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CADERNOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL_E-BOOK_12

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Prévia do material em texto

Organizadores 
 Alexandre Elman Chwartzmann 
 Gustavo Bahuschewskyj Corrêa 
 Maurício Brum Esteves 
 Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
Autores 
 
 
Adriana Carvalho Pinto Vieira 
Adriano M. G. Bedin 
Clarissa Melo Indalêncio 
Daniele Weber S. Leal 
Eduardo Henrique Hamel 
Geovana Bacim 
Gustavo Wentz 
Julio Cesar Zilli 
 Kelly Lissandra Bruch 
Letícia S. Arrosi 
Lilian Hanel Lang 
Liz Beatriz Sass 
Maurício Brum Esteves 
Paula Lourenço Madeira 
Rafael Krás Borges Verardi 
Raphael Vieira Medeiros 
Raquel Von Hohendorff 
Vanessa Pereira Oliveira Soares 
Wilson Engelmann 
 
 
CADERNOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL - 
Coletânea de artigos apresentados no XVIII CICLO DE 
PROPRIEDADE INTELECTUAL e I CONGRESSO NACIONAL DE 
PROPRIEDADE INTELECTUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
OABRS 
2019 
 
Copyright © 2019 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
Membros da Comissão Especial de Propriedade Intelectual da OAB/RS 
 
 
Presidente 
Andre de Oliveira Schenini Moreira 
 
Vice-presidente 
Maurício Brum Esteves 
 
Secretária 
Sheila da Silva Peixoto 
 
 
 
 
 
 
 
Membros 
Alexandre Elman Chwartzmann 
Alberto Fett 
Carlos Ignacio Schmitt Sant'anna 
Claudia Denise Gimenez 
Cesar Alexandre Leão Barcellos 
Felipe Octaviano Delgado Busnello 
Felipe Pierozan 
Gustavo Bahuschewskyj Correa 
Kelly Lissandra Bruch 
Luiz Gonzaga Silva Adolfo 
Maria Cristina Gomes da Silva d'Ornellas 
Milton Lucidio Leão Barcellos 
Rafael Krás Borges Verardi 
Rodrigo Azevedo Pereira 
Organizadores 
 Alexandre Elman Chwartzmann 
 Gustavo Bahuschewskyj Corrêa 
 Maurício Brum Esteves 
 Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
Capa 
Carlos Pivetta 
 
C129 
Cadernos de Propriedade Intelectual - Coletânea de artigos apresentados no XVIII Ciclo de 
Propriedade Intelectual e I Congresso Nacional de Propriedade Intelectual. Alexandre 
Elman Chwartzmann. et.al – (Organizador). Porto Alegre: OAB/RS. 2019. 206p. 
ISBN: 978-85-62896-16-3 
 
1. Propriedade Intelectual 2. Direitos Autorais Legislação I. Brasil II Título. 
CDU: 347.77 
Bibliotecária responsável: Jovita Cristina G. dos Santos (CRB 10/1517) 
 
Rua Manoelito de Ornellas,55 – Praia de Belas 
CEP: 90110-230 Porto Alegre/RS 
Telefone: (51) 3287-1838 
biblioteca@oabrs.org.br 
 
 
O conteúdo é de exclusiva responsabilidade dos seus organizadores. 
 
 
mailto:biblioteca@oabrs.org.br
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 
 
Presidente: Felipe Santa Cruz 
Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz 
Secretário-Geral: José Alberto Simonetti 
Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto 
 Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Ricardo Ferreira Breier 
Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães 
Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth 
Tesoureiro: André Luis Sonntag 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten 
Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery 
Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Alexandre Lima Wunderlich 
Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira 
Jaqueline Mielke Silva 
Vera Maria Jacob de Fradera 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Mariana Melara Reis 
Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel 
Tesoureiro: Gustavo Juchem 
 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Cesar Souza 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha, 
Josana Rosolen Rivoli, 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Heinen
 
 
 
 
 
 
PREFÁCIO 
Estamos devidamente inseridos numa revolução tecnológica, que afeta desde relações 
humanas até os mais diferentes de relações profissionais e de trabalho. Mudanças seguem 
ocorrendo rapidamente. É nesse ambiente frenético que o Direito vai se posicionando e, muitas 
vezes, atuando como mediador ou definidor de parâmetros. 
Nesse sentido, debates, estudos, discussões, troca de informações e conhecimento são 
fundamentais para atualizar os operadores do Direito. A realização do I Congresso Nacional de 
Propriedade Intelectual e o XVIII Ciclo de Propriedade Intelectual, em novembro de 2018, 
numa parceria da OAB/RS com a Comissão Especial de Propriedade Intelectual (CEPI), 
juntamente com a Escola Superior de Advocacia da OAB/RS (ESA/RS), é um exemplo desta 
realidade. 
No encontro realizado no TecnoPUCRS, em Porto Alegre, houve debates de extrema 
relevância, envolvendo direitos de autor, propriedade industrial, tecnologia da informação e 
direitos culturais. Cabe destacar que a riqueza de uma nação não é formada somente pelos bens 
materiais, mas também por sua riqueza e seu patrimônio intelectual. Até porque, marcas valem 
muito mais do que os terrenos, prédios e bens que elas possuem. 
Essas mudanças aceleradas que estamos vivenciando são acompanhadas e monitoradas 
pela OAB/RS. Enquanto a sociedade busca se adaptar a novas ferramentas e tecnologias, é 
imprescindível que direitos e garantias sejam respeitados. 
Em nome da atual Diretora-Geral da ESA/RS, Rosângela Maria Herzer dos Santos, e do 
Ex-Presidente da CEPI, Gustavo Bahuschewskyj Corrêa, registro meus cumprimentos pela 
realização do evento e pela produção do e-book. Somos entusiastas dessas práticas de registro 
e difusão dos conhecimentos, que seguirão recebendo incentivo e reconhecimento da direção 
da OAB/RS. 
Ricardo Breier 
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil/RS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
Com satisfação, que a Escola Superior de Advocacia da OAB/RS, em conjunto com 
Comissão Especial de Propriedade Intelectual da OABR/RS, disponibiliza a obra 
“CADERNOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL - Coletânea de artigos apresentados no 
XVIII CICLO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL e I CONGRESSO NACIONAL DE 
PROPRIEDADE INTELECTUAL”, em novembro de 2018, na Pontifícia Universidade 
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e organizado por Alexandre Elman Chwartzmann, 
Gustavo Bahuschewskyj Corrêa e Maurício Brum Esteves, Membros da Comissão Especial de 
Propriedade Intelectual da OABR/RS. A obra contempla com onze artigos, abrange autores, 
alunos, professores, pesquisadores e especialistas em propriedade intelectual. 
 
Boa Leitura!! 
 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Diretora-Geral da Escola Superior de Advocacia da OAB/RS 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E INTERFACE COM A LEI DE DEFESA DA 
CONCORRÊNCIA – Adriano M. G. Bedin .......................................................................... 9 
DIREITOS DO AUTOR, MÚSICA E TECNOLOGIA: REFLEXÃO JURÍDICA SOBRE 
SUA CONCILIAÇÃO – Clarissa Melo Indalêncio, Adriana Carvalho Pinto Vieira, Julio 
Cesar Zilli e Kelly Lisandra Bruch ................................................................................. ...27 
DIREITO AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO: PROPRIEDADE INTELECTUALE CONHECIMENTOS COLETIVOS – Geovana Bacim .................................................. 43 
OS DIREITOS AUTORAIS NA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO: UM CONFLITO 
ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS – Gustavo Wentz, Eduardo Henrique Hamel e 
Lilian Hanel Lang ................................................................................................................... 59 
O COPYRIGHT E A PIRATARIA NA INDÚSTRIA DA MODA: FALHA DE 
MERCADO OU IMPULSO À INOVAÇÃO- Letícia Soster Arrosi ................................. 76 
SOFTWARE LIVRE NA SOCIEDADE EM REDE: EM BUSCA DE UM REGIME 
JURÍDICO ADEQUADO – Maurício Brum Esteves e Liz Beatriz Sass .......................... 93 
O PROJETO THE NEXT REMBRANDT E OS REFLEXOS NOS DIREITOS 
AUTORAIS – Paula Lourenço ............................................................................................ 113 
O CONFLITO ENTRE SINAIS DISTINTIVOS EMPRESARIAIS E A TUTELA DA 
CONCORRÊNCIA – Rafael Krás Borges Verardi ........................................................... 124 
VALE DOS VINHEDOS: O VINHO COMO EXPRESSÃO DE CULTURA- Raphael 
Vieria Medeiros..................................................................................................................... 156 
CRITÉRIOS OBSERVADOS NA SOLUÇÃO DE CONFLITOS ENTRE REGISTRO DE 
MARCAS E NOMES EMPRESARIAIS IDÊNTICOS E/OU SEMELHANTES – Vanessa 
Pereira Oliveira Soares ........................................................................................................ 169 
A NANOREVOLUÇÃO E NANOPATENTES? SEUS IMPACTOS NO SISTEMA 
INTERNACIONAL DE PATENTES E USO DO DIÁLOGO ENTRE AS FONTES DO 
DIREITO – Wilson Engelmann, Daniele Weber S. Leal e Raquel Von Hohendorff .... 188 
 
