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E-book_Reeducação da Educação Jurídica

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Coordenadores: 
Alexandre Torres Petry 
Matheus Ayres Torres 
Ricardo Ferreira Breier 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
 
 
 
 
 
REEDUCAÇÃO DA EDUCAÇÃO JURÍDICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 2021 
 
 
 
 
Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
Coordenadores 
 Alexandre Torres Petry 
Diretor da Revista da ESA/OABR/RS 
 
Matheus Ayres Torres 
Presidente da Comissão da Educação Jurídica CEJ-OAB/RS 
 
 Ricardo Ferreira Breier 
Presidente da OAB/RS 
 
 Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Diretora-Geral da ESA-OAB/RS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10/1517 
 
 
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos 
assinados, são de responsabilidade dos seus autores. 
 
 
 
 
Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul 
Rua Washington Luiz, 1110 - Centro 
 CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS 
 
R255 
 Reeducação da Educação Jurídica/. Alexandre Torres Petry, Matheus Ayres 
Torres...[et.al] (Coordenadores). Porto Alegre: OABRS, 2021. 206p. 
ISBN: 978-65-88371-06-0  
1. Direito. 2.Educação jurídica I Título. 
 
 
CDU: 34:378 
 
 
 
 
 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 
 
Presidente: Felipe Santa Cruz 
Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz 
Secretário-Geral: José Alberto Simonetti 
Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto 
 Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Ricardo Ferreira Breier 
Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães 
Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth 
Tesoureiro: André Luis Sonntag 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten 
Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery 
Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Alexandre Lima Wunderlich 
Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira 
Jaqueline Mielke Silva 
Vera Maria Jacob de Fradera 
 
 
 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Mariana Melara Reis 
Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel 
Tesoureiro: Gustavo Juchem 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Cesar Souza 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha, 
Josana Rosolen Rivoli, 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
PREFÁCIO – Ricardo Ferreira Breier ....................................................................................... 8 
APRESENTAÇÃO – Rosângela Maria Herzer dos Santos ....................................................... 9 
INTRODUÇÃO - Alexandre Torres Petry e Matheus Ayres Torres ....................................... 10 
ENSINANDO DIREITO EM TEMPOS DE SOCIEDADE EM REDE: A RELAÇÃO ENTRE 
TECNOLOGIA E PODER NA EDUCAÇÃO JURÍDICA CONTEMPORÂNEA - Ana Cláudia 
Favarin Pinto e Bruna Andrade Obaldia .................................................................................. 11 
REEDUCAÇÃO JURÍDICA SOB A PERSPECTIVA DA FILOSOFIA DO DIREITO - 
JUSTIÇA, DESIGUALDADE E ESTADO DE EXCEÇÃO - Ana Isabel Mendes e Marcio 
Renan Hamel ............................................................................................................................ 24 
DIÁLOGOS DE(S)COLONIAIS ENTRE ENSINO JURÍDICO E FEMINISMO - Bianca 
Soares Roso e Marina Paiva Alves ........................................................................................... 37 
A UTILIZAÇÃO DO CINEMA NACIONAL COMO FERRAMENTA PARA A 
EFETIVAÇÃO DA TRANSVERSALIDADE NO ENSINO JURÍDICO BRASILEIRO - 
Bruna Andrade Obaldia e Pedro Victor dos Santos Witschoreck ............................................ 51 
É POSSÍVEL A VIRTUALIZAÇÃO DO ESTUDO CLÍNICO EM DIREITO? RELATO DA 
EXPERIÊNCIA DE ESTUDO CLÍNICO INTERINSTITUCIONAL EM TEMPOS DE 
PANDEMIA - Carolina Cyrillo e Luiz Fernando Castilhos Silveira ....................................... 69 
A TERCERIZAÇÃO E O TRABALHO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO SUPERIOR EM 
TEMPOS DE PANDEMIA: AVANÇOS DA PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE 
TRABALHO - Franceli Bianquin Grigoletto Papalia e Carina Deolinda da Silva Lopes ....... 82 
DESFUTURIZAÇÃO DO ENSINO JURÍDICO: IMPLICAÇÕES TECNOLÓGICAS NOS 
SISTEMAS DO DIREITO E DA EDUCAÇÃO - Giselle Marie Krepsky ............................ 100 
AVALIAÇÃO ACADÊMICA NA ERA PANDÊMICA - Jamil A. H. Bannura .................. 115 
 
 
 
 
NOVAS METODOLOGIAS PARA NOVOS DESAFIOS: APRENDIZAGEM BASEADA 
EM PROJETOS NO ENSINO JURÍDICO DURANTE E PÓS-PANDEMIA DE COVID-19- 
Larissa de Oliveira Elsner e Gustavo Vinícius Ben ............................................................... 127 
EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UMA NARRATIVA A PARTIR DA PRÁTICA 
EXTENSIONISTA - Letícia Virginia Leidens e Taily Dara Fiori Salvador ......................... 145 
DESENVOLVIMENTO CURRICULAR DAS FACULDADES DE DIREITO DA 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO TOCANTINS SOB A ÉGIDE DOS DIREITOS 
HUMANOS - Marcos Júlio Vieira dos Santos e Christiane de Holanda Camilo .................. 158 
EDUCAÇÃO E CULTURA DO LITÍGIO: ENSINO JURÍDICO E TRANSFORMAÇÃO 
SOCIAL - Tainara Mariana Mallmann e Aldemir Berwig..................................................... 172 
AUTOPLÁGIO E EDUCAÇÃO JURÍDICA NO SÉCULO XXI: É POSSÍVEL SUPERAR A 
CULTURA DA REPRODUÇÃO? - Tayna Silva Cavalcante ............................................... 192 
 
8 
 
 
 
PREFÁCIO 
 
O tempo pós-pandemia do novo coronavírus, inegavelmente, chega com 
transformações. Por mais de um ano, a vida, em praticamente todo o planeta, foi impactada pela 
Covid-19. O distanciamento e o afastamento das pessoas exigiram soluções ágeis, inclusivas e 
seguras. 
 
No caso da advocacia, os impactos se mostraram sem precedentes. O fechamento dos 
Foros, por questões sanitárias, é só um exemplo de como advogados e advogadas foram 
afetados. Mais do que isso, a cidadania sofreu com todas as restrições e todos os obstáculos 
impostos pela pandemia. 
 
A tecnologia ganhou protagonismo, como ferramenta alternativa ao trabalho da 
advocacia. Juntamente a essa aceleração do mundo virtual e digital no universo do Judiciário, 
observamos o quanto o Direito vai se movendo com novos cenários, formatos e novas práticas. 
É preciso estar atento, para perceber as mudanças que ocorrem com mais frequência. 
 
Neste sentido, a educação jurídica emerge no centro do debate. É preciso qualificar e 
preparar a advocacia para essa nova realidade. Não há dúvida de que o conhecimento e o estudo 
seguirão fazendo diferença. 
 
Com a proposta de debater a “Reeducação da Educação Jurídica”, este ebook tem 
relevância, por abordar diferentes áreas de atuação da advocacia, com seus pormenores e suas 
particularidades, que transformam o trabalho do advogado numa atividade vibrante e intensa. 
 
Esta coletânea de artigos apresenta riqueza dedetalhes e fundamentais reflexões para os 
dias que se avizinham. Desde a precarização nas relações de trabalho no ambiente virtual, 
passando pelo autoplágio, até a relação entre tecnologia e poder na educação jurídica 
contemporânea, e os temas são envolventes e atuais. 
 
Em nome do diretor da Revista da ESA da OAB/RS, Alexandre Torres Petry; do 
presidente da Comissão de Educação Jurídica (CEJ) da OAB/RS, Matheus Ayres Torres; e da 
diretoria-geral da ESA da OAB/RS, Rosângela Maria Herzer dos Santos, agradeço a dedicação 
dos colegas que contribuíram com seu profissionalismo para a realização desta obra. 
 
Boa leitura! 
 
