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O�cina literária Aula 3: O épico e suas formas Apresentação Nesta aula, estudaremos a estrutura, os objetos e a fonte da epopeia. Além disso, veremos as características do herói e do narrador épicos. Objetivo Compreender a estrutura da epopeia. Identi�car os elementos narrativos que compõem o universo épico. Identi�car para quem fala e de onde fala o narrador. Reconhecer a classe social representada na epopeia. Para iniciarmos esta aula, assista ao trailer do �lme Tróia. A imagem da luta, do povo em guerra, da coletividade e do herói à frente de um povo traduz bem o universo épico. A grandiosidade da imagem que vemos, no �lme Tróia, é a grandiosidade épica. Além disso, o �lme nos mostra como os deuses fazem interferência no destino dos homens. Todas as ações são traçadas a partir da aprovação dos deuses. Mas, para falarmos em mundo épico, temos que, primeiramente, conhecer os gêneros literários. Você sabe o que é gênero literário? A palavra gênero deriva do latim genus, -eris. Ela signi�ca tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. Portanto, gênero literário é um agrupamento de obras literárias que pertencem a uma classe, espécie, origem ou tempo de nascimento. javascript:void(0); Os principais gêneros literários são: o épico, o dramático e o lírico. Mas, o nosso foco, aqui, é o épico. Você sabe o que é uma epopeia? Romance | Fonte: congerdesign por Pixabay Epopeia A epopeia é uma narrativa de caráter heroico, grandioso. Expressa sempre o interesse nacional e social. Nesse universo narrativo, o homem não tem espaço como ser único, ou seja, como portador de uma individualidade, pois o texto épico é o espaço de representação da coletividade. Há também uma atmosfera maravilhosa. O impossível, o sobrenatural encontra aqui seu espaço de aparição. Os acontecimentos narrados, na epopeia, são históricos e situados em um passado muito distante. Há, nas histórias, uma reunião de mitos, heróis e deuses. Elas abrangem uma totalidade de acontecimentos. A epopeia é um gênero que apresenta valores de uma única classe: a aristocracia. Esta aristocracia cede os príncipes que vão comandar a guerra. Esses chefes vão desenvolver atos heroicos. Trata-se de um universo fechado. E quem são os comandados? Claro que é o povo, ou seja, a gente simples, sem nenhum título nobiliárquico. Como são, então, os heróis épicos? São os membros da aristocracia. Possuem uma linhagem, uma tradição. Além disso, aparecem, nas histórias, como grandes e fortes. O que caracteriza a epopeia é a motivação coletiva de todos os atos heroicos e da construção da imagem desses heróis. Aquiles em sua carruagem cavalga sobre o corpo do morto Heitor. Antonio Raffaele Calliano, 1815. | Fonte: wikimedia.org Objeto e fonte da epopeia Uma outra questão importante é: qual é o objeto e a fonte do épico? O objeto da epopeia é o passado heroico. Que passado é este? Ora, trata-se do mundo das origens, dos pais, dos ancestrais, o mundo dos primeiros e dos melhores. É um passado absoluto. É a única fonte de tudo que é bom para os tempos futuros. É neste passado absoluto que está mergulhada a história nacional. Ali estão posicionados os fundadores heroicos, os deuses e os melhores. É um passado muito distante do narrador. A fonte da epopeia é a lenda. A memória é a principal força criadora. A epopeia resgata o passado porque é constituída de memória. Não importa a experiência pessoal. O que vale é a lenda nacional. Dessa forma, o texto épico está impregnado de mitos e lendas. O tempo é um outro elemento que forma a estrutura da epopeia. O mundo épico é totalmente isolado da contemporaneidade. A distância épica é absoluta. Há total afastamento entre o tempo da ação e o da narração. Os aedos narram a partir dos mitos e das lendas. Eles não têm como chegar ao objeto, ou seja, não têm como chegar ao passado heroico nacional. Não estão inseridos nesse espaço. Por exemplo, entre a guerra de Troia e o século de Homero, existe uma caixa preta de séculos de mitos e lendas. Os aedos e os ouvintes situam-se na mesma época e no mesmo nível de valores, mas o mundo representado pelas personagens situa-se em um nível de valores e de tempo totalmente diferente e inacessível. Isto é o que se denomina distância épica. Uma leitura de Homero. Lawrence Alma-Tadema, 1885. | Fonte: wikimedia.org Narrador épico O que devemos dizer de nós enquanto leitores de hoje? Ora, o nosso tempo de leitura e entendimento está ainda muito mais distante. Se a epopeia é uma narrativa, ela possui um narrador. Que narrador é este? De onde ele narra? Todo discurso é produzido em um determinado espaço que visa à recepção. Por isso, é fundamental percebermos de onde narra. O narrador épico não interfere no mundo narrado. Isto é impossível! Além disso, o fundamental é que ele