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LIVRO HISTÓRIA DO BRASIL COLONIA

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA DO 
BRASIL: COLÔNIA
Professora Me. Ana Lúcia Sales de Lima
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância:
História do Brasil: Colônia. Ana Lúcia Sales de 
Lima; Luciene Maria Pires Pereira.
Maringá - PR, 2017. Reimpresso em 2021.
320 p.
“Graduação - EaD”.
1. História. 2. Colonização . 3. Historiografia 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0127-3
CDD - 22 ed. 981.07
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Design Educacional
Rossana Costa Giani
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Editoração
Humberto Garcia da Silva
Revisão Textual
Viviane Favaro Notari 
Nayara Valenciano
Ilustração
André Luís Onishi
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professora Me. Ana Lúcia Sales de Lima
Sou graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM – 
PR). Especialista em História e Sociedade e Mestre pela mesma Instituição, 
mediante o Programa de Pós-Graduação em História. Trabalho na Educação 
Básica de ensino, como professora de História, desde 2011. Atuo nos anos 
finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, vinculada pela Secretária 
de Educação do Estado do Paraná (SEED). Participo do Laboratório de 
Estudos do Império Português (LEIP-UEM) e, atualmente, integro a Sociedade 
Internacional de Estudos Jesuíticos (SIEJ). Sou professora de História do Brasil 
Colônia (modalidade a distância) da Unicesumar.
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
Sou formada em História pela Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, 
na qual também realizei uma especialização em História Econômica. Possuo 
especialização em Educação Especial, realizada no Instituto Paranaense de 
Estudo e sou Mestre em História, na linha de Políticas: ações e representações, 
pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho – UNESP. Além do 
Ensino Superior, trabalho na Educação Básica, na rede regular e na educação 
especial.
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SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a)! 
É com imensa satisfação que apresentamos a você o livro que integra a disciplina de 
História do Brasil: Colônia. Somos as professoras Ana Lúcia e Luciene e preparamos com 
muita dedicação e carinho este material. Esperamos que seja um convite para novas 
discussões e novos posicionamentos perante as abordagens realizadas neste estudo in-
dispensável à formação docente. 
O livro está organizado em cinco unidades que abordam discussões referentes à co-
lonização na América Portuguesa, tanto no que tange as principais temáticas do pe-
ríodo, quanto as discussões historiográficas, que são realizadas na última unidade de 
nosso livro. 
Na primeira unidade, você terá acesso aos estudos sobre a formação do homem luso, 
desde os primórdios da Península Ibérica até a consagração de Portugal como Estado 
independente. Após vencerem essa etapa, prosseguimos às análises referentes à expan-
são ultramarítima portuguesa realizada ao longo do século XV e que foi responsável pe-
las novas aquisições territoriais lusitanas, possibilitando que Portugal se transformasse 
em um verdadeiro Império. 
Em um segundo momento, colocamos em pauta as discussões referentes à “Rota das 
Índias” e à chegada da frota Cabralina nos trópicos. Nessa unidade, você conhecerá as 
primeiras relações que se estabeleceram entre portugueses e indígenas e as primeirasmedidas administrativas tomadas pela Coroa de Portugal mediante a sua nova desco-
berta territorial. Tais reflexões se prolongam até a implantação do Governo Geral e suas 
implicações em solos brasílicos, no âmbito da indústria açucareira. 
Dando prosseguimento ao estudo, você conhecerá as reflexões acerca do papel da 
Companhia de Jesus na colônia portuguesa. A labuta religiosa dos jesuítas se defron-
tará com a cultura ameríndia e com os interesses econômicos dos colonizadores lusos, 
repercutindo em uma série de embates que precisam ser remediados pelos monarcas 
portugueses. Tanto a unidade III quanto a anterior são imprescindíveis para a compre-
ensão do projeto colonizador empreendido pela Coroa lusitana nos solos coloniais. 
Já na quarta unidade, o recorte temporal se inicia nas expedições bandeirantes, siste-
matizadas no século XVII, até os antecedentes da Independência do Brasil. Essa uni-
dade apresenta um longo processo que precisa ser cuidadosamente analisado, pois 
destaca muitas temáticas relevantes para a compreensão das mudanças ocorridas 
nesse período e que também criarão condições para o rompimento nas relações de 
dependência entre Brasil e Portugal, com o fim efetivamente da conjuntura colônia – 
metrópole em 1822. 
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DO BRASIL: COLÔNIA
APRESENTAÇÃO
Na quinta e última unidade, compreendemos a necessidade de apresentar uma 
discussão com os principais teóricos do século XX, acerca do desenvolvimento e 
formação de nossa sociedade. Neste prisma, nomes como Gilberto Freyre, Sér-
gio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior e Ciro Flamarion Cardoso apresentam 
uma leitura acerca da colonização do Brasil, levando em consideração uma série 
de acontecimentos. 
Este caminho que percorreremos é imprescindível tanto para a sua formação do-
cente quanto para a compreensão da sociedade brasileira nos dias de hoje. Assim, 
convidamos-lhe a mergulhar nas aventuras de nosso Brasil Colonial. 
Bom Estudo!
Professoras Ana Lúcia e Luciene.
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO 
ULTRAMARÍTIMA
13 Introdução
14 O Nascimento do Império Português 
31 Os Senhores dos Mares: A Expansão Marítima Lusitana 
57 Considerações Finais 
UNIDADE II
A COLONIZAÇÃO DOS TRÓPICOS PORTUGUESES
65 Introdução
66 A Chegada à América e o Encontro com o Desconhecido 
89 As Capitanias Hereditárias 
103 O Estabelecimento do Governo Geral 
123 Considerações Finais 
UNIDADE III
EM NOME DE DEUS E DO ESTADO: A LABUTA DA COMPANHIA DE JESUS 
NA AMÉRICA PORTUGUESA
131 Introdução
132 A Colonização das Terras e a Salvação das Almas 
158 Colonizadores e Soldados de Cristo: Embates em Torno da Escravidão do 
Gentio Brasílico
177 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE IV
A CONSOLIDAÇÃO DA COLONIZAÇÃO LUSITANA NOS TRÓPICOS
187 Introdução
188 A Expansão Territorial da Colônia Lusitana 
203 A Era de Ouro no Brasil Português 
232 O Império Português no Brasil: da Chegada da Corte à Independência 
245 Considerações Finais 
UNIDADE V
DEBATES DA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA ACERCA DA COLONIZAÇÃO 
DA AMÉRICA PORTUGUESA
257 Introdução
258 As Várias Histórias do Brasil 
286 A Política Colonial Portuguesa: dos Aspectos Feudais aos Indícios do 
Capitalismo
293 Considerações Finais 
301 Conclusão
303 Referências
317 Gabarito
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Professora Me. Ana Lúcia Sales de Lima
BREVE HISTÓRIA DE 
PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS 
À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Analisar o surgimento dos Estados presentes na Península Ibérica, 
discutindo suas principais características.
 ■ Compreender a formação do homem luso e seu caráter aventureiro.
 ■ Observar o desenvolvimento do Império Português.
 ■ Verificar o pioneirismo português na expansão ultramarítima. 
 ■ Entender as relações estabelecidas entre Estado e Igreja.
 ■ Discutir as motivações econômicas que alimentaram a “Era dos 
Descobrimentos”.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O Nascimento do Império Português
 ■ Os senhores dos Mares: a expansão marítima lusitana
INTRODUÇÃO
Caríssimo(a) aluno(a), daremos início à disciplina de História do Brasil Colônia 
abordando, primeiramente, a formação de Portugal enquanto país, junta-
mente com a construção do caráter do homem luso. Tais questões são de suma 
relevância para a compreensão do tipo de colonização que os portugueses 
empreenderam nos Trópicos durante quatro séculos e que será nossa temá-
tica nas próximas unidades. 
Neste primeiro momento, realizaremos um breve estudo acerca da forma-
ção de Portugal desde a Pré-história, passando pela era medieval e se estendendo 
até as Grandes Navegações que marcaram o século XV no cenário europeu. 
Observaremos que os trajetos da história desse país foram diferentes, compa-
rados aos trajetos tomados por outros grandes Estados modernos da Europa, e 
compreenderemos que as próprias dificuldades e limitações internas favorece-
ram os portugueses neste processo que transformou esse pequeno país em um 
Império, que fixou raízes na Costa africana, nas ilhas atlânticas, nas “Índias” 
orientais e, posteriormente, na América. 
Desse modo, optamos por organizar esta unidade em dois grandes eixos 
temáticos, que foram divididos em subitens para facilitar a compreensão das 
questões levantadas em nosso estudo. Em primeiro lugar, traçaremos uma análise 
desde a formação da Península Ibérica, que fora ocupada por distintos povos ao 
longo dos séculos, até a construção, de fato, do Estado português independente. 
Nesse intervalo de tempo, iremos nos deparar com questões importantes para 
a compreensão do caráter luso e das limitações internas que levaram Portugal 
às incursões marítimas. Também discutiremos acerca dos principais aspectos 
econômicos e políticos que estavam presentes nesse processo, tanto de luta pela 
independência quanto pela busca de alternativas necessárias para suprir as defi-
ciências que o Reino possuía. 