Ricardo Breier 
Presidente da OAB/RS 
 
 
 
 
9 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
A Escola Superior da Advocacia tem a honra e a satisfação de oportunizar juntamente 
com a Comissão de Educação Jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio 
Grande do Sul, brindar a comunidade jurídica com o lançamento do e-book “REEDUCAÇÃO 
DA EDUCAÇÃO JURÍDICA”. 
Tenho a certeza de que essa valorosa obra, fruto do trabalho coletivo de ilustres autores 
que contribuíram com as necessárias reflexões sobre reeducação da educação jurídica, possa 
servir como base de referências para estimular discussões e pesquisas acadêmicas sobre 
Educação Jurídica. 
Agradeço aos autores que contribuíram para que tornasse possível a realização de mais 
uma obra sobre o tema Educação Jurídica: Ana Cláudia Favarin Pinto, Bruna Andrade Obaldia, 
Ana Isabel Mendes, Marcio Renan Hamel, Bianca Soares Roso, Marina Paiva Alves, Bruna 
Andrade Obaldia, Pedro Victor dos Santos Witschoreck, Carolina Cyrillo, Luiz Fernando 
Castilhos Silveira, Franceli Bianquin Grigoletto Papalia, Carina Deolinda da Silva Lopes, 
Giselle Marie Krepsky, Jamil A. H. Bannura, Larissa de Oliveira Elsner, Gustavo Vinícius 
Bem, Letícia Virginia Leidens, Taily Dara Fiori Salvador, Marcos Júlio Vieira dos Santos, 
Christiane de Holanda Camilo, Tainara Mariana Mallmann, Aldemir Berwing e Tayna Silva 
Cavalcante. Recebam cumprimentos e gratidão, em nome da nossa Escola Superior de 
Advocacia da OABRS, pelo desafio e trabalho disponibilizados graciosamente, e que somam 
conteúdo e conhecimento a nossa biblioteca virtual jurídica. 
Por fim, um agradecimento muito especial ao presidente da OABRS, Ricardo Breier, ao 
presidente da Comissão de Educação Jurídica da OABRS, Matheus Ayres Torres e ao diretor 
da Revista Eletrônica da nossa Escola, Alexandre Torres Petry, e a todas as pessoas que se 
dedicaram na organização do livro. 
Boa leitura a todos! 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Diretora-Geral da Escola Superior de Advocacia da OAB/RS 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Reeducação da Educação Jurídica, o título escolhido para essa obra, propõem a reflexão 
sobre os grandes desafios que a educação jurídica tem enfrentado em virtude da pandemia, o 
que implicou uma educação “online” tanto para o ensino como para a pesquisa e a extensão no 
Direito. 
Essa mudança não foi planejada, apesar das recentes discussões sobre os cursos de 
Direito na modalidade EaD. Entre 2020 e 2021, o ensino do Direito sofreu profundas 
modificações, sendo incipientes as avaliações e estudos sobre os benefícios oriundos dessa 
prática. 
O certo é que o tema traz importantes dúvidas, relevantes questionamentos e, mais do 
que isso, necessidade de reflexão e propostas efetivas para aumentar a qualidade da educação 
jurídica, a qual, historicamente, vive uma enorme crise, tamanha são as críticas à educação 
jurídica existente no Brasil. 
É diante desse cenário que a Comissão de Educação Jurídica da OAB/RS traz esse E-
book, renovando o seu compromisso permanente com uma educação jurídica transformadora, 
responsável, crítica e reflexiva, a qual seja capaz de impactar profundamente na efetivação do 
Direito e da Justiça nesse país marcado por desigualdades sociais. 
A educação jurídica merece respeito, deve ser tratada com seriedade, pois é essencial 
para o aprimoramento da justiça como um todo no Brasil. Urge que instituições, pesquisadores, 
juristas, docentes, discentes e todos aqueles ligados com a educação jurídica, repensem o quadro 
atual, ou seja, contribuam para a reeducação da educação jurídica, justamente o que se busca 
com o presente livro. 
Espera-se uma boa leitura a todos e, mais do que respostas, sejam encontradas 
perguntas, pois a educação jurídica ainda clama pelas perguntas certas que tenham potencial de 
revelar os caminhos que apontem para um futuro sustentável e promissor. 
 
Alexandre Torres Petry 
Diretor da Revista Eletrônica da ESA/OAB/RS 
 
Matheus Ayres Torres 
Presidente da Comissão da Educação Jurídica CEJ-OAB/RS 
 
 
 
 
11 
 
 
 
ENSINANDO DIREITO EM TEMPOS DE SOCIEDADE EM REDE: A 
RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E PODER NA EDUCAÇÃO 
JURÍDICA CONTEMPORÂNEA 
 
TEACHING LAW IN TIMES OF NETWORK SOCIETY: THE 
RELATIONSHIP BETWEEN TECHNOLOGY AND POWER IN 
CONTEMPORARY LEGAL EDUCATION 
 
Ana Cláudia Favarin Pinto1 
Bruna Andrade Obaldia2 
 
RESUMO 
 
O presente artigo busca compreender os desafios e possibilidades da/na educação jurídica 
contemporaneamente, em sede de uma sociedade em rede, analisando as estruturas de poder 
que se forjam nesse cenário, bem como o papel da tecnologia nessa realidade. Destarte, o ensaio 
subdivide-se, para fins didáticos, em dois capítulos. Inicia-se por um breve apanhado da 
historicidade social que deságua nos tempos atuais, culminando em uma sociedade altamente 
complexa, globalizada, marcada por suas relações constituídas em rede. Ato contínuo, 
investiga-se a importância das novas tecnologias - mormente às de informação de comunicação, 
as TIC’s - para o desenvolvimento de uma satisfatória educação jurídica em tempos atuais, além 
de estabelecer as bases para uma compreensão de como se manifesta o vínculo entre poder e 
conhecimento nessa era digital. Com base nessa estruturação, questiona-se: em que medida a 
educação jurídica contemporânea se mostra dependente do mecanismo da tecnologia em 
tempos de sociedade em rede? Para solucionar a problemática levantada, o estudo vale-se do 
método de abordagem dedutivo, aliado ao método de procedimento monográfico e à técnica de 
pesquisa bibliográfica e documental. Ao final da pesquisa, é possível depreender que a 
utilização das tecnologias a favor do conhecimento, da construção de saber e no 
compartilhamento de boas ideias tende a ser o melhor caminho para o desenvolvimento do 
ensino jurídico no país. 
 
Palavras-chave: Educação jurídica. Poder. Sociedade em rede. Tecnologia. 
 
INTRODUÇÃO 
O mundo é metamorfose. Na sociedade, a história é responsável por moldar diferentes 
perspectivas de mundo ao longo do tempo. Seja na seara econômica, política e/ou cultural, as 
relações sociais se forjam e se desenvolvem com base na temporalidade em que estão inseridas. 
 
1 Mestranda em Direito no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria. 
Membro do grupo de pesquisa Phronesis: Jurisdição e Humanidades da UFSM. Endereço eletrônico: 
anaclaudia.favarin@gmail.com 
2 Mestranda em Direito no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria. 
Integrante do Núcleo de Estudos Avançados em Processo Civil (NEAPRO) da UFSM. Advogada (OAB/RS nº 
117.541). Endereço eletrônico: obaldiabruna@gmail.com 
12 
 
 
 
Grandes descobertas e invenções alteram paradigmas de visão de mundo e passam a guiar 
outros tipos de pensamento e ação sociais. Parafraseando o poeta Vinícius de Moraes, no soneto 
Poética, nosso tempo, enquanto sociedade, é quando. 
Atualmente, o que se experimenta é um mundo abraçado, mais do que nunca, pela 
globalização. Relações que perdem o caráter de solidez e passam a ser consideradas líquidas 
em termos de (pós-)modernidade e assumem, nesse sentido, a complexidade de relações em 
rede, como denunciado, respectivamente, pelos sociólogos Zygmunt Baumane Manuel 
Castells. Aliado a isso, a disseminação absoluta da internet, das novas tecnologias de 
informação e comunicação e do poder das (novas) mídias sociais corroboram para a necessidade 
de se (re)pensar a sociedade na contemporaneidade. 
Sob o outro ponto chave da discussão, há que se falar sobre o tema da educação 
jurídica. O ensino jurídico está presente na realidade brasileira desde 1827, oportunidade na 
qual Dom Pedro I fundou o curso de Ciências Jurídicas como um dos primeiros cursos em nível 
superior no país. De lá para cá, obviamente, muitas coisas mudaram. Trazendo a discussão para 
a realidade atual, em tempos de sociedade em rede, discutir as necessidades emergentes de 
adaptar e (re)construir o ensino jurídico em face das novas demandas é medida que se impõe. 
É nesse sentido, então, que a pesquisa busca investigar os desafios e possibilidades 
percebidos na seara da educação jurídica contemporaneamente, em sede de uma sociedade em 
rede, analisando a manifestação de poder que se forja nesse cenário, bem como o papel da 
tecnologia nessa realidade. Subdividido em duas seções principais, o trabalho é iniciado por um 
apanhado da historicidade social que deságua nos tempos atuais, culminando em uma sociedade 
altamente complexa, globalizada, marcada por suas relações constituídas em rede. Ato 
contínuo, investiga-se a importância das novas tecnologias - mormente às de informação de 
comunicação, as TIC’s - para o desenvolvimento de uma satisfatória educação jurídica em 
tempos atuais, além de estabelecer as bases para uma compreensão de como se manifesta o 
vínculo entre poder e conhecimento nessa era digital. 
Diante dos objetivos específicos do ensaio, questiona-se: em que medida a educação 
jurídica contemporânea se mostra dependente do mecanismo da tecnologia em tempos de 
sociedade em rede? Para solucionar a problemática levantada, a título de metodologia científica, 
o estudo vale-se do método de abordagem dedutivo, aliado ao método de procedimento 
monográfico e à técnica de pesquisa bibliográfica e documental. 
 
