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História do Brasil Colonial (UniFCV)

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Prévia do material em texto

Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professor Me. Herculanum Ghirello Pires 
EduFatecie
E D I T O R A
História do Brasil
Colonial
Reitor
Prof. Me. José Carlos Barbieri
Vice-Reitor
Prof. Dr. Hamilton Luiz Favaro
Pró-Reitora Acadêmica
Prof. Ma. Margareth Soares 
Galvão
Diretor de Operações 
Comerciais 
Prof. Me. José Plínio Vicentini
Diretor de Graduação
Prof. Me. Alexsandro Cordeiro 
Alves da Silva
Diretora de Pós-Graduação e 
Extensão
Prof. Ma. Marcela Bortoti Favero
Diretor de Regulamentação e 
Normas
Prof. Me. Lincoln Villas Boas 
Macena
Diretor Operações EAD
Prof. Me. Cleber José Semensate 
dos Santos
Web Designer
Thiago Azenha
Revisão Textual
Kauê Berto
Projeto Gráfico, Design 
e Diagramação
André Dudatt
CAMPUS SEDE 
Avenida Advogado Horácio 
Raccanello Filho, 5950
Novo Centro – Maringá – PR 
CEP: 87.020-035
SEDE ADMINISTRATIVA 
Avenida Advogado Horácio 
Raccanello Filho, 5410
CEP: 87.020-035
(44) 3028-4416
www.unifcv.edu.br/
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir do 
site ShutterStock
https://orcid.org/0000-0001-5409-4194
2021 by Editora EduFatecie 
Copyright do Texto © 2021 Os autores 
Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva 
dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido 
o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a 
possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
EQUIPE EXECUTIVA
Editora-Chefe 
Prof.ª Dra. Denise 
Kloeckner Sbardeloto
Editor-Adjunto 
Prof. Dr. Flávio Ricardo 
Guilherme
Assessoria Jurídica 
Prof.ª Dra. Letícia 
Baptista Rosa
Ficha Catalográfica 
Tatiane Viturino de 
Oliveira
Zineide Pereira dos 
Santos
Revisão Ortográ-
fica e Gramatical
Prof.ª Esp. Bruna 
Tavares Fernades
Secretária
Geovana Agostinho 
Daminelli
Setor Técnico 
Fernando dos Santos 
Barbosa
Projeto Gráfico, 
Design e 
Diagramação
André Dudatt
www.unifatecie.edu.br/
editora-edufatecie
edufatecie@fatecie.edu.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
S586h Silva, Saulo Henrique Justiniano 
 História moderna / Saulo Henrique Justiniano Silva, Herculanum Ghirello Pires, 
Willian Carlos Fassuci Larini. Paranavaí: 
 EduFatecie, 2021. 
 106 p. : il. Color. 
 ISBN 978-65-87911-11-3 
1. História Moderna – Século XVIII. 2. Iluminismo – Século
XVIII. 3. Revolução Francesa. I. Larini, Willian Carlos Fassuci. II. Faculdade de 
Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. III. Núcleo de Educação a 
Distância. IV. Título.
CDD : 23 ed. 909.08 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
F438h Fialho, Laís Azevedo 
 História do Brasil colonial / Laís Azevedo Fialho, Herculanum 
 Ghirello Pires. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 
 91 p. : il. Color. 
 ISBN 978-65-87911-42-7 
1. Brasil colonial. 2. História – Brasil. 3. Escravos – Brasil. I.
Pires, Herculanum Ghirello. II. Faculdade de Tecnologia e
Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. III. Núcleo de Educação
a Distância. IV. Título.
CDD : 23 ed. 909.08 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
AUTORES
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
●	 Mestra	em	História,	Cultura	e	Narrativas	(PPH-Universidade	Estadual	de	Maringá).
●	 Especialista	em	História	da	África	e	Cultura	Afro-brasileira	(DCS-Universidade		
	 Estadual	de	Maringá).
●	 Licenciada	em	História	(DHI-Universidade	Estadual	de	Maringá).
●	 Tutora	Educacional	no	Centro	Universitário	Cidade	Verde	(UniFCV).
●	 Professora	Conteudista	na	UniFatecie.
●	 Experiência	como	professora	de	História	da	Rede	básica	de	Educação	em	2016.
●	 Membro	do	Grupo	de	Pesquisa	História	das	crenças	e	ideias	religiosas	(HCIR/	
	 UEM/CNPQ).	
●	 Áreas	de	concentração:	História	das	Religiões	e	Religiosidades	com	ênfase		 	
	 nas	Práticas	Afro-brasileira;	História	Cultural,	Epistemologias	decoloniais.	
Endereço	para	acessar	o	CV:	http://lattes.cnpq.br/8724898233397030
 Professor Me. Herculanum Ghirello Pires
●	 Doutorando	em	História	pela	Universidade	Estadual	de	Maringá	(UEM/2022).
●	 Mestre	em	História	pela	Universidade	Estadual	de	Maringá	(UEM/2016).
●	 Graduado	em	História	pela	Universidade	Estadual	de	Maringá	(UEM/2013).
●	 Professor	QPM/SEED	no	Colégio	Ivone	Castanharo	(Campo	Mourão).
●	 Professor	Formador	pela	SEED-PR.
●	 Docente	da	Faculdade	Santa	Maria	da	Glória	(SMG).
●	 Autor	do	livro	Mulheres	e	Roupas:	a	Federação	Brasileira	pelo	Progresso	Femi	
	 nino	na	Belle	Époque	carioca	(1922	-	1936).
●	 Pesquisador	do	Laboratório	de	Estudos	em	História,	Moda	e	Cultura	(LaModa/	
	 UEM).
Endereço	para	acessar	o	CV:	http://lattes.cnpq.br/2654225579210202
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Saudações,	prezado(a)	estudante	da	disciplina	História	do	Brasil	Colonial!
Produzimos	este	material	com	dedicação	e	comprometimento,	a	fim	de	proporcio-
nar	para	você	uma	oportunidade	de	aprendizado	sobre	as	bases	históricas	que	viabilizaram	
o	desenvolvimento	do	nosso	país.
Este	material	foi	desenvolvido	para	mais	facilmente	introduzi-lo(a)	ao	horizonte	das	
discussões	históricas	pertinentes	à	formação	do	Brasil,	e	é,	portanto,	de	interesse	dos(as)	
praticantes	e	estudantes	das	mais	variadas	disciplinas	do	saber	científico	–	e,	em	especial,	
da	História	e	das	Humanidades.		
Iniciaremos	 nossa	 discussão	 com	 uma	 incursão	 teórica	 sobre	 a	 chegada	 dos	
portugueses	no	Brasil.	Abordaremos	diversos	conceitos,	definições	e	narrativas	para	com-
preender	nossa	temática.	Apresentaremos	estudos	que	refletem	sobre	a	Colonização	como	
um	processo	histórico	que	ceifou	muitas	vidas	–	sobretudo	indígenas	e	africanas.	Trata-se	
de	um	dos	capítulos	mais	violentos	de	nossa	história	nacional.	Contudo,	a	discussão	fez	
questão	de	se	orientar	tendo	esses	mesmos	agentes	históricos,	os	portugueses	que	colo-
nizaram	o	Brasil,	como	fio	condutor	de	um	processo	duradouro	que,	para	o	bem	ou	para	o	
mal,	não	se	daria,	tal	como	se	deu,	não	fosse	a	sua	astúcia,	perícia	e	persistência.	
Na	segunda	unidade	nos	dedicaremos	a	pensar	sobre	o	ouro	de	Minas,	a	produção	
de	 açúcar	 e	 as	 revoltas	 sociais,	 processos	 econômicos	 e	 sociais	 que	 estão	 ligados	 ao	
período	do	Brasil	Colonial	(1500	-	1822).		
Na	terceira	unidade,	compreenderemos	as	questões	que	envolveram	os	processos	
de	escravização	em	nosso	país:	tanto	dos	nativos,	indígenas,	quanto	dos	negros.	O	proce-
dimento,	as	justificativas	da	escravidão	e	as	instituições	que	deram	fomentação	para	esse	
mecanismo	de	trabalho	forçado.	Conceituando	os	diferentes	tipos	de	escravidão:	desde	a	
antiguidade	até	a	escravidão	moderna.
Por	fim,	veremos,	na	última	unidade,	sobre	a	chegada	da	Família	Real	e	a	Missão	
Francesa.	Discutiremos	sobre	como	esses	acontecimentos	deram	início	ao	processo	histó-
rico	que	chamamos	de	fim	do	Brasil	Colonial,	considerando	que	a	chegada	da	Família	Real	
representou	a	remoção	de	todo	aparato	político	da	metrópole	para	a	colônia.	
Esperamos	que	você	possa	se	interessar	pelas	discussões	aqui	iniciadas!
Bons Estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE	I	...................................................................................................... 3
A Chegada dos Portugueses no Brasil
UNIDADE	II	................................................................................................... 36
A Exploração das Terras Brasileiras
UNIDADE	III	.................................................................................................. 53
A Escravidão no Período da Colônia
UNIDADE	IV	.................................................................................................. 68
O Brasil Colônia e a Arte
3
Plano de Estudo:
●	 A	chegada	dos	portugueses	no	Brasil;	
●	 Do	encontro	à	colonização;
●	 Da	colônia	ao	reino	do	Brasil.
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Compreender	as	condições	históricas	que	viabilizaramo	processo	
de	colonização	portuguesa	dos	territórios	brasileiros;
●	 Entender	os	processos	históricos	relativos	ao	desenvolvimento	
da	colonização	portuguesa	nos	territórios	brasileiros;
●	 Conhecer	os	desafios	enfrentados	por	Portugal	no	processo	
de	colonização	dos	territórios	brasileiros.
UNIDADE I
A Chegada dos Portugueses no Brasil
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professor Me. Herculanum Ghirello Pires
4UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
INTRODUÇÃO
Saudações,	prezado(a)	estudante	da	disciplina	“História	do	Brasil	Colonial”.	É	com	
grande	satisfação	que	te	convido	a	participar	desse	incrível	processo	de	conhecimento	–	e	
de	reconhecimento	–	das	bases	históricas	que	viabilizaram	o	desenvolvimento	desse	nosso	
país.	Esse	material	foi	desenvolvido	para	mais	facilmente	introduzi-lo(a)	ao	horizonte	das	
discussões	históricas	pertinentes	à	formação	do	Brasil,	e	é,	portanto,	de	interesse	dos(as)	
praticantes	e	estudantes	das	mais	variadas	disciplinas	do	saber	científico	–	e	em	especial	
das	Ciências	Sociais	e	das	Humanidades.		
A	apresentação	que	você	tem	em	mãos,	busca	se	distanciar	de	leituras	menos	crí-
ticas	acerca	da	participação	dos	colonizadores	no	processo	de	ocupação	do	território	que	
hoje	conhecemos	como	Brasil	e	da	subjugação	dos	povos	que	ali	habitavam.	É	importante	
dizer	que	a	Colonização	foi	um	processo	histórico	que	ceifou	muitas	vidas	–	sobretudo	indí-
genas	e	africanas.	Trata-se	de	um	dos	capítulos	mais	violentos	de	nossa	história	nacional.	
Contudo,	a	apresentação	que	você	tem	em	mãos	fez	questão	de	se	orientar	tendo	estes	
mesmos	agentes	históricos,	os	portugueses	que	colonizaram	o	Brasil,	como	fio	condutor	de	
um	processo	duradouro	que,	para	o	bem	ou	para	o	mal,	não	se	daria,	tal	como	se	deu,	não	
fosse	a	sua	astúcia,	perícia	e	persistência.	
Neste	 instigante	passeio,	caminharemos	sobre	as	pegadas	de	um	dos	episódios	
mais	importantes	de	nossa	História,	examinando,	juntos,	alguns	dos	principais	desdobra-
mentos	das	ações	infligidas	pela	coroa	portuguesa	assim	como	alguns	de	seus	principais	
contratempos	no	processo	de	estabelecimento	de	uma	colônia	de	exploração	neste	paradi-
síaco	território.	E	conheceremos	um	pouco	melhor	os	nativos	desta	terra,	forçados	ao	exílio	
e	ao	trabalho,	e	relembraremos	os	residentes	africanos,	abduzidos	de	seu	continente	ma-
terno,	e	forçados	ao	trabalho.	Mas	buscando	ter	sempre	em	mente	que,	ao	nos	dispormos	
a	pensar	historicamente,	é	preciso	estar	atentos	para	entender	que	aquilo	que	acontece	no	
mundo,	de	um	modo	geral,	reflete	aquilo	que	acontece	no	Brasil,	de	um	modo	específico,	
e	vice	e	versa.		
	
Bons estudos!
5UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
1. A CHEGADA DOS PORTUGUESES NO BRASIL
A	História	do	Brasil,	país	de	proporções	continentais	localizado,	em	sua	maior	parte,	
ao	sul	do	hemisfério	global,	é	normalmente	contada	a	partir	dos	acontecimentos	de	1500	
d.C.,	ano	da	chegada	das	embarcações	portuguesas	no	litoral	baiano	e	de	sua	subsequen-
te	ocupação.	Entretanto,	tentar	compreender	o	processo	da	colonização	do	território	e	da	
população	brasileira	a	partir	da	chegada	dos	portugueses	às	praias	da	Bahia,	é,	de	um	
modo	geral,	também	perder	de	vista	as	condições	que	tornaram	possível	a	realização	des-
se	enorme	empreendimento,	assim	como	as	origens	históricas	de	certas	particularidades	
desse	nosso	processo	colonial	em	relação	aos	outros.
