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PROGRAMAS DE SAÚDE E SOCORROS URGENTES CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Programas de Saúde e Socorros Urgentes – Prof.ª Dra. Cristiane Miryam Drumond de Brito e Prof.ª Flávia Vernaschi Lima Olá! Meu nome é Cristiane Miryam Drumond de Brito. Sou doutora em Comunicação e Semiótica, docente na UFSCar e tutora na Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UFSCar. E-mail: cdru@uol.com.br Olá! Meu nome é Flávia Vernaschi Lima. Sou graduada em Enfermagem e especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica pela Unifesp. E-mail: fvlmail@uol.com.br Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação PROGRAMAS DE SAÚDE E SOCORROS URGENTES Caderno de Referência de Conteúdo Cristiane Miryam Drumond de Brito Flávia Vernaschi Lima Batatais Claretiano 2013 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Claretiana, 2008 – Batatais (SP) Versão: dez./2013 616.025 B875p Brito, Cristiane Miryam Drumond de Programas de saúde e socorros urgentes / Cristiane Miryam Drumond de Brito, Flávia Vernaschi Lima – Batatais, SP : Claretiano, 2013. 166 p. ISBN: 978-85-67425-37-5 1. Fundamentação teórica dos conceitos de saúde e doença, necessidades humanas básicas e os aspectos históricos e psicossociais da pessoa humana e suas dificuldades relativas à qualidade de vida. 2. Noções sobre higiene física e mental, individual e coletiva, correlacionados à análise dos fundamentos biopsicossociais da Educação Física e dos Desportos nas várias faixas etárias, incluindo a relação com a saúde dos diversos aparelhos e sistemas. 3. Noções sobre as DSTs, bem como discussão da higiene e parâmetros de sinais vitais. 4. Formar profissionais para identificar as situações que representem riscos à vida e à sua qualidade, apresentando noções sobre a promoção de ações de socorro nos acidentes e emergências clínicas de diferentes origens. 5. Biossegurança, traumatismos, ferimentos e lesões, hemorragias e emergências clinicas. I. Lima, Flávia Vernaschi. II. Programas de saúde e socorros urgentes. CDD 616.025 CDD 658.151 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO ...................................................................... 9 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 30 4 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 30 UNIDADE 1 – HISTÓRIA DA SAÚDE NO BRASIL 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 31 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 31 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 32 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 32 5 HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL .................................................................. 32 6 PROGRAMAS DE SAÚDE .................................................................................. 56 7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 59 8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 60 9 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 60 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 61 UNIDADE 2 – ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE, PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS, DST, SAÚDE MENTAL, CORPO E INTERSETORIALIDADE 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 63 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 63 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 64 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 64 5 COMBATE À DENGUE ....................................................................................... 65 6 SAÚDE DA FAMÍLIA .......................................................................................... 68 7 FARMÁCIA POPULAR........................................................................................ 76 8 UPA 24H ............................................................................................................. 77 9 SAMU-192 ......................................................................................................... 78 10 NOÇÕES DE DST ................................................................................................ 79 11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 91 12 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 92 13 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 93 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 93 Claretiano - Centro Universitário UNIDADE 3 – ATENDIMENTO AOS ACIDENTES 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 95 2 CONTEÚDOS .....................................................................................................95 3 ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................. 95 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 96 5 SEGURANÇA DA CENA ..................................................................................... 97 6 AVALIAÇÃO DA VÍTIMA .................................................................................... 100 7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 136 8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 137 9 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 137 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 137 UNIDADE 4 – PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA E OUTRAS EMERGÊNCIAS CLÍNICAS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 139 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 139 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 140 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 140 5 VÍTIMA COM SUSPEITA DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA ...................... 143 6 OUTRAS EMERGÊNCIAS CLÍNICAS .................................................................. 154 7 QUESTÃO AUTOAVALIATIVA ............................................................................ 164 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 164 9 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 165 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 165 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Fundamentação teórica dos conceitos de saúde e doença, necessidades huma- nas básicas e os aspectos históricos e psicossociais da pessoa humana e suas dificuldades relativas à qualidade de vida. Noções sobre higiene física e mental, individual e coletiva, correlacionados à análise dos fundamentos biopsicossociais da Educação Física e dos Desportos nas várias faixas etárias, incluindo a relação com a saúde dos diversos aparelhos e sistemas. Noções sobre as DSTs, bem como discussão da higiene e parâmetros de sinais vitais. Formar profissionais para identificar as situações que representem riscos à vida e à sua qualidade, apresentando noções sobre a promoção de ações de socorro nos acidentes e emergências clínicas de diferentes origens. Biossegurança, traumatismos, feri- mentos e lesões, hemorragias e emergências clínicas. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO Seja bem-vindo! Neste Caderno de Referência de Conteúdo, você encontrará unidades que o auxiliarão na compreensão e domínio de aspectos históricos, antropológicos, sociológicos, filosóficos e técnicos da história da saúde brasileira, do processo saúde-doença, do concei- © Programas de Saúde e Socorros Urgentes8 to de homem nesse processo, de sinais vitais, primeiros socorros, ações de socorros nos acidentes e emergências clínicas de diferen- tes origens, bem como biossegurança, traumatismos, ferimentos e lesões, hemorragias e emergências clínicas. Este caderno tem seu conteúdo relacionado à saúde, toda- via, sua abordagem está direcionada para um contexto mais am- plo, afinal, trataremos de sua inserção no contexto social e escolar. Assim, nosso intento é o desenvolvimento da aprendizagem que o auxiliará na compreensão do trabalho docente, uma vez que é esse o principal foco de estudo e atuação de um licenciado em Educação Física. A Educação a Distância exigirá de você uma nova forma de estudos, uma vez que você será o protagonista de sua aprendiza- gem. No entanto, você não estará sozinho, pois terá o apoio ne- cessário para a construção do seu conhecimento. Esse será um desafio que enfrentaremos juntos, e, com sua dedicação, o cresci- mento profissional e pessoal será conquistado. Não se esqueça de assumir o compromisso de participar e de interagir com seus tutores e com seus colegas de curso nas tarefas indicadas, assim como de fazer a leitura não só deste material, mas também das bibliografias indicadas. Tenha certeza de que, ao