13 
 
 
 
2 ENTRE A ERA DIGITAL E A GLOBALIZAÇÃO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES 
E UMA SOCIEDADE EM REDE 
 
A sociedade tem se modificado ao longo dos tempos, principalmente em razão da 
sociedade em rede, surgindo a necessidade de que o Estado se remodele, a fim de se adaptar 
aos novos desafios propiciados pela globalização. 
É notório que na era global, especificamente sob a ótica da globalização e do 
desenvolvimento tecnológico, tem ocorrido diversas mudanças na sociedade e na sua forma 
de organização. As estruturas sociais que surgiram nos últimos anos, alteram a forma como a 
sociedade se organiza principalmente em razão do fato de estarem vinculadas à globalização, 
ao fluxo de dados e à comunicação em rede. 
Dos diversos conceitos de globalização, referimos o de Stuart Hall (2004), no qual o 
autor fala de um processo mundial de contatos e de conectividade, que ultrapassam os limites 
das nações, transformando pelas trocas de informações entre culturas diferentes, o 
comportamento e a consciência do sujeito. 
[...] a “globalização” se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, 
que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e 
organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em 
realidade e em experiência mais interconectado (Hall, 2004, p. 67). 
 
O poder de interconexão, bem como o de transmissão de dados possibilita que a 
comunicação de forma global se torne cada vez mais fácil. A informação chega até onde o 
usuário estiver, e isso se dá pela conectividade e facilidade de propagação de dados que é 
propiciada pela rede, ou seja, o processo de globalização contribui fortemente para que os 
fluxos de dados que mudem as formas de transmissão de informação e inovação e estabeleçam 
novos mecanismos de interação entre seus usuários. 
Uma das forças dessa sociedade midiática é a web, a rede mundial de computadores. 
Para Manuel Castells, vivemos numa sociedade em rede e dominada pelo poder da internet: 
Esta sociedade em rede é a sociedade que eu analiso como uma sociedade cuja 
estrutura social foi construída em torno de redes de informação microeletrônica 
estruturada na internet. Nesse sentido, a internet não é simplesmente uma tecnologia; 
é um meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades; 
é o equivalente ao que foi a fábrica ou a grande corporação na era industrial. A internet 
é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base 
material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. 
O que a internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, 
constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (Castells, 2009, 
p. 287). 
14 
 
 
 
A globalização somente se concretiza, pois é sustentada pela dinâmica mundial de trocas 
de informações entre culturas distintas, que se torna possível graças ao desenvolvimento de 
tecnologias que ampliaram e estenderam o alcance dos meios de comunicação. 
Os fluxos de dados na sociedade global podem ser explicados por uma cadeia 
interconectada de forma global que permite a circulação de diversos elementos e, 
principalmente, informações. Além de transmitir fluxos valiosos de informação e de ideias em 
si, os fluxos de dados permitem o movimento de bens, serviços, finanças e pessoas. 
Ainda que a modalidade de organização em rede não seja nova, o surgimento da 
tecnologia da informação e a velocidade de propagação dos dados possibilitam a expansão da 
rede de forma rápida e com alto alcance. 
Para corroborar com tal linha de pensamento, Manuel Castells afirma que “[...] essa 
lógica de rede induz a uma determinação social de nível mais alto que aquele dos interesses 
sociais específicos expressos através das redes: o poder dos fluxos prevalece em relação aos 
fluxos do poder” (CASTELLS, 2010, p. 500). Essa sociedade é chamada por Castells de 
“sociedade em rede”. 
Destarte, a modernização impulsionou a sociedade em rede, o que contribuiu para que 
os fluxos de dados se tornassem cada vez mais rápidos, mudando as formas de interação social 
e formando novos nichos. O Estado passou a se comunicar em forma de rede e perdeu o total 
controle sobre o fluxo de informações e dados a que os usuários possuem contato. 
Boaventura de Sousa Santos, retomando o processo histórico do avanço da 
globalização, asseverou: 
Entende-se por globalização a intensificação de interações transnacionais para além 
do que sempre foram as relações entre Estados nacionais, as relações internacionais, 
ou as relações no interior dos impérios, tanto antigos como modernos. São interações 
que não são, em geral, protagonizadas pelos Estados, mas antes por agentes 
econômicos e sociais nos mais diversos domínios. Quando são protagonizadas pelos 
Estados, visam cercear a soberania do Estado na regulação social, sejam os tratados 
de livre comércio, a integração regional, de que União Europeia (UE) é um bom 
exemplo, ou a criação de agências financeiras multilaterais, tais como o Banco 
Mundial e o FMI. (SANTOS, 2017, n.p) 
 
As redes são ambientes que contribuem para que haja a interação, troca de 
conhecimentos e aprendizado, podendo ser estabelecida de forma local ou global. Referida 
interação leva ao compartilhamento, o que acaba por impulsionar o fluxo de dados e 
informações que decorrem do movimento das redes, ou seja, a globalização propicia que a 
15 
 
 
 
sociedade em rede se apresenta como um canal pelo qual o fluxo de informações e 
conhecimento ocorre de forma contínua. 
Zygmunt Bauman (1999) mostra que a globalização interfere e influencia tudo que 
acontece em nossa vida em variadas dimensões. O autor chama atenção para o processo 
globalizador em todas as suas manifestações e dualidades, quando observa queesse fenômeno, 
ao mesmo tempo em que liga espaços, tempos e pessoas, acaba por dividir a sociedade na 
perspectiva financeira, enfatizando ainda mais as desigualdades de classe. A globalização, 
segundo o autor, é vista por uns de forma positiva e por outros como algo ruim, mas a verdade 
é que estamos em um processo irreversível: 
 
A globalização tanto divide como une; divide enquanto une e as causas da divisão são 
idênticas às que promovem a uniformidade do globo. Junto com as dimensões 
planetárias dos negócios, das finanças, do comercio e do fluxo de informação, é 
colocado em movimento um processo localizador, de fixação do espaço. 
Conjuntamente, os dois processos intimamente relacionados diferenciam nitidamente 
as condições existenciais de populações inteiras e de vários seguimentos de cada 
população (BAUMAN, 1999, p. 8). 
 
Dessa forma, enquanto a globalização se torna modelo e modo de vida, uma vez que 
não podemos mudar essa realidade e o que aparece para a sociedade é o que os meios de 
comunicação mostram conforme interesses próprios, ela coloca na perspectiva localista, a 
degradação social, já que tendemos a valorizar o que está distante em oposto ao que está 
próximo. 
A intenção aqui não se trata de desconhecer os benefícios da sociedade digital e da 
formação da rede. O intrigante é conviver com todos esses avanços tecnológicos e se deparar, 
ao mesmo tempo, com uma imensa parcela da população mundial sem acesso à educação básica 
e superior, bem como à tecnologia e às redes disponíveis. Nesse sentido: 
Essa sociedade tem como elemento central o capital humano qualificado em contínuo 
aperfeiçoamento, que consegue criar e aplicar o conhecimento, agregando valor em 
suas atividades. O surgimento de uma sociedade global de aprendizado criou a 
necessidade de conjunto de ferramentas para a criação e o estímulo contínuo de novas 
competências, que incluem elementos como liderança, capacidade de comunicação, 
flexibilidade, adaptabilidade, vontade colaborativa e espírito inovador (GARRIDO; 
RODRIGUES, 2012, p. 396). 
 