O segundo eixo temático vai refletir acerca das principais questões que 
marcaram o século XV na Europa, principalmente relacionadas à expansão marí-
tima portuguesa. Iniciamos a discussão com a organização do Império luso e 
seus conflitos contra Castela e Aragão em busca de assegurar sua independên-
cia e, em seguida, priorizamos a análise da expansão portuguesa ultramarítima. 
Introdução
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BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A partir da conquista de Ceuta, em 1415, a Coroa de Portugal foi, paulatina-
mente, “descobrindo” a Costa da África e, na sequência, as ilhas atlânticas, que 
seriam importantes pontos de conexão nas empreitadas marítimas portuguesas.
Além dos aspectos de caráter econômico e político, são de suma relevância 
para a compreensão desse processo de expansão além-mar as relações que foram 
estabelecidas entre Portugal e a Igreja Católica de Roma. Notaremos que o estrei-
tamento das relações entre as duas esferas culminará na criação do “Padroado 
Régio”, que, em linhas gerais, assegurava deveres e direitos ao Reino de Portugal, o 
qual, em nome de Deus e do Estado, colonizou pontos na África, Ásia e América. 
Nesse sentido, compreendemos que as questões que serão tratadas a seguir 
são indispensáveis para entendermos a política que a Coroa de Portugal desen-
volveu em suas possessões além-mar, sobretudo na América lusitana, pois nos 
revela uma combinação de interesses econômicos e religiosos que nem sempre 
serão sentidos com a mesma intensidade, mas que formarão as estruturas polí-
ticas do Império português. 
O NASCIMENTO DO IMPÉRIO PORTUGUÊS
A OCUPAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA
A ocupação da Península 
Ibérica, região na qual se 
situa, atualmente, Portugal, 
remontaao estudo da pré-his-
tória europeia. Observamos a 
presença de diferentes povos 
que ocuparam essa região 
ao longo do tempo. Desses 
povos, podemos mencionar 
a presença dos celtas, que 
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fizeram a introdução da metalurgia do ferro e, consequentemente, começaram a 
construir objetos de trabalho que vieram para facilitar seu cotidiano. Podemos, 
também, destacar a chegada de tropas romanas oriundas do conflito entre Roma 
e Cartago (cidade fundada pelos fenícios no norte da África em 814 a.C., que 
exercia poder sob o Mediterrâneo ocidental e a Sicília), conflito esse que marcou 
a história de expansão romana e, assim, o contato com outros povos que viriam 
ocupar a Península Ibérica. 
Durante o século II a.C., a expansão de Roma tomou grande impulso, ocu-
pando a Macedônia (171-168 A.C) e, posteriormente, a Península Ibérica e as 
possessões gregas, ampliando, dessa forma, as fronteiras do Império Romano. 
Segundo Venturini (2010), essa expansão do Império teve consequências signi-
ficativas, pois os novos territórios compreendiam áreas com produções agrícolas 
e jazidas de matérias-primas, como as minas de prata da Espanha. Com a ane-
xação de novas províncias, houve a necessidade de organizar uma cobrança de 
impostos. Essas ocupações também possibilitaram a aquisição de prisioneiros 
de guerra, ou mesmo escravos que, consequentemente, viriam a integrar uma 
massa de trabalhadores para servir o Império de Roma.
Durante o século II a.C., a escravidão tornou-se importante no Império Ro-
mano. Ao longo do século IV a.C., foi proibida a escravidão por dívidas, asse-
gurando que os cidadãos romanos não se tornassem escravos mediante ao 
não pagamento de alguma dívida. Muitos escravos foram direcionados para 
os campos do Império, para suprir a deficiência da mão de obra quando os 
camponeses eram recrutados durante as guerras de ocupação romana. Os 
prisioneiros de guerra que eram submetidos à escravidão eram denomina-
dos “escravo-mercadoria”, justificado pelo fato de serem considerados como 
“coisas”, ou seja, propriedade de alguém. Os escravos não ficavam submetidos 
apenas ao labor do campo, eram usados em diferentes tipos de ofícios, nas 
minas, nas cidades, no interior das residências, mas também em funções que 
exigiam uma formação diferenciada, como médicos, pedagogos e secretários. 
Tal condição permitia uma possibilidade maior para conseguir sua liberdade.
Fonte: Venturini (2010, p. 18-22).
BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
Reprodução proibida. A
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IU N I D A D E16
Ao longo do século III 
d.C., o Império Romano já 
havia atingido sua exten-
são máxima e começou a 
sofrer com as consequências 
desse processo. A fragilidade 
administrativa, os problemas 
econômicos decorrentes de 
uma crise instaurada no 
comércio, as sucessivas 
batalhas e doenças resulta-
ram em grandes extensões 
de terras abandonadas. Estas, 
por sua vez, representavam o pilar da economia romana, pois a agricultura 
financiava as obras públicas que ocorriam nos centros urbanos do Império. 
Entretanto, um dos fatores mais graves que levaram à ruína do Império em sua 
parte Ocidental foi a presença de invasores externos. Com as fronteiras despro-
tegidas, o Império se viu fragilizado perante a invasão dos povos bárbaros que 
devastaram e saquearam as cidades romanas, sobretudo entre os séculos IV e VI 
e alteraram a estrutura social daquele período. Observa-se uma onda de migra-
ção das cidades para os campos. Em busca de proteção e sobrevivência, famílias 
inteiras abandonavam sua vida nas cidades e fugiam para os campos, onde as 
tribos bárbaras não ofereciam ameaça.
A região que compreendia o Império Romano do Ocidente sofreu com as 
levas de invasores de diferentes tribos germânicas que assolaram as cidades 
romanas. Dentre os povos bárbaros que estiveram presentes naquele território, 
podemos destacar os hunos, alanos, godos, visigodos, entre outros. Em algumas 
circunstâncias, observamos que os romanos fizeram alianças com tribos bárba-
ras para conterem outros invasores que ameaçavam o fragilizado Império. Foi 
dessa forma que os visigodos permaneceram aliados aos romanos no início do 
século V, contendo a ameaça de alanos e vândalos e, posteriormente, dos suevos 
no final do século VI. Nesse contexto, segundo Saraiva (1995, p. 30), “os visigo-
dos não trouxeram consigo novas formas de organização ou novas técnicas de 
Figura 1: Império Romano em 117
Fonte: Wikimedia Commons.
Figura 2: Migrações na Europa entre os século II e VI, incluindo a região da Península Ibérica
Fonte: Wikimedia Commons.
O Nascimento do Império Português
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trabalho”, por outro lado, estabeleceram na “península os traços fundamentais 
do que viria a ser a sociedade medieval portuguesa: uma sociedade tripartida, 
formada pelo clero, nobreza e povo” (SARAIVA, 1995, p. 30).
Além das tribos germânicas, a região que compreende a Península Ibérica tam-
bém abrigou povos pertencentes a outras religiões, como judeus e muçulmanos. 
Os judeus estiveram presentes nessa região em diferentes momentos da História, 
muitas vezes, devido à diáspora (dispersão de um povo por motivos políticos e 
religiosos). Segundo Azevedo (2008), em Roma, cresceu o ódio contra os judeus e, 
por volta do ano 14 de nossa era, o judaísmo foi proibido em toda Península Itálica. 
Os judeus também ocuparam a Península Ibérica, desde a ocupação romana, e 
procuraram refúgio em estados cristãos quando foram perseguidos pelos árabes.
No final do século XV, os reis católicos de Castela e Aragão decretaram a 
expulsão de todos os judeus de seu território. Procurados, ameaçados e perse-
guidos, caso os judeus não cumprissem a determinação da Coroa espanhola 
em um prazo de no máximo quatro meses, poderiam ser condenados à morte 
(AZEVEDO, 2008, p. 113). Com a determinação do reino espanhol, os judeus 
se viram obrigados a migrar para Portugal, onde poderiam viver tranquilamente 
sem nenhum tipo de perseguição.
BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
Reprodução proibida. A
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Em resposta a essa migração, o monarca lusitano decretou a cobrança 
de uma quantia, dependendo da situação financeira de cada indivíduo que 
resolvesse fixar moradia em Portugal. Além disso, estabeleceu um prazo de, 
no máximo, oito meses de permanência no reino, sob a condição de reduzi-
-los à escravidão.
Se os Reis Católicos tomam a iniciativa da expulsão e encabeçam a 
brutal limpeza do Reino da conspurcação hebraica, D. João II soube 
aproveitar a entrada de alguns milhares de pessoas – não contabilizável 
que lhe poderiam dar alguns proveitos imediatos e dotar o Reino de 
gente com capitais e com ofícios úteis. Contra um imposto per capita, 
autorizou a sua presença transitória no Reino. Um provisório que quis 
tornar definitivo. Apesar da cruel retirada das crianças às famílias e do 
seu envio para São Tomé, os judeus não foram perseguidos nem expul-
sos (MATTOSO, 1997, p. 404).
