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E-BOOK_DIREITO À SAÚDE

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Organizadores: 
Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Lucas Lazzaretti 
Vanessa Rodrigues Pereira 
Fernanda Beal Pacheco 
Estefani Teixeira 
Ana Paula Adede y Castro 
 
 
 
 
 
DIREITO À SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 2021 
 
 
 
Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
Organizadores: 
Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler 
Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Lucas Lazzaretti 
Vanessa Rodrigues Pereira 
Fernanda Beal Pacheco 
Estefani Teixeira 
Ana Paula Adede y Castro 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10/1517 
 
 
 
 
 
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em 
trabalhos assinados, são de responsabilidade dos seus autores. 
 
Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul 
Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico 
 CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS 
D635 
Direito à saúde/. Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler, Lucas 
Lazzaretti...[et.al] (Organizadores). Porto Alegre: OABRS, 2021. 
p.154 
ISBN: 978-65-88371-14-5 
1. Direito. 2. Saúde. I Título 
CDU 368.42 
 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 
 
Presidente: Felipe Santa Cruz 
Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz 
Secretário-Geral: José Alberto Simonetti 
Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto 
 Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Ricardo Ferreira Breier 
Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães 
Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth 
Tesoureiro: André Luis Sonntag 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos 
Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten 
Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery 
Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Alexandre Lima Wunderlich 
Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira 
Jaqueline Mielke Silva 
Vera Maria Jacob de Fradera 
 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Mariana Melara Reis 
Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel 
Tesoureiro: Gustavo Juchem 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Cesar Souza 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha, 
Josana Rosolen Rivoli, 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
PREFÁCIO - Fabiana Azevedo da Cunha Barth ............................................................ 8 
APRESENTAÇÃO - Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler e Estéfani Luise 
Fernandes Teixeira .............................................................................................................. 9 
A LEI DAS VIDEOCHAMADAS SOB O ENFOQUE DA TERAPÊUTICA 
VOLTADA AO PACIENTE - Ana Paula Silva de Oliveira, Cláudia Helena Schmit 
Peres e Priscila Demari Baruffi ........................................................................................ 10 
MEDICAMENTO DE ALTO CUSTO PARA DOENÇA GENÉTICA RARA: 
QUANTO VALE A VIDA DE UM BEBÊ?- Cíntia Helena Zwetsch .......................... 21 
O DESCUMPRIMENTO DO ESTADO EM RELAÇÃO AO DIREITO À SAÚDE E A 
APLICABILIDADE DO JUDICIÁRIO NA DEMANDA POR MEDICAMENTOS ... - 
Emerson Rodrigues da Silva..............................................................................................30 
TESTAMENTO VITAL E O PROCURADOR DE SAÚDE - Érica da Silva Coelho 41 
PROMOÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL A SAÚDE PARA PACIENTES COM 
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA A PARTIR DA MEDICINA 
PERSONALIZADA - Estéfani Luise Fernandes Teixeira ............................................ 52 
OS BENEFÍCIOS DAS FERRAMENTAS DE DIÁLOGO APLICADAS NA 
MEDIAÇÃO PARA A ÁREA DA SAÚDE - Fernanda Beal Pacheco Ohlweiler e Júlia 
do Couto e Silva Freitas .................................................................................................... 65 
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A LIBERDADE DE ESCOLHA NA 
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE - Jarbas Paula de Souza Junior ........................... 73 
A HIPERVULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR IDOSO FRENTE 
PUBLICIDADE DE MEDICAMENTOS - Jovana De Cezaro ..................................... 83 
O CONSENTIMENTO DO PACIENTE NO DIREITO MÉDICO - 
Karla Schostack ................................................................................................................. 94 
 
 
TELEMEDICINA – A (R)EVOLUÇÃO TRAZIDA PELA PANDEMIA 
PROVOCADA PELO CORONA VIRUS - Kelly Paties Pereira de Andrade ........... 101 
O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA ODONTOLOGIA NA SAÚDE ESTÉTICA 
FACIAL - Leticia Voltz Alfaro ...................................................................................... 109 
O ROL DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR: TAXATIVO OU 
EXEMPLIFICATIVO?- Lucas Lazzaretti ................................................................... 119 
A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA E O ATUAL CENÁRIO 
NACIONAL DE PANDEMIA - Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler .. 125 
A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DO COMPLIANCE NA GESTÃO DE CONFLITOS 
DE INTERESSE EM HOSPITAIS - Melissa Daandels ............................................... 133 
A COLISÃO E A EFICÁCIA DE DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS 
DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: A OBRIGATORIEDADE DA 
VACINAÇÃO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - 
Roberto Vinícius Silva Saraiva e Aline Eggers ........................................................... 142 
POSFÁCIO - Germano Schwartz...................................................................................153 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
PREFÁCIO 
 
Honra-me apresentar a presente coletânea, cuidadosamente elaborada pela Comissão 
Especial de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Sul, abordando 
temas de interesse da advocacia nesta área, objeto de reflexões desta atuante e longeva Comissão. 
Todavia, ainda há outro motivo que uniu textos e autores no contexto desta obra coletiva, que é o 
fato de ter igualmente como propósito, para além de aprofundar debates técnicos, servir como espaço 
de reconhecimento ao primoroso e dedicado trabalho realizado pela Escola Superior de Advocacia 
da OAB/RS. 
Dessa forma, a leitura dos textos que se seguirão é altamente recomendável, seja por sua 
qualidade técnica, seja porque a partir desta ação estar-se-á, não apenas aprendendo sobre a área do 
conhecimento objeto de estudo e análise em cada artigo, mas verdadeiramente homenageando os 
trinta e seis anos de muitas páginas escritas motivadas pelo constante estímulo ao conhecimento, à 
produção intelectual e à reflexão coletiva propostos pela ESA/OABRS. 
Nesse sentido, na certeza de que esta singela e enxuta apresentação tenha estimulado 
os(as)leitores(as) a desbravar as próximas páginas, encerro desejando que a curiosidade pelo 
conteúdo da obra seja com brevidade plena mentesatisfeita e que a ESA/OABRS tenha vida longa, 
pois fundamenta ao aperfeiçoamento da advocacia e ao aprimoramento do ensino científico e 
técnico em nosso Estado e, diante de uma sociedade tecnológica que altera os limites territoriais, 
porque não dizer, do Brasil e do mundo. 
 