Por	 essa	 razão,	 e	 com	 a	 intenção	 de	 melhor	 compreendermos	 o	 advento,	 de-
senvolvimento	e	o	fim	da	colonização	no	Brasil,	 iremos	aqui	considerar	também	aqueles	
acontecimentos	históricos	que,	de	um	modo	geral,	permitiram	que	este	nosso	processo	de	
colonização	pudesse	se	desenvolver	do	modo	como	ele	ocorreu	–	e	pelas	mãos	destes	
agentes	históricos	que	o	empreenderam.	E	por	isso	iremos	considerar,	neste	primeiro	mo-
mento,	 também	algumas	particularidades	da	história	portuguesa	no	 intuito	de	podermos	
mais	facilmente	compreender	os	caminhos	da	colonização	que	nos	diz	respeito,	e	por	esse	
mesmo	motivo,	estarmos	mais	atentos(as)	aos	detalhes	dessa	incrível	jornada.	
E	isso	porque,	uma	vez	optado	por	conhecer	a	nossa	história	nos	valendo	da	ciência	
da	História,	as	causas	e	os	efeitos	dos	acontecimentos,	isto	é,	os	motivos	e	os	resultados	
dos	acontecimentos	históricos	não	poderão	ser	entendidos	em	 termos	absolutos	e	nem	
6UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
tampouco	como	concebidos	a	partir	do	nada.	Pois	ao	tomarmos	a	História	como	disciplina	
científica,	 buscamos	 também	entender	 que	 são	os	 “processos”	 da	 história	 e	 não	as	 “fi-
nalidades”	o	objeto	de	nossas	preocupações.	E	é	por	essa	razão	que	alguns	leitores(as)	
menos	 familiarizados	com	as	ciências	humanas,	exibem	dificuldades	de	compreender	a	
História	–	e	de	até	mesmo	valorizá-la.
Por	 esse	 motivo,	 querido	 leitor(a),	 é	 imprescindível	 estarmos	 atentos(as)	 aos	
“processos”	da	História	e	não	nos	distrairmos	mais	com	as	supostas	“finalidades”	ou	expli-
cações	afins	que	tentam	essencializar	a	História,	livrando-a	daquilo	que	a	faz,	de	fato,	uma	
ciência.	Assim,	no	capítulo	que	você	tem	nas	mãos,	discutiremos	esse	que	é	um	dos	mais	
importantes	temas	da	História	do	Brasil:	a	Colonização	de	nosso	território	e	de	nosso	povo	
pelas	mãos	dos	portugueses,	um	processo	histórico	que	lançou	as	bases	para	o	estabele-
cimento	de	nossa	identidade	nacional,	pavimentando	em	nosso	território	o	surgimento	de	
um	governo	republicano	próprio	e	a	fundação	de	um	país	aos	moldes	europeus.	
1.1 Portugal: bases históricas para um projeto colonizador.
Portugal	é	uma	pequena	nação	europeia	dentre	muitas	outras.	Sua	única	fronteira	
é	contornada	pela	Espanha,	que	é	vizinha	da	França	e	que,	por	sua	vez,	 tem	a	 ilha	da	
Inglaterra	(Reino	Unido)	ao	norte,	e	a	Bélgica,	Alemanha,	Suíça	e	a	Itália	à	leste.	Entre	a	
Bélgica	e	a	Alemanha,	em	um	território	não	muito	distante	da	França	e	Inglaterra,	encon-
tra-se	a	Holanda.	É,	portanto,	em	uma	relativamente	pequena	extensão	territorial	que	se	
encontra	situada	uma	densa	concentração	de	importantes	nações	europeias	cujas	histórias	
particulares	por	vezes	se	confundem	umas	com	as	outras.	E	isso	porque	o	desenvolvimen-
to	de	cada	uma	delas,	em	função	da	distribuição	dos	recursos	naturais	deste	continente	
em	particular,	não	se	deu	sem	conflitos	internos	e	externos	recorrentes,	conflitos	que	nos	
afetaram	sobremaneira	aqui	no	Brasil	no	curso	de	nossa	colonização.
Em	termos	geográficos,	Portugal	se	difere	dessas	outras	nações	por	 localizar-se	
na	esquina	desse	antigo	continente,	e,	em	função	disso,	por	estar	mais	próximo	das	franjas	
do	mar	Atlântico	do	que	essas	outras	nações,	e	por	isso	também	mais	próximo	da	América	
do	Sul	que	os	demais.	Não	por	acaso,	dada	essa	sua	proximidade	com	a	extremidade	do	
continente	europeu	–	um	continente	em	que,	alguns	séculos	antes	de	1500	d.C.,	muitos	
europeus	ainda	acreditavam	ser	a	extremidade	da	Terra	como	um	todo	–,	fez	de	Portugal	
uma	nação	notória	 por	 sua	 vanguarda	marítima	e	 por	 seu	 conhecimento	 da	 leitura	 dos	
astros,	através	da	astronomia.		
7UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
Mas	a	superioridade	náutica	de	Portugal	no	período	nos	séculos	XV	e	XVI,	que	lhe	
possibilitou	 inclusive	encontrar	a	Bahia	no	ano	de	1500	d.C.,	alimentou	muitos	exageros	
e	lendas.	Exemplo	disso	é	a	crença	que	pouco	a	pouco	se	estabeleceu	na	Europa	de	que	
haveria	na	região	de	Sagres,	extremo	sul	do	país,	“[...]	uma	escola	náutica	fundada	pelo	
Infante	D.	Henrique	[irmão	do	regente	D.	Pedro],	onde	se	agrupariam	os	mais	variados	sá-
bios,	de	várias	partes	da	Europa	[...]”	(GAMA,	2006),	uma	espécie	de	super	liga	de	mentes	
brilhantes	de	toda	a	Europa,	tanto	que	por	muito	tempo	foi	comum	se	afirmar	que	“[...]	os	
progressos	da	marinha	portuguesa	só	tinham	sido	possíveis	graças	à	escola	fundada	por	D.	
Henrique,	uma	vez	que	tinha	sido	na	escola	que	os	vários	instrumentos	náuticos,	utilizados	
nos	descobrimentos,	foram	fabricados	eaperfeiçoados	[...]”	(GAMA,	2006,	p.	1).	
FIGURA 1: NAUS PORTUGUESAS DE UM CAMINHO TORTUOSO (PORTUGUESE CARRACKS OF 
A ROCKY ROAD) – PTINIR, SÉQUITO DE JOACHIM – WIKIMEDIA COMMONS 
Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/40/Portuguese_Carracks_off_a_Rocky_Coast.jpg		
Mas,	na	realidade,	a	existência	dessa	e	outras	super	escolas	portuguesas	nunca	
foram	comprovadas,	e	importa	dizer	que	a	superioridade	marítima	de	Portugal	se	deve	a	
questões	bem	menos	românticas,	como,	por	exemplo,	às	motivações	econômicas	de	seu	
tempo	e	às	condições	históricas	de	sua	organização	e	desenvolvimento.	Em	primeiro	lugar,	
vale	a	pena	lembrar	que	a	participação	de	Portugal	no	comércio	europeu	cresceu	exponen-
cialmente	no	século	XV	em	função	do	enriquecimento	de	sua	burguesia.	Se	considerarmos	
que	a	Espanha	é	o	único	território	com	o	qual	Portugal	faz	fronteira	direta,	a	possibilidade	
de	estabelecer	novas	relações	de	comércio	–	e	de	mantê-las	–	por	vias	do	próprio	interior	
do	continente	não	era,	no	século	XV,	a	mais	viável	das	opções.	
https://en.wikipedia.org/wiki/pt:Joachim_Patinir
https://en.wikipedia.org/wiki/pt:Joachim_Patinir
8UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
Foi	esta	burguesia	recém	enriquecida	que,	ao	desejar	estabelecer	novos	laços	co-
merciais	e	expandir-se	mercantilmente,	inspirou	a	demanda	de	um	aprimoramento	marítimo	
ainda	 no	 século	 XV,	 desenvolvimento	 este	 que,	 décadas	 mais	 tarde,	 permitiria	 Portugal	
desenvolver	tecnologias	náuticas	próprias,	mais	leves	e	ágeis	para	a	locomoção	através	dos	
mares	no	intuito	de	estabelecer	relações	de	comércio	ao	redor	de	todo	o	mundo	conhecido.
Outro	fator	importante	que	precisamos	considerar	é	o	enriquecimento	dessa	classe	
burguesa	em	Portugal	não	se	deu	ao	acaso.	Esse	processo	é	fruto	de	uma	inédita	e	propícia	
estabilização	das	forças	políticas	que	concorriam	no	interior	território	de	Portugal	no	século	
XIV,	e	que	se	unificaram	no	período	posterior	à	chamada	Revolução	de	Avis	(1383-1385).	
Para	entendermos	o	que	essa	revolução	implicou	para	Portugal,	de	um	modo	direto,	e	para	
o	Brasil,	de	um	modo	indireto,	é	preciso	primeiro	considerarmos	que,	embora	possamos	
nos	referir	a	Portugal	como	uma	“nação”,	um	“território”	e,	eventualmente,	também	como	
“país”,	estes	 termos	não	querem	necessariamente	dizer	a	mesma	coisa,	pois	designam	
constituições	de	natureza	histórica,	frutos	de	processos	por	vezes	longos	e	violentos	tais	
como	o	que	estudaremos	aqui	à	respeito	da	“Colonização”	do	território	brasileiro.	
Em	meados	do	século	XIV,	por	exemplo,	a	quase	dois	séculos	do	“descobrimento”	
do	Brasil,	Portugal	ainda	não	era	sequer	um	reino	unificado.	Foi	por	meio	da	chamada	“Revo-
lução	de	Avis”,	um	dos	mais	importantes	episódios	da	história	de	Portugal,	que	a	monarquia	
portuguesa	conseguiu	finalmente	se	centralizar,	unificando	o	norte	e	o	sul	da	nação	e,	ao	
fazê-lo,	dando	origem	ao	que	sabemos	ser	hoje	o	primeiro	“Estado	Nacional”	da	história	da	
Europa.	Antes	deste	importante	episódio,	Portugal	se	encontrava	frequentemente	à	mercê	
do	reino	de	Castella,	seu	mais	forte	(e	único)	vizinho	–	situado	no	território	que	chamamos	
hoje	de	Espanha.	E	é	justamente	em	razão	da	influência	do	reino	de	Castela	sobre	Portugal	
que	acontece	a	chamada	“Revolução	de	Avis”,	em	um	período	de	enorme	crise	política.	
Trata-se	de	uma	complicação	pertinente	aos	acontecimentos	políticos	dessa	épo-
ca,	 referentes	a	 conturbada	sucessão	 real	 conduzida	pela	dinastia1	 afonsina,	 que	havia	
se	estabelecido	no	poder	desde	a	 independência	de	Portugal,	em	1139	d.C.,	quando	os	
portugueses	 conseguiram	 pôr	 fim	 à	 ocupação	Moura	 em	 seu	 território.	 Desse	modo,	 o	
período	compreendido	como	“Revolução	de	Avis”,	evento	que	se	desdobrou	após	a	morte	
de	D.	Fernando	I,	em	função	de	sua	esposa,	a	rainha	Leonor	Teles,	ao	tornar-se	regente	
de	Portugal	aproximar-se	demais	ao	reino	de	Castela,	e,	pela	lei,	deve	permanecer	como	
regente	até	que	sua	filha	de	11	anos	–	já	prometida	em	casamento	ao	rei	de	Castela	naquela	
altura	–	viesse	a	conceber	um	filho	homem	e	ele	fizesse	14	anos	de	idade.	
1	 	Uma	dinastia	diz	respeito	ao	período	histórico	em	que	os	descendentes	de	uma	mesma	linhagem	
ocupam	o	posto	de	realeza	em	um	determinado	reino.	
9UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
Temendo	a	influência	de	Castela	sobre	os	assuntos	de	Portugal,	tanto	por	parte	da	
rainha	Teles	quanto	por	parte	de	sua	filha,	D.	Beatriz,	em	função	da	já	presente	ameaça	de	
anexação	territorial,	dissidentes	portugueses	conspiraram	contra	a	família	real,	levando	o	
rei	de	Castela	a	ordenar	uma	invasão	de	tropas	em	território	português,	tomando	a	cidade	
de	 Lisboa,	mas	 não	 sem	 encontrar	 uma	 sólida	 e	 efetiva	 resistência	 portuguesa.	Nesse	
sentido,	a	ajuda	 francesa	 recebida	pela	parte	de	Castela	poderia	 ter	sido	o	 fator	crucial	
para	a	sua	vitória,	não	fosse	o	aporte	de	tropas	inglesas	auxiliando	as	tropas	portuguesas	
na	restituição	de	seu	território.	Além	disso,	as	estratégias	de	guerra	empreendidas	pelos	
militares	locais	que,	diferentemente	dos	invasores,	conheciam	bem	o	território	e	as	suas	
debilidades,	foram	um	fator	crucial	para	a	expulsão	dos	inimigos	estrangeiros.	Com	a	vitória	
de	Portugal,	e	com	o	abatimento	das	tropas	ocupantes	–	vítimas	de	doenças	e	derrotas	
militares	–,	o	mestre	da	região	de	Avis,	é	coroado	rei	de	Portugal,	e	dá-se	início	a	uma	nova	
dinastia,	a	dinastia	de	Avis.
