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1a prova Autor: Freitas e Py (21 x 28cm) Edição: 5a Revisor: Revisão Capítulo 139 Págs.: 5 Operador: Edel Data:14/12/2021 Linguagem no Envelhecimento Saudável e Patológico Marcela Lima Silagi • Maria Isabel d’Ávila Freitas • Isabel Junqueira de Almeida • Tharsila Moreira Gomes da Costa Introdução A linguagem, assim como outras funções cognitivas, passa por constantes transformações ao longo da vida. Essas mudan- ças podem ser observadas tanto na senescência quanto na se- nilidade. O conhecimento sobre as mudanças linguí sticas que ocorrem no envelhecimento saudável deve constituir o ponto de partida para o estudo das alterações decorrentes de proces- sos patológicos no idoso. Para o pleno entendimento acerca da linguagem nesses dois contextos é importante caracterizar quais habilidades estão preservadas e quais foram alteradas nas modalidades de com- preensão oral, expressão oral, leitura e escrita, considerando os diferentes processamentos linguí sticos: fonético (produção dos sons da fala); fonológico (organização dos fonemas na língua); morfossintático (formação das palavras e organização das fra- ses); léxico-semântico (significados e conceitos das palavras); e discursivo-pragmático (uso contextualizado da linguagem ou funcionalidade). O objetivo deste capítulo é descrever as manifestações de linguagem mais comumente encontradas no envelhecimento saudável e no envelhecimento patológico à luz das diferentes modalidades e processamentos linguí sticos. A linguagem no envelhecimento saudável As alterações de linguagem no envelhecimento saudável são heterogêneas. Algumas habilidades são mais suscetíveis ao de- clínio, enquanto outras permanecem preservadas (Diaz et al., 2016; Shafto; Tyler, 2014). Em relação ao processamento fonético-fonológico, não ocorrem mudanças importantes no envelhecimento saudável (Mansur; Radanovic, 2004). No entanto, alguns estudos mos- tram que idosos podem rea li zar um número maior de erros no nível fonológico em relação aos in di ví duos mais jovens, os cha- mados “deslizes”, que geram trocas fonêmicas (slip of the tongue) (Diaz et al., 2016). A fim de aumentar a taxa de deslizes de fala, um estudo comparou idosos e adultos jovens na produção de trava-línguas. Quando diminuí ram a velocidade de fala, idosos e jovens produziam erros em quantidade semelhante. Quando a velocidade de fala aumentava, os jovens produziam mais erros e os idosos não conseguiam rea li zar a tarefa. Entretanto, a condi- ção estudada é bastante específica e não reflete adequadamente a produção de fala em condições naturais, deixando, portanto, em aberto a questão se há ou não declínio no nível fonológico em idosos saudáveis (Gollan; Goldrick, 2019). Quando comparados aos jovens nas habilidades sintáticas, alguns trabalhos indicam que idosos utilizam um menor núme- ro de estruturas sintáticas complexas na produção discursiva, principalmente orações subordinadas (Brandão, 2006; Gollan; Goldrick, 2019). Essa diminuição na produção da sintaxe com- plexa vem sendo correlacionada ao declínio na memória opera- cional, que ocorre no envelhecimento normal (Brandão, 2006; Kemper et al., 2001; Kemper, 2012). Nas habilidades lexicais, o déficit mais comum se refere ao resgate de palavras. Essa dificuldade é conhecida como “fenô- meno da ponta da língua”, na qual o falante não consegue res- gatar temporariamente uma palavra, embora saiba exatamen- te seu significado e suas características semânticas (Brandão, 2006; Burke, 1997; Mansur; Radanovic, 2004). Em idosos, essa dificuldade ocorre mais frequentemente com nomes próprios (Burke; Shafto, 2004; Gollan; Goldrick, 2019). Estudos que uti- lizaram provas de nomeação de figuras com idosos cognitiva- mente saudáveis mostram que palavras menos frequentes são mais difíceis de serem resgatadas. Essa dificuldade estaria liga- da a um déficit no acesso à informação fonológica, já que esses sujeitos se beneficiam da pista fonológica (quando o avaliador fornece o fonema ou a sílaba inicial da palavra) e não da pista semântica (dicas referentes ao significado da palavra) (Brandão, 2006; Diaz et al., 2016). Na produção discursiva, alguns idosos apresentam uma característica denominada “verbosidade fora de tópico”, que se manifesta como uma fala excessiva, com mudanças de tó- pico súbitas e repentinas, impactando a coerência do discurso (Brandão, 2006; Kemper, 2012). Essa característica ocorre so- bretudo quando o tópico do discurso envolve conteú dos