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DIREITO DE TRANSITO_OABRS

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Coordenadoras 
Andréia Scheffer 
Fernanda Osório 
Francieli Librelotto 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
 
 
 
Direito de Trânsito 
Volume I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
OABR/RS 
2018 
 
 
 
 
 
Coordenadoras 
Andréia Scheffer 
Fernanda Osório 
Francieli Librelotto 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
Autores 
Arnaldo Rodrigues Bezerra Neto 
Cesar Augusto Cavazzola Junior 
Elenita Bentz 
Luís Eduardo de Souza Cadore 
Marília Rodrigues Mazzola 
Priscylla Gomes De Lima 
Vicente Mendonça de Vargas Pinto 
 
Direito de Trânsito 
Volume I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Porto Alegre 
OABR/RS 
2018 
 
 
 
 
 
Copyright © 2018 by Ordem dos Advogados do Brasil 
 
Todos os direitos reservados 
 
Presidente da Comissão Especial de Direito de Trânsito 
Andréia Scheffer 
Secretária Geral da Comissão Especial de Direito do Trânsito da OAB/RS 
Francieli Librelotto 
Coordenação-Geral 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Fernanda Osório 
 
Recebimento dos textos, diagramação, ficha catalográfica 
 Jovita Cristina G. dos Santos 
 
Capa 
Carlos Pivetta 
 
D536 
 Direito de Trânsito/, Andréia Scheffer, Fernanda Osório...[et.al] 
(Coordenadoras). – Porto Alegre: OAB/RS, 2018. 150p. v.1 
 
ISBN: 978-85-62896-12-5 
 
1. Direito de trânsito. 2. Lei seca. I Título. 
CDU: 351.81 
 
Bibliotecária Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 1517/10º 
 
Rua Manoelito de Ornellas,55 – Praia de Belas 
CEP: 90110-230 Porto Alegre/RS 
Telefone: (51) 3287-1838 
direitodetransito@oabrs.org.br 
 
O conteúdo é de exclusiva responsabilidade dos seus autores. 
Revisão: Responsabilidade dos Autores. 
 
 
 
 
 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2016/2018 
 
Presidente: Claudio Pacheco Prates Lamachia 
Vice-Presidente: Luís Cláudio da Silva Chaves 
Secretário-Geral: Felipe Sarmento Cordeiro 
Secretário-Geral Adjunto: Marcelo Lavocar Galvão 
 Diretor Tesoureiro: Antonio Oneildo Ferreira 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: José Alberto Simonetti Cabral 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE 
DO SUL 
 
Presidente: Ricardo Ferreira Breier 
Vice-Presidente: Luiz Eduardo Amaro Pellizzer 
Secretário-Geral: Rafael Braude Canterji 
Secretária-Geral Adjunta: Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira 
Tesoureiro: André Luis Sonntag 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
 
Diretora-Geral: Rosângela Herzer dos Santos 
Vice-Diretor: Marcos Eduardo Faes Eberhardt 
Diretor Administrativo-Financeiro: Otto Júnior Barreto 
Diretor de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Daniel Ustárroz 
Diretor de Cursos Especiais: Darci Guimarães Ribeiro 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora de Atividades Culturais: Karin Regina Rick Rosa 
Diretora da Revista Eletrônica da ESA: Denise Pires Fincato 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Alexandre Lima Wunderlich 
Ana Paula Oliveira Ávila 
Darci Guimarães Ribeiro 
Delton Winter de Carvalho 
Rolf Hanssen Madaleno 
 
 
 
 
 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Rosane Marques Ramos 
Vice-Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Secretária-Geral: Cláudia Brosina 
Secretária-Geral Adjunta: Melissa Telles Barufi 
Tesoureiro: Gustavo Juchem 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Cesar Souza 
Vice-Presidente: André Araujo 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
Corregedores Adjuntos: Maria Ercília Hostyn Gralha, Josana Rosolen Rivoli, 
Darci Norte Rebelo Jr 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretor Administrativo: Paulo Cesar Azevedo Silva 
Diretora Financeira: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Heinen 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
PALAVRA DO PRESIDENTE – Ricardo Breier 
APRESENTAÇÃO – Andreia Scheffer 
PREFÁCIO – Rosângela Maria Herzer dos Santos 
A LEI SECA E SUA EFETIVIDADE SOB A ÓTICA 
CONSTITUCIONAL - Arnaldo Rodrigues Bezerra Neto ............ 14 
UMA SOLUÇÃO NADA CONVENCIONAL PARA A 
SEGURANÇA VIÁRIA: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O 
PLANO NACIONAL DE REDUÇÃO DE MORTES E LESÕES 
NO TRÂNSITO (PNATRANS) - Cesar Augusto Cavazzola Junior 
 ....................................................................................................... 44 
ART. 165-A DA LEI 13.281/2016 E A RECUSA AO TESTE DO 
BAFÔMETRO/ETILÔMETRO SEM OUTRAS PROVAS - Elenita 
Bentz ............................................................................................. 59 
O COMPORTAMENTO INFRATOR NO TRÂNSITO: O CASO 
DO MOTORISTA GAÚCHO SOB A CONTRIBUIÇÃO DA 
PSICOLOGIA E DIREITO DO TRÂNSITO - Luís Eduardo de 
Souza Cadore ................................................................................. 83 
MOBILIDADE URBANA E SEGURANÇA VIÁRIA: ASPECTOS 
IMPRESCINDÍVEIS À SEGURANÇA HUMANA- Marília 
Rodrigues Mazzola e Priscylla Gomes De Lima ...................... 110 
A RESOLUÇAO N. 723 DE 2018 DO CONTRAN E O 
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE 
NAS DEMANDAS DE DIREITO DE TRÂNSITO PELO 
 
 
 
 
 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO 
SUL DE 2012 A 2018 - Vicente Mendonça de Vargas Pinto .... 122 
 
 
 
 
 
 
Palavra do Presidente 
 
Um dos diferencias da Seccional Rio Grande do Sul da 
Ordem dos Advogados do Brasil é o trabalho realizado por suas 
comissões. Em 2018, são mais de 60 comissões, entre permanentes 
e especiais. Uma das mais atuantes e requisitadas dentro da Ordem 
gaúcha é a Comissão Especial de Direito de Trânsito (CET) da 
OAB/RS, presidida por Andréia Scheffer. 
 O trânsito é um dos temas mais atuais e atinge toda a 
população. É uma realidade, em que o Direito vem sendo cada vez 
requisitado a atuar. O tema ganhou relevância, e a advocacia tem um 
papel fundamental. A produção dessa obra, que tem o intuito de 
discutir e apresentar os avanços e retrocessos desta área do Direito, 
além de proporcionar a publicação das produções científicas 
oriundas desse segmento, é uma das tantas atividades diferenciadas 
realizadas pela CET. 
Ao mesmo tempo, é necessário reafirmar o trabalho de 
qualidade que vem sendo realizado pela Escola Superior de 
Advocacia da OAB/RS (ESA), conduzida por Rosângela Herzer dos 
Santos. A contribuição que vem sendo oportunizada para a 
advocacia gaúcha e brasileira, através de livros, trabalhos, cursos, 
entre outras atividades, é de imensurável valor. Está se 
disponibilizando para a sociedade brasileira bibliografias e 
conteúdos de grande relevância e atualidade, ressaltando o trabalho 
ímpar da ESA. 
 
 
 
 
 
Por isso, o lançamento da obra “Direito de Trânsito”, Volume 
I” merece nosso aplauso. Profissionais que contribuíram com textos 
e produções científicas, recebam o reconhecimento da OAB/RS. 
 
Ricardo Breier 
Presidente da OAB/RS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
O presente livro, em forma de coletânea de artigos, pretende, 
além do incentivo à produção científica oriunda de estudos e 
experiências práticas em Direito de Trânsito, a discussão sobre os 
avanços e retrocessos deste ramo do Direito. 
Esta obra, que conta com a coordenação de Andréia Scheffer, 
Francieli Librelotto e Rosângela Maria Herzer dos Santos, partiu da 
escassez de material doutrinário no âmbito do Direito de Trânsito e 
da real necessidade do profissional que atua da matéria. 
Os textos aqui reunidos apresentam ideias de profissionais 
com experiência e cumprem a função de subsidiar discussões sob 
diversas óticas, que abarcam a legislação e fiscalização de trânsito, 
normativas administrativas, segurança viária e comportamento para 
um trânsito mais seguro. 
Ambicionamos que as reflexões apresentadas nesta obra 
propiciem aos operadores do Direito e às pessoas interessadas no 
tema, uma atualização do conhecimento sobre importantes questões 
que envolvem o Direito de Trânsito. 
Desejamos ainda,aos autores todo o êxito que merecem, com 
o agradecimento da comissão organizadora. 
 