Fabiana Azevedo da Cunha Barth 
Secretária-Geral Adjunta da OABRS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Apresentar esta obra é um privilégio. Trata-se de oportuna coletânea de estudos sobre direito 
à saúde, idealizado pelos organizadores e articulistas da Comissão Especial da Saúde da Ordem dos 
Advogados do Rio Grande do Sul – OAB/RS. Os autores são estudiosos que se dedicam à reflexão 
sobre o direito à saúde, debruçando-se sobre temas relevantes e inquietantes, essenciais em tempos 
de pandemia, ocasionada pelo coronavírus, a requerer muitas pesquisas e estudos para informar e 
conscientizar a população. 
O presente e-book foi idealizado com a finalidade celebrar e os 36 anos da Escola Superior 
de Advocacia – ESA e homenagear a Dra. Rosângela Maria Herzer dos Santos, diretora da ESA, os 
quais foram dedicados aos estudos e à pesquisa em Direito. A trajetória acadêmica da homenageada 
compreende grande experiência na pesquisa acadêmica, advocacia e docência, sendo uma renomada 
profissional. 
A ESA foi fundada em 1985, por inciativa da OAB/RS, sendo a primeira de sua espécie, por 
força da Resolução n. 24/1985. O Presidente da OAB/RS à época, em reunião ordinária de 03 de 
setembro de 1985 do Egrégio Conselho Seccional, aprovou a criação da ESA com destinação a 
centralizar e coordenar – na condição de departamento cultural do conselho seccional – as atividades 
culturais, por meio de cursos, estudos, seminários, congressos, publicações e demais programações 
que visem à elevação do nível cultural dos advogados gaúchos. 
A Dra. Rosângela Maria Herzer dos Santos expressa a dedicação à ESA gaúcha, seja na 
docência ou na pesquisa, já que ela possui um currículo de extrema relevância acadêmica e jurídica. 
Conforme se observa destas páginas, a obra contempla estudos que atendem profissionais de diversas 
áreas, fomenta dúvidas, provoca inquietações e reflexões e, sobretudo, aponta caminhos. Nesse 
sentido, é uma preciosa contribuição para a comunidade, auxiliando na compreensão de temáticas 
atuais e por vir, sendo recomendada a leitura. 
Portanto, os organizadores, articulistas e a Comissão Especial da Saúde, em nome da 
presidente Dra. Mariana Diefenthäler, homenageiam a Escola Superior de Advocacia, pelos seus 36 
anos, e a Dra. Rosangela Maria Herzer dos Santos, por sua dedicação, trajetória, contribuição e 
ensinamentos à Ciência Jurídica brasileira, com votos de sucesso e agradecimento de: Mariana 
Polydoro de Albuquerque Diefenthäler, Estéfani Luise Fernandes Teixeira, Ana Paula Adede y 
Castro, Fernanda Beal Pacheco, Lucas Lazzaretti e Vanessa Rodrigues Pereira. 
 
Mariana Polydoro de Albuquerque Diefenthaler 
 Presidente da Comissão Especial da Saúde - CES-OAB/RS 
 
Estéfani Luise Fernandes Teixeira 
Membro da Comissão Especial de Educação e da Comissão Especial da Saúde da OAB/RS 
 
 
10 
 
A LEI DAS VIDEOCHAMADAS SOB O ENFOQUE DA 
TERAPÊUTICA VOLTADA AO PACIENTE 
 
Ana Paula Silva de Oliveira1 
Cláudia Helena Schmit Peres2 
Priscila Demari Baruffi3 
 
Resumo: Objetiva-se com o presente artigo, analisar-se a lei das videochamadas sob o 
enfoque da terapêutica voltada ao paciente, como o próprio título apresenta. É apresentado 
uma breve contextualização dos efeitos da pandemia causada pelo Sars-CoV-2, aliado ao 
avanço das doenças crônicas não transmissíveis pelo mundo como efeito do progresso 
científico que prolongou a vida daqueles acometidos por estas enfermidades. E, finalmente, 
abordar-se-á as controvérsias e evolução da utilização da lei das videochamadas. 
Palavras-chave: Covid-19. Internação. Cuidado. Paciente. Empatia. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Já restou claro após quase dois anos vivenciando os efeitos da síndrome respiratória 
causada pelo Sars – CoV-2, que a pandemia disseminada por ele e com efeitos avassaladores 
sobre toda a população mundial, foi um acelerador do futuro. Mas não apenas isso! Ela 
reacendeu discussões a respeito da morte e do morrer, dos direitos no fim de vida e dos 
cuidados centrados no paciente, grandes questões já há muito vistas pela Bioética e o 
Biodireito. 
Segundo Gawande (2015), durante a maior parte da história da humanidade, a morte 
era uma possibilidade comum, sempre presente, vivíamos em uma verdadeira roleta-russa, 
que com o decorrer dos anos e o advento do saneamento básico e outras medidas de saúde 
pública, reduziram-se drasticamente o risco da provável morte. 
Não obstante, na medida em que o risco da provável morte foi afastado pelo 
progresso científico, levando a um prolongamento na expectativa de vida e cura de algumas 
doenças consideravas ameaçadoras, o uso abusivo da tecnologia fez com que inúmeros e 
complexos dilemas éticos aparecessem. Como entende França (2021), a medicina curativa 
 
1Graduada em direito pela Universidade Luterana do Brasil- ULBRA, Especialista no Novo Direito Processual 
Civil Brasileiro pela Unisinos e Direito Tributário pela Anhanguera, inscrita na OAB/RS sob nº 58.586, email: 
apaula_oliveira@hotmail.com; 
2 Graduada em direito pela Pontifícia Universidade Católica do RGS- PUC/RS, Especialista em Direito Público 
pela Universidade Caxias do Sul – UCS, inscrita na OAB/RS sob nº 30.350, email: chs.peres@gmail.com 
3 Graduada em direito pela Universidade Caxias do Sul- UCS, Especialista em Bioética pela Universidade 
Caxias do Sul- UCS, email: priscila_baruffi@yahoo.com.br 
 
11 
 
tornou-se uma instituição, que má utilizada, pode nos levar a programação arbitrária de 
pessoas, controle abusivo da sociedade e domínio abjeto da natureza pela utilização do que 
se chama de “obstinação terapêutica” ou “terapêutica fútil”. 
É diante desse quadro que se apresenta uma morte longa e muitas vezes sofrida, fruto, 
na maioria das vezes, da obstinação terapêutica e da necessidade médica e de muitos 
familiares em manter seus pacientes internados a qualquer custo, mas também pelo fato de 
que, como em doenças já consideradas crônicas e altamente transmissíveis como a causada 
pelo Sars – CoV-2, não existe possibilidade de alta, cabendo ao médico não a cura, mas 
minorar o sofrimento do paciente, aliviar seu desconforto e oferecer condições dignas e 
respeitosas no fim de vida. 
Veremos neste trabalho, a partir de pesquisa realizada por meio de estudo de 
referencial biográfico, de que forma foi possível atender ao anseio da sociedade por levar 
àqueles pacientes acometidos da “doença do coronarívus 2019”, mas não apenas estes, a 
todos aqueles que se encontram em uma situação de extrema dor e fragilidade, um pouco de 
conforto, carinho e esperança. 
 
2 PRECISO DIZER QUE TE AMO 
 
A chegada de uma síndrome respiratória aguda grave causada pelo Sars-CoV-2 e que 
ficou conhecida como “doença do coronavírus 2019” ou covid-19 foi noticiada pela primeira 
vez em dezembro de 2019, tendo como origem a cidade de Wuhan, Província de Hubei, na 
China (CHAN et al., 2020). O vírus causador do covid-19 pode ser transmitido através de 
secreções de saliva, espirro, tosse, fala e contato com superfícies contaminadas. Ou seja, 
basta o contato próximo (menos de um metro de distância) com uma pessoa que esteja 
infectada para que possa ocorrer a transmissão (OPAS, 2021). 
Como o covid-19 possui alta transmissibilidade, foi necessário que os países colocassem em 
prática medidas sanitárias na tentativa de diminuir o caos instalado pela doença. Ocorreu o 
fechamento de escolas e universidades, proibição de eventos em massa e aglomerações, bem 
como restrições de viagens, por exemplo (AQUINO et al., 2020). 
O quadro clínico dos pacientes acometidospelo covid-19 varia de leve, moderado e 
grave (WIERSINGA et al., 2020). Cerca de 14% dos infectados evoluem para casos clínicos 
graves, apresentando dispnéia, envolvimento pulmonar acima de 50% e 5% evoluem para 
doença crítica com insuficiência respiratória, choque e/ou falência de múltiplos órgãos 
(MICHELIN et al., 2020). Além disso, estudos apontam que pelo menos 17% a 35% dos 
 
12 
 
pacientes adultos com covid-19 precisaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva 
(UTI) pela hipoxemia e insuficiência respiratória, e até 91% destes receberam ventilação 
mecânica (SAUERESSIG et al., 2020). 
Sabe-se que as emoções que os pacientes vivem durante a hospitalização podem interferir 
na sua recuperação, e isso, não é diferente com os internados por covid-19. De acordo com 
um estudo realizado por Rodrigues et al (2021), dentre os sentimentos mais evidentes entre 
os internados estão: humor depressivo, medo e a ansiedade. 
Enquanto os pacientes que apresentavam sintomas leves da doença realizavam o 
tratamento de forma isolada em suas residências, para os pacientes que inspiravam maiores 
cuidados e apresentavam situação clínica agravada foi necessário a hospitalização, 
permanecendo o paciente em leito isolado, mantendo contato apenas com os profissionais 
da saúde, visto que, as visitas hospitalares e a permanência de acompanhantes foram 
suspensas (NUNES et al., 2020). 
Os pacientes internados podem ser divididos em dois grupos de acordo com sua capacidade 
de comunicação, com base no quadro a seguir: 
 
 
Fonte: Crispim et al ([2020]). 
 