auto- biográficos (Burke, 1997; Kemper, 2012). Em estudos que ana- lisaram a narrativa oral ba sea da em figuras, os idosos tendem a ser menos eficientes, menos coerentes e a rea li zar mais comen- tários repetitivos (Cannizzaro; Coelho, 2012). A compreensão de linguagem se mantém mais preservada do que a produção no envelhecimento saudável. No nível da palavra, idosos têm desempenho equivalente a adultos jovens, podendo, inclusive, ter um aumento do vocabulário decorrente da experiência linguí stica (Obler; Pekkala, 2008). Em tarefas de julgamento semântico, por exemplo, a identificação de relações semânticas entre palavras, adultos jovens e idosos têm desem- penho similar (Fonseca; Parente, 2006a). No nível da sentença, quando comparados aos mais jovens, idosos podem apresentar dificuldades na compreensão de sen- tenças longas e sintaticamente complexas, um provável reflexo de déficits de memória operacional (Antonenko et al., 2013; Diaz, Rizio; Zhuang, 2016; Wingfield; Grossman, 2006). Quanto à compreensão do discurso, ao serem solicitados a recontar uma história ouvida, idosos lembram de uma quanti- dade menor de informação do que os mais jovens, dificuldade que também tem sido correlacionada ao declínio da memória operacional decorrente do envelhecimento normal (Fonseca; Parente, 2006a). Em relação ao processamento inferencial, isto é, a capaci- dade de compreender informações implícitas a partir do texto (escrito ou oral) em conjunto com conhecimentos prévios, al- guns estudos encontraram declínio no envelhecimento nessa ha- bilidade comunicativa. Entretanto, não há consenso na literatura sobre essa questão, já que em outros estudos não houve diferença entre jovens e idosos (Fonseca; Parente, 2006b; Silagi et al., 2014). Um fator que pode afetar a compreensão de linguagem no idoso é a perda auditiva. A presbiacusia, que se refere à perda au- ditiva relacionada ao envelhecimento, atinge aproximadamente 30% da população com mais de 65 anos (Samelli et al., 2016). Essa condição pode afetar a porção periférica e/ou central do sis- tema auditivo, levando a uma dificuldade na detecção principal- mente de fre quências agudas, dificultando a percepção da fala, e em habilidades auditivas relacionadas ao processamento au- ditivo central (Samelli et al., 2016; Wingfield; Grossman, 2006). 139 DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Caixote DOLORES Realce DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado , sobretudo, DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado ou seja, PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice2 Compreender a fala apesar da dificuldade auditiva pode re- querer um grande esforço atencional e a utilização de recursos cognitivos que deveriam estar disponíveis para a codificação da informação na memória e para os processos de compreensão mais elevados. Deste modo, idosos com presbiacusia podem ter dificuldades na compreensão da fala, mesmo quando as palavras são detectadas corretamente (Wingfield; Grossmann, 2006). A partir do que foi exposto anteriormente, pode-se concluir que algumashabilidades de linguagem, sobretudo na produção, sofrem um declínio leve no envelhecimento saudável, como a produção de estruturas sintáticas complexas e o acesso lexi- cal. A compreensão de linguagem se mantém menos impac- tada, mas há ainda questões em aberto, sobretudo em relação à compreensão de estruturas sintáticas complexas e à compre- ensão de inferências. Torna-se evidente, a partir dos estudos sobre linguagem no envelhecimento saudável, a interação da linguagem com outras habilidades cognitivas, como a memó- ria operacional, a atenção, o controle inibitório, velocidade de processamento da informação e as habilidades auditivas. A Tabela 139.1 resume as principais modificações da linguagem no envelhecimento saudável nos diferentes tipos de processa- mento linguí stico. A linguagem no envelhecimento patológico As doen ças mais comuns que afetam a linguagem no pro- cesso de envelhecimento são o acidente vascular encefálico, o traumatismo cranioencefálico e as demências. A seguir, serão descritas as principais manifestações de linguagem decorrentes de cada um desses diferentes quadros. �� Alterações de linguagem no acidente vascular encefálico A alteração de linguagem que ocorre após o acidente vascular encefálico (AVE) é chamada de afasia, quando há lesão no hemisfério dominante (geralmente hemisfério esquerdo). A afasia após um AVE ocorre com mais fre quência em ido- sos do que em adultos