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Professora Ma. Laís Azevedo Fialho Professor Me. Herculanum Ghirello Pires EduFatecie E D I T O R A História do Brasil Colonial Reitor Prof. Me. José Carlos Barbieri Vice-Reitor Prof. Dr. Hamilton Luiz Favaro Pró-Reitora Acadêmica Prof. Ma. Margareth Soares Galvão Diretor de Operações Comerciais Prof. Me. José Plínio Vicentini Diretor de Graduação Prof. Me. Alexsandro Cordeiro Alves da Silva Diretora de Pós-Graduação e Extensão Prof. Ma. Marcela Bortoti Favero Diretor de Regulamentação e Normas Prof. Me. Lincoln Villas Boas Macena Diretor Operações EAD Prof. Me. Cleber José Semensate dos Santos Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt CAMPUS SEDE Avenida Advogado Horácio Raccanello Filho, 5950 Novo Centro – Maringá – PR CEP: 87.020-035 SEDE ADMINISTRATIVA Avenida Advogado Horácio Raccanello Filho, 5410 CEP: 87.020-035 (44) 3028-4416 www.unifcv.edu.br/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 2021 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof.ª Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor-Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Prof.ª Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográ- fica e Gramatical Prof.ª Esp. Bruna Tavares Fernades Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP S586h Silva, Saulo Henrique Justiniano História moderna / Saulo Henrique Justiniano Silva, Herculanum Ghirello Pires, Willian Carlos Fassuci Larini. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 106 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-11-3 1. História Moderna – Século XVIII. 2. Iluminismo – Século XVIII. 3. Revolução Francesa. I. Larini, Willian Carlos Fassuci. II. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. IV. Título. CDD : 23 ed. 909.08 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP F438h Fialho, Laís Azevedo História do Brasil colonial / Laís Azevedo Fialho, Herculanum Ghirello Pires. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 91 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-42-7 1. Brasil colonial. 2. História – Brasil. 3. Escravos – Brasil. I. Pires, Herculanum Ghirello. II. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. IV. Título. CDD : 23 ed. 909.08 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTORES Professora Ma. Laís Azevedo Fialho ● Mestra em História, Cultura e Narrativas (PPH-Universidade Estadual de Maringá). ● Especialista em História da África e Cultura Afro-brasileira (DCS-Universidade Estadual de Maringá). ● Licenciada em História (DHI-Universidade Estadual de Maringá). ● Tutora Educacional no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). ● Professora Conteudista na UniFatecie. ● Experiência como professora de História da Rede básica de Educação em 2016. ● Membro do Grupo de Pesquisa História das crenças e ideias religiosas (HCIR/ UEM/CNPQ). ● Áreas de concentração: História das Religiões e Religiosidades com ênfase nas Práticas Afro-brasileira; História Cultural, Epistemologias decoloniais. Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/8724898233397030 Professor Me. Herculanum Ghirello Pires ● Doutorando em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2022). ● Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2016). ● Graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2013). ● Professor QPM/SEED no Colégio Ivone Castanharo (Campo Mourão). ● Professor Formador pela SEED-PR. ● Docente da Faculdade Santa Maria da Glória (SMG). ● Autor do livro Mulheres e Roupas: a Federação Brasileira pelo Progresso Femi nino na Belle Époque carioca (1922 - 1936). ● Pesquisador do Laboratório de Estudos em História, Moda e Cultura (LaModa/ UEM). Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/2654225579210202 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Saudações, prezado(a) estudante da disciplina História do Brasil Colonial! Produzimos este material com dedicação e comprometimento, a fim de proporcio- nar para você uma oportunidade de aprendizado sobre as bases históricas que viabilizaram o desenvolvimento do nosso país. Este material foi desenvolvido para mais facilmente introduzi-lo(a) ao horizonte das discussões históricas pertinentes à formação do Brasil, e é, portanto, de interesse dos(as) praticantes e estudantes das mais variadas disciplinas do saber científico – e, em especial, da História e das Humanidades. Iniciaremos nossa discussão com uma incursão teórica sobre a chegada dos portugueses no Brasil. Abordaremos diversos conceitos, definições e narrativas para com- preender nossa temática. Apresentaremos estudos que refletem sobre a Colonização como um processo histórico que ceifou muitas vidas – sobretudo indígenas e africanas. Trata-se de um dos capítulos mais violentos de nossa história nacional. Contudo, a discussão fez questão de se orientar tendo esses mesmos agentes históricos, os portugueses que colo- nizaram o Brasil, como fio condutor de um processo duradouro que, para o bem ou para o mal, não se daria, tal como se deu, não fosse a sua astúcia, perícia e persistência. Na segunda unidade nos dedicaremos a pensar sobre o ouro de Minas, a produção de açúcar e as revoltas sociais, processos econômicos e sociais que estão ligados ao período do Brasil Colonial (1500 - 1822). Na terceira unidade, compreenderemos as questões que envolveram os processos de escravização em nosso país: tanto dos nativos, indígenas, quanto dos negros. O proce- dimento, as justificativas da escravidão e as instituições que deram fomentação para esse mecanismo de trabalho forçado. Conceituando os diferentes tipos de escravidão: desde a antiguidade até a escravidão moderna. Por fim, veremos, na última unidade, sobre a chegada da Família Real e a Missão Francesa. Discutiremos sobre como esses acontecimentos deram início ao processo histó- rico que chamamos de fim do Brasil Colonial, considerando que a chegada da Família Real representou a remoção de todo aparato político da metrópole para a colônia. Esperamos que você possa se interessar pelas discussões aqui iniciadas! Bons Estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 A Chegada dos Portugueses no Brasil UNIDADE II ................................................................................................... 36 A Exploração das Terras Brasileiras UNIDADE III .................................................................................................. 53 A Escravidão no Período da Colônia UNIDADE IV .................................................................................................. 68 O Brasil Colônia e a Arte 3 Plano de Estudo: ● A chegada dos portugueses no Brasil; ● Do encontro à colonização; ● Da colônia ao reino do Brasil. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender as condições históricas que viabilizaramo processo de colonização portuguesa dos territórios brasileiros; ● Entender os processos históricos relativos ao desenvolvimento da colonização portuguesa nos territórios brasileiros; ● Conhecer os desafios enfrentados por Portugal no processo de colonização dos territórios brasileiros. UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Professora Ma. Laís Azevedo Fialho Professor Me. Herculanum Ghirello Pires 4UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil INTRODUÇÃO Saudações, prezado(a) estudante da disciplina “História do Brasil Colonial”. É com grande satisfação que te convido a participar desse incrível processo de conhecimento – e de reconhecimento – das bases históricas que viabilizaram o desenvolvimento desse nosso país. Esse material foi desenvolvido para mais facilmente introduzi-lo(a) ao horizonte das discussões históricas pertinentes à formação do Brasil, e é, portanto, de interesse dos(as) praticantes e estudantes das mais variadas disciplinas do saber científico – e em especial das Ciências Sociais e das Humanidades. A apresentação que você tem em mãos, busca se distanciar de leituras menos crí- ticas acerca da participação dos colonizadores no processo de ocupação do território que hoje conhecemos como Brasil e da subjugação dos povos que ali habitavam. É importante dizer que a Colonização foi um processo histórico que ceifou muitas vidas – sobretudo indí- genas e africanas. Trata-se de um dos capítulos mais violentos de nossa história nacional. Contudo, a apresentação que você tem em mãos fez questão de se orientar tendo estes mesmos agentes históricos, os portugueses que colonizaram o Brasil, como fio condutor de um processo duradouro que, para o bem ou para o mal, não se daria, tal como se deu, não fosse a sua astúcia, perícia e persistência. Neste instigante passeio, caminharemos sobre as pegadas de um dos episódios mais importantes de nossa História, examinando, juntos, alguns dos principais desdobra- mentos das ações infligidas pela coroa portuguesa assim como alguns de seus principais contratempos no processo de estabelecimento de uma colônia de exploração neste paradi- síaco território. E conheceremos um pouco melhor os nativos desta terra, forçados ao exílio e ao trabalho, e relembraremos os residentes africanos, abduzidos de seu continente ma- terno, e forçados ao trabalho. Mas buscando ter sempre em mente que, ao nos dispormos a pensar historicamente, é preciso estar atentos para entender que aquilo que acontece no mundo, de um modo geral, reflete aquilo que acontece no Brasil, de um modo específico, e vice e versa. Bons estudos! 5UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 1. A CHEGADA DOS PORTUGUESES NO BRASIL A História do Brasil, país de proporções continentais localizado, em sua maior parte, ao sul do hemisfério global, é normalmente contada a partir dos acontecimentos de 1500 d.C., ano da chegada das embarcações portuguesas no litoral baiano e de sua subsequen- te ocupação. Entretanto, tentar compreender o processo da colonização do território e da população brasileira a partir da chegada dos portugueses às praias da Bahia, é, de um modo geral, também perder de vista as condições que tornaram possível a realização des- se enorme empreendimento, assim como as origens históricas de certas particularidades desse nosso processo colonial em relação aos outros. Por essa razão, e com a intenção de melhor compreendermos o advento, de- senvolvimento e o fim da colonização no Brasil, iremos aqui considerar também aqueles acontecimentos históricos que, de um modo geral, permitiram que este nosso processo de colonização pudesse se desenvolver do modo como ele ocorreu – e pelas mãos destes agentes históricos que o empreenderam. E por isso iremos considerar, neste primeiro mo- mento, também algumas particularidades da história portuguesa no intuito de podermos mais facilmente compreender os caminhos da colonização que nos diz respeito, e por esse mesmo motivo, estarmos mais atentos(as) aos detalhes dessa incrível jornada. E isso porque, uma vez optado por conhecer a nossa história nos valendo da ciência da História, as causas e os efeitos dos acontecimentos, isto é, os motivos e os resultados dos acontecimentos históricos não poderão ser entendidos em termos absolutos e nem 6UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil tampouco como concebidos a partir do nada. Pois ao tomarmos a História como disciplina científica, buscamos também entender que são os “processos” da história e não as “fi- nalidades” o objeto de nossas preocupações. E é por essa razão que alguns leitores(as) menos familiarizados com as ciências humanas, exibem dificuldades de compreender a História – e de até mesmo valorizá-la. Por esse motivo, querido leitor(a), é imprescindível estarmos atentos(as) aos “processos” da História e não nos distrairmos mais com as supostas “finalidades” ou expli- cações afins que tentam essencializar a História, livrando-a daquilo que a faz, de fato, uma ciência. Assim, no capítulo que você tem nas mãos, discutiremos esse que é um dos mais importantes temas da História do Brasil: a Colonização de nosso território e de nosso povo pelas mãos dos portugueses, um processo histórico que lançou as bases para o estabele- cimento de nossa identidade nacional, pavimentando em nosso território o surgimento de um governo republicano próprio e a fundação de um país aos moldes europeus. 1.1 Portugal: bases históricas para um projeto colonizador. Portugal é uma pequena nação europeia dentre muitas outras. Sua única fronteira é contornada pela Espanha, que é vizinha da França e que, por sua vez, tem a ilha da Inglaterra (Reino Unido) ao norte, e a Bélgica, Alemanha, Suíça e a Itália à leste. Entre a Bélgica e a Alemanha, em um território não muito distante da França e Inglaterra, encon- tra-se a Holanda. É, portanto, em uma relativamente pequena extensão territorial que se encontra situada uma densa concentração de importantes nações europeias cujas histórias particulares por vezes se confundem umas com as outras. E isso porque o desenvolvimen- to de cada uma delas, em função da distribuição dos recursos naturais deste continente em particular, não se deu sem conflitos internos e externos recorrentes, conflitos que nos afetaram sobremaneira aqui no Brasil no curso de nossa colonização. Em termos geográficos, Portugal se difere dessas outras nações por localizar-se na esquina desse antigo continente, e, em função disso, por estar mais próximo das franjas do mar Atlântico do que essas outras nações, e por isso também mais próximo da América do Sul que os demais. Não por acaso, dada essa sua proximidade com a extremidade do continente europeu – um continente em que, alguns séculos antes de 1500 d.C., muitos europeus ainda acreditavam ser a extremidade da Terra como um todo –, fez de Portugal uma nação notória por sua vanguarda marítima e por seu conhecimento da leitura dos astros, através da astronomia. 7UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Mas a superioridade náutica de Portugal no período nos séculos XV e XVI, que lhe possibilitou inclusive encontrar a Bahia no ano de 1500 d.C., alimentou muitos exageros e lendas. Exemplo disso é a crença que pouco a pouco se estabeleceu na Europa de que haveria na região de Sagres, extremo sul do país, “[...] uma escola náutica fundada pelo Infante D. Henrique [irmão do regente D. Pedro], onde se agrupariam os mais variados sá- bios, de várias partes da Europa [...]” (GAMA, 2006), uma espécie de super liga de mentes brilhantes de toda a Europa, tanto que por muito tempo foi comum se afirmar que “[...] os progressos da marinha portuguesa só tinham sido possíveis graças à escola fundada por D. Henrique, uma vez que tinha sido na escola que os vários instrumentos náuticos, utilizados nos descobrimentos, foram fabricados eaperfeiçoados [...]” (GAMA, 2006, p. 1). FIGURA 1: NAUS PORTUGUESAS DE UM CAMINHO TORTUOSO (PORTUGUESE CARRACKS OF A ROCKY ROAD) – PTINIR, SÉQUITO DE JOACHIM – WIKIMEDIA COMMONS Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/40/Portuguese_Carracks_off_a_Rocky_Coast.jpg Mas, na realidade, a existência dessa e outras super escolas portuguesas nunca foram comprovadas, e importa dizer que a superioridade marítima de Portugal se deve a questões bem menos românticas, como, por exemplo, às motivações econômicas de seu tempo e às condições históricas de sua organização e desenvolvimento. Em primeiro lugar, vale a pena lembrar que a participação de Portugal no comércio europeu cresceu exponen- cialmente no século XV em função do enriquecimento de sua burguesia. Se considerarmos que a Espanha é o único território com o qual Portugal faz fronteira direta, a possibilidade de estabelecer novas relações de comércio – e de mantê-las – por vias do próprio interior do continente não era, no século XV, a mais viável das opções. https://en.wikipedia.org/wiki/pt:Joachim_Patinir https://en.wikipedia.org/wiki/pt:Joachim_Patinir 8UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Foi esta burguesia recém enriquecida que, ao desejar estabelecer novos laços co- merciais e expandir-se mercantilmente, inspirou a demanda de um aprimoramento marítimo ainda no século XV, desenvolvimento este que, décadas mais tarde, permitiria Portugal desenvolver tecnologias náuticas próprias, mais leves e ágeis para a locomoção através dos mares no intuito de estabelecer relações de comércio ao redor de todo o mundo conhecido. Outro fator importante que precisamos considerar é o enriquecimento dessa classe burguesa em Portugal não se deu ao acaso. Esse processo é fruto de uma inédita e propícia estabilização das forças políticas que concorriam no interior território de Portugal no século XIV, e que se unificaram no período posterior à chamada Revolução de Avis (1383-1385). Para entendermos o que essa revolução implicou para Portugal, de um modo direto, e para o Brasil, de um modo indireto, é preciso primeiro considerarmos que, embora possamos nos referir a Portugal como uma “nação”, um “território” e, eventualmente, também como “país”, estes termos não querem necessariamente dizer a mesma coisa, pois designam constituições de natureza histórica, frutos de processos por vezes longos e violentos tais como o que estudaremos aqui à respeito da “Colonização” do território brasileiro. Em meados do século XIV, por exemplo, a quase dois séculos do “descobrimento” do Brasil, Portugal ainda não era sequer um reino unificado. Foi por meio da chamada “Revo- lução de Avis”, um dos mais importantes episódios da história de Portugal, que a monarquia portuguesa conseguiu finalmente se centralizar, unificando o norte e o sul da nação e, ao fazê-lo, dando origem ao que sabemos ser hoje o primeiro “Estado Nacional” da história da Europa. Antes deste importante episódio, Portugal se encontrava frequentemente à mercê do reino de Castella, seu mais forte (e único) vizinho – situado no território que chamamos hoje de Espanha. E é justamente em razão da influência do reino de Castela sobre Portugal que acontece a chamada “Revolução de Avis”, em um período de enorme crise política. Trata-se de uma complicação pertinente aos acontecimentos políticos dessa épo- ca, referentes a conturbada sucessão real conduzida pela dinastia1 afonsina, que havia se estabelecido no poder desde a independência de Portugal, em 1139 d.C., quando os portugueses conseguiram pôr fim à ocupação Moura em seu território. Desse modo, o período compreendido como “Revolução de Avis”, evento que se desdobrou após a morte de D. Fernando I, em função de sua esposa, a rainha Leonor Teles, ao tornar-se regente de Portugal aproximar-se demais ao reino de Castela, e, pela lei, deve permanecer como regente até que sua filha de 11 anos – já prometida em casamento ao rei de Castela naquela altura – viesse a conceber um filho homem e ele fizesse 14 anos de idade. 1 Uma dinastia diz respeito ao período histórico em que os descendentes de uma mesma linhagem ocupam o posto de realeza em um determinado reino. 9UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Temendo a influência de Castela sobre os assuntos de Portugal, tanto por parte da rainha Teles quanto por parte de sua filha, D. Beatriz, em função da já presente ameaça de anexação territorial, dissidentes portugueses conspiraram contra a família real, levando o rei de Castela a ordenar uma invasão de tropas em território português, tomando a cidade de Lisboa, mas não sem encontrar uma sólida e efetiva resistência portuguesa. Nesse sentido, a ajuda francesa recebida pela parte de Castela poderia ter sido o fator crucial para a sua vitória, não fosse o aporte de tropas inglesas auxiliando as tropas portuguesas na restituição de seu território. Além disso, as estratégias de guerra empreendidas pelos militares locais que, diferentemente dos invasores, conheciam bem o território e as suas debilidades, foram um fator crucial para a expulsão dos inimigos estrangeiros. Com a vitória de Portugal, e com o abatimento das tropas ocupantes – vítimas de doenças e derrotas militares –, o mestre da região de Avis, é coroado rei de Portugal, e dá-se início a uma nova dinastia, a dinastia de Avis. Com a nação unificada sob a figura de um novo rei, chamado de D. João I de Portugal, Portugal supera algumas de suas debilidades e se consolida como “nação”, e o resultado desse processo a médio e longo prazo foi a possibilidade de desenvolver-se internamente por meio da atividade política e mercantil, garantindo assim à classe abastada urbana que se voltava ao comércio naquele período, os chamados “burgueses”, uma im- portante e inédita prosperidade. Desse modo, tendo-se constituído “nação” em resposta ao ataque perpetuado por seu único vizinho, Portugal se vê inspirado a consolidar a estratégia de desenvolver novas rotas de comércio marítimos e a atualizar aquelas que já existiam, despontando-se, ao passar dos anos, como verdadeiro exemplo de domínio e de desen- volvimento de técnicas náuticas – aprendidas a muitos séculos com os genoveses italianos mas nunca desenvolvidas tão efetivamente quanto nesse período. Por isso é importante destacar que grande parte desse desenvolvimento comercial e político de Portugal se deu também quanto aos tipos de embarcações utilizadas por eles nesse período, em suas tantas jornadas pelos mares. A mais conhecida delas – e, argumen- tavelmente, também a de maior importância para o “descobrimento” do Brasil – é a chamada “Caravela”, um modelo aprimorado de uma já existente embarcação, de velas arredondadas, mais consistente e capaz de avançar em situações adversas. A seu respeito destaca-se o fato de ela não ser um veículo de reconhecimento, como muita gente imaginava: A dimensão e forma do casco tornavam esta caravela incapaz como car- gueiro para viagens de longa distância. Em contrapartida, o aparelho e as qualidades marinheiras adequavam-se a missões navais. Tanto nos quadros navais referidos como nas viagens para o Oriente, como elemento principal de combate ou no apoio aos navios de maior porte, a caravela redonda ou de armada foi verdadeiramente o primeiro navio criado para a guerra do alto mar, muito provavelmente logo desde a viagem de 1500 (DOMINGUES, 2003, p. 70-81). 10UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Foi com uma frota de embarcações do tipo “Caravela” que os portugueses chega- ram à costa do Brasil em 1500 d.C., e é também em função de chegarem através de barcos como este que podemos inferir, de forma mais segura, aspectos de suas intenções ao se dirigirem rumo ao “desconhecido” na virada do século em busca de uma nova rota para as Índias. E se você já ouviu falar das “Caravelas”de Colombo, esses barcos mais ágeis trazidos pelos portugueses à costa da Bahia em 1500 d.C., há de se lembrar que elas não foram as únicas embarcações que eles trouxeram. Em realidade, sua frota era “[...] formada por nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos [...]” (BERNARDO, 2020), e, como as próprias “Caravelas”, “[...] a [chamada] nau [...] era [...] um transporte armado em guerra [...]” [MARTINS, 1988, p. 98) e podem ser melhor descritas se pensarmos que “[...] enquanto as caravelas mediam 22 metros de comprimento e transportavam até 80 homens, as naus podiam chegar a 35 metros e tinham capacidade para 150 tripulantes.” (BERNARDO, 2020). Uma combinação de veículos tão efetiva no manejo das águas quanto era efetiva nas estratégias de guerra. Em preparação a nossa abordagem definitiva acerca do desembarque dos portu- gues na Bahia no ano de 1500 d.C., nos resta ainda lembrar que tanto o reino de Portugal quanto o reino de Castela (Portugal e Espanha) se instituem como reinados em resposta às invasões de povos islâmicos vindos do norte da áfrica, chamados pelos cristãos de “mouros”. Estes, suplantando o regime romano local, nos tempos em que o Império de Roma estava se desgastando, permaneceram na região conhecida como península ibérica (a região de Portugal e de Espanha) por séculos a fio. Essa ocupação “[...] trouxe à região grandes avanços nas ciências, artes e humani- dades [...]” (ANDRADE, 2019, p. 1), também inspirou uma lenta, mas efetiva, organização local, coordenada por monarcas cristãos que se voltaram contra a ocupação desses povos, tanto em Portugal quanto em Castela, em busca de soberania e retomada de seus terri- tórios. De fato, o último esforço nesse sentido talvez tenha sido aquele empreendido em 1492, quando o último líder mulçumano, Boabdil, é derrotado em Granada (ANDRADE, 2019), no sul da atual Espanha, anos depois da “revolução de Avis” em Portugal, pelos católicos espanhóis. Embora inimigos, Portugal e Castela, se desenvolveram de modos até semelhantes, tendo também os mouros como obstáculo para o estabelecimento de uma nação autônoma e católica por vários séculos. Assim, ainda que por vias distintas, a Espanha, tal como Portugal, se aproximou das águas de tal maneira que vieram a realizar grandes feitos marítimos nesse mesmo período. Dentre estes, o maior: a chegada da frota espanhola às Bahamas, conduzidas 11UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil pelo genovês Cristóvão Colombo, nesse mesmo ano de 1492. Fato que nos ajuda a ilustrar a seguinte verdade: a de que a busca pelo descobrimento de novas rotas de comércio e, eventualmente, também de novos territórios, era um desejo compartilhado por muitas nações europeias, um desejo que refletia o horizonte das condições práticas deste tempo em particular. E o sucesso experimentado por Portugal nesse período desempenha, de um modo particular, um papel importante na renovação (e na ampliação) do interesse de grande parte das nações europeias quanto ao tema das navegações. Em 1500 d.C., por exemplo, e pelas razões citadas anteriormente, quando Portugal chegou ao Brasil, ele já havia se destacado das demais nações europeias por haver descoberto e ocupado portos importan- tes ao longo da costa oeste do continente africano – localizado, se imaginarmos uma linha reta, diretamente ao sul da península ibérica. O primeiro grande marco nesse sentido é a ocupação que seguiu a vitória militar portuguesa na cidade de Ceuta, no norte da África (hoje em dia, subordinada à Espanha), no ano de 1415. Em 1460, Portugal descobre o arquipélago de Cabo Verde e imediatamente em- preende a sua ocupação e subsequente povoamento. Uma prática que repetirá nos anos seguintes em outros pontos estratégicos da costa oeste do continente africano – tais como São Tomé e Príncipe e Cabo Verde –, até, eventualmente, viabilizar novas rotas para a colonização da costa oriental africana, mais ou menos no mesmo momento em que chega com as “Caravelas” e as “Naus” à costa baiana à dar sequência ao trabalho de colonização já iniciado na África. É na África também que os colonizadores portugueses passam a lucrar também na construção de mercado de escravos, na sistematização da prática de escravidão que será, anos mais tarde, maximizada em território brasileiro. 1.1.1 Recapitulando esta sessão: Até aqui, 1. vimos que Portugal se encontra na extremidade oeste da Europa, metaforicamente na “esquina” do velho continente. 2. vimos que Portugal foi, por muitos séculos, governado e ensinado pelos mouros mulçumanos. 3. Vimos que Portugal expulsou os Mouros de seu território e estabeleceu ali um reinado católico, em um primeiro momento, ainda não unificado. 4. Vimos que o reino de Portugal só pôde, de fato, se unificar em função da “Revolução de Avis”, que se desdobra em meio a crise de sucessão da dinastia afonsina. 5. Vimos que essa unificação portuguesa representou a instituição da primeira “nação unificada” europeia. 6. vimos que essa unificação promoveu uma prosperidade importante para a classe burguesa (mercantil) portuguesa da época. 7. Vimos que a pros- 12UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil peridade da classe mercantil portuguesa inspirou e patrocinou também os investimentos no desenvolvimento de novas rotas de comércio e de novas tecnologias marítimas (já que, por terra, eram restringidos por Castela e por sua aliada a França). 8. Vimos que essa busca por novos mercados atualiza também o caráter bélico das embarcações portuguesas, cada vez mais lançadas em rotas desconhecidas em busca de novos mercados. 9. Vimos que, em função dessa orientação marítima e comercial, os Portugueses chegaram primeiro à pontos estratégicos da costa ocidental da África – e, mais tarde, também aos da costa oriental –, e empreenderam interpostos e comércios, dentre as quais os que se voltaram para a escravidão dos povos nativos. 13UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 2. DO ENCONTRO À COLONIZAÇÃO Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo; e d’outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra da Vera Cruz. (CAMINHA, 1500, p. 2) A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 d.C. propiciou à colonizadores e colonizados uma surpresa, pois nem os indígenas brasileiros haviam visto, até então, seres humanos tais como os portugueses e nem tampouco os portugueses haviam visto seres humanos tais como os indígenas brasileiros. E por isso é importante dizer que embora os portugueses tenham saído vitoriosos e que seu projeto colonizante tenha sido posto em prática a despeito da resistência indigena, a complexidade das organizações sociais nativas não pode ser aqui minimizada. 2.1 Os nativos brasileiros Capistrano de Abreu (2009) fala de guerras ininterruptas entre as diferentes tribos desse território ao qual chamamos Brasil, desde antes da ocupação dos portugueses. E fala também sobre suas práticas ritualísticas, tal como a antropofagia – tipo muito especí- fico de canibalismo – da qual muitas tribos nativas eram adeptas naquele período. Sobre sua organização social, sabe-se que “[...] viviam em pequenas comunidades [...] [e que] andavam em contínuas mudanças [...]” (ABREU, 2009, p. 6). Cultivavam suas formas de espiritualidade e as estimavam mais que as preocupações cotidianas, tanto que “[...] o chefe [de cada tribo] apenas possuía autoridade nominal [...]” (ABREU, 2009, p. 6), uma 14UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil vez que era o poder espiritual e não o secular a sua legítima autoridade. “Acreditavam em seres luminosos, bons e inertes, que não exigiam culto, e [em]poderes tenebrosos, maus, vingativos, que cumpria propiciar para apartar sua cólera e angariar-lhes o favor contra os perigos [...]” (Idem, p. 10). E acreditavam também que os ancestrais familiares já falecidos influenciavam, protegiam e até avançavam os assuntos dos viventes. Além dessa relação com o sagrado, os povos indígenas desse território, por habita- rem as matas, e por levarem uma vida mais próxima das árvores, rios e fauna, “[...] tinham os sentidos mais apurados, e intensidade de observação da natureza inconcebível para o homem civilizado [...]” (Idem). Possuíam, portanto, uma relação muito particular com a natureza, isto é, com a ancestralidade, a linguagem, a terra, a flora e os bichos, e “[...] não lhes faltava talento artístico, revelado em produtos cerâmicos, trançados, pinturas de cuia, máscaras, adornos, danças e músicas [...]” (Idem), cultivando uma relação celebrativa para com a vida, e vivendo, de um modo geral, de modos muito diferentes daqueles experimen- tados pelos ocupantes portugueses. FIGURA 2 – RETRATO DE UMA FAMÍLIA CAMACÃ – DEBRET, JEAN-BAPTISTE – WIKIMEDIA COMMONS Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Famille_d%E2%80%99un_Chef_Camacan_se_pr%C3%A9parant_pour_une_F%C3%AAte.jpg Contudo, considerar que os indígenas viviam de modos bastante diferentes daque- les que lhes colonizaram, não basta para entender um pouco mais sobre as dificuldades experimentadas tanto pelos portugueses nesse primeiro momento, quanto pelos indígenas na duração do processo de colonização, uma vez que é preciso considerar também que eles próprios, na condição de primeiros habitantes deste imenso território, eram, de um modo geral, muito diferentes entre si. Viviam em meio a uma sociedade, maior, plural, muito diferente de tudo o que existia, em termos de sociedade, na Europa de 1500 d.C., e https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Famille_d%E2%80%99un_Chef_Camacan_se_pr%C3%A9parant_pour_une_F%C3%AAte.jpg 15UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil constituíam, em seu conjunto, uma imensamente rica e culturalmente abastada sociedade, sustentada por saberes que eram, muitos deles, desconhecidos aos europeus desse período. Como se pode supor, o tema da comunicação entre os invasores portugueses e nativos foi um desafio à parte. Haviam centenas de idiomas distintos. Nem todos os povos nativos mantinham relações com os demais, e aprender um desses idiomas não assegura- va a compreensão e o acesso do falante portugues ao arcabouço linguístico das demais. Entretanto, essa tarefa parece ter se facilitado muito através da descoberta de que haviam características similares entre a experiência linguística de alguns desses povos nativos e o conhecimento linguístico europeu, tal como nos esclarece Abreu, ao dizer que “[...] a abundância e flexibilidade dos supinos2 [de alguns idiomas nativos] facilitaram a tradução de certas ideias europeias [...]” (Idem) aos povos desta região. É essa percepção que leva os portugueses a compreender que muitos desses povos “[...] falavam línguas diversas, quanto ao léxico, mas [obedeciam] ao mesmo tipo: nome [+] substantivo [e] tinha passado e futuro com o verbo [...]” (Idem). Ao descobrirem a diversidade linguística desses povos nativos, os portugueses, pouco a pouco, vislumbraram também a complexidade de sua cultura e os desafios de sua submissão. Tanto que historiadores atestam a “[...] existência de cerca de 1400 povos indígenas no território que correspondia ao Brasil do descobrimento. [...] Povos de grandes famílias lingüísticas [...] com diversidade geográfica e de [complexa] organização social [...]” (OLIVEIRA; FREIRE, 2006, p. 21) somando, números absolutos, cerca de dois mil e quatrocentos milhões de indígenas espalhados pelos quatro cantos do território no instante do desembarque português nos portos baianos no ano de 1500 d.C. É curioso pensar que essa chegada – tímida, primeiro, e cada vez mais alarmante, depois – veio, pouco a pouco, a desarticular as estruturas, os modos de vida, os ecos- sistemas, etc., preservados por estas comunidades nativas ao longo dos séculos de sua ocupação, seja em função direta das guerras empreendidas pelos invasores europeus, ou em função da escravização por eles imposta aos nativos ou mesmo pelo impacto das doenças europeias trazidas nas embarcações (OLIVEIRA; FREIRE, 2006). Nesse sentido, muitas foram as estratégias adotadas pelos povos originários no período posterior à chega- da dos portugueses para resistir o avanço de sua empresa colonizadora, “[...] entre as quais a promoção de grandes deslocamentos para escapar à escravidão e às conseqüências das moléstias trazidas pelos europeus [...]” (OLIVEIRA; FREIRE, 2006, p. 24). 2 Na gramática formal, os supinos indicam uma forma verbo-nominal usada em alguns idiomas. 16UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 2.2 Distintas formas de se conceber o ser indígnea: embates de identidade. Evidentemente, essa pluralidade linguística, cultural e genética, não foi prontamen- te compreendida pelos portugueses e nem tampouco recebida com a melhor das intenções. Se nos voltamos para um documento importante desse primeiro encontro, a “Carta de Pero Vaz de Caminha”, escrita em solo brasileiro no ano de 1500 d.C., vemos que ela nos relata aspectos peculiares acerca da percepção dos invasores portugueses em relação à recepção desses povos nativos. Trata-se da descrição oferecida ao rei de Portugal acerca desses “novos” povos e desta terra “nova”, encontrada pelos navegantes portugueses no instante de seu desembarque na Bahia: A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. [...] O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço [...] mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram- -no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados. (CAMINHA, 1500, p. 5) Essa breve descrição de Pero Vaz de Caminha, reforça a imagem que alguns por- tugueses fizeram dos índios como seres idílicos, idealizados, demasiadamente inocentes, isto é, como crianças crescidas. Mas é em meio a esta concepção do indígena como um ser puro e intocado que se revelam também aqueles aspectos mais diretos acerca das intenções dos portugueses na ocupação dessas terras: o desejo de instrumentalizá-la – e também à seus habitantes – na busca por bens materiais, como o ouro e a prata, para o enriquecimento próprio dos exploradores, da coroa e da burguesia portuguesa, de um modo geral. Evidentemente, esse imaginário sofre drásticas alterações em função dos atritos provocados pelo avanço da ocupação portuguesa que, mais e mais encontravam resis- tência da parte dos nativos, tanto que a ideia desse nativo como sinônimo pureza e de desprendido material não tardou em ser substituída por versões menos favoráveis a sua preservação. Nesse processo, também a igreja desempenhou um papel importante na for- mulação de uma concepção acerca dessa humanidade tropical, de modo que, “[...] ao final, entrechocavam-se duas concepções sobre a humanidade dos gentios [...]”(OLIVEIRA; FREIRE, 2006, p. 28): uma primeira, defendida pelos prosélitas portugueses, dizia que os indígenas eram, por fim, seres “[...] degradados, vivendo como selvagens e canibais, 17UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil mas possuíam todo o potencial para se tornarem cristãos [...]” (Idem), e uma segunda, defendida pelos mais gananciosos dentre os ocupantes desse novo mundo, diziam que “[...] eram seres inferiores, animais que não poderiam se tornar cristãos, mas podiam ser escravizados ou mortos [...]” (Idem). Deste embate de perspectivas acerca da identidade deste povo nativo, desdobram- -se conflitos e contradições que moldaram o caráter da colonização portuguesa em solo brasileiro. Ora direcionando-se pelas diretrizes dos que os viam como seres passíveis de redenção, ora munindo-se das teses dos que os tinham como seres sub-humanos, mere- cedores de tratamento equivalente ao que se destinava aos animais. E, embora tanto essa primeira quanto essa segunda perspectiva acerca desse nativo tropical tenha contribuído, vezes mais vezes menos, para o avanço da empresa da Colonização em terras “brasileiras”, importa dizer que elas também refletem a pluralidade de valores e de objetivos encontrados nesses colonizadores. Pois eram, antes de tudo, padres, homens de guerra, homens do comércio, mer- cenários, escritores, marinheiros experimentados, etc., distantes de sua terra pátria, des- conhecedores do território, surpreendidos com desafios inéditos e encarregados de uma tarefa que se revelaria maior que as empreendidas por Portugal em momentos anteriores. E por isso dizer que os processos da colonização não se deram sem grandes contradições e com muitos improvisos não é de nenhum modo desrespeitoso ao consistente trabalho de ocupação e de exploração que, de maneira exitosa, tomou para si os recursos naturais e a força física de tantos nativos, seja por vias da escravidão ou da guerra. 