Com	a	nação	unificada	 sob	a	 figura	 de	um	novo	 rei,	 chamado	de	D.	 João	 I	 de	
Portugal,	Portugal	supera	algumas	de	suas	debilidades	e	se	consolida	como	 “nação”,	e	
o	resultado	desse	processo	a	médio	e	longo	prazo	foi	a	possibilidade	de	desenvolver-se	
internamente	por	meio	da	atividade	política	e	mercantil,	garantindo	assim	à	classe	abastada	
urbana	que	se	voltava	ao	comércio	naquele	período,	os	chamados	“burgueses”,	uma	im-
portante	e	inédita	prosperidade.	Desse	modo,	tendo-se	constituído	“nação”	em	resposta	ao	
ataque	perpetuado	por	seu	único	vizinho,	Portugal	se	vê	inspirado	a	consolidar	a	estratégia	
de	desenvolver	novas	rotas	de	comércio	marítimos	e	a	atualizar	aquelas	que	já	existiam,	
despontando-se,	ao	passar	dos	anos,	como	verdadeiro	exemplo	de	domínio	e	de	desen-
volvimento	de	técnicas	náuticas	–	aprendidas	a	muitos	séculos	com	os	genoveses	italianos	
mas	nunca	desenvolvidas	tão	efetivamente	quanto	nesse	período.
Por	isso	é	importante	destacar	que	grande	parte	desse	desenvolvimento	comercial	
e	político	de	Portugal	se	deu	também	quanto	aos	tipos	de	embarcações	utilizadas	por	eles	
nesse	período,	em	suas	tantas	jornadas	pelos	mares.	A	mais	conhecida	delas	–	e,	argumen-
tavelmente,	também	a	de	maior	importância	para	o	“descobrimento”	do	Brasil	–	é	a	chamada	
“Caravela”,	um	modelo	aprimorado	de	uma	já	existente	embarcação,	de	velas	arredondadas,	
mais	consistente	e	capaz	de	avançar	em	situações	adversas.	A	seu	respeito	destaca-se	o	fato	
de	ela	não	ser	um	veículo	de	reconhecimento,	como	muita	gente	imaginava:	
A	 dimensão	 e	 forma	 do	 casco	 tornavam	 esta	 caravela	 incapaz	 como	 car-
gueiro	para	viagens	de	 longa	distância.	Em	contrapartida,	o	aparelho	e	as	
qualidades	marinheiras	adequavam-se	a	missões	navais.	Tanto	nos	quadros	
navais	referidos	como	nas	viagens	para	o	Oriente,	como	elemento	principal	
de	combate	ou	no	apoio	aos	navios	de	maior	porte,	a	caravela	redonda	ou	
de	armada	foi	verdadeiramente	o	primeiro	navio	criado	para	a	guerra	do	alto	
mar,	 muito	 provavelmente	 logo	 desde	 a	 viagem	 de	 1500	 (DOMINGUES,	
2003,	p.	70-81).
10UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
Foi	com	uma	frota	de	embarcações	do	tipo	“Caravela”	que	os	portugueses	chega-
ram	à	costa	do	Brasil	em	1500	d.C.,	e	é	também	em	função	de	chegarem	através	de	barcos	
como	este	que	podemos	inferir,	de	forma	mais	segura,	aspectos	de	suas	intenções	ao	se	
dirigirem	rumo	ao	“desconhecido”	na	virada	do	século	em	busca	de	uma	nova	rota	para	
as	Índias.	E	se	você	já	ouviu	falar	das	“Caravelas”de	Colombo,	esses	barcos	mais	ágeis	
trazidos	pelos	portugueses	à	costa	da	Bahia	em	1500	d.C.,	há	de	se	lembrar	que	elas	não	
foram	as	únicas	embarcações	que	eles	trouxeram.	
Em	 realidade,	 sua	 frota	 era	 “[...]	 formada	 por	 nove	 naus,	 três	 caravelas	 e	 uma	
naveta	de	mantimentos	 [...]”	 (BERNARDO,	2020),	e,	como	as	próprias	 “Caravelas”,	 “[...]	
a	 [chamada]	nau	 [...]	era	 [...]	um	transporte	armado	em	guerra	 [...]”	 [MARTINS,	1988,	p.	
98)	e	podem	ser	melhor	descritas	se	pensarmos	que	“[...]	enquanto	as	caravelas	mediam	
22	metros	de	comprimento	e	transportavam	até	80	homens,	as	naus	podiam	chegar	a	35	
metros	e	tinham	capacidade	para	150	tripulantes.”	(BERNARDO,	2020).	Uma	combinação	
de	veículos	tão	efetiva	no	manejo	das	águas	quanto	era	efetiva	nas	estratégias	de	guerra.
Em	preparação	a	nossa	abordagem	definitiva	acerca	do	desembarque	dos	portu-
gues	na	Bahia	no	ano	de	1500	d.C.,	nos	resta	ainda	lembrar	que	tanto	o	reino	de	Portugal	
quanto	o	reino	de	Castela	(Portugal	e	Espanha)	se	instituem	como	reinados	em	resposta	
às	 invasões	 de	 povos	 islâmicos	 vindos	 do	 norte	 da	 áfrica,	 chamados	 pelos	 cristãos	 de	
“mouros”.	Estes,	 suplantando	o	 regime	 romano	 local,	 nos	 tempos	em	que	o	 Império	de	
Roma	estava	se	desgastando,	permaneceram	na	região	conhecida	como	península	ibérica	
(a	região	de	Portugal	e	de	Espanha)	por	séculos	a	fio.	
Essa	ocupação	“[...]	trouxe	à	região	grandes	avanços	nas	ciências,	artes	e	humani-
dades	[...]”	(ANDRADE,	2019,	p.	1),	também	inspirou	uma	lenta,	mas	efetiva,	organização	
local,	coordenada	por	monarcas	cristãos	que	se	voltaram	contra	a	ocupação	desses	povos,	
tanto	em	Portugal	quanto	em	Castela,	em	busca	de	soberania	e	retomada	de	seus	terri-
tórios.	De	fato,	o	último	esforço	nesse	sentido	talvez	tenha	sido	aquele	empreendido	em	
1492,	quando	o	último	 líder	mulçumano,	Boabdil,	 é	derrotado	em	Granada	 (ANDRADE,	
2019),	no	sul	da	atual	Espanha,	anos	depois	da	 “revolução	de	Avis”	em	Portugal,	pelos	
católicos	espanhóis.	Embora	inimigos,	Portugal	e	Castela,	se	desenvolveram	de	modos	até	
semelhantes,	 tendo	também	os	mouros	como	obstáculo	para	o	estabelecimento	de	uma	
nação	autônoma	e	católica	por	vários	séculos.	
Assim,	ainda	que	por	vias	distintas,	a	Espanha,	tal	como	Portugal,	se	aproximou	
das	águas	de	 tal	maneira	que	vieram	a	 realizar	grandes	 feitos	marítimos	nesse	mesmo	
período.	Dentre	estes,	o	maior:	a	chegada	da	 frota	espanhola	às	Bahamas,	conduzidas	
11UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
pelo	genovês	Cristóvão	Colombo,	nesse	mesmo	ano	de	1492.	Fato	que	nos	ajuda	a	ilustrar	
a	 seguinte	 verdade:	a	de	que	a	busca	pelo	descobrimento	de	novas	 rotas	de	comércio	
e,	eventualmente,	 também	de	novos	 territórios,	era	um	desejo	compartilhado	por	muitas	
nações	europeias,	um	desejo	que	refletia	o	horizonte	das	condições	práticas	deste	tempo	
em	particular.
E	o	sucesso	experimentado	por	Portugal	nesse	período	desempenha,	de	um	modo	
particular,	 um	 papel	 importante	 na	 renovação	 (e	 na	 ampliação)	 do	 interesse	 de	 grande	
parte	das	nações	europeias	quanto	ao	tema	das	navegações.	Em	1500	d.C.,	por	exemplo,	
e	pelas	razões	citadas	anteriormente,	quando	Portugal	chegou	ao	Brasil,	ele	 já	havia	se	
destacado	das	demais	nações	europeias	por	haver	descoberto	e	ocupado	portos	importan-
tes	ao	longo	da	costa	oeste	do	continente	africano	–	localizado,	se	imaginarmos	uma	linha	
reta,	diretamente	ao	sul	da	península	ibérica.	O	primeiro	grande	marco	nesse	sentido	é	a	
ocupação	que	seguiu	a	vitória	militar	portuguesa	na	cidade	de	Ceuta,	no	norte	da	África	
(hoje	em	dia,	subordinada	à	Espanha),	no	ano	de	1415.		
Em	1460,	Portugal	descobre	o	arquipélago	de	Cabo	Verde	e	imediatamente	em-
preende	a	sua	ocupação	e	subsequente	povoamento.	Uma	prática	que	repetirá	nos	anos	
seguintes	em	outros	pontos	estratégicos	da	costa	oeste	do	continente	africano	–	tais	como	
São	Tomé	e	Príncipe	e	Cabo	Verde	–,	até,	eventualmente,	viabilizar	novas	 rotas	para	a	
colonização	da	costa	oriental	africana,	mais	ou	menos	no	mesmo	momento	em	que	chega	
com	as	“Caravelas”	e	as	“Naus”	à	costa	baiana	à	dar	sequência	ao	trabalho	de	colonização	
já	 iniciado	 na	África.	 É	 na	África	 também	que	 os	 colonizadores	 portugueses	 passam	 a	
lucrar	 também	na	construção	de	mercado	de	escravos,	na	sistematização	da	prática	de	
escravidão	que	será,	anos	mais	tarde,	maximizada	em	território	brasileiro.
1.1.1 Recapitulando esta sessão:
Até	 aqui,	 1.	 vimos	 que	 Portugal	 se	 encontra	 na	 extremidade	 oeste	 da	 Europa,	
metaforicamente	na	“esquina”	do	velho	continente.	2.	vimos	que	Portugal	 foi,	por	muitos	
séculos,	governado	e	ensinado	pelos	mouros	mulçumanos.	3.	Vimos	que	Portugal	expulsou	
os	Mouros	de	seu	território	e	estabeleceu	ali	um	reinado	católico,	em	um	primeiro	momento,	
ainda	não	unificado.	4.	Vimos	que	o	 reino	de	Portugal	 só	pôde,	de	 fato,	 se	unificar	em	
função	da	“Revolução	de	Avis”,	que	se	desdobra	em	meio	a	crise	de	sucessão	da	dinastia	
afonsina.	5.	Vimos	que	essa	unificação	portuguesa	representou	a	 instituição	da	primeira	
“nação	 unificada”	 europeia.	 6.	 vimos	 que	 essa	 unificação	 promoveu	 uma	 prosperidade	
importante	para	a	classe	burguesa	(mercantil)	portuguesa	da	época.	7.	Vimos	que	a	pros-
12UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
peridade	da	classe	mercantil	portuguesa	inspirou	e	patrocinou	também	os	investimentos	no	
desenvolvimento	de	novas	rotas	de	comércio	e	de	novas	tecnologias	marítimas	(já	que,	por	
terra,	eram	restringidos	por	Castela	e	por	sua	aliada	a	França).	8.	Vimos	que	essa	busca	
por	novos	mercados	atualiza	também	o	caráter	bélico	das	embarcações	portuguesas,	cada	
vez	mais	lançadas	em	rotas	desconhecidas	em	busca	de	novos	mercados.	9.	Vimos	que,	
em	função	dessa	orientação	marítima	e	comercial,	os	Portugueses	chegaram	primeiro	à	
pontos	estratégicos	da	 costa	ocidental	 da	África	–	e,	mais	 tarde,	 também	aos	da	 costa	
oriental	–,	e	empreenderam	interpostos	e	comércios,	dentre	as	quais	os	que	se	voltaram	
para	a	escravidão	dos	povos	nativos.	
13UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
2. DO ENCONTRO À COLONIZAÇÃO
Neste	dia,	a	horas	de	véspera,	houvemos	vista	de	terra!	Primeiramente	d’um	
grande	monte,	mui	alto	e	redondo;	e	d’outras	serras	mais	baixas	ao	sul	dele;	
e	de	 terra	 chã,	 com	grandes	arvoredos:	 ao	qual	monte	alto	 o	 capitão	pôs	
nome	o	Monte	Pascoal	e	à	terra	a	Terra	da	Vera	Cruz.	(CAMINHA,	1500,	p.	2)
A	chegada	dos	portugueses	ao	Brasil	em	1500	d.C.	propiciou	à	colonizadores	e	
colonizados	uma	surpresa,	pois	nem	os	indígenas	brasileiros	haviam	visto,	até	então,	seres	
humanos	tais	como	os	portugueses	e	nem	tampouco	os	portugueses	haviam	visto	seres	
humanos	 tais	 como	os	 indígenas	brasileiros.	E	por	 isso	é	 importante	dizer	 que	embora	
os	portugueses	 tenham	saído	vitoriosos	e	que	seu	projeto	colonizante	 tenha	sido	posto	
em	prática	a	despeito	da	resistência	 indigena,	a	complexidade	das	organizações	sociais	
nativas	não	pode	ser	aqui	minimizada.