jovens (Ellis; Urban, 2016). Quinze por cento dos in di ví duos com menos de 65 anos sofrem de afasia após o primeiro AVE is quêmico e essa porcentagem aumen- ta para 43% para in di ví duos com 85 anos de idade ou mais (Engelter et al., 2006). Além disso, outras alterações podem ocorrer simultanea- mente com a afasia na população geriá trica, por exemplo, as demências e outras doen ças neurológicas progressivas que também afetam a linguagem. Por isso, entender os mecanismos alterados na afasia é importante para que seja rea li zado o diag- nóstico diferencial, uma vez que cada distúrbio requer inter- venções específicas (Lourenço; Mendes, 2008). As manifestações mais comuns das afasias são: dificuldades na compreensão oral e escrita (para palavras, frases e discurso); anomias (dificuldade de acessar a palavra); parafasias (trocas de fonemas ou de palavras na fala); paráfrases (substituição da palavra por uma frase); circunlóquio (dificuldade em acessar o tema principal da enunciação); neologismos (emissão de pa- lavras que não existem na língua); agramatismo (omissão de palavras nas frases); perseveração (repetição da mesma res- posta para diferentes contextos); paralexias (trocas de fonemas ou palavras na leitura); paragrafias (trocas de letras, grafemas ou palavras na escrita); coocorrência de alterações motoras da fala (apraxia de fala e disartria) (Mansur; Radanovic, 2004; Ortiz, 2010). Dependendo das manifestações em um ou mais componen- tes da linguagem, podemos classificar as afasias em diferentes tipos: as afasias não fluentes correspondem às alterações decor- rentes de lesões anteriores à fissura sylviana, nas quais ocorre especialmente prejuí zo da expressão oral; as afasias fluentes são decorrentes de lesões posteriores à fissura sylviana, ocorrendo maior prejuí zo da compreensão oral; as lesões que atingem a área perisylviana e fascículo arqueado geram afasias com alte- ração da repetição e as lesões que poupam essas re giões geram as afasias com preservação da repetição. Estudos mostram que lesões semelhantes podem resultar em tipos de afasia diferentes a depender da idade dos in di ví duos. Em geral, os achados indicam que, em comparação aos in di ví- duos mais jovens, os idosos apresentam mais afasias fluentes do que afasias não fluentes. Ou seja, há maior comprometimento na compreensão oral em idosos com lesão adquirida, aumentando a dependência comunicativa e funcional deles (Castro-Caldas; Confraria, 1984; Eslinger; Damasio, 1981). Corroborando com o achado clínico, as lesões posteriores foram as mais encontra- das em in di ví duos idosos afásicos, provavelmente associadas à trombose dos ramos posteriores da artéria cerebral média (Ellis; Urban, 2016). Em relação ao prognóstico, o aumento da idade pode in- fluenciar negativamente a extensão da recupe ração neurológica espontânea em pacientes afásicos (Steele, Aftonomos; Munk, 2003). Pashek e Holland (1988) verificaram que pacientes com menos de 70 anos têm mais chances de alcançar recupe ração parcial ou completa da fala e da linguagem em comparação com pacientes mais velhos. Uma das explicações é que os idosos apresentam mais alterações atencionais, executivas, sensoriais, comportamentais e psicológicas, prejudicando o processo de reabilitação. A presença de demência também tem um impacto na resposta à terapia nesse grupo, o que complica as medidas de recupe ração espontânea e a melhora após o tratamento. Até um quarto de todos os pacientes geriá tricos com afasia global foram relatados como sendo dementes. Por fim, as lesões que ocorrem no hemisfério cerebral não dominante para a linguagem (geralmente, o hemisfério direito) não provocam manifestações afásicas. No entanto, o in di ví duo pode apresentar alterações comunicativas. São relatadas difi- culdades na compreensão e produção de diferentes padrões de prosódia, dificuldades discursivas com desrespeito às regras de coerência e troca de turnos, desvio do assunto, confabulações, redução do conteú do informativo e dificuldade na compreen- são de sentidos não literais, como humor, sarcasmo e inferên- cias (Fonseca et al., 2006). �� TABELA 139.1 Principais modificações da linguagem no envelhecimento saudável. Processamento Manifestações Fonológico Relativamente preservado; trocas na fala não são comuns Léxico-semântico Dificuldades de nomeação, inclusive, para nomes próprios, decorrem, principalmente, de falhas no acesso lexical, estando o conhecimento semântico relativamente preservado Morfossintático