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AULA 3 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NAS DIVERSAS DIFICULDADES E TRANSTORNOS Profª Luciana Trad 2 CONVERSA INICIAL Estamos em uma etapa importante da disciplina, na qual aplicaremos, na prática, os conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso de Neuropsicopedagogia. O neuropsicopedagogo, com base em seu arcabouço teórico-prático, utilizará métodos, técnicas e testes para o levantamento de hipótese e diagnóstico. “Os aplicadores de testes responsáveis têm obrigações antes, durante e após um teste ou qualquer procedimento de mensuração ser administrado” (Cohen; Swerdlik; Sturman, 2014, p. 27). Os temas desta aula serão: conceito, objetivos e tipos de observação; conceito, objetivos e tipos de entrevistas aplicadas à avaliação neuropsicopedagógica; conceitos, formato, procedimentos e aplicação de testes; ambiente e rapport entre avaliador e avaliando; e direitos do avaliando. CONTEXTUALIZANDO A avaliação neuropsicopedagógica é um processo que se inicia a partir de uma demanda sobre dificuldade de aprendizagem, que pode vir por intermédio da própria pessoa com dificuldades, de familiares, equipe pedagógica ou institucional. O neuropsicopedagogo, baseando-se em seu arcabouço teórico- prático, utilizará métodos, técnicas e testes para o levantamento de hipótese e diagnóstico. Para Urbina (2007, p. 261), Existem, é claro, muitas vias que podem ser usadas em vez de ou em conjunção com testes para se obterem informações para avaliar e tomar decisões a respeito das pessoas. Dados biográficos ou estudo de caso, entrevistas, observações, históricos acadêmicos ou ocupacionais, bem como referências de professores e supervisores estão entre as ferramentas mais usadas na avaliação dos indivíduos. Os resultados, associados à fundamentação teórica que embasa a neuropsicopedagogia, enriquecem a qualidade da avaliação. Os cuidados com a preparação do ambiente, rapport entre avaliador e avaliando, domínio do uso de instrumentos e análise dos resultados são fundamentais para a qualidade de uma avaliação neuropsicopedagógica. A responsabilidade ética sobre a avaliação existe antes, durante e após o processo de avaliação. 3 TEMA 1 – OBSERVAÇÃO Quando precisamos compreender como uma pessoa se comporta em determinado ambiente ou situação, naturalmente, observamos. Em se tratando de uma avaliação ou pesquisa, a observação é um instrumento muito importante que gera informações relevantes sobre quem ou o que está sendo observado. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), a observação é uma técnica de coleta de dados para obter informações e com a qual, por meio dos sentidos, o observador possa, além de ver e ouvir, examinar os fatos ou situações que se deseja investigar. Ander-Egg (1978), citado por Marconi e Lakatos (2010, p. 175), apresenta quatro modalidades de observação, que podem variar conforme as circunstâncias: de acordo com os meios utilizados, a participação do observador, o número de observações e o local de observação. Cada uma delas será descrita a seguir, de acordo com Marconi e Lakatos (2010): Segundo os meios utilizados: Observação assistemática ou não estruturada – a técnica de observação não estruturada, ou assistemática, constitui-se da coleta de dados e registro dos fatos, sem o emprego de meios técnicos especiais ou de questionamentos diretos. O registro dos dados é um fator essencial para a fidelidade das informações. O sucesso para utilização desta técnica vai depender da atenção do observador aos fenômenos observados, de sua perspicácia, percepção, habilidade e prontidão; Observação estruturada ou sistemática – a observação sistemática, ou estruturada, consiste em responder a um propósito preestabelecido, em condições controladas e como apoio de instrumentos. O observador sabe o que procura e o que é relevante em determinada situação; deve ser objetivo, reconhecer possíveis erros e eliminar sua influência sobre o que coleta. Segundo a participação do observador: Observação não participante – na observação não participante, o observador informa-se sobre a situação, grupo ou realidade observada, sem envolver-se. No entanto esta observação tem caráter sistemático. Observação participante – o observador se integra ao grupo, que deve compreender a importância e o objetivo da investigação. A observação participante pode ser natural, 4 quando o participante faz parte da comunidade ou grupo que investiga, ou artificial, quando o observador se integra ao grupo para obter informações. Segundo o