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analise do discurso-75

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Por essa perspectiva todas as línguas e dialetos, sejam eles falados pelos povos de cultura mais 
sofisticada ou pelas tribos mais rudimentares; pelas camadas socialmente favorecidas da sociedade ou 
pelas camadas populares do campo ou da cidade, todos eles são subsistemas de um sistema geral que 
lhes dá unidade e, enquanto tal, têm o mesmo grau de complexidade e de capacidade de cumprir sua 
função comunicativa.
Entenda-se então que os critérios que determinarão o que é certo ou o que é errado são bem 
diferentes dos critérios utilizados pela gramática tradicional. Um primeiro seria o comunicativo, isto é, só é 
errado o que não cumpre o efeito essencial de qualquer ato de fala: a comunicação. Um segundo critério 
seria o de adequação, ou seja, todas as formas de falar são corretas e legítimas desde que adequadas ao 
contexto social no qual elas são realizadas.
APÓS ESSE BREVE RESUMO DESSA PERSPECTIVA, ENUMEREMOS 
ALGUMAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DA CONCEPÇÃO 
SISTÊMICA DE LINGUAGEM 
1. Uma primeira observação é que, se todos sabemos falar uma língua já na idade 
de entrarmos na escola, o ensino da teoria gramatical é redundante para o 
desenvolvimento dessa aptidão;
2. Falar supõe o domínio de regras. É claro, são regras internalizadas, mas que as 
usamos sem a mínima necessidade de ter consciência delas. Essas regras 
contemplam todos os aspectos da língua falada: fonológicos, morfológicos, 
sintáticos, semânticos e pragmáticos, aspectos, aliás, infinitamente mais ricos 
do que qualquer gramática normativa pode contemplar;
3. Se, por um lado, a criança, ao entrar na escola, já conhece implicitamente a sua 
língua, por outro, ela não sabe ainda se utilizar de outros meios de expressão 
linguística, sendo o principal deles a escrita. Caberia, portanto, à escola o 
desenvolvimento do uso da escrita, não só o que se chama de alfabetização, mas 
o ensino da produção e da compreensão de todas as variedades de texto.
4. Se é verdade que a criança em idade de ingressar na escola já tem aptidão 
suficiente para um bom desempenho comunicativo, é também verdade que esse 
desempenho pode ser melhorado, mas não através do ensino da teoria 
gramatical. Saber definir um substantivo, um sujeito ou uma oração 
subordinada completiva nominal é bem menos importante do que saber usá-
los. A psicolinguística [5] afirma que é possível saber usar algo sem a 
necessidade de saber conscientemente uma teoria desse algo, assim como 
muitos de nós sabemos dirigir um automóvel ignorando quase completamente 
como ele funciona.
5. Quanto à questão dos dialetos, a ideia de que todos são funcionais e legítimos 
implica que a forma de falar do aluno, especialmente o das classes populares, 
deve ser respeitada, mas que é papel da escola torná-lo bidialetal (isto é, 
dominar, além do seu, o dialeto de prestígio na sociedade). Aliás, não só isso, 
mas torná-lo apto a se comunicar nas mais variadas formas de linguagem 
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