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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM ATENÇÃO À SAÚDE NO SISTEMA PRISIONAL

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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM ATENÇÃO À SAÚDE NO SISTEMA PRISIONAL
UNIDADE I
Breve História do Sistema Prisional no Mundo e no Brasil
A pena de prisão, tal qual a conhecemos, é uma produção histórica recente.
Até o século XVIII, as prisões apenas serviam para deter suspeitos ou pessoas consideradas culpadas por crimes, que aguardavam ali a execução de suas sentenças. Estas consistiam em castigos corporais (chicotadas, pelourinho, marcas a ferro, mutilação, enterramento, morte com ou sem tortura) suplementados pelo banimento e pela condenação a trabalhos forçados ou às galés (WACQUANT, 2008, p.95). 
1500 — 1600 / Século XVI
No século XVI começaram a aparecer na Europa as primeiras prisões legais, destinadas a recolher mendigos, vagabundos, prostitutas e jovens delinquentes, que se multiplicavam pelas cidades. Destinadas à correção dos criminosos, estas prisões baseavam-se em disciplina extremamente rígida. A partir delas, se desenvolveram diferentes sistemas prisionais na Inglaterra, Holanda, Bélgica e nos EUA que, utilizando de diferentes modos os mecanismos de isolamento celular, disciplina rígida e trabalho forçado, buscavam a transformação dos criminosos em sujeitos socialmente úteis e produtivos.
1500 — 1600 / Séc. XVI
Sob esta concepção de recuperação dos indivíduos, desenvolveram-se sistemas progressivos de pena que visavam premiar o mérito e punir as faltas, possibilitando ao detento alcançar a liberdade condicional antes do fim da pena. Este modelo, tendo por base a disciplina, o internamento em celas individuais, o trabalho e a progressão de regime, se espalhou pelo mundo.
1600 — 1700 / Séc. XVIII
Entretanto, foi somente no século XVIII que os direitos dos presos começaram a ser reconhecidos. Assim, deu-se o início da elaboração de normas e regulamentos estabelecendo direitos e deveres tanto para os presos como para o Estado. Foi nesta época que a pena privativa de liberdade se institucionalizou como principal sanção penal e que a prisão passou a ser o local da execução das penas (MIRABETE, 1995, p.310).
1800 — 1900 / Séc. XIX
No entanto, as prisões da forma que se conhece hoje e que começaram a se generalizar no século XIX, já não são fábricas de disciplina e de corpos dóceis para o trabalho, mas sim “fábricas de exclusão de pessoas habituadas à condição de excluídas” (BAUMAN,1999, p. 121).  Como nos mostra o referido autor, as prisões na sociedade globalizada cumprem a função de neutralizar uma parcela da população que já não é necessária para a produção e que é necessário imobilizar.
1800 — 1900 / Brasil Colônia
No Brasil colonizado por Portugal, a história do sistema prisional só começa a partir da independência, com a aprovação do Código Criminal de 1830, que introduz a privação da liberdade como penalidade. Até então, no Brasil colônia, as penas de suplício ainda vigoravam. Os castigos eram usados sobre índios, escravos e peões, já que os senhores contavam com o poder e nada sofriam por seus abusos e infrações. (SANTOS.J.H.P.; SANTOS, I.P.)
1800 — 1900 / Brasil antes da Proclamação da República
Contudo, como mostra Silva (2012), em seu artigo “Do império à república considerações sobre a aplicação da pena de prisão na sociedade brasileira”, embora a Constituição brasileira de 1824 fosse influenciada pelas ideias liberais e pelas legislações europeias e americanas que garantiam os direitos individuais, os sistemas punitivos desenvolvidos naqueles contextos entravam em conflito com as práticas punitivas existentes na sociedade escravocrata do país. Assim, mesmo incorporando pena de prisão, o Código de 1830 ainda conservaria “penas destinadas aos indivíduos de menor qualidade, como os castigos físicos e os trabalhos forçados” (SILVA, 2012, p.2) para os escravos aprisionados. Em 1850, foi construída a primeira penitenciária brasileira, a Casa de Correção da Corte do Rio de Janeiro, que posteriormente foi ampliada e passou a ser denominada Casa de Detenção do Rio de Janeiro, “mas a manutenção da escravidão e da monarquia impossibilitou a transformação das formas tradicionais de punição e de produção de sujeição” (SILVA, 2012, p.5.).