número de observações: Observação Individual – feita por um observador, pode ocorre de forma negativa ou positiva. Neste caso, de forma negativa, podem ocorrer distorções ou inferências devido à limitada possibilidade de controle. De forma positiva, pode intensificar a objetividade das informações, por meio de registros cuidadosos de dados reais e das interpretações feitas pelo observador. Observação em equipe – em uma equipe, a mesma situação é observada por vários ângulos diferentes. Os observadores registram individualmente e, posteriormente, confrontam seus dados para verificar as predisposições. Segundo o lugar onde se realiza: Observação efetuada na vida real – são observações feitas em ambiente real, no qual as situações observadas ocorrem naturalmente e os registros são feitos, espontaneamente, à medida que forem acontecendo. Observação realizada em laboratório – é feita a observação de uma ação ou conduta, em condições próximas da situação natural, porém em ambiente controlado, de forma que o observado não sofra influências indevidas pela presença do observador ou seus instrumentos de medida e registro. Muitos aspectos da vida humana não podem ser observados sob condições idealizadas de laboratório. A técnica de observação está, quase sempre, presente nos processos de avaliação diagnóstica. “A observação geralmente é utilizada em ambientes escolares, hospitais e clínicas, e também residências ou mesmo em laboratórios para examinar comportamentos de crianças e interação de pais com filhos” (Hutz, et al., 2015). Cohen, Swerdlik e Sturman (2014) pontuam que a observação comportamental é utilizada como auxílio diagnóstico e como auxílio para planejar uma intervenção terapêutica, tanto em contextos clínicos quanto institucionais. Segundo esses autores, a observação comportamental naturalista, feita em ambiente real, “tendem a ser mais frequentes em sala de aula, clínicas, prisões e em outros contextos em que os observadores tenham acesso fácil aos avaliandos”. O neuropsicopedagogo poderá fazer a sua observação em ambiente clínico ou institucional. Ela poderá ser estruturada, com auxílio de instrumentos, como um checklist de comportamentos, bem como não estruturada para observar 5 situações espontâneas ou casuais, muitas vezes demonstradas por meio de mensagens não verbais que devem ser levadas em consideração. Esse tipo de observação pode acontecer durante uma aula na escola, durante o recreio ou, até mesmo, no consultório quando, ao responder um teste, o avaliando emite uma mensagem não verbal que deve ser analisada qualitativamente. A falta de resposta, ou de expressão, também revela informações importantes. O neuropsicopedagogo deve estar consciente do objetivo de sua observação, verificando o comportamento do avaliando, o ambiente, a interação entre os pares, entre outras situações que possam influenciar no processo de aprendizagem. TEMA 2 –ENTREVISTA A entrevista é um procedimento de investigação utilizada para coleta de dados para auxílio no diagnóstico ou intervenção, por meio de comunicação face a face. Para Richardson (1999, p. 207): O termo entrevista é construído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere se ao ato de ver, ter preocupação com algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas. A entrevista pode ser definida como “um método de obter informações por intermédio de comunicação direta envolvendo troca recíproca” (Cohen; Swerdlik; Sturman, 2014. p. 27). Segundo Marconi e Lakatos (2010), os tipos de entrevista variam conforme o propósito do entrevistador, podendo ser: a. Padronizada ou estruturada: é aquela em que o entrevistador segue um roteiro, previamente, estabelecido, as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela é feita de acordo com um formulário elaborado e, de preferência, com pessoas selecionadas de acordo com um plano. b. Despadronizada ou não estruturada: o entrevistador tem a liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar, mais amplamente, uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversação informal. c. Painel: consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de estudar a evolução das opiniões em períodos 6 curtos. As perguntas devem ser formuladas de maneira diversa, para que o entrevistado não distorça as respostas com repetições. Segundo Hutz, Bandeira e Trentini (2015), durante a entrevista, o entrevistador faz anotações e observações. Embora esse procedimento seja, fundamentalmente, baseado em um processo de interação verbal, exige do entrevistador o olhar atento aos gestos, tons