Preservado para materiais mais simples, pode estar prejudicado para a produção de sentenças mais longas e com maior complexidade sintática Discursivo Utilização de uma quantidade maior de palavras para exprimir suas ideias, muitas vezes, de maneira redundante e repetitiva Compreensão oral Dificuldade para sentenças complexas e discurso, especialmente em ambientes com ruí do Fonte: adaptada de Mansur e Radanovic (2004). DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado , ainda, DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado sobretudo, DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado 139.1, DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado , após um AVE, DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Caixote DOLORES Realce DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado dependendo DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado (1988), DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce DOLORES Realce DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Adaptada Monica Yassuda Nota entendo que não há vírgula para não separar sujeito de predicado Monica Yassuda Nota sem vírgula aqui para não separar sujeito de predicado 3CAPÍTULO 139 Linguagem no Envelhecimento Saudável e Patológico �� Alterações de linguagem no traumatismo cranioencefálico Por conta do maior envolvimento em acidentes automo- bilísticos, os jovens adultos estão mais suscetíveis a sofrerem traumatismo cranioencefálico (TCE). Por sua vez, a popula- ção geriá trica está em um segundo pico de incidência, com a queda da própria altura sendo a maior causa dos traumatismos (Almeida et al., 2016). As conse quências do TCE em populações idosas são, comu- mente, mais graves, com o dobro de taxas de mortalidade em comparação aos jovens adultos, além de pior desempenho fun- cional e, consequentemente, maiornúmero de sequelas na pós- -alta hospitalar (Adekoya et al., 2002; Peterson; Kegler, 2020). Fatores como progressão da idade e menor pontuação na Escala de Coma de Glasgow foram apontados na literatura como pre- ditores de pior prognóstico e desfecho (Susman et al., 2002). Em geral, os estudos apontam que os in di ví duos com TCE apresentam como déficits clássicos as alterações de atenção, me- mória, comportamento, linguagem e função executiva (Coelho, 2002; Mansur; Radanovic, 2004). As alterações esperadas estão condicionadas ao tipo de lesão adquirida pelo paciente. Nas lesões focais, como as contusões, que frequentemente lesionam áreas frontais e temporais, a se- quela dependerá da área cerebral lesionada, podendo ocasionar afasia (frequentemente afasia anômica), disartria (alteração da execução motora da fala) e/ou a apraxia de fala (alteração da programação motora da fala). Em razão da aceleração e desace- leração cerebral, nas lesões difusas, mais frequentes em quedas e em acidentes, há déficits de linguagem não afásicos e relacio- nados às alterações cognitivas que, nesse caso, são definidos como alterações linguí stico-cognitivas (Coelho, 2002; Davis; Coelho, 2004; Mansur; Radanovic, 2004). A Tabela 139.2 apre- senta um resumo das alterações de linguagem mais prevalentes. �� Alterações de linguagem nas demências As alterações de linguagem ocorrem em praticamente to- das as síndromes demenciais. A análise na natureza dos erros linguí sticos, junto a outras características clínicas e neuropsi- cológicas, pode ser um importante instrumento para auxiliar no raciocínio do diagnóstico diferencial dos tipos de demên- cia. A Tabela 139.3 resume o perfil do déficit de linguagem no comprometimento cognitivo leve e nas diferentes síndromes demenciais. A descrição destas alterações será aprofundada nos parágrafos subsequentes. �� Alterações de linguagem no comprometimento cognitivo leve O comprometimento cognitivo leve (CCL) é definido como o estágio in ter me diá rio entre o envelhecimento saudável e a de- mência quando existem queixas cognitivas, prejuí zo cognitivo, mas preservação funcional (Petersen, 2004). As alterações de linguagem em sujeitos com CCL são sutis e estão associadas ao declínio nos níveis semântico e pragmático da linguagem (Barbeau et al., 2012), o que afeta o discurso e o torna desorga- nizado, menos informativo, com presença de termos indefini- dos e, em alguns momentos, frases sem sentido (Asp; Villiers, 2010; Toledo et al., 2018). Por isso, a análise do discurso pode ser um recurso sensível para identificar o quadro de CCL, espe- cialmente, de forma longitudinal (Mueller et al., 2018). Outros