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Kathryn Kuhlman - Nada é Impossível Para Deus (tradução)

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Nada é impossível para Deus 
 
 
 
Kathryn Kuhlman 
 
 
 
Publicado em espanhol, com o título: "Nada es imposible para Dios" 
Editorial Peniel, Buenos Aires, Argentina 
Originalmente publicado em inglês com o título: "Nothing is impossible with God" 
by Bridge Publishing, 
Copyright © 1974 by The Kathryn Kuhlman Foundation 
2ª edição, 2005 
Tradução para o espanhol: Virginia Lópes Gradjean 
ISBN 087-557-088-5 
Impresso na Colômbia 
 
 
 
Digitalização: JEm 
Tradução para o português: sssuca 
 
 
 
 
 
 
Nestas páginas... 
 
...você conhecerá Elaine Saint-Germaine, uma atriz cuja queda 
barranco abaixo em um caminho de drogas e satanismo foi detida por 
milagre... o Dr. Harold Daebritz, cuja esposa foi curada em segundos de 
uma lesão nas costas que tinha resistido a vinte anos de tratamentos em 
mãos de especialistas... e muitos, muitos mais. Maravilhosos, autênticos e 
imensamente comovedores, estes relatos são testemunhos irrefutáveis da 
incrível transformação que Deus pode produzir em qualquer pessoa que o 
busque. 
 
Índice 
 
 
 
Prefácio - Um tributo a Kathryn Kuhlman ............................................................ 4 
 
Capítulo 1 - O que chegou tarde ............................................................................ 6 
 
Capítulo 2 - Não há escassez no depósito de Deus ............................................. 13 
 
Capítulo 3 - Caminhando nas sombras ............................................................... 31 
 
Capítulo 4 - O dia em que a misericórdia de Deus se encarregou ...................... 44 
 
Capítulo 5 - Quando o céu baixa à Terra .............................................................. 53 
 
Capítulo 6 - Diga às montanhas .......................................................................... 71 
 
Capítulo 7 - Este é um ônibus protestante? ......................................................... 85 
 
Capítulo 8 - A cura é só o começo ....................................................................... 96 
 
Capítulo 9 - Um vazio com forma de Deus ........................................................ 105 
 
Capítulo 10 - A cética do chapéu de pele ............................................................ 115 
 
Prefácio 
Um tributo a Kathryn Kuhlman 
Creio que, a esta altura, todos a conhecem. Durante quase um 
quarto de século ela foi um vaso de Deus que fez com que a cura e a 
restauração fluíssem nas vidas de milhares de seres humanos. 
É amada e admirada por milhões de pessoas e difamada somente 
por aqueles que não acreditam na cura divina ou por quem não fez 
nenhum esforço em compreendê-la ou ao que ela representa. Mas eu a vi, 
antes de apresentar-se diante de uma multidão para expressar sua 
ilimitada fé em Deus, e a observei cuidadosamente. Uma e outra vez dizia: 
"Querido Deus, a menos que me unjas e me toques, eu não sou 
nada. Quando a carne se põe no meio do caminho, eu não tenho nenhum 
valor. Se não receberes toda a glória, eu não posso ministrar". 
E, de repente, sobe à plataforma. É explosivo, quase incrível. Não é 
tanto o que diz, porque sempre é tão claro e simples como o estilo de 
pregação que o próprio Senhor Jesus usava. Não o compreendo, e ela 
também não; mas quando o Espírito começa a mover-se sobre ela, (e se 
sente repentinamente movida a desafiar o poder do diabo no nome de 
Jesus), começam a acontecer os milagres. Em todo lugar, todos, até os 
mais rígidos e dignos, caem prostrados ao chão. Católicos e protestantes 
elevam as mãos e adoram a Deus, unidos... tudo decentemente e com 
ordem. O poder do Espírito Santo cai sobre as pessoas como as ondas do 
oceano. 
Os representantes dos meios televisivos logo compreenderam que 
ela não era falsa, nenhuma fanática. Conheciam pessoas que tinham sido 
tocadas por seu ministério. 
Sua sabedoria divina e sua capacidade não têm igual. Não é rica, 
nem está obstinadamente agarrada ao materialismo. Eu sei! Ela 
pessoalmente reuniu e entregou ao Teen Challenge o dinheiro necessário 
para construir em nossa granja um lugar para a reabilitação de viciados. 
Suas orações trouxeram o dinheiro necessário para construir igrejas em 
países subdesenvolvidos de todo o mundo. Apoiou a educação de meninos 
pouco capacitados e também outros jovens superdotados receberam seu 
amor e seu cuidado. Entrou comigo nos guetos de Nova Iorque e impôs 
suas mãos carinhosas sobre sujos viciados. Nunca duvidou nem voltou 
atrás; sua preocupação era genuína. 
Qual é a razão por que faço este tributo? Porque o Espírito Santo 
me ordenou que o fizesse! Ela não me deve nada, e eu não lhe peço nada 
mais que o mesmo amor e respeito que demonstrou por mim durante 
anos. 
Mas, muitas vezes, damos tributo unicamente aos mortos. Agora, 
pois, darei a uma grande mulher de Deus, que tocou tão profundamente 
minha vida e as de milhões de pessoas mais: Te amamos, no nome do 
Senhor! A história dirá sobre Kathryn Kuhlman: Sua vida e sua morte 
deram glória a Deus. 
 
David Wilkerson, autor de A cruz e o punhal. 
 
 
 
Capítulo 1 
O que chegou tarde 
 
Tom Lewis 
Tom Lewis, coronel reformado do Exército, é um dos 
produtores de filmes mais conhecidos de Hollywood. Sua 
lista de créditos no "Quem é quem na América" ocupa 
tanto espaço como as medalhas sobre seu peito. Foi o 
produtor fundador do Screen Guild Theatre, fundador do 
Serviço de Rádio e Televisão das Forças Armadas 
Americanas, do qual foi comandante durante toda a 
Segunda Guerra Mundial, e criador e produtor executivo 
de "O Show de Loretta Young". Como diretor da 
Universidade Loyola, recebeu inúmeros prêmios por 
excelência em produções televisivas, tanto no país como 
das forças armadas americanas estabelecidas em todo 
mundo. Devoto católico-romano, conta-se agora entre o 
crescente grupo dos assim chamados "católicos 
carismáticos". 
 
No inverno passado, meu filho (jovem diretor de filmes), e um 
produtor de mesma idade dele, planejavam realizar um programa especial 
de TV sobre o "povo de Jesus" 1. Aceitei escrever a apresentação, mas a 
contragosto. Como os "Meninos de Jesus" eram jovens, imaginei que meu 
filho e seu sócio deveriam contratar pessoal de idade similar. 
Minha investigação preliminar sobre os jovens, a respeito dos 
quais desejava saber mais, gerou em mim grande interesse e respeito por 
eles. Muitos tinham saído do inferno da dependência de drogas, através 
de uma fé renascida em Jesus Cristo. Até esse momento, eu ainda não 
tinha estudado a motivação religiosa do movimento. Entretanto, do ponto 
de vista humano, não pude me sentir menos do que muito impressionado 
por sua sinceridade, assim como assombrado e pasmado diante de sua 
maneira tão familiar de falar sobre Jesus, como se Ele estivesse ali mesmo 
com eles. 
 