1800 — 1900 / Brasil República
Com a Proclamação da República em 1889 e a Abolição dos Escravos, foi elaborada a primeira Constituição Republicana do Brasil, que tinha na pena privativa de liberdade o principal tipo penal. Foram extintas as penas de galés e de banimento e a pena de morte foi restrita ao tempo de guerra. A noção de atividade ressocializadora para a pena de prisão foi introduzida na legislação. No entanto, a implantação da pena privativa de liberdade, prevista no Código Penal de 1890, teve o seu uso condicionado à existência de estabelecimentos construídos ou adaptados a sua execução. Enquanto isso não acontecesse, a Constituição Republicana previa a manutenção da legislação penitenciária herdada do império (SILVA, 2012. p.7).
1900 — 2000 / Brasil e as Constituições Federais
Entre a primeira e a atual Carta Magna, o Brasil teve quatro Constituições (1934, 1937, 1946 e 1967) que acompanharam mudanças na política nacional e, em todas elas, a ressocialização dos condenados foi mantida como princípio da execução penal, ainda que as práticas nos estabelecimentos prisionais não correspondessem à previsão legal. 
1900 — 2000 / Brasil no final do Séc. XX
No final do século XX, com a redemocratização do país ao fim de 20 anos de ditadura civil-militar, foi promulgada, em 1988, uma nova carta, conhecida como a Constituição Cidadã, que baniu os tratamentos desumanos, cruéis ou degradantes e a prática da tortura no território nacional. No aspecto punitivo, previu, ao lado da pena privativa de liberdade, outras modalidades punitivas, como a prestação social alternativa e a suspensão ou interdição de direitos. Para a execução das penas privativas de liberdade, adotou o sistema progressivo da pena, que distingue os regimes fechado, semiaberto e aberto e a individualização da pena, que deveria reger a aplicação da lei e sua execução de acordo com cada caso concreto, e a liberdade condicional, fixando direitos e deveres tanto para as pessoas privadas de liberdade como para o Estado, responsável por sua custódia.  No entanto, verifica-se que, apesar dos esforços dos constituintes para promover uma mudança na execução penal, a precariedade dos sistemas prisionais brasileiros continua um desafio a ser enfrentado. 
II - Modelos de Organização Prisional no Mundo
Com o surgimento das prisões como locais de execução das penas privativas de liberdade, os sistemas prisionais foram se constituindo de acordo com diferentes concepções e práticas punitivas. Consideram-se como importantes para os estudos atuais: a) o sistema Pensilvânico, da Filadélfia ou Belga; b) o sistema de Auburn e; c) o sistema Inglês ou Progressivo.
CONCLUSÃO
Todos estes sistemas visam o disciplinamento dos corpos e mentes dos sujeitos. Sua proposição vincula-se à concepção do criminoso como um “anormal” ou “desadaptado” que precisa ser “ressocializado” para se integrar a sociedade, ignorando os processos de exclusão social e de criminalização que incidem sobre eles (FOUCAULT, 1987, p.99-104).
III – O Dever de Assistência às Pessoas Privadas de Liberdade
De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), em seu art. 10, a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. A lei estabelece os tipos de assistência que terão, quais sejam: material; à saúde; jurídica; educacional; social e religiosa. 
A assistência material consiste no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas, em obediência aos mandamentos internacionais sobre os direitos da pessoa presa, especialmente os que decorrem das Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, da ONU, de 1955. 
A Assistência à saúde prevista na LEP, se consolida com a Constituição de 1988 que, em seu art. 196, assegura “a saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças”.Posteriormente, a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) para efetivação do preceito constitucional e, mais recentemente, com a elaboração da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), asseguram às pessoas privadas de liberdade a integralidade da atenção à saúde da população privada de liberdade no conjunto de ações de promoção, proteção, prevenção, assistência, recuperação e vigilância em saúde, executadas nos diferentes níveis de atenção. 
Atualmente, a assistência jurídica, por força do disposto da Lei Complementar Federal nº 80/1994, deve ser prestada pela Defensoria Pública que atua de forma direta ou suplementar, fiscalizando os direitos dos presos e prestando os necessários esclarecimentos. 
A assistência educacional trata do acesso do preso à instrução escolar e formação profissional, atendendo à obrigatoriedade do ensino fundamental e médio prevista no art. 208 da Constituição Federal e ao disposto no art. 205 da Carta Magna que assegura: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. 