Observamos que, durante o século XVI, a Coroa lusitana criou medidas de 
conversão aos judeus que ocupavam as possessões portuguesas, impondo, 
desse modo, o abandono dos costumes e cresças judaicas em favor dos dog-
mas da Igreja Católica. Essa medida viria ao encontro dos interesses do Reino 
lusitano, pois a saída dos judeus do Império significava perdas econômicas 
importantes, visto que eram os principais responsáveis pelo comércio nos 
centros urbanos de Portugal, como também financiadores nas empreitadas 
ultramarinas lusitanas. Os judeus convertidos ao cristianismoficaram conhe-
cidos como “cristãos-novos” e sofriam com a vigilância constante da Igreja de 
Roma (AZEVEDO, 2008, p. 114). 
Segundo Mattoso (1997), a obrigatoriedade da conversão dos judeus ao 
cristianismo causou um problema sério para a sociedade portuguesa. A con-
versão violenta não pretendia mudar imediatamente os costumes judaicos. 
Muitos indivíduos se esforçaram na conversão ao catolicismo, pois alme-
javam integrar a sociedade em ofícios relacionados às ordens militares, à 
nobreza, aos governos municipais e mesmo em Universidades. Outros man-
tinham a prática de suas judiarias na obscuridade e viviam com medo de 
serem descobertos e delatados por algum vizinho curioso (prática comum 
durante a Inquisição no século XVI, em que os indivíduos condenados pos-
suíam seus bens confiscados pelo Estado português, algo que rendeu somas 
Você sabia que o judaísmo é a religião monoteísta que possui o menor nú-
mero de adeptos no mundo? Apenas 12 a 15 milhões. 
Fonte: Judaísmo (online).
Figura 3: Massacre de Lisboa
Fonte: Wikimedia Commons.
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significativas aos cofres da Coroa). Ao 
longo do século XVI, os cristãos novos que 
fossem pegos praticando judaísmo eram 
condenados à fogueira. Um desses inci-
dentes ficou conhecido como “Massacre 
de Lisboa”, que ocorreu em 19 de abril de 
1506, em que milhares de judeus (estima-se 
que cerca de 4 mil) foram mortos acusados 
de serem os “culpados” pela grande seca, 
fome e peste que assolavam Portugal no 
período (MATEUS; PINTO, 2007).
Diferente dos judeus, os árabes iniciaram sua ocupação na Península Ibérica 
em meados do século VIII, mais especificamente no ano de 711, fruto do pro-
cesso de expansão da fé islâmica sonhada pelo profeta Maomé desde 612. De 
acordo com a análise realizada por Pestana (2006, p. 16), “a rápida penetra-
ção dos árabes deveu-se, sobretudo, ao antagonismo entre judeus e cristãos, 
Atualmente, a fé judaica é praticada em várias regiões do mundo, porém 
é no estado de Israel que se concentra um grande número de praticantes.
Fonte: Judaísmo (online).
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que abriu espaço para que em muitos locais a população judaica oprimida 
recebesse os mouros como libertadores”. Os muçulmanos permaneceram 
cerca de oito séculos na Península, mas o domínio, de fato, teve uma dura-
ção variável em cada região, pois o poder ficava alternando entre islâmicos 
e cristãos. Nesse contexto, observamos que, em 868, Porto e Braga foram 
conquistadas, em 1064, Coimbra e, já durante o século XII, Lisboa. Em con-
trapartida, os espanhóis conviveram com a presença dos muçulmanos, entre 
avanços e retrocessos, até 1492, quando resolveram negociar sua rendição 
aos cristãos em Granada. 
A convivência entre os invasores muçulmanos e os cristãos que habita-
vam a Península Ibérica dependia da aceitação ou não da religião islâmica. 
Se os cristãos resolvessem abraçar a fé de Alá, eram tranquilamente aceitos 
na comunidade muçulmana, com igualdade de direitos e deveres. Caso fos-
sem resistentes à conversão e mantivessem seus dogmas baseados na Igreja 
Católica, teriam assegurada sua liberdade de culto, porém eram obrigados a 
pagar impostos diferenciados, se possuíssem alguma propriedade. Em contra-
partida, se os cristãos lutassem contra os islâmicos, ficariam a mercê de serem 
escravizados (MENEZES, 2010).
Os árabes são um povo semita proveniente da Península Arábica que passou 
a habitar regiões próximas, principalmente no norte da África e no Oriente 
Médio. Foi nessa região que surgiu o islamismo e grande parte dos árabes 
tornou-se muçulmano. Dessa forma, nem todos os árabes são muçulmanos. 
Mouro ou muçulmano é um nome latino derivado de Mauritânia, província 
islâmica do noroeste da África.
Fonte: Pestana (2008).
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O contato firmado entre judeus, muçulmanos e cristãos possibilitou um imenso 
intercâmbio cultural e comercial, sobretudo entre esses dois últimos. Além 
dos conflitos armados motivados pela conquista territorial, esse contato pre-
cisa ser observado também como um intercâmbio cultural entre os envolvidos. 
Observamos que muitas palavras do vocabulário português são de origem árabe, 
por exemplo: o açúcar. Esse contato possibilitou o contato com outras realida-
des e até mesmo tecnologias que os portugueses até então desconheciam. Um 
bom exemplo da herança cultural deixada pelos muçulmanos na Península 
Ibérica, e uma das mais importantes para o crescimento do Estado luso, foi as 
inovações ligadas à arte náutica que possibilitou a empreitada marítima lusitana 
(PESTANA, 2006).
Segundo Pestana (2006), as inovações náuticas, muitas vezes, não eram obti-
das por meios pacíficos. A maioria dos dados registrados nos livros sobre arte 
náutica estava escrita em árabe e foi roubada e guardada, muitas vezes, em mos-
teiros cristãos. Entre os moçárabes como também entre os judeus foram utilizados 
intérpretes para traduzir as informações que estavam presentes nessas obras e 
que, posteriormente, iriam contribuir para as aventuras portuguesas além-mar.
Figura 4: O Califado Omíada em seu auge no século VIII, incluindo a Península Ibérica. 
Fonte: Wikimedia Commons. 
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A partir do ano de 718, o combate aos infiéis (muçulmanos) tornou uma 
realidade e, ao longo do século X, um terço da Península Ibérica já havia sido 
reconquistada pelos cristãos. Segundo Pestana (2006, p.18), “a guerra avançou 
rápido graças a levas de peregrinos, vindos em particular do sul da França, jus-
tamente onde o avanço muçulmano havia sido barrado pelos francos em 736”. 
ORIGENS DO ESTADO LUSO
Com as levas de invasões 
muçulmanas e, sobretudo, 
bárbaras, que assolaram 
tanto a Península Ibérica 
como a Itálica, observamos 
que a estrutura do mundo 
Medieval sofreu grandes 
transformações. A vida que 
antes era concentrada nos 
centros urbanos passou a 
ser centralizada nos cam-
pos. Os indivíduos abastados 
migravam para as suas pro-
priedades rurais, enquanto 
a grande maioria, sem ter aonde ir, procurava sobrevivência e proteção nes-
sas terras. Teríamos, a partir desse momento, um processo em curso que foi se 
organizando paulatinamente e ficou conhecido após um longo período como 
Feudalismo. Segundo Saraiva (1995, p. 40), “nasciam poderes novos que se iam 
moldando ao sabor das circunstâncias, poderes representados por chefes locais 
entre os quais se estabelecia uma hierarquia nem sempre bem definida, interca-
lada de episódios de submissão e de rebeldia”. 
É nesse contexto que observamos as origens de Portugal enquanto Estado 
em curso, com sua organização política e administrativa. De acordo com as refle-
xões realizadas por Mattoso (2000, p. 08): 
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O primeiro fato que se pode relacionar com a futura nacionalidade 
portuguesa é, por isso mesmo, aquele em que se verifica a associação de 
dois antigos condados pertencentes cada um deles a uma província ro-
mana diferente: o condado de Portucale, situado na antiga província da 
Galécia, e o de Coimbra, na antiga província de Lusitânia. Formaram 
o que então se chamou o “Condado Portucalense” (o que pressupunha 
a hegemonia do condado do Norte sobre o do Sul), entregue pelo rei 
Afonso VI de Leão e Castelaao conde Henrique de Borgonha, como 
dote de casamento de sua filha ilegítima D. Teresa no ano de 1096. 
Segundo Pestana (2006), não existiam relatos que comprovassem a atuação efe-
tiva de D. Henrique nas Cruzadas e nem de D. Raimundo. Porém o fato de terem 
sido premiados com as mãos das filhas de D. Afonso VI de Leão e Castela (Dona 
Teresa e Dona Urraca) leva-nos a crer que ocorreu um feito significativo naquele 
dado momento, pois um senhor proprietário de um vasto território não iria sim-
plesmente abrir mão de suas terras em benefício de outros indivíduos como D. 
Afonso VI fez (ritual praticado durante o período feudal). 
A partir dessa doação, D. Raimundo ficou responsável pelos territórios de 
Galiza e de Portugal, aos quais, posteriormente, seriam acrescentados Santarém, 
Sintra e Lisboa. Mas Lisboa seria tomada pelos árabes ainda em fins do século 
XI, algo que levou D. Afonso a destituir D. Raimundo por sua possível incom-
petência e atribuir a D. Henrique a posse de Galiza e do condado portucalense. 
