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EBOOK_Direito e Inovação_uma combinação necessária_

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Organizadoras 
Camile Costa 
Alyane Dornelles 
 
 
 
 
 
 
DIREITO E INOVAÇÃO: UMA COMBINAÇÃO NECESSÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 2021 
 
 
Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
Grupo de Estudos em Direito e Inovação ESA-OAB/RS 
Organizadoras 
Camile Costa 
Alyane Dornelles 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos 
assinados, são de responsabilidade dos seus autores. 
 
 
Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul 
Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico 
 CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS 
 
D536 
 Direito e inovação: uma combinação necessária/. Camile Costa, 
Alyane Dornelles. (Organizadoras). Porto Alegre: OABRS. 
2021. 125p. 
ISBN: 978-65-88371-10-7 
1. Direito 2. Inovação I. Título 
340 
 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 
 
Presidente: Felipe Santa Cruz 
Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz 
Secretário-Geral: José Alberto Simonetti 
Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto 
 Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Ricardo Ferreira Breier 
Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães 
Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth 
Tesoureiro: André Luis Sonntag 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten 
Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery 
Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Alexandre Lima Wunderlich 
Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira 
Jaqueline Mielke Silva 
Vera Maria Jacob de Fradera 
 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Mariana Melara Reis 
Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel 
Tesoureiro: Gustavo Juchem 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Cesar Souza 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha, 
Josana Rosolen Rivoli, 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
PREFÁCIO – Camile Costa ............................................................................................... 1 
APRESENTAÇÃO – Rosângela Maria Herzer dos Santos e Fernanda Corrêa Osório
 ............................................................................................................................................... 2 
TECNOLOGIA E SOFT SKILLS PARA INOVAÇÃO NOS SERVIÇOS JURÍDICOS 
– Camile Costa ..................................................................................................................... 3 
METODOLOGIAS ÁGEIS EM ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA – Vitória Tavares 
Della Valentina ..................................................................................................................... 8 
PROVA DOCUMENTAL E DIREITO DIGITAL: UMA ANÁLISE SOBRE A 
UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA BLOCKCHAIN – Otávio Macedo Ronchi ......... 23 
ERA DO BIG DATA: REFLEXÕES SOBRE O DIREITO À PRIVACIDADE E À 
PROTEÇÃO DE DADOS – Leiluce Guedes ................................................................... 42 
MULTIDISCIPLINARIDADE NA ADEQUAÇÃO DA LGPD E AS BOAS 
PRÁTICAS – Vivian Mara Millan Araújo ..................................................................... 58 
MAPEAMENTO DE DADOS – DATA MAPPING – Alyane Dornelles e Marina Risson
 ............................................................................................................................................. 63 
LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS E AS PEQUENAS E MÉDIAS 
EMPRESAS – Daniel Dias da Silva ................................................................................. 74 
COMPLIANCE DIGITAL E PROTEÇÃO DE DADOS EM LOJAS VIRTUAIS (E-
COMMERCE) – Francieli Librelotto da Rosa ................................................................ 78 
RESOLUÇÃO DE DISPUTAS: MEIOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE 
CONFLITOS – Fernanda Campos Garcia e Caroline Baetriz Doelle ...................... 101 
 
 
 
 
 
1 
 
 
 
PREFÁCIO 
O contexto global atual convida, mais do que nunca, a inovar. A agilidade das mudanças e 
seu impacto sistêmico exige uma constante reinvenção e aprimoramento de soluções nas 
mais diversas áreas. Novos problemas surgem e antigos problemas buscam novas soluções. 
Neste contexto, os desafios são evidentes e o mesmo pode ser dito para as oportunidades. A 
escolha está nos olhos de quem vê. 
Escolhendo o olhar das oportunidades, o Grupo de Estudos em Direito e Inovação da ESA-
OAB/RS, que tive a honra e satisfação de co-fundar, vê nos desafios o impulso para fazer 
mais e melhor, buscando no compartilhamento de experiências e conhecimentos a inspiração 
para inovar com consistência e autenticidade. É neste espírito que o presente e-book é 
apresentado, como a compilação de trabalhos produzidos pelos membros do Grupo ao longo 
dos anos de sua existência. 
Os temas abordados unem aspectos inovadores do Direito material com a prática da 
advocacia, trazendo de forma clara e acessível temas de importante relevo para uma atuação 
cada vez mais responsável e multidisciplinar. Além de artigos analisando importantes 
inovações legislativas e seus impactos na atuação jurídica, a tecnologia é trazida como 
importante aliada da estratégia jurídica, juntamente às soft skills e metodologias de gestão, 
demonstrando-se como o seu aprimoramento impacta diretamente em uma advocacia eficaz 
que agrega valor ao cliente. 
De big data, blockchain, compliance digital e data mapping até soft skills, legal analytics, 
ADR e metodologias ágeis, o presente e-book brinda a advocacia com importantes 
contribuições para o constante aprimoramento dos serviços jurídicos, com o objetivo de 
estimular a inovação com criatividade, legitimidade e protagonismo. 
Desejando uma excelente leitura, fico à disposição para futuras interações. 
 
Camile Costa 
Advogada e Fundadora do Grupo de Estudos Direito e Inovação ESA-OAB/RS 
Contatos em camile.costa@gmail.com e @camilecostaconsultoria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
Apresentar o e-book “Direito e Inovação: uma combinação necessária” reveste-se, para nós, 
de um significado especial. A coletânea de artigos, organizada pelas advogadas e 
moderadoras do Grupo de Estudos Direito e Inovação, Camile Costa e Alyane Dornelles, 
será lançada no momento histórico em que, na Escola Superior da Advocacia do Rio Grande 
do Sul, reconhecemos que professores e professoras, moderadores e moderadoras devem ter 
suas competências digitais bem desenvolvidas, estando preparados para serem pesquisadores 
reflexivos de sua prática pedagógica, criadores de experiências de aprendizagem, 
protagonistas de sua formação profissional ao longo da vida, além de terem capacidade de 
inovar na resolução de problemas complexos, de liderar a mudança necessária nos espaços 
educacionais eatuar como cidadãos digitais. Em tempos de pandemia, a tecnologia se 
mostra uma aliada para o desenvolvimento destas novas competências e as discussões 
travadas no Grupo de Estudos e nos artigos que compõem este e-book revelam a importância 
de se integrar conhecimentos e práticas sobre o bom uso e o uso seguro da tecnologia. 
Os artigos trazidos nesse e-book tratam dos mais diversos temas relevantes para a advocacia 
e sobre eles são lançados múltiplos olhares acerca dos impactos das tecnologias na ciência 
do Direito, bem como a necessidade dos profissionais de acompanharem essas inovações, 
desenvolvendo habilidades específicas. A urgência frente às mudanças, somada à 
necessidade dos profissionais do direito de acompanharem essas inovações, fez com que 
percebêssemos que existe uma era pós-pandemia com desafios ainda maiores. A coletânea, 
nesse sentido, retrata as reflexões que a Escola Superior da Advocacia do Rio Grande do Sul 
(ESA/OAB-RS), braço cultural da Ordem dos Advogados do Brasil, juntamente com o 
Grupo de Estudos Direito e Inovação, vem promovendo acerca das intersecções da 
tecnologia no contexto jurídico e educacional, tendo a segurança digital e as prerrogativas 
da classe como metas. 
Aos leitores e às leitoras, desejamos uma boa e profícua leitura e que esta obra sirva de 
inspiração para que a advocacia contribua para o debate acerca do uso da tecnologia da 
informação com o objetivo de possibilitar a todos o acesso à justiça e ao conhecimento. 
Porto Alegre, novembro de 2021. 
 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Diretora Geral da Escola Superior da Advocacia da OAB/RS 
 
Fernanda Corrêa Osorio 
Diretora de Cursos Permanentes da Escola Superior da Advocacia da OAB/RS 
 
 
 
3 
 
 
 
TECNOLOGIA E SOFT SKILLS PARA INOVAÇÃO NOS 
SERVIÇOS JURÍDICOS 
Camile Costa1 
“Este é certamente um momento para fazer o futuro. 
Este é um momento para a ação. ” Peter Drucker 
 
A era da informação2, na sociedade do conhecimento3, a partir da quarta revolução 
industrial4, exige inovação em todos os sentidos e quase constantemente. Neste contexto, o 
desafio é identificar onde e como inovar, de forma a agregar valor ao que se faz e direcionar 
as próprias habilidades para a entrega de soluções úteis e efetivas. Certamente não será 
diferente na advocacia, e já são perceptíveis as constantes inovações percebidas no mundo 
jurídico5. É neste cenário de desafios vistos como oportunidades que o presente artigo é 
escrito, com o objetivo de demonstrar a utilidade do domínio das soluções tecnológicas e do 
desenvolvimento das soft skills para a inovação nos serviços jurídicos. 
É sabido que a rapidez com que as modificações acontecem, somada ao seus 
impactos sistêmicos, impossibilitam que o Direito positivado caminhe no mesmo ritmo. 
Some-se a esta realidade a dinamicidade atual das interações na vida em sociedade e a 
conclusão percebida refletirá na necessidade de respostas jurídicas personalizadas a cada 
caso concreto, elaboradas com legitimidade e conforme a ética da situação6. Para tanto, nossa 
atual lei já está pronta: 
 