Boa Leitura!! 
Andréia Scheffer 
Presidente da Comissão Especial de Direito do Trânsito – OAB/RS 
 
 
 
 
 
 
Prefácio 
A Escola Superior de Advocacia da OAB/RS, com 
satisfação, apresenta a coletânea de artigos, sob o título “Direito de 
Trânsito – V.I”. O livro versa sobre Direito de Trânsito sob a ótica 
constitucional e diversas áreas temáticas, como: Prerrogativas do 
Advogado de Trânsito, Processo Administrativo de Trânsito, 
Responsabilidade Civil no Direito de Trânsito, Resoluções do 
CONTRAN, Processo de Suspensão e Cassação do Direito de 
Dirigir, Infrações Presumidas ou automáticas, Arrecadação e 
destinação do valor das multas, Segurança Viária, Análise de 
precedentes judiciais e Crimes de Trânsito. 
A coletânea contempla os seguintes artigos: A lei seca e sua 
efetividade sob a ótica constitucional (Arnaldo Rodrigues Bezerra 
Neto); Uma solução nada convencional para a segurança viária: 
breves considerações sobre o plano nacional de redução de mortes e 
lesões no trânsito (PNATRANS) (Cesar Augusto Cavazzola Junior); 
Art. 165-a da Lei 13.281/2016 e a recusa ao teste do 
Bafômetro/Etilômetro sem outras provas (Elenita Bentz ) ; O 
comportamento infrator no trânsito: o caso do motorista gaúcho sob 
a contribuição da psicologia e direito do trânsito (Luís Eduardo de 
Souza Cadore); Mobilidade urbana e segurança viária: aspectos 
imprescindíveis à segurança humana (Marília Rodrigues Mazzola e 
Priscylla Gomes De Lima) e A Resolução n. 723 de 2018 do 
CONTRAN e o reconhecimento da prescrição intercorrente nas 
demandas de direito de trânsito pelo Tribunal de Justiça do estado 
 
 
 
 
 
do Rio Grande do Sul de 2012 a 2018 (Vicente Mendonça de Vargas 
Pinto), que contribuem com a necessária atualização e 
aperfeiçoamento da advocacia. 
 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Diretora-Geral da Escola Superior de Advocacia da OAB/RS 
 
14 
 
 
 
A LEI SECA E SUA EFETIVIDADE SOB A ÓTICA 
CONSTITUCIONAL 
 
Arnaldo Rodrigues Bezerra Neto1 
 
RESUMO: O presente artigo propõe uma análise da relação do exercício do 
direito a não autoincriminação com algumas arbitrariedades nas autuações 
atinentes à denominada Lei Seca, verificadas nos dias hodiernos, considerando-se 
a interface das esferas Constitucional, Administrativa e Penal do Direito 
Brasileiro. Além disso, também se analisa e se diferencia o real interesse da 
coletividade com o interesse particular da máquina estatal. Nessa perspectiva, 
utiliza-se a pesquisa literária especializada, assim como a detida análise da 
jurisprudência pátria, tanto administrativa como judicial, sobretudo a que se refere 
à aplicação dos artigos relacionados à Lei Seca e sua correlação com os princípios 
constitucionais, além dos tratados internacionais adotados pelo Brasil, para que o 
objetivo da cidadania e ordem social seja verdadeiramente alcançado. 
 
Palavras-chaves: Lei Seca. Não autoincriminação. Autuação de trânsito. 
Princípio da Juridicidade. Bloco de Legalidade. 
 
I. INTRODUÇÃO 
O trânsito está diretamente ligado à vida, não só dos 
motoristas, mas também dos pedestres e até mesmo dos animais que 
utilizam as vias para diversos fins, conforme assinala o próprio 
artigo 1º, § 1º, do Código de trânsito brasileiro.2 
 
1Advogado graduado na Universidade Potiguar - Unp. Pós-graduado em Direito 
Eleitoral pela Universidade Anhanguera - Uniderp. Prática advocatícia em Direito 
de Trânsito, especialmente quanto à denominada Lei Seca. E-mail: 
arnaldorbneto@hotmail.com 
2BRASIL. Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de trânsito 
brasileiro. Código de trânsito brasileiro. 3. ed. Salvador: JusPodivm, p. 857, 2018. 
 
mailto:arnaldorbneto@hotmail.com
15 
 
 
 
Também, obviamente, está relacionado aos servidores 
públicos, especialmente os policiais e agentes de trânsito, que por 
missão legal e institucional, devem educar, fiscalizar e manter um 
sistema de trânsito eficiente, sempre respaldados na aplicação 
correta da lei e nos princípios que norteiam nossa Carta 
Constitucional, os quais sustentam nosso Estado Democrático de 
Direito. 
Ademais, vale ressaltar que a dinâmica do trânsito está nas 
mãos de todos os cidadãos, que devem respeitar fielmente as leis, 
sempre com o intuito de ter a efetiva segurança viária. 
Aliás, desde a promulgação da Lei 9.503 de 23 de setembro 
de 1997, que instituiu o nosso Código de trânsito, observa-se que “O 
trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos 
órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito”, 
segundo se verifica em seu artigo 1º, § 2º.3 
Entretanto, para isso, faz-se necessário que cada agente 
exerça seu papel com excelência, respeitando os limites legais, 
principalmente, os princípios constitucionais que guiam nosso 
ordenamento jurídico. 
Nesse contexto, atualmente, observa-se acirradas discussões 
acerca da denominada Lei Seca, que é popularmente conhecida 
como o conjunto de leis que visa punir com rigor os motoristas que 
dirigem alcoolizados ou sob a influência de outra substância 
 
3BRASIL. Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de trânsito 
brasileiro. Código de trânsito brasileiro. 3. ed. Salvador: JusPodivm, p. 857, 2018. 
16 
 
 
 
psicoativa. Seu intuito, o qual se referenda neste artigo, 
evidentemente, é o de diminuir os acidentes de trânsito e, 
essencialmente, preservar a vida. 
As polêmicas jurídicos-sociais surgem justamente em 
relação ao comportamento de um condutor, alvo de fiscalização 
estatal – na maioria das vezes, feita pelas Blitze –, que se recusa a 
realizar o teste do etilômetro, vulgarmente conhecido como 
“bafômetro”, bem como, à autuação do agente público referente à 
suposta infração encartada no artigo 165 c/c 277, §3º, ambos do 
Código de trânsito brasileiro (CTB)4 c/c Resolução 432/2013 do 
Conselho nacional de trânsito (CONTRAN)5 ou 165-A6 c/c 277, 
§3º, ambos do CTB c/c Resolução 432/2013 do CONTRAN. 
Nesse panorama, há de se verificar e se diferenciar a 
verdadeira supremacia do interesse público e o particular interesse 
da máquina estatal nas autuações da denominada Lei Seca. 
Destarte, no decorrer deste trabalho, abordar-se-á, dentre 
outros pontos, especialmente, a relação do exercício do direito a não 
autoincriminação com algumas arbitrariedades nas autuações 
 
4BRASIL. Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de trânsito 
brasileiro. Código de trânsito brasileiro. 3. ed. Salvador: JusPodivm, p. 882, 897, 
2018. 
5BRASIL. Resolução n.º 432 de 23 de janeiro de 2013. Disponível em: 
<http://www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/(resolu%C3%A7%C3%A3o
%20432.2013c).pdf>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
6BRASIL. Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de trânsito 
brasileiro. Código de trânsito brasileiro. 3. ed. Salvador: JusPodivm, p. 882, 2018. 
 
http://www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/(resolu%C3%A7%C3%A3o%20432.2013c).pdf
http://www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/(resolu%C3%A7%C3%A3o%20432.2013c).pdf
17 
 
 
 
atinentes à Lei Seca, analisando-se sob a interface das esferas 
Constitucional, Administrativa e Penal do Direito Brasileiro. 
Para isso, utilizar-se-á a pesquisa na literatura especializada 
sobre o assunto telado, bem como a detida análise de jurisprudência 
pátria, tanto administrativa como judicial, que envolve a aplicação 
dos artigos relacionados à Lei Seca e sua correlação com os 
princípios constitucionais, além dos tratados internacionais adotados 
pelo Brasil. 
 
II. SISTEMA JURÍDICO-CONSTITUCIONAL x 
AUTUAÇÃO ESTATAL 
 
Prima facie, urge destacar que a máxima de “beber e dirigir 
não combinam” é válida e aqui também ganha voz e vez. 
Nesse sentido,mediante uma estatística preocupante de 
mortes no trânsito oriundas dessa intolerável combinação, bem como 
a evolução cultural da sociedade como um todo, fez-se com que a 
legislação de trânsito, nos últimos anos, fosse modificada em curto 
espaço de tempo para se combater veementemente a direção veicular 
com a capacidade psicomotora alterada. 
Não obstante, tamanha e efêmera mudança veio 
acompanhada de práticas fiscalizatórias duvidosas, que ferem de 
morte a nossa Carta Magna e os princípios que regem o nosso Estado 
Democrático de Direito, especialmente o da não autoincriminação, 
apesar de se vislumbrar meios legais de coibição. 
18 
 
 
 
Cumpre mencionar que o artigo 165 do CTB, inserido pela 
Lei n.º 9.503/977, que trata da direção sob o efeito de álcool ou de 
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, 
sofreu mudanças em seu caput inicial por meio da promulgação da 
Lei 11.705 de 20088, não se modificando, contudo, a natureza da 
infração – gravíssima. 
A Lei 12.760 de 20129 alterou a penalidade de multa com um 
tratamento mais rigoroso, entretanto, manteve a rigorosa punição 
administrativa do impedimento de dirigir nos mesmos moldes da Lei 
11.705 de 2008. 
Com isso, observa-se, nos dias de hoje, a suspensão do direito 
de dirigir por 12(doze) meses, acrescida de multa no vultoso valor 
de R$ R$ 2.934,70 (dois mil, novecentos e trinta e quatro reais e 
setenta centavos). 
Porém, indubitavelmente, na maioria das autuações que se 
verifica no Brasil, antes da vigência da Lei n.º 13.281/201610, o 
artigo 165 está combinado no auto de infração com o artigo 277, §3º, 
também do CTB, e a Resolução 432/2013 do CONTRAN. 
 
7BRASIL. Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de trânsito 
brasileiro. Código de trânsito brasileiro. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2018. 
8BRASIL. Lei n.º 11.705, de 19 de junho de 2008. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11705.htm>. 
Acesso em: 08 ago. 2018. 
9BRASIL. Lei n.º 12.760, de 20 de dezembro de 2012. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12760.htm>. 
Acesso em: 08 ago. 2018. 
10BRASIL. Lei n.º 13.281, de 04 de maio de 2016. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13281.htm>. 
Acesso em: 08 ago. 2018. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11705.htm
http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12760.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13281.htm
19 
 
 
 
Nessa esfera, o que também se constata, é que em quase todos 
os casos, o condutor se recusa a ser submetido ao teste do etilômetro, 
por inúmeros motivos e de forma legítima, respaldada pela nossa 
Carta Maior, mas as autuações são lavradas sem a observância da 
imprescindível prova da embriaguez ou do estado psíquico anormal 
do condutor. 
Dito de outro modo, nesses casos, o agente de trânsito 
descumpre o arcabouço legal e não prova a infração de “dirigir sob 
a influência de álcool ou outra substância psicoativa” imputada ao 
condutor, infringindo, flagrantemente, o artigo 5º, II, § 2º, da 
Resolução 432/2013 do CONTRAN11, pois não se verifica o Termo 
de Constatação de Embriaguez ou anotação de informações 
relacionadas aos sinais de ebriedade ou alteração psíquica no campo 
“observações” do auto de infração12. (SÃO PAULO, 2018). 
Tal atitude configura-se autoritária, pois pune-se um 
exercício de um direito em plena vigência da democracia, em geral, 
com a motivação de embriaguez ao volante, sem sequer existir um 
indício de perturbação do condutor. 
O que se constata é que o Estado termina descumprindo os 
preceitos legais e constitucionais, bem como os procedimentos 
 
11Cf. nota 4 deste artigo. 
12SÃO PAULO. 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São 
Paulo. Apelação n.º 1001184-86.2016.8.26.0042. Apelante: Rafael Baldo Beluti. 
Apelado: Departamento estadual de Trânsito (DETRAN). Relator: 
Desembargador Jarbas Gomes. São Paulo, 19 de abril de 2018. Disponível em:< 
https://esaj.tjsp.jus.br> Acesso em: 08 ago. 2018. 
 