1
 "Jesus People", um movimento cristão surgido na década de 70. 
Eu sempre tinha me considerado um homem razoavelmente 
religioso, que desfrutava da vida sacramental da Igreja Católica Romana. 
Eu não saía por aí referindo-me a Jesus Cristo como se me encontrasse 
com Ele pessoalmente com freqüência. Na verdade, muito raramente o 
mencionava por seu nome. Pensava que era melhor evitar o tratamento 
muito pessoal e preferia uma referência mais reservada, como "meu 
Senhor", ou "o bom Senhor". 
Como parte de minha tarefa, me pediu que estudasse o ministério 
de Kathryn Kuhlman. uma pessoa muito estimada pela "gente de Jesus". 
A senhorita Kuhlman vinha uma vez por mês ao auditório Shrine 
de Los Angeles para realizar um culto de milagres. Pedi dois assentos, na 
seção do centro, sobre o corredor, perto da frente. Entretanto, 
aparentemente não era assim que se obtinham os ingressos. Teria que 
entrar numa fila e arriscar tentar conseguir a localização desejada. A 
capacidade do auditório era de 7.500 pessoas, e me disseram que algumas 
vezes tentava entrar o dobro dessa quantidade de gente. Isto me deixou 
espantado, e essa sensação continuou durante quatroou cinco meses, já 
que foi esse o tempo que tive que esperar até poder chegar a entrar na fila. 
O dia em que cheguei a esse lugar era anormalmente quente para 
o mês de março, até na ensolarada Califórnia. Saí da rodovia na rua 
Hoover para evitar o trânsito da zona próxima ao auditório. Normalmente 
essa zona do centro da cidade estaria quase deserta em um domingo. Mas 
enquanto me aproximava do estádio, todos os lugares destinados para 
estacionar e as ruas estavam ocupadas. Os ônibus chegavam um após o 
outro à entrada principal, onde descarregavam seus passageiros. Alguns 
tinham placas que diziam "Fretado"; outros revelavam o nome de seus 
pontos de origem. Lembro de um de "Santa Bárbara", e outro, de "Las 
Vegas". Para meu assombro, havia um, cheio de pó, que tinha uma placa 
de "Portland, Oregon"... que "pequena viagem" tinham feito somente para 
assistir a um culto de milagres do Kathryn Kuhlman. Me perguntei o que 
seria o que a senhorita Kuhlman daria ali dentro. Não podia ser comida; 
havia muitas pessoas. Tampouco podia ser um bingo... como gerenciar 
7.300 cartões de bingo? 
Uma longa fila de pessoas em cadeiras de rodas avançava pela rua 
Jeferson para uma entrada lateral, pela qual eram imediatamente 
admitidas. Algo similar acontecia com um grande grupo de homens e 
mulheres com hinários nas mãos; aparentemente eram os membros do 
coro. Também havia muitos com colarinhos romanos e mulheres vestidas 
sobriamente. Me perguntei o que estariam fazendo ali todos esses padres 
e freiras. 
Encontrei um local, onde estacionei meu automóvel, e logo me 
juntei aos milhares de pessoas que esperavam diante da entrada principal 
do estádio. Meu relógio marcava onze em ponto. As portas seriam abertas 
à uma. Normalmente, eu não teria esperado tanto tempo por coisa 
alguma, nem sequer pela segunda vinda. Mas logo compreendi que essa 
era uma definição apressada. 
Começou a reunir-se uma grande quantidade de gente atrás de 
mim, e me encontrei perto do centro de uma grande multidão. Isto me 
deu uma ligeira sensação de claustrofobia, por isso me concentrei em 
tomar notas mentais com as quais construiria minha apresentação: 
grande multidão, muito ordenada; vários jovens que respondiam às 
características dos "Meninos do Jesus". 
Estes jovens tendiam a formar grupos, como ilhas num mar de 
corpos. Cantavam enquanto esperavam, não muito forte, não 
necessariamente para que outros os ouvissem; nem sequer atuavam como 
se tivessem muita consciência da presença de outros. Cantavam de forma 
bastante quieta e meditativa. Isso me pareceu estranho, incomum. 
Lembrava um grupo de cristãos coptos que vi uma vez em Roma, orando 
de forma audível, mas não em uníssono, independentemente de outros, 
mas juntos. 
Agora a quantidade de gente tinha realmente aumentado muito, e 
alguém que estava lá dentro se compadeceu de nós. As portas se abriram 
uns vinte minutos antes da uma. As pessoas que estavam atrás de mim se 
lançaram para a frente, e me empurraram para além da entrada. Isto me 
surpreendeu, porque tinha a mão na carteira, preparado para pagar meu 
ingresso. 
Uma senhora que estava justo atrás de mim viu, e riu. "Aqui, o 
dinheiro não o levará a nenhuma parte", disse. "Mas, se está lhe 
queimando no bolso, haverá uma oferta voluntária mais tarde." 
Assim todos se comportavam: em ordem, não festiva, como a 
multidão que assistiria a uma partida no estádio, bastante quieta, não 
muito comunicativos uns com outros, embora amistosos, quando se dava 
ocasião para conversar. 
Encontrei um assento bastante atrás e para o lado. 
A plataforma, brilhante e muito iluminada, estava cheia de 
atividade. Homens e mulheres com hinários nas mãos procuravam seus 
lugares em uma espécie de arquibancada que ocupava todo o espaço. Em 
ambos os lados havia dois grandes pianos. Parecia que havia centenas de 
pessoas no coro, mas, assim como entre o resto do povo, não havia 
desordem nem confusão. Apesar do constante movimento devido aos que 
chegavam tarde, o coro continuava cantando como se estivesse em uma 
silenciosa catedral. O diretor, um homem magro, branco e de aspecto 
aristocrático, guiava o ensaio com precisão e inquestionável autoridade. 
Uma anciã de aspecto encantador se sentou à minha direita. Pela 
atenção que me dedicou ou aos milhares de pessoas que a rodeavam, era 
como se estivesse sozinha na Capela de Nossa Senhora da Catedral de São 
Patrício. Tinha uma Bíblia aberta sobre o regaço, e algumas vezes a lia em 
silêncio. 
A Bíblia parecia o equipamento comum de muitos dos presentes. 
Dois jovens sentados atrás de mim tinham Bíblias, mas não as liam. 
Simplesmente cantarolavam ou cantavam as letras dos hinos que o coro 
ensaiava na plataforma. Isso eu não gostei. Nunca me agradei dos teatros 
ou concertos ou cinemas em que o público participa, sobretudo quando 
não lhe foi especialmente solicitado que o fizesse. Mas ia escutar muito 
mais destes jovens. 
Enquanto isso, as luzes brilhantes sobre a plataforma baixaram 
um pouco, e lhes acrescentou cor. As cores pastéis dos vestidos das 
mulheres do coro faziam um agradável contraste com o azul do cenário 
curvo que rodeava tudo. 
Uma vez terminado o ensaio, o coro começou a cantar segundo o 
programa. A maioria dos hinos eram conhecidos e muito queridos: "Quão 
grande és Tu", "Sublime Graça". Os cantores eram excelentes; mais tarde 
soube que provinham de igrejas de todas as denominações da zona de Los 
Angeles. 
Sem interrupção, o coro começou a cantar "Ele me tocou". Senti 
que uma tensa expectativa se apoderava da audiência. A luz de um spot se 
concentrou em uma área à direita do público. Todos ficaram de pé e aqui 
e acolá algumas pessoas começaram a aplaudir. A senhorita Kuhlman, 
uma figura frágil e magra, vestida com um encantador vestido branco, 
subiu à plataforma, cantando com o coro. Aproximou-se de um conjunto 
de alto-falantes à direita do centro do cenário, tomou um microfone 
pendente que colocou ao redor do pescoço, e sem se deter, dirigiu o coral 
em "Ele me tocou", energicamente, várias vezes, e finalmente em forma 
decrescente. Em seguida, sem explicação nenhuma, continuou com "Ele é 
o Salvador de minha alma". O público e Kathryn Kuhlman pareciam 
concordar em que estes hinos eram especiais para ela. Sem explicações, 
uma vez, mais, começou a orar em voz alta. O público ficou de pé, com as 
cabeças inclinadas, seguindo sua oração em silêncio. 
Soube então o que era o que tinha sido distinto no canto dessas 
"ilhas" de jovens que esperavam fora do auditório; o que era isso tão 
especial no canto desse grande coro que estava sobre a plataforma. 
Estavam cantando, sim, mas era mais do que cantar. Não estavam 
atuando; estavam adorando. E o público reagia de forma diferente. Não 
era público, era uma congregação. Cantavam a uma só voz com o coro, 
quando lhes indicava. Oravam em uníssono com a senhorita Kuhlman. 
Isto não era um show, era uma reunião de oração. Não sei como me senti 
nesse momento; provavelmente impressionado, e agradado por ter feito 
um descobrimento interessante. 
Entretanto, logo descobri outra coisa, que me surpreendeu muito. 
Uma e outra vez, os jovens que estavam sentados atrás de mim gritavam 
"Amém", e "Louvado seja Deus", aparentemente em resposta a uma 
oração ou a uma afirmação. Muitos outros faziam o mesmo. Outros 
levantavam as mãos em um gesto de súplica que relacionei com a posição 
das figuras bíblicas representadas nos vitrais de igrejas. "Já imagino 
aonde terminará tudo isto", pensei, e automaticamente comecei a 
procurar a saída mais próxima. 
Uma das coisas que mais me incomodava era um jovem que estava 
em uma das filas superiores do coro. Esteve quase todo o culto com as 
mãos levantadas. Este deve ser "o" milagre do culto de milagres, pensei. 
Nenhum sistema circulatório pode suportar a tensão de uma postura 
como essa durante muito tempo. Certamente seus braços cairiam como 
chumbo em pouco tempo. 
Mas depois me esqueci dele; esqueci-me de todos. Como a senhora 
que estavasentada a meu lado, era como se estivesse em uma capela 
remota, exceto, talvez, por uma Presença que normalmente não se sente 
em um auditório tão grande. 
Sim, era isso. Havia uma Presença ali, e era por isso que esta 
multidão de tantos milhares de pessoas ficava tão calada que, por 
momentos, eu podia escutar o som de minha própria respiração. Era por 
isso que se perdia a noção do tempo. Havia algo diferente ali; havia amor, 
específico e real. Sim, e mais que amor, estava essa Presença. Lembrei das 
palavras de uma canção dos Meninos de Jesus: "Saberão que somos 
cristãos por nosso amor, por nosso amor. Saberão que somos cristãos por 
nosso amor". 
Começaram as "curas": duas na fila perto de onde eu estava. Eu os 
vi antes que a senhorita Kuhlman os chamasse. Vi a expressão 
maravilhada de terem sido curados, depois sua incredulidade, a 
compreensão do fato e sua felicidade. 
Havia muitas, muitas curas na plataforma nesse momento. Alguns 
se levantavam das cadeiras de rodas. Uma freira paralítica caminhou; 
fazia anos que não podia fazê-lo. Vi gratidão nos que foram curados, um 
agradecimento tão evidente que quase podia ser tocado. Os drogados 
eram libertados, e na evidência de seus rostos transformados, luminosos, 
vi renascimentos interiores e regenerações morais. 
Perdi a conta do que vi, porque, em algum ponto desconhecido 
para mim, deixei de ver e comecei a sentir. Senti no mais profundo da 
minha consciência. 
Compreendi que participava de uma conversa, a mais assombrosa, 
nua, honesta conversa de minha vida. Estava falando com Deus. Em 
algum lugar no meu interior, estava contando a Deus coisas que nunca 
tinha sabido antes, ou que não tinha podido ou querido admitir. 
Apesar de toda a evidência de minha carne, dos fatos visíveis e 
aparentes de minha ocupada vida, o amor e a companhia de meus filhos e 
seus amigos, meus próprios amigos, que eram muitos, meus interesses no 
mundo, meus hobbies, apesar de toda essa evidência, estava dizendo a 
Deus que estava inquieto e sozinho. Profunda, desesperadamente 
solitário. Não de gente, nem de coisas. Tinha muito disso. Disse a Deus 
que estava vazio. Então me invadiu a emoção mais forte que jamais havia 
experimentado: fome. Uma fome selvagem, rude, primitiva. 
Vi que a plataforma e os corredores estavam cheios de gente. A 
senhorita Kuhlman convidava aqueles que queriam a Cristo em suas vidas 
para que fossem à frente, reconhecessem seus pecados, recebessem a 
Jesus como seu Salvador pessoal, e se entregassem completa e 
irrevogavelmente a Ele. 
Segui-os. Coloquei-me entre eles. Eu, que não participava, que me 
tinha feito sozinho, o sofisticado. Eu estava tomando esse compromisso, 
surpreendentemente consciente de tudo o que significava e da 
responsabilidade que assumia. Pedi a Deus que me livrasse de todo temor. 
E Ele o fez. 
Essa noite, enquanto voltava, em meu carro, à minha pequena 
cidade do Ojai, chorei. Chorei durante todo o caminho. Não me sentia 
nem triste nem feliz: sentia-me... limpo. 
Durante a noite, despertei e senti que compreendia, instantânea e 
plenamente, o que tinha acontecido. Me re-consagrei a Cristo, percebi que 
não duvidava e nem temia esse compromisso, e dormi profundamente 
uma vez mais, sem sonhar. 
Na manhã seguinte, já bem adiantada, fui caminhando desde meu 
lar no campo até a pequena cidade do Ojai. Sentia-me bem, descansado e 
em paz. As emoções do dia anterior já tinham ficado para trás. Passei 
junto à capela a que estava acostumado a freqüentar, uma capelinha de 
estilo colonial espanhol, localizada na rua principal. Era a época da 
Quaresma. Eram aproximadamente 11:30, e eu sabia que devia estar 
sendo celebrada a missa. 
Assim era. Cheguei a tempo para a celebração eucarística a que 
usualmente chamamos Santa Comunhão. Fui para o altar 
automaticamente, e como só havia seis ou oito pessoas presentes, 
recebemos ambos os elementos da Santa Eucaristia, pão e vinho. Em vez 
de voltar para os fundos da capela, ajoelhei-me no primeiro banco. 
Foi bom que o fizesse. O que eu tinha tomado em meu corpo não 
era pão e vinho, não era um símbolo, não era uma lembrança. Era o Corpo 
e o Sangue de Cristo, e o resultado em mim foi o mais profundo 
conhecimento da real presença de Cristo. Foi uma experiência de grande e 
inexprimível gozo, e meu corpo estremeceu violentamente devido ao 
esforço que realizava para contê-lo. 
Jesus, o Cristo, estava ali comigo, e cada célula de meu corpo era 
testemunha de que Ele era real. Descansei minha cabeça nos ombros e, 
por um momento, o tempo ficou suspenso. 
Deus vive. Deus vive verdadeiramente, e se move entre nós, e 
exala seu Santo Espírito sobre nós. E por mérito do sangue derramado 
por nós por seu divino Filho, Ele nos prepara tudo o que nos espera neste 
mundo de dor... e mais à frente. 
Louvado seja Deus! 
 