Devido a impossibilidade de visitas presenciais, surge a alternativa das visitas 
virtuais, que através da tecnologia pode conectar o paciente e seus familiares. Com tantas 
opções de contatos com o mundo externo, não há motivos para manter o paciente que já está 
isolado fisicamente sem receber nenhum contato com seus familiares (CRISPIM et al., 
[2020]). 
Apesar de o Conselho Federal de Medicina (CFM) ter elaborado o parecer de n. 14 
do ano de 2017, reconhecendo o WhatsApp como ferramenta de comunicação (até mesmo 
muito antes da pandemia ocorrer), não existia nenhuma lei que pudesse guiar os profissionais 
de saúde referente as videochamadas hospitalares, principalmente se tratando de internações 
de pacientes em UTI. 
Ou seja, como surgiu essa alternativa de contato entre paciente e seus familiares, mas 
 
13 
 
não existia nenhuma lei que a embase algumas cidades liberaram a prática através de leis 
municipais como São Paulo e Rio de Janeiro, mas mesmo assim, acabava dependendo de 
vários outros fatores para acontecer esse contato, afinal, não existia critérios legalmente 
constituídos. 
Dessa forma, iniciou-se uma campanha chamada “preciso dizer que te amo” 
encabeçada pela médica Ana Cláudia Arantes ([2021]) que buscava a aprovação de uma Lei 
Federal que tratasse das videochamadas hospitalares, através do Projeto de Lei (PL) n. 2136 
e sua consequente aprovação. 
O Projeto de Lei de autoria do Deputado Federal Célio Studart passou por uma 
votação simbólica e foi aprovada em 11 de agosto de 2021, seguindo para sanção do 
Presidente da República. 
Dentre os pontos mais importantes do antigo Projeto de Lei e agora Lei n. 14.198 
(Lei das Videochamadas) pode-se destacar: mínimo de uma chamada diária a pacientes 
internados; em caso de existir contraindicação para videochamada deverá ser justificada e 
anotada no prontuário médico; no caso de pacientes inconscientes, as videochamadas devem 
ser realizadas desde que previamente autorizadas pelo próprio paciente enquanto gozava da 
capacidade de se expressar de forma autônoma, ainda que oralmente ou por familiar. 
No mesmo mês que ocorria a tramitação do PL no Senado Federal, a média de mortes 
diárias no Brasil atingiu a marca de 777 óbitos, menor número do ano (PINHEIRO, 2021). 
 
3 CONTROVÉRSIAS E EVOLUÇÃO NA UTILIZAÇÃO DAS VIDEOCHAMADAS 
 
Com a realidade pandêmica, hospitais, casas de saúde e, principalmente, os 
profissionais da saúde passaram a vivenciar rotinas muito diferentes das anteriormente 
enfrentadas. 
As internações de pacientes acometidos pela covid-19 cresciam de forma 
exponencial ao mesmo tempo em que a necessidade de internação por outras patologias 
também persistia, gerando uma necessidade urgente de adequação a novas rotinas e práticas 
no cuidado médico e assistencial do paciente. Diante desse quadro de aumento no volume 
de internações e o alto grau de contágio do covid-19, a rotina mais impactada foi a visitação 
de familiares a todos os pacientes internados. 
Por outro lado, os profissionais de saúde que prestavam atendimentos vivenciavam uma 
rotina de cuidados intensivos e permanentes, além da necessidade de isolamento pelo alto 
 
14 
 
grau de contágio da doença que impossibilitava o contato com familiares para prestar 
informações sobre o quadro do paciente ou levar informações aos mesmos, gerando um 
afastamento e uma grave ansiedade para todos os envolvidos – familiares, pacientes e equipe 
médica. 
Diante desse contexto, as videochamadas eram a única forma de minimizar o 
afastamento do paciente e seu familiar, sempre com a certeza que esse contato era essencial 
para a recuperação da doença. Na busca da aproximação do paciente e seu familiar, as 
instituições de saúde se utilizaram de diversas práticas na lacuna da regulamentação. No 
Hospital Universitário Júlio Muller, no Estado do Mato Grosso, as videochamadas 
começaram a ser feitas de forma regular já no ano passado, com regras claras para o 
procedimento. 
 
Nosso primeiro paciente foi um paciente do Amazonas, e a videochamada foi 
essencial para mantermos a conexão dele com a família. Foi como colocar alguém 
que estava na chuva em um local quente. […] A gente percebe a diminuição da 
ansiedade dessas pessoas e até uma melhor adesão a procedimentos médicos. 
 
Relata o enfermeiro coordenador do hospital, Lennon Rodrigues Silva (CAMPOS, 
2021). Segundo a matéria, a instituição promove videochamadas até com pacientes sedados 
e em situações terminais, para que a família possa se despedir. No Hospital Bom Pastor de 
Igrejinha, Rio Grande do Sul, as videochamadas eram realizadas por uma psicóloga, de 
forma agendada e através de um tablet (SANDER, 2021). No Hospital Universitário de 
Londrina, as visitas virtuais eram realizadas por um setor de acolhimento formado por 
estagiários e voluntários (ORIKASA, 2021). 
Todavia, a utilização das videochamadas sem uma normatização trazia muita 
insegurança jurídica para as instituições de saúde e profissionais da área com a necessidade 
da preservação do sigilo e da privacidade dos pacientes, pois o paciente em leito de UTI não 
está com seu aparelho celular, como o paciente em leito de enfermaria ou apartamento. Além 
da questão da preservação da privacidade do paciente, havia a questão da autorização do 
paciente sem estado de consciência para realizar a videochamada. 
A normatização dessa prática se fazia necessário e urgente para a preservação dos 
direitos do paciente e seu familiar, uma vez que sua aplicação ficava a critério da instituição 
de saúde, muitas vezes gerando dúvidas éticas aos profissionais da saúde que não se sentiam 
seguros na aplicação das medidas adotadas. 
 
15 
 
Nesse período foram promulgadas leis municipais – Rio de Janeiro, São Paulo e 
Londrina e Resoluções de Conselhos Estaduais de Medicina, como o Conselho Regional de 
Medicina do Estado de São Paulo que trouxeram algumas regulamentações para a realização 
das videochamadas. 
Com o advento da Lei n. 14.198/21, aguarda-se uma maior efetividade da prática 
pelas instituições de saúde, tanto no cumprimento do direito segurado, quanto na extensão 
aos demais pacientes em situação de isolamento ou internação intensiva, uma vez que, 
segundo uma nota do governo federal sobre a lei. 
 