 
9 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 No final dos anos 90, início dos anos 2000, surgia na Ordem dos Advogados do Brasil 
Seccional Rio Grande do Sul a primeira comissão a tratar da temática da propriedade Intelectual 
no âmbito da OAB. Agora, já tendo adentrado na maioridade, a Comissão Especial de 
Propriedade Intelectual (CEPI) tem a alegria de lançar a presente publicação intitulada 
Cadernos de Propriedade Intelectual, obra coletiva criada a partir dos artigos apresentados no 
XVIII Ciclo de Propriedade Intelectual e I Congresso Nacional de Propriedade Intelectual e que 
conta com o apoio da Escola Superior de Advocacia – ESA-OAB/RS. É mais uma contribuição 
da CEPI para a comunidade jurídica, na esteira da Cartilha de Propriedade Intelectual lançada 
em 2015. 
 Trata-se de obra composta por dezenove autores(as) que abordam os mais variados 
temas da propriedade intelectual, demonstrando a riqueza e diversidade do assunto. Entre eles 
podemos citar aspectos de propriedade intelectual e o meio ambiente, o universo do 
entretenimento, a questão dos softwares, as indicações geográficas, etc. Todos temas atuais e 
relevantes. São artigos de qualidade que serão referenciais tanto para os colegas que atuam 
quanto aqueles que pretendem se especializar na matéria. 
 É inegável o interesse social e a importância da propriedade intelectual para o 
desenvolvimento econômico e tecnológico do País. Ocorre, porém, que ainda existe um grande 
desconhecimento da matéria e suas potencialidades. Mesmo no âmbito jurídico ainda há muito 
trabalho a realizar. Com esses desafios em mente, a CEPI vem, com a participação ativa dos 
seus membros, atuando de forma abnegada para promover o conhecimento acerca das criações 
intelectuais. Ao longo desses anos, diversas iniciativa foram realizadas, como projetos de 
sensibilização das universidades para a criação de disciplinas nos mais variados cursos afetos 
ao tema; apoio na criação de Câmara especializada no Tribunal de Justiça do Estado do Rio 
Grande do Sul; participação em consultas públicas; apoios em demandas da casa; realização de 
Ciclos de Palestras que rodaram todo interior do Estado; entre outros. É um trabalho coletivo, 
com o apoio da OAB/RS, em prol dos advogados e da sociedade como um todo. 
 Esperamos que façam bom proveito dos artigos que seguem, se inspirem e no ajudem a 
construir um país com a cultura da propriedade intelectual, valorizando o trabalho criativo e 
conscientes dos direitos que possuem. 
 
Gustavo Bahuschewskyj Corrêa 
Ex-Presidente da Comissão Especial de Propriedade Intelectual 
 
 
 
 
 
10 
 
 
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E INTERFACE COM A LEI DE DEFESA DA 
CONCORRÊNCIA 
 
TECHNOLOGY TRANSFER AND THE INTERFACE WITH ANTITRUST LAW 
 
 Adriano M. G. Bedin1 
 
 
Resumo: Esse artigo objetiva propiciar uma visão sobre os contratos de transferência de 
tecnologia, bem como analisar sua interface com a lei de defesa da concorrência e discorrer 
sobre as várias práticas anticoncorrenciais que podem ser perpetradas na transferência de 
tecnologia. 
 
Palavras-Chave: Contratos. Transferência de tecnologia. Defesa da concorrência. 
 
Abstract: This article aims to provide a view on technology transfer contracts, as well as to 
analyze its interface with the antitrust law and to discuss the various anticompetitive practices 
that may be perpetrated in the transfer of technology. 
 
Keywords: Technology transfer contracts. Anti trust Law. 
 
1 INTRODUÇÃO 
Na sociedade atual é extremamente disseminada e aceita a relação entre inovação e 
desenvolvimento econômico. Entre as várias formas de inovação, reveste-se de grande 
importância a inovação tecnológica, a qual normalmente está associada a direitos de 
propriedade intelectual. Estes direitos podem ser objeto de negócios jurídicos e, como muitas 
vezes é economicamente mais interessante adquirir tecnologia do que desenvolvê-la, contratos 
de transferência de tecnologia são utilizados para a difusão destes conhecimentos. De um ponto 
de vista econômico, considera-se que estes contratos proporcionam eficiência alocativa, ao 
fazer que a tecnologia seja transferida de quem menos a valoriza para quem mais a valoriza e 
que tem melhores condições de colocá-la no mercado. Entretanto, a transferência de tecnologia 
pode também estar relacionada a práticas que potencialmente podem prejudicar a livre iniciativa 
e a livre concorrência em um determinado mercado relevante. Tais práticas podem sujeitar o 
negócio realizado ao escrutínio dos órgãos de defesa da concorrência, o que justifica a 
 
1 Advogado, Agente da Propriedade Industrial e Mestrando em Direito de Empresa e Negócios. 
11 
 
 
realização de uma análise da interface entre os contratos de transferência de tecnologia e o 
direito concorrencial. 
2 A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA 
A tecnologia pode ser obtida ao adquirir equipamentos com a mesma incorporada, por 
desenvolvimento próprio ou por contratos de transferência de tecnologia. Neste tipo de contrato, 
uma pessoa física ou jurídica se obriga a transferir conhecimentos especiais que detém sobre 
processos industriais de fabricação, produtos, técnicas, experiências e práticas, em contrapartida 
ao pagamento de royalties2. Existem várias vantagens para ambas as partes. Por conta de uma 
tecnologia superior, o adquirente assume uma posição mais competitiva no mercado, atrai nova 
clientela e pode incrementar seu próprio programa de desenvolvimento, já o concedente, além de 
receber royalties, pode utilizar-se de aperfeiçoamento realizados pelo adquirente, entra em 
mercados sem riscos e obtém rendimentos novos com uma tecnologia já explorada.3 Deve-se 
ainda destacar que o custo para a criação de tecnologia própria, de maneira geral, é maior do que 
o valor para obtenção da mesma de quem já a domina.4 
Quando nos referimos a contratos de transferência de tecnologia, na realidade estamos 
nos referindo a uma multiplicidade de contratos que tem como objeto a transferência de 
conhecimentos técnicos de diferentes naturezas. João Marcelo de Lima Assafim divide a 
tecnologia emtrês níveis: um primeiro de tecnologia menor - composto por conhecimentos que 
são a expressão das habilidades e experiências de seu criador – que não reúnem os requisitos 
necessários para receber uma proteção jurídica própria; um segundo – constituído por 
conhecimentos e informações que proporcionam vantagens competitivas sem apresentar um grau 
de criatividade intrínseco - já merecedores de um determinado grau de proteção pelo ordenamento 
jurídico, e; um terceiro – formado por conhecimentos e informações que satisfazem requisitos 
mínimos para merecer uma tutela jurídica específica – capazes de proporcionar um direito de 
exclusividade de exploração ao seu criador5. Os conhecimentos do primeiro grupo estão 
disponíveis para qualquer interessado e podem ser livremente aproveitados6. Os do segundo 
grupo têm valor econômico agregado e são usualmente mantidos em sigilo por seu criador, 
encontrando proteção como segredo de indústria e nas regras gerais de repressão a concorrência 
 
2 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2002.p.3. 
3ASSAFIM, João Marcelo de Lima. A transferência de tecnologia no Brasil: aspectos contratuais e 
concorrenciais da propriedade industrial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. p.26. 
4 DINIZ, op.cit., p.4. 
5 ASSAFIM, op.cit., p.3. 
6 ASSAFIM, loc.cit. 
12 
 
 
desleal7. Por fim, o terceiro grupo compreende conhecimentos amparados pela propriedade 
intelectual. 
Os conhecimentos protegidos por segredo de indústria podem ser transferidos através 
de um contrato de fornecimento de tecnologia. Este é o nome pelo qual é conhecido no Brasil o 
contrato de “know-how”, que objetiva a aquisição de técnicas e conhecimentos não protegidos 
pela propriedade industrial8. Este tipo de contrato compreende obrigações de dar (plantas, blue 
prints, listagens, etc.) e obrigações de fazer (transmitir experiências, técnicas e conhecimentos 
práticos)9. O bem negociado neste tipo de contrato é constituído por conhecimentos 
confidenciais de caráter tecnológico, em que a perda do caráter sigiloso implicaria na falta de 
amparo legal para a proteção das informações10. É o caráter secreto das informações que atrai 
as normas repressoras da concorrência desleal e, ainda, que gera o valor econômico para as 
empresas, pois a posição competitiva que proporcionam depende de serem mantidas fora do 
conhecimento público11. 
Os conhecimentos protegidos por um direito de exclusiva são passíveis de transferência 
por meio de contratos de licenciamento de uso e exploração. O contrato de licença de patente 
[ou de desenho industrial] permite a exploração econômica da patente [ou do desenho] por 
terceiro, sendo admissível que recaia tanto sobre a solicitação de patente como sobre a patente 
já concedida12. O contrato de licença de uso de programas de computador autoriza o licenciado 
a utilizar o programa nas condições estipuladas, nos moldes da legislação do direito autoral, 
enquanto no contrato de transferência de tecnologia propriamente dito o autor disponibiliza 
informações técnicas do programa em si13. Por fim, o contrato de licença sobre topografia de 
circuitos integrados confere ao licenciado o direito, exclusivo ou não, de explorar uma 
topografia e de excluir terceiro, sem seu consentimento, de reproduzir dita topografia 
protegida14. 
 