Capítulo 2 
Não há escassez no depósito de Deus 
 
Capitão John LeVrier 
Lembro a primeira vez que estive cara a cara com o 
capitão LeVrier. Um policial e diácono batista. Estava em 
uma situação crítica. Desesperado, tinha voado de 
Houston até Los Angeles. Mas deixemos que ele mesmo 
conte sua história. 
 
Sou policial desde que tinha vinte e um anos. Em 1936 comecei no 
Departamento de Polícia de Houston, e cheguei a ser capitão da Divisão 
de Acidentes. Em todos esses anos jamais estive doente. Mas em 
dezembro de 1968 fiz um exame físico, e tudo mudou. 
Eu conhecia o doutor Bill Robbins desde que ele era um interno e 
eu era um novato em minha profissão. Quando comecei minha carreira, 
ele estava acostumado a me acompanhar no automóvel da patrulha. Logo 
depois do que eu pensava ser um exame médico de rotina em seu 
consultório, no Sanatório Saint Joseph, o doutor Robbins tirou as luvas de 
borracha e se sentou na beirada da escrivaninha. Sacudiu a cabeça. "Eu 
não gosto do que encontrei, John", disse. "Quero que veja um 
especialista." 
O olhei de esguelha enquanto terminava de ajustar minha camisa 
na calça e segurava meu cinturão com a arma. "Um especialista? Para 
que? As costas doem um pouco, mas que policial...?" 
Ele não me escutava. "vou encaminhá-lo ao doutor McDonald, um 
urologista do sanatório." 
Eu sabia que era melhor não discutir. Duas horas depois, logo 
depois de um exame ainda mais cuidadoso, escutava outro médico, o 
doutor Newton McDonald. Ele não suavizou as coisas. "Quando pode 
internar-se, capitão?" 
"Me internar?" Detectei um pouco de temor em minha voz. 
"Eu não gosto do que encontrei", disse deliberadamente. "Sua 
próstata teria que ser do tamanho de uma pequena noz, mas está grande 
como um limão. A única forma de averiguar a causa é fazendo uma 
biópsia. Não podemos esperar. Você deveria internar-se, no máximo, 
amanhã pela manhã." 
Fui direto para casa. Logo depois do jantar, Sara Ann mandou as 
crianças para a cama. John tinha somente cinco anos; Andrew, cinco, e 
Elizabeth, nove. Então lhe dei a notícia. 
Ela escutou em silêncio. Tínhamos sido felizes juntos. "Não deixe 
para depois, John", disse com voz calma. "Temos muito por que viver." 
Apoiando-me na beira da mesa da cozinha, olhei-a. Era tão jovem, 
tão bonita. Pensei em nossos três lindos filhos. Ela tinha razão, eu tinha 
muito por que viver. Nessa noite liguei para minha filha Loraine, casada 
com um pastor batista, em Springfield, Missouri. Prometeu-me que 
pediria na sua igreja que orassem por mim. 
Três noites depois, logo depois de extensos exames (incluindo a 
biópsia), eu estava sentado em minha cama no hospital, comendo o 
jantar, quando a porta do quarto se abriu. Era o doutor McDonald com 
um dos médicos do hospital. Fecharam a porta e aproximaram duas 
cadeiras da minha cama. Eu sabia que os médicos geralmente estão muito 
ocupados e não têm tempo para bate-papos sociais, e comecei a sentir que 
meu pulso se acelerava. 
O doutor McDonald não me deixou especular muito. "Capitão, 
temos más notícias." Fez uma pausa. Era difícil para ele pronunciar estas 
palavras. Esperei, tratando de manter os olhos fixosem seus lábios. "Você 
tem câncer." 
Vi como seus lábios se moviam formando a palavra, mas meus 
ouvidos se negaram a registrar o som. Repetiu. Eu podia ver como se 
formava a palavra em seus lábios. Câncer, assim, simplesmente. Um dia 
sou forte como um boi, um veterano com trinta e três anos de serviço na 
Polícia. No outro dia, tenho câncer. 
Pareceu ter se passado uma eternidade até que pude responder. 
"Bem, o que fazemos? Suponho que terá que extirpá-lo." 
"Não é tão simples", disse o Dr. McDonald, limpando a garganta. 
"É maligno, e está muito avançado para que possamos tratá-lo aqui. 
Vamos encaminhá-lo aos médicos do Instituto de Câncer M. D. Anderson. 
Eles são famosos em todo o mundo por suas investigações no tratamento 
dessa doença. Se alguém pode ajudá-lo, são eles. Mas não está muito bem, 
capitão, e mentiríamos se lhe déssemos alguma esperança sobre o futuro." 
Ambos os doutores foram muito compassivos. Eu percebi que 
estavam comovidos, mas sabiam que eu era um policial veterano, e ia 
querer conhecer os fatos. Me fizeram saber isso, francamente, mas com a 
maior suavidade possível. Em seguida se foram. 
Sentei-me, olhando a comida que esfriava na bandeja. Tudo 
parecia sem vida: o café, o bife meio comido, a compota de maçãs. Afastei 
tudo de mim e me sentei no lado da cama. Câncer. Sem esperanças. 
Caminhei para a janela e olhei para fora, para a cidade de 
Houston, que eu conhecia como a palma de minha mão. Ela também 
tinha câncer; estava cheia de delitos e enfermidades, como qualquer 
grande cidade. Durante um terço de século eu tinha trabalhado, tentando 
deter o avanço desse câncer, mas era uma tarefa interminável. O Sol 
estava se ocultando, e seus raios moribundos se refletiam nas torres das 
Igrejas por sobre os telhados. Nunca tinha notado antes. Houston parecia 
estar cheia de Igrejas. 
Eu era membro de uma delas, a Primeira Igreja Batista de 
Houston. Na verdade, era um ativo diácono de minha igreja, embora 
minha fé pessoal não fosse muita. Alguns meus amigos brincavam 
dizendo que eu era da mesma classe de batista que Harry Truman: dos 
que bebiam, jogavam pôquer e amaldiçoavam. Embora eu tivesse ouvido 
o meu pastor pregar poderosos sermões sobre a salvação, nunca tinha tido 
nenhuma vitória em minha vida pessoal. Era diácono por minha posição 
na comunidade, mais do que por minha qualidade espiritual. Aqui estava 
eu agora, cara a cara com a morte, desesperado para encontrar algo a que 
me agarrar. Mas ao pôr os pés na água, não havia fundo. Sentia como se 
estivesse afundando. 
Olhei para baixo, do nono andar, onde estava. Seria fácil saltar 
pela janela. Eu tinha visto algumas pessoas morrerem de câncer, com seus 
corpos consumidos pela enfermidade. Seria muito mais fácil terminar 
com tudo agora. Mas algo que Sara havia dito tinha ficado gravado em 
minha mente: "Temos muito por que viver..." 
Voltei para a cama e me sentei na beirada, olhando no profundo 
dessa grande nuvem cinza e negra que parecia estar se fechando sobre 
mim. Como dizer a ela, e aos meninos, que ia morrer? 
No dia seguinte vieram os médicos do Instituto M. D. Anderson. 
Houve mais exames. O doutor Delclose, que estava encarregado de meu 
caso, foi realmente honesto comigo. "A única coisa que posso lhe dizer é 
que será melhor que se prepare para ver muitíssimos médicos", disse-me. 
"Quanto tempo tenho?", perguntei. 
"Não posso lhe dar nenhuma esperança", disse ele francamente. 
"Talvez um ano, talvez um ano e meio. O câncer está muito espalhado por 
toda a zona inferior do abdômen. A única forma com que podemos tratá-
lo é com grandes doses de radiação, o que significa que, ao mesmo tempo, 
mataremos muitos tecidos saudáveis. Mas se quisemos tentar prolongar 
sua vida, devemos começar já." 
Assinei a autorização, e começaram o tratamento com cobalto 
nesse mesmo dia. 
Eu acreditava na oração. Na Primeira Igreja Batista, orávamos 
todas as quartas-feiras pelos doentes. Mas sempre iniciávamos nossa 
oração por cura com as palavras: "Se for da Tua vontade, cura-o..." Era 
assim que me tinham ensinado. Eu não sabia nada sobre orar com 
autoridade, o tipo de autoridade que tinham Jesus e os discípulos. 
Realmente eu acreditava que Deus podia curar as pessoas, mas não 
acreditava que Ele fizesse milagres na atualidade. 
Portanto, quando fui receber o tratamento com raios, com o corpo 
raspado e marcado com um lápis azul como se fosse uma cabeça de gado 
pronta para a faca do açougueiro, a única oração que fiz foi: "Senhor, que 
esta máquina faça o que deve fazer". 
Bem, essa não é uma má oração, já que a máquina fora feita para 
matar células cancerosas. Obviamente, os médicos tratavam de evitar que 
a radiação afetasse outros órgãos, assim eu estava marcado até os 
detalhes em milímetros. O câncer estava na zona da próstata e devia ser 
tratado de todos os ângulos. A gigantesca máquina que irradiava cobalto 
rodeava a mesa, e a radiação penetrava em meu corpo de todos os 
ângulos. 
Os tratamentos diários duraram seis semanas. Recebi alta no 
hospital e me permitiram voltar ao trabalho, embora devesse retornar 
todas as manhãs para receber a dose. 
Tinham se passado quatro meses desde que minha doença foi 
diagnosticada. Aproximava-se a Páscoa, e Sara comentou que parecia que 
ia ser melhor que o Natal. Possivelmente o cobalto tinha obtido seu 
objetivo. Ou, melhor ainda, possivelmente os médicos se equivocaram. 
Então, cento e vinte dias depois do primeiro diagnóstico, chegou a dor. 
Era uma sexta-feira ao meio dia. Eu tinha prometido a Sara que 
nos encontraríamos no pequeno restaurante, onde costumávamos nos 
reunir para almoçar. Ela já tinha chegado. Eu sorri, apoiei minha boina de 
polícia no batente da janela, e me sentei junto a ela. Enquanto o fazia, 
senti como se tivesse sido apunhalado. A dor atravessava meu quadril 
direito em terríveis espasmos. Não podia falar, só podia olhar para Sara 
em muda agonia. Ela segurou meu braço. 
"John", sussurrou. "O que está acontecendo?" 
A dor se dissipou lentamente, me deixando tão fraco que quase 
não podia falar. Contei-lhe. Então, como a maré que retorna à margem, a 
dor voltou. Era como fogo nos ossos. Meu rosto brilhava de transpiração; 
abri a camisa e afrouxei minha gravata. A garçonete que tinha vindo nos 
servir notou que algo estava mal. "Capitão LeVrier," disse, preocupada, 
"está você bem?" 
"Estarei bem", respondi finalmente. "É que tive uma dor 
repentina." 
Decidimos não comer. Em vez disso, fomos diretamente ao 
hospital, e o doutor Delclose ordenou imediatamente novas radiografias. 
Enquanto me preparavam, pus a mão sobre o quadril direito e senti a 
fenda. Era do tamanho de uma moeda grande e parecia um oco sob a pele. 
Os raios X mostraram o que era: o câncer tinha feito um buraco que 
atravessava o quadril. Só a pele cobria a cavidade. 
"Sinto muito, capitão", disse o médico. "O câncer está se 
espalhando, como esperávamos." 
Em seguida, em um tom moderado, concluiu: "Começaremos 
novamente as aplicações de cobalto, e faremos tudo o que for possível 
para que o tempo que lhe resta seja o menos doloroso possível." 
As viagens diárias ao hospital começaram outra vez. Sara 
procurava manter-se calma. Ela tinha trabalhado no Departamento de 
Polícia antes de nos casarmos, e tinha estado exposta à morte muitas 
vezes. Mas isto era diferente. Eu não sabia então, mas os médicos lhe 
haviam dito que provavelmente eu não tivesse mais do que seis meses de 
vida. 
Continuei trabalhando, embora cada vez mais fraco. Era difícil 
saber se era devido ao câncer ou ao cobalto. Uma tarde Sara me buscou ao 
sair do trabalho e me disse: "John, estive pensando. Faz bastante tempo 
