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Educação Ambiental: - Cartografia da EA Diferentes autores, pesquisadores, professores, animadores, monitores, associações, organismos, etc. adotam diferentes discursos sobre a EA e propõem diversas maneiras de construção e práticas educativas. Qual prática é a melhor opção? Que grupos devemos seguir ao propor um projeto em EA? Quais definições são as corretas? Quais são as práticas e definições “corretas”? Em 1977, a UNESCO e o PNUMA realizaram a 1ª Conferencia Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi na Geórgia (ex-URSS): especialistas de todo o mundo definiram os princípios e objetivos da educação ambiental, além de ratificarem muitos dos termos propostos em Belgrado, formularam 41 recomendações para a atuação internacional e regional sobre o tema: “dirigir-se a pessoas de todas as idades, a todos os níveis, na educação formal e não formal. A EA devidamente entendida, deveria constituir uma educação permanente, geral, que reaja às mudanças que se reproduzam em um mundo em rápida evolução”. “dimensão dada ao conteúdo e à prática de educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de um enfoque interdisciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade”. A partir de um mapeamento destas diferentes “correntes” (maneira geral de conceber e praticar a EA), chegaremos a conclusão de que, embora cada uma apresente um conjunto de características específicas que as diferencie uma das outras, não são, no entanto, totalmente diferentes, pois algumas compartilham características comuns. Essa sistematização em correntes é importante ao professor, pois permite que ele explore a diversidade de proposições pedagógicas (SATO & Carvalho, 2005) e se posicione quanto as estratégias e abordagem que adotará em sala de aula. Correntes com tradição mais antiga na EA: Naturalista – centrada na relação com a natureza; enfoque educativo pode ser cognitivo (aprender sobre a natureza), experiencial (viver na natureza e aprender com ela), afetivo, espiritual ou artístico (associação da criatividade humana à natureza). “A educação para a Terra” Steve Van Matre (1990) se contrapõe à EA como resolução de problemas, e trazia uma prática experiencial ao aluno. Na pedagogia para adultos (andragogia), Cohen (1990) afirma que resolver problemas ambientais não é efizar, se não se compreende o funcionamento do planeta Terra. Clover et al. (2000) que aponta que a educação e adultos em EA deve considerar a natureza como educadora e meio de aprendizagem. Conservacionista / recursista – centrada na conservação dos recursos, tanto quanti quanto qualitativamente, bióticos (plantas e animais), meio físico (água, solo, energia, etc.), patrimônio genético, patrimônio construídos, etc. Há uma preocupação com a “administração do meio ambiente”, ou seja, da gestão ambiental. Programas de EA centrados nos 3 R’s, no lixo, na água, são modelos de programas que visão a gestão ambiental e se associam a corrente conservacionista, e mais recente a educação para o consumo, focada na gestão dos recursos, associada a uma questão de equidade social. Resolutiva – surgida no início dos anos 70, em meio a constatação dos graves problemas ambientais emergentes. Considera o meio ambiente como um conjunto de problemas. Essa corrente adota como eixo central a proposta de EA da UNESCO (Programa Internacional de Educação Ambiental – 1975-1995), que trata de informar ou levar as pessoas a se informarem sobre os problemas ambientais globais: imperativo coletivo é modificação de comportamentos e/ou projetos coletivos. Sistêmica – o enfoque sistêmico permite conhecer e compreender as realidades e problemáticas ambientais. A partir de um olhar sistêmico do indivíduo, possível perceber o meio ambiente como um conjunto, que sintetiza a realidade apreendida: percepção e compreensão da dinâmica, assim como pontos de ruptura (se existirem) e sua evolução. A realidade ambiente é de natureza cognitiva, e na tomada de decisões são necessárias tais competências e habilidades. Como prática em educação ambiental a partir de uma concepção sistêmicas, as saídas de campo, com observação e análise do ambiente, associado á resolução de problemas são práticas aplicadas e citadas por diversos autores. Científica – algumas propostas em EA enfatizam o processo científico, com objetivo de abordar de forma mais rigorosa as problemáticas ambientais e melhor compreendê-las nas relações de causa e efeito. A partir da observação, promove-se a indução de hipóteses, e verificação de hipóteses a partir da experimentação e novas