7 ASSAFIM, João Marcelo de Lima. A transferência de tecnologia no Brasil: aspectos contratuais e 
concorrenciais da propriedade industrial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. p.200. 
8 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2002.p.18. 
9 BARBOSA, Denis Borges. O contrato de know how. 2002. Disponível em 
<http://denisbarbosa.addr.com/paginas/home/pi_tipos_knowhow.html> Acesso em 23 de julho de 2016.p.3 
10 FEKETE, Elisabeth Kasznar. O regime jurídico do segredo de indústria e comércio no direito brasileiro. 
Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.224. 
11 ASSAFIM, op.cit.,p.200. 
12 Ibidem. p.157. 
13 Ibidem.p.231. 
14 ASSAFIM, João Marcelo de Lima. A transferência de tecnologia no Brasil: aspectos contratuais e 
concorrenciais da propriedade industrial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. p.235. 
13 
 
 
3 INTERFACE COM O DIREITO DE PROTEÇÃO DA CONCORRÊNCIA 
A propriedade sobre bens intelectuais tem como característica intrínseca a exclusão de 
terceiros em relação à matéria protegida, o que gera uma aparente oposição ao direito de defesa 
da concorrência (antitruste), já que este tutela a livre concorrência no mercado. Esta aparente 
contradição pode levar a conclusão de que estes ramos do direito se contrapõem, entretanto, 
hoje em dia se considera que o direito da propriedade intelectual e o direito antitruste são 
instrumentos complementares de promoção da inovação e da concorrência15. Existe uma 
convergência de propósitos, uma vez que os direitos de exclusividade propiciados pela 
propriedade intelectual estimulam a inovação e também a concorrência, já que as empresas 
necessitam investir em qualidade e inovação para se diferenciar de seus concorrentes e obter 
parcelas maiores do mercado16. Por esta perspectiva, um direito de exclusividade sobre 
determinada tecnologia é um estímulo aos concorrentes para desenvolverem tecnologias 
substitutas. Por outro lado, a extensão dos limites dos direitos de propriedade intelectual é 
limitada por este mesma função de fomentar a concorrência, do que decorre que a titularidade 
de um direito de propriedade intelectual não coloca ninguém em uma posição absoluta, imune 
a qualquer restrição no exercício desse direito17. 
É incontroverso que situações de tensão entre a propriedade intelectual e o direito de 
defesa da concorrência ocorrem frequentemente e devem ser enfrentadas. Tanto é assim que o 
Acordo TRIPS – que estabelece padrões mínimos de proteção de propriedade intelectual para 
os países que pertencem a Organização Mundial do Comércio (OMC) – autoriza que os países 
membros tomem as medidas necessárias para evitar abusos de direito de propriedade intelectual 
e práticas que restrinjam de maneira injustificada o comércio ou prejudiquem a transferência 
de tecnologia18. Trata-se de uma permissão para incorporação nas legislações nacionais de 
mecanismos aptos para enfrentar o problema. 
 
15 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin, 2014. p.147. 
16 Ibidem.p.64 
17 GRAU-KUNTZ, Karin. O desenho industrial como instrumento de controle econômico do mercado 
secundário de peças de reposição de automóveis: uma análise crítica a recente decisão da Secretaria de Direito 
Econômico (SDE). Revista Eletrônica do IBPI – Edição Especial. 2013. p.32.Disponível em: 
http://ibpieuropa.org/book/326 >. Acesso em: 12 dez. 2016. 
18 BRASIL. Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Promulga a Ata Final que Incorpora os Resultados 
da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT. Disponível em < 
http://www.inpi.gov.br/legislacao-1/27-trips-portugues1.pdf/view>. Acesso em 09 dez. 2016. Artigo 8.2. 
http://ibpieuropa.org/book/326
http://www.inpi.gov.br/legislacao-1/27-trips-portugues1.pdf/view
14 
 
 
Em consonância com o TRIPS, a lei de defesa da concorrência brasileira considera 
infração da ordem econômica exercer ou explorar abusivamente direitos de propriedade 
industrial, intelectual, tecnologia ou marca19 e, assim, atua como controle externo, impedindo 
que os agentes econômicos abusem de direitos de propriedade industrial com fins 
anticoncorrenciais20. O abuso de um direito ocorre quando este é exercido excedendo 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social. Neste caso particular, 
ocorre abuso quando o titular tenta exercer controle fora das formasde exploração normais dos 
bens intangíveis21. O problema é distinguir uma prática concorrencial normal e uma prática 
abusiva, principalmente considerando que provocar prejuízos aos concorrentes é inerente à 
própria concorrência. 
Para fornecer um panorama geral das possíveis práticas anticoncorrenciais que podem 
ocorrer em contratos de transferência de tecnologia, é útil recorrer ao direito comparado. Um 
bom ponto de partida é iniciar com os “Nine No-Nos”, uma lista de cláusulas publicada pelo 
Departamento de Justiça dos Estados Unidos em 1970 que, se incluídas em contratos de 
transferência de tecnologia, seriam consideradas ilícitos per se22. “A regra per se determina 
que, uma vez configuradas certas práticas, o ato poderá ser julgado como ilegal sem a 
necessidade de aprofundamento da investigação”23. Em outras palavras, a mera inclusão da 
cláusula já seria considerada ilegal e não seria necessária qualquer outra análise subsequente. 
 As cláusulas proibidas eram: cobrar royalties não relacionados de forma razoável com 
as vendas dos produtos patenteados; restrições ao comércio do licenciado fora do âmbito das 
patentes; exigir do licenciado a compra de material não patenteado do licenciante; pacotes de 
licenças obrigatórias; exigir do licenciado a cessão ao licenciante de patentes emitidas após o 
acordo de licenciamento ser executado; poder de veto do licenciado sobre concessões de novas 
licenças; restrições nas vendas de produtos não patenteados por meio de um processo 
 
19 BRASIL. Lei nº 12529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência; 
dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em 09 dez. 2016. art 36. 
20 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014, p.57-58. 
21 RODRIGUES JR, Edson Beas. Abuso no exercício de direito da propriedade intelectual e as contribuições do 
caso ANFAPE. Revista da ABPI nº 140, p.40, jan/fev de 2016. 
22 LILLA, op.cit. p.136. 
23 GABAN, Eduardo Molan; DOMINGUES, Juliana Oliveira. Direito antitruste. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
p.83. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm
15 
 
 
patenteado; restrições pós-venda na revenda; e a fixação de preços mínimos de revenda dos 
produtos patenteados24. 
No decorrer dos anos 80 e 90 do século passado, os órgãos de defesa da concorrência 
dos Estados Unidos revisaram sua posição, deixando de considerar muitas dessas práticas como 
ilícitos per se e passando a analisá-las caso a caso, à luz da “regra da razão” 25. “Pela regra da 
razão, somente são consideradas ilegais as práticas que restringem a concorrência de forma não 
razoável” 26. Esta regra afasta a ilicitude ao fazer com que não se configure o suporte fático 
necessário para a incidência do dispositivo pertinente da legislação antitruste27. Em última 
análise, isto significa que uma prática que efetivamente restrinja a concorrência pode ser 
permitida se o bem-estar econômico geral criado pela operação for positivo. Assim, a regra da 
razão compreende uma ponderação entre os efeitos pró-competitivos do contrato e os efeitos 
anticoncorrenciais, sendo a operação autorizada se os primeiros superarem os segundos. 
De forma coerente com o novo entendimento, em 1995 o Governo Americano lançou 
novas Diretrizes Antitruste para o Licenciamento de Propriedade Intelectual. Estas diretrizes 
tinham três princípios fundamentais: (i) um reconhecimento expresso de que em geral contratos 
de licenciamento têm natureza pró-competitividade; (ii) uma rejeição clara a qualquer 
presunção de que a propriedade intelectual proporcionaria necessariamente poder de mercado 
a seu titular, e; (iii) um endosso a validade de aplicar à propriedade intelectual a mesma 
abordagem antitruste adotada para outras formas de propriedade28. Como as diretrizes partem 
do pressuposto que normalmente o licenciamento apresenta ganhos de eficiência, há a 
necessidade de analisar as operações sob a regra da razão e, ainda, o abandono da presunção 
que a propriedade intelectual gera poder de mercado significa que a avaliação de restrições 
impostas pelo licenciamento requer uma análise das circunstâncias do mercado para determinar 
os efeitos anticompetitivos29. 
Existem várias cláusulas restritivas que podem ser incluídas em contratos de 
transferência de tecnologia, algumas delas ainda são tratadas como ilícitos per se, tanto nos 
 