Nascia ali a rivalidade entre primos e que deu origem ao ódio entre espanhóis 
e portugueses que marcaria os próximos séculos. Entretanto, a necessidade de 
união para combater um inimigo em comum impediu que houvesse uma bata-
lha entre os primos naquele momento. Assim, esclarece Pestana (2006, p. 20-21): 
Filho de D. Raimundo e Dona Urarca, nasce, em 1105, o infante Afonso 
Raimundes, a quem o pai, morto em 1107, não veria crescer. Viúva, 
Dona Urraca foi reconhecida por D. Afonso VI, em 1108, como le-
gítima herdeira do trono de Leão e Castela, garantindo o direito de 
sucessão ao filho, o infante D. Afonso Raimundes. Tal medida feriu 
significativamente os termos do pacto sucessório, uma vez que, agora, 
cessava a obrigação de entregar a D. Henrique as terras de Galiza, o que 
acirrou ainda mais a rivalidade luso-espanhola. 
Em 1108, nascia o Infante Afonso Henriques, filho de D. Henrique e Dona 
Teresa, que foi agraciado cavaleiro em 1125, garantindo a centralização do poder 
Figura 5: D. Afonso Henrique, o 1º monarca de Portugal
Fonte: Wikimedia Commons.
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e contando com o apoio irrestrito da nobreza do Condado Portucalense. Após 
uma série de lutas, D. Afonso Henrique se autoproclamou Rei, em 1139, e esco-
lheu a cidade de Guimarães para ser a capital do Reino. Todavia, temos que 
compreender que, no contexto do mundo Medieval, o título de Rei era apenas 
uma dignidade pessoal, ou seja, tal título não assegurava a independência do 
reino e, além disso, deveria também ser reconhecido pelo Papa, algo que ocor-
reu apenas em 1179, próximo ao fim de seu reinado (MENEZES, 2010). Segundo 
Saraiva (1995, p. 49), “os diplomatas de Roma evitaram habilmente chamar-lhe 
rei. A concessão foi arrancada por um presente de mil moedas de ouro [...]”. 
Dentre os feitos realizados por D. Afonso Henrique no processo de organização 
do novo Reino, podemos destacar a luta travada contra cinco exércitos mouros na 
Batalha de Ourique. Mesmo 
contando com um número 
reduzido de cristãos em seu 
exército, D. Afonso Henrique 
conseguiu destruir a ameaça 
moura e assegurar os limites 
de seu território. Nessa bata-
lha, D. Afonso garantiu ter se 
defrontado com a presença 
de “Cristo Crucificado” 
que lhe mostrou a vitória 
e, ainda, entregou-lhe as 
“Quinas” (número de cha-
gas em seu corpo durante o 
Calvário) (AZEVEDO, 2008, 
p. 25). Prezado(a) aluno(a), 
essa visão de D. Afonso nos 
mostra como o sentimento 
religioso será um dos ele-
mentos fundamentais de 
formação do caráter do 
homem luso. 
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Sob o comando de D. 
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latinamente, o Reino foi 
expandindo seus limites 
territoriais e “desenhando” 
o que viria a ser Portugal 
efetivamente. Após uma 
estratégia bem elaborada, 
contando com uma aliança 
entre tropas portuguesas e 
cruzados que foram recru-
tados ao longo do caminho, 
o Rei conseguiu conquistar 
Lisboa e, sucessivamente, Almada, Sintra e Palmela (AZEVEDO, 2008). Porém os 
lusitanos teriam que resolver suas desavenças com os Reinos que, posteriormente, 
formariam a Espanha: Castela, Leão, Navarra e Aragão, que se organizariam como 
um Estado independente apenas no século XV (PESTANA, 2008). 
A luta contra os reinos que, mais tarde, formariam a Espanha, ficou conhe-
cida como Reconquista. Em linhas gerais, seria um conflito em benefício da 
independência de Portugal e que exigiu dos lusos um empenho e aperfeiçoa-
mento das técnicas marítimas para fazer frente aos espanhóis. Esse conflito durou 
vários anos, tendo Portugal saído como vitorioso, o que, mais uma vez, revela 
os motivos da rivalidade entre portugueses e espanhóis ao longo do século XV, 
durante as Grandes Navegações e, em seguida, no século XVI, com a união das 
duas Coroas: espanhola e portuguesa. 
Após a vitória sobre os Reinos, que iriam compor a Espanha, os lusos tiveram 
sua Independência reconhecida pelo Papa Alexandre III e, dessa forma, se autode-
nominaram portugueses no início do século XII, porém isso não significou que a 
paz entre os dois Reinos estava oficialmente selada. Mesmo o acordo firmado em 
1297, que determinava as fronteiras entre Portugal e Castela, não representou o fim 
de conflitos entre lusos e espanhóis. Os cronistas portugueses da época declaravam 
que D. Afonso Henrique havia realizado grandes feitos que possibilitariam a expan-
são das fronteiras do reino de forma significativa, algo que observamos também no 
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reinado de D. Sancho I, em 1185, de D. Afonso II (1211-1223), D. Sancho II (1223-
1248), que deram continuidade à guerra de Reconquista frente Castela e Aragão. 
Tanto as lutas que marcaram a Reconquista como as batalhas contra os invasores 
mouros da Península despertaram nos monarcas lusitanos uma possibilidade real 
de dar continuidade à guerra contra os árabes (PESTANA, 2006). 
Nesse contexto, compreendemos a formação da nacionalidade dos portu-
gueses por meio de uma herança cultural herdada por fenícios, gregos, celtas, 
romanos durante a Antiguidade. Sendo um território que permite a ligação 
entre a África e a Europa, recebeu uma gama de invasores, como os germâni-
cos, bárbaros e os mouros. Pestana (2008, p. 34) destaca que “na Idade Média, os 
lusitanos adotaram a guerra como estilo de vida. Sua economia baseava-se, em 
grande medida, na pilhagem. Podemos dizer que, por essa época, já era um povo 
unificado pela língua e cultura, e organizado em torno do ódio aos inimigos”.
Já segundo as reflexões de Azevedo (2008), três culturas influenciaram de 
forma contraditória a formação do reino lusitano: a cristã, a judaica e a islâ-
mica. A cristã foi oficializada ainda nos tempos áureos do Império Romano do 
Ocidente, abraçando as camadas superiores e rurais da população. A islâmica, 
por meio dos “mudéjares” (mouros que foram submetidos ao domínio cristão) 
e “moçárabes” (cristãos que agiam como os árabes). E a judaica, mediante a pre-
sença do povo judeu na Península Ibérica desde o período romano e reforçada 
pela postura de D. Afonso Henrique, que atribuiu aos judeus cargos administra-
tivos de suma relevância do Reino (AZEVEDO, 2008. p. 27). 
Foi dessa forma que Portugal se organizou e despontou como o primeiro 
Estado europeu “independente”, composto por povos de diversas culturas dis-
tintas. Para Azevedo (2008), mencionando Mattoso em suas reflexões, “o Estado 
português, recém-fundado, caminha lentamente para a nação, isto é, os habitantes 
de seu território só a pouco e pouco vão adquirindo a consciência de pertence-rem a uma mesma e única comunidade humana, dotada de costumes, língua, 
tradição [...]” (AZEVEDO, 2008, p.28). 
Outro ponto relevante na formação do Estado lusitano está ligado à pos-
tura da nobreza. De acordo com os estudos realizados por Menezes (2010, p. 
17) “um aspecto importante do processo de independência de Portugal relacio-
na-se ao poder efetivo da nobreza nos territórios reconquistados e ao grau de 
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autonomia da população das vilas”. Todavia, depois da Reconquista, a nobreza 
não exercia um domínio efetivo em todas as localidades do Reino, sendo que 
nas terras onde a população estava mais dispersa e desprovida de senhor feudal 
nem se sentia o poder da nobreza (SARAIVA, 1995). 
DOS ASPECTOS ECONÔMICOS 
Após o longo período 
de guerras travadas pelo 
Reino, buscou-se organi-
zar o território e analisar as 
possibilidades econômicas. 
Em primeiro lugar, nota-se 
que, terminadas as batalhas, 
a população lusitana explo-
diu demograficamente e o 
recém-fundado reino não 
tinha condições de suprir 
esse contingente populacional. O principal problema estava relacionado à ali-
mentação, pois, mesmo antes de se tornar um Estado, já se vivia em um ambiente 
de escassez de gêneros alimentícios. Segundo Pestana (2006), mesmo possuindo 
uma vocação agrária, as terras portuguesas estavam divididas em duas regiões: 
no norte, fértil, porém superpovoado, enquanto no sul as terras não eram pro-
pícias à agricultura e o clima se assemelhava com o oceânico. 
Enquanto no norte o solo possibilitava o cultivo de cereais – cuja produ-
ção estava baseada no minifúndio, caricaturado pelo dito anedótico de 
que, quando um homem punha a vaca a pastar no seu prado, o excremen-
to do animal caía no campo do vizinho -; no sul o solo era, como ainda é 
hoje, extremamente granítico, viabilizando quase unicamente a produção 
de azeite de oliva e de cortiça. Além disso, de norte a sul, era prioritário 
o cultivo de vinhedos, fundamentais para a produção de vinho, o maior 
artigo de exportação portuguesa desde a ocupação romana, preferência 
que desabastecia o mercado interno, obrigando o condado a importar 
grandes quantidades de alimentos diversos (PESTANA, 2006, p. 22).