“[…] a nova Lei Civil se distingue da anterior pela frequente referência de seus 
dispositivos aos princípios de equidade, de boa-fé, de equilíbrio contratual, de 
correção (correttezza), de lealdade, de respeito aos usos e costumes do lugar das 
convenções, de interpretação da vontade tal como é consubstanciada, etc, etc, 
sempre levando em conta a ética da situação, sob cuja luz a igualdade deixa de 
 
1 Advogada com formação em Negociação em Harvard e LLM em International Commercial Law and Dispute 
Resolution pela Swiss International Law School. Consultora em Negociação, Soft Skills e Autogestão para 
Advogados/as. Fundadora do Grupo de Estudos Direito e Inovação ESA-OAB/RS. Co-fundadora do Meeting 
de Negociação. Mediadora credenciada pelo ADR/ODR International. Contatos em camile.costa@gmail.com 
e @camilecostaconsultoria. 
2 Para mais informações sobre o impacto desta era em nossa realidade, vide: A Era da Informação: Economia, 
Sociedade e Cultura. Manuel Castells. Editora Fundação Calouste Gulbenkian. 2002. 
3 Para maior aprofundamento acerca do advento e consequências da sociedade do conhecimento, vide: 
Sociedade Pós-Capitalista. Peter Drucker. Editora Pioneira.1993. 
4 A Quarta Revolução Industrial. Klaus Schwab. Tradução: Daniel Moreira Miranda. Editora Edipro. 2016. 
5 https://ab2l.org.br/radar-dinamico-lawtechs-e-legaltechs/ 
6 O Novo Código Civil Brasileiro: em Busca da "Ética da Situação". Judith Hofmeister Martins-Costa. 2001. 
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/49214/30844. Acesso em 05/09/2021. 
https://ab2l.org.br/radar-dinamico-lawtechs-e-legaltechs/
https://seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/49214/30844
4 
 
 
 
ser vista in abstrato, para se concretizar em uma relação de proporcionalidade.” 7 
(grifos nossos) Miguel Reale, redator do Código Civil de 20028. 
Ao exigir respostas jurídicas personalizadas, a realidade atual desafia o status quo 
jurídico e estimula o desenvolvimento constante de novas habilidades em seus operadores9, 
as quais, somadas ao conhecimento do Direito, possibilitam o desenho de soluções jurídicas 
mais eficazes, que de fato satisfaçam os interesses dos envolvidos e, não apenas resolvam 
problemas e impasses, mas os previnam10. 
“Operar no modo "fast forward" significa antecipar o problema. Ao lidar com seus 
clientes, o advogado ou advogada deixa de ser o objeto reativo dos eventos e passa 
a ser o planejador ativo dos cenários".11 
 
Um ponto chave a ser levado em conta neste processo de personalização está no fato 
de que a efetividade das soluções jurídicas está diretamente relacionada à percepção dos 
destinatários dessas soluções: os clientes. A partir desta constatação, fica evidente a 
necessidade, e o atual desenvolvimento, de uma advocacia que cada vez mais entende a sua 
relevância no cenário atual de mudanças ágeis e exponenciais e, assim, busca maior 
 
7 Prefácio do livro Diretrizes Teóricas do Novo Código Civil Brasileiro. Judith Martins Costa, Gerson Luiz 
Carlos Branco. São Paulo, Ed. Saraiva, 2002. 
8 Nas palavras de Miguel Reale, em seu discurso na cerimônia de sanção do Código Civil de 2002: “Desde o 
pórtico dos Direitos da personalidade – inexistente no Código de 1916 – até as normas estabelecidas em razão 
da função social da propriedade e do contrato; desde a maioridade aos dezoito anos até a revisibilidade do 
regime de bens no casamento; desde a extinção do “pátrio poder”, substituído pelo “poder familiar”, até os 
dispositivos que salvaguardam o real interesse da prole; desde as novas figuras criadas no campo do Direito 
das Obrigações até a disciplina da atividade empresarial; desde a preferência dada às “cláusulas abertas”, 
propiciadoras de ampla compreensão hermenêutica e de maior interferência do juiz na solução dos conflitos, 
até as novas regras sobre responsabilidade objetiva; desde a constante remissão aos princípios de equidade 
e de boa-fé até o tratamento da posse de bens imóveis em razão do valor do trabalho que a motiva; desde a 
eliminação de formalidades absurdas na lavratura dos testamentos até a preservação dos direitos dos 
herdeiros, do cônjuge inclusive, é toda uma nova atmosfera normativa que surge no mundo do Direito, com 
paradigmas de renovado humanismo existencial.” disponível em http://miguelreale.com.br/. Acesso em 
05/09/2021. 
9 Para maior detalhamento acerca das habilidades necessárias para uma advocacia contemporânea, 
especialmente no tocante ao desenvolvimento das dimensões do advogado e advogada como designer (que cria 
condições preventivas e atua nos contextos em que os problemas surgem) e resolutor de problemas, veja: 
Preventive Law and Creative Problem Solving: Multi-dimensional Lawyering,Thomas D. Barton and James 
M. Cooper. 2001. Disponível em http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-
solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs. Acesso em 05/09/2021. 
10 Para aprofundamentos acerca de ferramentas úteis para a identificação prévia de potenciais problemas e 
conflitos, que permitem a atuação em sua causa, de forma a prevenir que ocorram, veja o completo e 
esclarecedor estudo da evolução do Direito e consequentemente da advocacia em: Preventive Law and Problem 
Solving: Lawyering for the Future. Thomas D. Barton. Editora Vandeplas Pub. 2009. 
11 Tradução livre de: "Operating in the Fast Forward mode means that the lawyer anticipates the problem. In 
dealing with individual clients, the lawyer moves from being the reactive object of events, to becoming the 
planful shaper of environments".Preventive Law and Creative Problem Solving: Multi-dimensional 
Lawyering, Thomas D. Barton and James M. Cooper. 2001. Disponível em http://restorativejustice.org/rj-
library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-
lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs. Acesso em 05/09/2021. 
http://miguelreale.com.br/
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
5 
 
 
 
entendimento e conexão com os reais interesses dos clientes, de forma a elaborar soluções 
jurídicas personalizadas e eficazes. 
É neste contexto que percebemos o advento de uma “advocacia multiportas”, que 
conhece as possíveis formas e métodos de resolução de disputas (judiciário, arbitragem, 
mediação, conciliação, negociação, dispute boards, expert assessor, desenho de sistemas de 
disputas, minitrials…) e auxilia seu cliente a optar pela forma ou método mais adequado para 
a solução da disputa em questão12. É também neste cenário que vemos o advento de startups 
com soluções tecnológicas em análise de dados jurídicos (legal analytics, jurimetria, 
volumetria), que permitem o aprimoramento do diagnóstico da situação e da análise das 
possibilidades de solução (levando-se em conta o investimento de tempo, custo, riscos, 
chances de êxito), consequentemente aumentando a assertividade na elaboração das opções 
e caminhos que comporão a estratégia jurídica a ser apresentada ao cliente. 
Como consequência do advento da consciência acerca das opções existentes em 
métodos de resolução de disputas, juntamente às soluções tecnológicas em legal analytics, 
torna-se necessário o aprimoramento de habilidades para além da lei, isto é, para além das 
chamadas hard skills jurídicas (conhecer o Direito). Tais habilidades consistirão justamente 
naquelas que permitirão maior entendimento dos reais interesses do cliente e maior 
assertividade na elaboração, comunicação e condução das soluções jurídicas personalizadas 
ao caso concreto, podendo ser chamadas de habilidades humanas ou soft skills. 
Assim, as soft skills entram mais do que nunca como uma necessidade latente para a 
advocacia, pois, uma vez constituídas pelas habilidades de comunicação efetiva, pensamento 
estratégico, análise e visão sistêmicas, flexibilidade mental, equilíbrio emocional, 
colaboração, negociação, criatividade e disposição para o aprendizado contínuo (life long 
learning), mais do que "buscar direitos", elas auxiliarão os advogados e advogadas a buscar 
soluções realmente efetivas, a partir da ótica dos próprios envolvidos. Assim, somadas ao 
conhecimento jurídico e às tecnologias disponíveis, as habilidades humanas permitem à 
advocacia o desenho de soluções jurídicas legítimas, seguras e eficazes, pois possibilitam 
unir a segurança jurídica às reais necessidades e interesses dos destinatários de seus serviços. 
Em vista do exposto, percebe-se a alta relevância de cada vez mais proporcionar aos 
operadores do Direito ambientes que estimulem o entendimento do cenário atual de estímulo 
 