	
2.1 Os nativos brasileiros
Capistrano	de	Abreu	(2009)	fala	de	guerras	ininterruptas	entre	as	diferentes	tribos	
desse	território	ao	qual	chamamos	Brasil,	desde	antes	da	ocupação	dos	portugueses.	E	
fala	também	sobre	suas	práticas	ritualísticas,	tal	como	a	antropofagia	–	tipo	muito	especí-
fico	de	canibalismo	–	da	qual	muitas	tribos	nativas	eram	adeptas	naquele	período.	Sobre	
sua	organização	social,	sabe-se	que	“[...]	viviam	em	pequenas	comunidades	 [...]	 [e	que]	
andavam	em	contínuas	mudanças	[...]”	(ABREU,	2009,	p.	6).	Cultivavam	suas	formas	de	
espiritualidade	 e	 as	 estimavam	mais	 que	 as	 preocupações	 cotidianas,	 tanto	 que	 “[...]	 o	
chefe	[de	cada	tribo]	apenas	possuía	autoridade	nominal	[...]”	(ABREU,	2009,	p.	6),	uma	
14UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
vez	que	era	o	poder	espiritual	e	não	o	secular	a	sua	legítima	autoridade.	“Acreditavam	em	
seres	luminosos,	bons	e	inertes,	que	não	exigiam	culto,	e	[em]poderes	tenebrosos,	maus,	
vingativos,	que	cumpria	propiciar	para	apartar	sua	cólera	e	angariar-lhes	o	favor	contra	os	
perigos	[...]”	(Idem,	p.	10).	E	acreditavam	também	que	os	ancestrais	familiares	já	falecidos	
influenciavam,	protegiam	e	até	avançavam	os	assuntos	dos	viventes.
Além	dessa	relação	com	o	sagrado,	os	povos	indígenas	desse	território,	por	habita-
rem	as	matas,	e	por	levarem	uma	vida	mais	próxima	das	árvores,	rios	e	fauna,	“[...]	tinham	
os	sentidos	mais	apurados,	e	 intensidade	de	observação	da	natureza	 inconcebível	para	
o	homem	civilizado	[...]”	(Idem).	Possuíam,	portanto,	uma	relação	muito	particular	com	a	
natureza,	isto	é,	com	a	ancestralidade,	a	linguagem,	a	terra,	a	flora	e	os	bichos,	e	“[...]	não	
lhes	faltava	talento	artístico,	revelado	em	produtos	cerâmicos,	trançados,	pinturas	de	cuia,	
máscaras,	adornos,	danças	e	músicas	[...]”	(Idem),	cultivando	uma	relação	celebrativa	para	
com	a	vida,	e	vivendo,	de	um	modo	geral,	de	modos	muito	diferentes	daqueles	experimen-
tados	pelos	ocupantes	portugueses.	
FIGURA 2 – RETRATO DE UMA FAMÍLIA CAMACÃ – 
DEBRET, JEAN-BAPTISTE – WIKIMEDIA COMMONS 
Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Famille_d%E2%80%99un_Chef_Camacan_se_pr%C3%A9parant_pour_une_F%C3%AAte.jpg
Contudo,	considerar	que	os	indígenas	viviam	de	modos	bastante	diferentes	daque-
les	que	lhes	colonizaram,	não	basta	para	entender	um	pouco	mais	sobre	as	dificuldades	
experimentadas	tanto	pelos	portugueses	nesse	primeiro	momento,	quanto	pelos	indígenas	
na	duração	do	processo	de	colonização,	uma	vez	que	é	preciso	considerar	também	que	
eles	próprios,	na	condição	de	primeiros	habitantes	deste	 imenso	 território,	eram,	de	um	
modo	 geral,	muito	 diferentes	 entre	 si.	 Viviam	 em	meio	 a	 uma	 sociedade,	maior,	 plural,	
muito	diferente	de	tudo	o	que	existia,	em	termos	de	sociedade,	na	Europa	de	1500	d.C.,	e	
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Famille_d%E2%80%99un_Chef_Camacan_se_pr%C3%A9parant_pour_une_F%C3%AAte.jpg
15UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
constituíam,	em	seu	conjunto,	uma	imensamente	rica	e	culturalmente	abastada	sociedade,	
sustentada	por	saberes	que	eram,	muitos	deles,	desconhecidos	aos	europeus	desse	período.	
Como	se	pode	supor,	o	 tema	da	comunicação	entre	os	 invasores	portugueses	e	
nativos	foi	um	desafio	à	parte.	Haviam	centenas	de	idiomas	distintos.	Nem	todos	os	povos	
nativos	mantinham	relações	com	os	demais,	e	aprender	um	desses	idiomas	não	assegura-
va	a	compreensão	e	o	acesso	do	falante	portugues	ao	arcabouço	linguístico	das	demais.	
Entretanto,	essa	tarefa	parece	ter	se	facilitado	muito	através	da	descoberta	de	que	haviam	
características	 similares	 entre	 a	 experiência	 linguística	 de	 alguns	 desses	 povos	 nativos	
e	o	conhecimento	linguístico	europeu,	tal	como	nos	esclarece	Abreu,	ao	dizer	que	“[...]	a	
abundância	e	flexibilidade	dos	supinos2	[de	alguns	idiomas	nativos]	facilitaram	a	tradução	
de	certas	ideias	europeias	[...]”	(Idem)	aos	povos	desta	região.	É	essa	percepção	que	leva	
os	portugueses	a	compreender	que	muitos	desses	povos	“[...]	 falavam	 línguas	diversas,	
quanto	ao	léxico,	mas	[obedeciam]	ao	mesmo	tipo:	nome	[+]	substantivo	[e]	tinha	passado	
e	futuro	com	o	verbo	[...]”	(Idem).			
Ao	descobrirem	a	diversidade	 linguística	desses	povos	nativos,	os	portugueses,	
pouco	a	pouco,	 vislumbraram	 também	a	complexidade	de	 sua	cultura	e	os	desafios	de	
sua	submissão.	Tanto	que	historiadores	atestam	a	“[...]	existência	de	cerca	de	1400	povos	
indígenas	no	território	que	correspondia	ao	Brasil	do	descobrimento.	[...]	Povos	de	grandes	
famílias	 lingüísticas	 [...]	 com	diversidade	geográfica	e	 de	 [complexa]	 organização	 social	
[...]”	(OLIVEIRA;	FREIRE,	2006,	p.	21)	somando,	números	absolutos,	cerca	de	dois	mil	e	
quatrocentos	milhões	de	indígenas	espalhados	pelos	quatro	cantos	do	território	no	instante	
do	desembarque	português	nos	portos	baianos	no	ano	de	1500	d.C.	
É	curioso	pensar	que	essa	chegada	–	tímida,	primeiro,	e	cada	vez	mais	alarmante,	
depois	–	veio,	pouco	a	pouco,	a	desarticular	as	estruturas,	os	modos	de	vida,	os	ecos-
sistemas,	etc.,	preservados	por	estas	comunidades	nativas	ao	longo	dos	séculos	de	sua	
ocupação,	 seja	 em	 função	 direta	 das	 guerras	 empreendidas	 pelos	 invasores	 europeus,	
ou	em	função	da	escravização	por	eles	imposta	aos	nativos	ou	mesmo	pelo	impacto	das	
doenças	europeias	trazidas	nas	embarcações	(OLIVEIRA;	FREIRE,	2006).	Nesse	sentido,	
muitas	foram	as	estratégias	adotadas	pelos	povos	originários	no	período	posterior	à	chega-
da	dos	portugueses	para	resistir	o	avanço	de	sua	empresa	colonizadora,	“[...]	entre	as	quais	
a	promoção	de	grandes	deslocamentos	para	escapar	à	escravidão	e	às	conseqüências	das	
moléstias	trazidas	pelos	europeus	[...]”	(OLIVEIRA;	FREIRE,	2006,	p.	24).	
2	 	Na	gramática	formal,	os	supinos	indicam	uma	forma	verbo-nominal	usada	em	alguns	idiomas.	
16UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
2.2 Distintas formas de se conceber o ser indígnea: embates de identidade. 
Evidentemente,	essa	pluralidade	linguística,	cultural	e	genética,	não	foi	prontamen-
te	compreendida	pelos	portugueses	e	nem	tampouco	recebida	com	a	melhor	das	intenções.	
Se	 nos	 voltamos	 para	 um	 documento	 importante	 desse	 primeiro	 encontro,	 a	 “Carta	 de	
Pero	Vaz	de	Caminha”,	escrita	em	solo	brasileiro	no	ano	de	1500	d.C.,	vemos	que	ela	nos	
relata	aspectos	peculiares	acerca	da	percepção	dos	invasores	portugueses	em	relação	à	
recepção	desses	povos	nativos.	Trata-se	da	descrição	oferecida	ao	rei	de	Portugal	acerca	
desses	“novos”	povos	e	desta	terra	“nova”,	encontrada	pelos	navegantes	portugueses	no	
instante	de	seu	desembarque	na	Bahia:	
A	feição	deles	é	serem	pardos,	maneira	de	avermelhados,	de	bons	rostos	e	
bons	narizes,	bem-feitos.	Andam	nus,	sem	nenhuma	cobertura.	Nem	estimam	
de	cobrir	ou	de	mostrar	suas	vergonhas;	e	nisso	têm	tanta	inocência	como	
em	mostrar	o	rosto.	[...]	O	Capitão,	quando	eles	vieram,	estava	sentado	em	
uma	cadeira,	bem	vestido,	com	um	colar	de	ouro	mui	grande	ao	pescoço	[...]	
mas	não	fizeram	sinal	de	cortesia,	nem	de	falar	ao	Capitão	nem	a	ninguém.	
Porém	um	deles	pôs	olho	no	colar	do	Capitão,	e	começou	de	acenar	com	a	
mão	para	a	terra	e	depois	para	o	colar,	como	que	nos	dizendo	que	ali	havia	
ouro.	Também	olhou	para	um	castiçal	de	prata	e	assim	mesmo	acenava	para	
a	 terra	 e	 novamente	 para	 o	 castiçal	 como	 se	 lá	 também	 houvesse	 prata.	
Mostraram-lhes	um	papagaio	pardo	que	o	Capitão	 traz	consigo;	 tomaram-
-no	logo	na	mão	e	acenaram	para	a	terra,	como	quem	diz	que	os	havia	ali.	
Mostraram-lhes	um	carneiro:	não	fizeram	caso.	Mostraram-lhes	uma	galinha,	
quase	tiveram	medo	dela:	não	lhe	queriam	pôr	a	mão;	e	depois	a	tomaram	
como	que	espantados.	(CAMINHA,	1500,	p.	5)
Essa	breve	descrição	de	Pero	Vaz	de	Caminha,	reforça	a	imagem	que	alguns	por-
tugueses	fizeram	dos	 índios	como	seres	 idílicos,	 idealizados,	demasiadamente	 inocentes,	
isto	é,	como	crianças	crescidas.	Mas	é	em	meio	a	esta	concepção	do	indígena	como	um	ser	
puro	e	intocado	que	se	revelam	também	aqueles	aspectos	mais	diretos	acerca	das	intenções	
dos	portugueses	na	ocupação	dessas	terras:	o	desejo	de	instrumentalizá-la	–	e	também	à	
seus	habitantes	–	na	busca	por	bens	materiais,	como	o	ouro	e	a	prata,	para	o	enriquecimento	
próprio	dos	exploradores,	da	coroa	e	da	burguesia	portuguesa,	de	um	modo	geral.		
Evidentemente,	esse	 imaginário	sofre	drásticas	alterações	em	função	dos	atritos	
provocados	pelo	avanço	da	ocupação	portuguesa	que,	mais	e	mais	encontravam	 resis-
tência	da	parte	dos	nativos,	 tanto	que	a	 ideia	desse	nativo	como	sinônimo	pureza	e	de	
desprendido	material	não	tardou	em	ser	substituída	por	versões	menos	favoráveis	a	sua	
preservação.	Nesse	processo,	também	a	igreja	desempenhou	um	papel	importante	na	for-
mulação	de	uma	concepção	acerca	dessa	humanidade	tropical,	de	modo	que,	“[...]	ao	final,	
entrechocavam-se	 duas	 concepções	 sobre	 a	 humanidade	 dos	 gentios	 [...]”(OLIVEIRA;	
FREIRE,	 2006,	 p.	 28):	 uma	 primeira,	 defendida	 pelos	 prosélitas	 portugueses,	 dizia	 que	
os	 indígenas	eram,	por	fim,	seres	“[...]	degradados,	vivendo	como	selvagens	e	canibais,	
17UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
mas	possuíam	 todo	o	potencial	 para	 se	 tornarem	cristãos	 [...]”	 (Idem),	 e	 uma	segunda,	
defendida	pelos	mais	gananciosos	dentre	os	ocupantes	desse	novo	mundo,	diziam	que	
“[...]	eram	seres	inferiores,	animais	que	não	poderiam	se	tornar	cristãos,	mas	podiam	ser	
escravizados	ou	mortos	[...]”	(Idem).
