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A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 CAPÍTULO RESERVADO PARA TITULO A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 CAPÍTULO RESERVADO PARA TITULO A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Atena Editora 2019 Gabriella Rossetti Ferreira (Organizadora) 2019 by Atena Editora Copyright © Atena Editora Copyright do Texto © 2019 Os Autores Copyright da Edição © 2019 Atena Editora Editora Executiva: Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira Diagramação: Natália Sandrini Edição de Arte: Lorena Prestes Revisão: Os Autores O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Conselho Editorial Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Prof. Dr. Álvaro Augusto de Borba Barreto – Universidade Federal de Pelotas Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson – Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho – Universidade de Brasília Prof. Dr. Constantino Ribeiro de Oliveira Junior – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Drª Cristina Gaio – Universidade de Lisboa Prof. Dr. Deyvison de Lima Oliveira – Universidade Federal de Rondônia Prof. Dr. Gilmei Fleck – Universidade Estadual do Oeste do Paraná Profª Drª Ivone Goulart Lopes – Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice Prof. Dr. Julio Candido de Meirelles Junior – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Lina Maria Gonçalves – Universidade Federal do Tocantins Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte Profª Drª Paola Andressa Scortegagna – Universidade Estadual de Ponta Grossa Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins Ciências Agrárias e Multidisciplinar Prof. Dr. Alan Mario Zuffo – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Prof. Dr. Alexandre Igor Azevedo Pereira – Instituto Federal Goiano Profª Drª Daiane Garabeli Trojan – Universidade Norte do Paraná Prof. Dr. Darllan Collins da Cunha e Silva – Universidade Estadual Paulista Prof. Dr. Fábio Steiner – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Profª Drª Girlene Santos de Souza – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Prof. Dr. Jorge González Aguilera – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Prof. Dr. Ronilson Freitas de Souza – Universidade do Estado do Pará Prof. Dr. Valdemar Antonio Paffaro Junior – Universidade Federal de Alfenas Ciências Biológicas e da Saúde Prof. Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto – Universidade Federal de Goiás Prof.ª Dr.ª Elane Schwinden Prudêncio – Universidade Federal de Santa Catarina Prof. Dr. Gianfábio Pimentel Franco – Universidade Federal de Santa Maria Prof. Dr. José Max Barbosa de Oliveira Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte Profª Drª Raissa Rachel Salustriano da Silva Matos – Universidade Federal do Maranhão Profª Drª Vanessa Lima Gonçalves – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande Ciências Exatas e da Terra e Engenharias Prof. Dr. Adélio Alcino Sampaio Castro Machado – Universidade do Porto Prof. Dr. Eloi Rufato Junior – Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Dr. Fabrício Menezes Ramos – Instituto Federal do Pará Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Takeshy Tachizawa – Faculdade de Campo Limpo Paulista Conselho Técnico Científico Prof. Msc. Abrãao Carvalho Nogueira – Universidade Federal do Espírito Santo Prof. Dr. Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos – Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Paraíba Prof. Msc. André Flávio Gonçalves Silva – Universidade Federal do Maranhão Prof.ª Drª Andreza Lopes – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Acadêmico Prof. Msc. Carlos Antônio dos Santos – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Msc. Daniel da Silva Miranda – Universidade Federal do Pará Prof. Msc. Eliel Constantino da Silva – Universidade Estadual Paulista Prof.ª Msc. Jaqueline Oliveira Rezende – Universidade Federal de Uberlândia Prof. Msc. Leonardo Tullio – Universidade Estadual de Ponta Grossa Prof.ª Msc. Renata Luciane Polsaque Young Blood – UniSecal Prof. Dr. Welleson Feitosa Gazel – Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) F723 A formação docente nas dimensões ética, estética e política 2 [recurso eletrônico] / Organizadora Gabriella Rossetti Ferreira. – Ponta Grossa, PR: Atena Editora, 2019. – (A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política; v. 2) Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui bibliografia ISBN 978-85-7247-569-3 DOI 10.22533/at.ed.693190209 1. Educação – Pesquisa – Brasil. 2. Ética. 3. Professores – Formação – Brasil. I. Ferreira, Gabriella Rossetti. II. Série. CDD 370.71 Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422 Atena Editora Ponta Grossa – Paraná - Brasil www.atenaeditora.com.br contato@atenaeditora.com.br APRESENTAÇÃO A obra “A formação Docente nas Dimensões Éticas, Estética e Política 1” traz diversos estudos que se completam na tarefa de contribuir, de forma profícua, para o leque de temas que envolvem o campo das ciência humanas. Atualmente, o modelo de desenvolvimento econômico, o processo de globalização, os avanços tecnológicos, que geram rápidas e constantes mudanças em todos os setores da sociedade, têm exigido das instituições, principalmente da escola, maior eficácia, produtividade, qualidade e competitividade, suscitando a necessidade de profissionais competentes e atualizados, capazes de assumir os diferentes papéis no mercado de trabalho e no contexto em que vivem. Os saberes adquiridos nas formações iniciais já não oferecem suporte para exercer a profissão com a devida qualidade, como acontecia até pouco tempo, conforme alude Lévy (2010, p.157): “pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início do seu percurso profissional, estarão obsoletas no fim da sua carreira”. Na atividade docente torna-se ainda mais premente que ocorra a formação continuada, pois o ofício de professor não é imutável, suas mudanças incidem principalmente pelo surgimento e a necessidade de atender as “novas competências”. Este ofício vem se transformando, exigindo: prática reflexiva, profissionalização, trabalho em equipe e por projetos, autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias diferenciadas, sensibilidade à relação com o saber e com a lei. Tudo isso leva a um repensar da prática e das competências necessárias para o desempenho do papel de educador. A educação é uma atividade que se expressa de formas distintas, envolvendo processos que tem consequências nos alunos, possui métodos que precisam ser compreendidos; envolve o que se pretende, o que se transmite, os efeitos obtidos, agentes e elementos que determinam a atividade e o conteúdo (forças sociais, instituição escolar, ambiente e clima pedagógico, professores, materiais e outros) (SACRISTÁN, 2007). Conforme Imbernón (2001) a formação continuada, entendida como fomento do desenvolvimento pessoal, profissional e institucional dos professores, eleva o trabalho para que ocorra a transformação de uma prática. Tal prática está para além das atualizações científicas, didáticas ou pedagógicas do trabalho docente. A formação continuada supõe uma prática cujo alicerce é balizado na teoria e na reflexão paraa mudança e a transformação no contexto escolar. Dessa forma, os professores passam a ser protagonistas de sua história, do seu fazer pedagógico, e de uma prática mobilizadora de reflexão sobre tudo o que vêm realizando (Nóvoa 1999; Schon 1997). O conceito de educação é inseparável do ente subjetivo que lhe dão atributos diferenciados. A educação é algo plural que não se dá de uma única forma, nem provém de um único modelo; ela não acontece apenas na escola, e às vezes a escola em sempre é o melhor lugar para que ela ocorra. A escola deve estar pronta para atender a diversidade cultural, conduzindo a aceitação e o respeito pelo outro e pela diferença, pois se valoriza a ideia de que existem maneiras diversas de se ensinar e consequentemente diferentes formas de organização na escola, onde seja levado em consideração a complexidade da criação de um currículo que atenda o desafio de incorporar extensivamente o conhecimento acumulado pela herança cultural sem perder a densidade do processo de construção do conhecimento em cada indivíduo singular. A escolaridade faz parte da realidade social e é uma dimensão essencial para caracterizar o passado, o presente e o futuro das sociedades, dos povos, dos países, das culturas e dos indivíduos. É assim que a escolarização se constitui em um projeto humanizador que reflete a perspectiva do progresso dos seres humanos e da sociedade. Em uma escola democrática não há barreiras educacionais, eliminam-se a formação de grupos com base na capacidade dos alunos, provas preconceituosas e outras iniciativas que tantas vezes impedem o acesso e permanências de todos na escola, proporcionando um ensino de qualidade para todos, sem exclusão. Gabriella Rossetti Ferreira SUMÁRIO SUMÁRIO CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1 ESTADO, POLITICA PÚBLICA E EDUCAÇÃO DO CAMPO: ALGUNS DESAFIOS Marilene Santos Tereza Simone Santos de Carvalho DOI 10.22533/at.ed.6931902091 CAPÍTULO 2 .............................................................................................................. 