Buscar

E-book_Educação Jurídica

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

ORGANIZAÇÃO 
 Alexandre Torres Petry 
 Carolina Cyrillo 
 Rosane Beatriz J. Danilevicz 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO JURÍDICA: orientação acadêmica e 
construção do conhecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 2023 
 
 
 
Copyright © 2023 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
 
Recebimento dos textos, diagramação, ficha catalográfica 
Jovita Cristina Garcia dos Santos 
 
Projeto Gráfico e capa 
Victor Baldez Silva 
 
Revisora 
Dieniffer de Souza Silva Lemes 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliotecária Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10º 1.5717 
 
 
 
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos 
assinados, serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 
 
Escola Superior de Advocacia da OAB/RS 
Rua Manoelito de Ornellas, 55 – Praia de Belas 
 CEP 91110-230 – Porto Alegre/RS 
 
 
 
E26 
 
 Educação Jurídica: orientação acadêmica e construção do conhecimento//, 
Alexandre Torres Petry, Carolina Cyrillo, Rosane Beatriz J. Danilevicz. 
(Organizadores). – Porto Alegre: OAB/RS, 498p. 
 
 ISBN: 978-65-88371-24-4 
1. Educação Jurídica. 2. Direito. I Petry, Alexandre Torres (org.). 
II. Cyrillo, Carolina (org.). III. Danilevicz, Rosane Beatriz J. (org.) III. Título 
 
CDU 34:378 
 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2022/2025 
 
Presidente: Beto Simonetti 
Vice-Presidente: Rafael Horn 
Secretária-Geral: Sayury Otoni 
Secretária-Geral Adjunta: Milena Gama 
 Diretor Tesoureiro: Leonardo Campos 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Leonardo Lamachia 
Vice-Presidente: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretário-Geral: Gustavo Juchem 
Secretária-Geral Adjunta: Karina Contiero Silveira 
Tesoureiro: Jorge Luiz Dias Fara 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretor-Geral: Rolf Hanssen Madaleno 
Vice-Diretor: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretoras de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Michelle da Silva G. Vieira 
Diretor de Cursos Especiais: Roger Eridson Dorneles 
Diretor de Cursos Não Presenciais: Jair Pereira Coitinho 
Diretoras de Atividades Culturais: Ana Lúcia Kaercher Piccoli, Eliane Chalmes Magalhões 
Diretor de E-books e da Revista Eletrônica da ESA/RS: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Bruno Nubens Barbosa Miragem 
Simone Tassinari Cardoso Fleischmann 
Gerson Fischmann 
Cristina da Costa Nery 
Raimar Rodrigues Machado 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Paula Grill Silva Pereira 
Secretária-Geral: Morgana Bordignon 
Secretária-Geral Adjunta: Alessandra Glufke 
Tesoureiro: Matheus Portella Ayres Torres 
 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Airton Ruschel 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha 
Josana Rosolen Rivoli 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretor Administrativo: Otto Junior Barreto 
Diretora Financeira: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO – Carolina Cyrillo .................................................................................... 9 
PREFÁCIO – Rosane Beatriz J. Danilevicz .......................................................................... 11 
A EXTENSÃO DA IMUNIDADE CONSTITUCIONAL DOS LIVROS, JORNAIS, 
PERIÓDICOS E PAPÉIS PARA A SUA IMPRESSÃO CONFERIDA AOS LIVROS 
ELETRÔNICOS – Aline Matzenauer e Rosane Beatriz Danilevicz ................................... 12 
CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS AO PACOTE ANTICRIME – Ana Martina Wolmer e 
Daniel Pulcherio Fensterseifer .............................................................................................. 29 
A REPARAÇÃO CIVIL POR DANOS EXTRAPATRIMONIAIS AMBIENTAIS 
CAUSADOS POR VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DIFUSOS – Anderson Lino da Silva e Luiz 
Fernando Castilhos Silveira .................................................................................................. 42 
EFEITOS DO DESCUMPRIMENTO DO PROGRAMA DE COMPLIANCE NAS 
DEMISSÕES POR JUSTA CAUSA: UMA ABORDAGEM JURÍDICA E 
ORGANIZACIONAL – André Lourenço Artmann e Maira Angelica Dal Conte 
Tonial .................................................................................................................................... 64 
OS IMPACTOS DA LGPD NAS RELAÇÕES LABORAIS – Andressa Vitali e Valkiria 
Briancini .................................................................................................................................. 82 
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: A LITERATURA COMO POSSIBILIDADE DE 
OBSERVAÇÃO AO RACIONALISMO JURÍDICO – Bárbara Candida Giovanini e Luiz 
Fernando Castilhos Silveira ................................................................................................. 102 
PENSÃO POR MORTE PÓS EC Nº 103/2019: ANÁLISE DOS REFLEXOS 
DECORRENTES DA ALTERAÇÃO NA BASE DE CÁLCULO DO BENEFÍCIO COMO 
RETROCESSO SOCIAL E AFRONTA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS – Kamyla 
Rita Garcia de Oliveira e Bárbara De Cezaro .................................................................. 120 
A EDUCAÇÃO JURÍDICA NO ÂMBITO DO ENSINO BÁSICO COMO PRESSUPOSTO 
DO DEVER ESTATAL EDUCACIONAL DE PREPARAR PARA O EXERCÍCIO DA 
CIDADANIA - Camila Siqueira Prado, Vitória Silveira da Silva e Carlos André Souza 
Birnfeld .................................................................................................................................. 140 
A CRISE PERMANENTE DO ENSINO JURÍDICO BRASILEIRO: UMA BREVE 
HISTÓRIA DO PERFIL DE EGRESSO DOS CURSOS DE DIREITO – Pablo Buogo, Raul 
Rodrigues Kühl e Diego Nunes ............................................................................................ 153 
A TIPIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER E SUA 
RELAÇÃO COM A FUNÇÃO SIMBÓLICA DO DIREITO PENAL – Échele da Silva 
Candido, Claudio Daniel de Souza, Luan Christ Rodrigues ........................................... 173 
FANFICTION E DIREITO AUTORAL: POSSIBILIDADE DE A LITERATURA DE FÃ SER 
CONSIDERADA COMO UM LIMITE AO DIREITO AUTORAL – Gabriela 
Schiefferdecker e Fernanda Borghetti Cantali .................................................................. 194 
 
 
NFT – NON-FUNGIBLE TOKENS E OBRAS AUTORAIS: REGISTRO VOLUNTÁRIO 
BENÉFICO PARA AS RELAÇÕES NEGOCIAIS? Thiago Severgnini de Sousa e Fernanda 
Borghetti Cantali .................................................................................................................. 215 
SOBRE A NECESSÁRIA INCLUSÃO DAS PRÁTICAS COLABORATIVAS NO 
CURRÍCULO DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE DIREITO – Grasiela de Souza Thomsen 
Giorgi e Roberta Drehmer de Miranda .............................................................................. 239 
SUBORDINAÇÃO ALGORITIMICA : UM ESTUDO SOBRE A UBERIZAÇÃO –Juliana 
da Silva Franceschi dos Santos e Maira Angelica Dal Conte Tonial .............................. 259 
REFUGIADOS AMBIENTAIS: REFLEXÕES SOBRE O RECONHECIMENTO DESSES 
STATUS PELO DIREITO INTERNACIONAL – Larissa Ribeiro Cardoso e Caroline 
Dimuro Bender D’Avila ....................................................................................................... 275 
STARE DECISIS: OS PRECEDENTES NA PERSPECTIVA DA COMMON LAW NA 
INGLATERRA E NOS ESTADOS UNIDOS –Laura Maurina e Luiz Fernando Castilhos 
Silveira ...................................................................................................................................
292 
A CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE ATLETAS ENVOLVENDO O DIREITO DE 
IMAGEM DIREITO DE IMAGEM: A POLÊMICA EM TORNO DO CONTRATO DO 
ATLETA PROFISSIONAL – Lucas De Marco Stefanello e Maira Angelica Dal Conte 
Tonial ..................................................................................................................................... 310 
ALIENAÇÃO PARENTAL: A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA NO PROCESSO DE 
DESENVOLVIMENTO INTEGRAL E A SUA INFLUÊNCIA NOS DIREITOS DAS 
CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES –Luiz Cristiano Souza dos Santos e Luiz Fernando 
Castilhos Silveira .................................................................................................................. 327 
ACOLHIDA A REFUGIADOS NO BRASIL: DESAFIOS E PROPOSTAS PARA UMA 
ABORDAGEM EFETIVA –Luiza Belardinucci e Luiz Fernando Castilhos Silveira .... 346 
A LEGITIMIDADE SINDICAL PERANTE A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS –
Marciéli Oliveira dos Santos e Maira Angelica Dal Conte Tonial ................................... 368 
AS MUDANÇAS DA JORNADA DE TRABALHO DURANTE A PANDEMIA DE COVID-
19 –Mariana Kuhn Ferreira e Endrigo Durgante Oliveira Biscaino Nunes ................... 380 
OS DESAFIOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS 
Náthaly Fernanda Weber Lima e Maira Angelica Dal Conte Tonial .............................. 393 
DO DIREITO REGRESSIVO DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS) 
EM FACE DO EMPREGADOR –Náthaly Fernanda Weber Lima e Maira Angelica Dal 
Conte Tonial .......................................................................................................................... 407 
O ENSINO JURÍDICO E UM NOVO ETHOS ECOJURÍDICO: PERSPECTIVAS A PARTIR 
DA INTERDISCIPLINARIDADE SISTÊMICA – Nathiele Brito da Silva e Karinne 
Emanoela Goettems dos Santos ........................................................................................... 423 
A MEDIAÇÃO E A ARBITRAGEM NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES LABORAIS – Renan 
Augusto Soccol e Daniel Pulcherio Fensterseifer............................................................... 439 
 