12 Para maior aprofundamento em sistemáticas e ferramentas de análise de cenários para definição do método 
de resolução de conflitos mais adequado ao caso concreto, veja: Frank E.A. Sander & Stephen B. Goldberg, 
Fitting the Forum to the Fuss: a User-Friendly Guide to Selecting an ADR Procedure. Negotiation Journal 
vol.10. Program on Negotiation - Harvard Law School. 1994. 
6 
 
 
 
à inovação e fomentem a utilização da tecnologia disponível e o aprimoramento das referidas 
soft skills. Neste sentido, a abertura ao aprendizado e à identificação de sua utilidade passa 
a ser algo evidente, importando saber o que buscar e por onde começar. A este respeito, 
destaca-se a importância da habilidade de “aprender a aprender” e, neste ponto, o autor Peter 
Drucker ressalta que o aprendizado contínuo que consentirá à realização será aquele que 
estimular a se “fazer excepcionalmente bem aquilo em que já se é bom”13, focando, portanto, 
em potencializar os pontos fortes, isto é, as habilidades e virtudes que já se possui. 
Esta é a boa notícia para a finalização do presente artigo, na medida em que as 
habilidades humanas, pelo seu próprio nome, já estão em cada um de nós. Assim, seguindo 
a orientação do aprender a aprender, estimula-se focar na potencialização das habilidades 
que já se possui, seja em termos de aprimoramento pessoal, seja quando na liderança e 
orientação de equipes em escritórios e departamentos jurídicos. Desta forma, as 
potencialidades de cada um poderão ser consideradas na organização das atividades entre os 
membros de uma mesma equipe jurídica, tal como realizado cada vez mais em empresas 
geridas pelo paradigma das novas economias, orientadas pela abundância e pelas 
metodologias ágeis, onde o colaborador é visto, antes de tudo, como ser humano capaz e as 
equipes são organizadas combinando-se as necessidades de cada projeto com as habilidades 
de cada membro14. 
Desta maneira, o aprimoramento constante das próprias soft skills, o aumento da 
familiaridade e utilização das soluções tecnológicas disponíveis, e a organização de equipes 
com base nas potencialidades de cada indivíduo, permitirá que a inovação nos serviços 
jurídicos aconteça de forma consistente, aumentando a efetividade e a personalização das 
soluções jurídicas para cada caso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 Sociedade Pós-Capitalista. Peter Drucker. Editora Pioneira. 1993. pg. 157. 
14 Para maior aprofundamento acerca das práticas de gestão centradas em reconhecer e potencializar as 
habilidades dos membros da organização, veja: Reinventando as organizações. Frederic Laloux. Editora Voo. 
2019. 
7 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Lisboa: 
Editora Fundação Calouste Gulbenkian. 2002. 
 
SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução: Daniel Moreira Miranda. 
Editora Edipro. 2016. 
 
Fitting the Forum to the Fuss: a User-Friendly Guide to Selecting an ADR Procedure. Frank 
E.A. Sander & Stephen B. Goldberg, Negotiation Journal vol.10. Program on Negotiation - 
Harvard Law School. 1994. 
 
MARTINS-COSTA, Judith Hofmeister; BRANCO, Gerson Luiz Carlos. Diretrizes Teóricas 
do Novo Código Civil Brasileiro. São Paulo, Saraiva, 2002. 
 
MARTINS-COSTA, Judith Hofmeister. O Novo Código Civil Brasileiro: em Busca da 
"Éticada Situação". 2001. Disponível em: 
https://seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/49214/30844. Acesso em 
05/09/2021. 
 
BARTON, Thomas D.; COOPER, James M.. Preventive Law and Creative Problem 
Solving: Multi-dimensional Lawyering.. 2001. Disponível em 
<http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-
dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs> Acesso em 05/09/2021. 
 
BARTON, Thomas D. Preventive Law and Problem Solving: Lawyering for the Future. 
Editora Vandeplas Pub. 2009. 
 
LALOUX, Frederic. Reinventando as organizações. Belo Horizonte: Voo. 2019. 
 
DRUCKER, Peter. Sociedade Pós-Capitalista. São Paulo: Pioneira. 1993. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/49214/30844.%20Acesso%20em%2005/09/2021
https://seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/49214/30844.%20Acesso%20em%2005/09/2021
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs
8 
 
 
 
METODOLOGIAS ÁGEIS EM ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA 
 
Vitória Tavares Della Valentina15 
 
RESUMO: O desenvolvimento tecnológico e a constante inovação nas mais diversas áreas, 
inclusive na jurídica, culminaram em uma mudança no mercado de trabalho. Dessa forma, 
foram elaboradas metodologias, denominadas ágeis, caracterizadas pela entrega incremental 
de resultados com valor agregado, equipes auto-organizáveis e flexibilidade para mudanças. 
Nesse sentido, o objetivo da presente pesquisa é avaliar a aplicabilidade dessas metodologias 
ágeis, nomeadamente, o Scrum e o kanban, nos escritórios de advocacia, a fim de averiguar 
se elas são adaptáveis e adequadas para melhores resultados e efetividade no cumprimento 
das tarefas inerentes à rotina dos advogados e das equipes jurídicas. Assim sendo, a partir 
do método de abordagem hipotético-dedutivo, por meio da técnica qualitativa, com objetivo 
exploratório e procedimento bibliográfico, com base na doutrina nacional e estrangeira, 
conclui-se que há aplicabilidade dos métodos ágeis nos escritórios de advocacia e sua 
implementação, em razão das características ágeis, se mostra adequada à melhora da 
produtividade. 
Palavras-chave: Metodologias Ágeis; Scrum; Kanban; Gestão de Escritórios de Advocacia. 
ABSTRACT Technological development and constant innovation in the most diverse areas, 
including legal, culminated in a change in the labor market. In this way, methodologies 
called agile were developed, characterized by the incremental delivery of results with added 
value, self-organizing teams and flexibility for changes. In this sense, the objective of this 
research is to evaluate the applicability of these agile methodologies, namely Scrum and 
kanban, in law firms, in order to ascertain whether they are adaptable and adequate for better 
results and effectiveness in fulfilling the tasks inherent to the routine of lawyers and legal 
teams. Therefore, from the hypothetical-deductive approach method, through qualitative 
technique, with an exploratory objective and bibliographic procedure, based on national and 
foreign doctrine, it is concluded that there is applicability of agile methods in law firms and 
their implementation, due to its agile characteristics, it is adequate to improve productivity. 
Keywords: Agile Methodology; Scrum; Kanban; Law Firm Management. 
 
1. INTRODUÇÃO 
A execução de projetos e de tarefas é atividade essencial em toda sociedade, 
empresarial ou de pessoas, para seu crescimento e desenvolvimento. Usualmente, utiliza-se 
a metodologia tradicional, baseada no modelo cascata, que tem como linha-guia a hierarquia 
entre os participantes do projeto e a linearidade de entrega, de modo que, somente quando o 
produto passar por todas as fases da produção, ele será entregue. 
 
15 Advogada. Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 
9 
 
 
 
Todavia, com o desenvolvimento da tecnologia e da chamada Indústria 4.0, 
observou-se a necessidade de implementação de novos métodos, a fim de aumentar a 
entregabilidade dos produtos em menor tempo e ainda possibilitar a correção de erros de 
maneira mais dinâmica e assertiva. Nesse cenário, foram desenvolvidas novas metodologias, 
denominadas ágeis, que se baseiam na flexibilidade do projeto e sua execução, bem como 
na autonomia das equipes e priorização de tarefas. 
Tais avanços tecnológicos também atingiram a área do Direito, com destaque para a 
atuação digital dos profissionais dessa área, como em caso de audiências telepresenciais, 
consultorias virtuais e mesmo trabalho integralmente remoto, mudanças essas que alteram a 
dinâmica na atuação dos advogados, tanto em relação aos seus clientes, quanto em relação 
ao Poder Judiciário. 
Nesse sentido, se faz essencial avaliar a atuação dos advogados e das equipes 
jurídicas para lidarem com as novas demandas nesse cenário inovador e implementarem 
novas habilidades essenciais à sobrevivência do empreendimento na mudança do mercado 
de trabalho. 
Em razão disso, verifica-se que o método tradicional de gerenciamento de projetos 
pode estar defasado frente às mudanças ocorridas nos últimos anos, motivo pelo qual a 
presente pesquisa se propõe a estudar as metodologias ágeis, nomeadamente o Scrum e o 
Kanban, e sua aplicabilidade nos escritórios de advocacia, a fim de averiguar se as essas 
metodologias são adequadas para melhorar os resultados e trazer efetividade no 
cumprimento das tarefas inerentes à rotina dos advogados e das equipes jurídicas. 
Para tanto, a presente pesquisa parte da hipótese de que os métodos ágeis são 
adaptáveis aos escritórios, em razão de sua ampla flexibilidade para implementação, sendo 
aptos a trazer maior celeridade na resolução das demandas internas do empreendimento. 
Dessa forma, a presente pesquisa possui natureza qualitativa e tem como base o método 
hipotético-dedutivo, com objetivo exploratório e procedimento bibliográfico, por meio de 
revisão de bibliografia nacional e internacional sobre o tema, e apresenta os métodos ágeis, 
suas diferenças em relação ao método tradicional, e então sua aplicabilidade nos escritórios 
de advocacia, para, por fim, tecer considerações finais sobre o tema. 
 
