres, pensei. Nenhum sistema circulatório pode suportar a tensão de uma postura como essa durante muito tempo. Certamente seus braços cairiam como chumbo em pouco tempo. Mas depois me esqueci dele; esqueci-me de todos. Como a senhora que estavasentada a meu lado, era como se estivesse em uma capela remota, exceto, talvez, por uma Presença que normalmente não se sente em um auditório tão grande. Sim, era isso. Havia uma Presença ali, e era por isso que esta multidão de tantos milhares de pessoas ficava tão calada que, por momentos, eu podia escutar o som de minha própria respiração. Era por isso que se perdia a noção do tempo. Havia algo diferente ali; havia amor, específico e real. Sim, e mais que amor, estava essa Presença. Lembrei das palavras de uma canção dos Meninos de Jesus: "Saberão que somos cristãos por nosso amor, por nosso amor. Saberão que somos cristãos por nosso amor". Começaram as "curas": duas na fila perto de onde eu estava. Eu os vi antes que a senhorita Kuhlman os chamasse. Vi a expressão maravilhada de terem sido curados, depois sua incredulidade, a compreensão do fato e sua felicidade. Havia muitas, muitas curas na plataforma nesse momento. Alguns se levantavam das cadeiras de rodas. Uma freira paralítica caminhou; fazia anos que não podia fazê-lo. Vi gratidão nos que foram curados, um agradecimento tão evidente que quase podia ser tocado. Os drogados eram libertados, e na evidência de seus rostos transformados, luminosos, vi renascimentos interiores e regenerações morais. Perdi a conta do que vi, porque, em algum ponto desconhecido para mim, deixei de ver e comecei a sentir. Senti no mais profundo da minha consciência. Compreendi que participava de uma conversa, a mais assombrosa, nua, honesta conversa de minha vida. Estava falando com Deus. Em algum lugar no meu interior, estava contando a Deus coisas que nunca tinha sabido antes, ou que não tinha podido ou querido admitir. Apesar de toda a evidência de minha carne, dos fatos visíveis e aparentes de minha ocupada vida, o amor e a companhia de meus filhos e seus amigos, meus próprios amigos, que eram muitos, meus interesses no mundo, meus hobbies, apesar de toda essa evidência, estava dizendo a Deus que estava inquieto e sozinho. Profunda, desesperadamente solitário. Não de gente, nem de coisas. Tinha muito disso. Disse a Deus que estava vazio. Então me invadiu a emoção mais forte que jamais havia experimentado: fome. Uma fome selvagem, rude, primitiva. Vi que a plataforma e os corredores estavam cheios de gente. A senhorita Kuhlman convidava aqueles que queriam a Cristo em suas vidas para que fossem à frente, reconhecessem seus pecados, recebessem a Jesus como seu Salvador pessoal, e se entregassem completa e irrevogavelmente a Ele. Segui-os. Coloquei-me entre eles. Eu, que não participava, que me tinha feito sozinho, o sofisticado. Eu estava tomando esse compromisso, surpreendentemente consciente de tudo o que significava e da responsabilidade que assumia. Pedi a Deus que me livrasse de todo temor. E Ele o fez. Essa noite, enquanto voltava, em meu carro, à minha pequena cidade do Ojai, chorei. Chorei durante todo o caminho. Não me sentia nem triste nem feliz: sentia-me... limpo. Durante a noite, despertei e senti que compreendia, instantânea e plenamente, o que tinha acontecido. Me re-consagrei a Cristo, percebi que não duvidava e nem temia esse compromisso, e dormi profundamente uma vez mais, sem sonhar. Na manhã seguinte, já bem adiantada, fui caminhando desde meu lar no campo até a pequena cidade do Ojai. Sentia-me bem, descansado e em paz. As emoções do dia anterior já tinham ficado para trás. Passei junto à capela a que estava acostumado a freqüentar, uma capelinha de estilo colonial espanhol, localizada na rua principal. Era a época da Quaresma. Eram aproximadamente 11:30, e eu sabia que devia estar sendo celebrada a missa. Assim era. Cheguei a tempo para a celebração eucarística a que usualmente chamamos Santa Comunhão. Fui para o altar automaticamente, e como só havia seis ou oito pessoas presentes, recebemos ambos os elementos da Santa Eucaristia, pão e vinho. Em vez de voltar para os fundos da capela, ajoelhei-me no primeiro banco. Foi bom que o fizesse. O que eu tinha tomado em meu corpo não era pão e vinho, não era um símbolo, não era uma lembrança. Era o Corpo e o Sangue de Cristo, e o resultado em mim foi o mais profundo conhecimento da real presença de Cristo. Foi uma experiência de grande e inexprimível gozo, e meu corpo estremeceu violentamente devido ao esforço que realizava para contê-lo. Jesus, o Cristo, estava ali comigo, e cada célula de meu corpo era testemunha de que Ele era real. Descansei minha cabeça nos ombros e, por um momento, o tempo ficou suspenso. Deus vive. Deus vive verdadeiramente, e se move entre nós, e exala seu Santo Espírito sobre nós. E por mérito do sangue derramado por nós por seu divino Filho, Ele nos prepara tudo o que nos espera neste mundo de dor... e mais à frente. Louvado seja Deus! Capítulo 2 Não há escassez no depósito de Deus Capitão John LeVrier Lembro a primeira vez que estive cara a cara com o capitão LeVrier. Um policial e diácono batista. Estava em uma situação crítica. Desesperado, tinha voado de Houston até Los Angeles. Mas deixemos que ele mesmo conte sua história. Sou policial desde que tinha vinte e um anos. Em 1936 comecei no Departamento de Polícia de Houston, e cheguei a ser capitão da Divisão de Acidentes. Em todos esses anos jamais estive doente. Mas em dezembro de 1968 fiz um exame físico, e tudo mudou. Eu conhecia o doutor Bill Robbins desde que ele era um interno e eu era um novato em minha profissão. Quando comecei minha carreira, ele estava acostumado a me acompanhar no automóvel da patrulha. Logo depois do que eu pensava ser um exame médico de rotina em seu consultório, no Sanatório Saint Joseph, o doutor Robbins tirou as luvas de borracha e se sentou na beirada da escrivaninha. Sacudiu a cabeça. "Eu não gosto do que encontrei, John", disse. "Quero que veja um especialista." O olhei de esguelha enquanto terminava de ajustar minha camisa na calça e segurava meu cinturão com a arma. "Um especialista? Para que? As costas doem um pouco, mas que policial...?" Ele não me escutava. "vou encaminhá-lo ao doutor McDonald, um urologista do sanatório." Eu sabia que era melhor não discutir. Duas horas depois, logo depois de um exame ainda mais cuidadoso, escutava outro médico, o doutor Newton McDonald. Ele não suavizou as coisas. "Quando pode internar-se, capitão?" "Me internar?" Detectei um pouco de temor em minha voz. "Eu não gosto do que encontrei", disse deliberadamente. "Sua próstata teria que ser do tamanho de uma pequena noz, mas está grande como um limão. A única forma de averiguar a causa é fazendo uma biópsia. Não podemos esperar. Você deveria internar-se, no máximo, amanhã pela manhã." Fui direto para casa. Logo depois do jantar, Sara Ann mandou as crianças para a cama. John tinha somente cinco anos; Andrew, cinco, e Elizabeth, nove. Então lhe dei a notícia. Ela escutou em silêncio. Tínhamos sido felizes juntos. "Não deixe para depois, John", disse com voz calma. "Temos muito por que viver." Apoiando-me na beira da mesa da cozinha, olhei-a. Era tão jovem, tão bonita. Pensei em nossos três lindos filhos. Ela tinha razão, eu tinha muito por que viver. Nessa noite liguei para minha filha Loraine, casada com um pastor batista, em Springfield, Missouri. Prometeu-me que pediria na sua igreja que orassem por mim. Três noites depois, logo depois de extensos exames (incluindo a biópsia), eu estava sentado em minha cama no hospital, comendo o jantar, quando a porta do quarto se abriu. Era o doutor McDonald com um dos médicos do hospital. Fecharam a porta e aproximaram duas cadeiras da minha cama. Eu sabia que os médicos geralmente estão muito ocupados e não têm tempo para bate-papos sociais, e comecei a sentir que meu pulso