A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade. 
A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, sendo permitido sua participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.
IV - Organização do Sistema Prisional no Brasil: estrutura, filosofia e objetivos
O cumprimento da pena privativa de liberdade no Brasil é regido principalmente pela Lei de Execução Penal - LEP (Lei nº 7.210), de 1984, pelo Código Penal – CP (Decreto-lei nº 2.848), de 1940, sob a égide da Constituição Federal e dos tratados internacionais firmados pelo país. 
De acordo com a legislação nacional, a execução da pena tem por objetivo fazer cumprir a sentença criminal e “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado” (LEP, art.1). Com este propósito, o sistema adotado no Brasil inspira-se no sistema progressivo de pena, embora possua características peculiares. 
O Código Penal brasileiro (Decreto-lei nº 2.848/40), prevê três regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade: fechado, semiaberto e aberto e ainda, a possibilidade de concessão do livramento condicional. A progressão de regime consiste na passagem do condenado de um regime mais rigoroso para outro menos severo, “atendendo a uma das finalidades da pena, consagrada pela Convenção Americana de Direitos Humanos: a ressocialização do condenado (art. 5.º, 6º) (MARTINELLI, 2012). 
Para que possa progredir para um regime menos severo, o condenado deve atender a critério objetivo de tempo e também a critério subjetivo, referente ao bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. Por outro lado, a lei instituiu, também, a regressão de um regime para outro mais rigoroso, por exemplo, do aberto para o semiaberto ou fechado, quando o sentenciado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave, ou sofrer condenação, por crime anterior, que torne incabível o regime em curso (LEP, art.118). 
A aplicação deste sistema, apoia-se no princípio constitucional da individualização (CF, art. 5.º, inciso XLVI) que, determina que execução da pena seja feita considerando o indivíduo com seus méritos e suas faltas, concedendo-lhe benefícios ou impondo-lhe sanções de modo singular, vedando o tratamento homogêneo que desconsidere as peculiaridades de cada um (MARTINELLI, 2012). 
Para que haja a individualização da execução penal, o CP e a LEP determinam que, no início do cumprimento da pena, os condenados ao regime fechado sejam classificados “segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”. Com esta finalidade prevê que sejam submetidos a Exame Criminológico, realizado por um(a) psicólogo(a), um(a) psiquiatra e um(a) assistente social, a fim de nortear a elaboração do plano individualizado de tratamento, bem como servir de parâmetro para o acompanhamento do preso durante a execução. 
Até 2003, a LEP determinava que as condições pessoais do apenado deveriam ser avaliadas por meio de Exame Criminológico para instruir pedidos de progressão de regime e livramento condicional. Porém, neste ano, alteração na Lei de Execução Penal (Lei 10.792/03), retirou a obrigatoriedade dos Exames Criminológicos como instrumento para a concessão de progressão de regime, mantendo-o apenas para a classificação inicial. Embora esta prática tenha se mantido com base na Súmula 26 do Supremo Tribunal Federal (STF) e em demandas judiciais que requerem este exame como suporte à individualização da pena, novas decisões do STF têm determinado que os juízes “se abstenha[m] de pedir exame criminológico prévio para verificar o mérito na progressão de regime, sob a mera alusão de que o crime foi praticado por meio de violência ou grave ameaça”. 
Disponível em: O Exame Criminológico sempre foi alvo de críticas, tanto dos operadores do direito, que sustentam que este exame viola os direitos à livre manifestação do pensamento e à formação de sua personalidade (CARVALHO, 2004, p.144), como pelas equipes técnicas incumbidas de sua realização. 
Em 2008, psicólogos e outros profissionais que atuam no sistema prisional e a sociedade civil organizada, por meio de uma moção de âmbito nacional, manifestaram repúdio ao Exame Criminológico. Alegaram que esse dispositivo fere o código de ética da profissão, (...) visto que se trata de uma prática estigmatizante e classificatória, (...) proposta com base em referencial positivista, centrado em conceitos de normalidade e de adequação ou correção da personalidade dos sujeitos encarcerados, sem fundamentos teórico-técnico da Psicologia (FREITAS et al., 2013, p.13).