 
 
10 
 
 
 
2. OS MÉTODOS ÁGEIS: SCRUM E KANBAN 
 
Os métodos ágeis propõem o desenvolvimento incremental do produto, em que há 
novas versões disponibilizadas para testes e evoluções16 a cada fase. Esses passaram a ser 
desenvolvidos em razão da insatisfação com os modelos de projetos de desenvolvimento de 
softwares da década de 90, de modo que um grupo de desenvolvedores, no ano de 2001, se 
reuniu e publicou o “Manifesto Ágil”17. O Manifesto Ágil apresenta quatro objetivos - 
indivíduos e interações, software em funcionamento, colaboração com o cliente e responder 
a mudanças - e doze princípios dos métodos ágeis18. 
A partir de então, as metodologias ágeis foram disseminadas, tanto para projetos de 
desenvolvimento de softwares, quanto para outras áreas, pois “suas ferramentas, seus 
métodos e, principalmente, seus valores e princípios auxiliam em uma gama muito maior de 
projetos”19. Nesse cenário, esses métodos têm sido cada vez mais adotados para o 
gerenciamento de projetos que exigem flexibilidade e velocidade20. 
As metodologias ágeis inserem flexibilidade no desenvolvimento dos projetos e, por 
consequência, possibilitam que as equipes trabalhem com maior eficiência21, visto que 
estabelecem um processo incremental, além de funcionar como forma de monitorar o 
andamento dos projetos, suas atividades e melhor definição dos responsáveis e prazos22. 
Há diversas abordagens ágeis, como o Extreme Programming(XP), o 
Desenvolvimento Adaptativo de Software (DAS), o Método Dinâmico de Sistemas 
(Dynamic System Development Method - DDSDM), Crystal, Modelagem Ágil (Agile 
 
16 SOMMERVILLE, Ian. Engenharia de Software. 9. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011, p. 
39 
17 FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e 
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em 
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020, 
p. 36. 
18 BECK, K. et al. Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software. 2001. Disponível em 
<http://agilemanifesto.org/iso/ptbr/manifesto.html>. Acesso em 20 fev. 2021. 
19 FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e 
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em 
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020, 
p. 37. 
20 Ibidem, p. 31. 
21 MARUPING, Likoebe M; VENKATESH, Viswanath; AGARWAL, Ritu. A Control Theory Perspective on 
Agile Methodology Use and Changing User Requirements. Information Systems Research, v. 20, n. 3, p. 
377-399, 2009, p. 378. 
22 FELIPE, Danilo Almeida; PINHEIRO, Tânia Saraiva de Melo. Seleção de tecnologias digitais para a 
gerência de projetos em disciplinas de projeto integrado. #Tear: Revista de Educação, Ciência e Tecnologia , 
v. 7, n. 1, 2018, p. 7. 
11 
 
 
 
Modeling), Scrum e Kanban. A presente pesquisa delimitar-se-á à análise das metodologias 
Scrum e Kanban, por se tratarem das metodologias mais utilizadas23. 
O Scrum é um framework que possibilita a entrega dos produtos de forma produtiva 
e criativa por meio de processos adaptativos complexos24. Enquanto o Kanban possibilita a 
visualização do fluxo de trabalho de um projeto, sua limitação e o acompanhamento durante 
o processo25. Podem, inclusive, trabalhar em conjunto, o que se denomina scrumban. 
O Scrum surgiu no ano de 1995 e é conceituado por seus criadores como “um 
framework dentro do qual pessoas podem tratar e resolver problemas complexos e 
adaptativos, enquanto produtiva e criativamente entregam produtos com o mais alto valor 
possível”26. É um processo empírico, baseado em três pilares - transparência, inspeção e 
adaptação - com abordagem iterativa e incremental que visa a melhoria no controle de riscos 
do processo de produção27. 
Esse método tem como base o Time Scrum, que é composto pelo Scrum Master, 
responsável por ajudar os participantes a entenderem os valores da metodologia e garantir a 
adoção das práticas e regras; o Product Owner, pessoa responsável pelo gerenciamento das 
tarefas e pela priorização das entregas para alcançar melhores resultados; e, por fim, a 
equipe, composta pelos desenvolvedores das atividades28. 
A metodologia inclui uma série de etapas curtas, chamadas de sprints. Nessas etapas, 
o product owner define os itens que compõem o produto, gerando uma lista dos requisitos 
já identificados29- o backlog do produto - e o time de desenvolvimento fica responsável por 
executar da melhor forma possível o trabalho e entregar os itens de cada sprint, adicionando 
valor ao produto. 
 
23 DIGITAL. AI. 14th Annual State of Agile Report. 2020. Disponível em < https://stateofagile.com/>. 
Acesso em 20 fev. 2021. 
24 SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017. Disponível em 
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>. 
Acesso em 20 fev. 2021. 
25 FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e 
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em 
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020, 
p. 13. 
26 SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017, p. 3. Disponível em 
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>. 
Acesso em 20 fev. 2021. 
27 Ibidem, p. 4. 
28 Ibidem, p. 6. 
29 FELIPE, Danilo Almeida; PINHEIRO, Tânia Saraiva de Melo. Seleção de tecnologias digitais para a 
gerência de projetos em disciplinas de projeto integrado. #Tear: Revista de Educação, Ciência e Tecnologia, 
v. 7, n. 1, 2018, p. 7. 
12 
 
 
 
No início de cada sprint há uma reunião de planejamento (Sprint Planning Meeting), 
momento no qual se dá início ao projeto. Nessa reunião, com toda a equipe, há análise dos 
objetivos de produção, volume de trabalho e ferramentas necessárias para alcançar o 
resultado30, que norteará o desenvolvimento do produto. 
Há reuniões diárias de quinze minutos, o daily scrum, para definição de prioridades, 
de acordo com a execução das tarefas, garantindo um processo mais eficiente e focado na 
finalização do trabalho31. Essas reuniões permitem a identificação de possíveis desvios na 
produção, bem como eliminar e/ou minimizar retrabalhos causados pelo método tradicional 
de produção32. 
No final do sprint, há a reunião de revisão, na qual se avalia o produto final, sendo 
apresentado o valor agregado, e a reunião de retrospectiva, na qual são observados os pontos 
fortes e sugeridas melhorias para os próximos sprints33. 
Nesse sentido, essa metodologia propõe a otimização do tempo utilizado no 
planejamento e na produção do produto por meio da criação de regularidade no processo, e 
minimizando a necessidade e o tempo gasto em reuniões fora da estrutura do método, 
possibilitando, também, maior transparência34. 
Em revisão sistemática acerca da metodologia Scrum, Pedron e Oliveira (2021), 
averiguaram que o método “em ambientes de projetos foi apontado como um facilitador do 
sucesso no gerenciamento de projetos, com sua ênfase na comunicação, aumento de 
produtividade, eficiência e eficácia”35. 
O método Kanban tem origem japonesa, decorrente do Sistema Toyota de Produção 
de automóveis, sendo implementado para a gestão de estoque e produção visando maior 
 
30 FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e 
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em 
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020, 
p. 44. 
31 SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017, p. 12. Disponível em 
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>. 
Acesso em 20 fev. 2021. 
32 FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e 
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em 
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020, 
p. 45. 
33 SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017, p. 13. Disponível em 
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>. 
Acesso em 20 fev. 2021. 
34 Ibidem, p. 7. 
35 OLIVEIRA, Ricardo Lair Franco; PEDRON, Cristiane Drebes. Métodos Ágeis: Uma Revisão Sistemática 
sobre Benefícios e Limitações. Brazilian Journal of Development. v. 7. n. 1, p. 4520 - 4535, 2021, p. 4527. 
13 
 