apro- priar-se dessa postura, você facilitará a aprendizagem de novos co- nhecimentos, o que levará, certamente, a um exercício profissional comprometido com a valorização das possibilidades educacionais das práticas em saúde crítico-reflexivas. Visando ao favorecimento dos estudos, o conteúdo deste material está organizado em quatro unidades. Na Unidade 1, a história da saúde no Brasil será contextu- alizada, utilizando, para isso, a análise histórica. A compreensão crítica dessa história é importante, pois é a partir dela que nos posicionamos atualmente como cidadãos e profissionais influen- ciados por todo o processo conflituoso de sua construção. Oziel Realce 9 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Na segunda unidade, compreenderemos como a saúde está organizada na atualidade com os diversos programas do governo, por meio do Ministério da Saúde, bem como qual é a atenção dis- pensada por este a esse tema e suas relações com outros setores, como a Educação. Nessa unidade, buscaremos uma reflexão do contexto da saúde em interação com o contexto educacional. Já na terceira unidade, apresentaremos os primeiros socor- ros, sinais vitais, ações de socorros nos acidentes e emergências clínicas de diferentes origens, bem como biossegurança. Enfim, a Unidade 4 tratará de traumatismos, ferimentos e lesões, hemorragias e emergências clínicas e os procedimentos possíveis a um docente de Educação Física. Desejamos, no início desta trajetória, que você se empenhe em cumprir as tarefas propostas, concentrando-se, sempre, na qualidade de sua formação! Após esta breve introdução aos conceitos principais do nos- so estudo, apresentaremos a seguir, no Tópico Orientações para o estudo, algumas orientações de caráter motivacional, bem como dicas e estratégias de aprendizagem que poderão facilitar o seu estudo. 2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um refe- rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabilidade social. A ideia de saúde pública de forma integralizada ainda é bem recente no Brasil. Você deve ter alguma experiência com planos © Programas de Saúde e Socorros Urgentes10 de saúde que são pagos por mês para usufruir-se de seus serviços e que elevam seu custo conforme o aumento da idade, além de não aceitarem pessoas com problemas de saúde, ou, quando acei- tam, o preço é diferenciado. Os planos de saúde são realmente para quem tem saúde, não é mesmo? Mas quando se iniciou essa história de planos de saúde? Eles existem com que função? Ape- nas pessoas das classes média e alta têm acesso? Os planos atuam em todas as áreas necessárias para a saúde? Infelizmente, o que assistimos hoje é um abuso de planos, os quais, muitas vezes, no momento em que mais precisamos deles, nos abandonam. Outro aspecto que vivenciamos é a difamação, pela mídia, da saúde pública. Os repórteres correm atrás de escândalos; en- tão, mostram hospitais precários, filas enormes para o atendimen- to etc. Pouco se ouve falar em experiências positivasem relação à saúde pública; às vezes, é possível escutar, quando alguém famo- so usufrui do sistema público e se recupera, como o vocalista da banda Os Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, que, em 2001, foi atendido no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, o qual está inserido em uma rede de várias unidades hospitalares destinadas ao atendimento e reabilitação de vítimas de politraumatismos e problemas locomotores, rede essa que é mantida pelo Governo Federal. Desse modo, ficamos paralisados diante destas duas reali- dades: o plano de saúde que nos "abandona" e a saúde pública "abandonada". Mas será que é assim mesmo? Será que não po- demos contar com um sistema de saúde pública que nos atenda minimamente? E se um de nossos alunos cair e fraturar algum membro em uma de nossas aulas? E se, por algum problema de saúde, um aluno convulsionar em um jogo de futebol na quadra? Será que não há nada a se fazer? A saúde pública é inexistente na vida cotidiana dos brasileiros? Todos nós, cotidianamente, temos experiências com a saúde pública do país. Esperamos que as suas tenham sido experiências positivas, as quais estão inseridas em programas governamentais, uma vez que a missão promulgada pelo Ministério da Saúde atual é: 11 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo [...] oferecer condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde da população, reduzindo as enfermidades, controlando as doenças endêmicas e parasitárias e melhorando a vigilância à saúde, dando, assim, mais qualidade de vida ao brasileiro (BRASIL, 2011). Compete ao Ministério da Saúde, como constituído atual- mente, ter uma política nacional de saúde; coordenar e fiscalizar o Sistema Único de Saúde (SUS); atuar na saúde ambiental e em ações de promoção, proteção e recuperação da saúde individual e coletiva, inclusive a saúde dos trabalhadores e dos indígenas; dar informações de saúde a todos os cidadãos brasileiros; implemen- tar políticas de assistência farmacêutica, de avaliação e incorpo- ração de tecnologias no SUS; desenvolver pesquisas em saúde no país; realizar ações preventivas em geral, como ações de vigilância e controle sanitário de fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos; e cuidar da vigilância de saúde, especialmente drogas, medicamentos e alimentos. Assim, o Ministério da Saúde nos dias atuais está presente na vida de todos os cidadãos brasileiros – quando vamos ao supermercado comprar um alimento ou a uma drogaria adquirir um medicamento, por exemplo. O problema é que muitos de nós nem sequer temos a consciência de como a saúde pública atua no nosso país e reproduzimos discursos da mí- dia sem nenhum conhecimento a respeito disso. As experiências que vivenciamos atualmente em relação à saúde ainda são recentes historicamente e faz pouco mais de 20 anos, já que apenas na Constituição Federal de 1988 se afirmou a importância de promover a saúde como direito fundamental de cidadania, cabendo ao Estado a obrigação de garanti-la aos cida- dãos. Antes disso, a saúde não era um direito de todos nem dever do Estado. Como afirma Mendes (1996, n. p.): Na década de 80 que surgiram novas propostas de saúde, visando uma melhor organização do sistema, trazendo os pressupostos de equidade, integralidade e universalidade, como princípios nortea- dores das políticas no setor saúde, exigindo profissionais com for- mação generalista, capazes de atuar em diferentes níveis de aten- ção à saúde. Oziel Realce © Programas de Saúde e Socorros Urgentes12 Desse modo, houve discussões entre as entidades de classe, escolas, instituições de saúde, entre outras organizações, acerca da necessidade de reformulação dos currículos da área de saúde. E é aqui que a Educação Física se insere: entre a saúde e a educação. A relação da Educação Física com a saúde na busca de sua cientificização data do final do século 19 e início do século 20, com a busca, também, do reconhecimento da Educação Física Esco- lar. Nesse período, os fundamentos científicos da Educação Física baseavam-se no pensamento médico-higienista, estruturando-se, principalmente, nos conhecimentos biológicos (MENDES; NÓBRE- GA, 2012). Mas a relação da Educação Física com o SUS vem ocorrendo recentemente, e os estudos sobre o SUS e a saúde coletiva ainda ocupam lugar de pouco prestígio nas grades curriculares dos cursos superiores de Educação Física. A demanda crescente por profissio- nais aptos ao trabalho no SUS não efetivou uma formação inter- disciplinar e voltada às necessidades de saúde (PASQUIM, 2012). Além disso, esse caderno não tem a pretensão de aprofundar-se em saúde coletiva, pois visa dar apenas uma visão geral do históri- co da saúde pública no Brasil e dos programas atuais do Ministério da Saúde, que prevê uma intersetorialidade na prática tanto da saúde quanto da educação e parcerias entre o professor de Educa- ção Física e os equipamentos de saúde territoriais, os quais estão inseridos no mesmo território da escola poderão ser construídas. Ocorrências imprevistas que demandam atenção à saúde também poderão acontecer na prática do professor, e este, como profissio- nal e como cidadão, deverá ser resolutivo nos primeiros socorros, nas relações de encaminhamento ao setor da saúde, bem como na construção de atividades de promoção e prevenção da saúde e qualidade de vida. Como veremos na primeira unidade deste CRC, a história da saúde pública no país, tal como toda história, tem sua cronologia escrita, por vezes, de forma linear, apontando os diversos aspectos Oziel Realce