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SITE: WWW.PROFESSORDECIOTERROR.COM.BR INSTAGRAM: @DECIOTERROR YOUTUBE: DÉCIO TERROR http://www.professordecioterror.com.br/ https://www.instagram.com/decioterror/ https://www.youtube.com/channel/UCu5mMewoQZGIjsbgM6UanLg LABORATÓRIO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO TODA SEGUNDA ÀS 19 HORAS [Religiões e progresso] É conhecida a tese de que nas sociedades pré-modernas, como o medievo europeu ou as culturas ameríndias e africanas tradicionais, a religião não tem uma existência à parte das demais esferas da vida, não é um nicho compartimentalizado de devoção e celebração ritual demarcado no tempo e no espaço, mas está integrada à textura do cotidiano comum e permeia todas as instâncias da existência. Interpretação de texto Prof. Décio Terror A separação radical entre o profano e o sagrado – entre o mundo secular regido pela razão, de um lado, e o mundo da fé, regido por opções e afinidades estritamente pessoais, de outro – seria um traço distintivo da moderna cultura ocidental. Mas será isso mesmo verdade? Até que ponto o mundo moderno teria de fato banido a emoção religiosa da vida prática e confinado a esfera do sagrado ao gueto das preces, contrições e liturgias dominantes? Ou não seria essa compartimentalização, antes, um meio de apaziguar as antigas formas de religiosidade e ajustar contas com elas ao mesmo tempo em que se abre e se desobstrui o terreno visando a liberação da vida prática para o culto de outros deuses e de outra fé? Interpretação de texto Prof. Décio Terror Não se trata, é claro, de negar o valor desses outros deuses: a ciência, a técnica, o conforto material, a sede de acumulação de riquezas. O equívoco está em absolutizar esses novos deuses em relação a outros valores, e esperar deles mais do que podem oferecer. A ciência jamais decifrará o enigma de existir; a tecnologia não substitui a ética; e o aumento indefinido de renda e riqueza não nos conduz a vidas mais livres, plenas e dignas de serem vividas, além de pôr em risco o equilíbrio mesmo da bioesfera. (Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 152-153) Interpretação de texto Prof. Décio Terror 1. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022) Ao contrário do que ocorre na modernidade, nas sociedades pré-modernas a religião (A) revelava-se uma prática eclética, com generosa abertura para o desenvolvimento do saber e das práticas econômicas. (B) integrava-se na vida cotidiana, na medida em que adotava uma ética capaz de justificar seu apreço pelo planejamento financeiro. (C) mantinha-se viva por conta da distinção muito bem acentuada entre as instâncias do sagrado e do profano. (D) compunha-se de maneira vital com todas as demais experiências humanas, sem delas apartar-se ou a elas se opor. (E) elevava-se acima de tudo por conta da sua compartimentalização nas liturgias e nos ritos que lhe eram próprios. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 2. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022) Ao se referir aos novos deuses, aos outros deuses do nosso tempo, o autor está considerando a (A) infundada esperança de que os novos ritos religiosos alcancem a força que tinham em épocas de devoção mais sincera. (B) ilusão de que as práticas da ciência, da economia e da tecnologia possam alcançar as altas metas do progresso que pretendem atingir. (C) premência de se renovar, no mundo secular, a fé incondicional e a devoção essencial que caracterizavam os ritos antigos. (D) estabilidade social que o progresso da ciência e a consolidação dos valores éticos estão imprimindo no cotidiano moderno. (E) necessidade de sacralizarmos, como fizeram os antigos, as qualidades morais que só a prática estritamente religiosa pode recuperar. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 3. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022) Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em: (A) confinado a esfera do sagrado (2º parágrafo) = considerado o âmbito da sacralização (B) à parte das demais esferas da vida (1º parágrafo) = além dos outros círculos vitais (C) não é um nicho compartimentalizado (1º parágrafo) = não é um recinto inapropriado (D) mundo secular regido pela razão (2º parágrafo) = vida antiga tomada pelo bom senso (E) afinidades estritamente pessoais (2º parágrafo) = identificações tão somente particulares Interpretação de texto Prof. Décio Terror Sombra Sombra, explicava a sabida boneca Emília, de Monteiro Lobato, é ar preto. Criança, não me tranquilizei: do escuro só podiam surgir fantasmas, apagar a luz era dar uma oportunidade aos duendes e demônios do quarto. Só a luz possuía o dom confortante de tocar deste mundo os habitantes do outro. No ginásio, estudante de Física, não me tranquilizei. Sombra é o resultado da interposição de um corpo opaco entre o observador e o corpo luminoso, sinal de que muitos corpos luminosos deixam de banhar-nos com sua luz desejável, sinal de que nos faltam felicidades, de que muitos sóis necessários se interromperam em sua viagem até nossos olhos. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Não perguntar o que um homem possui, mas o que lhe falta. Isso é sombra. Não indagar de seus sentimentos, mas saber o que ele não teve a ocasião de sentir. Sombra. Não se importar com o que ele viveu, mas prestar atenção à vida que não chegou até ele, que se interrompeu de encontro a circunstâncias invisíveis, imprevisíveis. A vida é um ofício de luz e trevas. Enquadrá-lo em sua constelação particular, saber se nasceu muito cedo para receber a luz da estrela ou se chegou ao mundo quando de há muito se extinguiu o astro que deveria iluminá-lo. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Ontem vi uma menininha descobrindo sua sombra. Ela parava de espanto, olhava com os olhos arregalados, tentava agarrar a sombra, andava mais um pouco, virava de repente para ver se o seu fantasma ainda a seguia. Era a representação dramática de um poema infantil de Robert Stevenson, no qual uma menininha vai e vem, rodeando, saltando, gesticulando com seus bracinhos diante de sua sombra, implorando por uma explicação impossível, dançando um balé que será a sua própria vida. (Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 211-212) Interpretação de texto Prof. Décio Terror 4. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022) No contexto do 3º parágrafo, as frases iniciadas por “Não perguntar”, “Não indagar” e “Não se importar” teriam seu sentido explicitado e preservado caso essas formas negativas fossem antecedidas por esta abertura: (A) Não seria razão para (B) Imaginemos o absurdo de (C) Trata-se, imperativamente, de (D) É inconveniente que se passe (E) Evite-se, em qualquer caso, Interpretação de texto Prof. Décio Terror 5. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022) Ao falar de seu tema – Sombra – o cronista aborda-o (A) privilegiando seus efeitos lúdicos e prazerosos, tal como os experimenta a personagem de um poema infantil. (B) expandindo-o pelas representações simbólicas que o fenômeno ganha, associado às carências e mistérios da vida. (C) sobretudo do ponto de vista científico, apoiado na referência que faz a Robert Stevenson, ao final do texto. (D) relevando os aspectos curiosos e excêntricos do fenômeno, como ao se lembrar de uma antiga aula de Física. (E) de modo a ressaltar o caráter descritivo desse fenômeno, denotando-o como um jogo simples de iluminação. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 6. (FCC / TJCE Oficial de Justiça 2022) Nas vezes em que se refere à luz ou à iluminação, o cronista (A) demonstra que a ilusão trazida pelos momentos de luz torna assustadoras as trevas da nossa vida. (B) identifica esse fenômeno como uma simples expectativa humana, ao contrário da naturalidade das sombras. (C) se restringe aos seus aspectos físicos, evitando se valer de conotações simbólicas, afetivas ou figurativas. (D) coloca esse fenômeno no mesmo patamar simbólico e negativo em que tratou as regiões das sombras. (E) considera os aspectos simbólicospositivos da clarificação, em contraposição ao fenômeno que se lhe opõe. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 1. Qual é a principal obra que produzem os autores e narradores dos novos gêneros autobiográficos? Um personagem chamado eu. O que todos criam e recriam ao performar as suas vidas nas vitrines interativas de hoje é a própria personalidade. 2. A autoconstrução de si como um personagem visível seria uma das metas prioritárias de grande parte dos relatos cotidianos, compostos por imagens autorreferentes, numa sorte de espetáculo pessoal em diálogo com os demais membros das diversas redes. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 3. Por isso, os canais de comunicação das mídias sociais da internet são também ferramentas para a criação de si. Esses instrumentos de autoestilização agora se encontram à disposição de qualquer um. Isso significa um setor crescente da população mundial, mas também, ao mesmo tempo, remete a outro sentido dessa expressão. “Qualquer um” significa ninguém extraordinário, em princípio, por ter produzido alguma coisa excepcional, e que tampouco se vê impelido a fazê-lo para virar um personagem público. A insistência nessa ideia de que “agora qualquer um pode” encontra-se no cerne das louvações democratizantes plasmadas em conceitos como os de “inclusão digital”, recorrentes nas análises mais entusiastas destes fenômenos, tanto no âmbito acadêmico como no jornalístico. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 4. Em que pese a suposta liberdade de escolha de cada usuário, há códigos implícitos e fórmulas bastante explícitas para o sucesso dessa autocriação. 5. As diversas versões dessas personalidades que performam em múltiplas telas admitem certa variabilidade individual, mas costumam partir de uma base comum. Essa modalidade subjetiva que hoje triunfa está impregnada com alguns vestígios do estilo do artista romântico, mas não se trata de alguém que procura produzir uma obra independente do seu criador. Ao invés disso, toda a energia e os recursos estilísticos estão dirigidos a que esse autor de si mesmo seja capaz de criar um personagem dotado de uma personalidade atraente. Trata-se de uma obra para ser vista e, nessa exposição, a obra precisa conquistar os aplausos do público. É uma subjetividade que se autocria em contato permanente com o olhar alheio, algo que se cinzela a todo momento para ser compartilhado, curtido, comentado e admirado. Por isso, trata-se de um tipo de construção de si alterdirigida, recorrendo aos conceitos propostos pelo sociólogo David Riesman, no livro A multidão solitária. (Adaptado de: Paula Sibilia. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Contraponto, edição digital)Interpretação de texto Prof. Décio Terror 7. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022) A construção de si “alterdirigida” (5º parágrafo) resulta no desejo de (A) buscar o equilíbrio psicológico para lidar com o excesso de informações externas. (B) adquirir o respeito dos que estão, no âmbito do trabalho, em posições hierárquicas superiores. (C) criar uma versão melancólica de si mesmo, com base na personalidade de heróis românticos. (D) moldar o próprio caráter, voltando-se para “dentro” de si mesmo. (E) obter a aprovação alheia, forjando uma subjetividade voltada para o olhar do expectador. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 8. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022) No texto, a autora (A) opõe-se à noção de autoconstrução de si como um personagem visível nas redes sociais. (B) assinala que qualquer um pode se transformar num personagem público mesmo sem produzir algo notável. (C) enaltece o conceito de inclusão digital na seara do jornalismo. (D) mostra-se avessa à ideia de usar recursos estilísticos para construir uma personalidade digital. (E) mostra-se indiferente à criação das “vitrines interativas” da contemporaneidade. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Por que não aprendi a tocar violão? Sempre me constituiu motivo de tristeza e humilhação esta precária musicalidade. Uns tocam piano, existe até quem toque harpa. Eu, nem ao violão me afiz. E não se diga que era pouco o esforço de D. Chiquinha, minha mestra. Afinava, afinava, apertava as cravelhas, dava um dó agudíssimo na prima, depois outro dó grave no bordão... Eu pegava no violão de luxo que minha madrinha de crisma mandara do Pará, ajeitava-o mal e mal no colo, começava de boa vontade: dum, dum, dum... – Não! Valha-me Santa Cecília! Segunda! Mude! E eu: dum, dum, dum... Ai, música, divina música. D. Chiquinha carpia-se. Tanto sentimento de que ela dava exemplo, tanta devoção empregada à toa. Eu recomeçava, dócil: primeira, segunda... – D. Chiquinha, fiquei com uma bolha no dedo. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Já não sei como a descobrimos: decerto andava nas suas idas e vindas de casa em casa de aluno. Cobrava dez mil-réis por mês e mais o dinheiro do bonde. Duas aulas por semana. Professora de violão, o seu sonho secreto fora sempre o violino, entretanto. Nas prateleiras da sua sala, guardava ela o seu estradivário – uma rabeca de cego, fanhosa, inválida, metida numa remendada mortalha de veludo azul. Em certos dias de bom humor e segredo, ela pegava comovida o arco e executava ao violino a valsa dos Sinos de Corneville. Fora desfeita da sorte aquele meu fracasso, porque eu me supunha dotada e alimentava ambições. Chegara até a pensar, não digo em concertos, mas num brilhante recital de caridade em que aparecesse de vestido comprido (teria então uns doze anos) e, num belo contralto, cantasse ao violão certo tango argentino da minha preferência. Mas tudo neste mundo são vaidades: jamais atingi o tango argentino. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Voltando a D. Chiquinha: o instrumento plebeu que ensinava constituía para minha mestra uma fonte de dissabores. A começar pelo apelido que lhe davam: D. Chiquinha do Violão. Quando alguém o repetia em sua frente, ela corrigia logo, irritada: – Chiquinha do Violão, não senhor. Francisca dos Santos. Violão não é meu dono. Por música clássica não tinha interesse, ou antes, a ignorava. Para D. Chiquinha, a mais requintada manifestação de arte era a serenata. E dentro desse critério me ensinava visando talvez fazer de mim o que ela já fora em moça – a musa de todos os seresteiros da cidade. Sim, não só objeto passivo de canções e arpejos noturnos mas musa ativa e colaborante. O seresteiro dizia da calçada a sua trova, e lá da penumbra da alcova a donzela tomava do violão e na mesma toada respondia. Eram essas as suas lembranças mais queridas, aqueles duelos musicais, canta tu de lá, canto eu de cá – e entre os dois o grupo desvanecido dos comparsas que ajudavam no acompanhamento. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Nos acompanhamentos, a nossa favorita era a modinha “A mais gentil das praieiras”. Dessa eu gostava muito. Porém a mão rebelde não me acompanhava o entusiasmo. (Adaptado de: QUEIROZ, Rachel. “A mais gentil das praieiras”. Melhores crônicas. São Paulo: Global Editora, 2012, 1a edição digital) Interpretação de texto Prof. Décio Terror 9. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022) Ao relembrar as aulas de violão, a cronista (A) atribui as dificuldades com a música à falta de técnica da professora particular. (B) mostra-se resignada com relação à própria falta de talento para a música. (C) conclui que é preciso talento inato para aprender a tocar um instrumento musical. (D) confessa que jamais se esforçara o suficiente nas aulas de música. (E) relaciona sua experiência malsucedida ao pobre cenário musical que a rodeava. Interpretação de texto Prof. Décio Terror 10. (FCC / TJCE Analista Judiciário 2022) A narradora recorre à ironia na seguinte passagem: (A) Mas tudo neste mundo são vaidades. (B) Por música clássica não tinha interesse, ou antes, a ignorava. (C) Eu, nem ao violão me afiz. (D) Nas prateleiras da sua sala, guardava ela o seu estradivário. (E) decerto andava nas suas idas e vindas de casa em casa de aluno. Interpretação de texto Prof. Décio Terror Obrigado!
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