12 EXERGAMES DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Keyne Ribeiro Gomes Daniel Bramo Nascimento de Carvalho Marília Gabriele Melo dos Santos DOI 10.22533/at.ed.6931902092 CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 28 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PREFEITURA DE ARACAJU: REFLEXÃO-AÇÃO DAS TDIC NA EDUCAÇÃO José Fonseca da Silva Sheilla Silva da Conceição Henrique Nou Schneider DOI 10.22533/at.ed.6931902093 CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 40 INCLUSÃO OU SEGREGAÇÃO? UM ESTUDO DE CASO SOBRE A “INCLUSÃO” Taiana do Vale Figueiredo da Conceição Kátia Regina Lopes Costa DOI 10.22533/at.ed.6931902094 CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 50 INTUIR, LER, ESCREVER, EXPERIMENTAR E FOTOGRAFAR: ATUALIZAÇÕES DIDÁTICAS COM FOTOGRAFIAS Adeilton Santana Nogueira Éverton Gonçalves de Ávila Daniel Bramo Nascimento de Carvalho DOI 10.22533/at.ed.6931902095 CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 62 O CANTINHO DE LEITURA EM UMA SALA DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL Suely Cristina Silva Souza Adeilma Oliveira da Silva José Valdicélio Alves da Silva DOI 10.22533/at.ed.6931902096 CAPÍTULO 7 .............................................................................................................. 76 O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA NOÇÃO DE HABITUS EM BOURDIEU E AS RELAÇÕES INTERSUBJETIVAS EM MERLEAU-PONTY Markus de Lima Silva Luiz Anselmo Menezes Santos DOI 10.22533/at.ed.6931902097 SUMÁRIO CAPÍTULO 8 .............................................................................................................. 87 O MUNDO DO TRABALHO E A PROFISSÃO DOCENTE NA NOVA (DES)ORDEM MUNDIAL Isabel Cavalcante Ferreira Ivanete Rodrigues dos Santos DOI 10.22533/at.ed.6931902098 CAPÍTULO 9 ............................................................................................................ 115 O PAPEL DA PESQUISA NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO Nágila Waldvogel Gringo da Silva Silvana Oliveira da Silva Isaura Francisco de Oliveira DOI 10.22533/at.ed.6931902099 CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 128 O WHATSAPP NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA Mariana Morais Azevedo Adriana Alves Novais de Souza Leticia Maciel dos Reis DOI 10.22533/at.ed.69319020910 CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 140 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA A ATUALIDADE: TECENDO RELAÇÕES, TRAJETÓRIAS E DESAFIOS ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA Stella Alves Rocha da Silva Jane Rangel Alves Barbosa DOI 10.22533/at.ed.69319020911 CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 150 ORIENTAÇÃO SEXUAL E DIVERSIDADE DE GÊNERO NO ENSINO BÁSICO Wylamys Santos de Lima Mariana Santos Lima Márcia Eliane Silva Carvalho DOI 10.22533/at.ed.69319020912 CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 159 ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS PARA PRÁTICA DE NATAÇÃO ESCOLAR: UMA REVISÃO NARRATIVA Fábio Brum Francisco de Assis Andrade Diego da Costa dos Santos Diogo Dias de Paula Muniz DOI 10.22533/at.ed.69319020913 CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 175 PANORAMA DE TESES E DISSERTAÇÕES ACERCA DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS José Elyton Batista dos Santos Bruno Meneses Rodrigues Manoel Messias Santos Alves André Ricardo Lucas Vieira DOI 10.22533/at.ed.69319020914 SUMÁRIO CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 187 PROFESSORES ARTICULADORES TECNOLÓGICOS: MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE ARACAJU SE Sheilla Silva da Conceição Henrique Nou Schneider Adriana Santos de Jesus Meneses DOI 10.22533/at.ed.69319020915 CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 203 RELAÇÕES DE GÊNERO NA GESTÃO ESCOLAR A DICOTOMIA ENTRE MULHERES E HOMENS NO CARGO DE DIRETORA/DIRETOR ESCOLAR Alane Martins Mendes Pedro Paulo Souza Rios André Ricardo Lucas Vieira DOI 10.22533/at.ed.69319020916 CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 215 RESSIGNIFICAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS EXIGÊNCIAS DE FORMAÇÃO PARA O TRABALHO DOCENTE Márcia Alves de Carvalho Machado Alice Virgínia Brito de Oliveira DOI 10.22533/at.ed.69319020917 CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 227 SER PROFESSOR/A: A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO ENSINO DE CIÊNCIAS, ARACAJU/SE Elaine Fernanda dos Santos Mayane Santos Vieira Sindiany Suelen Caduda dos Santos DOI 10.22533/at.ed.69319020918 CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 239 SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS CORROBORADA COM UNIDADE DE ENSINO POTENCIALMENTE SIGNIFICATIVA PARA O ENSINO DE ÓPTICA GEOMÉTRICA Rosiel Camilo Sena Júlio Ferreira Falcão Igor Bartolomeu Alves de Barros Paulo Sérgio Carlos Arruda Sergio Augusto Nunes Monterio Jose Augusto Figueira da Silva Pablo Marques da Silva Maria Rosângela Marinho Souza Fabiann Matthaus Dantas Barbosa Edmilson Ferreira de Lima Jones Montenegro da Silva SandrezzaLima Coelho DOI 10.22533/at.ed.69319020919 CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 246 TOBIAS BARRETO E A ALMA DA MULHER: PRÁTICAS E REFLEXÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO FEMININA NO SÉCULO XIX Juselice Alves Araujo Alencar Rozevania Valadares de Meneses César DOI 10.22533/at.ed.69319020920 SUMÁRIO CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 255 TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: NARRATIVAS DE PROFESSORES E ESTUDANTES Judith Mara de Souza Almeida Fernanda Ambrósio Testa Carolina Beiro da Silveira DOI 10.22533/at.ed.69319020921 CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 266 VER NO MUNDO DOS CEGOS E SER CEGO NO MUNDO DOS QUE VEEM Maria de Fátima Vilhena da Silva Ítalo Rafael Tavares da Silva DOI 10.22533/at.ed.69319020922 CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 279 EDUCAÇÕES PARA A CIDADANIA: CAMINHO PARA UMA CULTURA DE PAZ Maria Kéllia de Araújo Mariluze Riani Diniz dos Santos Themis Gomes Fernandes DOI 10.22533/at.ed.69319020923 SOBRE A ORGANIZADORA ................................................................................... 289 ÍNDICE REMISSIVO ................................................................................................ 290 A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 1 CAPÍTULO 1 ESTADO, POLITICA PÚBLICA E EDUCAÇÃO DO CAMPO: ALGUNS DESAFIOS Marilene Santos Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe, Itabaiana – Sergipe. Membro do Grupo de Pesquisa educação e movimentos sociais. E-mail: mari.santos@uol. com.br Tereza Simone Santos de Carvalho Professora do Departamento de Letras Libra da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão - Sergipe. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Educação, História e Sociedade. E-mail: tssbibr@ gmail.com RESUMO: A negação de políticas públicas para as populações do campo é histórica e está associada a um quadro de exclusão amplo não restrito apenas à educação. A sociedade brasileira tem fortalecido uma concepção de campo como espaço de atraso, de falta de conhecimento. Entretanto, o campo se constitui como um lugar de luta social, “vida, trabalho, cultura e resistência, em cujo seio organizações civis engajadas em projetos de desenvolvimento rural com justiça social desenvolvem propostas pedagógicas inovadoras”. Nesse sentido, o presente trabalho visa refletir sobre a Educação do Campo no contexto das políticas públicas a ela voltadas, destacando o papel do Estado como principal responsável na garantia do direito a educação. PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo; Estado; Políticas Públicas. ABSTRACT: The denial of public policies for the rural population is historical and is associated with a framework of broad exclusion not restricted only to education. Brazilian society has strengthened a conception of rural as a space of delay, lack of knowledge. However, rural space constitutes a place of social struggle, “life, work, culture and resistance, within which civil organizations engaged in rural development projects with social justice develop innovative pedagogical proposals.” In this sense, the present work aims to reflect on rural education in the context of the public policies addressed to it, highlighting the role of the State as the main responsible in guaranteeing the right to education. KEYWORDS: Rural Education; State; Public policy. INTRODUÇÃO O sistema escolar brasileiro sempre foi marcado pela seletividade e exclusão de parcela significativa da população. Esse aspecto tem sido uma marca não só para aquelas pessoas que possuem algum tipo de deficiência, mas, também, para as que pertencem às camadas da população mailto:mari.santos@uol.com.br mailto:mari.santos@uol.com.br mailto:tssbibr@gmail.com mailto:tssbibr@gmail.com A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 2 desprivilegiadas economicamente. Essa assertiva pode ser confirmada quando analisamos os índices de analfabetismo divulgados pelo IBGE através do Censo Escolar, Censo Demográfico e das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (PNAD). De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE), a taxa de analfabetismo no Brasil alcançava um percentual de 16%, correspondendo a 24 milhões de pessoas, aproximadamente, que afirmam não ter condições de escrever um bilhete ou anotar um recado. Na zona rural, os índices de analfabetismo são mais elevados que os da zona urbana. Segundo o Censo Demográfico, 29,8% da população adulta analfabeta estava na zona rural, enquanto que, na zona urbana, essa taxa era de 