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AULA 2 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NAS DIVERSAS DIFICULDADES E TRANSTORNOS Profª Luciana Isabel de Almeida Trad 2 CONVERSA INICIAL O neuropsicopedagogo exercerá suas atividades em contextos diferenciados e, de acordo com as características dos espaços em que atuar, poderá fazê-lo em área clínica ou em área institucional, como em escolas públicas e particulares, centros de educação, instituições de ensino superior e do terceiro setor que apresentem projetos voltados às dificuldades de aprendizagem. Poderá ainda investir no ensino e em pesquisa. Estudaremos nesta aula a atuação do neuropsicopedagogo. No Tema 1, a atuação do neuropsicopedagogo conforme a sua práxis. O Tema 2 mostrará a responsabilidade ética do neuropsicopedagogo. No Tema 3 teremos uma abordagem sobre a atuação do neuropsicopedagogo institucional, no Tema 4 sobre a atuação do neuropsicopedagogo clínico e, para finalizar, o Tema 5 pontuará sobre o neuropsicopedagogo pesquisador. Seja em ambiente clínico ou institucional, o neuropsicopedagogo construirá o seu processo avaliativo de forma integrada. A avaliação do indivíduo, os relatos da família, as observações no âmbito escolar e a participação de outros profissionais envolvidos no caso em estudo contribuem para um melhor entendimento de uma situação, para um planejamento de intervenção mais adequado e uma estimulação cognitiva fundamentada, com direcionamentos terapêuticos. A neuropsicopedagogia, por meio da compreensão dos processos mentais superiores (atenção, memória, função executiva etc.), de explicações psicológicas e instruções de ensino visa proporcionar um quadro de conhecimento e plena ação para a descrição, explicação, tratamento e valorização do ensino-aprendizagem que ocorre ao longo da vida do aluno, promovendo sua formação abrangente, com repercussões para além da instituição de ensino e do período de tempo e do tipo de aprendizagem estabelecido como válido (Suáres, 2006, citado por Pêna, 2005). CONTEXTUALIZANDO Em função de suas bases teóricas e práticas, o campo de atuação profissional do neuropsicopedagogo é multidisciplinar, com objetivos educacionais (Tamez, ca. 2006). Tendo em vista que o campo de atuação do neuropsicopedagogo é dirigido para a aprendizagem e as dificuldades 3 relacionadas a ela, a compreensão do funcionamento do cérebro, da neuroplasticidade, dos transtornos e síndromes, assim como das metodologias de ensino e aprendizagem são conhecimentos imprescindíveis para seu exercício profissional. TEMA 1 – A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO A atuação do neuropsicopedagogo está voltada para demandas pautadas na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, motor e comportamental dos indivíduos, considerando-se os princípios da neurociência aplicada à Educação, em interface com a pedagogia e a psicologia. Para entender o trabalho em neuropsicopedagogia, é importante compreender que a sua prática não é a junção de neuropsicologia e psicopedagogia. A Neuropsicologia, num sentido lato, é o estudo das relações entre o cérebro e o comportamento e, num sentido stricto, é o campo de atuação profissional que investiga as alterações cognitivas e comportamentais associadas às lesões cerebrais. Este estudo é realizado mediante a aplicação dos conhecimentos advindos das várias disciplinas acadêmicas que configuram o campo das neurociências (neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica e neurofarmacologia) e de atuação profissional do psicólogo (psicometria, psicologia clínica, psicologia experimental, psicopatologia e psicologia cognitiva). Os dois principais empregos da Neuropsicologia são a avaliação e a reabilitação neuropsicológica... O foco da investigação são as funções cognitivas, tais como: memória, atenção, linguagem, funções executivas, raciocínio, motricidade e percepção, bem como as alterações afetivas e de personalidade. (Hamdan; Pereira; Rieche, 2011) De acordo com a Associação Brasileira de Psicopedagogia: Art.1º A psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos. §1ºA intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento, relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre os processos de aprendizagem e as suas dificuldades. § 2º A intervenção psicopedagógica na Educação e na Saúde se dá em diferentes âmbitos da aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre o institucional e o clínico. Art. 2º A Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza métodos, instrumentos e recursos próprios para compreensão do processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção. Art.3º A atividade psicopedagógica tem como objetivos: a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão escolar e social; b) compreender e propor ações frente às dificuldades de aprendizagem; c) realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia; d) mediar conflitos relacionados aos processos de aprendizagem. 