24 GILBERT, Richard; SHAPIRO, Carl. Antitrust Issues in the Licensing of Intellectual Property: 
The Nine No-No's Meet the Nineties. Brooking Papers: Microeconomics 1997. p.284-285.Disponível em: < 
http://faculty.haas.berkeley.edu/shapiro/ninenono.pdf>. Acesso em 11 dez 2016. 
25 Ibidem.p. 286. 
26 FORGIONI, Paula A. Os fundamentos do antitruste. 8ª ed. rev, atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2015. p.197. 
27 Ibidem p.199. 
28 GILBERT, Richard; SHAPIRO, Carl. Antitrust Issues in the Licensing of Intellectual Property: 
The Nine No-No's Meet the Nineties. Brooking Papers: Microeconomics 1997. p. 287. 
29 GILBERT; SHAPIRO. loc.cit. 
http://faculty.haas.berkeley.edu/shapiro/ninenono.pdf
16 
 
 
Estados Unidos como na Europa. As diretrizes americanas tratam como ilícitos per se a fixação 
pura de preços, restrições de produção, divisão de mercado entre competidores horizontais, 
fixação de preços de revenda e alguns boicotes de grupos. Para determinar se a uma restrição 
deste tipo será aplicada a regra per se ou a regra da razão, é feita uma avaliação se pode ser 
esperado que a restrição contribua para uma integração de aumento de eficiência da atividade 
econômica, se isto for provável será utilizada a regra da razão, em caso contrário aplica-se a 
regra per se30. De modo similar, a Europa trabalha com as restrições hard-core, empregando 
diferentes tratamentos se a relação é horizontal (concorrentes diretos) ou vertical (diferentes 
níveis da cadeia produtiva). Em relações horizontais são restrições proibidas: a fixação de 
preços para o licenciado na venda do produto para terceiros; limitações recíprocas de produção; 
alocação ou divisão de mercados; restrições ao licenciado de explorar sua própria tecnologia ou 
de realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento. Em relações verticais proíbe-se: fixação 
de preços mínimos de revenda; restrição dos territórios ou dos consumidores para os quais o 
licenciado pode vender de forma passiva; restrição de vendas ativas ou passivas aos usuários 
finais por um licenciado que é membro de um sistema de distribuição seletiva31. 
De maneira geral, as Diretrizes Americanas se preocupam com acordos que prejudicam 
a competição entre empresas que seriam efetivas ou potenciais concorrentes na ausência de dito 
acordo32. Por esta perspectiva, competição intratecnologia não é uma competição que ocorreria 
na ausência da licença e as restrições acima explicadas não são a princípio consideradas 
anticompetitivas quando aplicadas a licenciados da mesma tecnologia33, ou seja, o foco está na 
competição intertecnologia (entre tecnologias concorrentes). As Diretrizes e Regulamento da 
Comunidade Europeia são mais rígidos ao analisar estas restrições, levando em consideração o 
impacto do acordo no mercado intratecnologia e intertecnologia34. Ao comparar os princípios 
de antitruste dos Estados Unidos e Europa, Richard J. Gilbert afirma que as restrições 
intratecnologia são um incentivo para o titular da tecnologia licenciar a mesma amplamente e 
que, na ausência dessas cláusulas restritivas, não se pode assumir que as tecnologias serão 
licenciadas e que haverá investimentos complementares35. Gilbert ainda enfatiza que,de acordo 
 
30 Ibidem. p.16. 
31 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.156. 
32 Ibidem. p.7. 
33 GILBERT,Richard J. Converging Doctrines? US and EU Antitrust Policy for the Licensing of Intellectual 
Property (february 2004). University of California, Berkeley, Competition Policy Working Paper nº CPC04-44. 
p.3.Disponível em: < https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=527762>. Acesso em: 11 dez 2016. 
34 Ibidem. p.4. 
35 Ibidem. p.6. 
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=527762
17 
 
 
com as diretrizes americanas, a análise das cláusulas restritivas compreende aferir se podem ser 
justificadas diante de alternativas menos restritivas, verificando se são “razoavelmente 
necessárias”, enquanto na análise da Comissão Europeia as cláusulas devem ser “objetivamente 
necessárias”, adotando novamente um critério mais rígido36. 
4 CLÁUSULAS QUE PODEM TER EFEITOS ANTICONCORRENCIAIS 
A primeira restrição importante que pode estar presente em um contrato de transferência 
de tecnologia é a exclusividade. Os contratos de licenciamento podem ser firmados com 
exclusividade, ou seja, apenas o licenciado poderá explorar a tecnologia, excluindo inclusive o 
próprio licenciante e impedindo que este conceda licenças para outros37. Esta exclusividade 
pode ser restrita a um determinado território, ou pode se referir apenas a determinados 
consumidores, ou pode estar restrita a um determinado campo de aplicação tecnológico38. Estas 
restrições podem ser pró-competitivas: ao permitir que o licenciante explore a propriedade 
intelectual da forma mais eficiente possível e, ainda, ao protegê-lo da competição em nichos de 
mercado que deseje manter para si, enquanto no outro extremo, protege o licenciado da 
competição de outros licenciados e do próprio licenciante, propiciando incentivos para investir 
na comercialização e distribuição de produtos com a tecnologia licenciada e desenvolver novas 
aplicações para a mesma39. Entretanto, tais restrições podem levantar preocupações 
anticoncorrenciais se bloquearem o acesso a tecnologias concorrentes, impedirem o 
desenvolvimento pelo licenciado de tecnologias próprias, ou facilitarem alocação de mercado 
ou fixação de preços de qualquer produto ou serviço do licenciado40. 
Um contrato de transferência de tecnologia pode incluir cláusulas de não concorrência 
que impedem o licenciado de licenciar, vender, usar ou distribuir tecnologias concorrentes41. 
Este tipo de cláusula gera preocupações para as autoridades de defesa da concorrência, na 
medida em que podem afetar a concorrência intertecnologias e fechar o mercado a terceiros 
 
36 Ibidem. p.8. 
37 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the 
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.19. 
38 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.166. 
39 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the 
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.5. 
40 Ibidem. p.6. 
41 Ibidem. p.28.. 
18 
 
 
detentores de tecnologias alternativas ou substitutas, bem como aumentar os custos dos 
concorrentes ao impedir o acesso a insumos de produção e distribuição detidos pelos 
licenciados42. Por outro lado, estas restrições podem ter efeitos pró-competitivos, encorajando 
os licenciados a desenvolver e comercializar a tecnologia licenciada ou aplicações 
especializadas de dita tecnologia, aumentando os incentivos do licenciante para desenvolver ou 
aperfeiçoar a tecnologia, ou de outro modo aumentando a concorrência e a produção no 
mercado relevante43. Por este motivo, estas restrições são analisadas à luz da regra da razão nos 
Estados Unidos, sendo considerado o grau de fechamento do mercado relevante, a duração do 
contrato, a concentração do mercado, a dificuldade de entrada no mercado e os efeitos na oferta 
e na demanda ocasionados por mudanças de preço no mercado relevante44. Na Europa também 
se aplica a regra da razão para analisar restrições deste tipo, porém, não se admite que as 
restrições limitem direta ou indiretamente atividades de pesquisa e desenvolvimento45. 
Uma cláusula de retrolicenciamento cria uma obrigação para o licenciado de estender 
ao licenciante direitos de uso sobre melhoramentos realizados sobre a tecnologia licenciada, 
podendo ter efeitos positivos se for sem exclusividade, ao proporcionar meios para ambas as 
partes compartilharem risco, recompensar o licenciante por possibilitar inovações adicionais 
baseadas em sua tecnologia, promover inovações subsequentes e licenciamento dessas 
inovações46. É lógico supor que a possibilidade de aproveitar-se de aperfeiçoamento realizados 
pelo licenciado pode ser um poderoso incentivo para licenciar uma tecnologia. Uma cláusula de 
retrolicenciamento encontra justificativa ao assegurar que o licenciante não seja impedido de 
competir por lhe ser negado acesso a melhoramentos realizados sobre a sua própria tecnologia, 
entretanto, esta cláusula não pode prever o licenciamento com exclusividade dos 
aperfeiçoamentos para o titular da tecnologia original – excluindo da exploração o seu criador e 
impedindo que a licencie para terceiros – já que isto reduziria os incentivos para o licenciado 
realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento e limitaria a competição em mercados de 
inovação47. Importante ainda ressaltar que “[...] cláusulas de grantback com exclusividade podem 
 