A transformação da sociedade é impulsionada pelas Tecnologias de Informação e 
Comunicação (TICs), que diminuem distâncias, melhoram a comunicação e diminuem custos 
16 
 
 
 
dos aparelhos, permitindo a um número cada vez maior de pessoas terem acesso aos recursos 
de telefonia e de informática. 
Veloso (2011, p. 49) aponta as TIC como o “conjunto de dispositivos, serviços e 
conhecimentos relacionados a uma determinada infraestrutura, composta por computadores, 
softwares, sistemas de redes”, tendo a capacidade de produzir, processar, distribuir informações 
para organizações e sujeitos sociais. 
Ainda, para Veloso existe uma diferença do referido aporte tecnológico dos demais e 
esta é relacionada com o fato de que as TIC são resultado de uma junção entre as 
telecomunicações com a informática e a computação. 
Assim, as TIC acabam superando e mudando a forma como são criados, transmitidos e 
armazenados os sistemas anteriores, inaugurando um novo método de articulação das 
linguagens, através de novas técnicas e máquinas que são dotadas de capacidade de 
armazenamento, processamento e troca de informações e dados em alta velocidade. 
Pelo exposto, compreendemos que em diversas áreas da sociedade em rede, a tecnologia 
acaba por produzir novas formas e possibilidades de linguagens, assim como novos 
conhecimentos, saberes, e, consequentemente, desafios que irão permear a sociedade. 
Nessa perspectiva que Castells afirma que: 
 
É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes 
nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua 
capacidade de gerar, processar e aplicar, de forma eficiente a informação baseada em 
conhecimentos. É global por que as principais atividades produtivas, o consumo e a 
circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, 
administração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala 
global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É 
rede porque, nas novas condições históricas, a produtividade é gerada, e a 
concorrência é feita em uma rede global de interação entre redes empresariais (2003, 
p. 119). 
Na referida proposta, Castells explica que a informação torna-se um ativo econômico 
de suma importância para o desenvolvimento das sociedades globalizadas. O desenvolvimento 
das TIC e o avanço da globalização acaba provocando diversas mudanças no tocante à forma 
de produção de conteúdos e de formação de saberes, o que tem trazido também, de certa forma, 
novos desafios e enfrentamentos. 
Diante de tais aspectos, percebemos que a globalização revela a capacidade do homem 
de apropriar-se, através do desenvolvimento técnico-científico e dos sistemas de poder, das 
17 
 
 
 
riquezas do mundo, especialmente através da exploração desmedida dos recursos naturais e do 
processo de compressão espaço-tempo do mundo pós-moderno. Atualmente há um processo de 
implementação e desenvolvimento da sociedade em rede, fortemente baseada na disseminação 
de informações e nas conexões instantâneas. 
 
3 O PAPEL DESEMPENHADO PELAS (NOVAS) TICs PARA O 
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO JURÍDICA EM REDE: ENTRE ENSINO, 
TECNOLOGIA E PODER 
 
Uma vez abordada a construção e o desenvolvimento da sociedade contemporânea, em 
rede, no capítulo anterior, convém, a partir desse momento, inserir tal cenário na perspectiva da 
educação jurídica. Para isso, a presente seção deter-se-á à investigação da importância das 
novas tecnologias - mormente às de informação de comunicação, as TIC’s - para o 
desenvolvimento de uma satisfatória educação jurídica em tempos atuais, além de estabelecer 
as bases para uma compreensão de como se manifesta o vínculo entre poder e conhecimento 
nessa era digital. 
De acordo com a percepção de Veloso (2011, p. 50), as TICs “[...] agem como 
instrumentos inovadores no aceleramento da comunicação, estimulam a interatividade, 
modificam a produção e transformam as relações entre os indivíduos”. Sob a ótica de uma 
sociedade que edifica seus pilares mais fundamentais na globalização, essas tecnologias - de 
desenvolvimento propiciado pela internet - oportunizam em muito características básicas da 
atualidade; celeridade na publicação, compartilhamento e, de modo mais geral, acesso a 
informações, que constroem o cerne da sociedade globalizada em rede. 
O termo “rede”, consoante o filósofo sociólogo alemão Jürgen Habermas (2001, p. 84), 
“tornou-se uma palavra-chave, e tanto faz se se trata das vias de transporte para bens e pessoas, 
de correntes de mercadorias, capital e dinheiro, de transmissão e processamento eletrônicos de 
informações ou de circulações de pessoas, técnica e natureza”. Relações das mais diferentes 
naturezas se entrelaçam por meio das TICs e formam redes cada vez mais complexas e 
interdependentes. 
Em suma, 
têm-se hoje condições de tecnologia da informação e de comunicação que não se 
dispunha há bem poucos anos. A informática por meio dos computadores pessoais 
(microcomputadores) se popularizou a partir do fim da década de 90, assim como 
ocorreu com as redes de comunicação para transmissão de dados, entre elas, a internet. 
18 
 
 
 
Esses recursos tornaram possível o acesso aos dados de um ente público para o mundo 
inteiro. Sem sair do escritório ou da residência é possível acessar, analisar, questionar, 
criticar e solicitar esclarecimentos da administração pública, sobre atos de gestão 
praticados pelos mandatários. (SILVA, 2010, p. 58) 
 
Destarte, é inegável que o surgimento e desenvolvimento das novas tecnologias da 
informação e a velocidade de propagação comunicativa de toda sorte possibilita a expansão da 
rede de forma rápida e com alto alcance. Por certo que, se essa (nova) realidade em rede, 
complexa e globalizada atinge os mais variados aspectos da vidaem sociedade, o ensino 
também sentiu seus impactos. Em termos mais específicos, é necessário abordar a relação entre 
as TICs e a sociedade em rede com o ensino jurídico, com seus desafios e possibilidades na 
contemporaneidade. 
Ao discutir sobre ensino, processos de aprendizagem e acesso ao conhecimento, é 
imprescindível salientar que, por muito tempo, o saber foi privilégio de poucos. É claro que, 
não muito rapidamente, essa realidade foi sendo alterada por inúmeros fatores colaborantes para 
que um maior número de pessoas pudesse ter acesso à educação de uma maneira minimamente 
satisfatória. Deixando de lado alguns desses fatores importantíssimos - não por relativizá-los, 
mas sim por não serem o escopo da presente pesquisa - como o alargamento de políticas 
públicas educacionais e a consagração do direito à educação como direito social 
constitucionalmente garantido (art. 6º da Constituição Federal de 1988), o desenvolvimento da 
internet e das novas TICs colaborou em muito para um cenário educacional mais democrático. 
Notadamente no que diz respeito à educação no ensino superior, a lógica é a mesma. 
Para Foucault (2004, p. 12), a educação é “o instrumento graças ao qual todo o indivíduo, numa 
sociedade como a nossa, pode ter acesso a qualquer tipo de discurso”. Assim, reconhece-se o 
cariz transformador que esse fenômeno tem em relação às pessoas que dele se beneficiam. 
Todavia, o autor também alega que “todo o sistema de educação é uma maneira política de 
manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que estes 
trazem consigo” (FOUCAULT, 2004, p. 12). Com isso, denota-se a necessidade de utilizar os 
mecanismos construtores do conhecimento e do saber com inteligência. 
De um modo geral, Foucault (2006) argumenta que conhecimento é (ou mantém uma 
relação umbilical com o) poder. Tentando extrair o aspecto mais positivo do conceito de poder 
e das relações foucaultianas entre este e o saber, é possível falar em conhecimento como 
mecanismo potencialmente emancipador, empoderador e, por isso, modificador de realidades. 
19 
 
 
 
Em uma percepção dedutiva, aplica-se essa ideia à educação jurídica - delimitação da presente 
pesquisa -, onde o ensaio se deterá de agora em diante. 
Ensinar direito, literalmente, não é tarefa fácil. Além do vasto cronograma curricular 
para o ensino de disciplinas propedêuticas, ordenamentos, princípios, regras, orientações, 
súmulas e jurisprudências, há a preocupação de aliar teoria e prática e, também, de estar sempre 
consoante com seu tempo. Ao pensar o ensino jurídico contemporaneamente, parece que a 
sociedade exige um processo de ensino-aprendizagem que tenha como premissa a incidência 
não apenas na seara da qualificação profissional - seja ela de docência, advocacia ou carreiras 
públicas diversas -, todavia também na vida pessoal e social dos educandos (SANTOS; 
GOMES, 2009). 
Em face dessa realidade emergente é que se parte do pressuposto do esgotamento do 
que se concebe por modelo tradicional de ensino do direito no país. Essa problemática advém, 
segundo Espindola e Seeger (2019, p. 101), de “compromissos 
históricos e ideológicos que forjaram o ensino a partir de uma racionalidade subjacente, 
que opera sobre os discursos de verdade das ciências humanas”, próprios de uma perspectiva 
liberal de sociedade que, durante muito tempo, exclusivamente permeou o solo jurídico 
brasileiro. 
É essa realidade que Marat (1982) denuncia como sendo o senso comum teórico dos 
juristas. O momento é de (ré)pensar as estruturas que compõe o ensino jurídico no país. É, em 
sede de uma sociedade em rede, valer-se das TICs para abrir a visão a novas possibilidades e 
oportunidades de educação jurídica. Expandir o compartilhamento de saberes dentro das salas 
de aula em uma troca permeável, interdependente de professores e alunos. É pensar na 
importância da complexidade dessas relações, para construir um direito profundo, conectado 
ao seu tempo, disposto e capaz de solucionar as demandas emergentes de uma sociedade 
absolutamente globalizada. 
Ante a essa complexização de relações sociais, que deságuam na importância de 
discussão e tutela de direitos difusos e transindividuais, pensar o direito sob uma perspectiva 
estritamente liberal é ignorar todas essas necessidades, haja vista que essa proposta se preocupa 
majoritariamente com direitos individuais de primeira geração - o que inegavelmente é 
imprescindível, mas deve-se buscar um modelo democrático que melhor atenda a todos os 
interesses em rede. “Não se trata de refutar a razão jurídica, mas antes 
20 
 