se acelerava. O doutor McDonald não me deixou especular muito. "Capitão, temos más notícias." Fez uma pausa. Era difícil para ele pronunciar estas palavras. Esperei, tratando de manter os olhos fixosem seus lábios. "Você tem câncer." Vi como seus lábios se moviam formando a palavra, mas meus ouvidos se negaram a registrar o som. Repetiu. Eu podia ver como se formava a palavra em seus lábios. Câncer, assim, simplesmente. Um dia sou forte como um boi, um veterano com trinta e três anos de serviço na Polícia. No outro dia, tenho câncer. Pareceu ter se passado uma eternidade até que pude responder. "Bem, o que fazemos? Suponho que terá que extirpá-lo." "Não é tão simples", disse o Dr. McDonald, limpando a garganta. "É maligno, e está muito avançado para que possamos tratá-lo aqui. Vamos encaminhá-lo aos médicos do Instituto de Câncer M. D. Anderson. Eles são famosos em todo o mundo por suas investigações no tratamento dessa doença. Se alguém pode ajudá-lo, são eles. Mas não está muito bem, capitão, e mentiríamos se lhe déssemos alguma esperança sobre o futuro." Ambos os doutores foram muito compassivos. Eu percebi que estavam comovidos, mas sabiam que eu era um policial veterano, e ia querer conhecer os fatos. Me fizeram saber isso, francamente, mas com a maior suavidade possível. Em seguida se foram. Sentei-me, olhando a comida que esfriava na bandeja. Tudo parecia sem vida: o café, o bife meio comido, a compota de maçãs. Afastei tudo de mim e me sentei no lado da cama. Câncer. Sem esperanças. Caminhei para a janela e olhei para fora, para a cidade de Houston, que eu conhecia como a palma de minha mão. Ela também tinha câncer; estava cheia de delitos e enfermidades, como qualquer grande cidade. Durante um terço de século eu tinha trabalhado, tentando deter o avanço desse câncer, mas era uma tarefa interminável. O Sol estava se ocultando, e seus raios moribundos se refletiam nas torres das Igrejas por sobre os telhados. Nunca tinha notado antes. Houston parecia estar cheia de Igrejas. Eu era membro de uma delas, a Primeira Igreja Batista de Houston. Na verdade, era um ativo diácono de minha igreja, embora minha fé pessoal não fosse muita. Alguns meus amigos brincavam dizendo que eu era da mesma classe de batista que Harry Truman: dos que bebiam, jogavam pôquer e amaldiçoavam. Embora eu tivesse ouvido o meu pastor pregar poderosos sermões sobre a salvação, nunca tinha tido nenhuma vitória em minha vida pessoal. Era diácono por minha posição na comunidade, mais do que por minha qualidade espiritual. Aqui estava eu agora, cara a cara com a morte, desesperado para encontrar algo a que me agarrar. Mas ao pôr os pés na água, não havia fundo. Sentia como se estivesse afundando. Olhei para baixo, do nono andar, onde estava. Seria fácil saltar pela janela. Eu tinha visto algumas pessoas morrerem de câncer, com seus corpos consumidos pela enfermidade. Seria muito mais fácil terminar com tudo agora. Mas algo que Sara havia dito tinha ficado gravado em minha mente: "Temos muito por que viver..." Voltei para a cama e me sentei na beirada, olhando no profundo dessa grande nuvem cinza e negra que parecia estar se fechando sobre mim. Como dizer a ela, e aos meninos, que ia morrer? No dia seguinte vieram os médicos do Instituto M. D. Anderson. Houve mais exames. O doutor Delclose, que estava encarregado de meu caso, foi realmente honesto comigo. "A única coisa que posso lhe dizer é que será melhor que se prepare para ver muitíssimos médicos", disse-me. "Quanto tempo tenho?", perguntei. "Não posso lhe dar nenhuma esperança", disse ele francamente. "Talvez um ano, talvez um ano e meio. O câncer está muito espalhado por toda a zona inferior do abdômen. A única forma com que podemos tratá- lo é com grandes doses de radiação, o que significa que, ao mesmo tempo, mataremos muitos tecidos saudáveis. Mas se quisemos tentar prolongar sua vida, devemos começar já." Assinei a autorização, e começaram o tratamento com cobalto nesse mesmo dia. Eu acreditava na oração. Na Primeira Igreja Batista, orávamos todas as quartas-feiras pelos doentes. Mas sempre iniciávamos nossa oração por cura com as palavras: "Se for da Tua vontade, cura-o..." Era assim que me tinham ensinado. Eu não sabia nada sobre orar com autoridade, o tipo de autoridade que tinham Jesus e os discípulos. Realmente eu acreditava que Deus podia curar as pessoas, mas não acreditava que Ele fizesse milagres na atualidade. Portanto, quando fui receber o tratamento com raios, com o corpo raspado e marcado com um lápis azul como se fosse uma cabeça de gado pronta para a faca do açougueiro, a única oração que fiz foi: "Senhor, que esta máquina faça o que deve fazer". Bem, essa não é uma má oração, já que a máquina fora feita para matar células cancerosas. Obviamente, os médicos tratavam de evitar que a radiação afetasse outros órgãos, assim eu estava marcado até os detalhes em milímetros. O câncer estava na zona da próstata e devia ser tratado de todos os ângulos. A gigantesca máquina que irradiava cobalto rodeava a mesa, e a radiação penetrava em meu corpo de todos os ângulos. Os tratamentos diários duraram seis semanas. Recebi alta no hospital e me permitiram voltar ao trabalho, embora devesse retornar todas as manhãs para receber a dose. Tinham se passado quatro meses desde que minha doença foi diagnosticada. Aproximava-se a Páscoa, e Sara comentou que parecia que ia ser melhor que o Natal. Possivelmente o cobalto tinha obtido seu objetivo. Ou, melhor ainda, possivelmente os médicos se equivocaram. Então, cento e vinte dias depois do primeiro diagnóstico, chegou a dor. Era uma sexta-feira ao meio dia. Eu tinha prometido a Sara que nos encontraríamos no pequeno restaurante, onde costumávamos nos reunir para almoçar. Ela já tinha chegado. Eu sorri, apoiei minha boina de polícia no batente da janela, e me sentei junto a ela. Enquanto o fazia, senti como se tivesse sido apunhalado. A dor atravessava meu quadril direito em terríveis espasmos. Não podia falar, só podia olhar para Sara em muda agonia. Ela segurou meu braço. "John", sussurrou. "O que está acontecendo?" A dor se dissipou lentamente, me deixando tão fraco que quase não podia falar. Contei-lhe. Então, como a maré que retorna à margem, a dor voltou. Era como fogo nos ossos. Meu rosto brilhava de transpiração; abri a camisa e afrouxei minha gravata. A garçonete que tinha vindo nos servir notou que algo estava mal. "Capitão LeVrier," disse, preocupada, "está você bem?" "Estarei bem", respondi finalmente. "É que tive uma dor repentina." Decidimos não comer. Em vez disso, fomos diretamente ao hospital, e o doutor Delclose ordenou imediatamente novas radiografias. Enquanto me preparavam, pus a mão sobre o quadril direito e senti a fenda. Era do tamanho de uma moeda grande e parecia um oco sob a pele. Os raios X mostraram o que era: o câncer tinha feito um buraco que atravessava o quadril. Só a pele cobria a cavidade. "Sinto muito, capitão", disse o médico. "O câncer está se espalhando, como esperávamos." Em seguida, em um tom moderado, concluiu: "Começaremos novamente as aplicações de cobalto, e faremos tudo o que for possível para que o tempo que lhe resta seja o menos doloroso possível." As viagens diárias ao hospital começaram outra vez. Sara procurava manter-se calma. Ela tinha trabalhado no Departamento de Polícia antes de nos casarmos, e tinha estado exposta à morte muitas vezes. Mas isto era diferente. Eu não sabia então, mas os médicos lhe haviam dito que provavelmente eu não tivesse mais do que seis meses de vida. Continuei trabalhando, embora cada vez mais fraco. Era difícil saber se era devido ao câncer ou ao cobalto. Uma tarde Sara me buscou ao sair do trabalho e me disse: "John, estive pensando. Faz bastante tempo que estou fora de circulação. O que diria de eu voltar a trabalhar?" "Já tem trabalho", disse-lhe, em tom de brincadeira, "somente cuidando dos meninos. Eu