 
 
assertividade no chamado pull system, no qual o ritmo da produção é ditado pela demanda, 
sem a acumulação de estoque36. 
O kanban é uma ferramenta bastante visual e adaptável, sendo composta de um cartão 
com as informações necessárias de produção e entrega, de modo que, quando a demanda é 
concluída, os cartões são realocados no quadro, conforme seu estado, entre “a fazer”, 
“fazendo” e “feito”. Assim, o método é adaptadopara situações de gerenciamento de 
projetos, em que os cartões remetem a cada atividade que deve ser realizada visando o 
cumprimento da data e qualidade de entrega, sendo cada atividade adicionada em uma 
coluna de acordo com seu andamento37. 
Dessa forma, essa metodologia permite o acompanhamento do fluxo de trabalho e 
facilita a visualização de possíveis obstáculos na produção38, cabendo à equipe estar atenta 
ao processo de atualização do fluxo de trabalho para a condução dos processos. Assim, está 
assentada sobre três pilares essenciais, quais sejam, a visualização do fluxo do trabalho, a 
limitação desse fluxo e seu acompanhamento e gerenciamento durante o processo39. 
A visualização do fluxo de trabalho deve se limitar ao fluxo que ocorre na realidade, 
não ao que é virtualmente definido pela organização, pois diversas equipes definem seus 
próprios processos internos, divergindo do modelo determinado pela organização. Já a 
limitação do fluxo de trabalho torna necessário que estejam explícitos os itens de trabalho 
que compõem cada fase do processo, sendo um dos pontos-chave do método, pois é o 
responsável por tornar o kanban um sistema puxado (pull system), no qual a capacidade de 
produção é definida pela demanda40. 
Por fim, o acompanhamento e gerenciamento do fluxo de trabalho tem o objetivo de 
tornar evidentes os problemas, indicando adaptações e propondo formas de evitá-los ou 
resolvê-los. Para sua efetividade, é necessário uma política sólida de garantia de qualidade e 
acompanhamento contínuo da cadência de produção - ou elaboração das atividades - 
associada com um fluxo otimizado visando a produtividade41. 
 
36 MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre: Grupo A, 2015, p. 9. 
37 MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre: Grupo A, 2015, p. 274. 
38 FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e 
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em 
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020, 
p. 47. 
39BOEG, Jesper. Kanban em 10 passos. C4Media, 2010, p. 5. Disponível em: 
http://www.gianfratti.com/WP/wp-content/uploads/2018/04/InfoQBrasil-Kanban10Passos.pdf. Acesso em: 06 
Mar 2021. 
40 Ibidem. 
41 Ibidem. 
http://www.gianfratti.com/WP/wp-content/uploads/2018/04/InfoQBrasil-Kanban10Passos.pdf
14 
 
 
 
Diferentemente da metodologia Scrum, que possui reuniões constantes de 
acompanhamento, o kanban se baseia na disseminação da metodologia, onde todos os que 
participam do processo de produção conhecem a utilização da ferramenta e suas 
proposições42. 
Nessa metodologia não há a diferenciação entre papéis a serem desempenhados na 
equipe, como no método Scrum, tendo em vista que não há nenhum papel obrigatório entre 
os membros, e sim uma igualdade de importância, onde todos podem colaborar para uma 
melhoria do desenvolvimento do projeto43. 
Ambas metodologias aqui apresentadas possuem evidências de impactos positivos 
nas equipes ágeis, seja pela redução significativa no tempo despendido nas atividades em 
conjunto com a redução das despesas44, quanto em relação ao melhor alinhamento com 
prioridades e objetivos organizacionais45. 
 
3. DIFERENÇAS ENTRE AS ABORDAGENS TRADICIONAL E ÁGIL 
 
O modelo de Gestão Tradicional de Projetos (GTP) se trata de processo linear e 
prescritivo, baseado em um modelo hierárquico. Nesse cenário, a metodologia mais comum 
é o modelo de cascata46, no qual cada fase se inicia após o término da anterior47. 
As fases do modelo de cascata são apresentadas por Franco e envolvem a avaliação 
dos requisitos do projeto, a análise e a estruturação do cronograma para execução, com base 
no fluxo de dados e no orçamento48. A partir dessa estrutura, pensa-se no projeto mais 
detalhadamente, para então ter início sua execução, que, quando encerrada, o projeto será 
testado e entregue49. 
 
42 MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre: Grupo A, 2015. 
43 Ibidem. 
44 AZANHA, Adrialdo, Argoud, Ana Rita Tiradentes Terra; CAMARGO JÚNIOR, João Batista de; 
ANTONIOLLI, Pedro Domingos (2017). Agile project management with Scrum: A case study of a Brazilian 
pharmaceutical company IT project. International Journal of Managing Projects in Business, v. 10. n. 1, p. 
121–142, 2017, p. 138. 
45 IAMANDI, Oana; POPESCU, Sorin; DRAGOMIR, Mihai; MORARIU, Cristina. A critical analysis of 
project management models and its potential risks in software development. Quality Management. v. 16. n. 
149, p. 55-61, 2015, p. 60. 
46OLIVEIRA, Alex Miranda. Desenvolvimento de uma Metodologia de Gestão de Projetos Baseada num 
Modelo Híbrido. 2020. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Superior de 
Engenharia do Porto, Porto, 2020, p. 33. 
47 Ibidem, p. 34. 
48FRANCO, Eduardo Ferreira. Um modelo de gerenciamento de projetos baseado nas metodologias ágeis 
de desenvolvimento de software e nos princípios da produção enxuta. 2007. fl. 113. Dissertação (Mestrado 
em Sistemas Digitais) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 12. 
49 Ibidem p. 13 
15 
 
 
 
Nesse sentido, a partir de uma revisão bibliográfica sobre os métodos tradicionais e 
ágeis, Eder et al.50 apontam seis principais diferenças entre a abordagem tradicional e a ágil, 
quais sejam, a forma de elaboração do plano do projeto, a forma como se descreve o escopo 
do projeto, o nível de detalhe e padronização com que cada atividade do projeto é definida, 
o horizonte de planejamento das atividades da equipe de projeto, a estratégia utilizada para 
o controle do tempo do projeto e, por fim, a estratégia utilizada para a garantia do 
atingimento do escopo do projeto. 
A forma de elaboração do plano do projeto no gerenciamento tradicional se dá por 
meio do planejamento integral do projeto, com grande nível de detalhamento, o que 
ocasiona, por vezes, a necessidade de ser refeito em caso de erro. Por outro lado, nos métodos 
ágeis, os projetos são idealizados com menor grau de detalhe, sendo entregues aos clientes 
durante o processo, de maneira sucessiva, o que permite a flexibilidade e reformulação do 
processo de maneira dinâmica51. 
Assim, a diferença na elaboração do projeto impacta diretamente na forma como se 
descreve o escopo do projeto, sendo apresentada uma visão mais abrangente nos projetos 
gerenciados pelas metodologias ágeis, orientada para a resolução de problemas e usualmente 
com recursos visuais, enquanto nos projetos executados por meio de gerenciamento em 
cascata, o escopo do projeto é definido de maneira quase definitiva, em que há descrição 
minuciosa do produto final52. 
Diante disso, Oliveira apresenta que “o modelo cascata é indicado para projetos em 
que o modelo de negócios está bem definido, os requisitos são claros e o tempo de duração 
do projeto é curto”53, isso porque, no gerenciamento tradicional, a fase de testes é separada 
da construção do produto, enquanto no modelo ágil, o teste é concluído durante a construção 
do produto54. 
A terceira diferença entre as metodologias ágeis e a tradicional é a forma como são 
definidas as atividades, isso porque, no gerenciamento ágil as equipes se organizam por meio 
 
50 EDER, Samuel et al. Diferenciando as Abordagens Tradicional e Ágil de Gerenciamento de Projetos. 
Production, São Paulo , v. 25, n. 3, p. 482-497, jul./set. 2015, p. 490. 
51 EDER, Samuel et al. Diferenciando as Abordagens Tradicional e Ágil de Gerenciamento de Projetos. 
Production, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 482-497, jul./set. 2015, p. 493. 
52 Ibidem. 
53 OLIVEIRA, Alex Miranda. Desenvolvimento de uma Metodologia de Gestão de Projetos Baseada num 
ModeloHíbrido. 2020. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Superior de 
Engenharia do Porto, Porto, 2020, p. 36. 
54 Ibidem, p. 38. 
16 
 