Oziel Realce 13 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo nela presentes: antropológico, porque abrange essa temática con- siderando diversas dimensões; sociológico, por estudar a história e o comportamento humano interligado ao coletivo, a grupos, a instituições, a associações, ou seja, aos fenômenos sociais em que essa história está envolvida; filosófico, por lidar com problemas fundamentais da existência humana, como os valores morais e es- téticos; além da reflexão dentro do campo das Ciências Biológicas e da Medicina Social. Isso nos será apresentado no campo da com- plexidade, isto é, de forma interdisciplinar; orientamos, portanto, que você esteja aberto a diferentes olhares na compreensão desse histórico. Apresentaremos somente um recorte dele, pois o apro- fundamento é algo inerente à educação continuada e a uma práti- ca constante de autodidatismo. Os governos, ao longo da história, organizam a atuação de suas políticas de forma a ter ações cotidianas associadas ao campo da saúde. Então, há diversos programas e indicativos do governo atual dentro desse campo, e hoje há vários projetos que interagem no campo da educação e da saúde. Os projetos governamentais são apresentados, e incentivos aos estados e municípios são rea- lizados, porém a prática acontece na realidade concreta de cada município. Assim, esse estudo levará a você alguns conhecimentos em tal área, que devem ser atualizados na página do site do Minis- tério da Saúde (disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/ portalsaude/>. Acesso em: 13 jun. 2012) e do Ministério da Edu- cação (disponível em: <http://www.mec.gov.br/>. Acesso em: 13 jun. 2012). Mas a atitude esperada neste campo é que abra um espaço para você compreender que a cada perfil de governo é concreti- zado em políticas reais que acontecem nos locais onde as escolas estão inseridas. Do ideal escrito na política à prática real, há dis- tanciamentos, e você, como profissional e cidadão, pode exercer e ensinar a importância da cidadania e dos direitos reservados às pessoas. Portanto, sua postura no estudo da segunda unidade, na qual trataremos desse assunto, deve ser crítica e reflexiva, diante da apresentação dos programas atuais de governo. Oziel Realce © Programas de Saúde e Socorros Urgentes14 As unidades que se seguirão abordarão aspectos técnicos de procedimentos reais dos quaiso professor deve ter conhecimento em sua busca pelo aprendizado. Desejamos a todos um bom estudo e uma boa caminhada crítico-reflexiva no campo da saúde e da educação! Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápida e precisa das definições conceituais aqui estudadas, possibilitan- do-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Re- ferência de Conteúdo. É claro que esta apresentação não dá conta de todos os conceitos que este campo do saber abarca, mas com certeza leva a uma aproximação da linguagem específica utilizada. Conceitos traduzem uma visão de mundo, e vale ressaltar que o recorte dado aqui não é o único; os conceitos que veremos serão apresentados como uma reflexão, e não como algo pronto e determinado. O mais complexo de todos é o próprio conceito de saúde, e cabe a você se perguntar, como educador físico, qual a sua ideia sobre o que é saúde. 1) Biossegurança: "[...] significa Vida + Segurança, em sen- tido amplo é conceituada como a vida livre de perigos. Genericamente, medidas de biossegurança são ações que contribuem para a segurança da vida, no dia-a-dia das pessoas (ex.: cinto de segurança, faixa de pedestres). Assim, normas de biossegurança englobam todas as me- didas que visam evitar riscos físicos (radiação ou tempe- ratura), ergonômicos (posturais), químicos (substâncias tóxicas), biológicos (agentes infecciosos) e psicológicos (como o estresse). No ambiente hospitalar encontram- -se exemplos de todos estes tipos de riscos ocupacionais para o trabalhador de saúde (p. ex., radiações, alguns medicamentos etc.)" (CAVALCANTE; MONTEIRO; BAR- BIERI, 2012). Oziel Realce 15 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo 2) Educação em Saúde: "A educação em saúde como área de conhecimento requer uma visão [...] tanto da educa- ção como da saúde, integrando disciplinas como psico- logia, sociologia, filosofia e antropologia. [...] Dessa for- ma, o conceito de educação em saúde está ancorado no conceito de promoção da saúde, que trata de processos que abrangem a participação de toda a população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer. [...] Uma educação em saúde nos moldes da integralidade inclui políticas públicas, am- bientes apropriados para além dos tratamentos clínicos e curativos, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, envolvidas na melhoria da qualidade de vida e na promoção do homem" (MACHA- DO et al., 2012). A educação em saúde é uma "prática na qual existe a participação ativa da comunidade, que pro- porciona informação, educação sanitária e aperfeiçoa atitudes indispensáveis para vida" (BRASIL, 2007, p. 13). 3) Emergência: "ocorrência ou situação perigosa, de apare- cimento súbito e imprevisto, necessitando de imediata solução". 4) Prevenção em saúde: refere-se a doenças e pode ocor- rer em nível primário, secundário ou terciário. Há outra classificação, mais abrangente, a qual reconhece cinco níveis de prevenção: primordial, primário, secundário, terciário e quaternário, os quais são mais bem detalha- dos, respectivamente, a seguir. 5) Prevenção primordial: "tem por objectivos evitar a emergência e o estabelecimento de estilos de vida que aumentem o risco de doença. Ao prevenir padrões de vida social, económica ou cultural que se sabe estarem ligados a um elevado risco de doença, promove-se a saú- de e o bem-estar e diminui-se a probabilidade de ocor- rência de doença no futuro. Para tal, procura-se elaborar e aplicar políticas e programas de promoção de ‘deter- minantes positivos de saúde’, na população em geral e em grupos seleccionados. Temos como exemplos: • legislação para criação de espaços livres de fumo do tabaco; Oziel Realce Oziel Realce Oziel Realce Oziel Realce © Programas de Saúde e Socorros Urgentes16 • plano nacional de saúde escolar (PNSE); • plano nacional para a acção ambiente e saúde (PNA- AS); • regulamentação para a segurança alimentar com im- plementação obrigatória do sistema de análise e ges- tão do risco [...]. Por meio destas medidas, prevê-se e pretende-se que o impacto na saúde pública seja notável, já que os pro- gramas e políticas têm como alvo um grande número de indivíduos e porque um mesmo ‘determinante posi- tivo’ ou comportamento saudável tem efeitos benéficos múltiplos na saúde (protecção de várias doenças). Por exemplo, a prevenção do tabagismo contribui para a pre- venção de doenças respiratórias, oncológicas e cardio- vasculares" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012). 6) Prevenção primária: "visa evitar ou remover factores de risco ou causais antes que se desenvolva o mecanismo patológico que levará à doença. Recorre a meios diri- gidos ao nível individual, a grupos seleccionados ou à população em geral. [...] Espera-se a diminuição da inci- dência da doença pelo controlo de factores de risco ou causas associadas, bem como a diminuição do risco mé- dio de doença na população. Como exemplos deste tipo de prevenção, temos: • imunização (vacinação) contra algumas doenças in- fecto-contagiosas; • toma de vitamina D pelas crianças para prevenir o ra- quitismo; • uso de preservativos para a prevenção de doenças se- xualmente transmissíveis; • uso de seringas descartáveis pelos toxicodependen- tes, para prevenir infecções como VIH/SIDA e hepati- tes" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012). Oziel Realce Oziel Realce 17 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo 7) Prevenção secundária: "corresponde à detecção pre- coce de problemas de saúde em indivíduos presumi- velmente doentes, mas assintomáticos para a situação em estudo. Pretende-se, ainda, que haja uma aplicação imediata de medidas apropriadas, com vista ao rápido restabelecimento da saúde ou, pelo menos, um condi- cionamento favorável da evolução da situação, com cura e/ou redução das consequências mais importantes da doença. Este nível de prevenção pressupõe o conheci- mento da história natural da doença, a existência de um período de detecção precoce suficientemente longo (pe- ríodo pré-clínico ou assintomático) e facilmente detec- tável, e que seja passível de tratamento que interrompa a evolução para estádios mais graves. Assim, espera-se que haja diminuição da prevalência da doença, essen- cialmente pela diminuição da duração da mesma. Temos como exemplos: • rastreio dos cancros do colo do útero, da mama, da próstata, do cólon e recto; • rastreio da fenilcetonúria no recém-nascido; • rastreio e vigilância da pressão arterial, glicémia ou dislipidémia; • realização dos testes de avaliação de acuidade auditi- va e visual no âmbito da saúde ocupacional; • provas cutâneas e radiografia do tórax para o rastreio e diagnóstico precoce da tuberculose" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012). 