Deste	embate	de	perspectivas	acerca	da	identidade	deste	povo	nativo,	desdobram-
-se	conflitos	e	contradições	que	moldaram	o	caráter	da	colonização	portuguesa	em	solo	
brasileiro.	Ora	direcionando-se	pelas	diretrizes	dos	que	os	viam	como	seres	passíveis	de	
redenção,	ora	munindo-se	das	teses	dos	que	os	tinham	como	seres	sub-humanos,	mere-
cedores	de	tratamento	equivalente	ao	que	se	destinava	aos	animais.	E,	embora	tanto	essa	
primeira	quanto	essa	segunda	perspectiva	acerca	desse	nativo	tropical	tenha	contribuído,	
vezes	mais	vezes	menos,	para	o	avanço	da	empresa	da	Colonização	em	terras	“brasileiras”,	
importa	dizer	que	elas	também	refletem	a	pluralidade	de	valores	e	de	objetivos	encontrados	
nesses	colonizadores.	
Pois	eram,	antes	de	tudo,	padres,	homens	de	guerra,	homens	do	comércio,	mer-
cenários,	escritores,	marinheiros	experimentados,	etc.,	distantes	de	sua	terra	pátria,	des-
conhecedores	do	território,	surpreendidos	com	desafios	inéditos	e	encarregados	de	uma	
tarefa	que	se	revelaria	maior	que	as	empreendidas	por	Portugal	em	momentos	anteriores.	
E	por	isso	dizer	que	os	processos	da	colonização	não	se	deram	sem	grandes	contradições	
e	com	muitos	improvisos	não	é	de	nenhum	modo	desrespeitoso	ao	consistente	trabalho	de	
ocupação	e	de	exploração	que,	de	maneira	exitosa,	tomou	para	si	os	recursos	naturais	e	a	
força	física	de	tantos	nativos,	seja	por	vias	da	escravidão	ou	da	guerra.	
2.2.1 Recapitulando esta sessão:
Até	aqui,	1.	vimos	que	os	povos	que	os	portugueses	encontraram	no	“novo”	mundo,	
levavam	uma	vida	frugal,	voltada	para	comunidade.	2.	Vimos	que	eles	se	mudavam	com	
frequência.	3.	Vimos	que	a	espiritualidade	era	um	fator	determinante	em	suas	sociedades.	
4.	 Vimos	 que	 eles	 viviam	 em	 harmonia	 com	 a	 natureza.	 5.	 Vimos	 que	 eles	 conheciam	
o	 território	 tão	 bem	que	 desenvolveram	 técnicas	 e	 saberes	 desconhecidos	 pelos	 portu-
gueses.	5.	Vimos	que	havia	centenas	de	diferentes	 línguas	sendo	 faladas	pelos	nativos	
desse	território	no	momento	em	que	os	portugueses	chegaram	em	1500	d.C.	6.	Vimos	que	
algumas	dessas	línguas,	mediante	estudo	e	investigação,	tornaram-se	mais	ou	menos	co-
nhecidas	pelos	portugueses.	7.	Vimos	que	havia	cerca	de	2.400.000	mil	indivíduos	vivendo	
nesse	território	em	meados	de	1500	d.C.	8.	Vimos	também	que	havia	mais	de	1400	povos	
indígenas	distintos	nesse	território	no	momento	da	chegada	dos	portugueses.	9.	Vimos	que	
18UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
os	portugueses	os	tomaram	primeiro	como	seres	imaculados,	passíveis	de	lhes	ajudar	na	
tarefa	de	explorarem	o	seu	território.	10.	Vimos	que	as	visões	dos	portugueses	acerca	do	
caráter	desse	nativo	mudaram	bastante	ao	 longo	dos	anos.	11.	Vimos	que	as	diferentes	
visões	acerca	do	índio	neste	período	da	Colonização	refletiam	as	diferentes	perspectivas	
compartilhadas	pelos	portugueses	acerca	do	caráter	mesmo	da	Colonização	desses	povos	
e	territórios.
2.3 A questão da exploração do território
A	esta	altura,	sabemos	que	o	Brasil	não	foi	necessariamente	“descoberto”,	uma	vez	
que	já	existiam	aqui	mais	de	dois	milhões	de	habitantes	no	período	da	chegada	dos	portugue-
ses	na	Baía	em	1500	d.C.	Mas	sabemos	também	que	as	formas	de	organização	dos	nativos	
deste	 território	 eram	 bastante	 diferentes	 das	 formas	 de	 organização	 portuguesas.	Assim,	
experimentados	como	eram	no	comércio	marítimo	e,	naquela	altura,	pouco	experimentados	
na	 arte	 do	 desbravamento	 terrestre,	 os	 portugueses	 se	mantiveram	primeiro	 nas	 regiões	
costeiras	do	continente,	instaurando	portos	e	estabelecendo	novas	rotas	de	abastecimento.
De	pouco	em	pouco,	o	empreendimento	da	ocupação	portuguesa	tornou-se	exito-
so,	e	com	o	sucesso	desse	longevo	trabalho,	nações	rivais,	como	a	França,	a	Holanda,	por	
exemplo,	decididas	a	se	beneficiar	dos	recursos	dessa	“nova”	terra,	organizaram	investidas	
ao	 longo	da	 costa.	Segundo	Abreu,	 “[...]	Portugal	 considerava	a	nova	 terra	propriedade	
direta	e	exclusiva	da	 coroa,	 pelas	 concessões	papais,	 pelo	 tratado	de	 limites	 concluído	
com	a	Espanha	e	pela	prioridade	do	descobrimento	[...]”	(2009,	p.	28),	que,	em	função	de	
um	acordo	de	múltiplas	partes,	beneficiava	o	rei,	a	 igreja	e	aqueles	que	empreendiam	o	
trabalho	mais	direto,	de	modo	que	“[...]	a	presença	dos	intrusos	prejudicava-os	a	todos	os	
respeitos:	nos	mercados	europeus,	oferecendo	os	gêneros	a	preços	mais	vantajosos	[...]	e	
levando-os	diretamente	aos	mercados	consumidores	[...]”	(Idem).
Por	essa	razão,	percebe-se	que	já	desde	os	primeiros	anos	de	ocupação	portugue-
sa,	a	questão	dos	impostos	–	chamados	de	“quintos”	–	fazia-se	patente	no	desenvolvimento	
da	empresa	da	colonização.	Os	franceses,	independentes	das	restrições	da	coroa	de	Por-
tugal,	vendiam	diretamente	aos	compradores,	ao	passo	que	os	portugueses,	restritos	pelas	
leis	da	coroa,	viam-se	ameaçados	pela	concorrência	a	todo	o	tempo.			
Para	complicar	ainda	mais	essa	dinâmica,	os	povos	nativos	que	ocupavam	as	re-
giões	onde	os	franceses	aportaram	–	i.e.	o	litoral	nordeste	do	país	–,	nutriam	animosidade	
para	com	os	povos	que	auxiliaram	os	portugueses	nas	regiões	mais	ao	sul.	E	por	essa	ra-
zão	“[...]	os	povos	Tupinambás	se	aliaram	constantemente	aos	franceses	e	os	portugueses	
19UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
tiveram	a	seu	favor	os	Tupiniquins	[...]”	(idem),	e	essa	colaboração	entre	nativos	e	europeus	
equilibrou	o	conflito	entre	portugueses	e	franceses	de	tal	maneira	que	por	muito	tempo	não	
se	soube	ao	certo	“[...]	se	o	Brasil	ficaria	pertencendo	aos	Peró	(portugueses)	ou	aos	Maïr	
(franceses)	[...]”	(Idem).	Até	que,	em	função	de	reforços	portugueses,	os	ibéricos	finalmente	
reaveram	o	território	ocupado	pelos	franceses,	expulsando-os.		
Esse	processo	permitiu	a	Portugal	compreender	as	fragilidades	dos	processos	de	
ocupação	desses	territórios,	inspirando-os	assim	a	rearranjar	as	divisões	de	sua	jurisdição	
e	as	formas	de	seu	projeto	colonial,	ao	mesmo	tempo	em	que,	em	sua	dimensão	econômi-
ca,	o	chamado	ciclo	do	pau-brasil,	iniciado	nos	primeiros	anos	de	chegada	aos	portos	da	
Bahia,	se	expandia,	e	que	seus	primeiros	experimentos	com	a	plantação	de	cana	de	açúcar	
em	solo	americano	pareciam	suficientemente	exitosos.	Logo,	foi	no	intuito	de	prevenir-se	
de	futuros	embates,	de	assegurar	a	manutenção	da	integridade	de	seu	novo	território	e	a	
diminuição	dos	assaltos	e	dos	desvios	dos	bens	da	coroa,	que	Portugal	decidiu	redirecionar	
e	redimensionar	seus	esforços	no	território	por	intermédio	da	implantação	das	Capitanias	e	
a	inicialização	de	um	efetivo	processo	colonizador.
2.3.1 As Capitanias Hereditárias
Assim,	no	intuito	de	não	cometer	os	mesmos	equívocos,	a	coroa	portuguesa	de-
cidiu	que	o	território	brasileiro	seria	entregue	à	responsabilidade	de	nobres	de	confiança	
da	coroa,	reforçando	sua	influência	direta	e	assegurando	que	se	garantisse	aos	imigrados	
popular	 as	 diversas	 regiões	 do	 território	 recém	 “descoberto”,	 de	modo	a	 também	evitar	
que	essas	terras	ficassem	novamente	desassistidas	e,	portanto,	expostas	aos	 invasores	
europeus.	Tal	opção	designava,	a	título	de	novidade,	a	divisão	geográfica	de	toda	a	região	
continental	 em	15	 lotes	paralelos	 –	que	 constituíam	14	 capitanias	–,	 resultando	em	um	
modelo	de	ocupação	e	de	colonização	 inspirado	naquele	anteriormente	 implantado	pela	
coroa	portuguesa	nas	regiões	africanas	dos	Açores	e	Madeira.	
As	 capitaniaseram,	 portanto,	 de	 responsabilidade	 direta	 do	 próprio	 rei,	 e	 eram		
confiadas	aos	cuidados	de	12	nobres	de	sua	confiança.	A	estes,	o	próprio	rei	emprestava	
uma	porção	de	seu	poder	e	autoridade,	sendo	permitido	a	eles	representá-lo	em	assuntos	
tanto	de	ordem	econômica	quanto	jurídica.	Desse	modo,	ao	zelar	pelas	terras	do	rei	em	seu	
nome,	era	permitido	aos	beneficiários	supervisionar	desde	a	cobrança	de	impostos	desses	
novos	colonos	quanto	a	consolidação	de	um	mercado	interno.	Do	montante	coletado	por	
meio	dos	impostos,	uma	porção	era	repassada	ao	rei	e	uma	outra	era	mantida	pelo	benefi-
ciário	para	usufruto	próprio	(CALDEIRA,	2017,	p.	51),	assegurando	a	fidelidade	do	mesmo	
20UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
à	coroa,	ao	mesmo	tempo	em	que	alimentava,	por	toda	a	costa	recém	descoberta,	indícios	
de	descontentamentos.
Pois,	em	linhas	gerais,	as	capitanias	hereditárias	faziam	dos	beneficiários	a	maior	
autoridade	judicial	e	administrativa	da	porção	de	território	à	eles	designada.	Tanto	que,	ao	
longo	dos	anos,	esses	nobres	beneficiários	acabaram	sendo,	na	realidade,	importantes	pi-
vôs	da	efetividade	da	empresa	da	colonização	portuguesa,	por	justamente	organizarem,	no	
exercício	de	suas	funções,	as	formas	sociais	desse	“novo”	sistema,	tendo	inclusive	o	poder	
de,	em	nome	do	rei,	nomear	funcionários,	aplicar	sentenças,	supervisionar	assuntos	rela-
cionados	à	escravidão,	etc.	Em	última	instância,	a	mordomia	real	confiada	a	estes	nobres	
em	muitos	casos	se	estendia	também	a	seus	filhos,	razão	pela	qual,	em	termos	históricos,	
tais	“capitanias”	foram	também	chamadas	de	“hereditárias”	por	muitos	historiadores.	
2.3.2 Os Governos Gerais
De	um	modo	geral,	as	capitanias	hereditárias	não	lograram	êxito.	Diante	do	risco	
de	 revertérios	nos	avanços	 logrados	pela	 coroa,	Portugal	 instituiu	um	novo	sistema	ad-
ministrativo	para	sua	colônia:	o	chamado	“governo	geral”,	sancionado	por	D.	João	III,	em	
1548.	Nele,	 governadores	gerais,	 apontados	pela	 coroa,	 desempenharam	a	gestão	dos	
recursos	e	a	aplicação	das	leis	no	“novo”	território,	intermediando	as	relações	entre	colônia	
e	metrópole,	das	regiões	norte	e	do	sul	desse	“novo”	território.	Foram	exemplos	notórios	de	
governadores	gerais:	Tomé	de	Souza,	Duarte	da	Costa	e	Mem	de	Sá.	E,	a	despeito	dessa	
mais	efetiva	organização,	os	governos	gerais	vigoraram	até	serem	extintos	com	a	chegada	
da	família	real	ao	Brasil	no	ano	de	1808.	