20 
 
 
 
compulsórios de autuação, talvez para chamar a atenção pela mídia 
de alarmante estatística acerca de autuações por embriaguez ao 
volante, quando na verdade a maioria delas refere-se à punição ao 
exercício de um direito garantido pela Constituição Federal, que é o 
da não autoincriminação. 
Aliás, o princípio nemo tenetur se detegere – direito a não 
autoincriminação – está encartado no artigo 8º, 2, alínea “g”, da 
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da 
Costa Rica)13, que o Brasil é signatário, por meio do Decreto N.º 678, 
de 06 de novembro de 199214, o que encontra guarida no artigo 5º, 
§2º, da Constituição Federal15. Além disso, o referido princípio 
também está entabulado na nossa Constituição Federal, no inciso 
LXIII, artigo 5º16 numa compreensão exegética da norma. 
Convém salientar que o Brasil também é signatário do Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – Decreto N.º 592, de 
06 de julho de 199217 –, o qual, em seu artigo 14, “3”, “g”18, 
 
13COSTA RICA. Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José 
da Costa Rica). Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/anexo/and678-
92.pdf>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
14BRASIL. Decreto n.º 678, de 06 de novembro de 1992. 
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1992/decreto-678-6-novembro-
1992-449028-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
15BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília: Senado Federal, 1988. 
16Cf. nota 14 deste artigo. 
17BRASIL. Decreto n.º 592, de 06 de julho de 1992. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm>. Acesso 
em: 08 ago. 2018. 
18NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. 
Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/anexo/and678-92.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/anexo/and678-92.pdf
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1992/decreto-678-6-novembro-1992-449028-publicacaooriginal-1-pe.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1992/decreto-678-6-novembro-1992-449028-publicacaooriginal-1-pe.html
21 
 
 
 
estabelece expressamente, no mesmo passo do Pacto de San José da 
Costa Rica, de forma indubitável, que: “toda pessoa acusada de um 
delito tem direito (...) de não ser obrigada a depor contra si mesma, 
nem a confessar-se culpada”. 
Assim, conforme se extrai da literalidade do texto legal dos 
tratados internacionais acima mencionados, que resguardam os 
direitos do ser humano em todos os âmbitos – administrativo, civil, 
penal ou político –, infere-se que o gênero delito engloba tanto a 
espécie crime como a infração administrativa, sendo qualquer ato 
que constitua uma transgressão às leis pertencentes a um 
ordenamento jurídico, sejam penais ou civis. 
Comumente, observa-se na doutrina a vinculação do termo 
delito ao crime, contudo, segundo explanado acima, há de se inserir 
também a infração administrativa, especialmente a de trânsito. 
Nesse toar, resta legítimo o uso do direito a não 
autoincriminação mediante a acusação de uma infração 
administrativa de trânsito, sendo afastada qualquer tipo de punição 
pelo seu exercício. 
E depois, a recusa ao teste do etilômetro encontra respaldo 
no próprio artigo 5º, LV, da CF19, pois esse dispositivo valida a 
ampla defesa e o contraditório não só nos processos judiciais e 
 
<https://www.oas.org/dil/port/1966%20Pacto%20Internacional%20sobre
%20Direitos%20Civis%20e%20Pol%C3%ADticos.pdf>. Acesso em: 08 
ago. 2018. 
19Cf. nota 14 deste artigo.https://www.oas.org/dil/port/1966%20Pacto%20Internacional%20sobre%20Direitos%20Civis%20e%20Pol%C3%ADticos.pdf
https://www.oas.org/dil/port/1966%20Pacto%20Internacional%20sobre%20Direitos%20Civis%20e%20Pol%C3%ADticos.pdf
22 
 
 
 
administrativos, mas também nas acusações em geral. A letra da lei 
é clara e inconteste, além do seu próprio sentido axiológico. 
Sendo assim, a autodefesa, espécie da ampla defesa, 
concretizada no ato de recusar-se ao referido teste, revela-se legítima 
e encontra guarida na nossa própria Magna-carta, sendo obrigatória 
a comprovação da embriaguez ou estado anormal de consciência no 
volante para a efetiva penalidade administrativa. 
Logo, resta clarividente com base na lógica constitucional, 
atrelada ao arcabouço legal ordinário, assim como aos tratados 
internacionais supramencionados e subscritos pelo Brasil, que o 
princípio da não autoincriminação se aplica na esfera administrativa, 
sendo repelida qualquer tipo de interpretação que entoe a sua 
aplicação apenas no âmbito penal. 
Nesse diapasão, verifica-se completamente dissonante com a 
democracia vigente no nosso país a aplicação de qualquer tipo de 
sanção, ainda que administrativa, pelo fato do cidadão condutor 
exercer um direito constitucional (Princípio da não 
autoincriminação). 
Vale dizer que: 
 
a inobservância ou lesão a princípio é a mais grave 
das inconstitucionalidades, uma vez que sem 
princípio não há ordem constitucional e sem ordem 
constitucional não há democracia nem Estado de 
Direito20. 
 
20RIO GRANDE DO SUL. Turma Recursal da Fazenda Pública dos Juizados 
Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Inominado n.º 
71005016266 (N.º CNJ: 0025137-03.2014.8.21.9000) 2014/Cível. Recorrente: 
23 
 
 
 
 
Para mais, insta mencionar que o discurso midiático e 
interpretações, data venia, perfunctórias e ao arrepio da lei acerca da 
punição automática pela recusa ao teste do etilômetro, ou seja, nos 
casos de autuação do artigo 165-A do CTB, introduzido pela lei 
13.281/2016, que nada mais é do que a junção do artigo 165 c/c 277, 
§3º do CTB, devem ser rejeitados em nome dos princípios basilares 
constitucionais, principalmente, o da legalidade – “bloco de 
legalidade”, que será detalhado adiante –, moralidade, ampla defesa, 
contraditório e o próprio direito a não autoincriminação. 
Ora, afirmar que recusar-se ao supracitado teste, por 
exemplo, por si só, constitui infração administrativa autônoma, 
revela-se inconcebível e atentatório ao objetivo axiológico da norma, 
além do mais, contraditório ao próprio texto legal. 
Isso porque o intuito da autuação nos moldes do artigo 165-
A do CTB é, sem dúvidas, autuar quem efetivamente ofereça risco à 
segurança viária e consequentemente à incolumidade pública e/ou 
privada por causa de direção veicular sob o efeito de álcool ou outra 
substância psicoativa que altere a sensopercepção e cognição 
normais do indivíduo. 
 
Departamento de trânsito do Estado do Rio Grande do Sul (DETRAN/RS). 
Recorrido: Linomar José Rosseto Ferrão. Relator: Desembargador Niwton Carpes 
da Silva. Porto Alegre, 20 de novembro de 2014. Disponível 
em:<http://www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 08 ago. 2018 
 
 
http://www.tjrs.jus.br/
24 
 
 
 
 Torna-se desarrazoado e, até inaceitável, enquadrar um 
cidadão em um artigo contido no capítulo XV do Código de Trânsito 
Brasileiro, referente às infrações, que possui a mesma pena e 
finalidade do artigo 165, o qual versa sobre a direção sob a influência 
de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine 
dependência, e afirmar que não se exige a prova da embriaguez ou 
da alteração da capacidade psicomotora por constituir infração 
independente. 
Isso se evidencia como um ato arbitrário, atentatório ao 
próprio objetivo valorativo da norma, bem como, flagrantemente, 
abusivo. 
O artigo 165-A do CTB, consoante se constata no PARECER 
n.º 328/2017, emitido pelo Conselho Estadual de Trânsito do estado 
de Santa Catarina – CETRAN/SC –, o qual foi elaborado em 
decorrência de uma consulta formulada pelo Delegado Regional de 
Polícia Civil de Caçador acerca do entendimento desse Conselho, 
após as inovações trazidas pela Lei 13.281/2016, quanto à aplicação 
dos artigos 165-A c/c 277, § 3º do CTB baseada na recusa do 
condutor em se submeter ao teste do etilômetro, tem por objetivo 
coibir a direção veicular sob estado de embriaguez ou de consciência 
alterado e, para isso, o agente autuador tem que motivar seu ato 
administrativo, comprovando as suspeitas/sinais desses estados 
psicomotores que o levaram a submeter o motorista ao referido teste. 
Vejamos as límpidas e justas conclusões desse respeitável 
parecer: 
25 
 
 
 
 
Não obstante, mesmo examinando apenas as 
disposições dos artigos 277 e 165-A do CTB, fica 
evidente que o objetivo da reprimenda não é punir 
quem, sem externar nenhum sinal ou sintoma de que 
esteja sob a influência de álcool ou outra substância 
psicoativa, se recuse a se submeter aos testes e 
exames para apuração de alcoolemia. O próprio tipo 
infracional descrito no art. 165-A evidencia isso, 
senão vejamos: Art. 165-A. Recusar-se a ser 
submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro 
procedimento que permita certificar influência de 
álcool ou outra substância psicoativa, na forma 
estabelecida pelo art. 277. Percebe-se que a 
transgressão delineada no artigo acima transcrito não 
se restringe à mera recusa21. 
 