 
 
seus excessos que culminam em arbitrariedades e acabam por deslegitimar a fala do jurista e, 
em última análise, deslegitimar o próprio Direito” (ESPINDOLA; SEEGER, 2019, p. 110). 
Dada a velocidade das mudanças, não mais se pode imaginar que 
um ensino focado na transferência de conhecimento do professor para o aluno seja 
suficiente. Devem ser promovidas habilidades crítico-analíticas, criatividade e, 
em especial, consistentes conhecimentos sobre os princípios orientadores do Direito. 
Ao invés do tradicional e obsoleto treinamento positivista de “operadores do 
Direito”, há que se ter como norte ter a ambição de forjar profissionais “artíf
ices do direito”, capazes de conceber inovadoras soluções jurídicas para casos 
concretos, diante de sociedades que, se cada vez são mais complexas, por out
ro lado estabelecem relações sem solidez, na medida em que se vive uma era líquida, 
numa referência baumaniana, e constantemente em mutação; o que influencia o 
Direito, que, a princípio, se baseia em normas e precedentes rígidos. (HOGEMANN, 
2018, p. 113) 
 
A internet e seus mecanismos adjacentes oferecem uma ampla gama de ferramentas 
capazes de potencializar o desenvolvimento do ensino jurídico. Há uma infinidade de materiais, 
como livros e artigos científicos disponíveis em poucos cliques na rede. Os caminhos à busca 
do conhecimento se tornaram inúmeros; não há, atualmente, assunto que não se possa conhecer 
quando lançadas algumas palavras em algum site de buscas. Educar em rede é uma perspectiva 
de ensino que se mostra altamente convidativa e possibilitadora de expansão de novos 
horizontes. 
Por certo que as TICs e seu meio de ação, a internet, não possuem somente pontos 
positivos. Como bem relatam Santos e Gomes (2009, p. 145), nesse ambiente “tudo parece ser 
“e-rápido”, e, melhor ainda, “e-realizável”, mesmo que o seja apenas no domínio do virtual 
[...]”, mas nem tudo é assim tão fácil. “Para além da globalização, 
outra dimensão que desafia gestores e docentes dos cursos jurídicos é como bem lidar com 
os avanços tecnológicos [...] que, hoje, já atingem a seara do Direito tanto no âmbito 
pedagógico como do exercício profissional, como uma realidade objetiva e inquestioná
vel.” (HOGEMANN, 2018, p. 113) 
Certo é que novos avanços, novas descobertas e novas técnicas precisam ser 
corretamente manejados, a fim de que deles possam ser extraídos seus melhores mecanismos 
para a remodelação de uma sociedade condizente ao seu tempo. Assim, usar as novas 
tecnologias a favor do conhecimento, da construção de saber e no compartilhamento de boas 
ideias tende a render excelentes frutos para o desenvolvimento do ensino jurídico no país. 
 
 
21 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Essa pesquisa buscou compreender os desafios e possibilidades percebidos na seara da 
educação jurídica contemporaneamente, em sede de uma sociedade em rede, analisando a 
manifestação de poder que se forja nesse cenário, bem como o papel da tecnologia nessa 
realidade. 
Assim, foi realizado um apanhado da historicidade social que deságua nos tempos 
atuais, culminando em uma sociedade altamente complexa, globalizada, marcada por suas 
relações constituídas em rede. 
Ainda, ressaltou-se a importância das novas tecnologiaspara o desenvolvimento da 
educação jurídica na atualidade, além de estabelecer as bases para uma compreensão de como 
se manifesta o vínculo entre poder e conhecimento nessa era digital. 
O desenvolvimento das TIC, em especial da rede mundial de computadores e de seu 
ambiente informacional, tem provocado mudanças significativas quanto às formas de produção 
de conteúdo informacional e tem trazido à tona novos desafios e enfrentamentos. 
Dessa forma, diante das reflexões consideradas, podemos dizer que o ensino jurídico, 
evidentemente, é atingido pela globalização e é para ele que são dirigidas as preocupações 
quanto á formação. O que se espera, é que as novas descobertas e novas técnicas sejam 
manejadas da forma mais proveitosa, a fim de que deles possam ser extraídos seus melhores 
mecanismos para a remodelação de uma sociedade condizente ao seu tempo. 
Nesse sentido, é possível alegar que a educação jurídica contemporânea se mostra 
dependente do mecanismo da tecnologia em tempos de sociedade em rede na medida em que a 
internet e seus mecanismos adjacentes oferecem uma ampla gama de ferramentas capazes de 
potencializar o desenvolvimento da referida educação. Estão disponíveis na rede diversos 
materiais, como livros e artigos científicos que auxiliam na construção do saber. Assim, as 
alternativas na busca do conhecimento se tornaram as mais diversas; não há, atualmente, 
assunto que não se possa conhecer quando lançadas algumas palavras em algum site de buscas. 
Educar em rede é uma perspectiva de ensino que se mostra altamente convidativa e 
possibilitadora de expansão de novos horizontes. 
Assim, conclui-se que as novas ferramentas propiciadas pela globalização e pela 
sociedade em rede precisam ser corretamente manejadas, a fim de que delas possam ser 
22 
 
 
 
extraídas seus melhores mecanismos para a remodelação de uma sociedade condizente com a 
atualidade. Assim, as novas tecnologias devem ser usadas no auxílio da educação jurídica e da 
construção de saber para que possa gerar novos rumos ao desenvolvimento do ensino jurídico 
no país. 
 
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VELOSO, Renato. Tecnologias da informação e comunicação: desafios e perspectivas. São 
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http://hdl.handle.net/10284/1841
http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/4669
24 
 
 
 
REEDUCAÇÃO JURÍDICA SOB A PERSPECTIVA DA 
FILOSOFIA DO DIREITO - JUSTIÇA, DESIGUALDADE E 
ESTADO DE EXCEÇÃO 
 
Ana Isabel Mendes1 
Marcio Renan Hamel2 
 
RESUMO 
 A presente pesquisa aborda o atual momento do ensino jurídico e a contribuição da filosofia 
do direito para a reeducação do direito no pós-pandemia. O texto apresenta inicialmente uma 
análise da situação atual do ensino superior, tendo em vista as mudanças impostas pela 
pandemia do vírus Covid-19, causando o imediato fechamento das instituições de ensino em 
todos os níveis, com suspensão de todas as atividades presenciais a partir de maço de 2020. Em 
segundo momento, analisa-se o potencial da disciplina de filosofia do direito a partir de três 
questões-chave: a) a restrição dos campos de manifestação da justiça; b) a desigualdade social; 
e, c) medidas de Estado de exceção. A conclusão aponta no sentido que a disciplina de filosofia 
do direito apresente potencial capaz de fomentar o pensamento crítico e irresignado, a fim de 
que a manutenção do Estado de Direito, a garantia das liberdades constitucionais e a 
solidariedade sejam pedras-de-toque no pós-pandemia, considerando que o ensino on-line não 
pode causar o reducionismo na formação profissional, o que será ainda mais devastador no pós-
pandemia para a ciência jurídica e social. 
 
Palavras-chave: Desigualdade. Estado de exceção. Filosofia do direito. Justiça. 
 
INTRODUÇÃO 
A presente pesquisa faz uma análise do atual momento do ensino do direito a partir da 
eclosão do vírus Covid-19, causando uma pandemia, quando escolas e universidade em todo o 
mundo foram repentinamente fechadas para quaisquer tipos de atividades presenciais, 
passando-se ao ensino on-line remoto, o qual ainda perdura até o presente momento. 
Dentro desse quadro, muitas são as questões que vêm sendo debatidas acerca do 
presente e também do futuro do ensino jurídico, podendo-se apontar para questões que giram 
desde o acesso dos estudantes à internet para pode acompanhar as aulas e atividades até o 
preparo metodológico dos docentes para este tipo de ensino, considerando-se que, trata-se de 
 
1 Mestranda em Direito pelo PPGDireito UPF. Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela UPF. Advogada - 
OAB/RS 92.786.E-mail: aisabelmendes@hotmail.com. 
2 Pós-Doutor em Direito pela URI Santo Ângelo/RS. Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Uff/RJ. Mestre 
em Direito, Cidadania e Desenvolvimento pela Unijuí/RS. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais - e Filosofia 
- pela UPF. Professor da Faculdade de Direito e do PPGDireito pela UPF. Advogado - OAB/RS 55.559. E-mail: 
marcio@upf.br. 
25 
 
 
 
um momento não esperado, mas que, repentinamente, se instaurou de maneira quase que 
absoluta. 
Tal situação suscita muitas questões a serem pensadas a partir da prática pedagógica, 
numa verdadeira reeducação do ensino do direito no pós-pandemia. Nesse sentido, a presente 
investigação apresenta uma reflexão acerca da contribuição da filosofia do direito para essa 
reeducação. Dessa forma, o texto apresenta duas seções, sendo que a primeira seção faz uma 
abordagem da atual situação do ensino jurídico ressaltando, inclusive, pontos que são negativos 
na relação pedagógica e que, uma vez enfraquecidos, podem ter influência no déficit formativo 
do graduando em direito. A segunda seção, analisa, então, a contribuição da filosofia do direito 
para a reeducação jurídica a partir de três perspectivas, quais sejam: a) a possível restrição dos 
campos de manifestação da justiça; b) o aumento das desigualdades; e, c) a manutenção de 
medidas verdadeiramente de Estado de exceção no país. 
Para a execução da referida estrutura, o procedimento metodológico percorre a análise 
e o esclarecimento de conceitos; identificação da ideia-chave; e argumentos; tentativa de 
resumo e reconstrução pessoal do texto; como método de abordagem utiliza-se o hermenêutico-
fenomenológico, no qual a categoria epistemológica fundamental é a compreensão e a meta é a 
interpretação dos fatos. 
 
