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Apostila de Direito Internacional Público1 D I R E I T O I N T E R N A C I O N A L P Ú B L I C O Prof. Wiliander Salomão Pós-Doutor, Doutor e Mestre em Direito Internacional UNIVERSIDADE DE ITAÚNA 2023 APOSTILA 12 Conteúdo: 1 – Federalização dos crimes de DH: Incidente de deslocamento de competência Apostila de Direito Internacional Público2 1 - INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA A FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES CONTRA OS DH O Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) foi introduzido pela EC/45 (2004) na reforma do judiciário incluindo o §5º ao artigo 109 da CF: Art. 109: aos juízes federais compete processar e julgar: § 5º - Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Desta forma, o IDC permite ao PGR, nos casos de grave violação aos DH para assegurar o cumprimento dos tratados de DH ratificados pelo Brasil, requisitar perante o STJ, que a competência da justiça estadual nos casos de apuração de violações seja deslocada/transferida para a justiça federal. Portanto, o IDC produz o fenômeno conhecido como FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES CONTRA OS DIREITOS HUMANOS. ATENÇÃO: O IDC exige prova da incapacidade das autoridades locais e risco de impunidade. FINALIDADE PRINCIPAL DO IDC: prevenir que o Brasil seja julgado e condenado a nível internacional por violações aos tratados de direitos humanos. 1.1 - PROCEDIMENTOS O incidente poderá ser suscitado: Apostila de Direito Internacional Público3 a) - Pelo Procurador-Geral da República perante o Superior Tribunal de Justiça b) - Em qualquer fase do inquérito ou do processo c) - Admitida em casos de grave violação aos DH d) - Quando houver a demonstração concreta do risco de não cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de DH dos quais o Brasil seja parte. c) – Comprovada a incapacidade dos órgãos estaduais na apuração, processamento e julgamento do caso (incapacidade, falha nas investigações pelo MP, delegacias, etc). 2 – CASOS DE IDC a) - Em 2005, o Procurador-geral da República proveu o primeiro IDC para que o caso do assassinato de Dorothy Stang fosse julgado na esfera Federal. De acordo com ele, Dorothy foi "brutal e covardemente" assassinada e o fato foi, por completo, "subvertido em investigações encetadas no âmbito estadual, que passavam a apontar a vítima - diga-se senhora idosa e, exclusivamente, dedicada à assistência dos mais pobres - como figura de peso em agitações no campo, apresentando-a como pessoa perigosa." Na ocasião, o STJ rejeitou o deslocamento, pois considerou que as autoridades estaduais se encontravam empenhadas na apuração dos fatos que resultaram na morte da missionária norte-americana, com o objetivo de punir os responsáveis, refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do maior e mais importante dos direitos humanos. Após três julgamentos, o mandante do crime foi condenado a 30 anos de prisão (IDC 1/PA, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, julgado em 08/06/2005, DJ 10/10/2005, p. 217). b) - O IDC 2 envolveu o homicídio de Manuel Mattos um advogado, vereador e defensor dos direitos humanos, autor de diversas denúncias contra a atuação de grupos de extermínio na fronteira dos Estados da Paraíba e de Pernambuco, ocorrido em 24/01/2009, no Município de Pitimbu/PB. Nesse Apostila de Direito Internacional Público4 caso, o STJ considerou que era “notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas, reconhecida a limitação e precariedade dos meios por elas próprias” e admitiu o deslocamento para a Justiça Federal da Paraíba (IDC 2/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, julgado em 27/10/2010, DJe 22/11/2010). Na ocasião o STJ entendeu que havia falta de entendimento operacional entre a Polícia Civil e o Ministério Público estadual o que ensejou um conjunto de falhas na investigação criminal que comprometia o resultado da persecução penal, com possibilidade, inclusive, de gerar a impunidade dos mandantes e dos executores do citado crime de homicídio. Deslocou-se o processo para a Justiça Federal de Pernambuco (a capital, mais precisamente) – IDC 5/PE, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 13/08/2014, DJe 01/09/2014. c) – O IDC 3/GO envolveu policiais militares na composição de grupos de extermínio. O STJ aceitou o deslocamento por considerar que o Estado de Goiás foi omisso na investigação de tais agentes, os demais requisitos estavam preenchidos e ocorreu o deslocamento – IDC 3/GO, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 10/12/2014, DJe 02/02/2015. d) – O IDC 24/RJ foi analisado pelo STJ no dia 27/05/2020 no qual foi requerido o deslocamento da competência do caso envolvendo o homicídio da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, ocorrido em 2018 no Rio de Janeiro. Na linha do que já vinha decidindo, o STJ entendeu que o caso não preenche os requisitos necessários para a federalização, pois não foi possível verificar desídia, inércia ou desinteresse por parte das autoridades estaduais nas investigações para solucionar o crime. Em 2023, o Ministro da Defesa defendeu que era necessário a federalização do crime de Marielle Franco, sem, contudo, ter uma nova decisão do STJ. Em síntese, no STJ os incidentes analisados foram assim solucionados: a) – Foi admitido o IDC: IDC 2/PB (homicídio do advogado e vereador entre os Estados da Paraíba e de Pernambuco) IDC 3/GO (investigação de policiais militares desde a década de 2000) Apostila de Direito Internacional Público5 IDC 9/SP (investigação de grupos de extermínio de 2006) b) - Não foi admitido o deslocamento: IDC 1/PA (homicídio da Irmã Dorothy Stang) IDC 10/BA (Chacina da Cabula em Salvador) IDC 14/ES (greve de policiais do Espírito Santo) IDC 24/RJ (homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes)
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