2.3.3 A cana de açúcar
Quando	os	portugueses	perceberam	que	o	plantio	da	cana	de	açúcar	era	a	mais	
lucrativa	das	iniciativas	empreendidas	por	eles	em	solo	americano,	decidiram	focar	seus	
esforços	nessa	modalidade	de	exploração	de	recursos,	a	despeito	do	sucesso	das	demais	
tentativas.	Assim,	tendo	colonizado	regiões	africanas	por	mais	ou	menos	um	século,	apren-
deram	o	passo	a	passo	do	difícil	processamento	do	açúcar,	e,	de	um	modo	geral,	levavam	
vantagem	em	relação	às	demais	nações	colonizadoras	em	meados	de	1500	d.C.	Entretanto,	
o	empreendimento	açucareiro	demandava	os	esforços	de	uma	mão	de	obra	abundante	e	
minimamente	especializada,	gerando	uma	demanda	de	trabalho	intenso	e	em	quantidades	
muito	maiores	do	que	as	que	os	portugueses,	sozinhos,	poderiam	sanar	naquele	momento.
21UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
FIGURA 3 – UM ENGENHO DE AÇÚCAR EM PERNAMBUCO COLONIAL –
 POST, FRANZ – WIKIMEDIA COMMONS 
Fonte:	https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Post_-_Engenho_de_Pernambuco.jpg
Diante	 dessa	 necessidade,	 optaram	 pela	 modalidade	 da	 escravidão,	 impondo	
primeiro	 aos	 nativos	 indígneas	 o	 fardo	 da	 obrigatoriedade	 do	 trabalho	 e	 da	 suspensão	
de	todas	as	liberdades	individuais	e	coletivas,	enclausurando	e	maltratando	os	que	foram	
apreendidos	ao	trabalho,	domesticando-os,	por	fim,	ao	trabalho	forçado	que	os	europeus,	
em	virtude	do	pouco	 insentivo	à	 imigração,	não	 julgaram	vantajoso	o	suficiente	para	ser	
realizado	por	eles	naquele	momento	(FAUSTO,	1996).	
Entretanto,	ao	menos	em	larga	escala,	a	escravidão	indígnea	foi,	pouco	a	pouco,	
desaconselhada	pelos	portugueses.	Em	primeiro	lugar,	isso	se	deu	porque	os	indígenas,	
em	meados	do	século	XVI,	já	haviam	sido	considerados	súditos	de	Portugal.	Em	segundo	
lugar,	a	resistência	indígnea	à	escravidão	era,	em	muitos	sentidos,	efetivada	pelo	conheci-
mento	desses	povos	acerca	dos	próprios	territórios	e	da	cotidianidade	da	relação	de	muitos	
deles	com	a	guerra.	De	todos	os	modos,	quer	em	função	da	prática,	quer	em	função	da	
percepção	que	se	tinha	desses	povos	da	parte	dos	portugueses,	a	escravidão	indígena	foi	
periodicamente	substituída	por	uma	modalidade	inédita	de	transposição	forçada	de	mão	de	
obra,	à	qual	conhecemos	simplesmente	pelo	nome	de	“Escravidão”	ou	“escravização	dos	
povos	africanos”.	
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Post_-_Engenho_de_Pernambuco.jpg
22UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
2.3.4 A escravidão africana
A	relação	de	Portugal	com	a	costa	ocidental	da	África	era,	à	essa	altura,	exitosa	e	
longeva.	O	sucesso	dos	empreendimentos	portugueses	na	descoberta	de	novos	portos	e	
rotas	os	levaram	a	conhecer	também	aspectos	da	complexa	relação	entre	os	povos	nati-
vos	africanos,	suas	formas	de	trabalho,	comércio	e	estruturação	social.	Tanto	que	quando	
os	portugueses	 chegaram	à	Bahia	em	1500	d.C.,	 eles	 já	 haviam	 iniciado	processos	de	
colonização	em	territórios	africanos	e	instituído	relações	mercantis	em	regiões	antes	des-
conhecidas	pelos	europeus.	Por	essa	razão,	a	ideia	de	se	valer	da	mão	de	obra	(forçada)	
africana	não	foi	uma	solução	tão	difícil	de	ser	implantada.	
Vindos	de	regiões	diferentes	do	grande	continente,	sem	sequer	conhecer	os	idiomas	
uns	dos	outros,	alheios	à	geografia	desse	“novo”	continente,	os	seres	humanos	africanos	
escravizados	eram	trazidos	ao	trabalho	em	condições	precárias	através	de	embarcações	
de	carga,	para	serem	mais	facilmente	condicionados	ao	exercício	laboral	pelas	mãos	dos	
senhores	e	seus	capatazes.	Sozinhos,	exaustos	e	desorientados,	os	africanos	abduzidos	
renderam	ao	plantio	e	processamento	da	cana	de	açúcar	os	seus	mais	altos	 índices	de	
produção	e	revenda.	Em	condições	normais,	cerca	de	20%	dos	escravizados	abduzidos	na	
África,	trazidos	ao	“novo”	mundo,	morriam	ainda	na	transição	do	Atlântico.		
Em	face	a	tanta	dificuldade,	a	resistência	dos	povos	africanos	abduzidos	e	trazidos	
da	África	para	o	trabalho	forçado	nas	lavouras	portuguesas	em	solo	americano,	se	deu	de	
modos	efetivamente	modestos,	ainda	que	por	demais	emblemáticos.	Nesse	sentido,	o	mais	
bem	sucedido	desses	esforços	talvez	seja	a	formação	dos	chamados	“Quilombos”,	organi-
zações	estabelecidas	e	geridas	por	escravizados	que	conseguiram	escapar	ao	domínio	dos	
senhores,	e	que	ofereciam	abrigo	e	amparo	a	todos	os	que	necessitavam	de	proteção,	quer	
fossem	escravizados	fugidos	ou	não.	
De	todo	modo,	a	presença	africana	no	Brasil	contribuiu	sobremaneira	para	a	forma-
ção	de	uma	identidade	nacional	e	tornou-se	indissociada	de	todos	os	processos	políticos,	
sociais	e	culturais	que	dizem	respeito	aos	processos	de	formação	da	nação	brasileira.	Por	
hora,	cabe	ainda	 lembrar	que	os	escravos	africanos	não	apenas	viabilizaram	o	sucesso	
das	lavouras	de	cana	de	açúcar	no	período	colonial,	mas	também	permitiram	que	o	próprio	
comércio	do	tráfico	de	escravos	fosse,	muitas	vezes,	mais	lucrativo	até	do	que	os	frutos	da	
produção	gerada	pela	mão	de	obra	escrava	(FAUSTO,	1996).		
23UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
FIGURA 4 - MERCADO DE ESCRAVOS NO RECIFE – 
WAGNER, ZACHARIAS (1637-1644) – WIKIMEDIA COMMONS 
Fonte:	https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil#/media/Ficheiro:Zacharias_Wagner_-_Mercado_de_escravos_no_Recife.jpg
2.3.5 A expulsão dos holandeses
Com	a	economia	assegurada	por	meio	da	expansão	colonial	e	do	tráfico	de	escra-
vos,	Portugal	enfrentou	ameaças	importantes	à	sua	hegemonia	no	período	de	desenvolvi-
mento	de	seu	projeto	colonial.	A	maissignificativa	delas,	talvez	tenha	sido	a	presença	dos	
Holandeses,	desafiando	o	domínio	português	na	costa	nordeste	do	território,	no	intuito	de	
tomar	para	si	postos	estratégicos,	fazendas	açucareiras	e	dominar	o	comércio	de	escravos.	
Após	serem	expulsos	da	Bahia	pelos	portugueses,	assentaram-se	em	Pernambuco,	então	
capitania	de	Portugal,	ao	mesmo	tempo	em	que	empreenderam	campanhas	para	tomada	
de	postos	no	continente	africano,	tornando-se	assim	concorrentes	diretos	dos	portugueses	
em	ambos	frontes.
Na	busca	pela	expulsão	definitiva	desses	 invasores	holandeses,	os	portugueses	
tiveram,	pela	primeira	vez,	a	ajuda	mútua	de	indígenas	e	negros	no	processo	de	reaver	os	
domínios	sequestrados	por	estes	em	sua	tentativa	de	colonização	do	nordeste	brasileiro.	
Esse	processo	ficou	conhecido	por	muitos	como	a	primeira	manifestação	de	um	sentimento	
de	brasilidade	(FAUSTO,	1996),	em	função	do	engajamento	de	tão	distintos	agentes	em	
prol	de	um	projeto	comum	de	nação.	Diante	desses	esforços,	os	Holandeses,	militarmente	
vencidos,	se	viram	 impossibilitados	de	dar	continuidade	a	seu	processo	colonizador	em	
território	brasileiro,	e	abriram	caminho	para	a	retomada	das	terras	por	parte	da	coroa	por-
tuguesa.					
24UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
2.3.6 A Expansão territorial do século XVII
Em	 função	 do	 sucesso	 da	 colonização,	Portugal,	 nação	 de	 notória	 por	 suas	 in-
vestidas	marítimas,	se	viu	obrigada	a	também	expandir	seus	domínios	cada	vez	mais	em	
direção	ao	interior	do	continente.	Desse	modo,	se	no	primeiro	século	de	sua	ocupação	nas	
terras	 tropicais	americanas,	os	portugueses	permaneceram	majoritariamente	em	regiões	
costeiras,	o	século	XVII	é	marcado	pela	expansão	territorial	desses	invasores	europeus	em	
direção	às	terras	centrais	do	“novo”	território.	
Processo	que	se	deu	tanto	pela	expansão	da	pecuária	–	e	a	subsequente	demanda	
de	novos	pastos	–,	seja	pelo	desenvolvimento	de	um	mercado	consumidor	interno	–	e	a	
necessidade	de	circulação	de	bens	de	consumo	–,	seja	pela	busca	de	metais	preciosos	–	
na	busca	de	possíveis	jazidas	minerais	–,	seja	pelo	exercício	da	catequese	–	e	a	crença	
na	redenção	dos	indígenas	–,	etc.	Mas	sempre	com	o		intento	de	recuperar	ou	conquistar	
territórios	 ocupados	 por	 terceiros,	 sejam	 eles	 nativos	 indígenas	 ou	 invasores	 europeus	
concorrentes.	
Nesse	período,	expedições	 foram	organizadas	pela	 coroa	e	designadas	 regiões	
tão	distintas	quanto	a	região	amazônica,	São	Paulo	e	a	região	sul	do	atual	Brasil.	Em	cada	
uma,	um	esforço	distinto	em	prol	da	conquista,	por	meio	de	distintas	técnicas	e	estratégias.	
Na	região	do	Amazonas,	a	fundação	de	vilas	e	agrupamentos	favoráveis	a	coroa,	além	da	
exploração	de	ervas	medicinais	abundantes	na	região.	Em	São	Paulo	e	região,	empreendida	
pelos	sertanistas	“bandeirantes”,	as	expedições	buscavam	encontrar	ouro	e	outras	pedras	
preciosas,	aprisionar	 indígenas	para	o	 trabalho	além	de	recuperar	escravizados	 fugidos.	
No	sul,	a	criação	de	gado	foi	o	traço	mais	emblemático,	e	assegurou	a	aproximação	dessa	
região	às	demais	no	período	da	exploração	mineral.
Os	esforços	de	bandeirantes	e	colonos	no	sentido	de	desbravar	o	 interior	desse	
território,	adaptando-o	às	necessidades	econômicas	da	coroa	de	Portugal,	lançou	as	bases	
para	a	grande	miscigenação	que	aconteceu	em	meados	do	século	XVII	(FAUSTO,	1996).	
Entretanto,	 contribuiu	 também	 para	 a	 gradual	 domesticação	 deste	 território,	 adaptando	
aspectos	de	sua	fauna,	flora	e	estruturas	referentes	às	sociedades	nativas	aos	desígnios	
impositivos	desse	grande	projeto	da	Colonização.	
25UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
2.4 Resumo da Sessão
Nesta	seção,	1.	vimos	que	o	Brasil	não	foi	de	fato	“descoberto”,	uma	vez	que	haviam	
mais	de	1400	povos	habitando	este	território	no	momento	da	chegada	dos	portugueses.	2.	