que estou fora de circulação. O que diria de eu voltar a trabalhar?" 
"Já tem trabalho", disse-lhe, em tom de brincadeira, "somente 
cuidando dos meninos. Eu ganharei o pão para esta casa. Ainda faltam 
muitas milhas para percorrer." 
"Continua sendo o policial durão, não?", disse ela. "Bem, eu 
também sou durona. Vou me inscrever nafaculdade." 
Comecei a compreender o que ela estava fazendo: estava pondo as 
coisas em ordem. Era hora de eu fazer o mesmo. Mas antes que pudesse, 
houve uma novidade. Cirurgia. 
"É a única forma de mantê-lo vivo", disse a cirurgiã. "Este tipo de 
câncer se alimenta de hormônios. Vamos ter que redirecionar o curso dos 
hormônios em seu corpo por meio da cirurgia. Se não o fizermos, 
realmente terá pouco tempo." 
Aceitei a operação, mas antes de cento e vinte dias, o câncer 
apareceu novamente na superfície, desta vez na coluna. 
Numa tarde de domingo, em junho, finalmente a ficha caiu. Sara 
tinha levado os meninos a um piquenique da Escola Bíblica de Férias, e eu 
estava em casa, cuidando de transplantar uma plantinha num canteiro. 
Estava tão fraco que estava difícil me inclinar, mas pensei que o exercício 
me faria bem. Tinha cavado uma pequena cova na terra, e quando me 
inclinei para pegar a plantinha, uma dor, como se me tivessem aplicado 
um raio de mil volts, me paralisou a parte inferior das costas. Caí para a 
frente, na terra. 
Nunca tinha imaginado que podia existir uma dor tão terrível. Não 
havia ninguém próximo para me ajudar, então, me arrastando, um pouco 
de quatro, um pouco sobre o estômago, subi os degraus e entrei na casa. 
Então, pela primeira vez, me rendi. Jogado ali no piso, na casa vazia, 
chorei e gemi descontroladamente. Tinha estado reprimindo-o por Sara e 
os meninos, mas essa tarde, com a casa vazia, fiquei ali chorando e 
gemendo até que a dor finalmente se dissipou. 
Depois disso, seguiu-se uma nova série de aplicações de cobalto, e 
mais olhares desesperançados dos médicos. Tinha recebido minha 
sentença de morte. 
O câncer nos destrói de dentro para fora, e eu não era o único na 
família que tinha sofrido desse mal. Os maridos de minhas duas irmãs, 
que também viviam em Houston, tinham morrido de câncer. Ambos 
tinham aproximadamente cinqüenta anos, como eu. Parecia que agora era 
minha vez. Era hora de terminar de pôr minhas coisas em ordem. 
Sempre tinha desejado possuir um grande automóvel antigo. Num 
impulso de esbanjamento, comprei um Cadillac que só tinha três anos de 
uso. Quando terminou o verão, colocamos a toda a família no carro e 
partimos, para o que eu acreditei que seriam minhas últimas férias. 
Queria que fosse especial para as crianças. Anos antes, tinha viajado pela 
costa noroeste do Pacífico, e agora queria que Sara e as crianças 
conhecessem essa parte do mundo, que tinha significado tanto para mim: 
o curso do rio Columbia, o monte Hood, a costa de Oregon, lago Louise, 
Yellowstone e as Montanhas Rochosas. As crianças não sabiam, mas Sara 
e eu acreditávamos que seria nosso último verão juntos, como família. 
Voltei para Houston para juntar alguns fios soltos. Mas quando a 
vida está destruída além de toda possibilidade de conserto, é impossível 
recolher os pedaços. A única coisa que se pode fazer é deixá-los soltos e 
esperar o final. 
Num sábado pela manhã, no começo do outono, entrei em casa e 
liguei a tv no canal Nosso Pastor, da Primeira Igreja Batista. John Bisango 
tinha um programa chamado "Terras Altas". John estava em Houston, 
vindo de Oklahoma, onde sua igreja tinha sido reconhecida como a igreja 
mais evangelística da Convenção Batista do Sul. O que tinha acontecido 
em Oklahoma estava começando a dar-se também em Houston. Eu estava 
muito entusiasmado com seu ministério. 
Muito fraco para me levantar, fiquei jogado na cadeira enquanto 
terminava esse programa e começava outro. "Eu creio em milagres", disse 
a voz de uma mulher. Olhei para a tela. Não me impressionava; poucos 
batistas se sentiriam impressionados por uma mulher pregadora. Mas, à 
medida que avançava o programa, e esta mulher, Kathryn Kuhlman, 
falava de maravilhosos milagres de cura, algo dentro de mim se acendeu. 
"Será real isto?", pensei. 
O programa terminou, e começaram a passar os créditos na tela. 
De repente, vi um nome conhecido: Dick Ross, produtor. 
Eu conhecia o Dick; conhecia-o desde 1952, quando ele estava em 
Houston, trabalhando com Billy Graham na produção do Oiltown, USA". 
Na verdade, eu tinha tido um pequeno papel nesse filme, e, a partir daí, 
me tornei amigo de Billy Graham e sua equipe, e cuidava da segurança 
toda vez que vinham a Houston. E agora via o nome de Dick Ross 
relacionado com esta pregadora que falava de milagres de curas. 
Eu tinha me mantido em contato com o Dick através dos anos. 
Toda vez que eu ia à Califórnia a trabalho, procurava-o. Tinha-o visitado 
na sua casa, e até tinha assistido a sua aula de escola dominical na igreja 
presbiteriana. Peguei o telefone e liguei para ele. 
"Dick, acabei de assistir o programa de Kathryn Kuhlman. São 
verdadeiras essas curas?" 
"Sim, John, são de verdade", respondeu Dick. "Mas teria que 
assistir a uma dessas reuniões no auditório Shrine para ver por si mesmo. 
Por que pergunta?" 
Duvidei por um momento, mas, em seguida falei: "Dick, tenho 
câncer. Já apareceu em três áreas de meu corpo, e temo que a próxima vez 
me matará. Sei que parece que estou tentando me agarrar a algo 
impossível, mas isso é o que faz um homem que vai morrer." 
"Vou fazer que a senhorita Kuhlman lhe ligue pessoalmente", disse 
Dick. 
"Oh, não", protestei. "Sei que ela deve ser muito ocupada para 
atender um policial de Houston. Só me diga onde posso conseguir seus 
livros." 
"Eu lhe enviarei seus livros", disse Dick. "Mas também lhe pedirei 
que ligue para você, como um favor pessoal a mim." 
Em menos de uma semana, ela me ligou. "Sinto como se já o 
conhecesse", disse-me, e sua voz soava exatamente igual como no 
programa de TV. "Anotamos seu nome na lista de oração, mas não deixe 
de vir a alguma das reuniões." 
Embora Sara e eu tenhamos lido seus livros e nos convertidos em 
ávidos espectadores de seu programa de TV, na verdade eu adiava o 
momento de assistir a alguma reunião de Kathryn Kuhlman. "Onde 
estivemos durante toda a vida?", perguntava Sara. "Essa mulher é famosa 
no mundo todo, mas nunca ouvi falar dela antes." 
Como tantos outros batistas, simplesmente não tomávamos 
conhecimento de que havia outras coisas acontecendo no Reino de Deus, 
além da Convenção Batista do Sul. Agora nossos olhos estavam sendo 
abertos, não só a outros ministérios, mas também a outros dons do 
Espírito e ao poder de Deus para curar. Era tudo tão novo, tão diferente. 
Mas eu compreendia que era bíblico. Apesar da minha ignorância dos 
dons sobrenaturais de Deus, tinham-me ensinado a aceitar que a Bíblia é 
a Palavra de Deus. Quando começamos a ver todas essas referências ao 
poder do Espírito Santo, referências que nunca tínhamos visto antes, 
nossos corações começaram a sentir fome, não só de cura, mas também 
de receber a plenitude do Espírito Santo. 
Em fevereiro, soube que meu tempo estava se esgotando. Sara e as 
crianças também sabiam. "Papai", disse-me Elizabeth, "você vai à 
Califórnia, e ficaremos em casa orando. Acreditamos que Deus vai curá-
lo". 
Olhei para Sara Ann. Com os olhos úmidos, assentiu e disse: 
"Creio que Deus o curará." 
Na sexta-feira, 19 de fevereiro, voei de Houston até Los Angeles. 
Uns velhos amigos de Los Angeles me emprestaram seu carro, e encontrei 
um hotel onde ficar em Santa Monica. Como policial e como batista, 
queria formar uma idéia sobre a senhorita Kuhlman antes de assistir à 
reunião, no domingo. 
Soube que ela geralmente vinha de Pittsburgh no dia anterior ao 
culto no Shrine. Também fiz algumas perguntas, usando minhas técnicas 
de polícia, e averigüei onde se alojava. Logo tive toda a informação de que 
precisava. 
Na manhã seguinte, cedo, fui ao seu hotel. Como policial que era, 
foi fácil para mim contatar os oficiais da segurança e lhes tirar 
informações. Pouco depois me disseram o horário em que geralmente a 
senhorita Kuhlman chegava. 
Sentei-me no saguão do hotel e esperei. Uma hora depois se abriu 
a porta, e ela apareceu. Era exatamente como a tinha imaginado. 
Descaradamente, a interceptei quando ia para o elevador. "SenhoritaKuhlman", disse-lhe, "sou aquele capitão da polícia do Texas." 
Ela me mostrou um amplo sorriso e exclamou: "Ah, sim! Você veio 
para ser curado". 
Falamos durante uns instantes. Em seguida lhe disse: "Senhorita 
Kuhlman, sou um crente em Jesus Cristo, nascido de novo. Sei que não 
tenho que ser curado para ser crente, porque já o sou. Mas você fala de 
algo em seus livros, que eu quero tanto quanto a cura física". 
"O que é?", perguntou ela, examinando meu rosto. 
"Quero ser cheio do Espírito Santo." 
"Oh," sorriu docemente, "prometo-lhe que pode ter isso." 
"Bom, estou gravemente doente, mas ainda estou forte para ir ao 
auditório e esperar na fila. Tenho lido seus livros e conheço a forma como 
se conduzem suas reuniões. Me levantarei bem cedo para conseguir um 
bom lugar." Despedi-me e comecei a me retirar. 
"Espere!", disse ela. "Estou sentindo algo, e tenho que ser 
obediente ao Espírito Santo. Venha aqui pela manhã, e iremos juntos até 
o auditório. Pode nos seguir em seu automóvel." 
Por um instante, duvidei. "Senhorita Kuhlman, faz tanto tempo 
que sou polícial, e aproveitei muitas vezes as situações para obter o que 
queria mais rapidamente... Desta vez, não quero fazer nada que possa ser 
obstáculo para minha cura. Simplesmente irei e me porei na fila com os 
outros." 
Sua voz soou encolerizada, e seus olhos brilharam. "Agora, deixe 
eu lhe dizer algo", disse, marcando cada palavra. "Deus não vai curá-lo 
porque você se comporta bem. Ele não vai curá-lo porque você é um 
capitão de polícia. E certamente não curá-lo pela forma como chegar à 
reunião." 
Não foi necessário que dissesse mais nada. Na manhã seguinte, a 
segui do hotel até o auditório Shrine. Chegamos às 9.30. Embora a 
reunião não começasse até a uma da tarde, a calçada onde estava a 
entrada do enorme auditório estava cheia de pessoas, milhares de 
pessoas. 
Entramos pela parte da plataforma, e a senhorita Kuhlman me 
disse: "Agora, sinta-se em liberdade para andar por este lugar, até que 
veja que me reúno com os obreiros. Quando isso acontecer, quero que 
você esteja comigo." 
Aceitei, e andei percorrendo o vasto auditório. Centenas de 
obreiros, que tinham viajado muitos quilômetros para colaborar 
voluntariamente, estavam ocupados, colocando as cadeiras para o coro de 
quinhentas pessoas, preparando a seção onde estariam os que vinham em 
cadeiras de rodas, acomodando os que tinham vindo em ônibus fretados, 
e arrumando o lugar para o que ia ocorrer. 
Eu quase podia sentir a expectativa, enquanto percorria o salão. 
