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1 MECANISMOS DE DEFESA AULA 2 Prof. Marcelo de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL O recalque é na teoria freudiana um dos pilares da sua edificação teórica. Embasando a hipótese de um aparelho psíquico dividido e, como tal, apresenta produções específicas derivadas desta cisão estrutural. Foi como um fato clínico que o recalcamento se impôs a Freud, desde seus primeiros pacientes diagnosticados com histeria. Ele observara que estes pacientes não tinham à sua disposição certas recordações. Verificou que haviam conteúdos ideativos que o paciente queria esquecer e que, intencionalmente, buscava manter fora de seu pensamento consciente. Em seu início a teoria do recalque é considerada como correlativa ao inconsciente, ou seja, eram de início tomados como sinônimos. A compreensão era de que os conteúdos submetidos ao recalque escapavam ao domínio do sujeito e, como um grupo psíquico separado era regido por leis próprias – o chamado processo primário. O recalque é uma condição, uma ação, direcionada a certas representações e seus derivados em que estes são impedidos de acesso à consciência. Impondo-se como uma resistência à ação destes conteúdos é necessário um exame mais detalhado de sua ação, uma vez que Freud (1915) analisa a questão da seguinte maneira: a possibilidade de existência de um recalque não é fácil de deduzir teoricamente. Por que uma moção pulsional sucumbiria a tal destino? Aparentemente, a condição necessária para isso seria que ao atingir a meta pulsional se produzisse desprazer ao invés de prazer. Todavia, é difícil conceber algo assim, pulsões deste tipo não existem, uma satisfação pulsional sempre é prazerosa. Nesse caso, então, precisaríamos supor circunstâncias especiais, algum tipo de processo pelo qual um prazer obtido a partir da satisfação de uma pulsão fosse transformado em desprazer. (Freud, 2004 (1915), p. 177) Há três fases possíveis no processamento do recalque: o recalque originário; o recalque propriamente dito; e o retorno do recalcado. Iremos estudá- los nesta etapa, bem como certos detalhes deste dispositivo que tem um lugar central na teoria das defesas e na estruturação do aparelho psíquico. TEMA 1 – RECALQUE ORIGINAL Como mencionado, é necessário certas condições para que o recalque 3 entre em ação, pois a satisfação de uma pulsão sendo sempre prazerosa, o que justificaria a ação desta defesa chamada recalque? A resposta a esta questão é que a pulsão submetida ao recalque se fosse realizada produziria prazer em um lugar e desprazer em outro. Concluindo-se, portanto, que para que este mecanismo de defesa possa operar é necessário haver previamente uma separação entre a atividade psíquica consciente e a atividade psíquica inconsciente. Assim, compreende-se que a pulsão recalcada foi submetida a esta defesa porque a sua realização produziria a satisfação no inconsciente, mas seria incompatível com os conteúdos da consciência, gerando, então, neste sistema, uma quantidade de desprazer consideravelmente maior que a quantidade de prazer que produziria se chegasse a seu termo. O recalque original consiste na primeira fase do recalque. Nesta fase o representante da pulsão é impedido de acessar a consciência. Com este impedimento é estabelecida uma fixação entre este representante que foi impedido e a pulsão representada, permanecendo ambos fora da consciência no inconsciente. Esta pulsão permanece tencionando, buscando seu escoamento por meio da consciência para obter o alívio da pressão, por uma descarga de energia, pela ação motora. Com esta pressão represada pelo recalque, a representação recalcada produz ligação com outros representantes, promovendo uma cadeia associativa entre estes conteúdos representacionais. Esta representações associadas são também direcionadas para o acesso à consciência, porém sofrem o mesmo processo que o representante original. A este processo de recalque dos conteúdos associados chama-se recalque propriamente dito. Assim, não apenas a representação original é alvo da defesa do recalque, mas também os substitutos desta representação. Diante desta hipótese é que se propõe a associação livre como método de tratamento que visa fazer emergir o conteúdo que está sob o recalque à consciência e, assim, aliviar a pressão produzida para se apresentar neste sistema, traduzindo esta pressão pulsional como fala. Possibilitando a realização da pulsão agora elaborada pela sua expressão simbólica (fala) no campo da consciência e, se for o caso, na efetivação de uma ação mecânica possível. 