Vimos	que	Portugal	 considerava	este	 território	sua	propriedade	exclusiva.	3.	Vimos	que	
muitos	nativos	indígenas	foram	escravizados.	4.Vimos	que	o	sucesso	do	empreendimento	
de	Portugal	atraiu	os	olhares	de	outras	nações	europeias.	5.	Vimos	que	a	animosidade	pré-
-existente	entre	algumas	tribos	nativas	favoreceu	o	embate	entre	as	potências	estrangeiras	
em	solo	americano.	6.	Vimos	que	a	presença	de	nações	estrangeiras	europeias	em	solo	
brasileiro	representou	um	problema	para	os	portugueses,	uma	vez	que	livres	do	compromis-
so	para	com	os	impostos	da	coroa	portuguesa,	franceses	e	holandeses	poderiam	vender	
os	mesmos	produtos	a	preços	mais	baixos.		7.	Vimos	que,	em	um	primeiro	esforço	em	prol	
da	colonização	deste	imenso	território,	Portugal	instituiu	as	chamadas	capitanias	hereditá-
rias,	centralizando	o	poder	legislativo	e	comercial	nas	mãos	de	poucos	amigos.	8.	Vimos	
também	que	essa	tentativa	de	organização,	de	um	modo	geral,	não	obteve	êxito.	9.Vimos	
que	Portugal	instituiu	os	chamados	“Governos	Geral”	como	alternativa	aos	processos	das	
capitanias	 hereditárias.	 10.	Vimos	 que	 a	 cana	 de	 açúcar	 tornou-se,	muito	 rapidamente,	
um	dos	mais	lucrativos	empreendimentos	do		chamado	Brasil	colônia.	11.	Vimos	que	para	
tanto,	os	portugueses	valeram-se		do	conhecimento	que	adquiriram	no	continente	africano.	
12.	Vimos	também	que	os	portugueses,	por	motivos	práticos,	optaram	por	substituir	a	mão	
de	obra	escrava	dos	indígenas	por	aquela	de	trabalhadores	abduzidos	na	África	e	trazido	à	
força	para	cá.	13.	Vimos	que	esse	processo	de	escravização	não	se	deu	sem	resistência.	
14.	Vimos	os	holandeses	ocuparam	o	território	norte	do	Brasil	colonial.	15.	Vimos	que	seu	
progresso	foi	 interrompido	pela	combinação	de	forças	organizada	por	soldados,	negroes	
e	indígenas.	16.	Vimos	que	após	um	século	de	ocupação	das	regiões	costeiras,	Portugal	
decide	finalmente	expandir-se	às	regiões	interioranas	de	seu	“novo	“	território,	por	meio	das	
expedições.
26UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
3. DA COLÔNIA AO REINO DO BRASIL
Em	meados	do	século	XVI,	tendo	ocupado	grande	parte	da	região	andina,	os	“con-
quistadores”	espanhóis	 regozijaram-se	com	a	descoberta	das	minas	de	Potosí,	na	atual	
Bolívia:	terra	de	prata	em	abundância.	Essa	descoberta	reacendeu	junto	aos	portugueses	
o	desejo	de	explorar	 os	minérios	da	 terra	 “nova”,	 lançando	ao	 interior	 desse	misterioso	
continente.	Um	desejo	que	já	se	fazia	evidente,	 tal	como	vimos	ao	início	do	capítulo,	no	
registro	oferecido	por	Pero	Vaz	de	Caminha	ao	rei	de	Portugal	em	1500	d.C.	Entretanto,	
este	desejo	só	pôde	ser	 realizado	em	função	da	expansão	 territorial	empreendida	pelos	
bandeirantes	na	região	sudeste	do	território	não	mapeado.
3.1 O ouro mineiro
E	se	a	prata	de	Potosí	 já	suficiente	para	alimentar	os	sonhos	e	as	ambições	de	
monarcas,	mercenários	e	exploradores	portugueses	no	início	do	século	XVII,	a	descoberta	
das	chamadas	Minas	nas	regiões	das	montanhas	–	chamadas	depois	de	Minas	Gerais	–	
revolucionou	o	caráter	das	relações	sociais	e	econômicas	no	período	do	“Brasil	Colônia”.	
Tanto	que	o	ouro	das	Minas	Gerais	 já	circulava	no	 reino	de	Portugal	no	final	do	século	
XVII.	A	descobertas	das	minas,	promoveram	uma	verdadeira	corrida	do	ouro	na	região	e	
assentamentos	de	características	urbanas	passaram	a	se	desenvolver	na	região	que	logo	
se	tornou	mundialmente	famosa	pelo	“ouro	preto”.
27UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
No	início	do	século	XVIII	começam	as	primeiras	revoltas	 locais	contra	o	 imposto	
chamado	de	“quinto”,	aplicado	pela	Coroa	Portuguesa	sobre	a	coleta	do	ouro.	Um	esboço	
consistente	daquilo	que	viria	a	caracterizar	este	como	um	século	de	 levantes	e	 revoltas	
contra	a	coroa.	Em	1789,	a	chamada	“Inconfidência	Mineira”,	ilustra	bem	aquilo	que	seria	o	
restrito	horizonte	das	opções	enfrentadas	por	aqueles	que	se	voltavam	contra	os	desígnios	
da	Coroa	portuguesa	naquela	época,	quando	a	“conspiração”	executada	por	representan-
tes	da	sociedade	mineradora	no	intuito	de	libertar	Minas	Gerais	das	obrigações	financeiras	
para	com	portugueses.Assim,	a	fim	de	torná-la	exemplo	para	insurgentes	de	todo	a	parte,	
toma-se	Tiradentes	e	o	executa	publicamente,	exibindo	as	partes	de	seu	corpo	postuma-
mente	em	distintos	rincões	do	território,	a	fim	de	aplacar	o	desejo	revolucionário	da	geração	
que	 tornou	possível	ao	 reinado	 lucrar	com	as	antes	 impensáveis	minas	de	ouro	de	Vila	
Rica,	“Ouro	preto”.		
FIGURA 5 – ART INSIDE THE CATHEDRAL BASILICA OF OUR LADY OF THE PILLAR – CAPITOLIO ARTS
 
Ademais,	 como	nos	ensina	Fausto	 (1996),	a	descoberta	do	ouro	em	Minas	Ge-
rais	possibilitou	aquilo	que,	até	então,	pareceria	ser	a	mais	improvável	das	suposições:	a	
realidade	de	uma	maciça	imigração	de	europeus	brancos,	homens	e	mulheres,	vindos	da	
Europa	para	habitar	o	 território	americano	gerenciado	por	Portugal.	E	 isso	é	 importante	
por	duas	razões:	primeiro	porque	em	todo	o	período	colonial,	seja	em	função	da	produção	
e	exportação	de	pau-brasil	ou	de	açúcar,	este	território	não	pareceu	despertar	o	interesse	
desses	povos	ditos	civilizados	no	que	diz	respeito	à	possibilidade	de	imigrar	para	ele.	Foi	
preciso,	primeiro,	descobrir	as	Minas	Gerais,	e	a	promessa	de	um	futuro	próspero	e	aces-
sível	à	maioria	dos	que	ali	se	atrevessem	a	empreender.
28UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
3.2 A Chegada da Família Real Portuguesa
Como	ilustrado	acima,	os	anos	finais	do	século	XVIII	foram	marcados	por	movimen-
tos	contrários	à	dominação	portuguesa,	dentre	os	quais	a	chamada	“Inconfidência	Mineira”	
é,	por	várias	razões,	o	mais	célebre.	A	existência	–	e	a	recorrência	–	de	movimentos	afins,	
comprovaram	que,	no	nível	da	economia,	já	estava	ficando	claro:	havia	um	profundo	des-
gaste	nas	bases	do	sistema	colonial	português,	e	ele	precisa	se	reinventar	sob	o	risco	de	
não	mais	existir.	No	fim	do	século	XVIII,	após	quase	trezentos	anos	de	ocupação	forçada	
e	domínio	sobre	as	terras	e	os	povos	originários	americanos	junto	aos	agora	abduzidos	do	
continente	africano,	o	panorama	social,	natural,	econômico	e	cultural	dessas	terras	já	tinha	
pouco	ou	quase	nada	que	ver	com	aquele	de	1500	d.C..	
A	economia	colonial	sofreu	um	baque	irremediável	na	medida	em	que	a	Inglaterra	
começava	a	se	 tornar	mais	e	mais	 relevante	no	cenário	 internacional,	 tornando-se	uma	
grande	potência	no	mundo,	ao	 justamente	deixar	de	se	guiar	pelo	mercado	da	venda	e	
troca	monopolista	de	escravos	no	mundo.	Pois	passaram	a	se	interessar	por	um	outro	tipo	
de	mão	de	obra,	a	mão	de	obra	“livre”,	que,	para	todos	os	efeitos,	lhes	parecia	ser	ainda	
mais	proveitosa	em	termos	de	custo	benefício	e	lucro.	Essa	tão	radical	guinada,	imputou	
ao	sistema	colonial,	de	um	modo	geral,	a	incerteza	de	sua	própria	continuidade.	Pois,	no	
lugar	 das	 ideias	escravagistas	e	 colonialistas	dos	últimos	 séculos,	 passava	a	 se	 figurar	
entre	os	círculos	intelectuais	e	a	imprensa	livre	de	todo	o	mundo	europeu,	ideais	de	origem	
francesas	e	 inglesas,	 que	pregavam	o	 valor	 da	 liberdade	e	a	 denúncia	 dos	 controles	 e	
monopólios	do	“velho”	sistema	econômico.	E	era	inevitável	que	essas	ideias	chegassem	
também	nas	colônias,	e,	por	meio	dela,	se	julgasse	apropriado	demandar,	por	exemplo,	a	
abertura	dos	portos	coloniais	ao	comércio	mundial.
Nesse	contexto,	o	reino	de	Portugal	experimentou	uma	de	suas	mais	intensas	crises	
já	no	início	do	século	XIX,	a	saber,	o	cerco	de	Napoleão	Bonaparte	ao	território	português.	
Assim,	traído	pela	coroa	da	Espanha	–	que,	em	mau	juízo,	se	juntou	à	causa	da	França	em	
1801	–	não	obteve	auxílio	da	Inglaterra,	e	se	viu	sob	o	risco	iminente	do	aprisionamento	de	
sua	família	real	e	a	perda	efetiva	de	seus	territórios	além	mar	para	a	Inglaterra	–	incluindo	
o	Brasil	–,	na	iminência	de	ser	substituído	na	linha	de	sucessão	portuguesa	por	um	regente	
apontado	pelo	próprio	Napoleão	Bonaparte,	um	parente	seu,	seguindo	seu	plano	de	figurar	
seu	sobrenome	em	todas	(ou	muitas)	cortes	européias.	Assim,	por	meio	de	uma	manobra	
fortuita	e	arriscada,	toda	a	corte	portuguesa	foge	em	uma	frota	em	direção	a	Salvador	e	
depois	ao	Rio	de	Janeiro,	iniciando	assim	um	período	de	prosperidade	ímpar	na	história	da	
colônia	brasileira.
29UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
Sua	vinda	ao	Brasil	faz	inverter	a	ordem	natural	da	relação	entre	a	colônia	e	metró-
pole,	e	inaugura,	de	modo	legítimo,	hábitos	da	corte	no	cotidiano	brasileiro,	tanto	secular	
quanto	religioso,	instituindo	uma	a	biblioteca	real,	construindo	jardins,	promovendo	peças	
de	 teatros,	 inovações	arquitetônicas	de	 toda	a	sorte,	etc.	Ademais,	a	estadia	da	 família	
real,	direta	ou	 indiretamente,	atendeu	às	 reivindicações	dos	 insurgentes	que	desejavam	
a	abertura	dos	portos	do	país	e	a	liberação	das	prensas	(FAUSTO,	1996).	Em	resumo,	a	
vinda	da	corte	promoveu	ainda	a	criação	da	imprensa	real,	o	funcionamento	de	tipografias	
e	publicações	de	jornais,	fundou	o	Banco	do	Brasil,	abriu	escolas	de	medicina	altamente	
qualificadas,	instituiu	academias	militares,	inaugurou	uma	fábrica	de	pólvora,	promoveu	as	
capitanias	ao	status	de	“províncias”	ao	elevar	o	Brasil	da	condição	de	“Colônia”	de	Portugal	
à	“Reino”	unido	a	Portugal.
FIGURA 6 – REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA – FVOLU 
Por	fim,	a	vinda	da	família	real	portuguesa	ao	Brasil	significou	também	uma	efetiva	
consolidação	de	um	projeto	de	identidade	nacional,	e	o	convite	que	estendeu	à	Missão	Ar-
tística	Francesa	em	1816	–	um	coletivo	de	artistas	franceses	que	propiciaram	a	renovação	
estética	junto	ao	panorama	das	Belas-Artes	no	reinado	Brasileiro	–	é	prova	desse	esforço,	
uma	vez	que	ensinando	os	caminhos	do	recém	surgido	“neoclassicismo”,	através	da	ins-
tituição	de	uma	academia	de	ensino	superior	em	Belas-Artes,	a	comunidade	brasileira	é	
convidada	a	repensar	seu	passado	colonial	sob	a	ótica	artística	e	intelectual	de	seu	tempo,	
projetando	ao	passado	 valores	 contemporâneos	ao	projeto	de	unidade	nacional	 que	 se	
estabelecia	no	quando	da	estadia	da	corte	portuguesa	em	solo	bresileiro.
30UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
Assim,	quando	em	1821,	a	corte	retorna	a	Portugal,	Dom	Pedro	I,	sucessor	real	de	
Dom	João	VI,	enfrenta	um	cenário	adverso	em	terras	brasileiras	e	é	proclamado	Imperador	
do	Brasil	no	mesmo	ano,	pondo	fim	ao	processo	colonial	brasileiro	e	 iniciando	um	novo	
momento	de	nossa	rica	história.	