Era como eletricidade. Todos sussurravam em voz baixa, como se o 
Espírito Santo já estivesse presente. Que diferença das experiências que 
tinha tido nos cultos da igreja! Eu também o sentia, e repentinamente, já 
não era mais um policial, nem um diácono de uma igreja batista. Era 
somente um homem que sofria de câncer, que precisava de um milagre 
para viver. Se esse milagre pudesse acontecer, seria nesse lugar. 
Um dos homens se apresentou como Walter Bennett. Reconheci 
seu nome imediatamente. Tinha lido seu testemunho em "Deus pode 
fazê-lo outra vez". Sua esposa Naurine tinha sido curada de uma horrível 
enfermidade. Ele me levou para a porta que dava à plataforma, onde ela 
montava guarda. O simples fato de vê-la tão radiante, sabendo que tinha 
estado a ponto de morrer, deu-me nova esperança e fé. Senti vontade de 
chorar. 
"John", disse-me Walter, "temos algo em comum. Você é um 
diácono batista, e eu fui um diácono batista, também. Vamos tomar uma 
xícara de café." 
Saímos por uma porta lateral e encontramos um café ali perto. 
"Depois que for curado," disse Walter, "é possível que seus 
companheiros batistas não queiram ter mais nada a ver com você." Sorriu 
como se soubesse. Falava com tal fé, como se estivesse certo de que eu ia 
ser curado. 
"Não me importa o que pensem os outros sobre mim, se for 
curado," falei, "contanto que Deus toque meu corpo." 
Walter sorriu. Senti muito amor por este novo amigo. 
"Bom, há algo de que podemos estar certos", disse suavemente. 
"Deus não o trouxe de tão longe até aqui para nada. Você vai voltar para 
Houston sendo um homem novo." O fato de que esse diácono batista 
falasse com tanta fé me enchia de entusiasmo. Estava ansioso para que 
começasse a reunião. 
Ali no auditório, a senhorita Kuhlman se estava reunindo com os 
obreiros, para lhes dar as últimas instruções antes que se abrissem as 
portas. Me juntei a eles sobre a plataforma. 
"Hoje temos aqui conosco um homem que é capitão da polícia de 
Houston", disse Kathryn. "Ele tem câncer em todo o corpo, e vou orar por 
ele agora. Quero que cada um de vocês, homens, inclinem-se em oração, 
enquanto rogo ao Senhor por ele." 
Percebi que isso era algo especial. Sabia que o ministério da 
senhorita Kuhlman era simplesmente dizer o que Deus fazia à medida que 
se desenvolviam os grandes cultos de milagres; que ela não tinha nenhum 
dom pessoal de cura, em particular. Fez um sinal para que eu me 
aproximasse e esticou suas mãos sobre mim. 
Embora esse fosse o momento pelo qual eu tinha esperado, 
duvidei. Lembrei o que tinha lido em seus livros, que muitas vezes, 
quando ela orava por alguém, a pessoa caía ao chão. Eu achava que isso 
de cair estava muito bem para alguns pentecostais, mas não era para um 
batista, e muito menos para um capitão da polícia. Mas não tinha opção. 
Dei um passo à frente e deixei que orasse por mim. 
Apoiando firmemente os pés em minha melhor postura de judô, 
esperei, enquanto ela me tocava e orava por minha cura. Não aconteceu 
nada, e quando comecei a relaxar, escutei-a dizer: "E enche-o, bendito 
Jesus, com o Espírito Santo". 
Senti que cambaleava, e pensei: "Não pode ser!" Firmei-me sobre 
meus pés, colocando-os um atrás do outro, e a escutei dizer pela segunda 
vez: "E enche-o com teu Santo Espírito". 
Senti como se alguém tivesse posto suas mãos sobre meus ombros 
e me estivesse empurrando para o chão. Não pude resistir, e desabei sobre 
a plataforma. Lutei para recobrar a posição vertical, justamente quando a 
escutava dizer pela terceira vez: "Enche-o com teu Espírito Santo". E caí 
de novo. 
Desta vez fiquei no chão durante vários minutos. Sentia como se 
estivesse afundando em uma piscina cheia de amor. Alguém me ajudou a 
levantar, e escutei que ela me dizia: "Agora, procure um assento. Vamos 
abrir este lugar, e em poucos minutos todos os assentos estarão 
ocupados". 
Deveria havê-la escutado, porque momentos depois se abriram as 
portas e o povo entrou correndo pelos corredores como a lava de um 
vulcão. Pude subir por um dos corredores, e me detive, olhando uma 
seção inteira do auditório cheia de gente em cadeiras de rodas. Não podia 
tirar meu olhar de seus rostos. Alguns eram tão jovens e já estavam tão 
deformados... senti desejo de chorar novamente. "Oh, Senhor, como sou 
tão egoísta para desejar me curar, quando há tantas pessoas aqui, 
algumas delas tão jovens?" 
Enquanto estava assim parado, olhando-os, pela primeira vez em 
minha vida, escutei a voz de Deus em meu interior, que dizia: "Não há 
escassez no depósito de Deus". 
Com novas forças voltei para a parte detrás, e lenta, 
dolorosamente, subi as escadas até encontrar um assento na primeira fila 
do mezanino. 
Faltava ainda um pouco antes que começasse a reunião. O enorme 
coro havia tomado seu lugar na plataforma e fazia os últimos ensaios. 
Entretive-me, observando as diferentes pessoas que estavam sentadas ao 
meu redor, e me apresentei ao homem que estava sentado junto a mim. 
"Sou o doutor Townsend", saudou-me. 
"Você é médico?", perguntei-lhe, assombrado de que um médico 
estivesse assistindo a um culto de cura. 
"Sim", respondeu, tirando seu cartão. "Venho porque sou muito 
abençoado. Eu gosto de ver o enorme poder de Deus em ação." Em 
seguida, apresentou a sua família. "Trouxe o meu pai, que veio de outro 
Estado. Esta é a primeira reunião a que assiste." 
Sentado do outro lado do corredor estava um de meus atores 
favoritos da TV. "Vejam só.", pensei."Médicos e estrelas de TV que vêm e 
se sentam aqui em cima! Não vieram para ser reconhecidos, mas sim para 
participar da reunião." Estava impressionado. 
O culto começou. Uma linda jovem, uma modelo cujo rosto eu 
tinha visto na capa das revistas femininas que Sara lia, deu um rápido 
testemunho sobre o que Jesus Cristo significava em sua vida. 
Eu tinha estado em muitas reuniões evangelísticas, mas esta era 
incomum. Possivelmente era a expectativa que havia no ambiente, 
possivelmente a sensação de maravilha. Fosse o que fosse, era diferente 
de qualquer outra reunião a que tivesse assistido. 
A senhorita Kuhlman falava da plataforma. "Sabem, pediram-me 
que separasse este domingo para os jovens, mas há pessoas que vieram de 
tão longe, que não me atrevo a dizer: 'Só para os jovens'. No entanto, 
como há tantos jovens aqui hoje, devo lhes falar". 
Sua mensagem foi breve e dirigida aos jovens. Falou do amor de 
Deus e, em seguida, apresentou um dos apelos mais desafiantes que 
jamais escutei. Bem, se há algo que impressiona um batista, são as 
quantidades e o movimento. E quando vi quase mil jovens deixarem seus 
assentos e irem para a frente, para tomar uma decisão por Cristo, isso me 
impressionou. Ao contrário da maioria dos cultos evangelísticos que tinha 
assistido, esta reunião não tinha fanfarras, nem testemunhos 
lacrimogêneos. Só um simples convite desta mulher alta que havia dito: 
"Quer nascer de novo?" Os jovens responderam, muitos deles literalmente 
correndo pelos corredores para aceitar esse desafio. 
Ela parecia ter esquecido o passar do tempo enquanto os atendia 
sobre a plataforma, orando por muitos deles individualmente. 
Finalmente, voltaram para seus assentos, mas a congregação estava 
percebendo que ia acontecer algo mais. 
"Pai", sussurrou a senhorita Kuhlman, em voz tão baixa que eu 
quase não podia ouvi-la, "acredito em milagres. Acredito que tu curas no 
dia de hoje, como o fazias quando Jesus Cristo estava aqui. Tu conheces 
as necessidades das pessoas que estão aqui, neste imenso auditório. Peço-
te isso no nome de Jesus. Amém." 
Em seguida houve um silêncio. Eu sentia meu coração batendo 
dentro do peito. Tinha consciência de cada célula de meu corpo e quase 
podia sentir a batalha espiritual que estava ocorrendo enquanto as forças 
do Espírito Santo lutavam contra as forças do mal em meu corpo. "OH, 
Deus", orei, em adoração. "OH, Deus." 
De repente, a senhorita Kuhlman estava falando outra vez, e sua 
voz falava rapidamente à medida que recebia conhecimento do que 
acontecia no auditório. "Há um homem no mezanino, no extremo direito 
de onde estou, que acaba de ser curado de câncer. Levante-se, senhor, em 
nome de Jesus Cristo, e receba a cura." 
Olhei. Ela apontava para o lado oposto de onde eu estava. Era 
extraordinário. Eu somente podia observar, maravilhado, enquanto sentia 
um entusiasmo crescente. Isto era real. Eu sabia. 
"Não venha à plataforma a menos que tenha certeza de que Deus o 
curou", enfatizava ela. 
Olhei ao meu redor e vi os ajudantes caminhando pelos 
corredores. Estavam falando com pessoas que acreditavam terem sido 
curadas, certificando-se de que só aqueles que verdadeiramente tinham 
recebido cura fossem dar testemunho. 
A maioria das pessoas curadas que davam testemunho tinham 
estado sentadas no mezanino. Foram da direita à esquerda: 
"Duas pessoas estão sendo curadas de problemas na vista." 
"Uma mulher está sendo curada agora mesmo de artrite. Levante-
se e proclame sua cura." 
"Você está sentada na parte do meio do mezanino." 
A senhorita Kuhlman dizia: "Você veio hoje para receber cura. 
Deus a restaurou. Tire o aparelho de surdez. Pode ouvir perfeitamente." 
Olhei. Uma mulher de aproximadamente quarenta anos estava 
ficando de pé, tirando os aparelhos de surdez dos dois ouvidos. Um 
ajudante, por trás dela lhe sussurrava algo. Pensei que a mulher ia gritar 
enquanto levantava as mãos sobre sua cabeça, louvando a Deus. Podia 
ouvir. O doutor que estava sentado ao meu lado chorava, dizendo: 
"Obrigado, Jesus". 
As curas aconteciam em direção a onde eu estava sentado. 
"Senhor, que não se acabem", orei. Então lembrei o que Ele me tinha 
sussurrado quando estava no corredor, em baixo: "Não há escassez no 
depósito de Deus". 
Repentinamente vi que a senhorita Kuhlman estava assinalando 
para cima e à esquerda, onde eu estava sentado. "Você veio de muito 
longe para ser curado de câncer", disse. "Deus o curou. Fique de pé em 
nome de Jesus e proclame-o." 
Eu estava tão longe da plataforma! Possivelmente ela nem 
imaginava que eu estava ali. Mas seu dedo, comprido e magro, apontava 
em minha direção. 
"OH, Senhor," murmurei, "é óbvio que quero ser curado. Mas, 
como saber que isso é para mim?" 
Nesse mesmo instante, a mesma voz interior que tinha escutado 
em baixo, quando olhava aos cadeirantes, disse-me: "Fique de pé!" 
Coloquei-me de pé. Sem sentir nada, simplesmente o fiz em 
obediência e fé. 
Então eu senti. Era como ser batizado em energia líquida. Nunca 
havia sentido uma força assim percorrendo todo meu corpo. Senti que 
poderia tomar em minhas mãos a lista telefônica de Houston e parti-la em 
pedaços. 
Uma mulher se aproximou de mim. "Você foi curado de algo?" 
"Sim", declarei, com vontade de saltar e correr ao mesmo tempo. 
"Como sabe?" 
"Nunca me senti tão gloriosamente bem. Quase não tive forças 
para chegar até este assento, e agora, sinto-me tão bem!" Enquanto isso, 
