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Religião e Modernidade

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LABORATÓRIO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
TODA SEGUNDA ÀS 19 HORAS
[Religiões e progresso]
É conhecida a tese de que nas sociedades pré-modernas, como o medievo
europeu ou as culturas ameríndias e africanas tradicionais, a religião não tem uma
existência à parte das demais esferas da vida, não é um nicho
compartimentalizado de devoção e celebração ritual demarcado no tempo e no
espaço, mas está integrada à textura do cotidiano comum e permeia todas as
instâncias da existência.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
A separação radical entre o profano e o sagrado – entre o mundo secular
regido pela razão, de um lado, e o mundo da fé, regido por opções e afinidades
estritamente pessoais, de outro – seria um traço distintivo da moderna cultura
ocidental. Mas será isso mesmo verdade? Até que ponto o mundo moderno teria
de fato banido a emoção religiosa da vida prática e confinado a esfera do sagrado
ao gueto das preces, contrições e liturgias dominantes? Ou não seria essa
compartimentalização, antes, um meio de apaziguar as antigas formas de
religiosidade e ajustar contas com elas ao mesmo tempo em que se abre e se
desobstrui o terreno visando a liberação da vida prática para o culto de outros
deuses e de outra fé?
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Não se trata, é claro, de negar o valor desses outros deuses: a ciência, a
técnica, o conforto material, a sede de acumulação de riquezas. O equívoco está
em absolutizar esses novos deuses em relação a outros valores, e esperar deles
mais do que podem oferecer. A ciência jamais decifrará o enigma de existir; a
tecnologia não substitui a ética; e o aumento indefinido de renda e riqueza não
nos conduz a vidas mais livres, plenas e dignas de serem vividas, além de pôr em
risco o equilíbrio mesmo da bioesfera.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 152-153)
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
1. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022)
Ao contrário do que ocorre na modernidade, nas sociedades pré-modernas a
religião
(A) revelava-se uma prática eclética, com generosa abertura para o
desenvolvimento do saber e das práticas econômicas.
(B) integrava-se na vida cotidiana, na medida em que adotava uma ética capaz de
justificar seu apreço pelo planejamento financeiro.
(C) mantinha-se viva por conta da distinção muito bem acentuada entre as
instâncias do sagrado e do profano.
(D) compunha-se de maneira vital com todas as demais experiências humanas,
sem delas apartar-se ou a elas se opor.
(E) elevava-se acima de tudo por conta da sua compartimentalização nas liturgias
e nos ritos que lhe eram próprios.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
2. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022)
Ao se referir aos novos deuses, aos outros deuses do nosso tempo, o autor está
considerando a
(A) infundada esperança de que os novos ritos religiosos alcancem a força que
tinham em épocas de devoção mais sincera.
(B) ilusão de que as práticas da ciência, da economia e da tecnologia possam
alcançar as altas metas do progresso que pretendem atingir.
(C) premência de se renovar, no mundo secular, a fé incondicional e a devoção
essencial que caracterizavam os ritos antigos.
(D) estabilidade social que o progresso da ciência e a consolidação dos valores
éticos estão imprimindo no cotidiano moderno.
(E) necessidade de sacralizarmos, como fizeram os antigos, as qualidades morais
que só a prática estritamente religiosa pode recuperar.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
3. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022)
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um
segmento do texto em:
(A) confinado a esfera do sagrado (2º parágrafo) = considerado o âmbito da
sacralização
(B) à parte das demais esferas da vida (1º parágrafo) = além dos outros círculos
vitais
(C) não é um nicho compartimentalizado (1º parágrafo) = não é um recinto
inapropriado
(D) mundo secular regido pela razão (2º parágrafo) = vida antiga tomada pelo
bom senso
(E) afinidades estritamente pessoais (2º parágrafo) = identificações tão somente
particulares
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Sombra
Sombra, explicava a sabida boneca Emília, de Monteiro Lobato, é ar preto.
Criança, não me tranquilizei: do escuro só podiam surgir fantasmas, apagar a luz
era dar uma oportunidade aos duendes e demônios do quarto. Só a luz possuía o
dom confortante de tocar deste mundo os habitantes do outro.
No ginásio, estudante de Física, não me tranquilizei. Sombra é o resultado
da interposição de um corpo opaco entre o observador e o corpo luminoso, sinal
de que muitos corpos luminosos deixam de banhar-nos com sua luz desejável,
sinal de que nos faltam felicidades, de que muitos sóis necessários se
interromperam em sua viagem até nossos olhos.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Não perguntar o que um homem possui, mas o que lhe falta. Isso é
sombra. Não indagar de seus sentimentos, mas saber o que ele não teve a
ocasião de sentir. Sombra. Não se importar com o que ele viveu, mas prestar
atenção à vida que não chegou até ele, que se interrompeu de encontro a
circunstâncias invisíveis, imprevisíveis. A vida é um ofício de luz e trevas.
