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Por essa perspectiva todas as línguas e dialetos, sejam eles falados pelos povos de cultura mais sofisticada ou pelas tribos mais rudimentares; pelas camadas socialmente favorecidas da sociedade ou pelas camadas populares do campo ou da cidade, todos eles são subsistemas de um sistema geral que lhes dá unidade e, enquanto tal, têm o mesmo grau de complexidade e de capacidade de cumprir sua função comunicativa. Entenda-se então que os critérios que determinarão o que é certo ou o que é errado são bem diferentes dos critérios utilizados pela gramática tradicional. Um primeiro seria o comunicativo, isto é, só é errado o que não cumpre o efeito essencial de qualquer ato de fala: a comunicação. Um segundo critério seria o de adequação, ou seja, todas as formas de falar são corretas e legítimas desde que adequadas ao contexto social no qual elas são realizadas. APÓS ESSE BREVE RESUMO DESSA PERSPECTIVA, ENUMEREMOS ALGUMAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DA CONCEPÇÃO SISTÊMICA DE LINGUAGEM 1. Uma primeira observação é que, se todos sabemos falar uma língua já na idade de entrarmos na escola, o ensino da teoria gramatical é redundante para o desenvolvimento dessa aptidão; 2. Falar supõe o domínio de regras. É claro, são regras internalizadas, mas que as usamos sem a mínima necessidade de ter consciência delas. Essas regras contemplam todos os aspectos da língua falada: fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos, aspectos, aliás, infinitamente mais ricos do que qualquer gramática normativa pode contemplar; 3. Se, por um lado, a criança, ao entrar na escola, já conhece implicitamente a sua língua, por outro, ela não sabe ainda se utilizar de outros meios de expressão linguística, sendo o principal deles a escrita. Caberia, portanto, à escola o desenvolvimento do uso da escrita, não só o que se chama de alfabetização, mas o ensino da produção e da compreensão de todas as variedades de texto. 4. Se é verdade que a criança em idade de ingressar na escola já tem aptidão suficiente para um bom desempenho comunicativo, é também verdade que esse desempenho pode ser melhorado, mas não através do ensino da teoria gramatical. Saber definir um substantivo, um sujeito ou uma oração subordinada completiva nominal é bem menos importante do que saber usá- los. A psicolinguística [5] afirma que é possível saber usar algo sem a necessidade de saber conscientemente uma teoria desse algo, assim como muitos de nós sabemos dirigir um automóvel ignorando quase completamente como ele funciona. 5. Quanto à questão dos dialetos, a ideia de que todos são funcionais e legítimos implica que a forma de falar do aluno, especialmente o das classes populares, deve ser respeitada, mas que é papel da escola torná-lo bidialetal (isto é, dominar, além do seu, o dialeto de prestígio na sociedade). Aliás, não só isso, mas torná-lo apto a se comunicar nas mais variadas formas de linguagem 72
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