Assim, em que pese se constatar importantes vozes acerca da 
inconstitucionalidade per se do artigo 165-A do Código de Trânsito 
Brasileiro, com consistentes e admiráveis argumentos, faz-se 
imperioso ajustar a sua interpretação com os princípios que 
direcionam nossa Constituição Federal, bem como os tratados 
internacionais aqui focalizados, que possuem status supralegal e, 
obviamente, com o próprio objetivo da norma, que é coibir e punir a 
direção veicular em estado psíquico perturbado. 
Esse relevante parecer ainda conclui: 
 
Com efeito, o que o dispositivo em tela condena é a 
resistência em se submeter aos procedimentos 
 
21SANTA CATARINA. Conselho Estadual de Trânsito do Estado de Santa 
Catarina (CETRAN/SC). Parecer n.º 328/2017. Conselheiro Relator: José Vilmar 
Zimmermann. 24 jan. 2017. Disponível em: 
<http://www.cetran.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_downl
oad&gid=3658&Itemid=134>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
http://www.cetran.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=3658&Itemid=134
http://www.cetran.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=3658&Itemid=134
26 
 
 
 
destinados a CERTIFICAR influência de álcool ou 
outra substância psicoativa. Certificar significa dar 
certeza, convencer, conferir convicção. Ora, se o 
procedimento, cuja omissão deliberada sujeita às 
cominações em voga, se presta a convencer o 
examinador de que a pessoa fiscalizada está sob 
influência de álcool, isso significa que para o agente 
fiscalizador somente é lícito lançar mão desse 
expediente quando a postura do condutor despertar 
suspeitas que necessitem de 
confirmação/certificação. Se não há suspeita, não há 
o que ser certificado, tornando-se arbitrária a 
submissão do condutor ao teste e, portanto, incabível 
a imputação pela infração do art. 165-A do CTB22. 
 
 Desse modo, considera-se que seja razoável e efetivamente 
justa a autuação nos moldes do artigo 165-A do CTB, respaldada na 
anotação dos sinais ou suspeitas de embriaguez ou alteração psíquica 
do condutor, até que, por ventura, esse artigo seja retirado do nosso 
ordenamento jurídico por meio de uma ação direta de 
inconstitucionalidade. 
Caso contrário, estaremos diante uma arbitrariedade estatal 
no que tange à punição automática, severa e indevida, de quem 
exerce um direito. 
De mais a mais, observa-seem algumas decisões pátrias a 
justificativa de autuação, data venia, infundada, com base apenas no 
teor do art. 277, §3°, do CTB. Há de se esclarecer que o referido 
dispositivo está disposto no capítulo XVII, cujo título é “medidas 
administrativas”, ou seja, não se trata de uma norma que comina uma 
 
22Cf. nota 20 deste artigo. 
27 
 
 
 
infração e sanção, que, como dito, sequer encontra respaldo no 
capítulo das infrações do Código de Trânsito Brasileiro. 
O renomado jurista Luiz Flávio Gomes explica muito bem 
esse parágrafo mostrando que ele não se reveste de natureza de 
infração administrativa, senão vejamos: “Logo, sua incidência com 
fim sancionador se revela abusiva ao princípio da legalidade, 
aplicável por analogia, pois não há infração administrativa sem 
prévia cominação legal”23. 
Geralmente, esse artigo está combinado nos autos de infração 
com o art. 165 do CTB (Dirigir sob a influência de álcool ou de 
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência) ou 
165-A (Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou 
outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou 
outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277), que 
estão localizados no capítulo XV do CTB, referente às infrações. 
 Dessa sorte, como já explicitado anteriormente, nos moldes 
legais, especificamente de acordo com o que dispõe a Resolução 
432/2013 do CONTRAN, há de se constatar a prova da embriaguez 
ou de alguma outra substância psicoativa ou, ao menos, o registro 
das suspeitas de direção veicular em estado psíquico anormal. 
O ilustre doutrinador Eduardo Luiz Santos Cabette assim 
preleciona: 
 
 
23GOMES, Luiz Flávio; SCHMITT DE BEM, Leonardo. Nova Lei Seca. 
Comentários à Lei 12.760, de 20-12-2012. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 85. 
 
28 
 
 
 
A única maneira de interpretar o disposto no artigo 
277, §3º, CTB, evitando uma colisão frontal com a 
Constituição é considerar que quando da negativa do 
condutor aos testes e exames, a expressão “serão 
aplicadas as penalidades e medidas administrativas 
estabelecidas no artigo 165 deste Código” 
[atualmente, após a Lei 13.281/2016, leia-se: 
penalidades e medidas administrativas estabelecidas 
no artigo 165-A], significa que o agente de trânsito 
diligenciará para comprovar a infração por todos os 
meios lícitos de prova, nos estritos termos do § 2º, do 
mesmo artigo, sob o crivo do devido processo legal e 
seus corolários da ampla defesa, do contraditório e 
Presunção de Inocência. E mais, inclusive do 
Princípio da não auto-incriminação, (...)24. 
 
Para consubstanciar a argumentação em apreço, urge 
sobrelevar o processo evolutivo de constitucionalização do Direito 
Administrativo, tendo como referência precípua o princípio da 
juridicidade, que é plenamente aplicável nas autuações relacionadas 
à Lei Seca. 
Conforme se observa na doutrina clássica do Direito 
Administrativo brasileiro ao interpretar o princípio da legalidade 
estampado no artigo 37, caput, da Constituição Federal25, a 
Administração Pública só poderá agir embasada no que a lei 
permitir, entretanto, ao se analisar o Direito Administrativo 
moderno, verifica-se que essa legalidade stricto sensu perde lugar ao 
conceito de bloco de legalidade, enraizado no princípio da 
juridicidade. 
 
24CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Nova Lei Seca. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 2018, p. 13. 
25Cf. nota 14 deste artigo. 
29 
 
 
 
Esse princípio parte do pressuposto de que o agente público 
deve atuar levando-se em consideração não apenas a legalidade 
estrita, mas também a doutrina, jurisprudência, equidade, 
especialmente os princípios e regras da nossa Carta Fundamental. 
Ou seja, trata-se de uma subordinação da Administração 
Pública aos princípios gerais do Direito, mormente as regras 
constitucionais, e ao ordenamento jurídico como um todo. Daí o 
conceito “bloco de legalidade”. 
Nessa esteira, mediante o cenário atual da aplicação do artigo 
165-A do CTB, o agente público autuador não poderá se esconder 
atrás do princípio da legalidade estrita e penalizar, como visto, um 
cidadão pelo exercício de um direito quando se recusa, por exemplo, 
ao teste do etilômetro. 
É preciso observar as garantias, os direitos e princípios 
protegidos pelo manto sagrado da Constituição, tratados 
internacionais, ou seja, o bloco de legalidade e sintonizá-lo à 
aplicação desse artigo, provando-se efetivamente a alteração da 
capacidade psicomotora do condutor para validar o auto de infração 
de trânsito. 
Dessa forma, observar-se-á a justeza nas autuações, com a 
aplicação do louvável princípio da juridicidade, o qual engloba, 
especialmente, os princípios da legalidade, legitimidade e 
moralidade. 
Veja-se que esse princípio, inclusive, reza a não aplicação da 
lei infraconstitucional quando o seu texto literal afrontar diretamente 
30 
 
 
 
o bloco de legalidade, principalmente, os princípios constitucionais, 
como é o caso do artigo 165-A do CTB. 
 Entretanto, faz-se necessário a adequação da sua utilização 
com a sistemática do bloco de legalidade para que as penalidades 
sejam impostas aos que verdadeiramente comentem o ato infracional 
de dirigir em estado anormal de consciência. 
Frise-se que o agente de trânsito possui todos os meios 
capazes de provar a infração, segundo se vislumbra no artigo 277, 
§2º, do CTB26 e na Resolução 432/2013 do CONTRAN, que na 
maioria das vezes encontra-se registrada nos autos de infração. 
O reconhecido autor Diogo de Figueiredo Moreira entende 
que: 
 
a dinâmica atual da Administração Pública não pode 
mais permanecer centralizada na dependência da 
atuação do legislador infraconstitucional e, no mundo 
pós-positivista, deve-se reconhecer a eficácia 
normativa do ordenamento jurídico, centralizado na 
Constituição27. 
 
Dessa maneira, a aplicação desse princípio evolutivo da 
legalidade faz-se mandatória nas autuações atinentes à Lei Seca para 
que os direitos consagrados na nossa Carta Magna sejam 
 
26BRASIL. Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de trânsito 
brasileiro. Código de trânsito brasileiro. 3ª. ed. Salvador: JusPodivm, p. 897, 2018. 
27MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte 
introdutória, parte geral e parte especial. 16ª. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: 
Forense, 2014 Apud Disponível em: 
<http://resumosdireito.blogspot.com/2015/04/sobre-o-principio-da-juridicidade-
no.html>.Acesso em: 09 ago. 2018. 
 
http://resumosdireito.blogspot.com/2015/04/sobre-o-principio-da-juridicidade-no.html
http://resumosdireito.blogspot.com/2015/04/sobre-o-principio-da-juridicidade-no.html
31 
 
 
 
devidamente respeitados, mormente o da não autoincriminação, 
razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa e contraditório, bem 
como o objetivo da referida lei também seja alcançado, preservando 
vidas e punindo efetivamente os motoristas que dirigem sob a 
influência de álcool ou outra substância psicoativa. 
 É inaceitável se verificar, hodiernamente, um processo de 
constitucionalização deficiente, que garante os direitos sem dar ao 
cidadão os meios essenciais ao seu exercício. Precisa-se efetivar o 
princípio da juridicidade em nome da equidade e contra a aplicação 
cega da lei. 
Ressalte-se que o exercício de um direito protegido pela 
Constituição Federal, verificado rotineiramente nas Blitze da Lei 
Seca, que é o da não autoincriminação, quando alguém se recusa ao 
teste do etilômetro, em hipótese alguma, pode ter como 
consequências sanções tão rigorosas como as encartadas, 
atualmente, no artigo 165-A do CTB, sob pena de ofender 
determinantemente os princípios constitucionais e deteriorar o 
Estado Democrático de Direito.Seguindo esse raciocínio, torna-se importante a alusão ao 
instituto da Tipicidade Conglobante, introduzida e defendida pelo 
respeitável e qualificado jurista argentino, Eugenio Raúl Zaffaroni. 
Segundo ele, na esfera penal, a tipicidade penal é formada 
pela junção da tipicidade formal – subsunção do fato à norma –, 
acrescida da tipicidade conglobante, que por sua vez é composta pela 
tipicidade material – lesão ou perigo de lesão a um bem 
32 
 