Diante da complexidade desta situação que envolve a individualização das penas e a garantia dos direitos das pessoas privadas de liberdade, o Modelo de Gestão para a Política Prisional, de 2016, sugere amplo debate e o: 
Desenvolvimento de uma metodologia de inclusão e encaminhamento das pessoas privadas de liberdade, com vistas à implantação de um mecanismo de singularização do atendimento baseado no desenvolvimento de potencialidades e não mais na distinção e adestramento da personalidade dos sujeitos” (BRASILa,2016, p.299).
V - Caracterização da População Penitenciária
No Brasil, desde finais do séc. XX, a população carcerária vem crescendo de modo acelerado, o que a colocou entre as quatro maiores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia (BRASIL, 2014). Entre os anos de 1990 e 2016, a população prisional aumentou 8 vezes, passando de 90 mil pessoas presas para 726 mil (BRASILb, 2016). De acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN), em junho de 2016, 40% das pessoas presas no Brasil ainda não haviam sido julgadas e condenadas. 
Ao se observar o perfil da população prisional brasileira, verifica-se que a prisão tem adquirido contornos de verdadeira criminalização da pobreza e de segregação de grupos sociais marginalizados, que não encontram lugar no mercado de trabalho.
Gráfico 1: Evolução do número de pessoas privadas de liberdade entre 1990 e 2016.
Gráfico 2: Faixa etária das pessoas privadas de liberdade no Brasil.
Gráfico 3: Raça, cor ou etnia das pessoas privadas de liberdade e da população total.
Ao se considerar a escolaridade, cerca de 51% das pessoas presas não concluíram o ensino fundamental, enquanto 4% eram analfabetos e outros 6% apenas alfabetizados (INFOPEN-2016). Apenas 9% das pessoas presas alcançam o ensino médio. Estes indicadores demonstram que o encarceramento tem sido aplicado preferencialmente sobre jovens com pouca qualificação, baixa renda e reduzidas chances de ingressar no mercado de trabalho. 
Em relaçãoaos tipos penais nos quais estão enquadradas as pessoas privadas de liberdade, 37% correspondem a crimes contra o patrimônio e 28% a crimes de tráfico de drogas, enquanto o homicídio e o latrocínio respondem, respectivamente, por 11% e 3% dos registros. 
Observando os diferentes tipos penais tentados/consumados, pelos quais as pessoas privadas de liberdade foram condenadas ou aguardam julgamento (INFOPEN, 2016), nota-se que 156 foram crimes contra o meio ambiente, por exemplo, embora capazes de provocar muitos danos sociais, são insignificantes em relação ao total de crimes. No entanto, os crimes de furto representam 12% do total. Estes percentuais refletem as prioridades punitivas vigentes no país e também a diferença na vulnerabilidade penal dos que os praticam. 
Sobre a prisão de pessoas por motivos insignificantes, recomenda-se assistir ao documentário Bagatela, que nos mostra pessoas privadas de liberdade por anos em razão de furto de um shampoo, por exemplo. Por causa de fatos como este, foi instituída pelo CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), Resolução 213, de 15 de dezembro de 2015, que dispõe sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas. De acordo com o CNJ, todos os estados da federação já implantaram as audiências de custódia. Segundo a mesma fonte, até junho/2017 foram realizadas 258.485 audiências de custódia. Casos que resultaram em liberdade: 115.497 (44,68%); casos que resultaram em prisão preventiva: 142.988 (55,32%); casos em que houve alegação de violência no ato da prisão: 12.665 (4,90%); casos em que houve encaminhamento social/assistencial: 27.669 (10,70%). 
Estes dados permitem desconstruir uma possível suposição de que o crescimento da população carcerária brasileira seja decorrência direta do aumento geral da violência. Com isso, evidenciando tratar-se de um processo de criminalização de certas práticas associadas a certos grupos sociais, que produz e reproduz processos de exclusão e discriminação social existentes na sociedade brasileira. Sendo assim, seu enfrentamento requer mudanças não só nas instituições policiais, judiciais e penitenciárias, mas também na sociedade brasileira.
VI - Gestão do Sistema Prisional: os tipos de unidades prisionais
O Brasil possui um Sistema Penitenciário Nacional constituído pelos estabelecimentos penais federais, subordinados ao Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça. Também há os sistemas penitenciários estaduais, administrados por cada governo estadual, bem como pelo governo distrital, que gerem, com independência, estes sistemas que apresentam estruturas organizacionais distintas. 