de voz, hesitações e expressões faciais do entrevistado, que podem trazer muitas mensagens importantes, por isso a necessidade de treinamento do profissional antes de realizar esse procedimento. Esses autores classificam as entrevistas diagnósticas em: Estruturada: segue um roteiro organizado de perguntas com objetivos específicos que permitam o levantar hipóteses diagnósticas ou produzir comparações entre pessoas entrevistadas. Semiestruturada: tem um roteiro elaborado, porém o entrevistador não fica preso a ele, podendo explorar, com mais profundidade, informações que possam surgir durante a entrevista. Entrevista informal ou não estruturada: não apresenta roteiro preestabelecido, entretanto o entrevistador planeja, antecipadamente, questões importantes sobre o que precisa explorar. Em neuropsicopedagogia, a entrevista é uma ferramenta de coleta de dados de bastante importância, com diferentes finalidades e com vários objetivos em um processo de avaliação; como já dissemos, pode ser utilizada em ambiente clínico, institucional e pesquisa. Como exemplo, podemos citar entrevista inicial, anamnese (entrevista sobre o histórico de vida) e entrevista devolutiva, descritas nas seções a seguir, mas há outras como entrevista com a criança, entrevista com equipe pedagógica etc. 2.1 Entrevista inicial A entrevista inicial, em avaliação neuropsicopedagógica, tem o objetivo de investigar a demanda apresentada. A queixa principal é o motivo da consulta, portanto deve ser registrada, precisamente, como foi relatada pelo avaliando, pais ou responsáveis. Como alertam Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006), “Nem sempre 7 ocorre uma proporção entre a gravidade da queixa principal e a percepção dela por parte dos familiares”. O neuropsicopedagogo poderá utilizar uma entrevista semiestruturada em um roteiro de perguntas, mas sem ficar preso a elas, dessa forma, terá a oportunidade de se aprofundar em pontos importantes que surgirem durante a entrevista. Ao se aprofundar em alguma informação, o entrevistador deve ter o cuidado para não fugir ao seu objetivo inicial, para que o entrevistado não se sinta invadido. Com base nessa coleta de dados, o profissional terá condições para levantar hipóteses iniciais e traçar os objetivos, o planejamento e a escolha dos instrumentos a serem utilizados durante a avaliação. 2.2 Anamnese A anamnese tem como objetivo avaliar a queixa atual e a evolução do paciente durante o seu desenvolvimento. Deve conter os históricos familiar, gestacional, do nascimento, do desenvolvimento neuropsicomotor, do quadro de saúde atual, do desempenho escolar, bem como do comportamento em casa, no ambiente escolar e em convívio social. Alguns autores pontuam que 80% das hipóteses diagnósticas podem ser levantadas pela anamnese, logo, quanto mais detalhada a entrevista, melhor será a coleta de informações, o que exige do avaliador treino e bom embasamento teórico (Rotta; Ohlweiler; Riesgo, 2006). De acordo com Weiss (2006), na anamnese, são estudados levantamentos paralelos como: 1. História das primeiras aprendizagens ocorridas com a mãe, ou sua substituta, e todos os momentos importantes de aprendizagem não escolares ou informais, por exemplo, como aprendeu a usar a mamadeira, a colher, a canequinha, a armar joguinho etc. 2. Evolução geral, ou seja, como se processou seu desenvolvimento, controles, aquisição de hábitos, interiorização de normas, aquisição da fala, alimentação, sono, sexualidade etc. É preciso saber se os padrões de desenvolvimento estavam numa faixa de normalidade, se houve defasagens significativas e se ocorreram problemas neurológicos ou acidentes nesse percurso. A evolução psicomotora, sendo um caso particular desse desenvolvimento geral, deve ser analisada, também, no aspecto qualitativo: quando começou a andar, se era inseguro, se mostrava coragem ao subir escadas, por exemplo. Como a história do paciente 8 começa no momento da concepção, é importante saber se a gravidez foi desejada, acidental ou indesejada, bem como se houve alterações perinatais, como má oxigenação, lesõese ainda quais as condições de alimentação, de saúde, se a criança foi criada por terceiros e a mãe não tem condições de levantar dados sobre seus desenvolvimentos físico, intelectual e afetivo. 