 
 
juridicamente tutelado – e antinormatividade: conduta praticada em 
desacordo ao que o ordenamento jurídico incentiva. 
Vale destacar que a antinormatividade está relacionada à 
relação de contrariedade do fato não apenas às tipicidades formal e 
material, além disso, a conduta deve transgredir o ordenamento 
jurídico como um todo. 
Ou seja, não basta violar somente a norma penal, mas sim o 
conjunto de leis que rege o Estado Democrático de Direito. Para ele, 
o Direito Penal não deve ser analisado de forma isolada. 
Partindo dessa referência fundamental, faz-se imperativo 
sublinhar que o Direito Administrativo também não deve ser 
entendido de forma disjuntiva, pelo contrário, ele está intimamente 
enraizado na nossa Constituição Federal e deve ser interpretado 
levando-se em consideração os seus princípios e valores. 
Assim, utilizando-se da analogia desse instituto no âmbito 
administrativo, pode-se inferir que, nos casos de autuação baseada 
tão-somente na recusa ao teste do etilômetro ou até mesmo a 
qualquer outro meio de prova imposto pela autoridade de trânsito, 
aplica-se essa valiosa teoria, pois o que está permitido ou fomentado 
ou determinado por uma norma, ordenamento jurídico, sobretudo, a 
Constituição Federal, não pode ser proibido por outra com qualquer 
tipo de punição, portanto, não constitui fato típico infracional. 
Ora, negar-se ao supracitado teste, ainda que entrevendo 
escapar de qualquer sanção penal, é direito do cidadão e ele não pode 
sofrer qualquer ameaça indireta do Estado, através de sanção 
33 
 
 
 
administrativa de multa exorbitante e suspensão do direito de dirigir 
por longo período. 
No mesmo sentido, o autor Eduardo Luiz Santos Cabette 
ensina: 
 
É de se notar que no âmbito administrativo, faça ou 
não os exames e testes, o condutor será punido (...), o 
que equivale a tornar a submissão a exames 
compulsória, (...), em franca infração ao direito de 
não produzir prova contra si mesmo, que abarca 
também a seara administrativa e, por reflexo, acaba 
atingindo a penal no que tange ao artigo 306, CTB. 
Isso porque a coação administrativa usada para tornar 
obrigatória a submissão do condutor, acabará 
inibindo o cidadão de fazer uso de seu direito 
constitucional com reflexos inevitáveis na seara 
penal28. 
 
O condutor não está obrigado a contribuir ativamente com a 
produção de prova contra si, pois no nosso sistema acusatório o ônus 
de provar a embriaguez ou estado perturbado de consciência na 
direção veicular é do próprio Estado. 
 Essa transferência é ilegítima, arbitrária e mostra a realidade 
de um Estado que não investe em treinamento e na efetiva proteção 
da segurança viária; de outra maneira, opta-se pela imposição de leis 
à coletividade com marcas de inconstitucionalidade, bem como pelo 
descumprimento, às claras, de procedimentos de autuação previstos 
em leis e regulamentos, principalmente, quando se trata de situações 
 
28CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Nova Lei Seca. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 2018, p. 12. 
 
34 
 
 
 
com prejuízos financeiros graves e evidentes ao cidadão em face da 
máquina estatal. 
Além do mais, nesta sistemática de insistência punitiva 
estatal pelo simples fato de recusar-se ao teste do etilômetro ou 
qualquer outro tipo de exame técnico, sem oferecer risco à segurança 
viária ou a vida e patrimônio dos indivíduos, vale registrar que outros 
princípios também são malferidos, como o de liberdade (direito de ir 
e vir), do devido processo legal e da presunção de inocência, todos 
inseridos, respectivamente, nos artigos art. 5º, XV, LIV, e LVII, da 
Lei Maior29. (RIO GRANDE DO SUL, 2018). 
Outrossim, há quem diga que deve prevalecer o interesse da 
coletividade em detrimento da garantia individual de não 
autoincriminar-se, entretanto, tal argumento cai por terra, já que não 
estamos diante dessa celeuma, mas sim de um Estado ineficiente e 
ineficaz, que sequer é capaz de preencher um termo de constatação 
de embriaguez e cumprir o que ordena a lei para enquadrar um 
condutor supostamente transtornado em seu estado cognitivo. 
 
III. INTERESSE COLETIVO x INTERESSE ESTATAL 
 
29Cf. nota 14 deste artigo. RIO GRANDE DO SUL. Segunda Turma Recursal da 
Fazenda Pública dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul. 
Recurso Inominado Nº 71007640006 (Nº CNJ: 0022239-
75.2018.8.21.9000)2018/Cível Recorrentes: Departamento de trânsito do Estado 
do Rio Grande do Sul (DETRAN/RS); Departamento autônomo de estradas de 
rodagem (DAER/RS). Recorrido: Luiz Henrique de Campos Oliveira. Relatora: 
Dra. Rosane Ramos de Oliveira Michels. Porto Alegre, 27 de junho de 2018. 
Disponível em:< http://www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
 
 
35 
 
 
 
Nesta situação atual em que se exige cada vez mais uma 
rigorosa e exemplar reprimenda aos motoristas que dirigem sob o 
efeito de substâncias psicoativas, considera-se relevante diferenciar 
o verdadeiro interesse da coletividade com o do Estado. 
No caso da denominada Lei Seca, a Administração Pública, 
quase sempre, por meio de argumentos insuficientes e protelatórios, 
quer se ancorar no Princípio da Presunção da Legitimidade dos seus 
atos, quando a lei a obriga a atuar de determinada forma para motivar 
o auto de infração. 
Ora, com a realização dos procedimentos corretos, 
culminando na efetiva prova da embriaguez ou ao menos no registro 
dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora, o 
interesse geral estará sendo cumprido e respeitado, caso contrário, 
observar-se-á apenas o interesse da máquina estatal, possivelmente 
político-financeiro, que infringe, claramente, a nossa Carta Magna 
nas autuações ao punir um exercício de um direito. 
Na verdade, há uma quase imperceptível linha que separa o 
interesse estritamente coletivo e o particular interesse estatal, os 
quais devem ser vislumbrados e devidamente diferenciados. 
 Não se pode utilizar como pano de fundo a retórica da 
supremacia do interesse público sobre as garantias individuais para 
punir automaticamente quem se recusa a submeter ao teste do 
etilômetro ou qualquer outro tipo de teste que se exige alguma 
postura ativa do condutor, quando o próprio ordenamento jurídico 
fornece ao Estado meios suficientes e eficazes de se comprovar a 
36 
 
 
 
embriaguez ou a influência de substância psicoativa, bem como suas 
suspeitas, sinais, vide o teor do artigo 277, §2º, do CTB. 
Basta capacitar e treinar os agentes públicos para cumprir o 
que prescreve a lei e efetivamente combater a embriaguez ou o 
transtorno psíquico ao volante. 
Aliás, não é preciso enfatizar que a Administração Pública é 
serva da lei – leia-se, bloco de legalidade –. 
Gustavo Binenbojm, expoente doutrinador do Direito 
Administrativo Moderno, fez relevantes reflexões sobre a relação 
do princípio da supremacia do interesse público, da coletividade, 
sobre o privado e sua incompatibilidade com o ordenamento 
jurídico-constitucional. 
Em suma, ele concluiu que: 
 
1) O referido princípio desconsidera a 
relevância atribuída pela Constituição a todo o 
conjunto de direitos fundamentais; 2) trata-se de um 
princípio que não tem estrutura normativa de 
princípio, pois não admite ponderações com outros 
valores constitucionais; 3) a fluidez conceitual do 
termo interesse público dá margem a inúmeras 
arbitrariedades estatais; 4) interessespúblicos e 
interesses privados não são antagônicos, mas 
pressupõem-se mutuamente30. 
 
 
30BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos 
fundamentais, democracia e constitucionalização. 2ª ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2008 Apud Disponível em: 
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI230028,91041-
O+principio+da+supremacia+do+interesse+publico+sobre+o+interesse>. 
Acesso em: 09 ago. 2018. 
 
37 
 
 
 
Segundo se infere do seu pensamento, o interesse público não 
pode ser avesso aos direitos fundamentais individuais, mas sim 
compreender os interesses coletivos e individuais, protegidos pela 
nossa Carta Magna, para que sua efetividade seja justa e equilibrada, 
longe de interpretações que eventualmente possam favorecer 
somente o interesse singular da máquina estatal. 
Destarte, a aplicação da denominada Lei Seca deve estar 
inserida nesse contexto para se evitar graves injustiças e 
verdadeiramente cumprir seu objetivo de punir o real infrator e 
preservar vidas. 
Por conseguinte, como exaustivamente explanado, deve-se 
verificar nas autuações as provas ou sinais da alteração da 
capacidade psicomotora do motorista, garantindo-se assim a 
aplicação harmônica da norma infraconstitucional com as regras e 
princípios da Constituição Federal para a efetividade do bem-estar 
social e hegemonia do Estado Democrático de direito. 
Vê-se que o rigor do tratamento administrativo em relação à 
Lei Seca, que se verifica nos dias atuais, resta intolerável e afronta 
diretamente os princípios constitucionais da razoabilidade e 
proporcionalidade, pois se constata a mesma sanção para quem se 
recusa ao teste do etilômetro, ou seja, exercita um direito 
constitucional e quem está mentalmente perturbado ao volante. 
 Como dito alhures, ainda que se defenda a 
inconstitucionalidade da letra fria do artigo 165-A do CTB, o que 
possui relevantes fundamentos, faz-se indispensável a aplicação 
38 
 