1 O ENSINO JURÍDICO EM ERA PANDÊMICA 
 
A partir da eclosão do vírus batizado de Covid-19, o qual é causado pelo agente 
etiológico dito SARS-Cov-2, enquanto síndrome respiratória aguda severa, cujo epicentro foi 
na China em dezembro de 2019, mas que de maneira rápida atingiu a Europa e também a 
América, tornaram-se necessárias a utilização de medidas denominadas de isolamento social. 
Entre as medidas adotas se operou, também, o imediato fechamento das instituições de ensino 
em todos os níveis, com suspensão de todas as atividades presenciais a partir de maço de 2020. 
Nesse contexto de risco e medo, o Ministério da Educação editou a Portaria nº. 343, de 
17 de março de 2020, que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios 
digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus - Covid-19, destacando 
que é de responsabilidade das instituições a definição das disciplinas que poderão ser 
26 
 
 
 
substituídas, bem como a disponibilização de ferramentas aos alunos para acompanhamento do 
conteúdo e avaliações durante o referido período3. 
Dessa forma, houve a substituição das aulas presenciais pelas digitais em caráter 
emergencial, aderindo-se ao denominado sistema de ensino remoto, que difere da modalidade 
de ensino à distância (EAD). A fim de elucidar melhor a questão, cabe trazer aqui a distinção 
entre a modalidade à distância e a modalidade de ensino remoto, sendo que 
 
o ensino remoto emergencial difere da modalidade de Educação a Distância (EAD), 
pois a EAD conta com recursos e uma equipe multiprofissional preparada para ofertar 
os conteúdos e atividades pedagógicas, por meio de diferentes mídias em plataformas 
on-line. Em contrapartida, para esses autores, o intuito do ensino remoto não é 
estruturar um ecossistema educacional robusto, mas ofertar acesso temporário aos 
conteúdos curriculares que seriam desenvolvidos presencialmente. (RONDINI; 
DUARTE, 2020, p. 43) 
 
Os pontos de divergência entre as duas modalidades de ensino são, portanto, o preparo 
pela equipe multiprofissional e os recursos nelas utilizados, sendo o modo de ensino remoto, 
segundo Barbosa, Viegas e Batista (2021, p. 09) também denominado de híbrido, já que contém 
mais de um método utilizado no ensino, reunindo a utilização de meios e tecnologias de 
informação e comunicação. 
Há ainda aspectos importantes a serem trazidos sobre as diferenciações do ensino 
apresentadas atualmente, tais como o modelo síncrono e assíncrono de aulas, pois 
 
novas formas de transmitir o conhecimento e os conteúdos são ofertados nas diversas 
plataformas digitais online, na qual as aulas acontecem de forma remota através do 
modelo síncrono (em tempo real) ou assíncrono (não é em tempo real), pois há 
recursos que funcionam também como o modelo EAD, que é o da gravação e 
disponibilização da aula, caso o aluno, naquele momento, não possa assistir. 
Cabendo destacar, que o recurso de gravar e disponibilizar o material, não se refere a 
tornar o método similar ao EAD, e sim, o de tentar potencializar a ferramenta. Até 
porque, a visão deste recurso, é o de proporcionar não só o acesso dos alunos que 
não acompanharam a aula de forma remota, mas também destes alunos poderem 
revisar a explicação do professor(a), e esclarecer possíveis dúvidas. (BARBOSA; 
VIEGAS; BATISTA, 2021, p. 263). 
 
No que se refere, especificamente, ao ensino superior, um estudo realizado por Ferreira, 
Branchi e Sugahara (2020, p. 01-10), em uma Instituição de Ensino Superior do estado de São 
Paulo, em cursos administrados com metodologia tradicional e com metodologias ativas, 
 
3 BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020 que dispõe sobre a substituição das 
aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - 
COVID-19.MEC. Disponível em: https://www.mec.gov.br/. 
27 
 
 
 
durante a pandemia Covid-19, constatou-se que “a falta de interação presencial e do contato 
visual com os alunos impedem a real percepção de como os conteúdos estão sendo recebidos 
por eles”. O estudo relatou, ainda, que em muitas vezes, mesmo o(a) professor(a) solicitando a 
participação, há um silêncio absoluto junto à falta de participação, pois o fato de o aluno estar 
“logado” na plataforma não significa estar conectado com a aula. Alguns desafios foram 
apontados nessa pesquisa, entre os quais a ausência de relação direta aluno-professor, face a 
face, típica de uma sala de aula; perfil do aluno; problemas com a maturidade, autodisciplina e 
o isolamento, especialmente críticos em alunos mais jovens, bem como em períodos iniciais 
dos cursos. 
 Quanto à área de ciências jurídicas e sociais, o desafio relacionado à possibilidade de 
interação e de aprendizado colaborativo é o que chama atenção, pois corresponde diretamente 
a um dos aspectos mais importantes ligados ao Direito: a comunicação, a argumentação e a 
convivência em sociedade, objeto direto de estudo da área. Nesse sentido, conforme apontam 
Lopes e Papalia (2020, p.112), o ensino jurídico se compreende enquanto ciência social e, em 
sua essência normativa, volta-se ao interesse e bem-estar da coletividade. O direito aí pode ser 
definido enquanto vinculação bilateral atributiva da conduta humana voltado à realização 
ordenada dos valores de convivência humana. 
Um fator que deve ser levado em consideração é que antes do cenário pandêmico, o 
Brasil já enfrentava o fato da mercantilização do ensino jurídico no país. A prova disso, é a 
reportagem publicada na Revista Consultor Jurídico (2020), relatando que o Censo da Educação 
Superior constatou que, desde 2014, o direito é o curso com o maior número de estudantes 
matriculados no país. 
Em que peses os dados acima aparentem maior acesso ao ensino superior, não refletem 
a qualidade do ensino jurídico no país. A título de exemplo, em uma análise feita pela Ordem 
dos Advogados do Brasil no ano de 2016, entre os Exames da Ordem, abrangendo desde o II 
até o XVII, constatou-se que em 16 (dezesseis) edições da avaliação, apenas 17,5% dos 
bacharéis foram aprovados da totalidade dos 639.000participantes. 
Trazendo estes dados acima para a realidade enfrentada no ensino on-line durante a 
pandemia da Covid-19, onde a interação humana e o diálogo estão prejudicados, bem como o 
distanciamento entre o professor e aluno, não se pode ainda mensurar as consequências exatas 
da migração total da forma de ensino, nem projetar com segurança se os bônus do momento 
tornam esta modalidade de educação mais eficaz. 
28 
 
 
 