2.2.1 Recapitulando esta sessão: Até aqui, 1. vimos que os povos que os portugueses encontraram no “novo” mundo, levavam uma vida frugal, voltada para comunidade. 2. Vimos que eles se mudavam com frequência. 3. Vimos que a espiritualidade era um fator determinante em suas sociedades. 4. Vimos que eles viviam em harmonia com a natureza. 5. Vimos que eles conheciam o território tão bem que desenvolveram técnicas e saberes desconhecidos pelos portu- gueses. 5. Vimos que havia centenas de diferentes línguas sendo faladas pelos nativos desse território no momento em que os portugueses chegaram em 1500 d.C. 6. Vimos que algumas dessas línguas, mediante estudo e investigação, tornaram-se mais ou menos co- nhecidas pelos portugueses. 7. Vimos que havia cerca de 2.400.000 mil indivíduos vivendo nesse território em meados de 1500 d.C. 8. Vimos também que havia mais de 1400 povos indígenas distintos nesse território no momento da chegada dos portugueses. 9. Vimos que 18UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil os portugueses os tomaram primeiro como seres imaculados, passíveis de lhes ajudar na tarefa de explorarem o seu território. 10. Vimos que as visões dos portugueses acerca do caráter desse nativo mudaram bastante ao longo dos anos. 11. Vimos que as diferentes visões acerca do índio neste período da Colonização refletiam as diferentes perspectivas compartilhadas pelos portugueses acerca do caráter mesmo da Colonização desses povos e territórios. 2.3 A questão da exploração do território A esta altura, sabemos que o Brasil não foi necessariamente “descoberto”, uma vez que já existiam aqui mais de dois milhões de habitantes no período da chegada dos portugue- ses na Baía em 1500 d.C. Mas sabemos também que as formas de organização dos nativos deste território eram bastante diferentes das formas de organização portuguesas. Assim, experimentados como eram no comércio marítimo e, naquela altura, pouco experimentados na arte do desbravamento terrestre, os portugueses se mantiveram primeiro nas regiões costeiras do continente, instaurando portos e estabelecendo novas rotas de abastecimento. De pouco em pouco, o empreendimento da ocupação portuguesa tornou-se exito- so, e com o sucesso desse longevo trabalho, nações rivais, como a França, a Holanda, por exemplo, decididas a se beneficiar dos recursos dessa “nova” terra, organizaram investidas ao longo da costa. Segundo Abreu, “[...] Portugal considerava a nova terra propriedade direta e exclusiva da coroa, pelas concessões papais, pelo tratado de limites concluído com a Espanha e pela prioridade do descobrimento [...]” (2009, p. 28), que, em função de um acordo de múltiplas partes, beneficiava o rei, a igreja e aqueles que empreendiam o trabalho mais direto, de modo que “[...] a presença dos intrusos prejudicava-os a todos os respeitos: nos mercados europeus, oferecendo os gêneros a preços mais vantajosos [...] e levando-os diretamente aos mercados consumidores [...]” (Idem). Por essa razão, percebe-se que já desde os primeiros anos de ocupação portugue- sa, a questão dos impostos – chamados de “quintos” – fazia-se patente no desenvolvimento da empresa da colonização. Os franceses, independentes das restrições da coroa de Por- tugal, vendiam diretamente aos compradores, ao passo que os portugueses, restritos pelas leis da coroa, viam-se ameaçados pela concorrência a todo o tempo. Para complicar ainda mais essa dinâmica, os povos nativos que ocupavam as re- giões onde os franceses aportaram – i.e. o litoral nordeste do país –, nutriam animosidade para com os povos que auxiliaram os portugueses nas regiões mais ao sul. E por essa ra- zão “[...] os povos Tupinambás se aliaram constantemente aos franceses e os portugueses 19UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil tiveram a seu favor os Tupiniquins [...]” (idem), e essa colaboração entre nativos e europeus equilibrou o conflito entre portugueses e franceses de tal maneira que por muito tempo não se soube ao certo “[...] se o Brasil ficaria pertencendo aos Peró (portugueses) ou aos Maïr (franceses) [...]” (Idem). Até que, em função de reforços portugueses, os ibéricos finalmente reaveram o território ocupado pelos franceses, expulsando-os. Esse processo permitiu a Portugal compreender as fragilidades dos processos de ocupação desses territórios, inspirando-os assim a rearranjar as divisões de sua jurisdição e as formas de seu projeto colonial, ao mesmo tempo em que, em sua dimensão econômi- ca, o chamado ciclo do pau-brasil, iniciado nos primeiros anos de chegada aos portos da Bahia, se expandia, e que seus primeiros experimentos com a plantação de cana de açúcar em solo americano pareciam suficientemente exitosos. Logo, foi no intuito de prevenir-se de futuros embates, de assegurar a manutenção da integridade de seu novo território e a diminuição dos assaltos e dos desvios dos bens da coroa, que Portugal decidiu redirecionar e redimensionar seus esforços no território por intermédio da implantação das Capitanias e a inicialização de um efetivo processo colonizador. 2.3.1 As Capitanias Hereditárias Assim, no intuito de não cometer os mesmos equívocos, a coroa portuguesa de- cidiu que o território brasileiro seria entregue à responsabilidade de nobres de confiança da coroa, reforçando sua influência direta e assegurando que se garantisse aos imigrados popular as diversas regiões do território recém “descoberto”, de modo a também evitar que essas terras ficassem novamente desassistidas e, portanto, expostas aos invasores europeus. Tal opção designava, a título de novidade, a divisão geográfica de toda a região continental em 15 lotes paralelos – que constituíam 14 capitanias –, resultando em um modelo de ocupação e de colonização inspirado naquele anteriormente implantado pela coroa portuguesa nas regiões africanas dos Açores e Madeira. As capitaniaseram, portanto, de responsabilidade direta do próprio rei, e eram confiadas aos cuidados de 12 nobres de sua confiança. A estes, o próprio rei emprestava uma porção de seu poder e autoridade, sendo permitido a eles representá-lo em assuntos tanto de ordem econômica quanto jurídica. Desse modo, ao zelar pelas terras do rei em seu nome, era permitido aos beneficiários supervisionar desde a cobrança de impostos desses novos colonos quanto a consolidação de um mercado interno. Do montante coletado por meio dos impostos, uma porção era repassada ao rei e uma outra era mantida pelo benefi- ciário para usufruto próprio (CALDEIRA, 2017, p. 51), assegurando a fidelidade do mesmo 20UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil à coroa, ao mesmo tempo em que alimentava, por toda a costa recém descoberta, indícios de descontentamentos. Pois, em linhas gerais, as capitanias hereditárias faziam dos beneficiários a maior autoridade judicial e administrativa da porção de território à eles designada. Tanto que, ao longo dos anos, esses nobres beneficiários acabaram sendo, na realidade, importantes pi- vôs da efetividade da empresa da colonização portuguesa, por justamente organizarem, no exercício de suas funções, as formas sociais desse “novo” sistema, tendo inclusive o poder de, em nome do rei, nomear funcionários, aplicar sentenças, supervisionar assuntos rela- cionados à escravidão, etc. Em última instância, a mordomia real confiada a estes nobres em muitos casos se estendia também a seus filhos, razão pela qual, em termos históricos, tais “capitanias” foram também chamadas de “hereditárias” por muitos historiadores. 2.3.2 Os Governos Gerais De um modo geral, as capitanias hereditárias não lograram êxito. Diante do risco de revertérios nos avanços logrados pela coroa, Portugal instituiu um novo sistema ad- ministrativo para sua colônia: o chamado “governo geral”, sancionado por D. João III, em 1548. Nele, governadores gerais, apontados pela coroa, desempenharam a gestão dos recursos e a aplicação das leis no “novo” território, intermediando as relações entre colônia e metrópole, das regiões norte e do sul desse “novo” território. Foram exemplos notórios de governadores gerais: Tomé de Souza, Duarte da Costa e Mem de Sá. E, a despeito dessa mais efetiva organização, os governos gerais vigoraram até serem extintos com a chegada da família real ao Brasil no ano de 1808. 