4 Art.4º O psicopedagogo deve, com autoridades competentes, refletir e elaborar a organização, a implantação e a execução de projetos de Educação e Saúde no que concerne às questões psicopedagógicas (ABPp, 2011) Russo (2015) ressalta que, embora a neuropsicopedagogia seja o estudo do cérebro e da aprendizagem humana, apoiando-se nas bases teóricas da neurociência e da educação, ela “tem como alicerces de sua prática as teorias da aprendizagem estratégias de ensino-aprendizagem” (Russo, 2015, p. 17). A autora pontua que a neuropsicopedagogia se assemelha à neuropsicologia e à psicopedagogia quanto à “natureza multiprofissional, inter e transdisciplinar e [a]o estudo do desenvolvimento humano e dos processos do ensino- aprendizagem” (Russo, 2015, p. 18). Antes de falarmos sobre as áreas de atuação profissional do neuropsicopedagogo, precisamos compreender os princípios éticos que orientam sua prática. TEMA 2 – O CÓDIGO DE ÉTICA DO NEUROPSICOPEDAGOGO O Código de Ética Técnico Profissional tem como objetivo estabelecer critérios e orientar os profissionais da Neuropsicopedagogia, quanto aos princípios, normas e valores ponderados à boa conduta profissional [...]. Procura fomentar a autorreflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas consequências no exercício de conduta profissional (SBNPp, 2014). 2.1 Dos princípios fundamentais e diretrizes O Código de Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, em seu capítulo II, estabelece que: Art.11. O Neuropsicopedagogo fundamentará todo o seu trabalho levando em consideração: respeito, liberdade, dignidade, igualdade e a integridade do ser humano apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição do Brasil e nos preceitos éticos deste Código. Toda pessoa, seja profissional, estudante, ainda que docente da Neuropsicopedagogia não deve fazer discriminação de pessoas em relação de raça, gênero, cor, nacionalidade, idade, orientação sexual, classe social, doenças, deficiências, sequelas e necessidades especiais. Art. 12. O Neuropsicopedagogo deve exercer somente as funções para as quais ele está qualificado e habilitado pessoal e tecnicamente. Art. 13. O Neuropsicopedagogo deve estar em busca constante de sua saúde física e mental observando as suas limitações pessoais quepossam interferir na qualidade do seu trabalho, inclusive durante a sua formação. Art. 14. O Neuropsicopedagogo trabalhará para promover a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade que passarem por sua intervenção ou avaliação e contribuirá para a eliminação de quaisquer 5 formas de negligência, omissão, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Art. 15. O Neuropsicopedagogo fará sua atuação dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles aos quais presta serviços. Art. 16. O Neuropsicopedagogo deve ter como princípio básico a promoção do desenvolvimento das pessoas que o recorrem sob seu atendimento profissional devendo utilizar todos os recursos técnicos disponíveis (principalmente a transdisciplinaridade) e de acordo com cada especificidade, proporcionando o melhor serviço possível. Art. 17. O Neuropsicopedagogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade humana dentro dos aspectos: políticos, econômicos, sociais e culturais e todos os contextos que de alguma forma possam ser relevantes de análise sobre a responsabilidade e o seu papel social. Art. 18. O Neuropsicopedagogo atuará com suas responsabilidades, por meio do contínuo aprimoramento profissional, levando em consideração todos os avanços pertinentes a área, sejam estes: políticos, econômicos, sociais, tecnológicos ou científicos, contribuindo para o desenvolvimento da Neuropsicopedagogia e apoiando-se sempre em bases referenciais do campo da ciência de conhecimento e de prática, buscando instrumentos específicos de atuação com bases e validação científica, pedagógica e clínica. Art.19. O Neuropsicopedagogo deverá ser atuante na promoção da universalização do acesso da população às informações referentes