déficits de linguagem em in di ví duos com CCL têm sido descritos em tarefas de fluência, nomeação e conheci- mento semântico (Lopez-Higes et al., 2014), que podem estar associados a déficits de controle inibitório que afetam a busca semântica (Duong et al., 2006). Déficits de compreensão da linguagem oral e escrita têm sido relatados nos sujeitos com CCL, que apresentam compre- ensão mais pobre de histórias, sobretudo de conteú dos mais complexos e implícitos, e que requerem processamento de in- ferências (Schmitter-Edgecombe; Creamer, 2010; Silagi et al., 2021). Alguns estudos não encontraram diferenças de linguagem entre in di ví duos com CCL e in di ví duos cognitivamente sau- dáveis ou entre CCL e aqueles com doen ça de Alzheimer leve (Toledo et al., 2018). Por isso, para um diagnóstico preciso e uma investigação detalhada da linguagem no CCL, indica-se uma combinação de testes (Radanovic et al., 2007). �� Alterações de linguagem na doen ça de Alzheimer Os distúrbios da linguagem em in di ví duos com doen ça de Alzheimer (DA) dependem, principalmente, da sua gravidade. Entretanto, outros fatores podem interferir na apresentação clí- nica, como o nível de escolaridade, os hábitos prévios e a reser- va cognitiva. Um desafio para a descrição da linguagem na DA é o fato de suas alterações ocorrerem de forma interligada com as de outras funções cognitivas que lhe dão suporte, sobretudo a memória (Mansur et al., 2005). �� TABELA 139.2 Alterações de linguagem no traumatismo cranioencefálico. Processamento Manifestações Léxico-semântico Dificuldades de nomeação e evocação de palavras Dificuldades de categorização e fluência verbal Morfossintático Dificuldade de formular sentenças e compreender frases com estrutura sintática de diferentes complexidades Discursivo-pragmático Discurso socialmente inadequado, repetitivo, desorganizado, vago e desinibido Falha na interpretação da linguagem abstrata e indireta �� TABELA 139.3 Resumo das manifestações de linguagem no comprometimento cognitivo leve e nas síndromes demenciais. Quadro Principais manifestações de linguagem CCL Alterações leves evidenciadas em tarefas linguí- sticas complexas e com alta demanda cognitiva DA Alterações predominantes no acesso ao sistema semântico (interface linguagem-memória) DV Alterações heterogêneas devido à variabilidade dos locais de lesão DLFT comportamental Alterações discursivas em macroestrutura e alterações semânticas Interferência da disfunção executiva e alteração de comportamento na linguagem APP não fluente Alteração sintática (agramatismo) e apraxia de fala APP semântica Degradação do conhecimento semântico APP logopênica Alterações na alça fonológica da memória operacional Demências com manifestações motoras Alterações de linguagem heterogêneas + alterações motoras da fala (disartria e apraxia de fala) APP: afasia progressiva primária; CCL: comprometimento cognitivo leve; DA: doença de Alzheimer; DLFT: degeneração lobar frontotemporal; DV: demência vascular. DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Caixote DOLORES Realce DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado 139.2, DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado 139.3, DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado sobretudo, DOLORES Realce Caixote DOLORES Realce DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado sobretudo, DOLORES Realce linguís- ticas DOLORES Realce em virtude da DOLORES Realce Descer Monica Yassuda Nota SEM vírgula Monica Yassuda Nota sem vírgula PARTE 8 Aspectos Psicológicos do Envelhecimento e da Velhice4 Classicamente, o perfil de linguagem na DA é marcado por al- terações em aspectos léxico-semânticos e pragmáticos, com rela- tiva preservação dos fonológico-sintáticos, que são de rara ocor- rência até os estágios mais avançados da doen ça (Kempler, 1991). A progressão das dificuldades de linguagem tem diferenças in di vi duais, mas é possível definir três estágios. De uma forma geral, no primeiro estágio, os sujeitos demonstram dificuldades para encontrar palavras. No estágio in ter me diá rio, o vocabu- lário e a linguagem como um todo se tornam empobrecidos. Por fim, no estágio avançado, os sujeitos conseguem ape- nas fornecer respostas limitadas, reduzidas a poucas palavras (Nasrolahzadeh et al., 2016). Até o estágio avançado, o in di ví duo pode manter habili- dades comunicativas tais como conversas simples, apesar de apresentar iniciativa reduzida para a comunicação, vocabulário ou capacidade reduzida para