ganharei o pão para esta casa. Ainda faltam muitas milhas para percorrer." "Continua sendo o policial durão, não?", disse ela. "Bem, eu também sou durona. Vou me inscrever nafaculdade." Comecei a compreender o que ela estava fazendo: estava pondo as coisas em ordem. Era hora de eu fazer o mesmo. Mas antes que pudesse, houve uma novidade. Cirurgia. "É a única forma de mantê-lo vivo", disse a cirurgiã. "Este tipo de câncer se alimenta de hormônios. Vamos ter que redirecionar o curso dos hormônios em seu corpo por meio da cirurgia. Se não o fizermos, realmente terá pouco tempo." Aceitei a operação, mas antes de cento e vinte dias, o câncer apareceu novamente na superfície, desta vez na coluna. Numa tarde de domingo, em junho, finalmente a ficha caiu. Sara tinha levado os meninos a um piquenique da Escola Bíblica de Férias, e eu estava em casa, cuidando de transplantar uma plantinha num canteiro. Estava tão fraco que estava difícil me inclinar, mas pensei que o exercício me faria bem. Tinha cavado uma pequena cova na terra, e quando me inclinei para pegar a plantinha, uma dor, como se me tivessem aplicado um raio de mil volts, me paralisou a parte inferior das costas. Caí para a frente, na terra. Nunca tinha imaginado que podia existir uma dor tão terrível. Não havia ninguém próximo para me ajudar, então, me arrastando, um pouco de quatro, um pouco sobre o estômago, subi os degraus e entrei na casa. Então, pela primeira vez, me rendi. Jogado ali no piso, na casa vazia, chorei e gemi descontroladamente. Tinha estado reprimindo-o por Sara e os meninos, mas essa tarde, com a casa vazia, fiquei ali chorando e gemendo até que a dor finalmente se dissipou. Depois disso, seguiu-se uma nova série de aplicações de cobalto, e mais olhares desesperançados dos médicos. Tinha recebido minha sentença de morte. O câncer nos destrói de dentro para fora, e eu não era o único na família que tinha sofrido desse mal. Os maridos de minhas duas irmãs, que também viviam em Houston, tinham morrido de câncer. Ambos tinham aproximadamente cinqüenta anos, como eu. Parecia que agora era minha vez. Era hora de terminar de pôr minhas coisas em ordem. Sempre tinha desejado possuir um grande automóvel antigo. Num impulso de esbanjamento, comprei um Cadillac que só tinha três anos de uso. Quando terminou o verão, colocamos a toda a família no carro e partimos, para o que eu acreditei que seriam minhas últimas férias. Queria que fosse especial para as crianças. Anos antes, tinha viajado pela costa noroeste do Pacífico, e agora queria que Sara e as crianças conhecessem essa parte do mundo, que tinha significado tanto para mim: o curso do rio Columbia, o monte Hood, a costa de Oregon, lago Louise, Yellowstone e as Montanhas Rochosas. As crianças não sabiam, mas Sara e eu acreditávamos que seria nosso último verão juntos, como família. Voltei para Houston para juntar alguns fios soltos. Mas quando a vida está destruída além de toda possibilidade de conserto, é impossível recolher os pedaços. A única coisa que se pode fazer é deixá-los soltos e esperar o final. Num sábado pela manhã, no começo do outono, entrei em casa e liguei a tv no canal Nosso Pastor, da Primeira Igreja Batista. John Bisango tinha um programa chamado "Terras Altas". John estava em Houston, vindo de Oklahoma, onde sua igreja tinha sido reconhecida como a igreja mais evangelística da Convenção Batista do Sul. O que tinha acontecido em Oklahoma estava começando a dar-se também em Houston. Eu estava muito entusiasmado com seu ministério. Muito fraco para me levantar, fiquei jogado na cadeira enquanto terminava esse programa e começava outro. "Eu creio em milagres", disse a voz de uma mulher. Olhei para a tela. Não me impressionava; poucos batistas se sentiriam impressionados por uma mulher pregadora. Mas, à medida que avançava o programa, e esta mulher, Kathryn Kuhlman, falava de maravilhosos milagres de cura, algo dentro de mim se acendeu. "Será real isto?", pensei. O programa terminou, e começaram a passar os créditos na tela. De repente, vi um nome conhecido: Dick Ross, produtor. Eu conhecia o Dick; conhecia-o desde 1952, quando ele estava em Houston, trabalhando com Billy Graham na produção do Oiltown, USA". Na verdade, eu tinha tido um pequeno papel nesse filme, e, a partir daí, me tornei amigo de Billy Graham e sua equipe, e cuidava da segurança toda vez que vinham a Houston. E agora via o nome de Dick Ross relacionado com esta pregadora que falava de milagres de curas. Eu tinha me mantido em contato com o Dick através dos anos. Toda vez que eu ia à Califórnia a trabalho, procurava-o. Tinha-o visitado na sua casa, e até tinha assistido a sua aula de escola dominical na igreja presbiteriana. Peguei o telefone e liguei para ele. "Dick, acabei de assistir o programa de Kathryn Kuhlman. São verdadeiras essas curas?" "Sim, John, são de verdade", respondeu Dick. "Mas teria que assistir a uma dessas reuniões no auditório Shrine para ver por si mesmo. Por que pergunta?" Duvidei por um momento, mas, em seguida falei: "Dick, tenho câncer. Já apareceu em três áreas de meu corpo, e temo que a próxima vez me matará. Sei que parece que estou tentando me agarrar a algo impossível, mas isso é o que faz um homem que vai morrer." "Vou fazer que a senhorita Kuhlman lhe ligue pessoalmente", disse Dick. "Oh, não", protestei. "Sei que ela deve ser muito ocupada para atender um policial de Houston. Só me diga onde posso conseguir seus livros." "Eu lhe enviarei seus livros", disse Dick. "Mas também lhe pedirei que ligue para você, como um favor pessoal a mim." Em menos de uma semana, ela me ligou. "Sinto como se já o conhecesse", disse-me, e sua voz soava exatamente igual como no programa de TV. "Anotamos seu nome na lista de oração, mas não deixe de vir a alguma das reuniões." Embora Sara e eu tenhamos lido seus livros e nos convertidos em ávidos espectadores de seu programa de TV, na verdade eu adiava o momento de assistir a alguma reunião de Kathryn Kuhlman. "Onde estivemos durante toda a vida?", perguntava Sara. "Essa mulher é famosa no mundo todo, mas nunca ouvi falar dela antes." Como tantos outros batistas, simplesmente não tomávamos conhecimento de que havia outras coisas acontecendo no Reino de Deus, além da Convenção Batista do Sul. Agora nossos olhos estavam sendo abertos, não só a outros ministérios, mas também a outros dons do Espírito e ao poder de Deus para curar. Era tudo tão novo, tão diferente. Mas eu compreendia que era bíblico. Apesar da minha ignorância dos dons sobrenaturais de Deus, tinham-me ensinado a aceitar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Quando começamos a ver todas essas referências ao poder do Espírito Santo, referências que nunca tínhamos visto antes, nossos corações começaram a sentir fome, não só de cura, mas também de receber a plenitude do Espírito Santo. Em fevereiro, soube que meu tempo estava se esgotando. Sara e as crianças também sabiam. "Papai", disse-me Elizabeth, "você vai à Califórnia, e ficaremos em casa orando. Acreditamos que Deus vai curá- lo". Olhei para Sara Ann. Com os olhos úmidos, assentiu e disse: "Creio que Deus o curará." Na sexta-feira, 19 de fevereiro, voei de Houston até Los Angeles. Uns velhos amigos de Los Angeles me emprestaram seu carro, e encontrei um hotel onde ficar em Santa Monica. Como policial e como batista, queria formar uma idéia sobre a senhorita Kuhlman antes de assistir à reunião, no domingo. Soube que ela geralmente vinha de Pittsburgh no dia anterior ao culto no Shrine. Também fiz algumas perguntas, usando minhas técnicas de polícia, e averigüei onde se alojava. Logo tive toda a informação de que precisava. Na manhã seguinte, cedo, fui ao seu hotel. Como policial que era, foi fácil para mim contatar os oficiais da segurança e lhes tirar informações. Pouco depois me disseram o horário em que geralmente a senhorita Kuhlman chegava. Sentei-me no saguão