 
 
de uma lista de atividades e tarefas, sem rigor de planejamento. Por outro lado, no 
gerenciamento tradicional, as tarefas são organizadas de forma hierárquica e sequencial55. 
A quarta diferença consiste no tempo de elaboração do cronograma de produção, 
visto que no gerenciamento tradicional, há a consideração do projeto como um todo, por 
vezes sem a participação do cliente ou da equipe de desenvolvimento, enquanto nas 
metodologias ágeis, o plano é estruturado por partes, em pequenos espaços de tempo, a partir 
da interação entre os membros da equipe e os clientes56. 
A quinta diferença se refere ao tempo do projeto e as mudanças ocorridas, pois, 
enquanto no método tradicional o objetivo é seguir o plano do projeto, com atenção aos 
relatórios de acompanhamento, avaliando seu progresso por meio de indicadores de tempo, 
custo e percentual de execução do projeto, nos métodos ágeis as mudanças necessárias são 
identificadas por meio de controle visual e reuniões diárias, sendo o progresso avaliado por 
meio de resultados tangíveis57. 
Por fim, as metodologias ágeis e tradicional, se diferenciam em relação ao controle 
do escopo do processo. Nos métodos ágeis, a verificação do progresso do projeto se dá por 
meio de prioridades apontadas pelo cliente e é registrada informalmente nas reuniões diárias. 
Já na gestão tradicional, o cliente não define as prioridades do projeto, ele recebe as 
informações por meio da empresa de desenvolvimento58. 
Dessa forma, Oliveira (2020) aponta como uma das desvantagens do modelo de 
cascata a impossibilidade de mudanças de requisitos, visto que esse é o primeiro passo do 
modelo, havendo alteração nos requisitos, seria necessária a reestruturação de todo o projeto. 
O que implica também em apontar que uma das desvantagens é seu processo sequencial, no 
qual apenas há início de uma fase quando a anterior for finalizada59. Por fim, o autor aponta 
que um erro simples pode acarretar em elevados custos, visto que só é identificável ao final 
do processo, quando da entrega do produto ao cliente. 
Nesse contexto de aversão à mudança e pouca flexibilidade, surgiram os métodos 
ágeis, focando na entrega ao cliente e no incremento do produto por fases, com base em 
transparência, alta flexibilidade e equipes auto-organizadas. Assim sendo, investiga-se sua 
 
55 EDER, Samuel et al . Diferenciando as Abordagens Tradicional e Ágil de Gerenciamento de Projetos. 
Production, São Paulo , v. 25, n. 3, p. 482-497, jul./set. 2015, p. 493. 
56 Ibidem, p. 494. 
57 Ibidem, p. 494. 
58 Ibidem, p. 494. 
59 OLIVEIRA, Alex Miranda. Desenvolvimento de uma Metodologia de Gestão de Projetos Baseada num 
Modelo Híbrido. 2020. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Superior de 
Engenharia do Porto, Porto, 2020, p. 36. 
17 
 
 
 
aplicabilidade aos escritórios de advocacia e possíveis benefícios decorrentes dessa 
implementação. 
 
4. APLICAÇÃO DOS MÉTODOS ÁGEIS EM ESCRITÓRIOS DE 
ADVOCACIA 
 
Em decorrência do avanço tecnológico e da Indústria 4.0, há uma mudança nos 
modelos de processos de produção e de negócios, exigindo um novo nível de 
desenvolvimento e gestão para as sociedades, empresariais ou de pessoas60. 
A Inteligência Artificial já é realidade em diversos setores e ganha cada vez mais 
espaço, sendo utilizada na esfera jurídica para pesquisas legais, gerenciamento de 
documentos, análises preditivas, contratos, entre outras atividades61, que há poucos anos 
eram exercidas por profissionais jurídicos. Assim, as tarefas e responsabilidades dos 
advogados estão sendo alteradas e adaptadas de acordo com as necessidades do mercado de 
trabalho, dos clientes e das ferramentas disponíveis. 
Desse modo, verifica-se que “é necessário que os profissionais da área jurídica se 
reinventem, aproveitando o movimento da Revolução 4.0 com vistas a oportunizar para a 
sociedade um serviço jurídico de alta qualidade”62. Motivo pelo qual, a investigação acerca 
das metodologias aplicáveis à produção intelectual e da prestação de serviço nos escritórios 
de advocacia se faz essencial. 
A partir das características dos métodos ágeis e suas diferenças em face dos métodos 
tradicionais, verifica-se que os métodos tradicionais de gestão de produção dominam o 
mercado jurídico, sendo esse o ponto crucial para a mudança na gestão dos escritórios, a fim 
de desenvolver um trabalho mais eficiente, mais focados no cliente, em prazos menores e 
com menos custos. 
Nesse sentido, usualmente, o fluxo de trabalho se dá com a divisão das tarefas e 
prazos entre as equipes ou setores do escritório, caso existam, ou diretamente entre os 
advogados. Dessa forma, cada um é responsável por seus prazos e tarefas e não 
necessariamente há coordenação com os demais membros da equipe ou do escritório, 
 
60 SANTOS, Beatrice Paiva; ALBERTO, Agostinho; , LIMA, Tânia Daniela Felgueiras Miranda; CHARRUA-
SANTOS; Fernando Manuel Bigares. INDÚSTRIA 4.0: DESAFIOS E OPORTUNIDADES. Revista 
Produção e Desenvolvimento, v. 4, n. 1, p. 111-124, 2018, p. 115. 
61 DAVIS, Anthony E. The Future of Law Firms (and Lawyers) in the Age of Artificial Intelligence. Revista 
Direito GV, v. 16, n. 1, Jan./Apr. 2020, p. 3. 
62 TREVISANUTO, Tatiene Martins Coelho. A Revolução 4.0 e os Impactos na Área Jurídica. Revista 
JurisFIB, v. 9, n. 1, Edição Especial 20 anos FIB, p. 183 -193, fev. 2018, p. 191. 
18 
 
 
 
havendo difusão de prioridades, e por sua vez, as tarefas são desenvolvidas dentro de um 
prazo maior. 
Todavia, com o avanço tecnológico e pressão por resultados, a partir da 
implementação de ferramentas digitais e de outras metodologias, abre-se espaço para uma 
revolução no mercado jurídico, especialmente dentro dos escritórios de advocacia, a fim de 
mudar a forma de trabalho dos advogados. 
Com a adoção dos métodos ágeis, as equipes devem priorizar as metas, desempenho 
de tempo, custos e funcionalidade para a determinação de quanto de agilidade seria 
necessário63. Nesse contexto, o Scrum é adaptável de acordo com as necessidades da 
organização, podendo ser adotado de maneira híbrida64, em conjunto com outras 
metodologias, especialmente, como propõe a presente pesquisa, com o kanban. 
Na aplicação da metodologia ágil nos escritórios de advocacia, deve-se indicar o 
product owner para representar a equipe, o scrum master, como coordenador dos prazos e 
tarefas, e os desenvolvedores - no caso, os advogados - para executarem as tarefas. Isso 
porque as equipes jurídicas precisarão ser planas, e não piramidais65, de modo que a equipe 
será estruturada de forma auto-organizável e dotada de autonomia para priorizar tarefas e 
definir como elas serão executadas. 
Igualmente, o uso adequado do método kanban nos escritórios de advocacia 
colaboram com o Scrum e possibilitam o aumento de agilidade nas produções, visto que há 
melhora na colaboração dos envolvidos nos processos, pois todos têm acesso ao andamento 
de todos os prazos, abrindo espaço para discussão de teses e estratégias, bem como traz 
transparência ao andamento do trabalho no escritório. A transparência no andamento das 
rotinas dentro do escritório e da execução de tarefas é essencial à produtividade, visto que 
evita trabalho redobrado, com constante questionamento acerca das tarefas, bem como troca 
de e-mails e relatórios pormenorizados. 
Diante desse cenário, com o compartilhamento de todas as informações acerca das 
tarefas e a autonomia das equipes, desenvolve-se internamente a colaboração, o que 
potencializa a eficiência da entrega de resultados aos clientes, uma vez que eles podem 
 
63LEE, Gwanhoo; XIA, Weidong. Toward Agile: An Integrated Analysis of Quantitative and Qualitative Field 
Data on Software Development Agility. MIS Quarterly, v. 34. n. 1, p. 87-114, 2010, p. 105. 
64 IAMANDI, Oana; POPESCU, Sorin; DRAGOMIR, Mihai; MORARIU, Cristina. A critical analysis of 
project management models and its potential risks in software development. Quality Management. v. 16. n. 
149, p. 55-61, 2015, p. 60. 
65 DAVIS, Anthony E. The Future of Law Firms (and Lawyers) in the Age of Artificial Intelligence. Revista 
Direito GV, v. 16, n. 1, Jan./Apr. 2020, p. 7. 
19 
 
 
 
participar ativamente do processo, elencando o que é mais importante e o que de fato possui 
interesse de receber de forma antecipada. 
Unindo as metodologias ágeis apresentadas nesta pesquisa, verifica-se que o quadro 
do kanban será o referencial para as reuniões diárias do Scrum, debatendo-se as prioridades 
e identificando as interrupções do fluxo de trabalho, em conjunto com toda a equipe. 
Conforme Gonçalves et al., apontam, as principais competências nas equipes ágeis são 
“conhecimento técnico especializado, conhecimento de métodos ágeis de projetos, 
comunicação, saber trabalhar em equipe, capacidade de execução, flexibilidade, liderança, 
colaboração e proatividade”66. 
Nesse sentido, os métodos ágeis estão sendo utilizados como inovações de processos, 
agregando valor ao trabalho executado no cotidiano das equipes67. Inclusive, deve-se 
destacar que o uso do Trello como instrumento de gerenciamento ágil de processos, aponta 
evidências na melhora de apresentação de resultados na área educacional68. 
Desse modo, verifica-se que as características da aplicação das metodologias ágeis 
são hígidas a melhorar o prazo e escopo dos projetos em decorrência de “fixação de metas 
compatíveis, auxílio de mudanças necessárias no projeto, comprometimento da equipe e 
facilitação de fluxo de trabalho”, bem como aumentar o grau de satisfação do cliente e da 
própria equipe69. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O presente artigo teve como objetivo principal mostrar a relevância da aplicação dos 
métodos ágeis nos escritórios de advocacia, em especial os métodos Scrum e kanban, os 
quais podem ser utilizados para apresentar uma maior efetividade na produção e 
desenvolvimento de trabalhos internos, inclusive trazendo uma maior satisfação do cliente 
para com seus advogados e os serviços prestados. 
 