A iniciativa atende e respeita o princípio da dignidade da pessoa humana,previsto 
na Constituição Federal, permitindo que expressões de amor, afeto e apoio por 
parte de amigos e familiares propiciem benefícios diretos e indiretos a todos os 
envolvidos no tratamento, inclusive profissionais de saúde, com foco, 
principalmente, na recuperação do paciente, ainda que ele esteja inconsciente 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, GOVERNO FEDERAL, 2021.) 
 
Ainda não se pode sentir de forma concreta, dada sua promulgação ser muito recente, 
em 02 de setembro de 2021, e depender da operacionalização dos serviços de saúde, como 
dispõe o art. 3º da referida lei, mas, a toda evidência, já se tem uma vitória na concretização 
do direito do paciente e seu familiar. 
 
4 CONCLUSÃO 
 
É sob tal perspectiva que devemos entender que o foco no paciente sempre deverá 
ser o objetivo a permear qualquer ato médico, especialmente aqueles atos que farão parte de 
momentos de grande sofrimento da vida de um enfermo, ou daqueles que determinarão de 
que forma serão os últimos momentos de vida de um ser humano, o último acontecimento 
da nossa vida, a morte! 
Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial 
de Saúde, com dados que cobrem o período de 2000 a 2019, as Doenças Crônicas Não 
Transmissíveis (DCNT), são a causa principal de mortalidade e de incapacidade prematura 
no mundo, incluindo países do nosso continente e o Brasil. Destacam a necessidade urgente 
de intensificar a prevenção de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças 
respiratórias crônicas, conforme estabelecido na agenda dos objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável (ODS) da ONU. 
E diante desse quadro o que temos é uma morte longa e sofrida diante, na maioria 
 
16 
 
das vezes, da obstinação terapêutica e da necessidade médica e de muitos familiares em 
manter seus pacientes internados a qualquer custo, mas também pelo fato de que, como em 
doenças já consideradas crônicas e altamente transmissíveis como a causada pelo Sars – 
CoV-2, não existe possibilidade de alta, cabendo ao médico não a cura, mas minorar o 
sofrimento do paciente, aliviar seu desconforto e oferecer condições dignas e respeitosas no 
fim de vida. 
Para tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS), preconiza que a modalidade de 
tratamento, ou seja, a intervenção terapêutica deve ser focada não na doença, mas sim, na 
pessoa, que passa a ser vista e amparada em todas as dimensões do seu sofrimento, que vão 
desde os efeitos colaterais dos tratamentos ditos curativos até os desejos do paciente em fim 
de vida, os cuidados paliativos. 
O primeiro conceito de cuidados paliativos foi dado em 1990 pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS), atualizado em 2002, e mais recentemente em 2017 quando afirma 
tratar-se de: 
 
Uma abordagem de melhora da qualidade de vida dos pacientes (adultos e 
crianças) e de seus familiares, que enfrentam problemas associados a doenças que 
ameaçam a vida. Previne e alivia sofrimento por meio da investigação precoce, 
avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas ‘físicos, psicossociais 
ou espirituais’. 
 
Dito isso, os cuidados paliativos são aqueles que objetivam garantir ao paciente 
qualidade de vida até o momento de sua morte, assegurando que ela ocorra de forma digna, 
com cuidados e buscando o menor sofrimento possível. É nesse cenário que se perpetuam 
os maiores conflitos segundo França (2021), levando-se em conta os princípios antagônicos 
de preservação da vida e do alívio do sofrimento, sendo uma das tarefas da Bioética o 
estabelecimento e articulação entre seus princípios fundamentais, como forma de resolver o 
conflito. 
O Direito dos Pacientes baseia-se em normas de direitos Humanos, que se aplicam a 
qualquer pessoa, independentemente de sua condição ou tipo de relação com os serviços ou 
os profissionais de saúde (ALBUQUERQUE, 2020, p. 33). Dentre os Direitos Humanos do 
Paciente, temos: direito à vida; direito à privacidade, direito a não ser discriminado; direito 
à informação, direito à saúde e remédios (jurídicos efetivos) e de onde derivam os Direitos 
do Paciente, quais sejam: cuidados em saúde de qualidade e seguro; autodeterminação e 
confidencialidade de dados pessoais; não ser discriminado; direito à informação sobre sua 
 
17 
 
condição de saúde e acesso ao prontuário, cuidados em saúde com qualidade e segurança, 
apresentar queixa e reparação (ALBUQUERQUE, 2020, p. 25) 
Mais do que nunca é preciso dar voz ativa ao cuidado centrado no paciente, no intuito 
de reforçar a parceria que deve existir entre médicos, pacientes e suas famílias, na promoção 
do respeito, do bem-estar, do cuidado, e do cuidado com o espírito, para que a partir daí 
sejam respeitados dois dos principais princípios da bioética, quais sejam: a) princípio da 
beneficência, que representa a obrigação moral do pesquisador e do profissional da saúde de 
buscar o bem-estar do paciente maximizando os benefícios de uma conduta ou procedimento 
médico e minimizando o prejuízo, e; b) princípio da justiça, o qual deve ser entendido como 
um critério de imparcialidade e equidade, garantindo a cada paciente, de forma individual e 
humanizada, o tratamento e o cuidado de que necessite (SIQUEIRA, 2008). 
Segundo Albuquerque (2012), a empatia passou a ser considerada uma capacidade 
fundamental na esfera dos cuidados em saúde, uma vez que há um movimento global no 
sentido de pensar a Medicina sob uma perspectiva humanista, como forma de reaproximar o 
profissional da saúde, o paciente e sua família, integrando a empatia implícita ou 
explicitamente em seu arcabouço teórico. 
 
Define-se, então, a empatia e a conexão humana como fatores determinantes da 
condição de saúde do paciente. Com efeito esses estudos lançaram luz sobre o fato 
de que o relacionamento profissional de saúde-paciente é o coração dos cuidados 
em saúde. 
 
Assim, concluindo que o paciente é um ser multifatorial e possui dores que não são 
apenas físicas e ultrapassam sua dimensão biológica, é através do humanismo, dos cuidados 
paliativos e da saúde centrada no paciente, que a Lei n.º 14.198 (Lei das Videochamadas), 
deve ter seu enfoque e aplicabilidade, de forma a possibilitar a presença da família junto ao 
paciente favorecendo a efetividade desta relação de humanidade, bem-estar e segurança. 
 
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21 
 
MEDICAMENTO DE ALTO CUSTO PARA DOENÇA GENÉTICA 
RARA: QUANTO VALE A VIDA DE UM BEBÊ? 
 
Cíntia Helena Zwetsch1 
 
Resumo: O aumento na judicialização de demandas de saúde que versam sobre a concessão, 
pelo Poder Público, de medicamento para terapia gênica em pacientes bebês com doença 
genética rara tem gerado um acirrado debate envolvendo dois relevantes princípios 
constitucionais: mínimo existencial e reserva do possível. A busca por uma chance de 
salvaguardar a vida, a saúde e a dignidade humana dos pacientes com atrofia muscular 
espinhal (AME) tem como obstáculo um valor consideravelmente astronômico: cerca de 12 
milhões de reais. Levando-se em conta os direitos, valores e princípios envolvidos, o que 
deverá preponderar? 
 