do hotel e esperei. Uma hora depois se abriu a porta, e ela apareceu. Era exatamente como a tinha imaginado. Descaradamente, a interceptei quando ia para o elevador. "SenhoritaKuhlman", disse-lhe, "sou aquele capitão da polícia do Texas." Ela me mostrou um amplo sorriso e exclamou: "Ah, sim! Você veio para ser curado". Falamos durante uns instantes. Em seguida lhe disse: "Senhorita Kuhlman, sou um crente em Jesus Cristo, nascido de novo. Sei que não tenho que ser curado para ser crente, porque já o sou. Mas você fala de algo em seus livros, que eu quero tanto quanto a cura física". "O que é?", perguntou ela, examinando meu rosto. "Quero ser cheio do Espírito Santo." "Oh," sorriu docemente, "prometo-lhe que pode ter isso." "Bom, estou gravemente doente, mas ainda estou forte para ir ao auditório e esperar na fila. Tenho lido seus livros e conheço a forma como se conduzem suas reuniões. Me levantarei bem cedo para conseguir um bom lugar." Despedi-me e comecei a me retirar. "Espere!", disse ela. "Estou sentindo algo, e tenho que ser obediente ao Espírito Santo. Venha aqui pela manhã, e iremos juntos até o auditório. Pode nos seguir em seu automóvel." Por um instante, duvidei. "Senhorita Kuhlman, faz tanto tempo que sou polícial, e aproveitei muitas vezes as situações para obter o que queria mais rapidamente... Desta vez, não quero fazer nada que possa ser obstáculo para minha cura. Simplesmente irei e me porei na fila com os outros." Sua voz soou encolerizada, e seus olhos brilharam. "Agora, deixe eu lhe dizer algo", disse, marcando cada palavra. "Deus não vai curá-lo porque você se comporta bem. Ele não vai curá-lo porque você é um capitão de polícia. E certamente não curá-lo pela forma como chegar à reunião." Não foi necessário que dissesse mais nada. Na manhã seguinte, a segui do hotel até o auditório Shrine. Chegamos às 9.30. Embora a reunião não começasse até a uma da tarde, a calçada onde estava a entrada do enorme auditório estava cheia de pessoas, milhares de pessoas. Entramos pela parte da plataforma, e a senhorita Kuhlman me disse: "Agora, sinta-se em liberdade para andar por este lugar, até que veja que me reúno com os obreiros. Quando isso acontecer, quero que você esteja comigo." Aceitei, e andei percorrendo o vasto auditório. Centenas de obreiros, que tinham viajado muitos quilômetros para colaborar voluntariamente, estavam ocupados, colocando as cadeiras para o coro de quinhentas pessoas, preparando a seção onde estariam os que vinham em cadeiras de rodas, acomodando os que tinham vindo em ônibus fretados, e arrumando o lugar para o que ia ocorrer. Eu quase podia sentir a expectativa, enquanto percorria o salão. Era como eletricidade. Todos sussurravam em voz baixa, como se o Espírito Santo já estivesse presente. Que diferença das experiências que tinha tido nos cultos da igreja! Eu também o sentia, e repentinamente, já não era mais um policial, nem um diácono de uma igreja batista. Era somente um homem que sofria de câncer, que precisava de um milagre para viver. Se esse milagre pudesse acontecer, seria nesse lugar. Um dos homens se apresentou como Walter Bennett. Reconheci seu nome imediatamente. Tinha lido seu testemunho em "Deus pode fazê-lo outra vez". Sua esposa Naurine tinha sido curada de uma horrível enfermidade. Ele me levou para a porta que dava à plataforma, onde ela montava guarda. O simples fato de vê-la tão radiante, sabendo que tinha estado a ponto de morrer, deu-me nova esperança e fé. Senti vontade de chorar. "John", disse-me Walter, "temos algo em comum. Você é um diácono batista, e eu fui um diácono batista, também. Vamos tomar uma xícara de café." Saímos por uma porta lateral e encontramos um café ali perto. "Depois que for curado," disse Walter, "é possível que seus companheiros batistas não queiram ter mais nada a ver com você." Sorriu como se soubesse. Falava com tal fé, como se estivesse certo de que eu ia ser curado. "Não me importa o que pensem os outros sobre mim, se for curado," falei, "contanto que Deus toque meu corpo." Walter sorriu. Senti muito amor por este novo amigo. "Bom, há algo de que podemos estar certos", disse suavemente. "Deus não o trouxe de tão longe até aqui para nada. Você vai voltar para Houston sendo um homem novo." O fato de que esse diácono batista falasse com tanta fé me enchia de entusiasmo. Estava ansioso para que começasse a reunião. Ali no auditório, a senhorita Kuhlman se estava reunindo com os obreiros, para lhes dar as últimas instruções antes que se abrissem as portas. Me juntei a eles sobre a plataforma. "Hoje temos aqui conosco um homem que é capitão da polícia de Houston", disse Kathryn. "Ele tem câncer em todo o corpo, e vou orar por ele agora. Quero que cada um de vocês, homens, inclinem-se em oração, enquanto rogo ao Senhor por ele." Percebi que isso era algo especial. Sabia que o ministério da senhorita Kuhlman era simplesmente dizer o que Deus fazia à medida que se desenvolviam os grandes cultos de milagres; que ela não tinha nenhum dom pessoal de cura, em particular. Fez um sinal para que eu me aproximasse e esticou suas mãos sobre mim. Embora esse fosse o momento pelo qual eu tinha esperado, duvidei. Lembrei o que tinha lido em seus livros, que muitas vezes, quando ela orava por alguém, a pessoa caía ao chão. Eu achava que isso de cair estava muito bem para alguns pentecostais, mas não era para um batista, e muito menos para um capitão da polícia. Mas não tinha opção. Dei um passo à frente e deixei que orasse por mim. Apoiando firmemente os pés em minha melhor postura de judô, esperei, enquanto ela me tocava e orava por minha cura. Não aconteceu nada, e quando comecei a relaxar, escutei-a dizer: "E enche-o, bendito Jesus, com o Espírito Santo". Senti que cambaleava, e pensei: "Não pode ser!" Firmei-me sobre meus pés, colocando-os um atrás do outro, e a escutei dizer pela segunda vez: "E enche-o com teu Santo Espírito". Senti como se alguém tivesse posto suas mãos sobre meus ombros e me estivesse empurrando para o chão. Não pude resistir, e desabei sobre a plataforma. Lutei para recobrar a posição vertical, justamente quando a escutava dizer pela terceira vez: "Enche-o com teu Espírito Santo". E caí de novo. Desta vez fiquei no chão durante vários minutos. Sentia como se estivesse afundando em uma piscina cheia de amor. Alguém me ajudou a levantar, e escutei que ela me dizia: "Agora, procure um assento. Vamos abrir este lugar, e em poucos minutos todos os assentos estarão ocupados". Deveria havê-la escutado, porque momentos depois se abriram as portas e o povo entrou correndo pelos corredores como a lava de um vulcão. Pude subir por um dos corredores, e me detive, olhando uma seção inteira do auditório cheia de gente em cadeiras de rodas. Não podia tirar meu olhar de seus rostos. Alguns eram tão jovens e já estavam tão deformados... senti desejo de chorar novamente. "Oh, Senhor, como sou tão egoísta para desejar me curar, quando há tantas pessoas aqui, algumas delas tão jovens?" Enquanto estava assim parado, olhando-os, pela primeira vez em minha vida, escutei a voz de Deus em meu interior, que dizia: "Não há escassez no depósito de Deus". Com novas forças voltei para a parte detrás, e lenta, dolorosamente, subi as escadas até encontrar um assento na primeira fila do mezanino. Faltava ainda um pouco antes que começasse a reunião. O enorme coro havia tomado seu lugar na plataforma e fazia os últimos ensaios. Entretive-me, observando as diferentes pessoas que estavam sentadas ao meu redor, e me apresentei ao homem que estava sentado junto a mim. "Sou o doutor Townsend", saudou-me. "Você é médico?", perguntei-lhe, assombrado de que um médico estivesse assistindo a um culto de cura. "Sim", respondeu, tirando seu cartão. "Venho porque sou muito abençoado. Eu gosto de ver o enorme poder de Deus em ação." Em seguida, apresentou a sua família. "Trouxe o meu pai, que veio de outro