eu me esticava e me dobrava, fazendo coisas que não tinha podido fazer 
durante mais de um ano. "Sinto que poderia correr mais de um 
quilômetro." 
"Então corra até a plataforma e testemunhe", disse ela. 
Lancei-me a correr. Mas, enquanto o fazia, comecei a me 
perguntar: "E se houver aqui alguém de Houston? Vou chegar correndo à 
plataforma, e a senhorita Kuhlman vai pôr suas mãos sobre mim e vou 
cair no chão. O que pensarão?" 
Então percebi que não me importava. Momentos depois, estava 
junto à senhorita Kuhlman, na plataforma. Ela caminhou para mim e 
disse simplesmente: "Te agradecemos, bendito Pai, por curar este corpo. 
Enche-o com teu Espírito Santo". 
Bam! No chão outra vez. Mas desta vez, devido à nova energia 
curadora que enchia todo meu corpo, levantei-me imediatamente. Na 
segunda vez, nem sequer me tocou. Só orou em minha direção, e a ouvi 
dizer: "OH, o poder..." E caí de novo no chão. 
Desta vez fiquei ali, me regozijando novamente nessa maré de 
amor líquido. Mas, mesmo ali, Satanás me atacou. Veio como leão 
rugindo. "O que o faz acreditar que foi curado?" 
A senhorita Kuhlman já tinha posto sua atenção em outra pessoa. 
Rolei e me pus de joelhos, com a cabeça nas mãos, orando: "OH, Pai, me 
dê fé para aceitar o que sinceramente creio que me deste". 
Durante muitos anos eu tinha recebido muitos estudos bíblicos 
batistas. Minha mente tinha sido verdadeiramente exposta à Palavra de 
Deus, e nesse momento, um versículo veio à minha mente: "Provai-me 
agora, diz o Senhor..." 
Pensei em todos esses corpos deformados que tinha visto. "Pai, me 
mostre um sinal visível para que minha fé se fortaleça." 
Abri os olhos, e vi uma garotinha de nove anos que se aproximava 
da plataforma. Nunca vi alguém mais feliz. Estava correndo e saltando, 
descalça. Dançava de um lado ao outro em frente à plataforma, junto à 
senhorita Kuhlman, que se esticava para tomá-la pela mão, mas não pôde 
alcançá-la. Deu a volta e começou outra vez. Novamente a senhorita 
Kuhlman quis pegá-la, mas outra vez lhe escapou dançando. Nesse 
momento, a mãe da menina já estava sobre a plataforma. Nas mãos tinha 
um par de sapatos com rígidas barras de metal. 
Sem poder alcançar a garotinha, que continuava saltando e 
dançando, a senhorita Kuhlman se voltou para a mãe: "O que temos 
aqui?" 
"Essa é minha filhinha", soluçava a mãe. "Teve paralisia infantil 
quando era bebê e nunca pôde tornar a andar sem estes sapatos especiais. 
Mas olhe para ela agora!" 
Toda a congregação prorrompeu em estrondosos aplausos. 
"Como você soube que Deusa curou?", perguntou Kathryn 
Kuhlman. 
"Oh, senti o poder curador de Deus percorrendo seu corpo", quase 
gritou a mãe. "Tirei-lhe os sapatos ortopédicos, e ela começou a correr." 
Atrás dela havia outra mãe, que tinha nos braços uma menina de 
dois anos. "O que aconteceu aqui?", perguntou a senhorita Kuhlman. 
"Deus acaba de curar o pezinho de minha filhinha." A voz da mãe 
tremia tanto que era difícil entender o que dizia. 
A senhorita Kuhlman tomou o pezinho da menina. "Era este o pé 
prejudicado?" 
"Sim, sim, era esse", disse a mãe, sustentando na mão um sapato 
especial. "A menina nasceu com pé chato. Sofreu muitas operações. Se 
você lhe tivesse massageado o pé antes, como está fazendo agora, teria 
gritado de dor." 
"Aqui na plataforma há vários médicos", disse a senhorita 
Kuhlman. "Eles me conhecem. Há algum médico entre o público que não 
me conheça e que não conheça estas meninas? Poderia vir e examiná-las, 
por favor?" 
Um homem ficou de pé. 
"Você é médico?", perguntou a senhorita Kuhlman. 
"Sim", respondeu ele. 
"Onde exerce?" 
"No Hospital St. Luke's, aqui em Los Angeles." 
"Poderia nos fazer o favor de vir e examinar estas meninas?" 
O médico foi e subiu à plataforma. "A primeira coisa que posso 
dizer é que essa garotinha que salta e corre ali, com essas perninhas tão 
magras, é um milagre. Se não fosse por um milagre, não poderia estar 
parada, e muito menos saltar de gozo." Em seguida, tomou os pezinhos da 
menina menor. "Senhorita Kuhlman", disse com voz séria, "não vejo 
nenhuma diferença entre os dois pés desta criatura. Creio que sua mãe 
pode tirar o sapato ortopédico." 
Não precisei de mais provas. Cambaleando, saí pela parte 
posterior da plataforma, procurei um telefone público e liguei para Sara, 
em Houston. Estava ocupado. Pedi à telefonista que interviesse na 
ligação. 
"Não posso fazê-lo a menos que seja um assunto de vida ou 
morte", disse-me ela. 
"É exatamente isso, operadora. E pode ficar na linha a escutar, se 
quiser." 
Repentinamente, Sara estava ao telefone. Tentei falar, mas só 
conseguia soluçar. Nunca chorei tanto em minha vida quanto nesse 
momento, com o telefone na mão, detrás da plataforma, no auditório 
Shrine. Sara repetia: "John, John, foi curado?" 
Finalmente pude lhe dar a mensagem. Estava são. Então ela 
começou a chorar. Desejei que a operadora estivesse escutando. Era um 
assunto de vida, não de morte. 
Voltei para junto da plataforma e observei. Cinco sacerdotes 
católicos, um deles um "monsenhor", estavam sentados na primeira fila, 
sobre a plataforma. O monsenhor estava sentado na ponta de sua cadeira, 
absorvendo tudo. Ao passar, a senhorita Kuhlman olhou para ele e viu a 
expressão de ansiedade em seu rosto. "Gostaria de experimentar isto?", 
perguntou-lhe. 
Ele sabia perfeitamente do que lhe estava falando, já que ficou em 
pé, com as dobras de sua batina sacudindo no ar, e disse: "Sim". 
Lhe impôs as mãos e disse: "Enche-o com teu Espírito Santo". Ele 
caiu ao chão. Ela se voltou para os outros sacerdotes e lhes disse: 
"Venham". Cada um deles caiu ao chão como o monsenhor. 
Os hippies eram salvos. As extremidades tortas eram endireitadas. 
Meu próprio câncer tinha sido curado. Os sacerdotes católicos eram 
cheios do Espírito Santo. Saí como se estivesse flutuando em uma nuvem 
e voltei para o hotel. Era mais do que eu podia compreender. 
No hotel, fiz todo tipo de exercícios: me sentar e me levantar, 
empurrar, coisas que não tinha podido fazer durante mais de um ano. E 
as fiz sem problemas. Mesmo sem ainda não ter feito um exame médico, 
eu sabia que estava curado. Durante essa noite, despertei várias vezes, não 
para tomar calmantes (tinha deixado de tomar minha medicação essa 
manhã, antes de ir ao culto), mas sim para poder dizer em voz alta, no 
meio da escuridão: "Obrigado, Jesus. Bendito seja o Senhor!" 
Então chegou o momento de me reunir a Sara e às crianças. 
Quando cheguei ao aeroporto de Houston, estavam me esperando. Corri 
para eles, e abracei Sara tão forte, que literalmente a levantei do chão. 
Minha força a deixou sem fôlego. Em seguida agarrei os meninos, 
primeiro Andrew, em seguida, John, levantando-os acima da minha 
cabeça. Abracei Elizabeth. Todos falávamos com mesmo tempo. 
"Seu rosto, John", dizia Sara. "Está cheio de cor e vida." 
"Eu sabia que ia ser curado", dizia Elizabeth. "Orava por você 
todos os dias, às nove, às doze, e às seis." 
"Nós também, papai", apareceu o pequeno John. "Nós, seus 
filhinhos, também orávamos. Sabíamos que Deus o curaria." 
Era muito, e este veterano capitão da polícia, parado no meio do 
aeroporto de Houston, pôs-se a chorar. 
Pouco depois, voltei ao Instituto M. D. Anderson para fazer um 
exame físico. Tinha uma entrevista com dois médicos no mesmo dia. 
A primeira que me examinou foi a que tinha recomendado a 
operação. Dei-lhe um exemplar do livro de Kathryn Kuhlman, "Creio em 
milagres". Ela o olhou, escutou o relato de minha história, e em seguida 
me olhou como se eu estivesse louco. 
"Deixe eu lhe dizer algo", disse. "O único milagre que lhe 
aconteceu é um milagre médico. Isso é tudo. O que o está mantendo vivo é 
sua medicação. Continue tomando-a, e veremos quanto tempo vive." Eu 
sorri. "Bom, não tomei nenhuma medicação desde vinte de fevereiro, já 
faz mais de um mês." 
Ela se mostrou surpreendida e zangada. "Você fez uma verdadeira 
tolice, senhor LeVrier", disse. "Não passará muito tempo, antes que o 
câncer apareça em outra parte do seu corpo, e você se irá." 
Que atitude tão estranha para uma cientista!, pensei. 
Saí dali e fui ao consultório do doutor Lowell Miller, chefe do 
Departamento de Terapia de Radiação do Hospital Herman. Esperava que 
sua reação fosse mais positiva, mas depois da recente experiência, decidi 
não lhe contar nada sobre o milagre. Que o descobrisse por si mesmo. 
Sua enfermeira me pediu que fosse ao quarto contiguo e me 
preparasse para o exame físico. Então notei algo estranho. Como muitos 
policiais veteranos, eu tinha sofrido de varizes nas pernas. Na verdade, 
não usava bermuda em público, porque eu não gostava que vissem os 
nódulos em minhas pernas. É obvio, quando se está morrendo de câncer, 
não nos preocupamos muito com varizes, mas, à brilhante luz do quarto, 
olhei minhas pernas, pela primeira vez desde que voltei de Los Angeles. O 
Senhor não somente havia me curado de câncer, mas também tinha feito 
desaparecer minhas varizes. Minhas pernas estavam lisas e suaves como 
as de um adolescente. Quando o Dr. Miller entrou no quarto, eu estava me 
regozijado e louvando ao Senhor. 
Sentindo saudades de ver um paciente de câncer tão contente, o 
Dr. Miller retrocedeu. "Bom! O que é o que lhe aconteceu?" 
Isso foi tudo o que precisei para lhe contar toda a história de como 
Jesus Cristo tinha curado meu câncer. 
"Vejamos", disse o Dr. Miller. "Eu também sou cristão, mas Deus 
nos deu suficiente senso comum para que cuidemos de nós mesmos." 
"Não vou discutir isso", falei alegremente. "Essa é a razão por que 
estou aqui para me submeter a este exame. Me faça todos os exames que 
desejar. Mas lhe digo que não encontrará nada mal." 
"Ok", disse o médico. "vamos fazer, então." E a seguir me 
submeteu ao exame físico mais completo que já me fizeram. 
Ao terminar, disse: "Sabe, desejaria que minha próstata estivesse 
tão bem como a sua." Em seguida, examinou a coluna, batendo em 
vértebra por vértebra. "Notável", repetia. "Notável." 
Me enviou a fazer raios X, e disse depois: "Ligarei dentro de um ou 
dois dias, logo depois de que tenha tido tempo de comparar estas 
radiografias com as anteriores. Mas por todas as indicações que tenho, 
você foi curado." 
Três dias depois soou o telefone de minha escrivaninha no 
segundo andar do Departamento de Polícia de Houston. Era o doutor 
Miller. "Capitão", disse, "tenho boas notícias. Não encontrei 
absolutamente nenhum traço de câncer. Agora, queria lhe fazer uma 
pergunta. Está acostumado a dar palestras?" 
"Sobre meu trabalho como policial?",perguntei. 
"Não", disse ele, "não sobre isso. Quero que venha à minha igreja e 
conte à congregação o que Deus fez por você." 
Isso foi o começo. A partir de então, viajo por todo o país, 
contando às pessoas que não têm esperança, sobre o Deus que não tem 
escassez em seu depósito de milagres. 
 