3.3 Resumo da Sessão
Nesta	sessão,	1.	vimos	que	a	descoberta	das	minas	de	Potosi	pelos	espanhóis	na	
Bolívia	despertaram	o	desejo	de	encontrar	novas	jazidas	minerais	no	território	americano.	
2.	Vimos	que	no	caso	de	Portugal	essa	vontade	só	se	satisfez	quando	os	bandeirantes,	
desbravando	 a	mata	 virgem,	 encontraram	 o	 ouro	 preto	 da	 região	 das	Minas	Gerais.	 3.	
Vimos	que	a	descoberta	do	ouro	no	Brasil	Colônia	incentivou	uma	onda	de	progresso	sem	
precedentes.	4.	Vimos	que	a	descoberta	de	ouro	na	colônia,	diferentemente	da	prosperida-
de	trazida	pelo	açúcar	e	pelo	pau-brasil,	começou	a	incentivar	os	próprios	portugueses	a	se	
mudar	para	o	território	colonial.	5.	Vimos	que	a	prosperidade	trazida	pelo	ouro	desencadeou	
também	grandes	insurreições	contrárias	à	prática	dos	impostos	estabelecida	pela	coroa.	6.	
Vimos	que	essas	reivindicações	respondiam	a	um	câmbio	econômico	mundial,	protagoni-
zado	pela	Inglaterra.	7.	Vimos	que	as	contradições	da	Colonização	a	levaram	ao	limite.	8.	
Vimos	que	o	avanço	de	Bonaparte	na	Europa,	leva	a	corte	portuguesa	contra	a	parede.	9.	
Vimos	que	a	portuguesa	foge	para	o	Brasil	para	não	ser	destituída	de	sua	dinastia	e	de	suas	
colônias.	10.	Vimos	que,	ao	fazê-lo,	Portugal	eleva	o	Brasil	ao	status	de	“Reino”.	11.	Vimos	
que	a	estadia	portuguesa	no	Brasil	promoveu	uma	série	de	mudanças	progressistas	no	
cenário	cotidiano	das	práticas	sociais,	modernizando	esta	sociedade	de	um	modo	até	então	
inédito.	12.	Vimos	que	os	esforços	da	corte	nesse	sentido,	contribuíram	sobremaneira	para	
o	estabelecimento	de	um	projeto	de	identidade	nacional	baseado	nos	valores	e	nas	ideias	
contemporâneas.	13.	Vimos	a	importância	daMissão	Artística	Francesa	nesse	processo.	
14.	Vimos	que	a	vinda	da	corte	portuguesa	ao	Brasil	acelerou	as	contradições	que	levaram	
o	Brasil	a	se	tornar	um	Império	sob	o	governo	do	herdeiro	do	trono	de	Portugal,	Dom	Pedro	
I	em	1821.
31UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
SAIBA MAIS
	
Você	sabia	que	Claudio	Manoel	da	Costa	(1729-1789),	notório	poeta	mineiro,	conhecido	
por	haver	se	envolvido	no	processo	da	“Inconfidência	Mineira”	 (1789),	escreveu	uma	
obra	intitulada	“Vila	Rica”,	onde	narra	o	percurso	do	descobrimento	das	“Minas	Gerais”	
por	parte	dos	bandeirantes	e	a	fundação	em	efetivo	da	região	intitulada	Minas	Gerais	e	
a	exploração	de	seus	recursos	naturais	na	época	do	Brasil	Colônia?	
Trata-se	 de	 um	 poema	 de	 caráter	 épico,	 onde	 apresenta	 aspectos	 impor-
tantes	 dos	 conflitos	 dessa	 região	 do	 país,	 tais	 como	 a	 “Guerra	 dos	 Em-
boabas”	 (1707)	 e	 própria	 “Inconfidência	 Mineira”,	 em	 um	 tempo	 em	 que	 o	 fu-
turo	 da	 colônia	 estava	 entrelaçado	 com	 os	 rumos	 da	 região	 das	 minas.	 	
Assim,	como	fonte	de	estudo	histórica,	o	texto	literário	de	Claudio	Manuel	nos	auxilia	na	
tarefa	de	compreender,	também	por	um	ângulo	poético,	o	desenvolvimento	econômico,	
social	e	político	respectivos	à	empresa	da	colonização	brasileira.
No	trecho	abaixo,	vemos	a	relação	que	se	estabeleceu	à	época,	entre	a	prática	da	ativi-
dade	mineradora	e	a	interdição	promovida	pela	coroa	portuguesa	em	relação	ao	fluxo	e	
circulação	da	extração	das	pedras	preciosas:
“Isto	suposto,	já	para	a	jornada
Manda	à	Pátria	buscar	quanto	a	seu	cargo
Incumbe,	pois	que	a	fábrica	guiada
Destruída	se	vê	do	tempo	largo.
Determiria	à	fiel	consorte	amada
Que	a	nada,	do	que	pede,	ponha	embargo,
Inda	que	sejam	por	tal	fim	vendidas
Das	filhinhas	as	jóias	mais	queridas.”	
	
Fonte:	DA	COSTA,	Claudio	Manoel.	Vila	Rica.	In:	PROENÇA	FILHO	(Org.).	A	poesia	dos	inconfidentes,	
Rio	de	Janeiro:	Editora	Nova	Aguiar,	1996.
	
32UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
REFLITA 
O	período	da	colonização	do	Brasil	inspirou	também	a	produção	de	algumas	produções	
artísticas	 contemporâneas	 bastante	 conhecidas.	 Dentre	 elas,	 destacamos	 seguintes	
canções	populares:
1.	“Vai	Passar”,	de	Chico	Buarque	de	Holanda,	no	trecho	que	segue:
“Dormia
A	nossa	pátria	mãe	tão	distraída
Sem	perceber	que	era	subtraída
Em	tenebrosas	transações”
CHICO	BUARQUE	DE	HOLANDA.	Vai passar.	Rio	de	Janeiro:	Barclay:	1984.	 	 	
		Disco	(6:04)		
2.	“Índios”,	da	Legião	Urbana:	
“Quem	me	dera	ao	menos	uma	vez
Ter	de	volta	todo	o	ouro	que	entreguei	a	quem
Conseguiu	me	convencer	que	era	prova	de	amizade
Se	alguém	levasse	embora	até	o	que	eu	não	tinha”
LEGIÃO	URBANA.	Índios.	São	Paulo:	EMI:	1987.	Disco	(4:27)
	
Se	estivermos	atentos,	perceberemos	referências	afins	em	outras	produções	culturais	
que	consumimos	diariamente	--	tais	como	filmes,	literatura,	teatro	e	televisão.	E	isso	por-
que,	diferentemente	do	que	se	possa	imaginar,	o	processo	de	colonização	do	Brasil	está	
profundamente	enraizado	em	nosso	imaginário	social.	Por	isso,	ao	prestarmos	atenção	
a	esses	indícios	e	referências,	poderemos	compreender	melhor	a	sua	relevância	para	
com	os	 rumos	da	vida	pública	brasileira	e	a	confecção	de	nossa	 identidade	nacional	
também	através	da	cultura.	
33UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E	assim	concluímos	nosso	breve	passeio	por	alguns	aspectos	de	relevo	deste	ins-
tigante	período	histórico:	a	Colonização	do	território	hoje	conhecido	como	Brasil,	e	a	subju-
gação	dos	povos	que	nele	fizeram	morada	–	nativos	e	africanos,	em	maior	ou	igual	medida.
Vimos	aqui	que	Portugal	não	se	aventurou	ao	negócio	da	exploração	dos	mares	
do	dia	para	a	noite.	Vimos	aqui	que	o	processo	de	unificação	nacional	português	lançou	
as	bases	para	a	busca	de	novas	rotas	marítimas	para	o	comércio	e	o	desenvolvimento	de	
novas	tecnologias	náuticas	para	a	paz	e	para	a	guerra.	Vimos	que	a	presença	portuguesa	
no	território	que	chamamos	Brasil	não	se	deu,	inicialmente,	de	modos	muito	distintos	de	sua	
presença	na	costa	oeste	da	África.	Vimos	que	a	conturbada	relação	de	Portugal	com	seus	
vizinhos	europeus	–	Espanha,	França,	Inglaterra	–	impactaram	seus	modos	de	desenvolvi-
mento	nacional	e	as	formas	de	gerência	de	suas	colônias.	Vimos	que	os	habitantes	nativos	
do	 território	 que	 chamamos	Brasil	 foram	 escravizados	 pelos	 portugueses.	 Vimos	 que	 a	
presença	dos	portugueses	no	território	que	chamamos	Brasil	pouco	a	pouco	remodelou	as	
formas	sociais,	a	natureza	e	as	dinâmicas	próprias	desse	ambiente.	
Vimos	que	Portugal	 experimentou	 formas	distintas	de	gerência	 desse	 vasto	 ter-
ritório.	Vimos	que	a	colonização	seguiu	o	modelo	de	exploração	 já	experimentado	pelos	
portugueses	na	África	–	com	a	exploração	da	cana	de	açúcar.	Vimos	que	foi	em	função	da	
demanda	do	processamento	de	cana	de	açúcar	que	Portugal	decidiu	 transplantar	seres	
humanos	da	África	para	trabalhar	forçadamente	nas	lavouras	de	cana	de	açúcar	america-
nas.	Vimos	que	o	tráfico	negreiro	foi	por	vezes	mais	valioso	que	a	própria	mercadoria	que	
produziam.	Vimos	que	a	descoberta	do	ouro	preto	nas	Minas	Gerais	mudou	o	caráter	da	
colonização	brasileira.	Vimos	a	 taxação	do	ouro	 foi	um	dos	 temas	de	maior	 importância	
na	formação	de	uma	resistência	à	influência	da	coroa	nos	assuntos	da	colônia.	Vimos	que	
o	avanço	de	Napoleão	forçou	a	família	real	lusitana	a	se	mudar	para	o	Brasil,	tornando-o	
um	reino.	Vimos	que	a	sua	chegada	transformou	o	horizonte	cultural	do	Brasil	e	lançou	as	
bases	para	a	formação	de	um	Império	brasileiro.	
E	com	 isso	concluímos	que	a	história	do	“Brasil	Colônia”	não	pode	ser	 reduzida	
a	apenas	um	ou	dois	fatores,	mas	sim	a	uma	gama	de	confluências	–	e	de	concorrências	
–	que	a	todo	tempo	puseram	em	disputa	o	horizonte	das	possibilidades	da	formação	de	
nossa	identidade	nacional	e	dos	caminhos	de	nosso	desenvolvimento	econômico,	social	e	
cultural.
Bons estudos!
34UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
LEITURA COMPLEMENTAR 
MESGRAVUS,	Laima.	História	do	Brasil	colônia.	São	Paulo:	Editora	Contexto,	2015
Escravidão,	exploração	colonial,	 choque	de	culturas,	pau-brasil,	 cana-de-açúcar,	
minas	de	ouro,	bandeirantes,	jesuítas...	São	muitos	os	temas	associados	ao	Brasil	no	pe-
ríodo	colonial.	Todos	eles	estão	presentes	neste	livro,	pequeno	apenas	em	extensão,	uma	
vez	que	é	rico	em	informações	e	interpretações.	A	historiadora	Laima	Mesgravis,	da	USP,	
consegue	a	proeza	de	ser	sucinta	e	abrangente,	utilizando	como	base	textos	de	cronistas,	
religiosos	e	autoridades	da	época,	além	de	trabalhos	históricos	produzidos	nos	séculos	XX	
e	XXI.	O	leitor	atento	ficará	surpreso	ao	encontrar,	já	na	Colônia,	traços	da	diversidade	do	
povo	brasileiro,	assim	como	a	base	de	nosso	sistema	hierárquico.	É	no	passado	colonial	
que	podemos	encontrar	os	melhores	e	piores	traços	da	nossa	cultura.	Obra	destinada	a	
professores	e	estudantes	da	área,	assim	como	a	todos	que	se	 interessam	pelas	nossas	
raízes	profundas.
35UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título:	“O	Povo	Brasileiro:	A	Formação	e	o	Sentido	do	Brasil”
Autor:	Darcy	Ribeiro
Editora:Global	Editora	
Sinopse:	 “O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do 
Brasil”	é	uma	importante	obra	de	Darcy	Ribeiro,	um	dos	maiores	
antropólogos	brasileiros.	Trata-se	de	uma	tentativa	de	compreen-
der	 quem	 somos,	 o	 que	 somos	 e	 a	 importância	 do	 nosso	 país.	
Este	clássico	retrata	o	inconformismo	pela	desigualdade	social	e	
percorre	a	história	da	formação	da	civilização	brasileira.
FILME/VÍDEO 
Título:	Os	Inconfidentes
Ano: 1972
Sinopse:Um	grupo	de	intelectuais	e	integrantes	da	elite	brasileira	
se	 une	para	 libertar	 o	 país	 da	 opressão	 portuguesa.	Dos	 enga-
jados	no	movimento,	Tiradentes	é	o	que	está	disposto	a	 levar	a	
revolução	às	últimas	consequências.
36
Plano de Estudo:
●	 O	ouro	de	Minas;
●	 A	produção	de	açúcar;
●	 Revoltas	sociais.
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Conceituar

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