4 TEMA 2 – O REACALQUE E SUA FORÇA DE ATRAÇÃO A teoria freudiana ressalta que tão importante quanto o movimento de repulsão que atua a partir do consciente sobre o conteúdo recalcado é considerar o poder de atração que o recalcado original mantém e exerce sobre tudo o que consegue estabelecer conexão. O recalque, ainda que consiga afastar da consciência a representação incompatível, não impede que este representante pulsional continue existindo no inconsciente e continue se organizando na formação de novos derivados, e com estes estabelecendo ligações associativas. O representante pulsional, uma vez que está afastado da consciência, se desenvolve de forma mais desimpedida e com maior riqueza. Ou seja, ele continua a proliferar-se em representações substitutivas, buscando uma brecha, uma falha no recalque para poder ter acesso à consciência. Quando estes substitutos se afastam suficientemente do representante recalcado, seja pela incorporação de deformações, seja pela interpolação de certa quantidade de elos intermediários, o acesso à consciência é permitido. Durante a prática da técnica psicanalítica, solicitamos continuamente ao paciente que produza as representações derivadas de recalcado que possam, em decorrência de sua distância ou de seu deformação, passar livremente pela censura do consciente. As ideias espontâneas que requeremos do paciente, solicitando-lhe que renuncie a qualquer ideia intencionalmente almejada e a toda crítica, nada mais são do que tais representações derivadas afastadas e distorcidas. É a partir delas que podemos reconstituir uma tradução consciente do representante recalcado. Observamos, assim, que o paciente é capaz de produzir devaneios percorrendo uma cadeia de ideias espontâneas desse gênero até o momento em que se depara com um grupo de pensamento cuja relação com o recalcado se manifesta tão intensamente que ele se vê obrigado a voltar a repetir a tentativa do recalque. De modo análogo, os sintomas neuróticos devem ter preenchido as mesmas condições descritas acima, pois eles são os derivados do recalcado que, por meio dessas formações sintomáticas, afinal conquistaram o acesso à consciência que antes lhes era negado. (Freud, 2004 (1915), p. 180) O recalque trabalha de modo individual, ou seja, cada representação derivada isolada tem um destino específico. Devido ao grau de deformação ou de distanciamento da representação originária, uma e outra representação podem ter destinos diversos. Uma pode vir a ter acesso à consciência e outra não, por exemplo. Outra característica a ser ressaltada do recalque é que ele é altamente 5 móvel. Isto é, ao contrário do que se poderia imaginar, que o recalque fosse um evento único e de efeito permanente, ele é altamente dinâmico, necessitando um investimento contínuo de força. Caso este investimento de força para que o recalque se mantenha ativo venha a ser interrompido, ele não funcionará a contento e deverá ser novamente investido de força para conseguir realizar a sua ação de defesa. Diante desta pressão intermitente que o conteúdo recalcado exerce para ser admitido à consciência, o recalque necessita sustentar continuamente uma força na direção oposta, ou seja, uma contrapressãoao conteúdo recalcado para manter sua função e seu objetivo. Portanto, a manutenção de um recalque pressupõe um dispêndio de força constante, ao passo que a suspensão do recalque significa, em termos econômicos, poupar esse dispêndio de força. Aliás, a mobilidade do recalque expressa-se também nas características psíquicas do estado de sono que possibilitam a formação onírica. Com o despertar, as cargas de investimento do recalque, que haviam sido recolhidas, são enviadas de novo. (Freud, 2007 (1915), p. 181) Os sonhos seriam, portanto, a expressão das representações que durante o estado de vigília permanecem sob o recalque. Observamos, então, que se uma representação derivada não possui investimento de energia suficiente, fica mantida afastada da consciência, mas se obtiver uma quantidade maior de investimento poderá suplantar a força recalcante. Conclui- se que no estado de