narra de dentro do espaço da tradição. No mundo épico, o ponto de vista é único. É o ponto de vista da tradição. Os valores narrados também são únicos: são os valores da tradição. Dessa forma, a identidade entre narrador e universo narrado é absoluta. Não há questionamentos. O narrador épico é identi�cável com todos os valores representados. Identi�cável com o que narra. Ele não tem ponto de vista próprio, pois já o recebe da tradição. Nesse processo de construção do texto, o discurso é produzido por um descendente da tradição, da aristocracia e é passado para outros descendentes também da aristocracia. Você imagina qual a �nalidade disto? Ora, o objetivo é perpetuar, na memória os valores da tradição, ou seja, aqueles valores que atravessam gerações. O passado deve �car vivo na memória. Fonte: Jonny Lindner por Pixabay. Características do épico No épico, a objetividade exterior é absoluta. Ninguém inventou os temas das epopeias. Tudo está, ao longo de séculos, registrado no mundo dos mitos e das lendas. Há uma objetividade. Tudo existe independente de qualquer coisa. Para o épico, a verdade é indiscutível. O passado absoluto representado é perfeito, fechado, está, integralmente, pronto e concluído. Tanto como evento real ou como um universo de valores, não pode ser modi�cado, reinterpretado ou reavaliado. É um mundo do qual não se pode aproximar. Ele está fora da área da atividade humana propensa às mudanças e às reavaliações. Tudo é indiscutível e imutável. Diante disto, cabe ao leitor apenas a atitude de aceitá-lo e reverenciá-lo. Toda epopeia é dividida em cinco partes: proposição, invocação, dedicatória, narração e desfecho. Na literatura brasileira, podemos citar, como exemplo de epopeia, O Uraguai de Basílio da Gama. Leitura Clique aqui para acessar o texto O Uruguai, de Basílio da Gama, disponível no site Domínio Público. javascript:void(0); Esse texto é uma narrativa em versos. Por isso, foi considerado poemeto épico. Quais são as características épicas presentes nele? Clique nos botões para ver as informações. O passado histórico é resgatado. Está presente a imagem da luta e da coletividade. São espanhóis e portugueses lutando contra índios e jesuítas na região dos Sete Povos no Uruguai. Há uma motivação coletiva para a guerra. Vale ressaltar que Basílio não presenciou este acontecimento. Tudo se sabe através da História. Há distância entre tempo de ação e tempo de narração. É o que se propõe a contar. O primeiro canto de�ne o motivo da guerra e apresenta os heróis. Proposição Existe a presença da invocação. O narrador pede proteção para aquilo que vai contar em versos: “Musa/ Protegei os meus versos” ou “Ninfas do mar, que vistes, se é que vistes,/ O rosto esmorecido, e os frios braços, / Sobre os olhos soltai as verdes tranças.” O texto apresenta a grandiosidade épica. Isto é visto em expressões como: “pavilhão purpúreo”, “ rica mesa” ou “ taça de ouro”. Invocação O poema é antecedido por um soneto, que é, claramente, uma dedicação ao Marquês de Pombal. Dedicatória O sobrenatural também faz-se presente através da Tanajura. Com poderes de visão, desvenda o futuro paraLindóia. A aparição do índio morto para Cacambo é uma outra situação que marca a presença do sobrenatural. Sobrenatural O texto apresenta a plasticidade e claridade que são características épicas. A linguagem épica é plástica porque não sugere, mas esclarece. Tudo é apresentado como um acontecimento vivo. A claridade refere-se ao olhar da narrativa dirigido para o mundo exterior. É o triunfo da luz em toda a sua dimensão. Opõe-se ao escuro, à morte, à obscuridade. Plasticidade e claridade No poema, encontramos passagens como: “ E a perjura cidade envolta em fumo/ Encosta-se no chão, e pouco a pouco/ Desmaiar sobre as cinzas” ou “O incêndio furioso, e o irado vento/ Arrebata às mãos cheias vivas chamas.” Você percebe o apelo visual desses fragmentos? Há uma indução ao leitor para visualizar com nitidez a cena. O acontecimento aparece vivo diante do olhar atento do leitor. Isto é plasticidade. Atividade Dissertativa QUESTÃO 1 A epopeia é uma narrativa de caráter heroico, grandioso, e expressa sempre o interesse nacional e social. Caracterize o herói épico. QUESTÃO 2 O tempo é um outro elemento que forma a estrutura da epopeia. O mundo épico é totalmente isolado da contemporaneidade. A distância épica é absoluta. Há total afastamento entre o tempo da ação e o da narração. Explique o papel do narrador na epopeia. Aula Teletransmitida em LIBRAS Assista a versão na Linguagem Brasileira de Sinais da Aulateletransmitida. Notas Referências Próxima aula Epopeia versus romance; Fonte do universo romanesco; Representação do homem no romance; Elementos básicos do romance. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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