Estado. Esta é a primeira reunião a que assiste." Sentado do outro lado do corredor estava um de meus atores favoritos da TV. "Vejam só.", pensei."Médicos e estrelas de TV que vêm e se sentam aqui em cima! Não vieram para ser reconhecidos, mas sim para participar da reunião." Estava impressionado. O culto começou. Uma linda jovem, uma modelo cujo rosto eu tinha visto na capa das revistas femininas que Sara lia, deu um rápido testemunho sobre o que Jesus Cristo significava em sua vida. Eu tinha estado em muitas reuniões evangelísticas, mas esta era incomum. Possivelmente era a expectativa que havia no ambiente, possivelmente a sensação de maravilha. Fosse o que fosse, era diferente de qualquer outra reunião a que tivesse assistido. A senhorita Kuhlman falava da plataforma. "Sabem, pediram-me que separasse este domingo para os jovens, mas há pessoas que vieram de tão longe, que não me atrevo a dizer: 'Só para os jovens'. No entanto, como há tantos jovens aqui hoje, devo lhes falar". Sua mensagem foi breve e dirigida aos jovens. Falou do amor de Deus e, em seguida, apresentou um dos apelos mais desafiantes que jamais escutei. Bem, se há algo que impressiona um batista, são as quantidades e o movimento. E quando vi quase mil jovens deixarem seus assentos e irem para a frente, para tomar uma decisão por Cristo, isso me impressionou. Ao contrário da maioria dos cultos evangelísticos que tinha assistido, esta reunião não tinha fanfarras, nem testemunhos lacrimogêneos. Só um simples convite desta mulher alta que havia dito: "Quer nascer de novo?" Os jovens responderam, muitos deles literalmente correndo pelos corredores para aceitar esse desafio. Ela parecia ter esquecido o passar do tempo enquanto os atendia sobre a plataforma, orando por muitos deles individualmente. Finalmente, voltaram para seus assentos, mas a congregação estava percebendo que ia acontecer algo mais. "Pai", sussurrou a senhorita Kuhlman, em voz tão baixa que eu quase não podia ouvi-la, "acredito em milagres. Acredito que tu curas no dia de hoje, como o fazias quando Jesus Cristo estava aqui. Tu conheces as necessidades das pessoas que estão aqui, neste imenso auditório. Peço- te isso no nome de Jesus. Amém." Em seguida houve um silêncio. Eu sentia meu coração batendo dentro do peito. Tinha consciência de cada célula de meu corpo e quase podia sentir a batalha espiritual que estava ocorrendo enquanto as forças do Espírito Santo lutavam contra as forças do mal em meu corpo. "OH, Deus", orei, em adoração. "OH, Deus." De repente, a senhorita Kuhlman estava falando outra vez, e sua voz falava rapidamente à medida que recebia conhecimento do que acontecia no auditório. "Há um homem no mezanino, no extremo direito de onde estou, que acaba de ser curado de câncer. Levante-se, senhor, em nome de Jesus Cristo, e receba a cura." Olhei. Ela apontava para o lado oposto de onde eu estava. Era extraordinário. Eu somente podia observar, maravilhado, enquanto sentia um entusiasmo crescente. Isto era real. Eu sabia. "Não venha à plataforma a menos que tenha certeza de que Deus o curou", enfatizava ela. Olhei ao meu redor e vi os ajudantes caminhando pelos corredores. Estavam falando com pessoas que acreditavam terem sido curadas, certificando-se de que só aqueles que verdadeiramente tinham recebido cura fossem dar testemunho. A maioria das pessoas curadas que davam testemunho tinham estado sentadas no mezanino. Foram da direita à esquerda: "Duas pessoas estão sendo curadas de problemas na vista." "Uma mulher está sendo curada agora mesmo de artrite. Levante- se e proclame sua cura." "Você está sentada na parte do meio do mezanino." A senhorita Kuhlman dizia: "Você veio hoje para receber cura. Deus a restaurou. Tire o aparelho de surdez. Pode ouvir perfeitamente." Olhei. Uma mulher de aproximadamente quarenta anos estava ficando de pé, tirando os aparelhos de surdez dos dois ouvidos. Um ajudante, por trás dela lhe sussurrava algo. Pensei que a mulher ia gritar enquanto levantava as mãos sobre sua cabeça, louvando a Deus. Podia ouvir. O doutor que estava sentado ao meu lado chorava, dizendo: "Obrigado, Jesus". As curas aconteciam em direção a onde eu estava sentado. "Senhor, que não se acabem", orei. Então lembrei o que Ele me tinha sussurrado quando estava no corredor, em baixo: "Não há escassez no depósito de Deus". Repentinamente vi que a senhorita Kuhlman estava assinalando para cima e à esquerda, onde eu estava sentado. "Você veio de muito longe para ser curado de câncer", disse. "Deus o curou. Fique de pé em nome de Jesus e proclame-o." Eu estava tão longe da plataforma! Possivelmente ela nem imaginava que eu estava ali. Mas seu dedo, comprido e magro, apontava em minha direção. "OH, Senhor," murmurei, "é óbvio que quero ser curado. Mas, como saber que isso é para mim?" Nesse mesmo instante, a mesma voz interior que tinha escutado em baixo, quando olhava aos cadeirantes, disse-me: "Fique de pé!" Coloquei-me de pé. Sem sentir nada, simplesmente o fiz em obediência e fé. Então eu senti. Era como ser batizado em energia líquida. Nunca havia sentido uma força assim percorrendo todo meu corpo. Senti que poderia tomar em minhas mãos a lista telefônica de Houston e parti-la em pedaços. Uma mulher se aproximou de mim. "Você foi curado de algo?" "Sim", declarei, com vontade de saltar e correr ao mesmo tempo. "Como sabe?" "Nunca me senti tão gloriosamente bem. Quase não tive forças para chegar até este assento, e agora, sinto-me tão bem!" Enquanto isso, eu me esticava e me dobrava, fazendo coisas que não tinha podido fazer durante mais de um ano. "Sinto que poderia correr mais de um quilômetro." "Então corra até a plataforma e testemunhe", disse ela. Lancei-me a correr. Mas, enquanto o fazia, comecei a me perguntar: "E se houver aqui alguém de Houston? Vou chegar correndo à plataforma, e a senhorita Kuhlman vai pôr suas mãos sobre mim e vou cair no chão. O que pensarão?" Então percebi que não me importava. Momentos depois, estava junto à senhorita Kuhlman, na plataforma. Ela caminhou para mim e disse simplesmente: "Te agradecemos, bendito Pai, por curar este corpo. Enche-o com teu Espírito Santo". Bam! No chão outra vez. Mas desta vez, devido à nova energia curadora que enchia todo meu corpo, levantei-me imediatamente. Na segunda vez, nem sequer me tocou. Só orou em minha direção, e a ouvi dizer: "OH, o poder..." E caí de novo no chão. Desta vez fiquei ali, me regozijando novamente nessa maré de amor líquido. Mas, mesmo ali, Satanás me atacou. Veio como leão rugindo. "O que o faz acreditar que foi curado?" A senhorita Kuhlman já tinha posto sua atenção em outra pessoa. Rolei e me pus de joelhos, com a cabeça nas mãos, orando: "OH, Pai, me dê fé para aceitar o que sinceramente creio que me deste". Durante muitos anos eu tinha recebido muitos estudos bíblicos batistas. Minha mente tinha sido verdadeiramente exposta à Palavra de Deus, e nesse momento, um versículo veio à minha mente: "Provai-me agora, diz o Senhor..." Pensei em todos esses corpos deformados que tinha visto. "Pai, me mostre um sinal visível para que minha fé se fortaleça." Abri os olhos, e vi uma garotinha de nove anos que se aproximava da plataforma. Nunca vi alguém mais feliz. Estava correndo e saltando, descalça. Dançava de um lado ao outro em frente à plataforma, junto à senhorita Kuhlman, que se esticava para tomá-la pela mão, mas não pôde alcançá-la. Deu a volta e começou outra vez. Novamente a senhorita Kuhlman quis pegá-la, mas outra vez lhe escapou dançando. Nesse momento, a mãe da menina já estava sobre a plataforma. Nas mãos tinha um par de sapatos com rígidas barras de metal. Sem poder alcançar a garotinha, que continuava saltando e dançando, a senhorita Kuhlman se voltou para a mãe: "O que temos aqui?" "Essa é minha filhinha", soluçava a mãe. "Teve paralisia infantil quando era bebê e nunca pôde tornar a andar sem estes sapatos especiais. Mas