Enquadrá-lo em sua constelação particular, saber se nasceu muito cedo para
receber a luz da estrela ou se chegou ao mundo quando de há muito se extinguiu
o astro que deveria iluminá-lo.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Ontem vi uma menininha descobrindo sua sombra. Ela parava de espanto,
olhava com os olhos arregalados, tentava agarrar a sombra, andava mais um
pouco, virava de repente para ver se o seu fantasma ainda a seguia. Era a
representação dramática de um poema infantil de Robert Stevenson, no qual uma
menininha vai e vem, rodeando, saltando, gesticulando com seus bracinhos diante
de sua sombra, implorando por uma explicação impossível, dançando um balé
que será a sua própria vida.
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. 
Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 211-212)
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
4. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022)
No contexto do 3º parágrafo, as frases iniciadas por “Não perguntar”, “Não
indagar” e “Não se importar” teriam seu sentido explicitado e preservado caso
essas formas negativas fossem antecedidas por esta abertura:
(A) Não seria razão para
(B) Imaginemos o absurdo de
(C) Trata-se, imperativamente, de
(D) É inconveniente que se passe
(E) Evite-se, em qualquer caso,
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
5. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022)
Ao falar de seu tema – Sombra – o cronista aborda-o
(A) privilegiando seus efeitos lúdicos e prazerosos, tal como os experimenta a
personagem de um poema infantil.
(B) expandindo-o pelas representações simbólicas que o fenômeno ganha,
associado às carências e mistérios da vida.
(C) sobretudo do ponto de vista científico, apoiado na referência que faz a Robert
Stevenson, ao final do texto.
(D) relevando os aspectos curiosos e excêntricos do fenômeno, como ao se
lembrar de uma antiga aula de Física.
(E) de modo a ressaltar o caráter descritivo desse fenômeno, denotando-o como
um jogo simples de iluminação.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
6. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022)
Nas vezes em que se refere à luz ou à iluminação, o cronista
(A) demonstra que a ilusão trazida pelos momentos de luz torna assustadoras as
trevas da nossa vida.
(B) identifica esse fenômeno como uma simples expectativa humana, ao contrário
da naturalidade das sombras.
(C) se restringe aos seus aspectos físicos, evitando se valer de conotações
simbólicas, afetivas ou figurativas.
(D) coloca esse fenômeno no mesmo patamar simbólico e negativo em que
tratou as regiões das sombras.
(E) considera os aspectos simbólicospositivos da clarificação, em contraposição
ao fenômeno que se lhe opõe.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
1. Qual é a principal obra que produzem os autores e narradores dos novos gêneros
autobiográficos? Um personagem chamado eu. O que todos criam e recriam ao
performar as suas vidas nas vitrines interativas de hoje é a própria personalidade.
2. A autoconstrução de si como um personagem visível seria uma das metas
prioritárias de grande parte dos relatos cotidianos, compostos por imagens
autorreferentes, numa sorte de espetáculo pessoal em diálogo com os demais
membros das diversas redes.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
3. Por isso, os canais de comunicação das mídias sociais da internet são também
ferramentas para a criação de si. Esses instrumentos de autoestilização agora se
encontram à disposição de qualquer um. Isso significa um setor crescente da
população mundial, mas também, ao mesmo tempo, remete a outro sentido dessa
expressão. “Qualquer um” significa ninguém extraordinário, em princípio, por ter
produzido alguma coisa excepcional, e que tampouco se vê impelido a fazê-lo para
virar um personagem público. A insistência nessa ideia de que “agora qualquer um
pode” encontra-se no cerne das louvações democratizantes plasmadas em conceitos
como os de “inclusão digital”, recorrentes nas análises mais entusiastas destes
fenômenos, tanto no âmbito acadêmico como no jornalístico.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
4. Em que pese a suposta liberdade de escolha de cada usuário, há códigos implícitos
e fórmulas bastante explícitas para o sucesso dessa autocriação.
5. As diversas versões dessas personalidades que performam em múltiplas telas
admitem certa variabilidade individual, mas costumam partir de uma base comum.
Essa modalidade subjetiva que hoje triunfa está impregnada com alguns vestígios do
estilo do artista romântico, mas não se trata de alguém que procura produzir uma
obra independente do seu criador. Ao invés disso, toda a energia e os recursos
estilísticos estão dirigidos a que esse autor de si mesmo seja capaz de criar um
personagem dotado de uma personalidade atraente. Trata-se de uma obra para ser
vista e, nessa exposição, a obra precisa conquistar os aplausos do público. É uma
subjetividade que se autocria em contato permanente com o olhar alheio, algo que se
cinzela a todo momento para ser compartilhado, curtido, comentado e admirado. Por
isso, trata-se de um tipo de construção de si alterdirigida, recorrendo aos conceitos
propostos pelo sociólogo David Riesman, no livro A multidão solitária.
(Adaptado de: Paula Sibilia. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Contraponto, edição 
digital)Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
7. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022)
A construção de si “alterdirigida” (5º parágrafo) resulta no desejo de
(A) buscar o equilíbrio psicológico para lidar com o excesso de informações
externas.
(B) adquirir o respeito dos que estão, no âmbito do trabalho, em posições
hierárquicas superiores.