42 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.170. 
43 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. op.cit. p.27. 
44 Ibidem,p.27. 
45 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.174. 
46 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the 
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.30. 
47 Ibidem.p.30. 
19 
 
 
estender de forma indevida o poder de mercado do licenciante, permitindo-lhe controlar e 
acumular todas as melhorias e aprimoramentos desenvolvidos por seus licenciados [...]”48. 
Cláusulas de não impugnação são previsões contratuais que impedem os licenciados de 
questionar a validade dos direitos de propriedade intelectual objeto do licenciamento e não são 
bem vistas pelo direito antitruste, uma vez que podem dissimular a invalidade e permitir a 
manutenção de direitos de propriedade intelectual que deveriam estar em domínio público, 
prejudicando não só a concorrência como o próprio processo de inovação49. Não há justificativa 
para aceitar cláusulas contratuais que proporcionam a manutenção de uma exclusividade 
concedida sem as condições mínimas que a justificam. Além disso, ao licenciar um direito de 
propriedade intelectual de questionável validade, o licenciante outorga ao licenciado um título 
cuja exclusividade pode a qualquer momento ser desafiada por qualquer pessoa com legítimo 
interesse para instaurar processo administrativo de nulidade ou propor ação de nulidade de 
patente50. Impedir quem está em melhor posição para avaliar as condições de fundo da 
propriedade intelectual de impugnaro objeto do licenciamento, quando todos os demais são 
legitimados para tanto, não faz sentido. 
Uma prática que levanta um alerta em contratos de transferência de tecnologia é a venda 
casada, que “[...] pode ser definida como a obrigação pela qual o licenciante condiciona o 
licenciamento de um direito de propriedade intelectual ou tecnologia à aquisição de um produto 
ou serviço pelo licenciado”51. O caso clássico é o da Motion Picture Patents Co. de Thomas 
Edison, empresa de que detinha uma tecnologia inovadora de projeção de filmes e incluiu nos 
contratos de licenciamento dos projetores uma cláusula que condicionava a licença ao uso 
somente de filmes obtidos com a MPPC52. O problema é que em certas circunstâncias este é 
um meio para o agente econômico estender poder de um mercado primário para um mercado 
secundário53, quando há uma relação de complementaridade entre estes mercados, como: 
impressoras e cartuchos; barbeadores manuais e lâminas; cafeteiras e filtros de café; automóveis 
 
48 LILLA, op.cit. p.185. 
49 Ibidem. pp.186,187. 
50 PROVEDEL, Letícia. Adjudicação e nulidade de patente. In: BARBOSA, Denis Borges.(org.). Reivindicando 
a criação usurpada. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010.p.60. 
51 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.174. 
52 HOVENKAMP, Herbert. IP and Antitrust Policy: A Brief Historical Overview. University of Iowa Legal 
Studies Research Paper Number 05-31.December, 2005. p.12-13. Disponível em: < 
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=869417>. Acesso em 20 nov. 2016. 
53 SILVA, Alberto Luís Camelier da. Desenho Industrial: abuso de direito no mercado de reposição. São Paulo: 
Saraiva. 2014. p.94. 
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=869417
20 
 
 
e peças de reposição; aspiradores e sacos de pó, entre inúmeros outros54. Esta extensão de poder 
de mercado de um mercado para outro é explicada pela doutrina da alavancagem, que presume 
que uma empresa com monopólio em um mercado sempre terá incentivos para estender este 
monopólio para o mercado de um produto complementar, a fim de poder cobrar preços de 
monopólio em ambos os mercados e aumentar seus lucros55. Esta teoria considera que uma 
empresa com poder de monopólio em um mercado pode usar a alavancagem proporcionada por 
este poder para impedir vendas em um segundo mercado e monopolizá-lo56. Nos dias atuais a 
venda casada é analisada à luz da regra da razão, pois, apesar de poder resultar em efeitos 
anticompetitivos, pode também estar associada a eficiências e efeitos pró-competivivos (que 
devem ser sopesados), sendo o acordo questionado se o vendedor tem poder de mercado no 
produto vinculante, o arranjo provoca efeitos adversos na concorrência do mercado relevante 
do produto vinculado e as justificativas de eficiências não superam os efeitos 
anticoncorrenciais57. Podemos citar alguns exemplos de eficiências econômicas que podem 
estar relacionadas a vendas casadas, como a redução dos custos de produção, de custos de 
transação e de custos informação para os consumidores, bem como proporcionar maior 
conveniência e variedade para os mesmos58. 
Se o produto ou serviço vinculado for também protegido por um direito de propriedade 
intelectual na realidade trata-se de um pacote de licenças e não de uma licença casada59. Um 
pacote de licenças tem como objeto o licenciamento de múltiplos itens de propriedade 
intelectual em uma única licença ou em um grupo de licenças relacionadas, sendo que ditos 
pacotes podem estar relacionados a aumentos de eficiência quando múltiplas licenças são 
necessárias para utilizar um único item de propriedade intelectual60. Em outras palavras, estes 
 
54 GRAU-KUNTZ, Karin. O desenho industrial como instrumento de controle econômico do mercado 
secundário de peças de reposição de automóveis: uma análise crítica a recente decisão da Secretaria de Direito 
Econômico (SDE). Revista Eletrônica do IBPI – Edição Especial. 2013. p.2. Disponível em: 
http://ibpieuropa.org/book/326 >. Acesso em 11 dez. 2016 
55 EVANS, David S.; PADILLA, A. Jorge. Designing Antitrust Rules for Assessing Unilateral Practices: A Neo-
Chicago Approach. University of Chicago Law Review: Vol. 72: Iss. 1, Article 5. 2005. p.76. Disponível em: 
<http://chicagounbound.uchicago.edu/uclrev/vol72/iss1/5>. Acesso em: 11 dez. 2016. 
56 WHINSTON, Michael D. Tying, Foreclose and Exclusion. The American Economic Review. 1990. p.838. 
Disponível em: < http://www.haas.berkeley.edu/Courses/Spring2000/BA269D/Whinston90.pdf>. Acesso em: 13 
nov. 2016. 
57 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the 
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.26. 
58 AHLBORN, Christian; EVANS, David S.; PADILLA, A. Jorge. The antitrust economics of tying: a farewell to 
per se illegality. Antitrust Bulletin 2003. p.3. Disponível em: < 
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=381940>. Acesso em 11 dez. 2016. 
59 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.174. 
60 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. op.cit. p.27. 
http://ibpieuropa.org/book/326
http://chicagounbound.uchicago.edu/uclrev/vol72/iss1/5
http://www.haas.berkeley.edu/Courses/Spring2000/BA269D/Whinston90.pdf
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=381940
21 
 
 
pacotes de licenças podem ser eficientes quando para fabricar um único produto é necessário 
licenciar uma multiplicidade de tecnologias relacionadas ao mesmo, tal como um smartphone, 
uma vez que a negociação de todas as tecnologias em conjunto reduz os custos de transação61. 
Quando múltiplas empresas controlam patentes que são necessárias para fabricar determinado 
produto, o preço total é superior ao que seria cobrado se estes direitos pertencessem e fossem 
negociados com um único titular e, ainda, os lucros individuais de cada titular são menores em 
presença das patentes complementares dos demais, o que torna interessante se juntarem e criarem 
um pacote de licenças, compartilhamento de patentes ou licença cruzada62. As licenças cruzadas 
e os compartilhamentos de patentes são semelhantes aos pacotes de licenças, no sentido de que 
são acordos entre dois ou mais titulares de direitos de propriedade intelectual diferentes para 
licenciar estes direitos entre si ou para terceiros63. 
As licenças cruzadas são arranjos contratuais pelos quais dois titulares de patente 
concedem licenças recíprocas de suas respectivas tecnologias, de modo que cada parte pode 
utilizar a patente da outra64. Sob o pálio dessas licenças cada empresa pode projetar e fabricar 
seus produtos sem o medo de infringir as patentes do outro65. Em determinados setores, como o 
de semicondutores, grandes empresas buscam obter patentes mais para estar em melhor posição 
para negociar estas licenças cruzadas do que para utilizá-las contra terceiros66. Este tipo de licença 
é considerado pró-concorrencial se integrar tecnologias complementares, reduzir custos de 
transação, eliminar bloqueios de patentes e evitar custosos litígios por contrafação67. No outro 
extremo, o direito anticoncorrencial as considera nocivas quando forem utilizadas para a fixação 
pura de preços ou para divisão de mercado. Além disso, quando as partes envolvidas mantém 
entre si um relacionamento horizontal, as autoridades antitruste verificarão se não é efeito do 
 