Palavras-chave: Atrofia muscular espinhal. Direitos fundamentais. Princípios 
constitucionais. Mínimo existencial. Reserva do possível. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o direito à saúde foi alçado ao 
status de direito social fundamental. A Carta Magna inovou ao dispor expressamente, em 
seu artigo 196, que a saúde é direito de todos e dever do Estado, bem como ao instituir, no 
artigo 198, o Sistema Único de Saúde (SUS), que tem por objetivo oferecer serviços de saúde 
gratuitos e de qualidade a toda população brasileira. 
Ao passo que as necessidades humanas são ilimitadas, as possibilidades financeiras 
do Estado são insuficientes para atendê-las em sua plenitude. Essa escassez de recursos 
consubstancia a teoria da reserva do possível. Já o princípio do mínimo existencial tem como 
fundamento a necessária (e obrigatória) garantia das prestações positivas mais básicas às 
pessoas, que assegurem a sua integridade. 
Conforme entendimento já firmado pela jurisprudência do STF, o princípio da 
reserva do possível não poderá ser invocado pelo Poder Público sempre que inviabilizar/ 
comprometer a concretização/ efetivação dos direitos essenciais dos cidadãos (mínimo 
existencial), especialmente no que tange ao direito à vida e à saúde, este que é decorrente do 
princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
1 Advogada. OAB/RS 60.544. Pós-graduada - LL-M em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas - 
FGV. Pós-graduanda em Direito Médico e da Saúde pela Ulbra. E-mail: cintia.zwetsch@gmail.com. 
 
22 
 
Especificamente no caso dos bebês portadores de AME (atrofia muscular espinhal) 
Tipo1, cujo medicamento que busca corrigir o raro defeito genético possui um custo 
extremamente elevado, a relevante e desafiadora questão que surge instantaneamente é: 
como harmonizar os princípios constitucionais em conflito? 
 
2 CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
CONSTITUCIONAIS ENVOLVIDOS 
 
A Constituição Cidadã de 19882, ao dispor sobre os direitos e garantias fundamentais, 
bem como os direitos sociais, assim determina expressamente: 
 
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes: [...]. 
Art. 6.º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. 
 
Mais adiante em sua redação, ao tratar da Ordem Social, a Lei Maior3 estabelece que: 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos 
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção 
e recuperação. 
 
Os dispositivos legais acima transcritos têm por intuito assegurar direitos básicos, 
inerentes à condição humana, fundamentais para a manutenção da vida e pleno 
desenvolvimento de todos os cidadãos brasileiros. 
A saúde, que tempos atrás era tida como sinônimo de ausência de doença e enfermidade, 
teve seu conceito bastante ampliado, sendo modernamente compreendida como um estado 
de completo bem-estar físico, mental, emocional, social e espiritual. Isso porque a saúde 
passou a ser analisada em suas dimensões subjetivas, também chamadas de biopsicossociais, 
sendo parte importante ainda a busca e preservação da qualidade de vida das pessoas. 
 
2BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 out. 2021. 
3BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 out. 2021. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
 
23 
 
A atrofia muscular espinhal (AME), presente na Classificação Estatística 
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) com o código G.12.0 
(atrofia muscular espinal infantil tipo 1 – Werdnig-Hoffman)4, trata-se de uma doença 
neurodegenerativa progressiva rara e irreversível, ocasionada pela ausência ou defeito no 
gene que produz a proteína (denominada SMN1) que protege os neurônios motores 
responsáveis por levar o impulso nervoso da coluna vertebral para os músculos. Sem essa 
proteína, os neurônios morrem e os impulsos não chegam, o que provoca uma perda 
progressiva da função muscular e as consequentes atrofia e paralisação dos músculos, 
afetando a respiração (trazendo sérios riscos de infecções respiratórias que não raramente 
evoluem para uma pneumonia), a deglutição, a fala e a capacidade de andar do bebê. 
Atualmente, existem no mercado dois medicamentos produzidos por grandes 
empresas farmacêuticas para tratar da doença, ambos devidamente registrados perante a 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 
O primeiro, nominado SPINRAZA®, cujo princípio ativo é a nusinersena, foi 
aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) e 
atualmente é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, desde que 
atendidos os protocolos exigidos 5. O fármaco – de uso contínuo – consiste no recebimento 
de 06 (seis) infusões intravenosas no primeiro ano de vida do paciente e 03 (três) doses por 
ano até o fim da vida – o que não exclui a necessidade de uso de suporte ventilatório e 
eventuais intercorrências que demandem a necessidade de internação hospitalar, inclusive 
em âmbito de unidade de terapia intensiva (UTI). 
O segundo, aplicado em dose única – de preferência até os 02 (dois) anos de idade 
do bebê, para maior eficácia no tratamento –, corrige o defeito na base e dispensa 
manutenção. A este pequeno milagre da ciência denominou-se ZOLGENSMA®. 
Referido fármaco, cujo princípio ativo é o onasemnogeno abeparvoveque, insere 
material genético modificado no organismo, fornecendo uma cópia funcional do gene SMN1 
para deter a progressão da doença. Em outras palavras, repõe a função nervosa do(a) paciente 
acometido(a) pela atrofia muscular espinhal. 
 
4PEBMED. G12 – Atrofia Muscular Espinal e Síndromes Correlatas. [S.l., 20--]. Disponível em: 
https://pebmed.com.br/cid10/g12-atrofia-muscular-espinal-e-sindromes-correlatas/.Acesso em: 24 out. 2021. 
5INSTITUTO NACIONAL DA ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL (INAME). Pelo SUS, benefícios e 
outros. [S.l., 20--]. Disponível em: https://iname.org.br/vivendo-com-ame/beneficios/. Acesso em: 24 out. 
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https://pebmed.com.br/cid10/g12-atrofia-muscular-espinal-e-sindromes-correlatas/
https://iname.org.br/vivendo-com-ame/beneficios/
 
24 
 
Como dito anteriormente, a terapia genética pioneira realizada com o 
ZOLGENSMA® ainda não foi adotada pelo SUS, pendendo de avaliação na Câmara de 
Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)6 quanto a comprovação de sua eficácia. 
Razão pela qual as famílias dos bebês acometidos pela AME tem buscado judicialmente a 
complementação, pelo Estado, do valor necessário para receber a sua “dose de vida”. Isso 
porque, tão logo o diagnóstico é informado, se inicia uma verdadeira corrida contra o tempo 
na busca da cura para essa doença letal e para angariar valores para custear o medicamento 
de valor astronômico. 
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), através do Tema 1067 (definido quando do 
julgamento do repetitivo REsp n.º 1.657.156), estabeleceu regras para o deferimento de 
remédios não integrados pelo SUS. Vejamos: 
 
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS 
exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i) comprovação, por meio 
de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste 
o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como 
da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; 
(ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; (iii) 
existência de registro na ANVISA do medicamento. 
 
Aplica-se ao caso ainda o Tema 7938 do Supremo Tribunal Federal (fixado por 
ocasião do julgamento em sede de repercussão geral do RE n.º 855.178), o qual determina 
que 
 
Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente 
responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios 
constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade 
judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de 
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro. 
 
Razão pela qual as demandas envolvendo a concessão do medicamento mais caro do 
mundo, via de regra, estão sendo ajuizadas perante a Justiça Federal dos Estados. 
 