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No campo, a situação era alarmante e os moradores viviam em condição de 
absoluta miséria. Os camponeses eram “reféns” de seus senhores por meio 
da servidão e estavam submetidos a longas jornadas de trabalho, a maus-
-tratos e castigos físicos, caso não atendessem às ordens dos proprietários 
de terras. Era muito comum cada vilarejo do reino possuir um pelourinho 
(símbolo que será utilizado na colônia portuguesa para castigar os escravos 
negros), no qual os camponeses transgressores eram amarrados e chicotea-
dos pelos senhores. 
A carência de alimentos, as ameaças psicológicas e os castigos físicos impul-
sionaram a migração de trabalhadores dos campos para as cidades. Em busca de 
melhores condições de vida, o reino assistiu a um significativo êxodo rural que 
intensificaria o problema de abastecimento alimentício. Por outro lado, deixa-
ria a nobreza do campo em uma situação delicada pela ausência de braços para 
labutar nas pequenas áreas propícias para o cultivo. Em resposta a essa migra-
ção de camponeses, a nobreza tentou negociar com o monarca lusitano algumas 
medidas que visavam reprimir a fuga de camponeses.
Segundo Pestana (2008, p.36), o Rei português logo tratou de promulgar 
leis que impedissem a fuga dos camponeses. Em contrapartida, fingia não ver a 
presença de homens oriundos do campo que vagavam pelas ruas dos vilarejos 
e viviam em situação de miséria, muito semelhante àquela encontrada no meio 
rural, porém não estavam submetidos às humilhações e aos duros castigos físi-
cos impostos pelos seus senhores. Desse modo, caso não encontrassem trabalho, 
podiam se submeter à mendicância ou cometer pequenos delitos. 
A falta de alimentos no Reino não era um problema recente, tendo aconte-
cido ao longo da Guerra de Reconquista. Naquele momento, a solução encontrada 
foi saquear centros urbanos sob o domínio mouro. Entretanto, com as sucessivas 
vitórias cristãs e, consequentemente, com a expansão dos domínios fronteiriços, o 
recurso utilizado anteriormente não seria mais suficiente para abastecer as popu-
lações recém-conquistadas, as tropas lusitanas e os cruzados que se juntavam 
paulatinamente às tropas portuguesas. Desse modo, tendo um nítido problema 
de abastecimento, onde não havia solos suficientes propícios à agricultura e tendo 
que suprir as necessidades alimentícias de uma população que estava em um está-
gio de crescimento significativo, a forma encontrada pelos monarcas lusos nesse 
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momento foi as atividades relacionadas à pesca (PESTANA, 2006, p. 23). Saraiva 
(1995, p.72 apud MENEZES) cita:
Há indícios de que já no século XII existia comércio de exportação por 
via marítima, mas essas indicações são tênues demais para permiti-
rem a tese de uma imensa actividade nas regiões litorais, actividade 
que teria sido, segundo a mesma tese, um dos factores decisivos da in-
dependência portuguesa. Ao longo da costa era constante a presença 
de barcos de piratas mouros, e isso revela a existência de um tráfico 
marítimo; por causa dos piratas, que saqueavam as povoações ao seu 
alcance, os principais núcleos de população (exceptuando o caso de 
Lisboa) não ficavam perto do mar, mas para o interior, ao longo dos 
rios navegáveis. Uma notícia de 1194 fala do naufrágio de um navio 
português que se dirigia a Flandres e estava carregado de melaço, azeite 
e madeira. Também há menção de mercadores portugueses, pelos me-
ados do século XII, numa feira de Tessalonica, na Grécia, que era um 
importante centro do comércio com o Oriente. [...] Em 1211, o rei D. 
Afonso II fez uma lei em que isenta de pagamento de tributo o resga-
te, pelos proprietários, dos salvados dos naufrágios. O facto de ser ter 
legislado sobre o assunto indica que a navegação comercial ao logo da 
costa assumia alguma importância. 
Os homens que engrossavam a massa de trabalhadores sem ofício determinado comu-
mente eram direcionados para as atividades marítimas de Portugal. Essas atividades 
eram desenvolvidas na própria costa lusitana e, muitas vezes, esses homens ocupa-
vam as embarcações que transportavam especiarias italianas. Enquanto as mulheres 
tinham a opção de se render à prostituição nos portos do Reino, os filhos podiam 
ocupar os navios mercantes, ajudando nas pequenas tarefas e livrando seus pais de 
despesas relacionadas a sua alimentação. Era comum presenciar crianças com idade 
inferior aos 10 anos trabalhando nas embarcações portuguesas, pois a noção de infân-
cia como nós temos atualmente não se enquadrava aos padrões da época analisada. 
O trabalho infantil não era malvisto na sociedade portuguesa. Pelo 
contrário, as famílias contavam com ele para incrementar a economia 
doméstica. Utilizavam a mão de obra até dos rebentos mais novos, na 
expectativa de um melhor padrão de vida familiar. [...] Textos produzi-
dos, então, retratavam os menores como pequenos animais domésticos, 
ganhando um status diferenciado, de “gente”, apenas a partir dos 7 anos. 
Assim, para os portugueses, não havia problema algum na exploração 
da força de trabalho infantil. Pelo contrário, esta deveria ser aproveita-
da, em benefício da família. Mesmo porque metade dos nascidos vivos 
morriam antes de completar 7 anos (PESTANA, 2008, p. 39).
Figura 6: Feira no período medieval
Fonte: UFRGS (online).BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
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Além dos setores econômicos já mencionados, Menezes (2010) destaca a relevân-
cia de outros setores que estiveram presentes na formação do Estado português ao 
longo do século XII e XIII. Dentre as possibilidades de cultivo, o autor destaca a 
produção de trigo e cevada. Nas atividades domiciliares, observa-se a tecelagem 
do linho e da lã, resultando uma produção grosseira que ficou restrita apenas ao 
abastecimento interno. Ganhava destaque também a mineração, a metalurgia do 
ferro e a cerâmica que possuíam o mesmo destino que a tecelagem. Havia a pre-
sença de feiras, porém de forma esporádica, mas isso não significou uma frágil 
atividade comercial, mostrando-se mais ativa que o próprio artesanato e sendo 
exercida, sobretudo, por judeus. 
Quanto às atividades comerciais relacionadas às feiras, segundo aponta Pestana 
(2006), os mercadores lusos agiam como intermediários entre as grandes feiras 
orientais e as feiras localizadas na Europa, como a feira de Champanhe (uma das 
feiras mais conhecidas e importantes do cenário medieval europeu). A atuação dos 
mercadores, paulatinamente, fortaleceu a feira de Champanhe durante o século 
XIII, mas reforçou as dificuldades de locomoção por terra entre o Oriente e o 
Ocidente. Diante dessa difi-
culdade, houve a necessidade 
de abertura de novas rotas 
marítimas. Nesse sentido, 
os portugueses “passaram 
da posição de intermediários 
para distribuidores, o que 
não significa que não tenham 
continuado a existir, embora 
de forma secundária, atraves-
sadores portugueses lidando 
diretamente com produ-
tos importados do Oriente” 
(PESTANA, 2006, p. 24). 
O problema com o abastecimento dos gêneros de primeira necessidade foi um 
dos aspectos mais difíceis de ser solucionado pelos Reis de Portugal, que busca-
ram sanar essa deficiência nas expedições ultramarítimas. Como já destacamos, 
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o reino apresentava uma série de condições que impediam o abastecimento 
de alimentos para a população. Dentre esses problemas, podemos destacar: a 
ausência de solos férteis, a escassez de mão de obra nos campos e um imenso 
crescimento populacional. Assim, passaram a importar os gêneros básicos e a 
exportar produtos industrializados, como o vinho e o azeite que eram direcio-
nados ao comércio europeu. É nesse processo econômico que compreendemos 
o nascimento de uma marinhagem e das primeiras técnicas de navegação que 
serão responsáveis, posteriormente, pelas aventuras marítimas portuguesas na 
Costa africana e nas ilhas atlânticas ao longo do século XV.
OS SENHORES DOS MARES: A EXPANSÃO MARÍTIMA 
LUSITANA
 A ORGANIZAÇÃO DO 
IMPÉRIO PORTUGUÊS
Prezado(a) aluno(a), neste 
item, discorreremos acerca 
das primeiras expedições rea-
lizadas por Portugal além de 
sua orla marítima, ou seja, 
abordaremos as aventuras 
lusitanas além-mar nas ilhas 
do Atlântico, na costa afri-
cana e na carreira das Índias 
ao longo do século XV. Vale 
ressaltar que nosso objetivo 
será pontuar essas expedi-
ções, demonstrando suas motivações, como também destacar as condições que 
foram favoráveis e que contribuíram para o pioneirismo português nas incur-
sões ultramarítimas.
BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
Reprodução proibida. A
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IU N I D A D E32
No final do século XIV, os lusitanos vivenciaram um período que ficou mar-
cado por crises de origem financeira e política. Na esfera política, o problema 
recaía, sobretudo, na sucessão do trono português, pois, com o falecimento de 
D. Fernando (filho de D. Pedro I) em 1383, pela ordem natural de passagem da 
coroa real, caberia ao filho mais velho assumir o trono. Porém, não tendo a opção 
do primogênito assumir, ficaria na linha de sucessão sua filha Dona Beatriz. Mas 
sua herdeira havia se unido em matrimônio com o rei de Castela, D. João I, fruto 
de um acordo firmado entre as Coroas de Castela e de Portugal que colocaria fim 
aos conflitos luso-castelhanos que ocorreram entre 1369 a 1382.
Segundo Pestana (2006), o acordo matrimonial dos monarcas estabele-
cia regras de sucessão tanto do trono de Castela como o de Portugal. Perante o 
documento, ficava legal que Dona Beatriz assumisse o trono lusitano, porém em 
hipótese alguma a Coroa de Castela. Ainda, estabelecia que o filho mais velho 
dos monarcas sucederia seu pai, D. João I, rei de Castela, e não o trono dos por-
tugueses. Todo esse impasse repercutiu negativamente em todas as esferas da 
sociedade lusa, em que parte da nobreza e o restante da população não aceitavam a 
aclamação de Dona Beatriz 
por representar uma séria 
ameaça à independência de 
Portugal, tendo visto o sen-
timento de rivalidade que 
nutria os dois Reinos desde 
a guerra da Reconquista 
(PESTANA, 2006, p. 25).
Com esse dilema de 
ordem política, a única 
solução encontrada foi 
atribuir o trono à viúva de 
D. Fernando, D. Leonor 
Teles, que seria a regente 
do trono em nome de sua 
filha, D. Beatriz. Essa deci-
são da Coroa de Portugal 
Figura7: Dona Beatriz de Portugal
Fonte: Wikimedia Commons. 
Figura 8: D. Leonor Teles
Fonte: Wikimedia Commons.
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desagradou todos os estamentos da socie-
dade lusitana. A burguesia nascente, ainda 
envolvida em pequenos trâmites comerciais, 
sobretudo com os italianos no comércio 
das especiarias orientais (temática que tra-
taremos em breve), via na figura da futura 
Rainha uma sombra das amarras medie-
vais, principalmente no que concernia à 
taxação de impostos. Uma parte significa-
tiva da nobreza compreendia que a Coroa 
estaria ameaçada se D. Leonor Teles per-
manecesse no trono, pelas estreitas relações 
com Castela. Já os camponeses preferiam 
que D. João, (mestre da Ordem Militar de 
Avis) e filho bastardo de D. Pedro, assumisse 
o trono de Portugal (PESTANA, 2006). 
Segundo Menezes (2010), para proteger os interesses de D. Beatriz, as tropas 
de Castela foram convocadas para uma ofensiva contra Portugal, apoiados por 
um setor da nobreza lusa que via com bons olhos a união entre as duas Coroas. 
Nesse contexto, D. João, tendo o apoio do povo miúdo, deu um golpe e foi acla-
mado Rei dos portugueses, permanecendo no trono até 1433. Com o avanço das 
tropas castelhanas em Lisboa, o monarca se viu obrigado a fugir do Reino e pro-
curar auxílio na Inglaterra, onde firmou tratados de amizade que marcariam a 
trajetória das duas Coroas até o século XIX.
 Esse conflito ficou conhecido como Revolução de Avis (1383 – 1385) 
e finalizou a onda de batalhas que marcou a História dos dois Reinos. Por 
mais que os castelhanos possuíssem um forte apoio da cavalaria francesa, 
as tropas de Portugal sempre foram superiores ao longo desses conflitos, 
assegurando a independência lusitana. Essa Revolução é de suma relevân-
cia, pois, em linhas gerais, representa um rompimento significativo com a 
mentalidade medieval que permeava o mundo dos ibéricos. Assim, afirma 
Pestana (2006, p. 25-26): 
Figura 9: D. João I, fundador da Dinastia de Avis
Fonte: Wikimedia Commons.
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Os conflitos de interesses desencadearam a Revolução de Avis que, 
mais do que um simples levante político, serviu também para viabili-
zar a ruptura das relações comerciais com os resquícios medievais que 
atravancaram o comércio e a expansão ultramarina.Essas mudanças 
possibilitaram a Portugal ser um dos primeiros países europeus a en-
trar na Idade Moderna, pioneirismo que garantiu a primazia sobre a 
exploração marítima, conduzindo à abertura da Carreira da Índia, e 
pouco tempo depois da rota do Brasil. 
Terminado os conflitos entre castelhanos e 
portugueses, havia a necessidade de reorgani-
zação e centralização política de Portugal. D. 
João teria que buscar apoio na nobreza e, ao 
mesmo tempo, reprimir os setores que simpa-
tizaram com o avanço de Castela em Lisboa. 
Além da nobreza, outros setores da socie-
dade também receberam maior atenção, 
como os camponeses, que, mesmo antes de 
D. João assumir o trono, já manifestavam um 
apoio significante ao monarca. Para os cam-
poneses, o Rei, inicialmente, criou medidas 
de incentivo, mas agiu de forma que limitasse 
suas ações. A burguesia foi o estamento que 
mais obteve privilégios nesse processo, pois 
o incentivo às atividades comerciais seria a 
palavra de ordem do Estado português no 
século XV (PESTANA, 2006).
Resolvida definitivamente a questão da independência portuguesa 
frente a Castela, renovada a nobreza, diante da tradição marítima acu-
mulada, da geografia favorável e da necessidade de buscar o mar o que 
o solo não podia suprir, sob o governo de D. João I a cruzada contra os 
infiéis foi retomada como forma de direcionar a belicosidade da velha 
nobreza, afastando-a da tentação de remover do poder a dinastia de 
Avis. Ao mesmo tempo, foi aberto caminho aos mercadores que com-
punham a nova nobreza em formação. Os lusos voltaram seus olhos 
para o norte da África, dando início à expansão ultramarina. O próprio 
filho do rei, o infante D. Henrique, foi encarregado de organizar a em-
preitada em nome do Estado. E foi assim que abriu-se passagem para 
as especiarias chegarem diretamente à Europa (PESTANA, 2006, p.27). 
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Após a análise da situação política do Estado português no final do século XIV, 
passaremos ao estudo de alguns fatores que permearam as relações econômicas 
lusitanas e que nos auxiliarão na compreensão das expedições lusas além-mar 
empreendidas ao longo do século XV.
Primeiro, é importante lembrar que, no final do século XIV e boa parte 
do século XV, a Coroa de Portugal passava por um momento delicado. O 
Reino padecia de problemas financeiros graves, sobretudo resultante dos 
conflitos que marcaram a Revolução de Avis e que asseguraram a indepen-
dência dos portugueses. Além dos gastos gerados com guerras, como já 
destacamos, a Coroa enfrentava um problema em seu abastecimento ali-
mentício (solos férteis insuficientes, alinhado à escassez de trabalhadores no 
campo que migraram para as cidades em busca de melhores condições de 
vida). Entretanto, os centros urbanos não estavam preparados para receber 
essa gama de trabalhadores oriundos do campo e começaram a enfren-
tar problemas de ordem social: desemprego, marginalidade e mendicância, 
passaram a ser problemas presentes nas cidades do Reino. Alguns homens 
foram remanejados para as empreitadas além-mar, porém essa alternativa 
não era suficiente para resolver a incidência de trabalhadores nessas condi-
ções (PESTANA, 2006). 
A D. João tornava-se difícil resolver esse problema financeiro, já que um 
possível aumento de impostos seria inviável nesse momento, pois a Coroa des-
cobriu que não havia muito o que ser taxado pela ausência de camponeses e pela 
escassez de outros setores econômicos citadinos. Nesse âmbito, destaca Pestana 
(2006, p.29):
[...] os camponeses, que viam nas aventuras marítimas a possibilida-
de de livrarem-se do precário trabalho rural e da miséria, lançando-se 
em grandes epopeias marítimas. Justamente por este motivo, prevendo 
uma falta ainda mais grave de mão de obra e, consequentemente, de ali-
mentos, devido à fuga dos servos para os navios, os barões opunham-se 
à expansão ultramarina e, particularmente, à conquista e fixação em ci-
dades no norte da África. Por outro lado, a Coroa via nessa empreitada 
a única maneira de sanar as altas dívidas do reino [...].
O monarca de Portugal enfrentava várias dificuldades. Precisava sanar esses empe-
cilhos para remediar os problemas de ordem econômica. Havia a necessidade 
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de dialogar e convencer esses setores da nobreza da viabilidade das incursões 
marítimas do Reino, pois, sem esse apoio, as expedições além-mar não conse-
guiriam ser concretizadas. Apresentar os motivos de cunho econômico não era 
suficiente para convencer a nobreza a se aventurar na expansão ultramarina 
lusitana. Era preciso encontrar uma motivação que mexesse com o imaginário 
da nobreza que, paulatinamente, havia perdido seu caráter guerreiro e que via 
nessa característica o motivo de sua existência. Percebendo essa motivação, o 
Rei de Portugal tratou de justificar a expansão no âmbito da luta contra os infi-
éis da cristandade: os muçulmanos. 