vigília, quando estamos acordados, via de regra, o recalque está sendo continuamente investido de energia psíquica para manter sob sua pressão os conteúdos incompatíveis à consciência. Enquanto que, durante o sono, a consciência tem seu investimento energético diminuído e, portanto, o recalque também, possibilitando a condição para que os conteúdos que estavam excluídos da consciência possam vir aí então se apresentar, na forma onírica, ou seja, como sonhos. Destacamos nesta dinâmica do aparelho psíquico o fator quantitativo em funcionamento para o exercício, ou não, do recalque. Este é o nosso próximo assunto. TEMA 3 – O FATOR QUANTITATIVO O fator quantitativo trata do aspecto econômico da teoria freudiana. Na elaboração da sua metapsicologia, Freud destaca três aspectos do aparelho 6 psíquico, ou seja, três registros que estão em funcionamento simultâneo, por vezes suas metas e objetivos coincidem e em outras vezes não. As três dimensões do aparelho psíquico, de acordo com a metapsicologia, são: • Econômico; • Dinâmico; • Topográfico. O aspecto econômico, como dito anteriormente, é relativo às quantidades de energia, cargas e investimento. Quanto maior a carga de afeto, mais pressão uma representação poderá exercer. O aspecto dinâmico é relativo aos fluxos, aos caminhos e direções percorridas pelas forças e cargas de afeto. A dinâmica do recalque impõe às representações recalcadas um dinamismo em suas cargas de investimento para que busquem caminhos, se desloquem, percorram conexões e associações para encontrar um ponto de recalque com menor investimento de energia, e assim poder suplantá-lo. E o aspecto topográfico delimita as regiões ou sistemas do aparelho psíquico. Cada sistema tem um funcionamento específico, por exemplo, no inconsciente o funcionamento deste sistema é regido pelo processo primário, ou seja, há um livre escoamento de energia psíquica entre as representações. As cargas energéticas deslocam-se com grande facilidade de uma representação à outra. Estes aspectos compõem a chamada metapsicologia freudiana. O fator quantitativo é decisivo para o conflito, assim quando uma representação incompatível ou repulsiva é fortalecida além de certo nível, o conflito se atualiza, e é justamente sua ativação que traz a reboque o recalque. Estas observações nos levam a perceber que em paralelo à representação há um outro elemento que também representa a pulsão, para esse outro elemento do representante psíquico tem sido adotada a designação de quantidade de afeto; ele corresponde à pulsão na medida em que se desprendeu da representação e encontra expressão, de acordo com sua magnitude, em processos que se fazem perceber à sensação na forma de afetos. (Freud, 2007, [1915], p. 182) Há diferentes destinos possíveis do representante pulsional devido a este fator quantitativo, a saber, pode haver uma total exclusão do representante 7 pulsional; ou surgir como um afeto mais determinado, ou é transformado em angústia. Estes dois últimos destinos são particularmente estudados na teoria freudiana, pois tratam da transformação das energias psíquicas das pulsões em afetos e, de um modo mais especial, na transformação em angústia. Garcia-Roza (1997) ressalta que do ponto de vista econômico é mais importante o destino do afeto ligado a um representante ideativo recalcado do que o destino do representante propriamente dito. Posto que, a parte quantitativa da pulsão só se exprime em afetos, surgindo por este motivo a possibilidade, pelo mecanismo do recalcamento, mantermos no inconsciente o representante ideativo da pulsão, mas não sermos capazes de impedir o desprazer que resulta da carga de afeto que estava ligada a ele. Ora, se o motivo e o propósito do recalque era tão somente a evitação do desprazer, o destino da quantidade de afeto é o aspecto mais importante e decisivo para uma análise do processo do recalque. Pode-se afirmar que se um recalque não conseguiu impedir que surjam sensações de desprazer ou de angústia ele fracassou, ainda que tenha mantido afastado da consciência seu representante ideativo. Diante deste fracasso é que se produz a terceira fase do processo do recalque chamada o retorno do recalcado. É um processo derivado do recalque mas que não se confunde com ele, pois tem uma organização diferente na formação de elementos substitutos, ou sintomas. E que surgirão a partir dos elementos representativos da pulsão que não submergiram ao recalque. Partindo deste processo de retorno do recalcado que Freud vai analisar os diferentes destinos do representante ideativo e do afeto por meio de três quadros clínicos: a neurose de angústia, a histeria de conversão e a neurose obsessiva. TEMA 4 – O RECALQUE NA HISTERIA Na histeria de conversão o processo de recalcamento é em geral bem sucedido, na medida em que consegue provocar o desaparecimento total do afeto. Ainda que no lugar do afeto desaparecido surjam sintomas que produzem também desprazer, contudo, em geral, estes não são acompanhados de angústia. 