associar ideias e convertê-las em informações precisas (Radanovic et al., 2007). Em situação de diá logo, observam-se também dificuldades para introduzir e mudar de assunto de maneira coerente e ativa, apresentando maior fre quência de troca de turnos comunicativos e menor número de enunciados, o que significa empobrecimento da ela- boração discursiva (Garcia, 1991; Mentis et al., 1995). As medidas de discurso, que envolvem o conteú do de lin- guagem, são particular mente importantes para identificar os déficits de linguagem na DA. As tarefas de descrição de figura ou figuras em se quência são as medidas mais indicadas porque têm o benefício adicional de minimizar as demandas da memó- ria episódica e autobiográfica com a permanência das figuras enquanto o in di ví duo produz a fala encadeada. Tais medidas são úteis na detecção de alterações no processamento semân- tico, complexidade sintática, uso pragmático da linguagem e parâmetros de fala e voz (Mueller et al., 2018). Em produção de narrativas, os sujeitos com DA mostraram menor número de componentes textuais, erram mais no relato da se quência dos eventos e produzem maior número de propo- sições irrelevantes, mesmo quando dispõem do apoio de ima- gem (Ska; Guenard, 1993). A fluência verbal semântica é mais prejudicada na DA em relação à fluência verbal fonêmica (Taler; Phillips, 2008). Os déficits em tarefas de nomeação são bem documentados na DA (Bayles et al., 1992). Tais dificuldades podem ser explicadas por múltiplos fatores, como déficits perceptuais visuais, atencionais, de acesso lexical e deterioração de representações semânticas, havendo distintos subgrupos (Kempler, 1991; Mansur et al., 2005; Silagi et al., 2015). A DA também afeta a compreensão da linguagem oral, espe- cialmente de sentenças complexas e extensas, que demandam sobrecarga da capacidade de armazenamento de memória ope- racional e do processamento semântico da linguagem (Mansur et al., 2005). Da mesma forma, a linguagem escrita sofre alteração na DA, observando-se a presença de disgrafia devido à redução de re- cursos cognitivos gerais com o avanço da doen ça (Silveri et al., 2007). Já a leitura em voz alta (decodificação) tem sido consi- derada, em geral, uma função cognitiva que resiste ao processo demencial, mesmo com alterações para compreender o material escrito (Bayles et al., 1993). Contudo, estudos mais detalhados mostram que os in di ví duos com DA apresentam latência maior para leitura de palavras irregulares da língua e progressiva dete- rioração da habilidade para ler (Patterson et al., 1994). Em virtude da associação dos déficits linguí sticos a déficits de outras funções cognitivas, o prejuí zo na comunicação dos in di ví duos com DA deve ser avaliado em diferentes situações considerando modificações ambientais, usos de próteses audi- tivas, tempo necessário para se comunicar e comportamentos que podem interferir na habilidade comunicativa em uma situ- ação mais ecológica (Carvalho; Mansur, 2008). �� Alterações de linguagem na demência vascular A apresentação clínica da demência vascular (DV) varia enormemente a depender da etiologia e da localização da lesão cerebral. Os subtipos classificados como demência pós-AVE, demência vascular is quêmica subcortical, demência multi- -infarto (cortical) e a demência mista (Skrobot et al., 2017) podem produzir déficits de linguagem distintos. Além disso, a maioria das descrições de linguagem em pacientes com DV focam na diferenciação com pacientes com DA, reforçando a predominância de déficit de memória episódica e linguagem na DA enquanto os pacientes com DV parecem apresentar maior prejuí zo de funções executivas (Reed et al., 2007). Contudo, es- ses achados são altamente controversos e muitos estudos têm mostrado uma sobreposição no desempenho de pacientes com DA e DV (Mathias; Burke, 2009). Além de haver poucos estudos detalhados sobre o perfil de linguagem dos in di ví duos com DV, eles têm produzido resul- tados conflitantes. Alguns estudos subdividiram os in di ví duos com DV de acordo com a etiologia e local da lesão e encontra- ram que aqueles com lesões corticais apresentam pior desem- penho na fluência verbal semântica (categoria “animais”) e na tarefa de vocabulário em relação àqueles com lesões subcorti- cais (Gunstad et al., 2005). Já outros estudos não encontraram diferenças no desempenho de linguagem em subgrupos de pa- cientes com DV (Paul et al., 2000; Lim et al., 2019). Em bateria ampliada de testes de linguagem, os pacien- tes