10,3%. O Censo de 2010, revela que houve uma queda no índice de analfabetismo mas o percentual de 9% da população brasileira com 10 anos ou mais de idade que não são alfabetizadas, ainda representa um índice considerável. Dados da PNAD/2012 mostram que no Brasil há 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais (8,3% da população do país). De acordo com Andrade e Di Pierro (2004) o analfabetismo adulto atinge três em cada 10 jovens ou adulto da zona rural sendo justificativa para tal situação fatores básicos como falta de transporte escolar e ausência de escolas nas comunidades rurais. As autoras ressaltam que, embora já se tenham passado mais de três décadas de vigência da lei que ampliou a duração do Ensino Fundamental para oito anos, a típica escola rural brasileira é ainda aquela instalação precária e improvisada, isolada e de difícil acesso, mantida pelo governo municipal, que oferece apenas o primeiro segmento do Ensino Fundamental em classes multisseriadas unidocentes, regidas por professoras mal remunerados e pouco qualificadas, cuja prática pedagógica é orientada por referencias curriculares, de tempo e espaço de aprendizagem descolados do contexto e da cultura do campo (ibidem, p. 19-20). Em se tratando do aumento dos anos no Ensino Fundamental para nove anos, os problemas apenas se avolumam em relação às condições da educação. Os alunos do campo são os que apresentam maior déficit de defasagem idade/série, que ingressam mais tarde e saem mais cedo do processo educativo. Sabemos da importância de adequação de calendários, currículos e metodologias aos contextos cíclicos e culturais nos quais se dá o processo educativo como garantia de sucesso dos estudantes. A legislação vigente (LDB-1996, as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo – 2002), determina que tais condições sejam garantidas aos estudantes do campo, entretanto, ainda concordando com Andrade e Di Pierro (2004. p.20-21), a existência de um marco jurídico adequado não foi suficiente para impulsionar políticas públicas especificas. Oscilando entre o descaso e o desconhecimento da problemática, as políticas educacionais não têm enfrentado a questão da diversidade sociocultural das populações do campo, onde convivem identidades plurais (...) restringindo-se a fazer face aos problemas do acesso e isolamento, a política educacional para a zona rural, quando existe, consiste na nucleação de unidades escolares e na provisão de transporte para escolas urbanas, onde A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 3 as crianças do campo não se identificam com as bases culturais dos currículos e, com frequência, são vitimas de discriminação, vivendo dolorosas experiências de fracasso e exclusão que corroem sua autoconfiança na capacidade de aprendizagem. Nessa perspectiva, constata-se que as políticas voltadas para o campo, especificamente para a educação do campo, não vêm atendendo aos interesses de seus destinatários e nem cumprindo a com a sua função social de formar o cidadão e sua função educativa de socializar o conhecimentocientífico acumulado pela humanidade. Nesse sentido, o presente trabalho visa refletir sobre a Educação do Campo no contexto das políticas públicas a ela voltadas, destacando o papel do Estado como principal responsável na garantia do direito a educação. DESENVOLVIMENTO A negação de políticas públicas para as populações do campo é histórica e está associada a um quadro de exclusão amplo não restrito apenas à educação. A sociedade brasileira tem fortalecido uma concepção de campo como espaço de atraso, de falta de conhecimento. Entretanto, o campo se constitui como um lugar de luta social, “vida, trabalho, cultura e resistência, em cujo seio, organizações civis engajadas em projetos de desenvolvimento rural com justiça social, desenvolvem propostas pedagógicas inovadoras” (ANDRADE E DI PIERRO, 2004 p. 21). As políticas públicas de educação presentes nas escolas da zona rural na segunda metade da década de 1990, não demonstravam preocupação com a reorganização nem com a especificidade do campo brasileiro, que garantisse o direito a uma educação que possibilitasse o resgate da identidade dos sujeitos do campo e para uma nova forma de organização e intervenção social. Mesmo ganhando destaque na legislação educacional, a educação da zona rural, na prática, não se efetivava na relação escola e campo. A escola não estava articulada à vida camponesa; estava no campo, mas com as fortes marcas do urbano. Não havia, ao menos aparentemente, nada que pudesse ser identificado como marcas de uma educação planejada e organizada para as especificidades daquele meio rural. É sabido, também, que nas últimas décadas os movimentos sociais e organizações não governamentais do campo vêm desenvolvendo projetos sociais em locais onde não se vislumbra ações do poder público, entre eles os de iniciativas educacionais a exemplo de: ANARA, CARITAS BRASILEIRA, CEFFA’s, CONTAG, FETRAF, CUT, MAB, MST, MEB, RESAB, AMPLA, ASCOPAN. A propagação dessas iniciativas educacionais vai se configurando como um espaço de demonstração de diferentes concepções educativas e de propostas pedagógicas, assim como de produção teórica sobre a Educação do Campo. Estas organizações têm apresentado avaliações positivas nos processos de escolarização que realizam, além de apresentarem propostas pedagógicas e organizações A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 4 curriculares coerentes e adequadas aos tempos e espaços da vida cotidiana das pessoas do campo. Há ainda um intenso envolvimento destas organizações e movimentos com a formação docente continuada e de monitores responsáveis pela condução das propostas pedagógicas, o que se diferencia, significativamente, dos processos formativos convencionais. A escola pública deve ser o espaço privilegiado da luta pela democratização do conhecimento, a esfera da sua socialização e produção. Mas não é o único. É preciso reconhecer e compreender as práticas educacionais que os próprios movimentos sociais desenvolvem de forma autogestionária. As escolas dos sindicatos e a importante experiência pedagógica do Movimento Sem Terra são excelentes exemplos de práticas alternativas e, também, da necessidade de ampliar o horizonte da nossa concepção acerca da educação pública para além da escola convencional. A década de 1990, principalmente a partir de 1995, protagonizou o surgimento de um conjunto de propostas educacionais implementadas no meio rural, paralelamente à reorganização da política educacional brasileira. Programas e projetos voltados para a ação pedagógica ou para formação docente foram se constituindo como alternativa à educação no meio rural, a exemplo da Escola Ativa, Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, PROFORMAÇÃO, entre outros. O estado de Sergipe tem uma trajetória de luta por terra e por educação há muitas décadas. No entanto, é a partir de 1995 que se intensifica esta luta no campo, porque há um movimento de ocupação de terra pelos movimentos sociais e sindicais, articulado a um movimento nacional pela reforma agrária. Nas duas últimas décadas do século passado, os movimentos sociais do campo em Sergipe começaram a exigir, tanto dos municípios e do Estado, quanto das universidades, a inclusão dos trabalhadores(as) nos processos formais de educação. Essa demanda se deu pela quantidade de assentamentos criados e pela redefinição dos territórios no estado, os quais produziram uma série de ações que vêm alterando a definição das políticas públicas em educação, bem como a concepção sobre o ato de construção participativa dessas políticas. Desde então, as universidades públicas federias, a exemplo da Universidade Federal de Sergipe (UFS), vêm desenvolvendo ações visando o fortalecimento dessa política seja na execução de cursos de alfabetização de Jovens e Adultos (UFS/1995- 2000); na formação de professores (UFS/2000-2008), no desenvolvimento de pesquisas; na participação em Comissão e comitês Nacionais e Estadual; no desenvolvimento de convênios nacionalmente e internacionalmente dentre outras Entre os anos de 2003 e 2005, o Grupo de Pesquisa Educação e Movimentos Sociais/UFS desenvolveu uma pesquisa cujo objetivo foi o de analisar em que medida os projetos desenvolvidos entre os anos de 1995 a 2002, por universidades, movimentos sociais e sindicais, governo federal em áreas de reforma agrária, contribuíram para uma definição ou reorganização de algumas políticas públicas de educação no estado de Sergipe. As políticas de educação que vinham ocorrendo no A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 5 campo, até então, sinalizavam cada vez mais para a confirmação da expulsão dos trabalhadores e de seus filhos, pois a maior referência nos projetos educacionais e nas suas formas de financiamento, foi sempre a cidade como o lugar ideal para onde todos deveriam acorrer. Esse aparente contexto caótico é propicio, ou melhor, desejável ao processo de globalização, no qual se espera que o Estado deva ir paulatinamente reduzindo sua intervenção na economia e transferindo responsabilidades para a sociedade civil. Na globalização, que implementa o neoliberalismo, a atividade econômica deve ser conduzida pelo mercado com “mão invisível”; é o mercado quem deve regular e distribuir a riqueza e a renda incorporando como elementos fundamentais as habilidades e competitividade individuais. Assim, promove a desregulamentação da economia pela redução do trabalho e da produção, gerando a crise do Estado que de acordo