A Coroa encontrou nessa disposição a solução para remediar mais de um 
empecilho ao mesmo tempo. Nesse sentido, o Reino conseguia resgatar o ide-
ário guerreiro dos nobres, dando sentido à sua existência enquanto estamento 
social. Tal característica havia sido perdida com a desestruturação do mundo 
medieval e com o fim dos conflitos entre os Reinos de Castela e Portugal. Dar 
sentido à sua existência e justificar seu ideário bélico foi a solução encontrada 
pelo monarca português, para conseguir apoio da nobreza nas descobertas 
marítimas, ou seja, “o Estado transformou o que era oposição intransigente 
em apoio incondicional, ao encobrir o caráter puramente comercial da emprei-
tada e vendê-la como uma epopeia dignificante em favor da propagação da fé 
cristã” (PESTANA, 2006, p. 29).
Prezado(a) aluno(a), além das questões de cunho econômico, e não menos 
importante, precisamos considerar que no imaginário lusitano foi propagado e 
perpetuado uma ideia de combate ao inimigo da fé cristã. Os portugueses real-
mente acreditavam que eles foram o povo escolhido por Deus para extinguir a 
ameaça dos infiéis e propagar a verdadeira fé, a dos cristãos da Igreja Católica. 
Esse ideário que permeará o cotidiano dos lusitanos vai justificar uma série de 
ações da Coroa portuguesa, como as descobertas além-mar, as políticas de colo-
nização, a escravização dos negros e a catequização dos indígenas na América 
portuguesa, assim como nas possessões lusas na África e na Ásia. Temáticas que 
serão tratadas ao longo deste livro. 
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O IMAGINÁRIO LUSITANO
Vimos no item anterior que a Coroa portuguesa criou, paulatinamente, con-
dições para se lançar nas aventuras além-mar ao longo do século XV. Portugal 
era um país unificado, com fronteiras definidas, sem conflitos externos nem 
internos. Dispunha do apoio de vários setores da sociedade e construiu um 
ideário, sobretudo junto à nobreza, que justificava suas ações nas empreitadas 
marítimas. Esse apoio era fundamental para o sucesso da indústria náutica em 
construção. Além disso, convivia com uma precariedade no abastecimento de 
alimentos para sua população. Tais restrições forçaram os lusitanos a explora-
rem sua orla marítima em busca de alimentos que suprissem as limitações que 
Portugal vivia. Posteriormente, o Reino criou condições favoráveis para a explo-
ração das ilhas do Atlântico, da costa africana, do caminho das Índias e, por 
último, da chegada à América. 
Antes de vencer os obstáculos que os mares escondiam além de suas majes-
tosas ondas, os portugueses precisavam enfrentaros medos que permeavam 
seu imaginário durante o século XV. Naquela época, era comum a recusa, por 
parte dos marinheiros, de ultrapassar além do Bojador (algo que só foi rea-
lizado em 1434 por Gil Eanes), não por acreditarem que a terra era plana e 
que poderiam cair num abismo, como muitos povos de outras localidades da 
Europa acreditavam, mas sim pelos registros de muitas embarcações que não 
retornaram dessa aventura.
De acordo com os estudos realizados por Pestana (2008), mesmo os homens 
mais experientes não aceitavam se aventurar além do Bojador. Esse medo também 
está ligado aos dizeres dos eclesiásticos que afirmavam que a aventura poderia 
resultar, além da perda de vidas por meio de naufrágios, no comprometimento da 
salvação das almas. Segundo alguns relatos do período, depois do cabo Bojador 
não havia nenhuma manifestação de vida humana, nenhum tipo de vegetação, 
como também nenhum rastro animal. A visão seria de um verdadeiro deserto e, 
mais do que isso, após vencer o cabo, a possibilidade de voltar para casa era nula. 
D.Henrique à frente do “Monumento aos
Descobrimentos” , como um navegador, 
segurando uma caravela.
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A violência das vagas e correntes na face norte do cabo, os baixos exis-
tentes ao seu redor, a frequência do nevoeiro e da neblina ao largo, a 
dificuldade de voltar para o norte por causa dos ventos predominan-
tes, tudo parecia confirmar as histórias sobre o “verde mar Tenebroso”, 
como os geógrafos árabes o chamavam, do qual, de acordo com a crença 
popular, não havia possibilidade de retorno. Doze ou quinze tentativas 
infrutíferas foram feitas (segundo se diz) no decorrer de outros tantos 
anos, antes que um dos navios do príncipe Henrique por fim contor-
nasse o cabo em 1434, quebrando, assim, não só a barreira física, mas 
ainda mais proibitiva barreira psicológica [...] (BOXER, 2002, p. 42). 
Segundo Antonio Sergio, dobrar o cabo se tornou uma preocupação frequente 
para o Rei de Portugal. Mais do que vencer um ponto importante para a explo-
ração além da costa da África Ocidental rumo ao sul, também significava vencer 
os medos que assolavam a mentalidade do navegador lusitano e os impediam 
de realizar grandes feitos. Nesse âmbito, somas significativas foram investidas 
pela Coroa, sem previsão de um retorno imediato, para vencer esse obstáculo e 
prosseguir nas descobertas além-mar (SÉRGIO, 1983).
Dentre as tentativas que foram empre-
endidas, em 1433, D. Henrique solicitou 
que preparassem uma caravela e destinou 
seu comando a Gil Eanes, seu escudeiro. 
O destino seria ultrapassar o tão tenebroso 
cabo, mas a derrota ocorreu como de cos-
tume. No ano seguinte, mais uma vez, D. 
Henrique organizou uma expedição rumo 
ao cabo Bojador, porém, dessa vez, Gil Eanes 
resolveu ser mais audacioso.
“decidiu-se enfim a abandonar 
a costa, a rumar a oeste, a se-
guir a margem do lençol de es-
puma. Para lá, recomeçavam as 
ondas do oceano Glauco; pela 
popa, bem longe, a terra perde-
ra-se no horizonte em bruma; 
e o piloto, vitorioso, rumou ao 
sul” (SERGIO, 1983, p. 45). 
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A viagem de Gil Eanes em 
1434 ficou marcada pelo 
seu grande feito na história 
das navegações portugue-
sas. Mais importante que 
vencer o obstáculo geográ-
fico imposto pelo cabo, era 
superar os medos que per-
meavam o imaginário do 
homem luso. Mesmo após o 
contorno do Cabo, o medo e 
a insegurança ainda estavam presentes nas aventuras marítimas. Segundo aponta 
Pestana (2008, p. 22), “nada eliminou o medo do desconhecido, expresso pelos 
relatos de avistamento de monstros e demônios marinhos”. 
O imaginário do navegador lusitano não ficou restrito apenas ao medo dos 
monstros e demônios marítimos, como ressaltado. A mentalidade do portu-
guês alimentou-se do estranhamento perante os primeiros contatos com outras 
civilizações não europeias, possíveis por meio das expedições marítimas. Esses 
contatos geraram embates culturais, interesses comerciais, estranhamento e 
desentendimentos que, muitas vezes, só foram solucionados por meio de con-
flitos sangrentos. Observamos essa postura dos lusos em possessões da Costa da 
África, na Ásia e na América no âmbito do projeto colonizador. 
O contato com outras civilizações não gerou estranhamento apenas por parte 
dos portugueses. Por meio de relatos, podemos destacar que muitos povos que 
“receberam” as expedições oriundas de Portugal tiveram um choque cultural, 
muitas vezes, até maior que os próprios lusitanos. Quando os lusos aportaram em 
Luanda, os nativos foram tomados por um misto de sensações que oscilavam entre 
o medo, estranheza e admiração. Nesse âmbito, afirma Pestana (2008, p. 22-23): 
[...] aterrorizados, tomaram os estranhos por cadáveres vivos, zumbis, 
pois, segundo sua cosmologia, os defuntos situavam-se nas águas e os 
espíritos dos antepassados encarnavam no outro mundo, em corpos 
brancos e vermelhos. Provindos do mar, os portugueses foram inse-
ridos no universo do sagrado, aos olhos dos africanos, passando a ser 
reverenciados como deuses na terra [...]. 
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O estranhamento que a chegada dos portugueses despertou em outras civiliza-
ções, sobretudo na Costa da África, possibilita compreendermos a passividade 
inicial que muitos povos tiveram com a presença dos portugueses. Esse misto 
de medo e admiração mexeu com o psicológico dessas civilizações e possibili-
tou que os lusitanos tomassem proveito disso, tanto em aspectos econômicos 
como nos aspectos políticos. 
O contato com o desconhecido despertou também o desprezo com a cul-
tura do outro, principalmente na relação estabelecida com os povos africanos. 
O termo “etíope”, por exemplo, tão comum nos dias atuais, estava relacionado à 
cor da pele dos africanos - “face queimada”. Essa característica “passou a ser asso-
ciada à negritude do demônio”. Nesse sentido, os lusitanos estabeleceram uma 
postura de dominação e inferiorização sobre os povos africanos que justificaria, 
posteriormente, escravizá-los, pois, “reduziram sua ‘raça’ à expressão do mal” 
e esse mal precisava ser combatido de alguma forma (PESTANA, 2008, p.23).