(C) criar uma versão melancólica de si mesmo, com base na personalidade de
heróis românticos.
(D) moldar o próprio caráter, voltando-se para “dentro” de si mesmo.
(E) obter a aprovação alheia, forjando uma subjetividade voltada para o olhar do
expectador.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
8. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022)
No texto, a autora
(A) opõe-se à noção de autoconstrução de si como um personagem visível nas
redes sociais.
(B) assinala que qualquer um pode se transformar num personagem público
mesmo sem produzir algo notável.
(C) enaltece o conceito de inclusão digital na seara do jornalismo.
(D) mostra-se avessa à ideia de usar recursos estilísticos para construir uma
personalidade digital.
(E) mostra-se indiferente à criação das “vitrines interativas” da
contemporaneidade.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Por que não aprendi a tocar violão? Sempre me constituiu motivo de
tristeza e humilhação esta precária musicalidade. Uns tocam piano, existe até
quem toque harpa. Eu, nem ao violão me afiz. E não se diga que era pouco o
esforço de D. Chiquinha, minha mestra. Afinava, afinava, apertava as cravelhas,
dava um dó agudíssimo na prima, depois outro dó grave no bordão...
Eu pegava no violão de luxo que minha madrinha de crisma mandara do
Pará, ajeitava-o mal e mal no colo, começava de boa vontade: dum, dum, dum...
– Não! Valha-me Santa Cecília! Segunda! Mude!
E eu: dum, dum, dum...
Ai, música, divina música. D. Chiquinha carpia-se. Tanto sentimento de que
ela dava exemplo, tanta devoção empregada à toa. Eu recomeçava, dócil:
primeira, segunda...
– D. Chiquinha, fiquei com uma bolha no dedo.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Já não sei como a descobrimos: decerto andava nas suas idas e vindas de
casa em casa de aluno. Cobrava dez mil-réis por mês e mais o dinheiro do bonde.
Duas aulas por semana.
Professora de violão, o seu sonho secreto fora sempre o violino, entretanto.
Nas prateleiras da sua sala, guardava ela o seu estradivário – uma rabeca de cego,
fanhosa, inválida, metida numa remendada mortalha de veludo azul. Em certos
dias de bom humor e segredo, ela pegava comovida o arco e executava ao violino
a valsa dos Sinos de Corneville.
Fora desfeita da sorte aquele meu fracasso, porque eu me supunha dotada
e alimentava ambições. Chegara até a pensar, não digo em concertos, mas num
brilhante recital de caridade em que aparecesse de vestido comprido (teria então
uns doze anos) e, num belo contralto, cantasse ao violão certo tango argentino da
minha preferência. Mas tudo neste mundo são vaidades: jamais atingi o tango
argentino.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Voltando a D. Chiquinha: o instrumento plebeu que ensinava constituía
para minha mestra uma fonte de dissabores. A começar pelo apelido que lhe
davam: D. Chiquinha do Violão. Quando alguém o repetia em sua frente, ela
corrigia logo, irritada: – Chiquinha do Violão, não senhor. Francisca dos Santos.
Violão não é meu dono.
Por música clássica não tinha interesse, ou antes, a ignorava. Para D.
Chiquinha, a mais requintada manifestação de arte era a serenata. E dentro desse
critério me ensinava visando talvez fazer de mim o que ela já fora em moça – a
musa de todos os seresteiros da cidade. Sim, não só objeto passivo de canções e
arpejos noturnos mas musa ativa e colaborante. O seresteiro dizia da calçada a
sua trova, e lá da penumbra da alcova a donzela tomava do violão e na mesma
toada respondia. Eram essas as suas lembranças mais queridas, aqueles duelos
musicais, canta tu de lá, canto eu de cá – e entre os dois o grupo desvanecido dos
comparsas que ajudavam no acompanhamento.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Nos acompanhamentos, a nossa favorita era a modinha “A mais gentil das
praieiras”. Dessa eu gostava muito. Porém a mão rebelde não me acompanhava o
entusiasmo.
(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel. “A mais gentil das praieiras”. Melhores crônicas. São Paulo: 
Global Editora, 2012, 1a edição digital)
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
9. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022)
Ao relembrar as aulas de violão, a cronista
(A) atribui as dificuldades com a música à falta de técnica da professora particular.
(B) mostra-se resignada com relação à própria falta de talento para a música.
(C) conclui que é preciso talento inato para aprender a tocar um instrumento
musical.
(D) confessa que jamais se esforçara o suficiente nas aulas de música.
(E) relaciona sua experiência malsucedida ao pobre cenário musical que a
rodeava.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
10. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022)
A narradora recorre à ironia na seguinte passagem:
(A) Mas tudo neste mundo são vaidades.
(B) Por música clássica não tinha interesse, ou antes, a ignorava.
(C) Eu, nem ao violão me afiz.
(D) Nas prateleiras da sua sala, guardava ela o seu estradivário.
(E) decerto andava nas suas idas e vindas de casa em casa de aluno.
Interpretação de texto
Prof. Décio Terror
Obrigado!

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