8 O conteúdo representacional foi expulso da consciência por completo, mas no lugar deste surge na histeria de conversão como formação substituta e, ao mesmo tempo como sintoma, uma inervação ultraforte, somática, podendo ser ou de natureza sensória (sensação) ou de natureza motora (movimento). Esta inervação pode surgir como excitação ou inibição, ou seja, a pessoa pode sentir em determinada região do corpo uma sensação que lhe parece ser específica, ou estranha, mas não havendo aparentemente nenhuma explicação razoável (do ponto de vista orgânico) para que esta tenha surgido. Ou ainda, por meio da excitação ou inibição do movimento, em que uma parte do corpo se mantenha inerte mesmo com a intenção de movê-la, as conhecidas paralisias que chamou inicialmente a atenção de Freud e que lhe despertou o interesse pela investigação do inconsciente. Freud (1915) considera que o recalque da histeria fracassa por completo, pois só é viável à custa de um grande número de formações substitutivas, sintomas. Entretanto, se se observar pela quantidade de afeto eliminada, esta sim sua tarefa principal, ele obteve sucesso. Aliviando em alguma medida a pressão realizada pelo representante pulsional. Por fim, o processo de recalque da histeria de conversão encerra-se com a formação de um sintoma, neste caso, conversivo. Uma conversão bem sucedida é, pois, uma garantia de ausência de ansiedade, já que provoca o desaparecimento completo da quota de afeto. No caso de o recalcamento não ser bem feito, os sintomas podem ser acompanhados de ansiedade, o que provoca a formação de um mecanismo fóbico para evitar o desprazer. No entanto, na histeria de conversão processo de recalcamento geralmente se completa com a formação do sintoma, não havendo necessidade de outros mecanismos complementares. (Garcia-Roza, 1997, p. 165) TEMA 5 – O RECALQUE NA NEUROSE OBSESSIVA Há um pressuposto que afirma quena neurose obsessiva há uma regressão, por intermédio do qual um desejo sádico entrou no lugar de um desejo amoroso. Esta regressão se refere a um período de ambivalência na constituição do objeto amoroso, em que o mesmo objeto é alvo de impulsos hostis e impulsos amorosos. Por conta desta ambivalência pode não ser claro se o representante que está submetido ao recalque é o anseio amoroso ou o anseio hostil, pois na 9 neurose obsessiva o recalcamento inicialmente é eficaz, substituindo por deslocamento o representante ideativo e com isso fazendo desaparecer o afeto. Porém, este sucesso tende a se dissipar com o tempo, revelando uma falha no processo de recalcamento. A partir de então, há o processamento de uma formação reativa ao representante que logrou escapar da ação do recalque. A ambivalência que possibilitou a ocorrência do recalque pela formação reativa é o mesmo ponto em que possibilita o retorno do recalcado vir à tona. O afeto desaparecido retorna transformado em medo social, em medo da própria consciência moral e na forma de uma repreensão impiedosa. A representação rechaçada é com frequência substituída por meio de um deslocamento para algo menor, ou indiferente, portanto, ocorre uma substituição por deslocamento. Em geral, na neurose obsessiva, há uma forte tendência a restaurar a representação recalcada de forma completa e intacta. O fracasso do fator quantitativo, afetivo, que ocorre no recalque, põe em jogo o mesmo mecanismo de fuga por evitações e proibições ao qual é possível de encontrar também na formação da fobia histérica. A representação, contudo, é rechaçada do consciente e mantida obstinadamente afastada, pois com esse afastamento se logra o travamento motor do impulso, ou seja, efetua-se o impedimento da ação. Assim, o trabalho de recalque