 
 
desse dispositivo em consonância com a suprema Constituição e 
legislação vigente para que se autue com a devida motivação dos 
sinais de embriaguez ou anormalidade e não com base em 
presunções de culpa. 
Um tratamento administrativo para essa questão sem 
equilíbrio e correção, traz à tona outros interesses estatais que não 
são aqueles precípuos da denominada Lei Seca. 
Há de se lembrar que a finalidade administrativa é 
pedagógica, instrutiva, jamais poderá ser essencialmente punitiva e 
atemorizadora. 
 Aliás, “o Estado-Administração deve estar aparelhado para 
fazer valer o Texto Legal, na sua inteireza, jamais escudar-se, para 
fins de apenamento ao cidadão, na presunção de veracidade ou 
legalidade de seus atos”31. 
Assim observou, em uma de suas decisões, o respeitável 
Desembargador Niwton Carpes da Silva, membro do Judiciário do 
estado Rio Grande do Sul. 
 E mais, afirmou terminantemente: 
 
(...) a autoridade pública, inclusive a Administrativa, 
não pode viver escondida atrás de vetustos princípios 
doutrinários para justificar qualquer atuação punitiva. 
Esse princípio é produto do ranço ditatorial, fruto do 
Estado totalitário e do Estado usurpador dos direitos 
e garantias individuais, incompatível com a nova 
Ordem Constitucional, que garante e outorga direitos 
ao cidadão. É necessário, nos dias atuais, em pleno 
Estado Democrático e de Direito, que a autoridade 
 
31Cf. nota 19 deste artigo. 
39 
 
 
 
pública se dispa do manto de presunções e princípios 
doutrinários, erigidos no mais das vezes para solapar 
direitos sagrados dos cidadãos e dos contribuintes, e, 
nessa nova ótica, comprove quantum satis, de forma 
categórica e concreta, a infração imputada e 
adequação da pena imposta, pena de reputada 
inexistente ou mesmo invalidável32. 
 
Portanto, constata-se que a presunção de culpa deve ser 
excluída do nosso ordenamento jurídico, inclusive no âmbito 
administrativo, nos casos de insubmissão a exames técnicos de 
embriaguez ou qualquer outra substância psicoativa que determine 
dependência. 
A ação estatal deve se balizar pela nossa Carta Política, 
dentro dos limites legais, para que a Lei Seca, na prática, não seja 
distorcida e que o seu real objetivo seja alcançado. 
Frise-se que o que aqui se combate é a ineficácia estatal e as 
irregularidades procedimentais, que são justificadas, na maioria das 
vezes, nos indeferimentos de recursos administrativos proferidos 
pelos órgãos julgadores do Poder Executivo, na aplicação 
imponderada do princípio da presunção da legitimidade dos atos 
administrativos, que, não raro, assume caráter arbitrário. 
Dito de outro modo, a autoridade de trânsito não age 
conforme os ditames legais, extrapolando, por consequência, os 
limites do seu poder de polícia, já que não prova a embriaguez do 
condutor nem os indícios de alteração da capacidade psicomotora e, 
 
32Cf. nota 19 deste artigo. 
 
40 
 
 
 
mesmo assim, mantém, quase sempre, nas instâncias administrativas 
de julgamento a multa e penalidades indevidas, afogando, 
posteriormente, o Poder Judiciário. 
A atuação estatal não se sustenta numa lógica jurídico-
constitucional na medida em que pune um condutor que não se 
submete a qualquer teste, por quaisquer motivos, quando o próprio 
Estado possui todos os meios legais para caracterizar as infrações 
previstas no artigo 165, 165-A c/c 277, §3º, todos do CTB. 
Por isso, subscreve-se as palavras do autor Luiz Flávio 
Gomes: “O testemunho dos policiais, nesse contexto, apenas se 
revestiria de fé pública mediante colaboração do próprio 
condutor?33”. 
 
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Mediante o exposto, à guisa de conclusão, referenda-se o que 
o ilustre jurista Guilherme de Souza Nucci bem delineia acerca de 
algumas situações vivenciadas nos dias atuais: 
 
(...) A recusa em soprar o bafômetro enseja a imediata 
aplicação da sanção administrativa, ou seja, presume-
se culpa, pois o condutor perderá sua habilitação por 
um ano e pagará elevada multa. Eis aí a presunção de 
culpa e o dever de produzir prova contra si mesmo. A 
Lei 11.705/08 [e a lei 13.281/2016, que instituiu o 
artigo 165-A no CTB] foi editada para facilitar o 
trabalho da fiscalização, sem o menor pudor em 
resguardar relevantes direitos e garantias 
fundamentais. Antes dela, o agente de trânsito já tinha 
 
33GOMES, Luiz Flávio; SCHMITT DE BEM, Leonardo. Nova Lei Seca. 
Comentários à Lei 12.760, de 20-12-2012. 1ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 85. 
41 
 
 
 
condições plenas de fiscalizar quem dirigisse 
embriagado ou sob a influência de álcool. Entretanto, 
poderia ter mais trabalho e haveria de agir com maior 
empenho e treinamento. Mas isso não soou 
importante para o Estado. Ao contrário, em qualquer 
área, mormente da segurança pública, prefere-se o 
caminho mais fácil.34. 
 
 Em vista disso, o que substancialmente se espera é que a lei 
seja cumprida pela Administração Pública em função do bloco de 
legalidade, respeitando-se, especialmente, os princípios basilares da 
nossa Constituição Federal, sob pena de se consolidar outros 
interesses estatais, justificados na retórica repetitiva e tradicional da 
conceituação indeterminada da prevalência do interesse coletivo em 
detrimento das garantias individuais do cidadão. 
Ademais, o supracitado doutrinador completa: 
 
Aparelhar os órgãos estatais e treinar o seu pessoal 
são atividades muito mais custosas do que editar uma 
lei inconstitucional, voltada à sociedade brasileira 
formada em grande parte por pessoas leigas e outras 
tantas analfabetas e ignorantes de seus direitos 
básicos. Contando, ainda, com o apoio da imprensa, 
sob o prisma de que os fins justificam os meios, está 
construída a armação para solapar a garantia da 
presunção de inocência e de que ninguém é obrigado 
a produzir provacontra si mesmo (...)35. 
 
 
34NUCCI, Guilherme de Souza. A presunção de inocência e a “lei seca”. 63. ed. 
São Paulo: Carta Forense, ago. 2008. p. 14-15 Apud NOGUEIRA, Fernando. 
Crimes do Código de Trânsito. 3ª. ed. São Paulo: J. H. Mizuno, 2013. p. 196/197. 
35Cf. nota 33 deste artigo. 
 
42 
 
 
 
Isso posto, cumpre analisar a denominada Lei Seca sob o 
prisma do princípio da juridicidade com a ideia do interesse coletivo 
trazida pela doutrina moderna do Direito Administrativo para que 
todos os atos da Administração Pública, inclusive os sancionadores, 
tenham o pertinente respaldo constitucional e o devido equilíbrio 
jurídico. Então, no caso em voga, deverá ocorrer a comprovação da 
direção veicular em estado de consciência alterado quando alguém 
se recusar ao teste do etilômetro. 
 
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Nova Lei Seca. 3. ed. Rio de 
Janeiro: Freitas Bastos, 2018. 
 
GOMES, Luiz Flávio; SCHMITT DE BEM, Leonardo. Nova Lei 
Seca. Comentários à Lei 12.760, de 20-12-2012. 1. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. 
 
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito 
administrativo: parte introdutória, parte geral e parte especial. 16. ed. 
rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2014. In: Disponível em: 
<http://resumosdireito.blogspot.com/2015/04/sobre-o-principio-da-
juridicidade-no.html>. Acesso em Acesso em: 09 ago. 2018. 
NUCCI, Guilherme de Souza. A presunção de inocência e a “lei 
seca”. 63. ed. São Paulo: Carta Forense, ago. 2008. p. 14-15. In: 
NOGUEIRA, Fernando. Crimes do Código de Trânsito. 3. ed. São 
Paulo: J. H. Mizuno, 2013. p. 196/197. 
 
O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse 
privado no Direito Administrativo brasileiro. Disponível em: 
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI230028,91041-
http://resumosdireito.blogspot.com/2015/04/sobre-o-principio-da-juridicidade-no.html
http://resumosdireito.blogspot.com/2015/04/sobre-o-principio-da-juridicidade-no.html
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI230028,91041-O+principio+da+supremacia+do+interesse+publico+sobre+o+interesse
43 
 
 
 
O+principio+da+supremacia+do+interesse+publico+sobre+o+inter
esse>. Acesso em 09/08/2018. 
RIO GRANDE DO SUL. Recurso Inominado Nº 71007640006 (Nº 
CNJ: 0022239-75.2018.8.21.9000)2018/Cível. Disponível em:< 
http://www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
 
RIO GRANDE DO SUL. Recurso Inominado n.º 71005016266 (N.º 
CNJ: 0025137-
03.2014.8.21.9000)2014/Cível.Disponívelem:<http://www.tjrs.jus.
br>. Acesso em: 08 ago. 2018 
 
SANTA CATARINA. Conselho Estadual de Trânsito do Estado de 
Santa Catarina (CETRAN/SC). Parecer n.º 328/2017. Disponível 
em: <http://www.cetran.sc.gov.br>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
 
SÃO PAULO. Apelação n.º 1001184-86.2016.8.26.0042. 
Disponível em:< https://esaj.tjsp.jus.br>. Acesso em: 08 ago. 2018. 
 