a Neuropsicopedagogia, sejam ao conhecimento das fontes, das necessidades, dos avanços, dos serviços, dos padrões éticos, etc. Art. 20. O Neuropsicopedagogo fará a prestação, sempre, do melhor serviço, a um número cada vez maior de pessoas, com competência, responsabilidade e honestidade. Art. 21. O Neuropsicopedagogo fará a priorização do compromisso ético para com a sociedade, cujo interesse será colocado acima de qualquer outro, sobretudo do de natureza corporativista; Art. 22. O Neuropsicopedagogo zelará para que suas atividades sejam efetuadas sempre com dignidade, respeito e confiança, rejeitando situações, ou empecilhos que demonstrem rejeição à Neuropsicopedagogia Art. 23. O Neuropsicopedagogo deve exercer a Neuropsicopedagogia com exata compreensão de sua responsabilidade, atendendo a nível educativo e clínico, sem nenhuma distinção ora já mencionada, tendo o direito de receber remuneração pelo próprio trabalho. Art. 24. O Neuropsicopedagogo deverá ter transparência em suas ações e decisões, garantida por meio do pleno acesso dos usuários ou beneficiários e destinatários às informações relacionadas ao exercício de suas competências. Art. 25. O trabalho do Neuropsicopedagogo prestado às Instituições, comprovadamente filantrópicas e sem fins lucrativos, poderá ser gratuito. Art. 26. O Neuropsicopedagogo deve indicar sua qualificação profissional em relatórios e outros documentos oficiais do seu trabalho, acompanhado do número de registro de associado na SBNPp, (Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia), uma vez que em dia com suas obrigações constantes na Política de Associados desta entidade. Art. 27. O Neuropsicopedagogo deverá ter a integração com o trabalho de profissionais de outras áreas, baseada no respeito, na liberdade e independência profissional de cada um e na defesa dos interesses e do bem-estar dos seus usuários ou beneficiários. Artigo 28. O Neuropsicopedagogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, sempre com respeito aos demais e 6 posicionando-se de forma crítica, justa e em harmonia com os demais princípios deste Código. (SBNPp, 2014) O Código de Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia instrumentaliza o neuropsicopedagogo quanto aos seus deveres e responsabilidades, por meio de diretrizes, orientações, reflexões sobre sua práxis, dessa forma possibilitando o seu fortalecimento profissional (SBNPp, 2014). TEMA 3 – A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL Como já dissemos anteriormente, o neuropsicopedagogo institucional atuará em ambientes educacionais e/ou instituições de atendimento coletivo, tais como as escolas públicas e particulares, os centros de educação, as instituições de ensino superior e do terceiro setor que apresentem projetos voltados às dificuldades de aprendizagem. De acordo com o art. 30 da Nota Técnica da SBNPp n. 1 de 16 de março de 2016: São bases da atuação institucional os fundamentos da Educação Especial e da Educação Inclusiva, com embasamento legal e de práticas sociais, que deverão ser pensadas através da aplicação das neurociências ao ambiente educacional. a) Observação, identificação e análise dos ambientes e dos grupos de pessoas atendidas, focando nas questões relacionadas a aprendizagem e ao desenvolvimento humano nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais, considerando os preceitos da Neurociência aplicada a Educação, em interface com a Pedagogia e Psicologia. b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem dos que são atendidos nos espaços coletivos c) Encaminhamento de pessoas atendidas a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização contribuir com aspectos específicos que influenciam na aprendizagem e no desenvolvimento humano (SBNPP, 2016). 3.1 As atividades do neuropsicopedagogo institucional Baseamos as informações a seguir, sobre a atuação do neuropsicopedagogo institucional, estão de acordo com a Nota Técnica da SBNPp n. 1/2016 (SBNPp, 2016). No ambiente institucional, a queixa específica será direcionada ao neuropsicopedagogo por uma equipe técnica. O neuropsicopedagogo fará a investigação com base em observações dirigidas às pessoas com dificuldades e, para triagem/sondagem, se utilizando de instrumentos apropriados para a avaliação. O avaliador deverá ter o cuidado de verificar se o instrumento está 7 fundamentado teoricamente e validado para a população brasileira, de acordo com a faixa etária, o grau de escolaridade e a exigência de não haver