2.3.3 A cana de açúcar Quando os portugueses perceberam que o plantio da cana de açúcar era a mais lucrativa das iniciativas empreendidas por eles em solo americano, decidiram focar seus esforços nessa modalidade de exploração de recursos, a despeito do sucesso das demais tentativas. Assim, tendo colonizado regiões africanas por mais ou menos um século, apren- deram o passo a passo do difícil processamento do açúcar, e, de um modo geral, levavam vantagem em relação às demais nações colonizadoras em meados de 1500 d.C. Entretanto, o empreendimento açucareiro demandava os esforços de uma mão de obra abundante e minimamente especializada, gerando uma demanda de trabalho intenso e em quantidades muito maiores do que as que os portugueses, sozinhos, poderiam sanar naquele momento. 21UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil FIGURA 3 – UM ENGENHO DE AÇÚCAR EM PERNAMBUCO COLONIAL – POST, FRANZ – WIKIMEDIA COMMONS Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Post_-_Engenho_de_Pernambuco.jpg Diante dessa necessidade, optaram pela modalidade da escravidão, impondo primeiro aos nativos indígneas o fardo da obrigatoriedade do trabalho e da suspensão de todas as liberdades individuais e coletivas, enclausurando e maltratando os que foram apreendidos ao trabalho, domesticando-os, por fim, ao trabalho forçado que os europeus, em virtude do pouco insentivo à imigração, não julgaram vantajoso o suficiente para ser realizado por eles naquele momento (FAUSTO, 1996). Entretanto, ao menos em larga escala, a escravidão indígnea foi, pouco a pouco, desaconselhada pelos portugueses. Em primeiro lugar, isso se deu porque os indígenas, em meados do século XVI, já haviam sido considerados súditos de Portugal. Em segundo lugar, a resistência indígnea à escravidão era, em muitos sentidos, efetivada pelo conheci- mento desses povos acerca dos próprios territórios e da cotidianidade da relação de muitos deles com a guerra. De todos os modos, quer em função da prática, quer em função da percepção que se tinha desses povos da parte dos portugueses, a escravidão indígena foi periodicamente substituída por uma modalidade inédita de transposição forçada de mão de obra, à qual conhecemos simplesmente pelo nome de “Escravidão” ou “escravização dos povos africanos”. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Post_-_Engenho_de_Pernambuco.jpg 22UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 2.3.4 A escravidão africana A relação de Portugal com a costa ocidental da África era, à essa altura, exitosa e longeva. O sucesso dos empreendimentos portugueses na descoberta de novos portos e rotas os levaram a conhecer também aspectos da complexa relação entre os povos nati- vos africanos, suas formas de trabalho, comércio e estruturação social. Tanto que quando os portugueses chegaram à Bahia em 1500 d.C., eles já haviam iniciado processos de colonização em territórios africanos e instituído relações mercantis em regiões antes des- conhecidas pelos europeus. Por essa razão, a ideia de se valer da mão de obra (forçada) africana não foi uma solução tão difícil de ser implantada. Vindos de regiões diferentes do grande continente, sem sequer conhecer os idiomas uns dos outros, alheios à geografia desse “novo” continente, os seres humanos africanos escravizados eram trazidos ao trabalho em condições precárias através de embarcações de carga, para serem mais facilmente condicionados ao exercício laboral pelas mãos dos senhores e seus capatazes. Sozinhos, exaustos e desorientados, os africanos abduzidos renderam ao plantio e processamento da cana de açúcar os seus mais altos índices de produção e revenda. Em condições normais, cerca de 20% dos escravizados abduzidos na África, trazidos ao “novo” mundo, morriam ainda na transição do Atlântico. Em face a tanta dificuldade, a resistência dos povos africanos abduzidos e trazidos da África para o trabalho forçado nas lavouras portuguesas em solo americano, se deu de modos efetivamente modestos, ainda que por demais emblemáticos. Nesse sentido, o mais bem sucedido desses esforços talvez seja a formação dos chamados “Quilombos”, organi- zações estabelecidas e geridas por escravizados que conseguiram escapar ao domínio dos senhores, e que ofereciam abrigo e amparo a todos os que necessitavam de proteção, quer fossem escravizados fugidos ou não. De todo modo, a presença africana no Brasil contribuiu sobremaneira para a forma- ção de uma identidade nacional e tornou-se indissociada de todos os processos políticos, sociais e culturais que dizem respeito aos processos de formação da nação brasileira. Por hora, cabe ainda lembrar que os escravos africanos não apenas viabilizaram o sucesso das lavouras de cana de açúcar no período colonial, mas também permitiram que o próprio comércio do tráfico de escravos fosse, muitas vezes, mais lucrativo até do que os frutos da produção gerada pela mão de obra escrava (FAUSTO, 1996). 23UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil FIGURA 4 - MERCADO DE ESCRAVOS NO RECIFE – WAGNER, ZACHARIAS (1637-1644) – WIKIMEDIA COMMONS Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil#/media/Ficheiro:Zacharias_Wagner_-_Mercado_de_escravos_no_Recife.jpg 2.3.5 A expulsão dos holandeses Com a economia assegurada por meio da expansão colonial e do tráfico de escra- vos, Portugal enfrentou ameaças importantes à sua hegemonia no período de desenvolvi- mento de seu projeto colonial. A maissignificativa delas, talvez tenha sido a presença dos Holandeses, desafiando o domínio português na costa nordeste do território, no intuito de tomar para si postos estratégicos, fazendas açucareiras e dominar o comércio de escravos. Após serem expulsos da Bahia pelos portugueses, assentaram-se em Pernambuco, então capitania de Portugal, ao mesmo tempo em que empreenderam campanhas para tomada de postos no continente africano, tornando-se assim concorrentes diretos dos portugueses em ambos frontes. Na busca pela expulsão definitiva desses invasores holandeses, os portugueses tiveram, pela primeira vez, a ajuda mútua de indígenas e negros no processo de reaver os domínios sequestrados por estes em sua tentativa de colonização do nordeste brasileiro. Esse processo ficou conhecido por muitos como a primeira manifestação de um sentimento de brasilidade (FAUSTO, 1996), em função do engajamento de tão distintos agentes em prol de um projeto comum de nação. Diante desses esforços, os Holandeses, militarmente vencidos, se viram impossibilitados de dar continuidade a seu processo colonizador em território brasileiro, e abriram caminho para a retomada das terras por parte da coroa por- tuguesa. 24UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 2.3.6 A Expansão territorial do século XVII Em função do sucesso da colonização, Portugal, nação de notória por suas in- vestidas marítimas, se viu obrigada a também expandir seus domínios cada vez mais em direção ao interior do continente. Desse modo, se no primeiro século de sua ocupação nas terras tropicais americanas, os portugueses permaneceram majoritariamente em regiões costeiras, o século XVII é marcado pela expansão territorial desses invasores europeus em direção às terras centrais do “novo” território. Processo que se deu tanto pela expansão da pecuária – e a subsequente demanda de novos pastos –, seja pelo desenvolvimento de um mercado consumidor interno – e a necessidade de circulação de bens de consumo –, seja pela busca de metais preciosos – na busca de possíveis jazidas minerais –, seja pelo exercício da catequese – e a crença na redenção dos indígenas –, etc. Mas sempre com o intento de recuperar ou conquistar territórios ocupados por terceiros, sejam eles nativos indígenas ou invasores europeus concorrentes. Nesse período, expedições foram organizadas pela coroa e designadas regiões tão distintas quanto a região amazônica, São Paulo e a região sul do atual Brasil. Em cada uma, um esforço distinto em prol da conquista, por meio de distintas técnicas e estratégias. Na região do Amazonas, a fundação de vilas e agrupamentos favoráveis a coroa, além da exploração de ervas medicinais abundantes na região. Em São Paulo e região, empreendida pelos sertanistas “bandeirantes”, as expedições buscavam encontrar ouro e outras pedras preciosas, aprisionar indígenas para o trabalho além de recuperar escravizados fugidos. No sul, a criação de gado foi o traço mais emblemático, e assegurou a aproximação dessa região às demais no período da exploração mineral. Os esforços de bandeirantes e colonos no sentido de desbravar o interior desse território, adaptando-o às necessidades econômicas da coroa de Portugal, lançou as bases para a grande miscigenação que aconteceu em meados do século XVII (FAUSTO, 1996). Entretanto, contribuiu também para a gradual domesticação deste território, adaptando aspectos de sua fauna, flora e estruturas referentes às sociedades nativas aos desígnios impositivos desse grande projeto da Colonização. 25UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 2.4 Resumo da Sessão Nesta seção, 1. vimos que o Brasil não foi de fato “descoberto”, uma vez que haviam mais de 1400 povos habitando este território no momento da chegada dos portugueses. 2. Vimos que Portugal considerava este território sua propriedade exclusiva. 3. Vimos que muitos nativos indígenas foram escravizados. 4.Vimos que o sucesso do empreendimento de Portugal atraiu os olhares de outras nações europeias. 5. Vimos que a animosidade pré- -existente entre algumas tribos nativas favoreceu o embate entre as potências estrangeiras em solo americano. 6. Vimos que a presença de nações estrangeiras europeias em solo brasileiro representou um problema para os portugueses, uma vez que livres do compromis- so para com os impostos da coroa portuguesa, franceses e holandeses poderiam vender os mesmos produtos a preços mais baixos. 