8) Prevenção terciária: "este tipo de prevenção tem como objectivos: 1) limitar a progressão da doença, circuns- crevendo-a, 2) evitar ou diminuir as consequências ou complicações da doença como as insuficiências, inca- pacidades, sequelas, sofrimento ou ansiedade, morte precoce, 3) promover a adaptação do doente às conse- quências inevitáveis (situações incuráveis), 4) prevenir recorrências da doença, ou seja, controlá-la e estabilizá- -la. Para atingir estes objectivos, é frequente (e neces- sária) a intervenção associada da medicina preventiva e Oziel Realce Oziel Realce © Programas de Saúde e Socorros Urgentes18 da medicina curativa. Com efeito, é muitas vezes difícil individualizar os seus papéis e sobressai, não raras ve- zes, a prevenção exercida fundamentalmente através de terapêutica, controlo e reabilitação médicas. Não obs- tante essa situação, há múltiplos exemplos de acções de carácter não médico e que são fundamentais para a po- tenciação da capacidade funcional do indivíduo, melho- ria significativa no seu bem-estar, reintegração familiar e social e até diminuiçãodos custos sociais e económicos dos ‘estados de doença’ [...]: • realização de sessões formativas/educativas nas es- colas e locais de trabalho para eliminar atitudes fóbi- cas em relação a indivíduos soropositivos para o VIH [AIDS]; • reintegração de trabalhadores na empresa que por algum tipo de incapacidade (pós-traumática, seque- las de politraumatismos etc.) não possam voltar a re- alizar o mesmo tipo de actividades; • educação, formação e apetrechamento necessários à autonomia de indivíduos [...]" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012). 9) Prevenção quaternária: "trata-se dum nível de preven- ção recentemente introduzido [...]. Apesar de desconhe- cido ou não aceite por muitos, este nível de prevenção assenta num conjunto de evidências e argumentos de contexto muito actual e premente. É sabido que a po- pulação − concretamente dos países mais desenvolvi- dos − se encontra em progressivo envelhecimento, e que tal facto determina o aumento de doenças crónico- -degenerativas, doenças do foro oncológico, com neces- sidade de cuidados assistenciais de toda a ordem, de- signadamente continuados e paliativos. Nesse sentido, a alteração da estrutura familiar e da dinâmica social também contribuem para a institucionalização dos ido- sos, internamentos mais prolongados (até em fase ter- minal), decorrendo também uma maior solicitação de assistência. A inovação científico-tecnológica − médica, Oziel Realce 19 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo cirúrgica, laboratorial, etc. – é cada vez mais ‘veloz’ no seu surgimento, e também mais exigente na verificação experimental, financiamento e cumprimento de normas para introdução no ‘mercado’, entre outros aspectos. As maiores expectativas das populações face à saúde − exigência de mais e melhores cuidados de saúde − e a prática duma ‘medicina defensiva’, conduzem à avultada realização de exames complementares de diagnóstico e aplicação de possibilidades terapêuticas, cada vez mais caras e sofisticadas, que podem ultrapassar o apropria- do e racional. É atribuído ‘estatuto patológico’ a factores de risco e situações fisiológicas. Ao se estabelecerem li- miares de intervenção cada vez mais baixos gera-se uma ‘epidemia de riscos’, e consequente alargamento do con- sumo de cuidados de saúde e mercado farmacêutico. O ‘patrocínio da doença’ pela indústria farmacêutica, atra- vés de campanhas dirigidas ao público, e beneficiando da sobrestima da clínica e dos factores de risco, resul- tam em ‘marketing do medo’ promotor de consumo. A ‘dessacralização’ dos clínicos devido a um público mais activo na sua saúde, que aceita menos passivamente a autoridade médica, e que é mais permeável a outras in- fluências menos credíveis (porque parciais) como a já re- ferida indústria farmacêutica, informação e publicidade em media tendenciosos, além do excesso de informação que o público não sabe gerir, leva a uma aquisição de produtos e serviços de modo mais avultado. Como con- sequência de todos estes factores e realidades, resultam uma sociedade dependente e ‘hipermedicalizada’, a ‘ro- tulagem’ indevida e a ‘epidemia de riscos’, efeitos secun- dários da utilização excessiva (iatrogenias), custos cres- centes e desperdício em saúde. Perante este cenário, a prevenção quaternária tem como objectivos: • evitar o excesso de intervencionismo médico e suas consequências (ou iatrogenias); • detectar indivíduos em risco de sobretratamento (‘hi- permedicalização’), para os proteger de novas inter- venções médicas inapropriadas; © Programas de Saúde e Socorros Urgentes20 • sugerir, subsequentemente, alternativas eticamente aceitáveis por forma a curar sem dano; • capacitar os utentes [indivíduos], enquanto consumi- dores de cuidados de saúde, quanto às implicações (individuais, sociais, económicos) do consumo inapro- priado; • salientar a importância de ‘análise das decisões clí- nicas’ no aumento da qualidade do acto médico, no complemento e reforço do julgamento e decisão clí- nicos, na utilização dos métodos de diagnósticos e tratamento, na prescrição criteriosa e adequada téc- nico-cientificamente, na racionalidade económica e do acto médico. Em suma, este nível preventivo visa, genericamente, evi- tar ou atenuar o excesso de intervencionismo médico − actos desnecessários ou injustificados, ‘passivos’ ou ‘acti- vos’" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012, grifo do autor). 10) Primeiros socorros: "[...] referem-se ao atendimento temporário e imediato de uma pessoa que está ferida ou que adoece repentinamente. Também podem en- volver o atendimento em casa [e/ou local do ocorrido] quando não se pode ter acesso a uma equipe de resgate ou enquanto os técnicos em emergência médica (TEM) não chegam. Os primeiros socorros incluem reconhecer condições que põem a vida em risco e tomar as atitudes necessárias para manter a vítima viva e na melhor con- dição possível até que se obtenha atendimento médico. [...] Os principais objetivos dos primeiros socorros são: • Reconhecer situações que ponham a vida em risco. • Aplicar respiração e circulação artificiais quando ne- cessário. • Controlar o sangramento. • Tratar de outras condições que ponham a vida em risco. • Minimizar o risco de outras lesões e complicações. Oziel Realce 21 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo • Evitar infecções. • Deixar a vítima o mais confortável possível. • Providenciar assistência médica e transporte" (HA- FEN; KARREN; FRANDSEN, 2002, p. 3). 11) Promoção da saúde: "promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, in- cluindo uma maior participação no controle deste pro- cesso. Para atingir um estado de completo bem-estar fí- sico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modifi- car favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global" (BAHIA, 2012). 