com Jesus (2004, p. 89), está na própria crise da perda de sua centralidade, na qual outras agências disputam o monopólio da violência, do direito e dos valores, que deram origem ao contrato social, em torno de um projeto hegemônico global em detrimento dos interesses da sociedade civil. Dessa forma presenciamos, com muito mais intensidade, a transferência de responsabilidade do Estado para a sociedade civil, principalmente no âmbito das políticas sociais, fator previsto na concepção de Estado que vivenciamos atualmente de acordo com Azevedo (2001, p. 9). Para ele, a função do Estado Neoliberal “é tão- somente responder pelo provimento de alguns bens essenciais a exemplo da educação, da defesa e da aplicação das leis”. A compreensão da livre competição está presente também quando a questão diz respeito às políticas sociais. Os direitos conquistados pelos trabalhadores, as formas de proteção aos excluídos do mercado de trabalho são considerados pelos neoliberais fatores adversos ao livre mercado na concepção neoliberal. Entendem que a intervenção do Estado provoca aos beneficiários certa letargia, uma acomodação e dependência aos subsídios públicos estimulando-os à indolência e permissividade social. Quando a questão em discussão diz respeito às políticas educacionais, ao menos aparentemente – no discurso neoliberal, é colocada como uma das funções que permanece sob a responsabilidade do Estado. Mesmo que narealidade, toda orientação e encaminhamento da política educacional demonstre que a auto regulação da economia está presente também na educação. Na educação faz-se presente o desencanto. Os que defendem a escola pública afirmam com ênfase que a redução dos gastos nas políticas sociais, especificamente a educação, funcionam como ameaça à conquista de uma qualidade social na educação. Assim, “os pobres têm que conformar-se com escolas pobres, enquanto os ricos mantêm o privilegio de escolas ricas, simplesmente pelo fato de poderem pagá- las” (Gentili, 2002, p. 17). A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 6 Para os reformistas o problema dos sistemas escolares está no péssimo serviço prestado pelos docentes. Defendem que haja mais austeridade e controle da ação docente como forma de modernizar o Estado. Situação que na prática tem se restringido a cortes orçamentários nas políticas sociais. Na ultima década a América Latina tem convivido com um volume considerável de reformas no campo educacional. Mudaram os currículos, a formação docente, a avaliação, a organização da escola, entre outros, mas tais reformas não têm refletido em aumento dos níveis de qualidade da educação. Contraditoriamente a isso, tem produzido um efeito de desistência nos professores. De acordo com Gentili, Investigações recentes demonstram que a piora progressiva das condições de trabalho docente tem criado um novo tipo de síndrome que afeta os trabalhadores e as trabalhadoras da educação: o Burnout, também conhecido como síndrome da desistência. Diante das dificuldades cotidianas que devem enfrentar na escola, os docentes vão sendo encurralados entre o que desejam e o que realmente podem fazer, entre a vitória e a frustração, entre as possibilidades e os obstáculos. Nestas condições o sentido do trabalho educacional vai se perdendo, o desencanto vai apoderando-se da ação e o ceticismo, oculto atrás de um suposto realismo, leva muitos a reconhecer que qualquer esforço para mudar é inútil.(2002, P.19). É nesse contexto de desencanto que surgem um conjunto de perguntas todas na tentativa de obter como resposta que o poder hegemônico não terá a ultima palavra, que poderes não hegemônicos continuarão a exercer formas de resistências geradoras de novas possibilidades tanto nas relações de poder como no exercício do mesmo. Ao problematizar a relação entre as políticas públicas e o papel do estado, Azevedo (2001) inicia uma discussão sobre o papel do estado e entende que os interesses conflitantes entre os capitais os impedem de reproduzir as condições sociais de reprodução, fato que conduz o Estado a intervir objetivando a preservação dos interesses globais no processo de acumulação do capital. Essa relação é extremamente conflituosa, pois o Estado também enfrenta as resistências e as demandas sociais para desenvolver políticas efetivas que garantam a qualidade de vida da população e não apenas, políticas compensatórias que auto regulam os destinos dos indivíduos por meio da concorrência de mercado. Janete Azevedo desenvolve uma análise que em muito colabora sobre os fundamentos mais recorrentes quando se pretende analisar políticas públicas de educação. Ela faz uma reflexão crítica sobre a teoria liberal moderna da cidadania e a abordagem marxista. Na teoria liberal moderna, o que predomina é o não questionamento sobre a responsabilidade governamental. No entanto, observa-se que o Estado assume a posição de organizar a educação por meio dos sistemas jurídico, financeiro e avaliativo de parte da educação, pois repassa para o setor privado a maior parcela de responsabilidade no desenvolvimento da educação. O discurso da liberdade de opção, de construção de cidadania é regulado pelo mercado. Nos anos iniciais da A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 7 educação básica é comum observamos política de governo que utilizam de recursos privados para escolarizar as crianças, a exemplo dos programas “Se Liga”, “Acelera”, estruturados pela fundação Ayrton Sena, cujos recursos púbicos são destinados à compra dos materiais didáticos. Pesquisa realizada em Sergipe (JESUS e TORRES, 2008) mostra os problemas causados pelo uso de tais Programas com recursos públicos a saber: o uso dos programas ALFA e BETO, SE LIGA e o ACELERA não levavam em conta os estudos da linguística e da sociolinguística; não garantia o domínio efetivo da língua padrão em suas modalidades oral e escrita; além de desqualificar e destituir os saberes e o papel de organizar e construir conhecimentos, metodologias e práticas pelo professor. Para Azevedo (2001), a tendência marxista inspirada no estruturalismo é referência por relativizar o papel do Estado na defesa incondicional dos interesses das classes dominantes. Poulantzas (1977, p. 185) é enfático ao afirmar que: “o Estado é o centro do poder político das classes dominantes na medida em que é fator de organização da sua luta política, ou seja, para que o capitalismo continue hegemônico, é imprescindível que as contradições que o alimentam sejam ocultadas, tarefa que apenas o Estado agrega condições para conseguir, visto que, mantém sob seu controle tanto os aparelhos de coerção (a polícia, a justiça) como os de convencimento (escola, igreja). Acompanhando Poulantzas, Silva(2002) nos chama a atenção para a dinâmica adotada pela sociedade capitalista afirmando que a mesma gira em torno da dominação de classe, dominação de quem detém o controle da propriedade dos recursos materiais sobre os que possuem apenas a força de trabalho. Tal forma de organização da sociedade capitalista influencia também outras esferas sociais como a educação e a cultura. Focando suas análises nas políticas sociais Azevedo (2001) apresenta a contribuição de Claus Offe (1984), a partir de uma indagação básica feita por ele: “como é possível garantir-se que o Estado esteja a serviço de dominação de classe?” (2001, p. 47). Claus Offe apresenta a tese dos “mecanismos de seletividade”: A primeira é a seleção negativa, a mais importante para aquela comprovação, pela qual se exclui deliberadamente da ação estatal os interesses anticapitalistas. A segunda é a seleção positiva, que atua para que sejam atendidos aqueles interesses que vão beneficiar o capital em seu conjunto, em detrimento de políticas que favoreçam grupos específicos de capitalistas. A terceira relaciona-se com a necessidade contraditória que tem o Estado de ao mesmo tempo, praticar e tornar invisível o seu caráter de classe.(Ibidem, p.47) Os mecanismos apresentados por Offe, podem ser identificados na estrutura do sistema político, na ideologia, na cultura, em procedimentos específicos à tomada de decisão como também na atuação dos aparelhos repressivos. Azevedo (2001) discute que a partir das contribuições de Offe, podemos compreender o lugar que o Estado atribui a burocracia. Entende-a como um aspecto de ‘filtragem das políticas públicas’. A burocracia impulsiona a efetivação das políticas A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 8 públicas como condição, inclusive, para sua sobrevivência. Completando sua análise, Azevedo (2001) traz as contribuições da Muller (1985) sobre o Estado e as políticas públicas que nos ajuda a enxergar, inclusive, as relações de embate entre Estado e movimentos sociais nas definições das políticas públicas. Ele desenvolve uma concepção de políticas públicas por meio de uma concepção ‘ampliada’ do Estado semelhante à concebida por “Gramsci: como instância superestrutural que engloba a sociedade política – lócus da dominação pela força e pelo consentimento – e a sociedade civil – o lugar desta dominação pelo consentimento” (p. 59). Para definição de determinada política pública, especificamente, a educacional, a partir desta concepção, são considerados os aspectos de sua articulação com planejamento global que a sociedade constrói como seu projeto, mas quese realiza por meio do Estado. As políticas implementadas pelo Estado tem visibilidade, como políticas públicas quando a sociedade a entende como “o Estado em ação” (ibidem, p. 60). A construção de um projeto de