 
A JUDICIALIZAÇÃO AUTÔNOMA DO DIREITO À SAÚDE E O SEU DUPLO CARÁTER 
PRESTACIONAL: A EFETIVIDADE DAS DECISÕES DA CORTE IDH – Rosana Helena 
Maas e Anderson Carlos Bosa ............................................................................................. 456 
A CONSTITUCIONALIDADE DO ENSINO DOMICILIAR (HOMESCHOOLING) –
Thamyres Barreto Santos e Luiz Fernando Castilhos Silveira ........................................ 480 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
APRESENTAÇÃO 
 
A Comissão de Educação Jurídica e a Escola Superior de Advocacia da Ordem dos 
Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul apresentam um livro inédito na 
construção do conhecimento jurídico: um livro sobre o papel da orientação acadêmica na 
construção da advocacia e dos profissionais do direito. 
 Todos os capítulos que aqui estão foram fruto de um processo complexo que compõe o 
trabalho do professor e da professora de direito que é a orientação de discentes. 
Orientação que é fundamental na formação dos profissionais jurídicos que tenham 
condições técnicas e éticas de ingressarem no mercado da ciência jurídica, habilitados aos mais 
profundos debates de ideias. 
 Em tempos de pseudo ciência, fakenews e ataques ao Estado Democrático de Direito, a 
proposta desse e-book foi demonstrar que o professor, a professora e a universidade são os 
espaços apropriados para resistência e construção do direito afinados com a democracia, 
valorizando o processo de formação nos futuros profissionais jurídicos que estão ingressando 
no mercado de trabalho, seja em suas graduações em direito e ciências jurídicas, seja nos 
estudos mais aprofundados de pós-graduação. 
 Portanto, os capítulos que aqui estão pretendem mostrar que a orientação jurídica é a 
chave da construção do conhecimento jurídico crítico, analítico e responsável. 
 E isso significa dizer que a Comissão de Educação Jurídica e a Escola Superior da 
Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul apoiam a 
atividade acadêmica, valorizam a atividade do professor universitário na construção de um 
profissional do direito que seja comprometido com os valores da advocacia que são o de exercê-
la com dignidade e independência, observando a ética, os deveres e as prerrogativas 
profissionais, defendendo a Constituição, a ordem jurídica, o Estado Democrático de direito, os 
Direitos Humanos, a Justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da Justiça 
e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas. 
 Os autores e autoras dos capítulos são os professores e professoras de direito e seus 
respectivos discentes em sinergia de um trabalho conjunto. 
 Assim, Aline Matzenauer, Rosane Beatriz Danilevicz, Ana Martina Wolmer, Daniel 
Pulcherio Fensterseifer, Anderson Lino da Silva, Luiz Fernando Castilhos Silveira, André 
Lourenço Artmann, Maira Angelica Dal Conte Tonial, Andressa Vitali, Valkiria Briancini, 
Bárbara Candida Giovanini, Luiz Fernando Castilhos Silveira, Bárbara De Cezaro, Kamyla Rita 
Garcia de Oliveira, Carlos André Sousa Birnfeld, Camila Siqueira Prado, Vitória Silveira da 
Silva, Diego Nunes, Pablo Buogo, Raul Rodrigues Kühl, Échele da Silva Candido, Claudio 
Daniel de Souza, Luan Christ Rodrigues, Fernanda Borghetti Cantali, Gabriela Schiefferdecker, 
Thiago Severgnini de Sousa, Grasiela de Souza Thomsen Giorgi, Roberta Drehmer de Miranda, 
Juliana da Silva Franceschi dos Santos, Larissa Ribeiro Cardoso, Caroline Dimuro Bender 
D’Avila, Laura Maurina, Lucas De Marco Stefanello, Luiz Cristiano Souza dos Santos, Luiza 
Belardinucci, Marciéli Oliveira dos Santos, Mariana Kuhn Ferreira, Endrigo Durgante Oliveira 
10 
 
Biscaino Nunes, Náthaly Fernanda Weber Lima, Nathiele Brito da Silva, Karinne Emanoela 
Goettems dos Santos, Renan Augusto Soccol, Rosana Helena Maas, Anderson Carlos Bosa, 
Thamyres Barreto Santos são protagonistas desse e-book e da proposta de comprovar que boas 
orientações geram bons profissionais. 
 Convidamos a comunidade da advocacia a desvelar os mais variados temas que 
compõem os trabalhos científicos aqui apresentados. 
 Seguramente estaremos diante de trabalhos instigantes para o cotidiano de nossas 
atuações profissionais, pensados a partir da experiência acadêmica. 
 Esperamos que a inovação produzida no processo de educação jurídica transforme as 
visões sobre os assuntos e problemas enfrentados nos capítulos, que são os mais diversos e 
refletem a constante necessidade de atualização de nossa ciência. 
 Agradecemos imensamente o engajamento da comunidade acadêmica em geral na 
produção e disseminação do edital de convocação para participação ampla e democrática na 
presente obra. 
 Agradecemos à todas e todos envolvidos na produção desse livro, em especial aos 
autores e autoras que, como já dissemos, são protagonistas desse projeto coletivo de valorização 
de nossa atividade acadêmica como instrumento de transformação de uma advocacia 
comprometida com os valores de respeito aos máximos standards da ciência jurídica, da boa 
administração da justiça, respeito aos direitos das pessoas e do Estado Democrático de Direito. 
 
 Porto Alegre, inverno de 2023. 
 
Carolina Cyrillo 
Advogada. Vice-Presidente da Comissão de Educação Jurídica da OAB/RS. Professora da 
UFRJ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
PREFÁCIO 
 
A obra “EDUCAÇÃO JURÍDICA: orientação acadêmica e construção do 
conhecimento” representa um marco para a educação jurídica brasileira, pois reúne produções 
intelectuais desenvolvidas por estudantes de cursos de Direito sob a orientação de um docente. 
 Considerando que a Educação Jurídica tem como pilares o ensino, a pesquisa e a 
extensão e, que a pesquisa é a parte da formação que materializa o conhecimento adquirido, 
este E-book consiste em um espaço de publicação de artigos científicos resultantes
da pesquisa 
desenvolvida nos trabalhos de conclusão de curso dos mais variados temas jurídicos. 
 De um modo geral, os trabalhos de conclusão de curso consubstanciam o esforço 
intelectual de seus autores. Nos cursos de Direito, frequentemente materializam o exame de 
questões teóricas e práticas que, sob a orientação de professoras e professores, traduzem-se em 
temas atuais e de interesse profissional. 
Nesse tipo de atividade os estudantes têm a possibilidade de trabalhar às suas 
potencialidades e de explorar a suas habilidades e competências de pesquisa, escrita e 
manifestação argumentativa, dentre outras. 
A obra que tenho a honra de prefaciar visa a prestigiar a produção intelectual 
manifestada na academia de modo a estar estreitamente vinculada à realidade profissional. 
Essa obra não seria possível sem a contribuição de discentes e docentes envolvidos na 
experiência intelectual. Naturalmente que os protagonistas são os discentes que com o seu 
esforço e trabalho permitiram a existência da presente obra. Todavia, reconhecemos que 
chegaram ao êxito pelos seus próprios méritos e pela mão segura das orientações ofertadas pelos 
seus professores orientadores. 
Agradecemos, enfim, às autoras e aos autores por suas valorosas contribuições e que os 
leitores possam usufruir e tornar útil os contributos que ora são postos à disposição. Agrademos 
a Escola Superior de Advocacia – ESA/RS, na pessoa do seu Diretor-Geral, Dr. Rolf Madaleno, 
e do Diretor de E-books e da Revista Eletrônica da ESA/RS, Dr. Alexandre Torres Petry, pela 
oportunidade de publicação deste E-book. 
Por fim, deve ser destacada a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Estado do 
Rio Grande do Sul, que na pessoa de seu presidente, Dr. Leonardo Lamachia e de toda a 
Diretoria, está sempre atenta às necessidades da advocacia e, sobretudo, ao aprimoramento 
intelectual e profissional da advocacia. 
 
Rosane Beatriz J. Danilevicz 
Presidente da Comissão de Educação Jurídica 
 
 
 
12 
 
A EXTENSÃO DA IMUNIDADE CONSTITUCIONAL DOS LIVROS, 
JORNAIS, PERIÓDICOS E PAPÉIS PARA A SUA IMPRESSÃO 
CONFERIDA AOS LIVROS ELETRÔNICOS 
 
 Aline Matzenauer1 
Rosane Beatriz Danilevicz2 
 
RESUMO 
 
O presente artigo objetiva examinar a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal expandir, 
alargar a imunidade objetiva, conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para sua 
impressão aos livros eletrônicos, promovendo dessa forma a manutenção efetiva da imunidade 
cultural no ordenamento jurídico pátrio. Sem a pretensão de esgotar o tema e utilizando o 
raciocínio dedutivo baseado na revisão bibliográfica e na jurisprudência de matéria tributária, 
constata-se a viabilidade de extensão e a consequente manutenção da imunidade conferida pela 
Constituição Federal aos livros impressos também aos livros eletrônicos para manutenção da 
tutela do direito de acesso à educação e à cultura frente à rápida evolução tecnológica que 
modificou o livro impresso, transformando-o em um novo objeto – o livro eletrônico. 
 