olhe para ela agora!" Toda a congregação prorrompeu em estrondosos aplausos. "Como você soube que Deusa curou?", perguntou Kathryn Kuhlman. "Oh, senti o poder curador de Deus percorrendo seu corpo", quase gritou a mãe. "Tirei-lhe os sapatos ortopédicos, e ela começou a correr." Atrás dela havia outra mãe, que tinha nos braços uma menina de dois anos. "O que aconteceu aqui?", perguntou a senhorita Kuhlman. "Deus acaba de curar o pezinho de minha filhinha." A voz da mãe tremia tanto que era difícil entender o que dizia. A senhorita Kuhlman tomou o pezinho da menina. "Era este o pé prejudicado?" "Sim, sim, era esse", disse a mãe, sustentando na mão um sapato especial. "A menina nasceu com pé chato. Sofreu muitas operações. Se você lhe tivesse massageado o pé antes, como está fazendo agora, teria gritado de dor." "Aqui na plataforma há vários médicos", disse a senhorita Kuhlman. "Eles me conhecem. Há algum médico entre o público que não me conheça e que não conheça estas meninas? Poderia vir e examiná-las, por favor?" Um homem ficou de pé. "Você é médico?", perguntou a senhorita Kuhlman. "Sim", respondeu ele. "Onde exerce?" "No Hospital St. Luke's, aqui em Los Angeles." "Poderia nos fazer o favor de vir e examinar estas meninas?" O médico foi e subiu à plataforma. "A primeira coisa que posso dizer é que essa garotinha que salta e corre ali, com essas perninhas tão magras, é um milagre. Se não fosse por um milagre, não poderia estar parada, e muito menos saltar de gozo." Em seguida, tomou os pezinhos da menina menor. "Senhorita Kuhlman", disse com voz séria, "não vejo nenhuma diferença entre os dois pés desta criatura. Creio que sua mãe pode tirar o sapato ortopédico." Não precisei de mais provas. Cambaleando, saí pela parte posterior da plataforma, procurei um telefone público e liguei para Sara, em Houston. Estava ocupado. Pedi à telefonista que interviesse na ligação. "Não posso fazê-lo a menos que seja um assunto de vida ou morte", disse-me ela. "É exatamente isso, operadora. E pode ficar na linha a escutar, se quiser." Repentinamente, Sara estava ao telefone. Tentei falar, mas só conseguia soluçar. Nunca chorei tanto em minha vida quanto nesse momento, com o telefone na mão, detrás da plataforma, no auditório Shrine. Sara repetia: "John, John, foi curado?" Finalmente pude lhe dar a mensagem. Estava são. Então ela começou a chorar. Desejei que a operadora estivesse escutando. Era um assunto de vida, não de morte. Voltei para junto da plataforma e observei. Cinco sacerdotes católicos, um deles um "monsenhor", estavam sentados na primeira fila, sobre a plataforma. O monsenhor estava sentado na ponta de sua cadeira, absorvendo tudo. Ao passar, a senhorita Kuhlman olhou para ele e viu a expressão de ansiedade em seu rosto. "Gostaria de experimentar isto?", perguntou-lhe. Ele sabia perfeitamente do que lhe estava falando, já que ficou em pé, com as dobras de sua batina sacudindo no ar, e disse: "Sim". Lhe impôs as mãos e disse: "Enche-o com teu Espírito Santo". Ele caiu ao chão. Ela se voltou para os outros sacerdotes e lhes disse: "Venham". Cada um deles caiu ao chão como o monsenhor. Os hippies eram salvos. As extremidades tortas eram endireitadas. Meu próprio câncer tinha sido curado. Os sacerdotes católicos eram cheios do Espírito Santo. Saí como se estivesse flutuando em uma nuvem e voltei para o hotel. Era mais do que eu podia compreender. No hotel, fiz todo tipo de exercícios: me sentar e me levantar, empurrar, coisas que não tinha podido fazer durante mais de um ano. E as fiz sem problemas. Mesmo sem ainda não ter feito um exame médico, eu sabia que estava curado. Durante essa noite, despertei várias vezes, não para tomar calmantes (tinha deixado de tomar minha medicação essa manhã, antes de ir ao culto), mas sim para poder dizer em voz alta, no meio da escuridão: "Obrigado, Jesus. Bendito seja o Senhor!" Então chegou o momento de me reunir a Sara e às crianças. Quando cheguei ao aeroporto de Houston, estavam me esperando. Corri para eles, e abracei Sara tão forte, que literalmente a levantei do chão. Minha força a deixou sem fôlego. Em seguida agarrei os meninos, primeiro Andrew, em seguida, John, levantando-os acima da minha cabeça. Abracei Elizabeth. Todos falávamos com mesmo tempo. "Seu rosto, John", dizia Sara. "Está cheio de cor e vida." "Eu sabia que ia ser curado", dizia Elizabeth. "Orava por você todos os dias, às nove, às doze, e às seis." "Nós também, papai", apareceu o pequeno John. "Nós, seus filhinhos, também orávamos. Sabíamos que Deus o curaria." Era muito, e este veterano capitão da polícia, parado no meio do aeroporto de Houston, pôs-se a chorar. Pouco depois, voltei ao Instituto M. D. Anderson para fazer um exame físico. Tinha uma entrevista com dois médicos no mesmo dia. A primeira que me examinou foi a que tinha recomendado a operação. Dei-lhe um exemplar do livro de Kathryn Kuhlman, "Creio em milagres". Ela o olhou, escutou o relato de minha história, e em seguida me olhou como se eu estivesse louco. "Deixe eu lhe dizer algo", disse. "O único milagre que lhe aconteceu é um milagre médico. Isso é tudo. O que o está mantendo vivo é sua medicação. Continue tomando-a, e veremos quanto tempo vive." Eu sorri. "Bom, não tomei nenhuma medicação desde vinte de fevereiro, já faz mais de um mês." Ela se mostrou surpreendida e zangada. "Você fez uma verdadeira tolice, senhor LeVrier", disse. "Não passará muito tempo, antes que o câncer apareça em outra parte do seu corpo, e você se irá." Que atitude tão estranha para uma cientista!, pensei. Saí dali e fui ao consultório do doutor Lowell Miller, chefe do Departamento de Terapia de Radiação do Hospital Herman. Esperava que sua reação fosse mais positiva, mas depois da recente experiência, decidi não lhe contar nada sobre o milagre. Que o descobrisse por si mesmo. Sua enfermeira me pediu que fosse ao quarto contiguo e me preparasse para o exame físico. Então notei algo estranho. Como muitos policiais veteranos, eu tinha sofrido de varizes nas pernas. Na verdade, não usava bermuda em público, porque eu não gostava que vissem os nódulos em minhas pernas. É obvio, quando se está morrendo de câncer, não nos preocupamos muito com varizes, mas, à brilhante luz do quarto, olhei minhas pernas, pela primeira vez desde que voltei de Los Angeles. O Senhor não somente havia me curado de câncer, mas também tinha feito desaparecer minhas varizes. Minhas pernas estavam lisas e suaves como as de um adolescente. Quando o Dr. Miller entrou no quarto, eu estava me regozijado e louvando ao Senhor. Sentindo saudades de ver um paciente de câncer tão contente, o Dr. Miller retrocedeu. "Bom! O que é o que lhe aconteceu?" Isso foi tudo o que precisei para lhe contar toda a história de como Jesus Cristo tinha curado meu câncer. "Vejamos", disse o Dr. Miller. "Eu também sou cristão, mas Deus nos deu suficiente senso comum para que cuidemos de nós mesmos." "Não vou discutir isso", falei alegremente. "Essa é a razão por que estou aqui para me submeter a este exame. Me faça todos os exames que desejar. Mas lhe digo que não encontrará nada mal." "Ok", disse o médico. "vamos fazer, então." E a seguir me submeteu ao exame físico mais completo que já me fizeram. Ao terminar, disse: "Sabe, desejaria que minha próstata estivesse tão bem como a sua." Em seguida, examinou a coluna, batendo em vértebra por vértebra. "Notável", repetia. "Notável." Me enviou a fazer raios X, e disse depois: "Ligarei dentro de um ou dois dias, logo depois de que tenha tido tempo de comparar estas radiografias com as anteriores. Mas por todas as indicações que tenho, você foi curado." Três dias depois soou o telefone de minha escrivaninha no segundo andar do Departamento de Polícia de Houston. Era o doutor Miller. "Capitão", disse, "tenho boas notícias. Não encontrei absolutamente nenhum traço de câncer. Agora, queria lhe fazer uma pergunta. Está acostumado