sociedade ocorre com participação dos grupos sociais que, como diz Azevedo (ibidem, p. 60), “tem poder de voz e de decisão e que, por isto, fazem chegar seus interesses até ao Estado e à máquina governamental, influenciando na formulação e implementação das políticas ou dos programas de ação”. Tal observação pode ser verificada quando analisamos a relação dos movimentos sociais do campo com o Estado. O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA pode ser um bom exemplo para compreender essa relação, na medida em que o mesmo é resultado de forte mobilização social que levou o governo a instituir o programa como política de educação para o campo. As políticas públicas são sempre resultado de muita pressão social. Os grupos organizados em defesa de objetivos comuns vão agregando força e poder em torno da questão problemática social e passa a pressionar o Estado através dos governos para que seja motivo de atenção e ação política do mesmo. A força política que agregar será definidora do sucesso ou fracasso naquele momento da implementação de determinada política ou programa. No caso especifico da educação do campo, que atualmente já está reconhecida como um campo educacional especifico, nem sempre foi assim, é recente essa conceituação de educação do campo como tem sido significada pelos movimentos sociais e incorporada nos documentos oficiais da política educacional nacional. Azevedo nos ajuda nesse sentido quando afirma sobre esta questão que: Deve-se considerar que os grupos que atuam e integram cada setor, vão lutar para que suas demandas sejam atendidas e inscritas na agenda dos governos. E estas lutas serão mais ou menos vitoriosas, de acordo com o poder de pressão daqueles que dominam o setor em cada momento.... a influência dos diversos setores, e dos grupos que predominam em cada setor, vai depender do grau de organização e articulação destes grupos com ele envolvidos. Este é um elemento chave para que se compreenda o padrão que assume uma determinada política A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 9 e, portanto, porque é escolhida uma determinada solução e não outra, para a questão que estava sendo alvo de problematização (ibidem, p. 62 -63) Analisar uma política pública a partir destas considerações torna-se central considerar o referencial normativo das políticas públicas. Isto implica compreender que os processos que definem a construção e reconstrução do referencial normativo de uma política setorial congrega “um conjunto de elementos que se articulam às especificidades da realidade social em que tem curso” (ibidem, p. 67) e continua, A estruturação destes elementos, neste contexto, baseia-se nas representações sociais que predominam nesta realidade, integrando o seu universo cultural e simbólico e, portanto, o sistema de significações que lhe é próprio. Tais representações fornecem os valores, normas e símbolos que regem as relações sociais, fazendo-se presentes nas práticas cotidianas dos indivíduos e dos grupos e, por conseguinte, no sistema de dominação peculiar àquela realidade. O enfoque apresentado até então, possibilita fazer uso de novas dimensões investigativas, sugere o uso ainda de ferramentas que consideram o papel das subjetividades e dos sistemas valorativos das ações e das relações sociais. As condições de funcionamento e a formação dos professores eram também mais precárias que as da zona urbana. As escolas rurais apresentavam características físicas muito diferenciadas em termos de recursos disponíveis. Considerando o número de salas de aula como um indicador do tamanho da escola, nas escolas urbanas 75% daquelas que ofereciam o ensino fundamental tinham mais de cinco salas de aula. Para as escolas localizadas na zona rural, o perfil era diferente; 94% destas tinham menos do que cinco salas de aula. Se tomássemos como referência a formação dos professores do ensino fundamental da zona rural, observaríamos que apenas 9% apresentavam formação superior, enquanto que, na zona urbana, esse contingente representava 38% dos docentes (MEC/INEP, 2004). A Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PNERA, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA/ PRONERA (2004) mostra um retrato da educação nos assentamentos de Reforma Agrária de todo o país. A pesquisa identificou que a educação é considerada de grande importância para a comunidade, mas ainda está sendo oferecida em condições bastante precárias. A maioria das escolas tem apenas uma sala de aula, foram construídas com materiais inadequados e possui instalações muito ruins. A melhoria das instalações físicas lidera a pesquisa como uma das necessidades prioritárias com 46%. Em seguida vem a necessidade de ampliação ou criação de novos níveis e modalidades de ensino, de maneira a atender à demanda local com 18% das respostas. Mais de uma década depois algumas perguntas são legítimas em relação à visibilidade ou invisibilidade das escolas do Campo: Que efeitos podem ser observados nas escolas do campo resultado das políticas implementadas nos últimos dez anos? As políticas públicas implementadas têm contribuído para um fortalecimento da A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 10 escola do campo? Tem garantido a construção e potenciação da identidade dos povos do campo? Que avanços podem ser constatados? Que impactos podem ser identificados? CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda que compreendendo políticas públicas tal como entende Carvalho (2011, p. 32) como “processos – conjuntos complexos de interações realizadas por múltiplos actores em vários espaços ou arenas”, quando tal política torna-se estatal cabe ao Estado sua implementação. É o Estado quem terá de agregar condições suficientes (materiais, estruturais, financeiras, humanas) para o desenvolvimento de determinada política. Nem sempre as condições que tem o Estado para o desenvolvimento das políticas públicas garante que seja como foi objetivada quando de sua elaboração. No caso da educação do campo, uma política pública que conquista sua implementação estatal através de pressão da sociedade organizada sobre o Estado, é previsível uma implementação mais demorada e/ou com muitas de suas características propostas inicialmente mais apagadas ou desconsideradas. Entretanto, o que tem acontecido com a implementação da educação do campo é mais grave. É constituída de projetos pontuais e descontínuos. As políticas públicas educacionais precisam ser universalizantes, garantindo as especificidades culturais, de raça/etnia, gênero, entre outros. Não é suficiente que o Estado garanta direitos universais formais, pois a tendência das desigualdades já existentes deve acirrar-se ainda mais. No que diz respeito à Educação do Campo, por exemplo, o Estado não pode alegar que cumpre o direito constitucional à Educação, principalmente se considerar a universalização deste direito, pois os dados mostram que não há escola suficiente para todos que vivem e trabalham no campo. Mostram ainda que a maioria das escolas existentes tem dificuldade em pensar, organizar e implementar os princípios e os pressupostos da educação do Campo. No caso de Sergipe, a Educação do campo como política estatal, encontra-se ainda em processo de gestação. Conta com uma base legal ainda desconhecida pela maioria dos gestores educacionais e com a implementação de alguns programas específicos para a educação dos (as) camponeses (as), a exemplo do PRONERA, PROJOVEM Campo-Saberes da Terra, Escola Ativa e PROCAMPO. REFERÊNCIAS ANDRADE, Márcia Regina & DI PIERRO, Maria Clara. A Construção de uma Políticade Educação na Reforma Agrária. IN: ANDRADE, Márcia Regina & OUTROS(Org.) A Educação na Reforma Agrária em Perspectiva: uma avaliação do programa nacional de educação na reforma agrária. Ação Educativa, Brasília, DF, 2004. p.19 – 35. A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 1 11 AZEVEDO, Janete M. Lins de. A Educação como Política Pública. 2 ed. Autores Associados, Campinas, SP 2001. CARVALHO, Luís Miguel (Coord.). O Espelho do Perito: inquéritos internacionais, conhecimento e política em educação – o caso do PISA. Vila Nova de Gaia, PT: Fundação Manoel Leão, 2011. GENTILI, Pablo & ALENCAR, Chico. Educar na Esperança em Tempos de Desencanto.2 ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 2002. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Censo Demográfico 2010. 190 p. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopse estatística da Pesquisa Nacional da Educação na Reforma Agrária : PNERA 2004– Brasília JESUS, SONIA Meire S. Azevedo de. O Pronera e a Construção de Novas Relações entre Estado e Sociedade. IN: ANDRADE, Márcia Regina & OUTROS(Org.) A Educação na Reforma Agrária em Perspectiva: uma avaliação do programa nacional de educação na reforma agrária. Ação Educativa, Brasília, DF, 2004. p.89 – 101. _____________. TORRES, Lianna de Melo. Política Pública de Educação para as Séries Iniciais: estudo sobre os programas ALFA e BETO, SE LIGA e ACELERA nas escolas públicas da rede estadual de Sergipe. Aracaju; SINTESE, 2008 MEC. Referência para uma Política Nacional de Educação do Campo. Caderno de Subsídios. Brasília, DF, 2004. MULLER, P. Um schéma d’ analyse des politiques sectorielles. IN: Revue Française de Science Politique. Vol. 35, n. 2, 1985. OFFE, Claus. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 1984. POULANTZAS, N. Poder Político e Classes Sociais. Martins Fontes, São Paulo, 1977. SILVA, Tomaz Tadeu da.Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 154. A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 12 EXERGAMES DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR CAPÍTULO 2 Keyne Ribeiro Gomes Graduada em Licenciatura em Educação Física, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (PPGED/ UFS). Membro do Grupo de Pesquisa em Educação e Culturas Digitais (ECult/UFS/CNPq) - http://grupoecult.blogspot.com.br. E-mail: <keynerib@gmail.com>. Daniel Bramo Nascimento de Carvalho Licenciado em História; Aluno do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes, bolsista CAPES/CNPQ. Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação, Comunicação e Sociedade (GECES/CNPQ). Email: historiadobramo@gmail. com Marília Gabriele Melo dos Santos Graduada em Jornalismo e Letras Português, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-graduação- UNIT. Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação, Comunicação e Sociedade (GECES/ CNPQ). Email: mariliagmds@gmail.com. RESUMO: O presente estudo aborda a possibilidade do uso do Exergames (EXG) nas aulas práticas de Educação Física e como os docentes podem trabalhar com esse dispositivo em suas aulas. Os EXG são jogos eletrônicos que captam e virtualizam os movimentos reais dos usuários. As ações foram realizadas com os discentes da rede Estadual de ensino médio em Aracaju/SE, que estudam no Colégio Ministro Petrônio Portela, optou-se, também, por não escolher uma turma específica, pois as aulas práticas de Educação Física são com todas as turmas do Ensino Médio. Diante desse entendimento, trabalhamos com 11 alunos, de ambos os sexos cursando do 1º ao 3º ano, com idade entre 15 e 19 anos. A pesquisa está vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe – UFS. Entretanto, faz-se necessário, que a escola faça uma reflexão sobre o papel que as diferentes mídias que vem ocupando na sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física. Escola. Jogo Eletrônico. Práticas Corporais. RESUMEN: The present study addresses the possibility of using the Exergames (EXG) in practical classes of Physical Education and how teachers can work with this device in their classes. EXGs are electronic games that capture and virtualize the real movements of users. The actions were carried out with the students of the State secondary school network in Aracaju / SE, who study at the Colégio Ministro Petrônio Portela, and also chose not to choose a specific class, since the practical classes of Physical Education are with all high http://grupoecult.blogspot.com.br mailto:historiadobramo@gmail.com mailto:historiadobramo@gmail.com A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 13 school classes In view of this understanding, we worked with 11 students, both boys and girls attending the 1st to 3rd year, aged between 15 and 19 years. The research is linked to the Postgraduate Program in Education of the Federal University of Sergipe - UFS. However, it is necessary for the school to reflect on the role that the different media that it has been occupying in society. PALAVRAS-CHAVE: Educación Física. Escuela. Juego Electrónico. Prácticas Corporales. 1 | INTRODUÇÃO Jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência e de ser diferente da vida quotidiana (HUIZINGA, 2005, p.33). No contagiar das palavras de Huizinga, iniciamos mais uma incursão no universo do jogo. Neste capítulo elenco a origem, o conceito e classificação dos jogos Exergames (EXG) como um elemento da cultura que contribui para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo dos sujeitos, constituindo-se, assim, em uma atividade universal, com características singulares que permitem sempre a ressignificação de diferentes conceitos. Os jogos estão presentes na humanidade desde os tempos remotos, podendo ser encontrados em todos os lugares e em diferentes sociedades. Os povos antigos, como os da Grécia e do Oriente, brincavam de amarelinha, empinavam papagaios, jogavam pedrinhas e entre outras brincadeiras que ainda hoje são realizadas por crianças quase da mesma forma. O ato de brincar sempre esteve presente em nossa sociedade. Desde a pré história até o início do século XXI os brinquedos, jogos, Jogos eletrônicos e videogames se desenvolvem constantemente, acompanhando e envolvendo o ser humano. “O jogo lança sobre nós um feitiço: é ‘fascinante’, ‘cativante’.” (Huizinga, 1993, p.13). A brincadeira encanta as crianças e também possui um significado muito importante na vida infantil. Brincar é essencial para a criança desenvolver sua criatividade e imaginação, delimitando suas próprias ações dentro da realidade comandada pelos adultos. Segundo Benjamin, “rodeadas por um mundo de gigantes, as crianças criam para si, brincando, o pequeno mundo próprio”. (1984, p. 64) Portanto, baseando-se em aspectos reais da vida e em suas fantasias, elas buscam simular seu mundo em suas brincadeiras ou nos ambientes virtuais dos jogos. Huizinga (1993) observou três aspectos fundamentais no jogo: liberdade, regulação e separação, utilizando o conceito de que o jogo é “aquilo que você faz quando está livre para fazer o que desejar”. Toda ação sendo executada e livre de qualquer regra. A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 14 Com o passar dos anos, os jogos passaram a ser compreendidos pelo senso comum apenas como atividades de divertimento, apesar disso o ato de jogar vai além do prazer. O jogo tem duas especificidades a primeira delas é o modo voluntário: o ato de jogar é um impulso quesurge da vontade do jogador de simplesmente jogar, neste sentido não há lugar para a obrigatoriedade, nem para a coibição. A segunda especialidade, a sua particularidade, o jogo não tem a inquietação em gerar bens, somente em se compor como existência que se encerra em si mesma, independente do que possa vir a produzir em termos de contrapartidas materiais. O jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica É uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido. Todo jogo significa alguma coisa (HUIZNGA, 2005, p.3). Para esse autor supracitado, o jogo tem cinco características fundamentais e se torna um elemento da cultura. A primeira característica refere-se ao fato dele ser livre, é uma escolha dos jogadores e geralmente praticado nos momentos de ócio. A segunda faz referência ao fato de que a criança, o adolescente e o adulto quando se entregam ao jogo, estão certo de que não se trata de uma vida cotidiana, mas encaram essa atividade com muita seriedade. A terceira é a distinção entre o jogo e a vida comum, tanto pelo seu espaço ocupado, quanto por sua duração. Para o jogo, existe início e fim determinado. A quarta característica está relacionada ao fato de que o jogo cria ordem e se configura nela própria, organiza-se através de formas, equilíbrios, compensação, contraste, variação, solução, união e desunião. A quinta e última característica é definida como imprevisibilidade, que é o fato da incerteza e do acaso do jogo gerar tensão. Dessa forma, poderá implicar o surgimento de um sentido ético ao estabelecimento dos limites dentro da atividade. São as regras que conduzem o que é permitido fazer ou não. Comungamos com Huizinga (2005, p. 16) quando em um ânimo de sinopse enfatiza que o jogo pode ser elencado como: [...] uma atividade livre, consciente, tomada como ‘não séria’ e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo certa ordem e certas regras. Promove a formação de grupos sociais com tendência a rodearem-se de segredo e a sublinharem sua diferença em relação ao resto do mundo por meio de disfarces ou outros meios semelhantes. Sendo assim, como Huizinga (2005), encontramos no sociólogo francês Roger Caillois (1990), subsídios importantes para a compreensão valiosa baseada nos estudos Huizinga. Caillois (1990) amplia as ideias neste arcabouço, “[...] não esboço simplesmente uma sociologia dos jogos” (CAILLLOIS, 1990, p. 89). Para este autor, o jogo é a mobilização de um conjunto específico de disposições psicológicas, que envolvem a alegria e a descontração. Quanto a sua organização, Caillois (1990) trás seis características Fundamentais A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 15 para um jogo, a saber, Liberdade- o jogador não tem a obrigatoriedade de jogar. Assim sendo, o jogo perderia de imediato a sua natureza; Delimitada - Ocorre em espaços e tempos bem delimitados, com o consenso de todos os seus jogadores; Incerta - O desenrolar não é predeterminado, uma vez que este resultado vai depender das ações dos jogadores e estes têm a liberdade de criar; Improdutiva - Quando não surgem bens materiais, nem novos elementos de espécie alguma. O término do jogo conduz a uma situação idêntica à do inicio da partida; Regulamentada - No universo do jogo fica estabelecida as regras e normas próprias, e que devem ser naturalmente aceitas para o envolvimento do jogo; Fictícia - O jogador, enquanto joga, passa por uma situação de irrealidade em relação à vida real; Para Caillois (1990), o jogo só é praticado se consentido, ou seja, o jogo é uma atividade livre. E é uma prática incerta. A incerteza do placar deve ficar até o término do jogo, quando o resultado já não oferece dúvida, não se joga mais. Todavia, é indiscutível que o jogo deve ser definido como uma atividade livre e voluntária, fonte de alegria e divertimento. Um jogo em que fossemos forçados a participar deixaria imediatamente de ser jogo. Tornar-se-ia uma coerção, uma obrigação ou simplesmente recomendado, o jogo perderia uma das suas características fundamentais, o