Nesse aspecto, Holanda (2004) acrescenta, ainda, que o período explorató-
rio lusitano além-mar principalmente na Costa africana foi similar a uma grande 
empresa exorcista: “dos demônios e fantasmas que, através de milênios, tinham 
povoado aqueles mundos remotos, sua passagem irá deixar, se tanto, alguma vaga 
ou fugaz lembrança [...]” (2004, p. 11). Por essas considerações podemos refletir 
acerca da mentalidade do homem lusitano. O contato com o outro externalizou 
um sentimento de superioridade frente aos outros povos, tanto no âmbito cultural 
como no âmbito religioso. A dominação seria uma questão de tempo e de estra-
tégia, que seria muito bem traçada pelos portugueses na era dos descobrimentos. 
NAVEGAR EM NOME DE DEUS E DO ESTADO
Caríssimo(a) acadêmico(a), o presente momento histórico ficou marcado por 
uma série de mudanças que atingiram o mundo europeu, principalmente no 
que tange aos aspectos econômicos, políticos e culturais. Nesse âmbito, faremos 
uma breve análise da política empreendida pela Coroa lusitana na era dos des-
cobrimentos e nas suas relações firmadas com a Igreja Católica por volta de 1450 
que culminaram, posteriormente, na criação do “Padroado Régio”. A referida 
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instituição se baseava em acordos firmados entre a Coroa lusa e o papado, em 
que a esfera religiosa legitimava as ações do Reino em troca da expansão dos 
dogmas católicos nas terras até então “desconhecidas” ou mesmo nas localida-
des ocupadas pelos infiéis (muçulmanos). 
Antes de pontuarmos os principais feitos lusitanos na empresa além-mar, 
acreditamos ser importante trabalharmos brevemente o conceito de “descobri-
mento”. De acordo com o dicionário Houaiss, esse termo está relacionado a “o que 
faz descobertas; explorador de terras longínquas, pouco acessíveis; fazer conhe-
cer; processo de chegada”. Todavia, no âmbito do século XV, o ato de “descobrir” 
ou mesmo “descobrimento” estava ligado ao fato de um conhecimento prévio de 
algo e sua possível confirmação. Nesse sentido, podemos entender que os portu-
gueses já possuíam, no mínimo, uma mera noção da existência das localidades 
que descobriram antes mesmo de sua chegada nelas. 
O século XV ficou marcado pelas conquistas ultramarinas portuguesas que 
se iniciaram no reinado de D. João I (1385-1433), em 1415, com a conquista de 
Ceuta, que seria um ponto geográfico estratégico no controle da navegação na 
Costa da África, e se prolongaram no decorrer do século com menor ou maior 
intensidade. Nesse contexto, três anos depois, houve o povoamento no arquipé-
lago da Madeira e Deserta. Por volta de 1432, a descoberta dos Açores e, logo em 
seguida, em 1434, o contorno no cabo Bojador, “marcando nova etapa ao reco-
nhecimento da Costa da África” (HOLANDA, 1981, p.28).
Ceuta era uma cidade comercial marroquina situada no lado africano 
do estreito de Gilbratar, o ponto em que a África mais se aproxima da 
Europa e que serve como espécie de linha divisória entre o mar Medi-
terrâneo e o oceano Atlântico. [...] À nobreza interessava a conquista de 
Ceuta porque era uma boa oportunidade para exercitar seus dotes mili-
tares, obter despojos (o saque às cidades conquistadas era uma tradição 
militar na época) e alcançar ou reforçar posições na Corte. No âmbito 
político e religioso, a tomada de Ceuta tinha um valor simbólico. Afinal, 
era dali que Tarik havia partido com seus exércitos mouros no século 
VIII para conquistar a Península Ibérica. Conquistar Ceuta seria, pois, 
uma justa e legítima vingança contra o agressor mouro. Do ponto de 
vista econômico, Ceuta era, no início do século XV, um centro comer-
cial para onde afluíram mercadorias europeias, africanas e asiáticas. O 
Marrocos era também uma importante região produtora de cereais, cujo 
abastecimento sempre foi precário em Portugal (PEREIRA, 2010, p. 24). 
Figura 10: A conquista portuguesa de Ceuta representada em azulejos na estação 
de São Bento, Porto
Fonte: Wikimedia Commons.
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A conquista de Ceuta foi um 
importante avanço no que 
concerne à empresa marítima 
portuguesa, pois assegurava à 
Coroa todos os itens que ela 
precisava para avançar rumo 
às explorações além-mar, ou 
seja, representava benefícios 
geográficos, econômicos, 
políticos e, além destes aspectos, justificava o ideário cruzadiço da Coroa de Portugal. 
Nesse sentido, as navegações empreendidas na Costa da África foram o 
primeiro passo dos lusitanos na corrida dos “descobrimentos”. Segundo Boxer 
(2002), existiu uma harmonia de fatores de cunho econômico, religioso e polí-
tico, os quais nem sempre podem ser percebidos com a mesma intensidade. 
Desse modo, em linhas gerais, as viagens portuguesas foram movidas por qua-
tro razões principais: as cruzadas contra o inimigo muçulmano, a corrida pelo 
ouro da Guiné, a busca pelo lendário Preste João e, por último, a aquisição de 
especiarias orientais (BOXER, 2002, p. 34).
O primeiro ponto destacado pelo autor diz respeito à motivação de cunho reli-
gioso e econômico. Combater os infiéis representava legitimar as ações bélicas 
da nobreza, propagar a fé católica e assegurar sua soberania, como também 
A lenda do Preste João das Índias é muito antiga, pois Marco Polo já se refe-
ria a ela no seu diário de viagens. São vários e muito antigos os testemunhos 
de que existiria no Oriente um rei cristão nestoriano chamado João, cujo 
império estaria situado na Ásia, segundo uns, ou na África, segundo outros. 
Os reis cristãos que combatiam o Islamismo fizeram várias tentativas para 
contactar este importante aliado no Oriente, mas sem resultados.
Fonte: Infopedia (online).
Figura 11: Gravura ilustrando o Preste João
Fonte: Wikimedia Commons.
Os Senhores dos Mares: A Expansão Marítima Lusitana
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abria uma possibilidade econômica muito importante, por Ceuta ser um ponto 
estratégico no comércio com o Oriente. O segundo item assinalado pelo autor 
se justifica pela Coroa lusitana não possuir uma moeda de ouro nacional desde 
1383 e se colocava como um dos poucos reinos da Europa nessa condição que 
desfavorecia suas tramitações comerciais. Além desses fatores, não menos impor-
tante era a procura incansável pelo lendário Preste João. Segundo as lendas que 
se propagavam pela Europa, Preste João era um príncipe cristão de um pode-
roso reino “nas Índias”, mais precisamente 
na região da atual Etiópia. Os portugueses 
acreditavam que, após estabelecer um con-
tato com Preste João, ele seria um inestimável 
aliado na cruzada contra os infiéis muçulma-
nos, sejam eles de origem árabe, egípcia ou 
moura. O último fator que alimentava a moti-
vação lusa na empresa além-mar era a busca 
pelas especiarias orientais que só foi concreti-
zada no final do século XV, com a descoberta 
da rota para as “Índias”, onde os portugueses 
puderam comercializar diretamente com o 
Oriente, possibilitando-lhes altos rendimen-
tos (BOXER, 2002, p. 35-36).
Com a descoberta de Ceuta e, posteriormente, das ilhas atlânticas situadas 
a oeste da África, como as ilhas de Porto Santo, Deserta, Madeira e do arquipé-
lago dos Açores, a Coroa portuguesa precisava desenvolver mecanismos para 
colonizar esses novos territórios. As ilhas de Porto Santo e Açores, por serem 
desabitadas, ofereciam a possibilidade de serem povoadas pelos descobridores 
lusos. O clima era propício para a labuta na terra e o trigo foi uma das opções 
de plantio, visto que, no final do século, estas possessões já se colocavam como 
grandes exportadoras de trigo para Portugal. Na ilha da Madeira, colonizada por 
volta de 1433, optou-se também pelo trigo, mas foi com o plantio de cana-de-açú-
car que a Coroa lusitana obteve grandes lucros e, ao mesmo tempo, possibilitou 
uma experiência viável que também seria utilizada no nordeste brasileiro, visto 
a semelhança climática (PEREIRA, 2010, p. 28). 
BREVE HISTÓRIA DE PORTUGAL: DAS RAÍZES LUSAS À EXPANSÃO ULTRAMARÍTIMA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Assim, além das preocupações econômicas, políticas e administrativas ine-
rentes à colonização dos novos territórios portugueses, o monarca português 
manifestava preocupações no âmbito religioso. Nesse sentido, determinou a cons-
trução de igrejas em todas as terras recém-descobertas. Após serem construídas, 
ordenou que enviassem padres lusitanos que ficaram responsáveis por ouvir con-
fissões, dar a absolvição e transmitir os sacramentos da Igreja Católica, tanto para 
os habitantes das ilhas como para os marinheiros que ficavam hospedados por 
períodos esporádicos.
No que concerne à conversão dos nativos que ocupavam essas possessões 
ultramarinas, o encaminhamento realizado pelos padres se resumia simplesmente 
ao batismo. Não havia uma ação catequética organizada pelos religiosos, pois o 
que interessava naquele momento era a “cura pastoral dos cristãos viajantes ou 
dos cristãos colonizadores. Bastavam

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