61 LILLA, op.cit. p.176. 
62 SHAPIRO, Carl. Navigating the Patent Thicket: Cross Licenses, Patent Pools, and Standard Setting.In: 
Innovation Policy and the Economy, Volume 1. MIT Press. 2001. p.119. Disponível em: < 
http://www.nber.org/chapters/c10778.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016. 
63 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. Antitrust Guidelines for the 
Licensing of Intellectual Property. 1995. Disponível em: <https://www.justice.gov/atr/antitrust-guidelines-
licensing-intellectual-property>. Acesso em 09 dez.2016. p.28. 
64 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.190. 
65 SHAPIRO, Carl. Technology cross-licensing practices: FTC v. INTEL. In: KWOKA Jr, John E.; LAWRENCE, 
J. White. The Antitrust Revolution. New York: Oxford University Press. 2003. p.356. 
66 HALL, Bronwyn H.; ZIEDONIS, Rosemarie Ham. The Patent Paradox Revisited: An Empirical Study of 
Patenting in the Us Semiconductor Industry, 1979-95. RAND Journal of Economics. p.12. Disponível em: < 
https://www.nuffield.ox.ac.uk/economics/papers/2000/w16/hzmay2000.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016. 
67 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION. op.cit.p.28. 
http://www.nber.org/chapters/c10778.pdf
https://www.nuffield.ox.ac.uk/economics/papers/2000/w16/hzmay2000.pdf
22 
 
 
contrato diminuir a competição que ocorreria entre entidades que seriam concorrentes reais ou 
potenciais no mercado relevante na ausência da licença cruzada68. 
O compartilhamento de patentes é um negócio jurídico pelo qual uma multiplicidade de 
detentores de patentes pode realizar a exploração conjunta desses direitos de propriedade 
industrial e formam um pacote de licenças a ser ofertado para terceiros interessados69. Em 
mercados muito fragmentados, tal como o de biotecnologia, tecnologia da informação e 
telecomunicações, um único produto final pode envolver centenas de patentes que teriam que 
ser licenciadas. Os custos de transação para encontrar todos os titulares dos direitos de 
propriedade intelectual e negociar individualmente com cada um podem ser tão altos que 
simplesmente inviabilizariam o negócio, o que justifica a negociação conjunta destas 
tecnologias, porém, os contratos devem incluir as seguintes salvaguardas: limitação do portfólio 
de patentes apenas aquelas que são essenciais para obter o produto (e que por definição não 
concorrem entre si); as patentes do portfólio serem claramente identificadas e poderem ser 
licenciadas individualmente por seus respectivos titulares; emissão de licenças não exclusivas 
a nível mundial; responsabilidade do licenciado por royalties condicionada ao uso real das 
patentes; liberdade aos licenciados para desenvolver e utilizar tecnologias alternativas; 
obrigação dos licenciados de conceder retrolicenças não exclusivas e não discriminatórias sobre 
patentes que são essenciais para cumprir com a tecnologia70. 
Neste contexto é importante citar o conceito de patentes dependentes, que são patentes 
que se sobrepõe, isto é, em que a exploração de qualquer delas é impossível sem infringir as 
demais71. Como a introdução de um novo produto no mercado geralmente envolve o 
desenvolvimento de várias tecnologias complementares distintas, tais como partes componentes 
e processos de fabricação72, isto pode representar um obstáculo. Em teoria, uma empresa pode 
simplesmente inventar em torno (invent around) de tecnologias detidas por terceiros e evitar 
potenciais problemas, o que pode ser vantajoso dependendo do tempo, viabilidade e custos de 
 
68 US DEPARTMENT OF JUSTICE AND FEDERAL TRADE COMISSION.loc.cit. 
69 LILLA, Paulo Eduardo. Propriedade Intelectual e Direito de Concorrência: uma abordagem sob a perspectiva 
do Acordo TRIPS. São Paulo: Quartier Latin. 2014. p.192. 
70 GILBERT, Richard J. Antitrust for Patent Pools: A Century of Policy Evolution. Stanford Technology Law 
Review 3. 2004. p.1.Disponível em: < https://journals.law.stanford.edu/sites/default/files/stanford-technology-
law-review/online/gilbert-patent-pools.pdf>. Acesso em 12 dez. 2016. 
71 LILLA, op.cit. p.190. 
72 FERSHTMAN, Chaim; KAMIEN, Morton. Cross Licensing of Complementary Technologies. Kellogg 
Graduate School of Manegement. Discussion Paper nº 866. Jan. 1990. p.1. Disponível em: < 
http://www.kellogg.northwestern.edu/research/math/papers/866.pdf > . Acesso em 12 dez. 2016. 
https://journals.law.stanford.edu/sites/default/files/stanford-technology-law-review/online/gilbert-patent-pools.pdf
https://journals.law.stanford.edu/sites/default/files/stanford-technology-law-review/online/gilbert-patent-pools.pdf
http://www.kellogg.northwestern.edu/research/math/papers/866.pdf
23 
 
 
contratação ex ante73. Entretanto, muitas vezes uma empresa que poderia facilmente criar 
alternativas para tecnologias complementares nos estágios iniciais do desenvolvimento de 
produtos novos, o que a colocaria em uma posição de negociação favorável para licenciar direitos 
de propriedade industrial pré-existentes, estaria em uma posição de negociação muito mais fraca 
ao descobrir a existência da patente depois de incorporar a tecnologia em projetos ou processos 
que são dispendiosos ou difíceis de reimplantar, já que neste ponto a invenção representa um ativo 
altamente específico74. Setores estratégicos - como a indústria de semicondutores, biotecnologia, 
software e internet – são particularmente sensíveis ao risco de bloqueio de novos produtos que 
infringem inadvertidamente patentes publicadas depois de terem sido projetados, risco este que é 
especialmente pronunciado em indústrias em que a escolha de padrões técnicos é uma parte 
essencial para trazer um novo produto ao mercado, como as indústrias de telecomunicações e 
computação75. De acordo com Shapiro, licenças cruzadas e compartilhamento de patentes são 
dois métodos efetivos para superar uma rede de direitos de propriedade industrial que impeça a 
comercialização de uma tecnologia, mas o autor ressalva que ambos envolvem custos de 
transação, inclusive decorrentes da hostilidade histórica do direito antitruste com acordos entre 
concorrentes em relação horizontal76. 
5 CONCLUSÃO 
O direito de propriedade intelectual e o direito de defesa da concorrência são 
instrumentos complementares para incentivar a inovação tecnológica e o desenvolvimento 
econômico. Apesar de compartilharem este objetivo, os direitos de exclusão da propriedade 
intelectual podem ser utilizados para efetivamente limitar ou mesmo eliminar a livre 
concorrência ou a livre iniciativa em determinado mercado relevante. Nesse sentido, um 
contrato de transferência de tecnologia pode ser um terreno fértil para que agentes econômicos 
com posição dominante em determinado mercado relevante abusem de seus direitos de 
 
73 ZIEDONIS, Rosemarie Ham. Fragmented Markets for Technology and the Patent Acquisition Strategies of 
Firms, Management Science 50, nº6, jun. 2004. p. 806. Disponível em: < 
http://business.illinois.edu/josephm/BA549_Fall%202014/Session%204/4_Ziedonis%20(2004).pdf>. Acesso em: 
12 dez. 2016. 
74 ZIEDONIS, Rosemarie Ham. Fragmented Markets for Technology and the Patent Acquisition Strategies of 
Firms, Management Science 50, nº6, jun. 2004. p. 806. Disponível em: < 
http://business.illinois.edu/josephm/BA549_Fall%202014/Session%204/4_Ziedonis%20(2004).pdf>. Acesso em: 
12 dez. 2016. 
75 SHAPIRO, Carl. Navigating the Patent Thicket: Cross Licenses, Patent Pools, and Standard Setting. In: 
Innovation Policy and the Economy, Volume 1. MIT Press. 2001. p.119. Disponível em: < 
http://www.nber.org/chapters/c10778.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016. 
76 SHAPIRO, loc.cit. 
http://business.illinois.edu/josephm/BA549_Fall%202014/Session%204/4_Ziedonis%20(2004).pdf
http://business.illinois.edu/josephm/BA549_Fall%202014/Session%204/4_Ziedonis%20(2004).pdf
http://www.nber.org/chapters/c10778.pdf
24 
 
 
propriedade intelectual e da posição dominanteque detém para impingir restrições à 
concorrência. 
Devido ao fato da experiência de defesa da concorrência nacional ser relativamente 
recente, a análise da jurisprudência estrangeira em ordenamentos em que a mesma está muito 
mais consolidada, pode fornecer não somente um panorama das práticas anticoncorrenciais 
mais comuns, como critérios objetivos para analisar e valorar estes ilícitos, determinando se as 
restrições impostas são justificáveis ou se o Estado deve intervir na esfera privada dos agentes 
econômicos para proteger a concorrência, a livre iniciativa e o consumidor. 
 