a dar palestras?" "Sobre meu trabalho como policial?",perguntei. "Não", disse ele, "não sobre isso. Quero que venha à minha igreja e conte à congregação o que Deus fez por você." Isso foi o começo. A partir de então, viajo por todo o país, contando às pessoas que não têm esperança, sobre o Deus que não tem escassez em seu depósito de milagres. Capítulo 3 Caminhando nas sombras Isabel Larios O Natal é uma época de muito gozo para mim. Recebo milhares de cartões de amigos queridos de todo o mundo. Leio cada um deles. Mas os mais preciosos para mim são os que me escrevem as crianças. Eles são tão abertos, tão sinceros. Quando uma criança me diz: "Te amo", nunca duvido de que realmente o sinta. Por isso, quando recebi um pequeno e singelo cartão, de uma doce garotinha mexicana-americana que vive na Califórnia, soube que realmente sentia o que escrevia. Escreveu para me agradecer por lhe fazer possível viver outro Natal. Lisa me agradecia porque podia me ver. Mas eu sabia o que ela queria dizer. E, Deus sabe, não foi Kathryn Kuhlman: foi Jesus. Lisa Larios estava morrendo de câncer ósseo até que Jesus a curou no auditório Shrine. A mãe e o pai adotivos da Lisa, Isabel e Javier Larios, viviam em um modesto complexo de apartamentos em Panorma City, Califórnia. Isabel nasceu em Los Angeles, mas foi criada em Guadalajara, México. Javier, que passa grande parte de seu tempo trabalhando com seu cavalete de pintor em seu apartamento, é um respeitado garçom na Casa Vega, um dos restaurantes mais elegantes do Sherman Oaks. Além da Lisa, têm mais dois filhos: Albert e Gina. "São só os dores do crescimento, Lisa", falei enquanto minha filha de 12 anos se queixava de dor no quadril direito. Eu estava sentada na beira da cama, na semi-escuridão, lhe esfregando o quadril e as costas com linimento. Lisa crescia rapidamente. Já tinha o corpo de uma mocinha de quinze anos e parecia a imagem viva da saúde. Mas aqui, na penumbra da noite, enquanto esfregava sua pele suave, senti que essa dor, em particular, era algo mais do que essas dores musculares normais que as meninas experimentam quando estão crescendo. Lisa também sentia isso. O medo entrou no quarto, junto com a dor. "Mamãe, acenda a luz do quarto quando sair", sussurrou Lisa. "Não quero ficar aqui sozinha no escuro." Javier tinha ido trabalhar no restaurante. As outras duas crianças já estavam dormindo. Lhe dei umas palmadinhas nas costas e lhe arrumei o pijama. "Não há nada que temer", falei. "Eu não gosto das sombras", respondeu ela, com sua cabecinha metida no travesseiro. "Me dão medo." Acendi a luz do corredor e deixei a porta de seu quarto aberta. Por um momento me detive na porta, olhando-a. De onde tinha vindo esse temor repentino? Lisa nunca tinha tido medo antes. Agora eu podia senti- lo em todo o quarto, como uma rede que descia do teto e cobria toda a cama. Será que Lisa percebia algo que eu não podia sentir? O dia seguinte foi um desses estranhos e belos, que às vezes acontecem na Bacia de Los Angeles. Era o último dia de março, e uma forte chuva, logo antes do amanhecer, tinha lavado o ar, deixando-o claro e limpo. O sol brilhava com toda sua força, o céu era azul radiante, e dava para ver claramente as montanhas cobertas de neve sobre o horizonte, a leste. Javier se tinha levantado para tomar o café da manhã com as crianças, antes que fossem à escola. Depois, ele e eu fomos a Van Nuys fazer compras. Eu procurava um suéter para Lisa, e Javier queria uns lápis de carvão, para terminar um desenho que estava fazendo em seu cavalete. Quando voltamos, pouco antes do meio-dia, a porta do apartamento estava entreaberta. Lisa estava lá dentro, jogada sobre o sofá, chorando. Alarmado, Javier se ajoelhou junto dela e suavemente lhe tirou o cabelo de sobre os olhos. "O que aconteceu, Lisa?", perguntou com doçura, e o som musical de seu sotaque mexicano soou nos ouvidos da menina. "É o quadril, papai", soluçou ela. "Começou a doer muito, assim que o vizinho foi me buscar e me trouxe da escola." Lisa me passou um bilhete amassado, de uma das irmãs da escola Santa Isabel. "Por favor, ocupe-se disto: Lisa tem muita dificuldade para andar. Acreditamos que deveria consultar um médico." Javier assentiu. "Ligue para o doutor Kovener", disse. "Não devemos esperar mais." O doutor Kovner era um amigo da família. Tinha nos atendido antes, e sempre dizia que Lisa era sua paciente favorita. Sua secretária nos agendou para o dia seguinte, à tarde. O doutor tirou algumas radiografias e realizou um exame preliminar. Em seguida me recebeu em seu escritório. "Senhora Larios, isto pode ser uma de várias coisas. Temos que começar com as mais óbvias e começar a trabalhar nisso. Vou internar Lisa no hospital, onde poderemos fazer outros exames." No Hospital Comunitário Van Nuys fizeram novos exames. Lisa tentava ser valente, mas estar constantemente dolorida, passando a noite fora de sua casa, em um lugar estranho, rodeada por gente que não conhecia, não era fácil para ela. Todas as manhãs eu levava as crianças à escola, e em seguida ia para o hospital, chorando durante todo o caminho, me perguntando se as pessoas que passavam a meu lado saberiam da grande dor que eu estava sentindo. No hospital, eu era toda sorrisos, mas era só uma máscara. Por dentro, estava destroçada. "É possível que a dor seja causada por um apêndice aumentado que esteja pressionando um nervo", disse o médico. "Vamos extrair o apêndice e veremos se isso resolve o problema." Mas a dor continuou depois que Lisa voltou da operação. Aparentemente ninguém sabia o que fazer agora. Em 12 de maio voltou para casa. Só podia andar com muletas. Houve mais visitas ao médico. "Isto me deixa perplexo", disse o doutor Kovner ao examinar as radiografias novamente. "Acredito que devemos consultar um especialista." O doutor Gettleman, cirurgião, era muito metódico. Mandou tirar mais radiografias e realizou um novo exame, ele mesmo. "Deve continuar usando as muletas durante mais uma semana", disse. "Traga-a de novo, na próxima quinta-feira." Apesar das muletas, a dor era cada vez mais forte. Como que não podia ir à escola, Lisa vagava pela casa com as muletas, chorando e tentando parecer valente. Passava a maior parte do tempo na cama. Ao final dessa semana, voltou ao hospital, desta vez ao Saint Joseph, de Burbank. "Teremos que operar de novo", disse o Dr. Gettleman. "Vimos algo nas radiografias. Poderia ser uma bolsa de pus que causa pressão. Mas também poderia ser um tumor. Há dois tipos de tumores, benignos e malignos. Se for um tumor benigno, não teremos problemas. Se for maligno, pode ser muito sério." Embora pertencêssemos a uma igreja católica romana, e nossos filhos estudassem em uma escola católica, nem Javier nem eu éramos muito religiosos. Raramente íamos à missa, e quase nunca nos confessávamos. Mas eu sempre me havia sentido muito próxima de Jesus, e os cartõezinhos que as coleguinhas da escola da Lisa lhe enviavam, dizendo que estavam rezando por ela, também ajudaram a me voltar para Deus, em oração. Na noite anterior à operação, eu estava em casa, só, com o Albert e a Gina. Eles se foram se deitar cedo, e eu fui ao meu quarto e me joguei sobre a cama, no escuro. Parecia que todo meu mundo se tinha feito em pedaços. Tinha carregado Lisa em meu corpo durante nove meses. Tinha desejado morrer no parto, para que ela pudesse viver. Tinha cuidado dela, tinha estado com ela nas noites escuras, tinha rido com ela, tinha passeado pelo campo com ela, tinha chorado e orado por ela. E agora os médicos me diziam que possivelmente morreria. Já tinha chorado até não ter mais lágrimas. Tudo parecia tão inútil, tão fútil. Enquanto estava assim na cama, olhando as sombras no teto, comecei a orar. "Querido Senhor, Lisa realmente não é minha. É tua. Somente nos deixaste tê-la, para criá-la, alimentá-la, educá-la e amá-la. Um dia ela nos deixará, se casará e criará seus próprios filhos. Se