observações. Da mesma forma que na corrente sistêmica, o enfoque é sobretudo cognitivo, e competênci9as e habilidades ligadas à experimentação e observação são necessárias. No âmbito da didática das ciências e das ciências ambientais encontramos essas abordagem em EA. Um modelo pedagógico envolveria uma sequencia que integra etapas de um processo científico: exploração do meio, observação dos fenômenos, criação de hipóteses, verificação de hipóteses, concepção de um projeto para resolver o problema ou propor mitigação. A associação entre EA e educação científica somente faz sentido no âmbito das Ciências da Natureza (porém, há críticas quanto essa associação). Humanista – dá ênfase a dimensão humana do meio ambiente, natureza e cultura. Considera as dimensões histórica, política, social, cultural, estética, artística, etc., para além da dimensão biofísica do meio ambiente. O patrimônio é natural, mas também o cultural. O elemento de aprendizagem para compreender o meio ambiente é a “paisagem”; a partir de um enfoque cognitivo, que requer, além da observação, o sensorial, a sensibilidade afetiva, a criatividade. As práticas podem ser direcionadas no sentido da exploração do meio ambiente como meio de vida, construindo representações do mesmo. A exploração do meio de vida pela observação da paisagem em que se situa o aluno (leitura da paisagem), analisar os elementos da natureza, os elementos construídos/introduzidos pelo homem, como se relacionam com esse ambiente natural, e a partir dessa observação construir representações que auxiliem a intervir e auxiliar na proposição de soluções aos problemas ambientais. Moral / Ética – muitos educadores consideram que as EA deve se basear em questões éticas, e na construção de valores ambientais: “moral ambiental”, “competência ética”, “ecocivismo”, antropocentrismo, biocentrismo, socieocentrismo, ecocentrismo, etc. A prática em EA nesta abordagem envolve desenvolver atividades em que se estabeleça o “conflito moral”. Ao estabelecermos uma situação problema ambiental, geramos um “dilema moral” em que cabe ao indivíduos decidir, por exemplo, sobre o uso de determinado recursos por essas gerações, ou se devemos estabelecer limites para o uso pelas gerações futuras. Holística – a visão holística requer ao indivíduo “ser-no-mundo”; o sentido de global não é o mesmo de planetário, mas refere-se a totalidade de cada ser, de cada realidade, e à rede de relações que une os indivíduos entre si, em conjuntos em que passam a ter sentido, e não associa proposições necessariamente homogêneas: proposições psicopedagógicas (desenvolvimento global do individuo em relação ao seu meio ambiente); a cosmologia ou visão de mundo, que leva a um conhecimento orgânico de mundo e uma atuação participativa no meio em que atua. As práticas envolvem que o indivíduo se aproprie do ambiente em que está e o compreenda nas perspectivas sensorial, cognitivo, afetivo, artístico, criativos, etc. Uma outra prática é conhecer as coisas não a partir de uma observação externa, para explica-las, mas buscar compreender o que ambiente diz,a partir dos processos naturais (dinâmicas), o que o podemos definir como a “linguagem das coisas”. Biorregionalista – a definição de biorregião, trata de um espaço geográfico definido mais por suas características naturais, que por seus limites geopolíticos, refere-se a um sentimentos de identidade/pertencimento as comunidades habitantes. Nesta perspectiva biorregional a EA enfoca um olhar não somente aos sistemas naturais, mas também os sistemas sociais, e suas relações, que criam no ambiente o sentimento de “lugar de vida”, da história natural e cultural local. Um modelo de EA pode ser aplicado em regiões em que a escola se torne o centro do desenvolvimento social e ambiental, e enfoque participativo e comunicativo. Esse modelo tem uma aplicação bastante efetiva quando nos remetemos a comunidades com características ambientais específicas, tais como comunidades caiçaras, comunidades em bacias hidrográficas, em áreas de proteção ambiental, etc. Práxica – a ênfase da EA nesta corrente está na aprendizagem na ação, pela ação, e para a melhoria da ação. A práxis consiste, essencialmente, em integrar a prática e a ação, em um processo de alimentação mútua. Como prática indica-se a pesquisa-ação, cujo objetivo essencial é operar uma mudança em um meio (pessoas e meio ambiente). Muita utilizada na EA não formal, empreende- se um processo participativo na resolução de um problema socioambiental. Como proposta, questões devem ser levantadas pelo grupo, tais como, pro que empreendemos esse