Palavras-chave: Imunidade cultural; Acesso à cultura e educação; Evolução tecnológica; 
Expansão da imunidade; Livros eletrônicos. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os avanços tecnológicos dos últimos anos abarcaram o formato dos livros, sendo que, 
muitos destes, passaram a ser eletrônicos, digitais; enfim, deixaram de ser impressos. Tal 
mudança criou um hiato em relação à imunidade cultural, vez que esta é conferida pelo nosso 
ordenamento pátrio somente aos livros impressos, jornais, periódicos e papéis para a sua 
impressão. Para evitar a obsolência da imunidade cultural tornou-se de fundamental 
importância a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca da extensão desta imunidade 
aos livros eletrônicos e aos meios de suporte para a sua leitura, como uma ferramenta de 
atualização e manutenção efetiva dessa imunidade cultural tão importante no nosso 
ordenamento jurídico. Assim, a análise de decisões da Suprema Corte tem por escopo responder 
ao seguinte problema: É possível o Supremo Tribunal Federal expandir a imunidade objetiva, 
conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para sua impressão aos livros eletrônicos, 
 
1 Graduada em Ciências Jurídicas pelas Faculdades Integradas São Judas Tadeu. Servidora Pública Federal - 
Técnica Judiciária do INSS de 25/01/13 a 13/04/14; Técnica Judiciária do TRF da 4ª Região de 14/04/14 até a 
corrente data. 
2 Professora orientadora. Advogada. Conselheira Estadual Titular, Presidente da Comissão de Educação Jurídica, 
membro da Comissão de Estágio e Exame de Ordem e da Comissão Especial de Direito Tributário da OAB/RS. 
Mestre em Direito - PUCRS. Professora universitária – UNIRITTER. E-mail: rosane@danilevicz.adv.br 
13 
 
promovendo dessa forma a manutenção efetiva da imunidade cultural no ordenamento jurídico 
pátrio? 
Desta feita, neste artigo, analisar-se-á a possível concessão de tal imunidade cultural aos 
livros eletrônicos. Para tanto, utilizar-se-á o método de abordagem dedutivo, analisando-se, 
primeiro, a imunidade tributária conferida a livros, jornais, periódicos e papéis para a sua 
impressão, compreendendo a sua origem histórica, social e política, que levaram a sua 
composição objetiva e de eficácia plena no nosso ordenamento. Então, conferir-se-á o 
desenvolvimento tecnológico ocorrido em um curto espaço de tempo, o qual afetou o objeto 
alvo principal de tal imunidade, o livro, para, finalmente, chegar ao ponto principal do trabalho 
em questão: a confirmação da extensão dessa imunidade tributária aos livros eletrônicos para a 
manutenção dos direitos fundamentais tutelados por ela, que são a proteção à livre expressão 
do pensamento e o direito à educação e à cultura. Tal confirmação basear-se-á em análises da 
doutrina e jurisprudência relacionadas a forma de concessão da imunidade cultural. 
As técnicas de pesquisa utilizadas para o presente trabalho consistirão em revisões 
bibliográficas em direito tributário, em especial nos temas de imunidade cultural e sua extensão 
aos livros digitais sendo qualitativa com a análise da doutrina e jurisprudência. 
 
1 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 
 
A imunidade conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para a sua impressão 
encontra-se descrita no artigo 150, inc. VI, alínea "d" da Constituição Federal de 1988 é 
chamada de imunidade cultural, a qual consiste em um tipo de imunidade objetiva, com caráter 
político, vez que tem por escopo a manutenção da liberdade de transmissão de pensamentos e, 
ainda, a tutela dos direitos fundamentais de acesso à cultura e educação. Assim, é mandamento 
constitucional expresso incondicionado de eficácia plena, já que goza de aplicação imediata, 
não dependendo de nenhuma condição. 
Já o conceito geral de imunidade tributária constitucional pode ser depreendido das 
lições de Paulsen (2017, p. 109): 
 
As regras constitucionais que proíbem a tributação de determinadas pessoas, 
operações, objetos ou de outras demonstrações de riqueza, negando, portanto, 
competência tributária, são chamadas de imunidades tributárias. Isso porque tornam 
imunes à tributação as pessoas ou bases econômicas nelas referidas relativamente aos 
tributos que a própria regra constitucional negativa de competência. 
 
14 
 
Tal ensinamento facilita a compreensão da imunidade cultural, a qual é uma espécie de 
imunidade tributária conferida especificamente aos livros, jornais, periódicos e papéis para a 
sua impressão, com o intuito de proteção à educação e à cultura. 
Segundo Amaro (2009, p. 151), em que pese a imunidade estar prevista no capítulo do 
Sistema Tributário Nacional, importa frisar que ela não é instituto de direito tributário. A 
imunidade é, antes de tudo, uma garantia de liberdade conferida ao cidadão. Portanto, a 
imunidade não guarda relação direta com a arrecadação tributária, tornando assim irrelevante
a 
capacidade contributiva das pessoas por ela alcançadas. 
Para Machado (2010, p. 300), a definição de imunidade é bastante sucinta, consistindo 
em um obstáculo decorrente da Constituição Federal à incidência da regra jurídica de tributação, 
ou seja, a imunidade impede que a lei defina como hipótese de incidência tributária aquilo que 
é imune. 
Observa-se assim que a imunidade se fundamenta em instituto constitucional que tem 
por objetivo limitar o poder de tributar do Estado. Tal limitação serve a determinados objetivos 
perseguidos pela Constituição Federal e é atribuída a determinadas pessoas mediante o 
preenchimento de determinados requisitos. Trata-se de gênero, o qual engloba diversas 
espécies, dentre as quais, a imunidade conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para a 
sua impressão. 
 
1.1 Contexto histórico, social e político da concessão da imunidade cultural 
 
A imunidade cultural foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro na Constituição 
Federal de 1946, no artigo 31, inciso V, alínea "c" e se aplicava exclusivamente ao papel 
destinado à impressão de jornais, periódicos e livros. 
Carrazza e Torres (2018, p. 318) compreendem que a expressa alusão ao papel de 
imprensa ocorreu por razões puramente históricas, pois, o governo, durante o Estado Novo 
(1937 a 1945), adotava medidas restritivas às importações de papel de imprensa, as quais 
prejudicavam os jornais que faziam oposição ao regime ditatorial. Para evitar essa prática 
arbitrária o escritor baiano Jorge Amado, então deputado constituinte pelo Partido Comunista 
Brasileiro, teve a ideia de propor, à Assembleia Nacional Constituinte, que se inserisse tal 
imunidade na Carta de 1946. 
Assim, Jorge Amado ao defender a não tributação do papel destinado exclusivamente à 
impressão de jornais, periódicos e livros, confirmou o interesse cultural de sua argumentação. 
Frente a esse cenário, optou pelos valores espirituais que, ao mesmo tempo, coincidiam com a 
15 
 
necessidade de preservação da liberdade de crítica e de debate partidário através da imprensa 
(BALEEIRO, 2010, p. 577-578). 
Com o golpe militar de 1964, embora advinda a reforma do sistema tributário mediante 
a Emenda Constitucional nº 18, de 1965, a regra da imunidade do papel destinado 
exclusivamente à impressão de livros, jornais e periódicos foi mantida (Recurso Extraordinário 
nº 330.817). 
A Carta de 1967 estendeu aos livros, jornais e periódicos a imunidade anteriormente 
restrita ao papel destinado à impressão destes (artigo 20, inciso III, alínea "d") o que foi mantido 
com o advento da EC nº 1/1969 (artigo 19, inciso III, alínea "d"). Já a Constituição Federal de 
1988, no artigo 150, inciso VI, alínea "d", manteve a imunidade dos livros, jornais, periódicos 
e do papel destinado a sua impressão (CARRAZZA, 2012, p. 52). 
Percebe-se assim que a Carta Magna de 1988 ao manter a imunidade de forma expressa 
e destacada ao "papel", não o fez no sentido de estreitar o alcance da norma imunizante. Pelo 
contrário, teve o objetivo de manter a expansão da norma que havia sido concedida pela Carta 
de 1967, com o intuito de alcançar o papel além dos livros, periódicos e jornais. 
Esse breve relato histórico demonstra a "evolução" e, de certa forma, a expansão da 
regra imunitória, vez que após ser conferida ao papel para impressão, passou a abranger também 
os próprios livros, periódicos e jornais. Com isso, visível torna-se a preocupação do legislador, 
no decorrer do tempo, em manter a proteção aos direitos de acesso à cultura e educação, os 
quais se constituem em direitos fundamentais de segunda dimensão, portanto passíveis de tutela 
constitucional, a qual lhes é conferida pela imunidade cultural. 
1.2 Caráter objetivo, político e incondicionado da imunidade cultural 
A imunidade cultural apresenta características próprias como: ter caráter político (existe 
para tutelar certos direitos fundamentais, como o acesso à cultura, educação e livre expressão 
do pensamento), ser incondicionada (possui eficácia plena sendo aplicada de forma imediata 
para regular situações concretas, sem a necessidade de edição de leis ou outros atos normativos) 
e de natureza objetiva (alcança somente os impostos que incidiriam sobre os objetos abrangidos 
por ela, como o livro, o periódico, os jornais e os papéis para a sua impressão). 
Carvalho (2019, p 221) reforça que tal imunidade é objetiva, pouco importando as 
qualificações pessoais da entidade que opera com os bens sobre os quais a imunidade atua. 
Sustenta que a norma imunizante possui eficácia plena e aplicabilidade imediata, ou seja, 
comprovado que o objeto é livro, haverá a incidência da imunidade, pouco importando suas 
características individuais e peculiares. Qualquer livro ou periódico e o papel utilizado para a 
16 
 