3. História clínica com relação a problemas, soluções e ambiente familiar quando o paciente tem crises de bronquite, alergia, asma ou ainda viroses próprias da infância, bem como o quadro geral de cirurgias, internações, doenças diversas e suas consequências, tratamentos a que se submeteu, como fonoaudiológico ou psicológico, a conduta dos profissionais com o paciente e a família, os diferentes laudos. É importante pesquisar também se houve traumatismos, doenças e deficiências ligadas à atividade nervosa superior, se há consciência da família em relação à existência de sequelas; caso haja um, é preciso o parecer do neurologista. Outro aspecto básico refere-se às condições dos órgãos cujo mau funcionamento pode prejudicar a aprendizagem, como a existência de problemas visuais e auditivos. 4. História da família nuclear com relação a fatos marcantes dos pais antes, durante e depois da entrada do paciente na família. Considero fundamental que se investiguem situações negativas, vividas pela criança em razão de alterações familiares, como o nascimento de irmãos, mudanças, mortes, desemprego, separação etc. 5. História da família ampliada, ou seja, as famílias materna e paterna em suas influências passadas e presentes sobre os pais e pacientes. É importante localizar interferências e ligações com as diferentes pessoas das duas famílias, bem comoos quadros patológicos existentes nelas. 6. Histórico escolar das instituições como creche, pré-escola, escola regular, cursos de inglês, aulas de balé e diversas escolinhas de clubes (natação, tênis, futebol) considerando como se foi seu ingresso e os aspectos positivos e negativos de sua passagem por essas instituições, bem como avaliar como se processou a alfabetização, qual a metodologia, a exigência da escola, dos pais nesse momento e a reação do paciente. 9 2.3 Entrevista devolutiva A entrevista devolutiva, na avaliação neuropsicopedagógica, tem como objetivo relatar ao indivíduo, ou responsáveis, o resultado da avaliação, seu diagnóstico, as sugestões de intervenção e, ainda, os encaminhamentos, se necessário. Essa entrevista tem uma característica mais informal, porém é importante seguir roteiro de informações porque demonstra com clareza os procedimentos aplicados e os resultados, geralmente de acordo com o relatório apresentado. A entrevista devolutiva será feita, primeiramente, com o solicitante da avaliação, pais ou responsáveis. Quando o avaliado for criança ou adolescente, os resultados sempre serão discutidos com seus responsáveis. Esse é o momento em que serão pontuados os resultados e os esclarecimentos sobre o diagnóstico. A devolutiva poderá ser apresentada a outros profissionais de saúde e equipe pedagógica, mediante autorização da família do avaliado. TEMA 3 – TESTES Cohen, Swerdlik e Sturman (2014, p. 6) afirmam que “O teste pode ser definido simplesmente como um dispositivo ou procedimento de medida. Quando é precedida de um modificador, a palavra teste se refere a um dispositivo ou procedimento que visa medir uma variável relacionada àquele modificador”. O Teste de Desempenho Escolar – TDE (Stein, 1994), por exemplo, tem como objetivo medir as capacidades fundamentais para o desempenho escolar, tais como leitura, escrita e aritmética. Segundo Urbina (2007, p. 13), os testes, geralmente, “envolvem a avaliação de algum aspecto do funcionamento cognitivo, conhecimento, habilidades ou capacidades de uma pessoa”. Esses instrumentos de avaliação podem diferir quanto ao conteúdo, formato, procedimentos de administração, procedimentos de pontuação e de interpretação. Cohen, Swerdlik e Sturman (2014, p. 6) explicam que Quanto ao conteúdo (assunto): irá variar de acordo com o foco do teste; quanto ao formato: diz respeito a forma, ao plano, à estrutura, ao arranjo e ao leiaute dos itens dos testes, limites de tempo, ainda com relação a forma como é administrado: computadorizado, escrito, etc.; quanto ao procedimento de administração: a aplicação pode ser individual ou coletiva. A aplicação pode envolver a demonstração de várias tarefas para o avaliando e observação treinada quanto ao desempenho; Quanto à pontuação e interpretação, alguns testes são pontuados pelos próprios testandos, outros por computador outros requerem contagem dos examinadores treinados. Alguns testes, apresentam manual sobre os 10 critérios de pontuação, assim como a natureza das interpretações a partir das pontuações. O uso de testes em neuropsicopedagogia deve ser avaliado cuidadosamente. De acordo com Goldman (1971 citado em Urbina, 2007, p. 255), os usuários de testes em potencial devem considerar as seguintes perguntas: 1. Que tipo de informações eu pretendo obter com a testagem? 2. Como essas informações serão usadas? 3. Quais dessas informações já estão disponíveis em outras fontes? 4. Que outras ferramentas podem ser usadas para obter as informações que busco? 