Capítulo 3 
Caminhando nas sombras 
 
Isabel Larios 
O Natal é uma época de muito gozo para mim. Recebo 
milhares de cartões de amigos queridos de todo o mundo. 
Leio cada um deles. Mas os mais preciosos para mim são 
os que me escrevem as crianças. Eles são tão abertos, tão 
sinceros. Quando uma criança me diz: "Te amo", nunca 
duvido de que realmente o sinta. Por isso, quando recebi 
um pequeno e singelo cartão, de uma doce garotinha 
mexicana-americana que vive na Califórnia, soube que 
realmente sentia o que escrevia. Escreveu para me 
agradecer por lhe fazer possível viver outro Natal. Lisa 
me agradecia porque podia me ver. Mas eu sabia o que 
ela queria dizer. E, Deus sabe, não foi Kathryn Kuhlman: 
foi Jesus. Lisa Larios estava morrendo de câncer ósseo até 
que Jesus a curou no auditório Shrine. A mãe e o pai 
adotivos da Lisa, Isabel e Javier Larios, viviam em um 
modesto complexo de apartamentos em Panorma City, 
Califórnia. Isabel nasceu em Los Angeles, mas foi criada 
em Guadalajara, México. Javier, que passa grande parte 
de seu tempo trabalhando com seu cavalete de pintor em 
seu apartamento, é um respeitado garçom na Casa Vega, 
um dos restaurantes mais elegantes do Sherman Oaks. 
Além da Lisa, têm mais dois filhos: Albert e Gina. 
 