sua impressão, sem restrições, estarão à margem dos anseios tributários do Estado, no que 
concerne aos impostos. 
O fato de tal imunidade ser objetiva se explica ainda porque esta não beneficia a editora, 
o autor, a empresa jornalística ou de publicidade (sujeitos), mas simplesmente afasta a 
incidência de IPI, do ICMS, do ISS e do Imposto de Importação dos objetos (livros, periódicos, 
jornais e papel para impressão). 
Quanto ao caráter político, a imunidade cultural possui um viés finalístico, porque tem 
por escopo a tutela de direitos e garantias fundamentais constitucionais como a livre 
manifestação do pensamento (sendo vedado o anonimato) e a livre expressão da atividade 
intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, 
destacados no artigo 5º, incisos IV e IX da Constituição Federal de 1988. Ademais, garante a 
viabilidade dos direitos expressos nos artigos 206, inciso II e 220, §§ 1º e 6º. 
Desta forma, o constituinte não pressupôs que quem incorre em operações relacionadas 
a livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua impressão tivesse menor capacidade 
econômica, merecendo maior atenção. Ao contrário, o referido dispositivo imunizante 
constitui-se em estímulo à atividade cultural e garantia da liberdade de manifestação do 
pensamento, do direito de crítica e de posicionamento político, religioso ou ideológico 
(SCHOEURI, 2018, p. 479). 
Nesta seara, destaca-se que a imunidade cultural tem nítido sentido político, pois visa 
assegurar o efetivo exercício da liberdade de manifestação do pensamento e concretizar o 
compromisso do Estado de amparo à cultura e de proteção à liberdade de ação cultural, 
científica e artística (MELLO FILHO, 1986, p. 124). 
Em relação ao caráter incondicionado da imunidade, Martins (2010, p. 301) compreende 
que a eficácia plena da norma imunizante, foi fundamentada em considerações extrajurídicas, 
atendendo à orientação do poder constituinte em função das ideias políticas vigentes, 
preservando valores políticos, religiosos, educacionais, sociais, culturais e econômicos. 
Portanto, a eficácia plena conferida pela constituição à imunidade cultural retira das mãos do 
legislador infraconstitucional, a possibilidade de atingir os direitos fundamentais que devem ser 
protegidos pela imunidade. 
Portanto, observa-se que a imunidade cultural é objetiva (incide sobre os objetos: livros, 
periódicos, jornais e papel), de eficácia plena e incondicionada (não podendo sofrer limitações 
ou restrições pela legislação infraconstitucional), com caráter político de concessão para a 
manutenção e tutela de direitos fundamentais de segunda dimensão (culturais, com o escopo de 
promover a igualdade entre os cidadãos). 
17 
 
2 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E A CONSEQUENTE ALTERAÇÃO DO LIVRO - 
OBJETO PRINCIPAL DA IMUNIDADE CULTURAL 
Historicamente o livro percorreu um longo e variável caminho. De acordo com Fischer 
(2006, p. 17), a leitura antiga era realizada pelos sumérios e significava "contar, calcular, 
ponderar e memorizar, declarar, ler em voz alta". As raras edições literárias que existiam
nessa 
época eram feitas em tabuletas de argila, as quais cabiam na palma da mão, mas eram um objeto 
grande e pesado, desconfortável para a leitura como uma atividade de lazer. Com o passar do 
tempo, materiais como pedra, couro, cascas de árvores, pergaminho e papiro, por exemplo, 
foram sendo utilizados para a transmissão da linguagem em "meios físicos" e constituíam os 
"livros" da época. 
O surgimento da impressão deveu-se a Johann Genfleisch zum Guttemberg, em Mainz, 
na Alemanha, no ano de 1450. Nesta época, a Era do Pergaminho simbolicamente se dobrava 
diante da Era do Papel (FISCHER, 2006, p. 187). 
Desta feita, na idade média, com o surgimento das primeiras modalidades de impressão, 
o papel começou a tomar o lugar dos pergaminhos e, rapidamente, a impressão transformou a 
palavra escrita onipresente, porque a palavra impressa em papel tornou-se barata em 
comparação à escrita à mão no pergaminho. Com o surgimento da impressão em papel, surge o 
livro como conhecemos desde a Idade Média até os dias atuais. (FISCHER, 2006, p. 189). 
Percebe-se, assim, que o livro sofre alterações em seu formato desde o seu surgimento 
até os dias atuais e isso sugere que o que mais caracteriza o livro não é o seu aspecto físico, mas 
sim, o aspecto finalístico. Tal objeto carrega em seu bojo dois aspectos diferentes que o 
determinam, quais sejam: o seu conteúdo físico, material, no qual as palavras estão impressas 
e, por outro lado, o conteúdo propriamente dito, intrínseco, ou seja, as imagens, ideias e palavras 
a serem lidas. Nota-se que o segundo aspecto, é o que determina a função do livro, o seu real 
significado, vez que o suporte físico, apenas existe para carrear o conteúdo que constitui o fim 
maior deste objeto de expressão de ideias. 
O livro é um instrumento que veicula, carrega, porta um conteúdo a ser transmitido ao 
receptor e a imunidade cultural não trata da mera proteção a um objeto corpóreo denominado 
livro, mas de um bem jurídico maior que é o direito fundamental à educação, à cultura, ao 
conhecimento ou a informação. O bem corpóreo é protegido para se atingir a proteção de um 
direito subjetivo público ao conhecimento. Desse modo, o livro carrega em seu corpo um 
significado muito amplo, além de seu conteúdo físico, ou seja, existe para transmitir 
18 
 
ensinamentos, independentemente do veículo no qual é produzido (CANOTILHO, 2018, p. 
3141). 
Por isso, o conceito de livro, no que se refere à questão da imunidade conferida a este, 
baseia-se na utilização de dois métodos de interpretação constitucional: a teleológica e a 
evolutiva. Portanto, o conceito de livro deve alcançar o espírito, a finalidade da norma 
imunizante e os avanços tecnológicos, abarcando conteúdos que não foram imaginados pelo 
legislador constituinte, mas que constituem a finalidade da norma constitucional. Destarte, 
necessária a tutela da mídia escrita, materializada em qualquer tipo de veículo (papel, CD, etc.), 
o que engloba o livro eletrônico, o qual deverá ser abrangido pela norma imunizante (COSTA, 
2018, p.131). 
Seguindo esta linha de raciocínio, pode-se afirmar que o legislador, ao conferir a 
imunidade cultural aos "livros" o fez com o intuito de imunizar qualquer veículo de pensamento, 
não importando o seu meio físico, mas sim a sua função de difundir ideias, pensamentos, enfim, 
espalhar a cultura. Pode-se ir além, concluindo que quaisquer veículos de pensamentos deverão 
ser tutelados pela imunidade cultural, inclusive os livros eletrônicos. 
Cabe aqui destacar uma definição e o possível caráter controverso do conceito de livro 
eletrônico, pois, pode ser compreendido restritivamente apenas como o conteúdo do livro 
transformado em bits e bytes e vendido, por exemplo, pela internet. Contudo pode ainda 
abranger igualmente o instrumento físico ou objeto continente do conteúdo, que podem ser tanto 
os microcomputadores como os e-book readers (YAMASHITA, 2018, p.114). 
Em que pese a controvérsia em relação ao real significado da expressão "livro 
eletrônico", a questão relacionada ao meio-ambiente, não gera qualquer dúvida e, conforme 
Velloso (2018. p. 282), a substituição do livro impresso pelo digital é extremamente salutar ao 
meio ambiente, por dispensar o meio físico papel. 
Em relação à questão ambiental, cada vez mais se incentiva a diminuição na impressão 
de papéis (os quais são extraídos de árvores, causando a devastação de florestas), o que 
representa mais um argumento de defesa da ampliação da imunidade cultural aos livros digitais. 
Ainda, pode-se citar a questão de economia de espaço, pois arquivos digitais, CD-ROMs, etc. 
possuem pequenas dimensões e espaços de memória enormes, garantindo assim que vários 
livros possam ser armazenados em muito pouco espaço. 
Portanto, devido a evolução tecnológica na qual estamos inseridos, tornou-se necessária 
a extensão da imunidade conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para a impressão aos 
livros eletrônicos, vez que representam uma parcela cada vez maior de difusão de conhecimento 
e cultura. Por isso, torna-se imprescindível a análise mais aprofundada sobre as decisões do 
19 
 
Supremo Tribunal Federal no sentido da confirmação de tal extensão do mandamento 
imunizante à categoria dos livros digitais, os quais não estão expressamente definidos na 
Constituição Federal de 1988. 
3 A IMUNIDADE CULTURAL PELA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA 
A imunidade cultural é referida na nossa constituição de uma forma explícita e estreita, 
ou seja, é direcionada de forma objetiva diretamente aos livros, jornais, periódicos e papéis para 
a sua impressão. Portanto, para que ocorra a manutenção da eficácia de tal imunidade no nosso 
ordenamento, faz-se necessária a aplicação de métodos de interpretação constitucional que 
levem a uma atualização da norma. Neste sentido é necessário entender que a finalidade da 
imunidade não se restringe à proteção dos objetos referidos (livros, jornais, periódicos e papéis 
para a sua impressão), mas também à tutela dos direitos que devem ser protegidos pela referida 
norma imunizante. Caso contrário, correr-se-ia o perigo de ver feridos os direitos fundamentais 
de acesso à cultura, à educação e à livre manifestação do pensamento. 
Sobre a rigidez das normas, Maximiliano (2011, p. 37) ensina que: 
 
É um mal necessário a rigidez da forma; ao invés de o abrandarem com a interpretação 
evolutiva, agravam-no com a estreiteza da exegese presa à vontade criadora, primitiva, 
imutável. Se há proveito por um lado, avulta o prejuízo maior por outro: o que a lei 
ganha em segurança, perde em utilidade; menos viável se torna o sofisma, porém fica 
excessivamente restrito o campo de aplicação.
 