quiseres levá-laantes que isso aconteça, eu a devolvo a ti, e te agradeço, porque a deixaste conosco todo esse tempo, para nos abençoar." Foi uma oração simples, sem grandes emoções. Mas era sincera. Enquanto continuava olhando as sombras, adormeci. Sonhei que estava sentada em um pequeno quarto escuro. Javier estava junto a mim, segurando minha mão. Uma porta se abriu em frente a nós, e pelo corredor se aproximaram dois homens vestidos com batas, dessas que os cirurgiões usam. Um dos médicos estava chorando e não podia falar. O outro parou diante de nós e disse: "Sua filha está muito doente. Tem câncer". Despertei, sobressaltada. Passava da meia-noite, e eu ainda estava jogada na cama sem me deitar. A casa estava em silêncio. Só a luz do corredor se filtrava no dormitório. Levantei-me e fui ver os meninos. Dormiam tranqüilamente. Fui para o living e me sentei na beirada do sofá, na escuridão. Esse sonho era do diabo? Estava tentando me assustar? Ou era de Deus, para me advertir e me preparar? Como saber? Quando ouvi os passos de Javier na escada, rapidamente fui para nosso quarto e me meti na cama antes que ele entrasse. Não queria que soubesse o quanto eu estava preocupada. Lisa precisaria encontrar nós dois fortes, para enfrentar a operação, na manhã seguinte. Javier e eu nos sentamos, de mãos dadas, na pequena sala de espera junto à sala de operações, no hospital. Era natural que ambos orássemos, e o fizemos em silêncio. Os médicos entravam para informar às outras pessoas que também estavam esperando. "Seu pai está muito bem. Nem sequer precisamos operá-lo..." "Não tem do que se preocupar, sua esposa está perfeitamente bem." "Pode levar seu filho para casa esta tarde." Às duas da tarde olhei, e vi que vinham dois médicos pelo longo corredor. Um deles era o doutor Kovner. Seu rosto estava cinza. O outro era o doutor Gettleman. Javier se levantou de um salto e foi ao encontro deles, mas eu fiquei sentada. Sabia o que aconteceria, e minhas pernas pareciam de borracha. Era a mesma cena que tinha vivido em meu sonho. "Encontramos um tumor", disse o doutor Gettleman. "É inoperável. Se tivéssemos cortado, teríamos que amputar toda a perna." "É câncer?", perguntou Javier. "Sinto dizer que sim", respondeu o médico. "Está muito, muito mal. O osso do seu quadril está como se fosse manteiga. Se tivesse uma colher, poderia tê-lo tirado todo. A carne que rodeia o osso está como queijo gruyere, cheia de buracos. O laboratório já fez uma análise, e é o pior tipo de câncer. A única coisa que pudemos fazer foi costurá-la outra vez." "Não houve nada que pudessem fazer?", clamou Javier, com o rosto macilento e abatido. "Nada no momento. Depois que se recupere da operação, começaremos o tratamento com cobalto. Falaremos depois sobre isso." "Mas ficará boa, não é?", perguntou Javier. O doutor Gettleman sacudiu a cabeça. "Só posso dizer é que tentaremos lhe prolongar a vida. Não posso prometer nada mais." Olhei para o doutor Kovner. Embora não dissesse nada, o seu rosto expressava tudo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Lisa estava morrendo, e nenhum de nós podia fazer nada a respeito. Eu a havia devolvido a Deus, e ele tinha aceito meu oferecimento. Os médicos aconselharam que não deveríamos dizer nada a Lisa sobre seu estado. Duas semanas depois, a trouxemos novamente para casa, em uma cadeira de rodas, decididos a lhe dar o verão mais feliz de sua vida. O doutor Kovner não concordou com nossos planos de levar Lisa em umas longas férias. "Devemos começar o tratamento de cobalto o mais rápido possível", disse. "Se assinarmos a autorização e permitimos fazer o tratamento com radiação," perguntei, "o que pode nos prometer?" "Não podemos lhe prometer nada", respondeu ele. "Mas nunca saberá se ajudará ou não, a menos que o faça." "O que acontecerá se não permitirmos que lhe faça o tratamento?" "Não me agrada responder perguntas como essa", disse o doutor Kovner. "Mas, mesmo com o tratamento, o máximo que podemos estimar é seis meses. E estará muito, muito, muito mal quando morrer." Prometi conversar sobre isso com Javier. Ambos sentíamos que seria cruel que Lisa devesse passar seus últimos meses de vida sujeita a esse tratamento de radiação. Em 9 de junho, Lisa foi internada no Hospital Pediátrico de Los Angeles. Era o terceiro hospital em que entrava em três meses. A doutora Higgins, que estava encarregada de seu caso, disse que havia três áreas para onde poderia se espalhar o câncer: fígado, peito ou cérebro. Qualquer poderia ser fatal. Aparentemente, o câncer se espalha rapidamente nas crianças em idade de crescimento, e a única forma de tentar salvar sua vida era por meio do tratamento com cobalto e quimioterapia. Finalmente demos nossa autorização para que lhe realizassem o tratamento preliminar, e começaram a lhe aplicar uma série de injeções. O organismo de Lisa reagiu violentamente. Eu me sentava com ela durante toda a noite, enquanto ela vomitava e perguntava: "Mamãe, o que está acontecendo comigo? por que estou tão doente?" Era mais do que eu podia suportar. Javier e eu conversamos novamente e decidimos que seus últimos dias seriam vividos em nosso lar, conosco, em vez de no hospital. A levaríamos para casa. O capelão da escola em que Lisa estudava ficou sabendo de sua doença e a visitava todas as noites, levando a comunhão. Comentamos com ele nossa decisão de interromper o tratamento de cobalto. Ele concordou. "Se ela está morrendo, deveria passar os últimos dias de sua vida o mais feliz que fosse possível." "Lisa não tem absolutamente nenhuma possibilidade de recuperação sem a terapia de radiação", objetou a doutora Higgins, quando lhe comunicamos nossa decisão. Os outros médicos opinavam igual. "Se ficar no hospital, talvez possamos aprender algo que possa ajudar alguma outra garotinha dentro de cinco ou dez anos." "Não me interessa que minha filha se converta em uma experiência médica", lhes falei com total honestidade. "Só quero que ela se cure. Vocês podem me prometer isso?" "Sinto muito, senhora Larios", disseram os médicos. "A medicina não pode lhe prometer nada." No dia seguinte, levamos Lisa para casa, para que morresse em nosso lar. Passamos o resto do verão tentando fazê-la feliz. Nos endividamos muito para levá-la a passeio pela costa, comprar as coisas que queria, como gravador e outros objetos materiais. Mas tudo parecia tão pateticamente vazio. Não era bom que estivéssemos sentados ao seu redor, cobrindo-a de presentes, e esperando sua morte. Numa tarde, em meados de julho, alguém bateu à porta de nosso apartamento. Abri-a e vi nosso vizinho, um jovem solteiro chamado Bill Truett, parado no corredor. "Como está Lisa?", perguntou Bill. "Não está bem", respondi. "piorou desde que a tiramos do hospital." Bill sorriu fracamente e me olhou fixo aos olhos. "Ela ficará bem", disse com voz confiante. Encolhi os ombros. "Espero que sim." "Não, você não me compreendeu", disse seriamente. "Ela vai ficar bem. Alguma vez você ouviu falar de Kathryn Kuhlman?" "Bom, a vi umas duas vezes na TV, mas nunca prestei muita atenção." "Neste próximo domingo ela vai estar no auditório Shrine de Los Angeles", disse Bill. "Queria levar Lisa à reunião." Duvidei por um momento. Realmente não conhecia muito bem o Bill, e tinha ouvido dizer que as reuniões no Shrine eram muito prolongadas. Mas ele insistiu tanto, que finalmente concordei em ir junto com Lisa e ele, só para me livrar dele. Depois de lhe dizer que iríamos, fechei a porta e me encostei na mesa da cozinha. Javier estava trabalhando em um desenho junto à janela, olhando o pátio. Vários de seus desenhos estavam pendurados nas paredes de nossa casa. Eu sabia que ele estava interessado em desenvolver seu talento, mas também sabia que a pintura era uma forma de escape para ele. Quando estava ocupado com seus desenhos, não tinha tempo para pensar na Lisa. Observei seu rosto, parecia esculpido em
Compartilhar