Todavia, o que se percebe na atualidade, em que ainda se enfrenta o processo 
pandêmico, é que os cursos de Direito se adaptaram a esta modalidade à distância, realizando, 
inclusive, bancas de qualificações de projetos, dissertações e apresentações trabalhos de 
conclusão de curso. Isso ocorreu em todo o ambiente jurídico, pois as audiências estão 
acontecendo por videoconferências, os processos estão sendo transformados em processos 
eletrônicos. A mudança, portanto, ainda está ocorrendo. (LOPES, PAPALIA, 2020, p. 115) 
Em verdade, com a mudança gerada na própria profissão, já que os operadores do 
Direito têm necessitado da adaptação ao mundo on-line para continuarem trabalhando e ante as 
fortes tendências de subsistir tais métodos de trabalho, parece que, cada vez mais, aumenta a 
necessidade de inserção do aluno no mundo on-line, o que pode ser facilitado pela 
aprendizagem na universidade. 
Assim, embora tenha ocorrido a migração total, neste momento, do ensino do Direito 
para o mundo on-line, em razão da pandemia, há aspectos que deverão ser levados em conta no 
momento pós-pandemia. 
Dentre os principais aspectos pode-se apontar o fato de que tanto as leis, quanto a 
jurisprudência se modificam diariamente, demandando do profissional do Direito qualificação 
não somente sobre aspectos jurídicos, mas também tecnológicos, a fim de que o jurista 
acompanhe em tempo real o objeto do seu trabalho, sob pena de ocorrer uma defasagem do 
profissional. 
Ademais, com audiências, sessões de julgamento e até atendimentos realizados por meio 
de videoconferências, o entendimento do mundo on-line se tornou um aspecto quase obrigatório 
para o exercício da profissão, já que, sem esta competência, o profissional da área se encontra 
à margem do mercado de trabalho, aspecto ressaltado durante este período. 
Também se deve suscitar a questão da inacessibilidade à internet que, em era pandêmica, 
significa a inacessibilidade à educação e, no aspecto aqui tratado, ao ensino superior, e que deve 
ser pensado pelas Instituições de ensino superior neste momento e em momento posterior à 
cessação da pandemia: 
Apesar de o problema na educação superior ser menor em quantidade, ele atinge, 
sobretudo, estudantes de baixa renda, minorias étnicas e domiciliados em regiões mais 
pobres do país. Enfrentar esse problema assume um claro caráter de promoção da 
equidade, portanto. Assim, distribuir chips de dados e equipamentos para esses 
estudantes é fundamental, política que pode – e deve – ser complementada com a 
abertura dos campi em horários específicos e pré-agendados para estudantes que não 
conseguem acesso mesmo se lhes forem fornecidos os equipamentos necessários. 
29 
 
 
 
Nascimento et al. (2020) mostram que nem todos os domicílios dispõem de 
infraestrutura para acesso à internet, pois sequer captam sinal de celular. (CASTIONI, 
et al, 2021, p. 25) 
 
Como se pode perceber, o ensino jurídico passa por diversos aspectos na era pandêmica, 
que vão desde o só pesamento dos benefícios e prejuízos decorrentes da obrigatoriedade do 
ensino on-line, que passam pelas relações humanas e sociais – imprescindíveis para o direito -, 
até aspectos relacionados ao acesso ao ensino superior e, consequentemente, ao mercado 
jurídico de trabalho. 
Ainda que a população tenha sido surpreendida com um momento totalmente atípico e 
repentino, que impossibilitou a preparação de inúmeros setores da sociedade, incluindo a 
educação de nível superior - e jurídica -, há de se pensar nas consequências que as escolhas 
realizadas no período trarão à sociedade, a fim de que se contribua, ainda em tempo, para a 
melhoria do ensino do direito, a fim de se formar profissionais qualificados e atualizados, de 
acordo com as exigências do momento e da sociedade. 
 
2 A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA DO DIREITO PARA A REEDUCAÇÃO 
JURÍDICA NO PÓS-PANDEMIA 
 
Nesse contexto, coloca-se a pergunta acerca de como será a educação jurídica frente a 
um novo e desafiador momento do Brasil e, também, da humanidade no pós-pandemia. Muitas 
são as questões a ser debatidas dentro desse tema, conforme exposto no item anterior, desde o 
acesso à justiça até o cerceamento da liberdade humana enquanto consequências diretas das 
medidas de restrições impostas pelos Estados como o distanciamento social e lockdown. 
A primeira análise possível proposta pela perspectiva da filosofia do direito permite 
refletir sobre a possibilidade da ampliação ou restrição da manifestação da justiça em uma era 
de pandemia e também de pós-pandemia. Por isso reeducar será também ressignificar, 
considerando-se a atmosfera de pânico e catástrofe instauradas sobre a terra não se pode 
esquecer das promessas das luzes, afinal, liberdade, legitimidade e solidariedade, são estrelas 
da constelação iluminista a partir das quais se moldaram os Estados da modernidade. 
Para iniciar, pode-se colocar a pergunta feita por Ulrich Beck em A metamorfose do 
mundo: “Qual é o significado dos eventos globais que se desenrolam diante de nossos olhos na 
televisão”? (2018, p.15). Metamorfose aqui significa uma transformação radical, onde as velhas 
certezas da sociedade moderna estão desaparecendo no momento em que algo novo surge. 
30 
 
 
 
A sociedade contemporânea não encontra mais a solução para os seus problemas em 
uma matriz de direito exclusivamente positivista, de viés dedutivista-legalista, a qual já se 
mostra inapta para a solução dos problemas que apresentam maiores complexidades sociais. 
Esta é a chamada “sociedade do risco” apontada por Beck, segundo a qual as 
transformações das ameaças civilizatórias da natureza são transformadas em ameaças sociais, 
econômicas e políticas, o que se traduz em um desafio para o presente e para o futuro, 
justificando-se o conceito de “sociedade do risco”. Dessa maneira, a produção de riquezas vem 
acompanhada de forma sistemática da produção de riscos. 
Esta é a lógica do desenvolvimento, onde os riscos da própria modernização se 
consolidam em um jogo de tensões entre ciência, prática e esfera pública, cuja consequência 
resulta em uma “crise de identidade”, novas formas de organização de trabalho, novos 
fundamentos teóricos e novos desenvolvimentos metodológicos (BECK, 1998, p.210). 
Nesse contexto, Beck afirma que há a necessidade de assimilação dos erros, bem como 
da discussão pública sobre a modernização, pois “la discusión pública de los riesgos de la 
modernización es el camino para la reconversión de los errores en oportunidades de expansión 
bajo las circustancias de la cientificación reflexiva” (1998, p. 210). 
De acordo com Daniel Innerarity (2017, p.143), precisa-se ainda de algum tempo para 
entender essa nova situação, para comunicá-la e geri-la. Trata-se de um período caracterizado 
pela presença cada vez maior de limites para a ação dos governos do que aqueles em que se 
estava acostumado, fato que obriga a reinventar a política e a função dos governos. Reside aí, 
um dos maiores problemas da política atual que é a redução das capacidades de controle dos 
Estados, pois o que em outros momentos era entendido como o resultado das circunstâncias 
contingentes, as quais não se tinha à disposição, hoje é tido como resultado de uma ação ou 
omissão em relação à qual alguém é declarado como responsável, pois: 
Onde antes o acaso ou o destino funcionavam como explicação, temos agora 
responsabilidade política, quer se trate de epidemias, catástrofes naturais ou situações 
de pobreza. (...)O sistema político caiu na armadilha da onipotência sugerida pelos 
meios de comunicação social, mas convertida na regra da competição entre os agentes 
políticos que se acusam mutuamente de não terem feito o suficiente (INNERARITY, 
2018, p.144). 
 
Sim, pode-se concordar com Pinzani (2020, p.27) que “a fraqueza do Estado gera falta 
de solidariedade nacional e contribui, portanto, para enfraquecer o senso de cidadania e 
alimentar a desconfiança contra o próprio Estado”. Nesse sentido, Pinzani alerta para o fato de 
31 
 
 
 
que tanto no debate público quanto no acadêmico discutem-se muito questões epidemiológicas, 
medidas técnicas sobre o combate à epidemia; mas se fala muito pouco sobre a maneira pelas 
qual as desigualdades socioeconômicas põem em risco de forma desproporcionada os 
indivíduos mais pobres; quase nunca, porém, se ouve falar da necessidade de, por um lado, 
fortalecer o aparelho estatal e o sentimento comum de cidadania (2020, p.29). 
A segunda análise possível da filosofia do direito para a reeducação jurídica reside na 
reflexão sobre as desigualdades sociais, considerando-se que aquelas situações vulneráveis de 
pobreza e também de pobreza extrema, tendem a se aprofundarem no momento pós-pandemia. 
Pinzani (2020) chama a atenção para esta questão, ressaltando que se impõe com urgência o 
resgate de um sentimento comum de cidadania. Nesse sentido a disciplina de filosofia do direito 
possui grande potencial capaz de propor essa reflexão, bem como de incutir nos estudantes de 
direito o necessário sentimento comum de cidadania. 
Em texto sobre a ascensão do neoconservadorismo, Habermas chamou a atenção para a 
crise do Estado de bem-estar social e o esgotamento das energias utópicas, da sociedade de 
início do século XXI. A perspectiva utópica parece ter sido consumida da consciência política, 
ao passo que o futuro está impregnado de pessimismo estando este início do século XXI 
debruçado sobre o panorama temível do perigo planetário de aniquilação dos interesses vitais 
gerais (1997, p.115). 
 
Habermas segue na tradição da teoria crítica, que atribui à filosofia uma função de 
diagnose em relação aos males da sociedade moderna e também ao discurso 
intelectual que fundamenta sua insurreição e justifica seus objetivos e motivações. É 
exatamente o que acontece na prática da clínica médica, pois o diagnóstico da teoria 
crítica não é uma empreitada especulativa, mas uma avaliação orientadora para 
possibilitar a cura. Essa avaliação confere à filosofia o fardo e o privilégio da 
responsabilidade política. (BORRADORI, 2004, p.26). 
 