 
Com isso, confirma-se a demanda por atualização na interpretação da norma imunizante 
para que esta não perca o seu objetivo principal de manutenção aos direitos fundamentais de 
segunda dimensão a que se propõe tutelar. 
Segundo Schoueri (2018. p. 483) que tal imunidade objetiva tem recebido, pela 
jurisprudência, amplo espectro no que se refere ao conteúdo, bastando para a sua concessão que 
se esteja diante de um livro, jornal ou periódico. Ainda, quando ocorre a análise do conceito de 
livro, não mais parece relevante a sua forma física, aceitando-se uma extensão da imunidade a 
seu suporte físico. Por outro lado, segundo o autor, existe, na jurisprudência, uma tendência à 
restrição da imunidade, que não se estende a insumos diversos do "papel destinado a sua 
impressão". 
Neste contexto, percebe-se o surgimento de duas correntes doutrinárias interpretativas. 
Para a primeira, a imunidade conferida no artigo 150, inciso VI, alínea "d" da Constituição 
Federal de 1988 alcança somente o papel e o que puder ser compreendido dentro da expressão 
"papel destinado à sua impressão", vez que esta teria sido a vontade do constituinte originário 
20 
 
ao redigi-la. Entretanto, para a outra corrente, a ampliativa, a imunidade
deverá ser conferida 
para dar efetividade aos princípios da livre manifestação do pensamento e da livre expressão da 
atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação, difundindo o acesso à cultura e à 
informação, devendo o benefício ser amplo e interpretado teleologicamente, de modo a 
abranger o produto, maquinário e insumos (ÁVILA, 2017, p. 122). 
Essa dualidade interpretativa pode ser observada também através de várias decisões 
prolatadas pelo Supremo Tribunal Federal, ora impedindo a extensão da imunidade a outros 
insumos que não o papel, ora estendendo o benefício a insumos como filmes, papéis 
fotográficos, papel para artes gráficas, dentre outros. 
Ainda pode-se referir outro viés interpretativo quando o Supremo Tribunal Federal 
determina que a imunidade cultural se dirige tão somente aos impostos cobrados sobre os livros, 
jornais e periódicos, não alcançando as outras espécies tributárias, tais como as contribuições, 
taxas ou empréstimos compulsórios, ou seja, tal imunidade seguiria, nesse sentido, uma linha 
restritiva (CANOTILHO, 2018, p. 3143). 
Em que pese as divergências interpretativas, Coelho (2018, p. 217-218) destaca que, de 
forma paulatina, a Suprema Corte tem expandido a abrangência de referida imunidade. Afirma 
que fatores como a expansão da internet, dos computadores pessoais, dos smarthphones, dos 
tablets; do Kindle; intensificação do comércio de produtos digitais; o alvorecer da preocupação 
ambiental e com a sustentabilidade, todos relacionados com a evolução tecnológica, confluíram 
para a mutação constitucional que observamos. Esta mutação abraça o fim último do benefício 
imunitório, qual seja: prestigiar a liberdade de expressão e o desenvolvimento da cultura, da 
educação e da informação, caracterizando-se como uma interpretação teleológica da Lei 
Fundamental. 
Nota-se assim que a tendência da concessão da imunidade vai ao encontro da teoria que 
propõe o alargamento do preceito imunitório, com a aplicação de uma interpretação 
constitucional evolutiva e teleológica, com o intuito de manutenção finalística de tutela dos 
direitos fundamentais de acesso à cultura, educação e liberdade de expressão do pensamento. 
 
3.1 Análise das decisões do Supremo Tribunal Federal relacionadas à imunidade 
tributária 
Retroagindo um pouco no tempo, através da análise de decisões do Supremo Tribunal 
Federal, percebe-se que a Corte vem oscilando na forma de decidir a respeito da abrangência 
21 
 
da imunidade conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para a sua impressão, ora 
alargando, ora restringindo o seu alcance. 
No RE 101.441, a imunidade cultural foi estendida às listas telefônicas: 
 
IMUNIDADE TRIBUTARIA (ART. 19, III, 'D', DA C.F.). I.S.S. - LISTAS 
TELEFONICAS. A EDIÇÃO DE LISTAS TELEFONICAS (CATALOGOS OU 
GUIAS) E IMUNE AO I.S.S., (ART. 19, III, 'D', DA C.F.), MESMO QUE NELAS 
HAJA PUBLICIDADE PAGA. SE A NORMA CONSTITUCIONAL VISOU 
FACILITAR A CONFECÇÃO, EDIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DO LIVRO, DO 
JORNAL E DOS 'PERIODICOS', IMUNIZANDO-SE AO TRIBUTO, ASSIM 
COMO O PRÓPRIO PAPEL DESTINADO A SUA IMPRESSAO, E DE SE 
ENTENDER QUE NÃO ESTAO EXCLUIDOS DA IMUNIDADE OS 
'PERIODICOS' QUE CUIDAM APENAS E TÃO-SOMENTE DE 
INFORMAÇÕES GENERICAS OU ESPECIFICAS, SEM CARÁTER 
NOTICIOSO, DISCURSIVO, LITERARIO, POETICO OU FILOSOFICO, 
MAS DE 'INEGAVEL UTILIDADE PÚBLICA', COMO E O CASO DAS 
LISTAS TELEFONICAS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO, POR 
UNANIMIDADE DE VOTOS, PELA LETRA 'D' DO PERMISSIVO 
CONSTITUCIONAL, E PROVIDO, POR MAIORIA, PARA DEFERIMENTO DO 
MANDADO DE SEGURANÇA. 
(RE 101441, Relator(a): SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 
04/11/1987, DJ 19-08-1988 PP-20262 EMENT VOL-01511-03 PP-00466 RTJ VOL-
00126-01 PP-00216). [Grifo nosso]. 
 
Nesta decisão, o ministro relator, Sydney Sanches, defendeu que as listas telefônicas 
eram publicações técnicas periódicas, com conteúdo técnico informativo extremamente útil, 
como estava descrito na lei. Afirmou que tais listas precisavam ser republicadas a certos 
períodos, sob pena de perderem sua própria finalidade, dificultando sobremaneira as 
telecomunicações. Quanto a circunstância de que as listas continham material publicitário pago, 
concluiu ser este necessário para que tais periódicos pudessem ser distribuídos gratuitamente e 
pudessem alcançar a maior parte da população. Segundo ele, jornais e revistas técnicas que 
gozavam da imunidade cultural também se utilizavam desse expediente para poderem ser 
vendidos a preço menor. Reforçou que a jurisprudência da casa entendia que jornais e revistas 
mesmo com a publicidade comercial eram imunes à tributação por óbvio interesse na 
divulgação de ideias e pensamentos. 
Assim, o Recurso Extraordinário foi provido e dando caráter finalístico à interpretação 
da imunidade, na medida em que levou em consideração os fins aos quais ela se propunha e não 
a observação e aplicação pura da lei escrita. 
Seguindo o viés ampliativo, no RE 174.476, a Corte entendeu pela extensão da 
imunidade aos filmes e papéis fotográficos: 
 
 
22 
 
IMUNIDADE - IMPOSTOS - LIVROS - JORNAIS E PERIÓDICOS - ARTIGO 150, 
INCISO VI, ALÍNEA "D", DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A razão de ser da 
imunidade prevista no texto constitucional, e nada surge sem uma causa, uma razão 
suficiente, uma necessidade, está no interesse da sociedade em ver afastados 
procedimentos, ainda que normatizados, capazes de inibir a produção material e 
intelectual de livros, jornais e periódicos. O benefício constitucional alcança não só 
o papel utilizado diretamente na confecção dos bens referidos, como também 
insumos nela consumidos com são os filmes e papéis fotográficos. 
(RE 174476, Relator(a): MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/ Acórdão: MARCO 
AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 26/09/1996, DJ 12-12-1997 PP-65580 
EMENT VOL-01895-04 PP-00616). [Grifo nosso]. 
 
Neste Recurso Extraordinário, a imunidade cultural foi estendida a qualquer material 
que pudesse ser assimilado ao papel utilizado no processo de impressão, como filmes e papéis 
fotográficos. Tal decisão, apesar de ampliativa, não desvirtuou o tipo de imunidade tributária 
conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para a sua impressão, vez que esta continuou 
sendo objetiva. 
Em consonância com a decisão do RE 174.476 foi aprovada a Súmula 657 que 
determina que "A imunidade prevista no art. 150, VI, "d", da Constituição Federal abrange os 
filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos." 
Outra decisão emblemática em relação à imunidade cultural ocorreu no RE 221.239: 
 
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. ART. 150, VI, "D" DA CF/88. 
"ÁLBUM DE FIGURINHAS". ADMISSIBILIDADE. 1. A imunidade tributária 
sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão tem por escopo 
evitar embaraços ao exercício da liberdade de expressão intelectual, artística, 
científica e de comunicação, bem como facilitar o acesso da população à cultura, à 
informação e à educação. 2. O Constituinte, ao instituir esta benesse, não fez 
ressalvas quanto ao valor artístico ou didático, à relevância das informações 
divulgadas ou à qualidade cultural de uma publicação. 3. Não cabe ao aplicador 
da norma constitucional em tela afastar este benefício fiscal instituído para 
proteger direito tão importante ao exercício da democracia, por força de um 
juízo subjetivo acerca da qualidade cultural ou do valor pedagógico de uma 
publicação destinada ao público infanto-juvenil. 4. Recurso extraordinário 
conhecido e provido. 
(RE 221239, Relator(a): ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 25/05/2004, 
DJ 06-08-2004 PP-00028 EMENT VOL-02158-03 PP-00597 RTJ VOL-00193-01 
PP-00406). [Grifo nosso] 
 
Em seu voto, a ministra relatora, Ellen Gracie, defendeu que a intenção da imunidade 
cultural é facilitar o acesso à cultura e à informação e é realizada pelo álbum de figurinhas, vez 
que este se caracteriza
como um meio para estimular o público infantil a se familiarizar com os 
meios de comunicação impressos. Ressaltou que não cabe ao aplicador da norma 
constitucional em debate afastar esse benefício fiscal, instituído para proteger direito tão 
importante ao exercício da democracia, por força de um juízo subjetivo acerca da qualidade 
cultural ou do valor pedagógico de uma publicação destinada ao público infanto-juvenil. 
23 
 