VADE MECUM. SALVADOR: JUSPODIVM, 3. ED.,2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI230028,91041-O+principio+da+supremacia+do+interesse+publico+sobre+o+interesse
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI230028,91041-O+principio+da+supremacia+do+interesse+publico+sobre+o+interesse
http://www.tjrs.jus.br/
http://www.tjrs.jus.br/
https://esaj.tjsp.jus.br/
44 
 
 
 
UMA SOLUÇÃO NADA CONVENCIONAL PARA A 
SEGURANÇA VIÁRIA: BREVES CONSIDERAÇÕES 
SOBRE O PLANO NACIONAL DE REDUÇÃO DE MORTES 
E LESÕES NO TRÂNSITO (PNATRANS) 
 
Cesar Augusto Cavazzola Junior36 
 
Resumo: O objetivo deste trabalho será o de tecer breves 
comentários acerca da Lei nº 13.614, de 11 de janeiro de 2018, que 
criou o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito 
(Pnatrans) e acrescentou dispositivo à Lei nº 9.503, de 23 de 
setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), para dispor sobre 
regime de metas de redução de índice de mortos no trânsito por 
grupos de habitantes e de índice de mortos no trânsito por grupos de 
veículos. A Lei estabeleceu uma meta ousada, de difícil 
cumprimento e sendo necessária a participação de todos os setores 
da sociedade: à política de segurança de trânsito, o cumprimento das 
metas estabelecidas deverá ter prioridade sobre a atuação dos 
integrantes do Sistema Nacional de Trânsito. 
 
Palavras-chave: Pnatrans - Segurança viária – Sistema Nacional de 
Trânsito 
 
1. Introdução 
De acordo com o Sistema de Informações de Mortalidade do 
Ministério da Saúde, foram registrados 32.615 óbitos do tipo em 
 
36Advogado. Mestre em Direito (Unisinos). MBA em Business Law (FGV). Pós-
MBA em Negociação (FGV). Cursa especialização em Droit Comparé et 
Européen des Contrats et de la Consommation (UFRGS/Savoie Mont Blanc). 
Membro da CSI/OAB/RS. E-mail: cesar.cavazzola@gmail.com. 
45 
 
 
 
2017, contra 38.273 dez anos atrás, caindo 14% desde a 
implementação da Lei Seca, em 2008. De acordo com o Sistema de 
Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, foram 
registrados 32.615 óbitos do tipo em 2017, contra 38.273 dez anos 
atrás. Entretanto, o número de internações ligadas a acidentes de 
trânsito cresceu nos últimos dez anos: em 2008, 95.216 condutores, 
passageiros e pedestres foram internados no Sistema Único de Saúde 
(SUS). Em 2017, foram 181.120.37 
Uma das medidas recentemente adotadas para enfrentar esse 
problema veio com a aprovação da Lei nº 13.614, de 11 de janeiro 
de 2018, que criou o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões 
no Trânsito (Pnatrans) e acrescentou dispositivo à Lei nº 9.503, de 
23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), para dispor 
sobre regime de metas de redução de índice de mortos no trânsito 
por grupos de habitantes e de índice de mortos no trânsito por grupos 
de veículos. A legislação tem origem no Projeto de Lei 8.272/14, do 
deputado Paulo Foletto (PSB-ES) e do ex-deputado Beto 
Albuquerque (PSB-RS)38. 
 
37 “A redução da quantidade de vítimas fatais foi registrada em três regiões: 
Centro-Oeste (-13,6%), Sudeste (-31,6%); e Sul (-13,6%), enquanto houve 
aumento no Norte (+16%) e no Nordeste (+6,3%). Entre 2008 e 2017, o indicador 
saiu de 3.927 para 3.390 mortes no Centro-Oeste; de 15.189 para 10.378 no 
Sudeste; de 7.157 para 5.816 no Sul; de 2.718 para 3.159 no Norte e de 9.282 para 
9.872 no Nordeste.” BRASIL. Governo do Brasil. Mortes em acidentes de 
trânsito caem 14% nos últimos dez anos. Assuntos, 2018. Disponível em: < 
http://www.brasil.gov.br/editoria/seguranca-e-justica/2018/06/mortes-em-
acidentes-de-transito-caem-14-nos-ultimos-dez-anos>. Acesso em: 29 ago. 2018. 
38 BRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Lei cria Plano Nacional de 
Redução de Mortes no Trânsito. Câmara Notícias, 2018. Disponível em: < 
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/TRANSPORTE-E-
46 
 
 
 
2. O Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no 
Trânsito (PNATRANS) 
De acordo com o texto, o objetivo é, ao longo de dez anos, 
reduzir pela metade o índice de mortes por grupos de habitantes e o 
índice de mortos no trânsito por grupos de veículos (art. 1º). Isso 
significa diminuir a proporção de mortos em relação à população e 
em relação ao número de veículos de uma localidade. 
O Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no 
Trânsito (PNATRANS), a ser elaborado em conjunto pelos órgãos 
de saúde, trânsito, transportes e justiça (art. 2º), deverá conter: I – os 
mecanismos de participação da sociedade em geral na consecução 
das metas estabelecidas; II – a garantia da ampla divulgação das 
ações e procedimentos de fiscalização, das metas e dos prazos 
definidos, em balanços anuais, permitindo consultas públicas por 
meio da rede mundial de computadores; III – a previsão da realização 
de campanhas permanentes e públicas de informação, 
esclarecimento, educação e conscientização visando atingir os 
objetivos do PNATRANS (art. 3º). 
3. Dispositivos acrescidos ao Código de TrânsitoBrasileiro 
A Lei nº 13.614, de 11 de janeiro de 2018, foi responsável 
pela inclusão do art. 326-A ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB). 
Conforme consta no caput, no que se refere à política de segurança 
 
TRANSITO/551660-LEI-CRIA-PLANO-NACIONAL-DE-REDUCAO-DE-
MORTES-NO-TRANSITO.html>. Acesso em: 22 ago. 2018. 
 
47 
 
 
 
de trânsito, o cumprimento das metas estabelecidas deverá ter 
prioridade sobre a atuação dos integrantes do Sistema Nacional de 
Trânsito. 
Importante lembrar que o Sistema Nacional de Trânsito é 
mencionado em muitas oportunidades ao longo do CTB. O art. 5º o 
define como “o conjunto de órgãos e entidades da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que tem por 
finalidade o exercício das atividades de planejamento, 
administração, normatização, pesquisa, registro e licenciamento de 
veículos, formação, habilitação e reciclagem de condutores, 
educação, engenharia, operação do sistema viário, policiamento, 
fiscalização, julgamento de infrações e de recursos e aplicação de 
penalidades”. O art. 6º aponta quais são os objetivos básicos, que 
são: I - estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com 
vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à 
educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento; II - fixar, 
mediante normas e procedimentos, a padronização de critérios 
técnicos, financeiros e administrativos para a execução das 
atividades de trânsito; III - estabelecer a sistemática de fluxos 
permanentes de informações entre os seus diversos órgãos e 
entidades, a fim de facilitar o processo decisório e a integração do 
Sistema. Ainda, o SNT é composto pelos seguintes órgãos e 
entidades (art. 7º): I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, 
coordenador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo; II 
- os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de 
48 
 
 
 
Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, 
consultivos e coordenadores; III - os órgãos e entidades executivos 
de trânsito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios; IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; V - a 
Polícia Rodoviária Federal; VI - as Polícias Militares dos Estados e 
do Distrito Federal; e VII - as Juntas Administrativas de Recursos de 
Infrações - JARI. 
As metas para o Plano Nacional de Redução de Mortes e 
Lesões no Trânsito serão fixadas pelo CONTRAN para os Estados e 
para o Distrito Federal. As propostas serão fundamentadas dos 
CENTRAN e do CONTRANDIFE. A seguir, apenas em linhas 
gerais, será abordado o que vem a ser esses órgãos que compõe o 
Sistema Nacional de Trânsito. 
O Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), conforme 
art. 7º, I do CTB, é coordenador do Sistema e órgão máximo 
normativo e consultivo, com a seguinte composição: um 
representante do Ministério da Ciência e Tecnologia; um 
representante do Ministério da Educação e do Desporto; um 
representante do Ministério do Exército; um representante do 
Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal; um 
representante do Ministério dos Transportes; um representante do 
ministério ou órgão coordenador máximo do Sistema Nacional de 
Trânsito; um representante do Ministério da Saúde; um representante 
do Ministério da Justiça; um representante do Ministério do 
49 
 
 
 
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; um representante 
da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). 
Ao CONTRAN compete (art. 12, CTB): estabelecer as 
normas regulamentares referidas no CTB e as diretrizes da Política 
Nacional de Trânsito; coordenar os órgãos do Sistema Nacional de 
Trânsito, objetivando a integração de suas atividades; criar Câmaras 
Temáticas; estabelecer seu regimento interno e as diretrizes para o 
funcionamento dos CETRAN e CONTRANDIFE; estabelecer as 
diretrizes do regimento das JARI; zelar pela uniformidade e 
cumprimento das normas contidas no CTB e nas resoluções 
complementares; estabelecer e normatizar os procedimentos para a 
aplicação das multas por infrações, a arrecadação e o repasse dos 
valores arrecadados; responder às consultas que lhe forem 
formuladas, relativas à aplicação da legislação de trânsito; 
normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem, habilitação, 
expedição de documentos de condutores, e registro e licenciamento 
de veículos; aprovar, complementar ou alterar os dispositivos de 
sinalização e os dispositivos e equipamentos de trânsito; apreciar os 
recursos interpostos contra as decisões das instâncias inferiores 
conforme o CTB. 
Já os Conselhos Estaduais de Trânsito (CETRAN) e o 
Conselho de Trânsito do Distrito Federal (CONTRANDIFE), 
conforme o art. 7º, II do CTB, são órgãos normativos, consultivos e 
coordenadores do Sistema Nacional de Trânsito, aos quais compete 
(art. 14, CTB): cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de 
50 
 
 
 
trânsito, no âmbito das respectivas atribuições; elaborar normas no 
âmbito das respectivas competências; responder a consultas relativas 
à aplicação da legislação e dos procedimentos normativos de 
trânsito; estimular e orientar a execução de campanhas educativas de 
trânsito; julgar os recursos interpostos contra decisões das JARI e 
dos órgãos e entidades executivos estaduais; indicar um 
representante para compor a comissão examinadora de candidatos 
portadores de deficiência física à habilitação para conduzir veículos 
automotores; acompanhar e coordenar as atividades de 
administração, educação, engenharia, fiscalização, policiamento 
ostensivo de trânsito, formação de condutores, registro e 
licenciamento de veículos, articulando os órgãos do Sistema no 
Estado, reportando-se ao CONTRAN; dirimir conflitos sobre 
circunscrição e competência de trânsito no âmbito dos Municípios; 
informar o CONTRAN sobre o cumprimento das exigências 
definidas nos §§ 1º e 2º do art. 333 (CTB); designar, em caso de 
recursos deferidos e na hipótese de reavaliação dos exames, junta 
especial de saúde para examinar os candidatos à habilitação para 
conduzir veículos automotores; avocar, para análise e soluções, 
processos sobre conflitos de competência ou circunscrição, ou, 
quando necessário, unificar as decisões administrativas; dirimir 
conflitos sobre circunscrição e competência de trânsito no âmbito da 
União, dos Estados e do Distrito Federal; normatizar o processo de 
formação do candidato à obtenção da Carteira Nacional de 
51 
 