Em entrevista ao jornalista francês Nicola Truong, do jornal Le Monde, em 10 de abril 
de 2020, posteriormente replicada por La Repubblica, em 12 de abril de 2020, com tradução da 
versão italiana de Luisa Rabolini, a qual foi reproduzida no Brasil pelo Instituto Humanistas da 
Unisinos em 13 de abril de 2020, Habermas se manifestou sobre a crise global sanitária em 
perspectiva ética, filosófica e política. 
De acordo com Habermas (2020), o perigo de que o estado de emergência possa se 
transformar em uma regra democrática naturalmente existe. Argumenta o filósofo alemão que 
a limitação de um grande número de liberdades importantes deve permanecer uma exceção 
32 
 
 
 
estritamente contida. Entretanto, a exceção é em si mesma exigida pelo direito primário á 
proteção da vida e da integridade física. 
Por outro lado, Habermas (2020) vê como um importante desafio ético o momento certo 
de encerrar o isolamento social, uma medida moral e legalmente exigida para a proteção da 
vida. O pensador alemão entende que os políticos devem resistir a tentação utilitarista de pesar 
os danos econômicos ou sociais, por um lado, e as mortes inevitáveis, de outro. 
Recentemente, e na contramão do pensamento de Habermas, o filósofo italiano Giorgio 
Agamben em crítica à biopolítica e ao estado de exceção analisa a situação da pandemia da 
Covid-19, afirmando que havendo esgotado o terrorismo como causa de medidas excepcionais, 
a invenção de uma epidemia oferece o pretexto ideal para incutir o estado de medo nas pessoas 
que se traduz imediatamente em estado de pânico coletivo. Resulta daí um círculo vicioso 
perverso onde a limitação da liberdade imposta pelos governos é aceita em nome de um desejo 
de segurança dos mesmos (2020, p.19). Essa é a terceira perspectiva possível de análise da 
filosofia do direito, qual seja, a da perpetuação das medidas de isolamento social e restrição das 
liberdades impostas pelos governos. 
Para Agamben (2020, p.33), ainda mais triste do que as restrições das liberdades 
impostas é degeneração das relações entre os homens que elas podem produzir. O outro homem, 
quem quer que seja, inclusive um ser querido, não pode se aproximar e ser tocado, devendo 
estar uma distância segura (distanciamento social). Nesse sentido, os governos determinaram 
que tanto as universidades quanto as escolas sejam fechadas de uma vez por todas, sendo que 
todos os conteúdos, lições, diálogos culturais e políticos sejam feitos de forma remota, e que, 
na medida do possível, as máquinas substituam todo o contato – todo o contágio- entre os seres 
humanos. 
As medidas de quarentena e distanciamento social que privam os indivíduos de suas 
liberdades são consideradas desproporcionais por Agamben, ao passo que elas efetivam uma 
tendência crescente de autoridades públicas em utilizar o estado de exceção como um 
paradigma normal de governos e, ainda, enquanto forma de exercer o poder de domínio 
legal/legítimo sobre a vida dos indivíduos por meio de vigilância e penalização quando da 
transgressão de regras da quarentena. 
Na leitura de Guedes (2020, p.05), Agamben entende que a política é realizada a partir 
da interação, da proximidade e de vivências concretas, enquanto que o distanciamento social e 
o confinamento significam a ruptura da comunidade política. Nesse quadro, o pânico coletivo 
33 
 
 
 
se instaurou e com ele o confinamento e a massificação e passividade dos confinados à espera 
de um líder que decrete ordens sobre seu fim. 
Nesse ponto, Guedes (2020, p.05) entende que Agamben tem razão, lembrando que o 
esvaziamento da vida política já existia antes da pandemia, sendo que na atual situação ele 
apenas ganhou uma legitimidade técnica. O desafio de reconstrução da vida política é presente, 
ressaltando-se, entretanto, que o individualismo liberal está invadindo a esfera social há tempo, 
não sendo, pois, produto exclusivo da profilaxia de isolamento social. 
Conforme Innerarity, as instituições educativas desempenham um papel fundamental na 
implantação de hábitos que permitem o bom funcionamento do jogo democrático. Segundo o 
filósofo, “a educação é muito importante, entre outros fatores, porque nela se pode oferecer 
uma imagem caricaturada ou justa dos adversários e dos outros em geral, bem como mostrar a 
importância dos acordos na história das sociedades” (2017, p.123). 
Com isso, na medida em que aumenta a importância da educação não somente para a 
instrução, enquanto educação técnica, mas também no sentido da reflexão, do pensar crítico, 
aumenta também a importância da disciplina de filosofia do direito para o necessário 
redimensionamento da educação jurídica no pós-pandemia, ou seja, a reeducação jurídica. O 
pensamento crítico do operador do direito se reveste de importância fundamental no atual 
momento vivido pelo Brasil, seu povo e suas instituições sociais. 
Em tempos de ensino à distância no formato on-line, a reeducação jurídica precisará de 
direcionamento no sentido da produção de um direito mais justo, capaz de garantir os espaços 
necessários de manifestação da justiça no país, ao mesmo tempo em que deve ser capaz de 
garantir os direitos humanos fundamentais aos mais pobres e vulneráveis, desde o acesso à 
saúde até à educação escolar digna, bem como de garantir as liberdades públicas asseguradaspela Constituição de 1988 e pelo Estado Democrático de Direito, e não o retrocesso a partir de 
suas limitações, o que caracteriza pleno Estado de exceção. 
No dizer de Silva (2019, p.212), a sociedade precisa estabelecer e reconhecer ordens 
legítimas, por meio das quais cidadãos participantes da vida social e política democrática 
graduem o pertencimento aos grupos sociais e também na vida social. O conceito de direito 
subjetivo tem uma função fundamental nesse sentido, uma vez que esclarecem os limites bem 
como as condições que legitimam o emprego das liberdades de cada sujeito. 
 
34 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A partir da presente pesquisa, pode-se apontar para algumas notas conclusivas, a partir 
das quais se conclui pelo enorme potencial que a disciplina de filosofia do direito possui na 
contribuição para a reeducação jurídica no momento de pós-pandemia, a partir de três 
perspectivas possíveis, quais sejam, justiça, desigualdades e Estado de exceção. 
Como primeira nota conclusiva, aponta-se para o fato de que a atualidade do ensino 
jurídico no Brasil, forma remota on-line, é preocupante com base nos pontos levantados pela 
presente pesquisa. De maneira específica, ressalta-se o levantamento feito por Ferreira, Branchi 
e Sugahara, em cursos administrados com metodologia tradicional e com metodologias ativas, 
durante a pandemia Covid-19, onde constatou-se que a falta de interação presencial e do contato 
visual com os alunos impedem a real percepção de como os conteúdos estão sendo recebidos 
por eles. Entre os desafios apontados neste estudo, encontram-se a ausência de relação direta 
aluno-professor, face a face, típica de uma sala de aula; perfil do aluno; problemas com a 
maturidade, autodisciplina e o isolamento, especialmente críticos em alunos mais jovens, bem 
como em períodos iniciais dos cursos. A partir dessas considerações se pode colocar a pergunta 
acerca de como este(a) estudante está se preparando para enfrentar uma sociedade 
extremamente desigual no sentido socioeconômico e como vê o papel do direito em tal 
contexto. 
Enquanto segunda nota conclusiva, pode-se assinalar no sentido de que o enfrentamento 
de possível encolhimento dos campos de manifestação da justiça no país, bem como do aumento 
das desigualdades socioeconômicas, enquanto reflexos diretos da pandemia do Covid-19, 
poderão ser realizados por profissionais preparados a partir de perspectivas críticas e humanas. 
Cidadania e solidariedade não são elementos decorrentes de dogmatismos, mas sim de 
formação humana sólida, a partir de onde se possa ter plena noção do outro, enquanto um dos 
nossos. Os cursos e faculdades de direito devem estar atentos, dessa forma, para o fato de que 
o ensino remoto on-line pode causar um reducionismo na formação profissional, o que será 
ainda mais devastador no pós-pandemia para a ciência jurídica e social. 
A terceira nota conclusiva reside na latente preocupação de potencial manutenção das 
limitações e restrições das liberdades públicas, a partir das medidas de quarenta e 
distanciamento social impostas pelos governos. Referidas medidas não podem ser vistas ou 
tidas como um paradigma normal em sua utilização pelos governos, o que caracterizará em 
verdadeiro Estado de exceção. Por isso, conforme apontado por Guedes, a reconstrução da vida 
35 
 
 
 
política é urgente, sendo que pela presente pesquisa, tal tarefa deve ter a contribuição direta da 
disciplina de filosofia do direito para a manutenção do Estado Democrático de Direito. 
 
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