Desde 1988, a competência legislativa sobre o gerenciamento do sistema prisional se encontra partilhada entre a União e os estados membros, competindo à União definir os parâmetros gerais para o funcionamento das instituições prisionais e, aos estados, suplementá-los a partir das demandas locais. 
Os tipos de estabelecimentos penais são definidos na LEP, no seu Título IV. O Capítulo I estabelece algumas disposições gerais: define a quem se destinam estes estabelecimentos; determina a existência de áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e promover a prática esportiva, conforme a natureza dos estabelecimentos; e determina instalações específicas para que a mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, sejam recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal. 
Dispõe que os estabelecimentos penais destinados às mulheres devam ser dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo até 6 (seis) meses de idade. Determina que nas unidades prisionais destinadas às mulheres, as atividades de segurança nas dependências internas dos estabelecimentos devam ser realizadas exclusivamente por agentes do sexo feminino. E ainda, que nas penitenciárias femininas haja seção para gestante e parturiente, além de creche para abrigar as crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir à criança desamparada, cuja responsável estiver presa. Define como requisitos básicos da seção e da creche: o atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e que seu horário de funcionamento garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável. 
Sobre os estabelecimentos penais, dispõe ainda que eles tenham locais distintos para o preso provisório e o condenado; para o preso primário e o reincidente; prevendo também que o preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal, deva ficar em dependência separada dos demais. 
O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada pela convivência com os demais presos, também deverá ser alojado em local próprio. 
Além de considerar as questões de idade, gênero e situação jurídica das pessoas privadas de liberdade, estes estabelecimentos penais são estruturados pelo regime de cumprimento de pena. Em todos, a lei determina que sejam atendidos os critérios de salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana. 
Os estabelecimentos penais são definidos na LEP da seguinte forma:
Aos inimputáveis serão aplicadas as medidas de segurança, que são de dois tipos: I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II - Sujeição a tratamento ambulatorial. 
Quanto às medidas de segurança, a reforma psiquiátrica (Lei Federal 10.216) trouxe mudanças na atenção à saúde dos indivíduos com transtorno mental em conflito com a lei, sinalizando que o SUS e a Rede de Atenção à Saúde Mental devem responsabilizar-se pelo tratamento destes (PORTARIA MS nº 94/2014). Tais mudanças vem impondo transformações e alterando a realidade do tratamento das pessoas consideradas inimputáveis. 
Como se viu, a Lei de Execução Penal prevê diferentes tipos de estabelecimentos de modo a promover a progressividade e a individualização das penas. No entanto, quando observamos a realidade nacional, é fácil verificar a opção por unidades fechadas e de segurança máxima. De acordo com o INFOPEN (2016), 49% dos estabelecimentos prisionais no Brasil foram concebidos para o aprisionamento de presos provisórios, 24% para o regime fechado; 8% para o regime semiaberto; 2% para o aberto; e 13% para diversos tipos de regime; 2% para cumprimento de medida de segurança e 1% para outros tipos de estabelecimentos penais, como os patronatos.
VII- Estrutura Física das Unidades Prisionais no Brasil
Em seu capitulo destinado aos estabelecimentos penais, a LEP estabelece critérios para a estrutura física das unidades.
A salubridade do ambiente, aplicado a todos os tipos de estabelecimento, implica na concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana.
Determina que os estabelecimentos penais, conforme a sua natureza, deverão contar em suas dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva e que neles haja instalações destinadas ao estágio de estudantes universitários e também à Defensoria Pública.
Especifica que os estabelecimentos destinados aos idosos e à mulher sejam adequados a sua condição, impondo sua adequação ao gênero e consideração a questões de acessibilidade.
Quanto à localização, determina que os estabelecimentos penais, mesmo construídos em local afastado do centro urbano, devem estar à distância que não restrinja a visitação, com exceção das Cadeias Públicas e das Casas do Albergado, que devem situar-se próximas ao centro urbano. No entanto, permite à União construir estabelecimento penal em local distante da condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da segurança pública ou do próprio condenado.
Além dos requisitos de salubridade, estabelece critérios para os alojamentosdestinados às pessoas privadas de liberdade:
· Alojamentos individuais - devem conter dormitório, aparelho sanitário e lavatório e que tenham área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
· Alojamentos coletivos - devem estar limitados à capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena.