66 GONÇALVES, Laila Cristina Couto; OLIVEIRA, Silvia Alves. Assumpção de; PACHECO, Jéssica 
Carvalho Amaral; SALUME, Paula Karina. Competências requeridas em equipes de projetos ágeis: um estudo 
de caso em uma Edtech. Revista de Gestão e Projetos. v. 11, n. 3, p. 72-93, set/dez. 2020, p. 90. 
67 ALVES, Eder Junios; BAX, Marcello Peixoto; GONÇALVES, Carlos Alberto. Métodos Ágeis sob a Ótica 
da Informação. Inf. Inf., Londrina, v. 22, n. 3, p. 178 – 210, set./out. 2017, p. 203. 
68 ISABELLA, Anderson de Ramada; SCAFUTO, Isabel Cristina. Implementação do Método Ágil com a 
Utilização da Plataforma Trello no Gerenciamento de Projetos Educacionais. Revista CESUMAR. v. 25, n. 1, 
p. 228-239, jan./jun., 2020. 
69 OLIVEIRA, Ricardo Lair Franco; PEDRON, Cristiane Drebes. Métodos Ágeis: Uma Revisão Sistemática 
sobre Benefícios e Limitações. Brazilian Journal of Development. v. 7. n. 1, p. 4520 - 4535, 2021, p. 4531. 
20 
 
 
 
A utilização do Scrum permite melhor organização e realização das tarefas dentro do 
prazo estabelecido, evitando desperdício de tempo a curto prazo, dentro do sprint, com a 
diminuição de reuniões não essenciais, havendo maior foco direcional nas prioridades do 
escritório, e, inclusive, diminuindo problemas diários em relação às inúmeras diligências que 
necessariamente são organizadas e cumpridas. 
 Por consequência, há economia de tempo a longo prazo e majoração na produção 
das peças processuais e produção de relatórios, em caso de consultorias, visto haver uma 
maior organização não somente de tempo, mas também no desenvolvimento do trabalho e 
de cada etapa até chegar no resultado final. 
A utilização do kanban permite melhor visualização de pendências e atividades 
desenvolvidas, garantindo o fluxo de informações para todos os colaboradores envolvidos 
nos processos, auxiliando na priorização de atividades e alocação de recursos nas etapas 
adequadas. 
Ambos os métodos, tanto o Scrum como o kanban são fundamentais para o melhor 
desenvolvimento do trabalho em equipe em razão de suas características essenciais. Dessa 
forma, entende-se que isso culmina na economia de tempo, pela organização da elaboração 
das tarefas e em razão do contínuo compartilhamento de informações - tanto nas reuniões 
diárias, quanto pela visualização das etapas da produção - isso porque, as tarefas são 
desenvolvidas de forma clara e objetiva para atender ao resultado final com o melhor 
desempenho. 
Portanto, tendo em vista se tratarem de metodologias flexíveis e dinâmicas, sua 
implementação se mostra adequada para a gestão dos escritórios de advocacia, pois permite 
melhor integração entre a equipe, em decorrência da visualização integral dos processos por 
todos, priorização de atividades intelectuais de alta relevância, o que melhora a 
produtividade e torna mais eficiente a entrega das tarefas, bem como melhora a prestação de 
serviços aos clientes. 
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Ágeis sob a Ótica da Informação. Inf. Inf., Londrina, v. 22, n. 3, p. 178 – 210, set./out. 2017. 
 
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23 
 
 
 
PROVA DOCUMENTAL E DIREITO DIGITAL: UMA ANÁLISE 
SOBRE A UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA BLOCKCHAIN 
 
Otávio Macedo Ronchi70 
1. INTRODUÇÃO 
 
É indiscutível que o avanço da tecnologia acarretou não só uma forma diferente de 
interação entre homem e máquina, mas, também, da relação interpessoal humana. Tendo-se 
esses avanços como norte, as relações interpessoais que, outrora eram apenas físicas, ou seja, 
no mundo real, passaram a ser, também, por meio eletrônico e em ambiente virtual. 
Com os avanços tecnológicos e a democratização da Internet, cada vez mais as 
pessoas têm deixado as tarefas simples e cotidianas, como ir ao mercado ou ao shopping, 
para fazê-las de forma virtual por sites ou por meio de APP’S71. Nesse ponto cabe a 
colocação do professor Tarcísio Teixeira72: 
 
Dentro deste contexto, vemos os meios eletrônicos, principalmente a internet, 
tornarem-se um instrumento frequente de negociações e relacionamentos 
(empresariais, governamentais, pessoais etc.). Logo, as ferramentas eletrônicas 
acabam servindo como meio de prova, como ocorre, por exemplo, quando se 
utiliza de sites de “redes sociais” para se provarem determinados aspectos da vida 
de uma pessoa, como posição financeira, postura ética, entre outras coisas. 
 
Os operadores do direito, que tentam fazer com que o direito resguarde direitos e 
acompanhe as relações humanas, passou a ter uma nova preocupação: como dar segurança 
e resguardar garantias nas relações em um ambiente intangível? 
Embora a migração de muitas atividades e ações para o meio virtual já fosse um 
movimento esperado, como a pandemia de COVID-19, que assola o mundo desde o final de 
2019, esta deu um salto gigantesco. Um reflexo dessa migração e o grande número de 
conflitos – comerciais, pessoais, entre outros – havidos por meio digital. 
Ambiente este, onde, algumas tecnologias, ainda são desconhecidas não só dos 
próprios detentores de direitos como por grande parcela dos operadores do direito. A 
 
70 Advogado. Especialista em Direito Digital e Proteção de Dados pela (EBRADI), LLM em Direito e Processo 
tributário (FMP). 
71Abreviação de Aplicação móvel, que é um software desenvolvido para ser instalado em um dispositivo 
eletrônico móvel – exemplo: celular, tablet, entre outros. 
72TEIXEIRA, Tarcísio. Direito digital e processo eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 249. 
24 
 
 
 
vanguarda do direito já vem discutindo as formas de tronar o direito mais próximo à 
tecnologia, a fim de que este resguarde também a relação em meio virtual. Contudo, a grande 
maioria dos juristas estão, apenas agora, se deparando com as novas tecnologias e suas 
implicações jurídicas. 
Com essa preocupação, este trabalho, de forma sucinta, tenta apresentar novas formas 
de se comprovar as ações/omissões ocorridas em um ambiente intangível e eletrônico. 
Inicializa-se o estudo com a conceitualização de prova, utilizando-se dos princípios 
constitucionais norteadores do direito como: o contraditório e a ampla defesa, a 
inafastabilidade da jurisdição, e a obtenção de provas com vedação a provas obtidas por 
meio ilícito, fazendo assim um abordagem da teoria geral da prova. 
Em um segundo momento, o autor passará a análise das provas em espécie, para ao 
final, depois de fazer uma concatenação lógica da prova no sistema constitucional e 
processual brasileiro, passar a análise da prova em meio eletrônico e as novas tecnologias 
para a sua validação e comprovação. Ao final da leitura, após o transcurso dessa cadeia 
lógica, o leitor terá, de forma objetiva, ferramentas para a detecção e aplicação das 
tecnologias que permeiam o mundo digital e suas aplicações no direito, especificam ante, no 
direito digital. 
2. TEORIA GERAL DA PROVA 
2.1 – Conceito de prova 
 
Prova é um instrumento jurídico pelo qual se demostra ao julgador, nos mais diversos 
procedimentos73, a ocorrência ou não de um fato, conforme apresentam Rennan Thamay e 
Maurício Tamer74: 
 
A prova é o instrumento jurídico vocacionado a demonstrar a ocorrência ou não 
de determinado fato, e, em caso positivo, delimitar todas as suas características e 
circunstâncias, respondendo não só à pergunta se o fato ocorreu ou não, mas como 
ocorreu e quais sujeitos estão a ele atrelados, ativa ou passivamente. Alguém, 
responsável por conferir a leitura jurídica sobre o fato, precisa saber se o fato 
ocorreu ou não e, se sim, todas as suas circunstâncias. 
 