 
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27 
 
 
DIREITOS DO AUTOR, MÚSICA E TECNOLOGIA: REFLEXÃO JURÍDICA 
SOBRE SUA CONCILIAÇÃO 
 
AUTHOR'S RIGHTS, MUSIC AND TECHNOLOGY: LEGAL REFLECTION ON 
YOUR RECONCILIATION 
 
 
Clarissa Melo Indalêncio1 
Adriana Carvalho Pinto Vieira2 
Julio Cesar Zilli3 
 Kelly Lissandra Bruch4 
 
 
Resumo: A origem de novos instrumentos de tecnologia se pôs como um enorme desafio 
a ser encarado pelos meios de comunicação. O fácil e rápido acesso à amplitude de 
conteúdos proporcionada aos usuários pelo ambiente virtual, permitindo o alcance e o 
armazenamento de um número bastante extenso de todo e qualquer tipo de obra ou 
criação, vem rebelando as possibilidades de reprodução das obras protegidas por direitos 
autorais, e deste modo, gerando inquietação no campo jurídico. O presente estudo cuida 
da natureza jurídica do direito de autor de músicas no Brasil. Analisa-se o mercado de 
música não vendida e os efeitos da tecnologia na sua distribuição. Propõe-se a rediscussão 
da Lei nº 9.610/1998 que trata da matéria. Utilizou-se o método de pesquisa dedutivo, em 
pesquisa teórica e qualitativa, com emprego de material bibliográfico e documental legal. 
O constante desenvolvimento dos meios de comunicação deixa evidente o grau de 
importância que os meios modernos de interação efetuam sobre a convivência entre os 
indivíduos e os impactos econômicos. 
 
Palavras-Chave: Direitos do autor. Música. Tecnologia. 
 
Abstract: The origin of newtechnology tools began as a challenge to be faced by the 
media. The quick and easy access to the breadth of content offered to users through the 
virtual environment, allowing the scope and storage of a very large number of any type 
of work or creation, is rebelling playback possibilities of works protected by copyright, 
and thus generating unrest in the legal field. This study takes care of the legal nature of 
copyright music in Brazil. It analyzes the music market not sold and the effects of 
technology in its distribution. It is proposed to re-discussion of Law No. 9,610 / 1998 
dealing with the matter. We used the method of deductive research in theoretical and 
qualitative research, with the use of library materials and legal documents. The constant 
development of the media makes clear the degree of importance that modern means of 
interaction perform on the coexistence of individuals and economic impacts. 
 
Keywords: Author's rights. Music. Technology. 
 
 
1 UNESC, Email: cacah_melo_@hotmail.com 
2 PPGAD/UNESP; INCT/PPED/UFRJ. Email: dricpvieira@gmail.com, 
3 UNESC, Email: zilli42@hotmail.com 
4 CEPAN/UFRGS, Email: kellybruch@gmail.com 
 
mailto:dricpvieira@gmail.com
28 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A origem de novos instrumentos de tecnologia se pôs como um enorme desafio a ser 
encarado pelos meios de comunicação. O fácil e rápido acesso à amplitude de conteúdos 
proporcionada aos usuários pelo ambiente virtual, permitindo o alcance e o armazenamento de 
um número bastante extenso de todo e qualquer tipo de obra ou criação, vem rebelando as 
possibilidades de reprodução das obras protegidas por direitos autorais, e deste modo, gerando 
inquietação no campo jurídico. 
Neste estudo se busca analisar os conflitos de interesses no Direito Autoral no 
concernente à esfera musical na atualidade, observando a Lei nº 9.610/1998, pertencente 
ao ordenamento jurídico brasileiro, bem como irrefreável desenvolvimento tecnológico, 
sobretudo, da internet. 
Averigua-se a natureza jurídica do Direito Autoral, considerando os direitos 
morais e patrimoniais. Demonstra-se a realidade sobre o comércio musical no Brasil, e 
revela-se os problemas para a resolução de litígios e proteção dos direitos do autor que, 
devido ao rápido avanço dos meios virtuais de distribuição, tornaram a Lei de Direitos 
Autorais falha e omissa ao se tratar dos fatos atuais. 
 
2 NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS DO AUTOR DE MÚSICAS 
 
O Direito Autoral encontra-se regulado pela Lei n° 9.610 de 1998, e busca garantir 
ao autor o direito sobre suas obras e criações. Ao criador reserva o direito personalíssimo 
e exclusivo de reprodução ou publicação, ou mesmo licenciar ou ceder seu conteúdo. 
Moraes (2004, p.38) expõe a relevância dos direitos do autor: 
O Direito Autoral é do autor e para o autor, que é o horizonte em relação ao 
qual tudo deve ser pensado. Assim como “o sábado foi feito para o homem e 
não o homem para o sábado”, o Direito Autoral existe em função do autor, e 
não o contrário. 
 
Numa perspectiva dualista, aqui adotada, divide-se em direito moral e direito 
patrimonial. O primeiro é responsável por garantir a autoria da obra intelectual ao criador, 
direito este personalíssimo, inalienável e irrenunciável. Assegura-se que o autor terá 
direito de reconhecer a obra como sua e preservá-la da maneira que esta fora 
originalmente criada ou até mesmo modificá-la antes ou depois de publicada 
(KISCHELEWSKI, 2014). 
Em relação ao direito patrimonial, associado ao proveito econômico que a obra 
pode trazer ao autor, atribui o direito exclusivo de usar, fruir e dispor de sua criação. Com 
29 
 
 
isto, pode o autor permitir que terceiros reproduzam e usem de sua obra, seja de maneira 
total ou parcial, para sempre ou por tempo determinado; escolher o local e se haverá custo 
para tal reprodução; e ainda, receber o valor de no mínimo 5% sobre o aumento do preço 
da revenda (MENEZES, 2007). Assegura-se a viabilidade legal da exploração econômica 
da obra por parte do autor, obtendo por meio dela seu proveito pecuniário. 
Quando a criação possuir apenas um criador, após seu falecimento, o direito 
patrimonial se desloca aos seus herdeiros, perdurando por setenta anos, a serem contados 
a partir do dia 1º de janeiro do ano subsequente ao seu óbito. Nas obras em que houver 
co-autoria e em sendo indivisíveis, o prazo se inicia a partir da morte do último co-autor. 
Ainda em relação aos direitos morais e patrimoniais, Duarte e Pereira (2009, p. 
10) esclarecem: 
O direito de autor tem por objetivo assegurar ao criador uma participação 
financeira e outra moral, no que diz respeito ao uso da obra que criou (isso, 
quando não se tratar de uma autorização gratuita). Vale salientar que as obras 
é que são protegidas e não os autores. Portanto, é desta forma que eles se 
tornam favorecidos dessa proteção. Para tanto, o surgimento do direito de autor 
se deu com a criação da obra intelectual, dado que não se pode falar de direito 
de autor sem a existência de uma obra. O direito de autor protege as formas de 
expressão das ideias e não as ideias, propriamente ditas. É necessário que elas 
tomem um corpo físico, expresso mediante um livro, um desenho, um filme ou 
etc. 
 
No direito autoral, também se regula os direitos de artistas que venham a 
interpretar ou executar as obras, as quais podem ser, por exemplo, músicos, dançarinos, 
atores, cantores, entre outros; que são designados como direitos conexos aos de autor, 
conforme estipulado no artigo 1º da Lei n° 9.610/1998. (BRASIL, 2016). 
O direito autoral, conforme Silva Junior (2006), vem sendo considerado como sui 
generis, especial e peculiar, evoluindo dos direitos de personalidade individuais, 
expressão clara de sua pisque. 
Para Carlos Alberto Bittar (2008, p.20), os direitos autorais: 
[s]ão direitos de cunho intelectual, que realizam a defesa dos vínculos, tanto 
pessoais, quanto patrimoniais do autor, com sua obra, de índole própria, ou sui 
generis, a justificar a regência específica que recebem nos ordenamentos 
jurídicos do mundo atual. 
 
A música é uma das mais antigas e mais populares entre as artes, está presente em 
diferentes ramos comerciais e civis, que fazem uso desta buscando maior conforto aos 
seus clientes, bem como atraí-los, entre outras diversas aplicações, integrando forma de 
expressão artística que constitui o patrimônio cultural de toda a população (DIAS, 2000). 
A música é instrumento de linguagem, de expressão e comunicação. Guerreiros Junior 
(2005, p. 03) apresenta: 
30 
 
 
A música é parte integrante da vida do homem e até dos animais e das plantas. 
O apelo musical estimula e comove. Em quase todos os momentos 
significativos da história humana, em reuniões tribais ou familiares, e mais 
tarde em encontros políticos, militares ou religiosos a música tem servido 
como agente catalisador de emoções e iniciativas. Com música se faz a guerra 
e se decreta a paz, coroam-se monarcas, depõem-se tiranos, evocam-se 
prazeres e martírios. Uma simples melodia traz a tona os mais recônditos 
sentimentos, resgata imagens perdidas, une e afasta pessoas, forma ideologias, 
celebra conquistas, homenageia os mortos e entretém a sociedade. É uma arte 
abstrata, mas influi de forma irresistível em todos os corações e mentes. É a 
companheira inseparável do homem, malgrado e desdenhosa sentença de 
Napoleão que a classificou como o mais tolerável dos ruídos. 
 