restrições para aquele uso. Os testes e escalas empregados devem ser pertinentes à proposta da avaliação neuropsicopedagógica, sempre com foco na aprendizagem do indivíduo. Portanto, na identificação de suas funções cognitivas, atenção, memória de trabalho, linguagem, aritmética, observação psicomotora, habilidades sociais e funções executivas. Após análise do processo realizado, será possível traçar um plano de intervenção com metas estabelecidas. O neuropsicopedagogo utilizará projetos de trabalho e oficinas temáticas direcionados para as necessidades observadas e com vistas a desenvolver e potencializar as diversas habilidades individuais, proporcionando a inclusão da pessoa avaliada. Ainda em seu plano de ação, o neuropsicopedagogo poderá orientar a equipe pedagógica e a família do atendido sobre os fundamentos teóricos e práticos do processo de aprendizagem e as dificuldades observadas. Uma vez efetivado o processo de identificação, análise e conclusão investigativa, deve ele então emitir um parecer neuropsicopedagógico com bases institucionais, para a equipe técnica da instituição, tratando das demandas coletivas e sinalizando as questões individuais, para que o processo de inclusão sejaefetivo. O encaminhamento do caso para profissionais de outras áreas específicas será realizado sempre que necessário. TEMA 4 – A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO CLÍNICO Os encaminhamentos a seguir, sobre a atuação do neuropsicopedagogo clínico, também estão de acordo com a Nota Técnica SBNPp n. 1/2016 (SBNPp, 2016). O atendimento neuropsicológico clínico é exclusivamente individual, realizado em ambiente reservado, como em consultório particular, escola, hospital, posto de saúde e instituição do terceiro setor, podendo ainda a atuação ocorrer junto à equipe multiprofissional. A proposta de trabalho do neuropsicopedagogo clínico tem foco na aprendizagem, seja durante a avaliação, a intervenção ou o acompanhamento. A demanda no ambiente clínico chega até o neuropsicopedagogo normalmente advinda dos responsáveis da criança/pessoa com dificuldades. A avaliação da queixa apresentada se dá mediante observação do histórico de 8 vida, análise da dinâmica social e familiar, análise das dificuldades escolares e avaliações cognitivas, motoras e comportamentais que possam estar prejudicando o desempenho da aprendizagem do avaliando. Como já citado anteriormente, o uso dos instrumentos de avaliação requer a qualificação profissional quanto ao direito de uso, à validação para a população brasileira e a aplicação deverá se dar de acordo com a faixa etária, o sexo e a escolaridade do avaliado. O neuropsicopedagogo deverá buscar supervisão de um profissional qualificado quando sentir insegurança no processo de avaliação e intervenção. Quando finalizada a avaliação, deve ele redigir um laudo/parecer técnico dos procedimentos, resultados e sugestões de intervenção. As informações contidas nesse documento são sigilosas e o seu compartilhamento para a escola ou para outros profissionais de saúde será possível somente mediante autorização dos responsáveis. Em situações em que surgirem no diagnóstico indicações para atendimentos de outros profissionais, o neuropsicopedagogo clínico deverá fazer esse encaminhamento. 4.1 As atividades do neuropsicopedagogo clínico O planejamento da avaliação é estabelecido com base na exploração da queixa inicial. Deve o profissional realizar a anamnese, que é um histórico clínico e familiar relatado pelos familiares ou pelo próprio paciente, se este for adulto. Esse instrumento auxilia na avaliação da queixa. Nesse momento, verifica-se quando a situação começou e como se desenvolveu, em que circunstâncias ocorreu a dificuldade, qual a sua frequência, se acontece em casa e na escola. Investiga-se a evolução do paciente durante o seu desenvolvimento. A anamnese deve conter o seu histórico familiar, gestacional, de nascimento, do desenvolvimento neuropsicomotor, o seu quadro de saúde atualizado, o seu desempenho escolar, o seu comportamento em casa, no ambiente escolar e em convívio social. A anamnese bem executada fornece informações preciosas. Estudos indicam que aproximadamente 80% das hipóteses diagnósticas possam ser obtidas por meio de uma coleta de uma história completa (Rotta; Ohlweiler; Riesgo, 2006, p. 66). O neuropsicopedagogo clínico fará uso de instrumentos (testes e escalas de uso não restrito) padronizados para a população brasileira, por área de investigação, sexo, grau de escolaridade, faixa