com DV apresentam déficits de compreensão e expressão linguí stica em relação aos sujeitos controles. Em comparação aos sujeitos com DA, a única tarefa que diferenciou os dois gru- pos foi a tarefa de nomeação por confrontação, em que os pa- cientes com DV tiveram um desempenho melhor, mas abaixo dos valores esperados para a normalidade. Os pacientes com DV cometem mais erros visuais e parafasias durante a nomea- ção de figuras, o que indica que há prejuí zo semântico e visuo- perceptual (Freitas et al., 2018). Essa discrepância de resultados também pode ser atribuí da, além da heterogeneidade do tamanho e local da lesão, às altera- ções hemodinâmicas e de conectividade que seguem o dano is- quêmico. Os sujeitos com DV de grandes vasos costumam apre- sentar maior prevalência de comprometimento visuoespacial ou de linguagem, enquanto a lesão de pequenos vasos parece se associar mais com a disfunção executiva (Ying et al., 2016). Portanto, ainda não se consegue definir um perfil de lingua- gem que seja patognomônico na DV. O conceito de DV está evoluindo e os próprios critérios diagnósticos para DA também foram atualizados para além da forma amnéstica “clássica”. Além disso, uma proporção ainda não bem estabelecida de demências é a mista (DV + DA) (Raz et al., 2016). O estabelecimento de critérios diagnósticos mais precisos para DV certamente contri- buirá para um perfil de linguagem mais consistente. �� Alterações de linguagem na degeneração lobar frontotemporal O termo degeneração lobar frontotemporal (DLFT) abrange as demências que afetam predominantemente o comportamen- to (variante comportamental da DLFT) e a linguagem (afasias progressivas primárias) (Gorno-Tempini et al., 2011). Na variante comportamental da DLFT, apesar de o sintoma inicial ser a alteração de comportamento, distúrbios cognitivos podem ocorrer ao longo da doen ça, como a disfunção executi- va, alterações de memória episódica e de linguagem. As mani- festações linguí sticas são heterogêneas e incluem anomias; re- dução de fala; mutismo; ecolalia; perseverações; dificuldade na DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Riscado DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado figuras, DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce em razão da DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado situa- ção DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado 2017), DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras Monica Yassuda Nota sem vírgula 5CAPÍTULO 139 Linguagem no Envelhecimento Saudável e Patológico repetição de palavras e frases; erros fonológicos; agramatismo; dificuldade na compreensão oral de palavras e frases; dislexia; e disgrafia. Também podem ser observadas disartria e apraxia de fala (Hardy et al., 2016; Harris et al., 2016). As características de linguagem relatadas na DLFT variante comportamental, em par ticular a desorganização do discurso, ecolalia e persevera- ção são frequentemente consideradas secundárias à disfunção executiva frontal. Nas afasias progressivas primárias (APPs), a alteração de linguagem é o sintoma inicial da doen ça e permanece como dé- ficit proeminente por pelo menos 2 anos. As APPs podem ser classificadasem três subtipos, de acordo com os processamen- tos linguí sticos prejudicados e as áreas cerebrais acometidas (Gorno-Tempini et al., 2011): �� APP variante não fluente ou agramática: alteração predomi- nante da fluência da fala, com presença de apraxia de fala e/ou agramatismo. As alterações semânticas não são típicas do qua- dro, porém, nota-se dificuldades na compreensão de sentenças complexas devido à alteração sintática. Dificuldades de leitura e escrita de natureza fonológica e sintática também podem ocor- rer. As alterações decorrem de atrofia e/ou hipometabolismo predominante na região posterior frontoinsular esquerda �� APP variante semântica: perda progressiva do conhecimen- to semântico, com alteração predominante da compreensão de palavras e presença de anomias, circunlóquios e parafasias se- mânticas. A produção motora da fala e os aspectos fonológicos e sintáticos da linguagem estão preservados. Na leitura e escrita ocorrem erros na decodificação por rota lexical dependente do conhecimento semântico (dislexia e disgrafia de superfície), por exemplo, a leitura da palavra “taxi” como “tachi”. Anosognosia e alterações comportamentais são frequentes e podem impactar as questões pragmáticas da linguagem, como desinibição e des- respeito à troca de turnos durante