 
Compreende-se por obra ou composição musical todo gênero de combinações de 
sons, ora composições, as quais englobam tanto melodia, quanto melodia e letra em 
justaposição, que possa ser executada ou interpretada por instrumentos musicais ou pela 
voz humana e, assim, caracterizada como obra artística protegida pela Lei de Direitos 
Autorais (COSTA, 1998). Rege o artigo 7º, em seu inciso V, da Lei nº 9.610/98 (BRASIL, 
2016):Art. 7º. São obras intelectuais protegidas as criações de espírito, expressas por 
qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, 
conhecido ou que se invente no futuro, tais como: 
[...] 
 V – as composições musicais, tenham ou não letra. 
 
Para que se reconheça uma composição musical, faz-se necessária a presença de 
melodia, harmonia e ritmo (BENNET, 1986). Para Chaves (1987), melodia é o envio de 
quantia indeterminada de sons sucessivamente, sons esses que se encaixam um após o 
outros. Harmonia é decorrente do envio simultâneo de várias melodias. Já o ritmo é a 
relação decorrente entre o espaço de tempo de cada som de uma melodia. Assim, a obra 
constituída apenas por harmonia, melodia e ritmo, considera-se música; enquanto que, 
quando existirem todos estes elementos, acrescidos de título e letra, designa-se como obra 
lítero-musical; e, quando fixada em suporte, recebe o nome de fonograma. 
Independentemente da discriminação, toda e qualquer tipo de música recebe proteção da 
lei brasileira. 
 
 
3 O MERCADO DA MÚSICA NÃO VENDIDA E A TECNOLOGIA 
 
A cada cd vendido, parte deste valor implica direitos autorais aos músicos e 
intérpretes. A cada faixa vendida em lojas online, serviços iTunes ou GooglePlay, por 
exemplo, também são devidos direitos autorais aos músicos e intérpretes. Nesses casos, 
31 
 
 
é relativamente simples quantificar a venda e calcular os royalties dos detentores dos 
direitos autorais. 
Entretanto, quanto se passa à publicação em rádios FM e eventos a complexidade 
de verificação e a necessidade de fiscalização aumentam consideravelmente. 
Cabe ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) arrecadar e 
distribuir valores, referentes às execuções públicas de obras musicais. 
Para que se faça possível o recebimento dos direitos autorais de execução pública 
aos titulares e artistas, é indispensável que o artista se encontre associado a uma das 
associações que integram o ECAD, hoje no total de nove. O titular tem o dever de registrar 
seu repertório junto a sua respectiva associação e mantê-lo atualizado; a obra musical 
deve ser executada de modo público; deve haver o pagamento da remuneração autoral 
por estabelecimentos, rádios ou shows que executarem as músicas e, por fim, a execução 
pública da obra musical deve ser captada pelo ECAD ou informada no roteiro musical 
(ECAD, 2016a). 
A distribuição de valores é feita conforme regulamento próprio de arrecadação 
que divide em classes o grau de importância da música conforme o local ou a finalidade 
de uso, sendo indispensável, necessária ou secundária, bem como a frequência deste uso, 
em eventual ou permanente, e se é apresentada ao vivo ou de maneira mecânica, com ou 
sem dança (ECAD, 2016b). Observa-se o alcance de relevância da execução de música 
para a atividade; o tipo de atividade do usuário; a forma de utilização da obra (mecânica 
ou ao vivo); uma quantia percentual sobre a receita bruta nos casos de venda de ingressos, 
pagamento de couvert ou outro tipo de coleta de valores como permissão para se possa 
entrar no estabelecimento; entre outros. Na sequência, define-se quantia autoral a ser paga 
pelo usuário (ECAD, 2016b). Conforme o entendimento do ECAD (2016b), é 
considerado usuário de música: 
Usuários de música são pessoas físicas ou jurídicas, que utilizam música 
publicamente, sendo eles: Promotores de eventos e audições públicas (shows 
em geral, circo etc), cinemas e similares, emissoras de radiodifusão (rádios e 
televisões de sinal aberto), emissoras de televisão por assinatura, boates, 
clubes, lojas comerciais, micaretas, trios, desfiles de escola de samba, 
estabelecimentos industriais, hotéis e motéis, supermercados, restaurantes, 
bares, botequins, shoppings centers, aeronaves, navios, trens, ônibus, salões de 
beleza, escritórios, consultórios e clínicas, pessoas físicas ou jurídicas que 
disponibilizem músicas na internet, academias de ginástica, empresas 
prestadoras de serviço de espera telefônica. 
 
Como se depreende, o universo é bem amplo. Em geral, cerca de 76% dos valores 
vão para os músicos, 7% para as associações e o restante para administração do ECAD 
(ECAD, 2016a). 
32 
 
 
Dos valores que vão aos músicos, segundo o ECAD (2016a), há uma distribuição 
percentual por decisão na assembleia geral do órgão: 
Do montante a ser distribuído, 2/3 são direcionados aos compositores, 
adaptadores, versionistas e editoras, que são os titulares de direitos de autor, e 
1/3 para os intérpretes, produtores fonográficos/gravadoras e músicos 
executantes, classificados como titulares de direitos conexos. O valor total 
correspondente ao conexo será rateado, cabendo 41,70% para intérpretes, 
41,70% para os produtores fonográficos/gravadoras e 16,60% para os músicos 
executantes. Vale ressaltar que é de responsabilidade do produtor fonográfico 
informar à sua associação, no momento do cadastro do fonograma, se houve 
ou não participação de músico executante na gravação. 
 
Apresenta-se na tabela abaixo, os valores arrecadados e distribuídos no período 
de 2010 a 2014: 
Tabela 1: Resultados de arrecadação ECAD 
Ano Valor Arrecadado Valor Distribuído 
2010 R$ 432.953.853,00 R$ 346.465.496,88 
2011 R$ 540.526.597,00 R$ 411.775.388,13 
2012 R$ 624.638.884,00 R$ 470.226.912,50 
2013 R$ 1.190.083.620,00 R$ 804.194.836,76 
2014 R$ 1.219.931.315,00 R$ 902.906.548,67 
 
Fonte: elaboração a partir de dados do ECAD 
 
Na área da música, a tecnologia apresentou várias soluções, que hoje, talvez, 
sejam o desafio da indústria fonográfica. Partindo-se do vinil, perpassando pelo cd, 
encontra-se hoje a música na mídia sem suporte. Compram-se faixas em lojas online. 
Escutam-se músicas na nuvem, no etéreo, no não-físico. A internet ampliou o acesso e 
dificultou a fiscalização. 
Do ponto de vista legal, no que concerne à reprodução e à distribuição da obra, 
pouco importa o meio usado. Conforme a lei de direitos autorais (BRASIL, 2016): 
Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, considera-se: 
[...] 
VI - Reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, 
artística ou científica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, 
incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário por meios 
eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que venha a ser desenvolvido. 
[...] 
IV - Distribuição - a colocação à disposição do público do original ou cópia de 
obras literárias, artísticas ou científica, interpretações ou execuções fixadas e 
fonogramas, mediante à venda, locação ou qualquer outra forma de 
transferência de propriedade ou posse. 
 
33 
 
 
No meio digital, é possível que a música seja distribuída ou reproduzida por 
simulcasting e do streaming. Segundo Jalil (2004), “simulcasting é a transmissão 
simultânea inalterada de emissões de rádio e televisão aberta, ou via cabo, através da 
Internet”, isto é, a emissora transmite sua programação tradicional em dois serviços ao 
mesmo tempo, seja ele televisivo ou via rádio, juntamente com a rede. No tocante ao 
streaming, este é o termo em inglês empregado para designar a disponibilização de 
músicas via internet, onde é possível montar sua própria sequência musical sem 
armazená-la na memória do computador, permitindo que o usuário reproduza conteúdos 
protegidos por direitos autorais sem violar os mesmos. Em ambas as situações, não há 
download permanente da música no dispositivo eletrônico. Então, no ambiente doméstico 
ou privativo, dispensa-se a autorização do autor para a execução da música, uma vez que 
se assemelha ao rádio convencional, no qual a emissora se responsabiliza pelo pagamento 
dos direitos autorais. 
Porém, no caso do download no formato MP3 ou equivalente, exige-se a licença 
prévia e expressa dos titulares de direitos autorais, conforme o artigo 29, inciso VII da lei 
de direitos autorais (BRASIL, 2016): 
Art. 29. Depende de autorização

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