5. Quais as vantagens de usar testes em lugar de, ou julgamento com, outras fontes de informação? 6. Quais as desvantagens ou custos, em termos de tempo, esforço e dinheiro, de usar testes em vez de outras fontes de informação? Urbina (2007) ressalta que a fundamentação teórica para o uso do teste e a aplicação esperada de seus resultados precisam estar explícitas desde o início da apresentação do teste, a fim de evitar o mau uso, ou uso desnecessário, do instrumento. Hutz, Bandeira e Trentini (2015) alertam que existem cuidados importantes a serem considerados para que o teste padronizado seja apropriado, como: a fundamentação teórica adequada e ampla, a definição clara do constructo, objetivos e contextos do uso, o fornecimento de informações claras sobre a correção e informações dos escores do teste, a descrição clara das etapas de aplicação e correção, bem como especificidades do ambiente e materiais utilizados ao longo da aplicação Devemos ter claro que o treinamento e a preparação para o uso de instrumentos são essenciais para se realizar com qualidade uma avaliação neuropsicopedagógica. Esta aula apenas introduz o conhecimento sobre métodos, técnicas e outros instrumentos de avaliação e demonstra a complexidade de tais procedimentos, portanto vale ressaltar a fundamental importância do estudo aprofundado e do treinamento para sua aplicação. 11 TEMA 4 – AMBIENTE E RAPPORT NA AVALIAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA Como já foi pontuado anteriormente, os profissionais aplicadores de testes têm responsabilidades durante todo o processo de avaliação. Responsabilidade ética profissional, fundamentação teórica apropriada à sua práxis, segurança quanto à aplicação e ao uso de instrumentos de avaliação. Todo processo de avaliação diagnóstica requer cuidados quanto ao preparo do ambiente, ao rapport entre avaliador e avaliando e à aptidão do avaliador. 4.1 Ambiente apropriado para avaliação Quanto à preparação do ambiente, Urbina (2007) destaca que o ambiente em que ocorrerá a testagem deverá ser isento de fontes distratoras. A sala deve ter iluminação e ventilação adequadas, os assentos e as mesas devem ser adequados e confortáveis para realização dos testes. Quando a avaliação for individual, não deve ser permitida a presença de qualquer pessoa além do examinador e do testando na sala de testagem, a fim de evitar a distração ou a influência no processo de testagem. Em situações especiais, para testandos com dificuldade de comunicação devido à pouca idade, à origem linguística ou à deficiência, a presença dos pais ou intérpretes será permitida e deverá informado no relatório de resultados. 4.2 Rapport entre avaliador e avaliando No processo de avaliação individual ou coletiva, o rapport pode ser de fundamental importância. Urbina (2007) explica que No contexto de testagem rapport se refere a relação harmônica que deve existir entre testando e examinador. Para maximizar a fidedignidade e validade dos resultados, uma atmosfera amigável precisa ser estabelecida desde o início da testagem e o rapport deve variar de bom a excelente. De acordo com Urbina (2007), o desempenho do teste pode ser afetado negativamente caso não haja o estabelecimento de rapport entre testando e examinador, portanto o examinador deve despertar o interesse e a colaboração do testando, para que haja um bom desempenho nas respostas das tarefas propostas. O rapport pode ser estabelecido quando examinador e examinado são apresentados e dialogam; também, no momento em que as regras e instruções 12 do teste forem apresentadas, é essencial demonstrar por que é importante que o avaliando realize da melhor forma possível. Com crianças assustadas, “o rapport poderia abranger técnicas mais elaboradas, como envolver a criança no brinquedo ou em alguma outra atividade até que se adapte ao examinador e ao ambiente” (Cohen; Swerdlik; Sturman, 2014, p. 30). Os autores ressaltam que o rapport não deve interferir nas regras ou na administração do teste. TEMA 5 – DIREITOS DO AVALIANDOA avaliação neuropsicopedagógica é um processo que se inicia a partir de uma demanda sobre uma dificuldade de aprendizagem e pode vir por intermédio da pessoa, de familiares, equipe pedagógica ou institucional. Assim como outros profissionais que fazem avaliações diagnósticas, o neuropsicopedagogo precisa atentar quanto aos direitos dos avaliandos. Algumas indicações importantes se aplicam ao processo de avaliação neuropsicopedagógica: O testando tem o direito ao consentimento livre e esclarecido para a