12) Saúde: "o conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja: saúde não repre- senta a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valo- res individuais, dependerá de concepções científicas, re- ligiosas, filosóficas" (SCLIAR, 2012). Houve o tempo em que saúde e doença estiveram relacionadas a concep- ções religiosas associadas ao pecado e ao castigo. Com a descoberta de Descartes no campo da Mecânica, vê-se o corpo como uma máquina, e, portanto, "saúde" significa o "silêncio dos órgãos". Com a revolução pasteuriana, o microscópio foi descoberto, revelando a associação en- tre micro-organismos causadores de doenças. O nasci- mento da Epidemiologia trouxe a ideia de se contabilizar as doenças, e diversos foram os estudos realizados no mundo que chamaram a atenção para as desigualdades no processo saúde-doença, estabelecendo-se diferenças conforme o distrito, as condições de vida sobre a morta- lidade e os tipos de enfermidades, isto é, considerando Oziel Realce Oziel Realce © Programas de Saúde e Socorros Urgentes22 as condições sanitárias, dando-se início, assim, à ideia de saúde pública, ideia essa que ganhou força de lei na Grã-Bretanha, em 1840. O mundo caminhou, ocorreram guerras, várias ideias surgiram, em especial marxistas, e houve dificuldades de consenso em relação ao concei- to de saúde. Em 1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define: "Saúde é o estado do mais completo bem- -estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade" (SCLIAR, 2012). Houve, em 1974, no Cana- dá, a formulação de um conceito de saúde queabrange a biologia humana, o meio ambiente, o estilo de vida e a organização da assistência à saúde (hospitais, serviços, medicamentos etc.). Em 1977, é retomada a ideia de saúde como a ausência de doenças, sendo "a classifica- ção dos seres humanos como saudáveis ou doentes [...] uma questão objetiva, relacionada ao grau de eficiência das funções biológicas, sem necessidade de juízos de valor" (SCLIAR, 2012). Em 1978, na Conferência Inter- nacional de Assistência Primária à Saúde, realizada na cidade Alma-Ata (atual Cazaquistão), a OMS "destacou a responsabilidade governamental na provisão da saúde e a importância da participação de pessoas e comunida- des no planejamento e implementação dos cuidados à saúde", baseando-se nos seguintes pontos: "1) as ações de saúde devem ser práticas, exeqüíveis e socialmente aceitáveis; 2) devem estar ao alcance de todos, pesso- as e famílias – portanto, disponíveis em locais acessíveis à comunidade; 3) a comunidade deve participar ativa- mente na implantação e na atuação do sistema de saú- de; 4) o custo dos serviços deve ser compatível com a situação econômica da região e do país [...]. O sistema nacional de saúde, por sua vez, deve estar inteiramente integrado no processo de desenvolvimento social e eco- nômico do país, processo este do qual saúde é causa e conseqüência. Os cuidados primários de saúde, adapta- dos às condições econômicas, socioculturais e políticas de uma região deveriam incluir pelo menos: educação em saúde, nutrição adequada, saneamento básico, cui- dados materno-infantis, planejamento familiar, imuniza- ções, prevenção e controle de doenças endêmicas [...]. 23 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Deveria haver uma integração entre o setor de saúde e os demais, como agricultura e indústria. [...] nossa Cons- tituição Federal de 1988, artigo 196, evita discutir o con- ceito de saúde, mas diz que: ‘A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recupera- ção’. Este é o princípio que norteia o SUS, Sistema Único de Saúde. E é o princípio que está colaborando para de- senvolver a dignidade aos brasileiros, como cidadãos e como seres humanos" (SCLIAR, 2012). 13) Sistema Único de Saúde (SUS): "[...] é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange des- de o simples atendimento ambulatorial até o transplan- te de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gra- tuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. Além de oferecer consultas, exames e internações, o Sistema também promove campanhas de vacinação e ações de prevenção e de vigilância sanitária – como fiscalização de alimentos e registro de medicamentos –, atingindo, assim, a vida de cada um dos brasileiros" (PORTAL DA SAÚDE, 2012). 14) Urgência: "ocorrência ou situação perigosa, de apare- cimento rápido, mas não necessariamente imprevisto e súbito, necessitando de solução em curto prazo. A dife- rença entre emergência e urgência reside em dois pon- tos: 1) na primeira o aparecimento é súbito e imprevisto, na segunda não; 2) a primeira exige solução imediata; a segunda, em curto prazo, havendo apenas premência ou insistência de solução. Ambas têm em comum a pericu- losidade. Na área médica, as definições seriam: a) Emergência médica: quadro grave, clínico ou cirúr- gico ou misto, de aparecimento ou agravamento sú- bito e imprevisto, causando risco de vida ou grande Oziel Realce Oziel Realce Oziel Realce Oziel Realce © Programas de Saúde e Socorros Urgentes24 sofrimento ao paciente e necessitando de solução imediata, a fim de evitar mal irreversível ou morte. b) Urgência médica: quadro grave, clínico ou cirúrgico ou misto, de aparecimento ou agravamento rápi- do, mas não necessariamente imprevisto e súbito, podendo causar risco de vida ou grande sofrimen- to para o paciente, necessitando de tratamento em curto prazo, a fim de evitar mal irreversível ou morte. Ambos termos têm em comum serem quadros no- sológicos graves, se não tratados, podem causar mal irreversível ou morte. Diferem: a emergência o apa- recimento ou agravamento é súbito e imprevisto, necessitando de solução imediata – é um estado de agudeza; a urgência o aparecimento é rápido, mas não é súbito e imprevisto e a solução pode ser em curto prazo – é um estado de semi-agudeza. Exem- plos: • Parada cardiorrespiratória e hemorragias são sempre emergências; • Fratura, dependendo do comprometimento pode ser urgência; • Entorses e luxações são geralmente urgências; • Na rotina pré-hospitalar as ocorrências são conside- radas emergências. A importância da distinção entre estes dois concei- tos está na necessidade de termos bases definidas para estabelecermos as prioridades nos atendimen- tos nas constantes situações críticas em prontos- -socorros. Essa distinção é importante para se esta- belecer a diferença entre ‘Plantão’ e ‘sobreaviso’. O estabelecimento que estiver sujeito a receber casos de ‘emergência’ terá que ter equipe de plantão. Os outros, pode ter a equipe de ‘sobreaviso’ em casa. Em alguns casos, pode não ser uma equipe, apenas um ou alguns especialistas" Oziel Realce 25 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es- quema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignifican- do as informações com base de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en- tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende- -se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co- nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe- dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza- gem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es- colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es- tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con- siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais © Programas de Saúde e Socorros Urgentes26 de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei- tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog- nitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem porobjetivo tor- nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe- cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele- cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon- ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 12 ago. 2011). Relações – Históricas Políticas Públicas de saúde Brasil Processo Saúde- Doença Primeiros Socorros Emergência e Urgência Qualidade de Vida SUS Prevenção/ Tratamento Reabilitação Biossegurança Promoção de Saúde Ações de Educação em Saúde Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Programas de Saúde e Socorros Urgentes. Como você pode observar, o esquema anterior apresenta uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Se- 27 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo guindo esse esquema, você poderá transitar entre um e outro con- ceito e descobrir o caminho para construir o seu processo educati- vo. Por exemplo, com base nele, é possível compreender com mais facilidade que o conceito de qualidade de vida tem relação com to- dos os outros conceitos, bem como o conceito de promoção se re- laciona com ações de educação, biossegurança e qualidade de vida. Observamos que o Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem somar-se àqueles dispo- níveis no ambiente virtual com suas ferramentas interativas, bem como as atividades didático-pedagógicas realizadas presencial- mente no pólo. Lembre-se de que você como aluno na modalidade a distância, pode valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conceito. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com o caderno Programas de Saúde e Socorros Ur- gentes, pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. © Programas de Saúde e Socorros Urgentes28 Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio- grafias complementares. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte- grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra- tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con- teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con- ceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo deste caderno convida você a olhar, de forma mais apurada, a educação como processo de emancipação do ser hu- mano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica- ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno do curso de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri- mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode- rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ- ções científicas. 29 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure- cimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Caderno de educação popular e saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. (Série B. Textos Básicos de Saúde). HAFEN, B. Q.; KARREN, K. J.; FRANDSEN, K. J. Primeiros socorros para estudantes. 7. ed. Barueri: Manole, 2002. MENDES, M. M. R. O ensino de Graduação em Enfermagem no Brasil, entre 1972 e 1994: mudança de paradigma curricular?. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo/Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, 1996. (Tese de Doutorado). 4. E-REFERÊNCIAS BAHIA (Estado). Ministério Público do Estado da Bahia. Carta de Ottawa. Disponível em: <http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/cidadania/gesau/legislacao/internacionais/carta_ ottawa.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2012. CAVALCANTE, N. J. F.; MONTEIRO, A. L. C.; BARBIERI, D. D. Biossegurança. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/08Bioseguranca.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2012. MACHADO, M. F. A. S. et al. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS – uma revisão conceitual. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. © Programas de Saúde e Socorros Urgentes30 php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232007000200009>. Acesso em: 19 jun. 2012. MENDES, M. I. B. S.; NÓBREGA, T. P. O Brazil-Medico e as contribuições do pensamento médico-higienista para as bases científicas da educação física brasileira. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0104-59702008000100013>. Acesso em: 10 abr. 2012. PASQUIM, H. M. A saúde coletiva nos cursos de Graduação em Educação Física. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902010000100016&script=sci_ arttext>. Acesso em: 10 abr. 2012. PORTAL DA SAÚDE. Apresentação. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/ saude/cidadao/area.cfm?id_area=1395>. Acesso em: 15 mar. 2012. PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA. Níveis de prevenção em saúde. Disponível em: <http://www. saudepublica.web.pt/TrabCatarina/NiveisPrevencao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2012. SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312007000100003&lng=pt>. Acesso em: 19 jun. 2012. 1 EA D História da Saúde no Brasil 1. OBJETIVOS • Contextualizaro processo saúde-doença na história da saúde do Brasil. • Identificar a visão de mundo do homem inserido nos pro- cessos históricos apresentados. • Reconhecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua orga- nização. • Relacionar os conceitos de Educação em Saúde na prática da saúde e da educação. 2. CONTEÚDOS • Histórico da saúde no Brasil. • SUS: seus princípios e sua implantação. • Princípios e práticas de Educação em Saúde. © Programas de Saúde e Socorros Urgentes32 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que leia as orientações a seguir: 1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am- plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre com o material didático e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. 2) Tenha sempre à mão o significado dos termos citados no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo Esquema dos Conceitos-chave para o estudo de não apenas esta, mas todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Para iniciar o estudo de Programas de Saúde e Socorros Ur- gentes, é indispensável um breve histórico sobre como a saúde foi se estruturando em nosso país. É importante compreendermos os interesses e saberes que perpassam a história e, assim, nos posicio- narmos diante de processos de saúde-doença e da busca da cida- dania e autonomia com o próprio corpo e com a saúde de cada um. 5. HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL Em 1988, houve a promulgação da Constituição Brasileira. Nela, há uma seção dedicada especialmente à saúde, composta pelos Artigos de 196 a 200. Vejamos, a seguir, o que dizem três desses artigos: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitá- rio às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regu- lamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita Oziel Realce 33 Claretiano - Centro Universitário © U1 - História da Saúde no Brasil diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, orga- nizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preven- tivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade (STF, 2012). Esses direitos constitucionais, que destacam ações de pro- moção, proteção e recuperação, além de fiscalização, controle, organização da saúde, atendimento integral e participação social, nem sempre foram naturalmente concedidos; são parte de um processo de luta da população brasileira há anos. A história da saú- de no país está associada a determinantes históricos e à evolução político-social e econômica. Tais contextos influenciaram e ainda influenciam o setor da saúde brasileira. No período colonial, o Brasil não dispunha de nenhum mo- delo de saúde institucionalizado, e as enfermidades eram cuida- das com plantas, ervas e curandeiros. Havia a carência de médicos profissionais no país, tanto que, em 1789, só existiam aqui quatro médicos exercendo a profissão. Ocorreu, então, a disseminação dos boticários (farmacêuticos), que viajavam pelo país mesmo sem possuir aprendizado acadêmico – o processo de habilitação na função consistia tão somente em acompanhar um serviço de uma botica já estabelecida durante certo período de tempo, ao fim do qual prestavam exame perante fisicatura e se aprovado, o candidato recebia a "carta de habilitação", e estava apto a instalar sua própria botica (SALLES, 1971). Essa prática de consultar-se um farmacêutico quando se tem algum sintoma ainda é presente no cotidiano brasileiro. Com a chegada da família real no Rio de Janeiro, em 1808, criou-se uma estrutura mínima sanitária para dar suporte ao po- der e realizar um controle sanitário mínimo na capital do impé- © Programas de Saúde e Socorros Urgentes34 rio. Forçaram a criação das duas primeiras escolas de medicina do país: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram essas as únicas medidas governamentais até a República. Até esse momento de reconstituição histórica, observa-se que a colonização do Brasil não respeitou e não dialogou com a cultura existente na época, de tratamento com ervas e curandei- ros. No início, houve uma valorização do saber fazer, isto é, o far- macêutico habilitava-se no momento em que, diante de uma fis- calização, era considerado apto a medicar e a tratar. A figura dos médicos era escassa, e, por isso, o farmacêutico tinha um valor social e para a saúde reconhecido. A estrutura sanitária só foi insti- tuída no Brasil Império, com a chegada da família real, e apenas na sua capital. Duas escolas de Medicina foram criadas na ocasião, e a finalidade era atender o poder constituído da época. O sistema de saúde no Brasil inicia-se já na relação de poder, e, desde esse perí- odo, o acesso a ele era excludente, sendo apenas para as camadas mais altas da população. Primeiras medidas sanitaristas no Brasil A figura do médico Oswaldo Cruz surgiu na nomeação do Presidente Rodrigues Alves (1902-1906), a fim de combater a dis- seminação de doenças como a varíola, a malária, a febre amarela e, posteriormente, a peste. Suas ações tinham forte apelo policia- lesco. Ele convocou 1500 pessoas para invadir as casas das pesso- as e queimar roupas e colchões, sem nenhuma ação educativa, e a população ficou indignada com essa atuação sanitária. O auge da indignação resultou na instituição, pelo médico, da vacinação antivariólica, fato que levou o povo às ruas e iniciou a conhecida Revolta das Vacinas. Oswaldo Cruz, então, foi afastado do cargo. O motivo que levou o governo a nomear esse médico a Dire- tor do Departamento Federal de Saúde Pública foi a disseminação das doenças gerar, naquela ocasião, consequências tanto para a 35 Claretiano - Centro Universitário © U1 - História da Saúde no Brasil saúde coletiva quanto para o