Quanto à capacidade, dispõe que as unidades devam ter lotação compatível com a sua estrutura e finalidade e atribui aos Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a definição do limite máximo de capacidade dos estabelecimentos, atendendo a sua natureza e peculiaridades. Em 2011, o CNPCP editou a RESOLUÇÃO Nº 09/2011 que estabelece as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal no país. Nela define a capacidade dos estabelecimentos Penais, da seguinte forma: 
Tabela 1: Capacidade Geral dos Estabelecimentos Penais
Fonte: Diretrizes básicas para a arquitetura. Brasília: CNPCP, 2011
As Diretrizes Básicas determinam ainda que, em nenhuma hipótese, um módulo de celas poderá ultrapassar a capacidade de 200 pessoas presas. Prevê celas coletivas com capacidade máxima para 8 pessoas e define as áreas exigidas para estes locais, possibilitando o uso de três camas superpostas (beliches de três camas). 
A realidade das unidades prisionais no país nos coloca diante de um quadro muito diferente deste, com uma taxa de ocupação na ordem de 197,8%, sendo que 52% da população prisional encontra-se em estabelecimentos penais com mais de 2 pessoas por vaga e apenas 7% da população (51.235 pessoas) encontra-se em unidades sem superlotação.
Diante deste quadro, cabe refletir sobre o descompasso entre as previsões legais e normativos, os reduzidos recursos disponíveis para a ampliação das vagas e à realidade prisional, violadora das leis e dos direitos humanos das pessoas privadas de liberdade. Como aponta o PNPCP-2015, é possível uma outra resposta para a superlotação que contemple o desencarceramento, ampliando a aplicação de alternativas penais para o controle de infrações de modo a “abarcar mediação penal, a justiça restaurativa e as medidas cautelares diversas da prisão e do monitoramento eletrônico”.
≡ Referências
· BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. 145p.
· BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2000.
· BRANDÃO, E.P.(ORGs) Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU ED. 2004.
· BRASIL. Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional. Modelo de Gestão para a Política Prisional. Brasília. 2016a.440f.
· ______. Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional. 2014. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, INFOPEN - 2014.
· ______. Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional. 2016. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, INFOPEN – 2016b.
· ______. Ministério da Justiça, Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. 2015. Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília-DF, outubro de 2015.37f.
· ______. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. PORTARIA nº 94, DE 14 DE JANEIRO DE 2014.
· ______. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Diretrizes básicas para arquitetura prisional. / Revisão técnica (ortográfica e metodológica): Gisela Maria Bester. - Brasília: CNPCP, 2011. 111 p.
· CARVALHO, S. O papel da perícia psicológica no sistema penal. In: GONÇALVES, H.S.; BRANDÃO, E. P. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU Editora. p. 141/155;
· FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: o nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 22a.ed . Petrópolis: Vozes, 2000. 288p.
· GRECO, R. Curso de Direito Penal- 10ª ed. Rio de Janeiro: Impetus,2008.
· MARTINELLI, J.P.O. Progressão de regimes e a súmula 471 do STJ. 2012. Disponível em: https://jpomartinelli.jusbrasil.com.br/artigos/121938071/progressao-de-regimes-e-a-sumula-471-do-stj
· MIRABETE, Júlio Fabbrini, Código de Processo Penal interpretado, Atlas, 1995, São Paulo.
· SANTOS.J.H.P.; SANTOS, I.P. Prisões: um aporte sobre a origem do encarceramento feminino no Brasil. Acesso em: fevereiro de 2019. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=c76fe1d8e0846243
· FREITAS, Cristiano Rodrigues de...[et al.]. Fragmentos de discursos (não tão amorosos) sobre o Exame Criminológico: Um livro falado. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Psicologia 5ª Região, 2013.
· SILVA, A.C. Sistemas e Regimes Penitenciários no Direito Penal Brasileiro: Uma Síntese Histórico/Jurídica. / Alexandre Calixto da Silva. – Maringá: UEM, 2009. 112f.
· SILVA, A.M.C. Do Império à República considerações sobre a aplicação da pena de prisão na sociedade brasileira. Revista EPOS; Rio de Janeiro – RJ; Vol.3, nº 1, janeiro-junho de 2012; ISSN 2178-700X.
· WACQUANT, L. As duas faces do gueto. São Paulo: Boitempo, 2008.156p.
UNIDADE II
Módulo Gestão no Sistema Prisional
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