na neurose obsessiva resulta numa luta sem êxito e sem fim. Permanecendo o sujeito num constante e fatigante trabalho de “ir e vir”, devido à ambivalência que se apresenta como característica marcante deste quadro clínico. NA PRÁTICA Partindo da teoria do recalque é possível compreender como a associação livre pode lograr êxito como método de tratamento. No convite realizado ao paciente para que fale livremente, evitando qualquer tipo de julgamento sobre o que diz, o analista está advertido sobre o processo do recalque, seu funcionamento e suas características. O analista, conhecendo a hipótese freudiana, sabe que o recalque opera na representação individualmente e dinamicamente, ou seja, a fala 10 despretensiosa é o escoamento livre de energia psíquica por meio dos representantes que a compõem. Na medida em que o recalque se realiza sobre um representante os demais que o substituem podem ser recebidos à consciência, contudo, mantendo certa distância e deformação em relação ao representante incompatível. As chamadas psiconeuroses de defesa – histeria, fobia, neurose obsessiva – são resultantes do processo falível do recalque. Cada uma destas psiconeuroses apresenta uma forma de reagir ao retorno do recalcado, ou seja, os substitutos e sintomas advindos do recalque propriamente dito. O objetivo de uma análise, de acordo com a teoria freudiana, não é fortalecer o recalque para que este seja infalível. Posto que é o recalque também um fato de estrutura, seu modo de operação não é o objetivo da análise. Mas sim, a elaboração dos conteúdos que sob o recalque permanecem. Nestes casos, a elaboração se refere à possibilidade de reconhecimento na consciência dos representantes pulsionais reprimidos, mesmo que distorcidos ou afastados do representante original. A partir deste reconhecimento, que se dá pela fala, compreendendo esta como a via motriz e simbólica por excelência, o dispêndio de energia para manter o recalque é amenizado, bem como o desprazer da representação pulsional, que se dilui no processo analítico. FINALIZANDO Foi ao se defrontar com o fenômeno clínico da resistência e ao empreender a superação da teoria do trauma que Freud foi levado a produzir o conceito de recalcamento. A teoria do trauma admitia que as manifestações neuróticas seriam decorrentes de um trauma psíquico sofrido na infância e provocado por uma acontecimento em face do qual o indivíduo não teria tido condições de realizar a ab-reação. Assim, impossibilitado de se defender do acontecimento de uma forma normal, o indivíduo empreenderia uma defesa patológica. O objetivo do procedimento hipnótico seria, neste caso, possibilitar a revivência da experiência traumática e a consequente ab-reação do afeto ligado a ela. 11 Quando Freud abandona a hipnose e solicita aos seus pacientes que procurem se lembrar do fato traumático sem o auxílio deste recurso, ele passa a se defrontar com um fato novo que era inteiramente ocultado pelo próprio método que empregava: a resistência por parte do paciente que se manifestava como falha de memória ou de incapacidade de falar sobre o tema. Essa resistência foi interpretada por ele como o sinal externo de uma defesa que teria por finalidade manter fora da consciência a ideia ameaçadora. A defesa era a censura exercida pelo ego sobre a ideia ou conjunto de ideias que despertavam sentimentos de vergonha e de dor. O que constitui a defesa é, portanto, a impossibilidade de uma conciliação entre uma representação ou grupo de representações e o ego, o qual se transforma em agente da operação defensiva. Freud define o recalcamento como o processo cuja essência consiste no fato de afastar determinada representação do consciente. O objeto do recalcamento não é a pulsão propriamente dita, mas um de seus representantes, no caso, o representante ideativo (Garcia-Roza, 1997, p.153). 12 REFERÊNCIAS FREUD, S. Escritos sobre a psicologia do inconsciente. Trad. Luiz Alberto Hans. Rio de Janeiro: Imago, 2004. FREUD, S. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos. São Paulo: Companhia das letras, 2010. FREUD, S. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: JZE, 1997. LAPLANCHE; PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise. Tradução Pedro Tamen. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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