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https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/
https://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=106&cod_tema_final=106
https://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=106&cod_tema_final=106
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4678356
 
25 
 
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STP 803)9 debruçou-se sobre o tema e exarou 
acórdão paradigmático ao determinar a entrega do medicamento ZOLGENSMA® a uma 
criança de 03 (três) anos de idade da cidade de São Paulo, portadora de AME. 
Colacionamos importante trecho do leading case, da lavra do Ministro Luiz Fux: 
 
Nesse sentido, tratando o caso dos autos de medicamento órfão para doença rara, 
os requisitos da tese vinculante formada por esta Corte parecem estar atendidos. 
Ademais, merecem relevância os relatórios dos profissionais médicos que 
acompanham a criança, os quais corroboram a necessidade de prescrição do 
medicamento, inclusive considerando as condições de idade e de peso da 
interessada, para, de forma segura e eficaz, minimizar os efeitos da doença que 
sofre. 
Ademais, não se deve olvidar que a ordem constitucional vigente, em seu artigo 
196, consagra o direito à saúde como dever do Estado, que deverá, por meio de 
políticas sociais e econômicas, propiciar aos necessitados tratamentos eficazes, 
capazes de lhes garantir maior dignidade e menor sofrimento. Deveras, na 
complexa ponderação entre, de um lado, os importantes argumentos de ordem 
financeira, e, de outro, a concretização do direito de acesso à saúde, não se pode 
desconsiderar a relevância do direito à vida, para cuja garantia devem todos os 
cidadãos ser incentivados a cooperar. Eis a máxima da justiça social preconizada 
pela Constituição de 1988, calcada nos valores de solidariedade tão caros à 
sociedade brasileira. 
 
Ao tratar sobre os limites oponíveis à realização dos direitos fundamentais de cunho 
prestacional, Novelino10 assim leciona sobre o princípio da reserva do possível: 
 
A existência de disponibilidade fática dos recursos para a efetivação dos direitos 
fundamentais é um dos aspectos mais controvertidos. A limitação e escassez dos 
recursos materiais disponíveis para o atendimento das infindáveis demandas 
sociais condicionam, em certa medida, a realização das prestações impostas pelos 
direitos sociais ao volume de recursos susceptível de ser mobilizado pelos poderes 
públicos. A onerosidade da implantação dos direitos sociais acaba por condicionar 
o seu processo de concretização às possibilidades financeiras e orçamentárias do 
Estado, já que alguns consistem em prestações pecuniárias, enquanto outros 
implicam em despesas de diversos tipos (e.g., saúde e educação). Dentre as várias 
questões que podem ser suscitadas, pergunta-se: qual o critério a ser utilizado para 
esta análise? A disponibilidade orçamentária para atender àquela demanda 
específica ou a todas as situações similares a ela? O atendimento deve ser para 
todos ou apenas para aqueles que realmente não têm como arcar com os custos? 
 
Relativamente ao preceito do mínimo existencial, Novelino11 assevera que, 
“deduzido a partir dos princípios da dignidade da pessoa humana, da liberdade material e do 
 
9BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Presidência. Suspensão de Tutela Provisória n. 803. Relator: Ministro 
Luiz Fux. Julgado em: Brasília, 17 jul. 2020. Disponível em: 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6220257. Acesso em: 24 out. 2021. 
10NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 481-482. 
11NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 483. 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6220257
 
26 
 
Estado Social, o termo designa um conjunto de bens e utilidades básicas imprescindíveis a 
uma vida humana digna.” 
A Lei n.º 8.069/9012, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 
determina o quanto segue: 
 
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, 
assegurando-se-lhes,por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, 
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder 
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, 
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária. 
 
Por tudo quanto exposto, inequivocamente estamos diante de um conflito entre os 
princípios do mínimo existencial e da reserva do possível, os quais possuem a mesma 
envergadura constitucional. Há de se levar em conta ainda os direitos fundamentais à vida, 
à saúde e àquele que é o cerne do ordenamento jurídico pátrio: a dignidade da pessoa 
humana, elevada ao status de fundamento da República Federativa do Brasil. 
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Todos os direitos fundamentais previstos em nossa Carta Magna – individuais, 
sociais, políticos, culturais, econômicos, ambientais – possuem a mesma escala de 
importância, pelo que não há de se falar em direito absoluto ou inquestionável. Em existindo 
colidência entre um ou mais princípios e valores, o julgador terá que adotar os critérios da 
ponderação, da razoabilidade, da adequação e da proporcionalidade na análise do caso 
concreto. 
Nas palavras Mendes, Coelho e Branco,13 
 
O exercício da ponderação é sensível à ideia de que, no sistema constitucional, 
embora todas as normas tenham o mesmo status hierárquico, os princípios 
constitucionais podem ter “pesos abstratos” diversos. Mas esse peso abstrato é 
apenas um dos fatores a ser ponderado. Há de se levar em conta, igualmente, o 
 
12BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá 
outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. 
Acesso em: 24 out. 2021. 
13MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de 
direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 285-286. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
 
27 
 
grau de interferência sobre o direito preterido que a escolha do outro pode 
ocasionar. Por fim, a ponderação deve ter presente a própria confiabilidade das 
premissas empíricas em que se escoram os argumentos sobre o significado da 
solução proposta para os direitos em colisão. 
 
Sopesando todos os aspectos envolvidos na questão posta, nos parece evidente que o 
direito à vida deverá prevalecer sempre. Alcançar um medicamento de alto custo a um bebê 
portador de doença neurodegenerativa equivale a investir em seu futuro, dando a ele a 
oportunidade de crescer, se desenvolver e, quiçá, ter uma vida plena na idade adulta. 
Embora os estudos acerca da AME ainda sejam incipientes, é sabido que as crianças 
que estão recebendo aplicação da terapia gênica com o medicamento ZOLGENSMA® tem 
respondido adequadamente ao tratamento, que possui prognóstico bastante promissor. Por 
certo que durante um bom tempo seguirão com acompanhamento médico (pediatra, 
geneticista, neurologista, pneumologista) e equipe multiprofissional (fisioterapeuta 
respiratória e motora, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, entre outros) mas, embora ainda 
exista o risco de óbito, a esperança de dias melhores e na melhor recuperação possível graças 
aos benefícios clínicos do fármaco faz com que o pensamento acerca dessa possibilidade se 
dissipe instantaneamente. 
O preço proibitivo do medicamento, assim considerado até mesmo nos países ricos 
– USD 2.125.000,000 (dois milhões cento e vinte e cinco mil dólares), faz com que a 
judicialização para fornecimento do remédio pelo Poder Público seja a única alternativa 
viável para a aplicação de sua dose única. 
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n.º 1.531/21, 
proposta pelo deputado Guilherme Mussi, que visa garantir à pessoa com atrofia muscular 
espinhal o direito de receber a terapia gênica sem custo, via Sistema Único de Saúde14. 
Importante consignar que o custo extremamente elevado do ZOLGENSMA® se dá em razão 
de sua condição de medicamento órfão, ou seja, é dirigido ao tratamento de doença rara, cuja 
comercialização não se dará em grandes proporções. Diante dessa limitação de mercado 
(poucos pacientes com a doença), em regra as grandes farmacêuticas não possuem interesse 
em desenvolver pesquisas extremamente caras para introduzir um remédio no mercado cujo 
vultoso investimento financeiro dificilmente será recuperado com as vendas. 
 
14NOBRE, Noéli. Projeto garante tratamento de atrofia muscular espinhal no SUS. Agência Câmara de 
Notícias, Brasília, 10 jun. 2021. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-
tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/. Acesso em: 24 out. 2021. 
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/
 
28 
 
Em um mundo de valores muitas vezes distorcidos e corrompidos, em que a 
sociedade de tantas formas privilegia o TER em detrimento do SER, decisões como a do 
Supremo Tribunal Federal antes mencionada – a qual prioriza, de forma clara e expressa, o 
investimento na vida, na saúde e no bem-estar de uma criança –, trazem alento e confiança 
em um futuro melhor não apenas para os portadores de AME, mas para toda a humanidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 out. 
2021. 
 