facto de o jogador a ele se entregar espontaneamente, de livre vontade e por exclusivo prazer, tendo a cada instante a possibilidade de optar pelo retiro, pelo silêncio, pelo recolhimento, pela solidão ociosa ou por uma atividade mais fecunda (CAILLOIS, 1990, p.26). No entendimento do autor, o jogo é uma circunstância para seus jogadores com momento de grande agitação e vantagens para aqueles que tomam a iniciativa de se entregar a ele. Portanto, o jogo é uma ocupação individual, ou seja, isolada do resto da existência, e geralmente realizada dentro de alguns limites de tempo e de lugar. Para um jogo acontecer há um espaço próprio para o acontecimento. Nesse sentindo temos os tabuleiros, a pista, a arena etc. Corroboramos com o filósofo alemão Huizinga (2005) quando ele afirma que, Como a realidade do jogo ultrapassa a esfera da vida humana, é impossível que tenha seu fundamento em qualquer elemento racional, pois nesse caso, limitar-se-ia à humanidade. A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de civilização, ou a qualquer concepção do universo. Todo ser presente é capaz de entender à primeira vista que o jogo possui uma realidade autônoma, mesmo que sua língua não possua um termo geral capaz de defini- lo. A existência do jogo é inegável. É possível negar, se quiser, quase todas as abstrações: a justiça, a beleza, a verdade, o bem, Deus. É possível negar a seriedade, mas não o jogo (HUIZINGA, 2005, p.6). Essa reflexão nos remete a pensar que o jogo tem na sua essência uma autonomia e que a sua existência é incontestável. Podemos recusar a existência de coisas abstratas, mas no jogo isso não acontece e essa realidade é perceptível. A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 16 A maneira como uma criança brinca e assimila jogos e brincadeiras, demonstra o universo como é apresentada, maneira pela qual compreende a realidade a qual está exposta, bem como sua condição de lidar com a realidade. Existem diferentes tipos de jogos, porém, o jogo que possui narrativa coloca as imagens – signos – em ação, ampliando a capacidade imaginativa do jogador por permitir que esta seja externada e compartilhada. Ao se envolver com a narrativa do jogo, o jogador deseja conhecer o fim da história da qual participa e constrói. As descobertas oportunizam a cada passo do jogo o uso das múltiplas inteligências, pois cada detalhe é importante e tudo colabora para a construção da narrativa por meio dos sentidos. Huizinga (2005) relata que o jogo habita a vida de diferentes instituições educativas formais e informais e ainda faz parte da sociabilidade humana de maneira lúdica, alegre e prazerosa. Logo, o jogo é o grande conteúdo da Educação Física; nele, toda a cultura do movimento humano pode ser absorvida; é a forma lúdica de ensinar os esportes, as danças, as lutas, as ginásticas e o próprio jogo. O jogo mobiliza multidões, transforma mentalidades e configura simbolismo que remetem ações políticas. A palavra jogo, ou jocu, deriva do latim, ludus que pode ser traduzida por gracejo, brincadeira de crianças, exercício, passatempo ou zombaria (AMORA,1998). Os significados foram mudando ao longo de sua história e a sociedade foi desenvolvendo regras e sistemas de organização a serem administradas. No transcorrer dos anos, os jogos passaram a ser compreendidos pelo senso comum apenas como atividades de divertimento, apesar disso o ato de jogar vai além do prazer. 2 | O JOGO ELETRÔNICO NO AMBIENTE ESCOLAR A presença dos jogos eletrônicos sempre foi um sinônimo de sedentarismo atéuma nova categoria de games aparecerem, os EXG, que têm como característica o movimento corporal, exigindo do jogador uma habilidade física para que ele possa terminar o jogo. A forma como a mídia se pronunciou diante dessa nova tecnologia refletiu diretamente na Educação Física. Devido a esses agravos, lançou-se no mercado uma nova classe de games, os EXG, que tiram essa característica sedentária dos jogos eletrônicos convencionais, exigindo que o jogador se movimente para alcançar os objetivos do jogo. Partindo dessa premissa, a habilidade motora para jogar EXG envolve a utilização de um conjunto de capacidades físicas; assim, cada game exige níveis diferenciados de capacidades. Desde o aparecimento da televisão, a sociedade começou a adquirir novos hábitos e formas de viver com as informações que recebem. Com o surgimento dos jogos eletrônicos esse estilo de vida ficou cada vez mais abundante, principalmente com a geração digital. Tapscott (2010) “Geração Internet” (entendida A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 17 como a geração de alunos que nasceram dentro deste cenário de efervescência tecnológica) não é conveniente ou motivador. As evoluções dos jogos eletrônicos fizeram com que os jogos tradicionais – amarelinha, cabra-cega, dança de cadeira, entre outras, não tivessem mais a preferência das crianças, adolescentes e adultos. Fatores como os relatados acima, contribuíram para o sedentarismo e, por consequência, emergiram alguns danos causados pelo grande tempo destinado aos videogames, como problemas musculoesqueléticos, neuromusculares, transtorno do sono, dependência do jogo (Vício), problemas psicológicos e obesidade. Devido a esses agravos, lançou-se no mercado uma nova classe de games, os EXG, que tiram essa característica sedentária dos jogos eletrônicos tradicionais, exigindo que o jogador se movimente para alcançar os objetivos do jogo. O jogo eletrônico vem conquistando destaque econômico e cultural tanto em escala global, quanto local, sendo perceptível pelo crescente aumento das vendas dos produtos a ele relacionados e da sua popularidade entre pessoas de todas as faixas etárias. A influência das mídias em geral, e dos jogos eletrônicos em particular, é bem evidente nas gerações infantis atuais. Não é incomum constatar a reprodução, por parte das crianças, de falas ou gestos de personagens de desenhos animados ou de jogos eletrônicos. Assim, ao tratarmos de jogos digitais, estaremos lidando com todos os tipos, em especial aqueles que estão colocados no mercado e até mesmo aqueles que os adolescentes jogam em Lan Houses. Sob esse ponto de vista, a abordagem conteudista, na qual o jogo deve possuir o conteúdo a ser abandonado, pois mostra-se nesse caso como uma transferência de responsabilidade, do educador ou da instituição, para a empresa que produziu o jogo. Depois de reconhecer um bom jogo, a busca de conteúdos e competências que este pode desenvolver está destinada ao profissional do ensino e transcorre aproximadamente como uma aula na qual se buscam novos suportes, como, no caso, um jogo digital (TAVARES, 2009, p. 243). Acerca do videogame, brinquedo que já garantiu lugar na cultura lúdica infantil, Carelli (2003) constatou que estes já ocuparam o espaço que antes era destinado ao cinema e à música. A justificativa para esta ocupação está na velocidade tecnológica que acompanha os videogames, o que permite o grande poder de interação entre seus usuários, estejam eles reunidos em um mesmo espaço físico, as chamadas lan houses, ou individualmente, em seus lares, porém conectados pela internet. No que tange à história dos videogames, ela está associada a quatro etapas principais, a saber: a) projetos e experimentos iniciais (1949/1969); b) surgimento dos computadores de jogos e a disseminação dos jogos eletrônicos (19701979); c) popularização do PC e o crash dos jogos eletrônicos (1980/1984); d) renascimento dos computadores de jogos eletrônicos (1985/2002) (ARANHA, 2004). O mercado dos jogos eletrônicos se tornou a maior indústria de entretenimento moderno, crescendo tanto, que ultrapassou o faturamento do cinema. (RANHEL, 2009). Demorou cerca de quatro décadas para os videogames conquistarem o A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 18 interesse do meio científico. Ainda que tardiamente, várias áreas no meio acadêmico os têm reconhecido como fenômeno estético e social relevante. Para compreender o videogame em uma abordagem teórica seria prudente definir uma importante característica. Uma das características dos games é que os jogadores determinam como aprendem. Nos ambientes de games, os próprios usuários são livres para descobrir e criar arranjos de aprendizado que funcionem para eles. Assim, além de compreender como as características dos próprios games suportam o aprendizado, podemos também avaliar a maneira pela qual os jogadores assumem papeis ativos nos games, determinando como, quando e por que aprendem (MATTAR, 2010, p.19). Seu campo de estudos vem se constituindo de forma interdisciplinar, uma vez que busca diálogo com diferentes teorias e métodos da antropologia, psicologia, linguística e literatura. Para Vianna (2004), pode-se falar em duas abordagens sobre os jogos eletrônicos que pautam a produção acadêmica. A primeira é representada por aqueles que se autodenominam narratologistas (pensam nos games como obra literária). A segunda, pelos ludogistas (pensam nos jogos evidenciando suas especificidades próprias). Ao refletirmos sobre os jogos eletrônicos e suas aplicações na formação do indivíduo, ficam evidentes as potencialidades inerentes a esses ambientes que simulam a realidade, pois, como afirma Alves (2005, p. 31), “a simulação presente nas imagens interativas, na realidade virtual (RV), nos jogos eletrônicos e nas diferentes telas nas quais estamos imersos, amplia a imaginação e o pensamento”. Nesse mesmo sentido, e reforçando a proposta de promoção da inclusão do indivíduo na sociedade digital, através dos jogos eletrônicos, Moita defende que: Os games, embora com algumas semelhanças, em sua elaboração, com os jogos tradicionais, permitem, para além da possibilidade de simulação, de movimento, de efeitos sonoros [...], uma interação com uma nova linguagem, oriunda do surgimento e do desenvolvimento das tecnologias digitais, da transformação do computador em aparato de comunicação e da convergência das mídias. Proporciona, assim, novas formas de sentir, pensar, agir e interagir. (MOITA, 2007, p. 21). Acreditando nas possibilidades de criação de ambientes de aprendizagem mais eficientes, por meio da implantação dos jogos eletrônicos e dos elementos que fazem parte de seu universo, corroboramos com Papert (2008), quando este afirma que: Os videogames ensinam às crianças o que os computadores estão começando a ensinar aos adultos [...]