7. Vimos que, em um primeiro esforço em prol da colonização deste imenso território, Portugal instituiu as chamadas capitanias hereditá- rias, centralizando o poder legislativo e comercial nas mãos de poucos amigos. 8. Vimos também que essa tentativa de organização, de um modo geral, não obteve êxito. 9.Vimos que Portugal instituiu os chamados “Governos Geral” como alternativa aos processos das capitanias hereditárias. 10. Vimos que a cana de açúcar tornou-se, muito rapidamente, um dos mais lucrativos empreendimentos do chamado Brasil colônia. 11. Vimos que para tanto, os portugueses valeram-se do conhecimento que adquiriram no continente africano. 12. Vimos também que os portugueses, por motivos práticos, optaram por substituir a mão de obra escrava dos indígenas por aquela de trabalhadores abduzidos na África e trazido à força para cá. 13. Vimos que esse processo de escravização não se deu sem resistência. 14. Vimos os holandeses ocuparam o território norte do Brasil colonial. 15. Vimos que seu progresso foi interrompido pela combinação de forças organizada por soldados, negroes e indígenas. 16. Vimos que após um século de ocupação das regiões costeiras, Portugal decide finalmente expandir-se às regiões interioranas de seu “novo “ território, por meio das expedições. 26UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 3. DA COLÔNIA AO REINO DO BRASIL Em meados do século XVI, tendo ocupado grande parte da região andina, os “con- quistadores” espanhóis regozijaram-se com a descoberta das minas de Potosí, na atual Bolívia: terra de prata em abundância. Essa descoberta reacendeu junto aos portugueses o desejo de explorar os minérios da terra “nova”, lançando ao interior desse misterioso continente. Um desejo que já se fazia evidente, tal como vimos ao início do capítulo, no registro oferecido por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal em 1500 d.C. Entretanto, este desejo só pôde ser realizado em função da expansão territorial empreendida pelos bandeirantes na região sudeste do território não mapeado. 3.1 O ouro mineiro E se a prata de Potosí já suficiente para alimentar os sonhos e as ambições de monarcas, mercenários e exploradores portugueses no início do século XVII, a descoberta das chamadas Minas nas regiões das montanhas – chamadas depois de Minas Gerais – revolucionou o caráter das relações sociais e econômicas no período do “Brasil Colônia”. Tanto que o ouro das Minas Gerais já circulava no reino de Portugal no final do século XVII. A descobertas das minas, promoveram uma verdadeira corrida do ouro na região e assentamentos de características urbanas passaram a se desenvolver na região que logo se tornou mundialmente famosa pelo “ouro preto”. 27UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil No início do século XVIII começam as primeiras revoltas locais contra o imposto chamado de “quinto”, aplicado pela Coroa Portuguesa sobre a coleta do ouro. Um esboço consistente daquilo que viria a caracterizar este como um século de levantes e revoltas contra a coroa. Em 1789, a chamada “Inconfidência Mineira”, ilustra bem aquilo que seria o restrito horizonte das opções enfrentadas por aqueles que se voltavam contra os desígnios da Coroa portuguesa naquela época, quando a “conspiração” executada por representan- tes da sociedade mineradora no intuito de libertar Minas Gerais das obrigações financeiras para com portugueses.Assim, a fim de torná-la exemplo para insurgentes de todo a parte, toma-se Tiradentes e o executa publicamente, exibindo as partes de seu corpo postuma- mente em distintos rincões do território, a fim de aplacar o desejo revolucionário da geração que tornou possível ao reinado lucrar com as antes impensáveis minas de ouro de Vila Rica, “Ouro preto”. FIGURA 5 – ART INSIDE THE CATHEDRAL BASILICA OF OUR LADY OF THE PILLAR – CAPITOLIO ARTS Ademais, como nos ensina Fausto (1996), a descoberta do ouro em Minas Ge- rais possibilitou aquilo que, até então, pareceria ser a mais improvável das suposições: a realidade de uma maciça imigração de europeus brancos, homens e mulheres, vindos da Europa para habitar o território americano gerenciado por Portugal. E isso é importante por duas razões: primeiro porque em todo o período colonial, seja em função da produção e exportação de pau-brasil ou de açúcar, este território não pareceu despertar o interesse desses povos ditos civilizados no que diz respeito à possibilidade de imigrar para ele. Foi preciso, primeiro, descobrir as Minas Gerais, e a promessa de um futuro próspero e aces- sível à maioria dos que ali se atrevessem a empreender. 28UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil 3.2 A Chegada da Família Real Portuguesa Como ilustrado acima, os anos finais do século XVIII foram marcados por movimen- tos contrários à dominação portuguesa, dentre os quais a chamada “Inconfidência Mineira” é, por várias razões, o mais célebre. A existência – e a recorrência – de movimentos afins, comprovaram que, no nível da economia, já estava ficando claro: havia um profundo des- gaste nas bases do sistema colonial português, e ele precisa se reinventar sob o risco de não mais existir. No fim do século XVIII, após quase trezentos anos de ocupação forçada e domínio sobre as terras e os povos originários americanos junto aos agora abduzidos do continente africano, o panorama social, natural, econômico e cultural dessas terras já tinha pouco ou quase nada que ver com aquele de 1500 d.C.. A economia colonial sofreu um baque irremediável na medida em que a Inglaterra começava a se tornar mais e mais relevante no cenário internacional, tornando-se uma grande potência no mundo, ao justamente deixar de se guiar pelo mercado da venda e troca monopolista de escravos no mundo. Pois passaram a se interessar por um outro tipo de mão de obra, a mão de obra “livre”, que, para todos os efeitos, lhes parecia ser ainda mais proveitosa em termos de custo benefício e lucro. Essa tão radical guinada, imputou ao sistema colonial, de um modo geral, a incerteza de sua própria continuidade. Pois, no lugar das ideias escravagistas e colonialistas dos últimos séculos, passava a se figurar entre os círculos intelectuais e a imprensa livre de todo o mundo europeu, ideais de origem francesas e inglesas, que pregavam o valor da liberdade e a denúncia dos controles e monopólios do “velho” sistema econômico. E era inevitável que essas ideias chegassem também nas colônias, e, por meio dela, se julgasse apropriado demandar, por exemplo, a abertura dos portos coloniais ao comércio mundial. Nesse contexto, o reino de Portugal experimentou uma de suas mais intensas crises já no início do século XIX, a saber, o cerco de Napoleão Bonaparte ao território português. Assim, traído pela coroa da Espanha – que, em mau juízo, se juntou à causa da França em 1801 – não obteve auxílio da Inglaterra, e se viu sob o risco iminente do aprisionamento de sua família real e a perda efetiva de seus territórios além mar para a Inglaterra – incluindo o Brasil –, na iminência de ser substituído na linha de sucessão portuguesa por um regente apontado pelo próprio Napoleão Bonaparte, um parente seu, seguindo seu plano de figurar seu sobrenome em todas (ou muitas) cortes européias. Assim, por meio de uma manobra fortuita e arriscada, toda a corte portuguesa foge em uma frota em direção a Salvador e depois ao Rio de Janeiro, iniciando assim um período de prosperidade ímpar na história da colônia brasileira. 29UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Sua vinda ao Brasil faz inverter a ordem natural da relação entre a colônia e metró- pole, e inaugura, de modo legítimo, hábitos da corte no cotidiano brasileiro, tanto secular quanto religioso, instituindo uma a biblioteca real, construindo jardins, promovendo peças de teatros, inovações arquitetônicas de toda a sorte, etc. Ademais, a estadia da família real, direta ou indiretamente, atendeu às reivindicações dos insurgentes que desejavam a abertura dos portos do país e a liberação das prensas (FAUSTO, 1996). Em resumo, a vinda da corte promoveu ainda a criação da imprensa real, o funcionamento de tipografias e publicações de jornais, fundou o Banco do Brasil, abriu escolas de medicina altamente qualificadas, instituiu academias militares, inaugurou uma fábrica de pólvora, promoveu as capitanias ao status de “províncias” ao elevar o Brasil da condição de “Colônia” de Portugal à “Reino” unido a Portugal. FIGURA 6 – REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA – FVOLU Por fim, a vinda da família real portuguesa ao Brasil significou também uma efetiva consolidação de um projeto de identidade nacional, e o convite que estendeu à Missão Ar- tística Francesa em 1816 – um coletivo de artistas franceses que propiciaram a renovação estética junto ao panorama das Belas-Artes no reinado Brasileiro – é prova desse esforço, uma vez que ensinando os caminhos do recém surgido “neoclassicismo”, através da ins- tituição de uma academia de ensino superior em Belas-Artes, a comunidade brasileira é convidada a repensar seu passado colonial sob a ótica artística e intelectual de seu tempo, projetando ao passado valores contemporâneos ao projeto de unidade nacional que se estabelecia no quando da estadia da corte portuguesa em solo bresileiro. 30UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil Assim, quando em 1821, a corte retorna a Portugal, Dom Pedro I, sucessor real de Dom João VI, enfrenta um cenário adverso em terras brasileiras e é proclamado Imperador do Brasil no mesmo ano, pondo fim ao processo colonial brasileiro e iniciando um novo momento de nossa rica história. 