etária adequada; utilizará a observação clínica, a hora lúdica e a investigação do material escolar para a 9 elaboração de sua hipótese diagnóstica. Ele deve selecionar atividades para testar as hipóteses por meio das intervenções direcionadas, que devem ser seguidas de análises que podem ou não as confirmar. A formação do Neuropsicopedagogo prioriza o estudo e pesquisa sobre a aprendizagem relacionada ao funcionamento do sistema nervoso, incluindo estudos a cerca do cérebro. De acordo com o Código de Ética Técnico profissional da Neuropsicopedagogia, não tem habilitação para avaliar a inteligência, os transtornos de humor e personalidade, bem como fazer uso de testes projetivos (SBNPp, 2014). Depois de identificadas as potencialidades e dificuldades do avaliando, realiza-se o planejamento da intervenção. Organiza-se um protocolo de atendimentos, com instrumentos, técnicas e materiais adequados às características do indivíduo como idade, sexo, escolaridade etc. O profissional precisa estabelecer metas iniciais, intermediárias e finais, avaliadas continuamente, por meio de registros, com o propósito de promover ajustes ou avanços em cada fase. Como conclusão, a construção de um parecer/laudo neuropsicopedagógico descritivo dos resultados pertinentes ao processo de intervenção demonstrará as necessidades de continuidade, de encaminhamento a outros profissionais, de trabalho multiprofissional, em situações mais específicas, ou mesmo de alta. TEMA 5 – A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO PESQUISADOR Assim como em tópicos anteriores, as observações a seguir, sobre a atuação do neuropsicopedagogo pesquisador, estão de acordo com a Resolução n. 3/2014 da SBNPp (2014). O neuropsicopedagogo que atuar no campo da pesquisa deverá realizar trabalhos e publicações com caráter científico, visando à produção do conhecimento e à conquista técnica para a neuropsicopedagogia, e estar atento a questões éticas. O profissional precisa obter autorização dos indivíduos pesquisados e das instituições envolvidas, antes de começar o seu trabalho de pesquisa. O participante da pesquisa deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido sobre a proposta e o encaminhamento da pesquisa. Sua participação será voluntária e sua identidade, preservada durante o encaminhamento da pesquisa e em relatórios, artigos e relatos sobre a pesquisa, em qualquer tempo. 10 Realizar atividades durante o trabalho de pesquisa requer cautela quanto aos riscos e prejuízos, ainda que sejam mínimos, que porventura possam ser causados aos seus participantes. Embora exista um termo de consentimento livre e esclarecido para o encaminhamento da pesquisa, o participante ou seu responsável poderá desistir, em qualquer tempo, da continuidade do trabalho. Em situação de continuidade, os dados obtidos em concordância ou divergência da hipótese inicial deverão ser fundamentados e as discussões, realizadas no campo científico. Toda pesquisa científica precisa ser avaliada e aprovada por comitês/conselhos de ética técnico-profissional. Deve-se referenciar os autores utilizados na fundamentação da pesquisa, quando do uso de informações, achados, imagens, gráficos e dados pertencentes a outros autores, se respeitando assim os direitos autorais (SBNPp, 2014). A atuação do neuropsicopedagogo clínico, institucional ou pesquisador será voltada às demandas relacionadas à aprendizagem e às dificuldades relacionadas a ela, tendo sua práxis fundamentada na neurociência aplicada à educação, com alicerces na pedagogia e na psicologia cognitiva. FINALIZANDO Durante o desenvolvimento do Tema 1, foi possível compreender que o neuropsicopedagogo poderá exercer suas atividades em contextos diferenciados. De acordo com a característica dos espaços, atuará em área clínica e área institucional – escolas públicas e particulares, centros de educação, instituições de ensino superior e do terceiro setor que apresentem projetos voltados às dificuldades de aprendizagem. Poderá ainda investir no ensino e pesquisa. Como instrumento norteador da neuropsicopedagogia, o Código de Ética Técnico Profissional “tem como objetivo estabelecer critérios e orientar os profissionais da Neuropsicopedagogia, quanto aos princípios, normas e valores ponderados à boa conduta profissional”. Estimula o neuropsicopedagogoquanto à autorreflexão acerca de sua prática, de modo a responsabilizá-lo por suas ações, e suas consequências, em seu exercício profissional (SBNPp, 2014). O neuropsicopedagogo