realização dos testes, de saber o porquê de estar sendo avaliado, de receber explicações antes da testagem, conhecer o seu objetivo, ter informações sobre os testes utilizados e conhecimento sobre os seus resultados. Em caso de deficiência ou dificuldade de compreensão, os testandos têm o direito de perguntar e de serem informados sobre possíveis adaptações. O direito à privacidade e à confidencialidade dos resultados e do direito ao rótulo menos estigmatizante (Urbina, 2007; Cohen, Swerdlik, Sturman, 2014). As pessoas com deficiências são avaliadas, exatamente, pelas mesmas razões que aquelas sem deficiências. Uma avaliação alternativa é feita por meio de uma adequação para o avaliando. Essa acomodação pode ser definida como uma adaptação de um teste, um procedimento ou uma situação, ou substituição de um teste por outro, para tornar a avaliação mais apropriada a um avaliado com necessidades especiais (Cohen; Swerdlik; Sturman, 2014). A avaliação alternativa é um procedimento, ou um processo avaliativo ou diagnóstico, que varia da forma habitual, costumeira ou padronizada da qual uma medida é derivada, ou em virtude de alguma acomodação especial feita par o avaliando ou por meio de métodos alternativos destinados a medir a mesma variável (Cohen, Swerdlik, Sturman, 2014, p. 33-34). 13 As adaptações podem ser feitas com certa cautela a fim de não comprometer a validade do teste. Um avaliando com dificuldades para ler letras pequenas pode ter o enunciado ampliado. Crianças com dificuldades para se concentrar, podem ter um intervalo maior entre um teste e outro. Pode-se também substituir um teste por outro equivalente. A avaliação neuropsicopedagógica é um processo, com entrevistas, observações, testagem, fundamento teórica, rapport e, acima de tudo, respeito às necessidades do avaliando, do início ao fim do processo, buscando a resposta para a queixa inicial, bem como direcionado para uma intervenção que possa beneficiar o avaliando em seu processo de integração, conhecimento e inclusão. FINALIZANDO Nesta aula, foi possível compreender, por meio do estudo dos temas 1,2 e 3, um pouco mais sobre os tipos de instrumentos utilizados em uma avaliação neuropsicopedagógica, como observação, entrevistas e testes, seus conceitos, tipos, peculiaridades e formas de aplicação. Conhecemos o ambiente apropriado para mais conforto durante a avaliação. Aprendemos, no tema 4, que o rapport estabelecido no processo diagnóstico é imprescindível, pois a falta do rapport entre avaliador e avaliando pode influenciar no resultado de um teste Para finalizar este estudo, analisamos os direitos do avaliando, consentimento livre esclarecido, conhecimentos sobre as testagens e seus resultados, avaliação alternativa com cautela e rótulo menos estigmatizante. Podemos, dessa forma, concluir que a responsabilidade do neuropsicopedagogo perpassa todo o processo de avaliação, antes (na capacitação teórica e prática), durante (na preparação do ambiente, rapport, entrevistas, observações, avaliações e diagnóstico) e após a avaliação (responsabilidade ética sobre o diagnóstico, intervenção e encaminhamentos). LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica COHEN, R.J.; SWERDLIK, M.E.; STURDMA, E.D. Testagem e avaliação psicológica: introdução a testes e medidas. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. HUTZ, C.S.; BANDEIRA, D.R; TRENTINI, CM. (Org.) Psicometria. Porto Alegre: Artmed, 2015. 14 URBINA, S. Fundamentos da testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2007. WEISS, M.L.L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 11. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro. DP&A, 2006. Texto de abordagem prática WEISS, M.L.L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 11. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro. DP&A, 2006. URBINA, S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2007. Saiba mais MARCONI, M.A; LAKATOS, E.M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 15 REFERÊNCIAS COHEN, R. J.; SWERDLIK, M. E.; STURMAN, E. D. Testagem e avaliação psicológica: introdução a testes e medidas. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. HUTZ, C. S.; BANDEIRA, D. R; TRENTINI, C. M. (Org.). Psicometria. Porto Alegre: Artmed, 2015. MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. URBINA, S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artmed 2007. WEISS, M. L. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 11. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
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