a conversação. As alterações decorrem de atrofia e/ou hipometabolismo na região temporal anterior predominantemente à esquerda �� APP variante logopênica: comprometimento na memória fonológica de curta duração que ocasiona fala alentecida, ano- mias no discurso (falhas do tipo word finding), pausas, para- fasias fonêmicas e dificuldade na repetição e compreensão de frases extensas. Os pacientes não apresentam agramatismo nem alterações motoras da fala. A APP variante logopênica pode ser o sintoma inicial da DA, podendo ocorrer alterações de me- mória episódica, cálculo e comportamento. As alterações ob- servadas decorrem de atrofia e/ou hipometabolismo na região posterior perisylviana ou parietal esquerda. �� Alterações de linguagem nas demências com parkinsonismo Na doen ça de Parkinson (DP), os déficits motores são predominantes; porém, alterações cognitivas podem ocorrer (Bastiaanse; Leenders, 2009). Em relação à fala, os pacientes apresentam disartria hipocinética, caracterizada por hipofonia, imprecisões ar ticulatórias, voz soprosa e alteração da prosódia (voz monótona) (Duffy, 2013). Quanto à linguagem, são descri- tas alterações em fluência verbal, sobretudo de verbos, e, prin- cipalmente, compreensão de estruturas sintáticas complexas. Essas características têm sido associadas a alterações de me- mória operacional e funções executivas, mais do que a déficits puramente linguí sticos (Bastiaanse; Leenders, 2009; Lee et al., 2003; Radanovic, 2017). Na demência com corpos de Lewy (DCL), embora não cons- titua um sintoma inicial, a disartria hipocinética pode estar presente com a progressão da doen ça. Da mesma forma, alte- rações de linguagem também não têm sido relatadas em fases iniciais. Em fases mais avançadas, porém, os pacientes podem ter alterações no processamento semântico, que têm sido corre- lacionadas a déficits em outras habilidades cognitivas (atenção, memória operacional, habilidades visuoespaciais). Na conver- sação, os pacientes apresentam confabulação, incoerência e per- severações. A fluência verbal semântica e de verbos pode estar diminuí da (Frattali; Duffy, 2005). Na paralisia supranu clear progressiva (PSP), a disartria é bastante comum e, frequentemente, configura-se entre os sin- tomas iniciais. Inclui características das disartrias hipocinética, espástica e, em menor fre quência, atáxica (Frattali; Duffy, 2005; Peterson et al., 2019). No âmbito da linguagem, os pacientes apresentam alteração na fluência verbal fonêmica e semântica e déficit moderado na compreensão de sentenças. Na fala espon- tânea, podem apresentar perseverações e diminuição na taxa de fala, com preservação da estrutura sintática. As alterações de linguagem, aparentemente, estão relacionadas a déficits em funções executivas, mais do que a um comprometimento pura- mente linguí stico (Peterson et al., 2019). Na síndrome corticobasal (SCB), os pacientes frequente- mente apresentam quadros de disartria, que afetam aspectos temporais e prosódicos, tais como aprosódia, diminuição da taxa de fala e aumento da duração dos fonemas (Ozsancak et al., 2006). A apraxia de fala também é frequente (Grijalvo- Perez; Litvan, 2014; Peterson et al., 2019). Quanto à linguagem, são descritas alterações em fluência verbal fonêmica e semânti- ca, nomeação (relacionada a déficits no acesso lexical mais do que ao conhecimento semântico), compreensão de sentenças e repetição de palavras e sentenças. Na compreensão de palavras, alguns estudos relataram alterações (Di Stefano et al., 2016), en- quanto em outros os pacientes tiveram desempenho adequado (Peterson et al., 2019). Na fala espontânea, podem ser observa- dos erros sintáticos e fonológicos e diminuição da taxa de fala (Peterson et al., 2019). Na atrofia de múltiplos sistemas (AMS), as alterações de linguagem são pouco relatadas. Já a disartria é bastante fre- quente, configurando um sintoma precoce no curso da doen ça. Geralmente, observa-se um tipo misto de disartria, com compo- nentes hipocinético, atáxico e espástico (Frattali; Duffy, 2005). DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Redondo DOLORES Realce Caixote DOLORES Realce DOLORES Riscado DOLORES Texto digitado em virtude da DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Caixote DOLORES Realce DOLORES Riscado DOLORES Riscado DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras DOLORES Realce Melhorar o espaçamento entre palavras _Hlk49901126 _Hlk49894403 _Hlk49896568
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