comércio exterior, influenciando a economia externa, já que os navios estrangeiros não queriam mais atracar no Porto do Rio de Janeiro. O modelo de saúde de Oswaldo Cruz ficou conhecido como "campanhista", possuindo forte visão militar, no qual os fins justificam os meios. Esse modelo obteve vitórias no controle das doenças epidêmicas, conseguindo erradi- car a febre amarela no Rio de Janeiro, tornando, com isso, hege- mônico na área de saúde coletiva durante décadas. Nesse perío- do, surge o embrião do Instituto Oswaldo Cruz, existente hoje no Rio de Janeiro. A organização dessa diretoria possuía uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de enge- nharia sanitária e de profilaxia da febre amarela e a inspetoria de isolamento e desinfecção. O seu sucessor, Carlos Chagas, nomeado, em 1920, Diretor do Departamento de Saúde Pública, agora ligado ao Ministério da Justiça, introduz na prática campanhista a educação sanitarista e a propaganda. Tal médico expande essa prática para além do Rio de Janeiro e cria a primeira escola de enfermagem, a Escola de Enfer- magem Anna Nery. Enquanto a sociedade brasileira esteve domi- nada por uma economia agro-exportadora, acentada na monocul- tura cafeeira, o que se exigia do sistema de saúde era, sobretudo, uma política de saneamento destinado aos espaços de circulação das mercadorias exportáveis e a erradicação ou controle das doen- ças que poderiam prejudicar a exportação. Por esta razão, desde o final do século passado até o início dos anos 60,predominou o modelo do sanitarismo campanhista (MENDES, 1992). No Brasil, como se pode observar, as medidas sanitaristas têm forte cunho militar e de imposição, principalmente, para a preservação do campo econômico, quer dizer, da relação nacional com a exportação. A população, já nesse período, conseguiu se mobilizar e destituir Oswaldo Cruz do Departamento Federal de Saúde Pública. O sucessor incrementou a ideia campanhista intro- duzindo a propaganda, mas o destino dessa campanha continuava a ser a preservação do comércio exterior, isto é, ela era destinada © Programas de Saúde e Socorros Urgentes36 a espaços de circulação de mercadorias. A questão econômica – e somente ela – dominava a institucionalização da saúde pública no país. Nascimento e desenvolvimento da Previdência Social e políticas de saúde entre 1923-1964 A Previdência Social é tema recorrente na mídia, uma vez que é objeto de interesse político e, constantemente, alvo de es- cândalos. A ideia de uma previdência social no Brasil surgiu como medida de proteção aos trabalhadores do país. Vejamos, a seguir, em que contexto apareceu essa ideia, de acordo com Cunha e Cunha (1998): [...] os operários no início do século 20 ainda não tinham quais- quer garantias trabalhistas, tais como: férias, jornada de trabalho definida, pensão ou aposentadoria. O surgimento da Previdência Social no Brasil se insere num processo de modificação da postura liberal (não intervenção do Estado) do Estado frente à problemática trabalhista e social, portanto, num contexto político e social mais amplo. Esta mudança se dá enquanto decorrência da contradição entre a posição marcadamente liberal do Estado frente às ques- tões trabalhistas e sociais e um movimento operário-sindical que assumia importância crescente e se posicionava contra tal postu- ra. Esta também é a época de nascimento da legislação trabalhista brasileira. Em 1923 é promulgada a lei Eloy Chaves, que para alguns autores pode ser definida como marco do início da Previdência So- cial no Brasil. No período compreendido entre 1923 e 1930 surgem as Caixas de Aposentadoria e Pensões – CAPs. Eram organizadas por empresas, de natureza civil e privada, responsáveis pelos be- nefícios pecuniários e serviços de saúde para os empregados de empresas específicas. As CAPs eram financiadas com recursos dos empregados e empregadores e administradas por comissões for- madas de representantes da empresa e dos empregados. Cabia ao setor público apenas a resolução de conflitos (apud BRASIL, 2005, p. 29). O surgimento das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) também obedeceu à mesma lógica: somente as empresas estra- tégicas para a economia nacional é que conseguiam fundar suas caixas. As primeiras foram as dos trabalhadores das companhias de via fér- rea e portuários. Era autenticamente uma espécie de seguro social, 37 Claretiano - Centro Universitário © U1 - História da Saúde no Brasil ou seja, só tinha direito aquele que pagava a contribuição estipula- da, que garantiria certos benefícios como a aposentadoria e, princi- palmente a assistência médica. Como eram privados, ou seja, eram mantidos por empresas, ainda não se configuravam como iniciati- vas do Estado, muito embora, curiosamente, os presidentes dessas Caixas fossem nomeados pelo Presidente da República, havendo um claro interesse do governo na manutenção desse sistema (FON- TILENE JÚNIOR, 2008, n. p.). As CAPs, que, posteriormente, foram transformadas em Ins- titutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), congregavam os traba- lhadores por categorias profissionais. Apesar de estarem voltados, prioritariamente, para os benefícios e pensões, os IAPs também ofereciam serviços médicos, mas essa assistência era limitada aos trabalhadores inseridos em empregos formais e organizados. Esse modelo corresponde à concepção de cidadania regulada – modali- dade em que a base dos direitos não se encontra em valores políti- cos universais, e sim em um sistema de estratificação ocupacional definido por norma legal. Assim, trabalhadores rurais, domésticos e trabalhadores informais eram vistos como pré-cidadãos (ESCO- RES; TEIXEIRA, 2008). Os IAPs eram autarquias de nível nacional centralizadas no governo federal, nas quais a filiação se dava por categorias profis- sionais, diferentemente das CAPs, que eram promovidas por em- presas. Já sob regime de repartição, os IAPs ofereciam maior nível de proteção, como assistência médica para filiados e dependentes, porém, os saldos superavitários (devido aos poucos beneficiários) no início do sistema foram utilizados para outros fins, além da con- cessão de aposentadorias e pensões generosas. O financiamento da previdência social – dos IAPs e das poucas CAPs então rema- nescentes – tem origem nas contribuições dos empregadores, dos trabalhadores e do próprio Estado, em geral criando impostos pre- videnciários. Institui-se, então, o regime de capitalização: as dife- renças entre receita e despesa passam a ser investidas lucrativa- mente. © Programas de Saúde e Socorros Urgentes38 A partir de 1930, o Estado recebe fortes pressões por par- te de intelectuais e militares para a criação de novos serviços na área de saúde pública, culminando, em 1931, com a criação do Mi- nistério da Educação e Saúde. Nessa fase, a saúde pública definiu seu papel, e os burocratas e as classes que apoiavam a Revolução Constitucionalista obtiveram grandes privilégios políticos (IYDA, 1994). Convivendo com uma constante alternância de seus dirigentes, o Ministério ficou refém das instabilidades políticas decorrentes das disputas entre as diversas forças que haviam se aliado em torno do novo regime. O Ministério da Educação e Saúde passou a ter um caráter centralizador, normatizando e uniformizando as estruturas estaduais, nas mãos de interventores escolhidos pelo executivo fe- deral, as quais deveriam assumir as atividades municipais. A estrutura administrativa da saúde pública instituída nesse perí- odo permaneceu quase inalterada até a criação do Ministério da Saúde em 1953. O período ficou marcado pela separação entre saúde pública – cen- trada na erradicação de doenças infectocontagiosas, endemias ou epidemias – e assistência médica previdenciária, de caráter indivi- dual, destinada aos indivíduos acometidos por doenças que lhes impediam de trabalhar. A assistência individual não estava sob o controle do Ministério da Educação e Saúde e sim do Ministério do Trabalho, Indústria e Co- mércio (ESCORES; TEIXEIRA, 2008, n. p.). A criação de um Ministério da Saúde independente do da Educação foi o grande marco do ano de 1953. Sua estrutura era frágil, e seu orçamento era a menor fração do antigo Ministério da Educação e Saúde, cabendo-lhe um terço do imposto da educação e saúde. Até 1964, o Ministério da Saúde teve transitoriedade de seus titulares, evidenciando a barganha política dos governantes. Houve, também, aumento dos gastos da previdência com a assis- tência médica, ampliando as doenças a serem contempladas por ela. O foco do processo saúde-doença era, principalmente, a do- ença. Kubitschek buscou, tanto em seu programa de saúde como em suas primeiras medidas como presidente eleito, apresentar as relações entre enfermidades e nação na mesma chave positiva que emol- 39 Claretiano - Centro Universitário © U1 - História da Saúde no Brasil durava suas proposições para o desenvolvimento do país. Em sua opinião, o Brasil havia superado as "doenças pestilenciais" (como a febre amarela e a peste bubônica) e o novo governo deveria de- dicar-se a combater primordialmente as "doenças de massa", tais como a tuberculose, a lepra, as doenças gastrointestinais e as en- demias rurais, que debilitavam e tornavam improdutivos milhões de brasileiros. [...] No governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek duran- te o período de 1956 a 1960, houve transformações econômicas es- truturais e conjunturais no país apoiada principalmente pelo capital estrangeiro.A saúde não era o tema central do governo de Kubits- chek e ele em sua campanha a presidente em 1955 rejeitou a asso- ciação entre enfermidades e o Brasil dizendo a frase que – o Brasil não seria mais apenas "doença" (KUBITSCHEK, 1955a, p. 4-32). Além disso, alertava: o país já deveria agir contra as "doenças crô- nico-degenerativas" ou as enfermidades do mundo desenvolvido, como o câncer. Guardando semelhanças com os objetivos gerais do movimento médico-higienista da Primeira República, o programa de Juscelino explicitava visão otimista sobre o futuro do país, refor- çando a idéia de que a saúde dos brasileiros estava melhor do que havia sido e que as doenças que os afligiam já não eram as do início do século XX (HOCHMAN, 2009, p. 23). No campo da saúde, houve, também, o Congresso de Hospi- tais, instituindo serviços próprios das empresas. Nasce uma nova prestação privada de serviços de saúde, por meio da emergência da medicina de grupo. Podemos considerar esse formato de pres- tação de serviço como o precursor da política neoliberal na saúde, pois hoje há planos de saúde constituídos de empresas com fina- lidade lucrativa, isto é, a estrutura hospitalar de natureza lucrativa já estava montada e apontava na direção da formação de empre- sas médicas; a corporação médica estava ligada há interesses ca- pitalistas. Sucedeu Juscelino Jânio Quadros, o 22º Presidente do Brasil, com um mandato breve entre 31 de janeiro de 1961 e 25 de agos- to de 1961, quando renunciou ao poder. Após sua renúncia, os militares tentaram vetar a chegada do Vice-presidente João Gou- lart (Jango) à presidência, por desconfiarem que ele pudesse ser uma ameaça à segurança nacional, principalmente pela ideia de © Programas de Saúde e Socorros Urgentes40 comunismo. Houve, então, um movimento chamado "Campanha da Legalidade", liderado por Leonel Brizola. Com várias pressões e conflitos, em 7 de setembro de 1961, João Goulart assumiu a vaga deixada por Jânio Quadros. A instalação do parlamentarismo fez que João Goulart não tivesse meios para aprovar suas propostas políticas. No Ministério da Saúde, houve sucessão de seis minis- tros em três anos. O penúltimo, Souto Maior, apresentou um conceito ampliado de saúde, no XV Congresso de Higiene, em 1962. A saúde da popula- ção deveria ser entendida como suas condições globais de traba- lho. Reconhecia um círculo vicioso entre pobreza e doença e subor- dinava sua interrupção a um projeto de desenvolvimento nacional. Nesse Congresso, a indústria farmacêutica nacional manifestou-se contra a crescente desnacionalização do setor. A expansão das mul- tinacionais de medicamentos era percebida como fator capaz de influenciar a orientação política do setor saúde por meio da cons- trução de um modelo de ampliação descontrolada do atendimento médico hospitalar (TEIXEIRA, 2008, p. 7). Outro marco da história da saúde no âmbito ministerial ocorreu em 1963, com a realização da III Conferência Nacional da Saúde (CNS), convocada pelo ministro Wilson Fadul, árduo defensor da tese de municipalização. A Conferência propunha a reordenação dos serviços de assistência médico-sanitária e alinhamentos gerais para determinar uma nova divisão das atribuições e responsabilidades entre os níveis político- -administrativos da Federação visando, sobretudo, a municipaliza- ção (BRASIL, 2010, n. p.). Havia a pretensão de descentralizar o modelo de saúde, ini- ciando desde o atendimento básico até o nível terciário médico- -hospitalar especializado. No final do governo de Jango, a área da saúde estava diante de uma intensa polêmica entre os interesses nacionais e do capital estrangeiro. Além disso, o seu governo teve a proposição de reforma agrária radical, estatização do abasteci- mento e nacionalização. Os partidos que se opunham a João Goulart, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), o acusavam de estar planejando um golpe esquerdista e de ser o responsável pelos problemas que o Brasil enfrentava na época. No 41 Claretiano - Centro Universitário © U1 - História da Saúde no Brasil dia 13 de março de 1964, João Goulart realizou um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defendeu as Reformas de Base e prometeu mudanças radicais na estrutura agrária, eco- nômica e educacional do país. Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizaram um protesto que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Pau- lo saíram às ruas. Evitando uma guerra civil, Jango deixou o país, refugiando-se no Uruguai. Os militares finalmente tomaram o po- der e, em seguida, estabeleceram o AI-1 (Ato Institucional). Com 11 artigos, esse documento dava ao governo militar o poder de alterar a constituição, cassar mandatos legislativos, suspender di- reitos políticos por dez anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse con- tra a segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública, além de determinar eleições indiretas para a presidência da república. Foi nesse contexto que emergiu o mo- vimento sanitário no interior das universidades, como decorrência da exclusão da participação dos trabalhadores e técnicos no pro- cesso decisório das políticas de saúde, as quais eram tomadas pe- los governos autoritários em seu próprio benefício (BERTOLOZZI; GRECO, 1996). Compreensão do Regime Militar e os reflexos na saúde "Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina" (ANDRADE, s. n. t.). O novo governo passou a trabalhar por decreto, como já su- pracitado, pelo chamado AI (Ato Institucional). O presidente bai- xava o AI sem consultar ninguém, e todos tinham de obedecer. O © Programas de Saúde e Socorros Urgentes42 AI-1 determinava que a eleição para presidente da república fosse indireta, ou seja, com o Congresso Nacional já sem os deputados e senadores incômodos, devidamente cassados, e um único can- didato. Em 15 de abril de 1964, era anunciado o primeiro general- -presidente, que iria governar o Brasil segundo interesses do gran- de capital estrangeiro nos próximos anos: Humberto de Alencar Castello Branco. Esse general, a pouco mais de 20 dias de governo, decretou o AI-2, que acabava, definitivamente, com eleições dire- tas para presidente da república, e quem votaria nesse cargo se- riam os senadores e deputados, de forma nominal e declarada. Ele acaba, também, com partidos políticos, podendo apenas dois exis- tirem: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) E MDB (Movimento Democrático Brasileiro). O primeiro era do governo e apoiava o regime militar, e o segundo era a oposição consentida. A ditadura, querendo uma imagem democrática, permitia a existência de um partido levemente contrário, contanto que ninguém fizesse uma oposição muito forte. No começo de 1966, é lançado o AI-3, que determinava que as eleições para governador também seriam in- diretas. No campo econômico do Governo Castello Branco, o salário dos operários foi considerado responsável pela crise econômica; portanto, os aumentos salariais deveriam ser menores que a in- flação. Um dos recursos para diminuir salários foi a extinção da estabilidade. Pela lei antiga, depois de dez anos numa empresa, o empregado praticamente tinha estabilidade, mas isso foi derruba- do pela criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servi- ço), em 1966, o qual ainda existe, funcionando assim: todo mês, o patrão deposita no banco uma parte do salário do empregado, formando uma espécie de caderneta de poupança. Essa poupança só pode ser sacada em algumas situações, como compra de casa ou determinados problemas de saúde. As empresas, assim, fica- ram
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