"São só os dores do crescimento, Lisa", falei enquanto minha filha 
de 12 anos se queixava de dor no quadril direito. Eu estava sentada na 
beira da cama, na semi-escuridão, lhe esfregando o quadril e as costas 
com linimento. Lisa crescia rapidamente. Já tinha o corpo de uma 
mocinha de quinze anos e parecia a imagem viva da saúde. 
Mas aqui, na penumbra da noite, enquanto esfregava sua pele 
suave, senti que essa dor, em particular, era algo mais do que essas dores 
musculares normais que as meninas experimentam quando estão 
crescendo. Lisa também sentia isso. O medo entrou no quarto, junto com 
a dor. 
"Mamãe, acenda a luz do quarto quando sair", sussurrou Lisa. 
"Não quero ficar aqui sozinha no escuro." 
Javier tinha ido trabalhar no restaurante. As outras duas crianças 
já estavam dormindo. Lhe dei umas palmadinhas nas costas e lhe arrumei 
o pijama. "Não há nada que temer", falei. 
"Eu não gosto das sombras", respondeu ela, com sua cabecinha 
metida no travesseiro. "Me dão medo." 
Acendi a luz do corredor e deixei a porta de seu quarto aberta. Por 
um momento me detive na porta, olhando-a. De onde tinha vindo esse 
temor repentino? Lisa nunca tinha tido medo antes. Agora eu podia senti-
lo em todo o quarto, como uma rede que descia do teto e cobria toda a 
cama. Será que Lisa percebia algo que eu não podia sentir? 
O dia seguinte foi um desses estranhos e belos, que às vezes 
acontecem na Bacia de Los Angeles. Era o último dia de março, e uma 
forte chuva, logo antes do amanhecer, tinha lavado o ar, deixando-o claro 
e limpo. O sol brilhava com toda sua força, o céu era azul radiante, e dava 
para ver claramente as montanhas cobertas de neve sobre o horizonte, a 
leste. Javier se tinha levantado para tomar o café da manhã com as 
crianças, antes que fossem à escola. Depois, ele e eu fomos a Van Nuys 
fazer compras. Eu procurava um suéter para Lisa, e Javier queria uns 
lápis de carvão, para terminar um desenho que estava fazendo em seu 
cavalete. Quando voltamos, pouco antes do meio-dia, a porta do 
apartamento estava entreaberta. Lisa estava lá dentro, jogada sobre o 
sofá, chorando. 
Alarmado, Javier se ajoelhou junto dela e suavemente lhe tirou o 
cabelo de sobre os olhos. "O que aconteceu, Lisa?", perguntou com 
doçura, e o som musical de seu sotaque mexicano soou nos ouvidos da 
menina. 
"É o quadril, papai", soluçou ela. "Começou a doer muito, assim 
que o vizinho foi me buscar e me trouxe da escola." 
Lisa me passou um bilhete amassado, de uma das irmãs da escola 
Santa Isabel. "Por favor, ocupe-se disto: Lisa tem muita dificuldade para 
andar. Acreditamos que deveria consultar um médico." 
Javier assentiu. "Ligue para o doutor Kovener", disse. "Não 
devemos esperar mais." 
O doutor Kovner era um amigo da família. Tinha nos atendido 
antes, e sempre dizia que Lisa era sua paciente favorita. Sua secretária nos 
agendou para o dia seguinte, à tarde. 
O doutor tirou algumas radiografias e realizou um exame 
preliminar. Em seguida me recebeu em seu escritório. "Senhora Larios, 
isto pode ser uma de várias coisas. Temos que começar com as mais 
óbvias e começar a trabalhar nisso. Vou internar Lisa no hospital, onde 
poderemos fazer outros exames." 
No Hospital Comunitário Van Nuys fizeram novos exames. Lisa 
tentava ser valente, mas estar constantemente dolorida, passando a noite 
fora de sua casa, em um lugar estranho, rodeada por gente que não 
conhecia, não era fácil para ela. Todas as manhãs eu levava as crianças à 
escola, e em seguida ia para o hospital, chorando durante todo o caminho, 
me perguntando se as pessoas que passavam a meu lado saberiam da 
grande dor que eu estava sentindo. No hospital, eu era toda sorrisos, mas 
era só uma máscara. Por dentro, estava destroçada. 
"É possível que a dor seja causada por um apêndice aumentado 
que esteja pressionando um nervo", disse o médico. "Vamos extrair o 
apêndice e veremos se isso resolve o problema." 
Mas a dor continuou depois que Lisa voltou da operação. 
Aparentemente ninguém sabia o que fazer agora. Em 12 de maio voltou 
para casa. Só podia andar com muletas. Houve mais visitas ao médico. 
"Isto me deixa perplexo", disse o doutor Kovner ao examinar as 
radiografias novamente. "Acredito que devemos consultar um 
especialista." 
O doutor Gettleman, cirurgião, era muito metódico. Mandou tirar 
mais radiografias e realizou um novo exame, ele mesmo. "Deve continuar 
usando as muletas durante mais uma semana", disse. "Traga-a de novo, 
na próxima quinta-feira." 
Apesar das muletas, a dor era cada vez mais forte. Como que não 
podia ir à escola, Lisa vagava pela casa com as muletas, chorando e 
tentando parecer valente. Passava a maior parte do tempo na cama. Ao 
final dessa semana, voltou ao hospital, desta vez ao Saint Joseph, de 
Burbank. 
"Teremos que operar de novo", disse o Dr. Gettleman. "Vimos algo 
nas radiografias. Poderia ser uma bolsa de pus que causa pressão. Mas 
também poderia ser um tumor. Há dois tipos de tumores, benignos e 
malignos. Se for um tumor benigno, não teremos problemas. Se for 
maligno, pode ser muito sério." 
Embora pertencêssemos a uma igreja católica romana, e nossos 
filhos estudassem em uma escola católica, nem Javier nem eu éramos 
muito religiosos. Raramente íamos à missa, e quase nunca nos 
confessávamos. Mas eu sempre me havia sentido muito próxima de Jesus, 
e os cartõezinhos que as coleguinhas da escola da Lisa lhe enviavam, 
dizendo que estavam rezando por ela, também ajudaram a me voltar para 
Deus, em oração. 
Na noite anterior à operação, eu estava em casa, só, com o Albert e 
a Gina. Eles se foram se deitar cedo, e eu fui ao meu quarto e me joguei 
sobre a cama, no escuro. Parecia que todo meu mundo se tinha feito em 
pedaços. Tinha carregado Lisa em meu corpo durante nove meses. Tinha 
desejado morrer no parto, para que ela pudesse viver. Tinha cuidado dela, 
tinha estado com ela nas noites escuras, tinha rido com ela, tinha 
passeado pelo campo com ela, tinha chorado e orado por ela. E agora os 
médicos me diziam que possivelmente morreria. Já tinha chorado até não 
ter mais lágrimas. Tudo parecia tão inútil, tão fútil. 
Enquanto estava assim na cama, olhando as sombras no teto, 
comecei a orar. "Querido Senhor, Lisa realmente não é minha. É tua. 
Somente nos deixaste tê-la, para criá-la, alimentá-la, educá-la e amá-la. 
Um dia ela nos deixará, se casará e criará seus próprios filhos. Se quiseres 
levá-laantes que isso aconteça, eu a devolvo a ti, e te agradeço, porque a 
deixaste conosco todo esse tempo, para nos abençoar." 
Foi uma oração simples, sem grandes emoções. Mas era sincera. 
Enquanto continuava olhando as sombras, adormeci. 
Sonhei que estava sentada em um pequeno quarto escuro. Javier 
estava junto a mim, segurando minha mão. Uma porta se abriu em frente 
a nós, e pelo corredor se aproximaram dois homens vestidos com batas, 
dessas que os cirurgiões usam. Um dos médicos estava chorando e não 
podia falar. O outro parou diante de nós e disse: "Sua filha está muito 
doente. Tem câncer". 
Despertei, sobressaltada. Passava da meia-noite, e eu ainda estava 
jogada na cama sem me deitar. A casa estava em silêncio. Só a luz do 
corredor se filtrava no dormitório. Levantei-me e fui ver os meninos. 
Dormiam tranqüilamente. Fui para o living e me sentei na beirada do 
sofá, na escuridão. Esse sonho era do diabo? Estava tentando me 
assustar? Ou era de Deus, para me advertir e me preparar? Como saber? 
Quando ouvi os passos de Javier na escada, rapidamente fui para 
nosso quarto e me meti na cama antes que ele entrasse. Não queria que 
soubesse o quanto eu estava preocupada. Lisa precisaria encontrar nós 
dois fortes, para enfrentar a operação, na manhã seguinte. 
Javier e eu nos sentamos, de mãos dadas, na pequena sala de 
espera junto à sala de operações, no hospital. Era natural que ambos 
orássemos, e o fizemos em silêncio. Os médicos entravam para informar 
às outras pessoas que também estavam esperando. "Seu pai está muito 
bem. Nem sequer precisamos operá-lo..." "Não tem do que se preocupar, 
sua esposa está perfeitamente bem." "Pode levar seu filho para casa esta 
tarde." 
Às duas da tarde olhei, e vi que vinham dois médicos pelo longo 
corredor. Um deles era o doutor Kovner. Seu rosto estava cinza. O outro 
era o doutor Gettleman. Javier se levantou de um salto e foi ao encontro 
deles, mas eu fiquei sentada. Sabia o que aconteceria, e minhas pernas 
pareciam de borracha. Era a mesma cena que tinha vivido em meu sonho. 
"Encontramos um tumor", disse o doutor Gettleman. "É 
inoperável. Se tivéssemos cortado, teríamos que amputar toda a perna." 
"É câncer?", perguntou Javier. 
"Sinto dizer que sim", respondeu o médico. "Está muito, muito 
mal. O osso do seu quadril está como se fosse manteiga. Se tivesse uma 
colher, poderia tê-lo tirado todo. A carne que rodeia o osso está como 
queijo gruyere, cheia de buracos. O laboratório já fez uma análise, e é o 
pior tipo de câncer. A única coisa que pudemos fazer foi costurá-la outra 
vez." 
"Não houve nada que pudessem fazer?", clamou Javier, com o 
rosto macilento e abatido. 
"Nada no momento. Depois que se recupere da operação, 
começaremos o tratamento com cobalto. Falaremos depois sobre isso." 
"Mas ficará boa, não é?", perguntou Javier. 
O doutor Gettleman sacudiu a cabeça. "Só posso dizer é que 
tentaremos lhe prolongar a vida. Não posso prometer nada mais." 
Olhei para o doutor Kovner. Embora não dissesse nada, o seu 
rosto expressava tudo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Lisa estava 
morrendo, e nenhum de nós podia fazer nada a respeito. Eu a havia 
devolvido a Deus, e ele tinha aceito meu oferecimento. 
Os médicos aconselharam que não deveríamos dizer nada a Lisa 
sobre seu estado. Duas semanas depois, a trouxemos novamente para 
casa, em uma cadeira de rodas, decididos a lhe dar o verão mais feliz de 
sua vida. 
O doutor Kovner não concordou com nossos planos de levar Lisa 
em umas longas férias. "Devemos começar o tratamento de cobalto o mais 
rápido possível", disse. 
"Se assinarmos a autorização e permitimos fazer o tratamento com 
radiação," perguntei, "o que pode nos prometer?" 
"Não podemos lhe prometer nada", respondeu ele. "Mas nunca 
saberá se ajudará ou não, a menos que o faça." 
"O que acontecerá se não permitirmos que lhe faça o tratamento?" 
"Não me agrada responder perguntas como essa", disse o doutor 
Kovner. "Mas, mesmo com o tratamento, o máximo que podemos estimar 
é seis meses. E estará muito, muito, muito mal quando morrer." 
Prometi conversar sobre isso com Javier. Ambos sentíamos que 
seria cruel que Lisa devesse passar seus últimos meses de vida sujeita a 
esse tratamento de radiação. 
Em 9 de junho, Lisa foi internada no Hospital Pediátrico de Los 
Angeles. Era o terceiro hospital em que entrava em três meses. A doutora 
Higgins, que estava encarregada de seu caso, disse que havia três áreas 
para onde poderia se espalhar o câncer: fígado, peito ou cérebro. 
Qualquer poderia ser fatal. Aparentemente, o câncer se espalha 
rapidamente nas crianças em idade de crescimento, e a única forma de 
tentar salvar sua vida era por meio do tratamento com cobalto e 
quimioterapia. 
Finalmente demos nossa autorização para que lhe realizassem o 
tratamento preliminar, e começaram a lhe aplicar uma série de injeções. 
O organismo de Lisa reagiu violentamente. Eu me sentava com ela 
durante toda a noite, enquanto ela vomitava e perguntava: "Mamãe, o que 
está acontecendo comigo? por que estou tão doente?" 
Era mais do que eu podia suportar. Javier e eu conversamos 
novamente e decidimos que seus últimos dias seriam vividos em nosso 
lar, conosco, em vez de no hospital. A levaríamos para casa. 
O capelão da escola em que Lisa estudava ficou sabendo de sua 
doença e a visitava todas as noites, levando a comunhão. Comentamos 
com ele nossa decisão de interromper o tratamento de cobalto. Ele 
concordou. "Se ela está morrendo, deveria passar os últimos dias de sua 
vida o mais feliz que fosse possível." 
"Lisa não tem absolutamente nenhuma possibilidade de 
recuperação sem a terapia de radiação", objetou a doutora Higgins, 
quando lhe comunicamos nossa decisão. 
Os outros médicos opinavam igual. "Se ficar no hospital, talvez 
possamos aprender algo que possa ajudar alguma outra garotinha dentro 
de cinco ou dez anos." 
"Não me interessa que minha filha se converta em uma 
experiência médica", lhes falei com total honestidade. "Só quero que ela 
se cure. Vocês podem me prometer isso?" "Sinto muito, senhora Larios", 
disseram os médicos. "A medicina não pode lhe prometer nada." 
No dia seguinte, levamos Lisa para casa, para que morresse em 
nosso lar. 
Passamos o resto do verão tentando fazê-la feliz. Nos endividamos 
muito para levá-la a passeio pela costa, comprar as coisas que queria, 
como gravador e outros objetos materiais. Mas tudo parecia tão 
pateticamente vazio. Não era bom que estivéssemos sentados ao seu 
redor, cobrindo-a de presentes, e esperando sua morte. 
Numa tarde, em meados de julho, alguém bateu à porta de nosso 
apartamento. Abri-a e vi nosso vizinho, um jovem solteiro chamado Bill 
Truett, parado no corredor. 
"Como está Lisa?", perguntou Bill. 
"Não está bem", respondi. "piorou desde que a tiramos do 
hospital." 
Bill sorriu fracamente e me olhou fixo aos olhos. "Ela ficará bem", 
disse com voz confiante. 
Encolhi os ombros. "Espero que sim." 
"Não, você não me compreendeu", disse seriamente. "Ela vai ficar 
bem. Alguma vez você ouviu falar de Kathryn Kuhlman?" 
"Bom, a vi umas duas vezes na TV, mas nunca prestei muita 
atenção." 
"Neste próximo domingo ela vai estar no auditório Shrine de Los 
Angeles", disse Bill. "Queria levar Lisa à reunião." 
Duvidei por um momento. Realmente não conhecia muito bem o 
Bill, e tinha ouvido dizer que as reuniões no Shrine eram muito 
prolongadas. Mas ele insistiu tanto, que finalmente concordei em ir junto 
com Lisa e ele, só para me livrar dele. 
Depois de lhe dizer que iríamos, fechei a porta e me encostei na 
mesa da cozinha. Javier estava trabalhando em um desenho junto à 
janela, olhando o pátio. Vários de seus desenhos estavam pendurados nas 
paredes de nossa casa. Eu sabia que ele estava interessado em 
desenvolver seu talento, mas também sabia que a pintura era uma forma 
de escape para ele. Quando estava ocupado com seus desenhos, não tinha 
tempo para pensar na Lisa. Observei seu rosto, parecia esculpido em

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