3.3 Resumo da Sessão Nesta sessão, 1. vimos que a descoberta das minas de Potosi pelos espanhóis na Bolívia despertaram o desejo de encontrar novas jazidas minerais no território americano. 2. Vimos que no caso de Portugal essa vontade só se satisfez quando os bandeirantes, desbravando a mata virgem, encontraram o ouro preto da região das Minas Gerais. 3. Vimos que a descoberta do ouro no Brasil Colônia incentivou uma onda de progresso sem precedentes. 4. Vimos que a descoberta de ouro na colônia, diferentemente da prosperida- de trazida pelo açúcar e pelo pau-brasil, começou a incentivar os próprios portugueses a se mudar para o território colonial. 5. Vimos que a prosperidade trazida pelo ouro desencadeou também grandes insurreições contrárias à prática dos impostos estabelecida pela coroa. 6. Vimos que essas reivindicações respondiam a um câmbio econômico mundial, protagoni- zado pela Inglaterra. 7. Vimos que as contradições da Colonização a levaram ao limite. 8. Vimos que o avanço de Bonaparte na Europa, leva a corte portuguesa contra a parede. 9. Vimos que a portuguesa foge para o Brasil para não ser destituída de sua dinastia e de suas colônias. 10. Vimos que, ao fazê-lo, Portugal eleva o Brasil ao status de “Reino”. 11. Vimos que a estadia portuguesa no Brasil promoveu uma série de mudanças progressistas no cenário cotidiano das práticas sociais, modernizando esta sociedade de um modo até então inédito. 12. Vimos que os esforços da corte nesse sentido, contribuíram sobremaneira para o estabelecimento de um projeto de identidade nacional baseado nos valores e nas ideias contemporâneas. 13. Vimos a importância daMissão Artística Francesa nesse processo. 14. Vimos que a vinda da corte portuguesa ao Brasil acelerou as contradições que levaram o Brasil a se tornar um Império sob o governo do herdeiro do trono de Portugal, Dom Pedro I em 1821. 31UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil SAIBA MAIS Você sabia que Claudio Manoel da Costa (1729-1789), notório poeta mineiro, conhecido por haver se envolvido no processo da “Inconfidência Mineira” (1789), escreveu uma obra intitulada “Vila Rica”, onde narra o percurso do descobrimento das “Minas Gerais” por parte dos bandeirantes e a fundação em efetivo da região intitulada Minas Gerais e a exploração de seus recursos naturais na época do Brasil Colônia? Trata-se de um poema de caráter épico, onde apresenta aspectos impor- tantes dos conflitos dessa região do país, tais como a “Guerra dos Em- boabas” (1707) e própria “Inconfidência Mineira”, em um tempo em que o fu- turo da colônia estava entrelaçado com os rumos da região das minas. Assim, como fonte de estudo histórica, o texto literário de Claudio Manuel nos auxilia na tarefa de compreender, também por um ângulo poético, o desenvolvimento econômico, social e político respectivos à empresa da colonização brasileira. No trecho abaixo, vemos a relação que se estabeleceu à época, entre a prática da ativi- dade mineradora e a interdição promovida pela coroa portuguesa em relação ao fluxo e circulação da extração das pedras preciosas: “Isto suposto, já para a jornada Manda à Pátria buscar quanto a seu cargo Incumbe, pois que a fábrica guiada Destruída se vê do tempo largo. Determiria à fiel consorte amada Que a nada, do que pede, ponha embargo, Inda que sejam por tal fim vendidas Das filhinhas as jóias mais queridas.” Fonte: DA COSTA, Claudio Manoel. Vila Rica. In: PROENÇA FILHO (Org.). A poesia dos inconfidentes, Rio de Janeiro: Editora Nova Aguiar, 1996. 32UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil REFLITA O período da colonização do Brasil inspirou também a produção de algumas produções artísticas contemporâneas bastante conhecidas. Dentre elas, destacamos seguintes canções populares: 1. “Vai Passar”, de Chico Buarque de Holanda, no trecho que segue: “Dormia A nossa pátria mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações” CHICO BUARQUE DE HOLANDA. Vai passar. Rio de Janeiro: Barclay: 1984. Disco (6:04) 2. “Índios”, da Legião Urbana: “Quem me dera ao menos uma vez Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem Conseguiu me convencer que era prova de amizade Se alguém levasse embora até o que eu não tinha” LEGIÃO URBANA. Índios. São Paulo: EMI: 1987. Disco (4:27) Se estivermos atentos, perceberemos referências afins em outras produções culturais que consumimos diariamente -- tais como filmes, literatura, teatro e televisão. E isso por- que, diferentemente do que se possa imaginar, o processo de colonização do Brasil está profundamente enraizado em nosso imaginário social. Por isso, ao prestarmos atenção a esses indícios e referências, poderemos compreender melhor a sua relevância para com os rumos da vida pública brasileira e a confecção de nossa identidade nacional também através da cultura. 33UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil CONSIDERAÇÕES FINAIS E assim concluímos nosso breve passeio por alguns aspectos de relevo deste ins- tigante período histórico: a Colonização do território hoje conhecido como Brasil, e a subju- gação dos povos que nele fizeram morada – nativos e africanos, em maior ou igual medida. Vimos aqui que Portugal não se aventurou ao negócio da exploração dos mares do dia para a noite. Vimos aqui que o processo de unificação nacional português lançou as bases para a busca de novas rotas marítimas para o comércio e o desenvolvimento de novas tecnologias náuticas para a paz e para a guerra. Vimos que a presença portuguesa no território que chamamos Brasil não se deu, inicialmente, de modos muito distintos de sua presença na costa oeste da África. Vimos que a conturbada relação de Portugal com seus vizinhos europeus – Espanha, França, Inglaterra – impactaram seus modos de desenvolvi- mento nacional e as formas de gerência de suas colônias. Vimos que os habitantes nativos do território que chamamos Brasil foram escravizados pelos portugueses. Vimos que a presença dos portugueses no território que chamamos Brasil pouco a pouco remodelou as formas sociais, a natureza e as dinâmicas próprias desse ambiente. Vimos que Portugal experimentou formas distintas de gerência desse vasto ter- ritório. Vimos que a colonização seguiu o modelo de exploração já experimentado pelos portugueses na África – com a exploração da cana de açúcar. Vimos que foi em função da demanda do processamento de cana de açúcar que Portugal decidiu transplantar seres humanos da África para trabalhar forçadamente nas lavouras de cana de açúcar america- nas. Vimos que o tráfico negreiro foi por vezes mais valioso que a própria mercadoria que produziam. Vimos que a descoberta do ouro preto nas Minas Gerais mudou o caráter da colonização brasileira. Vimos a taxação do ouro foi um dos temas de maior importância na formação de uma resistência à influência da coroa nos assuntos da colônia. Vimos que o avanço de Napoleão forçou a família real lusitana a se mudar para o Brasil, tornando-o um reino. Vimos que a sua chegada transformou o horizonte cultural do Brasil e lançou as bases para a formação de um Império brasileiro. E com isso concluímos que a história do “Brasil Colônia” não pode ser reduzida a apenas um ou dois fatores, mas sim a uma gama de confluências – e de concorrências – que a todo tempo puseram em disputa o horizonte das possibilidades da formação de nossa identidade nacional e dos caminhos de nosso desenvolvimento econômico, social e cultural. Bons estudos! 34UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil LEITURA COMPLEMENTAR MESGRAVUS, Laima. História do Brasil colônia. São Paulo: Editora Contexto, 2015 Escravidão, exploração colonial, choque de culturas, pau-brasil, cana-de-açúcar, minas de ouro, bandeirantes, jesuítas... São muitos os temas associados ao Brasil no pe- ríodo colonial. Todos eles estão presentes neste livro, pequeno apenas em extensão, uma vez que é rico em informações e interpretações. A historiadora Laima Mesgravis, da USP, consegue a proeza de ser sucinta e abrangente, utilizando como base textos de cronistas, religiosos e autoridades da época, além de trabalhos históricos produzidos nos séculos XX e XXI. O leitor atento ficará surpreso ao encontrar, já na Colônia, traços da diversidade do povo brasileiro, assim como a base de nosso sistema hierárquico. É no passado colonial que podemos encontrar os melhores e piores traços da nossa cultura. Obra destinada a professores e estudantes da área, assim como a todos que se interessam pelas nossas raízes profundas. 35UNIDADE I A Chegada dos Portugueses no Brasil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: “O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil” Autor: Darcy Ribeiro Editora:Global Editora Sinopse: “O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil” é uma importante obra de Darcy Ribeiro, um dos maiores antropólogos brasileiros. Trata-se de uma tentativa de compreen- der quem somos, o que somos e a importância do nosso país. Este clássico retrata o inconformismo pela desigualdade social e percorre a história da formação da civilização brasileira. FILME/VÍDEO Título: Os Inconfidentes Ano: 1972 Sinopse:Um grupo de intelectuais e integrantes da elite brasileira se une para libertar o país da opressão portuguesa. Dos enga- jados no movimento, Tiradentes é o que está disposto a levar a revolução às últimas consequências. 36 Plano de Estudo: ● O ouro de Minas; ● A produção de açúcar; ● Revoltas sociais. Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar
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