Ainda, o fato de figuras, fotos ou gravuras de uma determinada publicação serem 
vendidas separadamente em envelopes lacrados não descaracteriza a benesse consagrada no 
artigo 150, inciso VI, alínea "d" da Constituição Federal. 
Destarte, nota-se que a Corte não analisou a qualidade do conteúdo do álbum de 
figurinhas, seguindo o mandamento constitucional de conferir a imunidade tributária a qualquer 
espécie de livro, sem adentrar na análise de seu valor artístico ou didático. Portanto, aqui 
exemplificada mais uma interpretação não restritiva em relação à imunidade tributária em tela. 
Em 2011, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal negou provimento ao RE 
202.149/RS, no qual a União aduziu que a imunidade cultural não seria aplicável às peças 
sobressalentes para equipamentos de preparo e acabamento de chapas de impressão offset para 
jornais. Com isso, foi emanada uma decisão de cunho ampliativo, fazendo com que a imunidade 
alcançasse também insumos indiretos. Todavia, houve interposição de Embargos de 
Divergência, os quais foram acolhidos e providos, alterando assim a decisão a respeito da 
abrangência da imunidade. Posteriormente, houve interposição de Agravo Regimental sobre os 
Embargos divergentes, os quais foram improvidos, conforme ementa abaixo: 
 
E M E N T A: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – PRESSUPOSTOS FORMAIS 
DE SUA UTILIZAÇÃO – JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL QUE SE CONSOLIDOU, POSTERIORMENTE, EM SENTIDO 
OPOSTO AO DO ACÓRDÃO EMBARGADO – DIVERGÊNCIA DE TESES 
CONFIGURADA – CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO SIGNIFICADO E 
ALCANCE DO INSTITUTO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA (CF, ART. 150, 
VI, “d”) – LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL AO PODER DE TRIBUTAR – 
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DO PRECEITO EM REFERÊNCIA 
(PRECEDENTES) – ADMISSIBILIDADE DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA 
– SUCUMBÊNCIA RECURSAL (CPC, ART. 85, § 11) – NÃO DECRETAÇÃO, 
NO CASO, ANTE A INADMISSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO EM VERBA 
HONORÁRIA, POR TRATAR-SE DE PROCESSO DE MANDADO DE 
SEGURANÇA (SÚMULA 512/STF E LEI Nº 12.016/2009, ART. 25) – RECURSO 
DE AGRAVO IMPROVIDO. 
(RE 202149 EDv-AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 
04/06/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-123 DIVULG 20-06-2018 PUBLIC 
21-06-2018). [Grifo nosso]. 
 
Com essa decisão denegatória ao Agravo Regimental, restou confirmado um viés 
restritivo à decisão relacionada a abrangência da imunidade cultural, vez que não permitiu a sua 
extensão a insumos indiretos relacionados à produção e comercialização de livros, jornais e 
periódicos. Notável, portanto, a oscilação da jurisprudência em relação à aplicação da 
imunidade conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis para a sua impressão. 
Por fim, pode-se citar a decisão proferida no RE 330.817/RJ que estendeu a imunidade 
tributária aos livros eletrônicos nos seguintes termos: 
 
24 
 
EMENTA Recurso extraordinário. Repercussão geral. Tributário. Imunidade 
objetiva constante do art. 150, VI, d, da CF/88. Teleologia multifacetada. 
Aplicabilidade. Livro eletrônico ou digital. Suportes. Interpretação evolutiva. 
Avanços tecnológicos, sociais e culturais. Projeção. Aparelhos leitores de livros 
eletrônicos (ou e-readers). 1. A teleologia da imunidade contida no art. 150, VI, d, 
da Constituição, aponta para a proteção de valores, princípios e ideias de elevada 
importância, tais como a liberdade de expressão, voltada à democratização e à 
difusão da cultura; a formação cultural do povo indene de manipulações; a 
neutralidade, de modo a não fazer distinção entre grupos economicamente fortes e 
fracos, entre grupos políticos etc; a liberdade de informar e de ser informado; o 
barateamento do custo de produção dos livros, jornais e periódicos, de modo a 
facilitar e estimular a divulgação de ideias, conhecimentos e informações etc. Ao 
se invocar a interpretação finalística, se o livro não constituir veículo de ideias, de 
transmissão de pensamentos, ainda que formalmente possa ser considerado como tal, 
será descabida a aplicação da imunidade. (...) 3. A interpretação das imunidades 
tributárias deve se projetar no futuro e levar em conta os novos fenômenos 
sociais, culturais e tecnológicos. (...) 4. O art. 150, VI, d, da Constituição não se 
refere apenas ao método gutenberguiano de produção de livros, jornais e periódicos. 
O vocábulo “papel” não é, do mesmo modo, essencial ao conceito desses bens finais. 
O suporte das publicações é apenas o continente (corpus mechanicum) que abrange o 
conteúdo (corpus misticum) das obras. O corpo mecânico não é o essencial ou o 
condicionante para o gozo da imunidade, pois a variedade de tipos de suporte 
(tangível ou intangível) que um livro pode ter aponta para a direção de que ele 
só pode ser considerado como elemento acidental no conceito de livro. (...) 6. A 
teleologia da regra de imunidade igualmente alcança os aparelhos leitores de 
livros eletrônicos (ou e-readers) confeccionados exclusivamente para esse fim, 
ainda que, eventualmente, estejam equipados com funcionalidades acessórias ou 
rudimentares que auxiliam a leitura digital, tais como dicionário de sinônimos, 
marcadores, escolha do tipo e do tamanho da fonte etc. Esse entendimento não é 
aplicável aos aparelhos multifuncionais, como tablets, smartphone e laptops, os 
quais vão muito além de meros equipamentos utilizados para a leitura de livros 
digitais. (...)Tanto o suporte (o CD-Rom) quanto o livro (conteúdo) estão 
abarcados pela imunidade da alínea d do inciso VI do art. 150 da Constituição 
Federal. (...) 9. Em relação ao tema nº 593 da Gestão por Temas da Repercussão 
Geral do portal do STF na internet, foi aprovada a seguinte tese: “A imunidade 
tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-
book), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo.” 
(RE 330817, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 08/03/2017, 
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-195 
DIVULG 30-08-2017 PUBLIC 31-08-2017). [Grifo nosso].
 
 
 
Em tal Recurso Extraordinário com repercussão geral, com acórdão publicado em 2017, 
foi, finalmente, determinado que a imunidade conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis 
para a sua impressão deverá ser estendida aos livros eletrônicos. Ainda, decidiu-se na Suprema 
Corte, no mesmo dia, em outro recurso extraordinário com repercussão geral, que os suportes 
criados exclusivamente para a leitura dos livros digitais também serão abarcados por referida 
imunidade. 
Tais decisões deram origem ao Tema 259 do STF (A imunidade da alínea d, do inciso 
VI, do artigo 150, da Constituição Federal alcança componentes eletrônicos destinados, 
exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos) e ao Tema 593 do STF (A 
25 
 
imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-
book), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo). 
Na esteira de tal entendimento, o Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula 
Vinculante 57 com a seguinte redação: 
 
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação 
e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes 
exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-
readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias. 
 
Com tal aprovação foi ratificada a extensão da imunidade cultural aos livros eletrônicos 
e confirmada a preocupação da Corte em realizar uma interpretação
teleológica, finalística e 
evolutiva do preceito imunizante existente no ordenamento pátrio. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A imunidade cultural possui um viés de proteção a direitos humanos de segunda 
dimensão, vez que foi conferida pelo legislador de forma expressa aos livros, jornais, periódicos 
e papéis para a sua impressão, com o intuito de proteger a liberdade de expressão do pensamento 
e o livre acesso à cultura e à educação. 
A referida imunidade apresenta características próprias como: ser objetiva (atinge 
apenas os objetos: livros, jornais, periódicos e papéis para a sua impressão, sem se "importar" 
com os sujeitos envolvidos na produção destes objetos, como livreiros, gráficas, etc.), possuir 
caráter político (de proteção aos direitos fundamentais de segunda dimensão como proteção à 
educação, à cultura e a livre expressão do pensamento) e ser incondicionada e de eficácia plena 
(não necessita de legislação infraconstitucional para ser regulada, ou seja, no momento da 
concessão, passa a vigorar imediatamente). 
Pode-se ainda observar que a expressa alusão aos livros e papéis, não teve por escopo 
restringir a concessão da imunidade cultural. Tal concessão, apenas ocorreu em um período no 
qual ainda não se imaginava a rápida evolução tecnológica que viria a atingir o principal objeto 
alcançado pela imunidade, qual seja, o livro. 
Ademais, nota-se que a doutrina e a jurisprudência se debruçaram sobre tal assunto 
desenvolvendo duas correntes interpretativas a respeito da aplicação da imunidade cultural, uma 
mais restritiva e outra mais expansiva. Em que pese, tal dicotomia, o que realmente importa é 
a confirmação do posicionamento do Supremo Tribunal Federal frente a expansão de tal norma 
imunitória, ou seja, observa-se que a Corte Suprema expandiu a imunidade cultural aos livros 
digitais. 
26 
 
A partir das decisões referidas neste artigo, percebe-se que o Supremo Tribunal Federal 
acatou a tese de expansão, alargamento da imunidade para os livros eletrônicos, através de uma 
interpretação teleológica e evolutiva. Tais decisões corroboram a afirmação de que nossa 
Suprema Corte vem adotando formas de decisão voltadas à "modernização" de preceitos 
constitucionais escritos sob uma realidade distante e diversa da atual. Embora, a evolução 
tecnológica tenha levado a imunidade tributária conferida aos livros, jornais, periódicos e papéis 
para a sua impressão a uma desatualização, o Supremo Tribunal Federal agindo de maneira a 
expandir tal imunidade aos livros eletrônicos conseguiu atingir e manter o espírito da norma em 
nosso ordenamento jurídico que é o da manutenção e defesa dos direitos humanos e de tudo que 
seja reflexo destes. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ÁVILA, A. R. S. Curso de Direito Tributário. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2017. 
 
AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
 
BALEEIRO, A. Limitações ao poder de tributar. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental em EDv no RE 202149. Tribunal 
Pleno, Brasília, DF, 04 jun. 2018, Relator: Celso de Mello. Disponível em: 
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&p
age=1&pageSize=10&queryString=202.149%20&sort=_score&sortBy=desc>. Acesso em 25 
mai. 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 330.817. Tribunal Pleno, 
Brasília, DF, 08 mar. 2017. Relator: Ministro Dias Toffoli. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 07 set. 
2020. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº 202.149. Primeira Turma, 
Brasília, DF, 26 abr. 2011. Relator: Ministro Menezes Direito. Disponível em: 
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&sinonimo=true&plural>. 
Acesso em: 04 de jun. de 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº 221.239. Tribunal Pleno, 
Brasília, DF, 25 mai. 2004. Relator: Ministra Ellen Gracie. Disponível em: 
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&s
inonimo=true&plural=true&radicais=false&buscaExata=true&page=1&pageSize=10&queryS
tring=221.239&sort=_score&sortBy=desc>. Acesso em: 04 de jun. de 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº 174.476. Tribunal Pleno, 
Brasília, DF, 26 set. 1996. Relator: Ministro Marco Aurélio. Disponível em: 
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&s
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&sinonimo=true&plural
27 
 
inonimo=true&plural=true&radicais=false&buscaExata=true&page=1&pageSize=10&queryS
tring=174.476%20&sort=_score&sortBy=desc>. Acesso em: 04 de jun. de 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº 101.441. Tribunal Pleno, 
Brasília, DF, 19 ago. 1988. Relator: Ministro Sydney Sanches. Disponível em: 
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&s
inonimo=true&plural=true&radicais=false&buscaExata=true&page=1&pageSize=10&queryS
tring=101441&sort=_score&sortBy=desc>. Acesso em: 04 de jun. de 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº. 57. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=5966>. Acesso em 23 
jun. 2021. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tema 259: Tributação da importação de pequenos 
componentes eletrônicos que acompanham material didático de curso de montagem de 
computadores. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incident
e=2651056&numeroProcesso=595676&classeProcesso=RE&numeroTema=259>. Acesso em 
23 jun. 2021. 
 
CANOTILHO, J. J. G. et al. Comentários à Constituição do Brasil. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 
2018. 
 
CARRAZZA, E. N. Imunidades tributárias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 
 
CARAZZA, R.; TORRES, H. Imunidade do papel destinado à impressão de jornais e periódicos 
e a prestação de serviços gráficos. In: SARAIVA FILHO, O. O. P. (coord.). A imunidade do 
livro digital e do seu suporte de fixação - Homenagem ao jurista Hugo de Brito Machado. 
Belo Horizonte: Fórum, 2018. 
 
CARVALHO, P. B. Curso de Direito Tributário. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2019 
 
COELHO, S. C. N. Curso direito tributário brasileiro. 16 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: 
Editora Forense, 2018. 
 
COSTA, R. H. Curso de Direito Tributário - Constituição e Código Tributário Nacional. 
8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
 
FISCHER, S. R. História da leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2006. 
 
MACHADO, H. B. Curso de Direito Tributário. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. 
 
MARTINS, I. G. S. Curso de Direito Tributário. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
MAXIMILIANO, C. Hermenêutica e aplicação do direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2011. 
 
MELLO FILHO, J. C. Constituição federal anotada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. 
 
PAULSEN, L. Curso de direito tributário completo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=5966
28 
 
 
SCHOEURI, L. E. Direito tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
 
VELLOSO, A. Fundamentos e alcance da imunidade tributária do livro digital. YAMASHITA, 
D. Imunidade do livro eletrônico: hardware, software e conteúdo. In: SARAIVA FILHO, O. O. 
P. (coord.). A imunidade do livro digital e do seu suporte de fixação - Homenagem ao 
jurista Hugo de Brito Machado. Belo Horizonte: Fórum, 2018. 
 
YAMASHITA, D. Imunidade do livro eletrônico: hardware, software e conteúdo. In: 
SARAIVA FILHO, O. O. P. (coord.). A imunidade do livro digital e do seu suporte de 
fixação - Homenagem ao jurista Hugo de Brito Machado. Belo Horizonte: Fórum, 2018. 
 
 
 
 
 
 
29 
 
CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS AO PACOTE ANTICRIME 
 
Ana Martina Wolmer1 
Daniel
Pulcherio Fensterseifer2 
 
RESUMO 
 O atual estudo busca demonstrar as dificuldades geradas pelas alterações advindas da Lei n. 
13.964 de 2019, popularmente conhecida como “Pacote Anticrime”, com foco nas mudanças 
de requisitos para progressão de regime, no limite máximo para o cumprimento de pena e no 
regime disciplinar diferenciado, trazendo ao centro do debate uma crítica humanística, social e 
jurídica acerca do tema. Com objetivo de enfatizar os prejuízos causados pela inovação e 
explorar suas consequências, a análise do endurecimento das penas, e do recebimento de 
progressão punitiva com uma ótica prática e evoluída como forma de verificar os requisitos 
pelos quais houve aprovação do Pacote, convidando para um debate contemporâneo e 
expansivo sobre o que se propôs a pesquisar, por meio de verificações doutrinárias e legais 
acerca do tema proposto para enfim, como resultado elaborar uma conjuntura própria acerca do 
assunto estudado. 
Palavras-chave: Pacote Anticrime; Limite Máximo de Cumprimento de Pena; Progressão de 
Regimes; Regime Disciplinar Diferenciado. 
ABSTRACT 
 The current study seeks to demonstrate the difficulties generated by the changes arising from 
Law n. 13,964 of 2019, popularly known as the “Anti-Crime Package”, focusing on changes in 
requirements for regime progression, on the maximum limit for serving a sentence and on the 
differentiated disciplinary regime, bringing to the center of the debate a humanistic, social and 
legal critique about of the theme. With the aim of emphasizing the damage caused by innovation 
and exploring its consequences, the analysis of the hardening of penalties, and the receipt of 
punitive progression with a practical and evolved perspective as a way of verifying the 
requirements for which the Package was approved, inviting a debate contemporary and 
expansive about what it proposed to research, through doctrinal and legal verifications about 
the proposed theme to finally, as a result, elaborate its own juncture about the subject studied. 
Keywords: Anti-Crime Pack. Maximum Limit of Sentencing. Regime Progression. 
Differentiated Disciplinary Regime. 
 
 
 
 
1 Acadêmica do 5º semestre do curso de Direito na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das 
Missões - Câmpus Frederico Westphalen, RS. E-mail: a099104@uri.edu.br. 
2 Doutor e Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS. Professor do curso de Direito e do Programa de Pós-
Graduação em Educação (mestrado e doutorado) da URI. Membro da Comissão de Educação Jurídica da OAB/RS. 
Vice-Presidente da Rede Internacional de Investigação em Direito Educativo-RIIDE/Brasil. Membro da Junta 
Diretiva da Associação Iberoamericana de Therapeutic Jurisprudence. Membro do Conselho Consultivo 
Internacional da International Society for Thrapeutic Jurisprudence. Advogado criminalista. E-mail: 
danielpulcherio@uri.edu.br. 
30 
 
INTRODUÇÃO 
O famoso “Pacote Anticrime” provindo da Lei nº 13.964/2019 entrou em vigor em 23 
de janeiro de 2020, modificando algumas questões diretamente relacionadas à forma de 
aplicação das sanções penais brasileiras, e exigindo uma maior atenção dos aplicadores do 
Direito, pois as mudanças foram consideráveis. Contudo, é sempre válido ressaltar que ela 
atinge somente os crimes acontecidos posteriormente a sua vigência, em respeito aos princípios 
da anterioridade penal (artigo 1º do Código Penal) e da legalidade. É necessária a menção da 
possibilidade da retroatividade da Lei Penal mais benéfica ao acusado, aludido no artigo 2º do 
Código Penal, parágrafo único, porém, ao decorrer da presente análise, nota-se que a recente 
mudança não acarretou, praticamente, em nenhum benefício aos apenados. Pelo contrário, 
trouxe consigo aplicações mais severas e longas da condenação, tornando esse princípio penal 
quase inaplicável aos agentes puníveis. Nesses casos o apenado se aproveita de outra previsão 
fixada pelo caput do artigo 2º, o da irretroatividade da lei mais gravosa. 
Diversos penalistas buscam atribuir uma finalidade à pena, e de acordo com as lições de 
Bitencourt (2022) existem três para o entendimento do porquê punir: a) para a teoria retributiva, 
a punição como uma forma de fazer mal ao criminoso para amenizar o mal que ele causou à 
sociedade e ao Estado, retribuir da mesma forma as atitudes consideradas reprováveis pelo 
Direito, uma espécie de castigo; b) da teoria preventiva, espera-se que quanto pior forem as 
consequências de um delito, menos ele seja cometido, como uma forma de fazer o agente refletir 
e temer a sanção que será aplicada a ele se caso atue em desacordo, e para aqueles que observam 
a penalidade recaindo sobre o outro desistam de tomar a mesma atitude, uma forma de prevenir 
que o crime sequer aconteça, nesse cenário imagina-se que o dispositivo escrito baste para 
impedir futuros delitos; c) ressocializativa, diz respeito àqueles que já cometerem o crime e 
precisam ser ressocializados, ou seja, voltarem a produzir condutas de seres que vivem em uma 
sociedade harmônica e sem violência, para serem reinseridos na vida cotidiana e não 
reincidiram mais, e isso é feito, ou melhor, deveria ser feito, por meio da ressocialização dentro 
das penitenciárias. Outra teoria utilizada para justificar o porquê punir é a corrente agnóstica, 
tese defendida, principalmente, pelo estudioso Eugenio Zaffaroni (2003), para ele a pena é uma 
manifestação política e não jurídica do Poder do Estado controlar o cidadão, e que aplicar 
finalidades a uma ação não passaria apenas de uma forma de minimizar as consequências 
negativas da mesma. O Brasil adotou ambos os objetivos da pena, enquadrando-se na teoria 
mista de acordo com o doutrinador Rogério Greco (2016), isso fica evidenciado no artigo 59 
do Código Penal, e o Pacote Anticrime entende ser possível a concretização das metas da 
31 
 
punição, afinal, foi uma inovação penal, subentendendo-se que traria melhorias como a 
diminuição efetiva dos crimes no país. 
Dentre todas as modificações trazidas no pacote, neste artigo serão abordadas a 
modificação no limite de cumprimento de pena e os novos marcos para progressão de regime. 
 