 
 
Habilitação, estabelecendo seu conteúdo didático-pedagógico, carga 
horária, avaliações, exames, execução e fiscalização. 
Conforme o art. 326-A, § 5º, as propostas para o Pnatrans, 
antes de serem submetidas ao CONTRAN, serão objetos de consulta 
ou audiência pública, realizadas pelos CONTRAN e pelo 
CONTRANDIFE, para manifestação da sociedade sobre as metas 
que desejam propor. Um exemplo recente deste dispositivo 
aconteceu no início de julho de 2018, no município de Passo 
Fundo/RS. O encontro foi organizado pelo Conselho Estadual de 
Trânsito do Rio Grande do Sul (Cetran/RS), no qual foram 
apresentadas as estatísticas do trânsito local e debatidas sugestões 
que possam impactar na redução dos índices de mortes nas vias. A 
audiência ocorreu na Universidade de Passo Fundo (UPF), com a 
presença do Legislativo e Executivo municipal, deputados, 
representantes de órgãos de trânsito e de segurança e da 
comunidade.39 No site do Detran/RS, foi noticiado outras iniciativas 
em cidades do Estado: Santo Ângelo, Caxias do Sul, Porto Alegre, 
Pelotas e Santa Maria.40 
 
39 PASSO FUNDO/RS. Câmara de Vereadores. Estatísticas de acidentes e 
sugestões para a redução de mortes são apresentas em audiência. Notícias, 
2018. Disponível em: < http://www.camarapf.rs.gov.br/noticia/2373/transito>. 
Acesso em: 10 ago.2018. 
40 DETRAN/RS. Audiência pública debate trânsito em Passo Fundo e 
Detran/RS apresenta dados inéditos da região. Notícias, 2018. Disponível em: 
< http://www.detran.rs.gov.br/conteudo/51413/audiencia-publica-debate-transito-
em-passo-fundo-e-detranrs-apresenta-dados-ineditos-da-regiao>. Acesso em: 30 
ago. 2018. 
 
52 
 
 
 
As propostas apresentadas deverão ser encaminhadas ao 
CONTRAN até o dia 1º de agosto de cada ano. Devem, ainda, ser 
acompanhadas de relatório analítico a respeito do cumprimento das 
metas fixadas para o ano anterior e de uma exposição de ações, 
projetos ou programas – nos quais também serão incluídos os 
orçamentos - por meio dos quais se pretende cumprir as metas 
propostas para o ano seguinte. Essas metas serão divulgadas durante 
a Semana Nacional do Trânsito, em setembro, assim como o 
desempenho, absoluto e relativo, de cada Estado e do Distrito 
Federal no cumprimento das metas vigentes no ano anterior. O 
CONTRAN será o responsável por definir as fórmulas para apuração 
dos índices, assim como a metodologia para a coleta e o tratamento 
dos dados estatísticos necessários para a composição dos termos 
dessas fórmulas. As informações devem permanecer à disposição 
do público na rede mundial de computadores, em sítio eletrônico do 
órgão máximo executivo de trânsito da União. Os dados coletados 
serão tratados e consolidados pelo respectivo órgão ou entidade 
executivo de trânsito de cada Estado ou Distrito Federal, que os 
repassará ao órgão máximo executivo de trânsito da União até o dia 
1º de março, por meio do sistema de registro nacional de acidentes e 
estatísticas de trânsito. Os índices serão divulgados oficialmente até 
o dia 31 de março de cada ano. 
Por fim, com os dados e índices apurados, o CONTRAN, os 
CETRAN e o CONTRANDIFE poderão recomendar aos integrantes 
do Sistema Nacional de Trânsito alterações nas ações, projetos e 
53 
 
 
 
programas em desenvolvimento ou previstos, isso para que possam 
atingir as metas fixadas para cada um dos Estados e para o Distrito 
Federal. A partir da análise de desempenho das metas fixadas, o 
CONTRAN, também durante a Semana Nacional de Trânsito, irá 
elaborar e divulgar duas classificações ordenadas dos Estados e do 
Distrito Federal, uma para o ano analisado, e outra que considere a 
evolução do desempenho dos Estados e do Distrito Federal desde o 
início das análises, além de relatório a respeito do cumprimento do 
objetivo geral de estabelecimento de metas, que é o de, ao final do 
prazo de dez anos, reduzir à metade, no mínimo, o índice nacional 
de mortos por grupo de veículos e o índice nacional de mortos por 
grupo de habitantes. 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: PODE TER O 
TRÂNSITO SOLUÇÃO A PARTIR DE FONTES 
NORMATIVAS? 
Primeiramente, é inegável, conforme dados apresentados, 
que o Brasil enfrenta uma verdadeira crise em relação ao número de 
acidentes e de mortes no trânsito. Claro que isso não é apenas um 
problema localizado41: a Organização Pan-Americana da 
 
41 “A publicação [Salvar Vidas] atenta para o fato de as lesões no trânsito estarem 
entre as dez principais causas de morte em todo o mundo entre todas as faixas 
etárias. Esses eventos são responsáveis por tirar a vida de mais de 1,3 milhão de 
pessoas a cada ano, além de causarem uma série de lesões não fatais (estima-se 
que até 50 milhões de pessoas são atingidas). Globalmente, quase metade (49%) 
dos indivíduos que morrem nas vias são pedestres, ciclistas e motociclistas. Além 
disso, as lesões ocorridas no trânsito são a principal causa de morte entre jovens e 
adultos com idade entre 15 e 29 anos.” ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES 
UNIDAS NO BRASIL. ONU lança publicação em português com medidas 
54 
 
 
 
Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) divulgou no 
mês de maio de 2018 a versão em português da publicação “Salvar 
Vidas” 42 - um pacote de medidas técnicas para a segurança no 
trânsito com base em evidências científicas. Essa ferramenta tem o 
objetivo de apoiar os tomadores de decisão e os profissionais que 
atuam na área nos esforços para reduzir significativamente o número 
de mortes e lesões nas vias.43 
Em segundo, o país tem, ao longo de sua história, mostrado 
uma incontestável adoração por leis ou qualquer outra fonte 
normativa. No caso aqui apresentado, com a lei que instituiu o Plano 
Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, não foi 
 
técnicas para segurança no trânsito. Notícias do Brasil, 2018. Disponível em: 
< https://nacoesunidas.org/onu-lanca-publicacao-em-portugues-com-medidas-
tecnicas-para-seguranca-no-transito/>. Acesso em: 27 ago. 2018. 
42 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Salvar Vidas: Pacote de 
medidas técnicas para a segurança no trânsito. Organização Pan-Americana da 
Saúde, 2018. Disponível em: < 
http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/34980/9789275320013-
por.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 27 ago. 2018. 
43 “Algumas metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) visam 
reduzir, ao menos pela metade, o número de mortos e feridos no trânsito até 2020, 
bem como oferecer sistemas de transportes seguros, acessíveis e sustentáveis para 
todos até 2030. Evidências científicas comprovam, por exemplo, que um aumento 
de 5 km/h acima da média de 60 km/h em áreas urbanas é o suficiente para dobrar 
o risco de acidentes fatais.[...] O pacote tem como eixos fundamentais a gestão da 
velocidade, a liderança na segurança no trânsito, o projeto e a melhoria da 
infraestrutura, as normas de segurança veicular, o cumprimento das leis de trânsito 
e, por fim, a sobrevivência pós-acidente. Se implementados de forma integrada, 
esses componentes facilitam o alcance das metas dos Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionadas à mobilidade segura e 
sustentável.” ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. ONU 
lança publicação em português com medidas técnicas para segurança no 
trânsito. Notícias do Brasil, 2018. Disponível em: < https://nacoesunidas.org/onu-
lanca-publicacao-em-portugues-com-medidas-tecnicas-para-seguranca-no-
transito/>. Acesso em: 27 ago. 2018. 
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diferente. Muito embora as audiências públicas tenham dado um 
caráter democrático ao processo legislativo, as leis deixaram há 
muito tempo de ser uma construção da sociedade – se é que alguma 
vez isso fez parte da história nacional: são impostas de cima para 
baixo, imperativamente, como o ato de um soberano44, sendo até 
possível dizer que tal fenômeno tenha tirado o vínculo da formação 
do Direito com as necessidades da sociedade45. É difícil de esperar 
que haja cumprimento de normas fruto dessa construção, sobretudo 
 
44 Para Ovídio Batista: “Certamente a alienação dos juristas e o seu confinamento 
no ‘mundo jurídico’ foram determinados por interesses políticos e econômicos da 
maior relevância. Não se pode, por isso, pretender a superação do paradigma 
racionalista sem que as atuais estruturas políticas e econômicas também se 
minimamente se transformem. A alienação dos juristas, a criação do ‘mundo 
jurídico’ – lugar encantado em que eles poderão construir seus teoremas sem 
importunar o mundo social e seus gestores – impôs-lhes uma condição singular, 
radicada na absoluta separação entre ‘fato’ e ‘direito’. [...] Enquanto juristas 
carregamos ainda o otimismo e a esperança de alcançarmos a certeza do Direito, 
embora o mundo ao nosso redor esteja literalmente de pernas para o ar [...].SILVA, 
Ovídio Araújo Baptista da. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de 
Janeiro: Forense, 2004. p. 301-302. 
45 Importante leitura para compreensão desse fenômeno: “El derecho, por su 
inclinación a materializarse, antes de ser poder, norma o sistema de categorías 
formales es experiencia, es decir, una dimensión de la vida social. Urge recuperar 
la juridicidad

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