 
73Procedimentos estes que podem ser: oficiais - processo judicial, procedimento arbitral, procedimentos 
oficiais administrativos (como o processo administrativo disciplinar - PAD), entre outros; como não oficiais - 
tratativas de acordo, investigações internas de empresas, entre outros. 
74THAMAY, Rennan Faria Krüger, TAMER, Maurício Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova 
digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 28. 
25 
 
 
 
A expressão “prova”, para Daniel Willian Granado, pode ser definida em dois 
significados: “[…] um objetivo, abrangente dos meios destinados a convencer o juiz dos 
fatos relativos ao processo; outro subjetivo, relativo à '‘convicção que as provas produzidas 
geram no espírito do juiz quanto à existência ou inexistência dos fatos’"75. 
A prova não apenas é um meio destinado a convencer alguém – entenda-se aqui não 
somente o Juiz/Estado, nos meios oficiais, como os mais diversosjulgadores nas diversas 
aplicações da prova, meios não oficiais – como também traz uma característica tríplice de 
meio, resultado e atividade, conforme ensina Arruda Alvim76: 
 
Há diversos conceitos jurídicos de prova, visto que a prova é, ao mesmo tempo, 
meio, resultado e atividade. Os meios de prova são os instrumentos pelos quais se 
busca demonstrar a verdade de determinados fatos. Assim, por exemplo, a prova 
testemunhal, a prova pericial e a prova documental. A prova como resultado destes 
meios, i.e., conduz à conclusão relativa à ocorrência ou não dos fatos objeto de 
prova. E a atividade probatória consiste na realização da prova em si, 
principalmente pelas partes e pelo juiz. 
 
Dentro do âmbito processual, tem-se que a natureza da prova é a de convencimento, 
nesse sentido nos ensinam Luis Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart77: 
 
Nessa perspectiva, se retorna à definição que já lançamos, e que parece refletir, 
razoavelmente, a natureza da prova como se pretende denotá-la: a prova, direito 
processual, é todo meio retórico, regulado pela lei, e dirigido dentro dos 
parâmetros fixados pelo direito e de critérios racionais, a convencer o Estado-juiz 
da validade das proposições, objeto de impugnação, feitas no processo. 
 
Assim, diante das mais diversas formas de definição e classificação apresentadas, 
podemos concluir, de forma breve e sucinta, com base nos ensinamentos de Rennan Faria 
Krüger Thamay e Maurício Antonio Tamer78, que a prova é a comprovação de um fato, que 
 
75ALVIM, Eduardo Arruda. GRANADO, Daniel Willian. FERREIRA, Eduardo Aranha. Direito processual 
civil. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 599. 
76ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria geral do processo e do processo de conhecimento. 
17. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: ed. RT, 2017, p. 830. 
77MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Prova e convicção, 5. ed., rev., atual, e ampl. São 
Paulo: Ed. RT, 2019. p. 68. 
78Nesse ponto, os autores trazem de forma mais eloquente e extensa o conceito depreendido nesse paragrafo, 
como se observa: “Os fatos ocorrem no respectivo plano, no plano fático. A eles cumpre dar a leitura jurídica 
devida a partir da construção normativa que deles se extrai. Os meios probatórios são os instrumentos por meio 
dos quais os fatos saem do plano puramente fático e adentram aos processos ou procedimentos. Deixam de ser 
puramente fatos para representar um acontecimento, dentro do processo ou procedimento, juridicamente apto 
a levar o destinatário ao convencimento sobre o interesse jurídico respectivo. Meios probatórios, são, assim, 
esses meios de transferência ou trans porte dos fatos de fora dos processos ou procedimentos para dentro. O 
que os diferencia e permite, por assim dizer, a categorização na expressão provas em espécie, é onde e como 
os fatos foram registrados e, por consequência, como se dará essa transferência para dentro dos processos e 
procedimentos. Assim, por exemplo, se o fato foi registrado na memória de alguém, a prova testemunhal será 
26 
 
 
 
aconteceu no plano fático, e que é, por intermédio de um registro – meios de prova, 
transportado ou transferido para dentro de um procedimento ou processo. 
 
2.2 – Princípios constitucionais norteadores da prova 
 
Após analisarmos o conceito de prova, passaremos a sua análise legal, começando 
pela sua estruturação constitucional. A Constituição da República Federativa do Brasil, que 
é a lei máxima do país, que é também a base fundante de todo ordenamento jurídico 
brasileiro, apresenta, em sua concepção, uma nítida proteção ao direito de prova79 como um 
dos elementos fundamentais para o efetivo gozo e proteção dos direitos individuais 
fundamentais. Antes do aprofundamento nos princípios em espécie, cabe trazer ao leitor a 
definição de princípio, a fim de que este tenha a real dimensão do tema a ser abordado neste 
ponto e a sua importância para o ordenamento jurídico. A definição trazida por Miguel 
Reale80 é: 
 
 
o meio probatório habilitado a levar tal fato para dentro do processo ou procedimento. Se o fato estiver 
registrado em determinado documento (compra e venda de imóvel, recibo de pagamento, certidão de 
nascimento ou óbito, postagem em mídia social, envio de e-mail etc.), a prova documental seria o meio apto. 
Se a transferência do fato para dentro do processo ou procedimento depender de sua tradução técnica 
especializada (digital, médica, de engenharia etc.), a prova pericial será o meio próprio.” (THAMAY, Rennan 
Faria Krüger, TAMER, Mauricio Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova digital, procedimentos 
e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 30 -31). 
79 Nesse ponto, sobre o direito constitucional à prova, interessante verificar o aprofundamento feito por José 
Roberto dos Santos Bedaque, que define: “Natureza constitucional do direito à prova. A premissa estabelecida 
no item anterior, além de compatível como escopo do processo, confere efetividade à garantia da ampla 
produção probatória, cuja natureza constitucional é incontroversa. O acesso efetivo à prova é direito 
fundamental, compreendido nas ideias de acesso à justiça, devido processo legal, contraditório e ampla defesa 
(art. 5.°, XXXV, LIV e LV da CF/1988). Assegurar o direito de ação, no plano constitucional, é garantir o 
acesso ao devido processo legal, ou seja, ao instrumento tal como concebido pela própria Constituição Federal. 
Entre os princípios inerentes ao processo, destacam-se o contraditório e a ampla defesa. Expressões diferentes 
para identificar o mesmo fenômeno: a necessidade de o sistema processual infraconstitucional assegurar às 
partes a possibilidade da mais ampla participação na formação do convencimento do juiz. Isso implica, 
evidentemente, a produção das provas destinadas à demonstração dos fatos controvertidos. Contraditório 
efetivo e defesa ampla compreendem o poder conferido à parte de se valer de todos os meios de prova possíveis 
e adequados à reconstrução dos fatos constitutivos, impeditivos, modificativos ou extintivos do direito 
afirmado. O direito à prova é componente inafastável do princípio do contraditório e do direito de defesa [...]. 
Necessário examiná-lo do ponto de vista da garantia constitucional ao instrumento adequado à solução das 
controvérsias, dotado de efetividade suficiente para assegurar ao titular de um interesse juridicamente protegido 
em sede material a tutela jurisdicional. Em última análise, o amplo acesso aos meios de prova constitui 
corolário natural dos direitos de ação e de defesa. Para que o processo possibilite real acesso à ordem jurídica 
juta, necessária a garantia da produção da prova, cujo titular é, em princípio, a parte, mas não exclusivamente 
ela, pois ao juiz, como sujeito interessado no contraditório efetivo e equilibrado e na justiça das decisões, 
também assiste o poder de determinar as provas necessárias à formação de seu convencimento.” (BEDAQUE, 
José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz, 7. ed., rev., atual. e ampl., São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2013, p. 25-27). 
80REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60. 
27 
 
 
 
Princípios são, pois verdades ou juízos fundamentais, que servem de alicerce ou 
de garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de 
conceitos relativos à dada porção da realidade. Às vezes também se denominam 
princípios certas proposições, que apesar de não serem evidentes ou resultantes de 
evidências, são assumidas como fundantes da validez de um sistema particular de 
conhecimentos, como seus pressupostos necessários. 
 
Complementando esse conceito, define Luís Roberto Barroso81: 
 
São o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição,

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