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Primeira Seção. Tema Repetitivo n. 106. Relatoria: 
Ministro Benedito Gonçalves. Julgado em: Brasília, 03 maio 2018. Publicado em: Brasília, 
04 maio 2018. Disponível em: 
https://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&ti
po_pesquisa=T&cod_tema_inicial=106&cod_tema_final=106. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário. Repercussão Geral em Recurso 
Extraordinário n. 855178 – Tema 793. Relatoria: Ministro Luiz Fux. Julgado em: Brasília, 
23 maio 2019. Disponível em: 
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4678356. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Presidência. Suspensão de Tutela Provisória n. 803. 
Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em: Brasília, 17 jul. 2020. Disponível em: 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6220257. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
INSTITUTO NACIONAL DA ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL (INAME). Pelo SUS, 
benefícios e outros. [S.l., 20--]. Disponível em: https://iname.org.br/vivendo-com-
ame/beneficios/. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo 
Gonet. Curso de direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 
 
NOBRE, Noéli. Projeto garante tratamento de atrofia muscular espinhal no SUS. Agência 
Câmara de Notícias, Brasília, 10 jun. 2021. Disponível em: 
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-
muscular-espinhal-no-sus/. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 
2017. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htmhttps://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=106&cod_tema_final=106
https://processo.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=106&cod_tema_final=106
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4678356
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6220257
https://iname.org.br/vivendo-com-ame/beneficios/
https://iname.org.br/vivendo-com-ame/beneficios/
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/
https://www.camara.leg.br/noticias/766448-projeto-garante-tratamento-de-atrofia-muscular-espinhal-no-sus/
 
29 
 
 
PEBMED. G12 – Atrofia Muscular Espinal e Síndromes Correlatas. [S.l., 20--]. 
Disponível em: https://pebmed.com.br/cid10/g12-atrofia-muscular-espinal-e-sindromes-
correlatas/. Acesso em: 24 out. 2021. 
 
SOARES, Raquel Cavalcante. A contrarreforma na política de saúde e o sus hoje: 
impactos e demandas ao serviço social. 2010. 210f. Tese (Doutorado em Serviço Social) - 
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. 
 
VENTURA, Miriam et al. Judicialização da saúde, acesso à justiça e a efetividade do direito 
à saúde. Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 20, n.01, p. 77-100, 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://pebmed.com.br/cid10/g12-atrofia-muscular-espinal-e-sindromes-correlatas/
https://pebmed.com.br/cid10/g12-atrofia-muscular-espinal-e-sindromes-correlatas/
 
30 
 
O DESCUMPRIMENTO DO ESTADO EM RELAÇÃO AO DIREITO 
À SAÚDE E A APLICABILIDADE DO JUDICIÁRIO NA DEMANDA 
POR MEDICAMENTOS 
 
 Emerson Rodrigues da Silva 1 
 
 
Resumo: A saúde é um direito universal respaldado pela Constituição Federal de 1988, na 
qual encontra-se inserida na órbita dos direitos sociais, tendo como pilar a dignidade 
humana. Infelizmente, mesmo após o pacto constitucional e a criação do Sistema Único de 
Saúde, que buscou através de uma rede organizada e regionalizada atender a população com 
maior eficiência, o Estado com dever prestacional de saúde, declinou-se dessa 
responsabilidade, terceirizando serviços, retirando controle dos Conselhos e Conferências 
de Saúde e sucateando o SUS, gerando um acumulo de incontáveis processos na esfera 
judicial em que os cidadãos buscam por medicamentos e tratamentos. Assim, o presente 
artigo tem como objetivo analisar o direito à saúde como corolário do princípio da dignidade 
da pessoa humana, abordando o dever do Estado na garantia dos direitos fundamentais, 
verificando a precariedade do Sistema Único de Saúde como fruto do descumprimento do 
pacto constitucional e, por fim, averiguar a necessidade da judicialização por busca de 
medicamentos. Quanto à metodologia, foi aplicada a técnica de pesquisa bibliográfica, 
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e 
artigos científicos a fim de conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes 
sobre o assunto, em especial, foram utilizadas como fonte de dados a legislação, a doutrina 
(composta pelos livros, artigos científicos e demais trabalhos acadêmicos, bem como outros 
materiais já publicados a respeito do tema) e a jurisprudência pátria. Concluindo-se que a 
resolução desta problemática seria a retomada do Estado ao seu posto de garantidor de 
direitos, melhorando e ampliando a rede de saúde, para que toda população brasileira possa 
efetivamente ter uma saúde e vida plena. 
 
Palavras-chave: Saúde. Estado. Poder Judiciário. 
 
ABSTRACT: Health is a universal right supported by the Federal Constitution of 1988, in 
which it is inserted in the orbit of social rights, with human dignity as a pillar. Unfortunately, 
even after the constitutional pact and the creation of the Unified Health System, which 
sought to serve the population more efficiently through an organized and regionalized 
network, the State with a duty to provide health care, declined this responsibility, 
outsourcing services, removing control of Health Councils and Conferences and scrapping 
the SUS, generating an accumulation of countless lawsuits in the judicial sphere in which 
citizens seek medicines and treatments. Thus, this article aims to analyze the right to health 
as a corollary of the principle of human dignity, addressing the State's duty to guarantee 
fundamental rights, verifying the precariousness of the Unified Health System as a result of 
 
1 Advogado pós graduando em Direito Médico e da Saúde – Bagé/RS. 
 
31 
 
non-compliance with the constitutional pact and , finally, to investigate the need for 
judicialization for drug search. As for the methodology, the bibliographic research technique 
was applied, developed based on already prepared material, consisting mainly of books and 
scientific articles in order to know and analyze the main existing theoretical contributions 
on the subject, in particular, they were used as a source of given the legislation, the doctrine 
(composed of books, scientific articles and other academic works, as well as other materials 
already published on the subject) and the Brazilian jurisprudence. In conclusion, the 
resolution of this problem would be the return of the State to its position of guarantor of 
rights, improving and expanding the health network, so that the entire Brazilian population 
can effectively enjoy full health and life. 
 
Keywords: Health. State. Judicial Power. 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
A Constituição Federal de 1988 tem por fundamento a promoção do bem estar de 
todos sem qualquer forma de discriminação, garantindo o direito à dignidade da pessoa 
humana, que serve de pilar dos demais direitos e garantias fundamentais em prol do bem 
comum. Dispõe, também, em seu art. 196 que a saúde é direito de todos e dever do Estado, 
sendo aplicado através de políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco e de 
outros agravos, acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, 
proteção e recuperação. 
Além disso, para dar cumprimento aos mandamentos constitucionais para 
otimização da saúde, criou-se políticas públicas por meio de uma rede organizada, 
regionalizada, com hierarquia de ações e serviços públicos de saúde, mediante Sistema 
Único de Saúde – SUS, isto é, para a real efetivação desse direito o Poder Legislativo, bem 
como o Poder Executivo criaram normas e medidas de ações em busca de assegurar saúde 
básica aos brasileiros. 
Lamentavelmente, apesar do pacto constitucional que tornou o SUS precursor e 
principal fornecedor dessa assistência, houve um contraponto por parte do Estado, pois 
declinou-se dessa responsabilidade ao terceirizar obrigações através de entidades privadas, 
infringindo preceitos constitucionais, subfinanciando a saúde com sistemáticos desvios de 
recursos por meio da Desvinculação das Receitas da União, reduzindo a participação do 
Governo Federal nos gastos com a saúde, retirando a capacidade deliberativa dos 
Conselhos e Conferências de Saúde, através de violação do controle social por meio da 
 
32 
 
falta de funcionamento e estrutura dos dispositivos, sendo, sucessivamente, substituídos 
por colegiados consultivos sem atuação da população. 
Assim, diante das falhas ocasionadas pelo Estado que contrapõem o texto 
constitucional e o direito dos cidadãos brasileiros a terem o mínimo existencial, ferindo o 
princípio da dignidade da pessoa humana, a proteção social e o direito à saúde, 
progressivamente, vem aumentando o número de demandas judiciais em busca por 
restabelecimento de direitos, em especial por fármacos, com objetivo de obterem aquilo que 
outrora foi sonegado pela Administração Pública. Servindo, inclusive, de pauta para o 
Supremo Tribunal Federal que definiuregras a serem adotadas para a concessão de 
medicamentos e tratamentos, incluindo aqueles que não foram oferecidos pelo SUS e os 
ausentes de protocolos de alto custo. 
Deste modo, resta demonstrando a cada dia mais o quanto o Estado não consegue 
comportar o oferecimento de tratamento de qualidade, crescendo, assim, a “judicialização 
da saúde” por meio de liminares devido a contínua e reiterada falha do Estado, fazendo com 
que este tenha gastos em dobro. Primeiramente para dar aquilo que se pleiteia, segundo por 
conta dos gastos originados nestes processos, ocasionando a retirada de recursos de outras 
áreas para cobrir tais despesas. 
 