. O fato de exigirem muito tempo pessoal e de requererem novos estilos de pensar é um pequeno preço a pagar (e talvez até mesmo uma vantagem) com retorno garantido no futuro. Não é de surpreender que, em comparação, para muitos jovens a Escola pareça lenta, maçante e claramente desatualizada (PAPERT, 2008, p. 20). Ultimamente, os jogos que permitem o controle das ações dos objetos digitais por intermédio de movimentos do corpo têm sido alvo de pesquisas acerca da sua A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 19 aplicabilidade em tratamentos fisioterapêuticos. Estes vêm ganhando adeptos que cada vez mais aproximam a sua função de entretenimento com atividades que priorizam a execução, análise e aplicação em contextos diversos. Encontramos em Darido (2006), que a Educação Física tem o papel de integrar, de adentrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando um cidadão que vai produzir e transformar um instrumento para usufruir na melhoria da qualidade de vida e assim integrando-se, não somente ao seu corpo,mas junto aos outros, respeitando seus limites, seus espaços, interesses e diferenças. E tais conhecimentos os levam a serem cidadãos mais flexíveis e não instrumentos de exclusão e discriminações, promovendo a inclusão de todos os alunos, adotando estratégias adequadas. Corroboramos com a autora mencionada, quanto à integração que a Educação Física produz aos seus evolvidos. Nessa perspectiva, os jogos eletrônicos, como um elemento da cultura, constituem novas trocas de saberes, uma maneira de interagir, integrar seus envolvidos e sendo possível romper e reimaginar o sentido da convivência. Reconhecer o potencial desses elementos tecnológicos na sociedade e utilizá-los para o processo de ensino e aprendizagem é mostrar que as transformações acontecem o tempo todo e que fazem parte da nossa rotina. Nesse sentido, os EXG podem contribuir, de forma positiva, com a educação física no âmbito escolar, motivando a participação dos discentes nas aulas. Os EXG colaboram para as aulas de educação física, possibilitando práticas diferentes das quais estamos acostumados, conteúdos diversificados, esportes inabituais, formas divertidas. Essa modalidade de game pode proporcionar uma variedade de jogos a partir dos quais o jogador tem a oportunidade de experimentar uma maior diversidade de atividades. Além disso, Alves (2005, p. 118) defende que os jogos eletrônicos, com suas diferentes possibilidades de imersão, permitem ao usuário vivenciar situações que não podem ser concretizadas no seu cotidiano, exigindo tomada de decisão, planejamento, desenvolvimento de estratégias e antecipações que vão além do aspecto cognitivo. Portanto, a aprendizagem que é constituída em interação com os games não é mera cópia mecânica das situações vivenciadas, mas uma ressignificação que os jogadores fazem das imagens e ações presentes nos conteúdos dos jogos eletrônicos, mediante seus modelos de aprendizagem construídos ao longo de sua estruturação como sujeito. Neste contexto, com o avanço tecnológico, o poder de sedução desses dispositivos consegue abarcar de jovens, na mais tenra idade, a idosos, provocando mudanças sociais de forma tão rápida e surpreendente que chegam a alterar as relações entre o ser humano e o cotidiano. Neste sentido, essas tecnologias definem cada vez mais a geração digital. Segundo TAPSCOTT (2010), essas conexões proporcionadas pela e na internet dão as crianças e jovens não somente o controle sobre seus computadores, mas também sobre sua comunicação social e suas tentativas de dominar situações que enfrentaram como adulto na sociedade e no A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 20 ambiente escolar. Ao falar em tecnologia e o ambiente educacional brasileiro, percebemos que com todos os avanços no campo tecnológico/científico, dentro das escolas e das universidades, as alterações não aconteceram de maneira tão rápida como nos demais segmentos da sociedade. No entanto, torna-se inevitável detectarmos a urgente necessidade de repensar as práticas pedagógicas. Vale relembrar que a escola, na atualidade, não é a única responsável pela transmissão das informações e, consequentemente, do conhecimento, pois estas práticas ocorrem em diferentes espaços, sejam formais ou não formais. No âmbito da educação escolar, surge um grande desafio que é formar o cidadão capaz de situar-se criticamente, de autorrealizar-se, de “aprender a aprender” e de estar inserido na sociedade em meio a transformações vertiginosas. Isto porque novas formas e canais de comunicação estão crescendo e moldando a vida e ao tempo em que a vida vem sendo moldadas por elas (CASTELLS, 2008). Sendo assim, as formas utilizadas para criar, analisar, interpretar e ressignificar as mais variadas informações mediadas por estas tecnologias têm se multiplicado com o passar dos tempos, não se limitando as concepções tradicionais de tempo e espaço. Nesse contexto, com o advento das mídias digitais vêm sendo criadas e ampliadas redes de relações entre sujeitos que se utilizam da informação, desenvolvendo habilidades de raciocínio, de investigação, lazer e tantas outras. CASTELLS, (2008, p. 418-419) destaca a crescente importante do papel das mídias na contemporaneidade. Para esse autor, O padrão comportamental mundial predominante parece ser que, nas sociedades urbanas, o consumo da mídia é a segunda categoria de atividade depois do trabalho e, certamente, a atividade predominante nas casas. Essa observação, no entanto, deve ser avaliada para o verdadeiro entendimento do papel da mídia em nossa cultura: ser espectador/ouvinte da mídia absolutamente não se constitui uma atividade exclusiva. Em geral é combinada com o desempenho de tarefas domésticas, refeições familiares e interação social. É a presença de fundo quase constante, o tecido de nossas vidas. Vivemos com a mídia e pela mídia. Henry Jenkins (2009) chama atenção quando evidencia um paradigma na transformação midiática que consiste na convergência: a correlação entre diferentes tipos de mídias, criadas em diferentes momentos da história, num esquema de cooperação, na execução de modificações comportamentais, no que tange ao manejo dessas mídias e em transformações nos reflexos que alcançam o público ao qual são destinadas. Nesse contexto, é possível perceber claramente que o surgimento de novos recursos está ligado à existência de recursos antecessores, não significando que estes tenham de ser inutilizados para que aqueles se ponham em atividade. Uma postura crítica em relação ao uso das tecnologias digitais implicaria em redirecionar o trabalho pedagógico para aproveitar a intimidade que os alunos demonstram nesse campo e promover desafios, com vistas a repara-los para A Formação Docente nas Dimensões Ética, Estética e Política 2 Capítulo 2 21 interpretar e posicionar-se diante do avanço das tecnologias. Sendo assim, o professor, como agente mediador entre o mundo acadêmico e a sociedade, deve envidar esforços no propósito de cuidar de sua formação nesse campo do saber e no ciberespaço. Usar a tecnologia como uma ferramenta do labor docente, deve se constituir em meta, com vistas à formação crítica do estudante, para que sua atuação aconteça de forma produtiva e significativa, no bojo da diversidade que marca a sociedade e o ciberespaço. Com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento do ciberespaço não somente a cultura escolar é afetada. Do campo da cultura do corpo, das relações e da saúde física, produtos ligados ao lazer, jogos e as atividades físicas passam a existir no ciberespaço. Sem pertencer originalmente a nenhum lugar, jogadores podem interagir entre si, podendo formar equipes competitivas com pessoas de outras nacionalidades. (LÉVY, 2000; CASTELLS, 2008). Entretanto, com as inovações tecnológicas novas formas de interação e comunicação surgem, sendo livre do espaço físico. O Ciberespaço, que segundo Lévy (2000, p. 92) representa “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”, permite a troca das informações em um curto espaço de tempo, o que proporciona o surgimento das interfaces onde se criam interligações entre a realidade e a virtualidade, de maneira que não se encontra nela nenhum tipo de barreira física. Não é um espaço que se limita apenas à estrutura física da rede de computadores, ele não se resume apenas à infraestrutura, é a produção de informação e não apenas aquele que faz o papel de transmissão. Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho e a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagens são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que
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