institucional atuará em ambientes educacionais e/ou instituições de atendimento coletivo. Fará observação, identificação, análise do ambiente institucional, investigando questões relacionais, motoras, cognitivas 11 e comportamentais do atendido; criará estratégias para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem e para tanto fará os encaminhamentos necessários. O neuropsicopedagogo de atuação clínica fará atendimentos individualizados. Observará, analisará a queixa, utilizará instrumentos para auxiliar sua avaliação, também investigará questões relacionais, motoras, cognitivas e comportamentais do indivíduo; após identificação e análise dos resultados, realizará um parecer escrito, fará um plano de intervenção, realizará acompanhamento de indivíduos com dificuldades, transtornos e síndromes e encaminhamentos para outros profissionais, se for necessário. O neuropsicopedagogo que atuar no campo da pesquisa deverá realizar trabalhos e publicações com caráter científico, visando à produção do conhecimento e à conquista técnica para a neuropsicopedagogia e deve estar atento a questões éticas. A atuação do neuropsicopedagogo possui responsabilidade ética quanto a suas avaliações, intervenções e conclusões. Em sua prática, deve o profissional sempre buscar o embasamento teórico-prático da neuropsicopedagogia e, se necessário, o auxílio de um supervisor técnico atuante na área. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica APA – American Psychiatric Association. Manual diagnóstico estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. KANDEL, E. R. et al. Princípios da neurociência. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. (Org.). Transtornos de aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006. RUSSO, R. M. T. Neuropsicopedagogia clínica: introdução, conceitos, teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2015. 12 Texto de abordagem prática SBNPp – Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Resolução SBNPp n. 3 de 30 de julho de 2014. Dispõe sobre o Código de Ética Técnico-Profissional da Neuropsicopedagogia. Joinvile: SBNPp, 2014. Disponível em: <http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2014/09/Código-de-Ética-e- Técnico-Profissional-da-Neuropsicopedagogia-SBNPp.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018. _____. Nota Técnica n. 1 de 16 de março de 2016. Joinvile: SBNPp, 2016. Disponível em: <http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2016/05/SBNPP- CTP-Nota-T%C3%A9cnica-n.-01-2016.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018. Saiba mais SBNPp – SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA. Disponível em: <https://sbnpp.org.br/>. Acesso em: 21 jun. 2018. 13 REFERÊNCIAS ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia. Diretrizes básicas da formação de psicopedagogos no Brasil. São Paulo, 12 dez. 2008. _____. Código de ética do psicopedagogo. São Paulo, 5 nov. 2011. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica. html>. Acesso em: 21 jun. 2018. HAMDAN, A. C.; PEREIRA, A. P. A.; RIECHI, T. I. J. S. Avaliação e reabilitação neuropsicológica: desenvolvimento histórico e perspectivas atuais. Interação em Psicologia, n. 15, p. 47-58, 2011. RUSSO, R. M. T. Neuropsicopedagogia clínica: introdução, conceitos, teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2015. SBNPp – Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Resolução SBNPp n. 3 de 30 de julho de 2014. Dispõe sobre o Código de Ética Técnico-Profissional da Neuropsicopedagogia. Joinvile: SBNPp, 2014. Disponível em: <http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2014/09/Código-de-Ética-e- Técnico-Profissional-da-Neuropsicopedagogia-SBNPp.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018. _____. Nota Técnica n. 1 de 16 de março de 2016. Joinvile: SBNPp, 2016. Disponível em: <http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2016/05/SBNPP- CTP-Nota-T%C3%A9cnica-n.-01-2016.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018. _____. Nota Técnica n. 2 de 22 de maio de 2017. Joinvile: SBNPp, 2017. Disponível em: <http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2017/05/Nota- Técnica-n.02-2017.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018. TAMEZ, A. M. O. Definición de Neuropsicopedagogia. PsicoPedagogia.com. Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com/definicion/neuropsicopedagogia>. Acesso em: 21 jun. 2018.
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