projeto? a finalidade e objetivos podem se alterar ao longo do caminho? o que aprendemos durante a realização do projeto? o que ainda temos que aprender? Crítica social – a corrente práxica é muitas vezes confundida com a crítica social, que está associada ao campo da “teoria crítica”, no campo das ciências sociais, que encontrou-se com a EA nos anos 80. Essencialmente, analisa as dinâmicas sociais que estão na base das realidades e dos problemas ambientais. As propostas estão centradas em uma pedagogia de projetos interdisciplinares, para o desenvolvimento de uma saber- ação, para a resolução de problemas locais e desenvolvimento local. Diálogo dos saberes: saberes científicos formais, saberes cotidianos, saberes de experiências, saberes tradicionais, etc. A EA que se insere em uma perspectiva sociocrítica, remete aos participantes a refletirem sobre sua própria prática em EA´. Feminista – se insere na corrente crítica social e adota a análise e crítica das relações de poder dentro de grupos sociais. adota a análise e a denúncia das relações de poder dentro dos grupos sociais proveniente da teoria crítica. Estabelece uma ligação estreita entre a dominação das mulheres e da natureza e considera o restabelecimento das relações harmônicas com a natureza indissociável de um projeto social que aponta para a harmonização das relações entre seres humanos – homens e mulheres. É uma corrente que se distancia da corrente de crítica social ao valorizar, igualmente, o enfoque racional e os enfoques, intuitivo, afetivo, simbólico, espiritual ou artístico, das realidades do meio ambiente. Etnográfica – Parte do princípio que a EA não deve impor uma visão de mundo, e enfatiza o caráter cultural da relação com o meio ambiente ao reconhecer a estreita ligação entre natureza e cultura e conceber o meio ambiente como território/lugar de identidade, precisa levar em conta a cultura de referência das populações ou das comunidades envolvidas. Os enfoques dominantes são o experiencial, o intuitivo, o afetivo, o simbólico, o espiritual e o criativo/estético. Propõem não somente adaptar a pedagogia às realidades culturais diferentes, como se inspirar nas pedagogias de diferentes culturas que apresentam outra relação com o meio ambiente (etnopedagogia). As questões culturais são a base das atividades e práticas. Ecoeducação – perspectiva educacional da EA e a relação com o meio ambiente tem a função de promover o desenvolvimento pessoal, através da auto experimentação e da autoformarão, possibilitadas pela experimentação do meio ambiente. O meio ambiente é, portanto, o polo de interação para a formação pessoal que constrói uma melhor relação com o mundo, fundamentada em um atuar significativo e responsável. Os enfoques dominantes são o experiencial, o sensorial, o intuitivo, o afetivo, o simbólico e o criativo. • Heteroformação: educação dominante, eduação vem dos pais, da família, da instituição escolar. • Autoformação: o controle pelo individuo de sua própria formação. • Ecoformação: formação que o indivíduo recebe a partir de seu meio físico, e envolve três movimentos, socialização, personalização e ecologização. • Ecoontogênese (gênese da pessoa em relação ao seu meio ambiente), as relações com o meio ambiente desempenham um papel importante na formação do sujeito A Ecopedagogia pode ser incluída nesta corrente porque, segundo AVANZI (2004), considera a EA como uma mudança de mentalidade em relação à qualidade de vida, associada à busca do estabelecimento de uma relação saudável e equilibrada com o contexto, com o outro e com o ambiente. Planetaridade e cidadania planetária: propõem construir a participação cidadã, considerando o pertencimento ao planeta Terra como uma única comunidade, de modo que as diferenças culturais, geográficas, raciais e outras sejam superadas. Sustentabilidade – a ideologia do desenvolvimento sustentável (DS), que se expandiu a partir dos anos 80, se introduziu na EA impondo-se como uma perspectiva dominante. O Cap. 36 – Agenda 21 (Cúpula da Terra, Rio de Janeiro, 1992) UNESCO substitui seu programa internacional de EA por um Programa de Educação para um Futuro Viável, com o objetivo de promover o DS. A EA se torna uma ferramenta, dentre tantas outras, a serviço do DS. EA limita-se a um enfoque naturalista, e não integras as preocupações sociais no tocante às problemáticas ambientais. Desde 1992 há uma proposta de reestruturação de toda a educação com essa abordagem, uma “nova” educação: Reforma da educação para um desenvolvimento sustentável (UNESCO). 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