DESENVOLVIMENTO 
2.1 Direito à saúde como corolário do princípio da dignidade humana 
A dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil, no 
art. 1º, III, da Constituição Federal, está completamente atrelada à saúde, pois é reconhecida 
como princípio fundamental e vetor de todo sistema jurídico brasileiro. Refere-se como 
garantia das necessidades vitais de cada indivíduo, tendo como principal foco a garantia de 
uma vida digna aos cidadãos, como preceitua Alexandre de Moraes (2017), in verbis: 
“Um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na 
autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a 
pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo 
invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar de modo que, somente 
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos 
fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem 
todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade.” 
Assim, conforme preleciona Silva (2017), percebe-se que o legislador brasileiro ao 
tratar sobre o princípio da dignidade da pessoa humana, preocupou-se com o respeito ao ser 
humano e sua dignidade, criando normas com exigência de sua interpretação, servindo de 
 
33 
 
base para o estabelecimento e reconhecimento dos direitos fundamentais, dando sustentação 
à aplicação do direito a igualdade, direitos sociais, valoração ao trabalho, livre iniciativa, 
ordem social, entre tantos outros direitos e garantias respaldadas pela CF/88. 
No tocante, saúde é um direito universal amparado pela Constituição Federal de 
1988, na qual encontra-se inserida na órbita dos direitos sociais, tendo como pilar a 
dignidade da pessoa humana. Isto é, todos têm direito a tratamentos adequados fornecidos 
pelo poder público para que gozem de saúde plena, vejamos: “Art. 196. A saúde é direito 
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem 
à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. 
 Sendo complementado pela Lei nº 8.080/1990 (BRASIL, 1990), que dispõe sobre as 
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o 
funcionamento dos serviços correspondentes, em seu art. 2º no qual preleciona que “a saúde 
é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições 
indispensáveis ao seu pleno exercício”. 
 No que refere-se ao direito fundamental à saúde, Silva (2017, p. 311-312) explica 
que: 
“Há de informar-se pelo princípio de que o direito igual a vida de todos os seres 
humanos significa também que, nos casos de doença, cada um tem o direito a um 
tratamento condigno de acordo com o estado atual da ciência médica, 
independentemente de sua situação econômica, sob pena de não ter muito valor 
sua consignação em normas constitucionais. [...] Como ocorre com os direitos 
sociais em geral, o direito à saúde comporta duas vertentes, conforme anotam 
Gomes Canotilho e Vital Moreira: ‘uma de natureza negativa, que consiste no 
direito a exigir do Estado (ou de terceiros) que se abstenha de qualquer acto que 
prejudique a saúde; outra, de natureza positiva, que significa o direito às medidas 
e prestações estaduais visando a prevenção das doenças e o tratamento delas’. 
Como se viu do enunciado do art. 196 e se confirmará com a leitura dos arts. 198 
a 200, trata-se de um direito positivo ‘que exige prestações de Estado e que impõe 
aos entes públicos a realização de determinadas tarefas [...], de cujo cumprimento 
depende a própria realização do direito.” 
 Deste modo, segundo Santos (2018) o direito à saúde como direito fundamental é um 
mandamento de otimização, reafirmando o compromisso do Estado de cumprir e fazer 
cumprir o pleno exercício da saúde, através de políticas públicas para que a prestação da 
saúde ocorra de forma igual para todos, independente do cenário socioeconômico e suas 
desigualdades, bem como para a prestação de serviços médicos preventivos, de recuperação 
e promoção. Restando demonstrado que a saúde não reside apenas no fato de ser essencial 
para a manutenção da vida, mas, também, por ser um direito imprescindível para o exercício 
dos demais. 
 
34 
 
A SAÚDE COMO DEVER DO ESTADO E A FALHA DO SISTEMA ÚNICO DE 
SAÚDE 
 A tutela do direito à saúde apresenta duas vertentes, que segundo Castro (2005), a 
primeira, de preservação, se relacionaria com as políticas de redução de risco de doenças, a 
segunda, de proteção, se caracteriza como um direito individual para tratamento e 
recuperação. Assim, o fornecimento de medicamentos e tratamentos pelo Estado se inclui 
na proteção à saúde, pois, esta é um bem jurídico indissociável do direito à vida, como 
demonstra Ordacgy (2009): 
“A Saúde encontra-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser humano, 
digna de receber a tutela protetiva estatal, porque se consubstancia em 
característica indissociável do direito à vida. Dessa forma, a atenção à Saúde 
constitui um direito de todo cidadão e um dever do Estado, devendo estar 
plenamente integrada às políticas públicas governamentais”. 
 
 Para Castro (2005) “o Estado assume a responsabilidade na criação dos serviços 
necessários à saúde e o faz por via de normas infraconstitucionais”. Dessa forma, para dar 
cumprimento às normas constitucionais que visam eficiência e efetivação da saúde, o art. 
198 da nossa Carta Magna, pressupõe uma rede regional, em todos os municípios do Brasil, 
de maneira organizada, com hierarquia de ações e serviços públicos de saúde, através do 
Sistema Único de Saúde - SUS, sendo ofertados 15% da receita nacional para essas 
localidades que atenderão aos moradores que buscam assistência, a fim de cobrir gastos 
com a saúde, visto que estes são responsáveis imediatos pelo atendimento das necessidades 
básicas, explicita Castro (2005): 
“Nesse âmbito, estabeleceu-se uma divisão de tarefas no que tange ao 
fornecimento de medicamentos, de maneira que o sistema básico de saúde fica 
a cargo dos Municípios (medicamentos básicos), o fornecimento de 
medicamentos classificados como extraordinários compete à União e os 
medicamentos ditos excepcionais são fornecidos pelos Estados. Percebe-se, 
claramente, a composição de um sistema único, que segue uma diretriz clara de 
descentralização, com direção única em cada esfera de governo”. 
 
Sob ótica nacional, Dallari (2009) observou que no decorrer dos anos, após o pacto 
federal de 1988, juntamente com a criação do SUS mediante Lei sob nº 8.080/90 tecida 
anteriormente nesta pesquisa, que delegou as esferas subnacionais o dever de proteção e 
defesa da saúde, percebeu-se uma atribuição de responsabilidades cabíveis aos três 
poderes, ou seja, caso o Estado descumpra a norma constitucional, declinando-se de 
garantir o mínimo para restabelecimento à saúde do cidadão brasileiro, este poderá recorrer 
ao Poder Judiciário por ser guardião de direitos. 
 
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Infelizmente, mesmo com as autoridades públicas elencando quais prestações 
positivas essenciais devem ser asseguradas para obtenção de uma justiça social, 
respeitando e assegurando

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