Alteração no Limite Máximo de Cumprimento de Pena 
 
Uma das mudanças advindas da Lei nº 13.964/2019, artigo 2º, foi o tempo máximo que 
um indivíduo pode cumprir pena privativa de liberdade. Antes da aprovação do Pacote o 
máximo de duração punitiva era de 30 anos, segundo o que dispunha a redação antiga do artigo 
75 do Código Penal. Agora esse tempo aumentou em 10 anos, ou seja, a pena fica no total em 
40 anos, imaginou o legislador que quanto maior o período de aplicação da sanção, menor seria 
a criminalidade, talvez em uma crença sobre a incapacitação física do indivíduo ou no sentido 
de que as medidas preventivas possam surtir efeitos, contudo, antes de aumentar a dosagem 
penal, há necessidade de um amplo debate sobre a efetividade das penas no Brasil, uma vez que 
o índice de reincidência é gigantesco, o que corrobora o entendimento que a forma de punir não 
é eficaz. Não há garantia que a possibilidade de cumprimento de dez anos a mais de condenação 
proporciona o verdadeiro sucesso da garantia da segurança pública e, da redução da 
criminalidade, no entanto, é uma tentativa para gerar aprovação social em massa, e uma 
possibilidade de aplicação das propaladas finalidades da pena, haja vista que gerou um aumento 
considerável do limite da sanção, e do castigo imposto aos condenados. 
Um questionamento possível é: se aumentando de forma progressiva e brusca o prazo 
de cumprimento da pena não acabaram gerando a caracterização do apenado como "resíduo" 
da sociedade, como muitos doutrinadores tratam do chamado direito penal do inimigo, apontada 
por Nucci (2021), pois, quando o criminoso é visto dessa forma, além de violar os princípios 
da pena, não garante a recuperação do agente, o que
apenas gera mais crimes e insegurança ao 
país, deixando todos insatisfeitos, o apenado e a sociedade por perceber a decadência do Direito 
Penal. 
Com relação a vacatio legis, deve ser salientado que o Pacote entrou em vigor no dia 23 
de janeiro de 2020, por se tratar de reformatio in pejus, ou seja, reforma legislativa que prejudica 
o réu, a mesma não retroage em desfavor do condenado, todos os crimes cometidos antes da 
vacância das alterações devem ser julgados e condenados com base nas leis vigentes à época 
do crime, o momento consumativo do delito explicado no artigo 4º do Código Penal.Quanto a 
garantia de irretroatividade de lei penal mais gravosa, trata é tratado no artigo 2º, do CP, o qual 
32 
 
dispõe que “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”, e é elencada 
como garantia pelo artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal de 1988. 
A transformação foi aprovada sob dois aspectos que o legislador considerou de suma 
importância, o primeiro, foi o de dar uma esperada resposta à sociedade diante do aumento 
considerável de delitos cometidos nos últimos anos, e o segundo, com base no aumento da 
expectativa de vida dos brasileiros, buscando compreender melhor esse aspecto da visão do 
legislador, gostaria de fazer algumas observações, inicialmente a de que a base de cálculo de 
prosperidade vital utilizada esqueceu de levar em consideração as condições precárias de 
habitação que as penitenciárias brasileiras apresentam, que consequentemente diminuem a 
qualidade e expectativa de vida daqueles submetidos a prisão em regime fechado, o que fica 
evidente é de que dez anos a mais de encarceramento causaram uma redução na perspectiva e 
na condição de existência do apenado, e o pior de tudo, sem garantia real da melhora do 
condenado, uma vez que este é vítima de um Estado incapaz de cumprir as finalidades da pena. 
Visto isso, especula-se que a base para calcular esse aumento exacerbado da pena, equiparando-
se a expectativa de vida foi baseada em seres humanos que possuem meios adequados de 
habitação, saneamento básico, alimentação, educação, trabalho e lazer, todavia, perfil dos 
criminosos brasileiro não se enquadra nesses aspectos levados em consideração sob a ótica 
elitista do legislador, há enorme divergência entre a quantidade de tempo que um indivíduo que 
tem acesso a serviços básicos de qualidade como a saúde e os que não chegam nem perto de a 
possuírem, que evidencia a despreocupação do Estado em resolver efetivamente seus problemas 
estruturais pelas raízes, e não ficar apenas estancando a ferida inflamada. 
Passando a analisar a mudança na prática, há respaldo na aplicação dessa medida e na 
forma com que deve ser feita no artigo alterado do Código Penal: 
 
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser 
superior a 40 (quarenta) anos. 
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja 
superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite 
máximo deste artigo. 
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, 
far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já 
cumprido. 
E na súmula 715 do STF, que dispõe: 
A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado 
pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, 
como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução. 
33 
 
Leia-se 40 (quarenta) anos onde o documento menciona 30 (trinta) anos, pois fora 
elaborado anteriormente à reforma legal, e seguindo o princípio da continuidade legal (art. 2.º 
da LINDB) lei posterior que altera dispositivo legal, revoga anterior que estiver em desacordo. 
Entendia-se que para fins de progressão de regime e benefícios da execução penal não 
se leva em consideração a pena máxima possível de pena privativa de liberdade, mas sim o 
cômputo total da sanção recebida pelo condenado, observe um exemplo prático: um sujeito é 
condenado por uma homícidio qualificado a 40 anos de pena total, o cálculo para descobrir 
quando terá direito ao recebimento de abonamentos penais é feito a partir dos quarenta anos, 
agora se um agente comete crimes que extrapolam (em sua somatória união) 40 anos, e cheguem 
a, por exemplo, 120 anos, a base para análise de concessão de favorecimento são os cento e 
vinte anos totais e não o máximo limítrofe de pena privativa de liberdade de quarenta anos. Isso 
seria possível pela interpretação do Ministro Luis Fux da Suprema Corte de que: 
 
Outra interpretação conduziria a um tratamento igual para situações desiguais, 
colocando no mesmo patamar pessoas condenadas a 30 anos e a cem ou mais anos de 
reclusão, por exemplo. Não haveria a distribuição de justiça, expressada em dar a cada 
um o que merece. (RHC 103.551, rel. min. Luiz Fux, 1ª T, j. 21-6-2011, DJE 163 de 
25-8-2011.) 
Sobreveio o entendimento presente pela enorme pretensão das defesas recorrerem com 
base no disposto no artigo 75 do Código Penal, visto que, se torna praticamente impossível um 
condenado em penas altas e superiores ao teto majorante de prisão conseguir acesso a qualquer 
benefício, pois irá ter que ficar o limite máximo de cumprimento no regime fechado, diante de 
inúmeras discussões o atual entendimento não é mais o mencionado acima, pois tornaria a pena, 
praticamente perpétua. 
Outra discussão pertinente trazida à tona por Bittencourt é sobre a forma de unificação 
das penas nos crimes que foram cometidos em período anterior (crimes praticados até 23 de 
dezembro de 2020) e posterior a vigência da reforma legal, o mesmo autor, em obra específica 
chamada de Reforma Penal sob a ótica da Lei Anticrime, uma possível solução foi encontrada: 
a de para obter o valor da pena que deve ser cumprida para o sujeito gozar dos benefícios penais 
é a produção de um cálculo, que este possua como parâmetros a proporcionalidade relativa a 
cada período, veja: 
Certamente, não será limitada nem aos trinta anos, nem aos quarenta, ainda que, 
hipoteticamente, possa ter recebido a mesma condenação, para crime praticado antes 
do dia 23 de dezembro, e para crime praticado depois dessa data, digamos, de 25 anos 
de pena, para cada período diferente. Acreditamos que será recomendável fazer-se um 
cálculo aritmético, adotando-se, como parâmetro, a proporcionalidade relativamente 
aos dois períodos, crime praticado antes do dia 23 e outro praticado depois, devendo-
se somar as penas unificando-as para efeitos de execução. Ah, dir-se-ia, mas então 
será fácil, principalmente, na hipótese de receberem a mesma pena de 30 ou 25 anos, 
por exemplo, nos dois períodos, como exemplificado acima. Dividir-se-ia por dois, e, 
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=626606
34 
 
consequentemente, ficaria a média em trinta ou cinco anos! (BITENCOURT, 2022, 
p. 39) 
 
Finaliza ressaltando que o deve ser observado pelo Juiz não é a soma das duas penas 
como aspecto mais relevante, mas sim a quantia de pena que o réu poderá cumprir em relação 
ao período anterior, afirma em suas próprias convicções expostas: “Portanto, essa 
proporcionalidade de tempo de pena cumprido relativamente à lei revogada será o fundamental 
para esse cálculo da proporcionalidade.” (BITTENCOURT, 2022, p. 39) 
Ainda afirma que os problemas advindos dessa obrigatória unificação de penas ainda 
estão por vir, afinal a mudança é recente e os crimes praticados depois de sua vigência 
começarão a ter sentenças condenatórias a partir do momento atual. 
 
Mudanças nos Requisitos para Progressão de Regimes 
 
Inicialmente se faz necessário compreender o que o legislador entende por progressão. 
Para ele seria a evolução de um regime mais rigoroso para outro de menor rigor,

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando